espírita tribuna -...

28
Um olhar sobre a redução da maioridade penal Um olhar sobre a redução da maioridade penal Espírita Tribuna Tribuna Ano XXXIV - Nº 185 maio/junho - 2015 Preço: R$ 5,00 Nessa edição veja também: Medicina, Espiritualidade e Religiosidade. Página 18

Upload: duongkhanh

Post on 09-Nov-2018

214 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Espírita Tribuna - fepb.org.brfepb.org.br/wp-content/uploads/2016/09/Tribuna-Espirita-no-185.pdf · já receberam a sua recompensa e terão que expurgar o orgulho pelo ato pratica-do

Um olhar sobre a redução da maioridade penal

Um olhar sobre a redução da maioridade penal

EspíritaTribunaTribunaAno XXXIV - Nº 185

maio/junho - 2015

Preço: R$ 5,00

Nessa edição veja também:

Medicina, Espiritualidade e Religiosidade. Página 18

Page 2: Espírita Tribuna - fepb.org.brfepb.org.br/wp-content/uploads/2016/09/Tribuna-Espirita-no-185.pdf · já receberam a sua recompensa e terão que expurgar o orgulho pelo ato pratica-do

Tribuna Espírita • maio/junho • 20152

OstentaçãoOstentaçãoWALKÍRIA LÚCIA

João Pessoa-PB

Encontramos, aqui, uma figura de linguagem para expressar a carida-de verdadeiramente modesta. Pois,

há aqueles que, ao esconder a mão, es-tão longe de serem modestos. Quando o fazem, sempre, dão um jeito de os ou-tros verem. Há, também, os que fazem em busca de honrarias humanas; estes, já receberam a sua recompensa e terão que expurgar o orgulho pelo ato pratica-do. Possui duplo mérito: é uma carida-de material e uma caridade moral, pois poupa àquele que a recebe a humilhação de saber que os outros saibam que está passando por momentos difíceis.

Também, encontramos uma exalta-ção da vida futura e uma sugestão de análise, para que possamos nos colo-car acima do momento presente e das situações que possamos estar vivendo,

“Tende cuidado em não praticar as boas obras diante dos ho-

mens, para serem vistas, pois, do contrário, não recebereis

recompensa de vosso Pai que está nos céus. Assim, quando

derdes esmola, não trombe-teeis, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem louvados pelos homens. Digo-vos, em verdade, que eles já receberam sua recompensa.

Quando derdes esmola, não saiba a vossa mão esquerda o que faz a vossa mão direita; a fim de que a esmola fique em

segredo, e vosso Pai, que vê o que se passa em segredo, vos

recompensará.” (S. MATEUS, cap. VI, vv. 1 a 4.)

procurando planar, acima da matéria e enxergar o irmão como, realmente, um irmão. A sublimidade da caridade che-ga ao seu ápice, quando podemos con-vertê-la em trabalho.

“Tendo Jesus descido do monte, gran-de multidão o seguiu. Ao mesmo tempo, um leproso veio ao seu encontro e o ado-rou, dizendo: Senhor, se quiseres, poderás curar-me. Jesus, estendendo a mão, o to-cou e disse: Quero-o, fica curado; no mes-mo instante, desapareceu a lepra. Disse--lhe, então, Jesus: abstém-te de falar disto a quem quer que seja; mas, vai mostrar-te aos sacerdotes e oferece o dom prescrito por Moisés, a fim de que lhes sirva de pro-va.” (S. MATEUS, cap. VIII, vv. 1 a 4.)

Vemos a diferença que há, em fazer conhecer um ato de caridade, divulgando para que outros, também, o façam e fazer

propaganda de si mesmo. Jesus não ti-nha interesses nenhum em se vangloriar do que fazia, mas queria mostrar, para os sacerdotes da época, que a cura através da imposição de mãos era possível e que isto não derrogava as leis. Eles a estudavam e tinham maior facilidade de compreen-der o ato e poder interpretá-lo. Não tra-tariam, como algo miraculoso ou fora dos padrões das leis.

Jesus foi o maior exemplo de carida-de para com o próximo. Mesmo entre os homens, não se permitiu contamina; pelo contrário: iluminou há quantos o procu-ravam. Mesmo em algumas situações que ele não podia eliminar o sofrimento, em virtude da necessidade de aprendizado, procurava remediá-las, para que a cria-tura suportasse, mais facilmente, o que estava vivendo.

Page 3: Espírita Tribuna - fepb.org.brfepb.org.br/wp-content/uploads/2016/09/Tribuna-Espirita-no-185.pdf · já receberam a sua recompensa e terão que expurgar o orgulho pelo ato pratica-do

O mesmo, ocorrendo com a divul-gação da Doutrina Espírita. Quando a conhecemos, queremos que os que nos rodeiam possam, também, participar desse verdadeiro banquete celestial. Mas, não podemos fazer a fruta amadu-recer antes do tempo. É uma caridade a divulgação da mensagem evangélica, mas precisamos saber onde estamos pregando. Nossos atos são mais impor-tantes que nossas palavras. A palavra se torna vazia, quando é destituída de atos que a corroborem.

Algo que precisamos responder a nós mesmos é, se estamos utilizando a caridade como um subterfúgio para nos afastarmos dos afazeres domésticos e familiares. Exemplifiquemos: existem aqueles que se dedicam, com muito afinco, a fazer a caridade para o externo, mas, dentro do lar, não conseguem ser-vir um copo com água para um familiar, como um gesto de gentileza. Ouvem, por horas a fio no atendimento fraterno, aqueles que buscam a Instituição Espíri-ta, mas são incapazes de trocar duas pa-lavras com os familiares ou amigos mais próximos, estando, sempre, ocupados com os eletrônicos modernos.

Sempre, nos será contado o bem que fizermos. “O Livro dos Espíritos”, nas questões 766 a 775, nos fala da “Lei de Sociedade”. Destacamos a necessidade, sim, de vivermos em sociedade, pois, se não vivêssemos nos embruteceríamos. A reclusão é uma fuga a uma lei natural, e aqueles que se retiram do mundo, pro-curando a tranquilidade que certos tra-balhos reclamam, constituem o grupo dos que praticam o retiro dos egoístas.

Antes, falava-se de isolar-se da so-ciedade, afastando-se para um local distante. Hoje, em virtude da própria tecnologia que é uma excelente facili-tadora de vidas, mas que, quando não é bem utilizada, separa muito mais que une, vemos criaturas que se enamoram, casam-se, mas que não estão juntas, porque estão acompanhadas dos seus aparelhos eletrônicos. Fazem a caridade na Instituição, mas se esquecem de fa-zer a caridade com os mais próximos. O viver em sociedade é um eterno atritar que produz sentimentos controversos, mas necessários, para o desenvolvimen-to humano.

É dever de consciência ajudar ao próximo, mas não podemos nos esque-cer que existem próximos mais próxi-mos que reclamam a nossa atenção, paciência, amor e caridade. Comece-mos, por exercitar com eles, expandin-do para vizinhos, instituição e socie-dade, por fim, o bem que há em nós. Ajudando a todos, começando por nos reconhecermos, como parte integrante de uma sociedade que reclama a nossa presença e o nosso amor.

maio/junho • Tribuna Espírita • 2015 3

Fundada em 01 de janeiro de 1981Fundador: Azamor Henriques Cirne de Azevedo

TRIBUNA ESPÍRITARevista de divulgação do Espiritismo, de propriedade do Centro Espírita Leopoldo CirneAno XXXIV - Nº 185 - maio/junho - 2015

Diretor Administrativo e Financeiro: Severino de Souza Pereira ([email protected])

Editor: Hélio Nóbrega Zenaide

Jornalista Responsável: Lívia Cirne de Azevedo PereiraDRT-PB 2693

Secretaria Geral: Maria do Socorro Moreira Franco

Revisão: José Arivaldo Frazão

Assessoria: Uyrapoan Velozo Castelo Branco

Colaboradores: Azamor Henriques Cirne de Azevedo, Carlos Romero,Carlos Roberto de S. Oliveira,Denise Lino,Deolindo Amorim,Elmanoel G. Bento Lima, Fátima Araújo,Flávio Mendonça,Frederico Menezes,Guilherme Travassos Sarinho,Germano Romero,Hélio Nóbrega Zenaide, Igor Mateus,Marcos Paterra,Mauro Luiz Aldrigue,Octávio Caúmo Serrano,Orson Peter Carrara,Pedro Camilo,Régis Mesquita,Severino Celestino,Walkíria Araújo.

Diagramação: Ceiça Rocha ([email protected])

Impressão: Gráfica JB (Fone: 83 3015-7200)

ASSINATURA BRASILANUAL: R$ 30,00TRIANUAL: R$ 80,00EXTERIOR: US$ 30,00CONTRIBUINTE ou DOADOR: R$....?ANUNCIANTE: a combinar

TRIBUNA ESPÍRITARua Prefeito José de Carvalho, 179Jardim 13 de Maio – Cep. 58.025-430João Pessoa – Paraíba – BrasilFone: (83) 3224-9557 e 9633-3500e-mail: [email protected]

ExpedienteSumário

Nota da Redação Os Artigos publicados são de inteira responsabilidade dos seus autores.

2 Ostentação

4 Comentários a “O Evangelho Segundo o Espiritismo”

5 Donos da Verdade

6 Confissões

7 O Semeador

8 É permitido repreender os outros?

9 O Espiritismo e a Definição de Kardec

10 O Espiritismo e o Ecumenismo

11 De volta ao começo

12 Está na raiz

13 Um olhar sobre a redução da maioridade penal

14 O Inferno não existe. As Penas Eternas não existem.

16 Deus - (I)

17 Painel Espírita

19 A maior virtude

20 Moral – Ética – Liberdade

21 Minha Casa Própria

22 Fechando os Olhos

24 Reflexões de um Espírita Médico - II

25 O Mundo Espiritual

26 Silêncio para ouvir Deus

27 A Fé: mãe da Esperança e da Caridade

18 Medicina, Espiritualidade e Religiosidade

Um olhar sobre a redução da maioridade penal

Um olhar sobre a redução da maioridade penal

EspíritaTribunaTribunaAno XXXIV - Nº 185

maio/junho - 2015

Preço: R$ 5,00

Nessa edição veja também:

Medicina, Espiritualidade e Religiosidade. Página 18

Foto da capa:Google imagens/

Hazel Thompson

Page 4: Espírita Tribuna - fepb.org.brfepb.org.br/wp-content/uploads/2016/09/Tribuna-Espirita-no-185.pdf · já receberam a sua recompensa e terão que expurgar o orgulho pelo ato pratica-do

Tribuna Espírita • maio/junho • 20154

Comentários a “O Evangelho Segundo o Espiritismo”

DENISE LINO Campina Grande-PB

(Cap. XXVI – Dai gratuitamente o que gratuitamente recebestes)

“O Evangelho Segundo o Espiritismo”, terceira obra da Codificação Espírita, foi organizado por Allan Kardec em vinte e oito capítulos, dos quais, apenas, último − Coletânea de Preces Espíritas − tem um roteiro próprio. Os demais seguem um esquema que inclui, tal como dito na introdução do livro, sentenças sobre o ensino moral de Jesus que são comen-tadas, numa primeira seção, pelo próprio Codificador e, numa segunda, pelos Es-píritos. Essa segunda seção, intitulada Instruções dos Espíritos, resulta da cor-respondência trocada por Kardec com centenas de Centros Espíritas, dos quais obtinha comunicações diversas que, sub-metidas a acurado exame sob a orienta-ção do princípio de universalidade do ensino dos Espíritos, resultaram na com-pilação que conhecemos. Nesse concerto de vozes, dois subconjuntos se destacam. Um, composto por um único capítulo, o XX, no qual não há os comentários da primeira seção. E outro, composto pelos capítulos XXII a XXVII, no qual não há a segunda seção.

Neste artigo, vamos comentar, apenas, os itens 1 e 2 do capítulo citado no títu-lo. No primeiro item, encontramos um versículo retirado de Mateus (10:8) e, no segundo, o comentário do Codificador, apresentado poucas linhas. Para melhor compreensão e dada a pouca extensão, transcrevemos esses itens aqui.

Dom de curar1. Restitui a saúde aos doentes, ressus-

citai os mortos, curai os leprosos, expulsai os demônios. Dai gratuitamente o que gratuitamente haveis recebido. (Mateus, 10:8.)

2. “Dai gratuitamente o que gratuita-mente haveis recebido”, diz Jesus a seus discipulos. Com essa recomendação, prescreve que ninguém se faça pagar da-quilo por que nada pagou. Ora, o que eles haviam recebido gratuitamente era a faculdade de curar os doentes e de ex-pulsar os demônios, isto é, os maus Espi-ritos. Esse dom Deus lhes dera gratuita-

mente, para alivio dos que sofrem e como meio de propagação da fé; Jesus, pois, recomendava-lhes que não fizessem dele objeto de comércio, nem de especulação, nem meio de vida.

Concentremos nossa observação, ini-cialmente, sobre a sentença retirada de Mateus. Trata-se de uma das prédicas do Mestre aos doze discípulos, por ocasião da reunião desses e da revelação da mis-são que lhes cabia cumprir. Vejamos que Jesus os orienta, quanto a um conjunto de ações no campo do atendimento aos sofredores, cujo significado convém que compreendamos.

Para isso, é importante lembrar que, ao recomendar a restituição da saúde aos doentes, assim como a cura dos leprosos, Jesus não estava revogando o papel dos médicos nem da medicina, na Terra. Res-tituir a saúde aos doentes significa uma exortação para a transmissão da bioener-gia, como se faz no passe, necessária à saúde integral ao equilíbrio mente-corpo, pois há muitas doenças cuja cura não depende, apenas, da ingestão de medica-mentos. E, nesse outro medicamento – o passe – a energia pertence ao laboratório da vida; por isso, deve ser colocado ao al-

cance dos necessitados. Quanto à cura dos leprosos, convém observar que Jesus não se referia a uma cura física da doen-ça, mas tomava a doença mais grave de seu tempo, como símbolo da compaixão, lembrando-nos a necessidade de visitar, indistintamente, os portadores de toda e qualquer doença, e, na medida do possí-vel, curá-los, sobretudo, de suas doenças emocionais, como a falta de esperança, bem como de suas doenças morais, como vícios. Evidentemente, nesta recomenda-ção de Jesus, está inclusa a ação proativa do paciente, sem a qual, nem mesmo, ele poderá exercer qualquer ação libertadora.

Quanto à ressuscitação dos mortos, precisamos, igualmente, compreender seu sentido metafórico e profundo, pois, se as outras duas recomendações traça-das não eram dadas em sentido literal, também, esta não o é, porque se fora, seria uma derrogação das leis divinas, dado que a lei biológica também é uma lei divina. Todos os seres vivos cumprem um ciclo de vida que envolve nascimen-to, desenvolvimento, plenitude e morte. Não há como reverter esse ciclo. Assim, a recomendação de Jesus não seria para dar nova vida física aos mortos, mas, para

Page 5: Espírita Tribuna - fepb.org.brfepb.org.br/wp-content/uploads/2016/09/Tribuna-Espirita-no-185.pdf · já receberam a sua recompensa e terão que expurgar o orgulho pelo ato pratica-do

5maio/junho • Tribuna Espírita • 2015

Donos da VerdadeORSON PETER CARRARA

Matão/SP

restituir a fé aos mortos das emoções, pois, os seus discípulos, ontem como hoje, têm essa vida plena que se estrutura sobre a sua mensagem.

É importante, também, entender o que significa expulsar demônios. Sendo a Doutrina de Jesus a expressão do amor e sua vivência a materialização desse sentimento sublime, é claro que o verbo expulsa,r numa sentença como essa, per-de a conotação negativa de por fora à força; repelir. E ganha o sentido de afastar, fazer sair. Se as sentenças anteriores têm um sentido conotativo e metafórico, esta, ao contrário, tem um sentido denotativo e referencial, pois a recomendação de Jesus alude, de forma clara, a uma experiência ob-jetiva da experiência humana, que é a influenciação espiritual. Sabemos que demônio é termo popularizado, para a expressão grega daimon, que significa Espírito. E os Espíritos são os homens/mulheres que viveram na Terra. Portanto, à luz do Espiritismo, a sentença diz respeito ao trabalho de orientação e esclarecimento dos Espí-ritos (não apenas os desencarnados), em processos de influência obsessiva.

Quando observadas em seu conjunto, de fato, essas sentenças dizem respeito a um conjunto de ações, por cuja execução não se pode cobrar, dado que todas elas só podem ser realizadas, de modo exito-so, pela interação entre o discípulo/mé-

dium/passista/evangelizador espírita e os Espíritos que o assistem. Por isso, o co-rolário entre elas é dai gratuitamente... A recomendação enfática de Jesus nos leva a crer que, em sua época, já havia abuso no trato de uma riqueza da qual somos, apenas, fiéis depositários.

Quanto ao comentário de Kardec, ve-rificamos que é sem rodeios, pois não há sentidos ocultos na expressão dar de

graça. Chama-nos a atenção, por sua vez, a forma como o Codificador redige a explicação da recomendação, alertando que “ninguém se faça pagar”, ou seja, que ninguém cobre por aquilo que recebeu gratuitamente, que é a faculdade de curar os doentes e expulsar os maus Espíritos.

Faculdade, esta, circundada, não apenas, pela predisposição dos médiuns, confor-me as orientações de “O Livro dos Mé-diuns”, mas, sobretudo, pela intercessão dos bons Espíritos, conforme atesta esse mesmo livro e as biografias de todos os médiuns sérios.

Chama-nos a atenção, também, as fi-nalidades apresentadas pelo Codificador, para essa faculdade: (a) alívio aos sofre-

dores e (b) propagação da fé. Vemos, aqui, uma profunda compreensão da misericórdia divina, pois a consolação, o atendimento às dores, a acolhida das dificuldades se mostram, como campo de ação para mobilização da faculda-de, ao mesmo tempo em que sua de-monstração incita a fé no futuro, na mediunidade, na vida após a morte. Portanto, se a faculdade é canal de ex-pressão amorosa do Criador em dire-ção a nós, os seus filhos, exige que seja respeitosamente tratada.

Em síntese, essa lição de “O Evan-gelho” é curta, simples e clara: a re-comendação de Jesus estimula o exercício da mediunidade, ao mesmo tempo, em que proíbe os abusos daí

decorrentes. Aplicando essa exortação às nossas vidas, lembramos que todos somos médiuns, conforme acepção apre-sentada em “O Livro dos Médiuns”; logo, nos cabe, num maior ou menor grau, res-suscitar mortos, curar doentes, expulsar demônios, com a nossa vivência cristã.

