esquerda · ilhavo 434 2.62 1,125 6.42 691 3.80 159.2 mealhada 231 2.3 712 6.53 481 4.23 208.2...

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Nº 3 | 50 CÊNTIMOS MARÇO/ABRIL 2005 BLOCO DE ESQUERDA MENSAL LÍBANO No Líbano, um movimento pacífico quer a retirada das tropas sírias. Xiitas reagem. EUA apertam o cerco a Damasco. ABORTO É altura para avançar definitivamente com o referendo do aborto. Procurar a convergência, sem ajustes de contas à esquerda. O grande salt o VITÓRIA DO BLOCO 2.44% 1999 132.333 2.75% 2002 149.543 6.38% 2005 Votação do Bloco nas legislativas: 364.407 No dia 20 de Fevereiro, o Bloco quase triplicou a sua votação. Mas o salto que deu é maior do que os números denunciam. É um salto na sua representação social e geográfica. Ter pernas para este salto é o desafio para os próximos quatro anos. Nas páginas 2 a 5: Resultados concelho a concelho Top 25 da votação bloquista Onde somos a terceira força Paulete Matos ES Q UERDA UNIR AS LUTAS, CONSTRUIR A ALTERNATIVA III Conferência de Jovens do Bloco de Esquerda Coimbra, 8/10 Abril Dep. Matemática/Universidade

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Page 1: ESQUERDA · ilhavo 434 2.62 1,125 6.42 691 3.80 159.2 mealhada 231 2.3 712 6.53 481 4.23 208.2 murtosa 64 1.43 163 3.63 99 2.20 154.7 oliveira de azemeis 531 1.44 1,853 4.72 1,322

Nº 3 | 50 CÊNTIMOS

MARÇO/ABRIL 2005BLOCO DE ESQUERDAMENSAL

LÍBANO No Líbano, um

movimento pacífico quer a retirada das

tropas sírias. Xiitas reagem. EUA apertam o

cerco a Damasco.

ABORTO É altura

para avançar definitivamente com o referendo

do aborto. Procurar a convergência, sem ajustes de

contas à esquerda.

O grande

saltoVITÓRIA DO BLOCO

2.44%

1999

132.

333

2.75%

2002

149.

543

6.38%

2005Votação do Bloco nas legislativas:

364.

407No dia 20 de Fevereiro, o Bloco quase triplicou a sua votação.

Mas o salto que deu é maior do que os números denunciam. É um salto na sua representação social e geográfica. Ter pernas para este salto é o desafio para os próximos quatro anos.

Nas páginas 2 a 5:Resultados concelho a concelhoTop 25 da votação bloquistaOnde somos a terceira força

Pau

lete

Mat

os

ESQUERDA

UNIR AS LUTAS,CONSTRUIR A ALTERNATIVA

III Conferência de Jovens do Bloco de EsquerdaCoimbra, 8/10 AbrilDep. Matemática/Universidade

Page 2: ESQUERDA · ilhavo 434 2.62 1,125 6.42 691 3.80 159.2 mealhada 231 2.3 712 6.53 481 4.23 208.2 murtosa 64 1.43 163 3.63 99 2.20 154.7 oliveira de azemeis 531 1.44 1,853 4.72 1,322

Março/Abril 2005 > 2LEGISLATIVAS 2005

ÁGUEDA 383 1.52 1,181 4.44 798 2.92 208.4ALBERG.-A-VELHA 165 1.33 546 4.21 381 2.88 230.9ANADIA 272 1.62 703 4.13 431 2.51 158.5AROUCA 170 1.29 387 2.93 217 1.64 127.6AVEIRO 1,026 2.72 2,666 6.70 1,640 3.98 159.8CASTELO DE PAIVA 103 1.15 330 3.48 227 2.33 220.4ESPINHO 462 2.23 1,300 6.02 838 3.79 181.4ESTARREJA 218 1.59 692 4.86 474 3.27 217.4ILHAVO 434 2.62 1,125 6.42 691 3.80 159.2MEALHADA 231 2.3 712 6.53 481 4.23 208.2MURTOSA 64 1.43 163 3.63 99 2.20 154.7OLIVEIRA DE AZEMEIS 531 1.44 1,853 4.72 1,322 3.28 249.0OLIVEIRA DO BAIRRO 124 1.11 328 2.84 204 1.73 164.5OVAR 711 2.73 2,086 7.33 1,375 4.60 193.4SANTA MARIA FEIRA 1,076 1.54 3,689 4.87 2,613 3.33 242.8S. JOÃO DA MADEIRA 309 2.62 790 6.20 481 3.58 155.7SEVER DO VOUGA 92 1.17 280 3.53 188 2.36 204.3VAGOS 109 1.01 252 2.28 143 1.27 131.2VALE DE CAMBRA 194 1.35 705 4.77 511 3.42 263.4

ALJUSTREL 120 2.1 302 4.99 182 2.89 151.7ALMODOVAR 102 2.29 274 6.08 172 3.79 168.6ALVITO 22 1.71 57 4.07 35 2.36 159.1BARRANCOS 6 0.61 28 2.84 22 2.23 366.7BEJA 478 2.64 1,187 6.08 709 3.44 148.3CASTRO VERDE 115 3.19 289 7.29 174 4.10 151.3CUBA 34 1.26 85 3.08 51 1.82 150.0FERR. DO ALENTEJO 93 1.87 211 4.08 118 2.21 126.9MÉRTOLA 64 1.32 202 3.99 138 2.67 215.6MOURA 95 1.36 284 3.60 189 2.24 198.9ODEMIRA 219 1.62 660 4.60 441 2.98 201.4OURIQUE 49 1.37 69 1.93 20 0.56 40.8SERPA 111 1.34 334 3.83 223 2.49 200.9VIDIGUEIRA 54 1.65 162 4.77 108 3.12 200.0

AMARES 139 1.36 359 3.35 220 1.99 158.3BARCELOS 1,104 1.63 2,964 4.20 1,860 2.57 168.5BRAGA 2,532 2.87 6,272 6.59 3,740 3.72 147.7CAB. DE BASTO 74 0.71 157 1.52 83 0.81 112.2CELORICO DE BASTO 69 0.62 257 2.28 188 1.66 272.5ESPOSENDE 248 1.37 807 4.25 559 2.88 225.4FAFE 318 1.11 1,090 3.57 772 2.46 242.8GUIMARÃES 1,405 1.64 4,768 5.16 3,363 3.52 239.4POVOA DE LANHOSO 102 0.8 278 2.15 176 1.35 172.5TERRAS DE BOURO 42 0.83 108 2.12 66 1.29 157.1VIEIRA DO MINHO 100 1.15 266 3.09 166 1.94 166.0V. NOVA FAMALICAO 1,107 1.57 3,397 4.49 2,290 2.92 206.9VILA VERDE 265 1.05 758 2.91 493 1.86 186.0VIZELA 130 1.17 706 5.46 576 4.29 443.1

ALFANDEGA DA FE 27 0.7 49 1.31 22 0.61 81.5BRAGANÇA 249 1.36 686 3.71 437 2.35 175.5CARRAZEDA ANSIAES 34 0.74 79 1.86 45 1.12 132.4FREIXO ESP. A CINTA 10 0.4 40 1.66 30 1.26 300.0MACEDO CAVALEIROS 96 0.99 211 2.14 115 1.15 119.8MIRANDA DO DOURO 44 0.92 98 2.10 54 1.18 122.7MIRANDELA 103 0.74 333 2.41 230 1.67 223.3MOGADOURO 36 0.53 94 1.43 58 0.90 161.1TORRE DE MONCORVO 74 1.26 131 2.35 57 1.09 77.0VILA FLOR 34 0.72 110 2.41 76 1.69 223.5VIMIOSO 25 0.74 53 1.66 28 0.92 112.0VINHAIS 57 0.88 140 2.34 83 1.46 145.6

BELMONTE 38 1.02 146 3.68 108 2.66 284.2CASTELO BRANCO 597 1.93 1,561 4.82 964 2.89 161.5COVILHA 518 1.68 1,351 4.05 833 2.37 160.8FUNDAO 310 1.79 749 4.07 439 2.28 141.6IDANHA-A-NOVA 55 0.77 149 2.05 94 1.28 170.9OLEIROS 24 0.52 65 1.48 41 0.96 170.8PENAMACOR 37 0.99 96 2.53 59 1.54 159.5PROENÇA-A-NOVA 42 0.7 140 2.36 98 1.66 233.3SERTÃ 59 0.58 268 2.73 209 2.15 354.2VILA DE REI 16 0.68 58 2.51 42 1.83 262.5VILA VELHA DE RODAO 13 0.45 61 2.27 48 1.82 369.2

ARGANIL 90 1.15 201 2.60 111 1.45 123.3CANTANHEDE 326 1.6 863 4.21 537 2.61 164.7COIMBRA 2,910 3.65 7,367 8.77 4,457 5.12 153.2CONDEIXA-A-NOVA 179 2.48 502 6.61 323 4.13 180.4FIGUEIRA DA FOZ 934 2.91 2,696 7.75 1,762 4.84 188.7GOIS 32 1.12 83 2.97 51 1.85 159.4LOUSÃ 223 2.69 596 6.63 373 3.94 167.3MIRA 118 1.64 311 4.19 193 2.55 163.6MIRANDA DO CORVO 114 1.71 349 4.93 235 3.22 206.1MONTEMOR-O-VELHO 208 1.65 705 5.27 497 3.62 238.9OLIVEIRA HOSPITAL 105 0.88 326 2.63 221 1.75 210.5PAMPILHOSA SERRA 24 0.76 64 2.13 40 1.37 166.7PENACOVA 100 1.12 273 3.01 173 1.89 173.0PENELA 31 0.86 95 2.67 64 1.81 206.5SOURE 197 1.69 698 5.87 501 4.18 254.3TABUA 66 0.99 174 2.61 108 1.62 163.6VILA NOVA POIARES 66 1.9 139 3.76 73 1.86 110.6

ALANDROAL 20 0.55 88 2.29 68 1.74 340.0ARRAIOLOS 62 1.44 192 4.27 130 2.83 209.7BORBA 65 1.46 219 4.69 154 3.23 236.9ESTREMOZ 155 1.87 372 4.23 217 2.36 140.0EVORA 701 2.44 1,825 5.95 1,124 3.51 160.3MONTEMOR-O-NOVO 166 1.56 432 3.94 266 2.38 160.2MORA 38 1.13 122 3.48 84 2.35 221.1MOURAO 8 0.5 62 3.85 54 3.35 675.0PORTEL 35 0.93 93 2.37 58 1.44 165.7REDONDO 87 2.45 223 5.85 136 3.40 156.3REGUENGOS DE MONSARAZ 80 1.52 213 3.67 133 2.15 166.3VENDAS NOVAS 102 1.59 299 4.39 197 2.80 193.1

AVEIRO V % V % AV A% TXACONCELHO 2002 2005 VAR. 2002/2005

BEJA V % V % AV A% TXA

BRAGA V % V % AV A% TXA

BRAGANÇA V % V % AV A% TXA

CAST. BRANCO V % V % AV A% TXA

COIMBRA V % V % AV A% TXA

ÉVORA V % V % AV A% TXA

Onde somos a 3ª forçaABRANTES 1826 7.52ALBUFEIRA 1057 7.34CASTRO MARIM 221 5.68COIMBRA 7367 8.77ENTRONCAMENTO 1378 12.80FARO 2827 9.07FIGUEIRA DA FOZ 2696 7.75LAGOA 770 7.81LAGOS 1110 8.44LOUSÃ 596 6.63MAIA 5657 8.18MATOSINHOS 8340 8.76MEALHADA 712 6.53MIRANDA DO CORVO 349 4.93MONCHIQUE 241 5.83NAZARÉ 628 8.05

OLHÃO 1484 8.03OVAR 2086 7.33PONTA DELGADA 890 3.92PORTIMÃO 2338 9.42POVOACÃO 55 1.88RIBEIRA GRANDE 312 3.54SAO BRÁS ALPORTEL 308 6.31SINTRA 17426 10.21SOURE 698 5.87TAVIRA 896 6.87TORRES NOVAS 1871 8.72VALONGO 3649 7.36VILA DO BISPO 197 7.22VILA DO PORTO 61 3.36VILA NOVA DE GAIA 13053 8.01VIZELA 706 5.46

CONCELHO VOTOS % CONCELHO VOTOS %

Pau

lete

Mat

os

QUADRO DE RESULTADOS POR CONCELHO COMPARADOS COM AS LEGISLATIVAS DE 2002V - Nº DE VOTOS OBTIDOS % - PERCENTAGEM DOS VOTOS�AV - VARIAÇÃO DO Nº DE VOTOS EM RELAÇÃO A 2002

A% - VARIAÇÃO DA PERCENTAGEM EM RELAÇÃO A 2002 TXA- TAXA DE CRESCIMENTO DO RESULTADO EM RELAÇÃO A 2002

ELEIÇÃO VOTOS % VOTOS % VOTOS % VOTOS % VOTOS %

1999 2,385,922 44.06 1,750,158 32.32 487,058 8.99 451,643 8.34 132,333 2.44

2002 2,055,986 37.84 2,181,672 40.15 378,640 6.97 475,515 8.75 149,543 2.75

2005 2,573,406 45.05 1,639,240 28.7 432,000 7.56 414,922 7.26 364,407 6.38

PS PSD PCP-PEV PP BE

De 1999 a 2005O único sempre a crescer

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3 > Março/Abril 2005

EDITORIAL | Ana Drago

Os caminhos do Bloco

O Bloco saiu destas eleições com um reforço ex-traordinário de votação e desiludiu os que lhe tinham vaticinado vida breve e passagem fugaz pela representação parlamentar. Mais do que

duplicou a sua votação, quase triplicou o número de mandatos na AR, colheu simpatia e confi ança um pouco por todo país, diversifi cou a base etária e social dos seus votantes. Agora, trata-se de fazer justiça à esperança que em nós foi depositada. Há dois caminhos que o Bloco tem que saber trilhar com a energia e a combatividade que sempre fez o nosso percurso.

