estética da recepção

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Teoria da Literatura

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Estética da Recepção

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  • Teoria da Literatura

  • HANS ROBERT JAUSS E A ESTTICA DA RECEPO Roberto Figurelli

    Universidade Federal do Paran RESUMO

    O presente estudo uma anlise crtica da contribui-o de Hans Robert Jauss Esttica da Recepo, movi-mento nascido em 1967, na Universidade de Constana, Ale-manha. O trabalho apresenta-se dividido em trs partes. Na primeira, as polmicas de Jauss com formalistas, mar-xistas e estruturalistas. Na segunda, o ncleo da doutrina de Jauss e o confronto com R. Barthes. Na terceira, a fundamentao na hermenutica e o dilogo Jauss-Gada-mer.

    O ponto de partida da Esttica da Recepo (Rezeption-ssthetik) costuma ser situado na aula inaugural proferida por Hans Robert Jauss1, em 1967, na Universidade de Cons-tana, com o ttulo de Literaturgeschichte als Provokation der Literaturwissenschaft* A partir de ento se formou a assim chamada "Escola de Constana", tendo frente Hans Robert Jauss e reunindo vrios nomes de importncia como, por exemplo, Wolfgang Iser3, Hans Neuschfer, Hans U. Gum-brecht, Karlheinz Stierle e Manfred Fuhrmann.

    Escola de Constana corresponde, na Repblica De-mocrtica Alem, o "Grupo de Berlim", cuja figura principal Manfred Naumann. Esse grupo responsvel pela publica-o da obra coletiva Gesellschaft Literatur Lesen (1975), a qual tem por subttulo "recepo da literatura em perspecti-va terica".

    O estudo que ora se inicia estar concentrado na Est-tica da Recepo, tal como proposta por Hans Robert Jauss.

    1 Hails Robert Jauss. nascido cm 1B21, professor de Cincia da Literatura na Uni-versidade de Constana. na Alemanha. Tornou-se conhecido, sobretudo a par t i r de 1955. com sua tese de doutorado Tempo e lembrana cm "A Ia Recherche du Temps Perdu1 ' de Marcel Prcust: uma contribuio teoria do romance. Medlevallsta e romanista segundo a melhor tradio filolgica das universidades alem&s. H.R. Jauss 6 autor de numerosos trabalhos sobre l i teratura medieval e sobre vrios autores franceses.

    2 Traduo literal: A Histria da Literatura como provocao & Cincia da Li tera tura . Na traduo francesa, o titulo fol modado para L'Hiitoirei de la litraturo* un dfi la thorie littraire. Aproveito para agradecer a valiosa colaborao do Prol. J.B.Martins na traduo dos textos da lingua alem.

    3 Professor de Cincia da Literatura, na seo de anglo-saxnicas, na Universidade de Constana. W.Iscr tem concentrado sua ateno nos problemas da leitura, como lugar privilegiado de toda a problemtica da recepo. Seu nome costuma ser asso-ciado " teor ia do efeito esttico". autor, dentre outras obras, de Der Akt des Lesens: Theorie aesthetischcr Wirkuna. de 1976.

    Letras. Curitiba (37) 265-285 - 19BB - UFPR 265

  • FiaURELLI. R. Hans Robert Jauss

    Sob o signo da contradio

    A Esttica da Recepo nasceu sob o signo da contra-dio. A aula inaugural de H. R. Jauss, em 1967, no dissi-mulou um propsito polmico, a comear pelo prprio ttulo e pela constatao explicitada na primeira frase: "Atualmente, a histria da literatura caiu num descrdito sempre maior e que, de forma alguma, imerecido".4 Da no se estranhar que Jauss, ao apresentar a Esttica da Recepo, tenha sido levado a entrar em confronto com diversas correntes que renem muitos adeptos no hodierno contexto da literatura.

    Em primeiro lugar, Jauss intervm, com grande entu-siasmo, no debate entre a teoria formalista e a teoria mar-xista da literatura. Reconhece os mritos dos formalistas, mas assinala que compreender a obra de arte em sua histria no a mesma coisa do que apreend-la na "histria, segundo o horizonte histrico de seu nascimento, em sua funo so-cial e na ao que ela exerceu sobre a histria".5

    teoria marxista, Jauss reprocha o fato de negar arte (bem como moral, religio e metafsica) uma histria que lhe seja prpria. Como explicar que tima obra do pas-sado como os poemas homricos ainda continue a des-pertar o interesse do leitor do sculo XX? Jauss aponta para a deficincia da "teoria do reflexo"0 que no v na obra nada mais do que o simples reflexo de um estgio da evoluo social e conclama a esttica marxista a assumir a historci-dade especfica da literatura.7

    Entrando de cheio na controvrsia entre formalismo e marxismo, Jauss aproveita para lanar sua proposta: "Os seus mtodos (do formalismo e do marxismo) apreendem o fato literrio no circuito fechado de uma esttica da produo e da representao; assim o fazendo, despojam a literatura de uma dimenso necessariamente inerente sua prpria natu-

    4 JAUSS. H.R. Pour une estht ique de la rception. Par is , Gal l imard . 1978. p.21. 5 JAUSS, p.43. 6 " A teoria marxis ta- lenlnis ta considera a a r te como uma lorma do conhecimento

    enquanto reflexo do mundo objetivo, sob a fo rma especifica de imagens a r t s t i c a s " . OVSIANNTKOV, M. A esttica contempornea e seus fundamentos filosficos. In: EOOROV, A. et all. Esttica marx i s ta e actual idad. Moscou. Ed .Progresso, 1972. P.49- "Como forma da conscincia social e. s imul taneamente , como f o r m a de a t i -vidade humana , a a r t e ref le te a realidade, a j u d a n d o o homem a conhec-la melhor e, conseqentemente, a t rans form- la em conformidade com as leis estticas'*. DOLGOV. K. A crlac&o ar t s t ica e a teoria leninista do reflexo. In: EOOROV, p.04-5.

    7 A propsito disso. Jauss subscreve duas a s s e r v e s de K.KosIk, ex t ra das do livro Die Dialektik des Konkreten, P r a n k f u r t , 1967. Pr imeira : " t o u t e oeuvre d ' a r t possde un couple de caractres Indissociables: elle exprime la ral i t , mais elle est aussi consti tutive d 'une ral i t qui n 'exis te pas avan t l 'oeuvre et cte d'elle mais pr-cisment dans l 'oeuvre et en elle s au l e " (p. 123). Segunda: "L 'oeuvre vit dans la mesure o elle agi t . L 'act ion de l 'oeuvre Inclut galement ce aul s 'accomplit dans la conscience rceptrice et ce qui s 'accomplit en l 'oeuvre elle-mme. La destine historique de l 'oeuvre est une expression de son t re . . .

