esquina; público julga a imprensa§a de que não é exatamente deus, mas a corrupção que é...

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esquina ; 4 públic o julga a Imprensa

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esquina;4públicojulga a Imprensa

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Especial

GUIA DA CORRUPÇÃO NO BRASI L

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IMPRENSA - AGOSTO 1991

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¢

litigiosa

Banhadose escaldados por um

mar de lama de proporçõe satlânticas, os brasileiros vão

desenvolvendo uma síndrome depessimismo que os faz alimentar a

crença de que não é exatamente Deus,mas a corrupção que é natural do país .

Tem-se a impressão de que, talvez por algumamaldição satânica, este período histórico deu d e

concentrar aqui tudo o que a Humanidad einventou na arte de tirar vantagem, lesar o

patrimônio público e burlar a lei por uma boa som aem dinheiro ou espécie . Mas o Brasil não é nem oprimeiro, nem o maior antro de acertos, arranjos ,

jeitinhos, arreglos, panamás e maracutaias de que setem notícia na história das nações . No livro ACorrupção no Brasil, lançado recentemente, o

jornalista Pedro Cavalcanti recua até a data prováve lde 1500 a .C. para contar que, na cidade

de Nuzi, na Assíria, uma mulher doou uma escrava aAshur-aha-iddina, membro de unia famíli a

importante, em troca da impunidade para seu filho ,que cometera um assassinato . Antes disso, o

Código de Hamurabi, da Babilônia, j ácontinha dispositivos para multar, cassar e

expor à execração pública juízes quealiviassem o sofrimento de acusados e m

troca de moedas . Na época da grandeRoma, ficou célebre o pretor Cai oVerres, especialista em extorqui r

dinheiro de todas as partesinteressadas em heranças

s . Mas, acimade todos eles ,

virou

lenda ocorrupto JudasIscariotes, que entregouaos romanos ninguém menosque o filho de Deus, por míseros30 dinheiros . Se o Brasil não épioneiro, portanto, e se tem rivais ness eofício em todos os quadrantes do mundo,nem por isso as coisas vão bem por aqui . Aocontrário . A administração pública, em todosos níveis, é cada vez mais permeável ao dinheirofácil da imoralidade . Na sociedade civil, da mesm aforma, a lei do "salve-se quem puder" ganha corpoe os cidadãos procuram resolver seus problemas "deoutra forma", sempre que encontram obstáculos naforma legal . É óbvio que isso tem que mudar . OBrasil não deixará a fronteira do Quarto Mundo se nãocolocar a corrupção nos níveis do Primeiro - onde éperiférica, não estrutural . Para isso, é importante que o s

cidadãos conheçam os incontáveis mecanismos atravé sdos quais ela é exercida no país . É o que se oferec eguia, elaborado com a colaboração de profissionais dasmais diversas áreas, que se destacam na denúnciado problema - como os jornalistas Rubem d eAzevedo Lima, Percival de Souza e RobertoPereira de Souza, os deputados federais JoséDirceu e Luiz Roberto Ponte, e o vereadorWalter Feldmann (São Paulo) - entre outrostantos que preferiram manter-se noanonimato . Participaram também dolevantamento de informaçõesAntonio Carlos Santomauro ,Higino Barros, Al ôComunicação e FritasServiçosJornalísticos.

IMPRENSA - AGOSTO 1991 29

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ADConstrução Civil - É o setor que realiza

os negócios de maior vulto com o governo, nos

MINI STRikÇI10 meeis federal, estadual e municipal . Só umaturbina de hidrelétrica caíste mais de 20 milhõesde dólares, o que dá uma noção das cifras envol-vidas. Por isso, há uma grande tentação dosfuncionários públicos corruptos em fazer aceitoscom as empreiteiras .Aditamento de Contratos - É um truque

muito usado pelos governos para alterar o valordos contratos de obras ou serviços públicas ,dispensando novas licitações. A lei permite adi-tamentos automáticos em até 25% do valor daobra e os tribunais de contas fazem uma fiscali-zação meramente formal desses contratos . Mui-tos acertos são feitos entre os responsáveis pela sobras e as empreiteiras, utilizando-se o mecanis-mo do aditamento .

Cartéis - Em muitos setores que atendem aadministração pública com obras ou serviços, asempresas acomodam seus interesses e atua mcomo cartéis organizados . Todas disputam lici-tações, mas se organizam previamente de form aque uma delas seja a escolhida para venceraquela licitação . Os preços, os prazos e as con-dições dessa empresa são sempre melhores doque os das outras. Na licitação seguinte, haveráum rodízio. Essa vai perder, outra vai ganhar.Ao longo do tempo, todo mundo lucra.

