esquizofrenia: dificuldades de relacionamento … · chamados sintomas positivos e sintomas...
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Universidade Estadual de Maringá, 11 a 14 de junho de 2018.
Anais ISSN online:2326-9435
XXIII SEMANA DE PEDAGOGIA-UEM XI Encontro de Pesquisa em Educação
II Seminário de Integração Graduação e Pós-Graduação
ESQUIZOFRENIA: DIFICULDADES DE RELACIONAMENTO NO
DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM DO ADOLESCENTE
MIRANDA, TATIANE MELLO DE
(Pedagoga) [email protected]
BARTZ, ADRIANE DE LIMA VILAS BOAS
(Orientadora) [email protected]
FACULDADE DOM BOSCO DE UBIRATÃ
Eixo temático: Educação e diversidade
INTRODUÇÃO
O presente artigo enfatiza o tema Esquizofrenia: dificuldades de relacionamento no
desenvolvimento e aprendizagem do adolescente. Objetivou-se, de forma geral, pesquisar as
dificuldades de desenvolvimento, de aprendizagem e de relacionamento dos
esquizofrênicos, buscando meios para integrá-los à sociedade, sem que sejam discriminados.
Assim, especificamente, investigou-se o esquizofrênico na sociedade, abordando suas
reais dificuldades, a fim de buscar melhorias no processo de ensino do adolescente com essa
doença.
A sociedade contemporânea está em crise de identidade, e o que se observa é que um
número acentuado de pessoas está em processo de sofrimento mental. Nesse sentido, dentre os
problemas que podem afetar a sociedade é a esquizofrenia, que se trata de um tipo de psicose
que geralmente dá seus primeiros sinais na juventude.
É caracterizada pela certeza de que seus delírios e alucinações são reais, levando-a a
não saber diferenciar o que é real do que é fantasia. Por isso, pretende-se que este artigo de
alguma forma contribua para que os educadores consigam identificar e saber como tratar
jovens esquizofrênicos, para que os ajudem na sua educação.
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CONCEITO DE ESQUIZOFRENIA
No período da Idade Média, o chamado louco era considerado uma pessoa ignorante,
pois ele não sabia se comportar e não conseguia seguir as leis e regras de uma sociedade.
Nesse período, eram raras as internações de doentes mentais, e, quando ela acontecia,
eles tinham o mesmo tratamento que os demais doentes que também estavam internados.
Porém, hoje, o local adequado para a internação são as clínicas psiquiátricas ou clínicas de
recuperação. Bock (2008) relata que:
O filósofo francês Michel Foucault (1926-1984) deu uma valiosa
contribuição para compreendermos a constituição histórica do conceito da
doença mental. Sua pesquisa baseou-se em documentos (discursos)
encontrados em arquivos de prisões, hospitais e hospícios. Na periodização
histórica que utiliza, o autor inicia seu trabalho pelo Renascimento (século
XVI), período no qual o louco vivia “solto, errante, expulso das cidades,
entregue aos peregrinos e navegantes” [...] (BOCK, 2008, p.345-346).
De acordo com o autor citado acima, um grande contribuidor para o conceito histórico
da doença mental foi o francês Michel Foucault. Suas pesquisas foram feitas com arquivos de
hospitais, cadeias e hospícios, que hoje são chamados de clínicas psiquiátricas. Foucault
iniciou suas pesquisas pelo Renascimento, no século XVI, apontando que nesse tempo o
chamado “louco” vivia livre, fazendo coisas erradas, banido das cidades. A esquizofrenia é
uma doença metal grave, que nos dias atuais faz parte da vida de aproximadamente 1% da
população mundial.
Dessa forma, Almeida (2013) reafirma Wong e Van Tol (2003) ao dizer que:
[...] A esquizofrenia é considerada a mais severa das doenças psiquiátricas,
apresentando uma incidência de 0,5 a 1% na população mundial. Os
prejuízos cognitivos afetam funções como a atenção, a memória e o
funcionamento intelectual geral (WONG & VAN TOL, 2003 apud
ALMEIDA, 2013, p.23).
Dessa forma, a esquizofrenia pode acontecer em 0,5 a 1% da população do mundo,
sendo vista como a doença psiquiátrica mais grave de todas, afetando todo o desempenho
intelectual, a memória e a atenção do sujeito. Por consequência, ele apresenta muita
dificuldade em continuar seus estudos e manter um emprego devido a sua dificuldade.