  • FIQURELLI, R. Hans Robert Jauss

    reza de fenmeno esttico e sua funo social: a dimenso do efeito produzido (Wirkung) por uma obra e do signifi-cado que lhe atribui um pblico, de sua 'recepo' ",8

    As referncias de Jauss esttica da produo e da re-presentao provocaram crticas da parte do Grupo de Ber-lim. Assim M. Naumann, aps questionar a pretensa novi-dade das iniciativas da Escola de Constana, reclamou de Jauss que precisasse o significado dos ataques contra a est-tica da produo e da representao." A resposta no se fez esperar. Num "entretien" com Charles Grivel, Jauss mostrou a diferena entre a Escola de Constana e a de Berlim: en-quanto a primeira "entende por comunicao literria uma relao dialdgica em que a parte receptora e a parte emis-sora esto igualmente implicadas", a segunda "explica a pr-xis esttica referindo-se ao modelo circulatrio de Marx, se-gundo o qual, "os dois momentos da distribuio e da troca servem de intermedirios entre produo e consumo". E acrescentou: "a esttica da recepo tem prioridade herme-nutica sobre toda esttica da produo por exigir de todo intrprete que ponha conscientemente em jogo sua prpria situao na histria".10

    O surgimento da Esttica da Recepo, na dcada de 60, insere-se no contexto de um movimento que, nas Cincias Humanas, passou a questionar o paradigma dominante do estruturalismo. Jauss insurge-se contra a elevao do estru-turalismo a nvel de "discurso do mtodo do tempo presen-te", ao atacar as seguintes premissas do estruturalismo: "o universo lingstico, fechado, sem referente, portanto sem relao ao mundo; os sistemas de signos sem sujeito, por-tanto sem relao situao de produo e de recepo do sentido; a noo de estrutura com valor ontolgico, portan-to reif iada e subordinada a toda funo social; a reduo das funes de comunicaes pragmticas a um jogo combi-natrio da lgica formal."11

    Alm de polemizar contra diversas correntes da atuali-dade, Jauss entra em choque com alguns autores de grande renome como, por exemplo, Theodor W. Adorno e Roland Barthes. 8 JAUSS. Pour une ea 'h i t iquo . . . , p.43-4. 9 " U n o me parece residir en el heclio de que la esttica de la recepcin, que tuvo

    un t a n Impor tante papel en la l iberacin del lector, ha dejado has t a hoy sin def ini r la correlacin que hay ent re los problemas con t a n t a razn acentuados por ella con los de un p lanteamiento de esttica de la produccin y la r ep re sen t ac in" ' NAUMANN, M. El dilema de la " r s t t l ca de la recepcin". Eco, 3S

  • FIGURELLI. R. Hans Robert Jauss

    Quanto s influncias, Jauss mostra-se tributrio de trs pensadores que, segundo ele, abriram caminho para o seu empreendimento: John Dewey (Art as Experience, 1934), Mikel Dufrenne (Phnomnologie de l'Exprience esthtique, 1953) e Jan Mukarovsky (Kapitel aus der Aesthetik, 1970). Mas esse reconhecimento no significa adeso irrestrita s teses de Dewey, Dufrenne e Mukarovsky. Jauss reserva-se o direito de manter uma postura critica diante deles. O mesmo vale para o dilogo entre Jauss e Hans-Georg Gadamer. Jauss, ao inserir a Esttica da Recepo no campo das cincias do significado, faz uma profisso de f hermenutica e situa seu empreendimento sob a gide da hermenutica filosfica de Gadamer. Isso, porm, no o inibe de levantar vrias obje-es ao autor de Wahrheit und Methode.

    As experincias fundamentais

    O ttulo desse pargrafo foi-nos sugerido pelo subttulo do artigo de H.R. Jauss "La jouissance esthtique" , publicado na revista Potique, em 1979, ou seja: "Les exp-riences fondamentales de la poiesis, de l'aisthesis et de la catharsis".12

    O mtodo de Jauss poderia ser denominado "anlise his-trica". Possuidor de um notvel cabedal de conhecimentos filolgicos, Jauss costuma partir da tradio grega, recorre lngua latina, mergulha com grande mpeto na Idade M-dia, cita pensadores da Filosofia Moderna e discute com au-tores contemporneos para a apresentao de seus argumen-tos. Embora o leitor corra o risco de se emaranhar no apa-rato de erudio filolgica ostentado por Jauss, cumpre res-saltar que ele emprega o seu mtodo visando determinadas finalidades. Assim, por exemplo, ao analisar historicamente as experincias fundamentais da poiesis, da aisthesis e da catharsis, Jauss se prope recuperar a noo de fruio est-tica como categoria fundamental da experincia esttica.

    Os termos gregos poiesis, aisthesis e catharsis tm um rico contedo na tradio filosfico-esttica do Ocidente. Jauss tomou-os por emprstimo da tradio e adaptou-os sua concepo de experincia esttica.

    Em primeiro lugar, o termo poiesis (criao). Jauss em-prega-o para significar a fruio proveniente da realizao de uma obra de arte. No se trata, para o artista, s de criar ou produzir uma obra, mas de experimentar um sentimento 12 JAUSS. H.R. La Jouissance esthtique. Les expriences fondamentales de la poiesis.

    de l 'a isthesis et de la ca thars is . Potique. 10:261-74. 1979.

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  • FIQPRFnj.il R. Hans Robert Jauss

    de plenitude que Santo Agostinho reservava a Deus e, desde a Renascena, vem sendo cada vez mais reivindicado como a marca da atividade artstica autnoma. Poiesis significa "poder poitico" (no sentido de um savoir-faire). Pela poiesis, o homem sente-se em casa no mundo.

    Em segundo lugar, aisthesis. Sabemos, pela Histria da Filosofia, que Alexander G. Baumgarten (1714-1762) recorreu ao substantivo grego aisthesis (sensao) para o ttulo de sua obra Aesthetica (em latim), cujo primeiro volume foi publi-cado em 1750, dando incio oficialmente Esttica Moderna. Jauss retoma o termo aisthesis, no contexto da experincia fundamental, para significar "essa fruio esttica do ver que reconhece e do reconhecer que v".13 Inclui tambm no contedo de aisthesis a capacidade de renovar a percepo das coisas, embotada pela rotina do dia-a-dia.

    Em terceiro lugar, catharsis (purificao). Apesar de se referir explicitamente a Aristteles, Jauss no pretende en-trar na polmica que envolve a famosa clusula da Potica. Jauss utiliza o termo catharsis para significar, de um lado, a funo que as artes tm de inaugurar, transmitir e justi-ficar as normas da ao (dimenso social) e, de outro lado, a funo de libertar o espectador dos vnculos da vida pr-tica a fim de situ-lo pela "fruio de si na fruio do outro" num estado de liberdade esttica (dimenso ideal de toda arte autnoma). E nesse estado de liberdade est-tica, Jauss pe em relevo a recuperao do juzo de valor esttico.

    Essas trs categorias fundamentais da experincia est-tica no devem ser visualizadas como compartimentos estan-ques numa escala hierrquica mas como um conjunto de funes autnomas. No possvel reduzir uma a outra co-mo, por exemplo, a poiesis h catharsis. Nada impede, porm, que o artista passe da funo da poiesis aisthesis, como espectador de sua prpria obra, ou catharsis, ao emitir um juzo de valor esttico acerca do que criou. E no artigo "Poiesis", publicado na revista americana Critical Inquiry, Jauss investe contra a tradicional esttica da representao para mostrar que, diante de algumas das mais ousadas pro-postas da arte contempornea, s a Esttica da Recepo pode levar o espectador a abandonar a atitude de contem-plao passiva e, graas a uma reformulao da poiesis, a 13 JAUSS, La Jouissance cstht iauc. p. 272.