Concorrência - É uma das formas de lici-tação pública de obras e serviços (ver Licitação) .O edital de convocação dá um prazo de 45 dia spara a apresentação das propostas dos interessa-dos . O primeiro critério de seleção é o preçomínimo, estabelecido pelo contratante e só reve-lado na abertura das propostas . Aquela que mai sse aproximar desse preço mínimo, leva, teorica-mente. Mas como muitas vezes o vencedor já foiescolhido previamente, até pelas próprias em-presas que disputam a concorrência (ver Car-téis), não é o preço mínimo que conta. 0segundocritério é a nota técnica, que é atribuída em casode empate entre os concorrentes . Mas essa notaé altamente subjetiva: pode ser pela capa plasti -ficada da proposta ou pelos olhos azuis da enge-nheira que a encaminhou . de fato, uma notatão subjetiva que já há empresas especializadasem preparar propostas vencedoras . Cobram 200mil dólares pelo serviço. E o terceiro critério deseleção é a capacidade técnica Por ele, e com aajuda de uma boa soma "por fora", uma constru-tora de alta capacidade técnica pode ganhar aprimazia também na compra dos equipamentosde, por exemplo, urn hospital que for construir- embora esta não seja nem de longe a suaespecialidade .

Corrupção Desinteressada - É a formade reverter os mecanismos de corrupção parao interesse público . A empresa oferece umacomissão ao funcionário público para ganharuma concorrência . Mas o funcionário pergun-ta se a empresa topa trocar a comissão por um aambulância, por exemplo, a ser doada a um

O engenheiro apresentouo custo da

estrada ao governador."Há um erro

de cálculo", ele disse.E mandou

incluir os seus 7.5%

pronto-socorro . A empresa aceita a contrapro-posta, vence a concorrência e paga a comissãocom a ambulância . Aconteceu há algum tem-po no Rio de Janeiro.

Dívidas Públicas - É freqüente o gover-no atrasar os pagamentos a fornecedores eacumular dívidas . E é muito difícil recebe ressas dívidas, que não têm correção mone-tária . Por isso, quando a empresa pression ao órgão público para receber o que é seu d edireito, muitas vezes surge alguém para pr apor a quitação da dívida por 80% ou mesmo70% do valor. Na prestação de contas, adívida aparecerá como quitada pelo valortotal e a diferença será embolsada pelo fun-cionário .

Eleição - Mecanismo essencial no esque-

ma de corrupção na administração pública .As empresas investem hoje no politico queserá governante amanhã . Abastecem o caixade sua campanha eleitoral, doam papel, veí-culos e materiais diversos, emprestam imó-veis, oferecem todo tipo de facilidade .Muitas vezes, a ajuda é acertada com asses -sores do político, que nem chega a ficarsabendo que está dando a ajuda . Mas seganhar a eleição, rapidamente será informa -do . E cobrado, no momento oportuno .

Erro de Cálculo - Eufemismo empre-gado por um ex-governador fluminens epara designar a "comissão" que recebia na sobras públicas . Foi descoberto por um en-genheiro que lhe apresentou o estudo técni-co da construção de uma estrada, qu eincluía um criterioso levantamento do custodo quilômetro . "Há um erro de cálculo" ,disse o governador. E acrescentou 7 .5% aocusto total da estrada . O engenheiro, ingê-nuo, protestou, mas logo descobriu que tip ode "erro de cálculo" era aquele .

Formas de Licitação - O que se conhecenormalmente por "concorrência pública" (verConcorrência) é, na verdade, uma das formasde licitação pública . São três essas formas: aconcorrência, a mais complexa delas, e tam-bém a mais demorada, com um prazo de 45dias entre a publicação do edital e a apresen-tação das propostas; a tomada de preços, quefunciona em esquema semelhante ao da con-corrência, mas tem prazo menor; e a carta-convite, através da qual o órgão público pod eescolher a empresa que quiser, pelo critério d e"notória especialização", dispensando-se apré-qualificação da empresa . Muitas arma-ções acontecem exatamente nesse esquema d acarta-convite. Mas há possibilidade de fraudetambém nos outros.

Governo Paralelo - Não é o do PT. Aadministração pública federal está replet aatualmente de funcionários de situação dúbia,cuja função é precisamente agenciar interes-ses junto ao governo. Todos os pedidos, pro-jetos e propostas são encaminhados a essaspessoas, que dão um parecer, favorável o unão, dependendo do acerto que seja feito . Semacerto, não há parecer e muito menos a apro-vação do projeto .

Iapas - Essa é uma das pontas do imensotapete de corrupção que já começou a serlevantado no país. O noticiário sobre as falca -

PÚBLICA

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truas vem alimentando a Imprensa há me-ses . Mas é sempre possível dar mais u mgolpe . Se, por exemplo, uma empresa te muma dívida de 10 milhões com o lapas, ofiscal corrupto propõe uma redução para 2milhões, em troca de uma "comissão" de500 mil . Ele mesmo se encarrega de adulte-rar a documentação . E a forma mais comu mde corrupção na Previdência .

Licitação - É o processo pelo qual ogoverno (federal, estadual ou municipal )escolhe seus fornecedores de produtos ,obras ou serviços. Os governantes, sempreque podem, dispensam a licitação, porque édemorada, trabalhosa e nem sempre garant eque o escolhido seja o melhor (ver Formasde Licitação) . Para os corruptos, é uma ma-ravilha, porque a lei 2 .300, que a regula-menta, é cheia de brechas e permite todotipo de manobras, inclusive legais .

