espiritualidades

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Espiritualidades Catolicismo Umbanda Judaísmo Testemunhas de Jeová Espiritismo As muitas fés de BH 1ª edição

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Revista produzida pelos alunos da disciplina "Laboratório de Produção de Textos", do curso de Comunicação Social da UFMG (2013/1°).

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Espiritualidades

CatolicismoUmbanda

Judaísmo

Testemunhasde Jeová

Espiritismo

As muitas fés de BH

1ª edição

“O Rio, como em todas as cidades nestes tempos de irreverência, tem em cada rua um templo e em cada homem uma crença diversa (...). [A] cidade pulula de religiões. Basta parar em qualquer esquina, interrogar”. Foi assim que há quase cem anos, Paulo Barreto, o “João do Rio” introduzia-nos aos mundos e submundos das religiões cariocas ao destrinchá-las numa série de relatos marcados pela ironia e irreverência típicas daquele repórter. Célebre exercício de apuração e de refinamento da escrita, as “Religiões do Rio” (1904) inspiraram e continuam inspirando gerações de leitores, escritores e jovens jornalistas.

Tendo isto em vista é que foi proposto aos alunos da disciplina de Laboratório de Produção de Textos (2013/1°) do Curso de Comunicação Social da UFMG um pequeno exercício que tivesse como ponto de partida a obra de João do Rio. A ideia inicial era a de tentar atualizá-la e tecer, a partir da ótica belo-horizontina, algumas das variadas formas de Fé que circundam a capital mineira.

Os jornalistas em formação foram, então, subdivididos em grupos de trabalho para vivenciar ao máximo a rotina produtiva de uma redação. As páginas que se seguem, portanto, são resultantes do trabalho colaborativo dos alunos, que desenvolveram o conceito da revista, checaram as informações, produziram e editaram os conteúdos verbo-visuais. Obviamente a multiplicidade das práticas religiosas é sem dúvida inesgotável e o que tratamos de realizar aqui foi um breve exercício de apuração, pesquisa e realização jornalística.

Ceci est un revue de bonnefoy

Leandro LagePhellipy Jácome

Editorial

Sumário

Professores: Leandro LagePhellipy Jácome

Editor chefe Diego Ribeiro Editores:Aline CarvalhoBruna BragaCaio ParanhosDaniela SouzaTaiane Dantas

Editores de imagem: Afonso Sepulveda Antonio Tinôco Clara Novais Felipe Ivanicska Luíza França

Produtores: Eduarda Rodrigues Mariana Fontes Paulo Silvestrini Rodrigo de Oliveira Romara Chaves

Sylvia Chequer Yolanda Assunção

Redatores: Aline Cabral Ana Carolina Martins Jaqueline Corradi João Paulo Rabelo José Henrique Pires Nina Rocha

Catolicismo 4 Umbanda Belorizontinos transmitem fé católica e mantêm viva a religião em terras mineiras.

Única religião brasileira mistura crenças diversas e é rica em cores e cheiros.

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Judaísmo Comunidade judaica em Belo Horizonte se esforça para preservar cultura

10 Testemunhas Vozes de Jeová: Saiba mais sobre os que vêm a sua porta para pregar

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Espiritismo Terapias alternativas unem fé e ciência

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EXPEDIENTE

Às 10h50 da manhã de um domingo frio de junho, alguns bancos da Igreja Nossa Senhora da Boa Viagem, no Centro, começavam a ser ocupados

por pessoas, em sua maioria idosas, que rezavam enquanto esperavam. A luz do sol atravessava os vitrais e lançava no chão um coágulo colorido e difuso. O silêncio do ambiente era levemente perturbado quando conhecidos se viam, mas logo voltava a sua condição de tranquilidade. No altar, em frente a um púlpito, uma moça loira de túnica verde testou o microfone e esperou mais alguns momentos. Atendendo a um sinal do fundo da igreja, ela deu início à missa dizendo: “sejam bem vindos, irmãos e irmãs, a mais uma celebração do Décimo Primeiro Tempo Comum”. Então os acordes de uma música foram dados no piano e a assembleia cantou em uníssono enquanto acompanhava a entrada do padre.

O espaço repleto de decorações com motivos religiosos, flores e velas parecia pequeno para tantas pessoas que cantavam e, com as mãos ao alto, saudavam efusivamente o celebrante e seus auxiliares. Na verdade, essa ideia de lugar cheio não é apenas espiritual, mas também física. A igreja é pequena para ser a Catedral de Belo Horizonte, título que lhe foi instituída pela Diocese da capital em 11 de fevereiro de 1921 até que fosse construída, em um novo espaço, a Catedral Cristo Rei. Na época, a cidade, de proporções muito menores, foi bem atendida pela paróquia. Em 1936, esforços foram apreendidos para a criação dessa catedral, que ficaria na Praça Milton Campos, no alto da Avenida Afonso Pena. No entanto o projeto foi deixado de lado e retomado, quase 100 anos depois, com novo endereço.

Próxima à Cidade Administrativa Presidente Tancredo Neves, a nova catedral projetada por Oscar

Niemeyer possuirá traços numa espécie de gótico moderno, vinculando-se ao santuário da Boa Viagem também inteiramente construído no estilo gótico que predominou na Europa nos séculos XII e XIII. O novo templo vai ter capacidade para 5 mil pessoas na parte interna e 15 mil na externa. A escolha pela localização, na Avenida Cristiano Machado, Vetor Norte de BH, deu-se por ser uma “região que está na periferia da capital e, ao mesmo tempo, é o epicentro da Região Metropolitana. Local estratégico para acolher e servir os mais pobres e, ao mesmo tempo, irradiar os ensinamentos do Evangelho de Jesus Cristo”, segundo Marcos Aurélio Júnior, assessor de comunicação da Arquidiocese de Belo Horizonte.