O primeiro é, sem mais, um combate pela dignidade e pela democracia social. Far-se-à nas bancadas do Parla-mento e nos movimentos sociais democráticos, porque todos os lugares são espaço de luta privilegiado para res-ponder à crise social e económica que se vive em Portu-gal. Até porque é hoje claro que os “atrasos estruturais” na democracia portuguesa se somam e multiplicam en-tre si: vivemos uma crise de vocação produtiva e uma crise de sustentação social dos direitos sociais e laborais, uma crise que coloca em risco o que nos defi niu como regime político e social democrático.

E aqui não haverá espaço para meias respostas. Até porque a modernização económica conservadora, as-sente em baixos salários, dependente dos favores e dos subsídios do Estado, não tem mais sustentação.

A agenda está desde logo defi nida: revogar o Código de Trabalho e substitui-lo por uma legislação que con-sagre a cidadania nas relações de trabalho, lançar políti-cas de modernização e inovação nas empresas e avançar com políticas sérias e sustentadas de qualifi cação dos trabalhadores.

Os números obscenos da pobreza, da desigualdade de rendimentos e de fraude generalizada no fi sco exigem que sigamos a passo rápido para políticas redistributi-vas. Que começam pelo combate à evasão fi scal e devem seguir pela recuperação do Rendimento Mínimo Garan-tido e qualifi cação das prestações sociais. E pelo cami-nho está a qualifi cação e democratização do Estado So-cial e dos serviços públicos. Não há espaço de cidadania democrática que possa respirar e crescer em Portugal se na saúde, na educação e nos serviços públicos não im-perar uma política pública de exigência e qualidade.

O segundo caminho é diverso, mas corre a par da agen-da política. O Bloco tem que ser mais do que oposição parlamentar: tem que ser movimento e força social. Tem que crescer e organizar-se como espaço de participação e exercício da cidadania política. Saber ouvir, criar espaço de participação, lançar as bases de movimentos sociais assentes em propostas fortes de mudança e democrati-zação. O tempo urge. Como sempre, aliás.

Oaumento de participação foi notado logo de manhã, no dia das eleições. Sentia-se que a

viragem estava a começar. Ape-sar do recenseamento ter cresci-do com 70 mil novos eleitores, a abstenção diminuiu de 38 para 35 por cento. Há dez anos que isto não acontecia, desde a queda do PSD em 1995, e a coincidência dos sinais parecia fazer algum sentido.

A expressiva derrota dos par-tidos da coligação governamen-tal da direita e o facto de 59 por cento dos votantes terem opta-do pelos partidos à esquerda do governo, traduziram nas urnas a vontade popular de uma vira-gem na política.

O PS arrecadou uma subi-da acentuada de votação e al-cançou, com 121 mandatos, a maioria absoluta de deputados na nova Assembleia da Repúbli-

ca. Depois de ter perdido as Le-gislativas de 2002, penalizado pelo guterrismo, o PS consegue capitalizar parte do desconten-tamento gerado pelas políticas da direita e formar um governo monocolor.

Tanto o PSD como o PP foram confrontados com um verdadei-ro desastre eleitoral. Perderam, em conjunto, mais de 600 mil votos e 29 deputados. A alterna-tiva neoliberal comandada pelo PSD/PP desfez-se em três anos e atirou a direita para uma das suas maiores crises de sempre.

A coligação PCP-PEV obteve 7,5 por cento dos votos e um crescimento de 0,6 por cento em relação a 2002. A CDU con-seguiu suster a quebra eleitoral, num patamar inferior ao do re-sultado de 1999, e ganhar mais dois deputados.

O Bloco de Esquerda mul-tiplicou por 2,5 os votos das últimas legislativas e o gru-po parlamentar passa a contar

com 8 deputados, em paridade. A eleição de deputados do BE por Aveiro e Braga, que teriam sido ganhos ao PS e ao PSD, fi cou a menos de um voto por freguesia em cada um daqueles distritos (cerca de 200 e 400 votos, respectivamente). O BE superou os resultados de 1999 e foi o partido que mais cresceu neste período, em termos abso-lutos e relativos.

Os ganhos dos três partidos com crescimento positivo são superiores às perdas do PSD e do PP. Sem margem para qual-quer dúvida, parte desse cresci-mento terá vindo de anteriores abstencionista e de votantes pela primeira vez. Contudo, os primeiros dados indicam uma signifi cativa “mobilidade” do voto, com muitos eleitores a mudarem o sentido da sua opção em relação a eleições an-teriores. Por outro lado, tanto o PCP-PEV como o BE conse-guiram, no essencial, resistir à

ENTRONCAMENTO 1378 12.80MARINHA GRANDE 2291 11.49SETUBAL 6791 11.40MOITA 3930 11.12BARREIRO 5349 11.04SEIXAL 7990 10.56SESIMBRA 2205 10.44ALMADA 9584 10.29SINTRA 17426 10.21PALMELA 2605 9.90OEIRAS 9223 9.89PORTIMAO 2338 9.42AMADORA 8810 9.37

VILA FRANCA DE XIRA 6170 9.27SINES 614 9.14FARO 2827 9.07ODIVELAS 6754 8.95MONTIJO 1836 8.93ALCOCHETE 627 8.84COIMBRA 7367 8.77MATOSINHOS 8340 8.76TORRES NOVAS 1871 8.72LISBOA 30651 8.71SALVATERRA MAGOS 843 8.57LAGOS 1110 8.44

CONCELHO VOTOS % CONCELHO VOTOS %

Top 25 As melhores votações

Blocomais fortee socialmente mais representativoTexto de Pedro Soares

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Março/Abril 2005 > 4

ÉVORA V % V % AV A% TXACONCELHO 2002 2005 VAR. 2002/2005

VIANA DO ALENTEJO 42 1.59 131 4.38 89 2.79 211.9VILA VICOSA 50 1.14 192 3.94 142 2.80 284.0

ALBUFEIRA 313 2.47 1,057 7.34 744 4.87 237.7ALCOUTIM 21 0.94 67 3.16 46 2.22 219.0ALJEZUR 64 2.46 167 6.19 103 3.73 160.9CASTRO MARIM 60 1.56 221 5.68 161 4.12 268.3FARO 1,048 3.65 2,827 9.07 1,779 5.42 169.8LAGOA 229 2.46 770 7.81 541 5.35 236.2LAGOS 408 3.31 1,110 8.44 702 5.13 172.1LOULE 683 2.6 1,861 6.55 1,178 3.95 172.5MONCHIQUE 78 1.88 241 5.83 163 3.95 209.0OLHAO 407 2.42 1,484 8.03 1,077 5.61 264.6PORTIMAO 840 3.59 2,338 9.42 1,498 5.83 178.3SAO BRAS ALPORTEL 84 1.88 308 6.31 224 4.43 266.7SILVES 337 2.12 1,098 6.40 761 4.28 225.8TAVIRA 311 2.52 896 6.87 585 4.35 188.1VILA DO BISPO 82 3.14 197 7.22 115 4.08 140.2V. REAL STO ANTONIO 189 2.33 674 7.57 485 5.24 256.6

AGUIAR DA BEIRA 19 0.51 67 1.90 48 1.39 252.6ALMEIDA 50 0.96 151 3.01 101 2.05 202.0CELORICO DA BEIRA 54 1.11 178 3.56 124 2.45 229.6FIG.CASTELO RODRIGO 21 0.51 75 1.91 54 1.40 257.1FORNOS DE ALGODRES 30 0.86 68 1.97 38 1.11 126.7GOUVEIA 102 1.12 330 3.65 228 2.53 223.5GUARDA 417 1.79 1,156 4.71 739 2.92 177.2MANTEIGAS 27 1.21 84 3.58 57 2.37 211.1MEDA 43 1.12 60 1.65 17 0.53 39.5PINHEL 79 1.33 163 2.65 84 1.32 106.3SABUGAL 97 1.13 275 3.56 178 2.43 183.5SEIA 176 1.15 550 3.52 374 2.37 212.5TRANCOSO 70 1.11 153 2.45 83 1.34 118.6VILA NOVA DE FOZ COA 58 1.17 129 2.69 71 1.52 122.4

ALCOBACA 589 1.95 1,599 5.08 1,010 3.13 171.5ALVAIAZERE 34 0.68 75 1.58 41 0.90 120.6ANSIAO 68 0.82 163 2.01 95 1.19 139.7BATALHA 151 1.78 371 4.33 220 2.55 145.7BOMBARRAL 132 1.91 322 4.52 190 2.61 143.9CALDAS DA RAINHA 646 2.74 1,668 6.76 1,022 4.02 158.2CASTANHEIRA DE PERA 25 1.15 48 2.17 23 1.02 92.0FIGUEIRO DOS VINHOS 31 0.67 89 1.93 58 1.26 187.1LEIRIA 1,564 2.47 3,800 5.68 2,236 3.21 143.0MARINHA GRANDE 713 3.9 2,291 11.49 1,578 7.59 221.3NAZARE 256 3.5 628 8.05 372 4.55 145.3OBIDOS 91 1.6 299 5.03 208 3.43 228.6PEDROGAO GRANDE 17 0.61 42 1.57 25 0.96 147.1PENICHE 282 2.22 714 5.44 432 3.22 153.2POMBAL 437 1.65 1,064 3.85 627 2.20 143.5PORTO DE MOS 261 1.98 615 4.53 354 2.55 135.6

ALENQUER 476 2.41 1,265 6.01 789 3.60 165.8AMADORA 4,359 4.77 8,810 9.37 4,451 4.60 102.1ARRUDA DOS VINHOS 153 2.98 406 7.18 253 4.20 165.4AZAMBUJA 351 3.32 867 7.70 516 4.38 147.0CADAVAL 130 1.77 338 4.43 208 2.66 160.0CASCAIS 4,121 4.59 7,958 8.39 3,837 3.80 93.1LISBOA 18,046 5.11 30,651 8.71 12,605 3.60 69.8LOURES 4,414 4.18 8,868 8.05 4,454 3.87 100.9LOURINHA 249 2.01 572 4.50 323 2.49 129.7MAFRA 761 2.98 1,935 6.89 1,174 3.91 154.3ODIVELAS 3,117 4.32 6,754 8.95 3,637 4.63 116.7OEIRAS 5,282 5.92 9,223 9.89 3,941 3.97 74.6SINTRA 7,782 4.96 17,426 10.21 9,644 5.25 123.9SOBRAL MT. AGRAÇO 122 3.05 301 6.71 179 3.66 146.7TORRES VEDRAS 1,041 2.82 2,361 6.10 1,320 3.28 126.8VILA FRANCA XIRA 2,634 4.35 6,170 9.27 3,536 4.92 134.2

ALTER DO CHAO 34 1.48 89 4.09 55 2.61 161.8ARRONCHES 22 1.18 60 3.14 38 1.96 172.7AVIS 44 1.44 138 4.51 94 3.07 213.6CAMPO MAIOR 53 1.26 209 4.68 156 3.42 294.3CASTELO DE VIDE 44 2.13 114 5.27 70 3.14 159.1CRATO 31 1.21 76 2.96 45 1.75 145.2ELVAS 202 1.84 655 5.44 453 3.60 224.3FRONTEIRA 28 1.18 100 4.32 72 3.14 257.1GAVIAO 35 1.19 115 4.00 80 2.81 228.6MARVAO 28 1.24 90 3.89 62 2.65 221.4MONFORTE 40 2.08 79 3.92 39 1.84 97.5NISA 61 1.21 196 3.84 135 2.63 221.3PONTE DE SOR 145 1.54 487 4.92 342 3.38 235.9PORTALEGRE 276 1.95 744 5.03 468 3.08 169.6SOUSEL 29 0.87 112 3.38 83 2.51 286.2

AMARANTE 489 1.67 1,265 4.14 776 2.47 158.7BAIAO 56 0.5 202 1.71 146 1.21 260.7FELGUEIRAS 278 0.97 1,213 3.97 935 3.00 336.3GONDOMAR 2,450 2.87 7,178 7.80 4,728 4.93 193.0LOUSADA 207 1.01 770 3.43 563 2.42 272.0MAIA 2,098 3.34 5,657 8.18 3,559 4.84 169.6MARCO DE CANAVESES 249 1.04 901 3.55 652 2.51 261.8MATOSINHOS 3,253 3.71 8,340 8.76 5,087 5.05 156.4PACOS DE FERREIRA 240 0.93 749 2.71 509 1.78 212.1PAREDES 441 1.04 1,625 3.54 1,184 2.50 268.5PENAFIEL 466 1.23 1,491 3.73 1,025 2.50 220.0PORTO 6,421 4.1 13,512 8.42 7,091 4.32 110.4POVOA DE VARZIM 699 2.26 1,753 5.51 1,054 3.25 150.8SANTO TIRSO 685 1.68 2,212 5.11 1,527 3.43 222.9TROFA 301 1.49 1,077 4.92 776 3.43 257.8VALONGO 1,185 2.68 3,649 7.36 2,464 4.68 207.9VILA DO CONDE 883 2.26 2,330 5.67 1,447 3.41 163.9VILA NOVA DE GAIA 4,797 3.2 13,053 8.01 8,256 4.81 172.1

ABRANTES 736 3.15 1,826 7.52 1,090 4.37 148.1ALCANENA 183 2.23 523 6.22 340 3.99 185.8ALMEIRIM 266 2.44 636 5.40 370 2.96 139.1ALPIARCA 104 2.43 209 4.63 105 2.20 101.0BENAVENTE 344 3.48 912 8.11 568 4.63 165.1CARTAXO 380 3.17 993 7.78 613 4.61 161.3CHAMUSCA 113 1.98 319 5.11 206 3.13 182.3

FARO V % V % AV A% TXA

GUARDA V % V % AV A% TXA

LEIRIA V % V % AV A% TXA

LISBOA V % V % AV A% TXA

PORTALEGRE V % V % AV A% TXA

PORTO V % V % AV A% TXA

SANTARÉM V % V % AV A% TXA

erosão que o PS esperava provocar pelo efeito do “voto útil” para der-rotar Santana Lopes.

VOTO POPULAR E MAIS UNIFORME NO

TERRITÓRIOApesar do crescimento eleitoral

ter ocorrido nas três forças à es-querda, a taxa de crescimento do Bloco foi superior à de qualquer outro partido. Na maior parte dos círculos eleitorais, o Bloco passou a quarta força política, à frente do PCP-PEV na Madeira, Açores, Aveiro, Bragança, Guarda, Leiria, Porto, Viana do Castelo e Viseu, e do PP, em Beja, Évora, Lisboa, Portalegre e Setúbal. Em Faro e Coimbra foi o terceiro partido mais votado, à frente do PCP-PEV e do PP.

