estado e desenvolvimento econômico no brasil contemporâneo · (ano 2 do golpe) aula 13 5ª-feira,...

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Estado e Desenvolvimento Econômico no Brasil Contemporâneo DAESHR005- 13SB/DBESHR005- 13SB/NAESHR005- 13SB (4-0-4) Professor Dr. Demétrio G. C. de Toledo – BRI [email protected] UFABC – 2017.II (Ano 2 do Golpe) Aula 13 5ª-feira, 13 de julho

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Estado e Desenvolvimento Econômico

no Brasil ContemporâneoDAESHR005- 13SB/DBESHR005- 13SB/NAESHR005- 13SB

(4-0-4)

Professor Dr. Demétrio G. C. de Toledo – BRI

[email protected]

UFABC – 2017.II

(Ano 2 do Golpe)

Aula 13

5ª-feira, 13 de julho

Blog da disciplina:

https://edebcufabc.wordpress.com/

No blog você encontrará todos os materiais do curso:

• Programa

• Textos obrigatórios e complementares

• ppt das aulas

• Links para sites, blogs, vídeos, podcasts, artigos e outros materiais de interesse

Para falar com o professor:

• São Bernardo, sala 322, Bloco Delta, 3as-feiras, 19-20h, e 5as-feiras, das 15-16h (é só chegar)

• Atendimentos fora desses horários, combinar por email com oprofessor: [email protected]

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Aula 13 (5ª-feira, 13 de julho): O PAEG

Texto obrigatório:

PIRES, Marcos Cordeiro (2010) “Capítulo 6: A ditaduramilitar e o PAEG”, p. 161-192.

Texto complementar:

SOUZA, N. A. (2008) “Capítulo 4: O novo modelo econômicoe o ‘Milagre Brasileiro’”, p. 61-75.

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O PAEG

Plano de Ação Econômica do

Governo

Contexto internacional:

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• Independência de Gana – 1957, independênciasafricanas.

• Revolução Cubana – 1959.

• Crise dos mísseis – 1962.

• Na América Latina, efervescência política e intelectual decunho nacionalista, trabalhista, anti-imperialista:nacional-desenvolvimentismo, marxismo, estruturalismocepalino, indigenismo.

• Processos de substituição de importações da ALentrando nas fases mais complexas (maior necessidadede capital e tecnologia para avançar).

A crise política de 1961-1964

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• Jânio Quadros é eleito presidente (PTN-PDC-UDN-PR-PL)com 48% dos votos, vencendo o marechal Henrique Lott,candidato de JK; João Goulart, ex-ministro de GV ecandidato de KJ à vice-presidência, é eleito.

• Jânio é eleito com base em discurso moralista: “varrevassourinha”, enfrentar a inflação e a corrupção.

• Apoio das classes média e alta urbanas; latifundiários;parte da burguesia industrial; setores ultraconservadoresdas Forças Armadas.

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Questão central da crise política do início dos anos 1960: avançar ou regredir

no processo de distribuição de renda.

A crise política de 1961-1964

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• Três períodos:

– Governo de Quadros (janeiro a agosto de 1961);

– Tentativa parlamentarista (setembro de 1961 ajaneiro de 1963);

– Governo presidencialista de João Goulart (janeiro de1963 a março de 1964.

• Não há continuidade superior a 21 meses, ou seja, nãohá planejamento, não há governo quase...

O breve Governo de Quadros (janeiro a agosto de

1961)

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• Enfoque econômico: pagamento da dívida externa econtrole da inflação;

• Instrução n° 204: extinguia todos os subsídios cambias dasinstruções nº 70 e 113 – favorecimento das importações eexportações primárias, em detrimento da industrializaçãointerna.

• Resultado:

– Oneração de importações essenciais como petróleo etrigo e a elevação da inflação, apesar do superávitcomercial.

– Intensificação das lutas sociais x elevação das margens delucro.

