este salmo tem de acabar em nós!

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O Caminho da Graça www.caiofabio.net | www.vemevetv.com.br Página1 ESTE SALMO TEM DE ACABAR EM NÓS Caio Fábio Vamos ler o Salmo 42:1-11 que diz assim: ''Como suspira a corça pelas águas...'' Este é um salmo que mostra com extrema clareza e simplicidade a luta da fé contra o domínio da emoção depressiva, quando ela se abate sobre a alma, sobre a Psiquê, sobre o coração da gente. Porque trata-se de um indivíduo que tem uma historia com Deus. Ele se lembra de tempos áureos na existência, quando ele guiava uma multidão em festa, em hinos de louvor, em ações de graças, quando ele se sentia o guia da alegria no meio daqueles que se identificavam e se chamavam Povo de Deus. É um passado rico de euforia, de entusiasmo, de fé, de intensidade, de referência de esperança para muitos. E, de repente, ele olha para si mesmo e não encontra mais as evidências dessas expressões acontecendo de maneira concreta, presentes na vida dele. É passado, é lembrança, eu me lembro, mas hoje já não é. Então, o que é para ele é expresso aqui através de duas analogias geográficas e uma questão que se repete. Nas duas analogias geográficas, uma tem a ver com o sul de Israel, a outra tem a ver com o extremo norte de Israel. A primeira tem a ver com o sul, provavelmente com a região do Mar Morto, En-Gedi, Neguebe, Qumram, onde se encontram as cabras montesinhas e as corças que habitavam e habitam, até o dia de hoje, em grande abundância aquela região. Elas são nativas daquela região há milênios. E o salmista, provavelmente andando pela região do Neguebe ou se não estivesse andando pela região, por lá já tivesse andado , tinha as imagens daquela cenografia, daquelas cabras montesinhas, das corças, e, sobretudo, do bramido, da angústia sedenta daqueles animais naquela região. Ele diz assim como as corças suspiram pelas correntes das águas, suspiram por encontrá-las. Especialmente, porque, na região do Neguebe, existem rios perenes, fontes perenes, mas, sobretudo, rios invernais. Quando existem chuvas no deserto, águas se canalizam em abundância, em grande fluxo, e é quando muitos desses animais têm a sua sede atendida, especialmente quando estejam muito projetados para dentro de desertos distantes daquelas fontes perenes. Ele olha para estes animais ao sul de Israel e diz Deus, a minha alma está assim, com esta sede horrorosa de Deus, e o tempo no qual borbulhava de mim aquela fonte de alegria e de louvor hoje é passado na minha memória, na minha existência, no meu pensamento, nas minhas recordações porque, de fato, hoje, não é assim que eu estou!A segunda analogia, a segunda figura, vem do norte, conforme ele diz, das nascentes do Jordão, dos montes de Hermom, outeiro de Mizar, são todas geografias elevadas lá do extremo norte de Israel, das nascentes mais abundantes das águas, onde a experiência que ele narra já é oposta à experiência da sede.

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Mensagem ministrada na Estação do Caminho em 12/06/2011, com base no Salmo 42.

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Page 1: Este salmo tem de acabar em nós!

O Caminho da Graça

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ESTE SALMO TEM DE ACABAR EM NÓS Caio Fábio

Vamos ler o Salmo 42:1-11 que diz assim: ''Como suspira a corça pelas águas...''

Este é um salmo que mostra com extrema

clareza e simplicidade a luta da fé contra o

domínio da emoção depressiva, quando ela

se abate sobre a alma, sobre a Psiquê, sobre

o coração da gente. Porque trata-se de um

indivíduo que tem uma historia com Deus.

