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ESPERANÇAR COMO MANTER VIVA A ESPERANÇA NAS ELEIÇÕES MUNICIPAIS DE 2020 Brasília (DF), outubro de 2020.

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ESPERANÇAR

COMO MANTER VIVA A ESPERANÇA NAS ELEIÇÕES MUNICIPAIS DE 2020

Brasília (DF), outubro de 2020.

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COMO MANTER VIVA A ESPERANÇA NAS ELEIÇÕES MUNICIPAIS DE 2020 2

Oração inicial para todos os dias

1. Acolhida

Sejam bem-vindos e bem-vindas a este nosso encontro de hoje. Queremos acolher cada um e cada uma de

vocês. Pedimos que cada pessoa se apresente, dizendo seu nome, o local onde mora e o que faz da vida.

2. Invocação à Trindade

- Vem ó Deus da vida, vem iluminar (2x)

- Vem com o teu povo, vem caminhar (2x)

- Aqui reunidos nesta oração (2x)

- Manda o teu Espírito nessa louvação (2x)

Todos: Vinde Espírito Santo, enchei os corações de vossos fiéis, acendei neles o fogo de vosso amor. Enviai,

Senhor, o vosso Espírito Santo, e tudo será criado e renovareis a face da terra. Ó Deus, que instruístes os

corações de vossos fiéis com as luzes do Espírito Santo, fazei que apreciemos retamente todas as coisas e

gozemos sempre de sua consolação, por Cristo, nosso Senhor. Amém.

3. Canto: Povo que luta (Ofício Divino das Comunidades)

1. Povo que luta, cansado da mentira / Cansado de sofrer, cansado de esperar / Povo que luta, cansado

de esperar / Procura redenção.

Ref.: Porque ele é luz, verdade, / justiça, bem, perdão, /paz, esperança, amor e redenção.

2. Povo que luta por terra onde há fartura / Por paz sem fingimento, por vida partilhada / Povo que luta

por vida partilhada, / Procura redenção.

3. Povo que espera colheitas mais serenas / Verdades mais profundas, caminhos mais fraternos. / Povo

que espera caminhos mais fraternos / Proclama redenção.

4. Oração da Campanha da Fraternidade 1996 sobre Fé e Política

Deus da Vida e Senhor da História, Pai de todos nós, em vosso Filho Jesus Cristo, pela força do Espírito

Santo, já vencestes

o pecado,

a escravidão

e a morte.

Queremos viver o compromisso cristão na política, fazendo da política – no campo e na cidade, nas aldeias

e nos quilombos – um serviço à vida e à libertação integral de todos, direito e dever de cidadania e

convivência de igualdade nas diferenças.

Concedei-nos construir um Brasil novo, sem exclusão e sem privilégios, em que se abracem a Justiça e a

Paz, e os valores do Vosso Reino estejam sempre mais presentes na ação política em nosso país.

Ajudem-nos a proteção de Maria, nossa Mãe, as santas e santos companheiros da caminhada, e, sobretudo,

a presença de vosso Filho Jesus Cristo, caminho, verdade e vida, para que possamos participar da

construção de uma sociedade justa e solidária. Amém!

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COMO MANTER VIVA A ESPERANÇA NAS ELEIÇÕES MUNICIPAIS DE 2020 3

APRESENTAÇÃO

Este Caderno de reflexões nasceu do desejo do CNLB – Conselho Nacional do Laicato do Brasil, da

CBJP – Comissão Brasileira Justiça e Paz, do CEFEP – Centro Nacional de Fé e Política “Dom Helder

Câmara”, vinculado à Comissão Episcopal Pastoral para o Laicato da CNBB e do NESP – Núcleo de

Estudos Sociopolíticos da PUC-Minas, de contribuir para um discernimento crítico da participação de

cristãos, principalmente leigos e leigas, nas Eleições Municipais de 2020.