Dessa forma Dr. Robert e Rothenberg (1979) ressaltam que a esquizofrenia é:
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Forma de psicose que afeta pessoas jovens e, por isso, era chamada de
demência precoce. Caracteriza-se em geral por distúrbios mentais, muito
estranhos, desvinculação da realidade e uma total falta de correspondência
entre o conteúdo dos pensamentos e as emoções. Assim, o paciente pode não
apresentar emoção em relação às ideias que expressa, ou as emoções não
corresponderem a essas ideias. Os pacientes são geralmente frios em relação
às outras pessoas e fogem ao máximo da realidade. Na fase inicial,
apresentam um mau relacionamento com os outros e são frequentemente
incapazes de se manter num emprego por muito tempo. Ignora-se a causa da
esquizofrenia (Dr. ROBERT & ROTHENBERG, 1979, p.308).
Dr. Robert e Rothenberg (1979) completam afirmando que a esquizofrenia é um tipo
de psicose chamada “demência precoce”. O jovem esquizofrênico, em sua fase inicial, tem
grandes dificuldades de se relacionar com as outras pessoas, pois ele se transforma em uma
pessoa fria, não demonstra emoções e, como não tem um bom relacionamento com as
pessoas, tem dificuldades de se manter muito tempo no mesmo emprego. Suas características
são transtornos mentais, ele sai de sua realidade, não corresponde a pensamentos, emoções e
nem a suas próprias ideias. A esquizofrenia está dividida em dois grandes grupos, os
chamados sintomas positivos e sintomas negativos.
Almeida (2013) compara os sintomas positivos e negativos:
Se, por um lado, em termos de intervenção, os sintomas positivos respondem
melhor ao tratamento farmacológico, tal já não se verifica nos sintomas
negativos da perturbação, os quais impõem grandes desafios à práxis
terapêutica e consequências ao nível das relações interpessoais,
nomeadamente com os familiares (CAMPOS, 2008 apud ALMEIDA,
2013, p.22).
Almeida (2013), em conformidade com Campos (2008), relata que os pacientes que
possuem os chamados sintomas positivos têm mais facilidade com o tratamento
farmacológico, ao contrário dos que apresentam os sintomas negativos. Dessa forma, até nos
dias atuais, os esquizofrênicos são um dos grandes desafios à prática clínica, devido, também,
à dificuldade de se relacionar com os demais e até mesmo com seus familiares.
CAUSAS E SINTOMAS
A sociedade impõe um comportamento que leva a distúrbios que alteram as relações
sociais. Então, quando o indivíduo apresenta características de esquizofrenia, deve-se
investigar as suas causas.
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O autor Maltese aponta que:
Algumas vezes existe uma causa próxima: hereditária, tóxica ou infecciosa;
em outras, não é possível precisá-la. [...] os indivíduos reagem de dois
modos diferentes ao meio ambiente: uns vão da alegria à tristeza (cicloides),
outros da sensibilidade à indiferença (esquizoides). Os cicloides são pessoas
vibráteis, entusiastas, idealistas, sensíveis a quaisquer tipos de emoções; os
esquizóides são introvertidos, preferem a vida interior afastando-se de seus
semelhantes, reagem ao meio ambiente sem intensidade, perdem contato
com fatos reais (MALTESE, s/d, p.130).
De acordo com a citação acima, nem sempre a razão da esquizofrenia é hereditária,
por intoxicação ou infecciosa; muitas vezes, sua causa não é precisa. Maltese esclarece que as
pessoas com o transtorno de esquizofrenia reagem de duas maneiras diferentes ao seu meio:
uns são chamadas de cicloides, cuja principal característica consiste em estarem muito felizes
e de repente ficarem tristes; são pessoas vibráveis, mantêm seus ideais e são muito sensíveis a
todos os tipos de emoções. Por outro lado, há os chamados esquizóides, que vão da
sensibilidade à apatia, preferem ficar sozinhos, sempre estão isolados e afastam-se de seus
amigos e família; também não demonstram prazer na vida, perdendo a ligação com os
acontecimentos reais.