Moralização - Eliminar a corrupção n opaís é impossível, ela não foi extinta em ne-nhum lugar do mundo . Mas o que se podefazer, e é urgente fazer, é criar mecanismo sque reduzam a corrupção a níveis mínimos .Os sindicatos da construção civil (70 deles) ,por exemplo, elaboraram um projeto de le imodificando os critérios das concorrênciaspúblicas . O projeto prevê a divulgação préviados preços mínimos estabelecidos pelos con -tratantes de obras, a adoção de cálculos mate-máticos para estipular a média de cadaconcorrente na classificação pelo preço, a uti-lização do sorteio como critério de desempate ,a eliminação de critérios subjetivos de quali-ficação de concorrentes, a divulgação do cm-nograma previsto para a obra e para o spagamentos, e o estabelecimento de correçã omonetária em caso de atrasos de pagamento .

Multas - Muitos funcionários públicoscorruptos fazem uma verdadeira industria-lização das multas . São geralmente fiscaisque ganham muito mais recebendo subornopara não aplicar devidamente as multas ca-bíveis por infrações cometidas, do que pro-priamente pelos salários . O caminho parareduzir a corrupção nessa área passa pormecanismos de controle mais efetivo dotrabalho de fiscalização e também pela va-lorização salarial da atividade . Um funcio-nário bem pago não tem porque secorromper .

Obras Irregulares - Uma fonte rendosa

de corrupção na área municipal . E freqüen-te, numa reforma ou ampliação, o cidadãoentrar em situação irregular . A legalizaçãoé obtida com propinas aos fiscais ou a diri-gentes municipais . Ncs casos maiores, aju-da muito se o irregular contribuiu para ofundo de campanha do prefeito . Ele dificil-mente será molestado .

Obras Municipais - Com a Constitui-ção de 1988, os municípios começaram areceber verbas que não chegavam antes.Com isso, transformaram-se em ótimo sclientes para todas as empresas que prestamserviços à administração pública . Elas ago-ra se oferecem diretamente aos prefeito scomo despachantes de verbas públicas . Asempreiteiras, por exemplo, apresentam pro-jetos já se dispondo a obter a liberação deverbas estaduais e federais para realizar asobras . Até entrarem na contabilidade da sprefeituras, as verbas são devidament e"desbastadas" das diversas comissões .

Patrimônio - A venda de imóveis e ou-tros bens é um negócio milionário no rankingda maracutaia . Em muitos casos, quando avenda é anunciada, essa informação já fo ipassada até 90 dias antes a grupos "amigos" ,que têm tempo de estudar com calma e reuni ro capital necessário para a operação . Eviden-temente, eles se apresentam ao leilão em con-dições privilegiadas.

Pedágio - É o eufemismo mais recentepara designar a "comissão" . Escuta-se amiú-de em Brasília . Quem não paga pedágio, nã otrafega nos caminhos das verbas públicas .

Percentagens - A corrupção também estáinflacionada, como tudo no pais . Na época dogoverno Juscelino Kuhitschek, as "comis-sões" federais andavam em torno de 5% . 0regime militar logo subiu o índice para 7% ,até atingir 10%, por volta do início dos ano s80. De lá para cá, o índice foi saltando : che-gou a 20%, alcançou 30% e agora já se fal aem acertos fechados a 40%, ou mais . O apetiteda corrupção é insaciável .

Tribunais de Contas - Sua missão é ftsca -Gzar as gastos do poder executivo, nos trêsníveis (União, Estados e Municípios). Mas osseus membros são indicados pelo próprio poderexecutivo. Se o governante tiver uma máquin apolítica forte, que faça o seu sucessor, pode se rque ele nunca seja incomodado.

Bolsa de Valores - Campo fértil paraespeculações de autoridades federais . A auto-ridade tem amigos jogando na Bolsa e va ihaver um vencimento de opções de ações daPetrohrás, por exemplo . Se o preço da açãosuperar o valor acertado para a opção, o ven-dedor tem um grande lucro, e vice-versa . Aí aautoridade pega uma garrafa com um líquid oazul, convoca uma coletiva de Imprensa eanuncia a descoberta de um grande campo d epetróleo . As ações sobem, os amigos del eganham. E o petróleo não aparece .

Controle de Preços - Os órgãos que de-liberam sobre preços da economia brasileirasão fontes de corrupção. Há inúmeros escritó-rios montados sob a fachada de "consultorias "cuja única missão é "trabalhar" aumentos depreços. Esses escritórios são indicados quan-do o industrial procura o governo para pedi ralgum aumento em seus preços . Quem nãousar os serviços dessas "consultorias" nãoconsegue nada .

Compulsório dos Bancos - Os bancosprecisam recolher de tempos em tempos u mpercentual sobre seus depósitos àvista . Alegan -do mudanças de procedimentos, a autoridadealtera as datas de recolhimento, dando um oudois dias de vantagem a certos bancos. Com osvalores envolvidos, ganham-se milhões .

Concordatas - Um jurista do govern osolta uma regulamentação dispondo sobre acorreção monetária em concordatas . Um ad -vogado chama a Imprensa e diz que a regula-mentação é dúbia, dá margem a que não secorrija o passivo . Estabelece-se a polêmica .Um grupo de advogados ligado ao juristaoficial passa a dar atendimento a empresasconcordatárias, defendendo a não-correção dopassivo . E um grupo ligado ao advogado civilpassa a atuar na outra ponta, junto aos credo-res, defendendo a correção do passivo . Ganhequem ganhe, os advogados lucram sempre . Osdois grupos jogam articuladamente .