Ele visa complementar os subsídios que já foram publicados em anos anteriores, tanto para eleições

gerais, quanto para eleições municipais; assim como uma série de vídeos, que estão disponíveis no

“hotsite” chamado Eleições 2020, no portal do CNLB.

Ele está organizado em cinco temas:

1. Democracia, afinal de contas, o que é? – Visa contribuir para pensar que a democracia

representativa, sem suas versões direta e participativa, fica incompleta. Também vai

contribuir para perceber que práticas autoritárias, intolerantes e fascistas não “rimam” com

democracia.

2. Financiamento de Campanhas – Pretende trazer um resgate sobre a proibição de empresas

financiarem Campanhas Eleitorais, seja de prefeitos ou prefeitas assim como de vereadores

ou vereadoras. Tal condição no Brasil foi fruto de nossa mobilização popular com a iniciativa

que fizemos em 2014. Também precisamos denunciar as novas e perigosas formas de

corrupção que têm ocorrido no Brasil atual.

3. Discurso religioso e política – Aqui pretende-se abordar o perigo da utilização da política pela

religião, ou o contrário: uso da religião pela política. Também aqui é preciso resgatar a

saudável relação entre fé e política, afastando a ideia de “bancada católica” do pensamento

dos cristãos e cristãs, e colocando a sua participação a serviço do “Bem Comum” e do “Bem

Viver”.

4. Leitura crítica das notícias nos Meios de Comunicação tradicionais e nas Redes Sociais –

Nunca foi tão importante perceber a manipulação que se faz por meio de fake news e da

chamada pós-verdade, percebendo o uso que se faz e como não ser um “cavalo de Tróia”,

compartilhando essas notícias falsas sem saber. Mais que isso, serão oferecidas informações

sobre canais onde você possa checar.

5. Novas experiências na política? – Nesta parte final queremos anunciar boas notícias sobre

novas práticas na política, como forma de enfrentar a “criminalização da política” e

valorizando novos e novas protagonistas: as mulheres, as juventudes, indígenas e

afrodescendentes; mas sempre “de olho” nas propostas que estão defendendo.

Além disso, este Caderno vai trazer os locais na internet onde você pode identificar quem votou

contra o povo, tomando como referência posições que a CNBB, o CNLB, a CRB ou a CBJP tenham

tomado posições públicas, para não votar mais em candidatos que são “lobos com pele de cordeiro”.

Temas que pioraram muito a vida das famílias: EC nº 95/2016, Terceirização e Reforma Trabalhista.

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Traz também na íntegra a Carta ao Povo de Deus, assinada por 152 bispos brasileiros, para que

possamos ler o texto em comunidade e planejar ações transformadoras a partir de nossa realidade.

Pede-se o maior empenho possível de cada pessoa que conhecer esse Caderno para multiplicar,

distribuindo cada uma de suas partes pelos meios que tiver ao seu alcance em grupos, reuniões,

seminários, movimentos sociais, círculos bíblicos e após as celebrações semanais.

O Brasil está vivendo um pesadelo trágico, com mais de uma centena de milhares de pessoas que

morreram pela Covid-19. São mortes que poderiam ter sido evitadas se houvesse uma gestão pública

federal que colocasse a vida em primeiro lugar, e não o lucro!

Que Maria, mulher do povo, discípula missionária, interceda junto ao Deus Trindade Santa, para que

haja discernimento nas próximas eleições municipais e comecem as mudanças de baixo para cima.

Brasília/DF, 1º de outubro de 2020.

