estabilidade motora de pessoas portadoras de síndrome de...
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UNICAMI"' Rute Estanislava Tolocka
Estabilidade motora de Pessoas Portadoras de
Síndrome de Down, em tarefas de desenhar
Tese apresentada à Faculdade de Educação Física da Universidade Estadual de Campinas, para obtenção do título de doutor em Educação Física
Orientador: Prof. Dr. Ademir de Marco Co-orientador: Prof. Dr. Paulo Roberto Gardel Kurka
Campinas, 2000 UN
SEÇÃO
FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BffiLIOTECA-FEF UNICAMP
T585e Tolocka, Rute Estanislava
Estabilidade motora de pessoas portadoras de Síndrome de Down, em tarefas de desenhar I Rute Estanislava Tolocka. -Campínas, SP: [s.n.], 2000.
Orientadores: Ademir de Marco, Paulo Roberto Gardel Kurka
I. Down, Síndrome de. 2. Estabilidade. 3. Comportamento humano. 4. Deficiência mental. 5. Educação Física I. Marco, Ademir de. li. Kurka, Paulo Roberto Gardel. ill. Título.
Este exemplar corresponde à redação final da tese de doutoramento
defendida por Rute Estanislava Tolocka e aprovada pela comissão
julgadora em 11 de Fevereiro de 2000.
Campinas, 26 de Maio de 2000.
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I
orientador'·,
c;(~~ co-orientador
UNICAMP
SEÇÃ l.
iii
Investigação conduzida através do Departamento de Educação Motora da
Faculdade de Educação Física, UNICAMP
e
Departamento de Projeto Mecânico da Faculdade de Engenharia Mecânica, UNICAMP
Suporte Financeiro: CNPq
UNICAMP
iv
DEDICATÓRIA
Não fosse o Eterno, que esteve ao meu lado (todos os que vivenciaram comigo esta trajetória que o digam!) Não fosse o Senhor dos Exércitos, que esteve ao meu lado quando todas as dificuldades começaram a se avolumar E elas me teriam engolido viva ... Bendito seja o Deus de Israel, que não me deu por presa às aflições Salvou a minha alma, como um pássaro do laço do passarinheiro E me fez encontrar descanso ... Como agradecer-te, oh Altísimo, por tanto amor e cuidado? Render-te-ei graças, de todo o meu coração E na presença dos poderosos te cantarei louvores.
A ti seja todo o louvor!
(Salmo 124 e 138- parafraseado)
v
AGRADECIMENTOS
Ao Prof. Dr. Ademir de Marco e ao Prof. Dr. Paulo Roberto Gardel Kurka, orientadores deste estudo
Ao Prof. Dr. Luiz Eduardo Barreto Martins, Prof. Dr. Ricardo Machado Leite de Barros, Prof. Dr. Edison de Jesus Manoel, Profa. Dra. Eliane Mauerberg de Castro, Prof. José Luiz Rodrigues, e a Profa. Dra. Marli Nabeiro, que analisaram este trabalho
Aos pesquisadores do Departamento de Projeto Mecânico da FEMHeraldo, Salustiano e Emerson e do Laboratório de Instrumentação Biomecânica da FEF- Roberto, Paulo e Milton
À minha família, suporte espiritual, emocional, computacional, artesanal, financeiro e ortográfico, aos amigos e aos irmãos com diferentes contribuições e aos que se deixaram observar, desenhando
À Prefeitura Municipal de Paulínia, à Universidade Federal de Juiz de Fora, pelas licenças concedidas e ao CNPq pelo suporte financeiro
D f_
SEÇÃO
vi
01
01 02 03 a 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35
1 2 3 4
Lista de quadros
Análise da estabilidade do movimento
Lista de figuras
Figura reproduzida pelos participantes do estudo Numeração dos Segmentos da figura proposta Box and whisker display Evolução em torno da elipse- Tarefu OI Box and whisker dísplay- Status dinâmico- Tarefa O 1 Box and whisker dísplay Tempo Total-Tarcfu 01 Box and whisker display- Distância Total- Tarefa O 1 Box andwhisker display- ·rempo de fuse aérea- ·rarefu 01 Box and whisker display- Distância fase aérea- Tarefu O l Box andwhisker disp!ay- Escala ut.ilizada- Tarefa 01 Box and whisker display- Erro de escala - Tarefu 01 Box and whisker display- Status Dinâmico- Tarefu 02 Box and whisker display- Status Dinâmico- Tarefu 01 e 02 Box and whisker display- Tempo total- Tarefa 02 Box and whisker dísplay- Tempo Fase aérea- Tarefa 02 Box and whisker display- Distância Total - Tarcfu 02 Box and whisker dísplay- Distância fu.<>e aérea- Tarefa 02 Box and whisker display- Perímetro da figura- Tarefu 02 Box and whisker display- Escala da figura- tarefu 02 Box and whisker display- Erro de escala - tarefu 02 Box and whisker display- Status dinâmico - tarcfu 01 c 03 Box and whisker display- Tempo Total- tarefa 03 Box and whisker display -Distância Total- tarefu 03 Box and whisker display- Escala- Tarefu 03 Box and whisker display- Erro de escala - tarefu 03
Lista de gráficos
Exemplo de deslocamento realizado e a elipse de inércia Exemplo de curva de evolução da distância em relação à elipse de inércia Exemplo de Padrão de movimento de cada execução Exemplo da Estabilidade do sistema (status dinâmico)
67
73 75 83 94 96 97 97 98 98
108 112 112 113 113 114 114 114 114 117 120 121 121 122 124
vii
57 57 58 58
5 6 7e8 9 a20 21 a44 45 46 a 57 58 59 a 70 71
01
01 02 03
Exemplo de deslocamentos realizados Exemplo de deslocamento realizado X deslocamento proposto Exemplo de Deslocamento realizado e as fases aéreas Status dinâmico do sistema- tarefa OI Erros na Figura- tarefa OI Freqüência relativa dos erros na figura- tarefa OI Status dinâmico- tarefa 01 x tarefa 02 Freqüência relativa dos erros -tarefa 02 Padrão de Movimento -tarefa OI e 03 Erros na figura- tarefa 03
Lista de tabelas
Número de figuras traçadas na tarefa 02
Lista de apêndices
Glossário Folha de respostas para a tarefa O I Folha de observação
viii
61 66 76 95
100 107 llO l15 l19 123
l16
166 174 176
Sumário
Lista de quadros Lista de figuras Lista de gráficos Lista de tabelas Lista de Apêndices
vii vii vii
viii viii
Introdução ................................................................................................................................... 1
1 A Pessoa Portadora de Síndrome de Down ..................................................................... 6
1 .1 Características gerais da pessoa portadora da Síndrome de Down .. .......... .. ... . ................... .... 9 1.2 Contribuições de estudos sobre comportamento motor para a caracterização da Pessoa Portadora de Sí ndrome de Down .. ... .. . ... . . . . .. . . . . . . . . . . .. . . . . .. . . . . . . . . . .. ... . . . . . . ... . . . . . . ... . . . . . . . . . .. .. . . . .. . . . .. .. . . . .. 12 1 .3 Resumo do capítulo............................................................................................................... 24
2 Estudos sobre o comportamento motor humano ........................................................... 25
2.1 Abordagem cognitivista ... ....................... .................................................... ......................... .. 28 2.2 Abordagem Sistêmica .............................. ..... .............................. ...................... ................... .. 32 2.3 Imprecisões teóricas............................................................................................................. 36 2.4 Tentativas de aproximação das abordagens cognitivistas e sistêmicas para o estudo do comportamento motor humano .................................................................................................... 40 2.5 Resumo do capítulo ................................................................................................................ 42
3 Proposta para o estudo da estabilidade do comportamento motor .............................. 45
3.1 Comportamento motor e a estabilidade do sistema............................................................. 47 3.2 Proposta para o estudo da estabilidade do sistema ............................................................ 51
3.2.1 Estabilidade do Sistema .................................................................................................................. 52 3.2.2 Estratégias de Movimento do Sistema ............................................................................................. 59 3.2.3 Qualidade de execução do movimento ............................................................................................ 61
3.3 Resumo do capítulo ............................................................................................................. 66
ix
4 Met<Kiologia ........................................................................................................................................ 68
4.1 Classificação da pesquisa ...................................................................................................... 69 4.2 População.............................................................................................................................. 69 4.3 Material e Métodos. ............................................................................................................... 70
4.3.1 Sistema de registro •...........................................•............................................................................. 71 4.3.2 Questões de Estudo ..•..............................................•............•...........•.............................................. 72 4.3.3 Tarefas 1rtilizadas ............................................................................................................................ 72 4.3.4 Modelo de análise utilizado ............................................................................................................ 75 4.3.5 Tratamento dos dados adquiridos pela mesa digitalizadora ............................................................... 76 43.6 Anãiíse estatística. ••••....••.••.••.......•••.....•..•.•......•.•...••.•.•...•..•....•...•..••.•......•.•..•.•......•.•....••.....•........... 78
4.4 Resumo do capítulo............................................................................................................. 79
5- Resultados ........... _ ........................................................................................... - .... _ ........................... 80
5.1 -Tarefa 01 ............................................................................................................................. 81 5.2 -Tarefa 02 ............................................................................................................................. 109 5.3-Tarefa03 ............................................................................................................................. 118
6- Discussão ........................ u."'············ .. ···············--·············· .. ···················--··--·······"'··· .. ·· .. ········ 125
6.1 Estabilidade do comportamento motor ................................................................................. 126 6.2 Efeitos da prática .. . ..... . . . .. . . . .. . . . ... . . . .. .. . . . . .. . . . .. . . . . . .. . . .. . . . . . . . . .. . . . . .. . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ...... ... . . . 133 6.3 Modelodeestudo ................................................................................................................ 137 6.4 ResumodocapítuiO .............................................................................................................. 139
7- Conelusões ...................................................................................................................................... 141
Bibliografia ...................................................................................................................... 145
X
RESUMO
TOLOCKA, Rute Estanislava. Estabilidade motora de Pessoas Portadoras de
Síndrome de Down, em tarefàs de desenhar. Campinas. Faculdade de Educação Física,
Universidade Estadual de Campinas, 2000. Tese de Doutorado.
Este estudo propõe uma técnica para analisar o comportamento motor de Pessoas
Portadoras de Sindrome de Down (PPSD). O movimento é considerado corno um sistema
hierárquico com restrições fisicas, que podem ser observadas através de elementos
cinemáticos c geométricos, tais como tempo de movimento, distância, escala c
desenvolvimento em tomo da elipse central de giração. Tal observação permite a
comparação entre o status dinâmico e as estratégias de movimento, possibilitando a
descrição matemática da estabilidade e a inferência a processos mentais que atuam na
coordenação da ação. Esta técnica foi utilizado para analisar a estabilidade motora de
PPSD em tarefàs de desenhar. Os resultados foram comparados aos de Pessoas Portadoras
de Deficiência Mental (PPDM) e Pessoas sem Deficiência Mental conhecida (Ps/DM),
visando a identificação de características que pudessem estar ligadas a esta síndrome. As
PPSD apresentaram inconsistência no padrão de movimento, sensibilidade e dificuldades
de adequação a modificações nas exigências da tarefà, estratégias diferenciadas de
movimento e déficits no desenvolvimento motor. Entret..anto, estas caracterísücas não
puderam ser atribuídas a esta síndrome, dado que a diferença entre o grupo de PPSD e
PPDM não foram sempre estatisticamente significativas, embora o fossem entre estes dois
xi
grupos e as Ps/DM. A prática da tarefà não foi suficiente para provocar mudanças no
status dinâmico do sistema, mas levou à padronização espacial, o que pode ser indicativo
da fonnação de uma macroestrutura para coordenar o movimento. O estudo indicou
também que pessoas portadoras de deficiência mental de ambos os grupos têm
comportamento motor instável e desenvoivirnento motor diferenciado. Os resultados
mostram ainda que o modelo de estudo utilizado é adequado para a observação do
comportamento motor de PPSD e pode contribuir pa..<t a descrição de características
motoras ligadas a esta síndrome.
Xll
Abstract
TOLOCKA, Rute Estanislava Motor stability of people with Down Syndrome
during drawing tasks. Campinas. Faculdade de Educação Física, Universidade Estúdual de
Campinas, 2000. PhD Thesis
The work pro poses a technique for analysis of the motor behavior of People with
Down Syndrome (DS). The movement is considered as coming from a hierarchical system
with physical constraints that may be observed through k:inematics and geometric elements
like movement time, distance, scale and displacement about central ellipse of gyration.
Such observation permits a comparison between the dynamical status and strategies ofthe
movement, allowing the rnathematical description ofthe stability and inferences to mental
process that would work in the coordination of the action. The technique was used to
analyse the motor stability of DS during drawing tasks. The results were compared with
people with Mental Retardation (MR) and people without disabilities (ND) in order to
identify characteristics of such syndrome. DS showed inconsistent movement pattems,
sensibility and difficulties to adequate themselves to the modifications in the task,
different strategies of movement and motor development deficits. However those
characteristics could not be attributed to such syndrome because the difference between
DS and MR were not statistically significam, although it was significant among them and
ND. Thc amount ofmovcmcnt training pcrformcd in thc study was not sufficicnt to bring
about the dynamic status of the system but brought a spatial standardization, that may
xiii
indicate the formation of a macro-structure to control the action. The study indicated that
mcntally rctardcd pcoplc from both groups havc unstablc motor bchavior and diffcrcnccs
in the motor development. The results also show the model o f study present here is suitable
to observe the motor behavior of DS and might contribute to descriptions of motor
characteristics linked to such syndrome.
XIV
Introdução
A Síndrome de Down vem sendo estudada desde 1866, quando foi descrita pela
primeira vez, porém, pouco se sabe sobre suas conseqüências sobre o comportamento
motor. O desconhecimento de tais características dificulta a intervenção a ser oferecida
para a aprendizagem ou recuperação motora, limitando o desenvolvimento das pessoas
portadoras desta síndrome.
Esta escassez de informação está ligada à dificuldade existente para a avaliação
destes casos, tanto no nível clínico ou pedagógico, quanto em procedimentos científicos.
FIGUEIREDO (1997), observou que, mesmo em instituições especializadas, a avaliação é
ineficiente. SEAMAN (1988a e b), apontou vários problemas relacionados a avaliação das
caracteristicas desta população, a qual tem sido objeto de diferentes classificações, com
diferentes níveis de habilidade funcional e com condições que limitam a eficácia de algum
procedimento de medida.
BAUMGARTNER (1988), acrescentou que é problemático estabelecer normas
para critérios de referência, pois a população disponível para observação é muito pequena e
de dificil acesso. Além disto não há testes de base para a validação dos testes recém criados
e os existentes nem sempre foram normatizados para esta população. Sendo assim a
validade e confiabilidade ficam comprometidas, pois as necessidades fisicas e os níveis de
aptidão são diferentes tanto entre os indivíduos portadores de deficiências, quanto entre eles
e os indivíduos que estão dentro da curva normal de desempenho.
YSSELDYKE, SHINN(1981), citaram como problemas encontrados na avaliação o
uso de testes tecnicamente inadequados, aspectos tendenciosos da avaliação (relacionados
com experiências anteriores e características raciais e sócio culturais tanto do observador
quanto do grupo observado) e a falta de clareza nos objetivos da avaliação. A avaliação
feita nos procedimentos utilizados em reabilitação, de acordo com PERRY (1990), são
2
baseadas em normas descritivas que envolvem a experiência clínica e são, na maioria,
subjetivos, carecendo de base científica.
BLOCK ( 1991 ), analisando as dificuldades e problemas com a utilização de testes
para avaliação de Pessoas Portadoras de Síndrome de Down (PPSD), apontou a necessidade
de criação de novos instrumentos que possibilitassem mais informações descritivas sobre
movimentos por elas realizados.
Este estudo teve como um de seus objetivos principais a elaboração de um modelo
de avaliação que se adequasse ao estudo do comportamento motor de Pessoas Portadoras de
Síndrome de Down, enfrentando o desafio sobre a avaliação existente nesta área e
possibilitando a comparação com outros grupos de pessoas visando a identificação de
características que pudessem estar ligadas a esta anomalia.
Buscou-se um modelo que permitisse a aproximação entre pesqmsa básica e
aplicada, uma vez que várias abordagens e técnicas utilizadas na clínica e na pedagogia
estão sendo consideradas inadequadas, tanto prática quanto teoricamente, e que a aplicação
de conhecimentos científicos pode diminuir os danos causados pela deficiência.
Porém, como observou NATIV (1993), as exigências da prática I são um grande
impedimento para que isto aconteça, pois enquanto a especificidade deve ser apropriada
para o campo de domínio, a aplicabilidade sugere a conformidade da ciência com
procedimentos do campo de domínio. As exigências da aplicabilidade são quase
diametralmente opostas à filosofia das ciências básicas, que procuram por generalização.
Além disto, qualquer área de investigação está adentrando em um estado de instabilidade
por definição, o que pode confundir muitos terapeutas.
LATASH ( 1993 ), assinalou que as observações clínicas apresentam sérios
desafios para qualquer modelo de comportamento motor porque a linguagem dos relatos
3
clínicos difere substancialmente da linguagem teórica ou experimental dos estudos em
comportamento motor, fazendo-se necessária uma espécie de tradução. Além disto, a
patologia do movimento é definida, geralmente, em termos de sinais e sintomas ao invés
de mecanismos.
Apesar destas dificuldades, o autor incentiva a aproximação entre a pesquisa básica
e a aplicada. Para ele, aplicar o conhecimento disponivel sobre o sistema de controle motor
intacto para entender uma patologia e testar a eficácia de novos métodos de tratamento,
pode aumentar o conhecimento sobre os mecanismos das desordens motoras. Por outro
lado, o estudo da patologia aumenta o conhecimento sobre o sistema de controle motor
intacto.
O número especial da Revista Brasileira de Fisioterapia, que publicou os estudos
apresentados no III Congresso Internacional de Reabilitação Motora, em out/98, revelou
que vários estudiosos em comportamento motor têm estudado populações especiais, tais
como ANSON et ai.. (1998), GABLE (1998), LATASH (1998), LEVIN (1998), MANOEL
(1998a), POPOVIC (1998), ou ULRICH (1998) enquanto que profissionais da área clínica
têm buscado suporte nas teorias sobre comportamento motor.
Assim, a busca de conhecimento sobre a Pessoa Portadora de Síndrome de Down
(PPSD), reconhecendo a distância existente entre pesquisa básica e aplicada, culminou na
opção feita aqui pela elaboração de um modelo de estudo que permitisse observar tarefas
vivenciadas na vida cotidiana das instituições. Objetivou-se com este modelo, analisar a
estabilidade do comportamento motor das PPSD, verificando se as características
observadas poderiam ou não ser atribuídas a esta Síndrome.
A revisão bibliográfica sobre as características destas pessoas é apresentada no
capítulo um e no dois analisa-se modelos de estudo do comportamento motor, buscando
4
conceitos que possam nortear a busca de informações para a caracterização do
comportamento.
A proposta de estudo é explicitada no capítulo três, inserindo-se dentro das
tentativas de aproximação da abordagem cognitivista com a sistêmica, pressupondo que o
movimento possui características de um sistema dinâmico hierárquico, com
particularídades fisicas que podem ser observadas com formulações matemáticas e
restrições cerebrais que podem ser inferidas a partir da análise de variáveis cinemáticas.
Para que a coleta de dados pudesse ser feita dentro da instituição, fez-se a opção
por uma forma de registro de dados que pudesse ser de fácil transporte, sendo ao mesmo
tempo economicamente viável. O sistema de registro e análise de dados, bem como as
tarefas utilizadas neste experimento, são descritos no capítulo quatro.
O capítulo cinco mostra os resultados obtidos e o seis os discute, discorrendo
também sobre a adequação da metodologia utilizada para responder as questões deste
estudo.
Concluindo, o capítulo sete, aponta para as diferenças encontradas entre os grupos,
caracterizando o comportamento motor das PPSD, o qual nem sempre se diferenciou das
Pessoas Portadoras de Deficiência Mental, sendo possível que algumas das alterações
encontradas estejam ligadas à deficiência mental e não especificamente a esta síndrome.
Sugere-se novos estudos, tanto para aumentar a consistência dos achados aqui reportados,
tendo em vista o reduzido tamanho da amostra analisada, quanto para elucidar outros
aspectos do comportamento motor aos quais este modelo de estudo pareça ser adequado
para análise.
5
1 A Pessoa Portadora de Síndrome de Down
6
A Pessoa Portadora de Síndrome de Down (PPSD) possui uma anormalidade
autossômica que foi descrita mais compreensivamente por John Langdon Down, em 1866,
sob a denominação de 'mongolian idiocy' (idiotia mongolóide) e está associada à
deficiência mental.
A classificação indicada pela Organização Mundial de Saúde (1978), para estes
casos é de 'Anomalia cromossômica' (758), tipo 'Síndrome de Down' (758.0); outros
preferem a denominação de Trissomia do 21.
GROUCHY, TURLEAU (1990), apontaram que esta anormalidade acomete um em
cada 700 bebês, e aparece em diferentes etnias e grupos sócio-culturais. Dentre as causas
apontadas para esta aberração cromossômica, encontra-se a idade materna e alterações
genéticas nos pais. No caso da idade materna, a base biológica para esta alteração ainda é
desconhecida e entre as sugestões estão a demora na fertilização e a idade do óvulo, mas
foi encontrada forte correlação entre o nascimento de bebês com esta síndrome e mães com
idade acima de 36 anos.
ALLEN et a!. (1971), relataram correlação de 1/2300 em mães com idade entre 20-
25 anos e 1/45 em mães com 45 anos de idade e MlLUNSKY (1973) apontou o risco de
1.5% para mães entre 35 -39 anos de idade gerarem bebês com anormalidades genéticas,
aumentando o risco para 1.6% para a faixa etária de 40 a 44 anos. Dados mais recentes
apresentados por GROUCHY, TURLEAU (1990), apontam o índice de 0.9 para cada
1000 nascimentos no caso de idade inferior a 33 anos, subindo para 2.8/1000 entre 35-38
anos e 38/1000 aos 44 anos de idade.
KREBS (1995), demonstrou que 25% dos casos de nascimento destes bebês foram
correlacionados à má-formação genética dos pais. Outras causas estariam relacionadas à
7
exposição ao nuo X, administração de certas drogas, problemas hormonais ou
imunológicos, esperm.'!Wcidas e infecções virais específicas.
A gestação destes bebês é um pouco mais curta do que a dos outros (270 dias ao
invés de 282), o peso é menor (em média 2900 g) bem como o perímetro encefálico (é
menor do que 30 em em 40% dos casos). Geralmente estes bebês possuem pobre atividade
reflexa e dormem a maioria do tempo. Eles apresentam dismorfismo facial: as fontanelas
são largas, as suturas largamente separadas, as faces são redondas, com superfície plana; a
fissura palpebral é inclinada para o alto e para fora, a boca é pequena e se abre com uma
grande protuberância da língua; as orelhas são pequenas e redondas, o nariz é pequeno e
tem uma ponte chata e há abundância de pele no pescoço. A confirmação do diagnóstico
se dá por análise de caríótipo.
Foram detectados três tipos de caríótipos nestes casos: tríssomia livre, trissomia por
translocação e mosaicismo.
A trissomia do 21, segundo GROUCHY, TURLEAU (1990), é responsável por
92.5-95% dos casos e resulta na disfunção durante a meiose em um dos pais. Nela ocorre
a presença de um cromossomo extra no par 21 em todas as células.
A translocação ocorre entre o cromossomo 21 e um cromossomo do grupo D,
geralmente o 14 [t(14q2la)] ou entre um 21 e um 22 [t(2lq22q)] ou entre o próprio
cromossomo 21 [t(2lq21q)] e perfaz um total de 4.8% dos casos. Os casos de translocação
não estão correlacionados à idade materna.
O mosaicismo é observado em cerca de 2. 7% dos casos e refere-se à trissomia livre.
São observados dois tipos de tecido: um com trissomia do 21 e outro normal. É
considerado um evento pós-zigótico, que ocorre após a fertilização e acarreta grande
8
variabilidade da expressão fenotípica em seus portadores, podendo ser semelhante a
desenvolvida nos casos da trissomia do 21 ou ser muito pouco alterada.
Ainda de acordo com estes autores, as características fenotípicas deste grupo são:
baixa estatura, com evolução masculina em média 154 em, e feminina, 144 em. O
dismorfismo facial muda com a idade, tomando-se menos pronunciado, e as faces tendem a
ruborizar-se e mostrar envelhecimento precoce; a voz é gutural e a articulação é
geralmente deficiente.
A puberdade ocorre normalmente, ou um pouco atrasada, em ambos os sexos; a
libido e os caracteres sexuais secundários são pouco manifestados. Quando se reproduzem,
a previsão é de igual número para descendentes com ou sem a tríssomia, embora mesmo
com um cariótipo normal os descendentes podem apresentar deficiência mental. Não há
referências à fertilidade masculina, e mesmo no sexo feminino, de acordo com VOGEL
(1990), a reprodução é rara.