Já o DSM-IV-TR (2002) observa que algumas doenças que indicaram a suspeita do
desencadeamento da esquizofrenia, desde uma simples gripe a uma infecção do sistema
nervoso central, poderão alterar a base do desenvolvimento. Por sua vez, Giacon (2006) apud
Almeida (2013) salienta que existem alguns fatores associados à predisposição de um
indivíduo para o desenvolvimento da esquizofrenia: fatores biológicos, associados à genética
ou a alguma anormalidade cerebral, bem como uma deficiência nos neurotransmissores, e os
fatores psicossociais, que envolvem o relacionamento e a interação do indivíduo com o meio
social onde está inserido.
Os indivíduos que apresentam sintomas de esquizofrenia devem ser encaminhados às
instituições e aos profissionais habilitados, para que possam intervir no tratamento a fim de
eliminar ou amenizar os sintomas.
Lewis (1993) afirma que:
A primeira linha de sintomas, segundo Schneider (Schneider, 1959; 1971),
pode apresentar: (1) ouvir os próprios pensamentos ditos em voz alta, (2)
alucinações auditivas comentando o comportamento do paciente, (3)
alucinações somáticas, (4) a experiência de ter os próprios pensamentos
controlados, (5) a propagação de seus próprios pensamentos para outros, (6)
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delírios, e (7) a experiência de ter as próprias ações controladas ou
influenciadas pelo exterior (LEWIS, 1993, p.367-368).
Para Lewis (1993), os primeiros sintomas apresentados em um quadro de
esquizofrenia são: ouvir seus pensamentos em voz alta, ouvir vozes falando dele e de seu
comportamento, seus próprios pensamentos o controlam, apresenta alucinações, vários
delírios, relata incessantemente seus pensamentos e tudo que propõe fazer, existindo, assim,
um controle sobre ele.
Maltese ainda evidencia que:
Com o progredir da doença, aparecem outras manifestações, muito variáveis
de doente para doente, acontecem devaneio à fantasia ou à vida interior;
desconfiança acentuada acompanhada de excessiva suscetibilidade; ideais
políticas com tendência extremistas; reflexões extravagantes; reações
intempestivas; acesso de cólera; cepticismo; arrogância; egocentrismo;
ironia; descrença. Os sinais comuns das diversas formas de esquizofrenia,
nessa fase são: perda de contato vital, atos discordantes, indiferença pelos
seus interesses, sua pessoa e sua família (MALTESE, s/d, p.130).
Portanto, como observa Maltese, com o avançar da doença, aparecerão outros
sintomas que variam de um indivíduo para outro, como: perder o seu juízo, ter alucinações
intensas, apresentar uma grande desconfiança de tudo e de todos, sentir-se ofendido com
muita facilidade; ter fantasias políticas com tendências extremistas, como pensar trabalhar
para o governo, ter reações inapropriadas; acessos de ira e surtos, ausência de qualquer tipo e
crença, tornar-se arrogante; egoísta e sarcástico.
Os indivíduos que têm o transtorno da esquizofrenia apresentam várias características,
como isolar-se, ter delírios, não saber diferenciar o que é falso do real e, por isso, algumas
vezes acabam cometendo crimes, como assassinato, pois possuem alucinações que “falam
para que eles machuquem uma outra pessoa” ou até para machucar a eles mesmos.
Relvas (2009) confirma que:
É caracterizada por uma perda de contato com a realidade e por perturbações
de pensamento, percepção, humor e movimento. O transtorno torna-se
aparente durante a adolescência ou no início da vida e persiste por toda a
vida. Significa ‘’mente dividida’’, em virtude da sua observação de que
muitos pacientes pareciam oscilar entre o estado normal e anormal
(RELVAS, 2009, p.100).
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De acordo com Relvas (2009), esquizofrenia significa “mente dividida’’, ou seja, o
indivíduo não consegue diferenciar o mundo real e suas fantasias, muitos dos doentes se
deslocam do estado normal para o estado anormal, caracterizando-se pela ausência de contato
com o mundo real. Acrescenta que o doente tem seus pensamentos perturbados, falta de
percepção, temperamento e deslocação. Esse transtorno torna-se visível na juventude ou no
começo da vida, acompanhando-o por toda sua vida.
TRATAMENTO
Quando se aborda a questão do tratamento da esquizofrenia, percebe-se que se trata de
uma patologia séria e de difícil tratamento, uma vez que envolve todo o entorno do afetado.