Se há um equívoco humano onde costumamos nos perder intensa-mente, com graves prejuízos para

os ideais que julgamos lutar em favor, é nos colocarmos como donos da verdade.

É, quando começamos a achar que somos imprescindíveis. É, quando acha-mos que nosso ponto de vista é o mais acertado e deve ser aceito por todos. É exatamente, quando nos colocamos na posição de impor idéias ou comporta-mentos, esperando adesões sem ques-tionamentos. É, aí, que nos perdemos, intensamente, e prejudicamos os pro-gressos do conjunto. É que nos deixamos fascinar pela vaidade, pela transitorieda-de precária de um cargo ou pela suposta e tola noção de superioridade e proteção que julgamos possuir.

São conhecidos os prejuízos históri-cos de tais comportamentos, em todas as épocas da Humanidade. Nem é preciso citar qualquer exemplo, mas o façamos, apenas, para reforçar a presente aborda-gem. Caifás, Pilatos, Hitler, entre outros

personagens do passado e do presente, estão entre tais casos, de nomes famosos ou conhecidos e, mesmo, entre anôni-mos na realidade e intimidade de em-presas e famílias.

Sim, tais casos lamentáveis estão nos esportes, na política, nas artes, nas religi-ões, nas profissões, nos relacionamentos familiares ou não e, mesmo, nos diferen-tes grupos de diferentes ideais. Inclusi-ve, no ambiente do Movimento Espírita, infelizmente.

Ocorre dizer, por oportuno, que a Dou-trina Espírita nada tem a ver com isso. Isso é consequência de nossa imaturida-de ou tentativa desesperada de resolver as coisas sob o nosso limitado e estreito ponto de vista. Imaturidade que, ainda, guarda os largos conteúdos do egoísmo, causa que articula a ambição, a inveja, o ódio e o ciúme, entre outros males. Ciú-me e inveja, esses vermes roedores da paz humana. Para que? Eles, juntos, articula-dos pelo egoísmo, perturbam as relações sociais, provocam divisões e destroem a

tranquilidade e a segurança, conforme comenta o lúcido codificador do Espi-ritismo, Allan Kardec, após a resposta dos Espíritos à Questão 917 de “O Livro dos Espíritos”.

Se trouxermos, então, tal questão e tais prejuízos à intimidade de nossas atividades espíritas, já são conhecidos os danosos resultados.

Não somos donos da verdade, não somos donos de ninguém. Nossa opi-nião, nosso ponto de vista é, apenas, um ponto de vista pessoal, fruto de nossa experiência pessoal que é dife-rente da experiência do outro, que não pode ser desprezada.

Por que desmerecemos o esforço alheio, por que tentamos paralisar ini-ciativas alheias? Por que, finalmente, desejamos impor nossa vontade?

Tudo isso é fruto de nossa peque-nez. Diante da proposta lúcida e gran-diosa do Espiritismo, alicerçado no Evangelho de Jesus, iniciemos, desde já, o esforço de melhora de nós mesmos e não dos outros...

Vale lembrar André Luiz, através da psicografia de Chico Xavier, no li-vro “Conduta Espírita, Capítulo 20 – “Perante os Companheiros”, páginas 77 a 79 da 7ª edição, FEB: “ (...) Supri-mir toda crítica destrutiva na comuni-dade em que aprende e serve. A Seara de Jesus pede trabalhadores decididos a auxiliar (...) ”.

Page 6: Espírita Tribuna - fepb.org.brfepb.org.br/wp-content/uploads/2016/09/Tribuna-Espirita-no-185.pdf · já receberam a sua recompensa e terão que expurgar o orgulho pelo ato pratica-do

Tribuna Espírita • maio/junho • 20156

Estava, nos planos de Jesus, que os seus seguidores “confessassem” diante dos homens, acerca dos seus ensinamentos. Contava, com os corações de boa

vontade, para anunciar a Boa Nova. Queria que revelas-sem e declarassem, dentre todos, o que apreenderam, en-quanto com ele. Temos, então, o termo “confessar”, no sentido de declarar, revelar, conforme em Lucas, 12:8-9: “Digo-vos que todo aquele que me confessar diante dos ho-mens; também, o Filho do homem o confessará diante dos anjos de Deus. Mas, quem me negar diante dos homens será negado diante dos anjos de Deus”.

Para entender o termo confessar, no sentido de reco-nhecer a realidade de uma ação, erro ou culpa, convém, antes, ressaltar como foi importante, para os cristãos, o fato de os primeiros seguidores de Jesus terem cumprido a recomendação acima, deixando um legado como referên-cia, de quando em acerto ou em erro. Como perseverar no bom caminho, sem Jesus? Sem o certo, como começar a corrigir o que está errado?

Já, quando nos confessamos intimamente com Deus, buscamos refúgio no Nosso Pai. Em oração, nos confes-samos, muitas vezes com Deus. É bom aprender, com o Evangelho de Jesus, em Lucas, 18:10-14: “Dois homens subiram ao templo para orar; um, era fariseu e o outro, publicano. O fariseu, posto em pé, orava consigo desta maneira: ‘Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros, nem, ainda, como esse publicano. Jejuo duas vezes, na semana, e dou os dizimos de tudo o que possuo’. O publicano, po-rém, estando em pé, de longe, nem ainda queria levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: ‘Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador!’ Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele; porque qualquer que a si mesmo se exalta será humilhado, e qualquer que a

si mesmo se humilha será exaltado”.No nosso convívio, também, nos confessamos uns aos

outros. Como está dito em Tiago, 5:16: “Confessai as vos-sas culpas uns aos outros, e orai uns pelos outros, para que sareis. (...)” Pode ser, no sentido de expressar nosso enten-dimento, esclarecimento, arrependimento, reconciliação...

E se confessar, de público? Pode acontecer, de determi-nadas situações exigirem de nós uma retratação em públi-co, perante alguém. Como, também, pela nossa dignidade pessoal, de alguém se retratar, para restabelecer verdades, em público.

Em casos assim, só a confissão não é suficiente. Jesus, ainda, esclarece, em Mateus, 18: 18: “Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na terra, será ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra, será desligado no céu”. Com essas palavras, Jesus esclarece que, se não perdoamos o nosso ofensor, ficamos ligados, de alguma forma, a ele; seja pelo pensamento, pelo sentimento de mágoa ou de ressentimento, revolta... Melhor, mesmo, é a reconcilia-ção com os nossos adversários. Se não for possível, perdo-emos. Com a nossa consciência tranquila, nos desligamos do nosso ofensor.

João Batista batizava, no rio Jordão. Antes do batismo, as pessoas se confessavam, publicamente. João Batista di-zia: “Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento”. (Ma-teus, 3:8)

Em I João, 1:9: “Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo, para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça”.

Santo Agostinho nos coloca diante de suas próprias “Confissões”. Lendo-as, vamos ver que muitas das nos-sas confissões mais íntimas, de alguma forma, estão, ali, com outras palavras, confessadas... Deus, Nosso Pai, nos abençoe.

ConfissõesHÉLIO NÓBREGA ZENAIDE

João Pessoa-PB

Page 7: Espírita Tribuna - fepb.org.brfepb.org.br/wp-content/uploads/2016/09/Tribuna-Espirita-no-185.pdf · já receberam a sua recompensa e terão que expurgar o orgulho pelo ato pratica-do

7maio/junho • Tribuna Espírita • 2015

O Semeador

MAURO LUIZ ALDRIGUEJoão Pessoa-PB

“ (...) Eis que o semeador saiu a se-mear...” (Mt. 13:3)

Quando Jesus nos apresenta esta parábola, busca enfatizar a diversidade evolutiva dos seres humanos.

Jesus é o semeador, nosso modelo e guia, conforme resumem os Espíritos Luminares, na Questão nº 625 de “O Livro dos Espíritos”.

Jesus saiu de sua casa, de seu ha-bitat, da sua dimensão cósmica, para reencarnar na Terra e fazer a semeadu-ra da Boa Nova. Convida todos a bus-car e encontrar, dentro de si, o poten-cial do sentimento universal, resumido no amor a Deus e ao próximo. Escla-rece a possibilidade de se conduzir na preparação do terreno fértil que irá dinamizar esta semente imorredoura, produzindo, na proporção do empenho e do seu desenvolvimento.

Aquele que sai a semear encon-tra, também no caminho, o conforto de ajuntar outros corações no mesmo ideal, vibrando na mesma dimensão.

Enfatiza, ainda, que cada um de nós, em sua capacidade e aptidão, pode contribuir com a tarefa de auxiliar, de conduzir, de estimular, de divulgar e de exemplificar, para o outro, na consoli-dação das ações de iluminação e na pre-paração do terreno que irá receber a boa semente. Assemelhar-se ao semeador.

Emmanuel, no livro “Roteiro”, Cap. 32, psicografia de Chico Xavier, ressal-ta que “(...) a vida, pródiga de sabedoria em todo parte, demonstra o principio da cooperação, em todos os seus pla-nos. (...) Cada criatura é peça significa-tiva na engrenagem do progresso. To-dos possuimos destacadas obrigações, no aperfeiçoamento do Espirito. Alma sem trabalho digno é sombra de inércia no concerto da harmonia geral.”

O verdadeiro discípulo deve se-mear, sempre, o Evangelho, indepen-dentemente dos solos e das circuns-tâncias, sem aguardar resultados dessa semeadura. Para tanto, é preciso abrir as portas do coração e sair das zonas de conveniências, alimentadas e reali-mentadas ao longo dos tempos.

A semente pode cair ao longo do caminho. Simboliza as pessoas que permanecem à margem das orientações espirituais que lhes chegam durante a existência. Sofrem grandes dificulda-des, como chamamento às verdades imortais e, mesmo assim, continuam a manter o mesmo comportamento.

Também, pode cair nos pedregais. São pessoas que, ainda, se mantêm com idéias cristalizadas, condiciona-das, ou reflexos dominantes da perso-nalidade, que são demonstrados nos interesse passageiros e superficiais e

não cedem espaço a entendimentos mais profundos.

Pode, ainda, cair entre espinhos. Re-presentam estes as viciações, más incli-nações ou imperfeições que sufocam as iniciativas e os projetos das mais nobres intenções. São as almas que se acomo-dam, nas facilidades que a matéria pro-porciona.

Outra pode cair em boa terra e dar fru-tos. Enfatiza Jesus que, mesmo em terra fértil, corações e mentes irão frutificar em diferentes proporções, simbolizando as diferentes capacidades individuais a se dinamizarem, no benefício daqueles que estão despertando para a realidade espi-ritual e aqueles que, já despertos, mobili-zam seus braços, na ação do Bem. Esfor-çam-se em vivenciar os ensinamentos da Boa Nova, sem medir sacrifícios.

Elucida Emmanuel: “Se o terreno de teu coração vive ocupado por ervas dani-nhas e se já recebeste o principio celeste, cultiva-o, com devotamento, abrigando-o nas leiras de tua alma. O verbo humano pode falhar, mas a Palavra do Senhor é imperecivel. Aceita-a e cumpre-a, por-que, se te furtas ao imperativo da vida eterna, cedo ou tarde, o anjo da angústia te visitará o espirito, indicando-te novos rumos”. (Mesma origem, no Livro “Pão Nosso”, Cap. 25). Porque Jesus continua a semear...

Page 8: Espírita Tribuna - fepb.org.brfepb.org.br/wp-content/uploads/2016/09/Tribuna-Espirita-no-185.pdf · já receberam a sua recompensa e terão que expurgar o orgulho pelo ato pratica-do

Tribuna Espírita • maio/junho • 20158

Superiores e Inferiores.

Pedimos a sua atenção para mais um tema polêmico no Movimento Es-pírita: A pergunta é se podemos ou de-vemos repreender os outros.

Quem nos socorre na abordagem é o Espírito São Luiz que, em três mensa-gens ditadas em 1860, conforme itens 19, 20 e 21 do Capítulo X de “O Evan-gelho Segundo o Espiritismo”, dá-nos receitas seguras sobre qual deve ser o nosso comportamento diante das faltas alheias.

Na primeira, ele responde a uma pergunta que lhe fizeram, argumen-tando que se ninguém é perfeito, con-clui-se que ninguém teria o direito de repreender o próximo. Está correto?

O espírito responde que não, por-que cada um deve trabalhar para o pro-gresso de todos, especialmente dos que dependem de nós. Mas, sempre com moderação e com intenção útil. Nun-ca, expor as fraquezas alheias à execra-ção em público. Nunca, criticar com a intenção de desmoralizar a pessoa e sim com finalidade útil. O que poderia ser um ato construtivo se transforma em maldade, se a intenção é menospre-zar o outro. É preciso analisar em nós o que criticamos nos outros para ver se não somos também merecedores de censura.

Perguntaram a ele, também, se po-demos observar as imperfeições dos outros, quando disso não resulte utili-dade para eles e o Espírito respondeu que o importante é a intenção; mais do que o fato. Claro que não é proibido ver o mal, quando existe. Seria hipo-crisia ver o bem em tudo, ajudando a atrasar o progresso com medo de cor-rigir falhas. O que não devemos fazer é exultar com o erro do outro, como

quem comemora por não ter aquela fa-lha. Podemos ter outras até piores.

Na última pergunta, foi indagado se há casos em que seja útil descobrir o mal alheio. A resposta é de puro bom senso.

Diz-nos São Luiz. Se a imperfeição prejudica exclusivamente a própria pessoa, não há utilidade em divulga-la. Mas, se o mal prejudica muita gente é necessário defender-se o interesse de muitos antes do interesse de um só. Chega a ser importante desmascarar a mentira, porque é praticamente um dever. Preferível que um homem caia a que muitos sejam enganados e se tor-nem suas vítimas. Se o mal é claro, deve ser combatido. Em “O livro dos Espíritos”, temos a questão 932, que indaga: “Por que, no mundo, os maus, quase sempre, exercem maior influên-cia sobre os bons?” A resposta dos Es-píritos foi: “Pela fraqueza dos bons. Os maus são intrigantes e audaciosos; os bons são timidos. Quando estes o quise-rem, predominarão.”

Isto se aplica aos Centros Espíritas, onde há colaboradores indisciplinados que não respeitam os compromissos e criam problemas para os demais e para a própria Instituição. O dirigente tem dificuldade para reprimir o confra-de, temendo que ele possa afastar-se da casa. Não considera que a presen-ça dele é nociva para o Centro e pode comprometer o próprio Espiritismo. O dirigente espírita é o guardião da Dou-trina, dentro da sua Casa.

Há muita tolerância, nos Centros, em nome da caridade. Crianças, brin-cando durante os trabalhos, criando problemas para o expositor que pode perder a concentração, porque não se dão conta como é difícil e a responsabi-lidade que envolve a comunicação pela

oratória, na Casa Espírita. Dirigentes espíritas. Pensem muito no que nos re-comendou São Luiz, já em 1860.

O que tem a responsabilidade do comando e o que obedece têm respon-sabilidades, conforme nos ensina o ca-pítulo XVII, item 9, de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, quando fala de Superiores e Inferiores. A orien-tação é do Espírito François Nicolas Madeleine, que foi o Cardeal católico Morlot. Mensagem de 1863.

Inicialmente, lembremo-nos de que, em qualquer posição que nos en-contremos no mundo, sempre teremos alguém acima e alguém abaixo de nós. O maior soberano da Terra perceberá que é assim. Se esse alguém não lhe for superior hierarquicamente, o será cultural ou espiritualmente. Sem-pre, podemos ser aquele que ensina ou aquele que aprende. A vida é tro-ca permanente, porque ninguém pode tudo nem conhece tudo. O importante é a maneira como nos conduzimos nas diferentes oportunidades.

Se somos o que sabe mais, nós não devemos humilhar o outro, ao trans-mitir-lhe nosso conhecimento. Se, na oportunidade, somos nós o aprendiz, não devemos nos ofender pelo fato de, naquele assunto, termos menos conhe-cimento. Morlot nos ensina que, assim como se dá com a fortuna, também se pedirá contas de quem usa mal a auto-ridade, por imaginar que se trata de um privilégio, para satisfazer seu desejo de sentir-se superior.

Em cada encarnação, exercemos atribuição diferente. Ora, mandamos, ora, obedecemos, mas isto é circuns-tancial e secundário. O importante é, como nos comportamos em cada uma dessas posições. Se formos o chefe, tenhamos sensibilidade para respeitar

É permitido repreender os outros?

OCTÁVIO CAÚMO SERRANO João Pessoa-PB

Page 9: Espírita Tribuna - fepb.org.brfepb.org.br/wp-content/uploads/2016/09/Tribuna-Espirita-no-185.pdf · já receberam a sua recompensa e terão que expurgar o orgulho pelo ato pratica-do

9maio/junho • Tribuna Espírita • 2015

aquele que é nosso subalterno, compreen-dendo seus problemas e, muitas vezes, sua menor capacidade e inteligência. Co-loquemo-nos no lugar dele e nos transfor-maremos em amigos.

No caso contrário, caso sejamos o co-mandado, não podemos esquecer que de-vemos respeito ao chefe, ajudando-o, para que possa desempenhar bem sua função e receber o respeito de eventual superior que exista, também, acima dele. O importante, nesse relacionamento, não é quem manda ou quem obedece, mas como cada um exerce a sua parte, contribuindo para que ambos sejam parceiros que se respeitem.

Quando, numa encarnação, somos aquinhoados com a fortuna ou a chefia e dela damos má conta, embora não seja re-gra, como nada o é nas orientações espíri-tas, corremos o risco de ter de viver situa-

ção inversa para aprender. Não se trata de castigo, mas de renovação de oportunida-de, a fim de que ao longo da eternidade espiritual todos cresçamos, igualmente, sem reclamar que Deus nos abandonou.

O importante, em cada encarnação, é o que nos acrescentamos em virtudes. A obediência e a disciplina são virtudes que aprendemos, ao obedecer, e a paciência e humildade são qualidades que conquista-mos, ao ensinar. Não se entende como, nas empresas, chefes e subordinados pos-sam se desentender, se o sucesso dos ne-gócios beneficia as duas partes, da mesma maneira, que o fracasso da empresa cria problemas para os dois lados.