Dom Giovane Pereira de Melo Sônia Gomes de Oliveira Bispo de Tocantinópolis/TO

Presidente do CEFEP Presidente do CNLB

Conselho Nacional do Laicato do Brasil

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COMO MANTER VIVA A ESPERANÇA NAS ELEIÇÕES MUNICIPAIS DE 2020 5

SUMÁRIO

Oração inicial para todos os dias ...................................................................................................................02

Apresentação ..................................................................................................................................................03

Prá começo de conversa: Como está organizado cada encontro? ................................................................06

1º Encontro: Democracia, afinal de contas, o que é? ....................................................................................07

2º Encontro: Financiamento de Campanhas ..................................................................................................13

3º Encontro: Discurso religioso e política ......................................................................................................19

4º Encontro: Leitura crítica das notícias nos Meios de Comunicação tradicionais e nas Redes Sociais.......26

5º Encontro: Novas experiências na política? ................................................................................................34

Carta ao Povo de Deus ...................................................................................................................................44

Oração final para todos os dias ......................................................................................................................47

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Prá começo de conversa Como está organizado cada encontro?

1) Na contracapa da frente está a proposta para oração inicial de todos

os dias dos encontros. Na contracapa detrás está o roteiro da oração

final.

2) Se houver recomendação do isolamento físico das pessoas por causa

da Covid-19, é preciso respeitar, fazendo os encontros por meio de

alguma plataforma virtual ou, se presencial, com o necessário

distanciamento e uso de máscara e álcool em gel.

3) Os encontros seguem o método VER-DISCERNIR-AGIR-REVER-CELEBRAR. Assim, é

importante preparar com antecedência cada encontro, escolhendo os símbolos mais

próprios de cada região do país e fazer a distribuição das tarefas de animador(a) e de

leitores e leitoras.

4) Todos os encontros começam com a acolhida e oração inicial (na contracapa da frente).

5) Em seguida, vem a introdução que apresenta o tema do encontro, vinculado à participação

dos cristãos leigos e leigas nas eleições.

6) Depois trazemos um fato da vida – é a parte do VER. Para cada fato, vocês procurem se

perguntar: isso acontece também entre nós?

7) Na sequência, são propostos trechos da Bíblia e do ensinamento da Igreja, iluminando nossa

vida, para que possamos enxergar com os olhos da fé a realidade, percebendo sinais de vida

e de morte.

8) A terceira parte de cada encontro nos indica propostas de ação sobre o que podemos fazer

para mudar essa realidade. Aqui é importante que o grupo escolha uma dessas ações para

realizar, distribuindo as missões e anotando o nome das pessoas responsáveis.

9) Depois, vem uma caixa de diálogo com dicas que podem ser transformadas em grandes

cartazes ou faixas para alertar as pessoas de nossa comunidade sobre o tema abordado.

10) Logo depois, vem a distribuição dos compromissos/tarefas para preparar o próximo

encontro.

11) A despedida e a oração final estão na contracapa detrás.

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1º ENCONTRO

DEMOCRACIA, AFINAL DE CONTAS, O QUE É?

Objetivo do encontro: contribuir para pensar que a democracia representativa (elegendo representantes),

sem suas versões direta e participativa, fica incompleta. Também vai contribuir para perceber que práticas

autoritárias, intolerantes e fascistas não “rimam” com democracia.

1. Organização do ambiente físico ou virtual

2. CELEBRAR – Acolhida e oração inicial (na contracapa da frente).

3. Introdução ao tema

Leitor(a) 1 – Democracia não se resume a votar e ser votado. Ela é o regime de governo adotado pela

República Federativa do Brasil, consagrado na Constituição Federal de 1988 e que tem como sistema de

governo o presidencialismo. Todavia, muitas pessoas acreditam que a democracia se resume ao modelo de

democracia representativa, não percebendo que são necessárias a

democracia direta e a participativa para se completar o exercício da

cidadania ativa.

Leitor(a) 2 – A democracia direta, conforme previsto no artigo 14 da

Constituição Federal Brasileira, é exercida pelo cidadão ou cidadã quando

dá a sua apreciação sobre um assunto importante por meio do voto em

Plebiscitos, Referendos ou assinando Iniciativas Populares de Lei. São os

três mecanismos da democracia direta existentes no Brasil.

