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INTERVALO ENTRE PARTOS DE VACAS DA RAÇA HOLANDESA CRIADAS NOESTADO DE SÃO PAULO (1 )

(Calving interval of Holstein-Friesian cows raised in São Paulo State)

VERA LÚCIA CARDOSO (2), MARIA ARMÊNIA RAMALHO DE FREITAS (2), RAYSILDO BARBOSA LO·BO (3) e ENOCH BORGES DE OLIVEIRA FILHO (4)

RESUMO: Foram estudados 1.663 registros reprodutivos de vacas da raça holandesa,pertencentes a uma fazenda particular situada em Pindamonhangaba, SP, coletados en-tre 1964 e 1978. A média observada para o intervalo entre partos foi 415,5 ± 54,7dias, com um coeficiente de variação de 13,2%. Através da análise de variância realizadapelo método dos quadrados mínimos verificou-se que ano e mês de parição represen-taram importantes fontes de varição sobre a característica. A estimativa de herdabilidadeobtida através da correlação entre meias-irmãs paternas foi 0,05 ± 0,04. A estimativa derepetibilidade, obtida através da correlação intraclasse entre observações da mesma vaca,foi 0,03 ± 0,02.

o intervalo entre partos e freqüen-temente utilizado para avaliar o desempe-nho reprodutivo de umrebanho e correspon-de ao período compreendidoentre duas pa-r'ições consecutivas, sendo um nedi.daefetiva e fácil pela qual a eficiência re-produtiva pode ser estudada, uma vez quesó são necessárias as datas de parto parasua obtenção.

Sob o ponto de vista econânico, ointervalo entre partos é mii.to inportante ,

INTRODUÇÃO

pois determina a produtividade do rebanho.Hais fidedigna do que a produção de leitepor Iactação em ternos de produt ivi.dade éa produção de leite por dia de intervaloentre partos ou, ainda, a produção efetivade leite, a qual é obtida mil.t ipl.í.cando-sea produção de leite por dia de intervaloentre partos por 365 dias. Assim, obtém-seo que a vaca realnente produziu por ano equanto mais extenso for o intervalo entrepartos nenor será a produção anual do re-banho. Este fato foi denonst.rado por FREI-

e) Parte do Projeto IZ-211. Apoio financeiro do CNPq - PIG V. Recebido para publicação em julho de 1986.c2) Da Estação Experimental de Zootecnia de Ribeirão Preto.e) Da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto.(4) Da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias de Jaboticabal, UNESP.

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TASet al.í.i (1985), que, ao estudarem oefeito entre partos sobre lactação em cur-so de vacas holandesas, verificaram de-créscíno na produção efetiva de leite de

cerca de 10%para cada ainento de sessentadias no intervalo entre partos, a partirdos 360 dias.

o estudo do intervalo entre partosdepende do conhecirrento dos necani.snosenvolvidos na sua expressão. Exenpl.i.Hcan-do: o intervalo entre partos engloba o pe-ríodo de serviço (intervalo entre o partoaté nova concepção) e o período de gesta-ção. Este iil.t irro não sofre grandes flutua-ções, sendo pouco variável dentro de cadaespécie ou raça. Ass im, as variaçõesobservadas nessa característica são resul-tantes, essenci.alnente , de variações noperíodo de serviço, o qual é função, entreoutros fatores, do intervalo entre o partoe a pr irrei.ra inseminação e da taxa de

concepção, elenentos que dependem da de-tecção do cio e assim por diante (FONSECAet al.i.i, 1983). Verifica-se, então, que ointervalo entre partos é uma característi-ca mil t i.fator'iaf mrí.to influenciada porfatores de ambiente, que são dí.Hci.lrrente

isolados, o que toma seu estudo bastantecomplexo.

Para JOHANNSet al.í.i ( 1967) , afertilidade pós-parto dos bovinos baseia-se, pr imar ianente , em dois processos: ainvolução uterina e o restabelecinento dociclo estral.

Observa-se, na literatura, que pro-bl.emas na involução uterina e ocorrênciade anestro pós-parto estão sempre ass~~a-dos, entre outros, a fatores corro nível deprodução de leite da vaca ÜURRlJiílet al i.í.,

1966; O1..DSet al.í.i, 1979; LABENet al.í.i.,

1982; EL-KERABI& ABan~-ET.A,1982), idadeda vaca ou minero de par ições (EL-KERABY&ABan>EJ:A, 1982; FOOSECAet al.i.i. 1983),arMIlIentação (HANSEN s HAIJSER, 1893;FERREIRA& SA, 1982), nível nutr-icional noperíodo pré e pós-parto (HANSEN& HAUSER1983; VARGAet al.i.í., 1981~), distúrbiospós-parto, tais caro infecções bacterianasretenção de placenta, ocorrência de cistosovarianos, etc. Ü1AIHER& MEI:.ANCOO,1981;ERB et al í.i, 1981; FOOSECAet al.í.i,

1983), fatores climáticos corro, por exem-plo, temperatura e radiação solar (COLLlERet al.i.i, 1982).

