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FOLHA DIRIGIDA - Especial dia do Professor

A maior das riquezasEntrevista polmica: "pesquisa uma inutilidade pomposa" Fundador da Universidade ESTCIO de S, Joo Ucha Cavalcanti Netto aborda COM FRANQUEZA temas polmicos e diz que A ignorncia pode ser uma opo que tem de ser respeitada Os conceitos sobre educao do fundador da universidade que mais cresceu no pas nas ltimas trs dcadas so, no mnimo, polmicos. Juiz de formao e discpulo do banqueiro Amador Aguiar, de quem foi office boy e "pajem", Joo Ucha Cavalcanti Netto, 68 anos, acha que a ignorncia um opo que deve ser respeitada e que a pesquisa uma "inutilidade pomposa". Entretanto, est frente de uma universidade que tem 90 mil alunos e 30 unidades espalhadas pelo pas, nmero que, em maro de 2002, estar defasado, se o projeto de implantao de uma filial da Estcio de S alm das fronteiras brasileiras obtiver xito. Quem tem formao apurada no chega ao topo do comando de sua universidade, uma gigante do ensino fundada em 1970 com 160 alunos de Direito e que, hoje, abriga uma comunidade de cerca de 150 mil pessoas, entre alunos, funcionrios e professores. "Na cpula da Estcio quem tem mestrado e doutorado no entra. Isso uma regra". E esta apenas uma, das muitas tiradas de impacto de Ucha, um empresrio que atribui o xito sorte e que, sem rodeios, admite seu desinteresse pela educao, pela cidadania e pelo Brasil. "Eu estou interessado na Estcio". FOLHA DIRIGIDA : O MEC inaugurou sistemas de avaliao nos dois ltimos governos que tm dado uma nova diretriz, novas referncias para o ensino superior. Qual o impacto do Provo sobre as universidades? -> Plano Nacional de Educao: uma lei para a incluso social -> Os professores perguntam e o ministro responde -> A gesto de 1.029 escolas, com 700 mil estudantes -> Entrevista polmica: pesquisa uma inutilidade pomposa -> Os problemas do vestibular e a angstia da juventude -> Um instrumento para a busca de melhor qualidade no ensino -> Novo foco: a formao continuada

Joo Ucha. Fundador da Universidade Estcio de S JOO UCHA : Eu acho que o Provo uma avaliao que precisava ser feita. Algum precisava avaliar. Eles escolheram o Provo. o melhor critrio? Se no for, com o tempo vai ser aperfeioado. Agora, que no existia critrio nenhum de aferio, no existia, e agora existe, o que muito bom. A melhor coisa que o setor privado pode querer ser sempre avaliado pelo setor pblico, pois quando o MEC avalia o nosso trabalho, ele est nos prestando um servio, que o de fiscalizao. Eu preciso de um fiscal, o MEC de graa, e ele est fiscalizando para mim. o melhor critrio? No, deve haver 10 mil critrios melhores e 20 mil piores. Mas um critrio e, para quem no tinha nenhum, um passo. muito comum a gente ser negativo e destrutivo. Onde no existia nada e passa a existir alguma coisa melhor do que quando no existia nada. Sobretudo quando a gente gostaria de ser fiscalizado, como o nosso caso. FOLHA DIRIGIDA : Qual o principal problema enfrentado hoje pelas instituies privadas de ensino? JOO UCHA : Eu acho que o problema o de qualquer ramo da atividade privada, que melhorar a qualidade do produto, ser cada vez melhor. O que eu acho que est havendo mesmo que, num mundo que est todo ele em transformao, o ensino tambm est em transformao, mesmo que a gente no queira e no saiba para onde ele est se transformando. Mas esta a dificuldade normal de quem faz alguma coisa. Quem faz alguma coisa tem que encontrar alguma dificuldade e ns encontramos a dificuldade da natureza. Eu diria que so dificuldades da natureza. Ns precisamos melhorar o ensino, que o nosso produto, e adequ-lo a um mundo que muda todo dia. Como fica difcil todo dia ter uma coisa adequada, esta a dificuldade do ensino. FOLHA DIRIGIDA : E como a Estcio tem feito para se ajustar ao ritmo imposto pela novas tecnologias? JOO UCHA : Trabalhando 24 horas por dia. Trabalhando sbado, domingo, todo mundo trabalhando intensamente. A hora que voc chegar vai estar todo mundo trabalhando. a nica coisa que a gente podia fazer: prestar ateno e trabalhar. o que a gente tem feito. FOLHA DIRIGIDA : Em qual dimenso as novas tecnologias tm auxiliado a Estcio no desenvolvimento de seu trabalho? JOO UCHA : Eu no tenho computador, eu no tenho telefone celular, eu no tenho aparelho de som sofisticado, eu no tenho fax. Eu no tenho nada disso porque no gosto, mas a Estcio tem. Aqui dentro da minha sala eu no gosto, no uso e no acho necessrio. FOLHA DIRIGIDA : A tecnologia no faz falta no desenvolvimento do seu trabalho frente de uma grande universidade? JOO UCHA : Eu no s acho que no faz falta. Eu acho que atrapalha. Eu acho que muito ruim. Eu acho que quando eu era moo a dificuldade era colher informao. A gente no tinha muito onde se informar. Hoje, que eu estou ficando velho, a dificuldade eliminar informao. H uns caras a com computador que tm um bilho de informaes para ele, s que ele no precisa. Quando vem a informao que ele precisa mesmo, no tem mais espao na cabea dele. Est tudo lotado. Ento eu acho que no precisa disso. claro, eu preciso de um computador para cadastrar gente, e isso eu tenho. Alis, eu acho que a Estcio, no Rio de Janeiro, a instituio de ensino que tem os mais sofisticados equipamentos. Acho que nenhuma faculdade igual nossa em sofisticao. Eu acho que para execuo, para operao, essa tecnologia importante, at para o ensino. Para o uso dirio, para a administrao superior, eu acho que daninho, ruim. Quando eu vou conversar com outro empresrio e ele abre um laptop, eu j acho que ele de segundo time. FOLHA DIRIGIDA : O desempenho do Brasil muito baixo nos indicadores educacionais e ainda h um volume preocupante de analfabetos. O que pode ser feito para mudar esse quadro? JOO UCHA : O analfabetismo no um problema com o qual eu lide. Por exemplo, eu acho que se o Brasil amanh