1.1 Características gerais da pessoa portadora da Síndrome de Down
BLOCK (1991), fez uma revisão na literatura sobre características destas pessoas.
Dentre as principais alterações encontradas, ele citou: anormalidades do esqueleto, má
formações cardíacas múltiplas, hiperflexibilidade e hipotonía.
A anormalidade do esqueleto mais importante, para ANTONY (1986), é a
instabilidade atlanto-axial pelo tipo de lesão medular grave que pode causar, sendo fator
limitante para a prática de atividade motora. Estudos no Brasil apontam para uma
incidência de 13% dos casos - BOY et al. (1995), CHUEIRE et a/. (1990), números
9
semelhantes aos encontrados no exterior. - COOKE (1984), PUESCHEL et al. (1987),
MSALL et al. (1990).
PUESCHEL et al (1992), fizeram um estudo longitudinal para verificar se
ocorreriam mudanças na estrutura cervical destas pessoas. Eles observaram 141 casos,
através de exames radiológicos na posição lateral da coluna cervical, em flexão, extensão,
e em posição neutra, encontrando mudanças entre 1 e 1.5 mm em 92% dos casos, e 8% dos
casos com mudanças de 2 a 4mm.
Estes autores recomendaram a realização de exames radiográficos periódicos em
crianças portadoras de Síndrome de Down (SD), como medida preventiva, especialmente
para a prática de atividades motoras.
Em 1995, o Comitê de Medicina de Esporte e Fitness da Academia Americana de
Pediatria (AAP) retirou a obrigatoriedade de exames deste tipo, feita em 1984, alegando,
dentre outros motivos, que tais exames não estavam sendo realizados de acordo com a
técnica sugerida, e tinham altos custos financeiros. Além disto, não havia sido
substancialmente demonstrado que a instabilidade atlanto-axial é precursora da
compressão medular sintomática- AMERICAN ACADEMY OF PEDRIATRICS (1995).
PUESCHEL (1998), contestou tal medida, argumentado que embora tais exames
não fossem testes perfeitos e não preenchessem os critérios propostos, não havia outro
método disponível para identificar indivíduos sob este risco. Quanto aos custos
econômicos, ele alegou que a maioria das pessoas portadoras desta síndrome possuíam
seguro saúde. O autor observou que as medidas sugeridas pela AAP não tinham suporte na
literatura como sendo preventivas para os casos de instabilidade atlanto-axial sintomática.
Ele sugeriu ainda que o não engajamento de pessoas com instabilidade atlanto-axial
10
assintomática em atividades físicas pode ter evitado que elas se tornassem sintomáticas,
diminuindo a possibilidade de correlação entre esta condição e a condição sintomática.
COHEN (1998) analisou os argumentos de Pueschel e os da AAP e conclui que
existe uma grande necessidade de encontros de profissionais da área para ponderar sobre
ambos os posicionamentos e sugerir medidas mais eficazes. O autor apresentou ainda uma
nova técnica de avaliação desta instabilidade, desenvolvida por White e seus colegas,
observando que a aplicação da mesma parece promissora para detectar indivíduos que estão
sob o risco de uma compressão medular.
Outras má-formações relativas à coluna cervical encontradas são: costela cervical,
hipoplasia de C 1, artrose, espinha bífida, dentre outras, de acordo com PUESCHEL et al.
(1990), CHUEIREetal. (1990),RAJANGAM, S etal. (1997).
V ARELA, SARDINHA (I 995), numa revisão bibliográfica sobre estudos com
PPSD e condições cardiovasculares, concluíram que as mesmas têm baixo desempenho
cardiovascular, baixa força e resistência muscular, sendo ainda diferentes de outras Pessoas
Portadoras de Deficiência Mental sem esta síndrome, na capacidade cardiovascular, na
resposta cardiovascular ao exercício na musculatura esquelética e na endurance.
A má-formação cardíaca é a maior causa de mortalidade entre os bebês com esta
síndrome, sendo o defeito mais comum o do septo ventricular, e muitos do casos recebem
indicação cirúrgica de acordo com RAJANGAM et al. (1997), Hilli et al. (1997) e
RELLER, MORRIS (1998)
Estudos de PITETTI et al. ( 1992), compararam a capacidade cardiovascular de
PPSD com Pessoas Portadoras de Deficiência Mental sem a síndrome (PPDM),
11
encontrando aumento significativo nos índices de pico de V02, VE, HR para o segundo
grupo. Estudos de FERNHAL et al. (1996), confirmaram estes resultados.
O treinamento de capacidades cardiovasculares em PPSD não causou melhoras nas
mesmas, no estudo realizado por MILLAR et al. (1993), no entanto o treinamento
realizado por EBERHARD et al. (1997), demonstrou ser efetivo para a melhora de
diferentes componentes sangüíneos envolvidos na resposta metabólica, sugerindo que o
treinamento da resistência pode ter resultados de longo alcance.
Além das alterações citadas acima, outras são descritas na literatura, entre as quais:
anormalidades na visão - RAJANGAM, S et al. (1997), má- formação anoretal -
TORRES et ai. ( 1998), alterações cerebrais, como grande ventrículo lateral, alta freqüência
de cisto na fossa aracnoide posterior, volume total e volume de substância cinzenta
reduzido, assim como volume do hipocampo esquerdo e amígdala, volume do ventriculos
maiores, volume cerebelar menor- PEARLSON et al. (1998), AYLW ARD et ai. (1997).
1.2 Contribuições de estudos sobre comportamento motor para a
caracterização da Pessoa Portadora de Síndrome de Down
Embora a contribuição de estudos sobre o comportamento motor para a
caracterização da PPSD ainda seja bastante modesta, ela tem auxiliado no esclarecimento
sobre as mesmas.
Um exemplo pode ser dado com estudos sobre o controle motor destas pessoas e a
característica de hipotonia, geralmente associada a esta sindrome. Como observou
ALMEIDA (1993), não existe uma definição clara sobre o termo, o qual na maioria das
12
vezes refere-se a diminuição na resistência a movimentos passivos. Esta característica foi
observada no estudo de COWIE (1970), ULRICH et a!. (1995), SAYER et a/.(1996),
mas questionada nos estudos de DA VIS, KELSO (1982) e ALMEIDA (1993).
Davis e Kelso realizaram experimentos envolvendo o movimentos de flexão e
extensão do dedo indicador sobre a articulação metacarpofalangeana, com e sem
tensionamento voluntário dos músculos, procurando descrever as propriedades mecânicas
estáticas do sistema músculo-articular.
Eles encontraram curvas paralelas e não interceptadas, proximamente idênticas
entre os dois grupos, evidenciando que a organização grossa que permeia o controle do
movimento em casos de Síndrome de Down é qualitativamente similar aos sujeitos
"normais", com uma característica invariante: curvas de torque dos ângulos das
articulações. Houve grande similaridade nos resultados de ambos os grupos, com diferenças
apenas no efeito de torque.
A função para ambos os grupos foi linear. Uma análise qualitativa revelou
diferenças, sendo que PPSD apresentaram movimentos mais descontínuos e menos
estáveis, demorando mais para atingir o ângulo alvo, sendo menos capazes de manter a
posição de equilíbrio, mas sendo capazes de aumentar os parâmetros de mudança
voluntariamente quando requeridos a tensionar sua musculatura contra a mudança.
Evidências indiretas sugeriram que estas pessoas têm reduzida capacidade de ativação
muscular, que pode estar associada com a habilidade de regular mudanças musculares.
DA VIS, SINNING (1987), estudaram a influência do treino na mudança de
comprimento de um músculo sobre uma mudança de força, comparando três grupos: PPSD,
PPDM e pessoas não portadoras de deficiência. Eles não obtiveram aumento significativo
13
de força para nenhum dos grupos, atribuindo isto ao pouco tempo de treino. Os resultados,
corroboraram o lançamento da dúvida sobre a questão da hipotonia em PPSD, lançada por
DA VIS, KELSO (1982).
WEBER, FRENCH (1988), demonstraram aumento de força em adolescentes com
esta síndrome, através de um programa de treinamento de peso.
PITETTI et ai. (1992), compararam a força isocinética de extensão de braço e
perna de PPSD, PPDM e adultos sedentários sem deficiência mental. Os sedentários
mostraram índices significativamente mais altos em parâmetros isocinéticos, e as PPSD
índices mais baixos, indicando que tanto PPSD quanto PPDM possuem força muscular de
braço e perna inferiores às de pessoas sedentàrias "normais".
ALMEIDA (1993), demonstrou que tais indivíduos podem ativar apropriadamente
sua musculatura e produzir parâmetros cinemáticos e eletromiográficos similares a
indivíduos com aspectos neurológicos normais. Com o treino eles podem aumentar a
intensidade com a qual ativam os pools de motoneurônios, gerando força e movendo-se
rapidamente. O aumento no nível de ativação no pool de motoneuronios foi seguido por
uma ativação precoce da musculatura antagonista, como predito pela estratégia de
velocidade sensitiva.
Além da hipotonia, estudos sobre desenvolvimento motor têm alertado para
diferenças importantes entre as PPSD e as pessoas sem esta caracteristica.
Em uma revisão sobre a literatura relativa ao desenvolvimento motor desta
população, HENDERSON (1986), concluiu que a mesma mostrava que, em qualquer idade,
a criança com Síndrome de Down tendia a ser motoramente menos competente do que a
criança dita "normal", tendo padrão de progressão de movimento similar ao de pessoas
14
sem esta síndrome, mas com estágios mais longos e declínio da performance com a idade.
Porém, ele observou que os achados sobre este tema envolviam medidas psicométricas e
empregos de testes cujas escalas tinham itens com pouca coesão e considerou o termo
"atraso no desenvolvimento" inadequado, dado as diferenças que podem ser notadas no
desenvolvimento, sugerindo que o mesmo seja substituído pelo termo "desvio de
desenvolvimento".
Estudos realizados após a revisão feita por este autor, utilizaram-se de outros tipos
de análise e também apontaram para diferenças no desenvolvimento motor. ULRICH,
ULRICH (1993), estudaram o desenvolvimento do andar em bebês com SD. Os estudos
longitudinais mostraram mudanças interessantes de comportamento: bebês bem jovens
produziram poucos padrões de comportamento e quase nenhum padrão de passos; houve
então um período com um pequeno número de passos e a organização de múltiplos
padrões inter-membros. Tanto os bebês com Síndrome de Down quanto os que não
tinham esta característica, foram capazes de produzir passos altamente coordenados e
consistentes, muitos meses antes de serem capaz de andar por si próprios.
Para os autores, o atraso na aprendizagem para andar demonstrado pelos bebês com
a síndrome, deveu-se à necessidade do organismo destes em esperar o desenvolvimento de
fatores adicionais que acompanham a força dos extensores da perna por causa das
diferenças evidentes nos sistemas biomecânicos e neuromusculares.
ULRICH et ai. (1995), compararam a emergência de passos sobre uma esteira em
bebês portadores desta síndrome e bebês não portadores. Eles acharam que os primeiros
também adquiriam respostas estáveis, mas levavam mais tempo para isto (em média 14
meses ),entretanto a habilidade para responder à esteira não estava relacionada à postura
15
da perna, como para os bebês sem esta síndrome, e sim com o desenvolvimento da força e
controle do quadril. Os bebês com a síndrome tinham articulações de quadril e joelhos mais
instáveis, embora com maior movimento, menor tônus muscular e controle postura! mais
pobre.
SA YERS et al. (1996), descreveram o desenvolvimento de movimentos de passadas
em cinco bebês com esta síndrome, que participaram de um programa pediátrico de
intervenção, de acordo com um modelo interativo de facilitação progressiva, demonstrando
um aumento no nível de desenvolvimento motor destes. Eles observaram que a aquisição da
locomoção nestes bebês é muito individualizada e influenciada pela existência de déficts
congênitos e complicações clínicas prévias e que eles se desenvolvem numa seqüência
similar, porém mais lenta que a de bebês não portadores desta síndrome, sendo a presença
de hipotonia fator limitante para este desenvolvimento, necessitando de treinamento de
força para a musculatura dos membros inferiores.
ULRICH, et al. (1997), analisaram o processo de adaptação da dinâmica intrínseca
de movimentos de bebês com Síndrome de Down, comparando-o com bebês sem esta
característica. Para isto eles introduziram uma perturbação no movimento, colocando
diferentes pesos na perna direita do bebê. Ambos os grupos de bebês responderam à
perturbação com o aumento da freqüência de movimento na perna que não tinha o peso.
O limiar de sensibilidade à perturbação variou bastante entre os indivíduos e
mostrou que cada bebê possui uma dinâmica intrínseca única, sendo que bebês com a
síndrome podem ser capazes de perceber e responder a informações sobre o estado
dinâmico de seus membros tanto quanto os bebês sem ela, entretanto em grande proporção
bebês com ela foram menos sensitivos a estas informações, tendo tendência a manter o
16
estado dinâmico original, na maioria das vezes tendo alto limiar de sensibilidade ou uma
capacidade diminuída para adaptar -se a informações sensoriais. Como esta sensibilidade é
importante para tarefas bilaterais, isto poderia explicar a demora para andar apresentada
pelos mesmos.
Estudos sobre os processos de aprendizagem motora têm procurado observar
diferenças entre PPSD e pessoas que não possuem esta síndrome. EDW ARDS et a/. (1986),
compararam a aprendizagem em adolescentes com e sem a síndrome, através da aquisição
na presença de Conhecimento de Resultados (CR) e na transferência de treino na ausência
de CR em tarefas semelhantes de antecipação de timing coincidente. Eles não encontraram
diferenças significativas entre os grupos ou tipos de treino, com relação à fase de aquisição
ou precisão do movimento na fase de transferência.
MOSS, HOGG ( 1987), estudaram mudanças ocorridas durante a aquisição de
habilidades para movimentos rápidos em dois grupos de oito crianças, um com a síndrome
e outro sem ela, com idade motora semelhante. Eles observaram como unidades
programadas são integradas em longas seqüências de ações, e se haveria relação entre a
habilidade de adquirir programas motores e a habilidade de produzir longas seqüências.
Utilizaram um experimento onde as crianças deveriam executar duas tarefas: na primeira
deveriam colocar num coelho um nariz, de forma triangular; na segunda, a posição do
coelho era revertida. Analisaram como a estrutura do movimento modificou-se com a
prática e como o desenvolvimento da integração dos componentes tornou-se parcialmente
sobreposta.
Eles hipotetizaram que aumento na proficiência da performance estaria associado
com o desenvolvimento de padrões estáveis integrados, nos quais os componentes seriam
17
sobrepostos e que crianças com a síndrome deveriam mostrar reduções no processo, tanto
em termos de habilidade para integrar, quanto em fazer associações positivas com
competência. Os autores não conseguiram observar, porém, se havia diferenças entre os
dois grupos na maneira como transfeririam o movimento para outra direção porque eles
diferiram marcadamente em suas performances nas duas direções. A sobreposição ocorreu
tanto para a baixa proficiência quanto para o programa motor bom, sem diferença
significativa entre os grupos. As crianças mais proficientes em ambos os grupos
demonstraram altos níveis de integração, embora o grupo com a síndrome tenha obtido um
nível significativamente mais baixo de integração do que o outro.
LEFINRE (1989b), ao avaliar a capacidade visiomotora de PPSD, também
encontrou alta incidência de erros nas figuras tais como inversões, distorções nas formas e
imprecisões nos detalhes. Ela analisou a influência de experiências prévias, formando dois
subgrupos de PPSD, um com histórias de solicitação desde o primeiro ano de vida e o
outro com pessoas que não haviam recebido estimulação sistematizada e não encontrou
diferenças entre os grupos, o que a fez considerar ambos incapazes de copiar figuras
topológicas.
Para ela, a dificuldade apresentada pelas PPSD estaria ligada a possíveis diferenças
na organização cerebral, com deficiências nas conexões viso-espacial e occipitoparietal e
conseqüentes falhas na programação do movimento. Mas ela não fez referências a quais
experiências as pessoas com "história de solicitação" tinham vivenciado.
PEDRINELLI, T ANI (1994), observaram se PPSD desenvolveriam um esquema
motor através da variabilidade da pratica de tarefas de arremessar e da transferência de
performance para outra tarefa. Foram analisados grupos com PPSD e deficiência mental
18
média e moderada, em dois tipos de prática: constante e variada. Eles não encontraram
diferenças significativas entre os grupos.
NABEIRO et a/. (1994), avaliaram 27 cnanças de 8-12 anos, portadoras da
síndrome, durante a realização de tarefas de arremesso em diferentes condições (em torno
da meta e contexto), onde foi solicitado que as mesmas fizessem três tipos de arremesso:
com força, em alvo estacionário e em alvo móvel. Os níveis de desenvolvimento foram
consistentes com as variações na tarefa, embora mudanças na meta da tarefa tenham
causado mudanças no status de desenvolvimento da criança. Os autores concluíram que
estas crianças podem ter reduzida capacidade de ajustar seu comportamento, embora as
mudanças apresentadas tenham sido similares aos estudos com pessoas não portadoras de
deficiências
DA VIS, SPARROW (1991) e HENDERSON et al. (1991), observaram que PPSD
têm tempo de reação mais lento. THOMBS, SUGDEN (1991), analisaram tarefas de pegar
e manipular objetos, encontrando alta variabilidade intra-grupo, e consistência da estratégia
variando de fonna não linear e apontaram para a dificuldade que PPSD têm em produzir
movimentos rápidos e adequar seu tempo com o tempo de algum padrão externo.
HODGES et a/. (1995), observaram que PPSD gastam mais tempo para a execução
do movimento. O grupo sem deficiências foi mais consistente, e todos os grupos foram
menos variáveis na ocorrência de feedback visual. Os dois grupos portadores de
deficiência não diferiram quando havia tal feedback mas quando este era eliminado as
PPSD eram mais consistentes.
Eles analisaram também o p1co de velocidade: as pessoas não portadoras de
deficiência tiveram os maiores valores de pico de velocidade e as PPSD obtiveram os
19
menores, sendo que aqueles atingiram o pico de velocidade antes do que os outros, e na
ausência defeedback todos os grupos demoraram mais para atingir tal pico. PPDM e PPSD
exibiram falta de consistência nos picos de velocidade e aceleração, com grande correção
no perfil de aceleração.
Na ausência de feedback visual, ocorreu maior deterioração da performance de
pessoas portadoras de deficiência do que das não portadoras, PPSD exibiram maior
consistência de movimento do que PPDM, quando a visão era eliminada e gastaram mais
tempo para completar o movimento.
Os autores concluíram que isto poderia significar que as PPSD desejaram realizar o
movimento mais lentamente para conseguir atingir mais precisão, sendo assim uma
diferença devida à estratégia adotada para o controle motor e não necessariamente uma
diferença biológica, observação também feita por LATASH (1993), para quem a lentidão
na performance de PPSD é considerada como uma reação adaptativa, onde tais sujeitos
preferem executar movimentos em níveis sub-màximos de velocidade a sofrer o risco de
falhas em lugares inesperados, as quais provocariam ajustes e correções rápidas no
movimento, o que seria dificil por causa das condições deficientes de mecanismos
decisórios.
CHARLTON et ai. (1996), examinaram as características cinemáticas na ação de
pegar em 07 crianças portadoras da síndrome (8-10 anos), e 07 crianças sem com idade
cronológica equivalente, e 07 com idade de desenvolvimento equivalente, em tarefa que
utilizavam objetos de dois tamanhos e três funções diferentes. Todos os sujeitos tiveram
uma velocidade do pulso com duas fases claramente distintas: aceleração e desaceleração.
20
Comparado aos outros dois grupos, as PPSD apresentaram performance mais lenta,
demonstrada tanto por tempo de movimento mais longo quanto por menor velocidade pico.
A demora dos movimentos de PPSD foi explicada pela longa duração da fase de
desaceleração durante a qual suas trajetórias exibiram um grande número de unidades de
movimento. É possível que PPSD sejam inconsistentes na geração de impulsos iniciais para
o aproximar-se e que a parte pré-programada de seus movimentos seja espacialmente
imprecisa. Assim, movimentos de correção seriam necessários na fase de desaceleração,
levando ao grande uso de informações dejeedbackvisual.
Para os autores as irregularidades de trajetória durante a fase de desaceleração e a
alta variabilidade de aceleração e desaceleração sugerem que a criança com Síndrome de
Down pode adotar um modo diferente de controlar o movimento para ações de aproximar
se. Uma outra possibilidade é que irregularidades observadas na fase de desaceleração
podem ser devidas às dificuldades com a parte da ação de pegar, refletindo tateamento do
ponto de contato com o objeto. As diferenças encontradas sugerem diferenças qualitativas
no planejamento motor. Todavia, as diferenças não foram sempre estatisticamente
significantes, o que exige cuidados com as interpretações.
Há estudos que mostram que as PPSD podem completar o movimento com rapidez
e precisão similares às de pessoas sem esta síndrome, como o realizado por ELLIOTT,
WEEKS (1991), porém a análise da execução do movimento revela estratégias diferentes.
Os estudos de ALMEIDA (1993), também sugeriram que tais sujeitos são capazes
de realizar o movimento rapidamente, porém utilizando-se de diferentes estratégias. Ele
estudou os efeitos da prática e transferência na performance de movimentos rápidos de
única articulação em indivíduos com PPSD, relacionando medidas cinemáticas com sinais
21
eletromiográficos, comparando os resultados de cada indivíduo no pré- e pós-testes, bem
como examinando as dez sessões de treino oferecidas aos 08 indivíduos com PPSD, entre
15 e 35 anos de idade. O experimento mostrou que com treino apropriado e em condições
bem padronizadas, estes indivíduos são capazes de aumentar significativamente sua
performance motora e transferir o que eles aprenderam em uma distância para outras
distâncias e posições iniciais diferentes.
Ele observou aumento no pico de velocidade, tanto para o pico de aceleração
quanto para o pico de desaceleração; como resultado os sujeitos gastaram menos tempo
para completar a tarefa, diminuindo o tempo de movimento proporcionalmente à
diminuição da fase de aceleração e desaceleração. Estes resultados são diferentes dos
reportados com pessoas neurologicamente normais, por exemplo no estudo de CORCOS et
a/. (1993), onde há grande redução na fase de desaceleração, ao invés da fase de
aceleração, e grande aumento no pico de desaceleração é observado, ao invés de aumento
do pico de aceleração.
ELLIOTT; WEEKS, (1993), utilizaram técnicas não invasivas para examinar as
similaridades e diferenças na organização cerebral e perceptiva-motora entre PPSD e
sujeitos normais. Com estas técnicas eles observaram que PPSD tiveram reduzida vantagem
na mão direita para digitação e grande consistência quando digitando com sua mão direita
comparada àmão esquerda, interpretando esta assimetria como superioridade do hemisfério
esquerdo para a parametrização e timing de forças musculares, concluindo que PPSD têm
hemisfério esquerdo especializado para a organização e controle da seqüência do
movimento.
22
Esta especialização foi observada também em experimentos de transferência de
aprendizagem, onde ocorreu maior transferência do treino da mão esquerda para a direita,
e em estudos com interferência de fala na hora da digitalização, onde a produção de fala
prejudicou mais a performance da mão direita do que a da esquerda.
ANSON et al. (1998) e MARCONI et a/. (1998), comparando o controle de
movimento de PPSD e seus pares tidos como "normais", observaram diferenças entre eles.
No primeiro grupo estudou movimentos de braços, rápidos e discretos e reportou a falha
de dissociação entre a ativação da musculatura agonista e a antagonista. No outro grupo,
analisou o efeito do deslocamento angular e linear e a orientação espacial na co-variância
linear entre torques de cotovelo e ombro, encontrando diferenças no uso de torque (as
PPDS usaram mais o torque muscular do cotovelo do que o do ombro).
SOUZA (1998) estudou o uso de dicas específicas como estratégia de atenção
seletiva em PPSD. Para isto ela utilizou tarefas realizadas num jogo, produzido por um
software especialmente produzido para estudos de atenção seletiva. Ela não encontrou
diferenças significativas entre o grupo que se utilizou de dicas e o grupo que não o fez,
apontando para uma diferença em estudos realizados com a mesma metodologia em
pessoas em nível de escolaridade semelhante mas não portadores de PPSD.
Entre as possíveis variáveis para este desempenho ela indicou: dificuldade na
situação de resoluções de problemas, complexidade da tarefa, fatores de distração e a
novidade da tarefa.
Os estudos apresentados acima permitem a observação de que o desenvolvimento
motor de tais pessoas pode ser diferente do resto da população, possivelmente por déficits
congênitos associados a complicações clínicas que não necessariamente geram atrasos no
23
desenvolvimento, mas um desenvolvimento diferenciado, com diferenças na performance
que podem ser vistas como reações adaptativas e diferenças qualitativas no planejamento
motor ou na dinâmica íntrinseca.
