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GUSTAVO REZENDE CASTELLO ESTRATÉGIA COMPETITIVA PARA O NOVO SEGMENTO DE CLIENTES ALTA RENDA DO BANCO ITAÚ Trabalho de Formatura apresentado à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo para obtenção do diploma de Engenheiro de Produção. São Paulo 2009

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GUSTAVO REZENDE CASTELLO

ESTRATÉGIA COMPETITIVA PARA O NOVO SEGMENTO DE CLIENTES ALTA RENDA DO BANCO ITAÚ

Trabalho de Formatura apresentado à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo para obtenção do diploma de Engenheiro de Produção.

São Paulo 2009

GUSTAVO REZENDE CASTELLO

ESTRATÉGIA COMPETITIVA PARA O NOVO SEGMENTO DE CLIENTES ALTA RENDA DO BANCO ITAÚ

Trabalho de Formatura apresentado à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo para obtenção do diploma de Engenheiro de Produção.

Orientador: Professor Doutor Fernando José Barbin Laurindo

São Paulo 2009

FICHA CATALOGRÁFICA

Castello, Gustavo Rezende

Estratégia competitiva para o novo segmento de clientes alta renda do Banco Itaú / G.R. Castello. -- São Paulo, 2009.

105 p.

Trabalho de Formatura - Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Departamento de Engenharia de Produção.

1. Estratégia organizacional

I. Universidade de São Paulo. Escola Politécnica. Departamento de Engenharia de Produção II. t.

AGRADECIMENTOS

Começo meus agradecimentos à pessoa mais importante na minha formação como

aluno, profissional e homem: minha mãe. Sem toda sua luta, esforço e apoio, eu

certamente não conseguiria pleitear este diploma de Engenheiro de Produção.

Agradeço também a todos os meus familiares, pai, avós, tios e especialmente minha

tia, principal incentivadora da carreira de engenheiro.

A minha querida namorada Annara, que viveu bons e maus momentos ao meu lado,

sempre me incentivando e acreditando que seria possível, mesmo nas situações

mais adversas.

A todos os professores do Departamento de Engenharia de Produção, pela

contribuição na minha formação. Especial agradecimento ao Professor Doutor

Fernando José Barbin Laurindo que, mesmo com todos os contratempos vividos

neste ano, não deixou de orientar-me neste trabalho de formatura.

Aos amigos que viveram comigo estes duros, porém gratificantes, cinco anos de

faculdade. Em especial ao Leandro, que passou a ser um irmão que não tive.

Por fim, a todos com quem convivi e que me apoiaram nos dois anos de estágio no

banco Itaú, tanto na Gerencia de Qualidade do Atendimento como na Gerência de

Gestão de Clientes Itaú Uniclass.

A todos esses, minha mais sincera gratidão.

“Tudo está se tornando, nada é.”

Platão

RESUMO

Este trabalho de formatura visa à elaboração da estratégia competitiva para o novo

segmento de clientes de renda elevada do banco Itaú, o Alta Renda.

Segundo Porter (1996), a formulação da estratégia está baseada em diversos trade-

offs. Sendo assim, na proposta de solução, várias escolhas serão realizadas para

diferenciar o negócio de seus concorrentes, tais como os clientes elegíveis ao

segmento, os canais de atendimento, os produtos a serem ofertados, os perfis de

gerentes e a melhor maneira de gerenciar o serviço.

Para tanto, a revisão da literatura abordará dois temas de grande relevância: a

estratégia competitiva e a inovação em serviços. Na seqüência, um diagnóstico

sobre o segmento voltado à clientes de renda elevada do setor bancário será

efetuado seguindo-se a metodologia prescritiva da escola de pensamento

estratégico do Posicionamento. Por fim, a proposta de solução incorporará as

análises do diagnóstico e pontos de inovação em serviços.

Palavras-chaves:

Estratégia competitiva, setor bancário, segmentação de clientes.

ABSTRACT

This graduation thesis intend to describe an elaborate competitive strategy for a new

high income costumer segment in Itau Bank, the High Income.

According to Porter (1996), the strategy formula is based on trade-offs. Thus, on

solution suggestion, there will be applications to differ from the competitor business,

as the five chosen for the segment; service channels, offer to be products, the profile

of managers and the best way to manage the service.

Further to it, the literature review will talk about two important themes: the competitive

strategy and services innovation. In sequence, an analysis about the high income

costumer segment will be done following the prescriptive methodology from the

school of strategic thoughts in Positioning. Lastly, the solution suggestion will

incorporate the analysis and positions about services innovation.

Keywords:

Competitive strategy, bank setor, costumer segmentation.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1.1 – Segmentação do Banco Itaú ............................................................................................. 15 Figura 1.2 – Organograma da DCIU ..................................................................................................... 16 Figura 2.1 – Elementos de uma Estratégia Dinâmica ........................................................................... 25 Figura 2.2 – Análise Estrutural da Indústria: as Cinco Forças Competitivas ........................................ 27 Figura 2.3 – Matriz do Poder ................................................................................................................. 28 Figura 2.4 – Mapa Ilustrativo da Indústria De Serra Americana ........................................................... 31 Figura 2.5 – Estratégias Genéricas ....................................................................................................... 33 Figura 2.6 – Modelo das Lacunas (Gaps) ............................................................................................. 36 Figura 2.7 – Traduzindo Visão e Estratégia: Quatro Perspectivas ....................................................... 37 Figura 2.8 – Quatro Células de Inovação em Serviços ........................................................................ 43 Figura 2.9 – A Diagonal Volume X Variedade ...................................................................................... 45 Figura 3.1 – Crescimento do Segmento Alta Renda............................................................................. 52 Figura 3.2 – Matriz de Poder para Clientes Alta Renda ....................................................................... 55 Figura 3.3 – Intensidade das Forças ..................................................................................................... 56 Figura 3.4 – Mapa Estratégico do Segmento Alta Renda ..................................................................... 58 Figura 3.5 - Vendas Mensais do Grupo ................................................................................................ 63 Figura 3.6 – Valor Médio do Produto (Mil R$) ....................................................................................... 63 Figura 3.7 – Estratégia Genérica: Atendimento Diferenciado para o Segmento Alta Renda ............... 64 Figura 3.8 – Clientes que não Pagariam Maiores Tarifas ..................................................................... 64 Figura 3.9 – Incremento de Recursos por Mês de Migração ................................................................ 65 Figura 3.10 – Tarifa Média de Conta Corrente dos Segmentos (R$) ................................................... 68 Figura 3.11 – Treinamento X Qualidade do Atendimento ..................................................................... 70 Figura 3.12 – Gaps para Clientes Alta Renda ...................................................................................... 73 Figura 4.1 – Marca do Segmento Itaú Único ........................................................................................ 74 Figura 4.2 – Célula de Inovação do Itaú Único ..................................................................................... 75 Figura 4.3 – Layout da Agência ............................................................................................................ 77 Figura 4.4 – Modelo Bankfone Itaú Único ............................................................................................. 78 Figura 4.5 – Porcentagem de Clientes com Senha Eletrônica ............................................................. 79 Figura 4.6 – Modelo de Vendas: Varejo X Único .................................................................................. 86 Figura 4.7 – 3 Pilares do Programa Atuar ............................................................................................. 93 Figura 4.8 – Diagonal Volume X Variedade para os Segmentos PF do Itaú ........................................ 94 Figura 4.9 – Estrutura Comercial do Itaú Único .................................................................................... 95

LISTA DE TABELAS

Tabela 1.1 – Principais Indicadores Itaú Unibanco ............................................................................... 14

Tabela 2.1 – Escolas de Formulação da Estratégia ............................................................................. 22

Tabela 2.2 – Análise do Poder de Barganha de Clientes e Fornecedores. .......................................... 27

Tabela 2.3 – Análise de Swot e Grupos Estratégicos ........................................................................... 30

Tabela 2.4 – Escala de Importância e Desempenho ............................................................................ 35

Tabela 2.5 – Serviços Profissionais X Serviços em Massa .................................................................. 46

Tabela 3.1 – Principais Bancos e Seus Segmentos Alta Renda .......................................................... 53

Tabela 3.2 – Análise Swot do Segmento Alta Renda ........................................................................... 61

Tabela 4.1 – Indicadores Por Faixa de UPA ......................................................................................... 82

Tabela 4.2 – Taxas Mensais de Parcelados: Varejo X Único ............................................................... 88

Tabela 4.3 – Módulos do Treinamento ................................................................................................. 91

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 12 1.1 A EMPRESA ................................................................................................................................... 12 1.2 DEFINIÇÃO DO PROBLEMA .............................................................................................................. 15 1.3 O ESTÁGIO ................................................................................................................................... 16 1.4 OBJETIVO ...................................................................................................................................... 17 1.5 JUSTIFICATIVA ............................................................................................................................... 18 1.6 METODOLOGIA E ESTRUTURA ......................................................................................................... 19

2. REVISÃO DA LITERATURA ............................................................................................................ 21 2.1 ESTRATÉGIA COMPETITIVA ............................................................................................................. 21

2.1.1 Características da Estratégia .............................................................................................. 23 2.1.2 Análise Ambiental ................................................................................................................ 26

2.1.2.1 Análise Estrutural da Indústria ..................................................................................................... 26 2.1.2.2 Análise Estrutural Dentro da Indústria ......................................................................................... 29

2.1.3 Análise da Organização ...................................................................................................... 31 2.1.3.1 Competências Essenciais ............................................................................................................ 31 2.1.3.2 Estratégias Competitivas Genéricas ............................................................................................ 33 2.1.3.3 Estratégia no Nível das Operações ............................................................................................. 35

2.1.4 Implementação da Estratégia .............................................................................................. 37 2.2 INOVAÇÃO EM SERVIÇOS ................................................................................................................ 38

2.2.1 Características Fundamentais e sua Influência no Desenvolvimento de Novos Serviços . 39 2.2.1.1 Intangibilidade.............................................................................................................................. 39 2.2.1.2 Inseparabilidade .......................................................................................................................... 40 2.2.1.3 Heterogeneidade ......................................................................................................................... 41 2.2.1.4 Perecibilidade .............................................................................................................................. 42

2.2.2 Criação de Novos Mercados em Serviços .......................................................................... 43 2.2.3 O Modelo de Processo de Serviços e suas Implicações Estratégicas ............................... 45

3. DIAGNÓSTICO ................................................................................................................................. 52 3.1 O MERCADO DE CLIENTES ALTA RENDA ......................................................................................... 52 3.2 ANÁLISE ESTRUTURAL DA INDÚSTRIA BANCÁRIA DE ALTA RENDA ..................................................... 54 3.3 GRUPOS ESTRATÉGICOS DENTRO DO SEGMENTO ........................................................................... 57 3.3 ANÁLISE SWOT ............................................................................................................................ 59

3.3.1 Pontos Fortes (Strength) ..................................................................................................... 59 3.3.2 Pontos Fracos (Weakness) ................................................................................................. 60 3.3.3 Oportunidades (Opportunities) ............................................................................................ 60 3.3.4 Ameaças (Threats) .............................................................................................................. 61

3.4 COMPETÊNCIAS ESSENCIAIS DA ORGANIZAÇÃO .............................................................................. 62 3.5 ESTRATÉGIA GENÉRICA DO NOVO SEGMENTO ................................................................................ 64 3.6 MODELO DAS LACUNAS .................................................................................................................. 65

3.6.1 Confiabilidade ...................................................................................................................... 66 3.6.2 Preço do Serviço ................................................................................................................. 67 3.6.3 Rapidez no Atendimento ..................................................................................................... 68 3.6.4 Qualidade do Atendimento .................................................................................................. 70 3.6.5 Variedade de Produtos e Serviços ...................................................................................... 71 3.6.6 Priorização dos Gaps .......................................................................................................... 73

4. PROPOSTA DE SOLUÇÃO ............................................................................................................. 74 4.1 INOVAÇÃO DO ITAÚ ÚNICO .............................................................................................................. 75 4.2 SELEÇÃO DOS CANAIS DE ATENDIMENTO ........................................................................................ 76

4.2.1 Atendimento nos Canais Remotos ...................................................................................... 77 4.2.2 Telemarketing Ativo ............................................................................................................. 79

4.3 SELEÇÃO DOS CLIENTES ................................................................................................................ 80 4.3.1 Convite e Migração dos Clientes Varejo ............................................................................. 83

4.4 SELEÇÃO DOS PRODUTOS, SERVIÇOS E VENDAS ............................................................................ 84 4.4.1 Produtos de Conta Corrente ................................................................................................ 86 4.4.2 Produtos de Crédito ............................................................................................................. 86

4.4.2.1 Alocação de Limites entre Rotativos (ALR) ................................................................................. 87 4.4.2.2 Faixa de Negociação (FN) para Parcelados ................................................................................ 88

4.4.3 Produtos de Investimento .................................................................................................... 89 4.4.4 Seguros ............................................................................................................................... 89

4.5 SELEÇÃO DOS GERENTES .............................................................................................................. 90 4.5.1 Treinamento ......................................................................................................................... 91 4.5.2 Programa ATUAR ................................................................................................................ 92

4.6 GERENCIAMENTO DAS OPERAÇÕES DO SEGMENTO ......................................................................... 93 4.6.1 Design .................................................................................................................................. 94 4.6.2 Controle ............................................................................................................................... 94 4.6.3 Melhoria ............................................................................................................................... 96

5. ANÁLISE DOS RESULTADOS ........................................................................................................ 97 5.1 IMPACTO PARA OS CLIENTES .......................................................................................................... 97 5.2 IMPACTO PARA O BANCO ................................................................................................................ 98 5.3 IMPACTO PARA O MERCADO ........................................................................................................... 99

6. CONCLUSÃO ................................................................................................................................. 100 7. REFERÊNCIAS ............................................................................................................................... 102 APÊNDICE .......................................................................................................................................... 105

12

1. INTRODUÇÃO

A introdução tem por objetivo apresentar o escopo do trabalho de formatura. A

empresa e a área nas quais ele foi realizado, qual o problema e o objetivo a ser

alcançado, bem como o que motiva o trabalho estão presentes nesta seção.

Cabe lembrar que uma análise mais detalhada do problema e da empresa será feita

utilizando-se ferramentas presentes na revisão da literatura, dentro da seção de

diagnóstico.

1.1 A Empresa O Banco Itaú Holding Financeira S.A. foi fundado em 1945, tendo sua origem no

Banco Central de Crédito, depois chamado de Banco Federal de Crédito. Após um período de crescimento interno de quase 20 anos, com a modernização do

sistema financeiro brasileiro deflagrado pelo governo federal, o Itaú Holding

ingressou num período de fusões, sendo a primeira delas entre o Banco Federal de

Crédito e o Banco Itaú. Seguiram-se as fusões com o Banco Sul Americano e com o

Banco da América. Esse período se estendeu entre 1964 e 1969. O rápido crescimento se deu não só pela expansão interna, mas pelas sucessivas

aquisições dos Bancos Aliança, Português do Brasil e União Comercial. No final da

década de 70, o Itaú Holding deu os primeiros passos para sua atuação

internacional, com a abertura das agências de Nova Iorque e Buenos Aires.

Já na década de 80, o conturbado ambiente político e econômico do país

aconselhava o retorno ao crescimento interno. O Itaú adquiriu apenas um banco, o

Pinto de Magalhães. No final da década, o Itaú foi um dos primeiros a transformar-se

em banco múltiplo, formalizando juridicamente sua organização interna que já assim

se delineara desde os anos 70. Nessa década, entretanto, o Itaú estabeleceu-se

firmemente como “Banco Eletrônico”, evidenciando sua prioridade à tecnologia de

ponta.

13

Para orientar sua ação social e marcar seu compromisso de cidadania empresarial,

o Itaú Holding criou, em 1993, o Programa de Apoio Comunitário (PROAC), atual

Programa Itaú Social. No ano seguinte foram fundados os Bancos Itaú Europa

(controlado pela sub-holding Itaúsa Portugal, SGPS, subordinada à holding Itaúsa),

Itaú Argentina e Itaú Bank (Cayman), ampliando a visão e a operação internacional

do conglomerado financeiro hoje liderado pelo Banco Itaú Holding Financeira S.A.

Em 1995 dá-se início à nova fase de expansão por meio de aquisições. O Itaú

Holding adquire o BFB - Banco Francês e Brasileiro, reforçando sua posição no

segmento de clientes de alta renda, tesouraria e corporate banking. Em 1996, é

firmada aliança estratégica com o Bankers Trust New York, que deu origem ao Itaú

Bankers Trust Banco de Investimento, atual Itauvest Banco de Investimento. Em

1997, foi adquirido o Banco Itaú Europa Luxembourg (ex-Bamerindus Luxembourg),

controlado pela holding Itaúsa Portugal. Esta holding detém também importante

participação no Banco BPI, uma das maiores organizações bancárias de Portugal.

Durante o período de 1997 a 2001, numa bem sucedida seqüência de participações

em leilões de privatização de bancos estaduais, o Itaú Holding adquiriu o Banerj (Rio

de Janeiro) (1997), o Bemge (Minas Gerais) (1998), o Banestado (Paraná) (2000) e

o BEG (Goiás) (2001). Em 2002 o então Banco Itaú S.A. anunciou a associação com o grupo controlador

do Banco BBA-Creditanstalt S.A. (BBA). O Itaú e o BBA iniciaram, em 10 de março

de 2003, as operações do Banco Itaú-BBA S.A., o maior banco de atacado do país.

Também em 2003, O Banco Itaú S.A. anuncia uma reorganização societária, que

culminou na criação da atual nomenclatura, Banco Itaú Holding Financeira S.A., que

passou a controlar as empresas financeiras do Conglomerado.

Em maio de 2006, o Itaú e o Bank of America Corporation assinaram acordo, para

aquisição do BankBoston no Brasil e do direito de exclusividade para adquirir as

operações do BankBoston no Chile e no Uruguai e outros ativos financeiros de

clientes da América Latina.

No dia 3 de novembro de 2008, Itaú e Unibanco assinaram contrato de associação

para a unificação das operações financeiras dos dois bancos. Foi o início formal da

construção do maior conglomerado do Hemisfério Sul, com valor de mercado que o

situa entre as 20 maiores instituições financeiras do mundo.

O Itaú Unibanco Banco Múltiplo S.A. já nasce com mais de 20 milhões de clientes,

contando com estrutura, produtos e serviços desenvolvidos para atender com

14

qualidade às necessidades dos diversos perfis de público. Abaixo, quadro com os

principais indicadores do novo banco. Tabela 1.1 – Principais Indicadores Itaú Unibanco

Resultado (Acumulado no Período) (Em R$ Milhões)

2008 com Unibanco

2008 sem Unibanco

2007

Resultado Líquido de Juros 23.433 21.600 20.971

Desp. Prov. p/ Créd. de Liq. Duvid. -14.330 -12.140 -6.563

Receita de Prestação de Serviços 11.439 10.307 10.174

I.R. e Contribuição Social 9.412 8.082 -4.756

Lucro Líquido 7.803 7.803 8.474

Dividendos 3.205 3.205 2.830

Balanço Patrimonial (Em R$ Milhões)

2008 com Unibanco

2008 sem Unibanco

2007

Total de Ativos 632.728 461.010 294.876

Operações de Crédito e Garantias 271.938 180.659 127.589

Operações de Crédito 241.043 167.146 115.548

Garantias 30.895 13.513 12.041

Depósitos 206.189 150.673 81.592

Patrimônio Líquido 43.664 43.664 28.969

Recursos Administrados 258.252 201.984 211.464

Fundos de Investimentos 200.488 158.090 182.552

Carteiras Administradas 57.764 43.894 28.912

Indicadores por Ação (Em R$) 2008 com Unibanco

2008 sem Unibanco

2007

Dividendos 0,88 0,88 0,85

Lucro Líquido 1,90 1,90 2,82

Valor Patrimonial 10,66 10,66 9,96

Valor de Merc. (Ações Pref.) 26,10 26,10 36,40

Nº de Ações em Circ. (Milhões) 4.097 4.097 2.996

Valor de Mercado (R$ Milhões) 107.946 107.946 140.534

Número de: (Em quantidade) 2008 com Unibanco

2008 sem Unibanco

2007

Funcionários (consolidado) 108.027 71.354 65.089

Pontos de Vendas (Ag. + PABs) 4.905 3.662 3.528

Nº de Caixas Eletrônicos 30.909 23.781 23.739

Fonte: Site Corporativo

15

1.2 Definição do Problema O Banco Itaú, por meio de estruturas especializadas, atende diversos perfis de

clientes: pequenas, médias e microempresas, poder público, investidores

institucionais, pessoas físicas – incluindo o segmento de renda elevada

(Personnalité) e clientes com elevado patrimônio financeiro (Itaú Private). Também

administra os negócios de underwriting, custódia, corretagem de valores mobiliários,

cartões de crédito, consórcios, seguros, capitalização e previdência privada. O

financiamento de veículos, os cartões de crédito e as operações de financiamentos

para clientes não correntistas de baixa renda (Taií) realizam-se por meio da Itaucred.

O Banco Itaú BBA atua no segmento corporate e investment banking.

Figura 1.1 – Segmentação do Banco Itaú

Fonte: Site Corporativo

O segmento Itaú Agências (Varejo) conta com quase 10 milhões de clientes.

Contudo, estava dividido em apenas dois módulos: gerenciado (Premium) ou

Individual (sem gerente especializado). Carteiras de alguns gerentes chegavam a

ter, em média, 1.200 clientes. Com isso, perde-se o foco no atendimento

diferenciado a consumidores de maior poder aquisitivo que, entretanto, ainda não

tem o perfil desejado para o Itaú Personnalité. Com o baixo relacionamento, os

clientes ficam sub-rentabilizados no Varejo, deixando de consumir produtos e fazer

aplicações no banco.

R$ 7.000

16

Devido ao exposto acima, em setembro de 2008, a direção do banco decidiu dividir o

Varejo, criando um novo segmento para os clientes citados. Este seria um nível

intermediário entre o Itaú Personnalité e o Itaú Agências (Varejo).

De inicio, o segmento absorveria clientes do banco com renda mensal a partir de

determinado valor a ser definido, sendo denominado Itaú Alta Renda. Com a fusão

entre Itaú e Unibanco, o segmento passou também a acolher alguns clientes do

Unibanco Uniclass sem perfil para migrarem para o Personnalité. Sendo assim,

passou a se chamar Itaú Uniclass.

Para o escopo deste trabalho, todos os dados e as análises feitas considerarão o

primeiro cenário. Ou seja, supõe-se que ainda não se sabia da fusão entre os dois

bancos. Logo, o Unibanco é considerado um concorrente. Além disso, a

denominação utilizada para citar o novo segmento e seus clientes será o Alta Renda.

1.3 O Estágio

Para estruturar esse novo projeto, foi criada uma nova diretoria dentro da área de

negócios Banco Pessoa Física. O estagiário encontra-se lotado na Gerência de

Gestão de Clientes Itaú Uniclass (GGCIU) desde o início do projeto.

Figura 1.2 – Organograma da DCIU

No começo, ajudou com a realização de estudos para estimar o melhor perfil de

cliente do novo segmento. Analisando dados de recursos investidos, renda mensal,

BANCO PF

Diretoria de Clientes Itaú Uniclass

Área Personnalité

Área Itaú Agências

Diretoria de Cobranças

Sup.de Gestão de Clientes Itaú

Uniclass

Ger de Gestão de Clientes Itaú

Uniclass

Sup. Comerciais

17

quantidade de clientes, escolaridade, utilização de canais eletrônicos, entre outros,

chegou-se a conclusão de qual seria a renda mensal líquida mínima para um cliente

tornar-se do segmento.