Conversão da Divida Externa I - Aproposta de conversão de títulos da dívid aexterna brasileira em novos investimentos nopaís já está alimentando algumas mamatas .Um título da dívida, lá fora, custa 35 centavos

ECONOMIA

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de dólar por dólar devido . Uma autoridadeanuncia aos credores externos que vai reabri ra autorização para conversão da dívida pelovalor integral, ou seja, vai pagar, em cruzeiros,um dólar por cada dólar devido . Como é umtremendo subsidio, a operação não pode se rautorizada de maneira ampla e irrestrita . As-sim, a autoridade avisa que será dada a auto-rização, mas para um número limitado decredores, que serão atendidos pela ordem d echegada de seus pedidos ao banco, para nãocaracterizar nenhum favoritismo. No dia daabertura da autorização, os bancos conchava -dos chegam primeiro, porque foram avisado spreviamente . Como o dinheiro liberado nãopode ser remetido para fora do país, há vária smaneiras legais de pagar o favor ao amigo.Pode-se convida-lo para sócio do banco es-trangeiro em um novo banco e informar que aintegralização de seu capital se dará por rein-versão dos lucros do banco.

Conversão da Dívida Externa II - Outrogolpe : a estatal brasileira tem uma dívida de250 milhões de dólares no exterior. A dívid aprecisa ser paga ao Banco Central, que depoisa remete para o banco credor. A autoridadeautoriza que a estatal compre títulos da dívidaexterna brasileira (não ligados diretamente àsua divida), por 70 milhões de dólares . Adiferença corresponde a um subsídio bancadopelo contribuinte. No exterior, há um interme-diário que adquire os títulos da dívida para aempresa estatal, recebendo comissão .

Especulação - É facílimo especular, nosmais diversos mercados, quando se tem osmecanismos da política econômica nas mãos .Por exemplo: exportadores brasileiros come-çam a comprar café no mercado futuro d eNova York. Depois de feitas as compras, um aautoridade baixa uma medida interrompendoprovisoriamente as exportações do pais, co mou sem motivo claro. Como o Brasil é u mgrande fornecedor de café, as cotações d oproduto li fora disparam . Os especuladoresvendem o café e faturam um belo lucro . Claroque eles são amigos da autoridade .

Exportações - O Brasil negocia um con -trato de reciprocidade com um exportador depetróleo, que se compromete a comprar mer-cadorias brasileiras em volume idêntico a oque nos vender de petróleo . Como gestor d oacordo, cabe ao governo escolher as empresasque serão beneficiadas pelos petrodólares. Aíentram comissões à vontade.

Importações - A liberação de guias deimportação é um manancial de maracutaias.Para consegui-las com rapidez, o interessad oé freqüentemente obrigado a pagar comissõesvariáveis, mas que raramente ficam abaixo d e10% do valor da mercadoria importada . Ess afoi a taxa que um agricultor paulista pagou noano passado, para trazer do exterior uma gran -de partida de sementes selecionadas. Se nãofizesse o acerto, perderia o prazo de plantio eas sementes não serviriam para nada .

Juros O mercado de juros é controlad opela mesa do Banco Central . No início do dia ,uma instituição começa a comprar dinheiro àvontade, devidamente acertada com uma autori -

O banco precisa pagaruma taxa a o

governo, mas a autoridadeatrasa a data

de pagamento em doisdias. Banco e

autoridade ganham milhões

dade. Mais tarde, essa autoridade ordena aooperador da mesa que compre dinheiro d omercado por uma taxa muito maior do que aque vinha praticando . Aí a instituição, cheiade dinheiro barato captado, vende o BC eembolsa a diferença. A comissão da autorida-de está assegurada.

Liquidação Extrajudicial - Um golpeclássico : o BNH garantia depósitos em poupan-ça até um determinado limite . O agente financei-ro captava o dinheiro e desviava . O bancoquebrava e entrava em processo de liquidaçãoextrajudicial . Nesse processo, sua divida eracongelada, enquanto seu patrimônio (bens imó -veis) valorizava-se. Após algum tempo, com ainflação, a dívida virava pó e o proprietáriorecebia seu patrimônio de volta quase inteiro.

Reserva de Mercado - As multinacio-nais não se limitam a pressionar o governo eo Congresso para derrubar as diversas reser-vas de mercado ainda existentes na economi abrasileira. Conhecem perfeitamente os costu-mes nacionais e sabem investir nas pessoascertas . Uma empresa da área fotográfica, qu etinha participação também numa companhiamultinacional de transporte de cargas aéreas,chegou a montar em 1986 um estúdio fotográ-fico no Congresso, para atender os parlamen-tares que disputariam a reeleição naquele ano- e, evidentemente, ganhar sua simpatia navotação da reserva de mercado no transportede cargas aéreas .