http://www.folhadirigida.com.br/professor2001/cadernos/maior_riqueza/5.html[25/10/2011 11:18:00]

FOLHA DIRIGIDA - Especial dia do Professorcomear a ter muita gente fazendo mestrado, doutorado, ps-doutorado, MBA, eu acho que vai ser muito. Acho que pssimo para o pas e para as pessoas. um mito que todo mundo precise estudar. Isto no verdade. A pessoa pode ser analfabeta e ser uma pessoa muito expressiva, muito inteligente, muito bem sucedida. E pode ser um ps-graduado e ser uma besta completa. Eu no acho que seja necessrio esse estudo todo. FOLHA DIRIGIDA : A educao no faz falta? JOO UCHA : A educao mnima ofertada faz falta, mas no para todos. Eu trabalhei com o Amador Aguiar, que fez o Bradesco e no tinha o segundo grau. Para ele no fez falta. FOLHA DIRIGIDA : No so excees? JOO UCHA : Mas exceo existe, tambm conta. E se ele tivesse o segundo grau? Talvez no fizesse o Bradesco, fosse advogado do Bradesco. Eu acho que essa questo de educao muito exagerada. Teve um menino em So Paulo, estudante de Medicina, que pegou uma metralhadora e metralhou todo mundo num cinema. A foram interrogar o pessoal na rua, vira uma senhora e diz enquanto no houver educao no Brasil.. O cara fazia Medicina. Eu acho que j um jargo. Educao, sade, transporte... H frases que as pessoas ficam falando e no sabem por qu. Se voc chega no Nordeste, em certas regies, tem um menino trabalhando com 12 anos, e minha origem de l, a vem o cara com a educao e diz que ele tem que ir para o colgio. No tem que ir para o colgio no. Ele pode no ir para o colgio e estar muito bem. FOLHA DIRIGIDA : O analfabeto analafabeto porque quer? JOO UCHA : No, no analfabeto porque quer, como s vezes, a gente tambm no advogado porque quer. Como o meu caso, eu no me formei advogado porque quis, eu arranjei emprego no Frum e acabei indo para Direito. Mas, se em vez do Frum, fosse para o Ministrio da Marinha, talvez hoje eu fosse um oficial da Marinha. Esse livre-arbtrio muito relativo. E acho que o cara no ignorante porque quer, mas quem disse que ele quer ser culto? Ele pode no querer ser culto e a gente vai l e quer obrigar que ele seja culto. E se ele no quiser? Ns temos que impor, porque ele tem que querer. Onde j se viu no querer estudar? Mas o cara tem direito de no querer estudar. Eu tenho quatro filhos e s um que se formou, trs no se formaram, no senti nada, no aconselhei nenhum a estudar. Se nenhum quisesse estudar, para mim tambm era muito bom. O cara est a para levar a vida que ele gosta, para ser feliz do jeito que ele gosta, a realidade da vida no estudar. Estudar uma opo, quem quiser faz, quem no quiser no faz e no fica pior porque no fez. FOLHA DIRIGIDA : As pesquisas de desenvolvimento tambm revelam que muitas doenas letais esto associadas falta de educao. JOO UCHA : O que eu conheo de escravo com 120 anos, a maioria tudo ex-escravo, 120 anos. Outro dia no Peru tinha um com 156 anos, um ndio peruano. Agora, o que tem de empresrio