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  • FiaURELLI. R. Hans Robert Jauss

    participar ativamente da experincia de criao da obra de arte.14

    Ao descrever as experincias fundamentais, Jauss apro-veita a oportunidade para tomar partido na polmica que, sobretudo na esttica anglo-americana, ope intencionalistas a no-intencionalistas no concernente interpretao da obra de arte literria. "A obra acabada desdobra na aisthesis e na interpretao incessantemente renovada uma plenitude de sentido que ultrapassa em muito o horizonte de seu nas-cimento".15

    A posio de Jauss clara e inequvoca: o leitor, ao se debruar sobre um texto, no deve se preocupar com a in-teno do autor. E, em reforo de sua posio, Jauss aduz importantes depoimentos como, por exemplo, de HD. Zim-mermann e de K. Kosk.16

    Cumpre-nos, agora, examinar o alcance do empreendi-mento de Jauss no que tange recuperao da idia de frui-o esttica como categoria fundamental da experincia es-ttica.

    O artigo "La jouissance esthtique", includo na revista Potique, a traduo de vim captulo da obra de Jauss Aesthetische Erfahrung und literarische Hermeneutik, de 1977, traduo essa publicada com a devida autorizao do autor. A palavra-chave , inquestionavelmente, jouissance, a qual corresponde ao termo alemo Genuss (gozo, prazer) do texto original. Por que jouissance e no plaisir? Somos de opinio que a resposta a essa pergunta deve ser procurada na cono-tao polmica que caracteriza o desiderato de Jauss. No caso em foco, a oposio a Roland Barthes que, para ele, pode ser considerado, sob mais de um aspecto, "como a r-plica francesa teoria esttica de Adorno". Para chegar ao confronto com Barthes, Jauss percorre o longo caminho da anlise histrica do termo jouissance, detendo-se em alguns pontos cruciais como, por exemplo, a distino entre uti (utilitas) e frui (fruitio), proposta por Santo Agostinho, e o

    14 "Th i s development of the m e d e m a r t s cannot be adequately understood by the t rad i t ional aesthet ics of representa t ion. Their comprehension demands the elabo-ra t ion of an aesthet ics of reception which goes beyond the t rad i t ional defini t ions of the contemplative a t t i t ude and which can formula te t h e aes thet ic activity deman-ded of the viewer th rough new defini t ions of the poiesis of the receiving sub jec t . " JAUSS. H.R. Poiesis. Critical Inquiry, 8:604. 1982.

    15 JAUSS. La Jouissance esthtique, p. 272. 16 "Ce n ' e s t pas de l 'autori t de l ' au teur quelque fonde qu'elle puisse tre qui

    vient la valeur des textes, mais de la conf ron ta t ion avec l 'histoire de notre vie. En cela, c 'est nous qui sommes l ' au teur , car chacun est l ' au teur de l 'histoire de sa vie." ZIMMERMANN. H.D. Vom Nutzen der Li tera tur Vorbereitende xu einer Theorie der l i terarischen Kommunikat ion. F r a n k f u r t , 1977. p. 172. "Loeuvre est une oeuvre et vit m tan*, que tolle dan.-: la mesure o elle appele l ' in te rpr ta t ion et agi t t ravers une multiplicit de s ignif ica t ions ." KOSIK. p. 138-9. Ver JAUBB. Pour une e s t h t i q u e . . . , p. 39.

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  • FIGURELLI, R. Hans Robert Jauss

    declnio da noo de jouissance, provocada, segundo ele, pela esttica romntica. Jauss, por razes de ordem didtica, cos-tuma sintetizar seu pensamento em teses. por isso que le-mos na tese primeira da conferncia Kleine Apologie der sthetischen Erfahrung: "A atitude de fruio, cuja possibili-dade implicada pela arte e por ela provocada, o prprio fundamento da experincia esttica. impossvel abstrair dessa atitude.17

    Roland Barthes, em 1970, com um livro sobre o Japo L'Empire des signes deu incio a uma cruzada em favor da reabilitao do prazer esttico. Em 1971, no prefcio de Sade, Fourier, Loyola, ele afirma categoricamente: "Le Texte est un objet de plaisir".18 Essa cruzada haveria de culminar com a publicao, em 1973, do livro Le plaisir du texte. O detalhe das datas reveste-se de certa importncia para o pro-blema que ora nos ocupa. Jauss, no artigo "La jouissance esthtique", reivindica para si a prioridade cronolgica em relao a Barthes, j que sua conferncia, acima menciona-da, foi proferida em Constana no ano de 1972 e publicada no mesmo ano.1" Mas, ao dizer isso, Jauss parece ignorar que L'Empire des signes de 1970 e Sade, Fourier, Loyola data de 1971 e, portanto, Barthes se antecipou no desenca-deamento da campanha em prol do prazer do texto.

    Se verdade, por um lado, que Le plaisir du texte foi construdo com base na distino entre plaisir e jouissance, por outro lado, Barthes joga conscientemente com a ambi-gidade dos dois termos. E o fascnio do livro de Barthes talvez resida nessa ambigidade.

    Primeiro, a distino:

    "Texto de prazer: aquele que contenta, enche, d euforia; aquele que vem da cultura, no rompe com ela, est ligado a uma prtica confortvel da leitura. Texto de fruio: aquele que coloca em si-tuao de perda, aquele que desconforta (talvez at chegar a um certo aborrecimento), faz vacilar as bases histricas, culturais, psicolgicas, do lei-tor, a consistncia dos seus gostos, dos seus valo-res e das suas recordaes, faz entrar em crise a sua relao com a linguagem".20

    17 JAUSS. Pour une e s t h t i q u e . . . , p. 125. 18 BARTHES. R. Sade. Fourier , Loyola. Pa r i s . Seuil , 1971. p. 12. 19 A confe rnc ia Kleine Apologie der aes the t i schen E r f a rung , p ro fe r ida em Cons-

    t a n a no dia 11/01/72. foi publ icada na sr ie Kons t anze r Univers i tac t s rcdcn n 59 1972. e incluida na coletnea Pour u n e es th t ique d e la rcept ion, sob o t i tu lo d " P e t i t e apologie de l 'exprience es th t ique" , p . 123-57.

    20 BARTHES. R. O prazer do texto . Lisboa. Ed. 70. 1976. p. 49.

    Letras. Curitiba (37) 205-285 - 1988 - UFPR 285

  • PIGURELLI, R. Hatu Robert Jauss

    Enquanto o plaisir dizvel, a jouissance no o . Da o fato de a crtica se exercitar sobre textos de plaisir e no de jouissance. O plaisir du texte est ligado a todo um adestra-mento cultural. A jouissance du texte imprevisvel, recusa toda e qualquer classificao. Numa palavra: a-social, atpica.