Leitor(a) 3 – A democracia participativa se traduz na atuação em conselhos

de políticas públicas, audiências públicas e na incidência política para se

garantir, na agenda das pessoas que tomam as decisões, as pautas populares e as demandas das comunidades

e setores sociais excluídos. Também abrange a participação em manifestações públicas e mobilizações sociais

para reivindicar atendimento às necessidades dos sujeitos das políticas públicas, ou seja, são titulares de

direitos fundamentais.

Leitor(a) 1 – Há uma campanha para criminalizar a política como sendo apenas “coisa suja” que visa afastar

os cidadãos e as cidadãs comuns do interesse pela política. Todavia, como veremos mais adiante, é a política

que define para onde vão os recursos públicos, arrecadados através de taxas, tributos e impostos. Se não

houver interesse pela política, uma pequena elite no poder define a destinação de fundos públicos para seus

objetivos corporativos ou privados; por isso é tão importante não apenas votar, mas acompanhar o que estão

fazendo as pessoas eleitas, pois isso muda a aplicação dos recursos no município.

Leitor(a) 2 – Assim, outro jeito importante é atuar nos conselhos de políticas públicas: Conselho de Saúde,

Conselho de Assistência Social, Conselho de Direitos da Criança e do Adolescente, Conselho do Meio

Ambiente, entre tantos outros; pois assim conhecemos as regras que definem como devem ser aplicados os

recursos públicos e cobramos que a população mais empobrecida da cidade seja atendida com prioridade.

Procure se informar sobre quais são os conselhos municipais que existem em seu município, em quais locais,

datas e horários se reúnem e com que frequência; e divulgue, pois as reuniões desses conselhos são públicas.

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Leitor(a) 3 – Na democracia representativa, o eleitor ou eleitora delega poderes para pessoas representarem

as reinvindicações populares e sociais no poder executivo (prefeito ou prefeita; governador ou governadora;

ou presidente) e no poder legislativo (vereador ou vereadora, deputado ou deputada, senador ou senadora).

Contudo, o eleitor ou eleitora não perde a titularidade de seu poder, por isso ele tem o direito à manifestação,

e a demonstrar, sempre de forma pacífica, seu apreço ou insatisfação com a atuação de representantes eleitos.

Leitor(a) 1 – As pessoas eleitas, isto é, aquelas que conquistam mandatos obtidos pelo voto popular, são

“servidoras ou servidores do público”, pois foi para isso que foram eleitas: para servir. Entretanto, nossa

democracia representativa ainda tem muitas distorções, visto que a maioria dos(as) eleitos(as) tem um perfil

diferente das características étnicas, culturais ou sociais da população.

Leitor(a) 2 – Para citar alguns exemplos: no Congresso Nacional existem menos de 10% de deputadas federais

ou senadoras, enquanto na sociedade as mulheres são mais de 50%; o mesmo acontece com o percentual

abaixo de 5% de afrodescendentes, enquanto pelo último censo demográfico, negros e negras, pardos e

pardas são mais de 50% do povo brasileiro. Nem se fale da condição de trabalhador ou trabalhadora, estes

são mais de 90% da população economicamente ativa e nem chegam a 10%: a esmagadora maioria no

Congresso Nacional é de empresários e grandes proprietários de terra no país.

Leitor(a) 3 – Por isso, a CNBB, junto com Organismos e Pastorais Sociais, já propuseram três iniciativas

populares de lei para realizar Reforma Política; duas delas, com pequenas alterações, foram aprovadas (Lei nº

9.840/99 e LC nº 135/2010), mas a que propunha a Reforma Política e Eleições Limpas, mais abrangente, não

foi sequer tramitada pela Câmara dos Deputados em 2014. Mesmo assim, criou pressão sobre o Supremo

Tribunal Federal que proibiu o financiamento de campanhas eleitorais por empresas. Foi uma grande vitória

popular. Mas não desistimos. Existe a Plataforma dos Movimentos Sociais para Reforma do Sistema Político

na qual são realizados debates e são traçadas estratégias para prosseguir neste objetivo a médio e longo

prazos.

