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Mapeamento de Baixo Guandu Estação Cultural

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Mapeamento de Baixo Guandu

Estação Cultural

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Estação Cultural

Textos Júlia MottaFotos Marcela Pin

Mapeamento de Baixo Guandu

Rio de Janeiro2017

100 páginas. Tiragem: 300 exemplares. Distribuição gratuita.

Motta, Júlia, 1981-Estação Cultural: Mapeamento de Baixo Guandu / Júlia Motta.

- Rio de Janeiro : Movida Produções, 2017. 108 p. ; 21 x 15 cm.

ISBN 978-85-94408-00-6

1.História do Brasil 2. Etnologia 3.Cultura 4.Mapeamento Cultural 5.Espírito Santo 6.Baixo Guandu I. Título

CDD 300

CIP - Brasil. Catalogação-na-fonteSindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ

© Fundação ValeTodos os direitos reservados.

1ª edição2017

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Com base no princípio de que todo cidadão tem

direito à cultura, a Fundação Vale busca contribuir para a

democratização do acesso aos bens culturais, valorizando o

patrimônio material e imaterial brasileiro. Nesse contexto, atua

na implantação e gestão de equipamentos culturais e projetos

que colaboram com o desenvolvimento dos indivíduos e da

sociedade.

Esta publicação é fruto do comprometimento da Fundação

em contribuir com a valorização da identidade cultural de

locais onde a Vale está presente. Para sua realização, foram

mapeadas algumas manifestações culturais do município de

Baixo Guandu, no Espírito Santo, além da mobilização dessas

pessoas para contar suas histórias.

Esperamos que a publicação Estação Cultural: Mapeamento

de Baixo Guandu contribua para o reconhecimento da

identidade cultural do município e que sua população se

perceba como parte dessa identidade.

Apresentação Índice

Transver a cidade

História de Baixo Guandu

Memória de algum lugar

ArtesanatoArtes VisuaisMúsicaEquipamentos CulturaisFeiras e MercadosSaboresFestas e EventosLazer

78

101434385464728092

Fundação Vale

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Estação Cultural: Mapeamento de Baixo GuanduEstação Cultural: Mapeamento de Baixo Guandu

É no cair da tarde das quintas-feiras que os guanduenses têm um

encontro marcado: a Praça São Pedro, no Centro da cidade. Lá é

possível escutar a risada das crianças brincando no parquinho,

onde os jovens – de idade e de espírito – se desafiam em partidas

de vôlei de areia. Nesse mesmo local, as pessoas consideradas

da melhor idade dividem-se entre dominó e bocha. Outros já

preferem sentar para comer, beber e jogar conversa fora. É onde

os moradores vão fazer feira. Sim, uma feira noturna para aliviar o

calor. Música é outro elemento que não pode faltar nesse encontro:

uma expressão cultural presente no conjunto da cidade, que é

embalada por diversos sons.

Manoel de Barros, em seu Livro sobre o Nada, destaca que

“o que o olho vê, a lembrança revê e a imaginação transvê”. Nas

páginas a seguir, um convite para “transver” a cultura de Baixo

Guandu, que tem na selaria e na cavalgada outro ponto forte. A

partir dessa leitura, é possível descobrir um pouco mais sobre as

manifestações culturais do município, suas personagens e suas

histórias – que se confundem com a própria história do local.

Estação Cultural : Mapeamento de Baixo Guandu é o resultado

de um trabalho de pesquisa de campo que identificou oito áreas:

artesanato, artes visuais, música, equipamentos culturais, feiras e

Transver a cidade

mercados, sabores, festas e eventos e lazer. Dentro desses setores

mapeados, foram catalogados 31 itens a partir de dezenas de

entrevistas com moradores, representantes do governo e equipe

técnica tanto do governo municipal quanto estadual.

Por estas páginas será possível viajar por uma cultura rica e

singular do município capixaba e deixar a imaginação transver.

Este mapeamento cultural dá visibilidade a diversas tradições,

costumes, pessoas e crenças. Cria a possibilidade de um encontro

de seus moradores com sua história e consigo mesmos. Torna-se

uma ferramenta importante para a gestão da política pública. É um

legado não só para a cidade mapeada, mas para a cultura do país.

Gera um espaço de significações e ressignificações da identidade

de um local, servindo de modelo para outros municípios.

E, para esses fazedores de cultura, este livro torna-se uma

ferramenta para novas propostas de projetos de lei que valorizem

essas manifestações e facilitem o acesso a elas. É preciso estimular

mais a articulação dos grupos entre si para que eles se reconheçam

como cultura e passem a atuar em conjunto para reivindicar pautas,

melhorar a divulgação de suas atividades e fornecer subsídios para

alcançar maior visibilidade e reconhecimento.

É preciso transver Baixo Guandu! Boa leitura.

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Estação Cultural: Mapeamento de Baixo GuanduEstação Cultural: Mapeamento de Baixo Guandu

O povoado que deu origem ao município de Baixo Guandu

começou a se formar em 1866, quando chegaram ao local o major

veterano da Guerra do Paraguai José Vieira de Carvalho Milagres

e seu filho Francisco de Carvalho Milagres, ambos fazendeiros

em Cantagalo, no Rio de Janeiro. Eles fixaram-se nas terras que

margeavam os Rios Guandu e Doce e, em 1872, trouxeram

em definitivo seus familiares para o local, tornando-se grandes

empreendedores no comércio e na navegação do Rio Doce.

Antes do major e de seu filho se estabelecerem no que hoje é

reconhecido como Baixo Guandu, há registros de outras tentativas

de permanência na localidade. No entanto, houve muita defesa

dos índios que viviam à margem do Rio Doce: os botocudos. Eles

resistiram durante décadas à tentativa de colonização do Rio Doce,

mas foram duramente perseguidos e mortos depois que o governo

de dom João VI resolveu efetivamente fazer a ocupação da região.

1 In: Revista Baixo Guandu – Edição Especial 150 Anos de Colonização, abril/2016.

O território passou por uma violenta tentativa de pacificação para

que pudesse se tornar uma aldeia destinada a abrigar viajantes e

comerciantes. Esse processo contou com o apoio político e militar da

coroa portuguesa, numa campanha conhecida como Aldeamento

do Mutun. O Quartel do Porto de Souza foi construído próximo à foz

do Rio Guandu, e, em 1813, duramente atacado e destruído pelos

índios. Em apenas um século, entre 1800 e 1900, os botocudos foram

praticamente dizimados da região do Vale do Rio Doce.

A colonização do local, iniciada pelo major Milagres, teve

sua base sedimentada no trabalho de imigrantes europeus de

várias procedências no núcleo colonial de Afonso Pena, hoje

Ibituba, um dos distritos de Baixo Guandu. Em 1879, o Rio Doce

viu surgir a navegação a vapor, impulsionando o comércio de

produtos, como fumo, toucinho, carne-seca, mel e café.

No entanto, a partir de 1907, com a chegada da Estrada

de Ferro Vitória a Minas, as marias-fumaças tornaram-se um

novo meio de transporte de mercadorias muito mais rápido e

econômico. Como consequência, houve o declínio da navegação

pelo Rio Doce. Esse novo ciclo também é exemplo do processo

de urbanização que acompanha esse crescimento. A aldeia foi

povoada por imigrantes europeus (italianos, franceses e espanhóis)

que vinham ao Brasil em busca de empregos e terras. “Os colonos

2 “Em 1859, criou-se a mando de dom Pedro II o chamado Aldeamento do Mutum, situado na foz do Rio Mutum Preto, cujo objetivo era catequizar os indígenas, que pouco tempo mais tarde foi desativado devido à precariedade e a ataques dos próprios índios. Apesar disso, aos poucos os nativos passaram a se familiarizar com a civilização”. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Baixo_Guandu, acessado em 2 de abril de 2017.3 In: Revista Baixo Guandu – Edição Especial 150 Anos de Colonização, abril de 2016.4 In: EFVM – Diagnóstico Integrado em Socioeconômica da Estrada de Ferro Vitória a Minas. Dimensão Histórico-Cultural. Junho de 2008.5 Disponível em: http://www.pmbg.es.gov.br/v1/?, acessado em 4 de abril de 2017.

estrangeiros se estabeleceram no Vale do Guandu e outros no

Ribeirão do Lage. Em ambas as margens, há, ainda hoje, sinais

marcantes da herança europeia no município.”

Em 1891, Baixo Guandu foi elevado a distrito de Linhares e,

em 1915, tornou-se sede do município. No ano de 1921, passou

a pertencer a Colatina, que havia se tornado independente

em agosto do mesmo ano. Em 1934, foi criada uma comissão

pró-emancipação de Baixo Guandu, que iniciou um intenso

trabalho junto ao governo do estado. A oficialização aconteceu

em 10 de abril de 1935.

Baixo Guandu localiza-se a 186 quilômetros da capital

do Espírito Santo, Vitória. Sua área é de 916.931 quilômetros

quadrados e a cidade é constituída de cinco distritos: a sede

Baixo Guandu, Alto Mutum Preto, Ibituba, Km14 do Mutum e

Vila Nova de Bananal.

História de Baixo Guandu

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Por Adriana Facina6

As casas tão verde e rosa que vão passando ao nos ver passar

Os dois lados da janela

E aquela num tom de azul quase inexistente, azul que não há

Azul que é pura memória de algum lugar (Caetano Veloso, Trem das Cores)

Quem chega de trem a Baixo Guandu, em dia de imenso azul

no céu e sol forte, não imagina que sua história se iniciou com

um violento esforço de pacificação dos indígenas que viviam às

margens do Rio Doce. A resistência dos botocudos às tentativas

de colonização de suas terras durou décadas. Dizimados os

povos originários, no século 19 as terras foram ocupadas por

trabalhadores imigrantes europeus de várias procedências. A partir

de 1907, com a inauguração da Estrada de Ferro Vitória a Minas,

mais colonos europeus chegaram à região e houve um processo

de urbanização fruto do crescimento econômico e populacional.