    Segundo, a ambigidade: "Prazer do texto, texto de prazer: estas expresses so ambguas porque no h nenhuma palavra francesa que recubra simultaneamente o prazer (o contentamento) e a fruio (o desfalecimento). Portanto o "prazer" aqui tanto (e sem poder prevenir) extensivo fruio, como lhe oposto".21

    Barthes no s est cnscio dessa ambigidade, como tambm se resigna a ela. Isso fica bem claro numa entrevista de 1973: " . . . necessrio, portanto, aceitar a ambigidade da expresso "prazer do texto", que ora especial (prazer contra fruio), ora genrica (prazer e fruio)".22

    Jauss, diante de Barthes, fixa-se na distino entre plaisir e jouissance e parece rejeitar, por princpio, a ambigidade dos dois termos. Entre plaisir e jouissance, a opo de Jauss ntida: jouissance. E, ao optar pelo termo jouissance, ele se ope a Barthes. Na crtica dirigida a Barthes, Jauss ignora a riqueza semntica que se oculta na ambigidade do bin-mio plaisir-jouissance. Impressionado, talvez, com o jogo de antteses empregado por Barthes, Jauss acusa-o de entrar no "crculo vicioso da negatividade e da afirmao" e descam-bar numa atitude egosta de busca de um prazer solitrio no ato da leitura. Qual novo Epicuro, Barthes seria o pro-pugnador de um hedonismo esttico, tendo o prazer como princpio e fim da experincia esttica do leitor.

    A oposio de Jauss a Barthes no resulta somente da controvrsia em torno dos termos plaisir-jouissance. Ao ela-borar a teoria da experincia do leitor, Jauss orientou suas reflexes no sentido de fazer da Esttica da Recepo uma verdadeira teoria da comunicao literria. Ora, aos olhos de Jauss, Barthes encarna a negao da leitura como comuni-cao. Em suma: "A comunicao literria deve ser concebi-da como um campo intersubjetivo; ela no poderia atingir sua funo social enquanto ignoramos a relao dialgica en-

    21 BARTHES, O prazer do texto, p. 56. 22 Ent revis ta a Oulllver. n . ' 5, mar . 1913. In : BARTHES. R. Le grain do la voix.

    Entret iens 1962-1980. Par is , Seuil, 1981. p. 166.

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    tre o texto, seus "receptores" e os "receptores" entre si, e enquanto reduzimos a experincia esttica intersubjetiva a um "prazer do texto" monolgico que o leitor segundo Roland Barthes reencontraria num "prazer solitrio das palavras".-3

    Desde a observao de Scrates no Hpias Maior "su-ponho que chamamos belo aquilo que nos d prazer" (297e) possvel constatar que a noo de prazer nunca deixou de marcar presena na Esttica Ocidental. Presena essa que se faz sentir ora com maior, ora com menor intensidade nas reflexes sobre a experincia esttica.

    Tomemos, como exemplo, o caso de Mikel Dufrenne, in-fluncia que o prprio Jauss admite ter recebido. Dufrenne insere-se na verso francesa da Fenomenologa e, num esfor-o de larga envergadura, aplica o mtodo husserliano ex-perincia esttica do espectador. Como era de se esperar, na descrio da percepo esttica em seus trs momentos presena, representao e reflexo , Dufrenne depara com o prazer esttico: "Se a idia de um prazer esttico tem algum uso , em primeiro lugar, pelo seguinte: esse prazer expe-rimentado pelo corpo, um prazer mais refinado ou mais dis-creto que aquele que acompanha a satisfao das necessida-des orgnicas, mas que tambm consagram a afirmao de si".24 Trata-se de uma sensao de deleite, experimentada pelo espectador diante do objeto, um momento de felicidade que o envolve no primeiro estgio da percepo esttica. Dufrenne descobre um toque de inocncia no prazer e sublinha a atmos-fera de felicidade que deve caracterizar a experincia esttica.

    Talvez o leitor fique decepcionado com o pouco espao dedicado ao prazer na Phnomnologie de l'Exprience esth-tique. Isso se deve atitude comedida, adotada pelo autor, com o fim de evitar arroubos de exaltao do prazer que poderiam comprometer o processo perceptivo. Quase 30 anos aps a publicao da Phnomnologie, ou seja em 1981, Du-frenne voltaria ao tema do prazer esttico. Dessa vez, o leitor tem diante dos olhos um longo estudo, includo na coletnea Esthtique et philosophie, tome III.25

    Se verdade que o ponto de partida aristotlico "A misso da arte agradar"20 convm ter presente que a reflexo do autor gira em torno da noo de prazer esttico desinteressado, tal como foi delineada por Kant na Critica do Juzo. de inspirao kantiana a idia de examinar as 23 JAUSS. Esthtique de la rception p. 1122. 24 DUFRENNE; M. Phnomnologie de l 'Exprience esthtique. 2. d. Par is , PUF 1967

    p. 426. 25 Ver DUFRENNE. M. Le plaisir esthtique. In: . Esthtique et philosophie

    Paris . IKlincksieck. 1981. t . 3. p. 103-39. 26 DUFRENNE. Le plaisir esthtique, p. 103.

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  • PIGURELLI, R. Hatu Robert Jauss

    fontes do prazer esttico. Mas Dufrenne logo toma certas li-berdades em relao a Kant e estabelece o roteiro de sua anlise:

    1. acordo do sujeito com a natureza (e esse acordo abrange tanto o objeto natural quanto o artificial);

    2. acordo do sujeito consigo mesmo; 3. acordo do sujeito com os outros. O mrito da abordagem de Dufrenne reside, antes de

    tudo, no fato de ter retornado s bases da Critica do Juzo para responder aos desafios da problemtica atual. Em se-gundo lugar, o texto "Le plaisir esthtique" pode ser visua-lizado como uma complementao ou prolongamento da Phnomnologie com a vantagem de incluir, ao lado do es-pectador, a experiencia do artista: " no seu ato que o criador se experimenta, como fazendo e se fazendo em seu fazer".27

    Note-se ainda que, ao tratar do artista criador, est pre-sente o desejo de comunicar e o prazer que da decorre.

    Qualquer leitor familiarizado com a obra de Dufrenne perceber, ao 1er Hans Robert Jauss, que h uma influncia manifesta das idias do autor da Phnomnologie sobre a Esttica da Recepo. Jauss, alis, prestou homenagem aos trabalhos pioneiros de Dufrenne bem como de Dewey e Mu-karovsky por terem aberto o caminho para suas pesquisas. Mas a homenagem foi acompanhada de uma crtica: "Mas eles no tinham ainda elaborado a histria da prtica est-tica em suas trs atividades fundamentais que eu vejo e des-crevi na produo ou poiesis, a recepo ou aisthesis e a co-municao ou catharsis

    Eis a um tipo de crtica que no nos parece pertinente. Ser Dufrenne passvel de censura por no ter apresentado, em 1953, uma concepo de experincia esttica que anteci-passe o modelo que haveria de ser preconizado por Jauss a partir de 1967? So concepes diferentes, com pontos de convergncia e de divergncia, que vm enriquecer a reflexo esttica contempornea. O mesmo vale para Dewey e Muka-rovsky. Sem negar a Jauss o direito de crtica, somos de opi-nio que observaes superficiais e juzos apressados, sem a necessria demonstrao, comprometem a seriedade de qualquer empreendimento no campo das cincias humanas.

