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Alm da Estrada de Borboletas Azuis
Em um reencontro de muitas eras que voavam como os pssaros atravessando o sul, o eco se
escreve sobre a ribanceira de um lago, em um vale to distante que nem mesmo os ferreiros
ousam entregar suas espadas recm-fabricadas aos guerreiros doutro mundo que l residem.
Para atravessar o vu necessrio morrer simbolicamente por um longe tempo, e para os
corajosos viajantes a viagem parecia estar vivendo na longnqua caminhada pela manh,
porm a dama das flores sentia que aquela caminhada vinha sendo trilhada por ela em eras
to longnquas que remontaram o arder do fogo solar em sua pele sob as cicatrizes do tempo.
Na estrada das borboletas azuis, depois de longas caravanas e caminhadas sem olhar para trs
e sendo educada com cada ser fsico e imaterial, h uma gruta de rocha viva que restaura e
absorve o peso das bagagens muito mais pesadas que as malas dos peregrinos. Borboletas
azuis copulam e voam pelos ares fertilizando a chegada do viajante, rodopiam em espirais
puras que no azul de suas asas demonstram o mais puro brilho de luz transformado em cor.
Aps o banho de luzes azuis, doado pelas criaturas da mata, os peregrinos de longa caminhada
compreenderam que j pisavam sobre um solo puro e isolado da praga humana que se
espalhava pela nova era. Em busca de cura e de encontro ao universo, seguem atravs da
estrada das borboletas at avistarem a beirada um lago. Deitados sobre o feno depois de uma
longa jornada dada hora de dar as cartas, seis peregrinos e o sol como o stimo elemento
jorrando em dourado.
Primeira Carta A Torre
Duas damas e trs homens danam sobre o luar, enquanto um menino perdido ludibriado
pelos elementais zombeteiros, as fadas invisveis que estragam alimentos e perturbam os
viajantes para atra-los ao outro lado do vu. construdo um caminho em subida e subida, em
busca dos sagrados elementos, subindo ladeiras interminveis, seus corpos j sujos, cheios e
pesados de memrias ruins e profanas no esto preparados para a jornada.
Prximos ao alto, aps todos os sinais do Universo em seis partes, deixando a stima invisvel
aos olhos, eles se dividem em duas partes. A dama da montanha acompanhada de um stiro
caminha em busca de novos peregrinos, enquanto os outros permanecem no vale sagrado. E
por uns instantes algo perturbado na diviso dos elos, no abandono temporrio das hastes
invisveis que ligavam os seis peregrinos.
A torre divina cai em chuva, derrubando e empoando todo o caminho ao horizonte, causando
turbulncias aos viajantes, derrubando cada um em pensamentos longnquos naquele tempo.
A jornada do stiro e da dama da montanha se estende, pois ambos precisavam se afundar em
gua, pois nela o ar radiava a diversos ventos, e nele uma chama interminvel queimava
afastando a fluidez aqutica. De tal forma somente os trs peregrinos detentores das trs
caractersticas aquticas permaneceram, junto da criana terrena que sem saber cegamente ia
escalando os patamares do mundo. A chuva caiu derrubando torres e pesos, para purificar o
mundo interior de cada um, para abrir uma nova passagem no vu.
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Segunda Carta - Os Amantes
Divididos e reunidos, trs em cada morada, duas polaridades divididas em duas partes de trs.
O stimo elemento surge para se apresentar aos peregrinos, caminhando ao redor de suas
tendas a noite, tentando tocar o mago de seus desejos. Mos espectrais que assustam e
tombam. A embriaguez bacante do vinho misturada a sutis tragos doma seus medos que
desvanecem em risadas e de pronto podem ouvir a msica dos sapos. Hipnotizados pelo frio e
pela msica dos sapos, aos pouco um a um dos peregrinos, j sem temer os caminhantes
espectrais, se envolvem no embalo dos sonhos e na embriaguez do sono.
J to breve o lenhador que outrora tomara a dama das flores assume sua verdadeira forma
satrica no escuro, e prontamente dedos se tornam corpos e zelos so desbravados ao tocarem
suas almas sem poder desfrutar do corpo como uma penitncia cruel demais. Tal penitncia
curada ao olharem as estrelas fulgentes que surgem no cair da madrugada glida. O brilho das
estrelas que carregam a verdade e despertam logo na noite das almas a lembrana do desejo
de outras eras que era tambm desta e ali se reafirmava. E na magia dos sapos que
embalavam todas as canes que o universo poderia compor, suas razes e galhos, corpos e
almas, novamente se entrelaavam de maneira que perduraria por todas as eras deste mundo
e do outro, fincando suas sementes em um mesmo solo.