O breve Governo de Quadros (janeiro a agosto de 1961)

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• Apesar da instrução 204, Quadros oscilava entre ofavorecimento à sua base de apoio e uma posturaindependente em relação a ela como quandocondecorou Che Guevara em 20 de agosto de 1961.

• Em 25 de agosto, isolado e tentando uma jogada de riscocontra a intolerância com Goulart, renuncia àpresidência.

• Como se articulara a saída presidencialista já haviaindícios de golpe (mesmas forças de 1955).

A tentativa parlamentarista (setembro de 1961 a janeiro de 1963)

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• João Goulart estava na China quando Jânio renunciou aopoder, permitindo que a presidência fosse assumidainterinamente pelo presidente da Câmara dosDeputados (dominada pela UDN + PSD) – equilíbrioprecário entre as forças políticas existentes.

• Forças Armadas “vetam” a posse de João Goulart – mascadeia da legalidade (rádios) de Brizola + II Exércitogarantem a aprovação de emenda constitucional queinstitui o sistema parlamentar de governo;.

• Economia seguiu no “piloto automático” até o plebiscitode 1963: presidencialismo é majoritariamente vitorioso.

O Governo Goulart (janeiro de 1963 a março de 1964)

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• Havia um impasse e uma forte polarização na cenapolítica, a coexistência era inviável - para as forçasreacionárias golpe era questão de tempo.

• Apresentou ambiente político mais hostil contra si erespostas políticas e administrativas mais efetivas emcomparação ao Governo Quadros e a tentativaparlamentarista.

O Governo Goulart (janeiro de 1963 a março de 1964)

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• Aproximação da ala popular e da sociedade civil.

• Aprovação do Estatuto da Terra (1963) de FernandoFerrari estendendo os direitos trabalhistas aostrabalhadores rurais.

• A lei de Remessa de Lucros – restringia a 10% a.a. sobreo capital investido, excluídos os lucros sobrereinvestimentos.

O Governo Goulart (janeiro de 1963 a março de 1964)

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• Plano Trienal – objetivos:

– Garantir a taxa de crescimento do PIB em 7% a.a.;

– Reduzir a taxa de inflação para 25% em 1963 visandoalcançar 10% em 1965;

– Garantir o crescimento real dos salários à mesma taxado aumento da produtividade;

– Realizar a reforma agrária não só como solução socialmas para elevar consumo de ramos industriais;

– Renegociar a dívida externa para diminuir a pressãodo seu serviço sobre o BP.

O Governo Goulart (janeiro de 1963 a março de 1964)

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• Plano Trienal – objetivos:

– Crise inflacionária e clima de boicote ao Governo,interna e externamente;

– Acirramento dos antagonismos: aqueles que queriamo estreitamento das relações com os EUA contraorganizações de trabalhadores e camponeses;

– Busca pela expansão no setor agrícola e industrial;

– Destaques em assuntos domésticos como inflação edéficit público.

O Governo Goulart (janeiro de 1963 a março de 1964)

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• Plano Trienal – objetivos:

– Contribuição para a instauração de uma cultura deplanejamento;

– Boicote por parcela significativa da elite brasileira;

– A falta de apoio levou à inviabilização do plano.

O Governo Goulart (janeiro de 1963 a março de 1964)

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• Reformas de base:

– Mudanças sugeridas por ministros e pela base deapoio nacionalista e progressista, envolvendo umprocesso pacífico e não revolucionário;

– Reformas agrária, universitária, tributária, do estatutodo capital estrangeiro, administrativa, eleitoral,bancária e urbana;

– Comício das Reformas de Base (1964) e assinatura dodecreto Supra (reforma agrária + nacionalização dasrefinarias de petróleo).

O Governo Goulart (janeiro de 1963 a março de 1964)

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• Comício da Central.

• Anistia aos rebelados da “Revolta dos Marinheiros”.

• Reunião no Automóvel Clube.