Evidentemente, que cumpre a chefes e subalternos deveres diferentes. Se alguém está investido no cargo de comando, segu-ramente, é porque tem mais capacidade,

o que lhe acarreta mais responsabilidade. Mas, que essa superioridade seja, apenas, hierárquica e exercida com respeito, mes-mo que em determinados momentos seja usada com rigor. Exigir mais produção, interesse e atenção no trabalho, criando censuras quando devidas, mas sem me-nosprezar o outro, por sua condição infe-rior no organograma da empresa.

Amar o próximo, em qualquer cir-cunstância, ajudando-o na dificuldade, parta a ação do chefe ou do empregado. Essa é a grande regra. Todos nós temos momentos de vacilação e fraqueza, de en-fermidades e desequilíbrio, de depressões mentais e é, nesse momento, que superio-res e inferiores devem dar-se as mãos e socorrerem-se mutuamente. Hoje, eu aju-do, amanhã, sou ajudado. A vida é isso. Inclusive, no Centro Espírita.

Dentro da definição que lhe deu Allan Kardec, o Espiritismo tem, ao mesmo tempo, um aspecto geral,

como filosofia espiritualista, e os aspectos particulares, que são inerentes a seu caráter e sua organização. Quem o diz é o próprio Allan Kardec, na Introdução de “O Livro dos Espíritos”, ao ensinar que “todo espirita é espiritualista, mas nem todo espiritualista é espirita”. Realmente, há muitos espiritu-alistas que, embora admitam o fenômeno de além-túmulo, não aceitam os postulados do Espiritismo. São espiritualistas, mas, na realidade, não são espíritas. Estas noções iniciais são muito conhecidas dos adeptos do Espiritismo, mas a verdade é que mui-tas pessoas julgam mal o Espiritismo, exa-tamente porque não conhecem as noções elementares da doutrina. Daí, portanto, a necessidade, não mais para os espíritas, mas para o elemento leigo, de certos rudi-mentos indispensáveis a respeito do Espiri-tismo, sua definição, seu caráter, seus mé-todos, suas consequências.

O fenômeno, somo se sabe, é o ponto de partida, tanto do Espiritismo como de todas as escolas e correntes que se preo-cupam com o além-túmulo. É de notar-se,

O Espiritismo e a Definição de KardecDEOLINDO AMORIM (*)

Para muita gente, Espiritismo é, apenas, fenômeno; mas

quem conhece um pouco da doutrina sabe, muito bem,

que não é assim.

porém, que, nem todos os que se dedicam à experimentação mediúnica, entram nas indagações de ordem filosóficas. Sob este ponto de vista, é claro que o Espiri-tismo ultrapassa a experimentação pura e simples, porque, além de tratar, também, da origem do fenômeno, tira consequên-cias morais da grande influência, tanto da vida particular como na vida social. Justamente por isso, foi que Allan Kardec definiu o Espiritismo como uma ciência que trata da origem e do destino dos espí-ritos, assim como de suas relações como mundo terreno. Aí, estão, implicitamen-te, os três pontos básicos: a origem e o destino dos espíritos são questões trans-cendentais, de alta filosofia; a relação dos espíritos com o mundo terreno é assunto da ciência experimental, porque são os fenômenos que provam essas relações.

O aspecto moral, porém, é fundamental para o Espiritismo. De que serve a ex-perimentação, apenas, como assunto de curiosidade? De que serve entrar em co-municações com os espíritos ou provocar fenômenos, sem tirar desses fenômenos o que é essencial para o refinamento dos costumes, para a reforma interior do ho-mem? Para muita gente, Espiritismo é, apenas, fenômeno; mas quem conhece um pouco da doutrina sabe muito bem que não é assim. Para certas escolas, por exemplo, o fenômeno é o fim, ao pas-so que, para o Espiritismo, o fenômeno é um meio. Mas, meio de que? Meio de aperfeiçoamento, elemento de con-vicção, para a aceitação da vida futura e, consequentemente, caminho para a crença em Deus.

Enquanto certos experimentadores levam anos e anos, observando e provo-cando fenômenos, sem tirar conclusão alguma acerca dos altos e importantes problemas da vida futura e do destino hu-mano, o experimentador espírita, quando bem orientado pela doutrina, parte do fe-nômeno, sobe à indagação dos por quês, que é o terreno da filosofia e, depois, faz as necessárias aplicações à vida prática, isto é, ao comportamento do homem, às atitudes privadas e públicas, aos padrões de moralidade que a condição de espíri-ta exige em qualquer situação. A não ser assim , a experimentação, por si só, é as-sunto, simplesmente, de curiosidade.

(*) Extraído da RIE, de 15 de junho de 1954,

ano XXX, nº 5).

Page 10: Espírita Tribuna - fepb.org.brfepb.org.br/wp-content/uploads/2016/09/Tribuna-Espirita-no-185.pdf · já receberam a sua recompensa e terão que expurgar o orgulho pelo ato pratica-do

Tribuna Espírita • maio/junho • 201510

SEVERINO CELESTINO João Pessoa-PB

O Espiritismo e o Ecumenismo

Chico Xavier

O termo Ecumenismo tem origem no grego “oikoumene” que significa “o mundo civilizado”. Na Bíblia,

a palavra “oikoumene” é traduzida, como “todo” e “universal”.

O Ecumenismo é um processo de en-tendimento que reconhece e respeita a di-versidade entre as igrejas. A ideia de ecu-menismo é, exatamente, reunir o mundo cristão. Na prática, porém, o movimento compreende diversas religiões, inclusive aquela não cristã.

A história da Humanidade está repleta de acontecimentos que registram a intole-rância religiosa.

De onde vem essa intolerância? Qual a origem desse desagradável comportamen-to humano? Será que Jesus aprovaria tal conduta? Não necessitamos responder, que não.

As denominadas “guerras santas” foram responsáveis por incontáveis mortes, atra-vés dos registros encontrados na História.

A “guerra santa” é um recurso extre-mista que as grandes religiões monoteístas têm usado, ao longo dos tempos, para pro-teger o que consideram ameaça aos seus dogmas e a seus lugares sagrados.

A origem das primeiras “guerras santas”, já travadas na história, se encontra no Isla-mismo e no Cristianismo, lamentavelmente.

Temos vários registros de guerras re-ligiosas e, neste sentido, podemos relem-brar, resumidamente, as que se seguem:

Como primeiro registro, temos a guerra santa islâmica, quando, em 622, Maomé, após ser ameaçado de morte, pelos oposi-tores do islamismo, migrou de Meca para Medina, uma cidade a 300 km ao norte de Meca, juntamente com seus seguidores. Maomé expandiu o Islamismo por vários territórios, baseado nos deveres religiosos do Jihad, que tem sido interpretado como o dever de realizar “guerras santas”.

Durante a Idade Média, a Igreja Católica realizou as cruzadas que foram expedições militares, com o objetivo de reconquistar o Santo Sepulcro, em Jerusalém, do domí-nio muçulmano, que assumiram a forma de verdadeira “guerra santa”. Apesar de suas várias tentativas, a Igreja Católica só conseguiu conquistar Jerusalém, uma vez e, no Século XII; mas, na verdade, foram os

turcos que reconquistaram o domínio de Jerusalém.

Durante os séculos XVI e XVII, a “Re-forma Protestante” espalhou-se pela Euro-pa. Em países europeus, como Alemanha e França, o Protestantismo floresceu, e este acontecimento despertou a intolerância ca-tólica, ocasionando diversas guerras, entre católicos e protestantes.

Mais recentemente, nos defrontamos com os conflitos na Irlanda do Norte e com o fundamentalismo de grupos ra-dicais islâmicos, envolvendo o mundo, como se tem verificado com os embates entre a Palestina e Israel.

Todos esses acontecimentos nos trazem reflexões sobre o porquê de o homem ma-tar em nome de Deus e de Jesus.

Muitos vultos da Humanidade têm se preocupado com a paz e o entendimento entre os homens. Este princípio humano tem total respaldo nas páginas do Evange-lho. Jesus representa o grande roteiro de paz, presente no nosso planeta, há dois mil anos. Só os que não conhecem nem vivem os seus ensinamentos, agem com precon-ceitos para com o seu semelhante.

A Doutrina Espírita surge, no século XIX na França, com uma proposta de refor-ma interior e preparando o homem para a fraternidade universal.

Foi assim que, em 1857, ela surgiu, co-dificada por Allan Kardec, sob a direção do Espírito da Verdade.

Essa Doutrina traz, em suas raízes, o princípio filosófico da reforma interior e da ciência, como suporte principal.

Em 1861, a Inquisição, sob a pretensão incoerente de ser representante de Jesus,

moveu, em Barcelona na Espanha, um ato de intolerância contra o Espiritismo, atacando suas principais obras e, no dia 9 de outubro daquele ano, foram queimados vários livros da recém lançada Doutrina. Entre as obras queimadas podemos citar: “Revue Spirite”, dirigida por Allan Kar-dec; “A Revista Espiritualista”, dirigida por Piérard; “O Livro dos Espíritos”, “O Livro dos Médiuns”, e “O que é o Espiritismo?”, de Allan Kardec; “Fragmento de Sonata”, atribuído ao Espírito Mozart; “Carta de um católico sobre o Espiritismo”, pelo doutor Grand; “A História de Jeanne d’Arc”, atri-buído ao Espírito Joana d’Arc, pela mé-dium Ermance Dufaux; “A realidade dos Espíritos demonstrada pela escrita direta”, pelo barão de Guldenstubbé.

Felizmente, esse ato de intolerância e perseguição não atingiu o seu objetivo, pois, em vez de destruir a Doutrina Espírita, cons-tituiu-se na maior divulgação que o Espiri-tismo poderia ter recebido, naquela época.

Allan Kardec não desistiu de sua tare-fa de codificação da Doutrina Espírita e buscou, em Jesus, a solução para todo e qualquer tipo de preconceito e intolerância religiosa. Lançou, em 12 de abril de 1864, a sua maior obra cristã, trazendo luzes de entendimento para a Humanidade. Foi, no Evangelho de Jesus, que ele encontrou o suporte indispensável para o seu objetivo de unir pessoas de todas as crenças, pro-duzindo, na sequência a obra, que se cons-tituiu no maior livro de harmonia entre as religiões, e que se denomina “O Evangelho Segundo o Espiritismo”.

Kardec apresentou este livro, como sen-do o ponto onde todas as crenças poderiam

Page 11: Espírita Tribuna - fepb.org.brfepb.org.br/wp-content/uploads/2016/09/Tribuna-Espirita-no-185.pdf · já receberam a sua recompensa e terão que expurgar o orgulho pelo ato pratica-do

11maio/junho • Tribuna Espírita • 2015

se encontrar. Buscou, com o seu senso de ecumenismo, a união e a fraternidade, como pontos indispensáveis, para o entendimento entre as diversas correntes religiosas.

Sabemos que o fenômeno religioso é um dos quatro pilares da cultura humana, sendo os outros três, a Filosofia, a Arte e a Ciência. É, nas instituições de ensino, que se entra em contato com a ciência. O mes-mo deveria ocorrer com as religiões, patri-mônio cultural de todos os povos e, como tal, matéria de estudo e pesquisa.

Nós devemos primar, sempre, pela bus-ca do conhecimento que abre a mente. A verdade e o conhecimento, sempre, nos li-bertarão do fundamentalismo religioso que é, extremamente nocivo e prejudicial, para o indivíduo e para a sociedade. Ele promo-ve a intolerância, a dificuldade de relacio-namento entre grupos, destrói a integração e o respeito mútuo, não admite opiniões divergentes e considera sua perspectiva isenta de erros.

Partindo do pressuposto que a ignorân-cia é a mãe da intolerância, a maneira mais correta de se superar a ignorância, ou seja, o desconhecimento e, assim, forjar a tolerân-cia religiosa, é fomentar o conhecimento.

Particularmente, temos conseguido al-gumas ações e experiências positivas, em torno do entendimento, entre as diversas correntes religiosas. Com a fundação do curso de “Ciências das Religiões” na UFPB, vivenciamos muitos testemunhos de com-preensão entre as diferenças religiosas. Le-vantamos a tese de que não concebemos que alguém afirme seguir Jesus e, no en-tanto, não respeite nem ame o seu irmão; apenas, pelo simples fato de ele pertencer a outra corrente religiosa, ainda mesmo, que seja cristã.

Cada um de nós deve se empenhar, no esforço de contribuir para a construção de uma sociedade harmoniosa e respeitosa, para com os diferentes, fundamentada na ética e no amor pelo semelhante.

A Doutrina Espírita nos traz esse su-porte, para o respeito e a fraternidade na convivência com o diferente. Na “Intro-dução” de “O Evangelho Segundo o Espi-ritismo”, Kardec levanta o ponto universal do entendimento entre os homens quando afirma: “Diante desse código divino, a pró-pria incredulidade se curva. É o terreno em que todos os cultos podem encontrar-se, a bandeira sob a qual todos podem abrigar-

se, por mais diferentes que sejam as suas crenças. Porque nunca foi objeto de dispu-tas religiosas, que sempre e por toda a parte provocadas pelos dogmas. Se o discutissem, as seitas teriam, aliás, encontrado nele a sua própria condenação, porque a maioria delas se apegaram mais à parte mistica do que à parte moral, que exige a reforma de cada um. Para os homens, em particular, é uma regra de conduta que abrange todas as circunstâncias da vida privada e públi-ca, o principio de todas as relações sociais fundadas na mais rigorosa justiça. É, por fim, e acima de tudo, o caminho infalivel da felicidade a conquistar, uma ponta do véu erguida sobre a vida futura. É essa parte que constitui o objeto exclusivo desta obra”.

Reflitamos sobre tão sábias e fraternas palavras de Kardec e nos interroguemos a respeito do que, como espírita, temos reali-zado em prol do entendimento e da frater-nidade entre os diferentes. Pensar diferen-te de nós, nunca deve significar ser contra nós. Jesus será, sempre, o nosso maior exemplo. Coloquemo-lo em nossos cora-ções; imitemos suas atitudes e plantemos, junto àqueles que nos cercam, a semente plena da PAZ.

É indiscutível o crescimento dos seguidores do Espi-ritismo, não só no Brasil e na América Latina, como, também, em outros continentes, embora de forma mais

lenta. Não poderia ser diferente, ante a sede que as pessoas vêm sentindo de encontrar respostas para os desafios da vida, para a compreensão da existência. Milhões tentam encontrar um sentido, para suas lutas. O materialismo não preenche os vazios que aparecem ao longo da jornada.

Refiro-me a esse crescimento, para enfatizar os novos de-safios que se apresentam aos seguidores da grande mensa-gem espírita: quase sempre, quando se ganha em volume, se perde em qualidade. Sem desejar generalizar e, compreen-dendo que cada época possui seu próprio contexto, penso ser fundamental que as Casas Espíritas façam um esforço, para não perderem a ligação com as origens do Espiritismo; isso, porque, conquanto seja uma doutrina de caráter progressista, não deve tornar-se de caráter modista. O estímulo, para algo dessa natureza, é uma das marcas de nosso tempo.

Talvez a dificuldade que algumas instituições espiritistas têm encontrado, para desenvolver, por exemplo, a prática mediúnica com qualidade e segurança, possa estar nas ca-racterísticas que algumas Casas vêm estabelecendo em seu funcionamento. Natural, que desejemos organizar nossos es-paços físicos, de maneira a receber, melhor, os frequentadores e favorecer ambientes mais adequados aos trabalhos; porém, o mesmo cuidado devemos ter, para com as condições psíqui-cas de nossas atividades. A composição vibratória da Casa é fundamental, para que a assistência dos bons Espíritos se dê de forma exitosa.

Não basta que ser uma instituição espírita e, logo, milhares de Espíritos nobres estarão à disposição dos seus tarefeiros.

A “Lei de Sintonia”, ainda aqui, se apresenta decisiva. Em torno dos homens, pululam milhares de almas atormentadas, em suas paixões degradantes e infelizes. Natural que, se nós, os seguidores do Espiritismo, não atentarmos para essa lei essencial, que nos faz atrair os que se nos assemelham, qual a natureza e a qualidade dos Espíritos que nos assistirão ?

Detendo-me na atividade da prática mediúnica, não será, na ausência dos cuidados levados em conta nos primórdios da Doutrina, a razão de termos tantas reuniões mediúnicas problemáticas, sem aquela beleza e autenticidade dos primei-ros tempos? Léon Denis, o grande continuador da obra de Allan Kardec, sempre, enfatizava o recolhimento sagrado que deveria caracterizar a postura dos médiuns, a fim de que suas faculdades se aprimorassem e se tornassem produtivas. Yvo-ne do Amaral Pereira, uma das mais conscienciosas médiuns que já tivemos, alertava para o fato de ela sentir imensas sau-dades das reuniões espíritas ungidas pela postura elevada e séria, propiciando mensagens dos nobres mentores, cheias de profundidade e beleza, além de tratamentos juntos aos obse-dados de grande generosidade e eficácia.

Creio que se faz necessário avançar no presente, sem per-der os fundamentos dos princípios espíritas, tão estudados e vividos no início do Espiritismo. Uma atmosfera de seriedade e busca das forças mais elevadas do mundo invisível, assesso-rado pelo desejo sincero de reforma moral dos membros, favo-rece a presença dos poderosos Espíritos protetores e o Centro Espírita, assim bafejado, produzirá cem por um. Poderemos ter crescimento, com inegável qualidade; quantidade e eleva-ção; modernidade, sem modismos. Sedes bem elaboradas e es-truturas fluídicas enobrecidas. Com fidelidade ao Evangelho e ao Grande Consolador. Vamos refletir sobre isso?

De volta ao começoFREDERICO MENEZES

Recife-PE

Page 12: Espírita Tribuna - fepb.org.brfepb.org.br/wp-content/uploads/2016/09/Tribuna-Espirita-no-185.pdf · já receberam a sua recompensa e terão que expurgar o orgulho pelo ato pratica-do

Tribuna Espírita • maio/junho • 201512

Está na raiz

FÁTIMA ARAÚJO João Pessoa-PB

São inúmeros os exemplos que demonstram a conduta egocêntrica do ser humano, na face da Terra, esse pla-neta de provas e expiações, onde reencarnamos para

aprender, resgatar débitos e evoluir. É necessário, pois, que cada um de nós possa vencer-se a si mesmo, combatendo o egoísmo que insiste em prevalecer em nossos pensamentos e atitudes, visto que essa inferioridade, na concepção do Espi-ritismo Cristão, é a causadora de todas as misérias do mun-do terreno, é a negação da Caridade e, por consequência, o maior obstáculo à felicidade dos homens.

