estação cultura . novos olhares

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tgi | Élida Alegrâncio Reinaldo | USP . IAU

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''O passado, visto como presente histórico, é ainda vivo, é um presente que ajuda a evitar as arapucas... '' [lina bo bardi] É grande o número de obras, ora inacabadas ora sub-utilizadas, pertencentes a uma dinâmica urbana alterada, sobretudo devido a nova ordem do capital produtivo e, por isto, não se encontram atuantes neste cenário de desenvolvimento urbano. Procuro com esta intervenção, mostrar o valor de um desses exemplos arquitetônicos, sejam eles históricos ou não. Demonstrando sua capacidade de receber intervenções para seu ativamento enquanto espaço edificado. Minha intenção é inserir esta construção no mesmo contexto do espaço cultural do Estação Cultura, agregando valor as suas paredes sólidas, bem como ao conjunto edificado da Estação Ferroviária de São Carlos.

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É grande o número de obras, ora inacabadas ora sub-utilizadas, pertencentes a uma dinâmica urbana alterada, sobretudo devido a nova ordem do capital produtivo e, por isto, não se encontram atuantes neste cenário de desenvolvimento urbano.

Assim, procuro com esta intervenção, mostrar o valor de um desses exemplos arquitetônicos, sejam estes valores históricos ou não. Demonstrando sua capacidade de receber intervenções para seu ativamento enquanto espaço edificado.

A área de intervenção escolhida é onde hoje funciona um equipamento cultural, o ESTAÇÃO CULTURA, que utiliza do edifício da antiga Estação Ferroviária de São Carlos, para realização de suas atividades. Nela, temos a edificação alvo desta intervenção: o Galpão, espaço que servia à manutenção de maquinário da Compania Paulista de Estradas de Ferro e, atualmente é espaço para depósito da Cidade de São Carlos.

Assim, minha intenção é inserir esta construção no mesmo contexto do espaço cultural do Estação Cultura, agregando valor as suas paredes sólidas, bem como ao conjunto edificado da Estação Ferroviária de São Carlos.

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‘’O passado, visto como presente histórico, é ainda vivo, é um presente que ajuda a evitar as arapucas... ‘’

BARDI, Lina Bo. “Uma aula de arquitetura”. (1992).

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Estação Cultura ( novos olhares )

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neste espaço, quero agradecer ao Fundação Pró-Memória pelo material e tempo cedido a mim, para que este trabalho pudesse ser realizado. aos professores do Instututo de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, que ouviram minhas dúvidas e dividiram comigo seus conhecimentos. à minha família, sempre do meu lado. e aos meus amigos.

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Apres

entaçã

oarquivo pessoal

Este trabalho adota como partido a intervenção em arquiteturas residuais da malha urbana. Por arquitetura residual entende-se àquela que, devido alterações, sobretudo do capital produtivo, não serve mais às suas finalidades primeiras e, hoje, se encontra sem uso ou com uso abaixo do seu potencial, seja ele construtivo [técnico e funcional] ou arquitetônico [formal].

Partindo desta primeira proposição, trabalharíamos estas arquiteturas reinserindo-as no contexto da cidade, conferindo um uso adequado e contemporâneo, sem deixar de lado sua memória construtiva e temporal.

Assim, coloca-se como base de trabalho o que chamo de reciclagem de infraestrutura: não parte do simples pressuposto que se deve preservar uma arquitetura, por conter em sua imagem uma história, deve-se preservar pelo simples fato de que não se deve destruir, não só o patrimônio histórico, mas, sobretudo, o patrimônio técnico e infraestrutural contido na construção consolidada, que claramente serve a novos usos.

Ou seja, não trata a memória daquela arquitetura de maneira nostálgica, na tentativa de um sobreviver patrimonial e utilizando disto como único ponto que justificaria sua preservação. Não se preserva somente por ser patrimônio, mas por caber, àquela estrutura, uma nova atuação no cenário contemporâneo, conferida com a reciclagem de seu uso, com uma nova função que esteja de acordo com aspirações do presente.