No entanto, vários autores sãounamnes em afí.rnar que a detecção do Cl.O

é unia das, principais responsáveis pelosaltos valores observados para o intervaloentre partos, pr íncí.palnente nos trópicos(BO'l\iURTIIet al.i.i., 1972; LAITI:>ERDALE,1974;FOOIE, 1975; BARR, 1975; LABENet al í.i1982; CLAIJSet al.i.i., 1983).

Seguido LAITI:>ERDALE(197L~), o valorda detecção adequada de cio reside na suaestreita associação com a prenhez, ouseja, se o estro não é detectado peloobservador, a vaca não tem chance de sercoberta ou inseminada,

RIBAS(1981) e COSTAet al.i.i, (1982),no Brasil, não observaram efeito sigrú.fi-cativo de estação de parição sobre ointervalo entre partos. Quanto ao efeitode ano, foi s igni.ficat ivo em anhos os ca-sos, porém com tendências opostas. No pri-ne i.ro estudo, houve uni decréscíno nointervalo entre partos dos rebanhos anali-sados, fato explicado talvez por melhor iasnas condições de manejo, No seguido caso,houve uni auaento desses valores, devido,provavelnente, à introdução de inseminaçâo

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artificial sem os cuidados necessários,caro detecção de cr.o adequada, entreoutros.

FONSECAet al.í.í. (1983), em estudo

realizado nos Estados Unidos, cem vacasdas raças jersey e holandesa, verificaramque em vacas mais velhas a involução dotrato gertital era mais tardia quandoconparada a vacas jovens. A mesmatendên-cia foi observada por EL-KERABY& ABOUL-ELA(1982), no Egito.

'vale mencionar ainda o trabalho deCOSTAet alii (1982), realizado no Brasil,que, enbora não tenham verificado signifi-cância do efeito de iàade/orderrl de pariçãosobre o intervalo entre partos, encontra-ram tendê, ...~.ade maiores intervalos entreo pr ine i.ro e o segundo partos. Isso se de-veu ao fato de que novilhas que parerrlmui-to cedo denoram mai.s tenpo para recuperarseu aparelho reprodutor.

As est imat ivas de herdabí.Li.dade dointervalo entre partos, são, de maneirageral, baixas, estando às vezes prOX]IDélSde zero. Segundo a maioria dos autores,

isso ocorre porque a característica épredrmínanterrente determinada por fatoresarrbientes, 1Ú'iOhavendo a concorrência defatores genéticos para sua expressão.

Para REIS (1983), "o fato de que amaioria dos estudos rrostre baixos coefici-entes de herdabilidade para as caracterís-ticas ligadas à eficiência reprodutiva nãodeve ser interpretado no sentido de que apredisposição às alterações genéticas dafertilidade seja de tão pouca intpartânciaque possa ser í.gnorada",

PEREIRA(1983) pondera que uma baixaest imat iva de herdabi.Li.dade 1k1:0implicanecessariarrente em pequena var iânc iagenética adí.t iva, pr inci.palnente sendo ascondições arrbientais mií. to variáveis, oque resulta eu var iânci.as fenotípicasgrandes e herdabi.Li.dades pequenas.

REIS (1983) lerrbra ainda que os va-lores baixos encontrados para esseparârretro podem ser devidos a outros fato-res, caro a utilização de rretodologia ina-dequada, falta de precisão das rredi.das enÚITeroinsuficiente de observações.

HATERIALE HÉrODOS

Foram utilizados dados da vida re-produtiva de um rebanho da raça holandesapreta e branca pertencente a urna ~azendapart icul.ar sí.tuada em Pindarronhanga' SP,coletados entre 196L~ e 1978.

Durante o per íodo estudado, as vacaseram subret idas a condições satisfatóriasde al irrentação e manejo (maiores detalhessão descritos por FREITAS,1981).

As análises estatisticas foram rea-lizadas pelo rrétodo dos quadrados míninos ,

utilizando-se o prograrrta descrito por HAR-VEY(1977), (L..C;HL76).