morrendo aos 40 anos de enfarte... uma mentira. Essa pesquisa mentira. Quem o enfarte mata? Cara bem-sucedido. No acho que d mais doena no pobre do que no rico, nem acho que o rico se trate melhor do que o pobre, porque eu acho a Medicina to ruim hoje, que o rico no leva vantagem nehuma. Cada um tem sua cabea e eu estou sendo franco dizendo a voc o que eu penso. FOLHA DIRIGIDA : Em 30 anos a Estcio passou de 166 alunos para 90 mil e, hoje, uma das universidades que mais crescem. Qual a receita deste sucesso? JOO UCHA : Eu acho que a gente trabalha muito e tem um regime de trabalho com muita independncia, muito pouco centralizado. Eu acho que ela cresce porque eu no centralizo. Eu acho que essa distribuio do poder dentro da Estcio faz ela crescer. Aqui no tem um comando central, muito distribudo. Temos uma maneira de trabalhar que muito peculiar da Estcio. possvel que tenha sido isso que fez a gente crescer, ou ento, pode ser que seja sorte. FOLHA DIRIGIDA : Qual o significado da palavra sorte no dicionrio dos negcios? JOO UCHA : Existe sorte em tudo, nos negcios, na sade. Pode ser o nosso caso. Pode ser que a gente tenha crescido por acaso. E a eu fico atribuindo a essa ou aquela causa. Pode ser por uma causa que eu ignoro, pode ser que a gente cresa por uma coisa que eu nem sei direito por que foi, mas a verdade que cresceu mesmo e foi a que mais cresceu. FOLHA DIRIGIDA : O que levou o senhor a transferir seu campo de interesse da Justia para a educao? JOO UCHA : Eu no me interessei pela educao e nem acho que eu seja uma pessoa muito interessada em educao. Eu sou interessado na Estcio de S, isso que importante. Estou interessado no Brasil? No, no estou interessado no Brasil. Na cidadania? Tambm no. Na solidariedade? Tambm no. Estou interessado na Estcio de S. FOLHA DIRIGIDA : A Estcio de S no cidad, no solidria, no brasileira? JOO UCHA : A Estacio de S uma instituio que quer dar o melhor ensino possvel s pessoas, para elas fazerem desse ensino o uso que quiserem. Isso a Estcio de S. FOLHA DIRIGIDA : As universidades privadas no se destacam em pesquisa. Por qu? Como so as relaes da Estcio com a pesquisa? JOO UCHA : As pesquisas no valem nada. A gente olha todo mundo fazendo tese, pesquisa e tal, mas no tem nenhuma sendo aproveitada, rarssimo, uma inutilidade pomposa, uma perda de tempo federal. Aquilo ali vai dar um monte de ttulo para o cara, ele vai arrumar um emprego bom e vai trocar cartozinho com o outro que pesquisa tambm e fica aquela troca de reverncia, para um lado e para o outro, mas a pesquisa em si no vale nada. As faculdades privadas no fazem pesquisa porque no querem jogar dinheiro fora. Estou hoje trabalhando muito, a gente estava com 137 pesquisas em andamento, no tinha uma que prestasse. Parei todas elas e vamos comear a fazer pesquisa til. E o que pesquisa til? aquela que pode ser aproveitada pelo homem comum.

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