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“Arquitetura é antes de mais nada construção, mas, construção concebida com o propósito primordial de ordenar e organizar o espaço para determinada finalidade e visando a determinada intenção. E nesse processo fundamental de ordenar e expressar-se ela se revela igualmente arte plástica, porquanto nos inumeráveis problemas com que se defronta o arquiteto desde a germinação do projeto até a conclusão efetiva da obra, há sempre, para cada caso específico, certa margem final de opção entre os limites - máximo e mínimo - determinados pelo cálculo, preconizados pela técnica, condicionados pelo meio, reclamados pela função ou impostos pelo programa, - cabendo então ao sentimento individual do arquiteto, no que ele tem de artista, portanto, escolher na escala dos valores contidos entre dois valores extremos, a forma plástica apropriada a cada pormenor em função da unidade última da obra idealizada.” COSTA, Lúcio. Considerações sobre arte contemporânea (1940).

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Introduçã

oPINACOTECA, São Paulo. paulo mendes

Como prever uma arquitetura a um edifício que já possuiu função definida, programa voltado àquela função e esta, por sua vez, também definiu sua forma?

Repensar a arquitetura, redefini-la, fora do tempo e espaço em que inicialmente foi concebida, quando se elevou um edifício que continha características intrínsecas ao seu objetivo primeiro. Contornar o espaço a qual pertence, totalmente modificado pela ação de novas dinâmicas, sobretudo os lugares de uso público, totalmente diferentes daquela referida no primeiro projeto. E, partindo dessas premissas, arquitetar novas características, necessárias para aquele espaço, retomando sua inserção no urbano.

E qual seria este novo uso? Como prever nova função, utilizando apenas a sua estrutura e paredes concretas, já que a inicial foi deturpada pelo tempo e pela ação dos seus usuários?

Em outros projetos já tivemos este tipo de intervenção, o de transformar um espaço e inserir nova lógica de uso nele, a partir de conceitos arquitetônicos atuais.

Como é o caso da intervenção, no antigo edifício do Liceu de Artes e Ofícios, projeto de Ramos de Azevedo de 1905, para servir de uso para a Pinacoteca do Estado, intervenção esta confiada ao arquiteto Paulo Mendes da Rocha. Ele altera condições relacionadas às lógicas hierárquicas da arquitetura classicista, quando muda seu acesso principal para sua lateral, e redireciona a ordem e simetria desta arquitetura para uma outra, a da arquitetura moderna - quando seu espaço interno é condicionado à disposição livre de meias paredes - de inspiração miesiana, organizando-o diferentemente do original, e garantindo aos ambientes predominância menor sobre a apreciação das exposições.

Ou seja, pela alteração da dinâmica de uso do seu espaço urbano, o arquiteto altera a relação primeira da existência do edifício, que é a ordem hierárquica que colocava sua entrada principal voltada à avenida de maior importância do seu entorno e que, agora, uma entrada lateral passa a funcionar

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7arquivo pessoal

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SESC POMPÉIA, São Paulo. lina bo bardicomo acesso ao edifício, voltada ao Parque da Luz. E, de maneira mais sutil, mas não de segunda ordem, interfere na relação da arquitetura (do edifício) com sua função, quando cede a importância de seus espaços para o que nele é exposto, “sem que eles predominem excessivamente sobre a apreciação das exposições ali abrigadas”¹.

Outro exemplo, o caso do SESC Pompéia, da arquiteta Lina Bo Bardi. A antiga Fábrica de Tambores da Pompéia, desativada e, naquele momento, anterior à intervenção, contava com duas características que colaboraram para a escolha de partido pela arquiteta. Uma delas, era o patrimônio técnico contido na estrutura, importado pelos ingleses e estampado na plasticidade do edifício. E a outra, talvez a mais importante, é que a área do galpão estava sendo utilizada como espaço informal, apropriado pelos moradores da região próxima, para atividades de lazer.