6 Adriana Facina é graduada e mestre em história, com doutorado e pós-doutorado em antropologia social. É professora no Museu Nacional/UFRJ e no PPCULT/UFF. Pesquisa produção cultural e criação ar-tística, principalmente a realizada em favelas e periferias. Coordena a Universidade da Cidadania, órgão do Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ. Publicou os livros Santos e Canalhas: Uma Análise Antropológica da Obra de Nelson Rodrigues, Literatura e Sociedade, Vou Fazer Você Gostar de Mim: Debates sobre a Música Brega e Poesia Favela, Acari Cultural: Mapeamento da Produção Cultural em uma Favela da Zona Norte do Rio de Janeiro.

Memória de algum lugar

Emancipado em 1935, hoje o município de Baixo Guandu possui

cerca de 32 mil habitantes, 77% deles vivendo em área urbana.

Apesar dessa predominância da população urbana, a cultura

de Baixo Guandu tem forte referência rural. A arte da selaria,

que garante beleza e segurança para cavaleiros e amazonas,

é importante no município. As oficinas são familiares e os

ensinamentos do ofício são transmitidos pelos mestres mais

velhos aos aprendizes, que organizam seus negócios com suas

famílias. Assim também ocorre com a olaria, outra tradição

artesanal do lugar. Mas a selaria possui relação com atividades

de lazer e eventos importantes no município: as cavalgadas, o

Baixo Guandu Rodeio Show e a Festa dos Trabalhadores Rurais de

Ibituba. Todas essas práticas são baseadas em devoção ao sagrado

ou festas profanas, onde fé, viola, bebida e jogos se misturam.

A música sertaneja embala essas ocasiões de festejos e lazer,

mas também está muito presente no cotidiano do município. No

entanto, nem só de sertanejo vivem os cidadãos guanduenses.

A cidade tem forte e diversificada tradição musical: seresta, bandas

de heavy metal, forró, música erudita, a Banda Municipal Lyra

Guanduense (com mais de 50 anos de existência) e as fanfarras.

Das 14 escolas municipais, 12 possuem fanfarras, além de

duas escolas estaduais e uma particular. Elas desfilam no dia

7 de Setembro pela cidade, num grande festejo musical. A

disseminação dessas fanfarras nas escolas do município faz

com que quase todos os seus cidadãos tenham contato com

instrumentos e teoria musical. Todas as quintas-feiras, durante a

Feira Municipal, a força dessa tradição musical de Baixo Guandu

pode ser percebida nos shows que acontecem na Concha

Acústica da Praça São Pedro. Essa praça é a principal da cidade,

onde se situa a Igreja Matriz. A feira ocupa os arredores da praça

pública, que se transforma num local de encontro, conversa, lazer,

trocas entre os moradores, principalmente de noite, quando o

forte calor de Baixo Guandu fica mais ameno.

A Concha Acústica faz parte do conjunto de equipamentos

culturais da cidade, alguns de grande valor histórico, mas

ameaçados pela conservação precária. Um exemplo é o Canaã

Clube, inaugurado em 1953 e palco de grandes Carnavais de

clube, algo em extinção por todo o país. Sua arquitetura é original:

pedras, tijolos queimados, madeira de lei e telhas francesas

compõem o conjunto. Hoje é sede de bailes da terceira idade e de

ensaios da Banda Municipal Lyra Guanduense.

O Casarão da Madame Albertina é outro desses equipamentos

culturais importantes para a memória do município. De propriedade

de uma família de imigrantes alemães, o casarão foi erguido em

1919, próximo à estação ferroviária. Sua dona, madame Albertina,

era uma grande comerciante local. A prefeitura adquiriu o imóvel

em 2006 e pretende transformá-lo em museu. A família de madame

Albertina também foi uma das responsáveis pela construção do

Cine Alba, incrível cinema construído em 1954 pelas famílias Holz

e Kunkel. Muito moderno para sua época, a sala contava com 800

lugares e hoje se encontra abandonada, à espera de restauro.

Essa convivência do moderno e do tradicional faz parte da

cultura de Baixo Guandu. Se a cavalgada é o principal lazer de

muitos de seus moradores, o lugar também é uma referência

nacional do parapente, esporte contemporâneo de aventura.

Seus praticantes desenvolvem atividades de lazer e sociabilidade

na sede construída por eles próprios.

O fazer cultural autônomo é uma prática comum em Baixo

Guandu, o que envolve diversos mecanismos de autofinanciamento.

São poucas as manifestações culturais do município que

contam com recursos financeiros públicos expressivos.

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Uma prática importante é a do bingo, ou binguinho, como

dizem os moradores. O jogo, além de uma diversão em si, é

também utilizado para arrecadar fundos para a manutenção de

instrumentos musicais das fanfarras, uniformes etc. Sua prática

também é associada às várias festas religiosas da igreja católica,

gerando recursos para ajudar pessoas doentes ou as pastorais. É

uma forma de financiamento popular e solidário desenvolvida

pela população de Baixo Guandu.

Percebemos a mesma autonomia e autogestão nas histórias

de feirantes, comerciantes do Mercado Municipal e produtores

dos sabores de Baixo Guandu. Como a aguardente de manga

produzida pela família Fleger Raasch, utilizando o excedente não

comercializado da fruta para produzir uma bebida original que se

tornou típica do lugar. A fábrica de doces Ilha da Fantasia também

surgiu de uma criativa iniciativa familiar, em que a necessidade

de encontrar opções de sobrevivência levou ao desenvolvimento

de um saber culinário em permanente aperfeiçoamento. Hoje,

a pequena fábrica chega a produzir 5 mil peças de rapadura e

doce de leite por mês, garantindo o sustento da família de Djalma

Galdino de Almeida e Ilza Frederico.

Produzir cultura é também criar memória. Essa tem caminhos

que não são lineares como os trilhos de um trem. São tortuosos

e espiralados e fazem reviver o passado de modo inesperado.

Talvez isso explique o fato de o brout, pão típico produzido pelos

descendentes dos pomeranos, ser feito de fubá. Os pomeranos são

europeus de uma região, a Pomerânia, situada entre a Alemanha e a

Polônia. Seu idioma praticamente desapareceu da Europa e o Brasil

é um dos únicos lugares do mundo onde ainda se fala pomerano

e no qual suas tradições são mantidas. Entretanto, o pão pomerano

de Baixo Guandu é feito de fubá, farinha derivada do milho plantado

originariamente por indígenas da América Latina. Se a massa do

saboroso pão não apaga o extermínio indígena que acompanhou

a colonização da região, ela traz consigo a memória como algo que

renasce como sobrevivência cultural.

Por isso, as práticas culturais devem ser vistas sempre como

algo complexo, mesmo em seus aspectos aparentemente mais

simples e cotidianos, como jogar dominó na praça e negociar no

Mercado Municipal. Elas tecem formas de vida e de ver o mundo.

Afinal, como afirma Michel de Certeau:

A cultura é uma noite escura em que dormem as revoluções

de há pouco, invisíveis, encerradas nas práticas —, mas

pirilampos, e por vezes grandes pássaros noturnos,

atravessam-na; aparecimentos e criações que delineiam a

chance de um outro dia.

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ArtesanatoSelaria . Cerâmica . Luteria

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Selaria

Quem passa pela Avenida Carlos de Medeiros há pelo

menos cinco décadas reconhece o senhor já de cabelos

brancos, sentado atrás da bancada: é o seleiro Arlindo Jovino

Francisco. Aos 83 anos, seu Arlindo, como é carinhosamente

chamado, é o mais antigo artesão de selas de Baixo Guandu.

Analfabeto, estudou apenas até o 1º ano do ensino

fundamental. O pai morreu aos 57 anos, quando ele

tinha apenas 6. De uma família de 11 irmãos, com uma

deficiência nas pernas, desde criança tinha como objetivo

poder viver da própria renda para não sobrecarregar a

família. “Eu me sentia um parasita, e desde pequeno ficava

preocupado em poder fazer algo e não me tornar um peso

para eles”, relembra.

Com uma tia morando em Afonso Cláudio (ES), mudou-se

para lá e, aos 7 anos, começou a aprender a fazer selas.

Aos 12, pediu emprestado dinheiro à família para montar sua

selaria, mas não conseguiu. Como tinha algumas economias,

comprou couro, fez uns laços de boi e saiu para vender.

Juntou 23 cruzeiros, dos quais usou 15 cruzeiros para comprar

uma máquina de costura e, com os 8 cruzeiros restantes,

comprou mais material.

Em 1952, mudou-se para Baixo Guandu e montou uma

selaria. Com o passar dos anos, o negócio foi prosperando

tanto que ele chegou a fabricar 100 selas por semana e a ter

33 funcionários. Casado com Lucia, adotaram três filhos. Ele se

tornou uma referência em Baixo Guandu e é considerado

o mestre dos seleiros do município.

Arlindo Jovino Francisco

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Genecy Luis Andreatt

De uma família de pedreiros, com pai, avôs e tios trabalhando

em obras, Genecy sempre foi muito franzino e não tinha

forças para o trabalho pesado. A selaria surgiu por acaso em

sua vida. Aos 16 anos, para pagar os estudos de contabilidade,

procurou emprego e a selaria de seu Arlindo tinha vaga. Um

amigo que trabalhava no local o levou lá e, assim, começou

costurando as selas. Trabalhava de dia e estudava à noite.

Quando se formou, aos 18 anos, ficava à noite sozinho

fazendo ele próprio a sela para se aperfeiçoar. Um dia

mostrou para seu Arlindo o resultado de seu trabalho e

ganhou sua confiança para confeccionar ele próprio a sela.

