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ESPIRITISMO PASSO A PASSO COM K ARDEC

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ESPIRITISMOPASSO A PASSO

COM

KARDEC

Branca

Christiano Torchi

ESPIRITISMOPASSO A PASSOCOM

KARDEC

FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA

SumárioAPRESENTAÇÃO, 9

AGRADECIMENTOS, 13

ADVENTO DO ESPÍRITO DE VERDADE, 15

MENSAGEM DE ANDRÉ LUIZ, 17

ABREVIATURAS, 19

PRIMEIRAS PALAVRAS, 21

1. JUSTIFICATIVA, 29

2. POR QUE SE RECOMENDA O ESTUDO DO ESPIRITISMO?, 332.1. Distinção entre Espiritismo e Espiritualismo, 36

3. O QUE É, O QUE REVELA E POR QUE SURGIU O ESPIRITISMO?, 453.1. Como, quando e onde surgiu o Espiritismo?, 55

3.2. Caráter da Revelação Espírita, 61

3.2.1. Conceito de revelação, 65

3.2.2. A natureza do Espiritismo e o seu aspecto tríplice, 68

3.2.3. O Espiritismo não é da alçada da Ciência, 70

3.2.4. O caráter progressivo da Revelação Espírita, 75

3.2.5. Finalidade do Espiritismo, 89

4. ALGUNS DADOS BIOGRÁFICOS DE ALLAN KARDEC, 93

5. ASPECTO TRÍPLICE DO ESPIRITISMO, 1075.1. Filosofia, 111

5.2. Ciência, 117

5.3. Religião, 129

5.3.1. Leis Morais (Constituição Divina), 137

5.3.1.1. Lei de Adoração, 141

5.3.1.1.1. A Prece, 144

5.3.1.1.2. O Evangelho no lar, 149

5.3.1.2. Lei de Sociedade, 156

5.3.1.2.1. Família, 158

5.3.1.3. Lei de Trabalho, 164

5.3.1.4. Lei de Progresso (Evolução), 169

5.3.1.5. Lei de Reprodução, 178

5.3.1.5.1. Casamento e divórcio, 181

5.3.1.5.2. Celibato, 185

5.3.1.5.3. Poligamia, 188

5.3.1.5.4. Homossexualidade, 189

5.3.1.6. Lei de Conservação (instinto e inteligência), 197

5.3.1.7. Lei de Destruição, 202

5.3.1.8. Lei de Igualdade, 211

5.3.1.9. Lei de Liberdade, 217

5.3.1.10. Lei de Justiça, Amor e Caridade, 220

5.3.2. O Centro Espírita, 228

5.3.2.1. Evangelização infanto-juvenil, 231

5.3.3. O que é o Passe?, 235

5.3.3.1. A relação entre o Passe, os Fluidos e a Matéria, 249

5.3.3.2. Os centros de força ou “chacras”, 261

5.3.4. A Bíblia e o Espiritismo, 264

5.3.5. Visão espírita sobre o batismo, 272

6. DISTINÇÃO ENTRE DOUTRINA ESPÍRITA

E MOVIMENTO ESPÍRITA, 2776.1. Unificação do Movimento Espírita, 280

7. PRINCÍPIOS BÁSICOS DA DOUTRINA ESPÍRITA, 2897.1. A existência de Deus, 290

7.1.1. Jesus não é Deus, 295

7.2. Existência e sobrevivência dos Espíritos (Imortalidade), 298

7.2.1. Finados, 307

7.3. Comunicabilidade dos Espíritos, 311

7.3.1. Noções básicas de mediunidade, 316

7.3.2. A proibição da comunicação com os mortos, 323

7.3.3. Obsessão, 327

7.3.4. Orientadores espirituais (“anjos da guarda”), 338

7.4. Pluralidade das existências (reencarnação ou palingênese), 343

7.4.1. O perispírito, 363

7.4.2. O esquecimento do passado, 375

7.4.3. Aborto, 381

7.4.4. Eutanásia, 396

7.4.5. Pena de morte, 409

7.4.6. Suicídio, 417

7.4.7. Doação de órgãos e transplantes, 425

7.4.8. Clonagem, 442

7.4.9. DNA – A chave da vida biológica, 448

7.4.10. Sonhos, 453

7.5. Causa e efeito (ação e reação), 461

7.6. Pluralidade dos mundos habitados (vida inteligente fora da

Terra), 469

8. A CRIAÇÃO DIVINA – ORIGEM DAS COISAS, 4838.1. Espírito, 486

8.2. Matéria, 493

8.3. Os reinos da Natureza: mineral, vegetal, animal e hominal, 517

9. CONCLUSÃO, 523

Referências Bibliográficas, 541

Bibliografia Complementar, 547

Índice Geral, 553

Apresentação

ESPIRITISMO PASSO A PASSO COM KARDEC vem tendo

grande aceitação entre os leitores, mesmo sendo um livro

de estudos e consulta ou pesquisa, resultado bastante ani-

mador que demonstra a receptividade do público às obras

de qualidade que procuram divulgar o Espiritismo.

Seu êxito precoce mostra, também, que o autor tem

alcançado o seu público-alvo, destacadamente, os leigos, os

simpatizantes e os neófitos em Espiritismo.

Nesta terceira edição, a obra vem à tona revisada e

ampliada para melhor atender às exigências de um público

cada vez mais crítico e consciente.

Todos que lêem esta obra admiram-se de sua fide-

lidade aos ensinos do eminente Codificador ALLAN

KARDEC e de como ela trata de assuntos tão variados e

profundos, de forma didática, sempre contextualizada

10

APRESENTAÇÃO

com fatos da atualidade, e com linguagem agradável, leve

e convidativa.

Além do aprimoramento na revisão da linguagem, a

obra ganhou um índice remissivo, muito útil à pesquisa, e

foi ampliada com o acréscimo do item 3.2., que traz noções

mais detalhadas sobre o caráter ou a natureza da Revelação

Espírita, em que o autor aborda, sob o prisma da Filosofia

da Ciência, a estrutura teórica que embasa a Ciência da

Alma ou a Ciência do Infinito, que é o Espiritismo, eluci-

dando que este, embora seja também uma ciência, não é da

alçada das ciências ordinárias.