Ele se lembra de tempos áureos na

existência, quando ele guiava uma

multidão em festa, em hinos de louvor, em

ações de graças, quando ele se sentia o

guia da alegria no meio daqueles que se

identificavam e se chamavam Povo de

Deus. É um passado rico de euforia, de

entusiasmo, de fé, de intensidade, de

referência de esperança para muitos. E, de

repente, ele olha para si mesmo e não

encontra mais as evidências dessas

expressões acontecendo de maneira

concreta, presentes na vida dele. É passado,

é lembrança, eu me lembro, mas hoje já

não é. Então, o que é para ele é expresso

aqui através de duas analogias geográficas

e uma questão que se repete. Nas duas

analogias geográficas, uma tem a ver com

o sul de Israel, a outra tem a ver com o

extremo norte de Israel.

A primeira tem a ver com o sul,

provavelmente com a região do Mar Morto,

En-Gedi, Neguebe, Qumram, onde se

encontram as cabras montesinhas e as

corças que habitavam e habitam, até o dia

de hoje, em grande abundância aquela

região. Elas são nativas daquela região há

milênios. E o salmista, provavelmente

andando pela região do Neguebe ― ou se

não estivesse andando pela região, por lá já

tivesse andado ―, tinha as imagens

daquela cenografia, daquelas cabras

montesinhas, das corças, e, sobretudo, do

bramido, da angústia sedenta daqueles

animais naquela região. Ele diz “assim

como as corças suspiram pelas correntes

das águas, suspiram por encontrá-las.

Especialmente, porque, na região do

Neguebe, existem rios perenes, fontes

perenes, mas, sobretudo, rios invernais.

Quando existem chuvas no deserto, águas

se canalizam em abundância, em grande

fluxo, e é quando muitos desses animais

têm a sua sede atendida, especialmente

quando estejam muito projetados para

dentro de desertos distantes daquelas

fontes perenes.

Ele olha para estes animais ao sul de Israel e

diz “Deus, a minha alma está assim, com

esta sede horrorosa de Deus, e o tempo no

qual borbulhava de mim aquela fonte de

alegria e de louvor hoje é passado na

minha memória, na minha existência, no

meu pensamento, nas minhas recordações

porque, de fato, hoje, não é assim que eu

estou!”

A segunda analogia, a segunda figura, vem

do norte, conforme ele diz, das nascentes

do Jordão, dos montes de Hermom, outeiro

de Mizar, são todas geografias elevadas lá

do extremo norte de Israel, das nascentes

mais abundantes das águas, onde a

experiência que ele narra já é oposta à

experiência da sede.

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No sul ele lembra que a alma dele está

sedenta como a de uma corça; ao norte, ele

vai a outro polo em que não falta água, mas

ele associa aquela exuberância de água não

à fartura e à satisfação, mas ao afogamento.

É a bipolaridade da entrega da alma ao

processo e à ciclotimia emocional. Se você

está neste estado, a secura fará você se

lembrar de que você é uma corça

insatisfeita, e a abundância também não

lhe satisfará. Pelo contrário, tudo isso fará

você não ligar-se à possibilidade de ser

atendido pelas águas, mas, sim, o perigo de

ser por elas afogado. E aí ele diz que, ao ver

aquela cenografia, o que lhe ocorre é que

lá, naquela região, há muitas cachoeiras,

com muitas quedas d'águas; e ele, que

antes tinha dito “minha alma está sedenta

como uma corça no sul”, no norte , ao invés

de afirmar “aqui eu bebo, aqui eu me

satisfaço”, ele diz “aqui eu também corro

perigo, porque um abismo chama outro

abismo”. Você escorrega e, quando você

vê, você caiu na correnteza com a água, e

vai se afogando, de modo que é impossível

atender a alma nas suas demandas quando

entregue a si mesma.

Na secura ela se queixa e diante das muitas

águas ela se afoga. A questão, que se

repete durante o salmo, se vincula,

algumas vezes, ao que terceiros dizem a

ele: O teu Deus, onde está? Porque está

oprimido, abatido, quebrado, depressivo, e

as pessoas que antes estavam acostumadas

a verem-no com outras atitudes, agora o

veem totalmente quebrado. Podia até ser a

pergunta do amigo, mas fazia mal; quanto

mais a do inimigo, a do adversário, a do

que a ele se opõe, e que, vendo-o naquele

estado, agora brincava, dizendo: Onde está

aquele homem da alegria, do folguedo, das

danças, que andava diante do povo, que

fazia assertivas veementes de fé acerca da

Graça e do Poder de Deus, onde está Deus

na vida dele. Onde está aquele homem e

onde está o seu Deus?