1.3 Resumo do capítulo
A Síndrome de Down é uma anomalia autossômica responsável por alterações
anatômicas e mentais. Dentre as principais características, pode-se citar anormalidades do
esqueleto, má-formações cardíacas múltiplas, híperflexibilidade e dismorfismo facial. O
desenvolvimento motor é diferenciado, com perímetro encefálico e peso corporal
menores, além de baixa estatura. A competência motora é diferente, encontrando-se
estágios mais longos de progressão e declínio da performance com a idade. Discute-se a
lentidão motora bem como a presença de hipotonia. Há evidências de diferenças nos
sistemas biomecânicos e neuromusculares. Em relação à estabilidade há indícios de que
estas pessoas têm a capacidade de adaptar -se à informações sensoriais diminuída, tendendo
a manter o estado original ao mesmo tempo que teriam movimentos mais inconsistentes.
Argumenta-se que o desenvolvimento motor não seria necessariamente atrasado, mas sim
diferenciado, sendo necessário mais dados para caracterização do comportamento motor
destas pessoas.
24
2 Estudos sobre o comportamento motor humano
25
Os estudos sobre o comportamento motor de uma Pessoa Portadora de Síndrome de
Down têm sido realizados num contexto de indefinição paradigmática, em que muitas
questões teóricas ainda estão por ser resolvidas, não apenas nesta área específica de
conbecilnento, mas em toda a Academia, em que a própria ciência tem sido objeto de
questionamentos, como os de CAPRA (1982), KUNH (1990) e MORlN (s/d).
Considerando tais estudos no âmbito da Educação Física, a indefinição é ainda mais
evidente, pois esta é uma área de conhecimento, ainda em definição, que está discutindo seu
objeto de estudo, procurando subsídios para seu status de ciência e propondo mudanças
em sua nomenclatura, como mostrou RENSON (1990). Debates sobre o significado do ato
motor e a dicotomia corpo e mente, são propostos por diferentes estudiosos, dentre os
quais, MANUEL SERGIO (1992), ASSMANN (1994), GONÇALVEZ (1994), LE
BOULCH (1987), SANTIN (1987) e RÉGIS DE MORAES (1992) e influenciam as
pesquisas realizadas na área.
Assim, antes de relatar o método de estudo utilizada neste estudo, toma-se
necessário apresentar algumas correntes teóricas existentes para observação do
comportamento motor, apresentando as análises elaboradas, pois toma-se necessário
entender as leis, teorias, aplicações e instrumentações que dão origem aos modelos dos
quais brotam as tradições coerentes e específicas da pesquisa científica, lembrando, como
observou KUNH(1990), que eles serão substituídos por outros modelos, ocasionando,
assim, as chamadas revoluções científicas que permitem o avanço do sabeL
26
Os estudos sobre o comportamento motor humano iniciaram-se no século XVIII e
podem ser situados em quatros períodos distintos, de acordo com CLARK, WHITALL
(1989):
1- Precursor, do século XVIII às décadas de 30 e 40 no século XX;
2- Maturacionista, de 1927 a 1946, que teve em Gesell e Me Graw seus principais
representantes;
3- Normativo-descritivo que orientou os estudos no período de 1946-1970, tendo
como característica principal a descrição de mudanças no comportamento;
4- Processo-orientado, a partir de 1970, enfocando o processo pelo qual o
desenvolvimento motor ocorre.
Na Educação Física, tais estudos compreendem anàlises de controle, de
aprendizagem e de desenvolvimento motor, conforme a proposta de TANI (1996) e, embora
estes possam ser diferenciados, para MANOEL ( 1998b ), a distinção toma-se relativa, já
que os termos se referem à aquisição de habilidades motoras, ficando a diferenciação entre
eles baseada no grau de especificidade do comportamento motor em observação e na escala
temporal utilizada para identificação das mudanças.
Atualmente estes estudos recebem dois enfoques distintos: o prrmerro concentra
se em mecanismos internos de percepção e no controle de movimento e é conhecido como
abordagem cognitivista. O segundo refere-à interação entre o executante e o meio ambiente
e permeia a abordagem sistêmíca. Ambos os enfoques apresentam imprecisões teóricas,
havendo a necessidade de aproximação das duas abordagens.
27
2.1 Abordagem cognitivista
A abordagem cognitivista também é conhecida como abordagem do processo de
informação1 Nela o ser humano é visto como um transmissor de informação e enfatiza-se a
existência de processos mentais no comportamento motor, pelos quais a informação seria
codificada, transformada, decodificada e armazenada, procurando-se identificar processos e
delimitar capacidades no comportamento motor humano.
Tal abordagem, de acordo com PELLEGRINI (1998), procura descobrir
mecanismos de controle motor e mudanças nas estruturas cerebrais com o objetivo de
entender a natureza das mudanças internas e prever o comportamento motor humano.
Alguns modelos foram sugeridos para exemplificar como ocorreria o processamento
de informação e a geração do movimento. Entre eles está o modelo apresentado por
MARTENIUK (1976), o qual retomou o modelo de performance humana formulado por
Welford em 1968, que continha três mecanismos principais relacionando a informação no
ambiente e o movimento: primeiro, o mecanismo perceptivo, que receberia a informação
ambiental pelos sentidos e proveria a descrição do ambiente pela identificação e classificação
da informação; o mecanismo decisório que decidiria um plano de ação em relação aos
objetivos do movimento e enviaria uma seqüência de comandos; e terceiro, o mecanismo
efetor que receberia essa seqüência de comandos e seria o responsável pela organização da
resposta enviando o comando motor apropriado ao sistema muscular.
1 A definição dos termos apresentados neste capítulo encontra-se no glossário,
dentro do anexo 02.
28
Esse modelo analisa também o papel do jeedback externo e do intrínseco, que
forneceriam informações ao organismo executante, permitindo, caso haja tempo hábil,
correções no movimento executado.
Para MAGILL (1984), o mecanismo perceptivo inclue os órgãos sensonrus
(receptores visuais, auditivos, táteis e proprioceptivos) envolvendo a detecção, comparação
e reconhecimento das informações obtidas. SAGE (1977) definiu percepção como o
processo pelo qual informações sensoriais são organizadas e formuladas com base em
experiências significativas, constituindo-se em processos mediadores que integram
informações presentes e passadas.
Para o autor, os mecanismo de percepção e decisão estão ligados a conceitos sobre
memória, atenção, e conhecimento de resultados, que explicam como se forma o plano de
ação que seria transmitido ao mecanismo efetor, para a realização do movimento.
Assim, vários modelos de controle motor foram sugeridos, tais como o de closed
loop (circuito fechado), proposto por ADAMS (1971), segundo o qual o sistema tem
mecanismos de jeedback e mecanismos para detectar e corrigir erros. Esses processos
podem modificar e atualizar o programa, implicando que a aprendizagem de um ato motor
envolve ajuste e refinrunento de uma rede central de trabalho, com representação do
movimento. Assume-se que instruções são armazenadas a partir de comandos de
movimentos individuais com especificação completa dos músculos envolvidos na ação
planejada, da força relativa e do tempo de contração da musculatura.
MAGILL (1984) apontou também para a teoria do circuito aberto, segundo a qual as
especificações necessárias para que uma ação motora seja realizada são dadas por
29
parâmetros espaciais e temporais que estão armazenados centralmente em programas
motores que ativam movimentos funcionais. Esta teoria é tida como mais aplicável a
movimentos rápidos, do tipo balístico.
SCHMIDT (1976) relatou seu descontentamento com a teoria de circuito fechado
de Adams que se aplica basicamente a movimentos mais lentos e também com a
capacidade de armazenamento de informação exigida para que programas motores
específicos para cada movimento possam existir. Isto o levou a propor, em 1975, uma
teoria segundo a qual cada classe de movimento é governada por um programa motor
generalizado, envolvendo a aquisição de esquemas ou regras que definem a relação entre a
produção e a avaliação da resposta motora. Essa teoria não especifica como o programa
motor é selecionado, mas propõe a formação de regras para que um movimento seja
executado.
SHAPIRO, SCHMIDT (1982) apontaram para três componentes principais para esta
teoria: programa motor generalizado, esquema para recordar e esquema para reconhecer.
O programa motor generalizado éa uma estrutura abstrata de memória, que quando ativada
faz o movimento acontecer; é um programa que governa uma classe de movimentos
requerida como um padrão motor.
O esquema para recordar esta envolvido na produção da resposta motora,
selecionando os parâmetros exigidos para executar apropriadamente o programa motor
generalizado. Tal esquema é o responsável pela geração dos impulsos à musculatura para
produzir o movimento. Para sua formação, três tipos de informações são importantes: '
30
condições iniciais, informação do movimento realizado (baseado em conhecimento de
resultados) e o parâmetro usado quando o programa é executado.
O esquema para reconhecer é um estado de memória independente, responsável
pela avaliação da resposta, ou seja, a relação entre a conseqüência sensorial e o produto
atual, composto pelas condições iniciais, produtos passados e atuais do movimento e as
conseqüências sensoriais passadas. Considerando que esses dois esquemas são construídos
por meiO de movimentos experimentados anteriormente, tais regras podem ser
generalizadas para situações novas, possibilitando a execução de movimentos ainda não
vivenciados.
SCHMIDT (1985) sugeriu que fossem feitos estudos com enfoque na busca por
invariãncias, isto é, variáveis que não mudem em função da manipulação nas variáveis
independentes. Ele argumentou que a presença dessas invariãncias, pode sugerir a
representação central do movimento.
Entre as características candidatas a tal invariãncia, ele observou o timing relativo
(proporção entre quaisquer dois intervalos em um movimento com proporção igual em
outro movimento correspondente) e a força relativa (o tamanho relativo da força de duas
contrações musculares tende a ser constante com mudanças no tempo total de movimento e
no tamanho do movimento). O que é aprendido é o código temporal, ou a estrutura da ação
e não movimentos específicos. A representação abstrata de um padrão de movimento
aprendido é codificada de forma a definir o timing relativo e a amplitude relativa do pulso
da força muscular que é produzida.
31
W ALLACE, WEEKS (1988) observaram que um programa motor generalizado
conteria características variáveis e invariáveis. As variáveis são aqueles parâmetros que são
mudados para produzir movimentos de diferentes características no mesmo programa. As
características invariáveis são as que permaneceriam constantes por causa de mudanças nos
parâmetros do programa.
Essa teoria criou subsídios para inúmeros estudos na área de comportamento motor,
tanto sobre variabilidade do movimento, observando-se indiretamente a possibilidade de
utilização de esquemas para recordar e reconhecer, quanto para inferir a existência ou não
de programas motores generalizados que estariam gerando a resposta motora observada
(para uma revisão sobre este tópico ver SHAPIRO, SCHMIDT, 1982).
2.2 Abordagem sistêmica
A abordagem sistêmica, rompendo com a idéia de formação de esquemas ou
programas motores, apresenta propostas que derivam de uma síntese de várias teorias da
biologia fisica, relacionadas com a formação de padrões dinâmicos em sistemas complexos
abertos, partindo das idéias de Bernstein2 Para ele, o movimento é controlado por
entradas não específicas do Sistema Nervoso Central (SNC), as quais resultam em uma
2 Níkolai A Bernstein, fisiologista russo que publicou artigos dos anos 30 aos anos 60, cuja obra foi reunida e traduzida para o inglês numa edição especial em 1967, pela Pergamou Press, em Oxford, com o titulo: 'The ctHlrdination and regulation of movements'. Os artigos constantes desta obra foram reeditados em 1984, com outros artigos que se reportavam aos da publicação de Oxford, com o título: 'Bemstein Reassessed', pela editora Elsevier, em Amsterdã, obra esta consultada para este estado.
32
coordenação posterior de grupos musculares funcionalmente específicos. Essa abordagem
analisa princípios de continuidade e descontinuidade no desenvolvimento do comportamento
motor, utilizando-se de princípios não-lineares e termodinâmicos, como os introduzidos
por TURVEY,KUGLER (1984), KELSOetal. (1990)eZANONEetal. (1993).
Como observaram THELEN, ULRICH (1991), a utilização da teoria de sistemas
dinâmicos permite a investigação transdomínio, essencial para o entendimento da ontogenia
humana, e necessita , como afirmou TANI (1996), de uma concepção mais integrada das
ciências, em que diferentes disciplinas acadêmicas trabalhem com aspectos variados da
globalidade e especificidade de sistemas complexos, permitindo a modelagem desde sistemas
fisicos até sociológicos.
BERNSTEIN (1984a) considerou que a atividade motora do organismo tem um
enorme significado biológico, sendo praticamente o único meio no qual o organismo não
apenas interage com o ambiente mas também opera ativamente com ele, alterando-o para
obter um resultado particular. Foram suas ponderações sobre os graus de liberdade de um
problema que mais contribuíram para a elaboração da abordagem sistêmica. Ele evidenciou
o número de possibilidades de movimento gerados pelo grau de liberdade para a solução de
um problema motor, tendendo ao infinito, devido a participação de neurônios, músculos,
unidades motoras, ossos, articulações e ação da gravidade sobre os músculos, apontando
que o mesmo comando neural apresenta diferentes resultados, dependendo do momento da
orientação, velocidade e contexto do movimento.
Para ele, os graus de liberdade de um sistema são restringidos por coalizões
funcionais de músculos e suas várias articulações, determinando sinergias, ou estruturas
33
coordenativas. Em tais sínergías, forças geradas internamente no músculo seriam colocadas
com forças gravitacionaís, inerciais e de reação e um grupo de músculos seria restringido
para agir como urna única unidade funcional. Apesar de haver muitas ligações de
articulações para produzir movimentos, poucas aparecem e dependem de contextos
biomecânícos.
De acordo com esta teoria o controle do movimento é realizado em diferentes níveis
do SNC, sem a representação de propriedades como velocidade, trajetória e objetivos,
sendo que estas emergiram da relação dínãmica entre as propriedades fisicas do sistema
músculo-esquelético (massa, inércia e rigidez) e o meio, para urna determinada tarefa. Leis
de relação, como a de mass-sprinl e a lei de Fitt', foram utilizadas por ele para explicar
como seriam colocadas as restrições sobre a atividade, simplificando o controle.
BERNSTEIN (1984b) apontou também a necessidade de aplicação de descobertas
da bioquímica, biofisica e da matemática para uma explicação materialista do fenômeno da
vida, observando o princípio de unidade da natureza e suas leis, indicando diferenças entre
sistemas vivos e artificiais.
Alguns estudiosos têm relacionado conceitos da fisica referentes ao estudo de
sistemas dínãmicos com o comportamento motor humano. KELSO et a!. (1981) propuseram
que sistemas vivos obedecem a leis fisicas, embora não sejam a elas reduzidos. Eles
apontaram ainda conceitos fisicos que poderiam ser aplicados a sistemas vivos.
3 Mass-spring é um dispositivo mecânico simples, no qual uma espiral é atada a um suporte fixo de um lado e urna massa é suspensa no outro, o qual demonstra que não importa qual o alongamento ou compressão da mola. ela sempre retoma ao mesmo comprimento. 4 Lei de Fitt é uma lei de computação matemática sobre tamanho e distãncia do alvo a ser atingido que prevê que objetos grandes que estão perto sejam alcançados mais rapidamente do que objetos pequenos e distantes.
34
Entre esses conceitos estão o fluxo de energia (que por si só é o fator de
organização de mudanças em sistemas vivos) e a noção de oscilador ciclo limite (o sistema
é capaz de retomar a um modo estável a despeito das perturbações que podem acelerá-lo
ou retardá-lo; trata-se de um fenômeno não-linear).
KELSO et a!. (1981) e KELSO et a!. (1990), propuseram a utilização dos conceitos
de fluxo de energia como fator comandante da organização de sistemas vivos (que leva a
pelo menos um ciclo no sistema) de acordo com os quais a persistência da ciclicidade em
sistemas biológicos devem ser vistas como um fenômeno não-linear.
ZANONE et a!. (1993), sugeriram que padrões de comportamento reproduzíveis e
observáveis podem ser caracterizados como estados coletivos alcançados pelo sistema,
determinado nível de descrição, advindo do inter-relacionamento de numerosos subsistemas
e componentes em níveis mais baixos.
Eles propuseram a identificação dos graus de liberdade correspondentes a padrões
de comportamento e o delineamento da fase de transição, mapeando o padrão estável
observado em atratores teóricos da variável coletiva dinâmica e observando as flutuações
ao redor do estado médio da variável coletiva e a subseqüente mudança de estado.
ZANONE; KELSO (1992) aplicaram tais conceitos à aprendizagem motora,
definíndo aprendizagem como mudança relativamente permanente no comportamento em
direção a um padrão a ser aprendido, especificado pelo meio ambiente. A chave para
entender a aprendizagem, para eles, é o conceito de dinâmica intrínseca e o de informação
comportamental, propostos por Schõner e próprio Kelso em 1988, oferecendo uma
possibilidade de estudo que operacionaliza a observação de que o organismo adquire
35
novas formas de comportamento habilidoso por meiO de capacidades pré-existentes. Para
isto, a dinâmica intrínseca da variável coletiva dinâmica é observada através de diagramas
de fases, que podem ser traçados antes, durante e depois da aprendizagem, para a
observação da evolução da dinâmica apresentada.
Outra estudiosa que se destaca na área de comportamento motor e tem utilizado a
abordagem de sistemas dinâmicos é Ester Thelen que apresentou uma perspectiva de
sistemas para o desenvolvimento motor numa abordagem que enfatiza a importância da
maturação de todos os subsistemas e não apenas o do sistema nervoso, que era o foco tanto
dos maturacionistas como dos teóricos sobre o processamento de informação - THELEN
(1983) e THELEN (1986). Utilizando-se da lei de massa-mola (mass-spring), THELEN et
al. ( 1993) sugeriram que o SNC trabalha no controle dinâmico das características mais do
que nos caminhos do movimento ou padrões musculares.
2.3 Imprecisões teóricas
Embora a abordagem cognitivista e a sistêmica venham sendo bastante úteis, é
importante notar aqui que cada uma delas está sujeita a críticas a serem superadas.
Em relação á abordagem cognitivista, focos de descontentamento podem ser
observados principalmente com referência ao programa motor e a validação ecológica
(aplicabilidade dos achados).
36
As ponderações de Bemstein sobre graus de liberdade, apresentadas anteriormente,
originaram um dos maiores questionamentos sobre as teorias de processamento de
informação, conhecido, de acordo com THELEN, SMITH (1993), como 'problema dos
graus de liberdade', abrangendo a questão da infinidade de caminhos pelos quais os
componentes podem se combinar, o que requer um processo de armazenamento e
comparação de informações em nível central, inconcebível. Assim, essas teorias foram
conclamadas a explicar como se daria o armazenamento de informações para serem
utilizadas com especificações exatas para todos os movimentos (em razão da infinita
possibilidade de ações a serem executadas) e como seriam construídas ações que nunca
foram vivenciadas antes.
Para MANOEL (1998b ), a concepção de programa motor passou a ser desafiada
pela idéia de que o sistema efetor é muito complexo para que somente o programa seja
capaz de especificar o que cada grupo muscular deve fazer em termos espaciais e temporais.
LATASH (1993) observou a não-existência de consenso sobre o que seja um
programa motor, como e onde ele é criado, como seria implementado pelas chamadas
baixas estruturas e se elas de fato existiriam.
HOPKINS et ai. (1993) observaram que a estrutura de controle apresentada nessa
abordagem é abstrata e arbitrária, por não se basear em princípios fisico-biológicos que
permeiam o desenvolvimento motor. Indicam o que deve ser feito sem especificar, em
termos de parâmetros intrinsecos, como deve ser feito. Também não se define quem ou o
que controla o controlador nem quem decide qual a informação.
37
CRUTCHFIELD, BARNES (1995) explicitaram que as teorias cognitivistas têm
dificuldades científicas para estabelecer ligações entre níveis neurais e níveis de
comportamento. Grande parte dos níveis de controle foram estabelecidos com base em
uma correspondência biunívoca entre estrutura e função, com mapas anatõmicos construídos
em estudos com animais e observações feitas em humanos com lesões no SNC e, como
observaram ROSE, ROSE (1971); FINGER, STEIN (1985); BACH-Y-RITA (1990) e
FERREIRA (1990), questões apresentadas na recuperação funcional de tais indivíduos,
levaram ao debate sobre os mapas anatômicos e à busca de modelos segundo os quais a
organização neuronal ocorre entre os componentes.
A falta de validação ecológica foi criticada por CLARK, WHITALL (1989), porque
os experimentos feitos de acordo com a abordagem cognitivista baseiam-se em ações
artificialmente elaboradas para serem realizadas em laboratórios, tais como pressionar
botões e canetas, limitando a aplicabilidade dos achados. SANTOS (1992), observa que
homem e mundo são tratados como unidades distintas, o que dificulta o entendimento das
influências ambientais nos comportamentos humanos.
Em relação ao desenvolvimento motor, segundo THELEN, ULRICH (1991), a
abordagem cognitivista não explica a origem das mudanças ontogênicas nem especifica
como ocorre o desenvolvimento, nem a natureza dos estágios de desenvolvimento e suas
transições.
Por sua vez, as proposições da abordagem sistêmica também apresentam
imprecisões, especialmente relativas ao SNC. HOFSTEN (1989) advoga que as estruturas
cerebrais não estão envolvidas apenas na execução imediata do ato motor mas também no
38
planejamento deste. O conhecimento adequado de fatores fisicos é crucial para o
entendimento do que o sistema tem de executar, mas não diz como o cérebro faz para
resolver problemas de ação. Restrições fisicas definem a implementação do problema de
ação, mas as restrições cerebrais estão lá para resolver esses problemas. Por exemplo, as
propriedades fisicas do corpo (peso e comprimento) definem quando é mais energicamente
eficiente correr ou andar. O fato de que o cérebro explora tais restrições não explica como a
locomoção é realizada, já que ele torna possível tanto correr mais rápido quanto mais
devagar.
A rejeição da noção de representação e seu papel na organização da ação é outro
aspecto bastante criticado. Para MANOEL, CONNOLLY (1997), isto traz dificuldades
com respeito á extensão do modelo teórico dentro em uma robusta teoria de
desenvolvimento de habilidades motoras. Esses autores apontam também a dificuldade desta
teoria em explicar como ocorrem mudanças na dinâmica intrinseca, pois, se se assumido
que a coordenação do movimento é determinada somente por um processo de auto
organização, surge a questão sobre o que é que garante que um objetivo particular será
conseguido de modo confiável.
O problema principal da abordagem sistêmica, segundo tais autores pode ser a
negligência de um princípio básico de um sistema: a ordem hierárquica (a organização
multinível no qual um sistema se ramifica em outros subsistemas que, por sua vez, se
ramificam em subníveis de baixa ordem).
Para NEWEL, DONALD (1993), essa abordagem carece de especificidade relativa
ao timing da ontogênese para os diferentes componentes do sistema (um ponto fraco em
39
todas as teorias de desenvolvimento), embora ofereça caminhos para considerar o timing
da transição do fenômeno do desenvolvimento motor e as restrições impostas pela tarefa
específica.
2.4 Tentativas de aproximação das abordagens cognitivista e
sistêmica para o estudo do comportamento motor humano
A proposta de aproximação da abordagem cognitivista e sistêmica é ainda alvo de
debates entre os estudiosos da área. WILLIAMS et al. (1992) argumentam que tal
conciliação é muito difícil pois as abordagens se diferenciam no enfoque e no nível de
análise, o que leva a interpretação diferente dos achados. SCHMIDT (1988) ressalta a
diferença no dominío de argumento e na abordagem do conhecimento, já que a abordagem
sístêmica ocorre em nível tácito de entendimento e a cognitívista em níveis explícitos de
conhecimento. Mesmo assim, existem propostas para solucionar os impasses teóricos que
as afastam.
Como a abordagem sistêmica írrompeu delíberadamente com a idéia de formação de
programas motores, ponto central da abordagem cognitivista, mas não conseguiu explicar
as imposições cerebrais que permeiam o movimento, estudiosos têm proposto mudanças no
conceito de programa motor, ao mesmo tempo que admitem que o comportamento motor
está sujeito a leis fisicas, embora não reduzido a elas.
TANI (1989 e 1998), MANOEL, CONNOLLY (1997) e TANI et al. (1998)
propuseram uma abordagem sistêmica segundo a qual o comportamento resulta da
40
formação de padrões, observando aspectos variados da globalidade e especificidade de
sistemas complexos, mas mantiveram a noção de formação de programas de ação com
organização hierárquica. Sobre isto, MANOEL (1998b), afirmou que o conceito de
programa motor passou por grandes modificações na última década, sendo visto como uma
estrutura cada vez mais abstrata, representando acoplamento entre intenção, objetivo e
conseqüências esperadas no ambiente. Assim pode-se considerá-lo como um programa de
ação, com as mesmas características de um sistema aberto: autonomia e integração.
A autonomia existe se o programa de ação for regido por uma dinâmica interna
particular e a integração pode ser observada porque, ao mesmo tempo, o sistema
apresenta a tendência de se integrar a outros sistemas, formando uma rede de sub-sistemas
que passam a ter suas ações condicionadas a uma dinâmica global.