O rrodelo estatístico usado foi o se-guinte:

Y.. = jl + a. + b .. + F + e].jkl, r, ]..1 k ijkl

onde,

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Y.. . = intervalo entre partos;1..JkL .

p = nédia geral;

a. = efeito de touro (aleatório);1.

b, . efeito de vaca: touro (aleatório);1-.1

Fk

= grupo de efeitos fixos: ano e nêsde parição e idade da vaca (efeitolinear e quadrát ico},

e. . = erro aleatório.Ljkl.

A estimativa de herdabilidade foiobtida através da correlação entre m=ias-irmãs paternas. A est inat iva de repetibi-lidade foi obtida pela correlação intra-classe entre as observações da rresmavaca.

RESln~TAJ:X)SE DISCUSSÃO

A n~dia estimada por quadrados m{ni-nos para o intervalo entre partos foiL~19,03 ± 1,91 dias. Esse resultado é bas-tante satisfatório e corresponde a catorzeneses; o valor é considerado ideal para as

regiões tropicais, principalnente levando-se em conta que a nédia de produção deleite do rebanho no período estudado foide L~.3.% kg (FREITAS,1981), e que altasproduções de leite constanterrente estãoassociadas a intervalos entre partos lon-gos, segundo diversos autores.

() quadro 1 nost.ra a análise de va-riância para essa característica. Verifi-ca-se que o ano e nês de parição represen-tam importantes fontes de variação. ()quadro 2 rrostra tendência de diminuiçãonos intervalos entre partos, ano a ano, apartir de 1973, devido, provavelnente, ànelhoria das condições de manejo e inícioda prática de descarte de vacas cem pro-bl.emas reprodutivos no final do períodoestudado.

Quanto ao nâs de parição, os nenoresvalores foram observados para os arumai.s

que par i.ram entre fevereiro e seterrbro, oque talvez possa ser explicado pelo fatodas vacas paridas nesse período terem sidoinseminadas entre maí.o e dezenbro , commaior concentração de anímai.s i.nsemi.nados

entre junho e outubro, época em que ascondí.ções cl ímáticas vigentes (t.emperaturaarrbiente, precipitação pluvial e umidaderelativa do ar) são favoráveis aos arumaa.sdas raças européias. ALémdisso, o rebanhoestava subnet ido a uni manejo intensivo,recebendo supl.errentação adicional nos rre-ses de invenlo, sem problemas, portanto,de restrição al.inentar , COllDJIlSnessa fasedo ano. Vale nenci.onar ainda que existeunn tendência entre os criadores paraconcentrar os nascinentos na época daseca, ocasião em que são estabelec idas ascotas de paganento do leite pelascooperativas. Isso pode ser observado noquadro 2, o qual nost.ra que o minero deobservações nos neses citados é superioraos demai.srreses do ano.

A idade da vaca não influenciou sig-nificantenente essa característica, crrra-r iando o esperado, uma vez que trabalhosrealizados em regiões tropicais reportem

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que a involuçâo uterina e o restabeleci-nento do ciclo estral se tornam mai.s deno-rados com o avançar da idade. Isso leva asupor que a vida reprodut iva das vacas dorebanho estudado Ik1:0 sofreu grandesvariações como aunento da idade, prova-velrrente devido ao alto nível de al inenta-ção e ao manejo cuidadoso dispensados aosammai.s,

A est imativa de herdabi.l í.dade e res-pectivo erro-padrão para o intervalo entrepartos foi 0,05 ± O,OLf. Observa-se queesse valor é mri.to baixo, sí.gni.Eí.cando, apr inc ipi.o , que ma seleção feita com oobjetivo de nelhorar a característica te-na uma resposta mii.to pequena. Contudo,alguns aspectos deverrlser considerados.

Toma-se difícil fazer af i.rrrações arespeito dessa est imativa de herdabi.Li.dadeunn vez que essa característica é altarren-te influenciada por fatores arrlbientes, cu-jos efeitos são dific i.lrrente isolados de

rmnei.ra satisfatória nas anál i.ses de vari-ânci,a, ocasionando erros nas est imativasdos componentes de variância de touro.

Corrosalienta REIS (1983), as baixasestimativas de herdabil.idade encontradaspara as características rel.ac ionadas àeficiência reprodutiva são, em sua grandem"lioria, observadas em rebanhos altarrenteselecionados, o que faz cem que hajadiminuição na variabilidade genética. Tal-vez em populações Ik1:0 selec ionadas , queconst i.tuem a mai.or parte dos nossosrebanhos , uma seleção para essascaracterísticas fosse, de certo rrodo, efi-caz.