E esta pergunta recorrente volta não

apenas relacionada ao que terceiros dizem,

mas, sobretudo, ela ganha sua recorrência

relacionando-se ao que ele fala de si

mesmo, consigo mesmo, de como ele diz,

independentemente do que outros

estejam perguntando: por que estais

abatida minha alma, e por que tu te afliges

e te perturbas dentro em mim, por quê?

Ele tem a chance, quando pergunta a

primeira vez, e nós temos a impressão de

que ele vai concluir esta questão, mas ele

faz esta pergunta depois de dizer que se

lembra do tempo que ele andava em

folguedos diante do povo. Aí ele diz:

Porque estás abatida minha alma? E nós

pensamos que ele vai estancar o fluxo e dar

uma resposta; mas, não. Então ele viaja lá

para as regiões do norte e se afoga todo

nas águas da agonia e volta outra vez

tomando fôlego sozinho e pergunta:

“porque estás abatida, oh, minha alma,

porque te perturbas dentro em mim?

Espera em Deus pois ainda o louvarei , a

ele, meu auxilio e Deus meu”.

E acaba o salmo. Porque este salmo tem de

acabar, tem de acabar! Este é o salmo que

se nós não pusermos um ponto final nele,

ele vira um Salmo do inferno para nós. Se

nós entrarmos numa de adular a alma,

'minha alminha, porque estás abatida

minha alma, porque te perturbas dentro

em mim, minha alma? Eu me lembro de ti,

minha alma, que saudade de ti, minha alma

à frente do povo, cantando, louvando, em

festas, minha alma, e agora, minha alma,

aquela corça com sede és tu, minha alma,

corça, pobre, corça alma minha...minha

alma, ai, ai, é do Jordão, do Hermom, do

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Jordão, não, tu estás com sede, não, estás

afogada, oh, não, afogada! Num abismo,

noutro abismo, outro abismo, outro

abismo, ao fragor das suas catadupas...

ai,ai,ai, por que estás abatida, oh, minha

alma?

E eu fico torcendo pelo indivíduo. Para,

para, para, pelo amor de Deus, para, irmão,

para! Aí, felizmente, ele parou agora:

“espera em Deus, pois ainda o louvarei, a

ele, meu auxilio e Deus meu”. Eu fico

aliviado. Somente faltava ele dizer:

“lembro-me de ti nos folguedos de

Jerusalém...” Isso não teria fim, “nos

monumentais cetros do Líbano”, ele teria

uma geografia inteira para se refestelar e

metáforas, cenografias de insatisfação...

Para, meu irmão! Você já foi do sul para o

norte, PARA!!! Não viaje para o Leste nem

para o Oeste. PARE aí! Este Salmo tem de

acabar!

Isso é o que a maioria de nos tem de fazer.

A coisa mais fácil é nós transformarmos

este salmo numa piedade adoecida,

contínua, longa, renitente, perseverante-

mente intensa e devocionalmente patolo-

gizada dentro de nós. Eu vi, nestes quase

quarenta anos de ministério, milhares de

pessoas encarnarem a nostalgia piedosa

deste salmo sem parágrafo; sem parágrafo

jamais! E vocês sabem do que eu estou

falando. Vocês sabem que os justos não

vivem de adulações da alma, não vivem de

culto de suas emoções, não vivem do

amparo emocional que possam receber das

manifestações empolgantes, não vivem das

maneiras elevadas que ocorram dos seus

surtos de euforia ou das contribuições que

a existência, em acordos com a nossa vida,

de vez em quando possa nos trazer.

O justo vive integralmente e tão somente

pela FÉ, e a fé não tem nada, absoluta-

mente nada, a ver com nossas emoções,

nada! Pelo menos com as minhas não tem

nada a ver. E está decretado: a fé, na minha

vida, existe com emoção, sem emoção,

apesar de emoção! Se eu estiver eufórico,

ótimo; se eu estiver deprimido, é para ser

atropelada a depressão, porque o justo

viverá tão somente pela FÉ!