Destes pontos, surge uma nova proposta de ocupação edificante do espaço, interno e externo, bem como, proporciona qualidade e reafirma o motivo da apropriação do espaço, conferindo infraestrutura para as atividades de lazer que já eram uma espécie de solicitação subjetiva pelos que utilizavam o local de maneira informal.

Nesta intervenção, a arquiteta toma partido da construção existente, notando força na dimensão dos espaços, na sua implantação e volumetria, colocando estes dados a favor de seu projeto, bem como, ao inserir novos edifícios no conjunto, o faz com a arquitetura que cabe ao tempo presente, não copia o que está dado, intervém com arquitetura contemporânea. E, sobretudo, o que ela pretende que permaneça é a rica experiência comunitária, que ocorre de maneira espontânea e que carrega o mote principal do projeto para o SESC Pompéia.

A relação mais óbvia entre o antigo e o novo, não só destes, mas de outros projetos que trataram de preexistências urbanas, é a do tempo e espaço

¹. ZEIN, Ruth Verde. “Sobre Intervenções Arquitetônicas em Edifícios e Ambientes Urbanos Modernos: Análise Crítica de Algumas Obras de Paulo Mendes daRocha”. Artigo. sd.

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“O projeto nasce da confrontação deste entorno com a intenção projetual.” Nota de aula.

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PRAÇA DO PATRIARCA, São Paulo. paulo mendes

ao qual pertence esta nova intervenção pretendida, assim sendo, para tratar de novas estruturas e equipamentos urbanos não podemos deixar de levar em consideração esta cidade que é estranha a àquela primeira arquitetura, e tão pouco podemos deixar de lado as causas que levaram determinadas áreas àquela situação – quais os desdobramentos vividos na cidade que atuaram na conformação desta nova realidade – e de que maneira este conjunto de características atuam na área e atuarão na futura arquitetura.

Assim, é retomado o questionamento de: como intervir com uma arquitetura suficientemente forte para qualificar o urbano? Até que ponto o entorno deve ser modificado para que haja atuação equilibrada entre este e a ‘’nova obra’’ sem causar impactos negativos à cidade?

Levando estes questionamentos em consideração, o que se pretende desenvolver é: como se trabalhar arquitetura em edifícios existentes, em áreas de entorno consolidado, sem romper por completo com sua arquitetura primeira, mas alterá-la substancialmente, no sentido de conferir características positivas, que consigam abraçar os anseios de determinada região, diretamente próxima e indiretamente relacionada.

É como comenta Paulo Mendes da Rocha, sobre o projeto na Praça do Patriarca:

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Segundo o memorial do autor, “a revalorização do centro da cidade terá que conter afirmações interessantes sobre a dependência entre as idéias e as formas, um reviver da arquitetura urbana. Não simplesmente restaurar, (mas) também criar novos desenhos que abriguem, amparem e expressem hábitos urbanos contemporâneos, do tempo que vivemos.” ZEIN, Ruth Verde. “Sobre Intervenções Arquitetônicas em Edifícios e Ambientes Urbanos Modernos: Análise Crítica de Algumas Obras de Paulo Mendes daRocha”

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REQUALIFICAÇÃO DO LARGO DO MERCADO, Florianópolis. hector vigliecca.

A lógica primeira de um edifício é realizada a partir das condições do entorno e da função que irá abrigar. Assim, além do seu programa interno, direcionado para os objetivos de seu uso, também é influenciado pelas interferências externas, e que por vezes não são somente referenciadas pelo entorno físico – que levaria em consideração altura de edifícios e tipos de arquitetura –, mas também dependem de condições do tipo de uso do lugar, de características intimamente ligadas à dinâmica de funcionamento daquela região que receberá a intervenção – neste caso falamos principalmente da relação usuário e cidade, ou seja, de que maneira o usuário interfere nas características daquela região.