Terceira Carta O Mundo
O sol desperta recuando a neblina da noite dos antepassados, o mundo e seus quatro aliados
se apresentam no nascer do novo dia. Os pssaros carniceiros rodeiam o cheiro mrbido dos
cadveres que na noite caminharam pela terra, pois naquela madrugada a passagem entre
este e o outro mundo se torna uma mera iluso. No raiar da manh a dama da montanha
sobre o feno inicia a beno do universo, e sobre ela mugidos de vacas fertilizam e
potencializam a essncia da vida.
O divino se apresenta de muitas formas, e assim que a beno concluda do alto da
ribanceira daquele vale surgem vacas e bois que salteiam e executam uma dana proibida e
incompreensvel aos olhos humanos. Um jovem cavaleiro entre os peregrinos encontra a
leveza no olhar de um bezerro, e compreende que ali reside o verdadeiro segredo do mundo.
O gado que por ali danava era ao mesmo tempo sagrado e amaldioado, pois a medida que
iluminavam e espalhavam luz pelo mundo, seus corpos eram marcados pela maldio humana
do sangue, seus corpos eram torturados diante do peso daquela marca e ainda assim
iluminados rodopiavam e danavam a dana proibida, jorrando alegria, fertilizando cada
campo e criatura, pois mesmo marcados pelas maldades do homem em essncia eram
verdadeiramente livres pela essncia e leis do mundo.
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Quarta Carta O Louco
Alimentaram-se e aps tantos sinais e provas do Universo os peregrinos se encontravam
envolvidos com as essncias instintivas e primais da natureza, com as crenas da terra e com a
sua loucura. Saltaram sobre um lago de risadas e meditaes, dentro do lago lavaram suas
mscaras cotidianas e banhados em sua insanidade primordial abraavam e molhavam uns aos
outros, sem julgamentos, sem lamentos, sem sanidades, mas principalmente sem cascas.
No fundo do lago o jovem cavaleiro lavado do peso de sua armadura humana e abraando sua
essncia mais pura e infantil encontra no fundo do lago areia mgica da qual podem ser
confeccionados qualquer tipo de amuletos que agora alheios a sanidade os peregrinos podem
construir. O stiro sem mscara desperta em si a figura do arteso e presenteia a dama das
flores com dois amuletos poderosos que s no outro mundo podero ser realmente
compreendidos. O pequeno peregrino alheio demais aos perigos do universo, no faz uma
reverncia devida ao grandioso Sol que joga sua clera queimante sobre ele. Por instantes a
dama da montanha comunga com as vacas e bois e s ento se banha no lago. Quando todos
lavam suas mscaras e cascos esto prontos finalmente para a iniciao do proibido, pois s
aqueles lavados pela loucura podem enxergar as verdades do universo.
Quinta Carta A Lua
A dama das flores chorou e rogou a sua me lua um simples vislumbrar de seu manto prateado
que jorrasse todas as suas confuses embora, e a lua vem como a stima arcana da noite,
atenuando o passivo, expandindo seus instintos e trazendo a sensibilidade aos peregrinos.
Eis que surgem espectros diante da fogueira, espectros com laos mais antigos aos peregrinos
do que suas mentes humanas ousariam lembrar, lavados pela loucura e abraados pela
sensibilidade lunar soltam o choro e encontram suas razes passadas. O perdo materno
alcanado, o abrao espectral encontrado. Cavaleiros de outro mundo fazem reverncia
brandindo suas espadas que protegem os peregrinos das criaturas densas que habitam e se
alimentam no escuro. A iniciao ao proibido principiada, sendo guiada pela dama da
montanha que veste o negro manto da noite e acompanhada pelo stiro que lidera os
guerreiros e as foras misteriosas do fogo, e pela dama das flores ora drade da lua ao brandir
a flauta doutro mundo ferindo canes que nenhum mortal ousaria compreender. O menino
criana traz a pureza e o medo primordial, embalado pelo cheiro do fogo, enquanto o cavaleiro
e o bardo se misturam ao fogo proibido.
Sexta Carta O Diabo
E o fim se perpetua em seis, e ao dormir sabem que partiro no dia seguinte a sua realidade
banal, mas o que revelado ao fim danoite, a cada um dos peregrinos a presena eternado
stimo elemento primal, o animal, o instinto, o ser emrico que grita e acompanha at o fim de
nossa jornada, alm das estrada das borboletas azuis podemos v-lo mais perto, mas mesmo
que no desperto, cada peregrino tem perto de si a verdadeira fora que reside no Universo.