Comparando-se dados referentes a migrações de clientes do Varejo para o

Personnalité, estimou o possível ganho com o novo segmento. Além disso,

colaborou na elaboração de metas para os gerentes no que concerne à qualidade do

atendimento e vendas de produtos de crédito.

Atualmente, o estagiário, em conjunto com um supervisor, é responsável pelo

planejamento de novos processos de atendimento para o segmento, bem como a

modelagem de novos produtos de crédito e investimentos.

A participação nessas diversas frentes de trabalho trouxe ao autor uma visão sobre

as expectativas e potencial ainda não explorado dos clientes Alta Renda, além de

uma mensuração mais correta de quais idéias são passíveis de implementação e

quais têm espaço apenas num mundo hipotético.

1.4 Objetivo Um novo segmento dentro do banco só tem sentido e se sustentará se, em primeiro

lugar, houver uma estratégia competitiva correta para este. Para Porter (1996),

marcar um posicionamento estratégico único significa diferenciar o negócio em um

ou mais dos três campos a seguir: variedade de produtos e serviços, atendimento às

necessidades de um determinado grupo de consumidores e particularidades de

acessibilidade de um conjunto de clientes.

Para criar-se uma estratégia não basta apenas modificar uma ou outra atividade em

relação à forma de atuar dos concorrentes. É do conjunto de atividades

diferenciadas que emana uma estratégia de sucesso que poderá ser sustentada a

longo prazo. Portanto, saber escolher entre o que fazer e o que não fazer é

primordial no processo de formulação (CARVALHO; LAURINDO, 2007).

Basicamente, levando-se em consideração o citado acima, o objetivo deste trabalho é a formulação da estratégia competitiva para o novo segmento voltado a pessoa física do banco Itaú, aqui denominado de Alta Renda.

18

Para alcançar este objetivo, algumas escolhas deverão ser feitas, tais como:

• Quais clientes do Varejo serão os potenciais para o segmento;

• Quais os canais de atendimento para os clientes;

• Como diferenciar o serviço prestado dos outros dois segmentos do banco e do

mercado;

• Quais produtos ofertar e como, além de quais serão suas particularidades em

relação aos de outros segmentos;

• Como gerenciar o serviço.

Cabe lembrar que o segmento entrou em vigor no dia 19 de Janeiro de 2009. Sendo

assim, na data de apresentação deste trabalho, já havia se passado quase um ano

do início do Itaú Uniclass que, evidentemente, já possui uma estratégia própria.

Logo, o autor pretende formular a estratégia do segmento de acordo com sua

própria visão e conhecimento do negócio. Algumas soluções serão semelhantes a o

que ocorre na realidade. Porém, para a maioria, há uma grande diferença.

As ferramentas para alcançar este objetivo serão: o conhecimento adquirido através

da participação em diversas frentes de trabalho; uma vasta revisão da literatura para

otimizar a utilização de conhecimento teóricos e; diversas pesquisas, internas e de

mercado, realizadas pelo banco.

1.5 Justificativa

O novo segmento, voltado a clientes Alta Renda, tem por objetivo diferenciar sua

forma de atendimento e relacionamento com esses consumidores.

Segundo executivos da nova diretoria, a importância do segmento em marcar uma

posição estratégica única está no fato de guiar as decisões em duas frentes de

trabalho. Para a superintendência de planejamento, a estratégia é um orientador

para o planejamento e execução de qualquer ação das diversas áreas envolvidas

com o segmento, como Produtos, Canais, Sistemas, Marketing, entre outras. Já para

as superintendências comerciais, a estratégia molda a forma de relacionamento com

os clientes, através da seleção de funcionários da linha de frente e dos próprios

clientes.

19

1.6 Metodologia e Estrutura

Este trabalho de formatura está dividido em seis seções. Estas, por sua vez, estão

sub-divididas em alguns capítulos.

A primeira seção é a introdução. Nela é apresentada a empresa e a área nas quais o

trabalho será realizado, as tarefas realizadas pelo estagiário e como estas agregam

valor à organização. O que motivou a realização e o escopo do trabalho será

exposto na definição do problema, assim como o objetivo informa onde o autor

pretende chegar. A demonstração de que o tema é importante para a alta gerencia

do banco encontra-se no capítulo da justificativa.

A segunda seção diz respeito à revisão da literatura. Ela colaborará para uma

melhor e mais clara definição do problema, auxiliará na busca por propostas de

solução e métodos para a escolha da melhor alternativa. Basicamente, serão

abordadas duas grandes questões relativas ao tema. O primeiro capítulo fala sobre

os métodos e ferramentas para a elaboração da estratégia. Defini-se o que é e o que

não é estratégia, quais pontos devem ser cobertos nas análises para fora e para

dentro da organização, bem como implementá-la. Por tratar-se de um novo

segmento de um banco, o segundo capítulo da revisão é sobre serviços. Quais as

características básicas e como influenciam no desenvolvimento de um novo modelo

de serviço, quais as possíveis formas de inovação nessa área, bem como os três

tipos básicos de serviços, de acordo com as variáveis volume e variedade, e suas

implicações estratégicas serão os pontos cobertos nesta parte.

A partir da terceira seção, o trabalho entra em sua parte prática. Esta visa fazer um

diagnóstico do mercado bancário voltado a clientes pessoa física de elevada renda

mensal, bem como o mapeamento das características de dentro da organização. A

metodologia utilizada será aquela descrita no primeiro capítulo da revisão da

literatura. Ou seja, as cinco forças de Porter, os grupos estratégicos, a análise

SWOT, as competências essenciais da organização, a estratégia competitiva

genérica do novo segmento e o modelo das lacunas de Slack.

20

Na quarta seção, é apresentada a solução para o problema, ou seja, qual a

estratégia para o segmento. Para construí-la, levar-se-á em consideração todas as

análises feitas na seção anterior, o diagnóstico, bem como o que caracteriza

estratégia, presente na revisão da literatura. Além disso, por tratar-se de um novo

serviço, o segundo capítulo da revisão será amplamente utilizado para a formulação

deste novo modelo. Por fim, no último capítulo, será proposta uma forma de

gerenciar o segmento de acordo com a diagonal Volume X Variedade de Silvestro

(1999). Ao final da seção, espera-se que todos os pontos citados no objetivo estejam

cobertos e claros para o leitor.

Na quinta seção, será feita a análise dos resultados alcançados pelo trabalho. Para

isso, será abordado o impacto da criação do segmento nos clientes do Itaú, na

organização e no mercado, apontando-se os pontos positivo e negativos para cada

um destes grupos.

Por fim, na sexta e última seção, a conclusão, faz-se uma análise geral do trabalho

de formatura. Esta consiste em demonstrar como os pontos do objetivo inicial são

atendidos pela proposta de solução, qual o valor agregado a organização e o

aprendizado adquirido pelo aluno com este trabalho.

21

2. REVISÃO DA LITERATURA

A Revisão da Literatura é ponto fundamental para o trabalho. Ela atua em duas

frentes: ajuda a entender e explicitar melhor o problema em questão, além de ser a

base para a construção da análise e solução do caso.

Esta seção divide-se em dois grandes temas. O primeiro é a Estratégica Competitiva

e suas principais ferramentas de análise. A segunda é a Inovação em Serviços,

fundamental para diferenciar o novo segmento de seus concorrentes e construir uma

estratégia sustentável a longo prazo.

2.1 Estratégia Competitiva A idéia de estratégia é fruto de campanhas militares. Surgiu na Antiguidade e teve

seu significado modificado até o século XIX. A partir das guerras napoleônicas,

abrange áreas militares, econômicas e políticas. Segundo Carvalho e Laurindo

(2007, p.3) “a palavra vem do termo grego stratego, que literalmente significa

general”. Na clássica divisão dos aspectos da guerra, o plano estratégico refere-se

ao planejamento mais geral e com maior horizonte de tempo.

No século XIX, dois teóricos estudaram os sucessos dos exércitos napoleônicos e

criaram as duas principais correntes de pensamento estratégico. O general

prussiano Karl von Clausewitz (1780-1830) defendia que a teoria da estratégia

deveria ter um caráter descritivo. Como o comando é essencialmente criativo, não

há uma fórmula para o sucesso estratégico, mas seria possível aprender com outras

experiências, ajudando a desenvolver julgamento e intuição nos comandantes. Já

para o general franco-suíço Antoine-Henri de Jomini (1779-1869), a estratégia militar

tem caráter prescritivo e é regida por princípios a serem seguidos como

fundamentos para a ação (CARVALHO; LAURINDO, 2007).

De acordo com Hurst (2001), as formas de se pensar estratégia estão entre os dois

modos citados acima. Assim, Mintzberg e Lampel (1999) classificaram dez diferentes

“escolas”, que para os autores significam processos diferentes de fazer estratégia

22

como diferentes partes de um mesmo processo (CARVALHO; LAURINDO, 2007).

Essas etapas contribuem de diferentes formas na formulação da estratégia, como

apresentadas na tabela 2.1. Tabela 2.1 – Escolas de Formulação da Estratégia

Escola de Pensamento

Visão do Processo

Contribuição de Cada Escola no Processo de Formulação da Estratégia

Prescritivas

Design Processo de

Concepção

Olhar para o futuro próximo, na busca de uma

perspectiva estratégica.

Planejamento Processo Formal Olhar para o futuro imediato, para programar a execução

de uma estratégia definitiva.

Posicionamento Processo Analítico Olhar para o passado dentro de um horizonte definido,

cuja análise contribui para a formulação da estratégia.

Descritivas

EmpreendedorismoProcesso

Visionário

Olhar para um futuro distante, na busca de uma visão

única.

Cognitivo Processo Mental O pensamento do formulador da estratégia, que está no

centro do processo.

Aprendizado Processo

Emergente Olhar para o detalhe, na busca das raízes dos fatos.

Poder Processo de

Negociação Olhar para os pontos escondidos dentro da organização

Cultural Processo Social Olhar para o processo, dentro das perspectivas

subjetivas das crenças.

Ambiental Processo Reativo Olhar para o processo como um todo, dentro da

perspectiva do ambiente.

Configuração Processo de

Transformação

Olhar para o processo de maneira mais ampla,

perscrutando todos os aspectos.

Fonte: Adaptada de Mintzberg e Lampel, 1999.

Ainda segundo Hurst (2001), há outras correntes de pensamento estratégico

voltadas para a implementação e não formulação, como o Balanced Scorecard

(KAPLAN; NORTON, 1992, 1996, 2000), a Administração por Autocontrole

(DRUCKER, 1994), a Destruição Criativa (FOSTER; KAPLAN, 2001) e os Modelos

de Ruptura (CHRISTENSEN; OVERDORF, 2000).

23

2.1.1 Características da Estratégia

Henderson (1989) bem como Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000) entendem

estratégia como a construção e execução de um plano de ação com o objetivo de

orientar decisões futuras, de forma a criar um cenário favorável para quem o

elabora. Ou seja, desenvolver uma vantagem competitiva para o negócio

(CARVALHO; LAURINDO, 2007).

Algumas idéias têm sido confundidas com o conceito de estratégia, sendo a mais

comum delas a de eficiência operacional. Para Porter (1996), eficiência operacional

significa executar atividades similares melhor do que os competidores, tais como

reduções de custos, melhorias marginais na qualidade e nos prazos de entrega.

Para isso, desenvolveram-se diversas ferramentas gerenciais, como, por exemplo:

TQM (Total Quality Management), benchmarking, outsourcing, partnering,

reengenharia. Entretanto, com a rápida difusão de melhores práticas, a vantagem

inicialmente obtida é velozmente igualada. Assim, mais empresas tornam-se

semelhantes, impossibilitando que uma delas destaque-se das demais e tenha

ganhos mais significativos (CARVALHO; LAURINDO, 2007).

A eficiência operacional é importante devido à competição acirrada nos dias atuais,

sem ela uma corporação enfrenta dificuldades para sobreviver. Porém, somente

uma posição estratégica única pode diferenciar, a longo prazo, uma empresa de

seus principais concorrentes. Segundo Carvalho e Laurindo (2007, p.20), “posição

estratégica significa executar atividades diferentes das de seus concorrentes ou

executar atividades similares de forma diferente”. Hamel (1996) vai mais além, e

defende a idéia de que fazer estratégia exige posturas mais revolucionárias que

alterem o modo de operação das empresas, diferentemente de atitudes

conservadoras buscadas com a eficiência operacional. Uma estratégia competitiva, para Porter (1996), significa escolher um diferente arranjo de atividades para entregar um composto de valor único, marcando uma posição estratégica. O posicionamento estratégico pode ser realizado baseando-se em três fontes distintas que não são mutuamente excludentes: variedade de produtos e serviços, atendimento às necessidades de um determinado grupo de consumidores e particularidades de modalidades de acesso (acessibilidade) de um grupo específico de consumidores (CARVALHO; LAURINDO, 2007, p.22).

O posicionamento baseado na variedade de produtos e serviços procura a escolha

de um determinado conjunto dos mesmos. Em seguida, busca-se a melhor forma de

24

produzi-los, através do desenvolvimento de novas e diferenciadas atividades

(CARVALHO; LAURINDO, 2007).

Já na posição marcada por atendimento às necessidades específicas de um grupo

de consumidores, só há efetivamente um posicionamento único quando o arranjo de

atividades para tal atendimento também for diferenciado. As necessidades podem

ser de diversos tipos, como maior sensibilidade a preço ou produtos e serviços com

características diferentes (CARVALHO; LAURINDO, 2007).

Por fim, as modalidades de acesso de um determinado grupo de consumidores

levam a um posicionamento estratégico quando é necessário um conjunto de

atividades diferenciadas na hora de alcançar esse grupo. O que pode levar a esse

panorama são fatores geográficos, de escalas ou qualquer outro que demande uma

maneira específica de atingir os consumidores (CARVALHO; LAURINDO, 2007).

Entretanto, uma posição única não é garantia de vantagem no longo prazo, pois

concorrentes podem imitar o posicionamento. Para minimizar esse risco, no

momento de formular a estratégia, procura-se o equilíbrio entre alternativas

excludentes (trade-offs), ou seja, determinar quais atividades fazer e quais não

fazer. Segundo Porter (1996), a necessidade destes trade-offs fundamenta-se em

três razões (CARVALHO; LAURINDO, 2007):

• Manter a consistência de imagem ou reputação no cliente faz com que ele

receba sempre o mesmo tipo de valor;

• A compatibilidade com as características das próprias atividades facilita o uso

homogêneo de equipamentos, exigências de habilidades, comportamento e

treinamento de funcionários e gerentes e;

• A existência de limites na coordenação interna e no controle força a empresa a

escolher atividades de acordo com prioridades. Caso deseje executar diversas

alternativas, corre o risco de não atingir o desempenho esperado em nenhuma

delas.

Seguindo por esta linha de pensamento, a formulação da estratégia procura quais

atividades executar e como elas se relacionam entre si. Quanto maior o nível de

compatibilização e o reforço recíproco entre elas, melhor será esse inter-

relacionamento. Porter (1996) considera a existência de três níveis de

compatibilização (CARVALHO; LAURINDO, 2007):

25

• O primeiro é a consistência entre a estratégia da empresa e as atividades no

âmbito funcional, o que facilita implementação, comunicação e transmissão da

estratégia para clientes, funcionários e acionistas;

• A segunda é o reforço mútuo das atividades, ou seja, a execução de uma produz

efeitos que reforçam a outra;

• O terceiro é a otimização de esforços que, através de fluxo de informações e

coordenação, visa eliminar redundâncias e eliminar desperdícios. Nota-se que estes fatores de compatibilidade indicam que o conjunto das atividades, e não cada atividade, é o que importa para o estabelecimento e a manutenção da vantagem competitiva. A preocupação na busca da excelência no desempenho de atividades individuais é característica da eficiência operacional, não da estratégia. Portanto, é da totalidade do sistema de atividades que emanam a vantagem competitiva e, por conseguinte, o sucesso da estratégia (CARVALHO; LAURINDO, 2007, p.26).

Entretanto, como já foi citado, o posicionamento estratégico único é transitório.

Segundo Markides (1999), caso o posicionamento seja atrativo, empresas

concorrentes o imitarão. Além disso, o dinamismo do mercado faz com que novas

posições surjam de maneira contínua.

Figura 2.1 – Elementos de uma Estratégia Dinâmica

Fonte: Carvalho e Laurindo, 2007

Portanto, a estratégia é essencialmente dinâmica e, nesse contexto, a empresa deve

orientar-se nos seguintes pontos (CARVALHO; LAURINDO, 2007):

• Estabelecer uma posição estratégica única distintiva na indústria em que atua.

• Competir com base nessa posição, de forma a ser melhor do que os

concorrentes da indústria.

• Perscrutar continuamente por novas posições estratégicas.

• Caso identifique outra posição estratégica viável em sua indústria, a empresa

deve tentar a difícil tarefa de administrar as duas posições simultaneamente. À

Encontrar uma posição

estratégica única na atual indústria

Competir nessa posição,

tornando-se melhor do que os

concorrentes

Gerenciar posições antigas

e novas simultaneamente

Fazer a transição da posição antiga

para a nova

Encontrar uma posição

estratégica única na atual indústria

26

medida que a posição antiga entra na maturidade e passa a declinar, a empresa

deve gradualmente fazer a transição para a nova posição.

• O ciclo então deve ser recomeçado: quando já competindo na nova posição,

deve prosseguir na busca por outra nova posição estratégica viável.

2.1.2 Análise Ambiental

A elaboração de uma estratégia eficiente está atrelada ao mapeamento e contínuo

monitoramento do ambiente competitivo. Sendo assim, as oportunidades e ameaças

emergentes são rapidamente sinalizadas. As duas ferramentas mais utilizadas para

entender o ambiente competitivo são a: Análise Estrutural da Indústria e Análise

Estrutural Dentro da Indústria.

2.1.2.1 Análise Estrutural da Indústria

Porter (1979) criou um modelo de análise do ambiente competitivo, supondo a

atuação de cinco forças competitivas, a saber: clientes, fornecedores, concorrentes

existentes, novos entrantes em potencial e produtos/serviços substitutos. A

elaboração da estratégia competitiva deve estar focada nos itens que tem maior

destaque em relação aos demais.

As pressões exercidas por essas forças são determinantes estruturais da

competição e da sua lucratividade em uma indústria. Logo, seu mapeamento auxilia

na busca por uma posição onde se possam diminuir essas pressões ou até mesmo

fazê-las influenciar a favor da empresa (PORTER, 1999). Elas realçam os pontos fortes e os pontos fracos mais importantes da empresa, inspiram seu posicionamento no setor, iluminam as áreas em que as mudanças estratégicas proporcionem o maior retorno e identificam os pontos em que as tendências setoriais são mais significativas, em termos de oportunidades ou ameaças (p.28).

27

Figura 2.2 – Análise Estrutural da Indústria: as Cinco Forças Competitivas

Fonte: Carvalho e Laurindo, 2007

Na horizontal da figura 2.2 encontra-se o poder de barganha de clientes e

fornecedores. A tabela 2.2 apresenta alguns pontos que, se presentes, podem

destacar a atuação de determinada força. Tabela 2.2 – Análise do Poder de Barganha de Clientes e Fornecedores.

Clientes Fornecedores

Os clientes estão concentrados ou adquirem em

grandes volumes. O produto dos fornecedores é um insumo crítico.

As compras significam uma fração significativa

de seus custos.

O grupo de fornecedores é constituído por

poucas companhias e mais concentrado do que

a indústria em análise.

Os produtos da indústria são padronizados e/ou

não são importantes para a qualidade de

produtos dos clientes.

A indústria não é um cliente importante para o

grupo de fornecedores.

Os clientes têm total informação. Os produtos dos fornecedores são diferenciados

e não concorrem com produtos substitutos.

O grupo de clientes é uma ameaça concreta

para trás.

Os fornecedores são uma ameaça concreta de

integração para frente.

Fonte: Carvalho e Laurindo, 2007.

Se compradores e fornecedores são intensas forças competitivas, deve-se traçar

uma estratégia focada nestes. Isto implica na seleção dos mesmos, escolha de

clientes-alvo ou grupos de clientes e estratégias de compra, buscando aspectos

estratégicos e não só operacionais (CARVALHO; LAURINDO, 2007).

Cox et al. (2001) propõe uma matriz do poder para analisar a barganha entre

compradores e fornecedores. Conforme mostra a figura 2.3, há quatro quadrantes:

Ingressantes Potenciais

Concorrentes Existentes

Produtos ou Serviços

Substitutos

Fornecedores Consumidores

Ameaça de novos ingressantes

Poder de Barganha

Poder de Barganha

Ameaça de produtos ou serviços Substitutos

28

dominância do comprador, interdependência, independência, dominância do

fornecedor. A interdependência sinaliza que compradores e fornecedores possuem

atributos de poder e necessitam do envolvimento de ambos para a realização de

trocas comerciais. Já na independência nenhum dos dois possui atributos de poder,

impossibilitando que um exija de outro o cumprimento de requisitos. Os quadrantes

de dominância pura são auto-explicativos.

Figura 2.3 – Matriz do Poder

Fonte: Cox et al, 2001

Já na linha vertical do mapa de forças competitivas, encontra-se a influência da

concorrência, limitador essencial da lucratividade da indústria. A concorrência não

pode ser considerada apenas como as empresas já estabelecidas no mercado, mas

também toda nova ameaça, como potenciais novos entrantes ou produtos

substitutos, caracterizando assim a rivalidade ampliada. Indústrias com grandes

ameaças de produtos substitutos ou novos entrantes acirram a rivalidade entre seus

membros, chegando a uma guerra por preços (CARVALHO; LAURINDO, 2007).

Os principais aspectos a serem verificados para analisar a influência de

concorrentes já existentes são (CARVALHO; LAURINDO, 2007):

• Concorrentes numerosos ou equilibrados.

• Crescimento lento da indústria.

• Custos fixos altos.

• Ausência de diferenciação.

• Capacidade aumentada em grandes incrementos.

• Concorrentes com estratégias divergentes.

• Barreiras de saídas elevadas.

Com relação à rivalidade ampliada, para os novos entrantes, há inúmeras barreiras,

tais como retaliação dos concorrentes já estabelecidos, economias de escala,

Dominância do

CompradorInterdependência

IndependênciaDominância do

Fornecedor

Baixo Alto

Bai

xoA

lto

Poder do fornecedor sobre o comprador

Pode

r do

com

prad

or s

obre

o fo

rnec

edor

29

patentes e curvas de aprendizado. Estas últimas foram observadas por Heizer e

Render (1999) e permitem determinar mudanças no trade-off volume-custo, bem

como avaliar o desempenho de uma indústria ou empresa (CARVALHO;

LAURINDO, 2007).

Já os produtos/serviços substitutos representam a última força competitiva.

Destacam-se aqueles que estão sujeitos a trade-offs preço-desempenho com

produtos da indústria e/ou produzidos por indústrias com lucros altos.