Ficou sete anos trabalhando com seu mestre. “Aprendi

observando bastante e colocando em prática. Nunca fiz

curso. O mais difícil é esticar o assento”, conta Genecy. Já são

três décadas se dedicando ao artesanato de selas – a única

atividade que realizou na vida, tendo atuado por apenas

seis meses como operador de máquina numa fábrica de

chocolate em Vila Velha.

Em setembro de 1991, saiu para montar seu primeiro negócio.

Chegou a pensar em construir uma venda de verduras, mas foi o

próprio seu Arlindo quem o incentivou a abrir uma selaria. Para

ajudá-lo, comprava algumas selas que Genecy produzia.

Começou num salão pequeno, de 16 metros quadrados.

Comprou material para fazer três selas. Uma delas trocou com

um amigo para comprar mais material. Hoje a selaria cresceu e

já ocupa 80 metros quadrados na Rua Terezinha, em São José.

Produz em média três selas por semana, além de bolsas de

couro, cabeças e outros acessórios para a montaria.

Sua casa fica em cima da selaria onde mora com os dois

filhos, que cria sozinho. Jefferson, de 27 anos, tem necessidades

especiais, e Rafael, de 22 anos, é formado em análise de

sistemas. Em 2015, recebeu o título de honra ao mérito da

prefeitura em reconhecimento a seu trabalho e cuidado com

o filho especial. “Minha vida e a dele são uma só. Apenas vou a

lugares em que possa levá-lo”, comenta o seleiro.

Aos 52 anos, Genecy trabalha ao lado do primo e de um

funcionário. Para ele, o que mais desperta o interesse na selaria é

a possibilidade de criar, de inventar algo para as selas. “Gosto de

parar, pensar e propor modelos novos. O couro permite criar muitas

coisas diferentes”, pontua. O seleiro explica que, além da segurança,

a sela deve ter beleza, já que vaqueiros e amazonas costumam

ser vaidosos. “A sela precisa de uma costura boa para garantir a

qualidade e também um couro grosso, retirado do lombo do boi. A

trança é um diferencial das selas que faço”, orgulha-se.

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Estação Cultural: Mapeamento de Baixo GuanduEstação Cultural: Mapeamento de Baixo Guandu

José Hilário Peixoto

No quintal de sua casa, com muitas árvores ao fundo, José

Hilário Peixoto, de 58 anos, trabalha em pé, concentrado

em uma sela, apoiada em uma mesa. Da janela da cozinha, sua

esposa, Cristina de Souza Evangelista, o observa. Companheiros

há 23 anos, pais de três filhos, o casal mantém a Selaria Cristina

– homenagem à esposa –, ativa diariamente.

A história de Hilário é daquelas que poderiam virar filme.

Seu pai teve mais 17 filhos, com três esposas diferentes. Ele

nasceu em Ecoporanga (ES) e a família se mudou para o Rio

de Janeiro. Os pais se separaram e seu pai o trouxe de volta

ao Espírito Santo com apenas 3 anos.

Passou 22 anos sem ver a mãe, até que um dia resolveu

ir ao Rio de Janeiro. Aproveitando o passeio, quis conhecer o

Maracanã e, ao ver uma equipe de rádio, resolveu contar sua

história para pedir ajuda para reencontrar a mãe. Voltou para

Baixo Guandu e, depois de três dias, apareceu uma pessoa que

veio até a cidade capixaba conferir a história. Hilário, então,

voltou para o Rio e foi ao encontro da mãe, que morava em

Caxias. Os dois conseguiram conviver por mais 15 anos, até

o falecimento dela, no início dos anos 2000. Do encontro,

descobriu que possui duas certidões de nascimento, uma com

registro no Rio de Janeiro e outra em Minas Gerais.

Sua história está impressa em seu trabalho. Sua relação

com a selaria é antiga. “Nasci em um seleiro”, brinca Hilário,

que herdou a profissão de seu pai. Aos 8 anos, começou a

trabalhar com ele e fazia suadores. Aos 14 – mesma idade em

que se mudou para Baixo Guandu –, começou a fazer selas

para outras selarias, costurando tudo à mão. Trabalhou mais

de dez anos para o seleiro de seu Arlindo, parte desse tempo

ao lado de Genecy.

Hoje, aos 58 anos, tem a própria selaria, mas continua

prestando serviço para outras, e não só de Baixo Guandu, mas

também de cidades nos arredores. Faz selas de diferentes

modelos: americano, australiano e canadense. Para produzir as

mais sofisticadas, chega a levar três semanas trabalhando em

cada detalhe. Já as mais simples ele consegue fazer dez por

semana, sempre com a ajuda de Cristina. Vende o produto para

diversos estados do Brasil, da Bahia ao Pará. “Tenho cliente até

da Itália, que compra de duas a três selas por ano”, comemora.

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Estação Cultural: Mapeamento de Baixo GuanduEstação Cultural: Mapeamento de Baixo Guandu

Rogério Zani

Rogério Zabi, 41 anos, nasceu em Baixo Guandu e tem o

;ensino médio completo. Já foi açougueiro e guarda de

banco e morou na Itália por um ano, trabalhando, em Milão,

como ajudante de pedreiro. Depois, ele e a namorada voltaram

para Baixo Guandu e se casaram. Trabalhou por mais cinco anos

em um açougue até resolver montar a própria selaria, a Cavalo

de Aço. “Percebi que as pessoas que fazem selas em Baixo

Guandu já estavam ficando mais velhas, todos viviam bem, e vi

como uma oportunidade de negócio”, comenta.

Como morava na roça, via o tio e dois primos fazendo selas

e aprendeu com eles o ofício. Produz tudo de forma artesanal

e sua matéria-prima é o couro. “Sempre andei muito a cavalo

e isso me ajudou a aprender mais rapidamente. Durante as

cavalgadas de que participo, faço pesquisa para saber como

melhorar as selas que produzo”, conta.

Usando algumas de suas ferramentas essenciais, como faca,

martelo, turquesa, agulha, linha e até cera de abelha para amaciar

o couro, Rogério faz em média 12 selas ao mês. Sua maior clientela

é de Minas Gerais, de cidades como Aimorés e Resplendor.

Demora em torno de dois dias para fazer uma, a partir da armação

de madeira revestida de couro que é sua estrutura. “A costura da

sela é como o DNA do artesão: cada um tem a sua”, afirma.

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Estrutura da selaOs seleiros de Baixo Guandu têm um único fornecedor da

estrutura da sela, fundamental para compor a peça. É feita de

madeira, ferro e couro cru, costurado manualmente. Albertina

Rossmann, de 32 anos, é quem está à frente da produção.

Há dez anos, ao lado do tio e de mais dois funcionários,

produzem 12 estruturas por dia. “Depende mesmo do sol,

pois elas ficam de dois a três dias secando”, comenta ela.

E eles fornecem suas estruturas não apenas para seleiros

de Baixo Guandu, mas de Governador Valadares e Ipatinga

também. “O tio Almir foi quem começou a produção, pois

trabalhou com o seleiro seu Arlindo e com ele aprendeu a

costurar o couro”, relembra Albertina.

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Na última olaria de Baixo Guandu, Ailsomar Costa, o

Esperança, de 55 anos, trabalha sozinho. Costuma descansar

aos sábados por ser da igreja adventista, mas em todos os outros

dias da semana é possível encontrá-lo na Olaria Sapucaia.

Aprendeu o ofício aos 14 anos, fazendo panelas de barro em

São Torquato. Aos 20, começou a trabalhar com o oleiro Manoel

Johanson, com quem aperfeiçoou seu trabalho. Foram três décadas

juntos, parceria que se encerrou em 2011, com o falecimento de

Manoel. “O segredo é manter sempre a argila centralizada. Gosto da

olaria porque me possibilita criar. Não é qualquer artesanato que

permite isso”, comenta Esperança, que estudou apenas até

o 1º ano do ensino médio.

E sua arte começa a partir da compra da argila, que separa

cuidadosamente. Depois, deixa-a três dias curtindo numa caixa

de cimento para então bater a matéria-prima e só aí dar forma a

Ailsomar Costa (Esperança)

sua criatividade. Quando senta no torno para fazer vasos, filtros

e moringas, pode demorar dias produzindo uma única peça. Ao

terminar de criá-la, deixa-a secando por mais uma semana até levar ao

forno, a 600 graus. Em estilo alemão original, o forno é controlado de

perto por Esperança, que vai aumentando a temperatura aos poucos.

São em torno de 30 horas queimando e mais 30 horas esfriando.

As peças são vendidas em várias cidades do Espírito Santo,

mas em Baixo Guandu só é encontrada em sua olaria, que fica

no bairro Sapucaia. “A cultura da olaria existe na cidade desde

a década de 1930. Começou com um português que fazia as

peças e convidada as pessoas a vê-las. Esse artesanato teve um

bom momento em Baixo Guandu, mas depois chegou o vidro e

o alumínio, e os oleiros foram desaparecendo”, afirma Esperança,

que tem ensinado o ofício para um de seus três netos. “Para que

essa arte continue viva”, finaliza.

Cerâmica

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Madeira Eder Pereira Johanson Esculturas de lajota

T,erra, água e criatividade: esses são os ingredientes que

Dênis Xavier Martins, 40 anos, e Rogério Apolinários, 37,

usam para produzir carretas, navios, casas e até igrejas usando

apenas lajota e uma faca. Os dois trabalham em uma fábrica de

cerâmica que produz tijolos na cidade e usam o espaço e

o tempo livre para criar.