    Esttica e Hermenutica Como se coloca o problema hermenutico na obra de

    Hans Robert Jauss? O ponto de partida poderia ser situado 27 DUFRENNE, Le plaisir esthtique, p. 132. 28 JAUSS, Estht ique de la rception p. 1128.

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  • FIGURELLI, R. Hans Robert Jauss

    na admisso de hermenuticas regionais e de uma herme-nutica geral. Compete as hermenuticas regionais teol-gica ou jurdica, por exemplo , a edio, o estudo das fon-tes e a interpretao histrica dos textos do passado. E a hermenutica literria? Pode ela ser considerada como uma hermenutica regional, como uma espcie de prolongamento da abordagem filolgica dos textos da Antigidade Clssica? Jauss hesita em reconhecer autonomia hermenutica lite-rria porque, no passado, todas as hermenuticas regionais apresentavam uma base filolgica comum. Da as perguntas: "Onde, em realidade, comea a autonomia de uma hermenu-tica literria? como ela procedia e como procede hoje para fazer justia ao carter esttico de seus textos?"20

    Jauss alinha-se ao lado de Peter Szondi no empenho em dar hermenutica literria uma base slida procurando, em ltima instncia, reconciliar a filologia com a esttica. Neste sentido, se faz mister elaborar uma metodologia da interpre-tao esttica que se distinga claramente dos mtodos em-pregados pelas hermenuticas teolgica ou jurdica. Mas isso no significa ignorar os avanos e os resultados obtidos nos campos das hermenuticas regionais.

    Distinguem-se, na hermenutica contempornea, os mo-mentos da compreenso, interpretao e aplicao. Essa dis-tino lembra a trade elaborada pela hermenutica pietista: subtilitas intelligendi, explicandi, applicandi. Diante da dis-tino adotada pela hermenutica contempornea, possvel adotar duas atitudes: ou insistir na diviso dos trs momen-tos, privilegiando um em detrimento dos outros dois, ou vi-sualiz-los como integrantes dum processo orgnico. Jauss atribui o atraso em que jazia a hermenutica literria ao fato de anteriormente se ter limitado interpretao e negligen-ciado a compreenso e a aplicao. Urge, portanto, recuperar o tempo perdido. A intervm a figura de Hans-Georg Gada-mer. G. Funke, no seu livro Phnomenologie Metaphysik oder Methode?, distingiu cinco crculos na fase alem da Fenomenologa.30 Dentre eles, salientamos o crculo de Mar-burg (1923-1928), caracterizado por Funke como "fenomeno-loga hermenutica". Ora, nesse perodo, em Marburg, Gada-mer foi aluno de Martin Heidegger (1889-1976). Isso explica porque a hermenutica de Gadamer no pode ser dissociada do modelo heideggeriano.

    Jauss prestou uma homenagem aos 80 anos de Gadamer, em 1980, com uma comunicao ao Colquio de Cerisy inti-tulada "O Texto potico na mudana de horizonte da leitu-29 JAUSS. H.R. Limites et t&chcs d ' u n e hermneut ique l i t t ra i re . Dioone, 1 0 9 1 0 3 . 1980 30 Ver FUNKE. O. Phaenomenolooie Metaphysik oder Methode? Bonn, H.Bouvicr.

    Letras. Curitiba (37) 205-285 - 1988 - UFPR 285

  • FIGURELLI. R. Hans Robert Jauss

    ra".31 Alm de aceitar a sugesto de Gadamer para atualizar a hermenutica literria a partir da jurdica e da teolgica, Jauss reconhece no filsofo de Heidelberg o mrito de ter redescoberto a importncia da unidade tridica dos trs mo-mentos do processo hermenutico. Com efeito, Gadamer, ao tratar do problema da aplicao (Anwendung), em Wahrheit und Methode, levado a superar a hermenutica romntica e, mesmo sem retomar a distino pietista das trs "subti-litates", chega seguinte concluso: "a aplicao um com-ponente to constitutivo do acontecimento hermenutico quanto a compreenso e a interpretao".32

    Para Jauss, o fato de, na prtica, pormos em relevo um dos momentos do processo como, por exemplo, a aplica-o na alegorese no quebra a unidade fundamental dos trs momentos. Numa palavra: "toda concretizao de um sentido pressupe a interpenetrao da compreenso, da in-terpretao e da aplicao".33

    Como se configura, na viso de Gadamer, a tarefa da hermenutica? Antes de tudo, compete hermenutica elu-cidar a compreenso. Fiel orientao heideggeriana da fe-nomenologa hermenutica, Gadamer assume a compreenso como o modo-de-ser por excelncia do Dasein. No admira que, na mesma linha de pensamento, Gadamer adira des-crio que Heidegger faz do crculo hermenutico, conside-rando-o como um fator estrutural ontolgico da compreen-so.

    No Captulo V, de Sein und Zeit, ao tratar da constitui-o existencial do Dasein, Heidegger dedica um pargrafo inteiro o 32 compreenso (Verstehen) e interpre-tao (Auslegung). Interpretao o termo proposto para o desenvolvimento do compreender. Na interpretao, o com-preender se apropria daquilo que compreende ao compreen-der. No a compreenso que deriva da interpretao, mas a interpretao que se funda existencialmente na compreen-so.

    Na ontologia hermenutica de Sein und Zeit, o Dasein hermenutico em si mesmo, porque nele reside uma pr-compreenso de seu prprio ser, mas tambm abertura, possibilitando, dessarte, o surgimento de todas as outras di-menses da hermenutica.

    1966. p. 81. 31 Ver JAUBS, H.R. O texto potico na mudana de horizonte da lei tura. In: LIMA.

    L.C.. org. Teoria da l i te ra tura em suas fontes. 2. ed. Rio de Janeiro. F.Alves, 1983. p. 305-58.

    32 GADAMER, H.G. "ahrhei t und Methode. Tbingen. J.C.B. Mohr. 1965. p. 291. 33 HASS. Limites et t&chcs . . . . p. 114.

    082 Letras. Curitiba (37) 265-285 - 1988 - UFPR

  • FIQURELLI, R. Hans Robert Jauss

    Toda e qualquer interpretao pressupe a compreenso daquilo que deve ser interpretado. Quer isso dizer, ento, que nos movemos num crculo? Sim. Mas esse crculo o "cr-culo hermenutico" no deve ser visto como um "circulus vitiosus", como um obstculo intransponvel compreenso. "O decisivo no pular para fora do crculo, mas entrar nele segundo a maneira acertada. Esse crculo do compreender no um crculo no qual uma maneira qualquer de conhe-cer se movimenta, mas ele a expresso da pr-estrutura existencial do prprio Dasein".3i

    A descrio heideggeriana do crculo hermenutico no pode ser desvinculada da perspectiva da finitude humana que marca indelevelmente toda a Analtica Existencial de Sein und Zeit. por isso que subscrevemos a explicao dada por J.A. MacDowell:

    "A primeira incidncia da finitude do homem sobre o seu compreender a necessidade de pressupor. Todo compreender se exerce num horizonte pr-determinado, que condiciona tambm a exposio do compreendido".35

    Para Gadamer, a compreenso de um texto est sempre determinada pelo movimento antecedente da pr-compreen-so. Isso to importante que a pr-compreenso estabe-lecida como a primeira de todas as condies hermenuticas.