Para a edificação, que por enquanto possui apenas uma cruz de aço e nióbio no terreno, os fiéis podem contribuir diretamente com a campanha “Faço Parte”, uma espécie de dízimo. Na missa das 11 horas, Padre Gleidson comenta “as outras igrejas pedem muito e a nossa nem pede direito, mas é sempre bom poder dar de volta o que vem de Deus”. Um tempo depois, auxiliares passaram pelos fiéis com um receptáculo de tecido vermelho aveludado para depósito de doações. Muitos católicos, como Suely Ferreira, 47, frequentadora da Paróquia Nossa Senhora Mãe da Igreja, localizada no Luxemburgo, defendem a doação: “Contribuo com o dízimo com alegria, pois ele é compromisso de todo cristão, ato de fé, agradecimento e partilha, visto que tudo que temos e recebemos vem de Deus e pertence a Ele”, afirma.

Na missa do centro, o padre jovem e aparentemente de outro estado brasileiro, foi bem-humorado e didático. No momento da homilia, em que acontece uma explicação das leituras da Bíblia, ele fez uma contextualização aos dias de hoje e esclareceu que quando o livro sagrado diz de um milagre, uma ressurreição, por exemplo, ele fala em

Fé resiste entre as montanhasDogmas milenares ainda são praticados por fiéis da Igreja Católica em Belo Horizonte

Momento do “Pai Nosso” na Igreja da Boa Viagem

metáfora e que o sentido que deve ser apreendido é o de uma transformação dos sentimentos das pessoas. Sem alterar o tom de voz, ele andava pelo corredor e sua longa batina verde com bordados dourados encostava nas pessoas enquanto caminhava. Ao fazer uma brincadeira com a assembleia, disse que a Igreja precisa da juventude. Nesse momento lançou uma pergunta sobre até que idade se é considerado jovem e ouviu como resposta 20, 25, 30, 35 e até 40 anos. Rindo, disse que a idade está no coração de cada um.

Na prática, a ONU define como jovem as pessoas com até 24 anos de idade. Desse grupo, na celebração, poucos estavam presentes. Mariana Miranda do Nascimento, 23, como integrante do Grupo de Jovens da Boa Viagem, sente que a religião é importante nessa fase da vida e participa também da Pastoral da Acolhida e do Grupo de Oração, além de se confessar pelo menos uma vez ao ano, como manda o sacramento. Naquela manhã, estava vendendo quitutes de café da manhã para arrecadar dinheiro para a Jornada Mundial da Juventude a acontecer no Rio de Janeiro, de 23 a 28 de julho, com a presença do Papa Francisco.

À exemplo da mãe Suely, Maria Clara Ferreira, 17, aluna do Colégio Santo Antônio, é católica fervorosa, como ela mesma declara. “Busco não julgar, não mentir, não desejar o mal, não xingar. Assim, Deus vive mais intensamente em mim e, consequentemente, me torno reflexo Dele na vida dos que me rodeiam, permitindo que Ele me use quando quiser e como quiser.” Dessa forma, a jovem segue os pensamentos norteadores da Igreja Católica que orientam a ação humana em torno do bem, da verdade, da caridade e do amor ao próximo.

O economista aposentado Valdemar Pimenta Filho é mais um exemplo de “pessoa de fé”. Vai diariamente à missa na Igreja da Boa Viagem onde, aos 81 anos de idade, é ministro da Eucaristia - ato simbólico nas celebrações católicas que representa a morte e a ressurreição de Cristo. Já deu aulas de catequese, ensinando a doutrina cristã aos mais jovens, e afirma contribuir de diversas formas em tudo que for preciso. Esses trabalhos, em grande parte voluntários, são importantes dentro da estrutura da Igreja para poder difundir a religião e também realizar obras de solidariedade, como faz Suely na Pastoral da Saúde do Hospital Luxemburgo. Segundo ela, suas ações de evangelização se norteiam pelo “amor de Deus e que Jesus nos ensinou no alto da cruz, dando a sua vida por cada um de nós”.

Como em todas as religiões, só é possível trabalhar a espiritualidade no cotidiano quando se conhece os dogmas e os preceitos. Suely é categórica nesse sentido: “Precisamos procurar saber o que Jesus falava, o que ensinava e principalmente como agia. Não basta conhecer os fatos históricos ocorridos em sua época, como se fosse uma história passada. Temos que ir além, experimentar Jesus em nossas vidas e aplicar seus ensinamentos nas situações cotidianas”.

Padre Gleidson, ao fim da missa, avisou da venda do desjejum na porta lateral e se divertiu ao dizer que o pão de batata estava delicioso, mas, como tinha pouco, pediu que deixassem para ele. Em seguida, um auxiliar da celebração subiu alguns degraus por detrás do altar e depositou em um lugar que já estava iluminado o ostensório. Na sequência, entre cantos e aplausos, os fiéis reverenciaram a peça onde se guarda e expõe a hóstia consagrada que para os católicos é a Eucaristia, o milagre vivo. No relógio já passava de meio-dia e meia quando o celebrante deu a bênção final. Sem pressa, a igreja se esvaziou e ficaram apenas os coágulos de luz que passavam pelos vitrais coloridos e o corpo de Cristo exposto.