Lewis (1993, p.369) afirma que: [...] o tratamento consiste de uma combinação de
psicoterapia e medicação antipsicótica, junto com educação especial. Os pais frequentemente
necessitam de apoio, psicoterapia e aconselhamento genético.
Em conformidade com Lewis (1993), entende-se que o tratamento consiste em
ministrar-lhe medicamentos antipsicóticos, somados à psicoterapia, juntamente com um
trabalho de educação especial, pois, geralmente, os pais dessa criança também precisam de
ajuda psicológica e de aconselhamento genético.
Almeida (2013) observa:
Segundo a Federação Mundial de Terapia Ocupacional (World Federation of
Occupational Therapists WFOT, 2012), Terapia Ocupacional é uma
disciplina da saúde direcionada a pessoas com deficiência ou incapacidade
física ou mental, temporária ou permanente. O terapeuta envolve o paciente
em atividades destinadas a promover o restabelecimento e o melhor uso das
suas funções, ajudando assim a enfrentar ambientes de trabalho, social,
pessoal ou doméstico (ALMEIDA, 2013, p.39).
A terapia ocupacional investiga os fatores que interferem na ocupação humana,
buscando sempre ampliar as competências, reestruturando as funções perdidas e visando
sempre a prevenir disfunções. Ela figura entre o processo de reabilitação e o tratamento da
esquizofrenia, como uma das mais importantes, porque o terapeuta passa a atuar como um
mediador, buscando a construção de vínculos entre o espaço dos indivíduos e o espaço
coletivo a que pertence cada um. O indivíduo psicótico, em virtude de seu quadro, encontra-
se, muitas vezes, afastado de suas tarefas diárias; porém, com a ajuda da terapia ocupacional,
pode participar e realizar atividades diárias importantes.
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Num estudo realizado por Buchain, Vizzotto, Neto e Elkis (2003) apud Almeida
(2013), foi investigado o resultado apresentado pela utilização da terapia ocupacional como
opção para auxiliar no tratamento psicofarmacológico da esquizofrenia. Esse estudo verificou
que a terapia ocupacional, juntamente com os medicamentos apropriados, apresentava-se
associada à melhora do desempenho ocupacional e dos relacionamentos interpessoais dos
doentes.
ESQUIZOFRENIA E A INTERVENÇÃO POR MEIO DA EDUCAÇÃO
A esquizofrenia é um transtorno mental grave. Dessa forma, o Núcleo de
Acessibilidade da UEL (2011) sugere orientação específica aos docentes, sendo esta a medida
mais importante, visando à acessibilidade atitudinal, acreditando-se que quanto mais
informação, menos preconceito. Nesse sentido, orienta:
- Um esquizofrênico é uma pessoa comum como todas as outras, sempre buscando ter
uma boa vida. A diferença é que ele possui uma alteração química dentro de si e isso não
deveria ser uma causa de discriminação;
- A aceitação desse sujeito pelas outras pessoas da sociedade é muito importante;
- Nos dias atuais, o preconceito contra o esquizofrênico ainda é muito alto. Por isso,
para melhorar tal situação devem ser criados projetos para que o assunto seja inserido nos
conteúdos acadêmicos;
- É essencial que o estudante esquizofrênico seja incentivado para que ele continue
estudando e também que para ele sejam elaboradas atividades que o ajudem a se reintegrar à
sociedade e a desenvolver uma vida comum;
De acordo com Candiani (2017), a Política de Inclusão Escolar sugere, sobre o papel
da escola:
[...] Os psicofármacos podem alterar o desempenho, a atenção, a
concentração, a sensibilidade à luz, por exemplo, além de aumentar a sede e
o volume urinário (Carbonato de lítio, por exemplo) ou agitação
psicomotora. Estes possíveis efeitos colaterais exigem maior flexibilidade
quanto às regras e horários de uso do banheiro e bebedouro. -Devem-se
incentivar as atividades esportivas dentro e fora do horário escolar, uma vez
que alguns medicamentos podem facilitar o ganho de peso. -Cada
criança/adolescente deve ser tratado individualmente, de acordo com seu
problema e quadro psiquiátrico. -Devem-se evitar os fatores estressores,
como a mudança de escola, professores, tentar reduzir críticas ou
comentários maldosos de colegas e situações de competição entre os alunos
(extremamente difícil, concordo – uma vez que os próprios pacientes criam e
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se envolvem em situação de competição direta e briga com outros colegas). -
O ideal seriam pequenas salas de aula, com uma pessoa de referência para
episódios de maior dificuldade escolar. Em momentos de maior instabilidade
emocional, podem-se aumentar os prazos finais para entrega de exercícios ou
trabalhos escolares (em casos extremos) avaliados pelos médicos [...]