Em 70 por cento dos concelhos do país o BE já é o quarto partido mais votado e em mais de 10 por cento passou a terceira força polí-tica, num total de 250 municípios. O concelho com maior votação relativa no Bloco foi o Entronca-mento (12,8%), seguido da Mari-nha Grande (11,5%) e de Setúbal (11,4%). Com maior número de votos, foram Lisboa (30.651), Sin-tra (17.426) e Porto (13.512). As maiores taxas de crescimento de-ram-se nos concelhos de Mourão, Vizela e Lajes das Flores. O Corvo (Açores) é o único concelho onde a variação foi negativa - o Bloco perdeu 1 voto.

Os resultados eleitorais permi-tem perceber que o voto no Bloco deixou de estar excessivamente concentrado nalguns concelhos das áreas metropolitanas de Lis-boa e Porto e passou a distribuir-se de forma mais equilibrada por todo o país. No conjunto das freguesias com menos de 5 mil eleitores, o BE obtém agora cerca de 230 mil votos e uma média de 8,5 por cento, enquanto que nas

freguesias com mais de 5 mil elei-tores alcança quase 140 mil votos e uma média de 5,7 por cento. De notar que, em 2002, a maior parte dos votos do Bloco foi conseguida nas freguesias com mais de 5 mil eleitores (93 mil votos).

Para além de um voto muito ex-pressivo nos grandes centros me-tropolitanos, o Bloco passou a ter votações consideráveis em muitos concelhos da generalidade dos distritos e regiões autónomas, com crescimento também signifi cativo em áreas com características ru-rais ou semi-rurais. Em todos os distritos há concelhos que dupli-caram ou triplicaram a votação no Bloco, não só nos que predomi-nam os sectores dos serviços, mas também naqueles onde a indústria transformadora mantém um peso importante (S. João da Madeira, Vila Nova de Famalicão, Guima-rães, Marinha Grande, etc.). O voto no Bloco afi rmou-se pela sua diversidade popular.

A apreciação dos resultados por mesa de voto em várias fregue-sias, indica que se mantém um perfi l caracteristicamente jovem do voto no Bloco. Com muita frequência, o Bloco atinge os dois dígitos nas percentagens de voto das mesas mais jovens. Porém, de-vido ao crescimento que ocorreu nas mesas de eleitores com mais idade, nota-se uma diminuição da disparidade entre mesas “mais ve-lhas” e mesas “mais jovens”, que também indicia uma crescente volatilidade do voto. Esta nova capacidade de atracção em relação a sectores do eleitorado que têm uma história de voto mais longa e, naturalmente, noutros partidos, tornou o Bloco mais representati-vo e transversal em termos etários e sociais. Tendencialmente, pa-rece confi rmar-se a ideia de que nenhum partido é dono dos votos dos “seus” eleitores.

Esta nova capacidade de atracção em relação a sectores do eleitorado que têm uma história de voto mais longa e, naturalmente, noutros partidos, tornou o Bloco mais representativo e transversal em termos etários e sociais.

Pau

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Mat

os

LEGISLATIVAS 2005

Page 5: ESQUERDA · ilhavo 434 2.62 1,125 6.42 691 3.80 159.2 mealhada 231 2.3 712 6.53 481 4.23 208.2 murtosa 64 1.43 163 3.63 99 2.20 154.7 oliveira de azemeis 531 1.44 1,853 4.72 1,322

5 > Março/Abril 2005

CONSTANCIA 40 1.88 155 6.73 115 4.85 287.5CORUCHE 173 1.48 566 4.73 393 3.25 227.2ENTRONCAMENTO 629 6.44 1,378 12.80 749 6.36 119.1FERREIRA DO ZEZERE 45 0.82 185 3.37 140 2.55 311.1GOLEGA 66 2.29 183 6.02 117 3.73 177.3MACAO 75 1.27 213 3.73 138 2.46 184.0OUREM 318 1.28 824 3.30 506 2.02 159.1RIO MAIOR 187 1.66 518 4.48 331 2.82 177.0SALVATERRA MAGOS 508 5.78 843 8.57 335 2.79 65.9SANTAREM 962 2.81 2,240 6.26 1,278 3.45 132.8SARDOAL 54 2.01 153 5.50 99 3.49 183.3TOMAR 624 2.58 1,723 6.94 1,099 4.36 176.1TORRES NOVAS 831 4.04 1,871 8.72 1,040 4.68 125.2VILA NOVA BARQUINHA 125 3.03 322 7.52 197 4.49 157.6

ALCACER DO SAL 188 2.54 462 5.71 274 3.17 145.7ALCOCHETE 211 3.38 627 8.84 416 5.46 197.2ALMADA 4,598 5.22 9,584 10.29 4,986 5.07 108.4BARREIRO 2,112 4.67 5,349 11.04 3,237 6.37 153.3GRANDOLA 213 2.53 491 5.64 278 3.11 130.5MOITA 1,596 4.86 3,930 11.12 2,334 6.26 146.2MONTIJO 668 3.53 1,836 8.93 1,168 5.40 174.9PALMELA 869 3.77 2,605 9.90 1,736 6.13 199.8SANTIAGO DO CACEM 567 3.52 1,367 7.89 800 4.37 141.1SEIXAL 3,242 4.7 7,990 10.56 4,748 5.86 146.5SESIMBRA 820 4.47 2,205 10.44 1,385 5.97 168.9SETUBAL 2,888 5.27 6,791 11.40 3,903 6.13 135.1SINES 256 4.25 614 9.14 358 4.89 139.8

ARCOS DE VALDEVEZ 129 0.97 343 2.65 214 1.68 165.9CAMINHA 230 2.36 532 5.32 302 2.96 131.3MELGACO 57 1.1 123 2.45 66 1.35 115.8MONCAO 165 1.55 405 3.68 240 2.13 145.5PAREDES DE COURA 84 1.65 246 4.81 162 3.16 192.9PONTE DA BARCA 78 1.06 162 2.29 84 1.23 107.7PONTE DE LIMA 283 1.1 791 3.00 508 1.90 179.5VALENCA 82 1.11 240 3.20 158 2.09 192.7VIANA DO CASTELO 1,252 2.53 3,344 6.44 2,092 3.91 167.1VILA NOVA CERVEIRA 88 1.67 226 4.34 138 2.67 156.8

ALIJO 83 1.03 182 2.27 99 1.24 119.3BOTICAS 11 0.26 41 1.05 30 0.79 272.7CHAVES 226 0.92 596 2.46 370 1.54 163.7MESAO FRIO 21 0.81 60 2.15 39 1.34 185.7MONDIM DE BASTO 34 0.76 85 1.90 51 1.14 150.0MONTALEGRE 47 0.59 133 1.72 86 1.13 183.0MURCA 44 1.08 92 2.40 48 1.32 109.1PESO DA REGUA 126 1.35 334 3.46 208 2.11 165.1RIBEIRA DE PENA 12 0.27 29 0.63 17 0.36 141.7SABROSA 24 0.57 77 1.90 53 1.33 220.8STA MARTA PENAGUIAO 30 0.58 135 2.61 105 2.03 350.0VALPACOS 48 0.4 127 1.22 79 0.82 164.6VILA POUCA DE AGUIAR 43 0.5 146 1.66 103 1.16 239.5VILA REAL 364 1.31 970 3.42 606 2.11 166.5

ARMAMAR 22 0.52 96 2.41 74 1.89 336.4CARREGAL DO SAL 61 1.13 159 2.90 98 1.77 160.7CASTRO DAIRE 82 0.95 171 1.97 89 1.02 108.5CINFAES 86 0.8 271 2.50 185 1.70 215.1LAMEGO 228 1.45 502 3.12 274 1.67 120.2MANGUALDE 128 1.19 373 3.39 245 2.20 191.4MOIMENTA DA BEIRA 65 1.11 149 2.53 84 1.42 129.2MORTAGUA 102 1.89 193 3.67 91 1.78 89.2NELAS 161 2.23 261 3.65 100 1.42 62.1OLIVEIRA DE FRADES 74 1.28 170 2.90 96 1.62 129.7PENALVA DO CASTELO 60 1.23 126 2.56 66 1.33 110.0PENEDONO 31 1.8 56 3.11 25 1.31 80.6RESENDE 36 0.51 99 1.40 63 0.89 175.0SANTA COMBA DAO 106 1.54 240 3.51 134 1.97 126.4SAO JOAO PESQUEIRA 39 0.91 135 3.11 96 2.20 246.2SAO PEDRO DO SUL 139 1.35 358 3.43 219 2.08 157.6SATAO 62 0.85 159 2.15 97 1.30 156.5SERNANCELHE 29 0.77 74 1.99 45 1.22 155.2TABUACO 35 0.89 86 2.26 51 1.37 145.7TAROUCA 44 1.11 94 2.28 50 1.17 113.6TONDELA 217 1.2 571 3.17 354 1.97 163.1VILA NOVA DE PAIVA 32 1.05 94 3.09 62 2.04 193.8VISEU 1,092 2.28 2,481 4.81 1,389 2.53 127.2VOUZELA 86 1.31 211 3.17 125 1.86 145.3

ANGRA DO HEROISMO 250 1.75 511 3.47 261 1.72 104.4CALHETA 11 0.57 18 1.00 7 0.43 63.6STA CRUZ DA GRACIOSA 14 0.64 21 1.02 7 0.38 50.0VELAS 39 1.57 48 1.95 9 0.38 23.1VILA PRAIA DA VITORIA 64 0.76 208 2.50 144 1.74 225.0CORVO 7 2.72 6 2.74 -1 0.02 -14.3HORTA 66 1.06 164 2.64 98 1.58 148.5LAJES DAS FLORES 3 0.4 16 2.10 13 1.70 433.3LAJES DO PICO 24 0.98 27 1.23 3 0.25 12.5MADALENA 19 0.68 40 1.52 21 0.84 110.5STA CRUZ DAS FLORES 8 0.86 22 2.43 14 1.57 175.0S. ROQUE DO PICO 18 1.08 23 1.45 5 0.37 27.8LAGOA 47 1.16 123 2.70 76 1.54 161.7NORDESTE 20 0.69 48 1.71 28 1.02 140.0PONTA DELGADA 410 1.91 890 3.92 480 2.01 117.1POVOACAO 30 1.04 55 1.88 25 0.84 83.3RIBEIRA GRANDE 173 2.06 312 3.54 139 1.48 80.3VILA FRANCA DO CAMPO 26 0.68 68 1.69 42 1.01 161.5VILA DO PORTO 40 2.15 61 3.36 21 1.21 52.5

CALHETA 61 0.99 97 1.44 36 0.45 59.0CAMARA DE LOBOS 252 1.91 383 2.44 131 0.53 52.0FUNCHAL 2,669 4.7 3177 5.15 508 0.45 19.0MACHICO 163 1.52 274 2.35 111 0.83 68.1PONTA DO SOL 69 1.55 120 2.47 51 0.92 73.9PORTO MONIZ 20 0.97 21 1.00 1 0.03 5.0PORTO SANTO 19 0.77 47 1.71 28 0.94 147.4RIBEIRA BRAVA 158 2.41 158 2.20 0 -0.21 0.0SANTA CRUZ 394 2.7 821 4.41 427 1.71 108.4SANTANA 69 1.39 115 2.16 46 0.77 66.7S. VICENTE 60 1.81 50 1.41 -10 -0.40 -16.7

SANTARÉM V % V % AV A% TXACONCELHO 2002 2005 VAR. 2002/2005

SETÚBAL V % V % AV A% TXA

VIANA DO CASTELO V % V % AV A% TXA

VILA REAL V % V % AV A% TXA

VISEU V % V % AV A% TXA

AÇORES V % V % AV A% TXA

MADEIRA V % V % AV A% TXA

A NOVA BANCADA PARLAMENTAR DO BLOCO

FRANCISCO LOUÇÃ

LUÍS FAZENDA

ANA DRAGO

HELENA PINTO

JOÃO TEIXEIRA LOPES

ALDA MACEDO

FERNANDO ROSAS

MARIANA AIVECA

48 anos, doutorado em Economia, professor associado no Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade Técnica de Lisboa. Deputado em 1999 e reeleito em 2002. Membro da comissão permanente do Bloco de Esquerda. Eleito pelo circulo de Lisboa (cabeça de lista). Terá a res-ponsabilidade da economia, fi nanças e orçamento.

47 anos, professor. Deputado em 1999 e reeleito em 2002. Membro da comissão permanente do Bloco de Esquerda. Eleito pelo circulo de Lisboa. Actual Presidente do Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda. Para além da liderança do grupo parlamentar, acompanhará a pasta da agricultura e pescas.

29 anos, socióloga. Deputada à Assembleia da República na legislatura de 2002-2005, no regime de rotatividade. Membro da comissão permanente do Bloco de Esquerda. Eleita pelo circulo de Lisboa. Actual Vice-Presidente do Gru-po Parlamentar do Bloco de Esquerda. Terá a responsabili-dade dos direitos liberdades e garantias, saúde, toxicode-pendência, política externa e assuntos europeus.

45 anos, animadora social, presidente da UMAR (União de Mulheres Alternativa Resposta). Membro da comissão permanente do Bloco de Esquerda. Eleita pelo circulo de Lisboa. Terá a responsabilidade das políticas relacionadas com os direitos das mulheres e, com Mariana Aiveca, de todo o sector do trabalho e assuntos sociais.

35 anos, doutor em sociologia da cultura e da educação, professor da faculdade de letras da Universidade do Porto. Membro da comissão permanente do Bloco de Esquerda. Deputado na legislatura 2002-2005. Eleito pelo circulo do Porto (cabeça de lista). Acompanhará, no Grupo Parlamen-tar, as políticas de educação, ciência e cultura.

50 anos, professora. Ex-deputada na Assembleia Municipal do Porto. Membro da Mesa nacional do Bloco de Esquerda. Eleita pelo circulo do Porto. Serão da sua responsabilidade as pastas das obras públicas, transportes, comunicações, poder local, ambiente e ordenamento do território.