Além disso, o autor demonstra que a Doutrina Espírita

tem base científica própria, não está desatualizada como

muitos pensam, embora tenha sido codificada no século

XIX, às vésperas das grandes revoluções científicas que

abalaram o mundo, e que a natureza dos fenômenos

que ela estuda, bem como o estado atual de nosso conhe-

cimento sobre a matéria, não permitem uma conexão tão

direta entre a Física, por exemplo, e o Espiritismo, estando

sujeitos ao malogro aqueles que buscarem interpretar os

fenômenos psíquicos fora do paradigma espírita.

Nos capítulos sobre o aborto e a eutanásia, a obra tam-

bém foi atualizada, trazendo, quanto ao primeiro, infor-

mações importantes sobre as tentativas da comunidade

científica em conceituar e determinar o início da vida e, ao

mesmo tempo, convidando o leitor para refletir sobre a

importância de se defender a vida, em todas as suas fases,

considerando que ela é um direito natural anterior ao esta-

do, e que nenhum grupo social tem o direito de decidir

quando outros devam morrer.

Finalmente, o item 8.2. Matéria foi redimensionado

aos cânones científicos da Física moderna, sem perder de

vista o enfoque espírita, avaliando, com prudência, a tese

prematura, tão em voga, atualmente, de que a Física, ramo

da Ciência que estuda a matéria, esteja confirmando a

existência de Deus e da alma.

Por tudo isso, espera-se que as páginas desta obra con-

tinuem caindo no gosto de muitos leitores, como caiu no

de Antonio Cunha Lacerda Leite (Nova Iorque-EUA),

Alexandre Fontes da Fonseca (Dallas-EUA) e João Sergio

Boschiroli (Brasil), entre tantos outros, que prestaram ao

autor excelente contribuição na revisão e ampliação da

obra.

Rio de Janeiro (RJ), setembro de 2009.

A EDITORA

11

APRESENTAÇÃO

Agradecimentos

À MINHA MÃE MARCIANA E AO MEU PAI PEDRO, que me

presentearam com esta bendita reencarnação.

Com gratidão, à querida esposa Creusa e aos amorosos

filhos Thalles e Thalita, sem cuja compreensão e apoio não

seria possível realizar esta obra.

Aos companheiros do Movimento Espírita, com des-

taque para os amigos do Esde – Estudo Sistematizado da

Doutrina Espírita –, do campo experimental do Centro Es-

pírita Discípulos de Jesus, e da Federação Espírita de Mato

Grosso do Sul, que serviram de musa inspiradora à con-

clusão deste trabalho.

A todos que, direta ou indiretamente, colaboraram

na revisão deste livro, em especial ao amigo Antonio Cunha

Lacerda Leite, responsável pelo meu despertamento para a

Doutrina Espírita, ao desembargador Josué de Oliveira, ao

professor Hildebrando Campestrini, bem como aos amigos

Celso Luiz Rodrigues Catônio, Elisa Paula Perinasso, João

Carlos Nascimento Ferreira Júnior, João Coraldino dos

Santos e Mauro Reck.

Aos meus familiares, em especial aos manos Alfredo e

João Ramos Torchi, bem assim ao primo Alfredo Vicente

Terçariolli Ramos, que, mesmo a distância, foram meus

grandes incentivadores.

14

AGRADECIMENTOS

Advento do Espírito de Verdade1

VENHO, como outrora aos transviados filhos de Israel,

trazer-vos a verdade e dissipar as trevas. Escutai-me. O

Espiritismo, como o fez antigamente a minha palavra, tem de

lembrar aos incrédulos que acima deles reina a imutável ver-

dade: o Deus bom, o Deus grande, que faz germinem as plan-

tas e se levantem as ondas. Revelei a doutrina divinal. Como

um ceifeiro, reuni em feixes o bem esparso no seio da

Humanidade e disse: “Vinde a mim, todos vós que sofreis”.

Mas, ingratos, os homens afastaram-se do caminho reto e

largo que conduz ao Reino de meu Pai e enveredaram pelas

ásperas sendas da impiedade. Meu Pai não quer aniquilar a

raça humana; quer que, ajudando-vos uns aos outros, mortos

e vivos, isto é, mortos segundo a carne, porquanto não existe

a morte, vos socorrais e que se faça ouvir não mais a voz dos

profetas e dos apóstolos, mas a dos que já não vivem na Terra,

a clamar:

1KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. VI, item 5.

(Destacamos)

Orai e crede! pois que a morte é a ressurreição, sendo a

vida a prova buscada e durante a qual as virtudes que hou-

verdes cultivado crescerão e se desenvolverão como o cedro.

Homens fracos, que compreendeis as trevas das vossas

inteligências, não afasteis o facho que a clemência divina vos

coloca nas mãos para vos clarear o caminho e reconduzir-vos,

filhos perdidos, ao regaço de vosso Pai.

Sinto-me por demais tomado de compaixão pelas vossas

misérias, pela vossa fraqueza imensa, para deixar de estender

mão socorredora aos infelizes transviados que, vendo o Céu,

caem nos abismos do erro. Crede, amai, meditai sobre as

coisas que vos são reveladas; não mistureis o joio com a boa

semente, as utopias com as verdades.

Espíritas! amai-vos, este o primeiro ensinamento; ins-

truí-vos, este o segundo. No Cristianismo encontram-se to-

das as verdades; são de origem humana os erros que nele se

enraizaram. Eis que do além-túmulo, que julgáveis o nada,

vozes vos clamam: “Irmãos! nada perece. Jesus Cristo é o

vencedor do mal, sede os vencedores da impiedade”.

O ESPÍRITO DE VERDADE

Paris (França), 1860.

16

CHRISTIANO TORCHI

Mensagem de André Luiz2

A VIDA NÃO CESSA. A vida é fonte eterna e a morte é o jogo

escuro das ilusões.