Transportes Maritimos - Para trazerdo exterior uma mercadoria, o importador éobrigado por lei a dar preferência a naviosde bandeira brasileira . Se tiver urgência d amercadoria, pode recorrer a um navio es-trangeiro ,desde que devidamente autoriza-do . Umïirlportador enfrentou exatament eesse problema . Conseguiu a autorizaçiio ,pagando uma taxa regular, e embarcou su amercadoria, perecível, num navio estrangei-ro . Dias depois, entretanto, foi chamado àrepartição que o autorizou para ser informa-do de que havia infringido a lei . E que havi aum navio do Lloyd no mesmo porto ondeestava a sua mercadoria, no dia do embar-que . Pela infração, seria multado em 400mil dólares, a menos que pagasse 50 milpara resolver o assunto de outro modo . Elepreferiu o outro modo .

POLÍCIAE JUSTIÇA

Advogado - Não saia de casa sem ele, setiver problemas com a Policia . Ele é o princi-pal agente corruptor nesse meio. Os policiaissão muito cautelosos em fazer qualquer tipode acerto com as pessoas diretamente interes-sadas, porque têm medo da quebra do sigilo.Mas confiam nos advogados . O valor da pro -pina que o advogado cobra do cliente jamaisé o mesmo que pagou ao policial . Pode atingiraté dez vezes mais e o cliente ainda vai pagaros honorários normalmente . Não imagine queapenas advogados " chave de cadeia" estã onesse esquema . Juristas e criminalistas famo-sos agem da mesma forma.

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Colarinho Verde - Policial que se cor-rompe por grandes somas. A cor do colarinhoé igual à do dólar, moeda em que opera e coma qual compra roupas caras, carro do ano ,casas de alto padrão - tudo que é incompatí-vel com o salino de um policial honesto .

Compra de Presos - Um tira de umadelegacia qualquer prende um ladrão e sabeque através dele pode localizar muitos ob-jetos roubados. Mas não tem tempo de "tra-balhar" o preso, porque um outro tira ,corrupto, paga para ficar com ele. Paga mi-lhões, às vezes. Depois de devidamente"trabalhado" no interrogatório, o preso di zao corrupto onde escondeu o produto d oroubo . O corrupto se apodera de tudo erecupera o investimento . Eventualmente,devolve alguma coisa à vitima, para preser-var a imagem de policial exemplar .

Condenados - Só em São Paulo, existemquase 100 mil mandados de prisão a seremcumpridos, por todos os tipos de crimes . Se ocondenado estiver solto e tiver dinheiro, podepermanecer livre indefmidamente, desde quenão dê o azar de ser localizado por um policialhonesto. Existem corruptos especializados emlocalizar condenados só para não prendê-los.

Delegadas Estratégicas - Certas delega -cias são ideais para negociatas . O policialcorrupto paga "passes" ou "luvas" para serdesignado para uma delas . Algumas custammilhões : aquelas situadas em locais onde hátraficantes, bicheiros, hotéis de curta perma-nência, cassinos, videopôquers, exploraçã odo lenocínio e pontos de travestis . Investe-senelas porque o retomo é considerado certo .

Depoimentos - O criminoso é capturadoe quando não dá para relaxar o flagrante, umacerto comum com o policial corrupto é natomada de seu depoimento . 0 interrogatório éfeito de maneira sutil, criando brechas queserão exploradas em juízo mais tarde, por umadvogado hábil .

Exames - O assassino cometeu o crimecom uma arma de fogo . Foi preso e serásubmetido ao exame residuográfico, na Po-lícia Técnica, que apontará vestígios de pól-vora em sua mão . Mas faz um acerto com ocorrupto e, no caminho, consegue uma pa-radinha para lavar as mãos . Ganha um laudomostrando que não foram elas que dispara-ram a arma .

Flagrante Armado - O policial corruptodescobre que um traficante tem drogas emcasa . Vai até lá, para dar o flagrante . O trafi-cante tenta negociar, ele não aceita . Mas su-gere que o sujeito chame o advogado e s eacerta com ele . Eventualmente, é o próprioadvogado do traficante que avisa um policia lamigo, para aplicar o golpe . O suborno épartilhado pelos dois .

Jogo do Bicho - É uma atividade rendosae não só para os bicheiros . A conivência daPolicia é ostensiva, que "regula" o mercad oproduzindo um número mínimo de flagrantese inquéritos. Para serem detidos, os corruptosescolhem apenas pessoas idosas, doentes o u

Certas delegacias sãoideais para

negociatas. Policiaiscorruptos

pagam milhões em luvaspara arranjar

lugar em uma delas

com deficiências físicas, o que constrange esensibiliza as autoridades judiciárias. Alémdisso, a lei exige que se faça uma prova técnicade que o coletor de apostas é realmente obicheiro apanhado: colhe-se uma amostra desua assinatura, para o confronto grafotécnicocom as apostas apreendidas. Mas os papéi ssão trocados na hora da pericia e o bicheiro éabsolvido automaticamente.

Pé-de-Chinelo - Policial que se corrom-pe por pequenas quantias . É aquele que alivi auma multa, apressa o encaminhamento de u mdocumento, prioriza um atestado, ganha gra-tificações de uma vítima de roubo etc .