58 anos, professor universitário, historiador. Membro da Co-missão Permanente do Bloco de Esquerda. Deputada à As-sembleia da República na legislatura de 1999-2002, no re-gime de rotatividade. Eleito pelo circulo de Setúbal (cabeça de lista). Terá a responsabilidade dos assuntos relaciona-dos com direitos liberdades e garantias e com a defesa.

50 anos, assistente administrativa do ISSS, dirigente sin-dical da função pública e do conselho nacional da CGTP, membro da Mesa Nacional do Bloco de Esquerda. Eleita pelo circulo de Setúbal. Será responsável, com Helena Pin-to, pelo acompanhamento das áreas do trabalho e dos as-suntos sociais.

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Março/Abril 2005 > 6NACIONAL

TAL COMO a composição do executivo, o programa de go-verno dá sinais contraditórios. Positivo, é a desburocratiza-ção do sistema judicial, algu-mas novas regras em relação à paridade e alguns sinais de abertura no respeito pela es-cola pública e inclusiva. Gra-ve, a lei eleitoral, o aumento da idade da reforma, a con-tinuação da estratégia priva-tizadora da saúde e a falta de coragem na política de imi-gração.Tornando claro o que foi su-gerido na campanha eleitoral, a idade da reforma será au-mentada, acompanhando a esperança de vida. Uma me-dida que, sendo anti-social, não resolve qualquer proble-ma da sustentabilidade da segurança social. Sabendo-se que, em muitas empresas, se têm promovido as refor-mas antecipadas, apenas se transforma o reformado em desempregado, com menos regalias. O modelo de gestão privatiza-da será estendido aos centros de saúde, agravando-se a política seguida nos últimos anos de confusão entre res-ponsablidades públicas e in-teresses privados, e seguindo a passo rápido para a lógica ruinosa da empresarializa-ção, mesmo que sobre o mo-delo enigmático de empresa pública. Na imigração, são criados direitos de cidadania, mas apenas aplicados à terceira geração: os fi lhos dos “estran-geiros” nascidos em Portugal. E não se sabe o que preten-de fazer com o processo de legalização dos imigrantes: aos 53 mil registados que aguardam resposta e aos 20 mil brasileiros que aguardam cumprimentos de promessas antigas. O Governo avança com o ve-lho projecto de António Costa para criação de circulos uni-nominais, que irão, na práti-

ca, distorcer a representati-viade política. Mesmo garan-tido um circulo nacional, este sistema criará uma dinâmica de bipolarização que, como se viu nas últimas eleições, não corresponde à realidade política portuguesa. As escolhas para a composi-ção do governo refl ectem as suas contradições. Apesar de avançar com medidas para a paridade entre homens e mulheres, ela é inexistente no executivo. Duas mulhe-res em dezasseis ministros, quatro secretárias de Estado em mais de quarenta. Um recorde histórico na falta de equilibrio entre a presença de homens e mulheres. Para os Negócios Estrangeiros, a escolha de Freitas do Ama-ral, mais aguerrido que o PS nas criticas ao unilateralismo da Administração america-na, criou mal estar à direita e mesmo em alguns sectores socialistas. No entanto, em política europeia, Freitas do Amaral representa um ali-nhamento a um europeísmo acrítico. E mesmo o mal-estar causado à direita foi resolvi-do com uma notícia plantada num semanário sobre ame-nas conversas entre José Só-crates e George W. Bush.A escolha do ministro das Fi-nanças é cereja no bolo, que dá sinais claros sobre a polí-tica em relação ao Pacto de Estabilidade e Crescimento. A obsessão cega em relação ao défi cit promete continuar. A quase ausência da chamada ala esquerda do PS no gover-no confi rma o posicionamen-to centrista deste executivo. Más notícias compensadas por escolhas que permitem algum optimismo na área da educação, ensino superior e cultura. Esperemos que estes sectores não sejam conta-minados pela política liberal proposta para áreas funda-mentais da governação.

Texto de Daniel Oliveira

Programa de Governo Sinais contraditórios

A ASSOCIAÇÃO Nacional de Farmácias reagiu ao anún-cio feito pelo governo sobre a venda de medicamentos em espaços comerciais co-muns com o espírito corpo-rativo que, infelizmente, nos tem habituado. Quem não se

lembra da forma como reagiu ao anúncio de venda de pre-servativos em grandes super-fícies?Os medicamentos que esta-rão disponíveis em espaços comerciais comuns são de venda livre. Ou seja, a pre-

sença do farmacêutico não é indispensável. A repercussão positiva que esta medida po-derá vir a ter no preço fi nal ao consumidor dos medicamen-tos que não exigem receita médica é o seu lado mais positivo.

Medicamentos Em defesa do consumidor

OS TRABALHADORES da Alcoa debatem actualmente como vão prosseguir a sua luta em defesa dos postos de traba-lho, depois de terem feito uma greve de três dias, cum-prida a 90% que terminou a 22 de Fevereiro passado.A Alcoa é uma empresa de cablagens, do grupo trans-

nacional Alcoa Fujikura, com 1050 trabalhadores, situada no concelho do Seixal e que trabalha exclusivamente para o monovolume produzido actualmente na Autoeuropa (Volkswagen).A Autoeuropa vai passar a produzir um novo modelo, a Alcoa vai continuar a fornecer

cablagens para ele, mas de-cidiu que será a sua fábrica na Rep. Checa que os fará. É pois uma deslocalização no grupo Alcoa que põe em risco os 1050 postos de trabalho, com redução de 50% do tra-balho a partir de Novembro próximo e fi m da actual pro-dução a partir de 2007.

Alcoa 1050 trabalhadores em risco de despedimento

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SEGUNDO O IEFP (Instituto de Emprego e Formação Pro-fi ssional) no fi nal do mês de Janeiro estavam inscritas nos centros de emprego 526 444 pessoas pedindo emprego, das quais 483 447 desem-pregadas, o valor mais eleva-do dos últimos anos.Segundo o INE (Instituto

Nacional de Estatística) o desemprego, no quarto tri-mestre de 2004 aumentou 4%, tendo atingido 7,1%, em sentido restrito, o mais alto valor desde 1998.Continuando as mulheres a serem as mais penalizadas (52,7%), o desemprego dos homens foi o que cresceu

mais no último trimestre de 2004. 46,7% das pessoas desempregadas têm mais de 35 anos.Tal como propôs o Bloco na campanha eleitoral e no parla-mento, são urgentes medidas de combate a este aumento do desemprego, em particu-lar do de longa duração.

Desemprego Continua sempre a subir

Pau

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Estrasburgo, 8 de Março de 2005: enquanto 1 milhão de libaneses se manifesta em Bei-rute respondendo

a uma convocatória do Hezz-bolah e das organizações pró-sí-rias, o Parlamento Europeu de-batia um projecto de resolução sobre os acontecimentos. Nesse dia, a posição do Conselho e da Comissão eram, ainda, re-guladas por alguma prudência. Alinhavam o seu diapasão pela resolução 1559 do Conselho de Segurança das Nações Unidas – que exige o abandono imedia-to e total das forças sírias para as fronteiras do seu país - mas evitava “massacrar” Damasco ou incluir o “Partido de Deus” na lista das organizações terro-ristas. Contudo, a direita parla-mentar, alinhada pela posição israelo-americana, insistiu. E conquistou os liberais para ela.

Dois dias depois, as direitas amarravam os socialistas a um compromisso onde se instava a Síria à abstenção de qualquer ingerência nos assuntos inter-nos do Líbano (como se fosse só ela...) e a cessar o seu apoio “às actividades do Hezzbolah e de-mais organizações terroristas”, o passo necessário a uma posterior inclusão dos fundamentalistas xiitas na lista anti-terrorista.

A esquerda, que apresentara uma resolução própria, clara no apoio ao movimento que exige a plena soberania do Líbano, mas igualmente responsável na recusa de diabolizar a Síria e o Hezzbollah, encontrou-se, no fim dos votos ante o dilema de votar favoravelmente a reso-lução, para não ser acusada de dar cobertura ao Hezzbolah, ou ter a coragem de contrariar um texto que cola a Europa à ofen-siva norte-americana na região. Escolhi a segunda opção. Posso bem com as falsas acusações; não posso é marchar ao lado dos que, irresponsavelmente, estão a lançar o Líbano na sua segunda guerra civil.

A política no mundo árabe raramente é o que parece. E no Líbano muito menos.

O assassinato, em circuns-tâncias não esclarecidas, do ho-mem forte do país, Rafic Hariri, desencadeou um levantamento nacional e pacífico exigindo a devolução da soberania ple-na aos libaneses; entretanto, a França e os Estados Unidos, realinhados nas políticas para o médio e o próximo oriente, fa-zem votar na ONU uma resolu-ção exigindo a retirada imediata das forças sírias que tutelam o país dos cedros; sob pressão de “baixo” e de “cima”, Damasco ziguezagueia para, após a que-da do governo de Beirute, ace-lerar a retirada dos seus 14 mil homens para o vale de Beekaa, um pedaço de terra fértil entre

montanhas, junto à fronteira en-tre os dois países. Finalmente, a comunidade xiita reage, trazen-do à luz do dia o segredo que todos conheciam – a enorme influência do Partido de Deus entre a maioria dos pobres do

país. O Líbano entrou em ebu-lição. E todos os alinhamentos se refazem.

Beirute, 20 de Fevereiro de 2002: o início da invasão norte americana do Iraque está por dias. Na capital do Líbano, al-

guns milhares de pessoas ouvem o líder do Hezbollah provocar os dirigentes árabes: “não permi-tam que os franceses sejam mais árabes que nós!” Ele referia-se à corajosa posição francesa ante a guerra anunciada. Mas pas-

saram dois anos e uma recente viagem de G.W.Bush ao velho continente. As lideranças dos dois lados do Atlântico fizeram as pazes e o Líbano fez parte desse acerto – é o ganho outor-gado a Chirac pelo imperador. Em compensação, este ganha a aquiescência francesa para ver-gar Damasco, de preferência sem disparar um tiro. Ironias da História: no início dos anos 90, enquanto as tropas da coligação livravam o Koweit dos tanques de Saddam, os EUA cobriam os acordos de Taeff, que consagra-vam a tutela militar síria sobre o Líbano... Portanto, mudanças de monta.

Mas Beirute deve estar exac-tamente como a vi, há dois anos. Esburacada ao longo da sua avenida central, a estrada de Damasco, mostrando as fe-ridas de uma guerra civil onde todos lutaram contra todos; elegante ao longo da marginal, em tributo à cultura ocidental que por ali passou; e confusa, pobre e paupérrima, consoante se penetre no interior da cida-de sunita, xiita ou palestiniana, e por esta exacta ordem. No meio, esventrado, está o Cen-tro da cidade, onde o primei-ro ministro assassinado, Rafic Hariri, aplicou em imobiliário de luxo a inesgotabilidade dos seus recursos financeiros, um dia adquiridos à sombra da asa protectora do então príncipe saudita, Fahd Abdel el Aziz. E lhes adicionou, com garantia de benefícios privados, os recursos do frágil Estado libanês, que em 3 anos conseguiu a proeza de sextuplicar a sua dívida pú-blica...

Tudo na mesma? Salvo o fac-to que os cedros desataram a falar. As duas comunidades que historicamente se identificam com uma identidade nacional libanesa - os druzos e os cris-tãos maronitas – aproveitaram a circunstância do crime para lan-çarem um movimento pacífico e democrático pela restituição da soberania ao país. Os antigos inimigos jurados demitiram o governo sem banho de sangue, algo impensável num país ára-be. Por outro lado, o Hezzbolah exibe a sua força guardando as armas e sem exigir a “democra-cia de um homem, um voto”, que os levaria ao poder absolu-to. É sábio. Mas na região e no país, tudo se move e os sistemas de alianças também. Colocar o Partido de Deus na lista anti-ter-rorista é lançar o país na guerra civil, o real objectivo dos falcões de Israel. Não é seguro que o desregular da presente situação não leve algumas comunidades a reclamarem a partição do país em Estados confessionais ho-mogéneos. Precisamente, o que legitimaria a existência de Israel enquanto Estado judaico...

GLOBALJORNAL DA DELEGAÇÃO DO BLOCO DE ESQUERDA NO GUE/NGL NO PARLAMENTO EUROPEU

LíbanoQuando os cedros tomam a palavra

O HOMEM MAIS RICO DO PAÍS FOI ASSASSINADO. UM MOVIMENTO PACÍFICO DERRUBA NAS RUAS O GOVERNO PRÓ-SÍRIO. A COMU-NIDADE XIITA REAGE E DEMONSTRA A SUA FORÇA. ENTRETANTO, A FRANÇA ESPREITA A SUA OPORTUNIDADE, OS EUA QUEREM HUMILHAR E VERGAR DAMASCO, E A EUROPA, MAIS UMA VEZ, NÃO EXISTE. Texto de Miguel Portas

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II

Indústria e consumidores travam-se de razões

Os objectos que nos rodeiam - brin-quedos, cosméti-cos, telemóveis, televisões, deter-gentes, roupas,

mobiliário - são compostos por químicos feitos pelo Homem. Alguns, já o sabemos, são tó-xicos. E os restantes? Esta a

pergunta que está na origem do programa REACH - Registo, Avaliação e Autorização de quí-micos.

Vinte anos de legislação ine-fi caz deixaram os cidadãos com pouca ou nenhuma informação sobre a repercussão na saúde pública e no ambiente de mais de 95% dos 30 mil a 100 mil

químicos existentes no merca-do. A indústria, apesar da falta de informação, afi rma que os produtos são seguros. Mas a des-coberta de vestígios da contami-nação seja em humanos, seja na fauna e fl ora, as cerca de 4 mil mortes anuais por cancro, as al-terações genéticas registadas em bebés e mesmo a comprovada

contaminação das focas do mar báltico, levantam as mais sérias reservas a tal certeza.

A investigação científi ca tem demonstrado a existência de correlações entre o uso de de-terminadas substâncias e o aumento de doenças como o cancro, as alergias ou os proble-mas reprodutivos. E a verdade é

que, de acordo com um estudo do Eurobarómetro, de 2002, mais de 90% dos cidadãos eu-ropeus estão preocupados com os potenciais efeitos adversos das substâncias químicas.