E o apóstolo Paulo diz, escrevendo aos

Romanos, que nós vivemos de uma

esperança que não vê o que espera, porque

se alguém vê o que espera, já não é

esperança; mas se não vemos o que

esperamos, com paciência, o aguardamos.

Do contrário, não decorre de Fé e, sim, de

vista. E se for o resultado das visibilizações,

das concreções existenciais e emocionais

de uma satisfação de alguma forma de

adrenalina ou de química orgânica elevada,

ou de injeções hormonais e de químicas

orgânicas de estímulos ao cérebro, não será

pela fé que estarei vivendo. Não que todas

essas medicinas não tenham utilidade, mas

eu apenas as reconheço como úteis a um

determinado momento de fragilidade da

minha vida, tanto quanto reconheço

fragilidade do meu fígado, do meu baço,

rins, nos ossos, mas elas, em momento

algum, podem ser relacionados ao estado

de minha fé, porque o justo viverá pela FÉ!

Quando a gente vê toda a caminhada de

quem quer que tenha andado com Deus

nas Escrituras, e que tenha sido alguém

que perseverou e venceu, vemos que

foram pessoas que dissociaram a emoção

dos tempos, dos momentos e das

circunstâncias da sua fé; e, apesar das

circunstâncias, venceram-nas,

atravessaram-nas, por vezes arrombaram-

nas, encararam-nas, enfrentaram-nas,

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tornaram-se adversários de toda a

contraesperança pela fé. Como é Abraão,

que espera contra a esperança. E alguém

esperar contra toda esperança significa que

está esperando contra toda emoção, está

esperando contra toda e qualquer

possibilidade de euforias, está esperando

contra toda lógica, está esperando contra

toda circunstância. A fartura de exemplos

que vemos, durante as manifestações de

vida de todos esses homens nas Escrituras,

nos garante que assim é, e se assim não for

a gente sucumbe mesmo. Se eu tivesse

tempo era o que eu faria agora, mostrando

para vocês dezenas de exemplos que

corroboram o que eu estou afirmando a

vocês.

Se na alma., eu não fizer parar o salmo do

lamento, que diz : “O teu Deus onde está?

Ai de ti, pobre corça sedenta, ai de ti,

náufrago nas catadupas do norte, ai de ti

ser de emoções inconsoláveis, o teu Deus

onde está? Ai de ti que no passado eras tão

feliz, e hoje estás aqui, esmagado pela

vida”. Se eu não fizer este salmo parar ele

me mata; se eu privilegiar as minhas

emoções, eu sucumbo.

A fé que vence é aquela que trata as

emoções como um bônus, mas que não se

sente defraudada pela ausência da emoção

positiva ou animadora que surja no

coração em razão das conspirações da vida

em nosso favor. Ao contrário, Jesus

mandou a gente ter bom ânimo. E quando

Ele disse que nós deveríamos ter bom

ânimo foi num contexto em que o vento

era contrário, a noite era escura, Pedro

tinha acabado de olhar mais para as

circunstâncias do que fixar o olhar na

Palavra de Jesus que dissera 'vem', e por

cuja Palavra ele andara passos sobre as

águas, até se fixar mais nas

circunstancialidades, na ilogicidades dos

movimentos que o faziam começar a

naufragar. Foi justamente neste momento

que Jesus disse: ' tende bom ânimo'! Jesus

determina assim que eu não devo esperar

que o bom ânimo me alcance. Até o bom

ânimo tem de ser uma decisão de fé em

mim, uma decisão do Espírito sobre a Alma,

uma decisão da consciência sobre as

emoções, uma decisão do mandamento

sobre a afetividade, uma decisão das

certezas mais elevadas apesar do fluxo das

subjetividades afogantes ou das sedes e

carências sufocantes. Mas é um salmo que

eu preciso aprender a fazer parar na minha

vida sem permitir-lhe recorrências,

recorrências e recorrências. É fácil a gente

cultuar a poesia dessa dor, a gente vira

poeta nessa dor, a gente escreve blogs e

blogs nessa dor, a gente escreve músicas

desgraçadamente lindas, a gente vai de

namorado em namorado, namorada em

namorada, casamento em casamento, nas

agonias dessa depressividade, e que nos

deixa dizer “é uma pena”, mas não adianta,

a gente não se levanta nunca.