Mariana do Nascimento frequenta o Grupo de Jovens da Boa Viagem

Suely Ferreira e a filha Maria Clara, fé compartilhada em família

Valdemar Pimenta Filho, 81 anos de devoção à Igreja Católica

LUGAR PARA O OLHO

O canto da Umbanda

Ilustração: Renato Freitas

A Avenida Antônio Carlos está quase vazia, sem trânsito. São 12h40 e seguimos em direção ao Bairro Bonfim, mais precisamente na

Rua Abaeté, para o Grupo Espírita Caminhos da Renovação. Este é o terreiro que Carol Ferreira frequenta há cerca de um ano e onde pretende ser atendida na tarde deste sábado, 8 de junho. O grupo se denomina espírita, porque também abriga religiões que invocam espíritos além da umbanda. Em algum momento do percurso, trocamos algumas palavras sobre o preconceito que existe em torno das práticas umbandistas. Sem conhecer as crenças e os rituais, muitos julgam negativamente a religião oriunda dos povos africanos. O julgamento surge devido aos mitos que se criaram ao longo dos anos em relação às religiões e ao próprio povo afro-descendente. Dentro deste grupo está a umbanda, única religião criada no Brasil, que se origina da pluralidade que une crenças católicas, espíritas, indígenas e africanas. A mistura é tanta que dificulta até mesmo a delimitação do que faz parte da religião e o que pertence a outros cultos. Os santos são católicos, os espíritos remetem ao kardecismo, o candomblé se faz presente pelos orixás e o aspecto indígena está na forte ligação com os elementos da natureza. Esta é a Umbanda, religião que segue o preceito da caridade e amor incondicionais e da elevação da moral e do espírito. Não existem registros que afirmam ao certo a quantidade de umbandistas no Brasil. O último censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas, em 2010, indica que aproximadamente 590 mil brasileiros declararam ser adeptos da umbanda e/ou candomblé. Uma pesquisa de mapeamento realizada em 2010 pelo projeto Alimento: Direito Sagrado, do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, mostra que a região metropolitana de Belo Horizonte possui 353 terreiros de religiões afro-brasileiras. É um equívoco comum generalizar, tanto em pesquisas quanto nas crenças populares, a umbanda com outras religiões afro-brasileiras. Depois de percorrer uma parte do trajeto a pé, chegamos até um portão marrom, bem ao lado de um retiro de idosos. Nenhuma placa sinalizava que ali havia um terreiro de umbanda. Atrás do portão, estende-se um galpão estreito e comprido, com o chão inclinado e fileiras de cadeiras. As cadeiras estavam direcionadas para outro ambiente que estava escondido atrás de uma cortina com estampa de flores. Logo na entrada, os frequentadores pegam as senhas para o atendimento

individual e sentam-se esperando o início do ritual. As paredes brancas ostentam estandartes de santos e orixás, enfeitados com fitas coloridas, assessórios brilhantes e conchas do mar. Os ventiladores espalham um cheiro de ervas pelo ambiente que começa a encher de pessoas e murmúrios. Os cheiros mudam ao longo do ritual, intensificando-se nos momentos de clímax. Os aromas compõem o ambiente tanto quanto as cores e as formas da decoração, assim como o movimento dos corpos e a fumaça dos incensos que embaça a visão da plateia. A cortina florida é aberta, revelando um espaço amplo e bem decorado. Imagens de Yemanjá, São Jorge e Jesus Cristo se misturam com imagens de Caboclos e Preto-Velho. Rosas vermelhas e velas ficam dispostas em torno das esculturas e dos batuques. Algumas pessoas começam a transitar pelo espaço, vestindo roupas brancas, saias rodadas e colares de pedras coloridas. O clima é de descontração e não há ninguém sério no local. Rogério, o pai-de-santo do terreiro, aparece com um livro na mão, de autoria de Chico Xavier, saúda os fieis com um boa tarde e lê algumas páginas. Após a leitura, o pai-de-santo de camisa e calça brancas e um grande colar azul, tira os óculos e faz uma reflexão sobre o que foi lido. Uma questão cotidiana: a dificuldade que encontramos ao realizar projetos, que às vezes não se realizam por preguiça. Segundo Rogério, “devemos ficar atentos se estivermos começando a parar”.

O canto da Umbanda A mais brasileira das religões surgiu da mistura de diferentes crenças

Pretos Velhos:divindadespurificadoras deantigos escravosafricanos

Com o fim das reflexões, todo o terreiro reza a oração “Pai Nosso” e o ritual começa. Em roda, eles dançam no ritmo dos tambores, batem palmas e cantam. O pai-de-santo espalha incenso por todo o terreiro e cinco dos integrantes da roda mudam suas expressões, fecham os olhos, vão para o meio da roda e soltam alguns gritos. Incorporaram os espíritos dos Caboclos. Cada um dos incorporados segura uma folha da espada de São Jorge. Logo após, são incorporados os espíritos Exus. Os fiéis sentados nas cadeiras acompanham silenciosos o ritual. Ao fim da cerimônia, os incorporados se direcionam para espaços privados para os atendimentos individuais. Carol estava com a senha número 10, e na cabine, conversou com Exu ou Pomba-Gira, buscando auxílio para resolver seus dilemas e superar as dificuldades. Na umbanda, apenas os guias (espíritos ou entidades) são invocados; eles estão abaixo dos orixás, que por sua vez, vêm abaixo de Deus na hierarquia. Nos terreiros, as pessoas que incorporam os espíritos são os médiuns. O Pai de Santo, ou Babalorixá, é o responsável espiritual por tudo o que acontece nos rituais. Há também os curimbeiros, que tocam os tambores. (Ver Box) Não distante do terreiro, no Centro de Belo Horizonte, existem inúmeras lojas especializadas em artigos religiosos. Sem muito esforço encontramos a primeira delas na entrada do Mercado Central, na Rua Santa Catarina. Denominada O Segredo da Umbanda, a loja possui inúmeros sais para banho, incensos, figuras religiosas, pedras e velas. Também situada no Mercado, fomos à loja Casa Pai Oxalá, que ofertava praticamente os mesmos itens. Apesar