Até 1981, ano em que as novas substâncias químicas passaram a ter que apresentar informação básica sobre os seus efeitos para a saúde e para o ambiente, ti-nham sido registadas cerca de 100 mil substâncias na União Europeia. Contudo, a partir dessa data, só cerca de 3.700 foram acrescentadas à lista. Isto é, desde que a necessidade de informar o público entrou em vigor, os fabricantes passaram à condição de relapsos. Na vi-ragem do século, 99 em cada 100 substâncias químicas utili-zadas foram registadas antes da década de 80... A alteração do quadro legal tornou-se, assim, inevitável. A nova proposta, agora em debate, visa obrigar a indústria a evoluir para padrões de produção mais responsáveis, reduzindo os impactos negati-vos dos químicos e promoven-do a inovação e o aumento da confi ança dos cidadãos no pró-prio sector.

Os números da disputa

No passado dia 19 de Janeiro, três comissões do Parlamento Europeu - Ambiente, Industria e Mercado Interno - promove-ram mais uma audição pública, na sequência de um processo que se tem revelado moroso e

PROGRAMA REACH

A EUROPA DECIDE ESTE ANO SOBRE UM DOS MAIS IMPORTANTES PROGRAMAS DE DEFESA DA SAÚDE, DO AMBIENTE E DO CONSUMIDOR: O REACH. MAS A INDÚSTRIA QUÍMICA NÃO ESTÁ PELOS AJUSTES. Texto de Carmen Hilário

O REGISTO é o aspecto mais controverso do novo regulamento: todas as substâncias químicas fabricadas ou importadas em quantidades iguais ou superiores a uma tonelada por ano deverão ser registadas.A Comissão determinou que a tonelagem será um dos parâmetros de inclusão. Ao longo de várias discussões, muitos fabri-cantes referiram que esse critério não é o mais adequado para identifi car os verda-deiros riscos. Sugeriram que deveria ser substituído ou completado por critérios qualitativos, como a perigosidade intrín-seca, a utilização e a exposição. Esta abordagem entra em confl ito com a fi lo-sofi a subjacente à proposta da Comissão

porque esta quer que a indústria dê infor-mações adequadas sobre as substâncias que produz e as utilize para garantir a sua e a nossa segurança. O principal objectivo do registo é a inclu-são de todas as substâncias - existentes e novas - cujos efeitos e perigosidade ainda não são conhecidos. Por isso, a quantidade é a base de partida para as outras fases do sistema: a avaliação, a autorização e a restrição. Na transição para a fase da avaliação, o critério da quantidade deriva, aí sim, para os facto-res da perigosidade extrínseca e da expo-sição. Como no artigo principal se refere, a proposta prevê um regime transitório de

11 anos. Só então o sistema estará em velocidade de cruzeiro. Se for aprovado em 2006, a sua operacionalidade só será plena em 2017.

A agênciaA proposta distingue ainda entre a ava-liação dos processos – da competência dos Estados-Membros – e a avaliação das substâncias químicas propriamente ditas - a ser efectuada por uma agência europeia, similar à que existe para a ava-liação dos Medicamentos.A controvérsia respeita à relação entre a Agência Europeia e as autoridades com-petentes dos Estados-Membros. Surgiram

críticas à complexidade dos procedimen-tos previstos, aludiu-se ao risco de uma descentralização excessiva do processo de decisão poder originar diferenças de procedimento de país para país e, por-tanto, uma distorção do mercado interno. O compromisso passaria pela defi nição, pela agência, de critérios de prioridade para as substâncias, tendo em vista a sua futura avaliação, e os Estados-Membros utilizá-los-iam na preparação dos seus planos.Mais informação: www.quercus.pt; www.env-health.org;www.chemicalreaction.org; www.foeeurope.org; www.spea.pt; e http://www.europarl.ep.ec/meetdocs/2004_2009/organes/ENVI/ENVI_meetinglist.htm)

O Registo e a Agência

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III

Indústria e consumidores travam-se de razõesPOIS É | Miguel Portas

Miopias

Conheci Giuliana Sregna nos idos de 90, no seu jornal de sempre, o il Manifesto. É difícil imaginar jornalista mais discreta e dedicada às histórias das pessoas a que

dava alma e rosto por esse mundo. A última vez que a vi em Roma, estava de regresso do Afeganis-tão. Ela andava sempre pelos lugares proibidos ou esquecidos do Mundo. Tinha que ir para o Iraque. E em Bagdade nunca se fi caria pela segurança re-lativa de um hotel.

Quando foi raptada, fazia uma reportagem so-bre os refugiados de Falluja. Tal como Florence Aubemas, de outro jornal da minha geração, o Libération. Giuliana foi resgatada, Florence ainda não. Mas a felicidade que invadiu a redacção do il Manifesto não durou 5 minutos. O resgate custou a vida a um herói, Nicola Calipari, um agente dos serviços de informação italiano que já tinha inter-vido, meses antes, na libertação de duas voluntá-rias italianas de associações de paz e solidariedade. Chamo-lhe herói. O seu trabalho era tão perigoso quanto o de uma jornalista de guerra que nunca quis alienar a sua independência acolhendo-se à protecção dos exércitos. Ele cumpriu a primeira parte da missão - retirar a jornalista ao grupo que a raptara. E morreu a cumprir a segunda - garan-tir que ela apanhasse o avião de regresso. Morreu porque o “fogo amigo” disparou contra a viatura da salvação. Uma vez mais, foram os “libertadores” quem matou. Pode a ingenuidade querer colocar mais este drama na conta dos “ossos do ofício” ou da falta de comunicações entre serviços secre-tos - o fogo contra a viatura partiu de um check point norte americano nas proximidades do aero-porto. Mas desde o início da guerra do Iraque já perderam a vida 150 jornalistas e parte substan-tiva, garantem os Repórteres Sem Fronteiras, pe-receram às mãos, não dos seus raptores, mas dos auto-proclamados libertadores. Na verdade, há um padrão: o exército dispara primeiro e pergun-ta depois; o ocupante, tanto como os terroristas, não quer no Iraque jornalismo independente; e Bush não quer que os Estados negoceiem com os raptores o resgate dos seus cidadãos, até porque “com terroristas não se fala”. Há um padrão. O padrão das guerras de ocupação. Só não vê quem mesmo não quer ver.

A EUROPA DECIDE ESTE ANO SOBRE UM DOS MAIS IMPORTANTES PROGRAMAS DE DEFESA DA SAÚDE, DO AMBIENTE E DO CONSUMIDOR: O REACH. MAS A INDÚSTRIA QUÍMICA NÃO ESTÁ PELOS AJUSTES. Texto de Carmen Hilário

controverso. Com efeito, a Co-missão Europeia só em Outubro de 2003 emite a proposta REA-CH (COM(2003)644). No âmbi-to da consulta sobre um primeiro projecto de regulamento, foram recebidos mais de 6 mil contri-butos. As críticas e as propostas persuadiram a Comissão a intro-duzir alterações signifi cativas no texto original.

Uma das questões mais deba-tidas é a do custo estimado do sistema REACH e seu impacto na indústria química europeia. A Comissão, na avaliação de impactos que acompanha a pro-posta, estima-o entre 2,8 a 5,3 mil milhões de euros. Contudo, os estudos fi nanciados pelas in-dústrias defi nem cenários de pe-sadelo que chegam aos 180 mil milhões de euros. Por sua vez, o Conselho Nórdico de Ministros (www.norden.org) indica que, mesmo na versão mais reforçada da proposta, o impacto económi-co directo do REACH rondaria os 0,06% das vendas totais da indústria química. E sustenta que adicionando os custos indi-rectos, o acréscimo de despesa seria menor do que o habitual-mente introduzido pelas normais fl utuações do mercado (preço do petróleo, preço dos produtos no mercado internacional).

Do lado das estimativas de be-nefícios, os números são também muito variáveis. A redução de custos que o sistema induziria nos serviços de saúde pública os-cila, consoante os interesses em jogo, entre 4,8 e 230 mil milhões de euros...

Uma segunda ordem de ar-gumentos divide os protagonis-tas: a aprovação da proposta da Comissão conduz, ou não, ao desinvestimento na inovação e investigação europeias? Segundo a indústria, sim. Mas as organi-zações de médicos e ecologistas consideram que a situação actual impede a aplicação do princípio

da substituição das substâncias que se confi rmem perigosas, de-sincentivando a inovação para uma química mais responsável.

O REACH é ainda suspeito de poder provocar o desemprego no sector, com o desaparecimento de muitas PME’s. Mas a realida-de é que a indústria química eu-ropeia tem crescido a um ritmo superior ao da União Europeia e a adopção do novo sistema abri-ria o sector a novos mercados na área da “química verde”. Por ou-tro lado, grande parte das PME’s opera em nichos de mercado com substâncias produzidas em baixas tonelagens - e estas, ou não são abrangidas pelo REACH ou terão um período de adapta-ção de 6 a 11 anos.

Finalmente, o lóbi da indústria química sustenta que o registo das substâncias deveria ser ba-seado na perigosidade e não na tonelagem. As organizações de defesa do consumidor e do am-biente, contrapõem que quando se desconhecem os efeitos secun-dários de mais de 90% das subs-tâncias é impossível organizar um registo baseado em informa-ção inexistente. E pior, entrega o ónus da defi nição e da prova da classifi cação das substâncias às autoridades públicas, deixando às empresas o campo livre para contestação. A inversão do ónus da prova - remetendo-a para os fabricantes - é uma das chaves da proposta que este ano, em Julho, será objecto de discussão pelo Conselho e em Outubro, no Par-lamento.

O breviário do REACHOs cinco principais objectivos do novo sistema são:

1.Introdução de um sistema obrigatório de registo de substâncias químicas, mas progressivo no caso das PME’s.

2. Transferência da responsabilida-de pela avalia-ção dosriscos, das entidades públicas para os fabricantes e/ou importadores;

3.Participação dos utilizadores nos pedidos de informação e nos testes efectuados a substâncias químicas;

4.Introdução de um procedi-mento de auto-rização ou dereserva de pre-caução, aplicá-vel às substân-cias químicas que suscitem preocupações particulares;

5.Maior transparência e abertura ao público em geral, através de um acesso mais fácil a informações sobre as substâncias químicas.

As organizações de médicos e ecologistas consideram que a situação actual impede a aplicação do princípio da substituição das substâncias que se confirmem perigosas, desincentivando a inovação para uma química mais responsável.

Florence Aubenas e Giuliana Sgrena

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IV

ESQUERDA/GLOBAL | JORNAL DA DELEGAÇÃO DO BLOCO DE ESQUERDA NO GUE/NGL NO PARLAMENTO EUROPEU | WWW.MIGUELPORTAS.NETEDIÇÃO: MIGUEL PORTAS, MEP COORD. EDIT.: DANIEL OLIVEIRA DESIGN E PAGINAÇÃO: LUÍS BRANCO COORD. FOTO: PAULETE MATOS IMPRESSÃO: RAINHO & NEVES, LDA / STA. Mª DA FEIRA

CONSELHO DE REDACÇÃO: CARLOS SANTOS, DANIEL OLIVEIRA, JORGE COSTA, LUÍS BRANCO, LUÍS LEIRIA, PAULETE MATOS DEP. LEGAL: 219778/04 DISTRIB: GRATUITA TIRAGEM: 10 MIL EX.

OSinn Féin (SF) ce-lebrou este ano o centenário da sua fundação, que ocor-reu em Dublin, hoje

capital da república do Sul. É o único partido do complexo ce-nário irlandês que elaborou um “livro verde” para toda a ilha, em coerência com a sua estratégia para uma reunifi cada “Irlanda de iguais”, livre, democrática e republicana.

Recentemente, desafi aram o governo de Dublin a apresentar, também ele, um livro verde para a unidade nacional e para a cons-trução democrática e pacífi ca de

uma sociedade que inclua todos os irlandeses, aposta que nenhum governo do Sul fez até hoje.

O congresso realizou-se, con-tudo, sob fortíssima pressão dos meios de comunicação de ambos os lados da fronteira. Em parte, tal explica-se como reacção pre-ventiva à grande subida eleitoral que o Sinn Féin tem tido, não apenas nos 6 condados do Nor-te, mas também nos 26 conda-dos do Sul. Com efeito, nas últi-mas eleições europeias, elegeram pela primeira vez duas deputadas para o Parlamento Europeu, que viriam a integrar o GUE/NGL. Bairbre de Brun, eleita pela Irlan-

da do Norte, alcançou 26,3%, fi cando em segundo lugar, logo atrás dos unionistas, com 32%. Mas no Sul, na República da Ir-landa, o Sinn Féin também cres-ceu, elegendo em Dublin Mary Lou McDonald, com uma vota-ção de 14,3%. Globalmente, os republicanos são hoje o terceiro maior partido da Irlanda do Sul, com 11,3%, ultrapassando os Trabalhistas. Têm ainda muitos eleitos no poder local. Esta con-solidação tem gerado muita pre-ocupação e mesmo algum pâni-co entre os unionistas do Norte e entre as forças de direita e de centro no Sul.

O caso McCartneyPara a atitude da comunicação

social irlandesa e internacional, contribuiu o “caso McCartney”. O que se passou a 30 de Janeiro, num pub de Belfast, pesa sob a política republicana. Na sequên-cia de ditos desagradáveis sobre um grupo de mulheres, uma bri-ga violenta que transborda para fora do bar e redunda no assas-sinato de um dos presentes: Ro-bert McCartney.

A história nada teve de política e em qualquer país seria um caso de polícia. Mas na rixa estiveram envolvidos vários membros do movimento republicano que, de-pois da tragédia, teriam rouba-do a cassete de video-vigilância, apagado vestígios, e intimidado os presentes para não testemu-nharem sobre os factos. Daqui à acusação que o IRA seria respon-sável pelo crime, foi um pequeno passo. De imediato, a direcção do IRA declarou não ter tido nada a ver com o incidente e procedeu a um inquérito interno, que con-fi rmou o envolvimento de três dos seus membros. A organiza-ção condenou veementemente a sua atitude e expulsou três mili-tantes. Um deles prestou depoi-mento às autoridades e os outros dois foram instados a assumirem as suas responsabilidades. O IRA reafi rmou o apoio às exigências da família e declarou não tole-rar que alguém use o nome da organização para intimidar tes-temunhas que queiram ajudar à descoberta dos criminosos. Mas o mal estava feito.

Os ataques crescem. O apoio também.