O Cristo advertiu:”Não ajunteis, para vós, tesouros, na Terra, onde a ferrugem e as traças corroem, onde os ladrões furam e roubam. Ajuntai, para vós, tesouros no céu, onde a ferrugem e as traças não corroem e os ladrões não roubam. Porque, onde está o teu tesouro, também está o teu coração”. (Mateus, Cap. 6, v. 19 a 21).

Por conta do apego aos bens terrenos, o moço rico não atendeu à sugestão de Jesus: “Vende tudo o que tens e se-gue-me”. Por isso, o Mestre disse ao seu apóstolo, Pedro, que era “mais fácil um camelo passar no fundo de uma agulha, do que um rico entrar no Reino de Deus”. (Mateus, Cap. 19, v. 24).

Não que Jesus condenasse a riqueza; Ele era contra o ego-ísmo de se querer só para si. E o inverso desse egoísmo foi o caso de Zaqueu, aquele que subiu na árvore para ver Jesus passar.

“Zaqueu, desce depressa, porque é preciso que eu fique hoje em tua casa”. (Lucas, 19: 1 – 5).

Quando Zaqueu manifestou a ideia de doar, aos pobres, metade de seus bens, Jesus sentiu nele o desapego, que é jus-tamente o inverso do egoísmo e da ambição.

O fato é que o egoísmo está na raiz dos diversos males que atacam a humanidade. Os conflitos e as disputas, as mais variadas formas de escravizar o próximo para satisfazer inte-resses materiais são formas de egoísmo. Assim, é importante ressaltar que este mal é apenas uma faceta de um mal maior, raiz de muitas desgraças ocorridas em todos os tempos: o or-gulho. Como filho dileto do egoísmo, o orgulho é irracional,

pois o ar de superioridade e a ilusão de serem melhores que os outros, faz dos orgulhosos pessoas alheias à realidade.

O egoísmo e o orgulho têm origem num sentimen-to natural: o instinto de conservação. E este instinto, como afirmam os Irmãos de Luz, em O Livro dos Espí-ritos, procede da Lei de Conservação, uma Lei Natural. Kardec explica que “Este sentimento, contido em jus-tos limites, é bom em si; seu exagero é que o torna mau e pernicioso.

Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. 11, Item 11, eis a mensagem que o Espírito Emmanuel traz para a Co-dificação de Kardec: “O egoísmo, chaga da Humanidade, tem que desaparecer da Terra, a cujo progresso moral obsta. Ao Espiritismo está reservada a tarefa de fazer com que a Terra se eleve na hierarquia dos mundos. O egoísmo é, pois, o alvo para o qual todos os verdadeiros cristãos devem apontar suas armas, dirigir suas forças, sua coragem”.

Instruído pelos Espíritos Superiores, que orquestraram a Codificação, na questão 913, de O Livro dos Espíritos, Kar-dec afirma que “O egoísmo é um vício radical, daí que, dele, deriva todo o mal”. “Se estudarmos todos os vícios, veremos que, no fundo de todos eles, há egoísmo. Por mais que lhe deis combate, não chegareis a extirpá-lo, enquanto não ata-cardes o mal pela raiz”.

Kardec afirma que “A causa do orgulho está na crença, que o homem tem, de sua superioridade individual, e aqui se faz sentir a influência da concentração do pensamento nas coisas da vida terrestre”. E também “na incredulidade de que existe um poder superior à humanidade”.

Nada mais lógico: o homem que não acredita em Deus, na imortalidade do Espírito, nem na vida futura, dificil-mente se voltará para a caridade, mas antes para o prazer e benefício próprios, mesmo porque, em sua concepção ma-terialista, tudo se acaba com o desencarne. Já os que têm a certeza de que o Espírito é imortal e de que todo o bem praticado, durante a existência na Terra, será contabilizado, no futuro, conseguirá, com certeza, alijar da alma a chaga do egoísmo.

Page 13: Espírita Tribuna - fepb.org.brfepb.org.br/wp-content/uploads/2016/09/Tribuna-Espirita-no-185.pdf · já receberam a sua recompensa e terão que expurgar o orgulho pelo ato pratica-do

Um olhar sobre a redução da maioridade penalPEDRO CAMILO

Salvador/BA

O estudo das Teorias da Pena, de in-teresse do Direito Penal e da Crimi-nologia, indica que a sanção penal,

decorrente da prática de um crime, pode encontrar dois sentidos: a simples puni-ção pela punição (Teorias Absolutas ou Retributivas e a punição), como forma de evitar novos delitos (Teorias Relativas ou Preventivas).

De modo simplificado, as Teorias Retri-butivas defendem o “mal justo” da pena, em contraposição ao “mal injusto” do cri-me. Negam, portanto, qualquer fim uti-litarista à pena, qualquer finalidade espe-cial. Já, as Teorias Preventivas sustentam que a sanção penal não é um fim em si mesmo, mas um meio através do qual se buscará, dentre outras coisas, a reinserção social do condenado e a restauração da confiança dos cidadãos na força da lei e da ordem social.

O debate sobre a redução da maiorida-de penal passa, a nosso sentir, por essas três ideias: a punição pela punição, a rein-serção social e o efeito simbólico sobre a sociedade como um todo.

De um lado, estão os que sustentam que é preciso punir aquele que erra, por “impositivo de justiça”, sobretudo em uma sociedade tão marcada pelo acesso à informação, o que levaria a um mais rápi-do amadurecimento e, consequentemen-te, ao reconhecimento da capacidade de autodeterminação dos jovens a partir dos 16 anos. “Se podem votar, por que não pagar pelo que fazem?”, bradam as vozes meramente punitivistas.

Em outro ponto, se encontram os que acreditam na força da lei, para modificar a realidade. Para estes, quanto mais du-ras as leis, menor será a criminalidade. No que toca aos jovens a partir dos dezes-seis anos, isso significaria uma inibição à prática de crimes, quando, em verdade, seu efeito seria simbólico, no sentido de transmitir à comunidade uma sensação de segurança, de confiança nos mecanis-mos legais.

Há, também, quem defenda a pena

13maio/junho • Tribuna Espírita • 2015

Como pretender que reajam diferente-mente, se mesmo nós, que tivemos “boa família” e “boa educação”, reagimos vio-lentamente, sempre que tratados com des-prezo, com desconsideração?

Com “O Livro dos Espíritos”, aprende-mos que as desigualdades sociais são obra do homem. Como pretender corrigi-las, punindo, ainda mais, quem já é punido, pela cor da pele, pela baixa renda e por uma estrutura sócio-econômica opressora e marginalizadora?

Naturalmente, que a criminalidade as-suma a idade e a expressão que assumir, precisa de uma resposta. Questiona-se, porém, se a pretendida é a melhor, a mais adequada. Curiosamente, os estudiosos do Direito Penal e da Criminologia são quase unânimes, insurgindo-se contra essa “so-lução mais estúpida”, como afirmou Fer-nando Santana, professor de Direito Penal da Universidade Federal da Bahia.

Se, por um lado, “uma sociedade de-pravada certamente precisa de leis seve-ras”, por outro, “essas leis mais se desti-nam a punir o mal depois de feito, do que a lhe secar a fonte”, reforçam os Espíritos na resposta à Questão 796 de “O Livro dos Espíritos”. Isto, porque, como ainda lem-braram a Allan Kardec, “só a educação po-derá reformar os homens, que, então, não precisarão mais de leis tão rigorosas”.

De minha parte, na condição de mes-tre em Direito Público, professor de Cri-minologia e Direito Penal, ex-diretor de presídio e espírita, acredito na força da educação como mola propulsora da so-lução para o problema da criminalidade juvenil. Antes de reduzir a maioridade penal, o Estado deve envidar esforços em melhorar as condições de vida desses jo-vens, ofertando-lhes meios de serem me-lhores do que são.

Somente assim, depois de termos fei-to tudo que estiver ao nosso alcance com esse objetivo, teremos condição de, ava-liando os benefícios, concluir pela des-necessidade de qualquer medida que aprofunde as desigualdades e sofrimento humanos, materializando o princípio cris-tão, que nos serve de referência, segundo o qual “devemos fazer ao outro tudo quan-to gostariamos que nos fizessem”.

como forma de “ressocialização”, de rein-serção social. A ideia, conquanto boa e louvável, esbarra em uma falha lógica: como reinserir alguém, em dado contexto social, justamente com a sua segregação? Além disso, a experiência de séculos in-forma que o cárcere só embrutece e de-sumaniza, não oportunizando qualquer possibilidade de reinserção social ou ree-ducação.

Do ponto de vista espírita, tais argu-mentos são falhos. Embora reconheçamos as diferenças que existem entre as leis hu-manas e as Leis Divinas, compreendemos que aquelas devem buscar se aproximar destas o quanto possível. Sendo assim, considerando que as Leis Divinas têm, como finalidade, oferecer a cada um no-vas oportunidades de aprendizado, como pretender sustentar medidas tão somente punitivas, encarcerando pessoas cada vez mais jovens e, quem sabe, sujeitando-as a estímulos ainda piores, permitindo que saiam das prisões piores do que entraram?

Além disso, acreditamos ser extrema-mente falacioso o argumento segundo o qual os menores de dezoito anos não são punidos pelo que fazem. Em verdade, existe punição, travestida de “medida sócio-educativa”, que nada mais é do que uma forma diferenciada e politica-mente correta de apenar. Afinal, os fa-tos ensejadores da intervenção estatal sobre o “menor infrator” é a prática de “ato infracional”, que nada mais é do que um nome mais suave atribuído a uma conduta considerada como crime. Existe, sim, responsabilização, embora diferenciada dos chamados “adultos”, mas sempre punição, distante de qual-quer objetivo educativo, sem qualquer preocupação com o ser imortal, transito-riamente em um corpo juvenil.

Grande parte desses jovens, a quem se pretende estender os muros e grades das prisões, é composta pelos mesmos miserá-veis a quem o Estado nega boa educação, saúde de qualidade, moradia digna e polí-ticas públicas de qualidade. Aliás, esse é um ciclo vicioso, haja vista que seus pais, avós e bisavós, também, remanescem do mesmo contingente tratado com desuma-nidade, subalternidade e esquecimento.

Page 14: Espírita Tribuna - fepb.org.brfepb.org.br/wp-content/uploads/2016/09/Tribuna-Espirita-no-185.pdf · já receberam a sua recompensa e terão que expurgar o orgulho pelo ato pratica-do

O Inferno não existe. As Penas Eternas não existem.

Deus é amor e, sempre, oferece oportunidades para a renovação da vida do Espírito.

RÉGIS MESQUITA Campinas-SP

O Inferno não existe. As Penas Eternas não existem.

Deus é amor e, sempre, oferece oportunidades para a renovação da vida do Espírito.

Todos os Espíritos que nascem no planeta Terra são imperfeitos. Possuem muita imaturidade e sofrem por terem uma sabedoria limitada.

Segundo várias doutrinas teológicas (Protestantismo, Ju-daísmo, Islamismo, etc.) este Espírito imaturo possui, ape-nas, uma oportunidade. Uma única oportunidade (vida), de poucas décadas, para decidir como será sua vida durante milhões de anos.

Essas doutrinas religiosas, com algumas diferenças, pre-gam o seguinte: ao morrer, o espírito “adormece” até o dia do Juízo Final. Neste dia, Deus decidirá quem viverá, eter-namente bem, ou viverá, eternamente no inferno. Alguns poderão ser agraciados com a graça de Deus, outros sofre-rão, eternamente.

Neste ponto, a Doutrina Espírita difere, radicalmente. Não há Juízo Final; não há penas eternas. Deus é amor e, em Sua infinita bondade, sempre permite que as pessoas evoluam e superem seus defeitos e imaturidades (e paguem pelos seus erros).

O livro “Nascer Várias Vezes”, pag.55, diz: “O desejo de Deus é que todos decidam espontaneamente cultivar o que é nobre, mesmo que seja no final de uma encarnação (na velhice) ou após várias encarnações. Aqueles que evoluirem rápido e os que evoluirem devagar chegarão no mesmo “lu-gar” e terão as mesmas “recepções” (beneficios)”.

Qual é a grande vantagem de evoluir mais rápido?No livro, temos a resposta: “Quem evolui rápido, se pou-

pa de sofrimentos, diminui o que terá que reparar e desfruta, por mais tempo, os beneficios que são próprios da evolução do Espirito. Todos os Espiritos evoluidos são unânimes em informar que existe um profundo deleite em se aproximar de Deus”.

A lógica nos mostra que criar um Espírito imaturo, co-locá-lo em ambientes negativos e cobrar dele, por toda a eternidade, os resultados desta sua vida, é um ato ilógico e pouco amoroso.

O que a Bíblia diz? Ela embasa a ideia do perdão e das múltiplas oportunidades, para a evolução e aprendizado do Espírito?

Abaixo, você lerá um texto retirado do livro “O Espiri-tismo e as Igrejas Reformadas”. Autor: Jayme Andrade. Um dos melhores livros sobre a Bíblia e o Espiritismo.

“(...) Deus é amor” (I João, 4:16) e esse amor se reflete na atração universal que interliga todas as coisas, desde os elé-trons, em seu giro no interior do átomo, até as galáxias, com

seus imensos campos gravitacionais, através do espaço in-finito... O Pensamento-Criador atua, sem cessar, em todos os quadrantes do Universo e, afinal, como disse o apóstolo Paulo: “Porque nele vivemos e nos movemos e existimos (...)” (Atos 17:28).

“Porque isto é bom e agradável diante de Deus nosso Salvador, que quer que todos os homens se salvem, e ve-nham ao conhecimento da verdade.” (I Tim. 2:3-4). Ora, o que Deus quer, fatalmente se realiza, porque a Sua Vonta-de é suprema; não está sujeita às contingências próprias da vontade humana. Eu posso “querer”, mas de quantas coi-sas depende a realização da minha vontade! Assim, o meu “querer” não passa de um “desejo”, nem sempre, realizável, porque sujeito às limitações inerentes à minha imperfeição. Mas, a vontade de Deus é causa geradora, porquanto Ele é infinito em todos s seus atributos; do contrário, não seria perfeito. Portanto, é inadmissível a mais leve restrição à Sua soberana vontade; daí, o afirmarmos que tudo o que Ele quer, necessariamente acontece.

Se Deus é amor, os Espíritos saídos de Suas mãos onipo-tentes são fruto desse trabalho de amor. Sendo criados ig-norantes e, naturalmente, imperfeitos, a fim de que, através das experiências da vida, possam elevar-se, gradualmente, em conhecimento e virtude, para retornarem, afinal, ao seio do Criador e participarem da Sua glória... No que todos con-cordamos é que saímos das mãos do nosso Pai Celestial, envoltos na auréola do Seu amor infinito; pois, se “Deus é amor”, tudo o que sai das Suas mãos é produto desse amor...

É lícito concluir que esse Ente de afeição e de bondade (Deus) só pode criar as almas, para fazê-las felizes e, para que, um dia, participem da Sua glória; de modo algum, para torná-las desgraçadas, ou para condená-las a sofrimentos eternos. Portanto, não nos parece lógico supor que esse Pai amoroso, sendo onisciente, e, pois, conhecendo, de ante-mão, o destino das almas por Ele criadas, sabendo que, se-gundo a ortodoxia cristã, a esmagadora maioria delas será, fatalmente, condenada à perdição eterna; mesmo assim, continue gerando criaturas tão frágeis, tão suscetíveis de sucumbir às tentações; quando Lhe seria mais fácil, uma vez que é onipotente, fazê-las mais perfeitas ou, pelo me-nos, mais resistentes ao mal.

Daí, o não aceitarmos, nós espíritas, a “doutrina das penas eternas”, visto nos parecer incompatível com a su-prema bondade e a suprema justiça, qualidades excelsas e essenciais do nosso Criador e Pai.

Tribuna Espírita • maio/junho • 201514

Page 15: Espírita Tribuna - fepb.org.brfepb.org.br/wp-content/uploads/2016/09/Tribuna-Espirita-no-185.pdf · já receberam a sua recompensa e terão que expurgar o orgulho pelo ato pratica-do

Alega-se, em defesa da eternidade das penas, que a gra-vidade da falta é diretamente proporcional à importância da pessoa ofendida, e que, assim, uma ofensa dirigida a um ser infinito como Deus seria, também, infinita, impli-cando uma punição igualmente infinita. Mas, esse argu-mento é especioso, porque, sendo o homem um ser finito, de modo algum, poderia cometer uma ofensa infinita, de sorte que a ofensa não guarda relação com a pessoa do ofendido, mas com a capacidade do ofensor. Nas próprias normas do nosso Direito Penal (arts. 22 a 24], observa-se a “inimputabilidade“ do delinquente por circunstâncias de idade, perturbação de sentidos ou alienação mental. Per-guntamos: pode alguém, de bom senso e no pleno domínio das suas faculdades, sentir-se ofendido pelas diatribes que lhe dirija um doente mental? Pode um adulto consciente sentir-se atingido pelas injúrias que lhe dirija uma criança de tenra idade?... E, não é infinitamente maior a despro-porção que existe entre o Ser Supremo e a minha insigni-ficante pessoa, do que a existente entre mim e uma crian-cinha que mal começa a ensaiar seus próprios passos? Então, como posso eu, Espírito imperfeito, assim criado por Ele e que mal engatinha em sua peregrinação pelos caminhos do aperfeiçoamento moral, como posso ofender o Todo Poderoso, ao ponto de merecer uma condenação a penas severas e inextinguíveis, por deslizes resultantes da imperfeição inerente à minha própria natureza humana? Não estaria, aí, a severidade da pena, em brutal despropor-ção com a gravidade da falta?

(Nota do Regis Mesquita – perdoamos e não nos ofende-mos se uma criança de 3 anos que nos bate e xinga. A lógica da educação e o ensinamento do perdão nos induzem a este comportamento. Será que Deus, em Sua misericórdia, tam-bém, não estaria disposto a perdoar estes seres pequeninos que somos nós?)

... Jesus nos veio ensinar a amar os nossos inimigos, a perdoar, indefinidamente, as ofensas; a ver, no Pai Celes-tial, um ser compassivo e misericordioso, sempre pronto a acolher um filho que se transvia [ver parábola do Filho Pró-digo]. O Deus que a ortodoxia cristã nos impinge é de uma severidade extrema, cominando penas que nenhum tribu-nal humano subscreveria, e, ainda por cima, irremissíveis, de nada adiantando, após a morte, o arrependimento dos ... condenados.