2.1.2.2 Análise Estrutural Dentro da Indústria

Todas as empresas dentro do ambiente competitivo de determinada indústria estão

sob a influência das mesmas forças. Porém, como adotam diferentes

posicionamentos, chegam a resultados diferentes. O estudo dessas estratégias

diferenciadas é feito pela Análise Estrutural Dentro da Indústria, seguindo-se cinco

passos básicos.

Os primeiro e segundo passos são a caracterização da estratégia de todos os

concorrentes relevantes dentro de determinadas dimensões e avaliação das

barreiras de mobilidade resultantes de determinados posicionamentos. Dentre essas

dimensões tem-se especialização, identificação de marcas, política de canal,

seleção do canal, qualidade do produto, liderança tecnológica, integração vertical,

posição de custo, atendimento, política de preço, alavancagem, relacionamento com

a matriz (CARVALHO; LAURINDO, 2007).

Os terceiro, quarto e quinto passos dizem respeito aos grupos estratégicos, o poder

relativo de negociação com compradores e fornecedores, a posição quanto a

produtos substitutos e a interdependência no mercado (CARVALHO; LAURINDO,

2007).

Empresas dentro de um mesmo grupo estratégico seguem uma estratégia idêntica

ou muito semelhante ao longo das dimensões estratégicas. Geralmente diferem

apenas nas abordagens de marketing ou produto (CARVALHO; LAURINDO, 2007).

Grupos estratégicos não devem ser confundidos com segmentos de mercado ou

estratégias de segmentação. Eles afetam: as barreiras de mobilidade, inibindo novos

entrantes, movimentos de uma estratégia para outra e explicando as diferenças de

30

lucratividade; O poder de negociação, através de graus diferentes de vulnerabilidade

a compradores e fornecedores comuns; a ameaça de substituições; a rivalidade

dentro da indústria, já que pode existir interdependência no mercado entre os grupos

ou grau de sobreposição dos clientes visados (CARVALHO; LAURINDO, 2007).

Uma ferramenta importante para a escolha de qual grupo competir é a análise

SWOT, que mapeia os pontos fortes e fracos de uma empresa e auxilia a aumentar

oportunidades e diminuir riscos oriundos do ambiente competitivo. Tabela 2.3 – Análise de SWOT e Grupos Estratégicos

S - Pontos Fortes W - Pontos Fracos

Fatores que constroem barreiras de mobilidade. Fatores que debilitam barreiras de mobilidade.

Fatores que reforçam o poder de negociação de

seu grupo com compradores e fornecedores.

Fatores que enfraquecem o poder de

negociação de seu grupo com compradores e

fornecedores.

Fatores que isolam seu grupo da rivalidade de

outras empresas.

Fatores que expõem seu grupo da rivalidade de

outras empresas.

Escala maior em relação ao seu grupo

estratégico.

Escala menor em relação ao seu grupo

estratégico.

Fatores que permitem custos menores em seu

grupo estratégico.

Fatores que causam custos maiores em seu

grupo estratégico.

Forte capacidade de implementação de sua

estratégia em relação a seus concorrentes.

Capacidade menor de implementação de sua

estratégia em relação a seus concorrentes.

Recursos e habilidades que permitam superar

barreiras de mobilidade e penetrar em grupos

estratégicos mais interessantes.

Falta de recursos e habilidades que pudessem

permitir superar barreiras de mobilidade e

penetrar em grupos estratégicos mais

interessantes.

O - Oportunidades T - Ameaças

Criação de um novo grupo estratégico. Outras empresas entrarem em seu grupo

estratégico.

Mudança para um grupo estratégico em posição

mais favorável.

Fatores que reduzam as barreiras de mobilidade

do grupo estratégico, diminuam o poder em

relação a compradores ou fornecedores, piorem

a posição em relação a produtos substitutos ou

exponham a uma maior rivalidade.

Fortalecimento da posição estrutural do grupo

existente ou da posição da empresa no grupo.

Investimentos que visam melhorar a posição da

empresa aumentando as barreiras de

mobilidade.

31

Mudança para um novo grupo e fortalecimento

da posição estrutural deste grupo estratégico

Tentativas de superar barreiras de mobilidade

para entrar em grupos estratégicos mais

interessantes ou inteiramente novos.

Fonte: Carvalho e Laurindo, 2007.

Já o mapa dos grupos estratégicos permite visualizar a posição relativa de cada

grupo de acordo com determinados parâmetros. Ele consiste em dois eixos, com

níveis alto e baixo, que contenham dimensões críticas para analisar a indústria, ou

seja, aquelas que determinam barreiras de mobilidade principais. Essa análise

permite identificar grupos marginais, direção dos movimentos estratégicos,

tendências e previsão de reações (CARVALHO; LAURINDO, 2007).

Figura 2.4 – Mapa Ilustrativo da Indústria de Serra Americana

Fonte: Porter, 1987

2.1.3 Análise da Organização Passada a análise do ambiente competitivo e seus grupos estratégicos, as atenções

são voltadas para dentro da empresa. A criação de uma estratégia competitiva

coerente depende da identificação e desenvolvimento das principais competências

da organização. Este não é um trabalho fácil, porém imprescindível para o sucesso

no cenário competitivo.

2.1.3.1 Competências Essenciais

Grupo Profissional

Grupo com marcas

populares

Grupo com marcas

privadas

Revendedores Vendedores de artigos populares

Marca privada

Méd

iaA

lta

IMA

GEM

DE

QU

ALI

DA

DE

DA

M

AR

CA

32

Rabechini Jr. e Carvalho (2003) consideram vital identificar e desenvolver um

conjunto de esforço para construir-se uma vantagem competitiva que garanta

sucesso a organização. Segundo Prahalad e Hamel (1990), esse conjunto de

esforços são as competências essenciais (core competencies). No longo prazo, a

empresa será mais competitiva se construir essas competências mais rápido e com

menores custos que seus adversários. A corporação diversificada pode ser comparada a uma grande árvore. O tronco e os galhos maiores são os produtos essenciais (core products), os galhos menores são as unidades de negócio; as folhas, flores e frutos são os produtos finais. As raízes são as competências essenciais (core competencies), que têm por função distribuírem nutrientes e proporcionar estabilidade para a árvore (CARVALHO; LAURINDO, 2007, p.60).

Em cada nível da árvore há competição de mercado seguindo regras específicas.

Logo, ser líder em produtos finais não significa liderança em produtos essenciais,

por exemplo. Porém, ao ter posição dominante nestes últimos, a empresa molda-se

à evolução de aplicações e mercados finais, conseguindo economias de escala e

escopo. Vários produtos finais têm como componentes-chave produtos essenciais. A

forma como contribuem para gerar valor nos produtos finais é a materialização das

competências essenciais (CARVALHO; LAURINDO, 2007).

Com o passar do tempo, produtos finais perdem valor com o uso e tornam-se

obsoletos, pois são substituídos por outros mais modernos. Já as competências

essenciais são aprimoradas quando bem aplicadas ou compartilhadas. Caso

contrário “podem ser perdidas, pois o conhecimento também se deteriora” (Carvalho

e Laurindo, 2007, p.61).

Segundo Pralahad e Hamel (1990), é difícil construir uma liderança mundial baseada

em mais de cinco ou seis competências essenciais. Se uma corporação tem muitas

core competencies, para chegar às realmente relevantes, deve questionar se cada

uma delas fornece acesso a uma variedade de mercados, traz benefícios percebidos

pelos consumidores do produto final e se é difícil ser imitada pelos concorrentes

(CARVALHO; LAURINDO, 2007).

Um concorrente não consegue adquirir toda a complexa harmonização de

tecnologias individuais e habilidades necessárias para construir as competências

essenciais. Daí estas serem fundamentais para a elaboração da estratégia

(CARVALHO; LAURINDO, 2007).

33

2.1.3.2 Estratégias Competitivas Genéricas

De acordo com Porter (1979), o desempenho de uma empresa em determinada

indústria pode ser dado pela análise do desempenho médio de todos os

concorrentes somado ao desempenho relativo da organização.

Essa segunda análise dá origem às estratégias competitivas genéricas. Segundo

Porter (1979), a organização deve escolher entre dois tipos de vantagem,

diferenciação ou custos, além definir o escopo de atuação estratégica entre um

mercado mais amplo ou um segmento particular. Daí surgem quatro possíveis

posicionamentos: liderança em custos, diferenciação, enfoque/foco em custos e

enfoque/foco em diferenciação. O alinhamento de todas as atividades de uma organização em torno de uma estratégia genérica torna mais fácil a sua implementação e comunicação com clientes, empregados e acionistas. Finalmente, quando o posicionamento estratégico não está claro e os trade-offs não explicitados, isso dificulta que os recursos necessários sejam construídos, criando problemas de coordenação interna (PORTER, 1996). Dessa forma, a posição mais crítica em termos de posicionamento estratégico seria a região central (CARVALHO; LAURINDO, 2007, p.65).

Figura 2.5 – Estratégias Genéricas

Fonte: Porter, 1987

Uma empresa que busca liderança em custos deve trabalhar constantemente para

reduzir desperdícios, sempre observando às posições de custo de seus

concorrentes. Além disso, precisa fazer trade-offs, como abrir mão de maior

variabilidade e flexibilidade. Isso, porém, não significa que terá produtos de má

qualidade (CARVALHO; LAURINDO, 2007).

Para desenvolver uma vantagem realmente sustentável com esse posicionamento, a

empresa precisa criar um gap de desempenho em custos com relação aos demais

concorrentes da indústria, além de seus preços estarem ligeiramente abaixo de seus

Diferenciação Liderança

no Custo

Enfoque

DiferenciaçãoEnfoque

Custo

Unidade Observa pelo ClienteSegm

ento

Par

ticul

ar

Alv

o Es

trat

égic

oTo

daIn

dúst

ria

Posição de Baixo Custo

Região de Risco

34

competidores. Com isso, aumenta-se a margem de lucro dos produtos. Caso a

empresa crie uma guerra por preços, toda lucratividade obtida com a redução dos

custos estará perdida (CARVALHO; LAURINDO, 2007).

A empresa que compete por custos deve constantemente monitorar o mercado, pois

caso os concorrentes consigam superar o gap ou quando há mudança de

tecnologia, as bases de liderança são abaladas e até perdidas (CARVALHO;

LAURINDO, 2007).

O segundo tipo de estratégia genérica é a diferenciação. Ao identificar quais

requisitos do produto os clientes estão dispostos a pagar mais para tê-lo

diferenciado, a empresa cobra um prêmio de preço (premium price). Com isso,

consegue maior rentabilidade devido a esse “bônus”. Porém, esse acréscimo no

preço deve referir-se apenas aos custos incorridos para a diferenciação. Para os

demais custos, deve ter uma gestão cuidadosa; caso contrário, estará eliminando a

margem obtida pelo prêmio de preço com custos excessivos (CARVALHO;

LAURINDO, 2007).

As bases de liderança são abaladas quando concorrentes conseguem imitar o alvo

da diferenciação ou esta perde importância por mudanças no ambiente. Além disso,

essa estratégia é mais arriscada que a de liderança em custos, já que o cliente pode

não estar disposto a pagar o prêmio de preço pela diferenciação escolhida pela

empresa (CARVALHO; LAURINDO, 2007).

Por fim, a estratégia genérica de enfoque, tanto em custo como em diferenciação,

guarda muitas semelhanças com as duas anteriores. O que a diferencia é o escopo

competitivo. Enquanto as estratégias de liderança buscam atingir todo o mercado, as

de enfoque procuram um segmento-alvo lucrativo e sustentável para exercer sua

estratégia. Com isso, conseguem um desempenho superior ao de suas concorrentes

com alvos multifacetados. A segmentação pode ser em função de um recorte

geográfico, ou escala, ou atividade que alcance um tipo de consumidor específico

(CARVALHO; LAURINDO, 2007).

Os trade-offs desta estratégia referem-se exatamente aos seguimentos-alvo, como,

por exemplo, decidir abandonar certos canais de distribuição. Caso estas escolhas

não resultem em valor para o cliente, o desempenho da organização pode ficar

abaixo da média da indústria (CARVALHO; LAURINDO, 2007).

35

2.1.3.3 Estratégia no Nível das Operações

Para que toda a organização consiga entender as decisões estratégicas, estas

precisam ser desdobradas até o nível da manufatura/operações.

Segundo Slack (1997), os objetivos de desempenho para que a função produção

possa contribuir com uma vantagem competitiva são: qualidade, rapidez,

confiabilidade, flexibilidade e custo. Para o autor (1999), a prioridade relativa de

cada objeto de desempenho é influenciada pela forma como a organização traduz

para a produção as necessidades de seus consumidores. De acordo com Hill (1990), existem dois tipos de critérios competitivos. Os ganhadores de pedidos são os que contribuem significativamente para a realização de um negócio, ou seja, para ganhar um pedido. Já os qualificadores de pedidos são aqueles aspectos da competitividade nos quais o desempenho da produção deve estar acima de um nível qualificador determinado para ser considerado pelo cliente (CARVALHO; LAURINDO, 2007, p.74).

Uma ferramenta apresentada por Slack (1993) para a identificação dos critérios

competitivos relevantes e sua comparação com os concorrentes é o modelo das

lacunas (gaps). O eixo horizontal da matriz apresenta o grau de importância do

critério. Já o eixo vertical, a comparação com concorrentes. O desempenho, de

acordo com sua posição no plano, estará em uma das quatro zonas de plano de

ação estratégica e horizonte de tempo para implementação: urgência, melhoria,

apropriada e excesso (CARVALHO; LAURINDO, 2007).

Esse modelo é constituído dos seguintes passos (CARVALHO; LAURINDO, 2007):

• Definir o que é importante para concorrer com eficácia, definindo quais devem

ser os objetivos/critérios. Para escolher a importância do critério para o cliente

utiliza-se a escala de valores da Tabela 2.4.

• Avaliar o desempenho real atingido nos critérios selecionados no passo anterior,

utilizando a escala de valores da Tabela 2.4. Tabela 2.4 – Escala de Importância e Desempenho

Escala Importância Desempenho

1 Proporciona uma vantagem crucial junto aos

clientes - é o principal impulso.

Consistente e consideravelmente melhor do

que nosso concorrente mais próximo.

2 Proporciona importante vantagem junto ao

cliente - é sempre considerado.

Consistente e claramente melhor que nosso

concorrente mais próximo.

36

3 Proporciona uma vantagem útil junto a

maioria dos clientes - é normalmente

considerado.

Consistente e marginalmente melhor do que

nosso concorrente.

4 Precisa estar pelo menos no nível do bom

padrão do setor industrial.

Com frequência marginalmente melhor do

que a maioria de nossos concorrentes.

5 Precisa estar em torno da média do padrão

do setor industrial.

Aproximadamente, o mesmo da maioria de

nossos concorrentes.

6 Precisa estar a pouca distância do restante

do setor industrial.

Com frequência, a uma distância curta atrás

de nossos principais concorrentes.

7 Normalmente, não é considerado pelos

clientes, mas pode tornar-se mais

importante no futuro.

Usual e marginalmente pior do que nossos

principais concorrentes.

8 Muito raramente é considerado pelos

clientes.

Usualmente, pior do que a maioria de

nossos principais concorrentes.

9 Nunca é considerado pelos clientes e

provavelmente nunca será.

Consideravelmente pior do que a maioria de

nossos concorrentes.

Fonte: Slack, 1993

• Identificar as lacunas (gaps) entre o que é importante para o cliente e o

desempenho atingido, guiando as prioridades para melhoria de desempenho.

• As prioridades para planos de ação que resultem em melhoria de desempenho

seguem a seguinte ordem: zona de urgência e zona de aperfeiçoamento, pois

ambas estão abaixo da linha de desempenho mínimo, conforme mostra a figura

2.6.

Figura 2.6 – Modelo das Lacunas (gaps)

Fonte: Carvalho e Laurindo, 2007

1

2

3

4

5

6

7

8

99 8 7 6 5 4 3 2 1

Melhor

que

O mesmo

que

Pior

que

Menos importante Qualificador Ganhador de Pedido

ImportânciaBaixa Alta

Des

empe

nho

Con

corr

ente

s

Clientes

LIMITE MÍNIMO DE DESEMPENHO

ZONA DE MELHORIA

ZONA DE URGÊNCIA

ZONA APROPRIADAZONA DE EXCESSO

37

2.1.4 Implementação da Estratégia Há dois pontos relacionados ao alinhamento estratégico da organização para a

efetivação da estratégia traçada: como implementá-la e como monitorar e mensurar

os resultados obtidos com a estratégia em curso.

No que concerne à implementação, os planos e objetivos sistematizados da

organização são chamados por Mintzberg e Waters (1985) de estratégias

intencionais. Já ameaças e oportunidades que exijam respostas diárias e não

programadas dos responsáveis por executar a estratégia dão origem as estratégias

emergentes. Qualquer processo de implementação que não leve em consideração

ambas estará dissociando estratégia da ação, acarretando a falta de alinhamento

(CARVALHO; LAURINDO, 2007).

Relacionado ao monitoramento e mensuração dos resultados obtidos, o modelo

desenvolvido por Kaplan e Norton (1992), o Balanced Scorecard (BSC), trata do

alinhamento estratégico e seu desdobramento em metas, objetivos e requisitos

organizacionais.

O que o diferencia dos métodos de medição tradicionais, que enfocam medidas

financeiro-contábeis, é a forma como considera ativos intangíveis. O mapa

estratégico sumariza o desempenho de toda organização em quatro perspectivas,

envolvendo, além da tradicional perspectiva financeira, a perspectiva do cliente, a

perspectiva do aprendizado & crescimento e a perspectiva dos processos internos.

Com isso, consegue-se feedback tanto dos processos internos como dos resultados

externos, além de conectar a estratégia de longo prazo com as ações de curto prazo

(KAPLAN; NORTAN, 1996).

Figura 2.7 – Traduzindo Visão e Estratégia: Quatro Perspectivas

Fonte: Kaplan e Norton, 1996

Objetivos Indicador Meta IniciativasPara ter sucesso

nessa perspectiva, como nossos

acionistas devem nos enxergar?

Financeira

Objetivos Indicador Meta IniciativasPara atingir nossa visão, como nossos clientes devem nos

enxergar?

ClientesObjetivos Indicador Meta Iniciativas

Para satisfazer a nossos acionistas e

clientes, quais processos são

prioritarios?

Processos Internos

Objetivos Indicador Meta IniciativasPara atingir nossa

visão, como promover nossa

habilidade de mudar e melhorar?

Aprendizado e Crescimento

Visão

e

Estratégia

38

A perspectiva financeira define os objetivos de longo prazo da unidade de negócio,

não se limitando aos objetivos de lucratividade. Contudo, geralmente as três

medidas mais comuns são: crescimento da receita e mix, redução de

custos/melhoria da produtividade e utilização dos ativos/estratégia de investimento

(CARVALHO; LAURINDO, 2007).

A perspectiva do cliente mede uma série de parâmetros genéricos, como satisfação

dos clientes, retenção de clientes ou conquista de novos clientes. Um fraco

desempenho pode significar um declínio futuro, mesmo com indicadores financeiros

se mostrando favoráveis (CARVALHO; LAURINDO, 2007).

A perspectiva dos processos internos identifica processos críticos. Estes são chaves

para capacitar o negócio a entregar a proposição de valor do segmento-alvo e

satisfazer as expectativas dos clientes (CARVALHO; LAURINDO, 2007).

Por fim, a perspectiva de aprendizagem e crescimento dá sustentação, no longo

prazo, aos requisitos necessários para atingirem-se os objetivos em outras

perspectivas. Suas medidas podem ser pessoal, sistemas e procedimentos

(KAPLAN; NORTON, 1996).

2.2 Inovação em Serviços Atualmente, empresas de serviços buscam melhorar suas atividades como formas

de diferenciar suas operações de concorrentes tradicionais e possíveis novos

competidores. Com isso, procuram atender melhor os clientes e atrair novos

usuários. Porém, a grande parte destas melhorias é incremental, caracterizando

mais a busca por eficiência operacional do que a criação de uma nova estratégia

(BARRY et al, 2006; GRIFFIN, 1997; MENOR, 2000).

Dificilmente uma companhia desenvolve um serviço que cria um mercado totalmente

novo. Ou até mesmo remodela um serviço de forma a gerar novas vantagens,

impossíveis de serem atingidas com a configuração atual. Esses dois tipos de

inovação têm potencial de crescimento e lucratividade bem maior do que a simples

imitação ou melhorias incrementais de processos de serviços (BARRY et al, 2006).

39

Define-se inovação em serviços quando um sistema de operações e atividades é

modificado ou desenvolvido de forma a atender demandas antes indisponíveis para

os clientes. Essa inovação é percebida pelos usuários na forma de um novo conceito

de serviço, mudanças em aspectos organizacionais ou nos resultados do serviço

(LOVELOCK, 1984; GADREY; GALLOUJ; WEINSTEIN, 1995; TAX; STUART, 1997).

Já o redesenho de serviços é um tipo específico de inovação, no qual há

reconstituição, rearranjo ou substituição de processos que constituem o serviço

antigo (QUAGGIO; SILVA, 2007).

2.2.1 Características Fundamentais e sua Influência no Desenvolvimento de Novos Serviços Uma das dificuldades de ter sucesso no desenvolvimento de um novo serviço é

prever e, conseqüentemente, inserir as influências de suas características

fundamentais nas especificações do mesmo. Quaggio e Silva (2007) apontam cinco

influências da intangibilidade, inseparabilidade, heterogeneidade e perecibilidade

que afetam de maneira positiva ou negativa o desempenho do novo serviço após

sua implementação.

2.2.1.1 Intangibilidade

A primeira e mais reconhecida característica dos serviços é a intangibilidade.

Diferentemente de objetos, serviços não podem ser sentidos ou tocados, já que

represem performances. Lovelock e Gummesson (2004) apontam dois tipos de

intangibilidade. A física é a dificuldade em sentir ou tocar o serviço. Já a mental

representa a dificuldade de imaginar os resultados do serviço (QUAGGIO; SILVA,

2007).

Da intangibilidade mental deriva a dificuldade para o usuário conhecer, avaliar,

interpretar e decidir por um conceito e uma operação de serviços pela primeira vez,

40

sem nunca antes ter tido contato com o mesmo (MCDOUGLAS; SNETSINGER,

1990; LOVELOCK; GUMMESSON, 2004).

Com o serviço antigo, o cliente sente-se mais seguro, pois sabe como este pode

atender suas expectativas e até quais suas deficiências, fruto de experiências

passadas. Já com o novo serviço, o cliente pode tornar-se reticente. A lógica e os

objetivos do novo modelo ainda não podem ser bem avaliados pelo usuário, já que

não tem experiências passadas. Assim, para se sentir mais seguro em alcançar o

que almeja, o cliente pode relacionar-se com a organização seguindo o modelo

antigo (QUAGGIO; SILVA, 2007).

1ª Influência: O cliente-usuário tem dificuldade para avaliar previamente os

benefícios do redesenho de uma operação de serviços, em comparação ao serviço

original.

2.2.1.2 Inseparabilidade

A segunda característica é a inseparabilidade. Seguindo a ordem inversa de

produtos, serviços são primeiramente vendidos para, na seqüência, serem

produzidos e consumidos conjuntamente. Sistemas de operações, quem oferta e

quem recebe não podem ser separados, já que o cliente deve estar presente na

produção do serviço tanto para recebê-lo, como para co-criá-lo junto com os

profissionais que realizam as tarefas (ZEITHAML; PARASURAMAN; BERRY, 1985;

QUAGGIO; SILVA, 2007).