O SF, que foi também atacado devido a este caso, tomou uma posição muito clara. Gerry Ada-ms afi rmou, no Ard Fheis, que não descansará enquanto “os que mancharam a causa republicana não forem levados à justiça”. Sem retórica, explicou aos delegados que não poderia fazer campanhas sobre as vítimas dos britânicos e dos paramilitares unionistas, se não fosse igualmente claro na exigência de justiça neste caso. Aliás, o momento mais emotivo do congresso foi quando o presidente entrou na sala na companhia das irmãs McCartney e a assembleia aplaudiu de pé a família da víti-ma e a sua presença confi rman-do o papel que o SF está a ter na descoberta e castigo dos autores do crime.

Estes acontecimentos ocorre-ram em cima de eleições inter-calares num círculo eleitoral da Irlanda do Sul: Meath, pelo que o tom das acusações contra os re-publicanos visava em boa parte o esvaziamento eleitoral da sua base de apoio. Em Meath, o Sinn Féin tinha tido 3,53% em 1997 e 9,43% em 2002. Com estas circunstâncias verdadeiramente anormais a rodearem a campa-nha, muito se especulou sobre os resultados. Mas, mais uma vez, o apoio do SF cresceu, obtendo esta semana em Meath 12,25%, confi rmando-se como o terceiro partido, à frente do Labour.

A importância deste resulta-do é, contudo, maior, porque o processo de paz se encontra blo-queado. A leitura dos resultados pesará na avaliação estratégica dos britânicos e dos unionistas que, a Norte, querem difi cultar e/ou impedir a participação dos republicanos no futuro governo. E até mesmo no Parlamento de Londres (onde o SF ganhou 4 lu-gares nas últimas eleições), que acaba de votar a retirada do di-reito do SF às comparticipações fi nanceiras.

Mas o tempo corre contra eles. A favor da paz conta o caminho já percorrido e ainda a vontade expressa do povo da ilha.

IRLANDA

Sinn Féin e os difíceis caminhos da pazTexto de Renato Soeiro, em Dublin

Gerry Adams, presidente do Sinn Féin, nas comemorações do 100º aniversário do partido.

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DECORREU NO FIM-DE-SEMA-NA de 4 a 6 de Março, em Du-blin, o congresso do Sinn Féin. Durante três dias os congressis-tas discutiram e votaram 380 moções, além de uma série de emendas. As moções, agrupadas em 18 grandes temas, são de pe-quena dimensão, algumas de um parágrafo apenas, e são apresen-tadas por estruturas de direcção ou de base, por militantes ou grupos de militantes. Os congres-

sistas são concretos - a favor ou contra em cada ponto - e vota-se, uma a uma, no fi m de cada tema. Este método de trabalho, prati-cado também por outros partidos de esquerda do Norte da Euro-pa, permite aos delegad@s uma maior proximidade em relação às decisões, precisas e delimitadas. Mas como não há bela sem senão, a coerência entre as escolhas é difícil de garantir. Assim, com periodicidade anual

e de forma inteiramente aberta à comunicação social, @s militan-tes decidem a linha do partido nestes congressos, a que cha-mam em gaélico Ard Fheis (lê-se ardéch). Os órgãos dirigentes nacionais são eleitos em votação secreta durante o congresso, em listas separadas masculinas e femininas, para assegurar a pa-ridade.Quem viu esta instância a funcio-nar e a decidir sem soluções pre-

defi nidas por outrem, não pode deixar de sentir alguma revolta ao ver nos canais de televisão in-ternacionais John Bruton, o novo representante da União Europeia junto dos EUA e ex-primeiro-mi-nistro da Irlanda, afi rmar que no Sinn Féin as decisões “são impostas de fora”. A União não deveria permitir que John Bruton utilize o seu novo posto institu-cional para efeitos de propaganda doméstica.

DECORREU NO FIM-DE-SEMA- sistas são concretos - a favor ou e de forma inteiramente aberta à defi nidas por outrem, não pode

Um Congresso singular

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7 > Março/Abril 2005 ABORTOA

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No dia 31 de Março três mulheres de Setúbal enfrenta-rão mais uma ses-são de julgamento,

acusadas do crime de aborto. Este é o terceiro julgamento que desde 2001 leva mulheres para o banco dos réus, expondo-as, humilhando-as, forçando-as a fazerem exames ginecológicos, invadindo a intimidade e priva-cidade da sua vida e decisões. Primeiro foi na Maia, onde 17 mulheres num conjunto de 41 arguidos foram julgadas. Depois foi em Aveiro, onde mais 17 pes-soas, das quais 7 mulheres (as restantes eram familiares e ami-gos) integraram um julgamento por este motivo. E têm surgido novas notícias de mulheres que estão a ser investigadas por ale-gadamente terem abortado.

Estes julgamentos correspon-dem a uma opção consciente pela manutenção do aborto clan-destino e do negócio de pessoas menos escrupulosas, dos dramas, da perseguição judicial e da es-tigmatização social das mulheres que abortam.

Por isto, o Bloco de Esquer-da não abandona esta causa: o aborto deve ser legal até às 12 semanas a pedido da mulher. Porque se trata de uma questão civilizacional, de princípios e de direitos. Porque o Bloco consi-

dera que a sexualidade, a mater-nidade e a reprodução deverão ser exercidas de forma livre, in-formada e responsável. Porque recusa que se menorize a capaci-dade de decisão e a autodetermi-nação de uma mulher ou de uma família, impondo-lhe uma gravi-dez, uma criança e uma vida que não desejam. Porque não aceita que o Estado português continue a ignorar e desrespeitar pareceres internacionais e do próprio Par-lamento Europeu em matéria de direitos sexuais e reprodutivos, mantendo uma das legislações mais restritivas e penalizadoras da União Europeia. E porque é totalmente inaceitável que, em pleno século XXI, Portugal seja o único país da União Europeia que empurra para os tribunais mulheres suspeitas de terem re-alizado um aborto.

Os sucessivos governos têm-se recusado a encarar a realidade do país: as portuguesas, católicas ou não, há centenas de anos que, confrontadas com uma gravidez indesejada, recorrem ao aborto. E as leis proibicionistas e sem qualquer efeito dissuasor têm-nas empurrado para situações de clandestinidade e criminalização, que infelizmente já fazem histó-ria em Portugal.

E a direita mais conservadora vai ao limite de propor a “pro-tecção jurídica do feto”, o que

signifi caria passar a considerar o aborto um homicídio e as mu-lheres que a ele recorressem se-riam condenadas a oito ou mais anos de prisão. Mas algumas as-sociações que se batem pela ma-nutenção da criminalização das mulheres que abortam vão mais longe, chegando mesmo a pôr em causa o recurso ao aborto em caso de violação, situação actu-almente legal. Veja-se bem o que defendem: um recuo legislativo, para que uma mulher que ponha termo a uma gravidez resultante de um acto de violação seja jul-gada e condenada.

Um novo referendo até Junho

As sondagens da opinião pú-blica que revelam uma larga maioria de pessoas favoráveis à descriminalização do aborto e a imensa adesão – mais de 120 mil pessoas – que no ano passado as-sinaram a petição pela reivindi-cação de um novo referendo são sinais inequívocos de que o povo português não aceita a perpetua-ção desta situação.

Os partidos políticos, sobretu-do os de esquerda, não podem fi car indiferentes a esta vontade popular de mudança. Têm que ter a coragem de enfrentar a di-reita hipócrita, que tem impos-to os seus valores moralistas e conservadores às mulheres deste

país, retirando-lhes a liberdade de escolha sobre a sua vida e o seu corpo.

O PS já assumiu que apenas por consulta popular aceita tra-tar esta questão. Então é urgente a marcação de um novo referen-do que altere os resultados do anterior, que não foi vinculativo (a participação fi cou abaixo dos 50%). Se o PS quer mesmo dis-criminalizar o aborto deverá es-tar disposto a viabilizar a propos-ta de um referendo já, para que possa ser feito em Junho.

O Bloco de Esquerda tudo fará para que assim seja. Porque queremos viver numa sociedade mais justa, mais igualitária e de-mocrática, que respeite a escolha informada de cada mulher e cada família, com uma educação sexu-al efi caz, serviços de planeamen-to familiar de qualidade e acesso generalizado aos contraceptivos. Mas porque sabemos que tudo isto pode falhar, e ocorrer uma gravidez indesejada, defendemos o direito à escolha.

Sem ajustes de contasTodas e todos que queiram

mudar esta lei podem contar com o Bloco de Esquerda e com a sua persistência no combate por uma legislação mais justa e emancipatória para as mulheres. Sempre que uma mulher esteja sentada no banco dos réus acu-sada de aborto, podem contar que o Bloco lá estará, solidário, lutando para que essa violência termine. E para que as mulheres possam usufruir de uma cidada-nia de direito.

A larga maioria que a esquer-da detém no Parlamento é uma oportunidade histórica para mudar a lei. Tentar fazer desta questão um ajuste de contas en-tre forças de esquerda, em vez de se procurarem convergências pragmáticas para mudar a lei, se-ria um erro e uma irresponsabi-lidade que as mulheres não nos perdoariam. O Bloco não contri-buirá para nenhuma instrumen-talização da questão do aborto em favor de estratégias que lhes sejam estranhas. O que melhor servir para a mudança defi niti-va da lei, da forma o mais efi caz e rápida possíveis, terá o nosso apoio, sem dogmatismos nem sectarismos partidários.

Uma oportunidade

históricaTexto de Dina Nunes

No dia 31, mais um julgamento. Só uma nova lei pode acabar com esta vergonha nacional.

A larga maioria que a esquerda detém no Parlamento é uma oportunidade histórica para mudar a lei através de referendo. Tentar fazer desta questão um ajuste de contas entre forças de esquerda, em vez de se procurarem convergências pragmáticas para mudar a lei, seria um erro e uma irresponsabilidade.

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Março/Abril 2005 > 8

Portugal ganhou com a diversidade que os imigrantes trouxeram

ENTREVISTA

Como evoluiu, nos últimos anos, a situação dos imigrantes em Portugal?HELIANA BIBAS: Eu estou em Portugal há 16 anos e só tenho visto piorar. Porque as políticas que os diferentes governos vão criando são mais restritivas e mais fechadas; porque a União Europeia obriga a que cada Es-tado-membro crie parâmetros fechados. Mas, por outro lado, e paralelamente, vai-se criando a necessidade da imigração. O que acontece é que há necessi-dades económicas dos países, entre eles Portugal, que preci-sam de mão-de-obra; precisam da imigração até para o cresci-mento da população; mas não vêem os imigrantes como cida-dãos. Os imigrantes são vistos como uma coisa que é compra-da, o que tem dado origem a uma grande bandeira das asso-ciações: os direitos de cidadão são fundamentais para os imi-grantes. Os imigrantes não são só mão-de-obra.Nós começámos com Autori-zações de Residência, depois passámos para Autorizações de Permanência (APs) e depois vistos de trabalho - sempre com menos direitos. E um conceito incongruente: o residente é só o que tem Autorização de Re-sidência; os outros vivem aqui, pagam impostos, mas não são classifi cados como residentes.

TIMÓTEO MACEDO: Houve uma política de mercantilização da pessoa humana. E contra isso nós estamos. Porque, como disse a Heliana, os imigrantes devem ser respeitados como pessoas em primeiro lugar. Os cidadãos estrangeiros colmataram muitas necessidades de mão-de-obra em Portugal – assim como os portugueses o fazem por esse mundo fora –, equilibraram e deram outro ânimo ao sistema de Segurança Social, do qual não vão usufruir a maioria dos imigrantes. E também contri-buíram com a sua presença, com a sua diversidade, porque é nela que reside a riqueza de um povo. Portugal fi cou mais

rico com a diversidade que os imigrantes trouxeram. Deixou de ser um país tão acinzenta-do, onde se misturam povos, línguas, maneiras de estar e de fazer. E trouxeram mais conhe-cimento, experiência de vida, histórias. Tudo isso deveria ter sido valorizado – e não foi – por este governo.

Mamadou, que balanço faz o SOS Racismo da política do último governo?MAMADOU BA: É um balanço claramente negativo, tanto na política de imigração quanto sobretudo na área de políticas de inclusão social, onde nós tra-balhamos directamente. No que respeita ao estatuto de igualda-de de direitos, de tratamento e de oportunidades, foi um fra-casso total. Podemos recordar uma iniciativa muito pomposa do governo que se chamava Plano Nacional de Imigração. Tinha duas vertentes: a primei-ra assentava num pacto social; a segunda no alargamento e no reforço da capacidade adminis-trativa do ACIME. Tanto numa quanto na outra achamos que o governo falhou. Primeiro, o pacto era simplesmente um pacto de regime que eles que-riam fazer com as associações e com alguns sectores do movi-mento social. Pela primeira vez tivemos uma fi ssura dentro da Igreja católica, que não aceitou o pacto, as centrais sindicais também não aceitaram, as asso-ciações rejeitaram-no.

Quando falas em pacto de regime, o que queres dizer?MB: Quando surgiu a ideia do pacto, o alto-comissário padre Vaz Pinto dizia que não era polí-tico, que tinha a missão de tratar da imigração de uma forma ad-ministrativa e humana. Ele que-ria essencialmente comprome-ter as associações com a política da direita na área da imigração. Fez uma série de propostas para as quais tinha de haver um con-senso para justifi car a política de imigração. Felizmente, toda

a gente percebeu que aquilo era uma manobra para silenciar as associações.Depois, apostou num objectivo mais exequível, alargar a capaci-dade política e organizativa do Alto comissariado para a Imi-gração e Minorias Étnicas (ACI-ME). O orçamento do ACIME foi aumentado em mais de 300 por cento. O ACIME permitiu outra coisa que tem vindo a ser criticada há muito tempo, que é o aumento do período discri-cionário do SEF em termos jurí-dicos. O ACIME permitiu uma camufl agem não só do SEF mas também da sua própria arrogân-cia em termos burocráticos. Ao contrário da anunciada política de inclusão social, o que o ACI-ME tem feito não é uma política de integração. É dar uma ajuda ao SEF naquilo que o SEF não consegue fazer em termos prá-ticos, nomeadamente a celeri-dade dos processos. Não houve nenhuma política de inclusão social. Timóteo, qual a tua opinião sobre a política de integração deste último governo? TM: Por um lado, é verdade que o orçamento para a imigração triplicou ou quadruplicou. Mas quando olhamos para estes as-pectos também temos que ver qual é a luta mais globalizan-te que se vive na Europa e no mundo. Não concordamos com a falta de coragem política que existe nos governos da Europa, nomeadamente o português, ao não fazer um combate claro às políticas da extrema-direita – e por isso os Le Pens, os Fini e os Berlusconi crescem. Crescem porque fazem cedências a essa extrema-direita, criando artifí-cios para dizer que regulam os fl uxos migratórios. Nós sabe-mos que isso não é verdade. E a prova foi o ensaio que fi zeram em Portugal ao estipular cotas. O resultado foi um completo fi asco. Ao fi m de quase dez me-ses só três cidadãos estrangeiros entraram ao abrigo das cotas. Isso não funciona.