Por fim, ainda que uma seleção_, errltemos popul.aci.onai.s, não seja preconizadapara os caracteres reprodutivos, não sepode esquecer que outros rrecaru.snosgenéticos estão envolvidos na- sua expres-são. Assim, o descarte de fêneas deveria

Quadro 1• Análise de variância pelo método dos quadrados mínimos para intervalo entrepartos

Fontes de variação Graus de Intervalos entre partos Períodos de serviço1iberd ade Quadrados s Quadrados s

médios médios

Touros 81 3.766,52 0,07 3.808,81 0,05Vaca:touro 367 2.970,25 0,00 2.919,02 0,00Ano 12 10.111,80 0,00 12.249,09 0,00Mês 11 10.947,70 0,00 10.905,10 0,00Idade da vaca

Efeitos: 1inear 1 871,26 0,57 1.511,53 0,45quadrático 1 2.029,54 0,39 1.013,13 0,54

Resíduo 1.189 2.765,11

s nível a partir do qual o efeito é considerado significativo.

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Quadro 2. Médias ajustadas por quadrados minimos(dias) para o intervalo entre partos(IEP) de acordo com o ano e mês de pa-rição

IEPFontes deVariação N Médias Erros-padrões

Anos

1965 47 424,24 8,041966 47 404,68 7,961967 56 411,43 7,321968 74 409,96 6,311969 89 421,83 5,881970 95 434,15 5,661971 145 430,48 4,741972 142 437,48 4,641973 149 421,01 4,501974 223 415,40 3,821975 234 416,17 3,691976 222 410,90 3,821977 140 409,69 4,80

Meses

Jan. 137 427,87 4,80Fev. 107 406,76 5,33Mar. 196 413,33 4,22Abr. 167 410,79 4,40Maio 163 412,58 4,45Jun. 145 411,64 4,68Jul. 177 409,60 4,20Ago. 141 413,49 4,67Set. 122 418,11 5,02Out. 105 432,45 5,44Nov. 100 434,89 5,55Dez. 103 436,89 5,47

Totais 1.663 419,03 1,91

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ser feito visando a diminuir os altos va-lores observados para esses caracteres napopulação.

'.

A estimativa de repetibilidade e seu-respectivo erro-padrão foi 0,03 ± 0,02.Observa-se que o coeficiente de repetibi-lidade foi inferior ao de herdabilidade, oque, teoricarrente, não poderia ocorrer, jáque a repet ib il idade representa o valormáxirm da herdabi.l idade , ou seja, a

1. A nédia obtida para intervalo en-tre partos pode s~r considerada razoávelpara as condições tropicais. Não se podeesquecer, entretanto, que esse resultadofoi obtido a partir de dados pertencentesa umrebanho diferenciado em ternos de ma-nejo em relação à maior-ia das criaçõesexistentes em nosso neio, pois um dossenos problemas da pecli<'Íria leiteiranacional são os altos valores observados

herdabilidade é, no máxino, igual à repe-tibilidade.

Contudo, é difícil tentar explicaresses resultados can valores tão próxirrosde zero. Talvez a rretodologia utilizadanão tenha sido totalmente adequada e veri-fica-se, na literatura, que não é rara aobtenção de valores negativos- ou maí.oresdo que 1 para herdabilidade, ou outros re-sultados não esperados quando se analisamparânetros genéticos e fenotipicos decaracterís ticas reprodutivas.

CONCLUSÕES

para as características Ligadas à ef ic iên-na reprodutiva.

2. Quanto aos baixos valores encon-trados para as estimativas de herdabilida-de e repetibilidade, deve-se lembrar queembora não e possa preconizar urrn seleçãomassal para os caracteres reprodutivos,não se pode esquecer que outros rrecaru.s-mos genéticos estão envolvidos na suaexpressão.

SUMMARY: 1663 reproductive registers, collected between 1964 and 1978 werestudied, to evaluate the effect of some environrnental factors on calving interval of Hol-stein-Friesian cows and to estimate the heritability and repeatability of this trait. The 0-

verall rnean, standard deviation and variation coefficient were respectively 15.5 ±- 54.7days and 13.2%. Through the analysis ofvariance it was verified that year and rnonth ofcalving significant1y affected the calving interval. The heritability and repeatabilitystimates were respectively 0.05 ± 0.04 and 0.03 ± 0.02.

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