Dênis trabalha como oleiro há 20 anos. Nas horas vagas e

depois do trabalho, aproveita a sobra da lajota da fábrica e, há

15 anos, produz peças como trem, churrasqueira, trator e até a

Igreja Matriz São Pedro. “Vi um colega fazendo casinhas e resolvi

criar também, mas gosto de desafios e passei a fazer outras

peças que representam a cidade.” Só para fazer o caminhão

leva uma semana, depois são mais três dias para secar, quatro

dias no forno e três dias para pintar e envernizar. “É um trabalho

com muitos detalhes. Transformo a lajota em arte”, comenta

o artesão, que vende suas peças apenas sob encomenda e

dentro da própria fábrica onde trabalha.

Colega de Dênis na cerâmica, o oleiro Rogério também

se interessou pelo ofício e começou a produzir as esculturas

de lajotas há oito anos. “O diferencial é que as pessoas usam

madeira para fazer objetos assim, e nós fazemos com a

lajota”, explica. Ele produz diversas peças e conta que a mais

procurada é a casinha de passarinho.

Num canto da Olaria Sapucaia é possível observar

também o trabalho de Eder Pereira Johanson, 32

anos, neto de Manoel Johanson. Ele não seguiu os

passos do avô – pelo menos por enquanto, já que

prometeu ter aulas com Esperança em breve. Seu

ofício é a madeira. “Meu avô era muito sistemático

e não gostava de crianças correndo pela olaria.

Cheguei a aprender a fazer vasinhos quando tinha

8 anos, mas não segui”, relembra Eder, que morou

por alguns anos com os avós. Em 2014, começou a

trabalhar com madeira e MDF fazendo ornamentação

de festas, quarto de bebê e até esculturas. Nesses

três anos de atividade, contabiliza já ter produzido

em torno de 2 mil peças, que são vendidas em

Baixo Guandu e cidades próximas, como Aimorés e

Colatina, a maioria sob encomenda.

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Luteria

Eliezer Lopes (Zirim)

O mineiro Eliezer Lopes – ou Zirim, como costuma ser

chamado – tem 51 anos e mora há 45 em Baixo Guandu.

Os pais foram para a cidade capixaba para montar uma fábrica

de bicicletas. Chegaram até a ter uma loja no Centro, mas

acabaram falindo. Foi o pai quem despertou seu interesse pela

música, pois, além de soldador, tocava cavaquinho e bandolim.

Aprendeu com ele a tocar, mas resolveu se aperfeiçoar

em outra atividade e foi fazer um curso de luthier em Belo

Horizonte. Durante dois anos, saía de trem de Baixo Guandu

para ter aulas de segunda a quarta-feira na capital mineira. Ao

concluir o curso, montou uma escola de música, dando aulas

de violão, guitarra e contrabaixo, por 12 anos. E, por conta das

aulas, foi ganhando sua clientela como luthier. Para fazer um

instrumento, leva em torno de duas semanas. “É um trabalho

muito delicado e precisa ser benfeito, com muita atenção.”

Sua matéria-prima era o jacarandá e o marfim, que

com o tempo se tornaram escassos e caros. Hoje, segue

fazendo reparos e manutenção dos instrumentos –

principalmente violões, violinos e violas. Mas sua arte

diminuiu bastante. “O trabalho de um luthier tornou-se

complicado, porque uma peça feita à mão é muito mais

cara e ficou difícil competir com os produtos da China, da

Indonésia ou do Paquistão”, reflete.

Mas as lojas de música de Baixo Guandu e das

redondezas seguem indicando-o para afinar os

instrumentos e realizar a manutenção. “Quando a

pessoa compra um instrumento novo, eles me indicam.

Consigo deixar um instrumento 100% afinado sem

precisar usar o afinador.”

Zirim é considerado um dos únicos luthiers da região

e vê uma possibilidade de seu trabalho voltar a ter força

com a nova escola de música que está montando com

seus dois filhos, ambos músicos – um deles é baterista

da Banda Municipal Lyra Guaduense. O local está sendo

construído ao lado de sua serralheria e vai contar também

com um estúdio de gravação e uma sala especializada

para Zirim trabalhar.

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Artes Visuais Pintura

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Equimar Francisco de Assis

Aos 72 anos, o guanduense Equimar Francisco de Assis já sofreu

,dois infartos e perdeu um filho, mas não a vitalidade. Com

graduação e pós-graduação em geografia, a pintura sempre andou

lado a lado com as atividades de professor. Tanto que, nos 35 anos

em que deu aula em Baixo Guandu – e outros 26 anos em Aimorés –,

atuou como professor de geografia e de artes. “Hoje, na situação em

que estamos, quem vive só de arte morre de fome”, critica.

A paixão pela pintura começou em 1964, aos 19 anos.

São mais de cinco décadas dedicas à arte. “Já nasci com a

pintura. Não precisei de muitas aulas porque, na verdade,

eu me alimento de tinta”, brinca Equimar, que já realizou três

exposições individuais nos mais variados espaços: em centros

culturais, na Assembleia Legislativa e em hotéis e restaurantes.

Participou de mostras também em Brasília e em Vitória e vende

seus quadros até para admiradores internacionais.

Considera seu trabalho clássico moderno e sua técnica é o

óleo sobre tela. Além de pintar paisagens, animais e natureza,

sua preferência é pelos autorretratos – de conhecidos, como

a atriz Juliana Paes, a desconhecidos. Admirador do pintor

surrealista espanhol Salvador Dalí, Equimar usa de 15 a 20 cores

nos retratos que pinta. Já perdeu as contas de quantas obras

fez nesses 50 anos atuando como artista, mas acredita que já

passem de 2 mil quadros. “O infarto foi decorrência do uso da

tinta por todos esses anos”, afirma.

Sua maior inspiração é o Brasil, com sua abundância

de flora e fauna e seu povo com tanta riqueza cultural.

Já participou 18 vezes do Projeto Rondon, uma ação

interministerial do governo federal realizada em coordenação

com os governos estadual e municipal para contribuir com

o desenvolvimento local sustentável e com a construção

e promoção da cidadania. “Você tem de viajar para ter

inspiração para pintar. Escolhi a geografia humana porque

gosto de falar sobre povos”, resume.

Em 2003, ganhou o Prêmio Nacional de Referência em

Gestão Escolar, e, em 2007, recebeu uma homenagem da

Assembleia Legislativa do Espírito Santo “pelos relevantes

serviços prestados às artes em nosso estado”.

Pintura

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MúsicaBanda Municipal . Sertanejo . Seresta .

Erudita . Heavy Metal . Fanfarra

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Banda Municipal

São mais de cinco décadas dando o tom musical em Baixo

Guandu. Fundada em dezembro de 1953, sob a regência

do maestro Jaime Gasparini, a Banda Municipal Lyra Guaduen-

se segue em plena atividade. Atualmente com 30 integrantes,

o grupo ensaia toda terça-feira, às 19 horas, no Canaã Clube.

Com um repertório que varia do popular ao erudito, a banda

conta com clarinete, flauta, saxofone, trompete, trombone, tubas,

bateria, teclado, guitarra e percussão. Tem duas apresentações

fixas no calendário da cidade: é a banda que abre os desfiles de 7

de Setembro e o aniversário de emancipação de Baixo Guandu,

em 10 de abril. Mas o grupo se apresenta também em outras

cidades e festas particulares. Já tocaram em diversos festivais,

como o de Inverno de Domingos Martins; Encontro de Bandas

de São Gabriel; Painel Funarte de Bandas de Música; e nos 50

Anos de Bossa Nova, em Governador Valadares.

Wanderson Emeriok da Silva toca na banda há 27 anos,

integrando o grupo desde 1991. “A banda é uma tradição de

Baixo Guandu, das manifestações culturais mais importantes

que temos, que passa por gerações”, comenta Wanderson, que

tem um tio entre os ex-músicos da Lyra Guaduense.

O trompetista Willian Botelho, membro da banda desde

os 13 anos, conta que, em 2009, houve uma reformulação

do repertório. “Passamos a tocar músicas mais populares,

novas interpretações de Roberto Carlos e até temas de filmes”,

comenta o músico, que já foi regente da banda.

Lyra Guaduense

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Banda Faith Again Ricardo & Sabrina

Formado por Ariel Soares Simoura Vieira no vocal e

contrabaixo, Rafael Henrique Teixeira na bateria, Wallace Silva

Requel na guitarra e Alisson Junior no teclado, o grupo autoral de

heavy metal progressivo Faith Again está junto desde 2011. Os

integrantes são amigos de infância. Apesar de Wallace ser mineiro

e morar na vizinha Aimorés, estudava na Escola Estadual José

Damasceno Filho junto com Ariel, que, por sua vez, conheceu

Rafael na escola de música. Os dois tocaram juntos num dos

Workshows promovidos pelo professor Mayckson Lee, que todo

ano faz recitais e forma grupos para se apresentarem na cidade.

A primeira banda que montaram foi a de rock cover Notícias

de Ontem, mas queriam fazer algo mais autoral. Inspirados

no grupo britânico Pink Floyd, criaram a banda Faith Again,

que faz apresentações em festivais. Em Colatina, chegaram

a conquistar o quarto lugar. Foi lá que o tecladista Alisson Jr.

Sabrina Bohrer Martelo Gonçalves, 14 anos, está

no 8º ano do ensino fundamental na escola

municipal Elza Ewald Oliveira, no distrito Km 14 do

Mutum. Participou do projeto Dó Ré Mi Lá na Escola,

em 2012, por meio do qual aprendeu a técnica para

tocar. Mas desde muito pequena gostava de música.

No lugar de ursos e bonecas, Sabrina dormia abraçada

ao violão, mesmo sem saber usá-lo. Aos 4 anos,

tocou a marcha nupcial sozinha. Investiu em aulas de

teclado e passou a integrar a banda de arrocha Top

Sensação. Depois de um ano, resolveu sair e formar

a dupla sertaneja com o pai, a Ricardo & Sabrina.

Ricardo nasceu em 1974. É o encarregado de frente

numa pedreira. “Sempre cantei. Fui vocalista da banda

de forró Os Máximos do Forró por cinco anos.