do intenso movimento - era sábado e o local estava lotado -, a vendedora Franklaine da Silva declarou ser leiga no assunto, mas que possui alguns conhecimentos básicos, como para qual entidade cada item é dedicado. Ela também contou que as velas são os artigos mais procurados e que clientes de diversas religiões fazem compras na Casa Pai Oxalá. É difícil diferenciar quem é de cada religião. Fora do mercado, fica a Casa da Umbanda, na Rua Goitacazes. A loja é grande e os artigos para a venda estão amontoados por toda parte, em estantes, bancas, e até dependurados no teto. Além de muitas figuras de São Jorge espalhadas pela loja e a imagem de um Preto Velho logo na entrada do recinto. A Casa da Umbanda está cheia, e apesar do movimento se intensificar no final de semana, o proprietário Davi Rodrigues afirma que o número de clientes que fazem compras diariamente nas três unidades da loja oscila entre quinhentas e mil pessoas. A primeira filial da Casa da Umbanda surgiu em Venda Nova, nos anos 80, quando ainda novo Davi viu uma boa oportunidade de negócio, mesmo não sendo adepto da religião. Além da loja inicial em Venda Nova e do centro, Davi também gerencia com o irmão, Barti, uma loja no bairro São Benedito. A Casa da Umbanda é voltada exclusivamente para itens umbandistas, principalmente ervas, banhos e velas. Davi conta que percebe uma “retratação” da religião a partir da maior procura e abertura de lojas do ramo. Criado na religião católica, ele hoje possui uma ligação muito forte com a Umbanda. “Aprendi a gostar da religião e adoro a cultura africana. A religião faz parte da minha vida, eu a defendo e brigo quando é preciso. O preconceito contra religiões de matriz

Imagens e ornamentos encontrados nas lojas de umbanda

africana hoje em dia diminuiu, mas ainda existe.” Longe dos preconceitos, a estudante Stephanie Navarro Diniz frequentou terreiros para conhecer melhor a Umbanda. Com alguns familiares envolvidos na religião, ela explica que a Umbanda, como tantas outras crenças, possui diversas ramificações, mas que todas remetem a um único propósito: a caridade. Outro princípio apontado por ela como foco da religião é a evolução espiritual, que ocorre através das incorporações. A incorporação é apontada como uma via de três mãos: quando o médium recebe um espírito, ambos se ajudam, além de também auxiliar a evolução de quem está recebendo o atendimento mediúnico. Ainda que não frequente mais sessões de Umbanda, Stephanie conta que possui um enorme apreço pela religião. “De todas as religiões, acho que a umbanda é a que mais prega a igualdade, e isso me fez criar um grande respeito por ela.”

CABOCLOS: espíritos indígenas evoluídos que, após a morte, tornam-se guias de luz e grandes trabalhadores no terreiro

EXUS: espíritos guardiães que estão relacionados à fertilidade e à natureza. Auxiliam na resolução dos carmas. A Pomba-Gira é um Exu feminino.

MÉDIUM: termo do Espiritismo, adotado pela Umbanda para designar pessoas que são capazes de dialogar com o plano espiritual

ORIXÁS: divindades africanas que representam as forças da natureza. Estão associados a santos católicos devido ao sincretismo religioso

O PAI-DE-SANTO: o médium e conhecedor perfeito de todos os detalhes para o bom andamento de uma sessão.

São Jorge: santo católico

que representao orixá Oxóssi

GLOSSÁRIO DA UMBANDA

Perseguições religiosas, problemas econômicos e epidemias eram elementos que compunham o cenário da Europa no início do século XIX. O

contexto não era favorável, sobretudo para algumas minorias. Em busca de melhores condições de vida, muitos grupos vieram para o Brasil, estabelecendo-se em diversas regiões do país. Membros da comunidade judaica se instalaram nas regiões Sul e Sudeste, fugindo dos conflitos na Europa. Muito mais do que imigrantes, os judeus trouxeram ao Brasil uma nova religião. O Judaísmo é o mais antigo culto monoteísta ainda existente. Seus seguidores são os antigos hebreus, atualmente chamados judeus ou israelitas. Esse povo se formou em 2000 a.c. na Mesopotânia e sua religião foi fundada por Abraão. O Judaísmo compreende muito além de crenças religiosas, mas também costumes, cultura e estilo de vida de uma comunidade étnica que persevera ao longo de quarenta séculos de existência. Alguns rituais são sagrados para o povo judeu, dentre eles a circuncisão dos meninos aos oito dias de vida e a celebração de iniciação da vida adulta, que é chamado Bar Mitzvah para os meninos e Bat Mitzvah para as meninas. A kippa é uma

pequena touca usada pelos judeus e representa o respeito a Deus no momento das orações. O shabat é um ritual de grande importância entre os fiéis dessa crença. Esse nome é dado ao dia de descanso no judaísmo e se inicia a partir do pôr do sol da sexta-feira até o pôr do sol do sábado. Em Belo Horizonte, a chegada de membros da comunidade judaica coincide com a construção da cidade, no final do século XIX. “Desde a fundação da cidade, alguns judeus já vieram morar aqui, mas a comunidade cresceu devagar”, afirma o Rabino Leonardo Alanati. Nas primeiras décadas do século XX, existiam pequenas reuniões dentro das casas de membros da comunidade. Por volta dos anos 40, os grupos começaram a se juntar e dar origem a sinagogas. Atualmente, a sinagoga Tiferet Israel, localizada na Associação Israelita Brasileira - que fica no bairro Santa Efigênia, região centro-sul de Belo Horizonte - é a mais influente na comunidade judaica da capital. A necessidade de transmitir a tradição aos mais jovens tem um papel fundamental na cultura judaica, princiapalmente em uma comunidade pequena como a de Belo Horizonte. Para a professora Sara Grunbaum, a família deve ser o primeiro espaço de ensinamento dos valores judeus. “O papel dos