Chegou uma hora que eu cansei da

'babação das corças no sul', e de ficar ao

lado dessa pessoa de dia e de noite sob

socas e mais socas, sob vagalhões sem fim,

num salmo contínuo que vai virando um

119 existencial do ser de tais pessoas.

Chega, acaba, põe um ponto final neste

salmo!

E aí, para nós não fazermos aquela viagem

genealógica nesta história e também na

corroboração dela, e também para não

irmos a Hebreus 11― onde aquela lista

inteira é de pessoas que enfrentaram

circunstâncias, o tempo, a demora, as

décadas, o silêncio, a falta de resposta, que

esperaram promessas que nem sempre se

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materializaram, ou não se materializaram

logo, e algumas delas não se materi-

alizaram nunca; mas eles creram que elas

teriam a sua materialidade na posteridade

deles e prosseguiram pela fé ―, eu queria,

no entanto, deixar tudo isso para lá,e

apenas que a gente lembrasse de duas

outras imagens, ou três, para ilustrar esse

salmo que precisa parar.

A primeira, está naqueles dois discípulos

que vão caminhando de Jerusalém para

Emaús, no domingo depois que Jesus

ressuscitará de entre os mortos, carregando

exatamente esse salmo. Pensávamos que

seríamos Ele quem haveria de redimir a

Israel, (enterrados lá no passado), e nós

andamos com ele, e Ele fez coisas

extraordinárias, eles dizem. Daí, encontram

com Jesus no Caminho, e não reconhecem

a Jesus porque este estado mental não

reconhece nem quando Deus dá de cara

com a gente na viagem. Não reconhece a

Jesus! E fica fazendo perguntas: Oh meu

Deus, onde estás? É, discípulo foram fazer

salmo 42 para Jesus entre Jerusalém e

Emaús, quando eles iam discutindo acerca

das coisas que tinham sucedido: “meu

Deus onde estás, e agora...? E Jesus diz: “Do

que ides tratando enquanto caminhais?”Aí

eles param chateados: “És tu o único?”

Também esse salmo faz o cara se sentir o

centro absoluto do universo; a minha

questão é absolutamente a Wall Street

existencial do planeta, a ex-Torres Gêmeas

da existencialidade sou eu e a minha dor;

'és tu' o único que tendo estado em

Jerusalém ignoras praticamente o que nos

aconteceu, as ocorrências dos nossos

últimos dias? Eles só não nos disseram o

que lhes aconteceu explicitamente, mas

vejam a sequência: o que aconteceu a

Jesus, Nazareno, o Varão Poderoso em

obras e palavras, diante de todo o povo.

Ora, nós esperávamos! Não foi nem tanto o

que aconteceu com Jesus, mas foi a

decepção que nos abateu que é um

negócio que não tem perdão, pelo amor de

Deus! Morrer na cruz está bom, o que não

podia é ter deixado a gente nessa

decepção tão horrorosa.