A cota era de quantos?TM: Eram 8.500 trabalhadores, distribuídos por vários secto-res de actividade, com maior pendor na construção civil, na restauração e na agricultura. A realidade é clara: existem apro-ximadamente cem mil imigran-tes que estão numa situação irregular. E das duas uma: ou nos colocamos ao lado dos pa-trões sem escrúpulos que usam esta mão-de-obra de uma forma esperada; ou nos colocamos ao lado das pessoas que lutam pelo seu respeito e pela sua dignida-de. Por isso estamos também nessa campanha pela legaliza-ção dos imigrantes.

Mas temos de reconhecer que o ACIME fez um trabalho ex-celente do ponto de vista da informação. Nunca até aqui em Portugal tinha acontecido o que aconteceu: informação dada de uma forma descentralizada, quase de norte a sul do país, onde as pessoas podem saber os seus direitos e deveres. Isto é um aspecto positivo que nós realçamos.

Referes-te aos Centros de Atendimento...TM: Sim, foram criados centros locais de apoio aos imigrantes, com protocolos que o ACIME assinou com associações. E dois grandes centros nacionais, que são autênticas Lojas do Cidadão só para o imigrante.

É já neste dia 20 que os imigrantes realizam uma manifestação em Lisboa, levantando as bandeiras da legalização de todos os imigrantes, a alteração da Lei da Nacionalidade e políticas de integração. Uma oportunidade para ouvir três dirigentes de associações imigrantes: Heliana Bibas, presidente da Casa do Brasil, Timóteo Macedo, do Solidariedade Imigrante, e Mamadou Ba, do SOS Racismo. Ao Esquerda, eles fizeram um balanço das políticas governamentais em relação à imigração e explicaram os motivos e as bandeiras da sua mobilização.

Entrevista de Luís Leiria

Os imigrantes contribuíram com a suapresença, com a sua diversidade, porque é nela que reside a riqueza de um povo.

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Ou seja: há muito mais informação que antes, mas em termos de regularização não se avançou nada...HB: Nada.TM: O governo abriu uma jane-la, digamos, para um universo de cem mil imigrantes. Inscre-veram-se 53 mil imigrantes no pré-registo. Mas só 7700 conse-guiram todas as condições para obter o visto.

E os outros?TM: É uma incógnita. Por esses mecanismos de extrema buro-cracia que existem em Portugal, eles difi cilmente vão poder regu-larizar-se.

Porque não puderam cumprir algum das exigências?TM: Sim. Se alguns tiverem pro-vas de terem tido uma relação de trabalho, ainda eventualmente conseguirão ser regularizados. Mas é uma minoria. E o proble-ma é que existem outros 50 mil que nem fi zeram o pré-registo. Ou porque sabiam que nunca lhes tinham feito descontos, ou porque entraram depois da data prevista na lei.

No caso dos brasileiros, houve um acordo anterior ao pré-registo que foi o chamado Acordo Lula. Que

balanço a Casa do Brasil faz deste processo?HB: O acordo (de Julho de 2003), em si, foi bom. E acho que ser-viu como um balão de ensaio. Os brasileiros tinham de fazer um recenseamento e depois rece-biam o tão ansiosamente espera-do postal do SEF. Quando iam ao SEF tinham de pagar as multas devidas pelo tempo que tinham fi cado irregulares em Portugal, e mais uma taxa correspondente a um carimbo que os colocasse em situação de turista legal para irem à Espanha. Qual é a perversida-de disto tudo? É que uma coisa são as intenções, outra a forma como as coisas se dão na prática. Naquele momento, registaram-se 32 mil brasileiros. Hoje, mais de um ano e meio depois, não chegamos aos 14 mil legalizados. Quando chega o momento da execução, entram as burocracias, as secretarias, os diferentes mi-nistérios envolvidos. No fi nal da via crucis, entrava o Ministério dos Negócios Estrangeiros, por-que o cidadão tinha de ir a um consulado português fazer uma marcação e receber o seu visto. Até aí, ele gastava em média nes-te processo 1500 a 2 mil euros.

Há uma manifestação convocada para dia 20 que tem como grande bandeira a legalização de todos os

imigrantes. A segunda bandeira é a alteração da lei da nacionalidade. Querem explicar?TM: A Lei da Nacionalidade, tem de ser alterada em vários aspec-tos. A lei actual não deixa ser gente quem quer ser gente. As pessoas que aqui nascem, que-rem ser como os outros, como os colegas de escola que também nasceram aqui. Mas um tem uns direitos e o outro terá outros. As pessoas sentem-se portuguesas, mas não os deixam ser. Também queremos uma nacio-nalidade que seja para todos que o desejem ser, independen-temente do seu extracto social. Não queremos uma lei só para os que têm mais poder económico. Muitos estrangeiros que estão em Portugal, porque não têm os rendimentos que a lei exige, não podem ter a nacionalidade por-tuguesa.

Que condições tem de preencher um cidadão que queira pedir a nacionalidade?TM: Os critérios são discricioná-rios, e o SEF tem todo o poder para determinar. Tem de ser um cidadão sem quaisquer antece-dentes criminais, no país de ori-gem ou em Portugal; toda a sua história é julgada num acto só. Tem de ter meios de subsistên-

cia adequados. Eles estabelecem muitas vezes o rendimento míni-mo, mas se o imigrante tem a seu cargo uma família que poderá ser numerosa, isso pode não chegar. Fica muito ao critério deles. Se for dos países de língua ofi cial portuguesa, tem de ter seis anos de autorização de residência.HB: E se for de outros países, são dez anos. Só que, pela lei actual, para chegar à autorização de re-sidência, ele tem de passar pelo menos por três anos de visto de trabalho para depois poder soli-citar a autorização de residência, e depois, sendo renovada essa autorização, ao fi m de seis anos, pode pedir a nacionalidade.

E no caso das crianças fi lhas de imigrantes que nascem em Portugal?TM: Se os pais têm seis anos de autorização de residência, e os fi lhos nascerem, têm de levar uma certidão do SEF e dizer na Conservatória que querem que o seu fi lho seja cidadão nacional; e iniciam um processo de nacio-nalidade para essa criança. Se os pais não têm seis anos ou não têm essa informação, apesar de registá-los na conservatória, vão registá-los ao Consulado do seu país e fi cam com a nacionalidade dos seus pais. E só podem obter a nacionalidade quando tiverem 18 anos e mesmo assim as coisas

não são lineares. Têm de provar que estiveram aqui um certo tempo... É terrível o processo de aquisição de nacionalidade. Só encontram bloqueios.

Outra questão é a integração dos imigrantes...MB: Acima de tudo, o que é importante é pôr a questão da imigração na agenda política de uma forma muito mais transver-sal. Não podemos esquecer que a imigração não se resume a um processo policial. A imigração tem de ter uma gestão baseada na prestação universal do serviço público, os imigrantes são cida-dãos, por isso têm de merecer serviços iguais aos cidadãos na-cionais. Isso implica abordar ou-tras questões: o direito de voto, direitos sociais, o acesso ao es-paço público, política de empre-go, lei de nacionalidade, a mais aberrante que existe no quadro político nacional.Porque a imigração não é uma questão avulsa, é uma questão da governação. Temos que saber di-zer que a imigração é um assunto como a saúde, a escola, a econo-mia. Tem de ter uma gestão mais integrada e mais transversal. Este é o fundamento mais completo que nos leva a convocar a mani-festação de dia 20.Leia esta entrevista na íntegra em www.bloco.org

CASA DO BRASIL“HÁ MUITOS PORTUGUESES NA ASSOCIAÇÃO”

HELIANA: Existe desde 1992, a origem são grupos de brasileiros que viviam em Portugal e que co-meçaram a encontrar-se. Quando ocorreu a eleição presidencial do Brasil em 1989, esses grupos come-çaram a fazer encontros. Mas a associação só existe desde 1992. Começou pe-quena. O trabalho é quase todo voluntário. A Casa do Brasil, junto com as outras associa-ções, tem procurado estar na defesa dos direitos dos imigrantes. Criámos mui-tas actividades, festas, convívios, debates, temos um jornal, cursos... e du-rante esses anos temos sempre crescido muito e esse tem sido um norte nosso: defender e trazer a comunidade brasileira e colocá-la junto com outros cidadãos. Porque aqui na Casa do Brasil não queremos só

imigrantes. Desde a direc-ção até aos sócios, temos todas as nacionalidades e muitos portugueses. Há muitos portugueses na di-recção na associação, que vêm ajudar, que traba-lham. E isso é um exemplo de integração e de cidada-nia. Há pessoas aqui que lutam por reivindicações e direitos que já têm.Temos estado sempre nas campanhas e nos proces-sos de regularização ex-traordinária, no Acordo do Lula e estamos apostando muito na manifestação do dia 20, espero que seja um momento de muita força para os imigrantes e o início de retomada de um trabalho conjunto por uma plataforma que inte-ressa a todos nós enquan-to imigrantes e interessa também ao Estado e aos cidadãos portugueses.

Rua São Pedro de Alcântara, 63 - 1º direito1250 - 238 LISBOATelefone: 213 471 580 Fax: 213 472 235 www.casadobrasildelisboa.pt

SOLIDARIEDADE IMIGRANTE“DIMENSÃO UNIVERSALISTA”

TIMÓTEO: O Solidarieda-de Imigrante nasceu em Junho de 2001. É uma associação virada para a luta, para a reivindicação, para a pressão. Abrange todas as comunidades de imigrantes. Temos uns milhares de sócios de 70 países diferentes. A diver-sidade é imensa. Mas o es-pírito associativo que reina e as cumplicidades que se trocam são enormes e têm trazido uma dimensão um pouco universalista.É uma associação aberta à iniciativa, que trabalha em rede, e que pretende dar respostas aos problemas que os imigrantes têm. Também temos muitos só-cios portugueses. Optamos por apoiar os imigrantes com uma postura de cida-dania activa. Ou seja: não fazemos para eles, mas fazemos com eles. Esta é a nossa forma de estar. Não fi camos só no discur-

so. Queremos na prática estar com eles. Desde pas-sar o Natal com famílias desalojadas, a trazê-los para as manifestações. Somos uma associação de âmbito nacional, porque activistas imigrantes qui-seram que assim fosse. Temos uma delegação em Beja, na Ericeira, estamos a fazer trabalho na Amado-ra, estamos em Trajouce, no concelho de Cascais, em Outurela, Portela, e estamos a trabalhar no Algarve, em pareceria com a Santa Casa da Misericór-dia de Albufeira. Temos alguns activistas em Coim-bra e vamos tendo onde as pessoas quiserem que assim o seja. Temos dinâ-micas que vêm de baixo. Nada é imposto de cima. São as próprias pessoas que decidem se fazem workshops, actividades in-terculturais, gastronomia, debates, fi lmes, etc.

Rua da Madalena, 8 – 2º1100-321 LisboaTelefone/Fax: 218870713e-mail: [email protected]

SOS RACISMO“A ASSOCIAÇÃO MAIS ANTIGA”

MAMADOU: O SOS Ra-cismo nasceu em 1990, num momento muito atribulado da vida polí-tica portuguesa, quando havia o ressurgimento em força da extrema-direita, depois do assassinato do José Carvalho e do Alcin-do Monteiro. Foi numa data emblemática, 10 de Dezembro, dia da Declara-ção Universal dos Direitos do Homem, que o SOS nasceu. De então para cá tem evoluído, fez parte do CNAI, do COCAI, e agora faz parte da Comissão pela Igualdade e Contra a Dis-criminação Racial. Tam-bém faz parte do Conselho de Administração da Rede Europeia Contra o Racis-mo, que é um órgão con-sultivo da União Europeia, que teve um papel central na redacção do artigo 12 do tratado de Amsterdão e na directiva Raça.

O SOS tem três áreas de actuação:A primeira é uma interven-ção pedagógica, promoven-do debates e seminários em escolas, em parceria com outras organizações, pro-movendo uma sociedade não-racista, intercultural.A segunda é uma inter-venção política, a tomada de posições e propostas concretas. Por exemplo, a lei contra a discriminação racial é uma proposta do SOS que o PCP recupe-rou. Outra foi o estatuto da carreira do professor estrangeiro.A terceira é uma interven-ção social, para fomentar uma sociedade intercultu-ral. Organizamos um even-to que é uma marca do movimento associativo, a Festa da Diversidade, feita por e para as associações do imigrante. Além disso, temos o gabinete de apoio jurídico e uma actividade editorial muito extensa.

Sede: Quinta da Torrinha, lote 11A, loja B, zona 1B – 1750 AmeixoeiraTelefone 217552700www.sosracismo.pt

Heliana Bibas, presidente da Casa do Brasil, Timóteo Macedo, do Solidariedade Imigrante e Mamadou Ba, do SOS Racismo.

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Março/Abril 2005 > 10BLOCO

AIV Convenção do Bloco de Esquerda terá lugar no mo-mento em que Por-tugal atravessa um

novo ciclo político, resultante da histórica derrota das direitas nas últimas eleições legislativas. Sabemos que existe uma enorme expectativa de mudança. Ali-ás, se o PS obteve uma maioria absoluta, pode dizer-se que a esquerda logrou alcançar uma maioria absolutíssima. O Blo-co de Esquerda interpreta estes resultados como um profundo desejo de ruptura face ao conti-nuismo que tem caracterizado a governação em Portugal, nos úl-timos vinte anos. O Bloco existe, na verdade, para romper com es-

ses podres poderes. Por isso, a IV Convenção, a realizar em Maio, opta por sublinhar a responsabi-lidade acrescida que nos foi dada pelo sucesso eleitoral. O que sig-nifi ca, desde logo, um partido atento às novas dinâmicas inter-nacionais e às formas mutantes do capitalismo global, cada vez mais assentes em pilares de ul-traliberalismo arrogante, conser-vador, moralista e belicista (com o seu apogeu na administração americana), fazendo da lógica da guerra infi nita a alavanca maior de um império com pés de bar-ro, porque profundamente endi-vidado e dependente de recursos energéticos.