Shalom, BH!

jovens é manter viva a tradição e a cultura do povo judeu e transmitir isso para seus filhos. O importante é não deixar que a história se perca, e que a luta pela sobrevivência do povo judeu seja sempre lembrada”, diz. O desejo de perpetuar a tradição e os valores judaicos na capital mineira estimulou a formação de espaços de formação de crianças e jovens. Em 1961, foi fundada a Escola Theodor Herzl, que atende desde o jardim de infância até o Ensino Fundamental regular, combinando a educação tradicional com os preceitos do judaísmo. Mais do que o ensinamento de dogmas e da língua hebraica, a escola busca ser para os alunos um espaço de convivência e manifestação da cultura. “O papel da escola é formar na criança a identidade judaica, ela tem que entender que faz parte de um povo espalhado pelo mundo inteiro”, afirma Iara Leventhal, diretora da escola.

Além da Escola Theodor Herzl, há também um grupo de jovens, o Habonim Dror, frequentado por jovens judeus. Embora haja debates e discussões religiosas, o grupo possui uma natureza cultural e humanista. Seu principal objetivo é unir os jovens da cultura, para que possam se relacionar e perceber o mundo de forma crítica, dentro da ótica judaica. As atividades do grupo ocorrem aos sábados, e baseiam-se na discussão de fatos e histórias ligadas ao mundo do judaísmo. “Em BH, o Dror é o único movimento judaico tradicional para jovens que existe. No grupo, a gente formula uma discussão com os integrantes, permitindo que eles exponham a opinião de acordo com os preceitos judaicos”, destaca Sharom Zanandrais, líder juvenil do Habonim Dror.

Líder juvenil do Habonim Dror, Sharom Zanandrais.

Direitora da Escola Theodor Herzl, Iara Leventhal.

Shalom, BH!

Mesmo com os encontros entre os jovens, o número pequeno de membros da comunidade inibe a promoção de outras iniciativas e até mesmo para manter a tradição de relacionamento afetivo entre judeus. Entre os membros do grupo, por exemplo, a maioria namora, quase sempre, com pessoas de fora da comunidade. Para Juliana Pitchon, educadora do movimento juvenil, a situação é inevitável. “Em comunidades grandes, como São Paulo e Rio de Janeiro, existem até eventos para os jovens judeus possam se conhecer e namorar. Mas aqui, com um número pequeno de jovens, é muito difícil”, comenta. Outras vertentes judaicas também possuem grupos significativos em Belo Horizonte. A sinagoga messiânica Har Tzion possui um grupo de aproximadamente vinte jovens que se reúnem também aos sábados. Ainda que ligado à sinagoga, o grupo é mais voltado para elementos culturais e sionistas do que estritamente religiosos. Para Jerusa Lucas Campolina, líder do grupo, a criação de conexões entre os jovens da comunidade e é fundamental para a manutenção da cultura judaica. “Nosso objetivo é atraí-los pra junto da congregação e criar vínculos para que tenham onde se apoiar. Buscamos estimular essa amizade diferenciada, entre jovens com a mesma visão bíblica”, afirma. Para os membros do grupo, a formação enquanto judeu aparece também ligada ao reconhecimento de uma identidade comum. O estudante Guilherme Raposo dos Santos, afirma que ser judeu é mais que seguir a religião. “Quando eu estou lendo a Torá e estudando, fico pensando: essas pessoas são meio que meus parentes. Eu faço parte disso. Ser judeu para mim é ter essa identidade”. Embora

Tradições Judaicas

Calendário JudaicoÉ baseado no ciclo da lua e do sol. O ano dos judeus possui 12 ou 13 meses e sempre se inicia no mês de Tishrei (setembro/outubro).

PurimFesta que ocorre no mês de Adar (fevereiro/março) do calendário judaico e celebra a salvação dos judeus da Pérsia, que lá foram exilados após a destruição do Primeiro Templo.

PessahFesta de celebração da Páscoa judia e que comemora a saída dos judeus do Egito liderados por Moisés. Ocorre no mês de Nissan (março/abril) do calendário judaico e é um momento de reafirmar a consciência judaica.

Tu BishevatCelebração que ocorre no mês de Shevat (janeiro/fevereiro), conhecida como o ano novo das árvores e comemora o resurgimento da natureza após o inverno. Na festa, os judeus comem frutas, adornam as mesas com flores e entoam cânticos em louvor do renascer da natureza. Menorá, candelabro judaico