Embora utilizando outra nomenclatura, KELSO (1997) também lançou argumentos a
favor da aproximação das abordagens; para ele existe um padrão dinâmico de geração nos
circuitos neuronais e a representação neuronal pode ser vista como auto-organizada e
descrita com precisão em termos dinâmicos, isto é, com equações de movimento de
variáveis relevantes para a coordenação dinâmica.
HUTCHINS (1991), por sua vez, sugeriu mudanças na interpretação do conceito
de cognição, a qual não seria considerada como um processo interno com estruturas
hipotéticas, mas com o significado distribuído entre objetos e eventos no meio ambiente,
tendo como nível de análise a interação entre o executante e o mundo construído
socialmente.
41
Outra sugestão foi feita por LATASH (1993), para quem o planejamento de
movimentos voluntários pode ser executado em termos de parâmetros sinergéticos do
espaço cartesiano, com o objetivo do movimento planejado expresso em termos de sua
trajetória traduzida em variáveis interpretadas por baixas estruturas, cuja descrição não
codifica diretamente propriedades do movimento, mas é um dos maiores determinantes de
sua definição.
2.5 Resumo do capítulo
Estudos sobre o comportamento motor humano podem ser encontrados desde o
século XVIII apresentando enfoques diferentes. Duas abordagens foram descritas: a
abordagem cognitivista e a abordagem sistêmica: a primeira busca entender mudanças
internas com base em inferências sobre comportamentos observados, considerando o ser
humano um transmissor de informações e procurando explicar como ocorreria o
processamento de informação e a geração de movimento. A segunda vê a formação de
padrões de movimento como resultado do processo de auto-organização dos elementos do
sistema, dando ênfase na descrição de mudanças na dinâmica fisíca e outros elementos de
ação do sistema que interagem de maneira não-linear, levando a mudanças qualitativas e,
conseqüentemente a alterações no status do desenvolvimento.
Embora ambas tenham contribuído significativamente para o avanço de estudos na
área do comportamento motor, há problemas teóricos a serem resolvidos. Em relação á
abordagem cognitívista, questiona-se a concepção de programa motor, segundo a qual
42
existe um conjunto de comandos do Sistema Nervoso Central para a musculatura executar
um dado movimento e tal conjunto é composto de um infinito número de graus de
liberdade, não compatível com a estrutura cerebral existente. Essa abordagem traz ainda a
dificuldade de estabelecer ligações entre niveis neurais e niveis de comportamento e
demonstrar mudanças neuronais induzidas no cérebro quando uma nova habilidade é
adquirida. De outro lado, no modelo sistêmico não se analisam as imposições de restrições
cerebrais sofridas pelas limitações fisica, que podem definir a implementação de um
programa de ação, sendo também dificil explicar como ocorrem as mudanças na dinâmica
intrínseca.
Tentativas de aproximação entre as duas abordagens têm sido feitas, propondo-se
uma abordagem sistêmica que observe as imposições cerebrais, tanto procurando padrões
dinâmicos de geração dos circuitos neuronais, quanto reforrnulando o conceito de
programa motor e recolocando a idéia de organização hierárquica do sistema.
Cada proposta é importante e tem seu lugar, podendo contribuir para o
conhecimento mais acurado sobre o comportamento motor humano, o qual é bastante
complexo e envolve tantas variáveis que se torna dificil esperar que uma só abordagem
possa revelá-lo. Tais propostas foram apresentadas aqui para fornecer o pano de fundo
paradigmático sob o qual este estudo foi realizado, um momento de muitas perguntas e
questionamentos, em que as incertezas se avolumam, mas propiciam formulações de novas
propostas, que certamente serão também questionadas e modificadas.
Assim, procurando aproximar os conceitos determinados pelas abordagens
cognitivista e sistêmica que possam auxiliar na observação do comportamento motor, o
43
próximo capítulo apresenta uma proposta de um sistema dinâmico hierárquico cuJas
restrições cerebrais podem ser inferidas por meio de variáveis cinemáticas.
44
3 Proposta para o estudo da estabilidade do
comportamento motor
45
Conforme visto no capítulo anterior, os enfoques dados aos estudos do
comportamento motor humano nas abordagens cognitivista e sistêmica apresentam
imprecisões teóricas, o que leva a propostas de aproximação delas. Enquanto os adeptos
da abordagem cognitivista procuram fatores que possam explicar a organização do
movimento, isto é, processos cognitivos que estejam envolvidos na execução e
planejamento do movimento, os adeptos da abordagem sistêmica procuram explicar como e
por que ocorrem as mudanças no comportamento motor.
Para aproximar essas abordagens propõem-se a utilização de uma abordagem
sistêmica que observe as propriedades hierárquicas de um sistema, permitindo a formação
de uma estrutura correspondente a um programa de ação. Procura-se observar as mudanças
que ocorrem no comportamento motor, em um determinado eixo temporal, e estabelecer
padrões que serão substituídos por outros padrões de comportamento.
Para demarcar as mudanças ocorridas, observa-se a estabilidade do sistema. O alvo
é encontrar leis fisicas e matemáticas que expliquem as mudanças, como nos estudos de
K.ELSO et al. (1981), ULRICH (1989), ZANONE et al. (1993), THELEN (1983) e
THELEN, ULRICH (1991). Uma outra possibilidade seria encontrar invariantes que
evidenciariam uma _uma sinergia funcional relativa à organização neuronal, como nos
estudos de WALLACE, WEEKS (1988) e KELSO (1997), ou no modelo alternativo de
estudo proposto por MANOEL (1989 e 1995) e TANI (1989, 1998), que analisa a
estabilidade em um modelo de programa de ação.
As propostas divergem em relação à tentativa ou não de inferir sobre os processos
cerebrais que permeiam o ato motor e, na maioria das vezes, restringem-se à análise de
46
movimentos simples ou cíclicos, o que toma necessária a elaboração de propostas que
permitam observações de movimentos mais complexos. O presente capítulo pretende
expor tais propostas, bem como oferecer uma outra alternativa, a ser utilizada com
movimentos mais complexos.
3.1 Comportamento motor e estabilidade do sistema
A abordagem sistêmica baseia-se também na teoria de sistemas, apresentada por
Bertalanffy em !952, considerando que o comportamento motor é governado por
propriedades de sistemas abertos. Para BERTALANFFY (!975), o sistema1 é um
complexo de elementos em interação, que pode ser aberto (em constante troca com o
ambiente) ou fechado (nenhum material entraria ou sairia do sistema). Os organismos vivos
podem ser considerados sistemas abertos, com processo contínuo de decomposição e
regeneração, regulado de tal maneira, que ele se mantém aproximadamente constante no
chamado estado estável, em que a composição do sistema permanece constante, apesar da
contínua troca dos componentes.
MANOEL, CONNOLLY (1997) observaram que o sistema apresenta história com
processos de mudança de longa, média e curta duração em relação ao eixo temporal,
havendo interação entre os processos que mantêm a estrutura e os que a modificam,
podendo se afirmar que os processos de mudança no comportamento motor podem ser
entendidos como evolução, desenvolvimento ou aprendizagem, dependendo da escala
temporal utilizada.
47
Os processos de mudança do sistema podem ser observados por meio de sua
estabilidade num certo eixo temporal, identificando-se pontos de transição, isto é, pontos
onde ocorrem perdas de estabilidade.
Para THELEN, ULRICH (1991), tais processos de mudança estão ligados à
formação de padrões dinâmicos em sistemas físicos e biológicos, relacionados à habilidade
da matéria física, sob certas condições termodinâmicas, de autoformar-se em padrões em
que os elementos originais cooperariam para produzir uma organização não-contida ou
aparente nas unidades individuais. As mudanças oconidas com o tempo podem ser
expressas com formulações matemáticas precisas, por meio de variáveis coletivas
(padrões de ordem) e da determinação de atratores dinâmicos.
Os atratores definem a configuração e trajetória preferidas por um sistema numa
situação particular, determinadas por sua morfologia, energia particular ou estado
motivacional, contexto da tarefa e meio ambiente. A estabilidade do atrator pode mudar
quando o sistema é reunido em diferentes contextos de tarefa ou com o crescimento ou
diferenciação de seus componentes, tomando alguns comportamentos mais executáveis,
com mais restrições e habilidades, deixando o sistema menos sujeito a perturbações.
Tal recurso matemático permite a observação das mudanças oconidas num sistema,
considerando-se que o sistema muda entre dois estados de atratores qualitativamente
diferentes. As mudanças ocorrem em certas variáveis físicas aplicadas ao sistema,
denominadas parâmetros-controle, as quais, quando atingem certos valores críticos,
liberam o sistema para explorar outros padrões e procurar novos estados estáveis.
1 Para maiores detalhes ver glossário de termos, no apêndice O 1.
48
A utilização desses procedimentos matemáticos pode ser exemplificada nos estudos
realizados por MAUERBERG, ADRIAN (1993), THELEN, ULRICH (1991), THELEN et
ai. (1993) e KELSO et al (1981). Estes estudos, porém, referem-se a movimentos cíclicos.
A tentativa de traçar retratos de fases e determinar bacias de atração é prejudicada também
pela dificuldade de estabelecer variáveis coletivas que dão forma à sinergia funcional do
movimento.
Outra dificuldade se refere à ausência de referências ao papel das estruturas mentais
na observação das mudanças entre um estado e outro do sistema, referindo-se apenas ao
processo de auto-organização do sistema. Como observaram MANOEL, CONNOLL Y
(1997), isto não garante que um objetivo particular possa ser conquistado de modo
confiável.
Uma proposta alternativa, segundo a qual a observação do comportamento motor é
feita de acordo com uma abordagem sistêmica, porém referindo-se a estruturas mentais,
vem sendo construída por Tani, desde 1982. Com base na idéia de estabilização funcional
apresentada por Bernstein, aquele autor observou a existência de fases de adaptação, em
que o sistema continua mudando em direção a formas mais complexas. CHOSHl, T ANI
(1983) apudMANOEL, CONNOLLY (1995) sugeriram que nestas fases de adaptação há
um controle adaptativo, levando o sistema que foi desestabilizado a realizar modificações
estruturais no controle ótimo. Assim em vez de tentar a estabilização no mesmo padrão,
aparecem novas soluções para interagir com o novo problema motor, formando um novo
padrão de comportamento.
Essa estabilização funcional ocorre com a formação de uma estrutura
correspondente a um programa de ação, tendo como característica básica a coexistência de
49
elementos aparentemente contraditórios - ordem/ desordem, macrodeterminância/
microindeterminância, consistência/ variabilidade, permitindo ajuste às demandas
ambientais, de acordo com MANOEL (1989 e 1995), MANOEL, CONNOLLY (1995,
1997), TANI(1989, 1998)eTANietal (1998).
Para MANOEL (l998b ), tais programas de ação têm organização hierárquica, em
que a macroestrutura é consistente graças a um dado padrão de interação dos elementos do
programa. Tal consistência é pouco ou quase não sendo perturbada quando essa unidade
se torna parte de um programa mais complexo. A microestrutura é variável por causa dos
graus de liberdade do comportamento individual desses elementos.
MANOEL (1998c) explicou que o padrão de comportamento é o modo de ação
preferido do sistema, com uma série de flutuações, as quais permitem que um dado
sistema se comporte adequadamente no meio ambiente. A extensão dessa flutuação seria
chamada de variabilidade funcional, termo utilizado por MANOEL, CONNOLL Y (1995),
e teria limites que permitem ao sistema superar os desafios causados por perturbações. No
entanto, num dado momento, urna perturbação pode levar a mudanças substanciais no
padrão, resultando num novo padrão. Tais mudanças são não-lineares e multiníveis.
Para dar suporte a essas idéias esses autores utilizaram tarefas de desenhar
grafemas procurando determinar caracteristicas que possam ser relacionadas à
macroestrutura (invariáveis) e à microestrutura (variáveis) do sistema. Corno
macroestrutura eles consideraram a variabilidade da seqüência utilizada para desenhar o
grafema, o tamanho relativo dos grafemas traçados, tempo e pausa relativos; e corno
microestrutura eles consideraram a variabilidade do tamanho total do grafema, tempo e
pausa total do movimento.
50
Eles analisaram a consistência dessas características, assumindo, de um lado, que a
macroestrutura aumenta sua consistência como resultado da prática, permanecendo estável
quando parâmetros da tarefas são modificados, mas não quando ocorrem modificações na
estrutura das tarefas. De outro lado, a microestrutura se torna consistente em certos níveis,
aparecendo a variabilidade quando a tarefa é modificada.
No entanto, esse modelo tem utilizado apenas tarefas motoras de desenhar,
constituídas de vários segmentos com início e fim claramente determinados.
3.2 Proposta para o estudo da estabilidade do sistema
Embora os modelos expostos anteriormente estejam trazendo subsídios importantes
para estudos sobre o comportamento motor humano, há necessidade de novos modelos,
que possam auxiliar em análises de movimentos não-cíclicos e mais complexos, que
permitam tanto observações do status dinâmico do sistema, quanto inferências sobre
possíveis restrições cerebrais nele atuantes, o que contribui para a aproximação das
abordagens de estudo.
Como observou LATASH (1993), os padrões externos de movimento dependem da
tarefa motora e do estado inicial do sistema e podem apresentar diferentes trajetórias para
atingir um novo estado, que pode ser descrito com a utilização de diferentes métodos
fisicos e matemáticos. Uma opção para isto é a utilização de um modelo biomecânico,
que permite a descrição do movimento, independente das forças que o causam, apesar de
sua limitação reconhecida de considerar o corpo um somatório de segmentos rígidos
perfeitamente articulados entre si, cujas superficies de contato não sofrem deformações,
51
como observou WINTER (1990)
Essa observação do status dinâmico do sistema pode ser feita tendo em vista
conceitos da estática, os quais, associados a variáveis cinemáticas podem auxiliar na
inferência sobre processos mentais apresentados na realização do movimento observado
em um determinado eixo temporal.
Para tanto, pode-se analisar a estabilidade do sistema com base em algum
parâmetro geométrico invariante, observando-se também as estratégias de movimento que
foram utilizadas, por meio de cálculos cinemáticos, e a qualidade da execução do
movimento, com critérios para observação de erros na trajetória, como se descreve a
seguir.
3.2.1 Estabilidade do Sistema
A trajetória realizada por algum objeto em movimento pode ser traçada com a
utilização de dois eixos (x e y), formando uma figura geométrica a partir da qual é
possível calcular a elipse de inércia correspondente. A maneira como essa figura se
desenvolve em torno de sua elipse pode ser vista como uma função indicadora do padrão
de movimento utilizado, considerando-se o deslocamento percorrido em função do tempo.
Para isto, é necessário calcular alguns elementos geométricos, de acordo com as
formulações apresentadas em MERIAN (1985), que se seguem abaixo:
a) Obtenção dos centróides da figura:
Os centróides da figura são calculados a partir dos dados de cada par,
correspondente ao deslocamento realizado nos eixos x e y, segundo a expressão:
52
L:.Y,d,
l .Y=-'-' --
1 [ 1 l x = -''-. --
em que x, e y, são os centróides dos segmentos de coordenadas (x,, y,), (xt+ 1 ,
Yi+l), d, é o comprimento desse segmento e l é o comprimento total do traçado da figura
dada, ou seja:
_ _x-"+:;.l_+_x-'-, X = ' 2 Y
- = Yt+t + Y, ' 2
[ 2 l
e
[ 3 l
b) Translação das referências geométricas do traçado para o centróide:
As coordenadas "xy" do traçado devem ser trasladadas para os seus centróides pela
relação:
x =x-x ' '
y,=y,-y
Assim, o conjunto de pontos que descrevem o traçado passam a possuir como
origem comum o ponto (0,0).
c) Cálculo dos momentos estáticos dos traçados em relação aos centróides:
Momentos e produtos estáticos do traçado com relação aos seus respectivos
centróides são calculados da forma seguinte:
53
com 1x, Fy, sendo os momentos de inércia nas direções x e y dos centróides
de cada segmento de reta de comprimento~-
d) Cálculo dos raios de giração polar do traçado:
O raio de giração polar do traçado é calculado a partir de seus momentos de inércia,
nas direções x e y de acordo com a expressão:
k. = -
e) Cálculo dos momentos, direções pnnctpats de inércia e ratos de giração
principais:
Os momentos e direções principais de inércia são calculados a partir das expressões:
1. =1x+1y+!_~(1-1)2+41 2 max. 2 2 xy 'O'
54
t) rotação do traçado em sua direção principal:
O traçado deve ser rotacíonado de forma que suas coordenadas coincidam com as
direções principais. Assim, as novas coordenadas "x, y, " são calculadas por:
x, = xcosamàx. + ysenamàx.
y, = -xam.tt. + ycosamàx.
g) cálculo da distância dos pontos do traçado à sua elipse principal de gíração:
A elipse principal de giração é definida como aquela que possuí seus eixos k~ máx e
k + min orientados nas direções principais e com valores proporcionais aos raios de gíração
principais kmáx e kmin respectivamente.
Os valores k+máx e k" min são obtidos a partir da hipótese da distribuição simétrica dos
momentos de inércia em torno das direções principais. Assim, sejam:
I + I- Imáx mitx =- máx =--
2
semi-inércias distribuídas à direita e à esquerda da direção principal de mínima inércia. Os
raios de giração referentes as semi-inércias são:
e
Assim, a elipse principal de giração expressa pela equação paramétrica
55
onde x ' e y' são coordenadas nas direções principais de máxima e mínima inércia
respectivamente.
A distância de um ponto do traçado rotacionado na direção principal (xr, ,yri) á
elipse principal de giração, seria dada por:
ou
As distâncias "d,/' estão associadas aos instantes de tempo "ti' em que cada ponto
do traçado foi amostrado, sendo possível a observação da distância de cada ponto a elipse
central de giração em função do tempo gasto. Essa função representa o padrão de
movimento observado.
Para comparações entre diferentes traçados, é necessária a padronização dos tempos
e dos números de amostras de cada conjunto de dados cinemáticos (distâncias "dr1"). Isto
pode ser feito por meio de uma interpolação dos valores de dr1, de tal forma que o conjunto
d~, d2, . dfinaz, tenha sempre um número de 1 024 amostras, normalizando-se os tempos
como segue:
t ínicial = O; f final = 1
para cada conjunto de variáveis cinemáticas d1, d2, . dfinat.
O gráfico 1 ilustra a reconstrução da figura geométrica dada pelo movimento
realizado, com a sua respectiva elipse de inércia e o gráfico 2 apresenta a curva de
evolução, que caracteriza o padrão de movimento utilizado.
56
Gráfico 1• deslocamento realizado e elipse de inércia Wr----r----,----r----.----,----,----,----,
10 / ---- ~~ ~
8 8 o ~
~ ~
~ >o
-lO
-20 -20 -15 -10 -5 o 5 10 15 20
x(mm)
Gráfico 2• curva de evolução das distâncias em relaçao à elipse de mércra 0.5 .
o\ r-J \ ~ í \ / v-.J \ ( \.,_.)
-l'----'~--1.--_L _ _L _ _j__--L_ _ _j___[____j _ _j
o 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9
tempo (s)
Considerando-se o comportamento motor um sistema dinâmico, a observação do
padrão apresentado pode ser ligada à evolução da estabilidade do sistema num determinado
eixo temporal, de tal forma que a fase inicial apresenta padrões instáveis, como
caracterizado por T ANI (1998), com movimentos inconsistentes e descoordenados, os quais
são representados por uma grande dispersão nos dados em relação à elipse central de
giração, evoluindo para um estado mais padronizado e preciso, demonstrado por uma
dispersão dos dados sem diferenças estatísticas significativas.
A estabilidade do sistema durante todas as tentativas pode ser descrita por uma
curva construída com o desvio-padrão obtido entre cada um dos ponto de todas as curvas.
57
Essa curva terá 1. 024 pontos (cada um correspondendo ao desvio-padrão de todos os
valores obtidos para cada intervalo em todas as tentativas). O gráfico 3 ilustra o padrão de
movimento obtido em cada tentativa de um determinado movimento, e o gráfico 4 mostra a
curva de dispersão dos dados, representativa da estabilidade do sistema.
Gráfico 3 • padrão de movimento de cada execução
0.5
i o ~ ;>-,
-0.5
-1 o 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 OJ 0.8 0.9
x(mm)
i 0.3 Gráfico 4 estabilidade do sistema
~
gj 0.2 ü ,§ -V>
'B gj
-o -o - o V>
o 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9
tempo (s)
Com base nas consistências e inconsistências observadas em diferentes variáveis
cinemáticas, o status dinâmico do sistema pode ser contraposto á estratégia utilizada no
movimento e permitir inferências sobre a formação de um programa de ação.
58
3.2.2 Estratégias de movimento do sistema
Uma das críticas à abordagem sistêmica, feita por HOFSTEN (1989), relaciona-se à
falta de referências a restrições cerebrais que definem as estratégias utilizadas no
movimento observado. Uma opção para isto é encontrada no modelo alternativo de estudo,
proposto por Tani, Manoel, Connolly, explicitado anteriormente, o qual propõe a
determinação de variâncias e invariâncias que são interpretadas como indícios da existência
de um programa de ação.
Essa idéia é utilizada também por adeptos da abordagem cognitivista, tais como
JEANNEROD (1984 e 1986), MARTENIUCK (1990), HAGGARD (1991), JACOBSON,
GOODALE (1991), GENTILUCI (1991 e 1997), CASTIELLO et ai. (1992),
PAULIGNAN et al. (1997), SERVOS et ai. (1998) e WEIR et al. (1998), os quais
observaram tempo, picos de velocidade e distâncias percorridas para evidenciar a existência
de programas motores na coordenação do movimento.
Entretanto, essas propostas envolvem análises de movimentos simples como
aproximar-se e pegar um objeto ou desenhar grafemas, delimitando-se o início e fim de
cada segmento, com intervalos de pausa entre eles e não análises de movimento mais
complexos ou sem pausa pré-estabelecida entre seus componentes.
Uma alternativa para observação de movimentos mais complexos pode ser
encontrada com a utilização conjunta de elementos cinemáticos e estáticos que permeiam o
movimento, comparando a escala utilizada na realização de cada movimento com o tempo,
a distância e o trajetória percorridos. Pode-se assim, buscar constatações de diferenças
nas estratégias de movimento utilizadas, atribuídas a processos mentais diferenciados e que
59
influenciam o status de estabilidade do sistema.
O cálculo da escala utilizada na execução do movimento pode ser feito
considerando o raio de giração da figura geométrica, que é formada pela reconstrução do
deslocamento realizado nos eixos x e y, obtendo-se, então, os centróides e os momentos
estáticos e de inércia, conforme cálculos apresentados acima, itens a) a d).
Cálculos feitos com base nos fundamentos de mecânica, da Física clássica, de
acordo com RAMALHO JR et al. (1976), fornecem o tempo, a distância e a trajetória
percorridos, possibilitando a comparação desses valores com as escalas utilizadas.
Escalas menores, correspondentes a maiores distâncias percorridas, sugerem
estratégías de movimento diferenciadas, como por exemplo o uso de trajetórias indiretas ou
o seqüenciamento diferenciado, os quais podem ser confirmados pelo gráfico de
deslocamento nos eixos x e y.
O gráfico 5 mostra duas tentativas diferentes de execução de um dado movimento.
Na primeira tentativa (a), a escala utilizada é maior que na segunda (b), no entanto, a
distância total percorrida é menor, devido à utilização de uma seqüência diferente de
movimento, como evidencia o traçado.
De acordo com o modelo de TANI (1998), inferências podem ser feitas sobre a
existência de um programa de ação, analisando-se a macro e a microconsístência do sistema
e observando, por exemplo, as seqüências utilizadas no movimento (macro) e distância/
tempo total (micro). Esses dados podem ser contrapostos aos obtidos no ítem anterior
(estabilidade) para verificar se o mesmo movimento ·que apresenta consistência na
macroestrutura é também aquele que apresenta menor dispersão nos dados relativos à
elipse central de giração, confirmando ou não sua estabilidade.
60
Gráfico 5: deslocamento realizado
-0.9 ,---~---~--~---~---~----,
-0.95 1 I
-1 ~
I ~ -105 r ~ ~
-L! I -Ll5 [
-1.2
...
. ~--/-·· .... ( I '
::.. ... ~----~---~---~···-·-··-···············h
-1.25 '-----L---~----'----'----~--_j J.l
I Escala (a)=O.l44
1.15 l.l 1.25
x(mm) l.3 135 1.4
Escala (b}=O.lll I Perímetro(a)=l0900 mm I Perímetro (b)= 1.19lmm
Esta proposta de estudo pode ser utilizada para analisar diferentes movimentos,
desde que se façam registros de tempo e deslocamento em dois eixos (x e y). No presente
estudo, optou-se pela utilização de um sistema de gravação com uma mesa digitalizadora,
associada á tarefas de desenhar. Isto permitiu a análise da qualidade de execução do
movimento de acordo com critérios já estabelecidos na literatura, possibilitando a
comparação entre a qualidade apresentada no movimento e sua estabilidade.