Nós esperávamos que fosse Ele quem

haveria de redimir a Israel, mas já é este o

terceiro dia, desde que tais coisas

aconteceram... É bem verdade que umas

das mulheres que conosco estavam, tendo

ido hoje ao sepulcro voltaram dizendo

terem tido uma visão de anjos, os quais

afirmam que Ele vive, mas a gente está aqui

andando para o pôr-do-sol ― Emaús

significa literalmente o lugar onde o sol se

põe―, estavam indo para o ocaso da

existência com esse salmo no coração. E

Jesus vem e pergunta: Quais as notícias? E

eles dão essa explicação irritadamente e

não o reconhecem. Vão reconhecer mais

adiante quando Jesus começa a dizer: Oh,

néscios e tardos de coração para crer em

tudo que os profetas disseram... E enfrenta

a emoção deles com a Profecia, com a

Palavra, com a Verdade, com o que estava

dito e se cumpriria, com o mandamento de

Deus contra a morte; e aí o coração deles

começa a arder pela Palavra, não havia

nenhuma consubstanciação, Jesus não

trouxe nenhum lenço da tumba, nenhuma

evidência, nenhuma relíquia, nenhuma

prova, nenhuma documentação, só

Palavra! Palavra para os doídos que

cultuam a emoção e se fazem o centro

emocional da Criação.

E foi quando eles disseram, constrangeram

Jesus para não seguir adiante, 'fica

conosco, porque é tarde, o dia já declina', e

Jesus entrou para ficar com eles, e

entrando na casa, tomou o pão e o partiu e

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deu Graças. Foi no ato de dar Graças e

partir o pão que eles reconheceram que era

Jesus. Então, Jesus acabou o salmo para

eles, desapareceu na presença deles,

porque o justo vai ter de aprender a viver

pela Fé.

Naquela mesma manhã cedo, Maria

Madalena, lá no sepulcro, ela foi cedo com

outras mulheres e tiveram uma visão de

anjos na forma de relâmpagos que

removeram a pedra e disseram: Porque

buscais entre os mortos os que vivem, Ele

não está aqui, ressuscitou como havia

dito... As outras saíram correndo, mas ela

ficou por razões absolutamente pessoais,

íntimas, de uma emocionalidade que se

retardou nas angústias, que nem palavra de

anjo estava adiantando, se ela não visse a

materialização de Jesus diante dela. E diz o

texto de João 21, que ela fica parada,

olhando para tumba, e chorando. E Jesus

passa diante dela, e ela com aquele véu de

lagrimas. É, a emoção é um negócio

poderoso, minha gente. O anjo vem com

formato de relâmpago, move a pedra de

toneladas, diz 'Ele não está aqui', mas olha

o poder da emoção! Umas saem correndo,

mas ela está ali, afogada nas catadupas das

emoções, ela tinha planejado passar aloés,

e perfumes no defunto, e beijar-lhes os pés,

lavá-lo todo, cuidar dele: está morto, eu

vou cuidar dele. Então passa Jesus diante

dela, e ela pensa ser o jardineiro! Aí, o

jardineiro tem de fazer este filme ― não é

„o jardineiro afinal é fiel'―, 'o Jardineiro

ressurreto'. Passou o jardineiro: mulher,

porque choras, a quem procuras? Aí ela,

supondo ser ele o jardineiro, disse: se tu

levaste o meu Senhor, se tu o levaste, dize-

me, e eu o levarei! Ela ia virar carregadora

de andor. Onde é que está o defunto, o

defunto é meu, onde o senhor colocou o

defunto que eu vou lavar todinho, e depois

eu vou sair por aí carregando e depois levá-

lo, ele é meu, ele é meu, ele é meu...

Aí Jesus diz: Maria! (Chama-a pelo nome,

aquela voz absolutamente rasgante,

pessoal, íntima, de tantas outras vezes...) A

pedra foi removida, o anjo relampejante

falou, até Jesus arrasou com ela: Porque

choras? A quem procuras? A lógica lacrimal

é diabólica, o véu de lágrimas das emoções

é um negócio poderoso, espesso, não há

material mais impenetrável do que esse.

Então, Jesus tem de vir por trás, porque

pela frente não deu. É, pela frente. Jesus

perguntou: a quem procuras? Ela com um

véu de lágrimas não viu nada. O anjo

apareceu, removeu a pedra, ela não viu

nada. Jesus diz: vou atacar pela

retaguarda! O texto é que diz que foi por

trás, diz: 'voltando-se, viu Jesus em pé! Pela

frente não dava! Assim, podia ser que, na

virada, as lágrimas saíssem!