4. VER – Fato da vida

Vamos recordar como a política acontece na prática. Leia a reportagem abaixo1:

Esposa do Prefeito de Tamandaré é solta após pagar fiança de R$ 20 mil pela morte do filho da empregada Por Valeria Santana, 5 de junho de 2020.

Durante a quarta-feira (3 de junho), menino de 5 anos, identificado como Miguel, morreu após cair do 9° andar do prédio em que sua mãe, Mirtes Renata Souza, trabalhava como empregada doméstica no bairro São José, em Recife (PE).

O menino foi deixado no elevador pela patroa de sua mãe, Sari Corte Real, mulher do prefeito de Tamandaré (PE), Sérgio Hacker, uma vez que ela teria o mandado ir atrás de Mirtes que havia saído para passear com os cachorros da patroa.

O menino acabou se perdendo no caminho e caiu do prédio devido à negligência da patroa. A perícia criminal disse que a tragédia aconteceu porque o menino subiu na varanda do prédio no

andar que não tinha tela de proteção e acabou caindo. Durante as investigações, a polícia chegou à conclusão que Sari detinha a guarda temporária do

menino enquanto a empregada saiu com o cachorro para passear, uma vez que o fator determinante para a prisão da mesma foi o ato de ela deixar a criança sozinha no elevador e ainda apertar um dos botões no alto do painel.

1 Você pode ter acesso completo à reportagem na página: https://newsam.com.br/esposa-do-prefeito-de-tamandare-e-solta-apos-pagar-fianca-de-r20-mil-pela-morte-do-filho-da-empregada/. Acesso em: 07/09/2020.

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Em entrevista às emissoras de televisão de Pernambuco, a empregada doméstica Mirtes Renata Souza criticou como o caso está sendo tratado pela polícia e pela imprensa local. Ela afirmou que se fosse ela a culpada por morte de algum filho dos patrões “meu rosto estaria estampado, como já vi vários casos na TV”. Sari Corte Real foi indiciada por homicídio culposo, mas foi solta após pagar uma fiança de R$ 20 mil.

Para conversar

• O que esse fato tem a ver com as Eleições Municipais?

• Qual é a relação deste acontecimento com a democracia representativa?

• Quais são as condições de ser mulher na política que surgem deste fato?

• Você conhece outros fatos que denunciam desigualdades e discriminações

entre integrantes da classe política e trabalhadoras?

5. DISCERNIR – O que nos diz a Palavra de Deus?

No Evangelho de Jesus segundo a Comunidade de Lucas (Lc 4,16-21) descreve a missão que Ele veio cumprir,

a partir da profecia de Isaías:

Foi então a Nazaré, onde se tinha criado. Conforme seu costume, no dia de sábado, foi à sinagoga e

levantou-se para fazer a leitura. Deram-lhe o livro do profeta Isaías. Abrindo o livro, encontrou o

lugar onde está escrito: “O Espírito do Senhor está sobre mim, pois ele me ungiu, para anunciar a

Boa-Nova ao s pobres: enviou-me para proclamar a libertação aos presos e, aos cegos, a

recuperação da vista; para dar liberdade aos oprimidos e proclamar um ano aceito da parte do

Senhor”. Depois, fechou o livro, entregou-o ao ajudante e sentou-se. Os olhos de todos, na sinagoga,

estavam fixos nele. Então, começou a dizer-lhes: “Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que

acabastes de ouvir”. Palavra da Salvação. T.: Glória a vós, Senhor!