O grande rio tem seu trajeto, antes do mar imenso. Co-

piando-lhe a expressão, a alma percorre igualmente caminhos

variados e etapas diversas, também recebe afluentes de conhe-

cimentos, aqui e ali, avoluma-se em expressão e purifica-se

em qualidade, antes de encontrar o oceano eterno da

sabedoria.

Cerrar os olhos carnais constitui operação demasiada-

mente simples.

Permutar a roupagem física não decide o problema fun-

damental da iluminação, como a troca de vestidos nada tem

que ver com as soluções profundas do destino e do ser.

Oh! caminhos das almas, misteriosos caminhos do cora-

ção! É mister percorrer-vos, antes de tentar a suprema equa-

ção da Vida Eterna! É indispensável viver o vosso drama,

2XAVIER, Francisco Cândido. Nosso Lar. Pelo Espírito André Luiz.

conhecer-vos detalhe a detalhe, no longo processo do aper-

feiçoamento espiritual!...

Seria extremamente infantil a crença de que o simples

‘baixar do pano’ resolvesse transcendentes questões do

Infinito.

Uma existência é um ato.

Um corpo – uma veste.

Um século – um dia.

Um serviço – uma experiência.

Um triunfo – uma aquisição.

Uma morte – um sopro renovador.

Quantas existências, quantos corpos, quantos séculos,

quantos serviços, quantos triunfos, quantas mortes necessita-

mos ainda?

E o letrado em filosofia religiosa fala de deliberações

finais e posições definitivas!

Ai! por toda parte, os cultos em doutrina e os analfabetos

do Espírito!

É preciso muito esforço do homem para ingressar na

academia do Evangelho do Cristo, ingresso que se verifica,

quase sempre, de estranha maneira – ele só, na companhia

do Mestre, efetuando o curso difícil, recebendo lições sem

cátedras visíveis e ouvindo vastas dissertações sem palavras

articuladas. [...]

18

CHRISTIANO TORCHI

Abreviaturas

Antes de CristoCapítuloCentro Brasileiro de Homeopatia, Espiritismo eObras SociaisCentro Espírita Allan KardecCentro Espírita Léon DenisO Céu e o InfernoO Consolador (O número que aparece ao lado da sigla

refere-se à questão.)

Depois de CristoediçãoEditora Cultural Espírita Ltda.Estudo Sistematizado da Doutrina EspíritaO Evangelho segundo o Espiritismo (O número que

aparece ao lado da sigla refere-se ao capítulo, seguido de

seu item.)

Federação Espírita BrasileiraFederação Espírita do Estado de São PauloA Gênese (O número que aparece ao lado da sigla re-

fere-se ao capítulo, seguido de seu item.)

a.C.Cap.CBHEOS

CeakCeldCICONS

d.C.ed.EdicelEsdeESE

FEBFeespGE

Instituto de Difusão Espírita

ilustrado

O Livro dos Espíritos (O número que aparece ao lado

da sigla refere-se à questão.)

Livraria Espírita Alvorada Editora

O Livro dos Médiuns (O número que aparece ao lado

da sigla refere-se ao capítulo, seguido de seu item.)

Obras Póstumas (O número que aparece ao lado da

sigla refere-se à questão.)

O que é o Espiritismo (O número que aparece ao lado

da sigla refere-se ao capítulo, seguido de seu item.)

página

sem data

sem editor

sem local

seguintes

sem o nome do tradutor

volume

20

CHRISTIANO TORCHI

IDE

il.

LE

Leal

LM

OP

OQE

p.

s.d.

s.e.

s.l.

ss.

s.t.

v.

Primeiras palavras

“[...] A letra mata, e o espírito vivifica.”(II CORÍNTIOS, 3:6.)

CONSCIENTE DA POBREZA DA LINGUAGEM HUMANA, inca-

paz de expressar a grandiosidade das Leis Divinas e do

mundo espiritual, procuramos utilizar o máximo de con-

ceitos nas notas de rodapé e, outras vezes, no próprio corpo

do texto, mesmo sob o risco de nos tornarmos repetitivos,

tudo para facilitar o esforço do leitor.

A Doutrina Espírita, como se verá adiante (item 8.2),

anteviu, no final do século XIX, ainda que despretensio-

samente, porque este não é seu papel nem seu objetivo, a

revelação de algumas leis físicas que mais tarde seriam

desvendadas pela Ciência e outras ainda por desvendar.

Como é natural, muitos termos científicos não eram conhe-

cidos na época de Allan Kardec, e os Espíritos reveladores

tiveram que se utilizar dos termos e expressões disponíveis,

à época, para traduzir um evento futuro, mas que, na sua

essência, entremostravam a idéia do fenômeno revelado.

Esta advertência forçará o leitor a buscar o sentido oculto

das palavras, para que compreenda a excelência dos ensinos

espíritas, que não estão desatualizados como muitos analistas

afoitos podem pensar, à primeira vista.

Como nem sempre temos condições de adaptar a lin-

guagem, devido aos nossos escassos conhecimentos na área

científica, preferimos conservar, na maioria das vezes, os

termos utilizados pelo Codificador, que, entretanto, podem

ser assimilados pelo observador mais atento e de bom

senso, sem maiores dificuldades.

A linguagem em sua essência, independente da instru-

ção e da cultura do seu intermediário, pode ser considera-

da como a “carteira de identidade do Espírito”.

Os inúmeros idiomas existentes no mundo dos encar-

nados refletem apenas as várias características de que se

revestem as possibilidades de comunicação humana. Algu-

mas vezes, chegam a refletir mesmo as características evo-

lutivas de cada povo. Para o Espírito imortal, entretanto, as

diferentes linguagens não constituem barreiras, uma vez

que a linguagem do pensamento é universal.

É fenômeno relativamente comum a comunicação

entre duas pessoas por meio da telepatia,3 mesmo que se

manifestem por idiomas diferentes, fato que também acon-

tece corriqueiramente nos sonhos entre os encarnados.