reconhecidos por Israel como membros da comunidade judaica, os judeus messiânicos não são legitimados pelas demais vertentes da religião. Os messiânicos, no entanto, acreditam ser parte desse povo e compartilhar de sua cultura. Para o professor de estudos bíblicos Luiz Lemos, a visão dos outros grupos não faz diferença. “Essa é a opinião deles. Eu me considero um judeu. Sou judeu de pai e de mãe, nasci em um lar judaico”, diz As dificuldades enfrentadas na manutenção das tradições e a crise de legitimidade não são as únicas preocupações da comunidade judaica de Belo Horizonte. Casos de agressões praticadas por skinheads neonazistas repercutiram na mídia mineira nos últimos meses e preocupam os judeus que residem na capital. No início desse mês, três skinheads foram denunciados por promover intolerância na internet e agredir integrantes de minorias - eles vão responder na justiça pelos crimes de racismo e formação de quadrilha. Apesar de ainda não terem sido alvos dessas agressões, os judeus da capital mineira estão apreensivos, como afirma uma de nossas fontes. A comunidade judaica em Belo Horizonte é um fragmento de um grupo que tem muito mais em comum do que apenas a religião. Acima disso, os judeus são um povo que possui cultura, identidade e um idioma próprios. O judaísmo é considerado por seus seguidores além de uma crença, uma filosofia e um modo de vida. Para o judeu, a perpetuação dos preceitos e da cultura judaica garantem a sobrevivência de um povo que enfrentou perseguições durante séculos e ainda luta para conservar sua identidade.

- Ortodoxo: acreditam que a Torá foi escrita por Deus e relevada a Moisés para guiar o povo de Israel. Consideram suas regras imitáveis e as seguem estritamente;

- Conservador: creem que a Torá foi escrita por profetas inspirados por Deus, mas não é de sua autoria direta. Seguem suas regras, mas consideram que algumas delas devem ser interpretadas dentro das condições da modernidade.

- Reformista: têm uma visão semelhante a dos conversadores em alguns aspectos, mas assimilaram a cultural ocidental a seus preceitos, considerando a maioria das regras judaicas obsoletas e sem sentido;

- Messiânico: ao contrário de todos os outros, acreditam que Jesus foi o Messias enviado por Deus. Aceitam a Torá e a consideram o símbolo da aliança sagrada entre Deus e seu povo, mas deixam de lado suas regras para seguir os ensinamentos de Jesus.

Tipos de Judaísmo

Bandeira de Israel com a Estrela de Davi, símbolo do judaísmo

OEspiritismo é a doutrina revelada pelos espíritos superiores, codificada em meados do século XIX pelo pedagogo Hippolyte Rivail, mais conhecido

pelo pseudônimo Alan Kardec. Seus princípios encontram-se nas obras básicas escritas por Kardec, principalmente no primeiro livro “O Livro dos Espíritos”, de 1857. A doutrina procura estudar melhor Deus, os espíritos e as Leis Divinas que regem a vida, revelando, assim, a essência do homem, seu destino e as razões da dor e do sofrimento.

No Brasil, o espiritismo chegou, timidamente, em 1875 – com a tradução de “O Livro dos Espíritos” - e foi difundida com grande contribuição do médico Bezerra de Menezes. A doutrina se tornou tão popular no Brasil, que, atualmente, o país possui a maior comunidade espírita do mundo. De acordo com o Censo 2010, o país possui cerca de 3,8 milhões de espíritas.

Para os praticantes do Espiritismo, fé e ciência não são contraditórios, mas se complementam, e somente através dessa junção é possível explicar os fenômenos da vida. Alan Kardec esclarece a premissa: “Fé inabalável só o é aquela que pode encarar a razão face a face em todas as épocas da humanidade”. A

junção desses dois campos é chave para a cura dos males que acometem os homens e para a composição das terapias alternativas. Realizadas em centros ou demais instituições espíritas, essas terapias existem desde o surgimento da doutrina, e sua eficácia, ainda que não comprovada pela grande maioria dos médicos tradicionais, tem se tornado objeto de muitos estudos científicos.

A Associação Médico-Espírita do Brasil (AME), criada em 1995, realiza congressos e palestras para profissionais da saúde de todo o país, com o intuito de explicar quais as contribuições que o Espiritismo tem a oferecer à Medicina. De acordo com seu estatuto, “o homem é um ser integral, constituído de corpo e alma”, portanto a cura dependeria da ação sobre estes dois elementos que compõem qualquer ser humano, o que implica que medicina tradicional e espiritual seriam complementares. De acordo com Rômulo Novais, membro da Fundação Espírita Irmão Glacus, a principal terapia é a prece. “O hábito da prece é capaz de irradiar energias para outras pessoas. Ela é a base de qualquer tratamento e melhoria”, afirma. A aplicação do passe, a fluidoterapia e as cirurgias espirituais são as práticas terapêuticas mais frequentes. para o bem. A

Reuniões do Espiritismo acontecem em locais marcados pela simplicidade/ Foto: Romara Chaves

Fé que curaTratamentos alternativos oferecidos por centros espíritas auxiliam na recuperação de

doenças do corpo e da alma, em complemento à medicina ocidental tradicional

Aplicação do passe

Após as palestras públicas dos centros espíritas, é comum que um momento seja reservado para a aplicação de passes. Em uma câmara ou sala própria para a atividade, e com as mãos estendidas em direção ao corpo do receptor, o médium passista realiza a transmissão de fluidos magnéticos. As mãos são o instrumento facilitador ideal, uma vez que as pontas dos dedos canalizam a energia para a pessoa que recebe o passe, e reforçam o ato de entrega, estimulando o encarnado – espírito associado a um corpo físico - a acreditar que algo realmente está sendo feito em benefício dele. Entretanto, esses fluidos são irradiados, de fato, pela mente e ajudam a remover as impurezas geradas pelos atos imorais praticados pelo encarnado.

Para realizar a aplicação do passe, o passista precisa estar em estado de elevação espiritual – o que exige, por exemplo, não comer carne ou fazer sexo no dia - pois seu espírito deve estar puro para servir de intermédio dos bons fluidos que os espíritos superiores desencarnados – que não estão associados a um corpo material – emitirão.