Ao Bloco, com efeito, cabe-lhe o desafi o de se articular com as

esquerdas anti-capitalistas, onde quer que elas se encontrem, em-bora com particular sentido no espaço europeu. O trabalho em rede dos partidos de esquerda alternativa, dos velhos e novos movimentos sociais é uma condi-ção, não só para a emergência de imaginativas e originais modali-dades de acção política, como de intercâmbio de experiências emancipadoras, em que se cru-zam objectivos colectivos com realização pessoal e subjectiva. Na Europa, em particular, urge reunir energias contra o Trata-do Constitucional Europeu (ex-pressão no «velho continente» do ultraliberalismo global e da vontade de extorquir aos povos a possibilidade de seguir cami-

nhos outros que não os da pre-cariedade laboral e da obsessão orçamental), mas também contra as directivas que propõem mons-truosas semanas de trabalho de 65 horas e que apresentam a fl exibilidade da desregulação da relação laboral como o único ca-minho da competitividade.

Por todas estas razões, o Bloco deve saber adaptar-se ao novo ciclo político. Sabemos que, em governações do Partido Socia-lista, existe uma tendência para um certo refl uxo e acomodação dos activismos e das lutas, não só porque se diluiu a crispação do anterior período de governa-ção das direitas, mas também porque aqui ou ali se ensaiam, quase a título simbólico, uma ou outra medida emblemática de redistribuição social. Mas o Bloco não se contenta com mi-galhas, nem, tão-pouco, com a possível humanização dos ros-tos e contornos da exploração. O Governo que agora tomou posse é um exemplo de como as áreas cruciais continuam na obediência da ortodoxia fi nan-ceira. É trabalho do Bloco fazer as perguntas difíceis e apresen-tar no parlamento as propostas que fazem a diferença (legali-zação do aborto, rendimento

mínimo, revogação do código do trabalho, defesa dos serviços públicos e da segurança social, qualifi cação dos recursos huma-nos, combate ao desemprego, incentivos à inovação, combate às múltiplas formas de discrimi-nação).

Mas o Bloco de Esquerda tem de existir, em força crescente, fora do parlamento. Enquan-to esquerda socialista moderna importa repensar as suas carac-terísticas de partido-movimento, mais implantado, socialmente mais representativo, atento a tudo o que se passa no espaço público.

Os resultados das últimas elei-ções alteraram o perfi l do pró-prio partido: é agora claramente nacional, jovem mas com maior penetração em grupos mais ido-sos, popular e não meramente acantonado às classes médias urbanas. As formas organizativas que o Bloco escolher terão de refl ectir esta nova possibilidade de irmos ao encontro de um le-que muito mais diversifi cado de sujeitos sociais. O que obriga, desde logo, à rejeição de secta-rismos, paternalismos e rotinas e, simultaneamente, ao estímulo para que muitos milhares de ho-mens e mulheres de todo o país se sintam estimulados à discus-são e à participação.

O novo ciclo é também um reinício (com memória!). Algo a que o Bloco está, desde o início, habituado: fazer de cada mo-mento um instante inaugural.

Uma convenção para um novo ciclo

Calendário do período preparatório da Convenção14 de MarçoEntrega de Moções de Orientação à Comissão Or-ganizadora do Congresso. Último dia para apresen-tação às Coordenadoras distritais/regionais de pro-postas para que grupos de trabalho ou núcleos profi s-sionais se constituam em assembleias para eleição de delegados. Mesa apro-va proposta de revisão de Estatutos. Mesa Nacional aprova proposta de revisão dos Estatutos.

20 de MarçoInício da edição do caderno “deBatEs” nº 1.

28 de Março - Limi-te para distribuição do ca-derno “deBatEs” n.º 1 aos aderentes. Limite para que se iniciem os debates dis-tritais/regionais com repre-sentantes das Moções de Orientação.

9 de AbrilLimite para apresentação à Comissão Organizadora da Convenção de propos-tas de adenda/alteração às Moções de Orientação e de propostas de alteração aos Estatutos. Início da apre-sentação às Coordenadoras distritais/regionais de listas de candidatura a delega-dos/as (antecedência de 2 semanas em relação ao dia da respectiva assembleia).

13 de AbrilInício do envio aos aderen-tes das listas de candida-tura a delegados/as (ante-cedência de 10 dias em relação ao dia da respecti-va assembleia).

16 de AbrilPrazo fi nal para que os re-dactores das Moções de Orientação decidam da in-clusão, ou não, das propos-tas de adenda/alteração.

17 de AbrilInício da edição do caderno “deBatEs” nº 2.

18 de AbrilLimite para novas inscri-ções no BE de aderentes com pleno direito de par-ticipação no processo da Convenção.

19 de AbrilEmissão dos cadernos elei-torais.

20 de AbrilEnvio dos cadernos eleito-rais para as Coordenadoras distritais/regionais.

22 de AbrilÚltimo dia para debates com representantes das Moções de Orientação.

23 de AbrilInício das assembleias para eleição de delegados/as.

3 de MaioÚltimo dia para realização de assembleias para elei-ção de delegados/as.

7 e 8 de MaioIV Convenção Nacional do Bloco de Esquerda.

Texto de João Teixeira Lopes

Como os leitores terão notado, o “Es-querda” não saiu no início de Março. Para chegar aos assinantes na data prevista a edição é fechada pouco depois do dia 20 de cada mês. Foi impossível à redacção do jornal, mui-to envolvida, com diferentes respon-sabilidades, na campanha eleitoral, cumprir os prazos necessários para a produção do “Esquerda”. Caso tives-se sido editado, o número de Março sairia quase em cima de o de Abril. Optamos, por isso, por fazer um nú-mero único para os dois meses. A to-dos os leitores e assinantes o nosso pedido de desculpa. O jornal retoma agora a sua periodicidade normal.

NOTA DA EDIÇÃOE

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11 > Março/Abril 2005

A assinatura anual do “Esquerda” é de 8 euros (incluindo despesas de envio). Recorte ou fotocopie, preencha e envie este cupão juntamente com um cheque ou vale postal à ordem de Bloco de Esquerda para: Bloco de Esquerda, Av. Almirante Reis, 131, 2º, 1150-015 Lisboa ou vale postal à ordem de Bloco de Esquerda para: Bloco de Esquerda, Av. Almirante Reis, 131, 2º, 1150-015 Lisboa

CUPÃO DE ASSINATURA:NOME: ADERENTE? (SIM/NÃO):

MORADA:

TELEFONE: E-MAIL:

JUNTO CHEQUE Nº: DO BANCO:

QUERES FAZER SUGESTÕES, CRÍTICAS OU PUBLICAR A TUA OPINIÃO NO “ESQUERDA”? ESCREVE PARA BLOCO DE ESQUERDA - “ESQUERDA”, AV. ALMIRANTE REIS, 131, 2º, 1150-015 LISBOA OU [email protected]. NO CASO DE QUERERES VER A TUA CARTA PUBLICADA NO JORNAL, O TEXTO NÃO PODERÁ TER MAIS DE 1000 CARACTERES E A DECISÃO SOBRE A SUA PUBLICAÇÃO ESTÁ SUJEITA AOS CRITÉRIOS EDITORIAIS DA DIRECÇÃO DO JORNAL.

PELA TERCEIRA VEZ, os Jovens do Bloco organizam a sua Conferência para debater e tomar decisões sobre os problemas sociais que mais afec-tam a juventude e toda a sociedade. Depois de Lisboa em 2000 e do Por-to em 2003, chega agora a vez da cidade de Coimbra acolher muitos jovens dispostos a mudar o país e o mundo.Serão três dias de discussão, cultura e convívio. O objectivo é reunir todas e todos os jovens do Bloco de Nor-te a Sul do país, para prepararmos em conjunto os próximos combates políticos. Em cima da mesa vão es-tar temas como o trabalho precário, o Ensino Superior e Secundário, o feminismo, a ecologia, a sexuali-dade, o anti-racismo, as drogas, e a vontade de construir um mundo solidário e sem guerras. Para todas estas questões a Conferência tentará encontrar respostas efi cazes, tendo presente a necessidade de unir to-das estas lutas para dar mais força a cada uma delas.E porque o Bloco está a crescer (gra-ças a políticas claras de ruptura com

o neoliberalismo e o conservadoris-mo), quer materializar este cresci-mento numa organização mais forte e empenhada na mudança do quoti-diano de todos. Por isso, não esque-cerá a componente organizativa e a necessidade de estruturar os jovens do Bloco por todo o país reforçando a sua implantação e capacidade de acção.No primeiro boletim estão publica-dos textos sobre cada um dos te-mas da Conferência, da autoria de activistas das diversas áreas. Estes textos são uma base para a discus-são nas comissões e nos plenários. Todos os jovens podem enviar pro-postas de alteração ou outros textos alternativos sobre os mesmos temas, ou ainda textos sobre os temas que não estão no programa da conferên-cia, mas que podem sempre ser dis-cutidos em plenário.A Conferência é aberta a todos quan-tos queiram contribuir para a cons-trução desta alternativa que ainda tem um longo caminho a percorrer. Texto de Miguel Reis

Unir as lutas, construir a alternativa!

Inscreve-te já! Porto 222002851/919127035; Coimbra 963380779; Viseu 963101878; Guarda 914725450; Covilhã 962445442; Braga 917859973; Évora 964214254; Ribatejo 936174922; Lisboa e resto do país: 213510510.

OBloco apresentou-se às eleições com um programa claro para um novo ciclo de políticas que rom-

pam com o conservadorismo neoliberal. Entre os nossos 10 compromissos prioritários para os primeiros 100 dias do novo parlamento, a suspensão dos exames do 9º ano é uma das me-didas de urgência para inverter a lógica com que o governo das di-reitas foi desesperando o país.

Em primeiro lugar, os exames têm de ser suspensos porque não existem verdadeiramente con-dições para eles se realizarem. Mas além disso, a rejeição destes exames permite pensar a escola pública de uma outra forma.

A escola que existe sufoca-nos a vida e é injusta sob todos os pontos de vista. Por isso é essen-cial, simultaneamente, defender

a escola pública sem concessões e defender também a reinvenção dessa escola. Recuperar o pro-jecto da escola enquanto instru-mento de combate às desigualda-des sociais, espaço de promoção de progresso e de emancipação, de valorização de múltiplas cul-turas, lugar das mais diversas aprendizagens, de intensa par-ticipação democrática, lugar de vida e de felicidade. E recuperar esse projecto rejeitando políticas que pretendem transformar a educação em mercadoria, as re-lações pedagógicas em relações empresariais, a escola em espaço de exclusão e de selecção social.

A colonização da aprendiza-gem pelo poder crescente da avaliação é um traço central das nossas escolas e tem de ser com-batida se queremos construir uma alternativa. A imposição de exa-mes nacionais, agora também no

9º ano, deve ser completamente rejeitada: é asfi xiante quanto ao cumprimento dos programas, não permitindo adaptar as maté-rias aos interesses das turmas e aos ritmos de cada aluno; é in-justa socialmente, porque avalia o produto, através de uma nota fi nal, e não o processo de apren-dizagem, o que quer dizer que aqueles que já partem com con-dições culturais e sociais mais favoráveis terão vantagem sobre os outros; reforça a componente selectiva da avaliação; não tem em conta os diferentes ritmos e tempos de aprendizagem de cada alun@ nem as diferenças cultu-rais, o que penaliza mais grave-mente os imigrantes, por exem-plo. Os exames constituem, além do mais, momentos de pressão e de competição desenfreados, contrários à lógica que defende-mos, e têm consequências cada

vez mais graves na medicalização dos alun@s.... A paranóia dos exames, de acordo com a qual parece ser mais importante ava-liar do que aprender, do que des-cobrir e ter prazer em conhecer, é incompatível com a concepção de escola que defendemos.

O que sabemos do novo Go-verno do PS não augura nada de bom. Apenas o continuismo tem sido anunciado: mantém-se a submissão ao Pacto de Estabi-lidade e Crescimento, no ensino superior as propinas vão perma-necer nos valores máximos, no ensino básico manter-se-ão os exames do 9º ano... Na oposição, a esquerda que somos continu-ará a falar claro e a ser a voz de alternativas e de propostas con-cretas.

Dentro e fora do parlamento, saberemos construir uma outra escola: na luta por uma avaliação

realmente contínua e formativa, por infra-estruturas decentes, contra medidas moralistas e re-presivas impostas aos estudan-tes, pelo livre acesso ao ensino superior, pelo ensino gratuito, contra um ensino transmissivo e uma educação para a passivida-de, pela educação sexual, contra o lóbi das editoras e o preço dos manuais, pela defesa intransi-gente da escola inclusiva, pela redução do número de alunos por turma, pela gestão democrá-tica e participada, por uma esco-la sem tabus, por uma escola de igualdade. Em todas estas ques-tões sabemos como são possíveis alternativas e assumimos a nossa responsabilidade no combate ao atraso.

Aqui está, agora como sempre, o Bloco. Para travar todas as lutas e para determinar políticas que mudem a vida.

Suspender os exames para reinventar a escolaTexto de José Soeiro

JOVENS

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CAMPANHALEGISLATIVAS

2005FOTOS DE PAULETE MATOS

Fernando Rosas na Feira de Azeitão Pedro Abrunhosa em Braga

Francisco Louçã e Luís Fazenda em Braga Sérgio Godinho no Entroncamento Jovens em Lisboa

Acção em Setúbal Comício em Braga Último dia do forno na Mortensen, Marinha Grande

Acção com pescadores, Trafaria DJ no comício de Leiria Comício em Lisboa

Fernando Tordo no Barreiro Acção nas ruas de Braga Andrea Peniche em distribuição na Rohde, S. Mª Feira

Jovens em Barcelos Francisco Louçã em distribuição na Autoeuropa, Palmela O dia da Vitória, na Caixa Económica Operária, Lisboa