3.2.3 Qualidade de execução do movimento
A utilização de tarefas de escrever ou desenhar tem sido explorada tanto em estudos
que descrevem o comportamento motor de forma qualitativa, como no estudo de: BLÚTE,
61
DIJKSTRA (1989) e CONNOLLY, ELLIOTT (1981), quanto por estudos que têm se
concentrado na busca por fundamentos da formação da trajetória do movimento e sua
análise cinemática, utilizados por VAN GALEN (1993), LACQUANITI et a/. (1983),
MAARSE, THOMASSEN (1983), HULSTIJN, VAN GALEN (1983), SCIAKY et ai.
(1987), W ANN (1987), MAARSE et ai. (1989), PORTIER et a!. (1990) V AN
EMMERICK (1992) e HODGES et ai. (1995). Para MANOEL (1998b), tais tarefas podem
ser consideradas exemplos de comportamento motor complexo, já que a realização delas
envolve os elementos básicos de qualquer ação motora.
Essas tarefas são utilizadas também para inferências sobre o desenvolvimento
motor, em testes conhecidos como "teste perceptivo-motor". Embora em linhas gerais todo
movimento considera-se que todo movimento seja influenciado pela percepção, esse
termo se refere a testes que pretendem avaliar a precisão de vários sistemas sensoriais
(visual, auditivo, cinestésico e tátil) ou a habilidade de "processamento central" (capacidade
do sistema nervoso de integrar, comparar e armazenar informações).
A maior parte desses testes, de acordo com SHORT (1995), foi construída na
década de 1960, sob a premissa de que o desempenho acadêmico pode aumentar por meio
da melhora das habilidades sensório-motoras, reduzindo a resposta motora á
manipulação de uma caneta. Dois testes de lápis e caneta são bastante utilizados ainda hoje.
São eles: o teste Bender- Gestáltico criado por Bender, em 1938, e o teste de integração
visio-rnotora, conhecido corno VMI (Visio-Motor Integration) criado por BEERY e
BUKTENICA, em 1967, tendo sido ambos significativamente correlacionados nos estudos
de RYCKMAN et ai. (1972), ARMSTRONG, KNOPF (1982), BREEN (1982) e
SIEWERT etal. (1983).
62
O teste Bender-Gestáltico, segundo KOPPITZ (1989), é utilizado como
instrumento para medir o grau de amadurecimento percepto-motor de pessoas em
diferentes faixas etárias, verificar ausência ou presença de sinais indicativos de lesão
cerebral (LC), realizar prognósticos de desempenho escolar e perturbações emocionais em
crianças pequenas, dentre outros. Consiste em nove figuras que são apresentadas uma de
cada vez, para serem copiadas em uma folha branca pela pessoa.
O teste de integração visio-motora (VMI) tem como objetivo identificar crianças
com problemas de aprendizagem e de comportamento, medindo a integração entre
percepção visual e motricidade, relacionando-os com o desempenho acadêmico -
RYCKMAN et a/. (1972), ARMSTRONG, KNOPF (1982), SIEWERT et a/. (1983),
GRAF, HINTON (1997), BEERY (1997) e PREDA (1997). Trata-se de um teste de lápis e
papel, que consiste na reprodução de 24 figuras geométricas dispostas em ordem crescente
de dificuldade: da mais simples (linha reta vertical) à mais complexa (estrela tridimensional
de seis pontas). O teste inicialmente tinha 72 figuras do qual a maioria foi eliminada nas
análises de validação interna. As 24 figuras restantes foram as que apresentavam
correlações estatisticamente significantes entre idade cronológica e conceituações teóricas.
As pessoas portadoras de deficiência mental, bem como as que apresentam
dificuldades de aprendizagem, geralmente têm dificuldades para copiar as figuras tanto do
VMI quanto do teste Bender-Gestàltico, obtendo menores scores. Os resultados alcançados
têm sido interpretados como dificuldade perceptivo-motora, correlacionada à dificuldade de
aprendizagem de conceitos acadêmicos - KRAUTF, KRAUFT (1972), ARMSTRONG,
KNOPF (1982), SIEWERT et a/. (1983), KOPPITZ (1989), CIASCA (1994) e GRAF,
HINTON (1997).
63
Os critérios utilizados por BEERY (1989) para a pontuação no teste foram criados a
partir de diferentes estudos sobre a habilidade de desenhar figuras, foram revisados três
vezes em 1982, 1989 e 1997 e validados para a população brasileira por PINELLI JR,
PASQUALI (1992). Tais critérios correlacionaram os desvios em relação ao modelo com
níveis de desenvolvimento motor e podem ser usados como parâmetros para observação da
qualidade das tarefas de cópias de figuras geométricas.
O autor observou que a reprodução de cantos (ângulos de 90' ) requer que a
pessoa desenhe em uma direção, pare num lugar específico e, depois, continue em uma
direção diferente. Assim, a inabilidade de parar e mudar de direção, após 6 anos de idade,
é associada a patologias. A cópias de formas que incluam cruzar linhas verticais e
horizontais está ligada à capacidade de "cruzar a linha média", referindo-se à linha média
do corpo e à medula. O insucesso nessa tarefa estaria associado a dificuldades espaço
temporais, ligadas ao referencial "perto e longe" do próprio corpo.
A execução de linhas oblíquas requerem a coordenação simultânea de movimentos
horizontais e verticais, e a dificuldade em reproduzi-la estaria relacionada a dificuldades
com tal coordenação. A capacidade de construir linhas oblíquas à direita precede à de
fazê-lo pela esquerda.
Investigando o processo de aprendizagem motora, PORTIER et ai. ( 1990) avaliaram
características cinemáticas de velocidade, aceleração, tempo e deslocamento e
consideraram incorreta a omissão de algum segmento da figura.
Considerando os estudos acima mencionados foram selecionados alguns critérios
para a análise da qualidade da tarefa motora realizada, baseados nos erros encontrados
nessas tarefas. Assim, foram considerados erros os seguintes itens:
64
ausência de ângulos na demarcação dos segmentos;
figuras com segmentos não bem definidos;
substituição de linhas oblíquas por linhas horizontais ou verticais;
orientação incorreta do segmento;
cruzamento da linha média do segmento;
omissão de um segmento;
Além disso, considerou-se também a variação da escala utilizada para o traçado da
figura. Para isso, é necessária a construção de um gabarito de referência, ou seja, uma
figura geométrica ideal, com a qual cada traçado realizado possa ser comparado. Após o
cálculo do raio de giração, tanto do gabarito quanto da figura representando o movimento
realizado, a variação da escala pode ser observada de acordo com a relação:
em que E é a escala e kz e kzm são os raios de giração da figura, correspondente
ao movimento realizado, e do gabarito, respectivamente. Assim, obtém-se a escala relativa
de cada movimento realizado.
O gráfico 6 exemplifica o traçado de um movimento realizado e o traçado esperado
(gabarito), bem como a diferença de escala existente entre eles.
65
Gráfico 6: deslocamento realizado x deslocamento proposto -••..---~-----------~-------,
~85
-90
-95
~105
~110
b
-120 '----~---:-~---:-~--~--~--~-_____J 100 105 110 115 120 125 130 135
x(mrn)
Escala (a)= 13.50 Escala (b)- 13.73 Perímetro( a)= 111.10mm Perímetro (b)= 103.55mm
3.3 Resumo do capítulo
Nas propostas de aproximação das abordagens de estudo em comportamento motor
humano, podem-se encontrar indicações para a observação do mesmo como um sistema
dinâmico cujas propriedades de organização podem ser analisadas por meio de sua
estabilidade expressas com formulações matemáticas precisas. Os estudos dentro deste
modelo são realizados a partir da observação de movimentos cíclicos. Outra proposta de
análise faz inferências a um programa de ação com coexistência de elementos de macro e
microdeterminãncia, em vez de procurar por restrições fisicas. A maior parte desses
estudos analisa movimentos simples ou tarefas de desenhar figuras que tenham claramente
66
delimitados o início e o fim de cada segmento
Uma possibilidade para a análise da estabilidade de movimentos mais complexos e
não-cíclicos é encontrada na utilização conjunta de elementos cinemáticos e estáticos, tais
como tempo, distãncia, elipse central de giração e escala da figura geométrica
representativa da trajetória do movimento descrito num plano x, y. A comparação entre o
status dinâmico e estratégias de movimento possibilita a descrição matemática da
estabilidade e permite inferências a processos mentais que atuariam na coordenação do
sistema.
Embora existam diferentes opções de registro para ações motoras que se
desenvolvem em um espaço plano, optou-se pela realização de tarefas de desenhar sobre
uma prancheta, por serem representativas de um comportamento motor complexo e
permitirem a realização de análises, segundo critérios de identificação de erros em í!guras
geométricas existentes na literatura. O quadro O 1 apresenta a sinopse da análise sugerida.
Quadro 01: Análise da estabilidade do movimento
Status dinâmico
Estratégias
Qualidade de execução
Elipse de lnércía
f Variáveis cínemáticas L Escala utilizada
Erros na trajetóría
Erro de escala
67
4 Metodologia
68
" no andamento da atividade de pesquisa cientifica somos levados a
emprestar propriedades a um objeto utilizando os atributos de um segundo
objeto com que o primeiro guarda alguma semelhança comprovada. Por
não ser possível abordá-lo de modo mais direto, servimo-nos de modelos
como elementos mediadores entre a realidade investigada e nossos recursos
intelectuais... modelos constituem meios e não fins. São travessias. Como a
metiifora, são engenhosos produtos da mente humana e como tais podem
ser inventados, testados, corrigidos, dispensados e recriados ... "
BENNATON (1997)
4.1 Classificação da pesquisa
Este estudo se cardCterizou, de acordo com a classificação propo::.ia por
SEVERINO (1990), como uma pesquisa experimental, ou como uma pesquisa aplicada I,
como sugeriu CHRTSTINA (1989), por estar voltado para o desenvolvimento da teoria,
utilizando-se de tarefus motoras naturais.
4.2 População
As pessoas envolvidas nesta pesquisa formaram três grupos pequenos e distintos:
o primeiro constituído de Pessoas Portadoras de Sindrome de Down (PPSD), o segundo
composto de Pessoas Portadoras de Deficiência Mental de causas idiopáticas (PPDM) e o
terceiro formado por Pessoas sem Deficiência Mental conhecida (Ps!DM). Inicialmente
69
cada grupo era composto de 08 pessoas, mas intercorrências com pessoas do grupo de
Síndrome de Down, reduziram-no a quatro pessoas, sendo então considerado para este
estudo, os dados coletados de 04 pessoas em cada grupo, de ambos os sexos e fuixa etária
entre 09 e 29 anos.
Entre as PPSD apenas uma é alfabetizada, tendo cursado até a 4• seríe do ensino
fundamental, e do grupo de PPDM nenhuma pessoa é alfabetizada, embora tanto as PPSD
quanto as PPDM tenham frequentado regularmente a escola especial num período de 03 a
12 anos, com atividades direcionadas à alfabetização. As Ps/DM foram escolhidas de
acordo com o critério de fàixa etária, pareando-se os grupos. Isto proporcionou diferentes
graus de escolaridade (3', 4' ,6• série do ensino fundamental e nível superior, no caso da
pessoa com fuixa etária de 25 anos, intitulada aqui como G3/2).
4.3 Material e métodos
A necessidade de aproximação entre pesquisa básica e pesquisa aplicada, levou à
utilização de uma metodologia que permite a observação do comportamento motor em
situações próximas ao cotidiano e em ambiente fumiliar aos sujeitos pesquisados. Para
tanto, a escolha da tarefu executada foi precedida da observação das atividades realizadas
em instituições especiais e a opção pelo equipamento é feita buscando algo que seja de
fácil transporte e manuseio, permita o registro dos dados de maneira simples, direta e
flexível e não possua elevado custo financeiro.
Assim, decidiu-se pela observação de tarefus de desenhar, realizadas em uma mesa
digitalizadora.
70
4.3.1 Sistema de registro
A mesa digitalizadora escolhida foi a modelo OP-1812 OmniPad, fabricada pela
Yanco. Esta mesa possue uma área ativa de 12" x 12", resolução até 2540 linhas por
polegada, precisão de+/- 0.01 polegada, taxa máxima de digitalização de 200 pontos por
segundo, taxa de transmissão igual a 19200 bytes por segundo e interface tipo RS 232C. O
sistema inclue uma caneta instrumentada, responsável por transmitir a um computador a
informação de posição exata do traçado realizado sobre a mesa. O computador utilizado foi
um pentium portátil (notebook), com sistema operacional Windows 98.
Foi desenvolvido um programa de controle de aquisição dos dados da mesa,
denominado 'Digitab ', que consta de rotinas de registro das posições x e y da caneta
instrumentada, bem como do instante de tempo da aquisição de cada registro. Tal aquisição
é realizada de forma assíncrona, condicionada à geração de uma interrupção oriunda do
movimento da caneta, sendo o menor tempo limitado pela taxa máxima de digitalização da
mesa, ou seja, cinco ms.
A necessidade de monitoramento do tempo do traçado, com elevadas taxas de
aquisição, impediu o procedimento de apresentação da trajetória da caneta no monitor do
computador em tempo real. Assim, para o fornecimento de feedback visual do traçado, foi
necessário a adaptação de uma ponta de tinta à caneta instrumentada. A caneta
instrumentada que acompanha a mesa digitalizadora não permitiu a adaptação de uma ponta
com carga de tinta suficiente para a realização de um grande número de ensaios. Optou-se,
portanto, pela construção artesanal de outra caneta de precisão, com uma bobina com fio
n°. 40 ( 3.440,0 QIK.m), de 8.89mm de comprimento e um ferrite de O.lOmm, que permitiu
a colocação de carga de tinta suficiente para a realização dos ensa10s.
71
A calibração do tempo foi feita utilizando-se um cronômetro externo e a calibração
do deslocamento no eixo x, y, através da mensuração das figuras desenhadas na folha de
resposta.
Os dados capturados foram gravados em arquivos com formatos ASCII que
possibilitassem a leitura do mesmo por outros aplicativos. O programa 'Matlab · foi
utilizado para computação numérica e visualização gráfica dos dados aquisitados.
O programa de controle da mesa digitalizadora, bem como as funções e arquivos de
instruções para análise de dados foram desenvolvidos no Departamento de Projeto
Mecânico da Faculdade de Engenharia Mecânica da Universidade Estadual de Campinas.
4.3.2 Questões de Estudo
As questões observadas, podem resumir-se a:
1- Durante a aquisição do controle de movimento as PPSD são mais instáveis no
comportamento motor do que as demais? Em caso afirmativo, esta
inconsistência estaria relacionada a estratégias diferenciadas de movimento?
2- A prática da atividade proposta levou à mudanças no desempenho da tarefa?
3- Houve memorização da tarefa?
4- A proposta de estudo utilizada, mostrou-se adequada para responder as questões
acima?
4.3:3 Tarefas utilizadas
Além da observação de atividades utilizadas em instituições especiais, a escolha
72
das tarefas levou em consideração também estudos sobre o comportamento motor, que
abordaram movimentos de escrever e desenhar, como explicitado no capítulo 02 e recam
em diferentes execuções de uma mesma figura geométrica, que deveria:
1- ser desconhecida para os participantes do estudo
2- possuir linhas retas e curvas
3- possuir pelo menos um ângulo de 90° e um entre 50° e 70° .
Optou-se assim, pelo desenho estilizado da letra 'Tet' - r!) do alfabeto hebraico
(figura 01), que atendia às características desejadas.
Figura O 1 - Figura reproduzida pelos participantes do estudo
Foram realizadas três atividades distintas, a primeira executada ao longo de
um eixo temporal e as outras duas em uma única tentativa.
• Tarefa 01
Executar blocos de tentativas de copiar a figura conforme modelo apresentado.
Procedimentos: A pessoa sentou-se confortavelmente em frente a uma mesa
digitalizadora, com a mão colocada na posição de início e dado o sinal copiou uma série
de cinco figuras iguais (ver apêndice 02), que estavam fixadas sobre a mesa
digitalizadora, logo acima da àrea disponível para a realização da tarefa. A folha onde as
figuras deveriam ser copiadas continha cinco retângulos, dentro dos quais cada figura
73
deveria ser desenhada. Cada pessoa realizou 20 blocos de tentativas, em quatro sessões
semanais, totalizando 100 execuções da referida figura.
Antes da realização desta tarefa, foram dados 15 minutos para cada pessoa se
familiarizar-se com a aparelhagem, podendo desenhar ou escrever livremente.
Instruções dadas: copiar a figura, mantendo a maior similaridade possível ("faça
um desenho o mais parecido possível com este aqui, um em cada um destes espaços").
• Tarefa 02
Reproduzir a mesma série de figuras da tarefa 01, sem a observação do modelo.
Procedimentos: Os mesmos da tarefa 01, porém a folha de resposta fornecida
estava em branco.
Instruções: reproduzir a figura desenhada nas sessões anteriores ('você se lembra
do que estamos aprendendo a desenhar? Faça um desenho igualzinho ao que fizemos nos
outros dias, coloque o mesmo número de figuras, tá?')
Esta tarefa foi realizada uma semana após a realização da última sessão da tarefa O 1.
• Tarefa 03
Reproduzir a figura modelo, porém em proporções maiores, ocupando toda a folha
(tamanho A4)
Procedimentos: semelhante á tarefa 01, porém o modelo apresentado continha
apenas uma figura, nas mesmas proporções da tarefa 01 e a folha de resposta estava em
branco.
Instruções: copiar a figura apresentada aumentando suas proporções de modo a
74
ocupar toda a folha ('vamos fazer um desenho bem grandão, um só, que seja do tamanho
desta folha aqui? ").
Esta tarefa foi realizada após a tarefa 02, na mesma sessão.
4.3.4 Modelo de análise utilizado
As análises realizadas, como proposto no capítulo dois, investigaram três itens
relacionados ao comportamento motor das pessoas estudadas estabilidade, estratégias e
qualidade do movimento observado. Os dois primeiros foram veriílcados através dos dados
armazenados no computador, enquanto que o terceiro foi analisado a partir das folhas de
respostas de cada pessoa, sendo observada a freqüência relativa de cada erro encontrado no
desenho. Para a veriílcação do cruzamento da linha média a figura foi divida em cinco
segmentos, conforme a ílgura 02, notando-se a posição do segmento O 1 em relação ao 02.
O modelo da folha de observação utilizada pode ser visto no apêndice 03.
Figura 02- Numeração dos segmentos da Figura proposta
Além de variáveis de tempo de movimento e distância percorrida, foram
considerados também o tempo e a distância percorridos nas fases aéreas, entendidas aqui
como a fase de movimento da caneta que não compunha o traçado da figura exemplií!cada
75
no gráfico 7 e 8 pelo traçado azul.
Gráfico 7 e 8 -Exemplo de deslocamentos realizados
PPSD -80 ,-----,-----,------,---------,------,
-100 E E
-120
-100
~ -110
-120
-130 '-------'------'------'-----'------' 50 100 150 200 250 300
mm
111 Movimento traçando a figura Fase área
4.3.5 Tratamento dos dados adquiridos pela mesa digitalizadora
As informações de posição "x, y" e tempo dos pontos amostrados no processo de
traçado das figuras sobre a mesa digitalizadora foram armazenados na forma de matrizes
com um número fixo de 03 colunas. A primeira e a segunda coluna, continham
76
respectivamente as informações de posição x e y da caneta em milímetros, referentes à
origem da mesa (extremidade superior esquerda). A terceira coluna da matriz de dados
possuía o tempo, em segundos, em que a informação sobre cada par de posições "xy" foi
adquirido.
As linhas desta matriz corresponderam a diferentes posições adquiridas ao longo do
traçado. O instante de aquisição do primeiro par de coordenadas correspondeu ao tempo t =
O. O número total de posições adquiridas dependeu da velocidade de movimentação da
caneta durante o periodo do desenho.
A "reportagem" de posição da caneta foi feita a cada instante em que o software
detectou sua movimentação através das células sensoras da mesa digitalizadora. A taxa
máxima de reportagem da aquisição do equipamento foi limitada ao valor de 200
amostragens por segundo. Assim, para a caneta parada ou movimentando-se de forma bem
lenta, o número de pontos reportados por unidade de tempo foi inferior àquele obtido
quando a caneta passou de forma mais rápida pelas diversas células sensoras da mesa. Cada
sessão de aquisição possuía os registros das posições e tempos correspondentes ao desenho
de cinco figuras.
Para análise de cada figura separadamente, foram construídas cinco novas matrizes,
cada uma contendo os registros referentes a uma das figuras desenhadas. O ponto de inicio
e término de cada figura foi observado no traçado realizado e capturado através de uma
rotina construída no software Matlab, que permitia a visualização da figura, bem como a
detecção de seu ponto inicial e final, considerando-se sempre o tempo inicial igual a zero.
O tratamento dos sinais adquiridos foi feito através de operações geométricas e
cinemáticas. Em relação à análise de desempenho, os dados de tempo de movimento e
distância total percorrida, foram observados considerando-se todos os desenhos realizados 77
na sessão, ou seja, desde o instante inicial em que foi dado o sinal para o início da sessão,
até o instante final, quando a mesma foi concluída.
Os cálculos foram realizados conforme explicitado no capítulo anterior, acrescendo
se que para a fase aérea subtraiu-se a soma dos tempos (ou distâncias) gastos (percorridos)
em cada figura, do valor total obtido na sessão.
4.3.6 Análise estatística
Para a comparação dos dados foi utilizada a técnica sugerida por Tukey em 1977,
relativa à construção de desenhos esquemáticos, mais conhecida como "box and wisker
plots" ou simplesmente "boxplof', a qual mostra a natureza da distribuição dos dados,
permitindo a comparação entre os resultados dos diferentes grupos, bem como a
observação dos sujeitos no decorrer do processo.
Para a construção deste desenho, conforme instruções de BUSSAB, MORETTIN
( 1986) e HOGG ( 1987), considera-se um retângulo onde estão representados os valores do
1 o quartil, mediana e 3° quartil. A partir do retângulo, seguem-se linhas para cima e para
baixo, conhecidas também como "whiskers", até o ponto mais remoto que não seja uma
observação discrepante. Os valores discrepantes, também conhecidos como "outliers" são
representados individualmente por um símbolo (+). No retângulo são feitos entalhes,
correspondentes a uma estimativa da incerteza relacionada à média, para a comparação
entre os desenhos.
Os valores de p são referentes à hipótese nula, segundo a qual, a média dos
grupos seriam iguais.
78
Além dos desenhos esquemáticos foram construídos também gráficos de linhas
exibindo a tendência de uma determinada variável no decorrer do tempo e gráfico de
coluna, para a comparação entre os resultados dos grupos na análise qualitativa.
4.4 Resumo do capítulo
Este estudo refere-se a uma pesqmsa experimental, podendo também ser
enquadrado como uma pesquisa aplicada I, para observar a estabilidade do comportamento
motor em Pessoas Portadoras de Síndrome de Down (PPSD). Além destas pessoas, foram
incluídos outros dois grupos distintos: Pessoas Portadoras de Deficiência Mental (PPDM) e
Pessoas sem Deficiência Mental conhecida (Ps/DM). Utilizou-se de um sistema de registro
composto por uma mesa digitalizadora, um computador pentium e uma caneta
instrumentada, desenvolvendo-se um programa de controle de aquisição de dados e
criando-se arquivos de instruções e funções para análise matemática no software Matlab.
Foram observadas três tarefas diferentes, referentes a cópias de uma determinada figura
geométrica que permitiam a análise proposta no capítulo três.
79
5 Resultados
80
A apresentação dos resultados será feita por tarefa analisada, considerando-se os
itens propostos para a análise, no capítulo 03, ou seja:
status dinâmico
estratégias de movimento
qualidade da execução do movimento
quando necessário, os dados obtidos em outra tarefa serão comparados. A escala para a
apresentação de gráficos e figuras, privilegiou a melhor visualização dos mesmos
5.1 Tarefa 01
Esta tarefa foi realizada para possibilitar a observação da aquisição do controle de
movimento, estabelecendo-se um determinado eixo temporal. Observou-se a consistência
na reprodução das figuras através de seu desenvolvimento em torno da elipse central de
inércia. A dispersão dos dados em cada tentativa foi representada por um boxplot,
permitindo a comparação entre as diferentes tentativas, através da construção de uma figura
contendo todos os boxplot de uma mesma pessoa. Os dados de cada pessoa estão
ilustrados nas figuras de 03 a 14.
A dispersão dos dados nas duas primeiras sessões da pessoa Gl/1 não foi muito
diferente, porém na sessão 03 e 08 a dispersão aumentou bastante, atingindo seus picos
máximos. É possível observar que até a 8' sessão os valores da mediana (e também da
média) flutuaram mais do que após ela, sendo que os intervalos interquartis foram maiores
até a 1 O sessão.
81
.. E s !I!