SertanejoHeavy Metal

conheceu o trabalho do grupo e se juntou a eles, em 2017.

Para o baterista, Rafael, é um desafio manter uma banda de

heavy metal progressivo numa cidade em que o sertanejo e o

forró são as músicas mais tocadas. “Queríamos fazer algo novo,

autoral, nossa arte. Na banda, todos somos compositores e até

transformamos o samba em heavy metal”, comenta.

Estou muito feliz em ter essa dupla com minha filha”, orgulha-

se. Eles tocam forró, arrocha e sertanejo e fazem apresentações

em pesque e pague, bares, casas de shows. A dupla é uma de

tantas outras de Baixo Guandu que se dedicam ao sertanejo.

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A história dos músicos Sidenir Pereira da Rocha e Ismair de

,Souza ,Corrêa se misturam com a própria história de Alto

Mutum Preto. O pai de um era bandolinista e um seresteiro nato.

O pai do outro, o responsável por ligar o motor que todas as

noites gerava a luz para a região. Entre suas notas, o que se pode

ouvir também são muitos “causos”.

Sidenir tem 69 anos, nasceu em Colatina e, aos 3 – mesma

idade em que ganhou do pai seu primeiro bandolim –, foi morar

no Alto de Mutum Preto. “Papai falou para eu ter cuidado e não

romper a corda. Fiquei com medo de tocar.” Analfabeto, foi por

meio da música que aprendeu a se comunicar. Foi o avô de Ismair

que o incentivou a perder o medo: dizia que ele tinha de aprender.

Hoje, Sidenir toca bandolim, cavaquinho, violão, guitarra, pandeiro,

reco-reco – tudo de ouvido, sem nunca ter feito uma aula.

No repertório, música sertaneja, moda de viola, MPB. Mas é a seresta

que o alegra, principalmente as canções de Nelson Gonçalves. A vida

de músico nunca foi fácil; ele enfrentou vários preconceitos. Uma vez o

chamaram para substituir um violonista em Colatina. “Quando me viram,

comentaram que eu não devia tocar nada. Fiquei com medo. Parei num

bar para tomar uma pinga e criar coragem. Subi no palco e perguntei

ao cantor qual a nota que ele queria. A primeira música foi Maria Helena.

Comecei a tocar e foi o maior sucesso. Seresta é tango, bolero, valsa e

samba de breque. As grã-finas passaram a me chamar toda hora para tocar.”

O pai de Ismair, de 53 anos, era do Km 14 de Mutum e o avô, de

Brasília. Moraram na capital federal até 1979, quando se mudaram para

o distrito de Baixo Guandu porque a mãe de Ismair estava doente.

Foi do pai que Ismair herdou o gosto pela música. Aos 6 anos, já o

acompanhava em rodas de música, e com essa idade ganhou dele o

primeiro pandeiro. Seu pai tocava bandolim com os amigos bebendo

cachaça e Ismair o acompanhava nas rodas. Um dia, a irmã mais nova

furou seu pandeiro de propósito e ele ficou anos sem tocar. Até que,

com 13 anos, ganhou um novo pandeiro do pai.

Foi vendo o avô Crizalino Corrêa tocar violão com facilidade que

Ismair aprendeu a tocar o instrumento de cordas também. “Pedi para

ele me ensinar, mas meu avô não tinha paciência. Eu não desistia e

andava com o violão para todos os lugares.”

As famílias de Sidenir e Ismair se uniram diversas vezes para fazer serestas

na região, e hoje guardam muitas memórias em suas notas musicais.

Seresta do Alto Mutum Preto

Seresta

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Descendente de pomeranos, Lisca Tressman Piske conta que a

maior herança que recebeu do extinto país – que ficava situado

entre a Polônia e a Alemanha – foi a música. O avô era pomerano e veio

para o Brasil em 1890 para fugir da pobreza que assolava o lugar. Foi para

Santa Leopoldina (ES) porque era um local seco e frio. “A maior parte dos

imigrantes pomeranos se instalou nessa região”, conta Lisca. Depois, o avô

migrou com a família para Itaguaçu (ES), onde ela nasceu. A família vivia da

agricultura, plantando milho, mandioca, café e banana. Lisca tinha 7 anos

quando o avô faleceu, em 1952, e lembra até hoje dele tocando concertina.

Começou a estudar piano aos 12 anos na casa de um pastor

luterano, com aulas em alemão. Aos 15, passou a tocar a marcha

nupcial e alguns clássicos de Bach e Händel em casamentos no

hormônio, instrumento parecido com o piano, presente nas igrejas

luteranas. “Era chamada para tocar até em igrejas católicas, algo inédito,

pois na época não abriam as portas aos luteranos”, conta Lisca.

Seu maior incentivador foi o pai. Ela lembra que ele insistia para

aprender a tocar algum hino e, em troca, dava 5 cruzeiros para que

comprasse meias finas, de que tanto gostava. “Tenho gratidão pelo

incentivo de meu pai, que me deixou estudar apenas música. Entrei no

ginásio somente aos 17 anos.”

Foi estudar música no Centro Musical Villa-Lobos, em Vitória, nos anos

1980. Nesse período, chegou a frequentar psicólogos, pois o nível de

exigência era tão alto que ela precisou de ajuda para vencer os desafios. “Mas

nunca pensei em desistir”, afirma a pianista, acordeonista e regente de coral.

Perseverança é uma das principais características de Lisca, que

decidiu, aos 59 anos, fazer faculdade de pedagogia. “Estudava todas as

noites em Colatina por quatro anos. Chegava meia-noite em casa e, às

7 horas, já estava na escola.”

Foi professora primária e diretora da E.E.E.F. Brasil até se aposentar,

em 2005. É professora de piano desde os 15 anos e chegou a ter 50

alunos por mês. Fazia recital para 70 pessoas em casa no fim de ano,

com repertório de música erudita. Em 1992, participou com a filha

Margareth – que também se formou em música – de um concerto em

Brasília com 200 vozes e três regentes.

Aos 72 anos, casada há 50 com Elmuth Piske, tem três filhos, cinco

netos e dois bisnetos. Hoje, diz que seu maior prazer está na roça,

onde já plantou cedro, jatobá, sapucaia e árvores frutíferas, além de

produzir mel. “Mas sigo dando aulas de piano, sempre”, conta.

Pianista Lisca Tressman Piske

Erudita

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No 7 de Setembro, a Avenida Carlos Medeiros, no

Centro, torna-se um palco. Diversas fanfarras desfilam,

enchendo a cidade de música. A tradição é forte nas escolas

de Baixo Guandu há pelo menos seis décadas. Das 14 escolas

municipais, 12 têm fanfarras, assim como duas escolas

estaduais e a escola particular Ginásio Brasil.

Na Escola Municipal Elza Ewald Oliveira, no distrito Km 14

do Mutum, a fanfarra existe desde a década de 1960,

mas parou nos anos 1990 por falta de verba. A retomada

começou em 2011, com o projeto Dó Ré Mi Lá na Escola, que

contemplava aulas de música nas instituições de ensino.

“A princípio, a proposta não era formar uma fanfarra.

Não tínhamos instrumentos; então, improvisamos usando

latas, baldes e latões de 200 litros”, conta Fabiano Natali,

de 35 anos, instrutor da Fanfarra do Km 14 e ex-integrante

da banda, em 1991. “Os pais fizeram tanta pressão junto à

prefeitura para conseguirmos receber os instrumentos que

a fanfarra retornou”, relembra.

Fanfarras

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A Fanfarra do Km 14 tem 32 componentes e reúne-se uma

vez por semana para ensaiar. Um deles é João Floriano Martelo

Stein, de 14 anos, que hoje está no 9º ano e toca na banda desde

2012. “Comecei no balde e depois fui para o surdo. Meu pai

tocava na fanfarra em sua última formação, em 1991”, conta.

Lucas Nascimento Merlo, de 17 anos, já está formado no ensino

médio e cursa química na faculdade, mas segue tocando na

fanfarra. “Com a música, aprendi a respeitar hierarquias e também

aumentei o diálogo em casa. Agora falo de música com minha

mãe”, afirma o jovem, que está na fanfarra desde a retomada.

“A música une essas crianças”, declara o instrutor Fabiano.

Uma das mais tradicionais fanfarras de Baixo Guandu é a

da Escola Estadual José Damasceno Filho. Wilson Mathias dos

Santos, de 35 anos, é o instrutor da banda desde 2006. Inspetor

penitenciário, interessou-se em dirigir o grupo assistindo ao desfile

no Centro da cidade, no 7 de Setembro. Músico autodidata desde

os 9 anos, tocava trombone de vara na banda do Exército. O pai já

foi maestro da banda, que tem 60 integrantes.

“Dar aos jovens a oportunidade de trabalhar com música é

muito gratificante. Não há muitas opões para eles na cidade.

A fanfarra dá disciplina, ajuda a trabalhar em grupo e estimula

a autoconfiança. Os alunos apresentam melhores resultados

na escola”, pontua Wilson, que ressalta que, para participar da

banda, é preciso ter boas notas.

Aos 24 anos, Cristiano Charles Corrêa conta que a fanfarra do José

Damasceno Filho mudou sua vida. Morador da comunidade São

Vicente, acompanhava a apresentação da banda nos desfiles de 7 de

Setembro. Um dia, apareceu no ensaio na escola, que fica próxima a

sua comunidade, com um instrumento de sucata feito por ele. Recebeu

o convite de Wilson para participar, mesmo não sendo aluno, e tocou

por muitos anos, até passar para a Faculdade de Música do Espírito

Santo (Fames), em Vitória. “Participar da fanfarra aumentou meu desejo

de trabalhar com música e foi fundamental para me dar um nível

técnico suficiente para passar na prova”, conta Cristiano.