(CANDIANI, 2017, p.1).
As medicações psiquiátricas frequentemente causam mudanças no desempenho
escolar; por isso, os professores devem ter conhecimento de quais medicações o aluno toma.
Dessa forma, os pais devem sempre informar aos educadores o medicamento utilizado por seu
filho, pois os psicofármacos podem alterar o desempenho, a concentração e a atenção,
provocando agitação psicomotora, aumento da sede e a da frequência em urinar.
É também Candiani (2017) quem destaca que alguns desses medicamentos podem
facilitar o ganho de peso desses alunos; então, eles devem ser incentivados a praticar esportes
na escola e também fora dela. Cada aluno com necessidades especiais deve ser tratado
particularmente, conforme suas reais necessidades e seu quadro psiquiátrico, destaca Candiani
(2017), e os fatores estressores devem ser evitados. Candiani (2017) cita alguns exemplos
disso: troca de professores e de escola, críticas e competitividade entre os outros alunos e
comentários maliciosos. Contudo, segundo o autor, isso não é uma tarefa fácil, pois os
próprios pacientes se envolvem em competições e brigas com os demais.
O correto, de acordo com Candiani (2017), é que as salas de aulas sejam pequenas,
com uma pessoa responsável para auxiliar os alunos com dificuldades muito altas, e quando o
aluno estiver passando por momentos de desequilíbrio emocional, se apresentar laudo médico,
os professores podem alongar as datas de entregas dos trabalhos.
METODOLOGIA
Este trabalho foi desenvolvido por meio de pesquisas, em vários meios de informação
disponíveis, sobre o tema Esquizofrenia: dificuldades de relacionamento no desenvolvimento
e aprendizagem do adolescente, com o intuito de saber as verdadeiras dificuldades vividas por
alunos esquizofrênicos e seus educadores. Foi realizado a partir de pesquisas bibliográficas e
pesquisas de campo, utilizando questionários que foram entregues três pacientes do Caps de
Ubiratã.
A pesquisa bibliográfica, Bervian (2002, p.48) “Procura explicar um problema a partir
de referências teóricas publicadas em documentos. Busca conhecer e analisar as contribuições
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culturais ou científicas do passado existentes sobre um determinado assunto, tema ou
problema”.
No que se refere a esse tipo de pesquisa, Vergara (1991) afirma que: Pesquisa de
campo é investigação empírica realizada no local onde ocorre ou ocorreu um fenômeno ou
que dispõe de elementos para explicá-lo. Pode incluir entrevistas, aplicações de questionários,
testes e observação participante ou não (VERGARA, 1991, p.47-48).
Questionário: é bastante utilizado nas pesquisas quantitativas, tendo por finalidade
mensurar um fenômeno, por isso deve-se ter cuidado ao utilizá-lo, pois nem sempre os dados
são quantificáveis. Sua elaboração exige um trabalho intelectual anterior à sua aplicação e um
pré-teste, para verificar a relevância das questões elaboradas, bem como para corrigir
distorções apontadas, que podem comprometer a análise final (ALVARENGA & BIANCHI,
2003, p.31).
Foram questionado aos pacientes que frequentam o CAPS Centro de Atenção
Psicossocial. Com o quadro clínico que possui, como reage aos medicamentos?
Os pacientes Ubirajara e Valdir responderam que algumas vezes, mesmo medicados e
realizando o tratamento corretamente, sentem vontade de se suicidar por enforcamento,
sentem que podem estar sendo perseguidos por organizações secretas, porém não são
agressivos com as pessoas. Já Vanderléia disse: “sinto uma coisa ruim dentro de mim, mas
não consigo explicar o que é”. Por isso, ela, muitas vezes, não consegue dormir.
Tengan e Maia (2005) alegam que:
Os delírios muitas vezes possuem grande complexidade na organização das
ideias e, se vistos por um determinado ângulo, são passíveis de
compreensão, embora não se exclua a possibilidade de um quadro delirante.