I I I o •
:.§' o 0.5
·• .s = o Q.
o o " -~ o
= ':! . -0.5
I I "
I • I -1
2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 sessão
Figura 03: Box and whisker display- evolução em torno da elipse Pessoa Gl/1 -Tarefa 01
E 5 $ ,;,
o • :§' 0.5 o
·• -" = o Q.
o o " -~ o
= ':! " -0.5 "
1 .... "F "!' !!! -1 ~ 'F
2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 sessão
Figura 04: Box and whisker display- evolução em tomo da elipse Pessoa G1/2- Tarefa 01
83
A pessoa G 1/3 apresentou grande flutuação nos valores das distância ponto/elipse,
até a i sessão de treinamento, tanto nos valores medianos quanto nos intervalos interquartis
ou mesmo nos valores extremos ou discrepantes. Após a s' sessão, a dispersão dos dados
diminui significativamente em relação às sessões anteriores, embora ainda não haja
estabilidade no padrão.
3.5
3
I 2.5 .,
2 S. ~ ... 1.5 = o - I "" c: o o. 1 o ... ... , "' 0.5 'õ c: .. -11) o ;;
-0.5
1 .. 'F
-1
1 2 3 4 5 6 7 6 9 10 11 12 13 14 15 16 17 sessão
Figura 05: Box andwhisker display evolução em torno da elipse -Pessoa Gl/3
84
Os valores encontrados na pessoa Gl/4 apontaram para a variabilidade nas
diferentes sessões, tanto em relação aos valores medianos, como interquartis, sem tendência
para aumento ou diminuição dos mesmos com o passar do tempo. A s•,6• e 7• sessão foram
as que apresentaram maiores valores medianos.
1.5
I 1 ., ~ li ..., 0.5
~ 8. o -o o "' 1~ .., 1ií 'õ -0.5
-1
I ' .;. i I
I I ' 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
sessão
Figura 06: Box and whisker display evolução em tomo da elipse -Pessoa G 114
85
A figura 07 mostra como foi a evolução da pessoa G2/1. Nota-se que os dados
variam significativamente ao longo do tempo, exibindo diminuição dos valores da média
de cada sessão. Os valores medianos também diminuem ao longo do tempo, porém com
flutuações significativas.
E' E ~ ., !i ::ai .., o -" o Q.
o .., "' .õ
" .. -<I> ,
2
1.5
1
0.5
o
-0.5
I i
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 sessão
Figura 07: Box and whisker display evolução em tomo da elipse- Pessoa G2/!
86
Os dados referentes à pessoa G2/2, encontram-se na figura 08, onde observa-se alta
variabilidade na distribuição dos dados ao longo do tempo, com intervalos interquartis
significativamente diferentes. Nota-se, no entanto, uma diferença na distribuição dos dados
até a s' sessão, com valores interquartis e as dispersões superiores neste período são
maiores que nos demais.
Ê .s "' :!!. ~ .... o 1: o o. o
"' .. 'õ c: .., -.!!! "'
1.5
1
0.5
o
-0.5
-1 .,.
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 sessão
Figura 08 Box and whisker display evolução em torno da elipse - Pessoa G2/2
87
A pessoa G2/3, exibiu grande variabilidade na distribuição dos dados, com seus
valores medianos maiores a partir da 7• sessão, com intervalos interquartis menores após a
9• sessão, porém com valores mais altos nos primeiros quartis.
3
Ê 2.5
s "' !'!.
2
ã:i ..., 1.5
·l!l 0.5 s::: .. -<J)
'6
I T
-0.5
-1 • 1 2 3 4 5 6 7 B 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 sessão
Figura 09: Box and whisker display evolução em torno da elipse -Pessoa G2/3
88
A figura 1 O ilustra a distribuição dos dados da pessoa GZ/4, a qual variou sua
distribuição significativamente ao longo do tempo, com valores médios e medianos
maiores após a 13• sessão, e intervalos interquartis variáveis durante todo o treinamento.
2
1.5 + Ê -É.
~ 1 -.; .., o E 0.5 8. .g .. . õ o c: .. u; 'õ
.0.5
-1
I I
T
1 • • 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19
sessão
Figura 10: Box and whisker display evolução em torno da elipse - Pessoa GZ/4
89
O caso da pessoa 3/1 mostrou pequena variabilidade nos valores medianos, mas
oscilações nos valores dos 1' e 4' quartis, com dados discrepantes na maioria das sessões.
Embora não possa ser observada alguma tendência do comportamento, percebe-se uma
diminuição gradativa nos valores medianos entre a 14• e a 19 sessão.
0.8
0.6 Ê s 0.4
"' [li 0.2 li ..,
o o ~ o ll. o -0.2 -o
"' ·g -0.4 ... -"' '5 -0.6
-0.8
-1
• I "' ~ .,. 11
I 1!\1'
+ I 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
sessão
Figura 11 Box and whisker display evolução em tomo da elipse - Pessoa G311
90
A pessoa G3/2 não apresentou variabilidade significativa na distribuição dos dados
durante o treinamento, mantendo comportamento bastante consistente, como pode ser visto
na figura 12.
Ê .s
0.6
0.4
~ 0.2
li ~ o "E 8. .g -0.2 ., ·g .. :; -0.4
" -0.6 1 1
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 sessão
Figura 12: Box and whisker display evolução em tomo da elipse -Pessoa G3/2
91
A distribuição dos dados encontrada na pessoa G3/3 mostrou dois momentos
diferentes, o primeiro, até a 14" sessão, onde os dados não apresentaram distribuição
significativa, com valores medianos e interquartis próximos, e a segunda a partir da 15"
sessão, onde os intervalos interquartis aumentaram significativamente, embora os valores
medianos não foram muito alterados.
1.5
I 1
., !!. ~ ... 0.5
~ &.
-1
I
.L
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 sessão
Figura 13: Boxandwhisker display evolução em torno da elipse- Pessoa G3/3
92
A variabilidade da distribuição dos dados, no caso G3/4, pode ser vista na figura 21,
a qual apresenta maiores diferenças entre os intervalos interquartis da 1 • à 4• , 183 e 19•
sessão em relação às demais.
0.8
0.6
Ê 0.4 s Q)
~ 0.2 ~ .., o ~ 8. -0.2 o .., "' õ -0.4 .ái ~ -0.6
-0.8
T
I I "' • * f -F ' I i • i I
* ~ ; "" =!= !
'!'
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 sessão
Figura 14 Box andwhisker display evolução em torno da elipse- Pessoa G3/4
93
A comparação entre os grupos, pode ser melhor visualizada na figura 15, que
corresponde a ilustração gráfica da dispersão de todos os dados de cada grupo, a partir do
desvio padrão de cada ponto traçado. Evidencia-se uma diferença significativa entre eles.
O grupo de Ps/DM teve menor dispersão nos dados do que os demais, com 3° quartil com
valor menor (0.21mm) que o valor mediano (0.3lmm nas PPSD, e 0.33mm nas PPDM),
dos valores dos outros grupos, que também se diferenciaram, sendo o grupo de PPSD o
mais instável de todos, com intervalo interquartil maior (0.18mm contra O.lOmm e 0.07mm)
e maiores dispersões superiores (0.7lmm contra 0.38mm e 0.2 mm).
A função que retrata o status dinâmico do sistema é dada pela curva traçada,
considerando-se o desvio padrão de cada ponto nas tentativas observadas e é mostrada nos
gráficos de 9 a 20.
0.7
E ! ' E 0.6 ' '
o i • ~ .::- ' o ' ' ~
Q r
2
E3 c o 0.4
"' " o c 0.3 -.-~ .
: "' i i " 0.2 _j_ "' __j__
0.1
_L
PPSD PSDM Ps/DM
Figura 15: Box and Whisker display - Status Dinâmico do Sistema - tarefa O 1
94
Gráficos de 9 a 20- Status Dinâmico do Sistema- Tarefa OI
Gl/1 Gl/2 Gl/3 Gl/4
~
E 0.5 0.5 0.5 E ~ o E-r/l
o o o o o 500 1000 o 500 1000 o 500 1000 o 500 1000
ponto G2/l G2/2 G2/3 G2/4
~
E E 0.5 0.5 0.5 0.5 ~
o E-r/l
o o o o o 500 1000 o 500 1000 o 500 1000 o 500 1000
ponto
G3/1 G3/2 G3/3 G3/4
Ê 0.5 0.5 0.5 0.5
E ~ o E-r/l
o o o o o 500 1000 o 500 1000 o 500 1000 o 500 1000
ponto
95
Em relação às estratégias de movimento utilizadas, serão apresentados os dados de
Tempo de Movimento (T.M.), Distância Total Percorrida (D.T.), Tempo de fases Aéreas
(TA), Distância percorrida nas fases Aéreas (D.A.) e escala utilizada para a execução do
desenho.
Quanto ao tempo de movimento, houve diferença significativa entre as Ps/Dm e as
demais, porém ambos os grupos portadores de deficiência mental gastaram mais tempo
para executar a sessão, sem diferença significativa entre eles, como mostra a figura 16, com
valores próximos nas medianas, intervalos interquartis e dispersão superior e inferior.
+ 1 20
+ +
~ 1 00 + - -~- + ~ T o .... 80 I -~-
o ç I I ~
B e 60 • I .... s 40
_j_ 20
PPSD PPDM Ps1D M
Figura 16: Boxandwhisker display Tempo Total- tarefa 01
Houve diferença significativa na distância total entre todos os grupos, acentuando-se
entre as Ps/DM e as demais, sendo que o grupo de PPSD foi o que percorreu maiores
distâncias, tendo também maior dispersão destes dados, como representado na figura 17,
onde valores medianos e interquartis são diferentes. 96
E
5 600 +
.!: ~ + o 500 . • i ~
E 400 +
~ • • E +
300 -L "'
+ : + o ---*- j_ f-~ 200
E 3 ·;; = :; 100 _i_ -~ ---t-o
PPSD PPDM Ps/DM
Figura 17: Box and whisker display Distância Total- tarefa 01
A dispersão dos dados relativos ao tempo gasto sem realizar traçados (fase aérea)
mostrou marcante diferença entre os grupos portadores de deficiência mental e as pessoas
sem esta caracteristica, como é possível observar na figura 18, onde não apenas os valores
do grupo de Ps/DM são menores, como também têm menor dispersão.
70 + . . + .. 60 < • 50
+ . ~
~ o " ~
é E " • ,_ 20 +
" --+--
' ~'- I ___j___ --'-
PPSD PP D M P s!D M
Figura 18: Box and whisker display - Tempo gasto na fase aérea- tarefa O 1
97
A figura 19 ilustra a dispersão dos dados relativos à distância perconida em fases
aéreas. Pode-se observar que as PPSD percorreram maiores distâncias do que as demais,
porém sem diferenças significativas entre elas e as PPDM. No entanto o grupo de Ps/DM
diferiu dos demais significativamente.
~ '" + ~ ~ ~
--'f- * '" <
~ ""
-,..-~
0
~ "" ....
B ~ '"" -,--o
"" B c .• '"" _L -. z 13 o !
Cl -'-PPSD PPD M P s/D M
Figura 19: Box and whisker display - Distância perconida na fase aérea -tarefa O 1
Tanto o grupo de PPSD quanto o de PPDM utilizaram escalas relativas menores
para realizar o traçado, com maiores variações nas mesmas. As diferenças entre as pessoas
portadoras de deficiência não foram significantes, como pode ser visto na figura 20.
" • '" ~
• N " "
" " • • " ~ '" "'
* + -
T T + -
~ -
~ 8 -........--
1 _,_ +
p P ~ S D PPD M P sfD M
Figura 20: Box andwhisker display -Escala utilizada- tarefa 01 98
A qualidade da tarefa foi observada em termos da existência ou não de erros no
traçado da figura, conforme os critérios especificados anteriormente.
Foram realizados três tipos de observação: a evolução dos erros no traçado, sua
freqüência relativa e a diferença entre a escala proposta para o desenho e a utilizada. A
primeira referiu-se a quantos e quais erros foram cometidos ao longo do treinamento de
cada pessoa e pode ser vista nos gráficos de 21 a 44.
Os resultados indicam que o treinamento teve diferentes influências sobre as
pessoas. A pessoa Gl/1 (PPSD), não foi beneficiada com o treino, mantendo os erros
cometidos na maioria das tentativas. A pessoa G2/1 (PPSD), além de manter o erro mais
freqüente durante todo o treino (ausência de), começou orientando corretamente o
segmento, mas entre a 42• tentativa e a 843, inverteu a orientação do segmento 02,
retornando a orientação correta a partir de então.
A pessoa G 113 manteve os erros tipo 1 (ausência de ângulos na demarcação dos
segmentos) e 4 (orientação incorreta do segmento) mas a incidência de figuras incompletas
diminuiu após a 3 s• tentativa, chegando mesmo a desaparecer entre as tentativas 36• a 693 e
a 783 e a 95• .No caso Gl/4, a orientação incorreta dos segmentos manteve-se na maioria
dos testes, porém os itens 1 e 6 diminuíram com o tempo.
Entre as PPDM também podem ser observados erros que persistiram durante todo o
treino, como a orientação incorreta, do segmento 02, realizada por todos, em pelo menos
96.47% das tentativas, e erros que diminuíram ou mesmo cessaram com a prática, como a
definição de cada segmento da figura, nas pessoas G211 e G2/4, ou a demarcação dos
segmentos das figuras com ângulos que desapareceu após a 263 tentativa, em G211, ou
diminuiu sua freqüência, na pessoa G2/4.
99
A incidência de figuras incompletas, cessou após a 26a tentativa da pessoa G2/4 e
diminuiu após a 70• tentativa de G2/2. Convém salientar ainda, que a pessoa G2/2, foi a que
apresentou maiores índices de erro.
Entre as Ps/DM os erros foram na maioria das vezes esporádicos, ou
concentraram-se antes da metade das sessões realizadas.
Gráficos de 21 a 24 - Erros no traçado da figura
6
"' o 164
"' ., g2
o o
6
"' o 164
"' ., g2
o o
G1/1 -total de erros G1/1 -Erros na figura
06 ~ ~ ., .g4 "' 'C:
Arllt o
f2 v vv o tx o
20 40 60 80 100 o 50
G1/2 -t~Pa~~e erros fflura G1/2 - E os na figura
20
o6 l: * ., o "'4 "' ·c: o "'
w L ~2 o
I o 40 60 80 100 o
figura
Categoria dos erros l(x) ausência de ângulos na demarcação do segmento 2( -.) segmentos não definidos
o 4WI
X
50 figura
3( +) substituição de linhas oblíquas por horizontais/verticais 4( o) orientação incorreta do segmento 5(: ) posicionamento do segmento O I 6(*) figora incompleta
GI/1 e GI/2 = PPSD
100
I 100
100
Gráficos de 25 a 28 - Erros no traçado da figura
6
"'
·~ o ài4
"' " g2
o o
6
"' o ài 4 "' " g2
G1/3 -total de erros G1/3- Erros na figura
e6~--~
liEK
"' o "04 ., ·c: -HIIH-o
f2 o X
oi 20 40 60 60 100 o 50
G1/4 -t~JI~e erros fi~ra G1/4 -Err na figura
g 61
"' o "4 ., ·c: + ++ o Cl "'2 1ií o -X
o 20 40 60 80 100 o
figura
Categoria dos erros l(x) ausência de ângulos na demarcação do segmento 2(-.) segmentos não definidos 3(+) substituição de linhas oblíquas por horizontais/verticais 4( o) orientação incorreta do segmento 5(: ) posicionamento do segmento O I 6(*) figura incompleta
GI/3 e GI/4 = PPSD
-)100(
50 figura
li
+
I 100
liE
100
101
Gráficos de 29 a 32- Erros no traçado da figura
G2/1 -total de erros G2/1 - Erros na figura
6 06 l::
"' .g 4follllllllliiiBIII ______ _. m
~JJU . ., g, .!l2 m o
11- +++
V L,c...,v,_--------1 O L---~~~--~--~~ O L---------~--------~ o 20 40 60 80 100 o 100
G2/2 -t~a~~e erros
50 figura
G2/2 -Err()s na figura
6/----,
figura
Categoria dos erros
06 !i; o "4 m ·c o "' ~2 o
I
o o
..
----
HHHUIIIRIIIU
50 figura
l(x) ausência de ângulos na demarcação do segmento 2(-.) segmentos não definidos 3( +) substituição de linhas oblíquas por horizontais/verticais 4( o) Orientação incorreta do segmento 5(: ) Posicionamento do segmento O 1 6(*) figurn incompleta
G2/l e G2/2 = PPDM
liiEl!E liE
··---
100
102
Gráficos de 33 a 36- Erros no traçado da figura
6
o o
6
~ ai4
"' "C
g2
o o
G2/3 -total de erros G2/3 - Erros na figura
20
20
06 l':
"' liE liE
~ 4 F-----------+ '" ·c:
A g, .;2 o X
O L---------~------~ 40 60 80 100 o
G2/4 -t~PJl~e erros
50 figura
G2/4 - Erros na figura
40 60 80 100 figura
Categoria dos erros l(x) ausência de ângulos na demarcação do segmento 2(-.) segmentos não definidos
-li- -liHlll+ +
50 figura
3(+) substituição de linhas oblíquas por horizontais/verticais 4( o) orientação incorreta do segmento 5(: ) posicionamento do segmento O 1 6(*) figura incompleta
G2/3 e G2/4 = PPDM
100
100
103
Gráficos de 37 a 40- Erros no traçado da figura
6 :g ãi4 ., "' g 2
6 :g ài4 ., "' g2
o o
G3/1 -total de erros G3/1 -Erros na figura
e6 ~ ., .g4 õlO 000 <D ., ·c: o C> .'!!2 ., + o X
o 20 40 60 80 100 o 50
G3/2 -t~PJI~e erros ~a G3/2 - E na figura
e 6 ~ ., o "04 ., ·c: o C>
~2 o
o 20 40 60 80 100 o 50
figura figura
Categoria dos erros l(x) ausência de ângulos na demarcação do segmento 2(-.) segmentos não definidos 3(+) substitnição de linhas oblíquas por horizontais/verticais 4( o) orientação incorreta do segmento 5(: ) posicionamento do segmento O I 6(*) figura incompleta
G3!1 e G3/l ; Ps!DM
+
100
100
104
Gráficos de 41 a 44 -Erros no traçado da figura
6
:g ~4 ., "' ~b
6
:g ~4 ., "' g2
o o
G3/3 -total de erros G3/3 - Erros na figura
20
20
26 ~ ., o "04 OCD .. ·c -IH-H!-o
f2 CJ
XX
o 40 60 80 100 o 50
G3/4 -t~Pa~~e erros ~ra G3/4- E na figura
06 1:: ., .g4 <XX> o o ..
-iH-11+-·c o
f2 CJ :xa.< X
o 40 60 80 100 o 50
figura figura
Categoria dos erros l(x) ausência de ângulos na demarcação do segmento 2(-.) segmentos não definidos 3(+) substitnição de linhas obliqnas por horizontais/verticais 4( o) orientação incorreta do segmento 5(: ) Posicionamento do segmento O 1 6(*) figora incompleta
G3/3 e G3/3 = Ps/SD
100
o
100
105
A freqüência relativa dos erros está ilustrada no gráfico 45. Os resultados mostraram
diferenças importantes entre os grupos, sendo que os grupos podem ser considerados
diferentes em relação à média de seus valores ( p = 4.4315e- 004 para a= 0.05 ).
As Ps/DM apresentaram poucos e esporádicos erros no traçado da figura, sendo que
a pessoa G3/2 não apresentou nem ao menos um dos erros observados; em contrapartida, as
demais pessoas apresentaram um alto índice de erro, chegando mesmo a I 00% em algum
dos critérios observados (pessoa Gl/1 item 04, pessoa gl/3, itens 1, pessoa 2/2 itens 1 e 4).
A maior incidência de erros foi no item 04, relativo à orientação incorreta do
segmento e foi observada em todos os participantes do estudo. Entre as PPSD e PPDM
houve alto índice deste erro (entre 95% e 100%, exceto na pessoa Gl/2, com 32,94%) mas
nas Ps/DM este erro apareceu esporadicamente (de O a 7%).
Outros dois erros freqüentes foram encontrados no item O I (ausência de ângulos na
demarcação do segmento) e 03 (substituição de linhas oblíquas por linhas horizontais ou
verticais).
Comparando-se ambos os grupos de deficiência mental, as diferenças não foram
estatísticamente significantes (p = 03696 para a= 0.05), embora as PPDM tenham tido
maiores índices de erros em todos os ítens, menos no primeiro (ausência de ângulos na
demarcação do segmento).
106
Gráfico 45 -Freqüência relativa dos erros encontrados nas figuras da tarefa O l
o ausência de ângulos na demarcação dos seg:nentos
o substituição de linhas oblíquas por horizontais ou verticais
11!1 posicionamento incorreto ou ausência do segmento1
1!11 seg:nentos não definidos
o olientação incorreta dos seg:nentos
D fi~ra if1COI'lllleta
Gl/1 a Gl/4 = PPSD; G2/l a G2/4 = PPDM; G3/l a G3/3 = Ps/DM
107
Em relação à diferença entre a escala utilizada para o traçado da figura e a proposta
no modelo apresentado, os grupos de PPSD e PPDM obtiveram maiores valores do que as
Ps/DM, com maiores flutuações dos mesmos, não havendo diferença significativa entre os
grupos portadores de deficiência mental, como pode ser verificado na figura 21.
+ 7
6
~5 ~ w .g4 o t: + '" 3 +
! $
2 $ _j_
: -+-
o
2 3 Group Number
Figura 21: Box and whisker display - Erro de escala - tarefa O I
108
5.2 Tarefa 02
Os gráficos de 46 a 57 mostram a consistência da execução das figuras, tanto para a
tarefa 01 (em vermelho) quanto para a tarefa 02 (em azul), considerando-se apenas as 05
últimas tentativas na primeira tarefa.
Houve variedade na maneira de traçar o desenho, exercida por cada pessoa. Uma
observação das duas tarefas de cada pessoa mostra que as Ps!DM tiveram padrão de
reprodução da figura mais próximo entre si do que as demais, sendo que a pessoa G3/2 foi a
que obteve maior semelhança entre as duas curvas, obtendo também menores flutuações em
tomo do desvio padrão em cada ponto traçado, exibindo assim grande consistência na
maneira como reproduziu tanto as figuras na tarefa 01, quanto na 02.
De outro lado observa-se que as pessoas Gl/3 e G2/3 foram as mais discrepantes,
tanto por exibirem grande flutuação em tomo dos valores de desvio padrão, quanto pela
diferença no padrão apresentado nas duas tarefas.
Convém observar ainda que a pessoa Glll difere em seu comportamento em relação
ao restante das pessoas de seu grupo, sendo mais estável (menor flutuação do desvio
padrão) e mantendo maior semelhança nas duas tarefas. Esta é a única pessoa no grupo de
PPSD e PPDM que é alfabetizada.
109
Gráficos de 46 a 57- Status Dinâmico do Sistema-Tarefa O 1 e 02
Gl/1 Gl/2 Gli3 Gl/4
1 1 1 1
I ~O O. o O. r/1
o o~----~
500 500 1000 o 500 1000 o 500 1000
ponto
G2/1 G2/2 G2/3 G2/4
1 1
1 O. o O.
'-'
~ r/1
o 500 1000 o 500 1000 o 500 500 1000
ponto
G3/1 G3/2 G3/3 G3/4
1 1 1 1
a 8 '-' o E-<
O. O. O. O. r/1
ponto
110
A comparação do status dinâmico entre os diferentes grupos na tarefa 02, pode ser
melhor observada na figura 22. Nota-se que o grupo de PPDM foi o mais instável, com
maior dispersão dos valores. Observa-se que o valor do 3° quartil deste grupo é superior,
bem como o intervalo interquartil e a dispersão superior, sendo seus valores discrepantes
também maiores que os encontrados nas PPSD.
A diferença entre as PPSD e as Ps/DM também foi significativa, sendo que as
últimas tiveram pequena dispersão dos dados, com a dispersão superior sendo menor
(0.32mm) que os valores do 3° quartil dos outros grupos (0.39mm e 0.49 mm,
respectivamente), com intervalo interquartil menor que os outros grupos (0. 09mm contra
0.18 mm e 0.32 mm) e ainda com valor mediano (0.17 mm) menor que o valor do 1 o quartil
dos outros grupos (0.2lmm e 0.16 mm).
A figura 23 apresenta uma comparação da dispersão dos dados da última sessão da
tarefa 01 e da tarefa 02. O grupo de PPSD não apresentou diferenças significativas nas
duas tarefas, bem como não o fez o grupo de Ps/SD, mas a diferença entre estes dois grupos
foi significante. Em relação ao grupo de PPDM as duas tarefas diferiram
significativamente, sendo a dispersão dos valores maior na segunda tarefa.
111
E
5
1 u 1.2 u.