Como participante do processo produtivo, o usuário precisa conhecer plenamente

seu papel, suas tarefas e maneira que ele deve realizá-las. Porém, ao criar o novo

serviço, poucas empresas reparam que atendem a perfis diversificados, que

percebem essa mudança de várias maneiras. Com isso, as tentativas de padronizar

o modo como os clientes atuam no processo produtivo correm o risco de fracasso

(QUAGGIO; SILVA, 2007).

2ª Influência: O cliente-usuário participa em diferentes níveis e formas como co-

produtor do serviço.

41

Como os serviços são primeiramente vendidos para depois serem produzidos e

consumidos quase que simultaneamente, não há como controlar o processo e os

resultados antes que estes sejam sentidos pelos usuários. De maneira prática, isso

significa que uma organização de serviços nunca consegue garantir que todos os

seus clientes irão ser atendidos exatamente como previamente planejou (QUAGGIO;

SILVA, 2007).

Essa situação se deve a dois motivos. O primeiro é que o usuário pode pedir

alterações no serviço para satisfazer às suas necessidades. O segundo é que os

produtores do serviço têm autonomia para modificá-lo se julgarem que isto é

necessário para atender melhor o cliente. Como muitas vezes a organização não

enxerga essas mudanças antes de serem realizadas, não consegue avaliar se vão

de encontro aos objetivos e propósitos do novo serviço (QUAGGIO; SILVA, 2007).

Essa autonomia pode ser benéfica ao processo de redesenho de serviço, uma vez

que os trabalhadores podem adaptar ou até criar novos procedimentos caso o

projeto do sistema de operações falhe. Entretanto, pode ocorrer dos profissionais

abandonarem as lógicas da própria organização, passando a atuar sob seus

próprios conceitos e percepções, o que pode prejudicar a aderência do novo serviço

aos objetivos de seu projeto (MINTZBERG, 1989; MINTZBERG, 1995).

3ª Influência: O trabalhador pode modificar aspectos do sistema de operações e

realizar a entrega do serviço ao cliente, sem que a organização consiga identificar

previamente.

2.2.1.3 Heterogeneidade

Segundo Quaggio e Silva (2007, p.6), “as operações de serviços são caracterizadas

pelo alto potencial de variabilidade que elas estão sujeitas”.

Essas flutuações de desempenho vêm basicamente de duas fontes. Trabalhadores

podem variar o tratamento de cliente para cliente e de momento para momento,

criando diferenças na qualidade do serviço prestado. Além disso, dois clientes,

atendidos de forma semelhante por um mesmo funcionário que executa as tarefas

42

nas mesmas condições, podem ter percepções distintas sobre a operação de

serviço (LOVELOCK; GUMMESSON, 2004).

Ao passar por processo de redesenho de serviços, principalmente quando há

necessidade de modificações na configuração organizacional e nas tarefas da linha

de frente, é preciso que a corporação execute um alinhamento organizacional. Este

objetiva que todos os funcionários tenham em mente as características do novo

serviço e suas vantagens em relação ao anterior (TAX; STUART, 1997).

Neste período de adaptação, é comum que trabalhadores sejam contrários ou

desconfiem da efetividade do no serviço, além de alguns clientes aproveitarem a

oportunidade para tentar impor suas necessidades individuais. Como resultado,

aumenta ainda mais a variabilidade do serviço (QUAGGIO; SILVA, 2007).

4ª Influência: Diferentes clientes têm diferentes expectativas em relação ao novo

serviço.

2.2.1.4 Perecibilidade

A característica da perecibilidade demonstra que serviços não podem ser

armazenados para posterior uso, ou até mesmo repassados ou devolvidos à

organização. Como não podem ser produzidos para serem guardados, se um

serviço não é utilizado quando está disponível, este é desperdiçado. Serviços são

mais sensíveis a flutuações de demanda do que produtos (EDGETT; PARKINSON,

1993; LOVELOCK; GUMMESSON, 2004; NG; WIRTZ; LEE, 1998).

No período que sucede o processo de redesenho de serviço, há uma perda de

produtividade significativa, já que tanto clientes como funcionários ainda estão se

adaptando ao novo serviço. Assim, há um aumento de filas, as quais o cliente

associa com piora do novo serviço se comparado com o antigo, dificultando a

aceitação da mudança (QUAGGIO; SILVA, 2007).

5ª Influência: Operações de serviços estão sujeitas à significativas flutuações na

demanda.

43

2.2.2 Criação de Novos Mercados em Serviços

Com o desenvolvimento de novos serviços, há a possibilidade de criação de novos

mercados. A inovação dá-se em duas dimensões: o tipo de serviço oferecido e a

separação de criação e entrega. Na primeira, pode-se inovar através da essência do

beneficio oferecido ou da forma como este é entregue ao cliente. Na segunda, há a

diferenciação se o serviço deve ser produzido e consumido simultaneamente

(BARRY et al, 2006).

Com isso, cria-se uma matriz dois por dois, com quatro células que representam as

formas de inovação na criação de novos mercados. Ela é útil para se identificar a

célula alvo da inovação e a dinâmica da mesma. O erro na escolha desta pode

significar perdas de oportunidades em crescimento (BARRY et al, 2006).

Figura 2.8 – Quatro Células de Inovação em Serviços

Fonte: Barry et al, 2006

A primeira célula, chamada de Soluções Flexíveis, é caracterizada por inovações em

um benefício essencial do serviço que pode ser consumido separadamente de

quando e onde foi produzido. Dessa forma, organizações que direcionam seus

esforços para resolver problemas de tempo e espaço de seus clientes estão criando

novos mercados. Um exemplo é o serviço de entregas rápidas da Fedex, sensíveis a

restrições de tempo (BARRY et al, 2006).

A segunda célula é intitulada como Conveniência Controlável. Aqui, a inovação não

está no benefício do serviço, mas sim na forma como ele é entregue. Como na

célula um, o serviço é produzido separadamente de seu consumo. Sendo assim, os

usuários podem aproveitar o serviço quando e onde quiserem. O Google é o maior

Soluções

Flexíveis

Conveniência

Controlável

Ganhos

Confortáveis

Acesso

Respeitoso

EssencialTipo de Benefício

Entrega

Separável

Inseparável

Tipo de Serviço

1

3

2

4

44

exemplo, já que não inventou o serviço de prover informação, mas sim a rapidez de

busca por informações na internet (BARRY et al, 2006).

A terceira é a célula de Ganhos Confortáveis. Refere-se a inovações em serviços

que oferecem um novo benefício consumido no mesmo local e horário em que é

produzido. O segredo é procurar por novas formas de passar uma experiência única

para o cliente. Um exemplo é o Cirque du Soleil, uma mistura de teatro com circo

que produz um espetáculo totalmente novo para sua platéia (BARRY et al, 2006).

Por fim, a quarta e última célula é o Acesso Respeitoso. Nesta, a inovação se dá

pela forma nova de entrega do serviço, sendo a produção e consumo dos serviços

inseparáveis. Essas empresas mostram interesse pelo tempo e presença física dos

clientes ao utilizarem o serviço. Um dos exemplos é Southwest Airlines, que diminuiu

o tempo de vôo utilizando-se de rotas sem paradas intermediárias (BARRY et al,

2006).

Para a criação desses novos mercados há nove direcionadores que, se bem

exploradas, podem significar o sucesso da inovação (BARRY et al, 2006):

• Muitos serviços são extremamente dependentes do trabalho humano, sendo

mais difícil buscar ganhos com escala. Algumas formas propostas pelo autor para

atingí-la são o aumento da base tecnológica, incentivar clientes a participar mais

do processo de produção, prêmios variáveis por produtividade e até criar uma

divisão temporária do serviço enquanto prepara-se outra que permita diminuir a

dependência do trabalho humano;

• O cliente forma uma impressão sobre o serviço através dos aspectos técnicos,

mecânicos (aqueles não relacionados a elementos humanos) e humanos.

Entender suas necessidades nestas três áreas é fundamental para melhorar a

qualidade, principalmente de serviços inseparáveis;

• Investimento em treinamento dos funcionários, pois eles têm grande impacto na

forma como o cliente enxerga o serviço;

• A inovação no âmbito das operações deve ser contínua ao longo do tempo, já

que dificulta a imitação de concorrentes;

• Ter uma marca diferenciada que passe confiança e transparência para os

clientes, principalmente na célula de Soluções Flexíveis. Isto porque os usuários

ficam receosos com mudanças no principal benefício do serviço ofertado;

• Uma pessoa que transforme as idéias em ações efetivas;

45

• Prover ao cliente um benefício que seja superior ao que tenha atualmente, de

forma a estimular o consumidor a experimentar o novo serviço. E assim, fazer o

marketing “boca-a-boca”;

• Criar formas para que o cliente consiga ter acesso a esse benefício;

• Sempre procurar novas formas de inovação. Dessa forma, deseja-se sempre

estar um pouco a frente dos principais concorrentes.

O ponto de partida da inovação é a cultura organizacional. Concorrentes podem

imitar as mudanças tecnológicas ou de infra-estrutura. Porém, copiar o modelo de

atuação dos empregados é muito mais difícil. Logo, promover uma cultura para

inovação é essencial na busca por competitividade (BARRY et al, 2006).

2.2.3 O Modelo de Processo de Serviços e suas Implicações Estratégicas Silvestro (1999) propõe um modelo para gerenciamento de operações de serviços

baseado no tradicional modelo da manufatura. Através de uma correlação inversa

entre volume produzido e variedade, o modelo distingue três tipos de serviços,

sendo eles serviços profissionais, loja de serviços e serviços em massa. No modelo de processo de serviços, o volume é definido como a quantidade de consumidores processados, mensurados em termos de número de clientes processados por negócio por unidade por período. Essa medida inclui negócios de clientes que podem ou não requerer sua presença, logo, em um banco, por exemplo, o volume de consumidores processados inclui transações de back office tanto quanto de front office (SILVESTRO, 1999, p.400, tradução nossa).

Figura 2.9 – A diagonal Volume x Variedade

Fonte: Silvestro et al, 1992

Volume de clientes por unidade por período

Baixo

Serviços Profissionais

Alto

AltoTempo de Contato

Customização

Discretização

Foco em Pessoas

Orientação Front Office

Orientação p/ Processo

MédioTempo de Contato

Customização

Discretização

Pessoas/Equipamentos

Front/Back Office

Produto/Processo

BaixoTempo de Contato

Customização

Discretização

Foco em Equipamentos

Orientação Back Office

Orientação p/ Produto

Loja de Serviços

Serviços em Massa

46

Slack et al. (1995) argumentam que as três tarefas chaves para o gerenciamento de

operações são o design da operação; planejamento e controle e; melhoria. A análise

destas três tarefas é feita nos dois extremos da diagonal volume-variedade, com

serviços profissionais em uma ponta e serviços em massa na outra. Suas

características principais são apresentadas na tabela 2.5. Tabela 2.5 – Serviços Profissionais X Serviços em Massa

Tarefa Serviços Profissionais Fontes Serviços em Massa

Design

Especificação

do Serviço

Clientes participam do processo de

especificação do serviço.

Murdick et

al, 1990

Especificações de serviços

elaboradas antes do cliente

participar do processo.

Flexibilidade em atender os

requisitos dos clientes e importantes

datas de entrega.

Fitzgerald et

al, 1991

Resposta média e tempo de entrega

são geralmente estimados no

design do serviço. Logo, há pouca

flexibilidade no curto prazo.

Expectativas

dos Clientes

Em geral, pouco definida.

Funcionários auxiliam clientes a

definir os requisitos e diagnosticar

problemas.

Morris &

Johnston,

1987

Gerenciar expectativas dos clientes

sobre o serviço é importante. Pré-

seleção de clientes deve ser

apropriada.

Clientes têm dificuldades em avaliar

a qualidade do serviço;

particularmente competência e

segurança.

Haywood-

Farmer &

Nollet, 1991

Relacionamento

com o Cliente

Relacionamento de longo prazo

entre consumidores e funcionários.

A estes últimos são alocadas contas

de clientes.

Fitzgerald et

al, 1991

Relacionamento entre cliente e

organização.

Altos custos para mudança criam

oportunidades para fidelização do

cliente. Marketing de

relacionamento é uma ferramenta

importante.

Silvestro,

1999.

Em geral, clientes são menos fiéis;

segurá-los no serviço é difícil.

Introdução de mecanismos que

estimulem a fidelidade é um desafio

chave.

Recomendações “boca-a-boca” e

referencias de atuais clientes são

importantes meios de marketing.

Haywood-

Farmer &

Nollet, 1991.

Esforços de marketing precisam

focar-se em fazer o serviço

"acolhedor", dado o escopo limitado

para fornecimento de atenção

pessoal.

47

Clientes costumam associar preço

baixo com qualidade baixa, criando

oportunidades para o prêmio de

preço.

Schmenner,

1986.

Controle

Recursos

Chaves

Questões relacionadas ao

gerenciamento de recursos

humanos dominam os esforços.

Contratação, treinamento,

agendamento, progressão de

carreira, retenção do funcionário são

chaves para o sucesso.

Schmenner,

1986.

Equipamentos e máquinas são

áreas chaves de investimento.

Tarefas da

Linha de Frente

Tarefas com baixa especificação.

Grandes habilidades, usualmente

requeridas, geram altas

remunerações e custos de treino.

Oportunidades de aprendizado por

repetição são limitadas.

Sasser et al,

1978.

Tarefas são altamente

especificadas, bem definidas,

ensináveis e de duração conhecida.

Funcionário tende a tornar-se

proficiente em um tipo de operação.

Tarefas tendem a ser repetitivas,

exigindo colaboradores tolerantes à

repetição.

Baixa reproducabilidade de

serviços.

Voss et al,

1985. Alta reproducabilidade de serviços.

Elevada competência da linha de

frente.

Bowen &

Lawler,

1992.

Aproximação ao gerenciamento de

linha de produção, caracterizado

pelo controle firme dos empregados

e contato em script com o

consumidor.

Controle do

Trabalho

Atribuições devem ser de longo

prazo. O tempo para finalizar o

trabalho é incerto e variável.

Dificuldade em regular o andamento

das tarefas e padronizá-las.

Sasser et al,

1978.

Altamente visível, desempenho

regulável. Quando a demanda está

estável, as unidades tentem a ser

altamente produtivas devido a

divisão do trabalho, especialização

e conhecimento da escala.

Controle

Organizacional

Estruturas horizontais são comuns.

Liberdade ao invés de controle

rígido da relação entre gerentes e

funcionários.

Sasser et al,

1978;

Mintzberg,

1993.

Estruturas hierárquicas

normalmente com muitas camadas

de gerencia. Relacionamento entre

gerentes e funcionários marcado

pelo controle rígido e firme.

48

Processos orgânicos. Wemmerlov,

1990. Processos mecânicos

Controle da

Qualidade

Julgamento profissional em

substituição aos sistemas de rotina.

Confiança nos profissionais para

monitorar e fazer o controle da

qualidade, ao invés de sistemas e

procedimentos da organização.

Collier,

1990.

Controle da qualidade está inserido

no serviço através da aplicação de

procedimentos de operação padrão.

Auditorias da qualidade para

garantir que haja a apropriada

execução do julgamento

profissional.

Silvestro,

1999.

Inspeções gerenciais usadas como

um mecanismo para controlar a

qualidade.

Controle de

Custos

Produtividade do trabalho é a chave

para medir a utilização.

Fitzgerald et

al, 1991.

Produtividade é mensurada em

termos de utilização de mão-de-obra

e outros recursos.

Controle dos custos de mão-de-obra

é importante, sendo sua medição

relativamente fácil. Sistemas diários

são utilizados para documentar as

horas trabalhadas por tarefa.

Brignall et

al, 1991.

Medição dos custos é difícil devido a

complexidade de caminhos que os

consumidores podem tomar durante

o processo. Dificuldade em

averiguar a lucratividade de cada

serviço.

Gerenciamento

da Capacidade

Capacidade definida em termos de

horas de trabalho.

Sasser et al,

1978.

Capacidade definida em termos de

disponibilidade de recursos físicos,

máquinas e equipamentos.

Flexibilidade no que diz respeito ao

ajuste da capacidade para adaptar-

se as flutuações de demanda.

Sasser et al,

1978.

Flexibilidade no curto prazo para

ajustar a capacidade. Estratégias de

nível de capacidade e estabilização

da demanda através de preço e

promoções.

Fontes de

Flexibilidade

Agendamento de tarefas.

Negociação da data de entrega com

os consumidores. Multi-habilidades.

Job rotation. Funcionários

transferidos entre unidades.

Fitzgerald et

al, 1991.

Funcionários de meio-período ou

temporários.

Melhoria

49

Reparação de

Erros

Retenção do cliente é chave, dado

que o valor de cada conta

geralmente é alto e aumenta ao

longo do tempo.

Haywood-

Farmer &

Nollet, 1991;

Reichheld &

Sasser,

1990.

O serviço de solução de

reclamações é customizado, já que

cada fonte de insatisfação de um

cliente difere da de outro.

Silvestro,

1999.

O segredo é a criação de um

sistema de gerenciamento de

reclamações que permita solucionar

a insatisfação do cliente. Este

sistema tende a ser altamente

baseado em procedimentos.

Garantias de

Serviço

Garantias explícitas são uma fonte

de diferenciação e melhoram a

credibilidade de empresas

iniciantes. Porém, em geral, podem

abalar a confiança do consumidor e

fazê-lo crer em maior possibilidade

de erro.

Hart, 1998;

Hart et al,

1992.

Garantias explícitas servem para

ajudar a gerenciar as expectativas

dos clientes e estimulá-los a gerar

oportunidades para a reparação.

Custos de reembolso costumam ser

altos. A insatisfação do cliente tem

que ser tratada individualmente ao

invés de estar escrita em termos de

garantia. Garantias implícitas

servem para guiar melhorias

internas.

Silvestro,

1999.

Garantias fazem a padronização do

serviço ser visível tanto pra clientes

como funcionários; implementação

das garantias é altamente baseada

em procedimento.

Mensuração da

Qualidade

Interna

Foco está no desempenho do

funcionário; julgamento profissional.

Collier,

1990. Foco está no controle do sistema.

Chaves para medição incluem

níveis de investimento em

treinamento dos funcionários e

supervisão.

Fitzgerald et

al, 1991.

O uso de mystery shoppers e

inspeções gerenciadas são comuns,

usando checklists padronizados

para avaliar o fornecimento de

serviços rotineiramente.

Mensuração da

Satisfação do

Cliente

Auditorias formais de qualidade e

avaliação do funcionário devem ser

usadas para medir a qualidade

interna.

Silvestro,

1999.

Técnicas de melhorias quantitativas

de qualidade como SPC devem ser

aplicadas.

50

Medição informal da satisfação do

cliente baseada em entrevistas

individuais e relatórios

desestruturados. A satisfação de

todos consumidores deve ser

monitorada. Identificação de

insatisfação deve resultar em

tentativas de recuperação de cada

serviço individualmente.

Fitzgerald et

al, 1991.

Medição formal do sistema

utilizando-se de entrevistas e

checklists. Medidas baseadas em

amostras. Identificação de

insatisfação implicará em decisões

de design de serviços.

Fonte: Silvestro, 1999.

Para um serviço ser o mais eficiente possível, e dessa forma mais competitivo, seus

processos devem estar localizados o mais próximo da diagonal volume-variedade.

Aqueles que estão muito a direita atendem a muitos clientes, ofertando grande

variedade de serviços. Com isso, eles perdem a oportunidade de maior

padronização, o que representaria significativas economias e facilitaria a estratégia

genérica de liderança em custos. Em contrapartida, empresas localizadas a

esquerda da diagonal podem estar padronizando demais seus serviços, o que causa

insatisfação em seus clientes devido ao nível de variedade e customização

oferecidas (SILVESTRO, 1999).

Sendo assim, posicionar os serviços na diagonal tem enormes implicações

estratégicas. Logo, o modelo pode ser utilizado como uma ferramenta de diagnóstico

para avaliar e analisar a estratégia de operação de serviços de três formas.

A primeira diz respeito à possibilidade de movimentos estratégicos no plano Volume

x Variedade, de forma a operação de serviços aderir a diagonal. Assim, ganha-se

em desempenho e competitividade. Um exemplo é o da agência de viagens Lunn

Poli, que nos anos 80 diminuiu o número de produtos oferecidos e os padronizou,

para continuar a atender um grande volume de clientes (SILVESTRO, 1999).

A segunda forma é a comparação do serviço oferecido com o de concorrentes

dentro de uma mesma indústria. Como fruto dessa análise, pode ocorrer a

identificação de lacunas no mercado que estimulam a criação de um serviço

gerenciado de forma diferente. Como exemplo, a Chicago Pizza Pie Factory, que ao

perceber a presença de apenas dois tipos de restaurantes no mercado (A la Carte

em uma ponta e Fast Food em outra), criou uma forma intermediária de serviço

gastronômico, baseada em Lojas de Serviços (SILVESTRO, 1999).

51

Por fim, a terceira e última forma é a análise de diferentes operações, dentro de uma

mesma organização, que são separadas dentro da diagonal Volume X Variedade

para serem administradas de formas diferentes. Um exemplo é a divisão do Barclays

Bank em empréstimos para grandes corporações (serviços profissionais), ATM e

caixas eletrônicos (serviços de massa) e pequenos empréstimos a pessoa física (loja

de serviços). Essa divisão por segmento facilita o controle de custos, bem como

proporciona o nível de diferenciação que o cliente está disposto a pagar

(SILVESTRO, 1999).

52

3. DIAGNÓSTICO

O objetivo desta seção é fazer um diagnóstico do segmento de clientes

considerados de alta renda do setor bancário. Ferramentas abordadas na revisão da

literatura serão utilizadas para melhor organizar as informações colhidas durante o

período de estágio. Isso facilitará insights relacionados à inovação em serviços,

necessários para formulação de uma estratégia competitiva única para o segmento.

Os números apresentados nesta seção não seguem fielmente a realidade nem

representam a verdadeira relação proporcional entre pares. Isto devido a

necessidade de sigilo com relação a diversas informações, exigidas pelos gestores

da área.

Entretanto, para efeito de análise, todas as informações seguem a relação de causa

e efeito condizente com a realidade.

3.1 O Mercado de Clientes Alta Renda

No Brasil, a maioria dos grandes bancos de varejo tem uma segmentação voltada

para clientes com renda superior a média do mercado, os clientes Alta Renda. O

crescimento do segmento pode ser visualizado pelo número de clientes nos últimos

anos (figura 3.1).