Em outra passagem do Evangelho de Jesus segundo a Comunidade de Mateus (Mt 20,20-28) descreve

qual deve ser o espírito de quem assume a liderança numa comunidade:

A mãe dos filhos de Zebedeu, com seus filhos, aproximou-se de Jesus e prostrou-se para lhe fazer um

pedido. Ele perguntou: “Que queres?” Ela respondeu: “Manda que estes meus dois filhos se sentem,

no teu Reino, um à tua direita e outro à tua esquerda”. Jesus disse: “Não sabeis o que estais pedindo.

Podeis beber o cálice que eu vou beber?”. Eles responderam: “Podemos”. “Sim”, declarou Jesus, “do

meu cálice bebereis, mas o sentar-se à minha direita e à minha esquerda não depende de mim. É

para aqueles a quem meu Pai o preparou”. Quando os outros dez ouviram isso, ficaram zangados

com os dois irmãos. Jesus, porém, chamou-os e disse: “Sabeis que os chefes das nações as dominam

e os grandes fazem sentir seu poder. Entre vós não deverá ser assim. Quem quiser ser o maior entre

vós seja aquele que vos serve, e quem quiser ser o primeiro entre vós, seja vosso escravo. Pois o Filho

do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate por muitos”. Palavra

da Salvação. T.: Glória a vós, Senhor!

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COMO MANTER VIVA A ESPERANÇA NAS ELEIÇÕES MUNICIPAIS DE 2020 10

Vamos conhecer agora as orientações para nossa atuação que vêm do Papa Francisco e da CNBB:

O Papa Francisco confirma o que disseram Pio XI e Paulo VI: “Envolver-se na política é uma obrigação para

o cristão. (...) Temos de nos meter na política, porque a política é uma das formas mais altas da caridade

porque busca o bem comum. (...). Isto é um dever! Trabalhar para o bem comum é um dever do cristão”2.

E o Papa Francisco complementa: “Fazer política inspirada no Evangelho a partir do povo em movimento

pode se tornar uma maneira poderosa de sanar nossas frágeis democracias e de abrir o espaço para

reinventar novas instâncias representativas de origem popular”3.

Os dois trechos abaixo foram tirados do Documento nº 105 da CNBB, sobre o papel dos “Cristãos leigos e

leigas, como Sal da Terra e Luz do Mundo”:

“Ser cristão, sujeito eclesial, e ser cidadão não podem ser vistos de maneira separada” (nº 164). “Assim, a

participação consciente e decisiva dos cristãos em movimentos sociais, entidades de classe, partidos

políticos, conselhos de políticas públicas e outros, sempre à luz da Doutrina Social da Igreja, constitui-se

um inestimável serviço à humanidade e é parte integrante da missão de todo o povo de Deus” (nº 162).

Para conversar:

• Qual é a missão de Jesus? O que ela tem a ver com a política?

• Qual é a orientação a partir da fé cristã para quem quer assumir o poder?

• Quais orientações brotam dessas leituras para nossa atuação enquanto

cristãos e cristãs nas eleições municipais desse ano?

6. AGIR – O que vamos fazer para mudar essa realidade?

Seguem seis sugestões de ações concretas que poderão ser feitas:

1) Conversar no Conselho da Comunidade ou no Conselho Pastoral da Paróquia sobre quais os

procedimentos que serão adotados na paróquia a partir da Carta de Orientação do Bispo Diocesano ou

a partir das orientações da CNBB. Organizando grupos para reflexão desse Caderno sobre as Eleições

Municipais, por exemplo, em cada comunidade, pastoral, equipe ou movimento na paróquia. Informar

sobre como combater a corrupção eleitoral (venda de votos, uso de dinheiro de empresas em campanhas

eleitorais, onde denunciar).

2) A comunidade do bairro ou da localidade pode elaborar propostas concretas do que a população está

precisando, a partir das políticas públicas necessárias e apresentar nos debates ou em conversas públicas

para ver quais são os candidatos e candidatas que se comprometem a colocá-las em prática.