Ora, nós sabemos que a experiência na carne, por pro-longada que seja, não passa de um instante fugaz, em face da eternidade. Então, temos de, forçosamente, concluir que a condenação a uma eternidade de sofrimentos por faltas cometidas durante tão breve tempo, não se coaduna com a ideia de um Deus justo, misericordioso e infinita-mente bom.

E, se Deus perdoa ao culpado que se arrepende de seus erros no curso da vida terrena, por que não poderá fazê-lo, em relação aos que se arrependem depois da morte? De que serviria, então, a “pregação do Evangelho aos mortos”, a que alude o apóstolo Pedro, em sua epístola? (I Pedro 4:6).

Pergunta-se: Depois da morte, o ser conserva a sua in-dividualidade ou não? Pode pensar, sentir, raciocinar? Pode arrepender-se de seus erros? Se se arrepende, por que não pode ser perdoado? Que Deus misericordioso é esse, que só perdoa as faltas de seus filhos, durante a vida terrena, que é um átimo, e não perdoa, durante a vida es-piritual que dura a eternidade? Se Deus criou os homens para a Sua glória (Isaías 43:7), por que condenará a penas eternas aqueles que o invocarem? (Joel 2:32). Onde estão os fundamentos da ideia de que Deus só atende aos peca-dores, durante a vida corpórea? Como entender “a minha

ira não durará eternamente” (Jer. 3:12), se as almas são condenadas pela eternidade? Como pode alguém “amar a Deus sobre todas as coisas” (Deut. 6:5), se entender que esse Deus é um tirano, que condena o pecador a penas eternas e não lhe perdoará após a morte, por mais que se arrependa? Tal Deus não poderia ser amado, mas, ape-nas, temido (Salmo 89:7).

O próprio Jesus foi pregar aos Espíritos em prisão (mor-tos) (I Pedro 3:19). Por que foi ele pregar, se os mortos não se arrependem? Observe-se que não se trata da expressão “mortos em delitos e pecados”; pois, logo, o versículo seguin-te esclarece: “Os quais, noutro tempo, foram desobedientes, quando a longanimidade de Deus esperava, nos dias de Noé”. Portanto, Espíritos que haviam vivido, na Terra, ao tempo de Noé e a quem Deus concedeu nova oportunidade, através da pregação de Jesus. E, se o destino dos mortos é irremissível, por que se batizavam por eles os primitivos cristãos? (I Cor. 15:29).

O bem fundamentado texto de Jayme Andrade nos ensi-na a importância do estudo da Bíblia, pelos espíritas e es-piritualistas. Nela, existe muita sabedoria acumulada por milênios e que devem ser aproveitadas, para o estudo e a instrução.

A verdade é que Deus não desiste dos espíritos que Ele cria. Deus não maltrata, Deus ensina. Deus apoia, Deus orienta. Quando Deus é duro, é para educar. Deus concede oportunidades e quem aproveita evolui, mais rápido, e en-frenta, com mais sabedoria, os desafios da vida.

Sempre, há oportunidades; sempre, há soluções. Em um mundo repleto de amor, também, existe sofrimento. Mas, o sofrimento que é, efetivamente, sentido no interior de cada um, será proporcional à sua evolução (qualidades + sabe-doria + maturidade) de cada um.

Ou seja, o mesmo desafio causará maior ou menor so-frimento, dependendo da evolução espiritual da pessoa. Quanto mais qualidades, sabedoria e maturidade, menor sofrimento, frente aos mesmos problemas.

A mentalização 18 do blog “Caminho Nobre” nos ensina:“Serei o que Deus quer de mim:criarei paz em meio à tempestade,criarei bondade em meio à bonança.Está em mim a solução,somente em mim, em comunhão com Deus.Eu aceito as provas que chegarem,e lutarei para criar a paz em minha mente.”Evolua, melhore, desenvolva, aproveite as oportunida-

des de exercitar tudo de nobre que há dentro de você. É, assim, que o sofrimento é superado. É, assim, que você se transformará, ao longo de milênios de vida encarnada ou desencarnada. Deus não desiste de ser útil e de auxiliar. Este é o princípio da caridade que Ele pratica e orienta que todos pratiquem.

Penas eternas não existem. O inferno não existe. Aliás, o “inferno” só pode ser criado, por você no seu interior, ge-rando sofrimentos que podem durar anos, décadas, séculos ou milênios. Mesmo, nestes momentos em que você ajuda a gerar seu sofrimento, haverá oportunidades para mudar e se transformar. Deus nos ensina a sermos responsáveis co-nosco, porque Ele assume a Sua responsabilidade, sempre. Deus nos ensina a praticar a compaixão, bondade e carida-de, porque é, assim, que Ele age.

A mudança interior (completude e reforma íntima) e a sintonia com o que é nobre rompem com o sofrimento e geram a paz.

Referência: Blog “Nascer Várias Vezes” - http://www.nascervariasve-zes.com/

15maio/junho • Tribuna Espírita • 2015

Page 16: Espírita Tribuna - fepb.org.brfepb.org.br/wp-content/uploads/2016/09/Tribuna-Espirita-no-185.pdf · já receberam a sua recompensa e terão que expurgar o orgulho pelo ato pratica-do

Tribuna Espírita • maio/junho • 201516

A data de 18 de abril é de grande significação para nós, espíritas, como neste ano em que se come-

morou o 158º Aniversário de “O Livro dos Espíritos”, a obra inicial da Doutrina Es-pírita lançada pelo seu codificador, Allan Kardec, no ano de 1857, em Paris.

A magnitude dessa obra logo se faz notar, desde o primeiro capítulo, com a transcrição do diálogo mantido entre Kar-dec e os Luminares, mensageiros da Espi-ritualidade Maior, através de componen-tes de um grupo mediúnico. Com esse diálogo, surgiu uma das mais importantes e esclarecedoras páginas sobre: “Deus, e o Infinito”, “Provas da existência de Deus” e “Atributos da Divindade”, até hoje conhecidas.

A tal ponto foi considerado esse diálogo, chegando a ser publicado, desde a primeira edição de “O Livro dos Espíritos”, iniciando com ele o primeiro capítulo, como até hoje o vemos. Sendo assim, deixamos a sua a apresentação “ipsis litteris”, para o fechamento da primeira parte deste trabalho.

Após esta ligeira introdução, por questão de espaço, passamos a breves comentários de alguns fatos, no trans-correr da raça humana que, de algum modo, tem relação com o título apre-sentado.

Aos impulsos dos instintos gros-seiros e referentes ao estreito nível do conhecimento, então alcançado pela Humanidade, muito antes de Jesus, e mesmo depois, em que as pessoas, leva-das pela ignorância que lhes obscurecia a razão, deixavam-se servir e guiar por “deuses” ignorantes, brutais e guerreiros, tanto ou mais do que eles.

Na antiguidade, havia “deuses” aten-tos às oferendas, com o sacrifício de crianças que, após anos, foram substituí-das por animais. Também, “deuses”, para

os fenômenos da natureza, para os quais nossos antepassados, ainda, não haviam alcançado o conhecimento devido: “deus” da noite, das estrelas, do relâmpago, do trovão, do sol, da plantação, do vinho, da guerra, etc. Nos transtornos e imprevistos a que, sempre, estavam sujeitos, era aos “deuses” que recorriam.

Passaram-se os anos, os séculos. Nes-se entremeio, os homens levados pelo fa-natismo e a exclusão religiosa em nome de Deus, revelaram interesses contrários ao próprio Deus. Assim, foi no passado: “A Noite de São Bartolomeu”, “A Inquisi-ção”, “O Auto de Fé de Barcelona”, etc.,

verdadeiras “caças às bruxas”, que marca-ram as tristes páginas da História.

O tempo, em sua infinitude, vem ofere-cendo à Humanidade o ensejo de evoluir, na marcha do saber e da moral. Ninguém alcançará a plenitude, se não “nascer de novo”.

Assim é, por certo, que, hoje, estamos vivendo uma nova época. Embora, ain-da, falte muito que fazer. No Brasil, as

religiões já estão separadas do Estado. Os Direitos Humanos − a liberdade de expressão, a igualdade racial, a liberdade de religião − já estão assegurados pela Constituição. O novo Papa, Francisco, inspira muita confiança e simpatia. A ONU é a grande esperança de entendi-mento e de Paz.

Sigamos em frente, com muita paz, em Deus, lembrando Jesus: “Meus discipulos, serão conhecidos por muito se amarem” (João: 13: 35).

Conforme explicitamos na parte ini-cial (terceiro parágrafo), fazemos, ago-ra, a transcrição de parte da obra citada,

exatamente, a que versa sobre Deus, com as perguntas do Codificador e respectivas respostas dos Imortais. É de se destacar que o texto colocado entre aspas, em seguida às perguntas, é a resposta que os Espíritos deram. Salienta-se, ainda que, nas notas e ex-plicações aditadas pelo autor, empre-gou-se outro tipo menor.

CAPÍTULO I – Deus e o Infinito1. Que é Deus?“Deus é a inteligência suprema,

causa primária de todas as coisas.”

2. Que se deve entender por infi-nito?

“O que não tem começo nem fim: o desconhecido: tudo o que é desco-nhecido é infinito.”

3. Poder-se-ia dizer que Deus é o Infi-nito?

“Definição incompleta. Pobreza de linguagem humana, insuficiente, para de-finir o que está acima da linguagem dos homens.”

Deus é infinito em suas perfeições, mas o infi-nito é uma abstração. Dizer que Deus é o infinito é tomar o atributo de uma coisa pela coisa mesma, é definir uma coisa que não está conhecida por uma

Deus - (I)(“Deus e o Infinito” e “Provas da Existência de Deus”)

AZAMOR CIRNE João Pessoa-PB

Page 17: Espírita Tribuna - fepb.org.brfepb.org.br/wp-content/uploads/2016/09/Tribuna-Espirita-no-185.pdf · já receberam a sua recompensa e terão que expurgar o orgulho pelo ato pratica-do

17maio/junho • Tribuna Espírita • 2015

outra que não o está mais que a primeira.

− Provas da Existência de Deus4. Onde se pode encontrar a prova da

existência de Deus?“Num axioma que aplicais às vossas

ciências. Não há efeito sem causa. Procu-rai a causa de tudo o que não é obra do homem e a vossa razão responderá.”

Para crer-se em Deus, basta se lance o olhar so-bre as obras da criação. O Universo existe, logo, tem uma causa. Duvidar da existência de Deus é negar que todo efeito tem uma causa e avançar que o nada pôde fazer alguma coisa.

5. Que dedução se pode tirar do senti-mento instintivo, que todos os homens tra-zem em si, da existência de Deus?

“A de que Deus existe; pois, donde lhes viria esses sentimentos, se não tivesse uma base? É ainda uma consequência do principio – não há efeito sem causa”.

6. O sentimento intimo que temos da existência de Deus não poderia ser fruto da educação, resultado de ideias adquiridas?

“Se assim fosse, por que existiria nos

vossos selvagens esse sentimento?”Se o sentimento da existência de um ser supre-

mo fosse tão-somente produto de um ensino, não seria universal e não existiria senão nos que hou-vessem podido receber esse ensino, conforme se dá com as noções científicas.

7. Poder-se-ia achar nas propriedades intimas da matéria a causa primária da formação das coisas?

“Mas, então, qual seria a causa dessas propriedades? É indispensável sempre uma causa primária.”

Atribuir a formação primária das coisas às pro-priedades íntimas da matéria seria tomar o efeito pela causa, porquanto essas propriedades são, tam-bém elas, um efeito que há de ter uma causa.

8. Que se deve pensar da opinião dos que atribuem a formação primária a uma combinação fortuita da matéria, ou, por outra, ao acaso?

“Outro absurdo! Que homem de bom--senso pode considerar o acaso um ser inteligente? E, demais, que é o acaso? Nada.”

A harmonia existente no mecanismo do Universo patenteia combinações e desígnios determinados e, por isso mesmo, revela um poder inteligente. Atri-

buir a formação primária ao acaso é insensatez, pois que o acaso é cego e não pode produzir os efeitos que a inteligência produz. Um acaso inteligente já não seria um acaso.

9. Em que é que, na causa primária, se revela uma inteligência suprema e supe-rior a todas as inteligências?

“Tendes um provérbio que diz: Pela obra se reconhece o autor. Pois bem! Vede a obra e procurai o autor. O orgu-lho é que gera a incredulidade. O homem orgulhoso nada admite acima de si. Por isso é que ele se denomina a si mesmo de espírito forte. Pobre ser, que um sopro de Deus pode abater!”

Do poder de uma inteligência se julga pelas suas obras. Não podendo nenhum ser humano criar o que a Natureza produz, a causa primária é, conseguintemente, uma inteligência superior à Humanidade.

Quaisquer que sejam os prodígios que a inteli-gência humana tenha operado, ela própria tem uma causa e, quanto maior for o que opere, tanto maior há de ser a causa primária. Aquela inteligência su-perior é que é a causa primária de todas as coisas, seja qual for o nome que lhe deem.

(continua na próxima edição)

Os Pais das Ideias da Seleção Natural

ELMANOEL G. BENTO LIMA João Pessoa - PBPainel Espírita

No dia 1o de julho de 1858, a teo-ria da evolução por seleção natural foi apresentada, pela primeira vez, à Socie-dade Lineana de Londres, na Inglaterra. A descoberta era assinada por dois na-turalistas britânicos: o primeiro, Char-les Darwin (1809-1882); o outro, Alfred Russel Wallace, (1823-1913), um biólo-go autodidata e explorador, que chegara às mesmas conclusões, pesquisando es-pécies do sudeste asiático, nas florestas do arquipélago Malaio e, inclusive, no Brasil, onde iniciou sua carreira.

Um século e meio depois, a história elegeu Darwin como ícone supremo do pensamento evolutivo das espécies, enquanto Wallace foi relegado ao status de espécie ameaçada, ofuscado pelo bri-lho daquele que foi seu ídolo científico que, por sua afabilidade, acessibilidade e diplomacia, criou um círculo de ami-zades sinceras, entre elas a de muitos colaboradores nas suas pesquisas.

A divulgação das teorias chamou a atenção dos especialistas, logo de início. Mas, a seleção natural só se tornou um fenômeno cultural e científico, a partir da publicação de “A Origem das Espécies” (1859), onde Darwin resumiu, em 500

páginas, seus vinte anos de pesquisa.Wallace, também, foi reconhecido,

como grande cientista de sua época, mas caiu no esquecimento, após seu desencarne, em 1913. Em 1848, partiu, com seu patrício Henry Walter Bates (1825-1892), também naturalista, para a América do Sul, explorando, então, a região do Rio Negro e do alto Oreno-co. Sob o título “Darwinismo” (1889), resumiu algumas críticas à teoria de Darwin, e os pontos coincidentes, entre suas próprias concepções e as daquele ilustre naturalista.

Bates permaneceu, na região, até 1859 − baseado em várias cidades como Belém, Óbidos, Santarém e outras − realizando seus estudos da flora, fau-na, clima, geografia, geologia, etnologia e costumes da Amazônia, além de reu-nir mais de 14.000 espécies entomológi-cas; aliás, ele chamava o Amazonas, de “paraíso do naturalista”.

Enquanto Wallace, em 1854, seguiu para o Pacífico Ocidental, para os pro-pósitos de seus estudos, cujas anotações foram publicadas, em 1853, sob o título “Relato de Excursões pelo Amazonas e Rio Negro, com uma Descrição das Tribos Nati-

va” (título da edição brasileira, em 1939, conforme a Grande Enciclopédia Delta La-rousse). Ele, ainda, publicou: “Palmeiras do Amazonas”, “A Distribuição Geográfica dos Animais”, “Seleção Natural e Natureza Tropical” (1878) e “Natureza Tropical e Ou-tros Ensaios” (1889).

Seja como for − Darwin ou Walla-ce – este, também, é “pai” da teoria da seleção natural, tanto quanto o outro. Eminente naturalista e espírita con-victo, Wallace foi, no dizer de Arthur Conan Doyle, em “História do Espi-ritismo”, cap. VIII, (Ed. Pensamen-to), um dos poucos cuja mentalidade grandiosa e sem preconceitos, viu e aceitou a verdade, em sua maravilho-sa inteireza, desde as humildes pro-vas físicas de uma força exterior, até ao mais alto ensino mental que essa força podia trazer; ensino que ultra-passa, de muito, em beleza e em cre-dibilidade, tudo quanto a mente mo-derna tem conhecido.

Fontes: Textos extraídos, simplificados e adapta-dos do “Anuário Espírita 2009 – epígrafe “Há 150 anos nascia a Teoria da Seleção Natural” – FEB. “Nova Enciclopédia de Biografias”, Planalto Editorial Ltda; e Grande Enciclopédia Delta Larousse.

Page 18: Espírita Tribuna - fepb.org.brfepb.org.br/wp-content/uploads/2016/09/Tribuna-Espirita-no-185.pdf · já receberam a sua recompensa e terão que expurgar o orgulho pelo ato pratica-do

Tribuna Espírita • maio/junho • 201518

Ao longo da História, os cientis-tas sempre procuraram explicar a origem da vida e como funciona

o corpo humano, sua constituição e pre-servação. O físico alemão Albert Einstein afirma que “o homem é um conjunto ele-trônico regido pela consciência”, sendo que a sua constituição vai muito além do que um aglomerado de cerca de 60 trilhões de células nas diversas especificações. Somos formados de corpo físico, mente e espírito, sendo o equilíbrio entre estes três elementos o responsável pelos estados que catalogamos de saúde e doença.

A descoberta do genoma humano, ao contrário do que se pensava, revelou mais perguntas que respostas, principalmente ao evidenciar que, geneticamente, os se-res vivos são muito semelhantes. Outro dado importante foi a descoberta de um “genoma versátil”, em que um gene te-ria a capacidade de originar três ou mais proteínas, não se sabendo, ainda, de onde vem a ordem para estas alternativas. Re-nomados cientistas, como o Dr. Francis Crick (codescobridor da dupla hélice do DNA) e o Dr. David Chalmers (psicólogo e neurocientista) afirmam que os conheci-mentos atuais sobre o cérebro, são insufi-cientes para explicar a origem da consci-ência e da individualidade, necessitando de conhecimentos radicalmente novos, como da Física Quântica, que estimulem novas formas de pensamento. Cientifica-mente, não encontraram explicação, para a origem dos fenômenos subjetivos dor ser humano, como o ato de lembrar-se, produzir ideias, etc.