Figura 3.1 – Crescimento do Segmento Alta Renda

Entre os grandes concorrentes do mercado não há consenso sobre qual a renda

mensal base para que um cliente seja elegível ao segmento. A tabela 3.1 apresenta

2,3 2,5 2,6 2,9 3,2 3,4 3,7 3,8

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 20080%

3%

6%

9%

12%

15%

Qtde. Clientes (Milhões) Crescimento

53

os principais bancos, seus segmentos voltados para o público de alta renda e os

requisitos para ser elegível ao segmento. Tabela 3.1 – Principais Bancos e seus Segmentos Alta Renda

Banco Denominação do Segmento Renda Mensal e/ou Investimentos

Itaú Personnalité > 7.000 ou 50.000

Bradesco Prime > 4.000 ou 50.000

Unibanco Uniclass > 4.000 ou 50.000

HSBC Premier > 5.000 ou 50.000

Banco Real Van Gogh A 4.000 a 8.000 ou 40.000

Van Gogh B > 8.000 ou 40.000

Santander Preferencial > 4.000 ou 50.000

Banco do Brasil Estilo > 6.000 ou 100.000

Citibank Citibank > 10.000 ou 100.000

Fonte: Pesquisas Internas de Marketing

Pesquisas de marketing sobre o perfil deste cliente, considerando-se aqueles que

têm renda mensal superior a R$ 4.000, apontam as seguintes características:

• 65% são homens e 35% mulheres;

• A escolaridade de 72% dos clientes é de nível superior completo;

• A idade média é de 37 anos.

Este perfil ajuda a compreender algumas das necessidades específicas desse

conjunto de consumidores, que o levam a um atendimento mais especializado:

• O cliente, em geral, possui grandes quantidades de recursos. No segmento do

Varejo, mais popular e com a lógica de serviços em massa, não há quem possa

ter uma atenção especial na administração financeira de sua conta. Logo, ele

pode sentir-se “abandonado” pelo banco, mesmo com todo esse potencial. Como

conseqüência, ele diminui cada vez mais o relacionamento com a instituição

financeira e acaba levando seus investimentos para concorrentes. Daí a

necessidade de ter mais atenção com este consumidor.

• Suas transações, tanto para alguns produtos de crédito quanto para

investimentos, envolvem grandes valores. Assim, um gerente dedicado a sua

54

conta, bem como um local mais reservado para falar de sua vida financeira, dão

ao cliente a segurança de poder confiar no banco.

• Devido ao seu alto grau de instrução e valor de renda, requer produtos e serviços

mais personalizados, diferente dos demandados pelos clientes do segmento

Varejo. Um serviço mais profissional é a chave para entender as necessidades

do cliente e lhe ofertar um produto que atenda aos seus desejos. Logo, seu

gerente deve ter conhecimentos técnicos, e não só puramente comerciais.

Agora, com relação à organização, o que a motiva a segmentar este cliente é o fato

de que se não tivesse uma atenção especial, através de produtos personalizados e

atendimento com mais proximidade, o cliente seria sub-rentabilizado no segmento

Varejo. Ou seja, aumentar o relacionamento com o banco é também aumentar a

receita da instituição.

3.2 Análise Estrutural da Indústria Bancária de Alta Renda

O primeiro passo para a construção de uma estratégia competitiva é conhecer como

as cinco forças de Porter influenciam a dinâmica da indústria. Ao identificar sua

intensidade, o novo segmento poderá procurar uma posição no qual sofrerá menos

ou até mesmo se beneficiará do poder destas forças.

A força competitiva clientes tem intensidade forte. Cada cliente, em geral, possui

grande quantidade de recursos aplicada, além de consumir produtos e serviços mais

caros e em maior quantidade. Isso aumenta seu poder de barganha, já que os

consumidores têm consciência de sua importância para a instituição. Como toda

proposta de valor de um segmento Alta Renda é atender de forma diferenciada,

qualquer falha pode levá-lo a diminuir seu relacionamento ou até mesmo procurar

outro concorrente. Isso significa perder o cliente que é mais rentável para o banco.

Além disso, por tratar-se de um serviço com algumas características profissionais,

depende-se muito do marketing “boca-a-boca”. Logo, ter um ex-cliente dando más

indicações sobre o serviço pode acarretar a perda de futuros novos consumidores.

A força competitiva fornecedores tem intensidade fraca. Primeiramente é

necessário identificar quem pode ser considerado fornecedor. Por definição, é

55

aquele que provem insumos e recursos necessários para a fabricação do produto ou

execução do serviço. Considerando-se um banco como um intermediário financeiro,

os fornecedores de recursos monetários são os próprios clientes. Porém, não

somente os clientes Alta Renda, mas todos os consumidores dos bancos. Como a

população bancarizada brasileira é de aproximadamente 80 milhões de pessoas

(físicas e jurídicas), os fornecedores estão extremamente pulverizados. Além disso,

para a grande maioria é essencial investir seu dinheiro em bancos, mesmo que na

forma mais básica, a poupança, com o intuito de resguardar-se de eventual

desvalorização. Isso diminui o poder de barganha dos fornecedores.

Pela matriz de Cox et al. (2001), pode-se analisar o poder de barganha entre os

clientes Alta Renda e o segmento bancário responsável por seu atendimento como

sendo de interdependência. Para a realização de trocas comerciais, os fornecedores

exigem dos clientes o cumprimento de determinados requisitos, como valor da renda

mensal, investimentos ou apontamentos de crédito. Já os clientes esperam um nível

de atendimento e formato de produtos que atinjam ou superem suas expectativas.

Caso contrário, não exitam em trocar de prestador de serviço. Sendo assim, apesar

da influência de ambos serem alta, pode-se considerar o poder de barganha do

comprador sobre o fornecedor maior do que o caso inverso.

Figura 3.2 – Matriz de Poder para Clientes Alta Renda

A terceira força, os concorrentes existentes, tem intensidade forte. Apesar de não

existirem muitas opções, todos os grandes bancos do cenário nacional têm um

segmento bem estruturado para o público de alta renda, com diferenciação em seus

tangíveis, produtos e serviços e precificação de tarifas e taxas, além de um gerente

de relacionamento. Porém, o fato mais marcante e intensificador da força são os

altos custos fixos. Toda e qualquer transação tem seus pilares apoiados sobre uma

pesada infra-estrutura, principalmente de TI, gerando um alto custo, independente

Dominância do

Comprador

IndependênciaDominância do

Fornecedor

Baixo Alto

Bai

xoA

lto

Poder do fornecedor sobre o comprador

Pode

r do

com

prad

or s

obre

o fo

rnec

edor

Interdependência

56

do número de clientes. Logo, angariar o maior número de consumidores, e como

conseqüência mais recursos, é fundamental para minimizar os efeitos do custo fixo.

Ademais, as barreiras de saída também representam um intensificador. Acabar com

um segmento como esse significaria para a instituição a perda de quase a totalidade

dos clientes do segmento, que não teriam suas expectativas atendidas numa divisão

mais massificada. Fora isso, a imagem de confiabilidade, um dos principais ativos

intangíveis de um banco, ficaria muito desgastada.

A força dos produtos/serviços substitutos tem intensidade média. Como serviço

substituto ao segmento Alta Renda considera-se o segmento do Varejo. No banco

Itaú, ao identificar-se que um cliente do Varejo tem o perfil desejado para fazer parte

do Personnalité, este recebe um convite para mudar de segmento. Entretanto, 16%

recusam o convite. A maioria das negativas deve-se ao aumento no valor de tarifas,

explicitando o trade-off preço-desempenho com produtos da indústria. Outra fonte

recorrente de negativas é a maior exposição do cliente devido à marca de Alta

Renda. Logo, esse serviço não pode ser descartado como potencial substituto.

Por fim, a ameaça de novos entrantes tem intensidade de força fraca. Como já foi

citado, a maioria dos grandes banco já tem um segmento voltado à alta renda. Para

um novo entrante conseguir estabelecer-se no mercado é preciso conhecimento

profundo do cliente, uma extensa rede de agências e um sistema confiável de TI, o

que leva tempo e, consequentemente, grandes investimentos. Além disso, um novo

banco, num primeiro momento, não tem a credibilidade necessária para atrair a

confiança do cliente. Basta ver que bancos multinacionais, como Santander ou

HSBC utilizaram a estratégia de adquirir bancos nacionais para fixarem-se no Brasil.

A figura 3.3 sintetiza as cinco forças da indústria. Quanto mais forte a cor do

quadrante, mais intensa a força.

Figura 3.3 – Intensidade das Forças

Ingressantes Potenciais

Concorrentes Existentes

Produtos ou Serviços

Substitutos

Fornecedores Consumidores

57

3.3 Grupos Estratégicos Dentro do Segmento

Os principais concorrentes do mercado bancário voltados para clientes de alta renda

já foram apresentados na tabela 3.1. Analisando-a, percebe-se que os valores

mínimos de renda e investimentos para torna-se um cliente do segmento não variam

muito de banco para banco. Além disso, todas têm gerentes dedicados com uma

carteira enxuta, diferenciação da marca em tangíveis como cartão ou talão de

cheque, produtos e serviços especiais para o segmento, bem como política de preço

diferenciada.

Entretanto, não se pode considerar todos os players como um grupo homogêneo.

Eles adotam diferenciados posicionamentos no que diz respeito a algumas

dimensões estratégicas. As duas que mais saltam aos olhos e que resultam na

formação dos três principais grupos estratégicos são: seleção do canal e política de

preços.

Nesse caso, a seleção do canal refere-se ao local de atendimento dos clientes do

segmento. A primeira estratégia possível é o atendimento apenas em agências

especializadas, com identificação e layout totalmente diferenciados das do Varejo.

Os dois principais concorrentes que adotam esta pratica são o Itaú Personnalité e o

Citibank. No outro extremo, há os bancos que criam espaços reservados dentro de

suas próprias agências do Varejo. Não existe sequer uma agência exclusiva com a

marca do segmento. Enquadram-se nesse grupo o Unibanco Uniclass, Santander

Preferencial e o Real Van Gogh. Por fim, alguns bancos adotam uma estratégia

híbrida, contando tanto com agências especializadas como com espaços reservados

dentro do Varejo. Algumas delas dão foco maior para o atendimento em agências

especializadas, como o Bradesco Prime. Já outras se focam em seu espaço

diferenciado, como o Banco do Brasil Estilo e HSBC Premier.

A segunda dimensão estratégica é a de política de preços que, neste caso, refere-se

ao valor de tarifas e taxas. O grupo composto por Personnalité e Citibank é o que

tem as maiores tarifas do mercado. Em compensação, pela seleção de seus clientes

ser um pouco mais rígida, são os que praticam as melhores taxas do mercado. Na

seqüência, têm-se o Prime, Premier, Van Gogh e Estilo, com tarifas

consideravelmente menores e taxas piores. Por fim, o Uniclass e Preferencial têm as

58

menores tarifas do segmento, se aproximando àquelas cobradas no Varejo, porém

com taxas bem próximas à do grupo acima. Cabe lembrar que, qualquer que seja o

grupo, as taxas são sempre melhores do que as de produtos do Varejo.

Para ilustrar os posicionamentos distintos, a figura 3.4 apresenta o mapa dos grupos

estratégicos através das duas dimensões acima. O tamanho dos círculos representa

o share de mercado no segmento para cada banco.

Figura 3.4 – Mapa Estratégico do Segmento Alta Renda

A análise do mapa mostra uma relação direta entre diferenciação na área de

atendimento e valor de tarifas. As agências diferenciadas, como Personnalité e

Citibank, representam maiores custos, se comparados aos outros dois modelos.

Entretanto, proporcionam um atendimento mais discreto e sigiloso para seus

clientes. Portanto, para usufruírem dessa comodidade, os clientes estão dispostos a

pagar mais, resultando em maiores tarifas. Para reforçar essa estratégia, os dois

bancos são os que têm maiores pisos de renda para entrada de clientes Alta Renda.

Raciocínio análogo pode ser seguido pelos representantes de grupos híbridos e

espaço diferenciado dentro das agências do Varejo. A exceção é feita ao banco

Real. Por ter duas divisões dentro do próprio segmento Alta Renda, acaba

praticando preços um pouco mais elevados no Van Gogh B.

Quanto mais diferenciada a forma de atendimento, maiores são as barreiras, tanto

de entrada quanto de saída. O grupo de agências diferenciadas incorre nos mais

altos custos fixos. Abandonar essa estratégia e passar a atender em lojas do Varejo

significaria desperdiçar toda a estrutura montada exclusivamente para o segmento.

Além disso, a insatisfação dos clientes seria maior já que, como foi citado, pagam

mais para terem maior privacidade no seu relacionamento com o banco. Isso

afetaria demais a imagem de confiabilidade passada pela instituição. Por outro lado,

Espaço Diferenciado

Híbrido Agência Diferenciada

Bai

xaA

ltaTA

RIF

AS

Santander

BradescoHSBC

BBReal

Citi

Itaú

UBB

59

a ameaça de novos competidores no grupo é pequena, visto que estes teriam que

fazer grandes investimentos e conquistar a confiança de um cliente mais exigente.

No outro extremo, competidores com espaço diferenciado estão mais vulneráveis a

entradas de novos concorrentes, já que esta estrutura é mais barata em relação às

outras. Passar para uma forma de atendimento mais privativo pode significar um

aumento no preço do serviço. Clientes que não quisessem pagar mais teriam duas

alternativas: voltar para o Varejo, no qual não teriam suas expectativas plenamente

atendidas, ou procurar outro banco.

Por fim, o grupo híbrido é o que tem maiores facilidades de movimentação para

outros grupos. Em contrapartida, está exposto aos maiores riscos. Ele sofre ameaça

de novos entrantes por parte dos outros dois grupos. Além disso, sua estratégia

pode confundir o cliente, causando insatisfação. Aquele que é atendido em espaços

diferenciados pode questionar porque paga tarifas maiores em relação aos

concorrentes de mesma característica. Já aquele que é atendido em agências

diferenciadas pode questionar-se o porquê de uma rede tão pequena se comparado

aos outros concorrentes.

3.3 Análise SWOT

Para melhor definir a posição estratégica do novo negócio é necessário conhecer os

pontos fortes e fracos do banco Itaú, bem como analisar as oportunidades e

ameaças dentro do segmento Alta Renda. Para isso, recorre-se a análise SWOT.

3.3.1 Pontos Fortes (Strength)

O primeiro ponto forte é a conveniência do banco Itaú. Independentemente se

pertença ao Varejo ou Personnalité, o cliente sempre terá por perto uma das mais de

3.000 agências da rede. Isso passa uma imagem de segurança e confiabilidade, ou

seja, que o consumidor pode contar com o banco onde quer que ele esteja.

60

O banco tem uma área especifica para TI, sendo que nenhum de seus processos é

terceirizado. Assim, qualquer mudança em produtos, processos ou ferramentas que

impactem o novo serviço de atendimento aos clientes Alta Renda tem maior

agilidade em sua construção e configuração. Além disso, alterações nas

especificações de um projeto são mais facilmente negociadas com uma área interna

do que com uma empresa terceira.

Por fim, o Itaú já conta com um segmento Alta Renda. Muito do aprendizado

necessário com relação a este tipo de cliente pode ser adquirido com as

experiências do Personnalité. Produtos e serviços podem ser adaptados, bem como

a forma de atendimento diferenciada deste segmento.

3.3.2 Pontos Fracos (Weakness)

O primeiro ponto fraco observado é a falta de mão-de-obra especializada para a

linha de frente. Os gerentes acostumados com atendimento diferenciado com o

cliente, pertencentes ao Personnalité, não são em grande número, impedindo seu

deslocamento para o novo segmento. Sendo assim, restam os gerentes do Varejo,

que teriam de se adaptar a nova forma de tratamento e aos novos produtos e

serviços. Nem todos têm as características desejadas, o que os levaria a passarem

por uma fase extensa de treinamento.

Para alguns clientes não há como saber a renda mensal exata. Ela é estimada de

acordo com o fluxo de movimentação de conta, investimentos e aquisição de

produtos e serviços. Essa forma de avaliar-se a renda cria margens para erros.

Clientes Alta Renda podem vir a ficar de fora do segmento, bem como outros serem

acolhidos sem possuir o perfil ideal.

3.3.3 Oportunidades (Opportunities) O corte para o segmento Personnalité é de R$ 7.000, um dos mais altos do

mercado. Sendo assim, muitos clientes que ainda não atingiram esse perfil, mas que

61

tem necessidades diferenciadas daquelas dos consumidores do Varejo, ficam sub-

aproveitados no segmento Varejo.

Além disso, como se percebe pela figura 3.1, o número de clientes do mercado vem

crescendo a cada ano. Devido a sua estrutura, fica quase impossível o Personnalité

absorver toda essa demanda sozinho.

Outro ponto a ser explorado é o fato de que clientes Alta Renda são os que mais se

utilizam de canais eletrônicos, como a internet, para se relacionar com o banco.

Como esses canais reduzem custos, o banco deve aproveitar-se de sua infra-

estrutura de TI e criar processos que incentivem a utilização dos mesmos pelos

clientes do novo segmento.

3.3.4 Ameaças (Threats) Clientes Alta Renda, ainda sem as características Personnalité, podem estar

insatisfeitos no Varejo. Concorrentes que exijam uma renda mínima menor podem

atrair esses consumidores, ocasionando grandes perdas para o banco.

Outra ameaça de perda de clientes pode ocorrer na migração dos eleitos para o

novo segmento. Consumidores que forem mantidos no Varejo podem se incomodar

com o aparente descaso do banco e procurar outros concorrentes.

A tabela 3.2 sintetiza os principais pontos da análise SWOT. Tabela 3.2 – Análise SWOT do Segmento Alta Renda

S - Pontos Fortes W - Pontos Fracos

Conveniência do banco (rede extensa). Falta de mão-de-obra especializada.

Área de TI centraliza todos os processos. Estimativa de renda.

Aprendizado com Personnalité.

O - Oportunidades T - Ameaças

Muitos clientes sub-aproveitados no Varejo. Atração de concorrentes.

Crescimento do mercado nos últimos anos. Insatisfação com a divisão do Varejo.

Utilização de canais eletrônicos.

Fonte: Elaborada pelo Autor

62

3.4 Competências Essenciais da Organização

Identificar o conjunto de competências essenciais da organização é primordial.

Serão elas que, no longo prazo, darão sustentação a estratégia competitiva em

desenvolvimento.

Atualmente, qualquer serviço bancário depende de rapidez e agilidade no acesso a

informação para a realização de diversos processos e transações. Com o banco Itaú

não é diferente. Sendo assim, uma de suas competências essenciais são seus

sistemas de tecnologia da informação, fundamentais para suportar todos os

negócios da organização e acompanhar o perfil e operações dos clientes.

Esses sistemas são os pilares dos três planos organizacionais: operacional, tático e

estratégico.

Na área operacional, a TI está presente em transações do cotidiano. Operações de

caixas eletrônicos, movimentações de conta corrente, transferências entre contas,

aplicações e resgates, débitos automáticos, pagamentos de boletos, compensação

de cheques, entre outros, só são possíveis (neste caso possível quer dizer rapidez

e, sobretudo, segurança) devido a sistemas de informação bem estruturados.

No que diz respeito ao plano tático, a TI utiliza-se de sistemas informatizados para

operacionalizar o rumo estratégico da organização. Assim, podem-se citar todas as

ferramentas de gerenciamento de clientes, tais como aquelas que monitoram e

analisam seu perfil financeiro, indicando os melhores produtos para serem ofertados;

ou ferramentas voltadas para a rede de agências, como aquelas que fazem toda a

comunicação interna do banco.

Por fim, a tecnologia da informação auxilia na estruturação e análise de dados

estratégicos. O controle contábil, de vendas, de reclamações, alavancagem

financeira, risco de crédito, são algumas das áreas que dependem de uma boa

estrutura de TI para serem confiáveis.

Uma segunda competência essencial do banco é seu sistema de meritocracia com

foco em resultados, que engloba desde um agente comercial até a alta gerencia.

63

Para aqueles que trabalham na linha de frente, há o sistema de bonificação de

vendas, o ATUAR. Cada funcionário, de acordo com as características de seus

clientes, tem metas de vendas para alguns produtos e serviços. Cada nível

hierárquico compete entre si por prêmios que vão desde remuneração variável até

viagens internacionais.

Para colaboradores de back-office ou setor administrativo, há metas semestrais

estabelecidas em comum acordo com gestores. Para a média e alta gerencia, o

cumprimento desses objetivos influencia na remuneração variável. Já para

funcionários de nível hierárquico mais baixo, atingir as metas significa estar apto a

promoção de cargo ou aumento de salário.

Os programas de recompensas são fundamentais para o desenvolvimento do banco.

Não há nenhuma nova ação, desenvolvimento de novo projeto ou cargo que não

tenha atrelado a si metas e, em contrapartida, retorno financeiro.

Para mostrar a eficácia do modelo, exemplifica-se com a implementação do

programa ATUAR, em 2002, para uma central de venda de consórcios do banco.

Como se pode notar pelas figuras 3.5 e 3.6, tanto a quantidade quanto o valor médio

dos produtos aumentaram com a chegada do programa.

Figura 3.5 - Vendas Mensais do Grupo

Figura 3.6 – Valor Médio do Produto (mil R$)

12,725,1

9,311,2

32,8

19,4 20%

53%

31%

A B C

Quantidade (2001) Quantidade (2002) Crescimento

170

41 1150 12

200

9%22%

18%

A B C

Valor Médio (2001) Valor Médio (2002) Crescimento

64

3.5 Estratégia Genérica do Novo Segmento A proposta do novo segmento, “Reconhecer o cliente através de relacionamento e

atendimento diferenciados, gerentes capacitados, produtos e serviços

‘customizados’, e a conveniência e agilidade do Itaú”, já indica que sua estratégia

genérica é o foco/enfoque na diferenciação.

O segmento-alvo da indústria são os clientes Pessoa Física com renda acima de

determinado valor, que será mais bem detalhado no capítulo da solução.

Já o requisito do serviço que os clientes estão dispostos a pagar o prêmio de preço

para tê-lo diferenciado é o atendimento mais próximo. Isso é representado pela

figura do gerente de conta com uma carteira menor, fazendo com que dedique mais

tempo e esforços para seus clientes.

Figura 3.7 – Estratégia Genérica: Atendimento Diferenciado para o Segmento Alta Renda

A criação de um segmento específico para atender a esses clientes incorre em

maiores custos. A primeira forma de “cobrar” por esse serviço diferenciado, seria o

aumento nas tarifas de manutenção de conta corrente. Entretanto, pesquisas

internas com clientes do Varejo revelam que grande parte dos consumidores não

estaria disposta a pagar mais por esse serviço.

Figura 3.8 – Clientes que não Pagariam Maiores Tarifas

Diferenciação Liderança

no Custo

Enfoque

DiferenciaçãoEnfoque

Custo

Diferenciação no AtendimentoSegm

ento

Alta

Ren

da

Alv

o Es

trat

égic

oTo

daIn

dúst

ria

Posição de Baixo Custo

43%53%

71%77%86%

3.000 a 4.000 4.000 a 5.000 5.000 a 6.000 6.000 a 7.000 > 7000

Não pagariam mais pelo serviço (Fx. Renda)

65

Isso tornaria o prosseguimento do projeto inviável. Entretanto, o premium price é

pago de outra forma. Experiências anteriores do banco mostram que clientes

migrados do Varejo para o Personnalité aumentam seus volumes de recursos no

banco. Além disso, eles consomem mais produtos que, em geral, possuem maiores

spreads (diferença percentual entre a receita e o custo de um produto para o banco)

do que os ofertados no Varejo.

A figura 3.9 demonstra o incremento percentual médio de recursos para três grupos

de consumidores. O primeiro são clientes do Varejo convidados e migrados para o

Personnalité. O segundo são clientes convidados e que preferiram manterem-se no

Varejo. Já o terceiro representa clientes que teriam potencial, mas que, para motivo

de estudo, não foram convidados. O gráfico é elaborado de acordo com o mês de

migração do primeiro grupo de clientes.