Fluidoterapia

Tão frequente e abrangente quanto a aplicação de passes é a fluidoterapia. Realizada ao fim de todas as sessões públicas e por todos os presentes no local, o tratamento consiste na ingestão de água fluidificada, ou seja, uma água em que são depositados fluidos benéficos. Para os espíritas, a água é considerada um meio com grande capacidade de absorção de energias, captando, em grandes proporções e por longos períodos de tempo, as energias emitidas pelos espíritos ao redor – sejam eles bons ou maus.

“Através da fluidificação da água pelos bons espíritos, ela é capaz de transmitir boas vibrações para o receptor, ajudando a manter a sua energia espiritual equilibrada”, explica Igor Gaigher, missionário da Fraternidade Espírita Albino Teixeira. “Outras religiões também se utilizam da água fluidificada, mas a denominam diferentemente. Como a religião católica, que a utiliza há muito tempo, com o nome de água benta”, diz Igor.

Cirurgias espirituais

Ao contrário das duas práticas citadas acima, as cirurgias espirituais não são realizadas como medidas preventivas, que dificultam o adoecimento dos receptores. As cirurgias espirituais buscam sempre a reabilitação de uma enfermidade. Tais procedimentos não necessitam de nenhuma intervenção física e são realizados por entidades espirituais, que podem ou não incorporar em um médium.

O frequentador do Estudo Avançado da Doutrina Espírita (ESDE) da Fraternidade Espírita Albino Teixeira, André Luiz de Melo, se submeteu à cirurgias espirituais depois de tentar curar seu problema na coluna por meio de tratamentos médicos tradicionais e ainda assim permanecer com dores. Por isso, testou a alternativa: “Fiz, no mínimo,

cinco cirurgias espirituais. Eu tinha três hérnias cervicais”, explica André. “Já na primeira cirurgia, as dores que se arrastavam há meses cessaram no mesmo dia e os outros efeitos regrediram com o tempo”.

Depois, André voltou a realizar o procedimento para curar um problema gástrico, e, mesmo não vendo os resultados nesta cirurgia, não mudou sua visão positiva. Mas ele assegura que nem sempre foi assim: “Fui cético até o primeiro resultado positivo”. O medo do desconhecido foi a causa principal por ficar tantos anos na dúvida quanto a eficácia destes tratamentos. Mas hoje, ele acredita que ciência e fé andam de mãos dadas e não há motivos para desacreditar.

Aplicação do passe promove a renovação das energias Ilustração: Luíza França

Hierarquia Espírita

A doutrina espírita não tem uma hierarquia. Porém, o centro espírita em si é uma instituição e obedece às leis, portanto, é necessário que existam pessoas que respondam legalmente pelo centro. Existe uma presidência, a diretoria e o conselho deliberativo. Todos, sem exceção, trabalham em uma casa espírita como voluntários

Conhecidas mundialmente, principalmente pela pregação, as Testemunhas de Jeová também fazem parte do diversificado cenário religioso de

Belo Horizonte. A comunidade reúne 14.944 fiéis, na capital, de acordo com o Censo 2010.

Os templos são Salões, aqueles que orientam são Anciãos, os cultos são reuniões. Para as Testemunhas de Jeová, o principal serviço feito para Deus é a pregação. Mas, o empenho em transmitir os ensinamentos de Deus vai além da pregação. Isso é perceptível pelo número de publicações, feitas pela religião, nos mais diversos idiomas. Nos últimos 10 anos foram produzidas mais de 20 bilhões de publicações. A Bíblia é a principal referência da religião, e o estudo dela é promovido em encontros que acontecem duas vezes por semana.

Por trás de tudo está uma organização, que define as diretrizes a serem seguidas mundialmente, denominada Watch Tower (Torre de Vigilância). Com sede em Nova York, a organização é uma corporação jurídica é responsável pelas publicações – como revistas, panfletos, Bíblias e livros – utilizados e distribuídos pelas congregações. Liderada por Testemunhas de Jeová experientes, cabe a ela designar membros da religião, que são autorizados a nomear anciãos e servos ministeriais para cuidar das congregações.

As congregações são as menores células das Testemunhas de Jeová e são supervisionadas por um grupo de anciãos. O ancião, José Abílio Rocha (53), da congregação Alípio de Melo, explica que as congregações recebem visitas regulares de anciãos viajantes, conhecidos como Superintendentes. Um grupo de anciãos se reúne periodicamente com os Superintendentes e indicam membros – apenas do sexo masculino – com conduta exemplar para serem anciãos. Essa reunião é iniciada e encerrada com uma oração e o nome do pretendente passa por uma avaliação de acordo com as Escrituras. Há, ainda, a aprovação de um conselho regional, antes que o nome seja anunciado à congregação.

Testemunhas de Jeová e seus dogmas

O paraíso é aqui, na Terra. É nisso que acreditam as Testemunhas de Jeová. Como explica o ancião Marcos Antônio (38), da Congregação Venda Nova, “há céu, mas poucos serão os que ascenderão, como Jesus. Para a maioria o paraíso é aqui”. Deus ressuscitará os merecedores e fará do nosso planeta a terra prometida. Entretanto eles acreditam que somente aqueles que seguem a sua religião serão salvos. Para eles o inferno não existe, e aqueles que não seguem a Bíblia serão punidos com a morte eterna.