Outra fanfarra bem tradicional em Baixo Guandu é a do

Ginásio Brasil, escola criada desde os anos 1950 pelo padre

Alonso Leite. Com 17 integrantes, os ensaios acontecem três

vezes na semana: às segundas, terças e quintas-feiras. Além da

apresentação no desfile cívico de 7 de Setembro, tocam em

outros eventos, como no Desfile Cívico de Aniversário da Cidade

de Aimores (MG) e na Mostra Musical do Instituto Federal do

Espírito Santo, em Colatina. Instrutor da banda desde 2011,

Brendon Mendonça Sousa conta que a fanfarra gera muita força

de vontade nos alunos, ajudando a superar desafios.

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Equipamentos Culturais

Casarão . Clube . Cinema . Biblioteca . Teatro . Concha Acústica

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Casarão da Madame Albertina Holz

Albertina Holz nasceu na Alemanha, em 1862. Aos

13 anos migrou para o Brasil com outras famílias

pomeranas e, em 1892, mudou-se com o marido e os

14 filhos para Baixo Guandu, devido à construção da Estrada

de Ferro Vitória a Minas. Fortaleceu-se no comércio de secos e

molhados e expandiu para café e cereais.

O casarão foi erguido em 1919, sendo uma das primeiras

edificações do município, antes mesmo da emancipação

política de Baixo Guandu. Localiza-se próximo à Estação

Ferroviária, na Praça Governador Bley, no Centro. Com estilo

eclético e influência do neoclassicismo da segunda metade

do século 19, a edificação foi construída de forma irregular,

com 30 metros de frente e 38 metros de lado, numa área de

746 metros quadrados.

Possui alicerces de pedra e paredes de tijolo queimado

e é coberto de telhas francesas. O primeiro pavimento era

usado como local de comercialização de secos e molhados e

recebimento de imigrantes que chegavam à cidade. É formado

por um único cômodo. O piso é cimentado e há três portas de

frente. Já o segundo pavimento era usado como residência e

tinha um assoalhado, com 11 cômodos, três janelas de frente

e esquadrias de madeira de lei. Ao lado do casarão, havia

armazéns para estoque de café e artefatos.

Reconhecida na cidade como uma grande comerciante,

Albertina comprava e vendia mercadorias produzidas no

interior e utilizava os trens para manter seu comércio forte

com Vitória. Morreu em 1952, aos 90 anos. O imóvel, batizado

de Casarão da Madame Albertina Holz, foi comprado, em

2006, pela prefeitura, que pretende transformá-lo em um

museu. Foi tombado pelo município como bem material e

está com pedido de tombamento tramitando no Conselho

Estadual de Cultura (CEC).

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Usado para bailes e festejos principalmente

da elite social da cidade, foi inaugurado em

10 de abril de 1953. Durante 30 anos, foi palco do

Carnaval e também do Réveillon guanduense. Com o

passar do tempo, tornou-se uma das principais áreas

de recreação, integração e lazer de Baixo Guandu.

Tombado pelo município, atualmente o pedido de

tombamento do clube tramita no Conselho Estadual

de Cultura (CEC).

Sua arquitetura é original e conta com alicerces de

pedra, paredes de tijolo queimado, coberto de telhas

francesas e portas e janelas de madeira de lei. É formado por

um primeiro pavimento de piso de madeira, um salão principal,

dois banheiros e salas administrativas.

Durante os anos 1980 e 1990, o clube ficou abandonado,

mas na década de 2000 passou por reformas e ampliações,

mantendo sua arquitetura e seu modelo original – o lustre

do salão principal de dança, inclusive, é o mesmo até os dias

atuais. Pertence ao município, mas, depois de reformado, foi

entregue em comodato ao Grupo da Melhor Idade, que realiza,

aos sábados, um baile voltado para a terceira idade. Também é

a sede de ensaios da Banda Municipal Lyra Guanduense.

Canaã Clube

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A Rua Milagreas Júnior, no Centro, guarda memórias

,inesquecíveis dos moradores guanduenses. Na

imaginação de muitos, histórias de amor, de aventura e

dramas. Foi lá que funcionou o Cine Alba, que chegou a ser

considerado uma das melhores salas de exibição do país.

Construído em 1954 pelas famílias Holz e Kunkel, foi

inaugurado em 29 de setembro de 1956, sob a benção

de padre Alonso, com direito a pulo de paraquedas

festejando a abertura de suas portas. O prédio de traços

modernistas, inspirado em salas americanas, foi um projeto

assinado pelo então renomado arquiteto de Vitória Marcelo

Vivacqua. A sala possuía 800 cadeiras estofadas, tela em

CinemaScope, projetores italianos com lentes alemãs,

modernos sistemas de som, iluminação e ventilação.

Chegou a ter cinco sessões diárias.

Além das atrações cinematográficas, também era um

dos principais palcos de shows com artistas regionais ou

nacionalmente conhecidos, como a cantora Ângela Maria.

Cine Alba

Alien, o Oitavo Passageiro foi um dos últimos filmes exibidos.

Fechou as portas na década de 1990. Depois disso, já foi

discoteca, igreja e depósito. Hoje, está abandonado, embora

tenha recebido verba para seu restauro.

Um forasteiro que passe pela principal via do Centro da

cidade talvez não perceba que no prédio do Mercado

Municipal, em uma das portas, funciona o maior tesouro

de Baixo Guandu: sua memória. É ali, numa sala, que está

localizada a Biblioteca Municipal. Fundada em 1944 pelo

então prefeito Manoel Milagres Ferreira, a biblioteca tem em

torno de 5 mil itens em seu acervo, entre livros históricos,

literatura clássica, jornais e revistas. Há mesas e cadeiras no

local para os visitantes lerem à vontade. Grupos de alunos

também frequentam a sala para pesquisar. A biblioteca

funciona de segunda a sexta, das 7 às 18 horas.

Biblioteca Municipal

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Quem chega à Praça São Pedro, no Centro, logo nota

um palco a céu aberto em formato meia-lua. É lá,

com a Igreja Matriz ao fundo, que a Banda Municipal,

duplas sertanejas, grupos de rock, cantores de forró e

covers se apresentam, tornando o local um dos espaços

mais democráticos de Baixo Guandu. Inaugurada em 2008,

juntamente com o projeto de urbanização da praça, a

concha é um palco público administrado pela prefeitura.

O espaço é usado para apresentações gratuitas e é

ocupado às quintas-feiras, com shows durante a Feira

Municipal. O público vai se formando no entorno da concha:

grupos em pé, às vezes sentados em mesas e cadeiras

levadas ao local, ou dançarinos que demarcam com seus

passos um salão improvisado em plena praça.

Concha Acústica

Usado como palco de shows, teatro, espetáculos

de dança, além de apresentações escolares

e formaturas, o Teatro Dom Bosco foi inaugurado

em março de 2014. O espaço tem capacidade para

310 pessoas e pertence ao Ginásio Brasil, escola

fundada em 1950, ainda como escola paroquial pelo

padre Alonso (Alonso Benício Leite), pároco da Igreja

Matriz São Pedro. Dois anos depois, ele ampliou a

escola, oferecendo, além do curso ginasial (ensino

fundamental), ensino médio técnico em contabilidade

e magistério. Passou a se chamar Ginásio Brasil, em 14

de outubro de 1952. Atualmente, a escola pertence à

Rede Salesiana de Escolas.

A época da inauguração do Teatro Dom Bosco,

o diretor do Ginásio Brasil Euber Barbato afirmou

que “a construção do teatro foi um sonho de muitos

educadores, gestores e educandos que, nesses 61 anos,

formaram neste espaço seus conhecimentos e valores”.

Para o bispo diocesano dom Décio Sossai Zandonade,

“o teatro é uma das maneiras educativas mais eficazes:

favorece a boa comunicação, desenvolve a capacidade

criativa, descobre e revela talentos, além de enriquecer os

atores de novos conhecimentos”.

Teatro Dom Bosco

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Feiras e Mercados

Mercado Municipal . Feira Municipal

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Mercado Municipal

Ao entrar pelo portão localizado na Avenida

10 de Abril, ;no Centro de Baixo Guandu,

uma mistura de cores e cheiros atiça a curiosidade.

Fundado em 1944, o Mercado Municipal vende

um pouco de tudo: frutas, verduras, mel, produtos

naturais (como óleos e essências), temperos, fubá,

farinha, feijão, peixes, aves e ração. Mas há também

Bíblias, vassouras, produtos de limpeza, ferramentas,

material de pesca e até berrantes. Desde 2014, a

Associação de Artesãos de Baixo Guandu (Associarte)

tem duas bancas no mercado para a comercialização

de seus produtos.

Há 27 anos trabalhando no local, Valdir Gonçalves

conta que Baixo Guandu cresceu a partir do mercado.

“Aqui era tudo estrada de terra. Chegou um comerciante

e colocou a primeira barraca, depois outros se juntaram e

a cidade foi crescendo em volta. Anos depois, a prefeitura

oficializou o local e colocou a estrutura”, conta.

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Vizinho do Mercadinho do Valdir, o dono da Casa

do Canário, Nivaldo Holzju está há 23 anos no Mercado

Municipal. Encanador do Serviço Autônomo de Água

e Esgoto (Saeed), procurou o local para ter uma renda

complementar. Hoje vende um pouco de tudo, como gaiolas,

canários, patos e galinhas vivos, além de ferramentas. Uma

das mais antigas no mercado é Ellen Possimozer da Rocha,

que montou sua venda de frutas e verduras em 1982. “O

mercado é uma tradição da cidade”, comenta a vendedora.

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Às quintas-feiras, a Praça São Pedro transforma-se. De

15 horas à meia-noite, o local fica cheio de moradores.