Figura 3.9 – Incremento de Recursos por Mês de Migração

Assim, percebe-se que a mudança de segmento estreita o relacionamento com o

cliente, fazendo com que ele gere mais receita para o banco.

3.6 Modelo das Lacunas

Para determinar quais os critérios qualificadores e ganhadores de pedidos, foram

realizadas algumas pesquisas internas com os clientes Varejo potenciais para o

novo segmento. A análise de seus resultados mostra a forte presença de cinco

objetivos de desempenho, sendo três destes considerados qualificadores e outros

dois como ganhadores de pedido.

-5%

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

M1 M2 M3 M4 M5 M6 M7 M8 M9 M10 M11 M12

Migrados Não Migrados Não Convidados

66

Para identificar qual o grau de importância para os clientes Alta Renda do Varejo de

determinado critério e como é o desempenho se comparado aos segmentos

voltados ao atendimento deste público em outros concorrentes, utilizar-se-á a escala

de avaliação da tabela 2.4. Assim, é possível posicionar os critérios no plano

Importância x Desempenho, descobrir em quais zonas se encontram para, assim,

priorizá-los e desenvolver o plano de ação que melhor condiz com suas

necessidades.

3.6.1 Confiabilidade O primeiro critério qualificador de pedido é a confiabilidade. Por ela entende-se a

imagem de segurança e confiança que o banco passa aos clientes.

Uma das principais operações bancárias é a aplicação de recursos dos clientes na

instituição. Para confiar seu dinheiro a uma organização, o cliente precisa estar

seguro que seus investimentos lhes serão devolvidos. Ou seja, que o banco não

sofra ameaças de falência e tenha uma saúde financeira capaz de honrar seus

compromissos. Neste quesito, o Itaú tem uma posição destacada, já que é uma das

instituições financeiras mais sólidas do mercado. Alguns indicadores demonstram

essa segurança, tais como o valor de mercado do banco em 2008, mais de 100

bilhões de reais, ou o lucro líquido em 2007, de 8,4 bilhões de reais, o maior entre os

bancos com atuação no território nacional em 2007.

Um segundo aspecto é a segurança contra fraudes na hora de realizar operações.

Principalmente em canais remotos, como telefone ou internet banking, que exigem

digitação de senhas. Novamente, o Itaú tem papel de destaque sobre concorrentes,

já que desenvolve tecnologia própria para segurança, devido ao foco na área de

Tecnologia da Informação, bem como se utiliza das novas ferramentas do mercado.

Cartões magnéticos com chip, senhas distintas para utilização em diferentes canais

de atendimento, cartão de segurança digital (token) para acesso ao internet banking

são alguns exemplos de ferramentas anti-fraudes visíveis para os clientes.

O terceiro e último aspecto considerado para compor a confiabilidade é a presença

de toda rede de atendimento. Com mais de 3.000 agências, 10.000 caixas

eletrônicos, banco pela internet e atendimento telefônico funcionando 24 horas por

67

dia, o cliente do Itaú sente que pode recorrer ao banco aonde quer que esteja, a

qualquer hora do dia. Entretanto, alguns concorrentes como Bradesco e Banco do

Brasil têm maior rede e, como conseqüência, presença de mais destaque em

território nacional.

Devido ao exposto acima, o desempenho do critério confiabilidade recebe nota 3,

“Consistente e marginalmente melhor do que nosso concorrente”. O Itaú tem

destaque nos critérios solidez financeira e segurança, porém outros grandes

concorrentes também passam a imagem de confiança a seus consumidores.

Já a nota da importância do critério é 5, “Precisa estar em torno da média padrão do

setor industrial”, o que o torna qualificador. O relacionamento entre cliente e banco

só é sustentável caso o primeiro sinta segurança. Logo, a confiabilidade é um

requisito básico e não um diferenciador para o cliente.

3.6.2 Preço do Serviço Um segundo critério qualificador para os clientes Alta Renda é o preço do serviço.

Este item refere-se ao preço de tarifa paga para a manutenção da conta corrente,

que representa o mínimo relacionamento que o cliente pode ter com o banco.

Preços de outros produtos e serviços e suas relações de custo-benefício são mais

importantes para os clientes e serão discutidas num item posterior.

No Itaú Varejo, a tarifa para manutenção de conta é chamada de Maxiconta. Há

quatro valores de tarifas cobradas, que variam de R$ 8,00 a R$ 25,00 mensais, e

permitem a utilização de determinada quantidade de cheques, saques, extratos e

transferências no período. Alguns descontos são concedidos devido ao volume de

investimentos dos clientes. Entretanto, os clientes Alta Renda do segmento Varejo

não levam nenhuma vantagem em relação aos demais clientes.

Contudo, por tratar-se de um segmento massificado, os clientes Alta Renda Itaú

pagam os menores valores mensais, se comparados aos usuários de segmentos de

concorrentes voltados ao público Alta Renda. Na figura 3.10 há uma comparação

entre o valor médio pago de Maxiconta pelos potenciais clientes do segmento e os

valores dos concorrentes.

68

Ao analisar-se única e exclusivamente o preço pago pelo serviço, sem considerar os

benefícios que este traz consigo, a nota em desempenho relativa ao critério é 2,

“Consistente e claramente melhor que nosso concorrente mais próximo”. O preço

médio pago na Maxiconta, de 17 reais, é quase metade do concorrente mais

próximo, justificando a nota acima.

Figura 3.10 – Tarifa Média de Conta Corrente dos Segmentos (R$)

Entretanto, a importância relativa do critério recebe nota 5, “Precisa estar em torno

da média padrão do setor industrial”. O valor para a manutenção da conta não

representa grande porcentagem da renda mensal dos clientes em questão. Logo,

basta que este não seja absurdo e fora da realidade do mercado para o consumidor

considerar abrir uma conta no segmento. Entretanto, este valor não é tão influente

na hora do cliente decidir por um banco ao invés de outro. Daí ser um critério

qualificador ao invés de ganhador de pedidos.

3.6.3 Rapidez no Atendimento

O terceiro e último critério qualificador é a rapidez no atendimento ao cliente. Aqui se

considera não só o tempo de espera, mas também aquele decorrido durante o

atendimento.

O contato do cliente com o banco pode se dar através de diversos canais. O mais

comum deles é o gerente. A maioria dos clientes Alta Renda do Varejo já é

gerenciada. Porém, devido a sua grande carteira, o gerente não consegue atender

rapidamente a todos. Um cliente, ao dirigir-se ou telefonar para a agência, tem,

quase que invariavelmente, que aguardar em uma fila de espera. Já nos segmentos

38383129

17

45 4655

60

Varejo(Maxiconta)

SantanderExclusivo

UnibancoUniclass

Banco doBrasil Estilo

Real VanGogh

HSBCPremier

BradescoPrime

ItaúPersonnalité

Citibank

69

Alta Renda de concorrentes, esta fila é menor ou não existe, já que a carteira de

clientes é bem reduzida. Além disso, o tempo de atendimento nos concorrentes é

bem menor. Isso porque os gerentes são mais bem treinados e tem a possibilidade

de conhecer melhor os consumidores. Com isso, reconhecem com mais facilidade

suas necessidades, resolvendo os problemas rapidamente.

Um outro canal de atendimento são os caixas de dentro das agências. Para

segmentos que tem agências próprias, como Citibank e Personnalité, o tempo de

espera em fila e atendimento quase não existe. Porém, aqueles que optam pela

estratégia de espaço diferenciado dentro das próprias agências têm praticamente a

mesma situação do Varejo Itaú, já que clientes Alta Renda enfrentam a mesma fila

que os do Varejo. Porém, há exceções, como o Unibanco Uniclass e o Real Van

Gogh, que disponibilizam um guichê de caixa exclusivo para clientes do segmento.

Outro importante canal de atendimento são os SACs – Serviço de Atendimento ao

Consumidor – telefônicos. A maioria dos bancos tem ilhas de atendimento

específicas para atender os clientes Alta Renda, o que torna o tempo de espera e

contato menor. Com o Itaú não é diferente. Com isso, o cliente Alta Renda do

Varejo, ao ligar para o Bankfone (nome do SAC do banco) tem maior tempo de

espera do que um cliente Personnalité. Este tempo não é bem maior, pois uma lei

federal de agosto de 2008 regulamenta a atuação dos SACs, incluindo o tempo de

espera e atendimento. Porém, é sentido e percebido por clientes que passaram pelo

Varejo e hoje estão no Personnalité.

Uma análise dos argumentos apresentados demonstra que a nota mais coerente

para o desempenho do critério de rapidez no atendimento é 7, “Usual e

marginalmente pior do que nossos principais concorrentes”. Isso se deve,

principalmente, devido a rapidez no atendimento do gerente, ponto mais observado

pelos clientes.

Já a importância do critério para os clientes recebe nota 4, “Precisa estar pelo

menos no nível do bom padrão do setor”. Apesar da maior importância se

comparado aos dois critérios anteriores, a rapidez no atendimento continua sendo

qualificador. O que salta aos olhos do cliente e que pode levar a seu encantamento

é a qualidade do atendimento, que será discutida no próximo tópico. Sua rapidez

também é importante, mas não no mesmo patamar.

70

3.6.4 Qualidade do Atendimento

A qualidade do atendimento é o primeiro critério considerado ganhador de pedido,

ou seja, o que realmente influência um cliente escolher um banco ao invés de outro.

O item que mais interfere neste quesito é o comportamento e atuação do gerente.

Devido à carteira de contas extensa do gerente do Varejo Itaú, este não consegue

dar uma atenção especial aos clientes Alta Renda. Isso quer dizer que, caso o

cliente não o procure, este não ofertará produtos e nem acompanhará como está

sua conta e relacionamento com o banco. Ou seja, diferentemente dos outros

concorrentes com segmentos específicos para o público Alta Renda, o gerente não

atua como um consultor financeiro do cliente.

Por estarem em grande quantidade e atenderem um grande público, não há a

possibilidade de tirar os gerentes de seus locais de trabalho para dar treinamento.

Logo, este ocorre “on the job”, através de e-learnings. Estes programas abrangem

as principais situações, porém não criam condições dos gerentes tratarem de alguns

casos mais específicos. Sendo assim, muitas vezes o gerente tem dificuldade em

entender qual a necessidade diferenciada do cliente e propor a este a solução que

melhor se adeque ao seu caso. Já gerentes de segmentos Alta Renda tem

treinamentos dentro e fora do local de trabalho. Estes últimos têm a presença de

palestrantes, maior carga horária e interação entre colaboradores, o que permite

trocas de experiências e acaba criando um maior escopo de atuação.

Figura 3.11 – Treinamento X Qualidade do Atendimento

A forma de treinamento acaba influenciando no modo como o cliente avalia o

atendimento do gerente. A figura 3.11 demonstra bem essa correlação. Durante o

79

10 9 8 11

25

20232322

25

1º Bim. 2º Bim 3º Bim. 4º Bim. 5º Bim. 6º Bim.6

7

8

9

10

Treinamento Varejo (Hrs) Treinamento Person (Hrs) Pesquisa Varejo Pesquisa Person

71

ano 2008, são mostradas bimestralmente a quantidade de horas médias de

treinamento de gerentes Varejo e Personnalité, bem como a nota da pesquisa de

satisfação com relação ao atendimento dos gerentes, dadas por potenciais clientes

Alta Renda do Varejo e por usuários do Personnalité.

Por fim, reclamações dos clientes Alta Renda Varejo demoram mais para serem

solucionadas do que reclamações de clientes de concorrentes. Primeiro porque

esperam numa fila junto com as outras reclamações do Varejo. Segundo, porque

não tem uma ilha específica para seu tratamento, com colaboradores mais bem

treinados para resolvê-las.

Por tudo dito acima, a nota no quesito desempenho para qualidade do atendimento

é a mais baixa entre todos os critérios: 8, “Usualmente pior que a maioria de nossos

concorrentes”. A falta de um gerente dedicado e melhor treinado são as principais

influências para a nota baixa, já que todos os concorrentes possuem um funcionário

com estas características.

Já a nota em importância é 2, “Proporciona importante vantagem junto ao cliente – é

sempre considerado”. Para manter e fidelizar o cliente, o banco precisa aumentar o

relacionamento com este. Atender bem o consumidor é o que o faz manter-se no

banco ou escolhê-lo em exclusão a um concorrente.

O critério da qualidade do atendimento é o que apresenta o maior gap e que, com a

criação do novo segmento, causará o maior impacto positivo nos clientes.

3.6.5 Variedade de Produtos e Serviços O segundo e último critério ganhador de pedidos é a variedade de produtos e

serviços. Seu conceito baseia-se no quanto esses produtos podem variar para

melhor adaptarem-se as necessidades específicas dos clientes Alta Renda.

Os clientes do Varejo têm a sua disposição, em geral, produtos de crédito com taxas

de juros maiores que clientes de segmentos Alta Renda. Ao analisar um crédito, o

gerente Varejo baseia-se mais em informações parametrizadas de sistemas e bem

pouco no conhecimento da vida financeira do cliente, já que não consegue

acompanhar de perto as mais de 1.000 contas em sua carteira. Logo, com menos

informações, sobe o risco e consequentemente as taxas. Clientes Alta Renda do

72

Varejo tem perfil de risco menor que o resto do segmento, porém têm taxas

semelhantes as do segmento.

Um segundo ponto são os limites disponíveis para o público Alta Renda do Varejo,

maior que o resto do segmento, porém bem menor que segmentos concorrentes.

Muitas vezes, os clientes precisam de limites maiores e tem condições de pagar por

estes. Porém, por regras de produto que levam em conta todo o perfil do segmento

Varejo, eles acabam impedidos de receberem o crédito.

Outros tipos de produtos, como os investimentos, são de pouca variedade no Varejo.

As aplicações disponíveis são, em sua maioria, conservadoras e, como

conseqüência, de retorno baixo. Clientes Alta Renda com grande volume de

recursos a serem investidos procuram aplicações de maior rentabilidade. Porém,

não as encontram no Varejo, deixando seus recursos fora do banco.

Entretanto, o que mais difere para o público Alta Renda com relação ao Varejo Itaú e

segmentos dedicados de outros concorrentes é a visão sobre as vendas. Enquanto

no Varejo as metas e recompensas são baseadas na quantidade de vendas de

determinado produto, não importando o perfil do cliente, nos segmentos Alta Renda

há metas de vender o produto que melhor se adeque às necessidades do cliente.

Isso só é possível devido a análises sistêmicas mais completas de informações dos

clientes, inviáveis de serem feitas com os mesmos detalhes para os consumidores

do Varejo.

Apesar do descrito no parágrafo acima, muitas vezes os clientes Alta Renda

encontram produtos que condizem com suas necessidades no Varejo. Por isso, a

nota em desempenho do critério é 7, “Usual e marginalmente pior que nossos

principais concorrentes”. O grande problema ocorre em travas de produtos devido a

suas regras específicas para o Varejo, ocasionando a falta de atendimento às

peculiaridades de alguns clientes.

Já a importância relativa da variedade de produtos e serviços recebe nota 3,

“Proporciona uma vantagem útil junto a maioria dos clientes – é normalmente

considerada”. É um critério ganhador de pedidos para a maioria dos clientes Alta

Renda, que tem um olhar mais crítico sobre as ofertas do que os clientes de renda

mais baixa. Porém, sua importância é um pouco menor que a qualidade do

atendimento, que tem um maior poder de atração sobre clientes de renda mais

elevada.

73

3.6.6 Priorização dos Gaps

Passada a análise dos critérios qualificadores e ganhadores de pedidos, deve-se

priorizar quais itens têm mais urgência para melhoria de desempenho. Para

visualizar suas situações, plotam-se os pontos no plano Importância X Desempenho,

de acordo com a figura 3.12.

Figura 3.12 – Gaps para Clientes Alta Renda

Como é possível perceber pela figura, três objetivos de desempenho estão na zona

de urgência, sendo dois deles ganhadores de pedidos. Esse cenário é um grande

indício da necessidade de um novo modelo de negócios para estes clientes. Caso

contrário, o banco poderá começar a perdê-los.

A prioridade dos planos de ação deve ser dos itens ganhadores de pedidos:

qualidade do atendimento e variedade de produtos e serviços. Na seqüência, vem o

critério qualificador rapidez no atendimento.

Para os outros dois objetivos de desempenho situados na Zona Apropriada, preço e

confiabilidade, devem ser mantidos os processos e ações que os posicionam nessa

região.

Os planos de ação para os gaps são encontrados na formulação da estratégia para

o novo segmento e serão explicitados na próxima seção, a solução do problema.

1

2

3

4

5

6

7

8

99 8 7 6 5 4 3 2 1

Melhor

que

O mesmo

que

Pior

que

Menos importante Qualificador Ganhador de Pedido

ImportânciaBaixa Alta

Des

empe

nho

Con

corr

ente

s

Clientes

LIMITE MÍNIMO DE DESEMPENHO

ZONA DE MELHORIA

ZONA DE URGÊNCIA

ZONA APROPRIADA

ZONA DE EXCESSO

Confiabilidade

Preço

Rapidez

Qualidade

Variedade

74

4. PROPOSTA DE SOLUÇÃO

Esta seção tem por objetivo desenvolver a estratégia competitiva para o novo

segmento de clientes Alta Renda do Banco Itaú.

Um dos nove direcionadores para criação de novos mercados em serviços é a

identificação de uma marca que passe confiança e transparência para os clientes.

Essa marca, dentro do possível, deve representar os objetivos do novo negócio.

Pesquisas de marketing do banco compararam o perfil e características abstratas

dos potenciais clientes Alta Renda e Personnalité. Os primeiros são mais jovens e

ainda buscam diversos sonhos, tanto profissionais como familiares. Já os últimos

são mais velhos e tem características de quem já conseguiu o que almejava na vida.

Utilizando-se de uma metáfora, os clientes Personnalité já chegaram ao topo da

montanha, enquanto os Alta Renda são aqueles que ainda a estão escalando para,

um dia, também alcançar seu cume.

Para diferenciar o cliente Alta Renda dos demais clientes e reconhecer que seu

esforço é importante para o banco, a marca do novo segmento será o Itaú Único. Esta também será uma forma de demonstrar todo o atendimento especial que o

cliente receberá no novo segmento, se comparado ao antigo.

A marca também é uma importante ferramenta para tangibilizar o novo serviço, já

que “o cliente-usuário tem dificuldade para avaliar os benefícios do novo serviço em

comparação ao antigo”.

Figura 4.1 – Marca do Segmento Itaú Único

O posicionamento estratégico será marcado, basicamente, pelo atendimento às

necessidades específicas desse grupo de consumidores, através de um conjunto de

atividades diferenciadas. Estas incluem gerentes mais dedicados aos clientes, pois

terão uma carteira de contas a administrar bem menor, espaço privativo nas

agências para falarem de sua vida financeira, ilhas de atendimento telefônico

75

reservadas para os clientes do segmento, entre outras. Além disso, as formas de

ofertas terão um novo enfoque no Itaú Único, passando da visão produto para a

visão cliente.

4.1 Inovação do Itaú Único

A simples imitação das melhores práticas de segmentos que atendem a clientes Alta

Renda não levará a construção de uma estratégia competitiva única. Para isso, o

Itaú Único pretende executar atividades similares aos concorrentes, como o

atendimento e venda de produtos e serviços, de forma diferente.

Analisando-se a matriz tipo de Tipo de Serviço X Tipo de Benefício, de Barry et al

(2006), a inovação no serviço proposto pode ser enquadrada na célula 4: Acesso

Respeitoso. Isto porque o tipo do benefício do serviço é na entrega e, na maioria das

vezes, o serviço é produzido e consumido simultaneamente.

Figura 4.2 – Célula de Inovação do Itaú Único

O segmento não pretende inovar na essência dos serviços bancários, criando um

novo produto ou serviço. A forma como o cliente é atendido, num espaço mais

reservado, com gerentes que lhes ofertem os produtos que mais se adequem às

suas necessidades, é o tipo de benefício da inovação. Ou seja, a entrega do serviço

é a grande novidade para o cliente.

Apesar da possibilidade de muitas das transações serem feitas por canais remotos,

como caixa eletrônico, Bankline (internet banking do Itaú) ou Bankfone, a criação do

Itaú Único pretende aproximar o cliente da agência, através da figura do gerente de

relacionamento. Para que este consiga entender melhor as necessidades

Soluções

Flexíveis

Conveniência

Controlável

Ganhos

Confortáveis

Acesso

Respeitoso

EssencialTipo de Benefício

Entrega

Separável

Inseparável

Tipo de Serviço

1

3

2

4

76

específicas de cada cliente, o foco é que a produção e consumo do serviço, o

atendimento, sejam inseparáveis.

A formulação da estratégia parte do princípio de que escolhas devem ser feitas. Nos

capítulos a seguir, serão abordados alguns dos trade-offs do novo segmento.

4.2 Seleção dos Canais de Atendimento

A primeira escolha a ser feita é quais os canais de atendimento dos novos clientes

do Itaú Único. Esta escolha permeia três campos: o local para contato entre

gerentes e consumidores, os canais remotos e o telemarketing ativo.

Como já foi citado na seção do diagnóstico, há basicamente dois locais para

atendimento dos clientes: agências especializadas ou espaços diferenciados dentro

das agências do Varejo.

O canal de atendimento para clientes do novo segmento será o espaço diferenciado

dentro das agências do Varejo. Essa escolha leva em consideração alguns motivos

expostos a seguir.

Não é intenção do Itaú Único competir com segmentos dentro do próprio banco. O

Itaú Personnalité já se utiliza da estratégia de atendimento em agências

diferenciadas. Caso o novo segmento também adotasse esse tipo de estratégia

poderia atrair clientes do Personnalité, já que suas tarifas são mais baixas.

Entretanto, esses clientes não teriam o mesmo atendimento e portifólio de produtos,

o que poderia ocasionar descontentamento com o novo serviço.

Agências diferenciadas são as mais custosas. Caso fosse adotado este modelo,

fatalmente seriam cobradas maiores tarifas dos clientes provenientes do Varejo.

Como a estratégia genérica do segmento é manter o preço do serviço, sendo o

premium price pago pelo aumento do volume de recursos e consumo de mais

produtos e serviços, a escolha que gera menores custos é o espaço diferenciado.

Por fim, os clientes do Itaú Único vêm de agências do Varejo. A mudança de local

poderia causar desconforto em alguns dos clientes. Mantendo-se a mesma agência

77

e apenas trocando o segmento, espera-se que o índice de retenção dos clientes

migrados para o Itaú Único seja bem maior, pois só há vantagens a receber.

Os espaços diferenciados sempre estarão ao fundo das agências, com a indicação

da marca do Itaú Único. O gerente atenderá os clientes dentro de uma mini-sala. Um

observador de fora desta não consegue identificar a pessoa que está sendo

atendida, devido aos vidros que compõem suas paredes. Mesas arredondadas

permitirão um contato mais próximo entre cliente e gerente.

Essas ações têm como intuito materializar o atendimento mais próximo e discreto

que o segmento pretende oferecer ao cliente, já que, segundo Barry et al (2006), um

dos aspectos para o cliente criar uma impressão sobre o novo serviço é o design e

layout da área de atendimento (aspecto mecânico).