Pericias - O figurão está, por exemplo ,dirigindo bêbado em alta velocidade, cruza um

sinal vermelho e atropela alguém, que mane .Para se livrar, compra os peritos e consegueum falso laudo de dosagem alcoólica, segun-do o qual a vitima é que estava embriagada.Aconteceu em São Paulo, outro dia .

IMPRENSAAssessoria Pirata - O jornalista está n a

folha de pagamentos de uma editora, porexemplo, e escreve sobre livros no jornal .Ou faz assessoria de Imprensa para um es-portista e é locutor numa emissora de rádi oou TV . Esse serviço extra veículo é feito e msigilo ou com o máximo de discrição possí-vel . Mas, obviamente, os lançamentos daeditora e as performances do esportista se-rão sempre enaltecidos .

Campanha - O representante do veículopropõe ao administrador público ou ao empre-sário algum negócio, em geral um projetoeditorial que envolva patrocínio comercial. Apessoa procurada não aceita e é perseguidapelo veículo, que abre carga contra ele atravésde notícias e comentários negativos. Aconteceainda hoje em todos os níveis da Imprensa :pequena, média ou grande.

Chantagem - O representante do veículojá propõe o negócio ao administrador públic oou ao empresário sabendo que a redação pos-sui informação negativa ou comprometedoraa seu respeito . Se o negócio for fechado, ainformação vai para a gaveta . Caso contrário,vai para a manchete .

Empregos Públicos - Ainda são umaexcelente moeda nas trocas de favores entr ejornalistas e políticos . Em geral mal pagos, osjornalistas são suscetíveis à oferta de um em -prego com horário fixo, ritmo manso e bomsalário, para complementar o orçamento. Evi-dentemente, perdem a independência . Algunsveículos - aqueles que pagam melhor - jánão aceitam que seus jornalistas tenham tam-bém um emprego público .

Mordomias - Jornalistas são extrema-mente sensíveis a mordomias que pretendempassar por simples gentileza das fontes, masque são cobradas nos momentos certos . Via-gens de avião, convites para almoços ou jan-tares em lugares elegantes, ingressos para

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shows ou peças de teatro, hospedagem gratui-ta em hotéis, convites para festas ou recepçõe sexclusivas etc . São formas sutis de seduçãoque poucos recusam . Também aqui os baixossalários influem.

Presentes - Aceitar ou não presentes da sfontes de informação é, sobretudo, uma questãode escala e de quem exatamente faz a oferta . S eo presente for valioso, normalmente é recusado ,a não ser que haja uma relação de estrita confian -ça entre o jornalista e a fonte. Já os presentessimples, de pouco valor, são aceitos sem cons-trangimentos. Quando são encaminhados pelosassessores de Imprensa - colegas -, são acei-tos com mais tranqüilidade .

O jornalista public auma notícia

que parece desinteressada.Mas recebeu

da fonte para divulgá-la.A prática é

muito comum em colunas

Plantação de Notícias - O jornalista pu-blica notícia aparentemente desinteressada ,mas recebeu da fonte para divulgá-la . Muitocomum em colunas .

Publicidade Oficial - O governo desti-na determinada percentagem do orçamentoprevisto para a publicidade oficial ao veícu-lo. Com pequenas variações, essa percent -agem se mantém . De repente, o encarregadoda publicidade oficial comunica ao veícul oque vai aumentar a sua parte . É um sina lsutil para que o veículo cubra aquele gover-no de forma mais simpática, ou "no míni-mo" que não fale mal . Isso vale para o sgrandes veículos . Para os pequenos, não hásutileza : a liberação da verba é condiciona -

da à boa vontade editorial . Todos aceitam e asinstruçõesde abrandamento do noticiário sã odevidamente passadas às redações .

PROPAGANDABV - Sigla de "Bonificação de Volume" .

É uma forma de corrupção institucionalizadana propaganda. Os veículos concedem umabonificação às agências pelo volume de verb apublicitária aplicada . Esse dinheiro, que teo-ricamente deveria ser devolvido ao anuncian-te, porque é dele a verba aplicada, éapropriado pela agência. É uma forma dosveículos garantirem a fidelidade das agências ,que os programam muito mais de olho na BVdo que no critério da "mídia técnica" (adequa-ção do veículo ao produto/serviço anunciado) .Adotada em vários países do mundo, com oFrança, Bélgica e Itália, onde gira em torno de2% dos investimentos em mídia, no Brasi latinge índices de 10 a 15%, considerados abu-sivos pelos anunciantes. A BV representa de4 a 6% do faturamento bruto das agências e éconsiderada fundamental para elas . Por ess arazão, a maioria não vê qualquer aspecto an-tiético na BV .

Concorrências - Embora não seja um aprática generalizada, há casos de suborno dasagências aos diretores de marketing ou depublicidade dos anunciantes, quando um agrande conta está em concorrência.

Fornecedores - Gráficas, clicherias, em -presas de fotocomposição, estúdios fotográfi-cos e outros fornecedores das agências sãofreqüentemente "gentis" com os contatos .Com pequenos subornos, são escolhidos parafazer os trabalhos, ainda que, numa tomada depreços, os seus não sejam os melhores .