Exemplo clássico é encontrado no livro Há dois mil anos,4

de autoria do Espírito Emmanuel, psicografado pelo mé-

dium Francisco Cândido Xavier (1910-2002), em que o

22

CHRISTIANO TORCHI

3Telepatia é a transmissão ou comunicação extra-sensorial de pensamentos e

sensações, a distância, entre duas ou mais pessoas.4Primeira parte, cap. 5.

senador Públio Lentulus, que falava o latim, comunicou-se,

em Espírito, durante o sono físico, sem nenhuma dificul-

dade, com Jesus, de idioma aramaico.

O importante é saber que os nomes não dão essência às

coisas, sendo necessário, quase sempre, desnudar as pala-

vras, buscar a sua essência, sem esquecer a advertência do

Apóstolo dos gentios: “a letra [a forma] mata, e o espírito [a

idéia, a essência], vivifica” (II CORÍNTIOS, 3:6). É neste sentido

que os Espíritos superiores nos advertem, quando dizem: “A

idéia é tudo, a forma nada vale” (LE, “Introdução”, XIV).

Muitas palavras têm sentido equívoco, isto é, o mesmo

vocábulo é utilizado para designar coisas diferentes, como é o

exemplo do termo alma, empregado, geralmente, como sinô-

nimo de espírito (princípio inteligente), de homem ou Espírito

encarnado e de Espírito desencarnado (ver item 8.1).

Sendo assim, o leitor deve sempre exercitar o bom senso

e ter o cuidado de verificar o sentido exato das palavras, den-

tro do contexto, uma vez que nem sempre é possível fugir às

imperfeições do próprio escritor, da linguagem humana e

aos erros de revisão. Afinal, as palavras, em sua forma li-

mitada, revestem pensamentos e idéias e, por isso, nem

sempre traduzem o exato significado das coisas, principal-

mente aquelas de ordem espiritual.

Preocupado com essa questão, Durval Ciamponi, no

livro A evolução do princípio inteligente,5 fez as seguintes

observações, que tomamos de empréstimo:

23

PRIMEIRAS PALAVRAS

5Cap. 2, “Conceituando princípio inteligente”.

Antes de iniciar este estudo propriamente dito, analisaremos

alguns conceitos não bem compreendidos entre os estu-

dantes da Doutrina e algumas vezes mal empregados. São

eles: Espírito, princípio espiritual, princípio inteligente e

alma.

Que é Alma?

A conceituação dada pelos Espíritos (LE, 134), de que a

alma é o Espírito encarnado, tem levado muitos estudiosos

da Doutrina a uma interpretação restritiva do conceito

alma, geralmente empregado por Kardec, na Codificação.

Kardec utilizou em sentido genérico, nos seus trabalhos, as

palavras espírito, princípio espiritual, princípio inteligente

e alma como sinônimos, isto é, o ser inteligente, e a pala-

vra Espírito, para indicar o ser extracorpóreo da esfera

espiritual, o que tem levado alguns a pequenas confusões

doutrinárias.

Assim, em sentido amplo, alma é o ser pensante, o ser inteli-

gente, e em sentido restrito é o Espírito encarnado.

Na questão 23, os Espíritos respondem que o espírito (com

letra minúscula) é o princípio inteligente do Universo. Há

neste item a identificação conceitual do que é princípio

material e princípio espiritual, distintos um do outro, e

acima de ambos, Deus, o Criador de tudo o que existe.

Na questão 76, Kardec esclarece, em nota, que a “palavra

Espírito (com letra maiúscula) é empregada para designar os

seres extracorpóreos e não mais o elemento inteligente univer-

sal”. Muitos estudantes da Doutrina não percebem essa di-

ferença e empregam os termos inadequadamente, às vezes.

24

CHRISTIANO TORCHI

A palavra Espírito deverá ser empregada para designação

dos Espíritos desencarnados, pois em tais condições são se-

res compostos de corpo espiritual mais o princípio inteli-

gente, ou alma, ou princípio espiritual.

Estudiosos há que não distinguindo bem a diferença entre

um conceito e outro escrevem ora tudo minúsculo ora tudo

maiúsculo, deixando ao leitor descobrir se se fala de enti-

dade extracorpórea ou do princípio espiritual em si.

Estudiosos há que confundem princípio inteligente com

inteligência. Esta é um atributo do Espírito. A resultante de

um processo de desenvolvimento progressivo do ser através

dos milênios. Nestas condições, é correto afirmar-se que o rato

e o homem são princípios inteligentes, isto é, princípios espi-

rituais em evolução, apenas em diferentes graus evolutivos, ou

em diferentes níveis de inteligência, porquanto esta é um

atributo daqueles.

No jornalismo costuma-se escrever, muitas vezes, para uni-

formidade de linguagem, a palavra espírito com letra mi-

núscula, confundindo o leitor, que deverá distinguir se se

trata de entidade habitante do mundo espiritual ou não.

No LE, 134 e 135, os Espíritos empregaram a palavra alma

em seu sentido restrito, quando afirmam que a alma é “um

Espírito encarnado” ou que “as almas não são mais do que

os Espíritos”, antes de se ligarem ao corpo físico.

A repetição destes conceitos de alma, nestas questões, leva

muitos estudantes a raciocinarem tomando os significados

ao pé da letra. Kardec chama bem a atenção no comentário

da questão 139, onde deixa clara a utilização da palavra [...].

25

PRIMEIRAS PALAVRAS

Como se observa, Kardec conhecia bem a diferença entre

os conceitos da palavra alma, empregados na Codificação,

ora como Espírito encarnado, ora como princípio in-

teligente. Até a questão 76, Kardec sempre falou em espírito

(letra minúscula) como sendo o princípio inteligente e a

partir daí em Espírito, como o ser extracorpóreo, e alma

como o Espírito encarnado. Foi uma opção didática utiliza-

da pelos Espíritos para facilitar a compreensão humana

habituada ao conceito dogmático e vigente [...].

Assim, emprega-se a palavra alma, como Espírito, para dizer

que ela era o Espírito, antes de unir-se ao corpo (LE, 134b),

ou como disse Kardec na “Introdução” do LE, item VI: “A

alma tinha a sua individualidade antes da encarnação e a

conserva após a separação do corpo”.