Figura 4.3 – Layout da Agência

Por fim, não haverá fila exclusiva nos guichês de caixa para atendimento

preferencial do segmento Itaú Único. Caso fossem criadas, as filas para atendimento

do Varejo aumentariam, criando insatisfação nos clientes que não fossem migrados.

A situação que realmente causaria desconforto seria se esta fila já existisse e fosse

extinta, pois um benefício seria retirado destes clientes.

4.2.1 Atendimento nos Canais Remotos Apesar do atendimento na agência ser o principal foco do novo segmento, também

se deve dar atenção aos canais remotos. Os dois principais são o Bankfone (SAC

telefônico) e o Bankline (banco pela internet).

CAIXAS ELETRÔNICOS

ENTRADACOMERCIAL -VAREJO

CAIXAS ELETRÔNICOS -

INTERNO

GUICHÊS DE CAIXA

GERENTES PJ

ITAÚ ÚNICO

78

O serviço de atendimento ao cliente via telefone está, internamente, dividido em

duas áreas. O Bankfone Transacional responde por todas as operações de rotina

dos clientes, como consulta de saldos e extratos, transferências, pagamentos, etc.

Nesta modalidade não há contato humano, já que todo atendimento é feito por modo

computadorizado. Todo pedido de informação e solicitação é de responsabilidade do

BKF-Transacional.

A segunda área do Bankline é responsável pelo atendimento direto aos clientes.

Basicamente, é responder por receber reclamações e, em menor número, sugestões

de clientes. Alguns outros processos, como avisos de perda, roubo ou extravio de

cartões ou senhas também são de incumbência BKF-Reclamações.

Para o segmento Itaú Único haverá uma ilha especial de atendimento dentro do

BKF. Seus atendentes passarão por treinamentos sobre o perfil do novo cliente e

qual a melhor forma de abordá-lo.

Com o intuito de não confundir os clientes migrados para o Itaú Único, o telefone do

SAC continuará o mesmo. Ao digitar agência e conta, o sistema reconhecerá que se

trata de um cliente Único e o redirecionará para a ilha de atendimento exclusiva.

Entretanto, para que os clientes percebam a diferença, toda divulgação do serviço

será com o nome de Bankfone Único.

Figura 4.4 – Modelo Bankfone Itaú Único

Já o Bankline não sofrerá alterações em sua funcionalidade. Todos os processos,

operações e transações efetuadas pelo internet banking continuarão disponíveis

para os clientes do Itaú Único. Apenas sua aparência será modificada, de acordo

com os novos padrões do segmento.

O estimulo a utilização de canais eletrônicos será fundamental para o sucesso do

segmento, já que economiza tempo dos clientes e reduz custos para o banco. Um

Cliente Digita Agência e Conta

Ag. e C.C.

BKF Tr. ou BKF

Rec?

Cliente Único?

Ilha Único

Ilha Varejo

BKF Transacional

TR

REC

Varejo

ÚnicoConsulta

79

indicador do uso desses canais é a porcentagem de cliente com senha eletrônica,

necessária para o acesso ao Bankline e Bankfone Transacional. A figura 4.5 mostra

que os clientes potenciais Alta Renda do Varejo possuem, proporcionalmente, mais

senhas eletrônicas do que o restante dos clientes do segmento. Entretanto, a

penetração deste tipo de produto é bem maior (82% X 49%) no Personnalité.

Figura 4.5 – Porcentagem de Clientes com Senha Eletrônica

Acredita-se que com o gerente mais próximo, indicando as vantagens para o cliente

de utilizar os canais eletrônicos, bem como esclarecendo as principais dúvidas, a

utilização destas ferramentas crescerá.

4.2.2 Telemarketing Ativo O telemarketing ativo, aquele no qual o cliente recebe ligação com oferta de

produtos e serviços, não será utilizado como canal de vendas para o segmento.

Basicamente, dois motivos explicam esta escolha.

Os clientes potenciais Alta Renda do Varejo são os que mais se irritam com ligações

ofertando produtos e serviços. 59% se incomodam com a forma agressiva de oferta,

com vendedores seguindo scripts e sem grandes conhecimentos do produto e das

necessidades dos consumidores. Por isso mesmo, são os que menos compram por

esse tipo de canal.

O segmento Personnalité tem telemarketing com vendedores treinados para

interpretar as necessidades dos clientes e ofertar os melhores produtos. Entretanto,

seu número de clientes é bem menor do que os potenciais para o Itaú Único. Assim,

para oferecer esse tipo de serviço com uma qualidade semelhante ao Personnalité,

o que seria ideal, gastar-se-ia muito com contratação e treinamento de pessoal.

38%49%

82%

Varejo Alta Renda Personnalité

80

Ainda assim, haveria o risco dos clientes do Único não aceitarem bem o serviço,

inviabilizando-o.

4.3 Seleção dos Clientes

O ponto mais importante na criação do segmento é saber quem é o cliente a ser

migrado do Varejo para o Itaú Único.

Por tratar-se de um segmento voltado ao público de Alta Renda, espera-se que o

critério de seleção seja baseado na renda mensal. Porém, nem todos os clientes têm

renda comprovada. Sendo assim, o critério de seleção basear-se-á em uma variável

de estimativa de renda, a UPA – Unidade de Pré-Aprovado.

Como seu próprio nome sugere, a UPA é uma variável do sistema de crédito do

banco. De acordo com a renda mensal estimada dos clientes, ela define quais os

valores de pré-aprovado para os produtos de crédito que o cliente tem a sua

disposição.

Há três formas de compor-se o valor da UPA. Se a situação de um cliente enquadra-

se em uma delas, as outras duas não são levadas em consideração. Abaixo, listam-

se essas formas, sendo a primeira prioritária sobre a segunda e assim

sucessivamente:

• Diversas empresas pagam os salários dos funcionários através do banco Itaú.

Esses clientes são denominados de SPI – Sistema de Pagamento Itaú. Como o

banco conhece o salário mensal, a UPA do cliente corresponde exatamente ao

valor depositado pela empresa na conta do cliente. Ou seja, é o valor líquido do

salário mensal do cliente. 41% dos clientes do Varejo encontram-se nesta

situação.

Esta é a melhor das três formas de estimar-se a UPA. Entretanto, não deixa de

ser uma estimativa. Um cliente pode ter dois ou mais empregos, sendo que

apenas um deles tem conta pagadora no Itaú. Uma outra situação é aquela na

qual o cliente SPI tenha outras fontes de renda mensal além de seu salário,

como aluguéis ou aplicações. Sendo assim, a UPA pode deixar de considerar

outros rendimentos que também compõem a receita mensal do cliente;

81

• Caso o cliente não seja SPI, este pode comprovar sua renda mensal trazendo os

últimos três holerites de seu emprego. A UPA será a média aritmética dos valores

líquidos dos salários. Essa estimativa vale por um ano a partir da data da

comprovação de renda. 27% dos clientes Varejo encontram-se nesta situação.

Esta também é considerada uma boa forma de estimativa, porém ainda

apresenta algumas limitações. Novamente, outras fontes de renda que não

sejam os salários não são consideradas. No meio deste um ano de vigência de

renda comprovada, o cliente pode perder, ser admitido em outro emprego ou

receber um aumento de salário. Essas oscilações de receita não são

consideradas na UPA.

Ao final de um ano, caso o cliente não volte a comprovar renda, a estimativa da

UPA será realizada conforme o próximo item. Dificilmente um cliente re-

apresentar seus holerites, mesmo porque a comprovação de renda só é

novamente requisitada caso o consumidor queria tomar empréstimos maiores

que os valores de seu pré-aprovado;

• A terceira e última forma de estimar a renda mensal do cliente é um modelo

matemático que engloba diversas variáveis. Estas têm pesos diversos na

composição da UPA. Entre as principais podem ser citadas: volume de recurso

investidos no banco, saldo médio de conta corrente, valores de crédito tomados

no banco, valores de crédito tomados no mercado.

Por ser a pior das três estimativas e pela UPA estar vinculada à concessão de

crédito, os valores de ponderadores seguem uma linha mais conservadora. Logo,

por mais próximo que a estimativa possa estar da realidade, a UPA sempre será

menor que a receita mensal do cliente. 32% dos clientes do Varejo têm a UPA

calculada desta maneira.

Diversos problemas estão atrelados a essa forma de estimativa, principalmente

relativos à movimentação de conta corrente. Alguns clientes podem utilizar a

conta PF para fazerem movimentações de instituições Pessoa Jurídica. Em geral,

essas movimentações envolvem maiores quantidade do que a verdadeira renda

mensal do cliente. Um outro caso é o recebimento pontual de determinado valor,

como a venda de um bem ou o pagamento de uma indenização. Como o modelo

da UPA roda mensalmente, no período destas eventualidades, a estimativa da

renda mensal pode aumentar exorbitantemente.

82

Como acabou de ser exposto, a estimativa de renda por UPA apresenta diversos

problemas. Entretanto, não há forma melhor de aproximação à receita mensal dos

clientes e, por isso, a Unidade de Pré-Aprovado será o critério selecionador.

A carteira dos gerentes do Varejo é composta por, em média, 1.200 clientes. Devido

a essa enorme quantidade, ele pouco consegue atuar junto a seus clientes. Já

carteira de um gerente do Personnalité é de aproximadamente 250 clientes. Pela

carteira pequena, o atendimento dado ao cliente é de grande proximidade.

O objetivo do segmento Itaú Único é dar um atendimento diferenciado próximo (mas

não do mesmo nível) do Personnalité. Entretanto, caso a carteira do gerente Único

fosse deste mesmo tamanho, seria necessária a contratação de muitos gerentes, o

que encareceria demais o projeto.

Sendo assim, o tamanho das carteiras deve girar entre 500 e 700 clientes. Metade

da quantidade do Varejo, mas um pouco mais que o dobro do Personnalité.

Uma outra premissa importante na hora da escolha dos clientes é que nenhuma

agência que abrigar um espaço para o segmento deve ter apenas um gerente.

Suponha-se que uma agência tivesse apenas um gerente para o segmento.

Imprevistos podem acontecer e este pode faltar em algum dia. Caso um cliente

fosse à agência e não encontrasse ninguém para lhe atender, ele ficaria com uma

péssima impressão do novo serviço.

Um outro fator que reforça a necessidade de pelo menos dois gerentes em cada

agência é o fato de haver muitos treinamentos fora do local de trabalho. Assim,

sempre haverá um gerente para “cobrir” a ausência de outro.

A tabela 4.1 mostra alguns indicadores de acordo com a faixa de UPA, levando-se

em consideração agências com pelos menos 1.000 clientes, a partir da faixa de

UPA. A porcentagem do comprometimento de renda representa o quanto,

mensalmente, o cliente está tomado em crédito se comparado a sua renda (UPA). A

rentabilidade é a média de quanto o cliente, com seus produtos e serviços, rende

mensalmente para o banco. Tabela 4.1 – Indicadores por Faixa de UPA

UPA Agências

> que UPA Clientes (mil)

> que UPA Recursos

Entre Faixas % Compr. Renda

Entre Faixas RentabilidadeEntre Faixas

Varejo Total 3.062 9.000 3.600 32% 13%

3.000 2.526 1.900 5.900 28% 13%

83

4.000 1.647 800 14.100 12% 6%

5.000 900 500 26.800 9% 9%

6.000 392 350 40.200 14% 15%

7.000 43 100 70.800 15% 18%

Personnalité 322 430 92.000 23% 25%

Fonte: Elaborada pelo Autor

Analisando-se a tabela acima, há duas faixas de corte para clientes: UPA > 4.000 ou

UPA > 5.000. Isto porque são os clientes que geram menor rentabilidade para o

banco. Além disso, o comprometimento de renda é baixo, se comparado às outras

faixas, o que cria grandes possibilidades para aumentar as vendas de produtos de

crédito.

Entretanto, a faixa de corte para o segmento será a de R$ 4.000. Alguns motivos

sustentam esta escolha.

A faixa de UPA a partir de R$ 4.000 tem 800 mil clientes potenciais, menos que a

metade da faixa de 3.000 reais, o que torna o segmento mais exclusivo. Além do

mais, reduzem-se os custos de contratação e treinamento de gerentes. Já a faixa de

R$ 5.000 tem 500 mil clientes em potencial, quase o mesmo número do Itaú

Personnalité. Isto faria com que o Único tivesse características semelhantes a este

último segmento, passando a ser um concorrente seu.

Caso fosse escolhida a faixa de renda de R$ 5.000, 300 mil clientes da faixa abaixo

seriam mantidos no Varejo. A maioria dos segmentos de Alta Renda de outros

bancos tem faixas de corte de R$ 4.000, principalmente os que competem no grupo

estratégico de espaços diferenciados dentro de agências. Ao ficarem de fora do

segmento, poderiam sentir-se desprestigiados e procurarem outro concorrente.

4.3.1 Convite e Migração dos Clientes Varejo

Passada a seleção dos clientes, estes serão convidados a participar do novo

segmento. Há algumas formas desse convite ser feito. As duas principais são por

carta, informando que o cliente agora tem um novo gerente na agência e todos os

84

benefícios do novo Itaú Único. Ou por ligação telefônica, na qual o gerente

conversaria diretamente com o cliente.

A estratégia escolhida para primeiro contato é a ligação telefônica do gerente.

Apesar de ser um processo de convite bem mais demorado, este apresenta algumas

vantagens.

Como foi dito, a UPA é uma estimativa que, algumas vezes, está distante da

realidade. No contato telefônico, o gerente fará algumas perguntas ao cliente, dando

a entender que se trata de uma pesquisa do banco. Através deste questionamento,

ele poderá decidir se o cliente tem o perfil para o Itaú Único ou não. Em caso

positivo, ele informa que é seu novo gerente no banco e todos os benefícios do novo

segmento Itaú Único. O roteiro com as perguntas e a apresentação do Itaú Único

encontra-se no APÊNDICE I.

O contato telefônico é uma forma de demonstrar atenção ao novo cliente. Cartas e

informativos, o consumidor já recebe constantemente do segmento Varejo. Para

mostrar que agora o cliente tem um gerente que realmente cuidará de sua conta e

que estará mais próximo para todos os assuntos financeiros, a ligação é a melhor

forma.

A palavra convite não representa bem este processo. Na verdade, a ligação é um

informativo de que o cliente migrará para o segmento. Não haverá um

questionamento se isso é de desejo do cliente ou não. Ele só não será migrado caso

afirme que prefere continuar no Varejo.

Essa forma de agir explica-se porque, num primeiro momento, o cliente sente-se

reticente ao trocar de serviço. Mesmo com toda a explicação sobre o Itaú Único, ele

só perceberá suas vantagens a partir do momento que começar a utilizá-lo. Caso

ocorresse um convite, muitos clientes poderiam recusá-lo.

Entretanto, nada impede que, ao utilizar o serviço, o cliente não tenha suas

expectativas atendidas e prefira voltar para o Varejo.

4.4 Seleção dos Produtos, Serviços e Vendas

85

Além da forma de atendimento diferenciada, é importante que o portifólio de

produtos e serviços atenda melhor às necessidades específicas de cada cliente.

A principal mudança estratégica em produtos e serviços é na forma de venda.

No Varejo, o sistema de metas, o ATUAR, não tem uma visão voltada para o cliente,

e sim para o produto. Isso quer dizer que um gerente deve vender uma quantidade

pré-estabelecida de determinado produto, não importando para quem vai esta

venda. Outra distorção do sistema é que, ao atingir a meta em determinado item, o

gerente evita ofertá-lo, pois não tem mais nenhuma vantagem ao vendê-lo. Muitas

vezes, o consumidor acaba comprando algo que não era de seu interesse, sendo

que haveria outro que melhor atende às suas necessidades.

A principal dificuldade em modificar a forma de atuação no Varejo é a enorme

quantidade de clientes. Mesmo que um sistema de inteligência analisasse o perfil de

cada consumidor, gerando relatórios de quais produtos vender para cada um, ficaria

impossível o gerente procurar a todos de sua carteira.

Com a redução do número de contas na carteira dos gerentes Único, essa nova

forma de vendas é possível. Duas mudanças serão fundamentais para a efetivação

do novo processo:

• As metas não estarão mais atreladas a um só produto, mas sim a um conjunto de

produtos. A esse sistema dá-se o nome de cesta de produtos (CP). Cada

produto da cesta tem uma meta mínima de vendas. Entretanto, há uma meta

global para a cesta. Por exemplo, uma cesta de crédito pode conter cartão de

crédito, crediário pessoal e cheque especial e tem uma meta de venda de 15

produtos, sendo um mínimo de 3 vendas para cada produto. Assim, dependendo

da necessidade dos clientes no mês, podem ser vendidos mais cartões ou

crediários;

• Mensalmente será estudado o perfil dos clientes das carteiras. Para cada

produto, haverá uma lista de potenciais clientes a serem ofertados. A essa lista

dá-se o nome de Lista Potencial Compradores (LPC). Haverá metas para a

atuação nestas listas. Dessa forma, incentiva-se a ofertar o produto certo para o

melhor cliente, a chamada venda assertiva.

O que está por traz desse novo modelo de vendas é o aumento do relacionamento

do cliente com o banco. Além de aumentar a rentabilidade individual, quanto mais

produtos e serviços possuírem, maior será o vinculo com o Itaú, dificultando a saída

86

destes clientes para a concorrência. Assim, as duas principais forças competitivas do

mercado terão seus poderes de influência diminuídos.

Figura 4.6 – Modelo de Vendas: Varejo X Único

4.4.1 Produtos de Conta Corrente

Os produtos de conta corrente, como cartões eletrônicos, talões de cheque e

extratos em papel permanecerão com as mesmas funcionalidades. Entretanto, todos

esses tangíveis serão substituídos por outros com novo design e a marca do Itaú

Único.

Após o contato do gerente, havendo a confirmação da migração do cliente, é

enviada a sua casa uma carta de boas-vindas. Está conterá um pequeno explicativo

sobre o segmento, além do novo cartão de débito com a marca do Único.

O cliente poderá utilizar-se do talão de cheques que tem em mãos. Na próxima

solicitação, também receberá o novo tangível do segmento. O mesmo ocorre com os

extratos enviados mensalmente à casa dos clientes.

Como já foi dito, não haverá alterações no preço da tarifa de manutenção da conta

corrente. Isso poderia afastar muitos clientes do segmento. O prêmio de preço será

pago pelo aumento no relacionamento do cliente com o banco, através da venda de

produtos e serviços e volume de recursos investidos.

4.4.2 Produtos de Crédito

VAREJOPRODUTO A

Meta

PRODUTO B

Meta

PRODUTO C

Meta

PRODUTO D

Meta

ÚNICO

CLIENTES

CLIENTESCLIENTES

CLIENTESCLIENTESMeta

Meta Meta

Meta

PRODUTO A

PRODUTO D

PRODUTO E

PRODUTO B

PRODUTO C

CP

CP

Meta

Meta

LPC

LPCLPC

LPC

87

O cliente Itaú Único, devido a sua elevada renda, não tem o perfil de tomador de

crédito. Como se percebe pela tabela 4.1, o comprometimento de renda médio deste

cliente gira em torno de 13%. O cliente Personnalité, mesmo tendo sua renda maior

que o cliente Único, tem comprometimento de renda de 28%.

Essa diferença ocorre basicamente por dois motivos. Os limites pré-aprovados

ofertados aos clientes Personnalité são bem maiores que os limites dos clientes Alta

Renda do Varejo. Pesquisas anteriores do banco comprovam que, para aqueles que

não tem o perfil tomador, é preciso ofertar mais para que estes tomem crédito.

As taxas de produtos para clientes do Personnalité são bem menores que as de

clientes do Varejo. Além disso, o gerente do Personnalité pode negociar essa taxa,

de acordo com o produto e com seu conhecimento sobre o cliente. Já os gerentes

do Varejo, por não terem grande conhecimento de seus clientes, não possuem essa

opção de negociação. Logo, muitas vendas são perdidas por diferenças mínimas de

preço.

4.4.2.1 Alocação de Limites entre Rotativos (ALR)

Rotativos são produtos de crédito em que o cliente toma dinheiro emprestado do

banco e compromete-se com o pagamento do valor integral na próxima data de

vencimento. Ou seja, não faz o pagamento em parcelas.

Os dois produtos mais conhecidos são o Cheque Especial, que no Itaú tem o nome

de LIS – Limite Itaú para Saque, e os Cartões de Crédito.

No segmento Único, haverá um limite pré-aprovado único para os dois produtos.

Este limite, dependendo das características do cliente, pode chegar a até R$ 50.000,

bem maior que o limite máximo possível no Varejo, R$ 20.000, caso fossem

somados os dois produtos.

Entretanto, a grande diferença está na Alocação de Limites entre Rotativos (ALR). O

cliente e o gerente decidem a quantidade de pré-aprovado que será alocado em LIS

e em Cartão. Além disso, dependendo da necessidade de momento, o gerente pode

modificar estes valores dentro do teto estabelecido pela ALR.

Com isso, o cliente terá maiores limites disponíveis no produto que mais lhe

interessa, estimulando-o a utilizar mais crédito.

88

4.4.2.2 Faixa de Negociação (FN) para Parcelados

Parcelados são produtos de crédito em que o cliente toma certa quantia emprestada

e compromete-se ao pagamente em parcelas com taxa mensal fixa de juros. Os

grandes exemplos são o Crediário Pessoal, Crédito Consignado e Crédito para

Veículos (Leasing e CDC).

Como já foi citado, as taxas de juros do Varejo são bem maiores que as do

Personnalité. Além disso, os gerentes não têm um poder de atuação sobre essas

taxas, o que ocasiona a perda de alguns negócios.

O Itaú Único passará a contar com menores taxas para os produtos parcelados, se

comparadas com as do Varejo, além dos gerentes atuarem para maiores descontos

nestas taxas, através das Faixas de Negociação (FN).

As FNs permitem que os gerentes diminuam as taxas de produtos propostas pelo

sistema até um determinado valor piso. Elas devem ser utilizadas no caso do cliente

ter uma proposta bem semelhante em outro concorrente ou uma outra situação em

que o gerente perceba que irá perder o negócio.

O que diferencia esta ferramenta daquela oferecida ao Personnalité é o fato que

esse desconto influência nas metas de vendas do gerente Único. Automaticamente,

ao reduzir a taxa, o gerente é informado pelo sistema quanto está deixando de

ganhar com o desconto dado ao cliente. Esta perda é exponencial, ou seja, quanto

mais se reduz a taxa maior ainda será o desconto nas metas. Tabela 4.2 – Taxas Mensais de Parcelados: Varejo X Único

Produto Varejo Único FN para Único

Crediário Pessoal 3,5% a 5,5% 3,0% a 5,5% até 0,5%

Crédito Consignado 1,5% a 3,0% 1,0% a 3,0% até 0,5%

Autobank (CDC) 1,0% a 2,5% 0,8% a 2,5% até 0,3%

Leasing 0,8% a 2,5% 0,6% a 2,5% até 0,2%

Fonte: Elaborada pelo Autor

89

O intuito deste produto é não somente promover vantagens aos clientes, como

também estimular o poder de negociação dos gerentes. Por terem mais tempo de

treinamento e maior conhecimento de seus clientes, é esperado que consigam

negociar com estes, e não simplesmente abaixar as taxas até o piso limite.

4.4.3 Produtos de Investimento

Os principais produtos de investimento do Varejo têm características conservadoras.