Famílias, casais, jovens, crianças, senhores e senhoras da

terceira idade lotam o espaço, que recebe em seus arredores

a Feira Municipal. É possível encontrar frutas, verduras,

queijos, flores, temperos, além de panelas e utensílios

domésticos. Na feira, também há comida para consumir

no local, como tortas, doces e também o pastel com caldo

de cana. Durante a noite, shows de música ou dança são

realizados na Concha Acústica, tornando a feira um evento

cultural. O horário nada convencional foi uma necessidade

dos vendedores e moradores devido ao intenso calor que faz

em Baixo Guandu.

Odair Jacobsen, 42 anos, descendente de alemão, há oito

anos vende pão com linguiça na feira. “Fui um dos pioneiros.

Chegava a vender 200 sanduíches por dia”, relembra. A

fabricação das linguiças é caseira: tem fina, grossa, com jiló, de

porco, de boi e misturada (feita de carne de porco e de boi).

Gilmar Costa Soares, 51 anos, trabalha há quase dez

anos na Feira Municipal. Sete anos atrás, começou a vender

temperos e pimentas. Ele conta que já teve diversas profissões:

trabalhou em curral, foi pedreiro, marceneiro, soldador, artesão

em ferro, mecânico, vaqueiro, queijeiro, operador de trator,

operador de empilhadeira, motorista portuário, serralheiro,

metalúrgico, e hoje é feirante.

“A faculdade da vida foi quem me deu minhas

qualificações. Só estudei até o 5º ano do ensino fundamental,

mas foi o suficiente para dar a condição de chegar aqui.

Vendo pimenta em pó, in natura, em conserva. Também

faço garrafadas de ervas medicinais para a infertilidade e a

impotência. Tenho mais de 300 ervas”, conta Gilson, que todas

as quintas-feiras pega o trem para poder estar na feira.

Feira Municipal na Praça São Pedro

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SaboresDoces . Pão Pomerano . Cachaça

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Ilha da Fantasia: rapadura e doce de leite

Os quatro filhos de Djalma Galdino de Almeida e

Ilza Frederico estavam chegando à idade escolar

e a família morava numa roça muito distante. Foi então

que o casal resolveu vender o terreno onde morava e,

com o valor, conseguiu comprar outro apenas numa ilha

em Aimorés (MG). Nem energia elétrica o local possuía.

Quando chegaram, os bois andavam dentro da casa.

Como não tinham recurso para construir algo,

limparam tudo e resolveram seguir a sugestão da

cunhada, de que produzissem doce de leite para vender

e ter uma renda. O irmão de Djalma foi quem deu as

duas vacas leiteiras. “Os primeiros doces que fizemos não

ficaram bons. Aí Djalma lembrou que sua mãe – que fazia

doces – e mexia depois de pronto”, conta Ilza. Com isso,

conseguiram acertar a receita.

O nome dos doces faz alusão ao local onde tudo

começou: a Ilha da Fantasia. Depois de um ano e meio,

começaram a vender os produtos de barco pelo Rio

Doce, em bares e restaurantes e na Estação Ferroviária

de Aimorés. Não tinham canavial, mas Djalma plantou

e começaram a fazer rapadura também. “Desde os 10

anos ajudava meu pai. Todos os dias, levantava à 1 hora

para moer a cana de açúcar até o dia clarear”, relembra

Djalma. As duas filhas do casal, juntos há 38 anos, também

ajudavam os pais. A irmã mais velha ralava os cocos na mão

e ficava toda machucada. A mais nova mexia o doce de

leite no fogão a lenha.

Por conta da construção da hidrelétrica em Aimorés,

precisaram sair da Ilha da Fantasia. Com o dinheiro da venda

do terreno, começaram a buscar um novo local para viver.

Doces

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Como sempre moraram longe, resolveram procurar algo mais

acessível, primeiro em Minas Gerais, mas foi no Espírito Santo

que acharam a terra do jeito que queriam: com facilidade para

escoar a produção, terreno baixo e facilidade de irrigação (pelo

Rio Guandu). Em 2005, mudaram para Baixo Guandu.

Dos quatro filhos, só Márcia se interessou em seguir com

os pais na produção de doces. A receita do pé de moleque

vendido hoje é dela. Cursando administração, um dia ela

estava na faculdade quando soube do Programa Agir –

Apoio à Geração e Incremento de Renda, da Fundação

Vale –, e inscreveu os doces da Ilha da Fantasia. Dos 43

empreendedores selecionados para fazer o curso, eles foram

um dos sete contemplados com o prêmio do programa.

“Tive de montar um plano de negócio e eles gostaram. Não

tínhamos estrutura adequada para trabalhar. Com a reforma,

houve um aumento de 20% da produção”, comenta Márcia.

Depois de passar pela reestruturação, a pequena fábrica

familiar tem sua produção de origem animal (doce de leite)

separada da vegetal (rapadura). O processo é ainda bem manual:

usam ferro para selar o papel que embrulha os doces. Atualmente,

produzem em média 5 mil peças por mês. Possuem selo de

inspeção e podem distribuir para todo o território nacional.

Pão Pomerano

Feito de fubá no forno a lenha, o brout é um típico

pão produzido pelos pomeranos. Yolanda Kamke

Krauses, de 50 anos, vende a iguaria na Feira Municipal.

“Meus pais e avós são pomeranos e aprendi com eles a

receita”, conta Yolanda, que prepara o pão com a ajuda

da família. Em sua casa só se fala pomerano, e suas filhas

participam de grupos de danças folclóricas pomeranas

em Laranjal da Terra.

A Pomerânia foi um país que existiu entre a Alemanha

e a Polônia. Baixo Guandu possui em torno de 8 mil

habitantes de descendência pomerana. É um dos

municípios capixabas com maior presença dessa cultura.

Estima-se que no Espírito Santo haja mais de 120 mil

descendentes de pomeranos, a maior concentração no

país depois da de Santa Catarina. Em outubro de 2017,

Brout

está prevista a primeira festa pomerana do município,

que pretende resgatar aspectos da cultura pomerana,

destacando comidas e bebidas típicas, as danças, os

shows de grupos musicais, o toque da concertina e dos

grupos de trombonistas.

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Primorosa é o tipo de manga produzido pela família

Fleger Raasch que, a partir de 1990, começou a usar o

excedente não comercializado da fruta para a produção da

aguardente. Toda a produção é orgânica, feita num sítio da

família no Km 4 de Baixo Guandu.

Ignácio Raasch, de 75 anos, trabalhava em uma oficina

mecânica até ter um esgotamento físico e mental. Seu

médico recomendou parar, pois ele não estava mais

aceitando ouvir o barulho das máquinas. Assim, mudou-se

de Colatina para Baixo Guandu, em 1969. No ano seguinte,

começou a plantar manga e a vender o fruto de charrete pelo

Centro. Em 1990, teve a ideia de fazer a cachaça de manga.

“Na primeira vez que produzimos a cachaça, o barril pegou

fogo. Foram três anos até conseguir acertar o gosto. Dávamos

para as pessoas provarem e comentarem”, relembra Ignácio.

Primorosa, aguardente de manga

A família esteve três vezes em Viçosa até conseguir ter a

cachaça aprovada. Contaram com algumas consultorias do

Sebrae para fazer a apresentação e o rótulo da aguardente.

De Baixo Guandu, a cachaça já cruzou oceanos e viajou para a

Itália, a Alemanha e até a China.

Novembro, dezembro e janeiro são os meses de colheita

da manga. Por safra, produzem mil litros da cachaça em um

tanque de 6 mil litros. Na outra parte do ano, preparam a terra

e plantam a manga. “Produzimos a cachaça somente nesse

período e vendemos apenas aqui”, conta Ignácio.

Cachaça

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Festas e Eventos

Rodeio . Festa dos Trabalhadores Rurais . Festa Luterana . Festa Católica . Workshow

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Baixo Guandu Rodeio Show

Realizado anualmente desde 2002, o rodeio

,entrou para o calendário oficial da cidade a fim

de estimular o desenvolvimento socioeconômico

local. Além da competição, há shows e exposição

de animais. Tornou-se um dos principais eventos

da cidade, ao lado do aniversário da festa de

emancipação de Baixo Guandu, celebrado em abril;

da festa de são Pedro, padroeiro municipal, em junho;

e da ExpoGuandu, em setembro ou outubro, com

shows, feira de artesanato, concursos e expositores de

animais e produtos agrícolas. As celebrações cívicas

e religiosas são uma opção de lazer para a população

e expressam os valores locais, colaborando na

construção e consolidação das identidades.

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Música, dança, cavalgada e bingo são algumas das

,atrações da festa voltada para os trabalhadores rurais

do distrito de Ibituba. O evento, realizado próximo ao feriado

de 1º de Maio, entrou para o calendário de manifestações

culturais do município.

Silvia Abreu, professora aposentada, esteve presente na festa

realizada em abril de 2017, juntamente com a família e amigos.

“Temos poucas atividades culturais aqui. Assim, uma festa

como essa se torna fundamental”, afirma ela. Iracema Vieira

de Souza Santos conta que no distrito há também a Festa do

Divino Espírito Santo, na paróquia do local. “Tem missa, novena,

procissão, bingo todo sábado, música e almoço comunitário.”

Festa dos Trabalhadores Rurais de Ibituba

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Igreja Matriz São Pedro

A construção da Igreja São Pedro começou em 1942,

,coordenada pelo primeiro pároco de Baixo Guandu,

o padre Aristides. Em abril de 1944, chegou a Baixo Guandu

o padre Alonso, segundo pároco da cidade, que deu

continuidade às obras.

Em junho é realizada a festa de são Pedro, padroeiro da

cidade. Novena, procissão e celebração de missas em estilos

diferentes, como em italiano ou à moda sertaneja, são alguns

dos eventos, que contam ainda com os tapetes de sal na rua

em frente à igreja. Na área de lazer, palanques para shows e

barracas de comida são algumas das atrações. Nos fundos

da igreja está sendo construído um museu que vai contar a

história da Matriz São Pedro, que se confunde com a própria

história de Baixo Guandu. Vestimentas do padre Alonso,

biblioteca, móveis, fotos antigas com os tapetes de Corpus

Christi são algumas das peças que estarão expostas.