    Ao abordar o problema da distncia temporal e sua significao para a compreenso, dentro do contexto da tra-dio, Gadamer mais uma vez recorre ao autor de Sein und Zeit: "Pois somente do alcance ontolgico que Heidegger atri-buiu ao compreender como um "existencial" e da interpreta-o temporal que ele dedicou maneira de ser do homem enquanto Dasein, a distncia temporal pde ser pensada em sua produtividade hermenutica.3"

    Opondo-se tese ingnua do historicismo, que propugna-va uma volta ao passado na tentativa de adotar o esprito da poca para atingir a objetividade histrica, Gadamer afirma que a distncia temporal no deve ser vista como um obst-culo compreenso. A distncia temporal no um abismo intransponvel. Graas tradio, mantido o vnculo com o passado possibilitando a compreenso de textos ou do-cumentos de outras pocas. Numa palavra: a compreenso no deve ser vista como uma atitude meramente reproduti-va, e sim como uma atitude produtiva.

    34 HEIDEQOER. M. Sein und Zeit. Tbingen. Neomarius Verlag, 1949. p. 153 35 MACDOWELL, J.A. A gnose da ontologia fundamen ta l de Mar t in Hcidcaaer BUn

    Paulo. Herder. 1970. p. 134. ' 36 O ADAMER. p. 281.

    Letras. Curitiba (37) 265-285 - 1988 - UFPR 277

  • nORKT.T.T. R. Hans Robert Jauss

    Gadamer deixa bem claro, em diversas passagens de Warheit und Methode, que no cabe hermenutica desen-volver uma metodologia da compreenso mas elucidar as condies que permitam a compreenso. Ora, se nos volta-mos para o passado com o intuito de compreender um texto sinal que algo, do passado, nos fala. De nossa parte, deve corresponder a suspenso de todo e qualquer juzo (Urteil) e preconceito (Vorurteil). Isso, do ponto de vista da lgica, apresenta a estrutura de uma pergunta. "A essncia da per-gunta abrir e manter em aberto possibilidades".37

    A pergunta indispensvel para a dilucidao da expe-rincia hermenutica. A ela dedicado um pargrafo de cru-cial importncia em Wahrheit und Methode. Desde o incio, manifesto que a argumentao do autor est sob o signo da dialtica platnica. Essa argumentao culmina no que Gadamer chama de "a lgica da pergunta e da resposta" e pode ser sintetizada da seguinte forma: " . . . o fenmeno her-menutico tambm inclui em si a originalidade do dilogo e a estrutura da pergunta e da resposta. O fato de que um texto transmitido se torne objeto de interpretao quer dizer que ele coloca uma pergunta ao intrprete. Neste sentido, a inter-pretao contm sempre uma referncia essencial pergunta que algum coloca. Compreender um texto quer dizer com-preender essa pergunta".38

    A "lgica da pergunta e da resposta", por sua vez, reme-te ao conceito de "horizonte", ponto-chave no empreendi-mento de Gadamer. O homem, como ser-no-mundo, est ne-cessariamente em situao. Ora, estar-em-situao indica um determinado ponto de vista do observador que tem diante de si um horizonte, vale dizer, um crculo visual capaz de abarcar tudo aquilo que pode ser visto do lugar em que ele se encontra. Na transposio para o plano espiritual dessa experincia, prpria da finitude humana, so assaz conheci-das as metforas que nos falam de "horizontes estreitos", "alargar os horizontes", "abertura de novos horizontes" etc.. Para Gadamer, "a elaborao da situao hermenutica signi-fica adquirir o horizonte problemtico apropriado s pergun-tas que nos so colocadas a propsito da tradio".39

    Visto que no nos possvel comentar ou discutir a abordagem que Gadamer faz do conceito de "horizonte", con-tentemo-nos em pr em relevo os elementos constitutivos da noo de "fuso de horizontes" (Horizontverschmelzung). Em determinada situao, o Dasein, dotado de conscincia 37 OADAMER. D. 283. 38 OADAMER. p. 351. 39 OADAMER. p 2B.

    278 Letras. Curitiba (37 2G5-285 - 1988 - UFPR

  • FIGURELO, R. Hans Robert Jauss

    histrica, tem pela frente uma tarefa hermenutica: a com-preenso de um texto do passado, por exemplo, que nos foi dado pela tradio. Faz-se mister, no Dasein, o horizonte do presente (o qual est em contnua formao) e a adoo de uma atitude hermenutica, isto , "a projeo de um hori-zonte histrico que seja distinto do hqrizonte do presente". D-se, ento, a compreenso consistindo no processo de "fu-so dos horizontes. "No ato de compreender acontece uma verdadeira fuso de horizontes graas qual o delineamento do horizonte histrico , ao mesmo tempo, constitudo e su-presso".40

    Resta-nos examinar, na hermenutica de Gadamer, o pa-pel desempenhado pelo conceito de "clssico" na mediao histrica entre o passado e o presente. Movimentando-se com grande desembarao entre a Aufklrung e o Romantismo, Gadamer no mede esforos em prol da reabilitao das no-es de "preconceito" ( necessrio reconhecer que h pre-conceitos legtimos), de "autoridade" e de "tradio" ( che-gada a hora de restabelecer, em seus direitos fundamentais, os fatos da tradio na hermenutica das Cincias Humanas). Dando um passo frente, Gadamer defronta-se com o con-ceito de "clssico". Num primeiro momento, ele demonstra a insuficincia da concepo historiogrfica que v no "cls-sico" apenas um estilo ao lado de outros estilos na Histria da Arte. Num segundo momento, a apresentao e defesa da idia de que o "clssico" "uma maneira distintiva do ser histrico, o ato histrico da conservao que, em favor de uma confirmao sem cessar renovada, mantm no ser um elemento de verdade".41

    Cabe inserir aqui uma referncia teoria da mimese. Gadamer pe a descoberto o sentido cognitivo, prprio da mimese, afirmando com isso que ela re-conhecimento. De acordo com essa interpretao da mimese, o espectador atrado pelo grau de verdade da obra de arte e nela se reco-nhece a si mesmo.

    Como conciliar, no "clssico", o carter de intemporali-dade com a indispensvel realizao na histria? Gadamer est cnscio das dificuldades inerentes sua tese. Da a in-sistncia em frisar que o intemporal do "clssico" no ou-tra coisa do que uma modalidade do ser histrico. Ou que o "clssico" no precisa vencer a distncia histrica, j que essa vitria conquistada numa mediao constante entre o presente e o passado. A tarefa da hermenutica no consiste em adotar o modelo clssico sem esprito crtico, mas em 40 OADAMER, p. 290. 41 OADAMER, p. 271.