Intermediárias - Algumas agências pré-qualificadas pelo Governo Federal, que aten-dem contas de órgãos públicos, são usadaspelo governo para a contratação de serviçosde terceiros, sem a devida licitação . Pela in-terediação, recebem comissões que varia mde 20 a 40% do serviço contratado . Isto é : járetiram da verba alocada pelo governo a su acomissão, pagando ao terceiro contratadobem menos do que o previsto pelo serviço.

Pequenas - As agências pequenas, na

relação com os veículos e com os fornecedo-res, usam a política do "vale-tudo" para con-seguir descontos, garantir preços, negocia rprazos etc . Como não têm compromisso téc-nico com os investimentos e seus clientes sã omuitas vezes pouco informados, é fácil fazero dinheiro rolar "por fora" .

Prêmios - O número de prémios conquis-tados é um dos mais reconhecidos indicadoresda competência de uma agência ou profissio-nal de propaganda . Acumulá-los é absoluta-mente fundamental . Por isso, muitos prêmiossão verdadeiras minas de ouro para seus orga-nizadores . Os candidatos pagam caro para seinscrever e geralmente são recompensados . ,

DIO ¢E TELEVISAO

BV - Pelo volume de verbas publicitáriasque a TV recebe, como veículo de maio rpenetração, ela oferece as BVs mais polpudasdo mercado. Obviamente, tem as agências depublicidade nas mãos, mas não admite que aprática da BV seja corruptora.

Comunicadores - Os apresentadores deprogramas populares de rádio, conhecidos nomeio como "comunicadores", fazem do mi-

Muitos fornecedores deagências de

propaganda são "gentis "com os contatos.

Com o suborno, conseguemser escolhidos

para fazer os trabalhos.

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Page 9: esquina; público julga a Imprensa§a de que não é exatamente Deus, mas a corrupção que é natural do país . Tem-se a impressão de que, talvez por alguma maldição satânica,

crofone um balcão de negócios, sem maioresconstrangimentos . Recebem diretamente do sanunciantes e, cada vez mais, de políticos, na scampanhas eleitorais, a que apóiam apenaspor interesse e que traem, sem cerimônias, s eo adversário pagar melhor . Na campanha paraa Prefeitura de São Paulo, em 1985, o "troca-troca" de candidatos atingiu um grau tão ele-vado que os assessores se reuniram eestabeleceram uma "tabela" conjunta, com oforma de evitar a inflação do suborno . O me-canismo fundamental de atuação dos comuni-cadores é o chamado "testemunhal" (ver) .

Concessões - Obter a concessão de um aemissora de rádio ou televisão é o sonho demuito empresário que quer ter lucros certos efazer carreira política . Por isso, não se econo-mizam "comissões" para obter dos órgãostécnicos que fazem a qualificação dos candi-datos um processo "bem encaminhado" .Como já estão rareando os canais disponíveisnas capitais, há agora uma nova modalidad ede corrupção na área . O cidadão tem um arádio nas imediações de São Paulo, po rexemplo, e conhece alguém influente . Su arádio vale 300 mil dólares, mas através d oconhecido, a quem paga devidamente um a"comissão", consegue incluí-la na categori a"especial" . Com isso, pode transferir seutransmissor e sua antena para a avenid aPaulista, no centro da capital . Na mudança,o preço da emissora pula para 2 ou 3 mi-lhões de dólares.

Entrevistas - Alguns programas de en-trevistas na televisão, que passam por jorna-lísticos, cobram cachês de convidados . Nomomento, os preços estão na faixa de 10 a 2 0mil dólares por entrevista, dependendo d oprestígio do entrevistador, do horário do pro -grama e da audiência da emissora .

Jabaculê - É um termo genérico paradesignar a corrupção no rádio, mas se aplicamais diretamente ás relações entre as grava-doras de discos e as estações . As gravadoras,geralmente multinacionais, indicam quais asmúsicas novas que devem ser executadas re-petidamente na programação, para se transfor-marem em "sucessos" . O acerto é feito com odono da rádio ou com o comunicador do ho-rário, mas neste caso o dono é informado (enão objeta) . As gravadoras controlam rigoro-samente as emissões, para posterior pagamen-to do acerto. Os artistas que editam seus discospor selos independentes sofrem para conse -

guir que sejam executados. Perambulam no scorredores das rádios e só vencem o bloquei odo jabaculê quando fazem eles mesmos umacerto com os comunicadores . O esquemavale para as grandes rádios ou para as peque -nas, da periferia .

Merchandising Pirata - Nos programasde televisão, o apresentador ou o repórter fa za sua narração ou entrevista em algum am-biente que tenha, ao fundo, a marca de u mproduto ou de um anunciante . Ao telespecta-dor, a imagem parece natural, casual, masaquele posicionamento da câmera foi acertadoe o profissional de TV levou o seu . Evidente -mente, esse esquema passa ao largo dos De -

Parece jornalismo, masnão é: algun s

programas de entrevistana televisão

cobram de 10 a 20 mil

dólares deseus "convidados "

partamentos de Merchandising das emissoras,que hoje comercializam formalmente ess etipo de publicidade sutil .