Atualmente, o grande avanço tecno-

Medicina, Espiritualidade e Religiosidade

CARLOS ROBERTO DE SOUZA OLIVEIRA Campina Grande-PB (*)

-científico, na área de saúde, ajudou o homem a controlar e curar muito dos ma-les que o acometia desde épocas remotas, porém, também transformou a medicina moderna, numa prática “fria” e tecno-crata, distanciando o médico do contato mais íntimo com o seu paciente. O Dr. Harol G. Koening, MD, diretor do “Centro para o Estudo da Religião/Espiritualidade e Saúde”, da Universidade de Duke, Caro-lina do Norte, conclui, em seus estudos e pesquisas, que pessoas que possuem uma atividade religiosa apresentam resultados positivos, relacionados ao sistema imu-nológico, sobrevida; adoecem menos e se recuperam mais rápidos; são mais otimis-tas; esperançosos e felizes, aumentando o bem estar, etc., recomendando que o mé-dico deva, sempre, respeitar, apoiar e in-centivar o paciente na sua crença, poden-do rezar com eles, o que proporciona uma maior adesão ao tratamento e confiança no profissional. Portanto, profissional de saúde precisa ter ampla formação moral e intelectual sobre a vida. É necessário considerar os aspectos emocionais, cultu-rais e religiosos de cada paciente, valori-zando as suas crenças e compreendendo a relação na etiopatogenia de muitas en-fermidades, se queremos avaliá-lo numa abordagem integral do ser. A ciência, sem a religião, não consegue explicar todos os fenômenos e a religião, sem a ciência, lhe falta apoio e comprovação.

A grande maioria das nossas doenças encontra suas causas nas raízes profun-das da alma, por desequilíbrio ou disto-nia nos mecanismos sensíveis do corpo espiritual, a refletir-se, na mente, na emo-ção ou no corpo físico. É necessário que os diversos profissionais da área de saúde ampliem as abordagens em relação ao ser humano, considerando a sua dimensão espiritual e a influência sobre a estrutu-ra orgânica. A medicina do futuro deve-rá, certamente, considerar a investigação mediúnica e enriquecer a história clínica do paciente, com os elementos contidos na “ficha cármica”, base da “Lei de Causa e Efeito”, determinando novos conceitos e novas condutas.

O apóstolo João, na sua epístola uni-versal, escreveu que “Deus é Amor”, es-tabelecendo uma meta para o homem co-nhecê-Lo. Quando Jesus pronunciou esta palavra, todos os povos estremeceram, diante da força moral que possuía e da esperança que nascia em cada ser, con-signando, na vivência desse sentimento sublime o roteiro seguro, para a conquis-ta da felicidade duradoura e da paz da consciência..

A Medicina é, acima de tudo, a “Arte de Amar”, pois o contato permanente do mé-dico com as inúmeras enfermidades do ser humano, quer sejam no corpo, na mente ou na emoção, transformam-no, na maio-ria das vezes, após a confiança em Deus,

Page 19: Espírita Tribuna - fepb.org.brfepb.org.br/wp-content/uploads/2016/09/Tribuna-Espirita-no-185.pdf · já receberam a sua recompensa e terão que expurgar o orgulho pelo ato pratica-do

19maio/junho • Tribuna Espírita • 2015

É, talvez, a mais difícil virtude de se exercer. Dir-se-ia a rainha das virtudes. Refiro-me à humildade.

E existem muitos que a exerceram, com bastante dignidade. Digo, ainda, que é a mais difícil de todas. Tem muita gente que a confunde com sujeição, fraqueza, submissão. Acha que o humilde é um po-bre diabo. Pilatos não foi humilde, mas, muito orgulhoso e o orgulho é o contrário da humildade.

Mas, quem foi que deu a maior lição de humildade da História? Jesus, é cla-ro. Achou de escolher uma manjedoura, para nascer, ao lado de animais. No en-tanto, essa manjedoura foi iluminada por uma estrela, o que jamais ocorreria, nos palácios dos reis.

Tivemos outros exemplos admirá-veis de humildade: Gandhi foi um deles. Convidado, certa vez, para visitar o Vati-cano, ele se fez acompanhar de sua cabra, a cabra cujo leite o alimentava. Foi barra-do na entrada, é claro.

É muito fácil ser orgulhoso, fácil ser prepotente, fácil ser invejoso, é fácil ser vaidoso. Difícil, mesmo, é ser humilde. No entanto, o que seria do mundo sem os humildes? E eu estou me lembrando, agora mesmo, das raízes, que não apare-cem, que não são bonitas, que ninguém as leva para enfeitar uma mesa. Quem já viu alguém oferecer um buquê de ra-ízes à pessoa amada? Mas, que seriam das flores, das frutas, das árvores, sem as raízes? E lembrar que há muitas raízes

na última esperança de cura ou alívio de seus sofrimentos. Não é por acaso que o “Código de Ética Médica” tem, como prin-cípios fundamentais mais importantes, que “o alvo de toda a atenção do médico é a saúde do ser humano, em benefício da qual deverá agir, com o máximo de zelo e o melhor de sua capacidade profissional” e que “o médico deve guardar absoluto res-peito pela vida humana...”, estabelecendo diretrizes humanitárias fundamentadas, na dedicação e no respeito pela vida e pela dignidade humana.

É, na relação médico-paciente, onde o médico tem a oportunidade sublime de exercitar um dos mais belos e gran-diosos ensinamentos que a Humanida-de já recebeu, quando Jesus, médico de corpos e de almas, recomendou-nos o “amor ao próximo”, como o caminho se-guro e direto, para a realização do reino

divino em nós mesmos. Pois, nas ativi-dades profissionais do médico, o próxi-mo mais próximo é o seu paciente; ou seja, um ser humano cheio de necessi-dades e angústias, carente de atenção e carinho, merecedor de toda a nossa be-nevolência e respeito, mesmo que seja, pela simples condição de ser humano e integrante de uma família universal, cujo único Pai é Deus.

Albert Schweitzer, médico e filósofo alemão, escreveu que “a Medicina não é, apenas, uma ciência, mas, também, a arte de deixar nossa individualidade interagir com a individualidade do pa-ciente”, mostrando a necessidade de uma maior aproximação profissional, onde o médico atue, também, como amigo, con-selheiro e, às vezes, sacerdote, a fim de que a relação de confiança e coragem se fortaleça, determinando maiores e me-

lhores possibilidades de cura e recupera-ção pelo paciente.

A medicina espiritualizada propõe, não, que desprezemos as conquistas lo-gradas através da ciência e dos enormes sacrifícios da Humanidade; e sim, que restabeleçamos o humanismo que se está perdendo, a cada instante, acrescentando em nossas abordagens diagnósticas e tera-pêuticas, as lições que o Médico Sublime nos deixou, como trabalho, honestidade, sinceridade, compreensão, tolerância, respeito, amor, bondade e dedicação à verdade e ao bem, a fim de sermos, na saúde, “apóstolos da Providência Divina”.

Carlos Roberto de Souza Oliveira - CRM 3914 –Médico Anestesiologista, Pós-graduação em Medici-na do Trabalho e Acupunta. Presidente da Sociedade Paraibana de Anestesiologia Presidente da Associação de Medicina e Espirituali-

dade de Campina Grande

A maior virtudeCARLOS ROMERO Campina Grande-PB (*)

que são alimentos, como as batatas, ma-caxeira, inhame e outras que são medica-mentosas.

Humildade é isso. Isso que as raízes estão ensinando. Eu, ainda, não vi um poema exaltando as raízes. Elas não apa-recem. Vivem escondidas na terra, traba-lhando, silenciosamente, para sustentar e alimentar as árvores.

Pois bem, exatamente, é humildade o que fazem as raízes, pois não exaltam a significativa função que desempenham. O genial Einstein costumava dizer que a pessoa mais importante de sua vida e a quem devia a própria saúde, era a sua co-zinheira. Ah, as pessoas que nos servem e de quem tanto dependemos!...

No nosso corpo, são os pés que nos transportam e são as peças mais humil-des. Jesus lavou os pés de seus discí-pulos, causando-lhes estranheza, como exemplo de humildade...

Bem disse o iluminado Emmanuel: “Humilde é o sol, quando beija o pânta-no, indiferente ao insulto da lama” − que maravilha.

E, aqui para nós, não há nada mais ri-dículo do que uma atitude vaidosa, ira-da. Outrora, era costume, o ouvir de um vaidoso, com o anel no dedo, dizer para uma pessoa humilde: “O senhor sabe com quem está falando?”

Quer saber, como sabemos, que uma pessoa é humilde?: Veja como trata os seus empregados, os seus subordinados.

E concluo a crônica com este conselho. Diante de um lindo jardim, lembre-se de que ele dependeu das humildes e esque-cidas raízes, que não aparecem; mas, sem elas, nenhuma vegetação existiria...

Page 20: Espírita Tribuna - fepb.org.brfepb.org.br/wp-content/uploads/2016/09/Tribuna-Espirita-no-185.pdf · já receberam a sua recompensa e terão que expurgar o orgulho pelo ato pratica-do

Tribuna Espírita • maio/junho • 201520

Qual o significado e a relação exis-tente entre essas três palavras?

Todas elas vêm sendo tema de exposições de diversos filósofos, desde eras remotas. Não vamos entrar nesse mérito, para que a temática se torne mais leve e menos arenosa. Seria presunção confrontar ideias tão profun-das com esses iminentes pensadores. Vamos, portanto, aborda-la, apenas, na tentativa de entender a correlação exis-tente entre elas.

Definimos, assim, a Moral, como ten-do sua origem nos processos evolutivos da criatura humana.

Nas diversas experiências reencarna-tórias, na hipótese espiritista, vem o ser desenvolvendo padrões que são resulta-dos de suas vivências. Essas experiên-cias, que se perdem no tempo, impri-mem ao Espírito imortal, através de três instâncias (corpo, perispírito e espírito), uma espécie de padrão moral, ou seja, o que lhe foi, mais ou menos, conveniente em toda sua trajetória.

O corpo sofre a primeira impres-são, através da sensibilidade nervosa, e transfere à segunda instância que é o pe-rispírito que, por sua vez, transmite em definitivo ao Espírito.

Para efeito de ilustração, traremos um exemplo comum: uma pessoa so-fre uma queimadura e sente dor. Neste processo, a dor imprime à criatura uma sensação desagradável, a qual ela regis-tra na sua intimidade. Pela necessidade de alívio, ela desenvolve um bálsamo ou um remédio reparador, para tal in-conveniente. Isso constituiu, para ela, uma sensação prazerosa. Assim, nessas infinitas experiências ela vai desenvol-vendo o seu padrão de certo e errado, de bom e mal, de belo e feio, de agradável ou não, etc.

Uns diriam então: “isso constitui o instinto”. É certa a afirmação, porém, no Espírito, o que antes era, apenas, instin-to torna-se, nessa perspectiva, o padrão moral que cada ser desenvolve, para sua

Moral – Ética – LiberdadeFLÁVIO MENDONÇA

Recife-PE

“Tudo me é permitido”, mas nem tudo me convém”.

(1 Coríntios 6:12)

jornada imortalista (Onde está escrita a lei de Deus? – R. Na consciência, LE – Q.621). Portanto, além da fase mera-mente instintiva, possui toda criatura, agora designada humana, seu padrão de moralidade. Isso constitui, para o Espí-rito, seu real patrimônio, o qual Jesus já dizia, em metáfora, “(...) que o ladrão não rouba, nem as traças comem e nem a ferrugem consome” (Mateus 6:20).

Já, no campo da Ética, teríamos, como definição, a capacidade que a cria-tura humana tem de fazer suas escolhas, em função do meio social em que está inserida. A Ética, num entendimento mais amplo, seria o padrão que promove o bem estar de um grupo, comunidade ou sociedade, onde seus membros preci-sam usar, para conviver com harmonia. E essas escolhas estão, intrinsecamente, associadas à moralidade da criatura.

Recorramos, novamente, a um exem-plo para ilustrar a ideia: Uma pessoa ou um grupo de pessoas, com um baixo pa-drão moral em relação as demais, sabe o código ético definido; no entanto, infrin-ge as regras para impor a si os desejos imorais que carrega na intimidade. Isso

acontece, porque o padrão moral delas, ainda, não lhes permite ter consciência da necessidade de seguir as regras.

De outra forma, o ser, tendo sua mo-ral acima da média do grupo, também não se permite agir, em desacordo com ela, sem que lhe traga graves conflitos íntimos.

Portanto, a necessidade de convivên-cia em grupo é o fator que desenvolve a Ética. Esta pode ser seguida ou não, de-pendendo do estado moral do Espírito. Pode ser uma ética mais elevada, quan-do o grupo corresponde a esse mesmo nível de moralidade. Pode ser inferior, se, assim também, seus componentes ti-verem essa base moral.

Vale ressaltar que a Ética é uma ne-cessidade psíquica e que é utilizada na condição de encarnado ou não. Pode-mos, portanto, concluir que ela é um padrão real, necessário à psicologia hu-mana e que atende a uma demanda exis-tencial.

E que relação tem a Moral e a Ética com a Liberdade?

Ora, raciocinemos. Pode a pessoa agir ou mostrar-se inteiramente autênti-

Page 21: Espírita Tribuna - fepb.org.brfepb.org.br/wp-content/uploads/2016/09/Tribuna-Espirita-no-185.pdf · já receberam a sua recompensa e terão que expurgar o orgulho pelo ato pratica-do

21maio/junho • Tribuna Espírita • 2015

Entrei na fila da casa própria... Eram milhares e milhares de candidatos... Os que estavam à

minha frente receberam, do governo central, habitações maravilhosas, uns; razoáveis, outros; taperas, muitos.

Encaminhara o meu pedido e aguardava, ansiosa, a minha vez. So-nhava com um palacete, mas temia possuí-lo, com receio de não conse-guir devolvê-lo em condições ideais, ao Grande Construtor.

Chamaram-me pelo nome. Chega-ra a minha vez! Levantei-me e corri, feliz, para pegar a chave... Tomei um choque. Aquilo que eu estava ven-do não era, propriamente, uma casa, nem, mesmo, podia ser considerado um barraco... Era, mais, um esquele-to de varas entrelaçadas à espera do barro úmido, para encher-lhe as en-tranhas.

A minha habitação, se eu traba-lhasse pesado, amassasse o barro com os pés e o aplicasse com as mãos, se-ria, depois de longo e penoso tempo, uma casa de taipa...

Abri a porta grosseira, sentei-me no chão e chorei, amargamente... Quis protestar, mas lembrei-me que, para vencer o orgulho e o amargor que car-regava comigo, somente a prova da pobreza dobraria o meu Espírito arro-gante.

Pouco a pouco, auxiliada pelos meus pais, finalmente, tornamo-la ha-bitável.

Mesmo pronta, a minha casa pró-pria trazia alguns pontos fracos: o te-lhado de zinco esquentava, demais, quando fazia sol; e gotejava, bastante, quando chovia... As portas e janelas, por não estarem bem ajustadas, per-mitiam o ingresso da brisa gélida da madrugada, provocando, em mim, pe-sadas crises asmáticas... O fogão à le-nha deixava as minhas unhas tisnadas e a pele do rosto ressequida...

À noite, costumava saborear peixe fresco, quando o meu pai conseguia pescar... E, pela manhã, o cuscuz mo-lhado que minha mãe fazia...

Cresci e conheci o Espiritismo. Com a Doutrina Espírita, compreendi que voltar à vida material, para habi-tar uma mansão com vista para o mar, era, muito mais, um presente de gre-go... Porque, eu fui percebendo que, os mais afortunados no mundo eram os mais carentes de valores da alma. Ou seja, ter muito significava, na maioria

das vezes, não possuir nada.A literatura espírita é farta de

exemplos dos que reencarnam na abastança, desencarnam em meio à opulência e, depois da morte, se veem despojados de seus bens...

A “Parábola de Lázaro” (Lucas 16:19) retrata, muito bem, o que es-tou dizendo: A “casa” que o mendigo recebeu do “Governador da Vida” foi um corpo chagado, exposto às mais diversas intempéries e às carícias das línguas dos cães... Já, no “palácio” onde o rico passou a habitar, não ex-perimentou qualquer tipo de enfermi-dade, dor ou preocupação... Salvo o inconveniente das bajulações e as sur-presas do Além...

Cada qual recebe a “casa” que me-rece.

A minha não tinha conforto, mas eu tinha paz. Era pequena, mas os meus ideais eram extraordinários. Po-dia, até, não ser bela, porque eu era, também, pobre, mas trazia uma bele-za interior incomparável. A minha morada, apesar de apertada, humilde e aparentemente frágil, manteve-se incólume, por décadas, suportando as investidas das enfermidades e pro-vações que, para muitos, seriam insu-portáveis.

No final da estada, em minha últi-ma casa, recebi a visita da “Defesa Ci-vil”, especialmente enviada por Jesus, para realizar rigorosa avaliação estru-tural, sendo informada que precisava abandoná-la, o mais rápido possível, porque não tardaria a desabar, deses-truturando-se.

Uma vez do lado de fora, observei quando os técnicos da espiritualidade bastaram tocar nas paredes, para que ruísse por completo a construção... Ainda, no lado de fora, despedi-me de minha casa, agradecendo a ela tudo o que me ensinou, de fortaleza, resigna-ção, humildade, amor, fé...

Dos meus olhos vermelhos, grossas lágrimas rolaram, de gratidão e eufo-ria íntima, principalmente, porque fi-quei sabendo, pelos amigos do Mundo Maior, que, à semelhança do mendigo da parábola, eu iria residir em regiões protegidas pelo Pai Abraão. Nazaré (*)

(*) Nazaré Lima de Brito.(Mensagem mediúnica recebida por Zane-

les, em 19.05.15, na Associação Espírita Leopol-do Machado, em Campina Grande-PB).

Nota da Redação: A autora da mensagem, em sua última encarnação, foi genitora do irmão Zaneles.

Minha Casa Própriaca, sem a Liberdade? Sem ela, há de se mostrar hipócrita, criando máscaras so-ciais para ser aceito ou para poder atuar. Será, certamente, prisioneiro das suas paixões e da sua ignorância, por buscar, sempre, compensações pueris.