    Letras, Curitiba (37) 26S-285 - 1988 - UFPR 2 7 9

  • FIGURELLI. R. Hani Robert Jauss

    visualizar um fenmeno histrico que s pode ser compreen-dido dentro do contexto de sua poca. No se trata, porm, de mera reconstituio histrica do mundo do passado. "Nos-sa compreenso sempre conter, ao mesmo tempo, uma cons-cincia de co-pertencer a este mundo. A isto corresponde, por sua vez, uma co-pertena da obra ao nosso mundo".42

    Somos de opinio que Hans Robert Jauss merecedor de aplausos por ter buscado na hermenutica de Hans-Georg Gadamer um embasamento filosfico para a Esttica da Re-cepo. Se, por um lado, essa opo de Jauss nos convida a encarar a Esttica da Recepo com seriedade, por outro lado, no deixa de suscitar algumas interrogaes. Primeira: at onde vai a adeso hermenutica de Gadamer? Segunda: qual a atitude de Jauss diante de Heidegger? Comecemos pela segunda questo.

    Jean Starobinski, no "Prefcio" coletnea Pour une esthtique de la rception, refere-se s correntes doutrinrias que devem ser tomadas em considerao na abordagem da obra de Jauss. Dentre elas, assinala: "o pensamento heidegge-riano nos prolongamentos "hermenuticos" que recebe em Gadamer".43

    Ora, Jauss no parece nutrir muita simpatia pelo autor de Sein und Zeit. Como, por exemplo, na passagem em que ele caracteriza o "esquecimento do ser" de "mito heidegge-riano".44 Ou, ento, na crtica que Jauss move filologia, "com sua metafsica implcita da tradio e sua interpretao no-clssica, a-histrica da literatura, que atribui "grande poe-sia" uma relao prpria com a verdade: atualidade intem-poral ou "presena que se basta a si mesma"... "45

    Como se trata de uma expresso utilizada por Heidegger no ensaio "Der Ursprung des Kunstwerkes1", convm exami-nar o texto para ver qual o seu significado. Na Primeira Parte do ensaio "A coisa e a obra" , Heidegger, aps tecer algumas consideraes sobre o binmio matria-forma, mos-tra que h um parentesco entre obra de arte e objeto de uso porque ambos, afinal de contas, so produzidos pela mo do homem. Alm disso, a obra de arte "por essa presena que se basta a si mesma e que prpria da obra" tambm se assemelha simples coisa, embora no costumemos classi-

    42 OADAMER. p. 274. 43 STAROBINSK. J . Prface. In: JAUSS. Pour une e s t h t i q u e . . . . p. 8. 44 " . . . b e l l e rplique pans t ruc tura l i s tc . digne de l 'original, du m r t h e heideggerlen de

    l 'oubli de l ' t r e ! JAUES. Pour une estht ique p. 110. 45 JAUSS. Pour une estht ique p. 104. 46 A expressa "selbstgenUgsamen Anwesen" fol ex t ra da da Pr imeira P a r t e do ensaio

    Der Ursprung des Kuns twerkes : "Tro tzdem gleicht das Kunstwerk in seinem selbst-genUgsamen Anwesen eher wieder dem elgenwtlchsigen und zu nichts gedraengten blossen Ding" . HEIDEGGER. M. Holzwege. F r a n k f u r t . V. Klos termann, 1950, p. 18.

    280 Letras. Curitiba (37) 265-285 - 198B - UFPR

  • PIORELLI, R. Hans Robert Jauss

    ficar as obras de arte entre as simples coisas. Como se v, a expresso empregada por Heidegger no tem nada a ver com a "grande poesia" em relao "verdade". Mais uma vez, portanto, Jauss decepciona o leitor ao fazer crticas apressadas com base em citaes desvinculadas do seu con-texto.

    Quanto ao "mito heideggeriano" do esquecimento do ser, bem conhecida, nos crculos filosficos, a primeira frase de Sein und Zeit.''7 Heidegger no s faz uma constatao, como tambm adota uma atitude polmica diante da tradi-o filosfica ocidental, acusando-a de infidelidade ao esp-rito que impeliu os filsofos gregos a colocarem, em toda a sua radicalidade, a questo do ser. No de estranhar que a atitude de Heidegger tenha sido mal recebida em diversos setores da Filosofia Contempornea. Numerosos estudos, de-dicados questo do ser, vieram tona enriquecendo sobre-maneira o debate filosfico. Da no compreendermos como um autor, da envergadura de Jauss, possa falar em "mito" a propsito do desafio lanado por Heidegger em Sein und Zeit.

    At onde vai a adeso de Jauss hermenutica de Ga-damer? O que est em jogo a compreenso de textos do passado. Cremos ter ficado bem claro que, em Gadamer, os temas da "lgica da pergunta e da resposta", da "fuso de horizontes", do "classicismo" e da "mimese" esto de tal forma entrelaados que um no pode ser separado do outro.

    Para Jauss, a hermenutica literria, no desempenho da tarefa de interpretao de um texto do passado, deve partir de uma leitura de reconstituio histrica. Essa leitura co-mea pela busca das perguntas s quais o texto, na poca do seu aparecimento, era uma resposta. Admitido, portanto, que um texto literrio seja uma resposta, necessrio ter pre-sente a distino entre os dois tipos seguintes: a resposta s expectativas de natureza formal e a resposta s interrogaes sobre o sentido ou contedo do mundo vivido pelos primei-ros leitores. Alm disso, pergunta e resposta permanecem no raro implcitas na histria da interpretao de uma obra de arte.

    Jauss recusa-se a subscrever a assero de Gadamer: "compreender significa compreender algo como resposta".48 No concernente ao texto potico, segundo Jauss, essa asser-o tem um alcance limitado. E, para justificar sua posio, 47 "Die genannte Frage ist heute in Vergessenheit g e k o m m e n . . . " HEIDEGGER, Sein

    und Zeit, p. 3. 48 Af i rmadlo fei ta por Gadamer numa conferncia sobre hermenut ica Ute r i r i a . em

    Dubrovnlk. no ano de 1978.

    Letras. Curitiba (37) 265-285 - 1988 - UFPR 281

  • FIGURELLI. R. Hans Robert Jauss

    introduz a distino entre compreenso perceptiva (ato pri-mrio) e interpretativa (ato secundario). Da decorre que a assero de Gadamer vale para a compreenso interpretativa, mas no para a perceptiva, "a nica que pode introduzir e constituir a experincia esttica de um texto potico". E um pouco mais adiante: " somente a partir da interpretao, segundo ato hermenutico, que o texto potico pode receber o carter potico de uma resposta a uma questo".49

    Quanto ao problema dos horizontes, Jauss admite o con-ceito de "fuso de horizontes", mas sem renunciar ao direito de dar sua contribuio. Em primeiro lugar, ele prefere falar de "mudana de horizonte". Observe-se que a distino entre compreenso perceptiva e interpretativa corresponde pri-meira e segunda leituras de um texto potico.