Porém, em muitos projetos somente foi utilizada, para concepção da arquitetura, a função que o edifício iria abrigar, como exemplo: os galpões industriais, de volumetria simples com a ausência de ornamentos e características plásticas, já que estas não conferem valor para um edifício que tem a função única de abrigar sua linha de produção. Assim como, a partir deste parâmetro funcional, é definido seu programa. Nestes casos, as condições do entorno são praticamente ignoradas.

O resultado deste tipo de projeto, despreocupado com as interferências que possivelmente irá causar na cidade são inúmeros, mas podemos destacar, em primeiro lugar, a alteração de boa parte da dinamica original, existente entre os usuários e o local da intervenção, isso gerado principalmente pela proporção do projeto, que insere um novo contingente de pessoas na região, influenciando vários setores primários dali. E estes, por sua vez, se apropriam da lógica de funcionamento do empreendimento em questão, gerando um efeito dominó desordenado, quando este processo não é assitido por diretrizes de desenvolvimento.

E, em segundo lugar, com o provável encerramento ou mudança das atividades daquela indústria, o que teremos como resultado é que sua região mais próxima passa por um processo de esvaziamento, por não mais abrigar aquele contingente funcional que garantia, mesmo que sazonalmente, considerável numero de pessoas transitando no local.

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E não só neste tipo de edifício existe a ausência de relações entre função, arquitetura e cidade, muitas outras obras foram erguidas e estas não levaram em consideração o entorno – tanto o físico quanto o dinâmico [ambiental] existente.

Muitos projetos, bastante contemporâneos, são realizados e não carregam nenhuma relação com a cidade, mas se impõem de maneira tão agressiva, que as relações originais do local de implantação são quase que completamente alteradas.

Um exemplo atual deste tipo de projeto são os erguidos para as Instituições de Ensino Superior Privado. Estudadas na pesquisa: “Arquitetura, Urbanismo e Educação: Universidades Particulares e Transformações Urbanas”, tivemos clara a conseqüência que grandes empreendimentos causam em áreas urbanas.

Citando brevemente uma das conclusões, extraídas da análise dos locais de implantação deste tipo de empreendimento, é que, ao se levar em consideração somente a característica plástica e funcional do edifício, visando quase que exclusivamente o ganho de mercado – ou seja, utilizando da propriedade plástica, conferida pela arquitetura ao empreendimento, para o merchandising da marca da Universidade, pretendendo a garantia de que seu produto seja exposto e comprado – e, ignorando questões do entorno (a maioria dos locais de implantação destes empreendimentos eram áreas com predominância de uso residencial, que são muito frágeis frente a intervenções de grande escala), temos que as características originais da região são quase que completamente alteradas.

Na maioria dos casos a maior, e mais freqüente conseqüência, é a expulsão da população que inicialmente residia no local, para dar espaço a estabelecimentos comerciais (que usufruem no novo contingente de usuários) e estes, por sua vez, passam a afirmar o funcionamento sazonal do entorno próximo, ou seja, ele passa a abrigar um enorme fluxo de pessoas nos horários de entrada e saída de alunos da Universidade e, nos outros momentos, a

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BORDA DO GARONNE, França.região é praticamente desabitada, o que cria diversos problemas, como transito caótico nos horários de entrada e saída dos usuários do empreendimento e aumento de violência gerada pela ausência de pessoas transitando pelo local nos horários em que a escola não está em funcionamento.

Então, como encontrar o equilíbrio? Como inserir (ou, neste caso, RE-inserir) um edifício no cotidiano dos sujeitos mais diretamente dependentes daquela intervenção, sem subtraí-los, permitindo que eles se apropriem da intervenção no sentido de conferir a ela o sucesso do seu programa e, ao mesmo tempo, tê-la como objeto qualificador de seu cotidiano, ou seja, como chegar a uma arquitetura com qualidade suficiente para atrair seus usuários e, conseqüentemente, coloque seu uso em pleno funcionamento?