• Marcha da Família com Deus pela Liberdade, realizadaem São Paulo por setores ultrarreacionários daburguesia e das classes médias apoiados pela Fiesp,Ciesp, igreja católica e pelo governador Ademar deBarros.

O golpe militar

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• Em 20 de março de 1964 Castello Branco emitememorando criticando o Comício das Reformas.

• Em 25 de março acontecem os primeiros levantesmilitares, até tomarem a forma de uma rebelião, em 31de março.

• Jango foge para Porto Alegre e depois para o exílio noUruguai, em 1º de abril.

• Ranieri Mazzilli assume governo interino sob junta militar“provisória”, que realizaria eleições em 1965.

• Em 1965, no entanto, não ocorrem eleições.

A crise política de 1961-1964

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“As implicações econômicas da crise dos anos 1960 foramdeflagradas a partir do Governo Quadros, com a implosão daarquitetura cambial baseada nas taxas múltiplas de câmbio,por meio da instrução 204 da SUMOC, a qual agravou oproblema inflacionário e desequilibrou a relação entre ostermos de troca no comércio exterior”. (Souza 2010, in: Pires2010, p. 158)

A crise política de 1961-1964

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“Os demais problemas apontados pela historiografia oficial –déficit público, elevado endividamento externo etc. – nãotiveram um aspecto relevante na determinação do padrãoevolutivo da crise, que foi eminentemente político,envolvendo a maturação de um grupo político concorrente aogrupo desenvolvimentista, alinhado com o interesse externoe com os interesses conservadores do país”. (Souza 2010, in:Pires 2010, p. 158).

A crise política de 1961-1964

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“A quem interessaria a construção de uma falsa criseeconômica na interpretação do contexto que conduziria aogol´pe de 1964?” (Souza 2010, in: Pires 2010, p. 158).

Segundo René Dreifuss, “tratava-se de um grupo formado,treinado e orientado a tomar o poder para direcionar o país auma posição primário-exportadora na Divisão Internacionaldo Trabalho. Tomado o poder, caberia a esse grupo aremodelação do Estado brasileiro de acordo com seuspróprios interesses”. (Souza 2010, in: Pires 2010, p. 159).

A crise política de 1961-1964

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“(...) Os poucos que dela se beneficiaram, construindopatrimônios, reputações e carreiras. É a esses últimos, emparticular, que interessa construir uma visão mitológica deuma ‘crise’ que justificasse seu conluio ou sua omissão ante abarbárie militar instalada no poder.”

“Alguns deles estão por aí, ainda hoje.” (Souza 2010, in: Pires2010, p. 159).

Ditadura militar, governo Castello Branco, 1964-1967

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Avessa ao povo e à democracia uma elite militar formada nosEUA já havia tentado romper com a ordem em 1950 (posse deVargas), 1954 (suicídio), posse de JK, Jango, etc...

Cenário pós-revolução cubana e da Aliança para o progresso.

Setores civis também participaram: burguesia radicalizada,pequenos proprietários, funcionários públicos, intelectuais,grandes empresários locais e representantes dasmultinacionais.

Ditadura militar, governo Castello Branco, 1964-1967

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As classes dominantes desejavam uma ditadura ou governode fachada que bloqueasse a elevação do nível de vida dostrabalhadores, o PSI e as reformas de base.

Por ser um grupo heterogêneo, teve por características aautofagia, incoerência política e tomada do Estado comopropriedade privada.

Grupo golpista tinha uma formação “colonizada”, voltada parafora, ligadas aos problemas teóricos do mundo desenvolvidoe não pra realidade objetiva do mundo subdesenvolvido.

Ditadura militar, governo Castello Branco, 1964-1967

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Castello Branco é elevado à condição de presidente pela JuntaMilitar do “comando revolucionário”.

Não há a convocação das eleições de 1965.

Elaboração da lista de cassação dos direitos políticos deopositores à ditadura (JK e Lacerda são perseguidos presos ecassados).