Deus, na Sua infinita sabedoria e jus-tiça deixou a criatura livre, para desen-volver-se na medida da sua evolução, dos seus próprios esforços (a cada um, conforme suas obras), de forma que sua responsabilidade moral é proporcional ao seu grau de conhecimento e de cons-ciência. Temos, aí, o livre-arbítrio, regu-lado pela lucidez ou ignorância. Não há, portanto, escolhas livres, sem conheci-mento dos seus efeitos.

Por excelência, a Doutrina Espírita promove a criatura humana, por lhe per-mitir compreensão das leis que regem a vida. Não trava a consciência com dog-mas restritivos, mas, sim, elucida a agir, conforme suas responsabilidades. Não usa o freio do medo e nem impõe obriga-ções inapropriadas. Antes, expõe possi-bilidades, traz luz ao caminho do cego, ilumina a consciência, através do escla-recimento. Por fim, convida-o à respon-sabilidade e à maturidade. Tem seus pilares, na liberdade, no conhecimento espiritual e no mérito das lutas íntimas. Anda, lado a lado, com a Ciência, e não se dobra a caprichos das mentes infantis. Promove a verdade, através da investiga-ção sadia, estimulando o uso da razão, em detrimento de imposições dogmáti-cas que só aprisionam o Espírito.

Portanto, temos, na Doutrina Espíri-ta, elementos para melhoramento, nos três aspectos: 1- suporte para o aperfei-çoamento moral, na medida que instrui, mostrando o melhor roteiro. 2- Eleva a Ética, como consequência dessa cons-cientização moral e 3- liberta a cons-ciência, quando elucida sobre as leis naturais.

Amigos e espíritas, conscientes dis-so, precisamos caminhar, para alcançar maiores patamares de evolução moral, de forma a usar um padrão ético que nos traga benefícios e não conflitos perturbadores. Contudo, não podemos prescindir da liberdade de pensamento. É claro, que já a temos, na medida do progresso espiritual e do nosso livre-ar-bítrio; mas, às vezes, nos permitimos in-fluenciar e embaçar nossos pensamentos e, até, nossos ideais, levados por paixões e pelo desconhecimento das leis espiri-tuais que definem a vida imortal.

Lembremos, entretanto, que as esco-lhas de hoje repercutem em todos nós, e como Espíritos responsáveis, devemos buscar mais lucidez, através dos ensina-mentos iluminativos que Jesus nos dei-xou nos seus Evangelhos. Tenhamos, doravante, de forma convicta e determi-nada, esse roteiro de luz, a nos orientar as decisões. Que o Mestre Galileu nos abençoe a todos!

Page 22: Espírita Tribuna - fepb.org.brfepb.org.br/wp-content/uploads/2016/09/Tribuna-Espirita-no-185.pdf · já receberam a sua recompensa e terão que expurgar o orgulho pelo ato pratica-do

Tribuna Espírita • maio/junho • 201522

É comum, hoje, vermos nas ruas meninas, com pouco mais de oito anos, vestindo-se como adultas, com uso de maquiagem, e, por vezes, incentivadas pelos pais

a dançarem igual às dançarinas de grupos musicais; outras, com pouco mais de doze anos, já vão a bailes e curtem as danças, com o sexo oposto. Os programas de TV., novelas e filmes ensinam o tal de “ficar com”, e outras coisas mais.

Por vezes, cruzamos com uma menina, na rua, com tra-jes sumários, e alguém diz:

− Essa sabe mais coisa que muita mulher adulta.Sabe? Quem ensinou? E pior... Por quê? Pois é... Esta-

mos fechando nossos olhos.Parara entendermos, melhor, é necessário retroceder-

mos, para antes do século XVII, onde as crianças eram tra-tadas como adultos em miniaturas; aqui, no Brasil, não foi diferente; aproximadamente, no ano de 1530, quando as terras da recém “descoberta” “Terra de Santa Cruz” come-çaram a ser povoadas. Nos navios portugueses, lotados de homens, com pouquíssimas mulheres, vinham, também, crianças, na condição de passageiros, grumetes (encarre-gados dos serviços gerais do navio), pajens (fazia um tra-balho mais leve, servir a mesa dos oficiais, arrumar camas, catres), ou órfãs do Rei (meninas pobres dos orfanatos, para se casar com os colonizadores portugueses).

Nessas viagens, as crianças eram as que mais sofriam; eram abusadas sexualmente, tinham dias inteiros de tra-balhos pesados e perigosos; quando os navios sofriam ata-ques de piratas, eram, com frequência, assassinadas ou escravizadas, sendo prostituídas e exauridas, até desfale-cerem; pode-se dizer que as crianças não eram valorizadas, principalmente na Idade Média, onde, na Europa, muitas eram entregues, para participar de orgias.

Nessa época, as crianças vestiam-se como adultos, fre-quentavam festas, e tinham vida sexual ativa. Depois do século XVII, muitas coisas ocorreram; os adultos desco-

briram que as crianças, ainda, não tinham noção do que estavam fazendo.

Jean Jacques Rousseau2 nos mostra, como a criança é, facilmente, influenciada, com a frase: “A criança tem um modo singular de entender e de ver o mundo”3, e é devido a esse “modo singular” que devemos ter maior cuidado com o que nossos filhos veem ou escutam.

“A natureza quer que as crianças sejam crianças antes de serem homens. Se quisermos perturbar essa ordem, pro-duziremos frutos prematuros que não terão nem madureza nem sabor, e não tardarão a se corromper; teremos doutores infantis e crianças velhas. A infância tem maneiras de ver, de pensar, de sentir, que lhe são próprias.” (ROUSSEAU. P.74. 2004).4

Sugiram pesquisadores sérios, como Piaget, Vygotsky, que abriram os olhos ao mundo, e mostraram, como fun-ciona e quais as fases da criança/adolescentes.

Freud, inclusive, estudou as “Fases Psicossexuais”, onde, realmente, de sexual, só tinham o prazer e os ór-gãos... Mas, não a “imaginação” das crianças.

As mães aprenderam a cultivar o “instinto materno”; o amor, entre pais e filhos, começou a se aflorar, com mais intensidade.

Mas... E hoje? Como tratamos nossas crianças? Será que progredimos, realmente?

Hoje, vemos, com naturalidade, crianças com pouco mais de quatro anos, batendo fotos ou usando os telefones celulares de seus pais; jogam no computador, e etc.

Essas crianças fazem parte da chamada “Geração Z”, ou adeptos da “cultura virtual”, onde lidam com computa-dores de ultima geração; telefones com câmera e TV.; pen drive, de enorme capacidade de armazenamento; jogos ele-trônicos de conexão à TV e etc.; vivem, numa época, em que a tecnologia está em um estagio fascinante; onde, a cada minuto, se tem novos avanços.

Fechando os OlhosMARCOS PATERRA1

João Pessoa-PB

Page 23: Espírita Tribuna - fepb.org.brfepb.org.br/wp-content/uploads/2016/09/Tribuna-Espirita-no-185.pdf · já receberam a sua recompensa e terão que expurgar o orgulho pelo ato pratica-do

23maio/junho • Tribuna Espírita • 2015

A cultura digital tem crescido, de forma desenfreada, nos últimos 40 anos, e acaba causando alguns problemas, para as gera-ções que dela surgem.

Não pensem que a cultura virtual é, só, ligada a computadores; a televisão, por exemplo, tem sua participação; alguns es-tudos mostram que a criança se relaciona com a TV, como se relaciona com os demais em sua casa. A exemplo, podemos citar: in-fluência de marketing e consumismo, ero-tização precoce, inversão de valores e falsa igualdade social.

Bill Gates,5 sabiamente, disse:“Meus fi-lhos terão computadores, sim, mas antes, te-rão livros. Sem livros, sem leitura, os nossos filhos serão incapazes de escrever - inclusive a sua própria história.”

Seria hipocrisia negar os benefícios que as novas tecnologias nos trazem, onde no-vos aparelhos de diagnostico ajudam a sal-var vidas; novas formas de aprendizagem ajudam a encontrar soluções, para proble-mas antes não resolvidos; a rede mundial de computadores “internet”, hoje, ajuda a enviar e receber informações, com muito maior rapidez e precisão. Portanto, toman-do os devidos cuidados com as influencias negativas, nossos filhos tornam-se adequa-dos a essa nova geração, passam a lidar com diversas situações, com muito mais agili-dade e compreensão

E o problema, talvez, esteja ai... “o cui-dado com as novas informações”; temos sido displicentes? Tornamo-nos liberais, demais?

O uso indisciplinado, e sem a devida orientação, dessas novas tecnologias, oca-sionam muitos problemas nas crianças. Um dos principais é a aprendizagem nas escolas; os jovens e adultos, após o inicio da era digital, passam a ter rapidez de pen-samento e incapacidade para a linearida-de; dessa forma, pode facilitar muito em determinadas áreas; porém, em outras que exigem mais seriedade e concentração, po-dem sofrer algumas dificuldades. Para eles, a informática e tecnologias da internet é o lugar comum. Todas as suas comunicações têm lugar na internet e elas revelam muito pouca comunicação verbal e habilidades, levando-os a fazer o mesmo, em seu con-vívio familiar/social. A família, com cada membro fechado em seu mundo, sem se relacionarem, com ausência de dialogo, levando-as ao isolamento. Na escola, per-de-se o prazer de aprender; a mídia ganhou espaço, sugere e convence; a internet trans-porta. Esse bombardeio de estímulos pro-duz muitos pensamentos; devido a muitas informações, o cérebro, dentro da sua plas-ticidade, se adapta a esse ritmo acelerado de pensamentos e informações, tornando-nos “dependentes” de tais estímulos, para nos sentirmos, momentaneamente, satis-feitos; ou seja, quando estamos assistindo à uma partida de futebol, ou àquela novela, ou aos milhares de vídeos do “youtube”, ou, ainda, grudados nos sites de relacionamen-tos. Com o tempo crianças e adolescentes

perdem o prazer, nos pequenos estímulos; crianças nessa situação, segundo o psiquia-tra Augusto Cury6, sofrem de “Síndrome do Pensamento Acelerado” (SPA).

“Quem tem SPA não consegue gerenciar os pensamentos, plenamente; não consegue tranquilizar sua mente. O maior vilão da qualidade de vida do homem moderno não é seu trabalho, nem a competição, a carga horária excessiva ou as pressões sociais, mas, o excesso de pensamentos. A SPA com-promete a saúde psiquica de três formas: ru-minando o passado e desenvolvendo senti-mento de culpa, produzindo preocupações sobre problemas existenciais e sofrendo por antecipação.”(CURY, p12)7

O Dr. Içami Tiba8, ao ser questionado so-bre a influência da internet na educação e formação do adolescente, afirma que:

“Acredito que internet é um grande ganho social e educacional, desde que se selecione a informação que se quer obter. Não impor-ta a quantidade de informação, mas sim, como se faz uso delas. Hoje em dia, vale muito mais alguém que saiba aplicar, bem,

conhecimentos especificos, do que alguém, com uma vasta quantidade de diplomas. Atualmente, valoriza-se a aplicabilidade da informação. No começo de contato com a internet, é aquele turbilhão de informação. Com o tempo, as pessoas vão saber selecio-nar o que querem e porque querem. O que apavora os pais é, quando eles não têm co-nhecimentos sobre isso. A internet passa a ser vista como um bicho de sete cabeças – e simboliza perda do poder e do controle dos pais sobre os filhos.[...]”9

Sobre esse aspecto, Herculano Pires nos brinda com o seguinte esclarecimento:

“Na Era Tecnológica em que nos encon-tramos, a subversão das estruturas antigas chega ao extremo. Profetas alucinados pre-gam a destruição pura e simples da familia e a volta do homem a uma liberdade primi-tiva que nunca existiu. Os freios de aço da moral burguesa não podem, mais, conter o impeto da carne, dessa frágil carne humana mais forte que a pedra e o aço. Rompem-se os tabus sexuais e a liberdade, essa deusa de barrete frigio dos ideólogos franceses, rever-

te-se em libertinagem. Não há mais freios, nem divinos nem humanos, que possam conter a fúria dos impulsos desencadeados. Os faunos recalcados do puritanismo vi-toriano esfregam as mãos e arregalam os olhos concupiscentes, ante o alvorecer da ir-responsabilidade. É, nesse momento, que o conceito espirita de familia se impõe, como única solução para os problemas atuais.” ( PIRES 1979)10

Sob esse prisma e num olhar espírita, destacamos que somos reencarnantes, vi-vemos dentre os selvagens da pré-história, onde não havia afeto familiar; fomos per-tencentes às massas que ignoravam a infân-cia e tratavam as crianças como adultos.

É importante enfocar que o Espiritismo é uma doutrina aberta aos avanços científi-cos; portanto, as transformações sociais, as mudanças no panorama dos conhecimen-tos gerais do homem são importantíssimas.

Vamos abrir nossos olhos e cuidar, me-lhor, de nossas crianças, adequando os no-vos paradigmas culturais, sob a batuta da Doutrina Espírita.

1 Psicopedagogo, articulista e membro da AME/PB2 Jean Jacques Rousseau (1712-1778) - filósofo, escritor, teórico político e um compositor musical autodidata.3 ROUSSEAU, Jean Jacques. Emilio ou da Educa-ção. Rio de Janeiro: Ed. Bertrand Brasil S.A. 1992. . Disponível em: http://educar.no.sapo.pt/teorias.htm Acesso em: 10/03/2014.4 ROUSSEAU, Jean Jacques. Ensaios Pedagógicos. Bragança Paulista - SP: Editora Comenius, 2004.5 William Henry Gates III – Sócio fundador da Mi-crosoft 6 Augusto Jorge Cury: médico, psiquiatra, psicotera-peuta e escritor de literatura psiquiátrica, pesquisa-dor na área de qualidade de vida e desenvolvimento da inteligência, Cury teria desenvolvido a teoria da Inteligência Multifocal, sobre o funcionamento da mente humana no processo de construção do pen-samento e na formação de pensadores.7 CURY. Augusto Jorge. Pais brilhantes, professores fascinantes. P.12. Rio de Janeiro. Ed. Sextante. 20038 Içami Tiba é psiquiatra, psicodramatista, confe-rencista e psicoterapeuta de jovens e famílias.9 Entrevista: Içami Tiba efetuada e transcrita por T.V. Educacional sobre trabalhar relações humanas em sala de aula - : http://www.educacional.net/en-trevistas/entrevista0006.asp em 01/06/2013.10 PIRES, J. Herculano. “Curso Dinâmico de Espi-ritismo, O Grande Desconhecido”. Conteúdo Cap. 6- Relações Familiais no Espiritismo. São Paulo, Ed. Paidéia, 1979.

Fechando os Olhos

Page 24: Espírita Tribuna - fepb.org.brfepb.org.br/wp-content/uploads/2016/09/Tribuna-Espirita-no-185.pdf · já receberam a sua recompensa e terão que expurgar o orgulho pelo ato pratica-do

Tribuna Espírita • maio/junho • 201524

O consumo de drogas é um modismo ruim dos tempos atu-ais. Se vocês, pais ou responsáveis, descobrirem que o seu filho, filha ou tutelado está usando qualquer tipo de

droga, não se precipitem. Não reajam, impensadamente. Antes, parem e pensem, no modo certo de agir. O tempo não é de re-agir e, sim, de agir. O choque inicial, com a descoberta, tende a provocar revolta, raiva, tristeza e mágoa. Vem, de imediato, a pergunta: o que fizemos de errado? Não se precipitem. O momento é de agir, com calma, com equilíbrio emocional, a fim de não piorar a ocasião. Nenhum lar, por mais estruturado que seja, está isento desse flagelo da humanidade contemporânea. Se, após a terrível descoberta, vocês não tiverem condições psi-cológicas de um diálogo, deixem o tempo passar e procurem o ambiente adequado e a hora certa. Se necessário, peçam ajuda a quem tem experiência. E, quando forem conversar, mantenham, sempre, a calma, o equilíbrio, e o façam, em tom coloquial e carinhoso. Não agridam seu rebento e nem lhe joguem na cara o que fizeram por ele. Não o desprezem, nem o expulsem ou ridicularizem. O uso de droga não o faz deixar de ser seu filho ou sua filha. Às mais das vezes, ele se encontra perdido, deso-rientado, sem saber o que fazer ou a quem recorrer, com medo de lhes contar.

Conversem com ele, olhos nos olhos, mas, com calma, amor e carinho. Deixem-no entender que vocês são pais e amigos. Digam-lhes que a dependência de qualquer droga é uma doença de tratamento médico e que ele, com ajuda adequada, pode ven-cê-la, pode curar-se e que vocês vão estar em todos os momentos ao lado dele. Busquem ajuda especializada. Não transfiram a responsabilidade do erro dele, para outrem e não permitam que ele seja estigmatizado por ninguém da família. Todos têm di-reito de se equivocar na vida e de se recuperar. Nós não somos perfeitos. Ele não é o primeiro e nem será o último a atravessar a porta do infortúnio das drogas, na ilusão fantasiosa dos ado-lescentes, em busca da felicidade mentirosa. Transmitam-lhe segurança. Mostrem-lhe que vocês vão estar, continuamente ao lado dele, na recuperação dessa enfermidade. Usem, sempre, a terapia do amor. Não se esqueçam: ele é seu filho, uma dádiva que Deus lhes deu, para cuidar e a quem, um dia, vocês presta-rão contas.

O maior tesouro do mundo é o conhecimento. Com ele, muda-se o mundo e a humanidade. É um tesouro que, quan-to mais se reparte e se divide, mais cresce e se multiplica. O mundo está cheio deles, nobres ensinamentos, guardados nos compêndios, livros e revistas. Procure ler, estudar, pesquisar, aprender, sempre. O conhecimento que se adquire, transforma--se em iluminação interior. Serve, para nós e para os outros. É útil, para todos em todos os recantos. Aprendam a repartir os seus conhecimentos adquiridos, com outras pessoas. Eles são os

verdadeiros tesoiros da alma, que a gente leva, quando vai para o plano espiritual e traz, de volta, no ciclo das reencarnações. O conhecimento que se tem e não se divide com ninguém, é como um livro guardado na estante. Não tem nenhuma utilidade.