Devido a grande quantidade de contas da carteira, o gerente não consegue atuar

como um consultor de investimentos. Logo, são ofertados produtos com menores

riscos, como Previdência, CDB ou Capitalização e que, em contrapartida, tem um

menor retorno esperado.

O cliente do Itaú Único, como se percebe pela tabela 4.1, tem uma média baixa de

recursos investidos, principalmente nas faixas entre 4.000 e 6.000 reais. A migração

de clientes para o Personnalité já provou (figura 3.9) que o cliente acaba trazendo

mais recursos para o banco. Isso se deve a assessoria financeira dada pelo gerente,

que permite ao cliente fazer aplicações mais arriscadas e que trazem um maior

retorno.

Sendo assim, o gerente do novo segmento também atuará como assessor de

investimentos dos clientes Único. Além dos produtos mais tradicionais, serão

ofertadas outras opções mais próximas aos produtos Personnalité, como Renda

Variável e Fundos de Ações.

Para aqueles que aderirem a esses produtos mais arriscados, além da assessoria

do gerente, haverá uma equipe designada na área de investimentos do banco para

acompanhamento e suporte aos clientes Único.

4.4.4 Seguros

Um dos produtos menos vendidos na rede de agências e que será o grande foco na

família de seguros, é o automóvel. 92% das vendas são efetuadas pela central de

90

corretores. Além dos custos fixos para manter esta central, as comissões por seguro

vendido são muito altas, girando em torno de 20 % do valor da venda, o que diminui

a lucratividade do produto para o banco.

Com o auxilio das LPCs, espera-se que a venda de seguros aumente no segmento.

Isso porque a Lista de Potenciais Compradores selecionará aqueles que têm o

seguro a vencer no mês em questão e apenas os de menor risco. Ou seja, como são

os melhores clientes, fica mais fácil o gerente vender o produto, mesmo não tendo

todos os conhecimentos técnicos sobre seguros.

Já os clientes que representam maiores risco devem ser tratados por agentes mais

especializados. Isso porque os seguros destes clientes apresentam maiores

particularidades e precisam ser tratados por vendedores com mais conhecimento

técnico, de forma a reduzir os riscos das apólices. Ou seja, serão vendidos pela

central de corretores.

4.5 Seleção dos Gerentes

Uma das propostas de valor do segmento é atender o cliente Único de forma

diferenciada. O atendimento não é exclusividade do gerente de contas. Entretanto,

grande parte da visão que o consumidor tem sobre o segmento é de

responsabilidade deste.

No Varejo, seu perfil é extremamente voltado a vendas, já que tem metas

agressivas. Aspectos relacionados ao bom atendimento e relacionamento com o

cliente também são importantes, porém ficam em segundo plano.

Já o gerente do Personnalité atua como um assessor para assuntos financeiros do

cliente. Seu foco e atender bem o cliente e entender suas necessidades.

Naturalmente, como conseqüência desta forma de atuação, as vendas ocorrerão.

O perfil do gerente do Itaú Único estará mais próximo ao Personnalité. Sua carteira

de contas reduzida facilitará o contato e relacionamento com vários clientes. Como

também atuará como consultor financeiro, deve ter a capacidade analítica para

conhecer as necessidades específicas de cada cliente e pró-atividade para propor-

lhes as melhores soluções.

91

Por tratar com movimentações de altos valores e com clientes com nível de

instrução mais elevado, os gerentes devem ter discrição na forma de atender. O

gerente com postura agressiva de vendas, que fala alto, comete erros de português

e tenta ser “amigo de longa data” do cliente está automaticamente descartado do

processo de seleção.

Entretanto, as metas de vendas serão mais parecidas com as do Varejo. Sendo

assim, o gerente também precisa ser um bom vendedor, não esperando que, só por

atender bem a seus clientes, baterá suas metas.

4.5.1 Treinamento

A capacidade de aprender sobre assuntos diversos é um dos principais pontos

buscados nos novos gerentes de conta para o Itaú Único.

O modelo de treinamento e aprendizado seguirá o Personnalité. Além, de

treinamentos “on the job”, através de e-learnings, também ocorrerão treinamentos

fora do local de trabalho. Como já foi citado no capítulo sobre os gaps na qualidade

do atendimento (capítulo 3.6.4), estas reuniões ajudam na troca de experiências,

aumentando o repertório de atuação dos gerentes.

Antes de começarem a atuar, os gerentes passarão por quatro módulos básicos de

treinamento. Ao final de cada um deles, haverá uma prova para garantir que os

conceitos foram bem assimilados pelos participantes. Para estarem aptos a atuar, é

exigida uma nota mínima em cada módulo. Tabela 4.3 – Módulos do Treinamento

Módulo Tópicos Abordados Descrição

Apresentação

- Apresentação do Segmento;

- Papel dos Gerentes;

- Diferenciação no Atendimento.

Apresentação da proposta de valor do novo

segmento e o papel fundamental dos gerentes

para seu sucesso.

Técnicas para atender bem o cliente, analisar

informações e saber propor a estes os melhores

produtos e serviços.

92

Produtos

- Conta Corrente;

- Crédito;

- Investimentos;

-Seguros.

Apresentação dos produtos do banco, suas

funcionalidades e quais as melhores situações a

serem ofertados.

Ferramentas de suporte a decisão disponíveis

para os gerentes.

Quais as rotas para contratação, alteração ou

cancelamento de um produto no sistema.

Canais de

Atendimento

- Bankfone;

- Bankline;

- Caixas Eletrônicos;

- Reclamações;

- Ressarcimentos.

Apresentação dos principais canais eletrônicos

para atendimento ao cliente: como acessá-los,

quais as suas funcionalidades e a necessidade da

senha eletrônica.

Como registrar, alterar e dar baixa em uma

reclamação via agência.

Em quais situações realizar e as alçadas para

ressarcimentos.

ATUAR

Apresentação dos três principais pontos do

programa ATUAR: vendas, relacionamento e

atendimento.

Cesta de Produtos e Lista de Potenciais

Compradores.

Fonte: Elaborada pelo Autor

4.5.2 Programa ATUAR

O programa ATUAR é o principal direcionar das ações dos gerentes, já que o

cumprimento de suas metas significa ganhos variáveis no salário, bonificações e

viagens ao exterior para os dois gerentes mais bem colocados.

Para o banco, o programa atuar é a principal ferramenta para operacionalizar suas

ações estratégicas. Sendo assim, o programa estará sustentado em três pilares

fundamentais:

• Produtos “Customizados”: produtos que mais se adequem às necessidades dos

clientes. Para uma venda mais assertivas, duas ferramentas serão introduzidas

para o Itaú Único – a Cesta de Produtos e a Lista de Potenciais Compradores;

93

• Relacionamento: o aumento no relacionamento do cliente com o banco é

fundamental para o sucesso do segmento. Dependendo do perfil, cada cliente

deve ter uma quantidade mínima de produtos e serviços, que vão desde um

débito automático em conta corrente até a um fundo de ações.

• Qualidade do Atendimento: duas medidas fundamentais são as quantidades de

reclamações por gerente e uma pesquisa de satisfação feita em Caixas

Eletrônicos e no Bankline.

Vale lembrar que, num primeiro momento de consolidação do segmento, o Itaú

Único não buscará clientes no mercado. Logo, não haverá metas para conquista de

clientes.

Figura 4.7 – 3 Pilares do Programa ATUAR

4.6 Gerenciamento das Operações do Segmento

O segmento Itaú Único pode ser enquadrado na diagonal Volume X Variedade como

sendo uma Loja de Serviços. A quantidade de clientes da carteira dos gerentes não

é tão grande quanto o Varejo, porém é maior que o Personnalité.

Silvestro (1999) fala em três formas de analisar as implicações estratégicas de um

determinado posicionamento na diagonal. No caso em questão, pode-se argumentar

que há a separação das operações dentro de uma mesma organização, pois elas

têm volumes de clientes distintos. Logo, devem ser gerenciadas de maneiras

diferentes.

RELACIONAMENTO

ATENDIEMNTO

PRODUTOS

ATUAR

94

Figura 4.8 – Diagonal Volume X Variedade para os Segmentos PF do Itaú

Devido ao seu posicionamento intermediário, o Itaú Único apresenta uma mescla

entre serviços profissionais e serviços de massa na forma de gerenciamento de suas

operações. As análises das três tarefas chaves, design, controle e melhoria, bem

como a qual extremo da diagonal mais se assemelham, serão feitas a seguir.

4.6.1 Design

O primeiro ponto abordado no design é a expectativa do cliente. Pode ser

considerada próxima às características dos Serviços em Massa. Tanto que os

produtos e serviços têm formatos padrões com algumas variações, para se adequar

a alguma demanda específica. Um exemplo disso é a Alocação de Limites entre

Rotativos e as Faixas de Negociação.

O relacionamento com o cliente é totalmente semelhante aos Serviços Profissionais.

Os gerentes têm uma carteira reduzida de clientes, a fim de criar um relacionamento

de longo prazo. O aumento do relacionamento traz consigo maiores barreiras para

mudanças, já que o cliente possui mais produtos e serviços que o atrelam ao banco.

Além disso, o melhor marketing para o segmento é o feito pelos próprios clientes, o

marketing “boca-a-boca”.

4.6.2 Controle

Volume de clientes por unidade por períodoBaixo

PERSON

Alto

AltoTempo de Contato

Customização

Discretização

Foco em Pessoas

Orientação Front Office

Orientação p/ Processo

MédioTempo de Contato

Customização

Discretização

Pessoas/Equipamentos

Front/Back Office

Produto/Processo

BaixoTempo de Contato

Customização

Discretização

Foco em Equipamentos

Orientação Back Office

Orientação p/ Produto

ÚNICO

VAREJO

95

Os recursos chaves para o bom desenvolvimento do segmento são uma mescla

entre os Serviços de Massa e os Serviços Profissionais. A contratação, treinamento

e retenção dos gerentes, que são o elo de relacionamento entre banco e clientes,

são de extrema importância. Entretanto, equipamentos, máquinas e toda estrutura

de TI são fundamentais em todos os processos do serviço bancário.

As tarefas de linha de frente são características dos serviços profissionais. Não há

um script para contato entre gerentes de conta e consumidores. Para aumentar a

competência da linha de frente, é feita uma rigorosa seleção dos gerentes e dá-se

preferência em treinamentos fora do local de trabalho. Isso aumenta o poder dos

gerentes de atuar em maior quantidade de eventos.

Uma das influências das características básicas de serviços é que “O trabalhador

pode modificar aspectos do sistema de operações e realizar a entrega do serviço ao

cliente, sem que a organização consiga identificar previamente”. Isso também

ocorrerá no segmento, principalmente no começo da migração. Uma segmentação

em sistemas de informatica gera inúmeras falhas. Muitos processos que ocorriam

normalmente no Varejo podem não funcionar no Itaú Único. Devido ao

conhecimento mais amplo sobre os processos, os gerentes podem buscar rotas

alternativas para efetuar uma contratação de produto, por exemplo. Para que estes

gaps não passem despercebidos, é preciso criar um canal eficiente de comunicação

entre área de planejamento, sistemas e linha de frente.

Figura 4.9 – Estrutura Comercial do Itaú Único

O controle organizacional continua a ser em estruturas hierárquicas, como nos

Serviços de Massa. Cada conjunto de 16 a 20 gerentes de conta (contabilizando

Gerente 3

Gerente 2

Gerente 1

Agência 1 . . .

Gerente 2

Gerente 1

Agência 8

Ger. Plataforma 1

Ger. Plataforma n

Superintendência Comercial

.. .

. . .

96

entre 7 e 8 agências) é subordinado a um gerente de plataforma. Estes, por sua vez,

são subordinados a superintendentes comerciais e diretores comerciais.

Por fim, as fontes de flexibilidade se assemelham às estruturas profissionais. Devido

às habilidades e treinamento dos gerentes, é possível executar transferências entre

unidades sem que o serviço perca seu padrão.

4.6.3 Melhoria

O sistema de gerenciamento de reclamações será baseado em procedimentos. Não

é possível tratar caso a caso, já que a quantidade de clientes, ainda que bem menor

que o Varejo, beire a 800 mil. Cada tipo de reclamação terá uma área responsável

pelo seu tratamento, dependendo do assunto. Com isso, permite-se padronizar as

soluções, aumentando a velocidade de reposta. Por tudo isso, a reparação de erros

aproxima-se dos Serviços de Massa.

Por fim a mensuração da satisfação do cliente será feita de duas formas. A primeira

é a quantidade e gravidade das reclamações por gerente. Reclamações em órgão

externos ao banco, como PROCON, Banco Central e Ações na Justiça têm um peso

maior que aquelas registradas e solucionadas internamente. A outra são pesquisas

de satisfação realizadas por amostragem, nos Caixas Eletrônicos e Bankline. Ao

iniciar a utilização destes canais, o cliente dá uma nota de 0 a 10 sobre o

atendimento prestado pelo gerente. Novamente, devido a medidas formais, a

mensuração da satisfação do cliente é considerada próxima a de Serviços de

Massa.

97

5. ANÁLISE DOS RESULTADOS

Esta seção visa elucidar os principais impactos com a criação do novo segmento de

clientes PF Itaú Único. Serão analisados os pontos positivos e negativos na visão de

três atores diretamente envolvidos: os novos clientes do segmento, o banco Itaú e o

mercado bancário voltado para clientes de Alta Renda.

5.1 Impacto para os Clientes

A criação do Itaú Único vem de encontro ao atendimento de inúmeras necessidades

que os clientes tinham no segmento Varejo. De acordo com o capítulo 3.6, ao

posicionar-se os principais critérios qualificadores e ganhadores de pedidos no plano

Importância x Desempenho, percebeu-se que havia três pontos na zona de

urgência. Esses gaps eram: a qualidade do atendimento, a variedade de produtos e

serviços e a rapidez no atendimento.

Com a introdução do gerente de relacionamento, mais bem treinado, com carteira de

clientes reduzida e atuando como consultor financeiro, espera-se que a qualidade do

atendimento melhore e, se possível, supere as expectativas dos consumidores. A

estratégia de vendas, com foco voltado à atender necessidades dos clientes, e não

simplesmente atingir metas de vendas, é outro fator que melhora a forma como o

serviço é prestado. Daí a extinção do Telemarketing Ativo.

O segundo gap na lista de prioridades é a variedade em produtos e serviços. Essa

variedade reflete-se na flexibilidade de algumas ferramentas criadas unicamente

para o segmento. A Alocação de Limites entre Rotativos (ALR), as Faixas de

Negociação (FNs), a Lista de Potenciais Compradores (LPC) são novas formas de

ofertas à clientes. Como não pagam maiores taxas pelo serviço, o aumento na

relação custo-benefício é claramente notado pelos consumidores. Além disso, a

diferenciação em tangíveis e canais de atendimento reforça a exclusividade do

serviço.

98

Por fim, o terceiro gap na zona de urgência é a rapidez no atendimento. As ações de

melhoria apresentadas são as carteiras com menor quantidade de clientes e os

espaços reservados para atendimento nas agências, ilha exclusiva no Bankfone

voltada ao Itaú Único. Vale lembrar que, além desses benefícios, os clientes ainda

contam com uma rede de mais de 3.000 agências e 10.000 caixas eletrônicos.

Entretanto, alguns clientes podem se sentir incomodados pela mudança. Aqueles

que tinham o costume de ir a agência e um contato mais próximo com o gerente de

contas do Varejo possivelmente, no início, não aprovarão a troca por um gerente

desconhecido, mesmo que esse possa dedicar-se melhor ao cliente.

Outro fato a ser lembrado é que, conforme é demonstrado pela migração de clientes

do Varejo para o Personnalité, alguns dos consumidores, por motivos de segurança,

preferem não serem identificados como clientes de Alta Renda.

5.2 Impacto para o Banco

A criação do segmento Itaú Único busca preencher duas deficiências do banco.

Primeiramente, espera-se uma maior retenção dos clientes de renda elevada do

Varejo, já que neste segmento não tinham uma atenção especial e poderiam

facilmente trocar o Itaú por um concorrente.

O segundo ponto é aumentar a rentabilidade individual de cada cliente. Com a nova

proposta de valor do segmento, é esperado, conforme visto no Personnalité, que os

clientes aumentem seus investimentos no banco, tomem mais crédito. Com isso, o

Produto Bancário (PB ou receita líquida) do banco também tende a aumentar.

Entretanto, a organização sofrerá alguns impactos negativos. Clientes não migrados

para o segmento podem se sentir desprestigiados pelo banco, diminuindo ou

chegando ao ponto de encerrarem seu relacionamento.

Um outro fator é o descontentamento de gerentes do Varejo. Teoricamente, os

melhores clientes serão retirados de suas carteiras, o que dificultaria o cumprimento

das metas do programa ATUAR.

99

5.3 Impacto para o Mercado

Num primeiro momento, a criação de um novo segmento para clientes Alta Renda

gera desconforto nos principais concorrentes do mercado. O Itaú Único, além de

manter e fidelizar mais seus clientes, poderá, num futuro próximo, expandir seu

market share através da conquista de consumidores de outros bancos.

Entretanto, essa competição mais acirrada faz com que os grandes jogadores da

indústria, além de melhorem seus processos (eficiência operacional), busquem

novas formas de oferecerem o serviço ao cliente Alta Renda, estimulando à

inovação (estratégia). Assim, haverá ganhos tanto para as instituições quanto para

os consumidores.

100

6. CONCLUSÃO

O principal objetivo deste trabalho era formular uma estratégia competitiva para o

atendimento diferenciado aos clientes de renda elevada do Varejo no banco Itaú.

Como foi citado na revisão da literatura, criar uma estratégia consiste em fazer

diversas escolhas, selecionando algumas atividades em detrimento à outras. Estas

foram explicitadas na seção de proposta de solução.

Decidiu-se atender aos clientes com renda mensal líquida acima de R$ 4.000,

deixando de fora os outros clientes. O local de atendimento aos consumidores será

em espaços reservados dentro de agências, ao invés da criação de agências

próprias para o segmento. Tomou-se a iniciativa de não se cobrar mais pelo serviço,

já que os ganhos virão do maior relacionamento que os clientes terão com o banco.

Uma outra importante decisão foi em relação à abordagem de vendas, passando da

visão produto para a visão cliente. Modificações nos principais produtos foram

executadas, visando atender às principais necessidades dos consumidores. Por fim,

as escolhas do melhor perfil do gerente e da forma de ser treinado são de suma

importância, já que grande parte da visão que o cliente forma sobre o novo serviço

passa pelo seu gerente de relacionamento.

O apoio à tomada de todas essas decisões deu-se por análises de concorrentes, do

segmento Personnalité e das principais lacunas no atendimento às necessidades

dos clientes Alta Renda do Varejo. Em grande parte destas análises utilizou-se um

caráter prescritivo, semelhante à escola de pensamento do Posicionamento, que

tem Michael Porter como principal expoente. Segundo Mintzberg e Lampel (1999),

para esta corrente, a análise do passado dentro de um horizonte definido contribui

para o processo de formulação estratégica.

Entretanto, o pensamento estratégico de forma descritiva também está presente na

formulação do Itaú Único, através de casos relatados nos textos de Silvestro (1999)

e Barry et al (2006). Estes exemplificam situações de inovação em serviços e

implicações estratégicas de diferentes formas de gerenciar as operações.

Devido a todas estas mudanças, pode-se considerar que o Itaú Único é um rearranjo

das atividades bancárias, sendo seu posicionamento estratégico marcado pelo

atendimento às necessidades do grupo de clientes com renda acima de R$ 4.000.

101

O segmento Itaú Uniclass, em operação há quase um ano, já apresenta diversos

resultados satisfatórios. Sempre se comparando a um grupo de controle com as

mesmas características dos clientes migrados para o novo segmento, o índice de

reclamações por cliente está 15% menor. A pesquisa de satisfação aponta média de

8,4 frente a 7,9 do controle. Incrementos no saldo médio de recursos, empréstimos e

PB são, em média, 12% maior que o grupo de comparação.

O que chama mais a atenção e demonstra como o segmento contribui para a

fidelização dos clientes é o índice de retenção quatro meses após a migração,

superior a 99%.

Para o autor, o principal aprendizado com o trabalho de formatura foi utilizar-se da

teoria como importante ferramenta na resolução de um problema real. Ainda que a

solução proposta não tenha sido implementada pela empresa, as experiências

adquiridas com as dificuldades para formulação do trabalho serão de extrema valia

na carreira de Engenheiro de Produção.

102

7. REFERÊNCIAS

BARRY, L. L. et al. Creating new markets through service innovation. MIT Sloan Management Review, v. 47 n. 2, p. 56-63, Winter 2006. BOWEN, D. E.; LAWLER III, E. E. The empowerment of service workers: what, why, how and when. MIT Sloan Management Rewiew, v. 33 n. 3, Spring 1992. BRIGNALL, T. J. et al. Product costing in service organizations. Management Accounting Research, v. 2, p. 227-248, 1991. CARVALHO, M. C.; LAURINDO, F. J. B. Estratégia Competitiva: dos conceitos à implementação. 2ª ed. São Paulo: Atlas, 2007. CHRISTENSEN, C. M.; OVERDORF, M. Meeting the challenge of disruptive change. Harvard Business Review, p. 66-76, Mar./Apr. 2000. COX, A. et al. Supply chains and power regimes: toward an analytic framework for managing extended networks of buyer and supplier relationships. The Journal of Supply Chain Management, v. 37 n. 2, p 28-35, 2001. DRUCKER, P. F. The theory of business. Harvard Business Review, p. 18-32, Sept./Oct. 1994. FOSTER, R. N.; KAPLAN, S. Creative destruction: why companies that are built to last underperform the market: and how to successfully transform them. Ramdom House, Currency, 2001. GADREY, J.; GALLOUJ, F.; WEINSTEIN, O. New modes of innovation: how services benefit industry. Internation Journal of Service Industry Management, v. 6 n. 3, p. 4, 1995. GRIFFIN, A. PDMA reserch on new product development practices: Updatingtrends and benchmarketingbest practices. The Journal of Services Marketing, v. 14 n. 6, p.429, Nov. 1997.

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105

APÊNDICE A. Modelo de entrevista para convite ao segmento Itaú Único.

Gerente, apresente-se como sendo do Itaú. Para conhecer

o cliente, faça as seguintes perguntas

Nome: ___________________________________________

Telefone: _______________ Profissão: _______________

Escolaridade: ____________ Renda Mensal: R$ ________

Invetimentos no Mercado: ___________________________

Gerente, analisando as informações passadas pelo cliente,

bem como aquelas que você possui na tela de convite, de -

cida se o convite deve ser feito.

Em caso positivo, siga para o item b. Em caso negativo, a -

gradeça em nome do Itaú e encerre a ligação.

- Apresente-se como novo gerente de relacionamento;

- Indique que agora ele faz parte do Itaú Único;

- Ele terá espaço reservado na agência para tratar de sua

vida financeira, atendimento exclusivo nos canais eletrôni -

cos, produtos diferencias para melhor atender suas neces -

sidades.

Quais limites de crédito gostaria para:

1. Cheque: _____________ 2. Cartão: _______________

3. Crediário: ____________ 3. Automóvel: ____________

Quais as principais deficiências do Itaú:

1. _____________________________________________

2. _____________________________________________

3. _____________________________________________

PESQUISA E CONVITE DO ITAÚ ÚNICO

a) Pequisa Inicial

b) Apresentação do segmento