O pensamento econômico fica dividido entre indivíduossaudosos do modelo primário-exportador anterior à crise de1929 e representantes dos interesses dos EUA no Brasil.

Ditadura militar, governo Castello Branco, 1964-1967

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O Golpe Militar impôs, assim, de forma autoritária, umasolução para a crise política.

Castello Branco laça o PAEG, tendo como ministros, RobertoCampos e Octávio Bulhões (dois representates das empresasestrangeiras).

O PAEG foi lançado como plano de curto-prazo, deemergência, para enfrentar a “crise dos anos anteriores” -retórica (Roberto Campos).

A ditadura militar e o Paeg (1964-1967)

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“O fato é que o grupo alçado ao poder em 1964 seencontrava longe de possuir um projeto ‘próprio’ dedesenvolvimento. O pensamento econômico dominante nogrupo golpista apresentava uma formação ‘colonizada’,voltada para fora, ligadas aos problemas teóricos do mundodesenvolvido, distantes da realidade objetiva do mundosubdesenvolvido”. (Souza, in: Pires 2010: 162)

A ditadura militar e o Paeg (1964-1967)

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“O primeiro resultado desse grupo foi o Plano de AçãoEconômica do Governo, o Paeg. Este se apresentava comouma ‘política de ajuste’, um ‘remédio amargo’, dado em umasituação de ‘gravidade e emergência’. Essa situação era a‘crise dos anos 1960’. Em termos concretos, o Paeg alterouas bases do crescimento econômico brasileiro no sentido doestímulo da demanda efetiva para a concentração de rendae a dependência externa. Nesse sentido, o Programa deAção Econômica do Governo segue a lógica inversa dosplanos de Metas (1956) e Trienal (1963): trata-se de medidasde ajuste, e não de desenvolvimento”. (Souza, in: Pires 2010:162)

A ditadura militar e o Paeg (1964-1967)

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“O conjunto de fatores que levaram à exaustão do modelode industrialização por substituição de importações não seexaure na ação discricionária dos grupos que tomaram opoder em 1964. A relação do país com a economiainternacional mudara, mas alguns elementos estruturais daprópria economia interna não sofreram maiores alteraçõesentre 1930 e 1960. Um desses elementos era a estruturafundiária, extremamente concentrada, herdada do períodocolonial, a colocar enormes contingentes populacionais àmargem da posse de terras, impossibilitando-os de usufruirde uma vida mais digna”. (Souza, in: Pires 2010: 164)

A ditadura militar e o Paeg (1964-1967)

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“Outro elemento consistia na forma pela qual a economiabrasileira se integrava aos centros do sistema:

a) imitação dos padrões de consumo;

b) dependência tecnológica e introdução de empresasmultinacionais (operando no e para o mercado interno);

c) necessidade de moeda conversível para fazer frente àsimportações de equipamentos, combustíveis e matérias-primas (também para a remessa de lucros e serviços); e

d) comprometimento do dinamismo próprio do modelo deindustrialização substitutiva”. (Souza, in: Pires 2010: 164)

A ditadura militar e o Paeg (1964-1967)

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“(...) A industrialização substitutiva não alterasubstancialmente a dependência dos países periféricos emrelação aos países centrais, apenas a recoloca em outrospatamares. Por conta disso, com o avanço do processosubstitutivo, surge a necessidade de ampliação dacapacidade de importação do país. Já não é mais necessáriaa compra de tecidos. Automóveis ou telefones, mas sim deoutras máquinas e equipamentos, combustíveis e outrasmatérias-primas, cujo peso na balança comercial tendesempre a aumentar mais que na proporção do aumento domercado. Dá-se aí o problema da industrializaçãosubstitutiva: as necessidades de moeda forte eram supridasapenas pela exportação de bens primários”. (Souza, in: Pires2010: 165)

A ditadura militar e o Paeg (1964-1967)

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“Cabia, na mentalidade dos tomadores de decisão depolítica econômica da ditadura recém-instaurada, reconduziro país à sua ‘vocação’ primário-exportadora”. (Souza, in:Pires 2010: 165)

Plano de Ação Econômica do Governo (PAEG)

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Lançado em 13 de agosto de 1964;

Roberto Campos, árduo defensor dos interesses externos, éretirado da embaixada do Brasil nos EUA e colocado na gestão doBNDES;

Bulhões é contrário a todo o caminho de desenvolvimentoposterior a 1930, defendendo a exportação primária.