3) Outra forma é promover debates entre candidatos e candidatas de diferentes partidos que tenham

relações com a comunidade ou localidade para analisar a trajetória de compromisso com as lutas

populares das pessoas que estão concorrendo, principalmente quanto às políticas públicas, e suas

2 Acesso em: 04/03/2020: https://www.youtube.com/watch?v=myn3opg4xSk&feature=youtu.be/ 3 Acesso em: 04/03/2020: https://noticias.cancaonova.com/especiais/pontificado/francisco/a-politica-e-uma-vocacao-de-servico-destaca-papa/

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COMO MANTER VIVA A ESPERANÇA NAS ELEIÇÕES MUNICIPAIS DE 2020 11

propostas de atuação, ficando atentos para diferenciar o papel de vereador ou vereadora e o de prefeito

ou prefeita.

4) Após a eleição, organizar um Comitê ou Grupo de Acompanhamento ao Legislativo (Câmara dos

Vereadores). O Mesmo pode ser feito em relação ao Poder Executivo (prefeitura) e ao Poder Judiciário

(Fórum de Justiça). Conheça a experiência de mais de 20 anos de Juiz de Fora (MG), acessando o blog e os

informativos: http://comitedecidadaniajf.blogspot.com/

5) Conheça o panfleto criado pela 6ª SSB – Semana Social Brasileira para as Eleições Municipais de 2020,

acessando a página: Mutirão de eleições: Pela vida, por Terra, Teto e Trabalho. A 6ª Semana Social

Brasileira lançou em 24/09 o material Mutirão de eleições pela vida. O conteúdo tem o objetivo de

fortalecer a mobilização popular para gerar processos de formação e conscientização sobre as eleições

municipais. O conteúdo traz elementos para debates sobre a democracia participativa e o projeto popular

em que o acesso à terra, ao teto e ao trabalho sejam considerados nas escolhas das/os candidatas/os/ à

eleição 2020. Acesse o material aqui: [leitura pdf] https://bit.ly/3059zDU. Para impressão:

https://bit.ly/3hXkgOJ

6) Apoie e participe da Campanha #600AteDezembro: No início do mês de setembro, o governo publicou a

Medida Provisória (MP) nº 1.000/20, que reduz o valor do auxílio emergencial pela metade. Isso é

inaceitável! Num país em que a cesta básica está custando cada vez mais caro, diminuir o auxílio para R$

300 é deixar as famílias mais pobres ainda mais desprotegidas. Pressione agora os parlamentares de seu

estado e o presidente da Câmara Federal para retomar a renda emergencial no valor de

#600AteDezembro: https://www.600atedezembro.org.br/

7. REVER – Dicas para entender melhor outros aspectos sobre o assunto

Fonte: “Votar com fé: Cartilha sobre Política e eleições em 2020” (SP, 2020).

8. COMPROMISSOS – Preparando o próximo encontro

Distribuir as tarefas do próximo encontro:

• Onde será nosso próximo encontro? Será um encontro presencial ou virtual?

• Quem vai animar a preparação?

• Quem serão os leitores e leitoras?

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COMO MANTER VIVA A ESPERANÇA NAS ELEIÇÕES MUNICIPAIS DE 2020 12

Quais as ações das indicações acima vamos colocar em prática pelo grupo?

O que vamos fazer?

Quando? Responsável ou

responsáveis?

Com quem? Como? Onde? Observações

9. CELEBRAR – Despedida e oração final (na contracapa detrás).

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COMO MANTER VIVA A ESPERANÇA NAS ELEIÇÕES MUNICIPAIS DE 2020 13

2º ENCONTRO

FINANCIAMENTO DE CAMPANHAS

Objetivo desse encontro: pretende trazer um resgate sobre a proibição de empresas financiarem Campanhas

Eleitorais, seja de prefeitos ou prefeitas, assim como de vereadores ou vereadoras. Tal condição no Brasil foi

fruto de nossa mobilização popular com a iniciativa que fizemos em 2014. Também precisamos denunciar as

novas e perigosas formas de corrupção que têm ocorrido no Brasil atual.