~ o
i ·• i .B = o .8 o
g "' • o 0.6
=
$ :;:: -~ o 4
t-., ::; "' o 2
--'- ---L _L o PPSD PPDM Ps/Dm
Figura 22 Box and whisker display- Status Dinâmico do Sistema - tarefa 02
± !.2 1 s
5
1 !} i
É 0.8 1 ~ E = o 0.6 o.
'
~ t -~
é + o 0.4 =
"" . ' ., 0.2 ~ 8 " 1----i "' - -,- ' o - -
PPSD PPSD PPDM PPDM PS/DM PS/DM TAR.l TAR2 TARI TAR2 TAR! TAR2
Figura 23: Box and whisker display -Status Dinâmico do Sistema - tarefa O I e 02
112
Em relação a estratégias de movimento, as PPSD foram mais lentas que as demais,
tanto no percurso total quanto na fase aérea, como pode ser verificado nas figuras 24 e 25,
enquanto as Ps/DM foram as mais rápidas, havendo diferença significativa entre todos os
grupos. O mesmo pode ser verificado no percurso gasto durante a fase aérea.
Observando-se a distância total percorrida, enquanto as PPSD são as que atingiram
maiores percursos durante a execução das tarefas, as PPDM apresentaram percursos
menores, inclusive em relação a Ps/DM, como pode ser visto na figura 27, com diferença
significativa entre os grupos, porém realizaram figuras com maior perimetro das figuras e
escala, como pode ser observado nas figuras 28 e 29.
~
~
o 80
B "-s 70
Q ~
60 ;... g 50
40 _j_ ~
30 PPSD PPDM Ps/D M
Figura 24 Box and w hisker display- Tempo TotalTarefa02
45
8 ~ 40 00
35 o "- 30
s 25
8 ~ 20 e< 1 5
1 o _i_ 5
PPSD PPD M P s/D M
Figura 25 Box and whisker dísplay- Tempo Fase a é r e a Ta r e f a O 2
113
20()( -=. 800
!8tl( r. 700
16tl( H f--
600
s 14úC Ê -,- T ' = ' ' 5 "'500
E '
" : " l2úC ' '()
º '5 '
8 =
'ª ' éS l
º " " C'i400 ' 5 '
10úC -'-
' ' ' -'--'- 300
800 -'-
PPSD PPDM PsrDM PPSD PPDM Ps;DM
Figura 26: Box and whisker display~ Di!rtância Figura 27: Box and whisker display Distância Total- Tarefa 02 Fase Aérea- Tarefa 02
20 --.-200 ' ' 18 ' 180 l- .,...
T 16 ' '
E ' ' --.-' ' 160 14 ' ' ' ' '
~ 140 d 12 -- " s ~HJ s ~
·~ 120 8
'ª g á ' ' 100 -- 6 ' ' ' ' -"- ' ' ' 4 ' I 80 ~ -"-
' PPSD PPDM Ps/DM PPSD PPDM Ps/DM
Figura 28: Box and whisker display Perimetro da Figura 29: Box and whisker display Escala-Figura- Tarefa 02 Tarefa 02
114
Como é possível verificar no gráfico 58, as PPSD e as PPDM realizaram traçados com
grande incidência de erros, sendo que na maioria das vezes, quando um determinado tipo de
erro foi encontrado numa figura de determinada pessoa, ele persistiu em todas as tentativas.
Foram encontrados mais erros nas figuras das PPDM. O grupo de Ps/DM não apresentou
nenhum dos erros avaliados. A pessoa G 1/3 desenhou todas as figuras invertidas, em
espelho, enquanto a Gl/4 o fez de baixo para cima (cabeça para baixo).
Os segmentos presentes nas figuras incompletas estavam corretamente
posicionados, embora nem sempre tenham seguido a orientação correta; quanto a
disposição dos desenhos na folha de resposta, correspondeu à proposta na tarefa 01.
Gràfico 58- Freqüência relativa dos erros encontrados na tarefa 02.
100
,--~~~--~--~------~----------=---------------~· --------------·-, 1
:: ausência de ângulos na demarcaçao dos segmentos &segmentos não definidos
I
Clsubsíituição de linhas ob!iquas por horizontais ou verticais C orientação incorreta dos segmentos
lilillposlcionamento incorreto ou ausência do segmento1 l:lfigura incompleta -------------·
Gl/2 a Gl/4 = PPSD; G2/1 a GZ/4 = PPDM; G3/l a G3/4 = Ps/DM
115
A análise da qualidade de execução do movimento incluiu mais um item: o número
de figuras desenhadas. A tarefa a ser executada continha OS figuras, mas foram encontradas
alterações no número de figuras traçado, conforme mostra a tabela O 1.
Tabela 01: Número de figuras traçadas na tarefa 02 Pessoa No. de figuras Pessoa No. de figuras
Gl/1 07 G2/2 04
Gl/3 04 G2/3 06
G211 06 Demais os
Uma comparação em relação ao erro de escala observado nos diferentes grupos
pode ser vista na figura 30. Nota-se que o grupo de PPDM apresentou os erros maiores e
também a maior flutuação dos dados, com intervalo interquartil de 0.377 e o menor valor
mediano (0.1S9).
O grupo de Ps/DM foi o que apresentou a menor dispersão dos dados, com
intervalo interquartil de 0.21S e valor mediano de 0.230. O grupo de PPSD com intervalo
interquartil de 0.3S1 apresentou um erro médio próximo ao do grupo de Ps/DM (023.75 e
0.2334 respectivamente), ou seja, embora em média o grupo de PPSD e Ps/DM tenham
obtido valores semelhantes, o primeiro foi mais instável do que o outro, apresentando
maiores discrepâncias.
116
0.7 -.-!
!So.6 ; ;
" l u --,-"' ; I IUQ5 ' "
; ' -r ' .,
' o OA
8 ... ...
f,IJ0.3
0.2
0.1 ;
' _L_ _j_
o _L_
PPSD PPDM Ps/DM
Figura 30- Box and whisker display -Erro de escala- tarefa 02
117
5.3 Tarefa 03
Na tarefa três (reproduzir a figura modelo em maiores proporções), foi realizada
apenas uma tentativa de execução por cada pessoa.
O padrão do movimento (desenvolvimento ao redor da elipse central de inércia)
apresentado foi comparado com o padrão exibido na última tentativa realizada na tarefa O I
e é mostrado nos gráficos 59 a 70, onde as curvas azuis representam a evolução em tomo
da elipse central de inércia na tarefa O 1 e as curvas vermelhas correspondem à tarefa 03.
Observa-se que tanto as PPSD quanto as PPDM apresentaram diferentes maneiras
de realizar o traçado em ambas as tarefas, enquanto que as Ps/DM, exceção feita a pessoa
G3/3, mostraram certa similaridade no padrão realizado nas duas tarefas.
A comparação entre os grupos, em ambas as tarefas, é feita através da variabilidade
dos dados referentes ao padrão de movimento e é mostrada na figura 31. Observa-se que as
PPSD mostraram diferenças significativas nas duas tarefas, com maior intervalo interquartil
e menores valores na tarefa 01. As PPDM tiveram muitos valores discrepantes na tarefa
03, porém menor intervalo interquartil.
As Ps/DM obtiveram valores medianos e intervalos interquartis próximos nas duas
tarefas, porém apresentaram valores discrepantes abaixo da dispersão inferior, na tarefa 03,
enquanto que na tarefa O 1 houve menos valores discrepantes, mas eles ocorreram tanto
acima da dispersão superior, quanto abaixo da inferior.
118
Gráficos de 59 a 70- Padrão de movimento Tarefa 01 (última tentativa) e tarefa 03.
Gl/1 Gl/2 Gl/3 Gl/4
2.---------, 2,--------.,
/""'. :""'\ f\ _} ·<ó s o-, 'WJ~ J \ ' :::!S ~ ()~
(âCJ v \ -"' "'""" ·-·-O"il
-2 -2 -2 -2
o 500 1000 o 500 1000 o 500 1000 o 500 1000
G2/l G2/2 G2/3 G2/4
2 2 2 2
o
-2'----~--" -2.~..-_~---" -2'--~----" -2'----~--"
o 500 1000 o 500 1000 o 500 1000 o 500 1000
2 r--G::c3:,:.;/2=-----, 2 .----G.:::.·:;:.3 /""-3 -..., 2 G3/4
-2L--~--" -2'---~---" -2,___~---" -2'----~--"
o 500 1000 o 500 1000 o 500 1000 o 500 1000
119
- -r- 1 e -,- f !; o .8 . o o .6 T ~ 0.4
8 8 '
B o
8 l o
8 o o .2 EJ o . o . • I
-0.2 ! ;
~ -0.4
" ! l l T ~ -0.6 I j_ t -0.8 -· +
·I
PPSD PPSD PPDM PPDM PSiDM PS/DM T AR.l TAR3 TARl TAR3 TARl TAR3
Figura 31 Box andwhisker display-status dinâmico- Tarefa 01 e 03
O tempo gasto pelas PPSD para executar a tarefa 03 foi menor do que as demais,
com diferenças significativas, sendo o valor da dispersão superior menor que o valor
mediano dos demais grupos. A diferença entre as PPDM e as Ps/DM foram menos
acentuadas, sendo que as PPDM mostraram maior variabiliade nos dados, com valores
medianos e intervalo interquartil maior., como pode ser verificado na figura 32.
As distâncias percorridas foram significativamente menores no grupo de PPSD,
sendo o valor mediano inferior ao valor da dispersão inferior das Ps/DM e similar ao das
PPDM. Entre as PPDM e as Ps/DM os valores da medianos foram similares, porém as
PPDM tiveram maiores intervalos interquartis, sendo que a média destes dois grupos não
diferiu significativamente, conforme pode ser visto na figura 33.
Em relação à escala utilizada para a ampliação da figura, requerida na tarefa 03, as
PPSD traçaram figuras significativamente menores, em contraposição às escalas utilizadas
pelos demais grupos, como pode ser notado na figura 34. O grupo de PPDM apresentou os
maiores valores e grande variabilidade nos dados, com 1' quartil menor que a dispersão
inferior apresentada pelo grupo de Ps/DM.
120
maiores valores e grande variabilidade nos dados, com 1' quartil menor que a dispersão
inferior apresentada pelo grupo de Ps/DM.
26 -.-!
24
22
~ 20 ~
o 18 o. E "
16 E-<
14 ~
12 8 lO
8
6 _L _L
PPSD PPDM Ps/DM
Figura 32 Box and whisker display- Tempo Total- Tarefa 03
950
900 ;;; - 850 o E-< .;;! 800 ()
= 750 '"' -.~ o 700
650
600
550
500
PPDM PPDM Ps/DM
Figura 33 Box and whisker display- Distância Total- Tarefa 03
121
90
H 85
E 80
I \ " I I 75 ~
~
•
" 70 LJ --u ~
;.;..:; 65
B 60 I
55
50
45 PPSD PPDM Ps/DM
Figura 34 Box and whisker display- Escala utilizada na tarefa 03
122
Em relação à qualidade de execução do movimento, alguns erros foram
encontrados. No grupo de PPSD, todas as pessoas orientaram pelo menos um dos
segmentos da figura em direção incorreta, e a maioria delas não demarcou os segmentos
com ângulos.
Entre as PPDM, estes erros também foram encontrados na maioria das pessoas.
Além disto, foram encontradas substituições de linhas oblíquas por horizontais ou verticai,
bem como figuras incompletas, totalizando um maior número de erros nas figuras. Não foi
encontrado nenhum erro nas figuras desenhadas pelas Ps/DM. O gràfico 71 permite a
visualização dos erros observados.
Gráfico 71 - Erros encontrados na tarefa 03
o s.J:SitU<;ã:J ce lims d::liq.a; !Xf h:rizl:rtas ru vaii ais
11 p::Ed<TEI1'1rto ircaráo ru aaroa <b~1
11 sa;jTEI1cs rã:> d3i rid:s
o aierlaçã:l iro:m:ta d:s S3;1TEI1cs
Qiig.rn iro::llllf:!a
123
Na ampliação da figura, o erro de escala cometido foi maior no grupo de PPSD. Os
três grupos diferiram significativamente. O grupo de PPDM apresentou grande
variabilidade dos dados, sendo que obteve o menor valor mediano (0.23), média próxima ao
erro médio do grupo de Ps/DM (0.29 e 0.28 respectivamente), com os maiores valores no
intervalo interquartil e de dispersão superior, enquanto que a dispersão inferior foi a menor
de todos os grupos, conforme ilustrado na figura 35.
0.55
8 ~
! 0.5 !
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' ! ..5! 0.4 ___j_
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t:.:QQ.35
8 0.3
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0.2 I \ _j_ ~
0.15 PPSD PPDM Ps/DM
Figura 35 Box and whisker display- Erro de Escala -tarefa 03
124
6 Discussão
125
A estabilidade do comportamento motor de PPSD durante a aquisição do controle
de movimento foi observada dentro de um modelo de estudo que procurou aproximar
conceitos das abordagens cognitivista e sistêmica, considerando-se que o movimento
possui propriedades de um sistema aberto, que pode ser descrito por leis fisicas e
matemáticas e sofre restrições cerebrais inferidas através da observação de variáveis
cinemáticas.
A evolução do comportamento foi observada através do desenvolvimento em tomo
da elipse central de inércia, verificando-se as estratégias e os erros no movimento realizado,
discutindo os efeitos da prática.
6.1 Estabilidade do comportamento motor
Têm sido sugerido que PPSD apresentam comportamento motor instável. Elas
foram consideradas inconsistentes nas curvas de torque- DA VIS, KELSO (1982), no
tipo de preensão utilizada -THOMBS, SUGDEN (1991), nos pico de velocidade e
aceleração -HODGES et ai. (1995) e na trajetória do movimento - CHARLTON et a!.
(1996).
Os resultados obtidos neste estudo, referentes à observação do comportamento
apresentado nas diferentes sessões ao longo do tempo, confirmam a inconsistência destas
pessoas, mostrando que o padrão de movimento utilizado, representado pelo
desenvolvimento em tomo da elipse central de inércia da figura traçada, variou bastante,
126
contrastando com os poucos padrões encontrados por ULRICH, ULRICH (1993), no
desenvolvimento do andar em bebês portadores desta síndrome.
As PPDM apresentaram significativa inconsistência no traçado, observada pela
dispersão dos pontos durante o desenvolvimento em torno da elipse central de inércia,
em cada tentativa, enquanto que as Ps!DM mostraram-se mais consistentes, embora em
alguns casos também tenham apresentado variações, como pode ser visto nas figuras 03 a
14.
A comparação entre os grupos é melhor exemplificada na figura 15, que mostra a
dispersão do desvio padrão de cada ponto ao longo da trajetória, considerando-se todas as
tentativas realizadas (status dinâmico). Observa-se que durante a aquisição da habilidade as
PPSD foram significativamente mais instáveis que as demais, com maior variabilidade nos
dados coletados em cada sessão.
A instabilidade das PPSD foi observada também na tarefa 02, referente à
memorização da ação, porém nesta tarefa as PPDM foram mais instáveis que as PPSD. A
figura 23 mostra que a instabilidade da PPSD manteve-se nas tarefa 01 e 02, mas
aumentou para as PPDM, mostrando que, para as últimas, a ausência do estímulo visual
interferiu mais na execução do movimento. Este dado está em concordância com os
achados de HODGES et ai. (1995), segundo os quais as PPSD são mais consistentes na
ausência de jeedback visual que as PPDM, sendo ambas mais inconsistentes que as Ps!DM.
As modificações nas exigências do movimento, requeridas na tarefa 03,
aumentaram a instabilidade observada no grupo de PPSD, mas não o fizeram nos outros
grupos (figura 31 ), o que pode ser interpretado como uma maior sensibilidade destas
pessoas a perturbações, também identificada por ULRICH et al. (1997).
127
Observando-se os gráficos 59 a 70, referentes ao padrão de movimento apresentado
na última execução da tarefa 01 e na tarefa 03, nota-se que cada pessoa possui uma
dinâmica única na produção do movimento, como observaram ULRICH et al. (1997).
Apesar disto, existem diferenças entre as Ps/DM e as demais: elas distanciaram-se menos
da elipse central de inércia e apresentaram padrão de movimento mais próximo nas duas
tarefas (gráficos 59 a 70).
Não foi observada nenhuma tendência de comportamento durante o período de
treinamento, embora, em alguns casos, a dispersão tenha sido menor a partir de uma
determinada sessão.
A inconsistência observada nas PPSD e nas PPDM. pode significar que as mesma<>
estão em uma fase inicial de aprendizagem, como proposto no modelo de não equihbrio
elaborado por CHOSID, TANl (1983), enquanto que as Ps/DM estão numa fase posterior,
com estado mais padronizado e preciso.
Há indícios de que a instabilidade esteja ligada às estratégias utilizadas na
realização da tarefa. Como sugeriu ALMEIDA (1993), diferenças cinemáticas podem estar
ligadas a estratégias de movimento, não sendo necessariamente uma questão de preferência,
como comentou LATASH (1993), mas uma característica advinda da própria restrição
causada pela deficiência mental
Durante a aquisição da habilidade (tarefa 01) os dados mostraram não apenas
diferenças significativas no tempo e distância percorridos, entre as pessoas portadoras de
deficiência mental de ambos os grupos e as Ps/DM (ver figura 18 e 19), mas um trajeto
indireto entre uma figura e outra, o que pode ser observado tanto acompanhando o trajeto
128
realizado por elas (veja por exemplo os gráficos 7 e 8 ) quanto confrontando-se a distância
percorrida com a escala utilizada (figura 17 c 20) .
Observa-se que, embora as PPSD e as PPDM tenham percorrido maiores distâncias
para realizar a :figura, elas utilizaram escalas significativamente menores em relação às
utilizadas pelas Ps!DM, produzindo conseqüentemente, figuras menores.
Percebe-se que a distância percorrida a mais foi devida a mudanças no trajeto tanto
na figura, quanto entre uma figura e outra, produzindo movimentos extras que podem ser
uma estratégia para compensar as dificuldades espaciais na realização de uma ação motora,
como sugeriu LURIA(l989), numa tentativa de compensar os defeitos na organização
espacial do movimento, cau.'lados por pos..'>íveis lesões no lobo frontal.
Estes movimentos extras podem também ser considerados como sincinesias
(movimentos desnecessários realizados concomitantemente a outros movimentos durante
uma ação motora) que indicam, de acordo com LEFEVRE (1989a), atraso no
desenvolvimento. AJURIAGUERRA (s/d) sugeriu que as sincinesias apareceriam em
todas as crianças, mas com o desenvolvimento iriam desaparecendo, sendo pouco
encontradas na faixa etária de 09 e lO anos e consideradas como indicativo de atraso
motor a partir dos 12 anos de idade. Tendo em vista que o grupo estudado estava acima de
09 anos de idade, e que tais sincinesias não foram esporádicas mas constantes, elas podem
indicar aqui, uma defusagem no comportamento motor de ambos os grupos portadores de
deficiência mental.
A estratégia de realizar trajetos indiretos e desenhos em menor escala, foi mantida
pelas PPSD na tarefu 02, mas modificada pelas PPDM, as quais utiliza.-am-se de escala
menores mas percorreram também menores distâncias para realizar o movimento. No
129
entanto, o uso de trajetórias indiretas continuou a ser adotado, não nas fases aéreas (entre
um desenho e outro) mas no desenho de cada figura (o percurso de cada figura foi
significativamente maior que os demais grupos, conforme figura 28).
Na tarefa 03, foi realizado apenas um desenho, portanto não havendo fase aérea
entre as figuras. As PPSD continuaram a desenhar figuras menores (figura 34), aumentando
o erro de escala (figura 35) e, em conseqüência disto, diminuindo o tempo e a distância
percorridos (figuras 32 e 33). Isto pode ser explicado como uma dificuldade em adequar-se
às novas exigências da tarefa, dado a tendência a manter o estado dinâmico original do
sistema, como proposto por ULRICH et ai. (1997).
Em relação ao tempo de movimento, os dados coletados na tarefa O I e 02, são
semelhantes aos relatados por HODGES et al. (1995) e CHARLTON et a!. (1996), nos
quais as PPSD demonstraram performance motora mais lenta. Apesar destas pessoas
realizarem a tarefa 03 em menor tempo, elas não foram mais rápidas, pois esta diferença de
tempo deu-se porque o trajeto realizado foi também muito menor (figura 33).
A utilização de estratégias diferentes, como executar a ação mais lentamente ou
utilizar-se de escalas menores com trajetos indiretos pode estar ligada à tentativa de
compensar déficts de desenvolvimento motor que dificultam a realização da tarefa. Isto
pode ser visto também através da análise da qualidade da tarefa, onde a presença de
determinados erros sugere atraso no desenvolvimento, como proposto por BEERY (1989).
As PPSD e as PPDM que usaram tais estratégias foram as que tiveram erros freqüentes e
variados em tipo e quantidade, enquanto que as PsiDM tiveram baixo índice de erros.
Observando-se a evolução dos erros das figuras na tarefa O 1, ilustradas nos gráficos
21 a 28, correspondentes às PPSD, observa-se erros que persistiram durante todo o
130
treinamento e erros que diminuíram ou mesmo desapareceram com a prática. Situação
semelhante encontra-se nos gráficos de 29 a 36, relativos a PPDM.
A dificuldade com a orientação do segmento foi encontrada em todos os casos, tanto
no grupo de PPSD quanto nas PPDM, sendo que em sete dos oito casos, esta dificuldade
persistiu até o final e foi também encontrada tanto na tarefa dois, referente à memorização,
quanto na tarefa três, evidenciando, de acordo com BEERY (1989), atrasos no nível de
desenvolvimento motor relativos à orientação espacial.
Estas dificuldades puderam ser observadas também pela presença de erros em
relação à demarcação do segmento com ângulos, o que estaria relacionado com a
inabilidade de parar e mudar de direção. Este erro foi bastante freqüente nos casos de
deficiência mental, sendo encontrado na maioria dos desenhos das pessoas G 112, G 113,
G2/2 e também nas pessoas G1/4, G211 e G2/4 entre 18 e 31% das figuras traçadas na
tarefa OI. Além disto, foi encontrado também em todas as figuras da tarefa dois da pessoa
G1/2 e em seis das oito pessoas com deficiência mental, na tarefa 03.
É possível ainda relacionar os erros encontrados com a dificuldade de coordenação
de traçados horizontais e verticais evidenciada pela substituição de linhas oblíquas por
linhas verticais ou horizontais. A pessoa G 111 fez este tipo de substituição em todas as suas
figuras, de todas as tarefas; a pessoa G2/3 o fez em 97.7% das figuras na tarefa O I e em
todas as figuras das demais tarefas. A pessoa G2/2 o fez na maioria das figuras da tarefa O 1,
até a 71 a tentativa e depois este tipo de erro desapareceu.
Uma análise detalhada sobre a incidência de erros relacionadas ao segmento O 1 da
figura proposta indica diferenças perceptivas entre ambos os grupos portadores de
deficiência mental e as Ps/DM. Este segmento era proporcionalmente bem menor que os
131
demais componentes da figura e nele foram encontrados as maiores ineidências de erro,
tanto por sua ausência, quanto por sua orientação incorreta Mas entre as Ps!DM foi
encontrada certa "valorização" no traçado deste segmento, evidenciada pela sobreposição
de seu traçado em diferentes figuras das pessoas 03/1, 03/3 e 03/4.
Os erros observados em ambos os grupos de deficiência mental, em contraposição à
quase ausência de erros entre as Ps!DM, sugere que tanto as PPSD quanto as PPDM
possuem diferenças no desenvolvimento motor, relacionadas à orientação espacial, as quais
poderiam ser atribuídas a futores ligados à deficiência mental, não exclusivo da Sindrome
de Down, já que em ambos os grupos estas dificuldades foram observadas sem diferenças
significativas entre eles. LURTA (1981) argumentou que a ba<;e para a construção do
movimento voluntário ou da ação consciente é o sistema do lobo frontal, com o auxílio da
fala interior c sob in...+Juência de impulsos afcrcntcs que o atingem a partir de outras partes
do córtex. Lesões nesta área não levam à desintegração do sistema de atividades dirigidas a
metas, mas ocasiona distúrbios importantes da estrutura de movimento no espaço, o que
explica a diferença encontrada no comportamento motor.
HENDERSON (1986) sugeriu que as PPSD possuem padrão de progressão de
desenvolvimento motor similar, com estágios mais longos se comparadas às Ps/D}.f. Porém
considerando-se que os erros observados aqui têm sido relacionados a níveis de
desenvolvimento motor com fàixas etárias específicas previstas até nove anos, como
mostram os estudos de KOPPTIZ (1989) e BEERY (1989), dentre outros, e que as pessoas
estudadas aqui estão acima desta faixa etária, tais dificuldades podem estar evidenciando
não um atraso no desenvolvimento motor, mas diferenças no desenvolvimento, como
proposto por CONNOLLY (1991) e MANOEL (l998a).