Festa Católica

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Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil

A sede da Igreja de Confissão Luterana fica localizada

no Morro da Caixa d’Água, na Rua Martim Lutero.

A igreja luterana tem forte presença em Baixo Guandu.

Com quase 2 mil membros, os luteranos celebram o Dia

de Ação de Graças, em junho, com coral luterano, dança

folclórica, cuca, bolo, arroz-doce e canjica. O culto festivo

conta com a tradição da linguiça colonial de metro.

Todos os anos, uma pessoa da comunidade luterana

fica responsável por fazer a linguiça com muitos

metros, que fica enrolada e exposta durante o evento.

Todos palpitam a metragem, e quem chegar mais

próximo do número leva a linguiça. Durante o evento,

as tradições são relembradas por meio da história oral

entre seus frequentadores.

Festa Luterana

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Myckson Lee Matias Barros, 32 anos, começou a

tocar bateria aos 6, na igreja batista de Governador

Valares. Mudou-se para Baixo Guandu em 2004. Na época,

era missionário itinerante da Assembleia de Deus. Quando

chegou, montou uma escola de música em Vila Kennedy.

No local, passou a ensinar violão, guitarra, teclado, bateria,

contrabaixo e canto. Já formou dezenas de músicos, em

aulas individuais ou em grupos para até cinco alunos.

Há 13 anos, realiza em novembro o Workshow, um

dia de apresentações musicais gratuitas em algum

palco da cidade. Para o evento, Myckson Lee seleciona

seus alunos e forma bandas que se apresentam para o

público em geral. No Workshow tem de tudo: de solo

de sanfona a show de heavy metal. Além dos alunos,

bandas convidadas também se apresentam, a grande

maioria formada por ex-alunos da escola de música.

“Essa apresentação surgiu como uma disciplina do curso,

para trabalhar o desenvolvimento e a prática de bandas”,

comenta Myckson Lee.

Workshow

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LazerCavalgada . Bingo . Bocha .

Dominó . Parapente

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Cavalgada

O toque do berrante marca o início das cavalgadas.

Em Baixo Guandu, são realizadas ao longo de todo

o ano e por diversos grupos, nos quatro distritos do

município. Cavaleiros e amazonas solitários, casais e famílias

acompanhadas de jovens e crianças se reúnem por fé,

promessa ou apenas diversão. A cavalgada se tornou uma

manifestação cultural no lugar.

Numa mistura de aventura, devoção, encontro entre amigos,

a atividade faz parte dos hábitos locais e já está no calendário

cultural e esportivo guanduense. Para Jovino Furtado de Mello,

de 72 anos, que recebeu os diversos cavaleiros em seu sítio

como ponto de partida para a 7ª Cavalgada do Rosário I e II,

“a atividade é uma alternativa para o homem do interior, onde

diversos agricultores não têm lazer”.

Por meio da cavalgada, reúnem-se grupos de conhecidos

e desconhecidos, moda de viola e muita bebedeira. Armando

Pachá, 78 anos, acompanha cavalgadas desse os 15 anos. Para

o operador de máquina, é o momento de diversão para tirar

o estresse do trabalho. Jair Pereira, de 69 anos, é farmacêutico.

Começou a trabalhar atrás de um balcão aos 12, e só aos 45

foi cursar uma faculdade de farmácia. Há 25 anos, participa de

cavalgadas, com um grupo de dez cavaleiros. Com barracas de

camping e um violão, eles seguem por dias e dias cavalgando e

são recebidos em diversas cidades. “Melhor terapia não existe. A

cavalgada cura tudo”, afirma Jair.

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Em tábuas de madeiras dispostas de forma retangular, famílias,

jovens e crianças se posicionam de pé. Cada um com uma

ou mais cartelas e um pouco de milho, aguardam os números

sorteados, que são cantados acompanhados de brincadeiras e

suspense. A tradição do bingo é forte em Baixo Guandu.

Muitas vezes associadas a festas religiosas, o binguinho – como

costuma ser chamado – também é usado para arrecadar fundos

para alguma finalidade maior. É o caso do bingo realizado pelos

alunos da escola municipal do Km 14, Elza Ewald de Oliveira.

“Todos os anos precisamos renovar nossos uniformes e também

garantir a manutenção dos instrumentos. Então, realizamos o

bingo às segundas sextas-feiras do mês”, conta Walksey Matheus

Novaes da Silva, 19 anos, tesoureiro da fanfarra.

A diretora de Apostilados da Oração da Igreja Matriz São Pedro,

Elizabeth Barbosa, conta que todos os sábados são feitos bingos

não apenas na Igreja Matriz, mas em outras paróquias também.

“É um lazer que muitos adoram. Às vezes também fazemos para

ajudar alguém doente e até as pastorais”, comenta.

Bingo

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A pista de bocha na Praça São Pedro foi inaugurada em 2008 e

,com ela nasceu a tradição de jogar para muitos moradores.

Diariamente, é possível ver a pista cheia de apaixonados pela

bocha. O aposentado Ovídeo Barbosa, de 78 nos, é o responsável

pela pista e a mantém aberta todos os dias, das 13 às 20 horas.

O aposentado Natalino de Freitas, de 71 anos, aprendeu a

jogar bocha durante as férias em Guarapari, local da sede da

igreja adventista que frequenta. “A paixão pela bocha já existe

há 52 anos”, comenta. Já para Marco Barreto, de 51 anos, a

identificação com a atividade de lazer é mais recente. Com as

tardes ociosas, há oito anos começou a frequentar a pista de

bocha e aprendeu a jogar. “Ficava em casa sem fazer nada. Hoje,

vou de três a quatro vezes por semana na praça, das 16

às 18 horas, para jogar, conversar e estar entre amigos.”

João Roberto da Silva, 59 anos, é militar aposentado,

aprendeu a jogar bocha sozinho e é considerado um dos

melhores do grupo. Frequenta o local todos os dias, das 16 às

19 horas, mesmo sem poder jogar devido a um problema no

Bocha

joelho. “Realizamos campeonatos três a quatro vezes por ano

de que participam em torno de 30 pessoas. Já tenho quatro

troféus de 1º lugar, dois de 2º e um de 3º”, orgulha-se.

Todos os dias, a Praça São Pedro fica repleta de jogadores

de dominó. A atividade é praticada pela terceira idade, que

costuma lotar a praça na parte da tarde. As mesas são localizadas

próximo à pista de bocha. Paulo Henrique dos Santos, 49 anos, é

trabalhador autônomo. Vem todos os dias para a praça às 15h30

e fica até as 18h30. Aos domingos, o horário é mais cedo, logo

depois da missa realizada na Igreja Matriz. “Quando revitalizaram

a praça, as mesas passaram a ser ocupadas. É um cassino a céu

aberto. Tem gente que já traz até a marmita e nem volta para

casa para almoçar”, conta Paulo Henrique.

Dominó

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O ponto de encontro aos sábados, domingos e feriados

é de frente para uma vista espetacular. Os amigos da

Associação de Voo Livre de Baixo Guandu reúnem-se na Rampa

do Monjolo para praticar o parapente e também para conversar

e trazer a família. É um estilo de vida para o grupo, que tem

contas em redes sociais para seguir trocando informações.

Baixo Guandu se tornou uma referência internacional

do esporte. Em 2018, vai ser a sede do Panamericano de

Parapente. “Não basta ter um morro para fazer um bom voo.

São vários fatores, como possuir muitas áreas de pouso e

uma corrente térmica adequada”, comenta o comerciante

Ricardo Mendonça de Aquino, de 43 anos. Ele está há 15 anos

no parapente e é considerado o veterano da rampa. Foi um

dos líderes da construção da sede no local, com banheiros,

bar que serve almoço aos domingos e até um sistema

interno com câmera para conectar a biruta, que permite ver

as condições de voo. “Construímos com dinheiro próprio,

doações de amigos e de outros parapentistas.”

Leovane Rossoin, 46 anos, é eletricista mecânico. Há dois

anos e meio pratica o parapente. “Baixo Guandu é o Havaí

do voo livre. Quase todos os dias dá para voar. Em alguns

locais do país, isso é possível apenas em determinadas

épocas do ano”, comenta.

Raney Modeneze de Freitas, 28 anos, voa desde 2013

e está se formando para ser instrutor de voo. Ele conta

que muitas vezes o grupo se reúne para fazer voos em

grupo. “É um esporte de paciência, e por vezes ficamos

horas esperando o melhor momento. Tem dia que, mesmo

sabendo que não vamos voar, nós nos encontramos na

rampa para conversar.”

Parapente

102

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Estação Cultural: Mapeamento de Baixo Guandu

Ficha Técnica Fundação Vale

Diretora-PresidenteIsis Pagy

Diretor-ExecutivoLuiz Gustavo Gouvêa

Gerência Fundação ValeMarcos Reys

Gerência de CulturaFernanda FingerlCamila AbudDiogo BarbosaNatalia Chamusca

Mapeamento Cultural

RealizaçãoMovida Produções

Coordenação Geral e Pesquisa de CampoJúlia Motta

Coordenação de ConteúdoAdriana Facina

Pesquisa HistóricaManuela Green

FotografiaMarcela Pin

Publicação

Edição Movida Produções

Produção de TextoJúlia Motta

FotografiaMarcela Pin

Coordenação de ConteúdoAdriana Facina

Revisão de ConteúdoMariana Filgueiras

RevisãoMarca-Texto Editorial

Design GráficoLígia LourençoFernanda Rossi

Impresso porJ. Sholna

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