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”Por outro lado, a arquitetura depende ainda, necessariamente, da época da sua ocorrência, do meio físico e social a que pertence, da técnica decorrente dos materiais empregados e, finalmente, dos objetivos e dos recursos financeiros disponíveis para a realização da obra, ou seja, do programa proposto.”COSTA, Lúcio. Considerações sobre arte contemporânea (1940).

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PUNTA DELLA DOGANA MUSEUM, Veneza. tadao ando

Quando é levantado o questionamento sobre a técnica, objetiva-se o encontro do equilíbrio entre passado e presente, verificando as relações possíveis entre a arquitetura de hoje e a de ontem, principalmente do ponto de vista da prática do projeto arquitetônico e urbano.

Propõe-se a manutenção de características formais e técnicas essenciais, para que a memória pertencente ao edifício e a seu uso no passado não sejam encobertos e ignorados. Mas não se coloca isto como base primordial da intervenção – da forma como são tratadas as arquiteturas reconhecidas por instituições como Patrimônios da humanidade -, utiliza-se destas estruturas erguidas como bens que nos servem como possibilidade de suprir o presente, a partir de sua construção e de sua infraestrutura.

A intenção não é desvendar o passado e sim incluir o que existe no presente com o benefício da utilização de elementos contemporâneos, técnicos e formais, que visam à requalificação e inserção do edifício à nova lógica urbana.

Outro ponto que se considera como parte do desenvolvimento da técnica, enquanto aliada à realização de um projeto contemporâneo, está relacionado com o programa que será aplicado na intervenção.

Em outras palavras, considera-se que o programa é parte da técnica utilizada, em arquitetura, na atividade de apropriação e desenvolvimento positivo de espaços, e que a análise para a escolha do que melhor se enquadra na intervenção é derivante do estudo do edifício e da cidade: “trabalhar o lugar e tentar descobrir o que aquela prearquitetura pode proporcionar, não somente descobrir o que precisa ser feito, mas também o que pode ser oferecido” [nota de aula]

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“É preciso se liberar das ‘amarras’, não jogar fora simplesmente o passado e toda a sua história; o que é preciso é considerar o passado como presente histórico. O passado, visto como presente histórico, é ainda vivo, é um presente que ajuda a evitar as arapucas... Frente ao presente histórico, nossa tarefa é forjar outro presente, ‘verdadeiro’, e para isso é necessário não um conhecimento profundo de especialista, mas uma capacidade de entender historicamente o passado, saber distinguir o que irá servir para novas situações de hoje que se apresentam a vocês e tudo isso não se aprende somente nos livros. (...) Na prática , não existe o passado, o que existe é o presente histórico.” BARDI, Lina Bo. “Uma aula de arquitetura”. (1992).

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Caminho

s do Projeto

arquivo pessoalLevando esta última citação em consideração, o que eu busco com meu

trabalho é procurar entender o que pode ser oferecido a estas arquiteturas residuais da malha urbana. Nesta tentativa de inserção no presente.

É grande o número de obras, ora inacabadas ora sub-utilizadas, pertencentes a uma dinamica urbana alterada, sobretudo devido a nova ordem do capital produtivo e, por isto, não se encontram atuantes neste cenário de desenvolvimento urbano.

Assim, procuro com esta intervenção, mostrar o valor de um desses exemplos arquitetônicos, sejam estes valores históricos ou não. Demonstrando sua capacidade de receber intervenções para seu ativamento enquanto espaço edificado.