Noticiário Pago - Assim como os co-municadores alugam suas opiniões, há jor-nalistas que vendem noticiário favorável n orádio, recebendo 20% de comissão com oqualquer outro contato publicitário da em -presa . Em geral, seus clientes são político sou governantes, que recebem noticias, en-trevistas e comentários favoráveis nos pro -gramas jornalísticos . A direção da semissoras tem conhecimento e participa d oesquema, porque é sempre interessante te ruma boa relação com o mundo politico . H ádinheiro farto nesse mundo - dinheiro pú-blico, evidentemente . Já para os anuncian-

tes privados, mais consienciosos com o pró-prio dinheiro, há sempre descontos .

Prêmios aos Ouvintes - São outra formade pagar aos comunicadores pela execução demúsicas . As gravadoras bancam prêmios para o souvintes . Eles têm que acertar quantas vezesuma determinada música foi executada . Paraalimentar sua audição, os comunicadores preci-sam programar a música várias vezes e, por isso,ganham passagens de avião, estadias em hotéi sou ingressos para shows prestigiados.

Testemunhal - Tipo de anúncio publici-tário em rádio ou televisão, através do qual ocomunicador, ou apresentador de programas ,dá o seu próprio "testemunho" a respeito doproduto ou serviço anunciado, avalizando-ojunto ao público que confia em suas opiniões .Usado largamente na publicidade comercial ,é também muito procurado por políticos ouqualquer pessoa que precise formar um bo mconceito na opinião pública . O preço varia deacordo com o comunicador, o horário do pro-grama e a estação . Mas um "pacote" de váriostestemunhais pode render milhões de cruzeiroao profissional .

ESPORTEÁrbitro - No futebol, os clubes grandes

querem o título e os pequenos querem escapa rdo rebaixamento . O caminho de todos é o rnes-mo: corromper o árbitro. Pam isso, é precisoantes garantir a escalação do árbitro desejad opara o jogo que se quer veneere aí valem ofertas,prémios e jantares ao gerente do Departamentode Árbitros das federações . O mecanismo tam-bém garante os "vetos" dos clubes aos árbitrosindesejáveis (aqueles que trabalham para o ad-versário). Não é comum os corruptos trabalha-rem para dois times. Fazem aceito com um,cobrem o acerto com outro e garantem o resul-tado para quem pagar mais .

Bandeirinha - Também utilíssimo noesquema de fabricação de resultados no fu-tebol . É ele quem controla os impedimen-tos. Nos lançamentos em profundidade, éfácil para o bandeirinha identificar uma jo-gada de gol e mais fácil ainda marcar oimpedimento. É só levantar o braço, o mes-mo que pegou o dinheiro do suborno . Orisco de punição é mínimo .

IMPRENSA - AGOSTO 1991 35

Page 10: esquina; público julga a Imprensa§a de que não é exatamente Deus, mas a corrupção que é natural do país . Tem-se a impressão de que, talvez por alguma maldição satânica,

Cartola - O dirigente esportivo é o agent ecorruptor por definição no setor . E ele que mcompra as pessoas necessárias para garantir osbons resultados de seu time . Eventualmente ,é também corrupto, desviando as verbas qu eo Governo Federal aplica no esporte . Daí oenorme interesse pelo poder nas diversas ins-tâncias: clubes, federações e confederações. Ocartola também pode fazer bons negóciosacertando com a televisão a transmissão dejogos . Até hoje, ninguém sabe quanto exata-mente as emissoras de TV pagam pela trans -missão do Campeonato Brasileiro de Futebol ,por exemplo.

Confederações - Agrupam as federa-ções, que por sua vez reúnem os clubes .São o terreno privilegiado do tráfico d einfluência e das mamatas com o dinheiropúblico . Têm isenção de alguns impostose recebem verbas da Seed, do Ministéri oda Educação e Cultura, que fazem part ede um budget oficial . Isto é : ou são gastasou têm que ser devolvidas . Nunca voltam ,embora nem sempre sejam gastas no es -porte . Mas o governo não costuma ser

Suspender um campeonatoou melar uma

eleição de clube i fácil.Um mandado de

segurança está custando40 mil dólares.

Trabalha-se em feriado s

muito rigoroso nas prestações de contas . AConfederaçãodeJudõjáfoicondenadapel oTribunal de Contas da União . Mas foi umaexceção .

liminares - Para resolver um problemaesportivo no chamado "tapetão", isto é, naJustiça, os mandados de segurança são instru-mentos indispensáveis . O preço de mercadopara uma liminar está hoje em cerca de 40 mi ldólares . Algumas liminares suspendendo elei-ções ou jogos são assinadas até mesmo emferiados . Há sempre um magistrado pront opara assinar um mandado . Numa recente elei-ção na Confederação Brasileira de Futebol, aata da assembléia estava redigida desde a vés-pera . E havia também duas liminares prontaspara garantir a eleição.

Títulos Falsos - Se o esporte é poucodifundido e o campeonato acontece do outr olado do mundo, longe da Imprensa, é be mpossível voltar dizendo que se conquistou otítulo, mesmo que isso não tenha acontecido .Nenhum órgão fiscaliza as informações pres -tadas pelos atletas ou dirigentes. E um títuloajuda muito na obtenção de patrocínios. Re-centemente, aconteceram dois casos : um en -volvendo o Full Contact e outro a Vela, n aclasse Hobbie Cat 14.

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