Raboni, Mestre! Então, ela queria já segurar;

não posso levar o defunto, vou levar o

'salmo' para casa... Queria pegar nEle, é

meu Senhorzinho, aleluias1

E Ele disse: 'não me toques, este 'salmo'

tem de acabar, porque não vai ser mais

assim Maria. Vai dizer aos meus irmãos que

eu ressuscitei, mas não será mais assim, não

será mais assim. Eis que subo para Meu Pai,

vosso Pai, Meu Deus e vosso Deus; não será

mais assim!

Agora temos João, lá em Apocalipse 5,

podem imaginar aquela coisa? Como esse

'salmo' é forte quando ele não quer parar,

quando ele quer se 119nizar = cento e

dezenovenizar = em nós. João, lá no

Apocalipse, ouve uma voz que diz: sobe

para aqui. O homem é arrebatado, vê o

trono de Deus e Aquele que está sentado

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ao trono. É uma glória extraordinariamente

indescritível, transoviniana, é uma coisa de

doido, safiras, pedras, brilho, luzes,

indescritibilidade, não há efeito especial

que crie aquilo ali, é totalmente para além

de tudo, e ele está lá vendo, uns querubins

que são umas bolas de olhos, que olham

para dentro e para fora, e que voam, e que

dizem: Santo, Santo, Santo, vinte e quatro

anciãos, seres viventes, anjos. Dentro deste

teatro cósmico, supracósmico, multi-

cósmico é que ele está, com todas as

camadas de criação, se manifestando em

adoração ao Senhor, e o homem diante do

trono! Aí vem a história de quem é digno

de abrir o Livro e de desatar-lhe os selos. O

livro da história humana e da redenção

humana. Era um rolo, semelhante a um rolo

no dia de um jubileu, de resgate de uma

terra, neste caso, da restauração da terra

aos humanos, e não de uma gleba a uma

família, como acontecia no Antigo

Testamento. É o livro do Jubileu dos

Jubileus, quando a terra é tirada da mão do

usurpador, quando em Lucas 4 diz: Todo

este poder me foi dado, e eu dou a quem

eu quiser. Quem é que é digno de pegar e

tirar este Livro, de desatar estes selos, e

colocar isto na mão da humanidade

ressurreta glorificada? E aí foi dito, que não

se achava nem no céu, nem na terra, nem

debaixo da terra, ninguém que fosse digno

de desatar-lhe os selos. Então, João começa

a se ''quarenta e doisnizar'' na alma dele.

Olha, diante do trono, com toda essa

cenografia descrita e se diz: e eu chorava

muito! Já pensou o que é o cara ser

arrebatado para essa glória, para ficar

''chorando muito''? É o poder da alma, que

é um negócio monumental, diante do

trono de Deus, da glória de Deus, daquele

que está assentado, o indivíduo foi atirado

da bagaça de Patmos para a Glória das

glórias. Ele está vendo o passado, o

presente e o futuro. Ouve uma pergunta:

Quem é digno de abrir o livro e desatar-

lhes os selos? A esta altura era para ele

dizer: e daí? Tem Alguém assentado no

trono!

Mas a alma, quando ela se quarenta e

doisniza, ela vai chorar diante do trono, e é

preciso que um dos Vinte e quatro Anciãos

– que um dia vou querer ser apresentado a

esse irmão – chegue para João e diga: Pare

de chorar João, psiu, que isso meu?