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arquivo pessoal

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Neste caso específico, o valor desta edificação é existente por sua técnica construtiva, expressada em suas paredes espessas de tijolo de barro (assentados um a um, numa ‘alinhagem perfeita’); estrutura metálica, provavelmente importada da Inglaterra no mesmo momento da construção do, agora Patrimônio Histórico, edifício da antiga Estação Ferroviária de São Carlos; e espacialidade, conferida por sua planta livre (de área 2.833 metros ²), somente marcada pelos pilares que sustentam a estrutura do telhado.

Porém, devido ao fim útil que pertencia a esta edificação ( o galpão era utilizado para manutenção de maquinário férreo ), a devida atenção nao foi dada a este espaço e hoje ele serve de depósito à cidade de São Carlos (mais precisamente a instituição em atividade no local).

Hoje, na área de intervenção funciona um equipamento cultural, o ESTAÇÃO CULTURA, utilizando do edifício da antiga Estação Ferroviária de São Carlos, para realização de suas atividades. Temos ali a Fundacao Pró-Memória, o Departamento de Cultura, o arquivo e o museu (com um acervo permanente de obras de Benedito Calixto e outros equipamentos que remontam imagens da cidade no seculo passado) da Cidade de São Carlos.

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arquivo pessoal

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Assim, minha intenção é inserir esta construção no mesmo contexto do espaço cultural do Estação Cultura, agregando valor as suas paredes sólidas, bem como ao conjunto edificado da Estação Ferroviária de São Carlos.

Ao mesmo tempo em que busco a solução de alguns problemas desta área. Ela é marcada por barreiras: um talude que corta a circulação desta área de intervenção com um bairro mais residencial da região; um fluxo de veículos elevado nas vias de acesso; e, principalmente, a linha do trem, que parte ao meio o terreno, onde de um lado temos o Edifício da Estação e do outro o edifício alvo desta proposição).

Já de início, pensando na solução destes barreiras, é considerada a retirada dos trens de carga daquela linha férrea,e inclusão do trem de passageiros. Escolha esta feita a partir de dois motivos: 1# o trem de carga, tem causado danos a estrutura do Patrimônio, bem como outros problemas que este tipo de veículo causa a cidade (poluição sonora e congestionamentos); 2# com a inclusão do trem de passageiros naturalmente o fluxo de pessoas torna-se expressivo na área de intervenção, retomando parte da história funcional da Estação, com a utilização deste patrimônio para o mesmo fim que foi construído e, este veículo é consideravelmente mais leve, tornando assim a paisagem menos agressiva.

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arquivo pessoal

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PUNTA DELLA DOGANA MUSEUM, Veneza. tadao ando

Minha intenção projetual, para seguir com esta intervenção, é baseada no que eu chamo de “camadas”. É o contrário de um trabalho de restauração, onde as camadas são retiradas para expor a obra arquitetônica. Neste caso, eu as insiro, utilizando-as como demarcação de espaços, contrapondo-as com o existente em geometria e texturas. Ao mesmo tempo que dará ao usuário uma descoberta da edificação existente: quando ele acessa o espaço, tem esse novo elemento inserido, mas durante o passeio estas camadas desfragmentam-se, fazendo surgir a pré-existência e toda sua qualidade construtiva.

BIBLIOTECA COAC, Santa Cruz de Tenerife - Espanha. leonardo omar arquitectos

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arquivo pessoal

arquivo pessoal

Para entender de que forma é cabível proceder com esta intervenção, já que eu busco sua integração com a atuação cultural oferecida à cidade, parte do processo investigativo para encontrar programa adequado ao edifício, foram visitas ao edifício da Estação, e com isso constato que algumas funções podem ser realocadas para um espaço tecnicamente adequado e arquitetonicamente qualificado.

Assim, proponho a retirada do arquivo, do museu (com o acervo permanente de obras do benedito calixto) e do acervo bibliográfico da Fundação Pró-Memória, do edifício da Estação e passo a estudar sua realocação.