Poderíamos citar alguns exemplos desses quadros delirantes: ’Durante a
madrugada, seres extraterrenos implantaram um chip em meu corpo; estou
sendo controlado durante as 24 horas do dia; cada passo meu é observado
por esses seres, e tenho a missão de ajudá-los’, ou então ‘Estou sendo
perseguida pelos traficantes do meu bairro, doutor; eles sabem que eu os vi
passando a droga; agora eles me ameaçam a todo instante; não posso assistir
TV, pois eles colocaram uma câmera dentro da TV que observa todo o
movimento da casa; mesmo quando venho às consultas, eles estão a par de
tudo, pois eles colocaram câmeras aqui também e estão ouvindo tudo, eu não
tenho mais paz!’. Com a evolução da esquizofrenia, a convivência com a
família e grupos sociais torna-se impossível, fazendo com que o paciente
fique excluído e sendo forçado pela família a procurar tratamento (TENGAN
& MAIA, 2005, p.3).
De acordo com Tengan e Maia (2005), pessoas com esquizofrenia sofrem por não
conseguirem organizar adequadamente seus pensamentos; logo, apresentam um quadro
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delirante. A citação acima mostra exemplos de delírios que podem acontecer com os pacientes
esquizofrênicos: acreditam estar sendo perseguidas por traficantes, pessoas e até
extraterrenos, os quais implantam um chip em seu corpo e os observam com câmeras para
saber tudo o que acontece em sua vida. Com o desenvolver da doença, a convivência com a
família e com outras pessoas vai se tornando impraticável, de modo que os pacientes acabam
sendo excluídos. É nesse momento que a família costuma procurar um tratamento.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A esquizofrenia é, sim, uma doença mental muito grave, mas quando os
esquizofrênicos estão sendo tratados e medicados, eles podem, evidentemente, viver em
sociedade, tento os mesmos direitos que todas as outras pessoas. Entretanto, é muito
importante que o doente tenha o apoio de sua família, a qual deve cuidar para que ele não
deixe de tomar seus remédios. É de extrema importância, também, que ela esteja presente no
tratamento, a fim de ajudá-lo a melhorar e a recuperar sua autoestima.
Portanto, é notável o quanto o apoio da família é importante no tratamento do
esquizofrênico, pois ela acompanha os horários corretos de o doente tomar os medicamentos
em casa, e também auxilia em sua higiene, uma vez que, em alguns casos, os pacientes
deixam a desejar nesse aspecto. A família também auxilia a equipe médica relatando possíveis
mudanças no relacionamento e comportamento do paciente com os demais, observando se
pode estar se desencadeando um novo surto.
A esquizofrenia não tem causas precisas; porém, há fatores que podem desencadeá-la,
como, por exemplo, a hereditariedade, visto que, segundo estudos, pessoas que já tenham
casos dessa doença na família têm mais chances de desenvolvê-la. Outra causa que pode fazer
com que o indivíduo desencadeie a doença é uma intoxicação ou infecção, desde uma simples
gripe até uma infecção no sistema nervoso central.
Contudo, mesmo com todas as pesquisas feitas para descobrir a origem da
esquizofrenia, ela ainda intriga os especialistas. O esquizofrênico sofre muito com o
preconceito e a discriminação, e, infelizmente, quando isso ocorre, a sociedade acaba fazendo
com que ele se exclua ainda mais, privando-o de atividades às quais ele deveria ter acesso,
como, por exemplo, o direito de frequentar uma escola.
Dessa forma, para que os indivíduos com esquizofrenia desenvolvam sua
aprendizagem, é necessário, primeiramente, investigar seus conhecimentos já adquiridos e
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suas dificuldades, para, assim, montar-se uma metodologia adequada para cada um, já que os
conteúdos devem ser voltados para a vivência e a realidade do aluno, realizando esse trabalho
de forma interdisciplinar.
Ainda, para que o esquizofrênico possa frequentar a escola e viver plenamente em
sociedade, ele deve ser acompanhado, constantemente, pelos médicos. É imprescindível,
também, que tome seus medicamentos como foram prescritos, porque, embora a esquizofrenia
não tenha cura, ela tem tratamento, e, quando este é realizado corretamente, a doença fica
controlada e o indivíduo consegue viver bem com sua família, amigos e fazer parte da
sociedade. Portanto, os esquizofrênicos possuem todo o direito de viver em sociedade, direto
de se casar, ter um bom emprego e o direito de serem respeitados como qualquer outra pessoa.
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