Literalmente, Apocalipse diz que foi um

''psiu, pare de chorar''! É uma ordem assim,

quase que de raiva celestial: aqui não, né,

pelo amor de Deus pare de chorar! E João

diz : eu chorava muito, 'oh meu Deus, onde

estás, porque estás abatida, oh, minha

alma? Mas se a gente der mole, a gente vai

para diante de Deus com o salmo 42, e o

119niza, para nossa existencialidade, sem

ponto final para os poderes reclamadores,

adoecidos da alma. Eu sei que a maioria

esmagadora que está aqui, dos que nos

veem ali na Vem&Vê TV são pessoas que

privilegiam a alma à fé, privilegiam as

emoções à fé, que se tudo estiver indo bem

elas até acham que exista alguém sobre a

terra, que seja digno suficiente de abrir o

Livro e desatar-lhe os selos: EU! Mas se

tudo estiver indo mal, ainda que se ele

estiver diante do trono de Deus

explicitamente, ele vai chorar muito. Ou

pode estar como Maria, com a tumba vazia,

com o Anjo falando, com o relâmpago

dando testemunho angelical, com Jesus

rodando à volta dela e dizendo: o que é

isso mulher? Não é nem dizendo “o teu

Deus onde está”, é ''por que tu

choras?”Porque ela vai dizer: ''o meu Deus,

onde está?” Se não tiver alguém dizendo “o

teu Deus onde está?'', a gente diz: “o meu

Deus, onde está?”

Page 8: Este salmo tem de acabar em nós!

O Caminho da Graça

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Eu e vocês, meus irmãos, precisamos tomar

hoje uma decisão: é saber que existem dias

bons, e muitos dias maus, e que basta a

cada dia o seu mal! Há dia dos namorados

extremamente floridos, e há dia dos

namorados extremamente espinhosos. Se

você for se entregar, por exemplo, ao dia

dos namorados que tenha porventura

produzido alguns espinhos, você não

terminará esse dia vivendo a experiência

do amor, porque até a decisão de amar tem

de ser uma decisão que a gente tem de

fazer prevalecer em fé; do contrário, a

gente entra naqueles ciclos de catadupas

do norte, ou das carências do sul, do salmo

42.

Em qualquer dimensão da vida do justo, do

amor conjugal ao amor pelo inimigo, em

qualquer que seja o escopo da existência e

do enfrentamento, o justo viverá pela fé. E

eu não estou dizendo que isto nos

desromantiza, pelo contrário, o que estou

dizendo é que quando a alma nega a nós as

esquinas ou as praças, ou os jardins do

romance, a gente olha para própria alma e

diz: este salmo para aqui!

Eu sei quem é o meu marido, eu sei quem é

a minha mulher, ou os meus filhos podem

ter se desfigurado, mas eu não gerei para

calamidade, ou, estas circunstâncias de

saúde podem me ser totalmente adversas,

mas 'a vida é mais do que o corpo, e o

corpo mais do que as vestes' e eu não me

entregarei, e mesmo que a figueira não

floresça, e nem haja fruto na vide, e o

produto das oliveiras mintam, e os campos

não produzam mantimento, todavia, eu me

alegro no Senhor, no Deus da minha

salvação, ponto. E não dê a você mesmo

nem um outro motivo de argumentação

emocional ou psicológica. Pare este salmo

aí, dizendo: espera em Deus, oh, minha

alma! Coma da esperança, alimenta-te da

Verdade, espera em Deus; tu ainda não

estás vendo, mas o justo vive pela fé; se

alguém vê o que espera, já não é pela fé

nem na esperança que vive. Espera em

Deus, pois ainda o louvarei, não a Ele que

foi, mas a Ele que É, meu auxilio e ponto,

acabou, acabou, acabou, acabou, Amém?!!!

Em nome de Jesus acabou, acabou, Chega.

Pronto!

Meus amigos, há tempo em todo propósito

debaixo do sol. Há tempo para começar e

para fazer terminar o salmo 42 na nossa

vida; e há tempo para declarar, pela fé, que

a dor súbita não será perpetuamente

alimentada por nós, nem pelas emoções,

nem a sede e a carência, nem os

afogamentos de alma, por que a nossa

alma vai aprender a confiar, e a não ser

guiada, nem tangida, nem pastoreada por

emoções, por sentimentos nem por

sensações. Nós não somos daqueles que

retrocedem. Tristezas todos têm, desapon-

tamentos, euforias, depressões fazem

parte; “no mundo tereis aflições, mas tende

bom ânimo'' é um mandamento de fé.

Ergam a cabeça com bom ânimo, deem

ordem às emoções,à mente não se

entreguem em nome de Jesus.

Mensagem ministrada em 11/06/2011

Estação do Caminho - DF