O que vocês pensam, insistentemente, se realizará. O que fala, constantemente, acontecerá. Pensamentos são energias quânti-cas, produzidas no dínamo espiritual. Pensamento atrai pensa-mento afim. Nesse caso, os iguais se sintonizam, se atraem. Os iguais só se repelem na Física clássica, mas, na Física Quântica, no núcleo dos átomos, ocorre o inverso, se atraem. Pensamentos, de baixo padrão vibratório, produzem desequilíbrio quântico, nos átomos das células, gerando doenças, no corpo físico; distúrbios, no corpo mental e obsessões, no espiritual. Para seu próprio bem, façam uma faxina nos seus pensamentos. Tenham pensamentos sadios e equilibrados. Mudem de estação, mudem de emissora e sintonizem o Alto.

Pautem, sempre, em dizer a verdade, mas, nunca, se esque-çam de que há verdades que pesam, em sua maneira de dizer. Há vários modos de se dizer uma verdade, sem que ela deixe de ser verdade. E há, também, momentos certos. Cada pessoa é uma individualidade espiritual e, por isso, elas são tão dife-rentes e reagem, de modos tão distintos, às informações. Por esse prisma, nem toda pessoa tem a mesma reação psicológica, diante de uma verdade, especialmente as que se apegam às ilu-sões, as que acreditam em tudo que se diz. Às vezes, para quem vive na penumbra, se torna doloroso abrir os olhos, de repente, para a luz. Lanha os olhos, se a luz for intensa e brilhante. Há pessoas que vivem, tanto tempo, na ilusão, que a desilusão lhes consterna. Assim, sejam sábios, na hora de dizer a verdade, pois, para muitos, ela magoa e dói.

A gente colhe o que planta. Não chafurdem, na lama da in-tolerância, da ignorância, do absolutismo, dos preconceitos, da maldade. Quem assim procede, afunda-se, cada vez mais, no charco da podridão moral. Mudem o seu rumo, enquanto há tempo, enquanto podem, e saiam do charco imundo, para a luz da espiritualidade maior. A semeadura é livre, mas a colheita é obrigatória.

Percalços e transtornos da vida todos têm; procurem, com determinação e equilíbrio, ultrapassa-los. Senão, ao menos, contorna-los com sabedoria, e sigam adiante, para uma nova etapa, na jornada terrena. Não deixem que lhes atrapalhem a jornada, que vocês seguem, através dos caminhos da evolução pessoal e espiritual. Sigam, caminhando com decisão e firme-za; à sua frente, há, sempre, uma luz a iluminar suas trajetórias evolutivas.

Nota da Redação: O autor é Médico, Mestre Maçom e Membro do Centro Espírita “Leopoldo Cirne” – João Pessoa-PB.

GUILHERME TRAVASSOS SARINHOJoão Pessoa-PB

“Ninguém pode voltar atrás e fazer um novo começo. Mas, qualquer um pode

recomeçar e fazer um novo fim”. – Chico Xavier

Reflexões de um Espírita Médico - IIReflexões de um Espírita Médico - II

Page 25: Espírita Tribuna - fepb.org.brfepb.org.br/wp-content/uploads/2016/09/Tribuna-Espirita-no-185.pdf · já receberam a sua recompensa e terão que expurgar o orgulho pelo ato pratica-do

Dizem os Espíritos, que se comunicam com o mundo terreno, através de médiuns de irrefutável caráter, que atuam nos cinco continentes de nosso planeta, que os

cenários e paisagens desfrutados pelos desencarnados são os mais variados possíveis.

Esses lugares do mundo espiritual não são constituídos de matéria, aquela matéria que os cinco sentidos do corpo en-carnado são capazes de sentir. São cenários produzidos pela mentalização individual – quando a experiência é pessoal – ou coletiva − quando é concebida por um grupo de Espíritos. São as chamadas comunidades ou cidades espirituais, muito bem descritas, pela psicografia de Chico Xavier, nas obras de autoria do Espírito André Luiz.

É sabido que esses assuntos espíritas ainda são rejeitados por muita gente, mesmo diante das evidências que galopam, progressivamente, para sua autenticidade; sejam, em experi-ências médicas, mediúnicas ou científicas. A própria Física Quântica, quanto mais se aprofunda nas pesquisas sobre a matéria e suas condições nos campos magnéticos e gravita-cionais, conclui que o mundo material, como imaginamos, ou seja, distinto daquele que não vemos, nem apalpamos, não existe. Tudo é energia. Em diversas formas, mais ou menos densas, que materializam corpos, substâncias, obje-tos; e outras mais sutis, como a energia elétrica, térmica, solar, magnética, química e o pensamento, uma força incal-culavelmente poderosa.

Em muitas das transformações da matéria, são claras as su-tilezas de suas formas. Vejamos a transmutação biológica. Um boi pode comer, somente, capim, e essa clorofila se transfor-mar em muita carne, não é fantástico? E o pinto, que começa numa gema e, durante a chocagem, apenas através do calor,

vai se transmutando em um novo ser, geneticamente perfeito?O mais incrível é que essas transformações podem ser pro-

duzidas pela força do pensamento, frequentemente utiliza-da pelos sábios do mundo oriental e praticada por Jesus, ao transmutar água em vinho, e que, de forma mais popular, fo-ram vistas, há algum tempo, nas ações mentais de Uri Geller.

Daí, o cuidado com o pensamento, diante do qual de-vemos estar atentos, pois é uma energia que sintoniza com o feio e o belo, o bem e o mal, o céu e o inferno, assim busquemos.

Os lugares, para onde vamos ao desencarnar, estão dire-tamente ligados às vibrações com as quais o nosso Espírito, que nada mais é do que o conjunto individualizado com as múltiplas experiências de todo o ciclo de vidas sucessivas, estará afinado.

Pois, as reencarnações são as transformações do Princí-pio Vital, que se processam nas matérias orgânicas, movi-mentam-se, nascem, se desenvolvem e se reproduzem. É a vida, brotando nas infinitas variações, tecendo a existência, florescendo em todos os seres vivos. Pássaros, peixes, flores, moluscos, gente, lodo, micróbios, minhocas; tudo que nasce, cresce e morre, há bilhões de anos, em todas as eras históri-cas, foi, sempre, seguido do renascimento, a partir dos mes-mos elementos.

Dessas mutações, o Princípio Vital foi se burilando e pro-duzindo novas formas de vida animal, mais complexas, in-teligentes, capazes de memorizar, produzir e transformar o planeta: os seres humanos, dotados de alma, que encarna e desencarna, mantendo a individualidade através da memória e dos sentimentos que nela se conduzem, mesmo após a mor-te. Ou seja, somos os que pensamos!

Rua Prefeito José de Carvalho, 179 Jardim 13 de Maio - Cep. 58.025-430

João Pessoa/PB - BRASILTelefone: 83 3224-9557

E-mail: [email protected]

CONDIÇÕES DE PAGAMENTO:Junto com esta proposta de assinatura do Jornal TRIBUNA ESPÍRITA estou enviando o cheque nominal , dinheiro ou comprovante de depósito bancário (Banco do Brasil, Agência nº 3396-0, Conta Corrente nº 9.368-8) no valor de R$__________(_________________________).

OBS.: Se não quiser destacar esta proposta do jornal, tire cópia da mesma, ou envie os dados para: [email protected]

NOME:_________________________________________________________________

ENDEREÇO:_______________________________________________________________

BAIRRO:______________________________________FONE:______________________

CIDADE:_________________________________ESTADO:________CEP:_________________

E-MAIL:_________________________________CAIXA POSTAL:_________________________

PROFISSÃO:_________________________________ASSINATURA:_____________________

PROPOSTA DE ASSINATURA

ASSINATURA BRASILAnual: R$ 30,00 Trianual: R$ 80,00

ASSINATURA EXTERIORAnual: US$ 30,00

EspíritaTribuna

25maio/junho • Tribuna Espírita • 2015

GERMANO ROMERO João Pessoa-PB

O Mundo Espiritual

Page 26: Espírita Tribuna - fepb.org.brfepb.org.br/wp-content/uploads/2016/09/Tribuna-Espirita-no-185.pdf · já receberam a sua recompensa e terão que expurgar o orgulho pelo ato pratica-do

Tribuna Espírita • maio/junho • 201526

Em todos os tempos, os emissários de Deus recomendaram o silêncio pro-fundo, a fim de que se possa ouvir-

LHE a voz e senti-LO mais intimamente.Os ruídos e tumultos desviam o pensa-

mento que se deve fixar no elevado obje-tivo de comunhão com a Divindade, para se poder haurir energias vitalizadoras ca-pazes de sustentar o Espírito nos embates inevitáveis do processo de evolução.

Quando se mergulha no mundo ínti-mo, encontram-se as mensagens sublimes da sabedoria, aquelas que constituem o alimento básico de sustentação da vida e, sem as quais, os objetivos essenciais da existência cedem lugar aos prazeres trêfe-gos e enganosos.

Os distúrbios externos produzidos pela balbúrdia desviam a mente para os tormentos exteriores, que tornam a mar-cha física insuportável, quando se consta-ta a fragilidade das suas construções emo-cionais.

Na tentativa de atender a todas as ex-centricidades do vozerio do mundo, a mente se desloca da meta essencial e per-de o foco que lhe constitui o objetivo fun-damental.

Quando o Espírito se encontra atordoa-do pela balbúrdia, o discernimento se faz confuso e os componentes mentais e emo-cionais deslocam-se da atenção que deve ser concedida ao essencial, em benefício das aquisições secundárias, sempre inca-pazes de acalmar o coração.

Algumas vezes, alcança-se o topo do triunfo, meta muito buscada, a fama ligei-ra, a posição de destaque no grupo social, o riso bajulador e mentiroso, sob o pesado tributo dos conflitos internos que perma-necem vorazes e desconhecidos, sempre em agitação.

Deus necessita do silêncio humano, a fim de se fazer ouvido por quem deseje manter contato com a Sua Paternidade.

A Sua mensagem, sempre, tem sido transmitida após a transposição dos abis-mos externos e dos tumultos das paixões desarvoradas, permanecendo no ar, aguar-dando ser captada.

No imenso silêncio do Monte Sinai, a Sua voz transmitiu a Moisés as regras de ouro do Decálogo, mas não deixou de pros-

Silênciopara ouvir

Deus

seguir, enviando novas instruções para a conquista da harmonia, da plenitude.

Na antiguidade oriental, a Sua palavra se fazia ouvir, através dos sensitivos de vária denominação, conclamando à paz, à vitória sobre os impositivos exteriores pre-dominantes no ser.

Nas furnas e nas cavernas, nas paisa-gens ermas, desvelava-se, oferecendo o conhecimento da verdade que deveria ser assimilado, lentamente, através dos tem-pos.

Mesmo Jesus, após atender as multi-dões que se sucediam esfaimadas de pão, de paz, de luz, buscava o refúgio da soli-dão para, em silêncio, poder ouvi-LO no santuário íntimo.

Robustecido pelas poderosas energias da comunhão com o Pai, volvia ao tumulto e desespero das massas insaciáveis, a fim de diminuir-lhes as dores e a loucura que tomava conta do imenso rebanho.

Simultaneamente, porém, proclamou que o Reino dos Céus se encontra no cora-ção, no intimo do ser.

***Nestes dias agitados, faz-se necessário

que se busque o silêncio, para se renovar as paisagens íntimas e ouvi-LO atenta-mente, pacificando-se.

A semelhança das ondas que permitem a comunicação terrestre, imprescindível que haja conexão para serem captadas.

Estão carregadas de mensagens de todo jaez; mas, sem a sintonia apropriada, nada transmitem, parecendo não existirem.

Habitua-te ao silêncio que faz muito bem.

Não temas a viagem interior, o encon-tro contigo mesmo, nas regiões profundas dos arcanos espirituais.

Necessitas ouvir-te, para bem te conhe-ceres e traçares os caminhos por onde de-verás seguir, com segurança e otimismo.

Observarás que és um enigma para ti mesmo, que te encontras oculto, sob su-cessivas camadas de disfarces que te im-pedem apresentar a autenticidade.

De essência divina, possuis o conheci-mento e és dotado de sabedoria que aguar-dam o momento de se desvelar.

Reflexiona, portanto, quanto possas, a fim de libertar-te das algemas que te es-cravizam à aparência, sem conceder-te o conforto do autoaprimoramento.

A multiplicidade das vozes que gritam em torno de ti, impede-te a conscientiza-ção dos valores que dignificam a existên-cia.

Quando te habitues ao silêncio, sentir--te-ás “luarizado” pelas claridades subli-mes do amor de Deus e ser-te-á muito fácil a travessia, pelas estradas perigosas dos relacionamentos humanos.

Compreenderás que a paz defluente da autoconquista, nada consegue abalar.

Com segurança e serenidade, agirás em qualquer circunstância, feliz ou tor-mentosa, sem desespero, com admirável harmonia.

Torna o silêncio uma necessidade tera-pêutica, abençoando-te a jornada, ao mes-mo tempo em que te propicia alegria de viver.

Desfrutarás de contínua alegria, sem galhofas nem vulgaridades, em situação de bem-estar natural.

São Francisco de Assis buscava o cume dos montes e as cavernas, para, em silên-cio, ouvir Deus.

Mas, não somente ele.Todos aqueles que aspiram a plenitude

atendem aos deveres do mundo e se refu-giam, no silêncio, para os colóquios com Deus.

A exaustão que te toma o corpo e a mente, o vazio existencial que te visita com frequência, a apatia que te surpreen-de, a ansiedade que te aturde, são frutos espúrios da turbulência que te atinge.

Busca o silêncio e alcança-o.Acalma-te e isola-te da multidão, uma

e outra vez, e viaja, calmamente, no rumo do ser que és, e descobrirás tesouros im-previsíveis, aguardando-te no interior.

Criado o hábito de incursionar, banhar--te-ás nas claridades refulgentes da pala-vra de Deus, falando-te ao coração.

Não postergues a luminosa experiên-cia, iniciando-a, quanto antes.

Joanna de Ângelis

(Página psicografada pelo médium Divaldo Pe-reira Franco, na sessão mediúnica da noite de 9 de fevereiro de 2015, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador-BA)

Page 27: Espírita Tribuna - fepb.org.brfepb.org.br/wp-content/uploads/2016/09/Tribuna-Espirita-no-185.pdf · já receberam a sua recompensa e terão que expurgar o orgulho pelo ato pratica-do

“Para ser proveitosa, a fé tem de ser ativa; não deve entorpecer-se. Mãe de todas as virtudes que conduzem a Deus, cumpre-lhe velar atentamente pelo de-senvolvimento dos filhos que gerou. A esperança e a caridade são corolários da fé e formam com esta uma trindade in-separável. Não é a fé que faculta a espe-rança na realização das promessas do Se-nhor? Se não tiverdes fé, que esperareis? Não é a fé que dá o amor? Se não tendes fé, qual será o vosso reconhecimento e, portanto, o vosso amor?” (...) - José, Espí-rito protetor (Bordéus, 1862) − (“O Evan-gelho Segundo o Espiritismo”, Cap. XIX, item 11).

Era uma vez...Uma mãe que tinha duas filhas.Essa mãe tinha uma responsabilidade

muito grande: velar, atentamente, pelo desenvolvimento das filhas que gerou.

Muito apegadas, mãe e filhas forma-vam uma trindade inseparável e viviam uma vida muito feliz.

Aonde uma ia, as outras iam atrás. A mãe sustentava as filhas e dava a elas to-das as condições de crescer e desenvol-ver-se bem. As filhas retribuíam à mãe o carinho filial e a gratidão que, cada vez mais, a fortalecia.

Seus nomes eram: Fé, Esperança e Ca-ridade.

E, sob o amparo amoroso da Fé, a Es-perança cresceu e tornou-se uma bela

A Fé: mãe da Esperança e da CaridadeIGOR MATEUS

Natal-RNmoça de olhos verdes. Transmitia a todos as mais belas mensagens de oti-mismo. Era, sempre, um sorriso que irradiava ao seu redor. Aonde chega-va, a Esperança expulsava a tristeza e o desânimo e inundava o ambiente de alegria e felicidade. Sempre, falava a todos que sua mãe Fé lhe ensinara que, se Jesus era por nós, quem seria contra nós; que ele era o médico de nossas al-mas e que, com ele, estaríamos sempre saudáveis.

E, assim, prosseguia a Esperança, dando felicidade para a sua mãe Fé, e a certeza de que ela tinha feito da Esperan-ça uma mulher forte e feliz.

Por sua vez, com a Caridade, a Fé não tinha motivos para preocupações. Nas-cera tão fragilzinha; mas, à medida que o tempo passava, ela crescia mais e mais, tornando-se uma bela moça que a todos ajudava.

Não existiam limites para a Carida-de. Ela não se importava consigo mesma, pois suas atenções eram, cada vez mais, voltadas para o próximo. E, aonde chega-va, dizia: - Eu sou a Caridade, filha da Fé, e minha mãe, sempre, me diz que Jesus é o nosso Mestre Maior; com ele, nunca, nos faltará o necessário para viver; e, as-sim como ele, a nossa vida deve dedicar-

se aos nossos irmãos, pois suas recomen-dações, para nós, são: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos.

E quanto mais a Caridade crescia, mais a FÉ alegrava-se por ter criado uma filha serva de Jesus Cristo.

E, quando a Caridade fraquejava, a Es-perança, logo, a reanimava e a Fé a reer-guia. Se a Esperança adoecia, a Caridade lhe dedicava o melhor amor fraternal e a Fé o colo reconfortante de mãe amorosa. E, nas ocasiões em que a Fé encontrava dificuldades no dia-a-dia, logo, lhe acu-diam a Esperança e a Caridade que, com o mais puro amor filial, curavam-lhe as feridas e reacendiam-lhe o brilho de viver e ser feliz.

E todas viveram felizes, para sempre!

Page 28: Espírita Tribuna - fepb.org.brfepb.org.br/wp-content/uploads/2016/09/Tribuna-Espirita-no-185.pdf · já receberam a sua recompensa e terão que expurgar o orgulho pelo ato pratica-do

João Pessoa - Paraíba

Av. Alm. Tamandaré, 440 - Praia de Tambaú • João Pessoa - PB, 58039-010 • (83) 2107-9999

www.atlanticopraiahotel.com.br

de mãos dadas pela caridadeEvento beneficente em prol do lar de idosos”Nosso Lar”

Sábado 8 de agosto de 2015No Auditório da Federação Espírita Paraibana(FEPB)

Contatos: (83) 98776-4427/ 99671-5750

Palestras: Suely Cavalcanti DiasSeverino Celestino

Música: Grupo Acorde, Grupo Evolução e Banda Canto & Luz.Teatro: Grupo EmCena

Programação completa: www.fepb.org.br

1º BEM NOSSO