Os Espíritos, na questão 144, ainda advertem que “a palavra

alma tem aplicação tão elástica que cada um a interpreta de

acordo com as suas fantasias”.

Convém, pois, distinguir nitidamente quando se emprega a

palavra alma, no sentido de Espírito encarnado ou no senti-

do de espírito, princípio inteligente.

É evidente que quando falamos que “a alma dos homens

sofre pelas conseqüências de suas vidas anteriores”, estamos

dizendo que:

a) quem sofre é o ser pensante, o princípio espiritual ou

inteligente existente no homem; e

b) os Espíritos encarnados reajustam-se em função de um

passado delinqüente.

Como conseqüência tem-se a palavra alma empregada nos

dois sentidos [...].

26

CHRISTIANO TORCHI

Não é fácil aplicar corretamente o termo desejado, mas com

cuidado acertaremos sempre. A palavra alma, por exemplo,

é mais vezes empregada como ser moral ou princípio

inteligente, distinto do perispírito, do que como Espírito

(soma de ambos) encarnado.

Àqueles que estão presos ao conceito restrito de alma, como

Espírito encarnado, sugerimos repensar, porquanto Kardec

foi mais longe. Conseqüentemente, princípio espiritual, espí-

rito, princípio inteligente, alma são empregados praticamente

como sinônimos.

Emmanuel, André Luiz e outros Espíritos escritores, por

intermédio de Chico Xavier, empregam corretamente os ter-

mos em seus significados específicos, em sentido genérico,

igualmente como Kardec [...].

Por princípio inteligente, alma, princípio espiritual, espírito,

designamos o ser criado por Deus, simples e ignorante, para

evoluir, cocriando eternamente pelo trabalho, pela prática do

amor e da sabedoria [...].

Foi por isso que os Espíritos disseram a Kardec (LE, 139):

“Por que não tendes vós uma palavra para cada coisa?”.

(Destacamos)

Esclarecemos, ainda, que, na formulação dos capítulos,

não nos preocupamos com uma classificação rigorosa-

mente científica dos assuntos, como se encontram nas

obras básicas. Nossa preocupação maior foi compactar o

trabalho, de modo a oferecer ao leitor uma visão de conjun-

to da Doutrina, sem perder, contudo – é o que se espera –,

o “fio da meada” e sem perder de vista uma relativa seqüên-

cia dos assuntos. Explica-se, por isso, termos enquadrado

27

PRIMEIRAS PALAVRAS

assuntos como perispírito, aborto, eutanásia, pena de

morte, suicídio, doação de órgãos e transplantes, clonagem,

DNA e sonhos, como subtítulos da Reencarnação, uma vez

que estes termos guardam correspondência direta ou indi-

reta com os fenômenos da vida biológica.

Finalmente, a inclusão, no final da obra, do título

“Criação Divina”, que trata da origem das coisas, justifica-se

pelo fato de ser um tema bem mais complexo, que pos-

sivelmente será melhor assimilado, após a apresentação das

matérias antecedentes.

28

CHRISTIANO TORCHI

1. Justificativa“[...] Nada há de novo debaixo do Sol.”

(ECLESIASTES, 1:9.)

ESTE TRABALHO FOI IDEALIZADO PARA VOCÊ, estimadoleitor, que tem sede de conhecimentos novos. Propuse-mo-nos a oferecê-lo na forma de um modesto livro deconsulta, com a finalidade de apresentar-lhe os pontosbásicos da Doutrina Espírita. Esforçamo-nos em tra-çar um quadro preliminar, que dê uma visão panorâ-mica do que seja a Doutrina dos Espíritos, de quetanto se fala e tão pouco se conhece. Não tem, por isso,a vã pretensão de esgotar o tema.

Desejamos, quando muito, esclarecer algumas dú-vidas comuns, lançando as bases para um estudo maisprofundo,6 o que dependerá, obviamente, de seu livre--arbítrio e de seu esforço.

6Recomendamos ao leitor interessado em aprofundar os conhecimentos dou-

trinários matricular-se em um dos cursos do Estudo Sistematizado da Doutrina

Espírita – Esde, que é oferecido em muitas casas espíritas (ver item 6.1).

Muitas pessoas se dizem espíritas, mas poucas real-mente conhecem o Espiritismo. A grande maioria, porcomodismo ou por falta do hábito de leitura e falta deesforço na sua própria transformação moral, prefereouvir dos outros a pesquisar em fontes seguras.

Outras, na busca de satisfazer suas paixões,preferem unicamente o contato com os Espíritos,objetivando apenas obter compensações, como se oEspiritismo fosse uma religião de favorecimentospessoais. Por isso, aceitam, cegamente, tudo o que vemdos Espíritos, na expectativa de beneficiar-se dessa“amizade”.

A Doutrina Espírita foi considerada por AllanKardec como a Ciência do Infinito, a qual “nos lança desúbito numa ordem de coisas tão nova quão grande”,cujo estudo “só pode ser feito com utilidade por homenssérios, perseverantes, livres de prevenções e animados defirme e sincera vontade de chegar a um resultado”. 7 Semo estudo sério e continuado da Doutrina, é impossívelaprofundar a sua compreensão. Não basta assistir areuniões públicas e receber passes, para ser considera-do espírita. É indispensável – como alerta Kardec –estudar a Doutrina e buscar viver seus ensinos,aliando ao estudo o trabalho e a transformação íntima.

Sem intuito de fazer proselitismo8 e com o respeitoe consideração que merecem os profitentes de todos os

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CAPÍTULO 1

7O Livro dos Espíritos, “Introdução”, item VIII.8Fazer proselitismo é tentar convencer uma pessoa sem religião ou de outra a

aderir à nossa, ou seja, conquistar adeptos, atividade de que não se ocupa e não

credos, apenas pretendemos colocar mais um tijolinhona laboriosa e permanente tarefa de divulgação do Es-piritismo, cuja missão principal é “ligar” o mundovisível ao invisível, ao mesmo tempo em que contribuipara a transformação da Humanidade, pela melhoriadas massas, por meio do gradual aperfeiçoamento dosindivíduos.