132
A diferença no nível de desenvolvimento motor observada através dos erros
encontrados relaciona-se também com a consistência na execução do movimento e com o
status dinâmico, sendo encontrados mais erros quando o comportamento motor é mais
instável. As PPSD e as PPDM exibiram comportamento instável ao mesmo tempo que
tiveram alto índice de erros, enquanto que as Ps/DM foram estáveis e apresentaram baixo
índice de erro.
Isto pode ser percebido, por exemplo, confrontando-se os resultados da pessoa
Gl/3 (PPSD) e da G3/2 (Ps/DM). A pessoa Gl//3 foi a mais instável na tarefa 01 (vide
gráficos de 09 a 20), apresentou alta incidência de erros (gráficos 25, 26 e 45) e grande
instabilidade (figura OS) e em contrapartida a pessoa G3/2 foi a mais estável, não foram
detectados erros em nenhum de seus desenhos (gráficos 39 e 40), sendo sua estabilidade
mantida em todo o período de treino (figura 12).
6.2 Efeitos da prática
De maneira geral a prática da tarefa não foi suficiente para provocar mudanças no
status dinâmico do comportamento. Algumas mudanças entretanto, foram signíficativas. A
pessoa G 1/3 a partir da 7' sessão, diminuiu significativamente a dispersão dos dados, ao
mesmo tempo que passou a exibir figuras completas. Mudança inversa aconteceu na
pessoa G3/3 que após a 15' sessão aumentou a dispersão dos dados. Observando-se o
traçado realizado por esta pessoa, percebe-se que, a partir desta sessão, passou a haver uma
133
super valorização de um dos segmentos da figura, com sobreposição do mesmo, numa
tentativa de correção do movimento.
Os erros não diminuíram sistematicamente, sendo que alguns persistiram durante
todo o treinamento e reapareceram, tanto na tarefa dois, quanto na três. Algumas pessoas,
G2/1, G2/2 e G2/4, deixaram de apresentar um dos tipos de erro após determinadas
tentativas, mas o erro sanado não foi o mesmo, nem a quantidade de tentativas.
Um aspecto da qualidade das figuras foi influenciado pela prática: o número de
segmentos que a compunha As pessoas realizaram figuras incompletas já nas primeiras
tentativas, nas quais havia mais de um segmento ausente; depois, com a prática, o número
de segmentos ausentes diminuiu até ser evidenciado apenas a ausência do segmento 01, o
qual era bem menor que os outros.
Nos casos onde as figuras estavam incompletas na tarefa 02, pode-se observar que
segmentos da figura modelo estavam presentes e corretamente posicionados, sendo que
nestas mesmas pessoas, nas tentativas iniciais de traçar a figura, durante a tarefa 01, a
presença destes segmentos era indefinida ou não posicionada corretamente em relação aos
outros segmentos, o que pode apontar para a formação de uma macro-estrutura, como
proposto por TANI (1989) e MANOEL (1998 b), relativa à padronização espacial.
Há pistas para isto também na tarefa 03, quando foi solicitado que se reproduzisse a
mesma figura, porém em maiores proporções que o modelo apresentado, aumentando assim
a complexidade cognitiva da tarefa e modificando a musculatura exigida para a realização
da mesma; apesar disto, as pessoas conseguiram realizá-la com todos os segmentos,
exceto a pessoa G2/2.
134
Isto pode significar a formação de um esquema para reconhecer e recordar,
conforme SCIIAPIRO, SCIIMIDT (1982), ou que os movimentos experimentados
anteriormente foram reorganizados para a nova situação, ou seja, que uma macro
estrutura adquirida na tarefa 01 foi utilizada na tarefa 03, como propuseram
lv1ANOEL(I998b) e TANI (1998). Estes últimos consideram que a estabilidade funcional
se dá através da padronização espacial e temporal do movimento.
Uma análise da evolução das figuras, evidencia a busca pela padronização espacial.
Observa-se uma tendência na evolução do traçado. No inicio a figura era esboçada com
ausência de segmentos, depois estes eram representados imprecisamente, então eram
colocados corretamente em relação aos outros segmentos e, finalmente, demarcados
precisamente.
No entanto, os casos de figuras incompletas só ocorreram entre as pessoas
portadoras de deficiência mental, as quais demostraram dificuldade de orientação espacial,
sendo possível que esta tendência estivesse ligada a esta alteração.
A alta incidência de erros entre as pessoas portadoras de deficiência mení.al, em
confronto com a ausência de erros entre as pessoas sem esta característica, pode sugerir que
para as primeiras, a tarefu foi muito complexa, tanto por falta de pré-requisitos (aspectos
motores ainda não desenvolvidos) quanto por dificuldades no planejamento motor
relacionadas à coordenação dos traçados.
PORTIER et al. (1990) utilizando o conceito de programa motor, referente a
unidades de movimento que podem ser mudadas em função da prática, estudaram a
influência da fàmiliaridade ou não dos segmentos na aprendizagem de grafemas e
concluíram que a prática e fumiliaridade causam mudanças na programação que permitem
135
que a preparação de segmentos futuros ocorram simuhaneamente à execução do segmento
corrente.
Isto pode explicar em parte, a fucilidade demonstrada por Ps/DM para o traçado da
figura, já que os componentes da figura modelo são familiares aos participantes do estudo e
a dificuldade maior é a coordenação de cada traçado, o que exige algumas associações.
Nos grupos portadores de deficiência, apesar dos segmentos serem familiares a prática não
foi suficiente para que os erros diminuíssem significativamente. MOSS, HOGG (1987)
hipotetizaram que o amnento na proficiência da performance está associado ao
desenvolvimento de padrões estáveis integrados e que as PPSD têm habilidade reduzida de
fuzer associações positivas, o que explicaria a dificuldade demonstrada na reprodução da.<>
figuras.
É importante ressaltar aqui, que não houve intervenção pedagógica no sentido de
facilitar a execução ou aprendizagem da tarefa Tal fato aliado aos resultados acima
expostos mostram que a mera prática de um determinado padrão motor, pode não
conduzir à mudanças desejáveis no comportamento.
Os dados coletados mostraram que o comportamento motor das pessoas portadoras
de deficiência mental é diferente das que não possuem esta característica, tanto na
consistência na reprodução do padrão de movimento, quanto no uso de estratégias e no
desenvolvimento motor exibido. Não se trata apenas de um atraso no desenvolvimento,
mas de um comportamento diversificado. Longe de ser um mero jogo de palavras, este
detalhe traz conseqüências sérias à prática motora a ser oferecida para pessoas portadoras
de deficiência mental.
136
O desconhecimento de características do desenvolvimento destas pessoas pode levar
a intervenções com expectativas erradas esperando-se que elas apresentem determinados
desempenhos, ou utilizem determinadas estratégias não compativeis com a sua condição
motora ou mental e conduzir a frustrações. Infelizmente, muitas vezes estas pessoas são
tratadas como se pertencessem a faixas etárias menores e não como pessoas com
características diferentes que, embora apresentem dificuldades motoras e cognitivas,
possuem experiência de vida acumulada durante os anos vividos e possuem prognósticos de
vida diferenciados, com diferentes necessidades.
6.3 Modelo de estudo
Um dos problemas para a análise do comportamento motor de pessoas portadoras de
deficiência é a falta ou inadequação de métodos que possibilitem a avaliação desejada,
conforme alertou BAUMGARTNER (1988). Esta necessidade é sentida tanto na atuação
direta com estas pessoas, em procedimentos clínicos e educacionais, quanto na realização
de estudos para elucidar aspectos motores, embora exista uma grande distância entre os
achados científicos e a vida prática.
Estas pessoas possuem características que limitam a eficácia de alguns
procedimentos de medida, sendo necessário que o modelo de estudo possa propor
maneiras de avaliar que sejam adequadas às peculiaridades destas pessoas. A proposta de
análise aqui adotada preocupou-se com a caracterização de diferentes grupos de pessoas,
tendo como suporte teórico, conceitos advindos da aproximação de abordagens de estudo
137
em comportamento motor ao mesmo tempo que possibilitou a utilização de tarefus
vivenciadas no cotidiano das pessoas observadas.
O modelo utilizado foi adequado para responder às questões de estudo propostas,
possibilitando análises objetivas sobre o comportamento de todos os grupos, bem como
inferência a processos cognitivos ligados à coordenação do movimento.
O sistema de registro permitiu que a coleta de dados fosse feita em ambiente
familiar às pessoas participantes do estudo, e possibilitou a aquisição de dados de maneira
bem precisa e econômíca, mantendo a tarefu o mais próximo possível da vida diária,
buscando aproximar pesquisa bàsica e pesquisa aplicada, para que as idéias advindas deste
estudo pudessem ser aplicadas no campo da reabilitação, conforme sugeriram PERRY
(1990), NATIV (1993), MANOEL (1994) e CRUTCHFIELD, BARNES (1995).
Em relação à metodologia utilizada, os resultados obtidos aqui mostram a
possibilidade de aplicação na vida diária, pois o instrumento utilizado para avaliação pode
ser útil para a avaliação do comportamento motor em situações do cotidiano, dado que
diferentes movimentos podem ser realizados sobre uma prancheta digital, inclusive os
testes utilizados para anàlise perceptivo-motora, permítindo anàlises de outros aspectos que
não os contemplados naqueles testes.
Os resultados sobre o comportamento motor observado não podem ser
generalizados, pois a amostra era pequena, mas o modelo de estudo utilizado
possibilita que novos estudos sejam realizados em diferentes instituições, o que elevará o
número de pessoas observadas e possibilitará a descrição mais precisa dos aspectos motores
de pessoas portadoras de deficiência. A entrada do pesquisador nas instituições, pode
aproximar a linguagem dos relatos clínicos da linguagem teórica ou experimental dos
138
estudos, possibilitando a tradução entre elas, sugerida por LATASH (1993). Isto possibilita
que o pesquisador esteja em contato mais próximo com situações da vida diária e possa
então reconhecer variáveis que estariam diretamente ligadas ao comportamento analisado.
A opção pela análise de uma tarefa bastante complexa, de um lado aproximou os
achados das tarefas realizadas no cotidiano, mas de outro limitou as variáveis cinemáticas
que poderiam ser observadas, impossibilitando a análise do timing relativo, considerado
como invariante que permite inferências sobre processos cognitivos. O timing relativo para
atingir picos de aceleração, não foi analisado porque estudos preliminares mostraram a
existência de diferentes quantidades de picos de velocidade em um mesmo segmento, nas
diferentes tentativas, sem alguma tendência significativa, provavelmente relacionados à
preparação para mudança de direção ou a desacelerações realizadas para observar o modelo
proposto. O timing relativo para o traçado de cada segmento da figura não pôde ser
observado devido à indefinição do início e término de cada segmento, apresentada por
vários participantes em muitas figuras, especialmente nas primeiras tentativas.
6.4 Resumo do capítulo
A análise dos dados permitiu a discussão da estabilidade do comportamento motor
apresentado pelos diferentes grupos. Discorreu-se sobre a inconstância na reprodução do
padrão de movimento apresentada por ambos os grupos portadores de deficiência mental,
a utilização de estratégias diferenciadas de movimento e a qualidade da tarefa. O efeito do
treinamento foi investigado, tanto para o status dinâmico do sistema quanto para a
139
melhora na qualidade da tarefa. Finalmente, argumentou-se sobre a adequação do modelo
de análise utilizado, bem como sua aplicabilidade em estudos sobre o comportamento
motor.
140
7 Conclusões
141
Não é o intuito do presente estudo fazer generalizações sobre as características aqui
observadas e sim levantar indícios que possam nortear novos estudos que possam contribuir
para um conhecimento mais acurado sobre o comportamento motor das Pessoas Portadoras
de Síndrome de Down (PPSD).
As PPSD aqui estudadas mostraram diferenças em relação às PPDM, as quais nem
sempre foram significativas e variaram com a tarefa, porém comparadas às Ps/DM, as
PPSD mostraram comportamento significativamente diferente em todos os aspectos
analisados, como se segue:
• Na qualidade da tarefa, tanto as PPSD como as PPDM, apresentaram alta incidência de
erros, enquanto nas Ps/DM estes erros foram pouco detectados. Isto pode indicar
diferenças no desenvolvimento motor entre as Ps/DM e as demais, especialmente
relacionadas com a orientação espacial. Entre as PPSD houve menor incidência de erros
que entre as PPDM, mas esta diferença não foi significativa.
• Em relação às estratégias de movimento, as PPSD utilizaram mais tempo para a
realização das tarefas, percorreram maiores distâncias e utilizaram de escalas menores
para traçar a figura. Isto evidenciou uma estratégia de movimento com traçados
indiretos para a realização da figura, possivelmente uma tentativa de diminuir a
dificuldade da realização do movimento. As diferenças entre as PPSD e as PPDM
não foram sempre significativas.
• As PPSD apresentaram maior inconsistência no padrão de reprodução do traçado que
as Ps/DM, em todas as tarefas. Entre as PPSD e as PPDM estas diferenças variaram
com a tarefa, sendo que na ausência de estímulo visual, as PPDM foram mais
inconsistentes, ocorrendo o contrário na presença do estímulo.
142
• As PPSD foram mais sensíveis a alterações na tarefa, aumentando a instabilidade e
mostrando dificuldades na adequação às novas exigências.
Assim, a instabilidade motora observada não pode ser ligada diretamente à
síndrome de Down, dado que as PPDM também a apresentaram, sendo possível que tal
instabilidade esteja ligada a déficts cognitivos acarretados pela deficiência mental.
De qualquer maneira, observa-se que o comportamento da PPSD é diferente das
Ps/DM e não apenas defasado e se caracterizaria pela:
inconsistência no padrão de reprodução do movimento
sensibilidade à modificações nas exigências da tarefa (aumento da
instabilidade) e dificuldades de adequação
utilização de estratégias diferenciadas de movimento
presença de déficts no desenvolvimento motor
A prática da tarefa não foi suficiente para provocar mudanças no status dinâmico
do sistema, nem diminuir a incidência de erros. No entanto, para as PPSD e as PPDM o
treinamento levou à padronização espacial, indicativa de formação de macro-estrutura ou
de esquemas para recordar. Como as Ps/DM apresentaram as figuras completas com os
segmentos corretamente posicionados desde a primeira tentativa, faz-se necessário novos
estudos sobre esta padronização, com faixas etárias menores, para verificar se ela se
diferenciaria ou não dos outros grupos. Estes estudos permitiriam também observar pré
requisitos necessários para a realização de tais tarefas.
A constatação de que a mera prática da tarefa pode não produzir a habilidade
desejada e que as pessoas portadoras de deficiência mental são diferentes e não apenas
atrasadas no desenvolvimento motor , sugere a necessidade de investigação sobre fatores
143
que afetam a aprendizagem, visando superar ou minimizar as limitações impostas pela
deficiência.
O modelo de estudo utilizado mostrou-se adequado para analisar as questões
propostas, possibilitando a utilização de formulações físico-matemáticas que permitiram
analisar a estabilidade do sistema, considerando tanto a consistência na reprodução de um
determinado padrão motor, quanto as estratégias de movimento e a qualidade da tarefa
realizada. A busca por restrições cerebrais que estariam ligadas à coordenação da ação
levou a inferências sobre processos cognitivos, tais como a formação de macro-estrutura ou
esquemas para recordar.
O sistema de registro utilizado permite a aproximação de pesquisa básica e
aplicada, sendo de fácil manuseio e transporte, bastante preciso e econômico, permitindo
ainda a observação de tarefas diferentes das que foram analisadas aqui. Constitui-se assim
em um instrumento útil na avaliação do comportamento motor, possibilitando a integração
de diferentes áreas de conhecimento.
144
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165
Apêndice I
Glossário
166
São apresentados aqui, alguns conceitos chave utilizados para a apresentação das diferentes
abordagem no estudo do comportamento motor.
Atrator = região do espaço de fase de sistemas dissipativos para a qual tendem as
trajetórias que partem de determinada região - CIÊNCIA HOJE, (1992). Ele representa, de
acordo com ABRAHAM, SHAW (1985a), o comportamento do sistema em equilíbrio dinâmico
após a transitoriedade acabar.
FERRARA (1994) observou que a resposta do estado estacionário pode ser de quatro tipos:
atrator pontual, atrator ciclo limite, atrator toro e atrator estranho. O atrator pontual é
independente do tempo; o ciclo limite é periódico no tempo e é caracterizado por sua amplitude e
período; o atrator toro corresponde a um regime quasi-periódico com n freqüências fundamentais
independentes e os atratores estranhos apresentam dependência sensitivas à condições iniciais.
Sistemas determinísticos, cuja evolução temporal conduz assintoticamente a atratores estranhos
apresentam dinâmica caótica, ou seja, devido a esta alta sensibilidade e às não linearidades
presentes no sistema, amplificam-se exponencialmente pequenas diferenças iniciais, levando à
imprevisibilidade do comportamento (o conhecimento do estado do sistema durante um tempo
arbitrariamente longo não permite predizer, de maneira imediata, sua evolução posterior).
Dentro dos estudos sobre comportamento motor, o atrator é visto como o output de
comportamentos preferidos que são determinados pela morfologia do sistema, sua energia
particular ou estado motivacional e contexto da tarefa e meio ambiente. ULRICH (1997) advoga
que a reconstrução de atratores permite investigar a estabilidade ou transição entre diferentes
modos de coordenação, ou seja, a dinâmica do comportamento, sua estabilidade e sua mudança
167
qualitativa através de repetidos ciclos em qualquer ponto no tempo, bem como em longos
períodos de tempo.
O conceito de atrator, de acordo com lHELEN, ULRICH (1991), não faz assertivas sobre
performances típicas, mas enfoca apenas a relativa estabilidade e mudança, referindo-se ao status
dinâmico do sistema. Quando o sistema é reunido em diferentes contextos de tarefa, ou quando
os componentes mudam através do crescimento ou diferenciação, a estabilidade do atrator pode
mudar, isto é, alguns comportamentos tornam-se mais executáveis, com mais restrições, mais
habilidades e menos sujeito a perturbações. Outros padrões podem tornar-se menos fidedignos e
mais facilmente rompíveis. Assim, sob condições similares, o sistema pode ser mais estável, mas
também capaz de grande flexibilidade de tarefa.
Para ULRICH (1997), um atrator estável tem a alta probabilidade de ocorrer quando o sistema
perturbado retoma rapidamente para o padrão, isto é, o tempo que leva para o sistema se
recuperar é mínimo. Novos padrões emergentes de comportamento tendem a ser mais variáveis
que os padrões previamente formados. A estabilidade de um atrator é urna função da história do
sistema, do estado corrente dos subsistemas, do contexto e do objetivo.
Com o desenvolvimento, mudanças anatôrnícas e fisiológicas ligadas á experiência e intenção,
podem causar mudanças no atrator. Para um atrator ser substituído por outro alguns componentes
do sistema devem quebrar a estabilidade corrente, induzir a variabilidade ou fazer outras soluções
possíveis para que o sistema possa explorar alternativas.
Auto-organização = um processo espaço-temporal no qual um sistema torna-se
organizado em padrão não linear, processo parcialmente estocástico, através de auto reunião de
constituintes interativos, nenhum dos quais especifica o novo estado da organização. A interação
168
entre os constituintes do sistema é numerosa, flexível, funcionalmente redundante e restringida a
agir em número limitado de caminhos particulares para uma dada condição. Quando esta
condição se excede ou aniquila, o sistema pode reorganizar-se em caminhos qualitativamente
diferentes- HOPKINS et a!. (1993).
Comando motor= seqüência de impulsos nervosos selecionados pelo mecanismo efetor,
que seria enviado aos músculos para produzir o movimento desejado- MARTENIUK (1976).
Espaço de fase = espaço constituído pelas variáveis que descrevem o sistema. Cada ponto
do espaço de fase representa um estado possível para o sistema e por ele passa só urna trajetória.
As trajetórias que preenchem o espaço fase formam o retrato de fase que num sistema
dissipativo (aberto) pode mostrar a estrutura do atrator e suas bacias- THOMPSON, STEW ART
(1993).
Feedback =termo geral que se refere a informação que o executante recebe a respeito da
execução de uma habilidade, durante ou após a realização da mesma- MAGIL (1984).
Parâmetro controle = padrão que move um sistema através de seu estado coletivo e
serve como catalisador de novos modos de organização - HOPKINS et a!. (1993). FERRARA
(1994) explicou que num sistema físico real, o parãmetro controle representa a intensidade da
força-motora agindo sobre o sistema (ex: temperatura, campo magnético dentre outros. ULRICH
( 1997) o definiu como sendo a variável a qual o sistema é sensitivo, podendo ser interno ou
externo. Para o aparecimento de um padrão particular o parãmetro controle pode variar no tempo
e na população.
169
Plano de ação = representação de uma idéia sobre um movimento, especificando os
parâmetros que se adaptam às necessidades do executante tendo em vista as demandas ambientais
específicas- MARTENIUK (1984).
Processamento de iriformação = refere-se ao uso da informação obtida no ambiente, para
a condução do movimento, através de vàrias operações realizadas no sistema nervoso central -
MARTENIUK (1984).
Programa Motor = conjunto de comandos do Sistema Nervoso Central para a
musculatura executar um dado movimento sem ser afetado por feedback - MA GIL ( 1984)
Retrato de fase = representação gràfica do comportamento de um sistema dinâmico,
dado pelo conjunto de trajetórias dos conjuntos limites e bacias de atração. É utilizado como
forma de descrição da variável coletiva, representando o estado (em cada ponto) e a dinâmica
(relação entre os pontos sucessivos) do sistema .. Quando o sistema comporta-se de maneira
estável, de acordo com ULRICH (1997), a trajetória do retrato de fase tem uma alta
probabilidade de convergir sobre uma forma e região particular e espaço de estados. Pode ser
pensado como um espaço de trabalho ou como a fronteira na qual a trajetória do movimento é
possível.
Sistema = complexo de elementos em interação, com relações que possuem partes
somativas (soma dos elementos considerados isoladamente, aquelas que se mostram idênticas
170
dentro e fora do complexo) ou constitutivas (propriedades específicas advindas da interação dos
elementos), cujas partes componentes estão conectadas e interrelacionadas como um todo -
BERTALANFFY (1975).
Existem sistemas fechados, quando nenhum material entra ou sai do sistema, a entropia cresce
até o máximo, atingindo um estado de equilíbrio termodinâmico, tendendo a assumir um estado
de distribuição homogênea, um estado de desordem e sistemas abertos que estão em constante
troca com o meio ambiente, num processo de aproximação ou modificação de um estado
estacionário.
MANOEL, CONNOLLY (1997) observaram a característica principal do sistema aberto é a
tendência para a anamorfose (mudar para estados mais ordenados). Para BERTALANFFY
(1975), todo organismo vivo é essencialmente um sistema aberto, mantendo-se em contínuo
fluxo de entrada e saída e conservando-se mediante a construção e a decomposição de
componentes, não estando em estado de equilíbrio químico e termodinâmico mas no estado
estacionário ou próximo a ele. Um sistema é dito dinâmico quando as grandezas que o descrevem
evoluem no tempo.
Matematicamente, o sistema dinâmico é constituído pelo espaço de estados possíveis para o
sistema (espaço de fase) e por suas regras de evolução, as quais podem ser equações diferenciais
ou mapeamentos- THOMPSON, STEW ART (1993).
Dentre as características de um sistema dinâmico estão a não linearidade e a auto organização.
Um sistema não linear é aquele cuja habilidade de mudar de um padrão particular para outro se
dá de uma maneira aparentemente súbita ou descontínua- THELEN (1991).
171
Variável coletiva ou padrão de ordem= variáveis que dão forma à sinergia funcional no
movimento constituem um parâmetro único e macroscópico que provê cooperação entre os
subsistemas - HOPKINS et al. (1993). Parece organizar o sistema desorganizado e emerge da
cooperação de elementos (múltiplos graus de liberdade de um sistema complexo são
comprimidos sob certas condições fisicas e o sistema resultante pode ser descrito em termos das
variáveis que expressam esta compressão).
THELEN, ULRICH (1991) e ZANONE et al. (1993) referiram-se à variável coletiva como
sendo o padrão que caracteriza o padrão de comportamento sobre uma mudança. Para eles,
identificar a variável coletiva permite a descrição de detalhes dos componentes individuais e
descobrir uma chave para o padrão geral que reflete a cooperação das partes componentes.
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173
Apêndice 11
Folha de respostas - Tarefa 01
174
175
-
Apêndice 111
Folha de observação
176
Erros encontrados na figura C'di d p o 1go a essoa: Erro/ 1 2 3 4 5 6 Erro/ 1 2 3 4 5 6 Figura Figura 1 51 2 52 3 53 4 54 5 55 6 56 7 57 8 58 9 59 10 60 11 61 12 62 13 63 14 64 15 65 16 66 17 67 18 68 19 69 20 70 21 71 22 72 23 73 24 74 25 75 26 76 27 77 28 78 29 79 30 80 31 81 32 82 33 83 I
34 84 35 85 36 86 37 87 38 88 39 89 40 90 41 91 42 92 43 93 44 94 45 95 46 96 47 97 48 98 49 99 50 100 Obs:
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