O diagnóstico básico relacionou a crise ao descontrole a inflação,que teria distorcido as relações econômicas básicas: cálculo decustos, expectativas de I, taxa de câmbio, crédito.

O governo possuía, assim, duas linhas de atuação:

– O combate à inflação;

– Reformas estruturais.

Plano de Ação Econômica do Governo (PAEG)

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• As causas imediatas da inflação segundo o PAEG foram:

– Déficit público;

– Expansão do crédito (via BB em especial);

– Aumentos dos salários acima da produtividade.

• Medidas gerais (oficialmente) de combate a inflação:

– Contenção do déficit público (novas formas de financiamento eaumento das tarifas públicas);

– Restrição de crédito e aperto monetário (controle do crédito eelevação das taxas de juro);

– Crescimento do salário igual à produtividade (circular 10).

Plano de Ação Econômica do Governo (PAEG)

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• Tratamento gradativo ao combate à inflação;

• Intervenção em sindicatos de trabalhadores, caça e prisão de suaslideranças e proibição de articulações intersindicais;

• Eliminação da estabilidade no emprego e instituição do FGTS.

Plano de Ação Econômica do Governo (PAEG)

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• Objetivos declarados do Paeg:

– Acelerar o ritmo de desenvolvimento econômico;

– Conter, progressivamente, o processo inflacionário;

– Atenuar os desníveis econômicos regionais, assim como astensões causadas pelos desequilíbrios sociais, mediantemelhoria das condições de vida;

– Assegurar pela política de investimentos, oportunidades deemprego produtivo à mão de obra [...];

– Corrigir a tendência de déficits descontrolados do balanço depagamentos [...] (Governo do Brasil, 1865, p.5).

Plano de Ação Econômica do Governo (PAEG)

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• Circular n.10 de 1965 determinou fórmula salarial para ofuncionalismo federal, que foi estendida em 1966 para o setorprivado:

– i) média salarial dos últimos 24 meses;

– ii) + taxa de produtividade;

– iii) + resíduo inflacionário de 50% do estimado para o próximoano;

– iv) reajustes anuais (+ mais repressão sindical).

Plano de Ação Econômica do Governo (PAEG)

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• Lei nº 5.107 em 13 de setembro de 1966:

– Instituía do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS)que veio substituir a então extinta estabilidade no emprego,pela qual, após dez anos de serviço, o trabalhador não poderiamais ser demitido arbitrariamente pelo empregador.

– Roberto Campos transformou o tempo de serviço numapoupança forçada, com auxílio da persuasão militarobviamente.

– Instaurou-se assim a paz social na economia brasileira, osganhos de produtividade multiplicaram-se e as condições parao “Milagre” foram dadas.

Plano de Ação Econômica do Governo (PAEG)

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• A principal distinção do PAEG frente ao Plano Trienal foi o papeldado aos salários, tanto no diagnóstico quanto na política anti-inflacionária.

• Os governantes implementaram uma nova forma de lidar com ainflação: a) deve-se aprender a conviver com a inflação (surgenoção de correção monetária e indexação) e b) adota-se umaatitude gradualista no combate à inflação.

• Em tese a política foi gradualista: 1964 - 70%, 1965 – 25% e 1966 –10%.

• Lembrar, porém, que a expectativa de inflação (índice anualizado)no início de 1964 chegava a atingir mais de 140%. Foi uma políticarealmente “gradualista”?