É importante salientar que não temos a intenção detrazer novidades, pois os assuntos aqui ventilados sãotratados nas obras básicas, codificadas9 por AllanKardec, e na vasta literatura suplementar espírita.

Baseados em nossas próprias dificuldades – quan-do iniciamos, há mais de uma década, o estudo daDoutrina –, desejamos aplainar o caminho de algunsiniciantes e simpatizantes, inclusive daqueles quechegam à Casa Espírita, pela primeira vez, sedentosde saber, sem ter qualquer noção de Espiritismo e semsaber por onde começar.

Frisamos que nosso objetivo – e esperamos alcan-çá-lo – é dar ao novo estudante uma noção de conjun-to dos princípios da Doutrina Espírita, de seu esqueletoou estrutura, na expectativa de inseri-lo no perma-nente estudo desta monumental Doutrina que os

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JUSTIFICATIVA

recomenda o Espiritismo, que é uma doutrina de respeito à liberdade de

consciência.9As obras básicas codificadas, isto é, organizadas, estruturadas em forma de

código, metódica e didaticamente, são O Livro dos Espíritos, O Livro dos

Médiuns, O Evangelho segundo o Espiritismo, O Céu e o Inferno e A Gênese.

Espíritos superiores nos legaram, cuja compreensão e

vivência é a chave da felicidade humana.

É claro que já existem várias e excelentes obrasescritas, com objetivos semelhantes, que em muito su-peram nossa humilde tentativa. Entretanto, se nosatrevemos a percorrer tais caminhos é porque tambémalimentamos a expectativa de ser útil, de alguma for-ma, ao Movimento Espírita, repartindo com outrosirmãos um pouco da alegria e do entusiasmo que trans-formam, continuamente, a nossa vida, graças a essesconhecimentos libertadores.

Queremos deixar claro que não pretendemos, comesta obra, impor nosso ponto de vista a quem quer queseja. Recebam-na como um esforço de reflexão, daí porque não deve ser aceita cegamente. É necessário, indis-pensável mesmo, que o leitor a investigue com as lentesda razão e do bom senso, com espírito crítico, questio-nando, apurando – discordando até, se for o caso –,enfim, pesquisando a Verdade. Estaremos sempreabertos à discussão, para corrigirmos o trabalho emsuas imperfeições, que devem ser debitadas à falibili-dade deste autor10 e não à Doutrina dos Espíritos.

Por fim, reiteramos que as informações aqui conti-das não dispensam a leitura e o estudo sério e metó-dico das obras básicas da Doutrina Espírita.

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CAPÍTULO 1

10Endereço eletrônico do autor, para sugestões e críticas:

[email protected]

2. Por que se recomendao estudo do Espiritismo?

“Conhece-te a ti mesmo.”(Frase atribuída a SÓCRATES)

ESMAGADORA PERCENTAGEM dos habitantes do pla-neta, mergulhada na vida atribulada da atualidade,não está interessada nos problemas fundamentais daexistência. A nossa prioridade tem sido a preocupaçãocom os negócios, com a carreira profissional, com osprazeres, com os problemas particulares. Considera-mos questões como a existência de Deus e a imortali-dade da alma matéria da competência de sacerdotes,de ministros religiosos, de filósofos e teólogos.

Enquanto tudo vai bem em nossa vida, nem noslembramos de que Deus existe e, quando lembramos,é apenas para fazer uma oração, ir ao templo, como setais atitudes fossem simples obrigações, das quais to-

dos temos que nos desincumbir de uma maneira ou deoutra. A religião para muitos de nós representa meraformalidade social, algo sem muito significado; nomáximo, praticamos uma “religião de fachada”, pordesencargo de consciência, para estar de bem comDeus e com a sociedade.

Outros, inclusive, sequer têm firme convicção da-quilo que professam, alimentando sérias dúvidas a res-peito de Deus e da continuidade da vida após a morte.Quando, porém, somos surpreendidos por um grandeproblema, uma queda financeira desastrosa, a perda deum ente querido, uma decepção amorosa, uma doençaincurável – fatos a que todos estamos sujeitos, semexceção –, não encontramos em nós mesmos a fénecessária nem a compreensão para enfrentar o pro-blema com coragem e resignação, caindo, quase sempre, no desespero ou na apatia.

O conhecimento espírita abre-nos uma visão amplae racional da vida, explicando-a de maneira convin-cente e permitindo-nos iniciar uma transformação ín-tima, que nos aproxima de Deus. Esse processo decompreensão dos problemas da vida passa, invariavel-mente, pelo conhecimento de nós mesmos (LE, 919).Com a certeza da imortalidade, o homem trabalha,ama, espera, perdoa e se resigna; com a dúvida, impa-cienta-se, perde a perspectiva, porque nada espera dofuturo (OQE, cap. III, “Solução de alguns problemaspela Doutrina Espírita” – item 157, A sorte do homem,na vida futura, está irrevogavelmente fixada depois damorte?).

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CAPÍTULO 2

O Espiritismo responde a questões fundamentaisda existência, tais como:

Que somos?

Antes de nascer, o que éramos?

Por que as pessoas são tão diferentes umas das outras?

Por que a vida sorri para umas e é só desgraça paraoutras?

Por que uns nascem enfermos, outros sãos?

Por que uns são pobres, outros ricos?

Por que uns, demorando-se em má conduta, so-frem menos que outros, que só fazem o bem? Por queuns nascem no corpo masculino, outros no corpofeminino?

Por que o Criador permitiria essas aparentes desi-gualdades entre seus filhos?

Por que a felicidade completa ainda não é destemundo?

De onde viemos? Para onde vamos?

O que estamos fazendo na Terra?

Várias pessoas, por exemplo, viajam num trem,carro, navio ou avião, mas somente uma ou algumasdelas se salvam, após desastre terrível – qual a razão de“sortes” tão diferentes?

Onde encontrar, em fatos tão díspares, a JustiçaDivina?

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POR QUE SE RECOMENDA O ESTUDO DO ESPIRITISMO?

O que acontecerá conosco depois da morte física?E para onde iremos?