    Jauss ilustra sua tese no excelente trabalho "O Texto potico na mudana de horizonte de leitura", no qual escolhe o segundo Spleen, de Baudelaire ("J'ai plus de souvenirs que si j'avais mille ans"), de Les Fleurs du Mal,so e examina trs horizontes distintos de leitura:

    a) a primeira leitura de percepo esttica (compreen-so perceptiva')-,

    b) a segunda leitura de interpretao retrospectiva (com-preenso interpretativa);

    c) a terceira leitura, a histrica,

    "que inicia com a reconstruo do horizonte de ex-pectativa, no qual o poema se inseriu com o apa-recimento das Fleurs du Mal, e de que depois acompanhar a histria de sua recepo ou "leitu-ras" at a mais recente, a do autor".51

    Em segundo lugar, Jauss acrescenta fuso "diacrnica" dos horizontes, de Gadamer, o que ele chama de fuso "sin-crnica" dos horizontes. Trata-se da fuso de dois horizon-tes: um, implicado pelo texto, e o outro, trazido pelo leitor com sua leitura. A fuso pode ocorrer tanto de maneira es-pontnea (por exemplo: na fruio de expectativas satisfei-tas) quanto de forma reflexiva (por exemplo: na distncia crtica que se exige para o julgamento de uma obra). Impor-ta que a atitude assumida pelo leitor diante do texto seja, ao mesmo tempo, receptiva e ativa. 49 JAUSS. Limites et t&cbes p. 125. 50 Ver BAUDELAIRE. C. Oeuvres complte. Paris . Seuil. 196B. p. 65. 51 JAUSS. O texto p o t i c o . . . . p. 305.

    082 Letras. Curitiba (37) 265-285 - 1988 - UFPR

  • PIQURELLI, R. Hans Robert Jauss

    Vejamos, por ltimo, os conceitos de "clssico" e de "mimese". nesse ponto, precisamente, que se acentuam as divergncias entre Jauss e Gadamer. W. Pannenberg foi con-siderado pelo prprio Gadamer como um dos crticos mais serios de Wahrheit und Methode. Jauss perfilha a seguinte objeo de Pannenberg, tida por ele como irrefutvel, no-o de texto clssico de Gadamer: "falar de "pergunta" que o texto nos coloca s pode ser uma metfora: o texto s se torna pergunta para o homem que coloca a pergunta; ele no o por si mesmo".52

    Mas no ensaio "L'histoire de la littrature: un dfi la thorie littraire" que deparamos com os ataques mais for-tes contra Gadamer. Jauss no aceita que Gadamer tenha erigido "o conceito de classicismo em prottipo de toda me-diao histrica entre o passado e o presente".53

    Acusa-o de ter uma "concepo demasiadamente estrei-ta" de classicismo e de ter recado num "substancialismo" de origem platnica ao privilegiar o texto clssico como sen-do capaz, por si mesmo, de levantar perguntas ao seu intr-prete.54

    Jauss insurge-se contra a "mimese", tanto em sua verso tradicional, quanto na interpretao proposta por Gadamer, vale dizer, mimese como re-conhecimento. Embora haja uma referncia explcita mimese como re-conhecimento, somos de parecer que Jauss no apreendeu o alcance da proposta de Gadamer. No af de despojar a noo de classicismo do pa-pel de mediao entre passado e presente, Jauss no perce-beu a originalidade de Gadamer. Ao tentar recuperar a an-tiga idia de mimese, Gadamer pretende mostrar como h continuidade entre a arte contempornea e a grande arte do passado. Mas isso no implica em adotar o carter de nor-matividade prprio da teoria da mimese. O espectador pode reconhecer-se a si mesmo tanto numa obra de arte clssica quanto numa obra de arte contempornea.

    Concluso

    Talvez seja prematuro emitir um juzo de valor sobre a Esttica da Recepo. Com pouco mais de 20 anos de exis-tncia, a "Escola de Constana", impulsionada pelo zelo infa-tigvel de Hans Robert Jauss, notabilizou-se tanto pela quan-tidade quanto pela qualidade dos trabalhos que ajudaram a 52 JAUSS. Limites et tches p. 120. 53 JAUSa. Pour une e s t h t i q u e . . . , p. 61. 54 JAU

  • FIGURELLI. R. Hans Robert Jauss

    renovar os estudos acerca do fenmeno literrio. inegvel que, graas ao esprito polmico de Jauss, foi retomado o dilogo sobre questes de teoria, histria e esttica da lite-ratura que, antes de 1967, pareciam despertar pouco ou ne-nhum interesse entre os estudiosos. Esse dilogo propiciou o esclarecimento de posies antagnicas e a busca de novas solues para velhos problemas.

    A doutrina da Esttica da Recepo no deve ser visua-lizada como um sistema acabado, fixo, imutvel. No incio, a ateno dos pesquisadores de Constana esteve concentra-da nos problemas da recepo e do efeito. Depois, houve um desdobramento do campo de pesquisa com a ampliao dos objetivos at culminar numa verdadeira teoria da comuni-cao literria. Os resultados obtidos, nesse curto perodo de atividades, outorgaram Esttica da Recepo foros de cida-dania no contexto dos estudos literrios. Procuramos, nos limites do trabalho que ora atinge o seu trmino, examinar alguns elementos que nos parecem fundamentais na contri-buio de Jauss Esttica da Recepo.

    Jean Starobinski adverte, com razo, que a Esttica da Recepo no uma disciplina para principiantes apressa-dos. Ela exige muito do leitor que se aventurar em suas pa-ragens. No caso das obras de Jauss aconselhvel uma for-mao filolgica para acompanhar sua argumentao, suas referncias e digresses. Sem esquecer, bvio, a histria e a teoria da literatura. Mas na rea da esttica da literatura que, a nosso ver, reside o interesse maior do cometimento de Jauss. E como a esttica da literatura expresso que designa a reflexo sobre determinado tipo de experincia es-ttica remete necessariamente para a esttica filosfica (geral), no campo da Filosofia que se trava o embate de-cisivo.

    Se, por um lado, Jass merecedor de um voto de con-fiana ao situar a Esttica da Recepo sob a gide da her-menutica de Hans-Georg Gadamer, por outro lado, certas lacunas na base filosfica comprometem a solidez de sua obra. Tudo indica que Jauss no foi iniciado no "progres-sivo exerccio e na aprendizagem do ver fenomenolgico", como dizia Heidegger. Falha essa que afeta sua concepo de hermenutica, j que a hermenutica na viso de Ga-damer est enxertada na Fenomenologa. Se a isso acres-centarmos uma certa incria no trato de conceitos filosfi-cos bem como uma injustificvel desenvoltura em refutar argumentos de filsofos que no se coadunam com sua ma-neira de pensar, teremos os principais pontos que so suscep-

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  • FIGURELLI, R. Hans Robert Jauss

    tveis de crtica na obra de Jauss. Apesar disso, o saldo positivo e a Esttica da Recepo, tendo frente Hans Robert Jauss, dever trazer ainda muitas contribuies aos estudos da literatura.

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