Ditadura militar, governo Castello Branco, 1964-1967

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Plano de Ação Econômica do Governo (PAEG)

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• As principais reformas instituídas pelo PAEG foram:

– Reforma Tributária;

– Reforma monetária-financeira;

– Reforma do setor externo.

Plano de Ação Econômica do Governo (PAEG)

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• Reforma Tributária:

– Introdução da correção monetária no sistema tributário;

– Transformação dos impostos em cascata em impostos sobre ovalor adicionado, como o IPI e o ICM;

– Redefinição do espaço tributário entre as diversas esferas dogoverno:

– União – IPI, IR, impostos únicos, IE/II, ITR.

– Estados – ICM

– Municípios – IPTU, ISS

– Foram criados os fundos de transferência intergovernamentais:Partic. Munic. e Estados.

Plano de Ação Econômica do Governo (PAEG)

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• Reforma Monetária-Financeira:

– Objetivos: Criar condições para a condução independente dapolítica monetária e direcionar os recursos às atividadeseconômicas.

Plano de Ação Econômica do Governo (PAEG)

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• Foram criados 4 grupos de medidas:

1. Instituição da correção monetária e da ORTN com o objetivode desenvolvimento do mercado de títulos públicos e novosinstrumentos de financiamento não inflacionários do déficitpúblico.

2. Criação do CMN (órgão normativo da política monetária) edo Bacen (órgão executor e fiscalizador) extinguindo aSUMOC e transformando o BB em banco comercial.

3. Criação do SFH (sistema financeiro da habitação) e do BNH(banco nacional da habitação) com o objetivo de eliminar odéficit habitacional atribuído à falta de financiamento.

4. Reforma do sistema financeiro e do mercado de capitaisbaseado no modelo norte-americano caracterizado pelaespecialização e segmentação do mercado.

Plano de Ação Econômica do Governo (PAEG)

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• Reforma do Setor Externo:

– Objetivos (Aliança Progresso, Banco Mundial e FMI):

– Estimular o desenvolvimento evitando pressões sobre o BP.

– Melhorar o comércio externo e atrair capital estrangeiro.

Plano de Ação Econômica do Governo (PAEG)

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• Comércio externo:

– Exportações: incentivos fiscais e modernização dos órgaosligados ao comércio internacional;

– Importações: eliminou os limites quantitativos;

– Unificação do sistema cambial e adoção do sistema deminidesvalorizações cambiais (combate à inflação,concentração de renda e arrocho salarial);

– Porém não houve avanço das X (80% café, 20% semi emanufaturados).

Resultados efetivos do Paeg (Souza, in: Pires 2010: 191)

49

Durante sua vigência, o país concentrou renda e retardouseu ritmo de crescimento econômico, criando capacidadeociosa e desperdiçando importante capital criado pelaspolíticas anteriores;

Redução do poder aquisitivo do trabalhador;

Acentuação de concentração de renda regional;

Aumento da taxa de exploração (por meio da redução dossalários reais).

Resultados efetivos do Paeg (Souza, in: Pires 2010: 191)

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“Concebida em um ambiente antipopular e antinacional, apolítica econômica do Paeg dificilmente encontraria espaçode ação em um regime que não fosse uma ditadura. (...) Oalcance de longo prazo daquela política econômica somentepode ser verificado na montagem de um modeloconcentrador de renda”. Paeg (Souza, in: Pires 2010: 191)

Crescimento PIB, 1961-1969

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Plano de Ação Econômica do Governo (PAEG)

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Plano de Ação Econômica do Governo (PAEG)

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Distribuição de renda, Brasil, 1960-1970

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~Distribuição de renda, Brasil, 1960-1970

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Salário x produtividade

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Para pensar...

57

1. Segundo Souza (in: Pires 2010), o Paeg deucontinuidade à industrialização por substituição deimportações? Por quê?

2. Quais os principais resultados do Paeg, na opinião deSouza (in: Pires 2010)?