A Doutrina Espírita responde a estas e a outras per-guntas que afligem as pessoas que buscam, deses-peradamente, um sentido para a vida, esclarecendo-as,para que não cometam, por exemplo, o terrível enganodo suicídio, do qual trataremos no item 7.4.6.

Em qualquer setor da vida, só adquiriremos co-nhecimentos a partir do estudo metódico, o que exigeesforço e perseverança (MATEUS, 24:13). Sendo o Espi-ritismo uma ciência complexa, a Ciência da alma, ali-cerçada em princípios ético-morais, jamais poderemosconhecê-la em profundidade, se não nos empenhar-mos no seu estudo minucioso e continuado.

Sendo assim, prezado leitor, convido-o a estudar, oque também é uma modalidade de trabalho. Mãos àobra!

2.1. DISTINÇÃO ENTRE ESPIRITISMO E ESPIRITUALISMO

“Não mistureis o joio com a boa semente.”ESPÍRITO DE VERDADE

O termo Espiritualismo pode ser consideradocomo gênero de que são espécies todas as correntesreligiosas, inclusive o Espiritismo. Contudo, quandoqueremos identificar um segmento religioso específi-co, dizemos Catolicismo, Espiritismo, Protestantismo,

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CAPÍTULO 2

Budismo, etc. Sendo assim, todo espírita é espiritualista,mas nem todo espiritualista é espírita (OQE, cap. I,“Espiritismo e Espiritualismo”). Todo aquele que pro-fessa uma crença religiosa, seja ela qual for, é espiri-tualista, mas só é espírita aquele que se esforça porestudar, compreender, assimilar e vivenciar os princí-pios da Doutrina Espírita em sua pureza, tais como osEspíritos superiores nos ensinaram, por meio dasobras codificadas11 por Allan Kardec.

Os termos “espírita” e “Espiritismo” foram utiliza-dos por Kardec, para evitar confusões com as demaiscorrentes espiritualistas. Eis o que disse o Codificador,no primeiro parágrafo de O Livro dos Espíritos:12

Para se designarem coisas novas são precisos termos novos.

Assim o exige a clareza da linguagem, para evitar a confusão

inerente à variedade de sentidos das mesmas palavras. Os

vocábulos espiritual, espiritualista, espiritualismo têm

acepção bem definida. Dar-lhes outra, para aplicá-los à

Doutrina dos Espíritos, fora multiplicar as causas já nume-

rosas de anfibologia.13 Com efeito, o espiritualismo é o

oposto do materialismo. Quem quer que acredite haver em

si alguma coisa mais do que matéria, é espiritualista. Não se

segue daí, porém, que creia na existência dos Espíritos ou

em suas comunicações com o mundo visível. Em vez das

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POR QUE SE RECOMENDA O ESTUDO DO ESPIRITISMO?

11Allan Kardec não inventou nem fundou a Doutrina Espírita, que em reali-

dade provém do plano espiritual. Ele, na qualidade de excelente pedagogo,

empreendeu a gigantesca tarefa de codificar os ensinos ministrados pelos

Espíritos superiores.12“Introdução”, item 1.13Anfibologia é a linguagem caracterizada pela ambigüidade da frase, que

apresenta duplo sentido ou sentido duvidoso.

palavras espiritual, espiritualismo, empregamos, para indicar

a crença a que vimos de referir-nos, os termos espírita e

Espiritismo, cuja forma lembra a origem e o sentido radical

e que, por isso mesmo, apresentam a vantagem de ser per-

feitamente inteligíveis, deixando ao vocábulo Espiritualismo

a acepção que lhe é própria. Diremos, pois, que a Doutrina

Espírita ou o Espiritismo tem por princípio as relações do

mundo material com os Espíritos ou seres do mundo invisível.

Os adeptos do Espiritismo serão os espíritas, ou, se quise-

rem, os espiritistas. (Destacamos)

Mesmo assim, existem correntes religiosas quetomam de empréstimo o nome “Espiritismo”, semmaiores reflexões, como se de fato adotassem seuspostulados, inclusive assim nominando seus templos,o que freqüentemente gera perplexidade e confusõesna mente de algumas pessoas não afeitas ao assunto.

Além disso, alguns indivíduos, deliberadamente,aproveitam-se dessas semelhanças para confundir aspessoas menos avisadas, acentuando o preconceito14

contra o Espiritismo. Mas todos sabemos que o nomenão dá essência às coisas. Posso até equivocar-mequanto ao nome da religião que professo, no caso o Es-piritismo, mas se observar os seus preceitos, consoanteas obras básicas, continuarei sendo espírita, apesar dorótulo.

De fato, não há outro Espiritismo senão o codifica-do por Allan Kardec, conforme exposto em O Livro dos

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CAPÍTULO 2

14Preconceito é o julgamento antecipado, com base na opinião dos outros,

sobre alguma coisa.

Espíritos e demais obras básicas. Não há baixo nem altoEspiritismo, muito menos Espiritismo kardecista ou demesa branca, Espiritismo de terreiro, entre outras ter-minologias inadequadas. Tais expressões permitem afalsa noção de que existe mais de uma DoutrinaEspírita, o que é inaceitável (ver cap. 3 e item 5.3).

De fato, determinadas correntes religiosas ou filo-sóficas têm pontos em comum com a Doutrina Espírita,mas com ela não se confundem. A crença na imortali-dade e em Deus é comum a todas elas. A mediunidade15

e a reencarnação, por exemplo, não constituem exclu-sividade do Espiritismo, não foram inventadas peloEspiritismo. São leis naturais ou divinas, portanto,imutáveis, a que os homens sempre estiveram sujeitos.Por isso, Espiritismo não é sinônimo de mediunidade.

O médico Ary Lex, desencarnado aos 12 de junhode 2001, profundo estudioso da Doutrina Espírita,adverte em seu livro Pureza Doutrinária:16

Lamentavelmente, a grande maioria não vai [ao Centro

Espírita] em busca de uma nova filosofia de vida, de uma

explicação lógica para os problemas do ‘ser, do destino e da

dor’. Vai em busca, apenas, de um lenitivo [alívio] imediato,

que afaste, de pronto, as dificuldades físicas e espirituais,

sem exigir das pessoas qualquer mudança de seus hábitos e

convicções.