Num primeiro momento tento inserir estas três funções (museu + acervo bibliográfico + arquivo) no edifício alvo da intervenção. Porém, com o levantamento de informações sobre “como deveria ser um arquivo” entendo que caso ele fosse realocado no “galpão”, pelas características técnicas necessárias a conservação de material que deve conter um arquivo, ele perderia suas qualidades espaciais .

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Neste sentido, este novo elemento, de geometria e materialidade diferentes, passa ser o espaço que abriga o MUSEU, com as obras do acervo permanente de Benedito Calixto, e expõe os livros do Acervo Bibliográfico do Pró-Memória (estes além de serem expostos também podem ser acessados por usuários). E o espaço que ainda contém as características originais da construção é tido como livre, para poder abrigar todo o tipo de atividade cultural que ali possa ser oferecida: tais como as ligadas ao Pró-memória (Estação Leitura, Concurso de Monografias), e outros roteiros culturais que possam vir a São Carlos.

Os materiais escolhidos para a construtibilidade deste elemento inserido no objeto de trabalho foram: painéis Masterboard, (compostos por miolo de madeira e faces externas de Placas Cimentícias, estruturada com steel frame) e o vidro.

Os painéis, Masterboard, que recebem pintura branca (escolha feita para que o branco contraste com o existente, as paredes de tijolo de barro), constituem este novo elemento com uma geometria, diferente da existente no galpão, afirmando a intervenção, cedendo movimento ao espaço.

Os painéis de vidro, ora são utilizados para controlar o acesso ao espaço ora para ceder ao usuário a visual da área de intervenção, quando este está no interior do Galpão, ou visuais internas, quando ele esta caminhando próximo ao edifício.

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REQUALIFICAÇÃO DO LARGO DO MERCADO, Florianópolis. hector vigliecca.

Para o espaço do arquivo, considera-se que ele necessita de uma nova área edificada para ser implantado. Esta solução é devida ao levar em consideração estudos feitos a respeito da organização funcional de um arquivo.

Para essas atividades, três áreas específicas devem ser planejadas:

• área reservada ao trabalho técnico e depósitos, totalmente vedada ao público;• área administrativa, parcialmente vedada ao público e;• área pública.

Bem como, este nova área a ser considerada, deve vir amparada com sistemas de condicionamento ideais para a conservação do acervo, ser capaz de abrigar-lo com segurança, e prever sua expansão, visto que a documentação tende a crescer de volume com o passar do tempo.

Após algumas tentativas, de se construir uma nova edificação para abrigar o arquivo, define-se seu local de implantação em conjunto com a solução das barreiras do terreno. Para unir os dois lados da área, segmentada ela linha férrea, são instaladas passagens subterrâneas que conectarão um lado e outro. Estas passagens, além de conferir acessibilidade universal ao conjunto, criam também um átrio, área que pode receber atividades artísticas, como exposições fotográficas – solução necessária, pois se estas configurassem corredores, servindo somente para passagem entre um lado e outro, estaria sendo criados espaços passivos de vários problemas, como segurança e higiene -, que dá acesso as instalações do arquivo, locadas sob uma nova plataforma de embarque e desembarque de passageiros.

Outro elemento inserido no projeto, que colabora com a solução da barreira, que é o talude, é uma escadaria, que conecta o nível da área de intervenção com a rua Marcolino Pelicano. O objetivo principal deste elemento, é o de eliminar a barreira, mas também qualifica a quadra da rua de acesso citada, oferecendo um espaço para, por exemplo, os alunos do SENAI, nos momentos de entrada e saída da escola, e quando da realização de eventos como o Rock na Estação pode servir a platéia.

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Enca

minha

metos Finais

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33situação

museu arquivo

intervenção alvo

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35planta sub.solo | arquivo

projeção galpão

projeção estação

trabalho técnico e depósitos

área administrativa área pública

átrio | exposições

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37planta térreo | galpão

estacionamento

nova plataforma

caféreserva técnica

museuárea livre | exposições

área externa | shows . concertos

acessos

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39planta cobertura

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