Outro dogma da religião é a proibição de transfusões sanguíneas. Baseados nas palavras da Bíblia, os seguidores se abstém de sangue, seja ingerido ou recebido diretamente nas veias. Para explicar a proibição, Marcos Antônio recorre a vários versículos, do Antigo e do Novo Testamento. “A palavra de Deus diz que é para se abster de sangue. Não procuramos dar um jeitinho nisso, mesmo que seja uma situação difícil, extrema. Entendemos que esse é o ponto de vista de Jeová, portanto não devemos comer e nem transfundir o sangue em nosso corpo”, defende o ancião. Os seguidores dessa religião consideram o sangue como um símbolo de vida.

As Testemunhas de Jeová são estudiosas da Bíblia, por isso, têm escolas para ensinar a ler aqueles que não o fizeram na escola regular. A Escola de Leitura ensina os analfabetos a lerem e, ainda mais importante, a interpretarem a Palavra. Todos os membros devem ser estudiosos da bíblia e lê-la inteira todos os anos. Nas reuniões, eles são sabatinados com questões sobre o livro sagrado, como em uma aula.

Testemunhas

Comparamos a reunião como uma churrasqueira. Se você separar um pedaço de carvão, ele logo se apaga. Nossas reuniões funcionam como a churrasqueira, unidos, mantemos o calor”. Marcos Antônio.

“”

Fiéis a Jeová: como pensam aqueles que vão de porta em porta para pregar os ensinamentos da Bíblia e creem que a Terra, um dia, se tornará o paraíso dos justos?

Watch Tower: Organização jurídica responsável pelas publicações utilizadas pelas congregações, assim como a tarefa de designar membros da religião, que são autorizados a nomear anciãos e servos ministeriais para cuidar das congregações.

Distrito: Conjunto de cerca de 20 Circuitos.

Circuito: Conjunto de cerca de 20 Congregações.

Congregações: Agrupamentos de membros de acordo com os bairros onde vivem. São as menores células das Testemunhas de Jeová e são supervisionadas por um grupo de anciãos.

Superintendentes de Distrito: Grupo de anciãos se reúne periodicamente com os Superintendentes de Circuito e indicam membros - do sexo masculino - considerados com uma conduta exemplar para serem nomeados anciãos.

Superintendentes de Circuito: Superiores aos Anciãos

Anciãos: Autoridade da Congregação responsável pelas reuniões organizadas nos salões.

Salões: Ponto de encontro das Congregações. Cada salão pode receber mais de uma Congregação.

Salão das Testemunhas de Jeová, no bairro Santa Tereza, em Belo Horizonte

Hierarquia

Reunião da Congregação do Santa Tereza, em Belo Horizonte

Com base nessa passagem da bíblia as Testemunhas de Jeová fizeram da pregação sua principal atividade, que é considerada uma forma de adoração e de servir a Deus. Marcos Antônio explica que, para que venha o fim dos tempos – e a salvação dos justos – deve haver pregação. Saulo Batista (21) explica que os fiéis são preparados para a atividade nas reuniões, que instruem sobre as situações que podem ocorrer ao contatar as pessoas, bem como os assuntos a serem abordados. O site oficial da Watch Tower também possui uma seção com simulações de possíveis diálogos entre os pregadores e as pessoas abordadas. Todas as Testemunhas de Jeová devem ser pregadores, essa é uma premissa da religião. Para se prepararem, os membros frequentam, em cada congregação, a Escola do Ministério Teocrático. Os grupos de pregadores são formados de acordo com a habilidade de cada um. Saulo explica pessoas com bastante prática e domínio da Palavra acompanham os mais jovens. “Os anciãos sugerem um ou outro grupo, mas normalmente nos organizamos sem orientação”, conta. Para evitar que duas ou mais congregações preguem na mesma região, é demarcada, de forma aproximada, a região de atuação de cada uma. Para essa religião, a conversão das pessoas é um propósito, mas não obrigação. “Não podemos medir o sucesso da obra pela quantidade de pessoas que a aceita a Palavra. Medimos o sucesso pela quantidade de pessoas que recebem o testemunho”, diz o ancião Marcos.

Sobre as reuniões Estimular o amor e a obra do Senhor é o principal objetivo das reuniões, conta outro ancião da Congregação Venda Nova, Valdete dos Santos (48). Ele explica que as reuniões servem para compartilhar o estudo da Bíblia, que é feito em casa. O intercâmbio de informações ajuda a apreender ainda mais sobre a Palavra de Deus.As reuniões são divididas em dois momentos, entrecortados por três cânticos que são entoados por todos os membros. Um no começo, antes da palestra oferecida por um convidado ou membro da congregação. Outra no meio, antes do estudo bíblico promovido pelo ancião e seus auxiliares e uma no fim. Na primeira parte da reunião o ancião aborda um tema bíblico. A segunda parte traz estudos extraídos da revista Sentinela. Ela é uma revista mundial, que traz assuntos a serem abordados nos Salões, em datas específicas. Ou seja, o assunto abordado é o mesmo em todos os salões no Brasil e em outros países.

Mais que abordar pessoas na rua

Acompanhar grupos de pregação não é tarefa fácil. Eles possuem um número de casas a visitar, que é determinado de acordo com os número de participantes da pregação, e não podem se atrasar. A pregação é tão significativa, que se tornou uma marca mundial das Testemunhas de Jeová. Aliás, é dessa atividade que vem o nome da religião. José Abílio Rocha prega desde os 13 anos e explica o vínculo entre o nome da religião e seu principal costume: “o nome Testemunhas de Jeová nos identifica como um grupo de cristãos que declara a verdade sobre o Criador de todas as coisas”.

“E estas boas novas do reino serão pregadas em toda a terra habitada, em testemunho a todas as nações; e então virá o fim”. (Mateus 24:14)

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