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POR QUE SE RECOMENDA O ESTUDO DO ESPIRITISMO?

15Mediunidade é a faculdade humana de ser intermediário dos Espíritos (item

7.3.1).16Cap. I, “Conceitos fundamentais”; e cap. VIII, “Dos fatos à Filosofia” – Pureza

doutrinária.

Essa massa de sofredores e, numerosas vezes, de curiososdos fenômenos, vem pressionando os centros espíritas, paraque lhe ofereçam aquilo que seu primitivismo espiritualexige: uma prática mediúnica cada vez mais deformada e maischeia de rituais, trazidos de outras religiões, como as orien-tais, o catolicismo e a umbanda. Por vezes, os própriosdirigentes de instituições ditas espíritas acabam sendoconiventes [cúmplices]. Temendo perder aquela enormefreqüência de assistentes, acabam cedendo aqui e ali, e asdeturpações do Movimento Espírita vão se consolidando[...].

Essas pessoas são presas fáceis dos ritualismos fantasiadosde prática espírita, ou das explicações tolas dos que se inti-tulam orientadores.

Nas verdadeiras Casas Espíritas, encontram carinho e orien-tação, mas as pessoas que as atendem sempre enfatizam anecessidade da colaboração do consulente, no sentido de suareforma [transformação] moral. Não sendo os resultados ime-diatos, como não poderiam ser, elas preferem falsos médiunse charlatães, que oferecem o paraíso ao alcance das mãos [...].

É urgente e fundamental que todos aqueles que tiveram aventura de entender o Espiritismo lutem, dia a dia, pelamanutenção da pureza doutrinária. Que não se omitam [...].

Lembrem-se todos de que o indivíduo, ao se tornar espírita,não só descobriu uma verdade nova, mas assumiu o com-promisso, perante Deus e os homens, de lutar pela melhoria daHumanidade. Essa luta não consiste, apenas, na freqüênciaaos trabalhos e em fazer caridade. Abrange, também, a re-forma moral. Entretanto, que reforma é essa, em que apessoa procura tornar-se boa e pura, mas não se impor-tando se, em seu redor, os Espíritos humildes continuamabandonados, atrasados, dominados por normas erradas

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CAPÍTULO 2

de proceder, adotando posturas religiosas fetichistas ou

mágicas, substituindo a Medicina e a higiene por práticas

absurdas, de um passado remoto?

Nós só evoluiremos espiritualmente, na medida em que

também ajudarmos o nosso semelhante a progredir. A Co-

dificação nos ensina que o progresso do Espírito está inti-

mamente ligado ao da coletividade, onde o homem está

inserido. (Destacamos)

Como visto, Kardec, certamente sob inspiração doEspírito de Verdade, criou a palavra Espiritismo, exata-mente para diferenciar a Doutrina de outras correntesespiritualistas. Portanto, ninguém está autorizado aacrescentar-lhe qualquer qualificativo ou designação,pois não existe outro Espiritismo. Tudo que estiver emdesacordo com a Codificação não é Espiritismo.

Desejamos concluir este item, ressalvando, combastante ênfase, que não estamos desmerecendo qual-quer setor espiritualista, pois todos merecem respeito etêm o seu valor, quando praticam o bem.

Apenas pretendemos deixar bem clara a questãosemântica (de nome), para evitar mal-entendidos. OEspiritismo deve muito aos espiritualistas, em especialao movimento denominado Moderno Espiritualismo –que foi o precursor do Espiritismo e é o que mais seidentifica com este. O Moderno Espiritualismo é ummovimento forte e de grande destaque nos EstadosUnidos da América, na Inglaterra e em vários outrospaíses anglo-saxões. Nos Estados Unidos, por exem-

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POR QUE SE RECOMENDA O ESTUDO DO ESPIRITISMO?

plo, os fenômenos por meio dos quais as irmãs Fox seprojetaram, no século retrasado, deram início à“invasão organizada” dos Espíritos na Terra, na expres-são de um dos grandes expoentes do Moderno Espiri-tualismo, Sir Arthur Conan Doyle, que, em um dosseus extraordinários trabalhos, denominado Históriado Espiritismo [Espiritualismo],17 assim se expressa:

O campo do Espiritismo [Espiritualismo] é imensamente

vasto e nele cada variedade de cristão, como de muçulmano,

de hindu ou de pársi18 pode viver em fraternidade. Mas a

simples admissão do retorno do Espírito e da comunicação

não é suficiente. Muitos selvagens o admitem. Necessita-

mos, também, um código de moral. E se considerarmos o

Cristo como um mestre benevolente ou como um divino

embaixador, seu ensino ético atual, de uma forma ou de

outra, mesmo quando não conjugado com o seu nome, é

uma coisa essencial ao soerguimento da Humanidade. Mas

deve ser sempre controlado pela razão e aplicado conforme

o espírito e não conforme a letra. (Realçamos)

A essência dessa afirmação enfatiza que o impor-tante é a nossa vivência em consonância com os ensi-namentos do Cristo, o que está em absoluta sintonia

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CAPÍTULO 2

17Cap. II, “Edward Irving: os shakers”. [NOTA DO AUTOR: o tradutor, ao fazer a

versão do título da obra para a língua portuguesa, utilizou a palavra

Espiritismo, em lugar de Espiritualismo, deixando de atentar, ao que parece,

para a distinção existente entre os dois termos, conforme demonstramos

neste item].18Relativo aos parsis, antigo grupo de persas que emigrou e se estabeleceu na

Índia.

com o que ensina o Espiritismo. Todavia, cada um denós se filia a esta ou àquela corrente filosófica ou reli-giosa, tendo em vista as nossas necessidades evolutivase a aceitação dos princípios básicos expressados por ela.Assim, é prudente que não as confundamos, uma vezque cada uma tem o seu conjunto específico e funda-mental de princípios que as definem muito claramente.

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POR QUE SE RECOMENDA O ESTUDO DO ESPIRITISMO?