1. Organização do ambiente físico ou virtual

2. CELEBRAR – Acolhida e oração inicial (na contracapa da frente)

3. Introdução ao tema

Leitor(a) 1 – A conquista do fim do financiamento de empresas em campanhas eleitorais no STF – Supremo

Tribunal Federal, foi uma conquista recente. Ela foi fruto da pressão realizada pela coleta de mais de 1

milhão de assinaturas físicas na iniciativa popular de lei da “Reforma Política e

Eleições Limpas”, em 2014, lançada durante o Momento Nacional da 5ª Semana

Social Brasileira. Ela tinha entre os quatro pilares fundamentais o fim do

financiamento de campanhas eleitorais por empresas.

Leitor(a) 2 – Na época em que as assinaturas coletadas foram entregues na

Câmara dos Deputados, apesar de a proposta de Iniciativa Popular de Lei da

“Reforma Política e Eleições Limpas” ter sido assumida por um grupo de

deputados federais de todos os partidos para acelerar sua tramitação, ela não

prosperou, pois o presidente da Câmara dos Deputados à época era o deputado

federal cassado e condenado, Eduardo Cunha. Ele ainda fez várias tentativas de derrubar por meio de outras

iniciativas legislativas a decisão do STF, mas não conseguiu. Aos olhos de muitos, parecia imbatível, mas a

vontade popular foi vitoriosa.

Leitor(a) 3 – Além da coleta das assinaturas, por várias semanas, pessoas de boa vontade, cristãos e cristãs

fizeram vigília cívica por semana na Praça dos Três Poderes, em Brasília/DF, para pressionar pela continuidade

da votação de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade – ADI nº 4.650, de iniciativa da OAB – Federal

(Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil). A votação dessa ADI nº 4.650, que ficou suspensa por

quase um ano e meio, por causa de um pedido de vistas, foi acolhida pelo Supremo Tribunal Federal em

setembro de 2015, e só teve a publicação da decisão em março de 2016. Como as vitórias populares são

custosas!

Leitor(a) 1 – A partir dessa data foi estabelecido o financiamento público para as campanhas eleitorais,

proporcional ao número de deputadas e deputados federais eleitos pelos partidos. E a peleja por uma justa

distribuição interna dos recursos públicos nos partidos para as candidaturas das mulheres (30%) e de outros

setores sub-representados no Congresso Nacional ainda prossegue, como é o caso dos negros e negras e dos

povos indígenas e das comunidades tradicionais.

Leitor(a) 2 – Todavia, em que pese a histórica vitória, os enfrentamentos ainda não terminaram. Ainda existem

muitas formas ilegais de repasse de recursos de empresas para financiar candidaturas, principalmente pelo

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patrocínio antecipado da projeção pública de pessoas que serão candidatas, inclusive artistas e

apresentadores de rádio ou de programas de TV; famosos por programas de “reality shows”, jogadores e

atletas, com supostos anúncios de comerciais de produtos ou serviços. Você pode fazer sua lista.

Leitor(a) 3 – Desafio maior atualmente representam as campanhas realizadas de forma oculta por meio das

redes sociais, quando se utilizam “cálculos complexos” (chamados de algoritmos) que são usados para ofertas

de produtos e também as candidaturas se tornam uma espécie de “produto” que é vendido caro no mercado

eleitoral. Assim como comprar, vender o voto também é considerado infração eleitoral.

Leitor(a) 1 – Por meio de programas que captam interesses e desejos das pessoas, são modeladas propostas

que possam ser “compradas” por meio da mobilização da emoção das pessoas que utilizam as redes sociais e

que as faz se engajar de forma vibrante em determinadas causas, muitas vezes “causas furadas”. O nome do

maior empresário desse tipo de “negócio” é conhecido como Steve Bannon, e foi preso recentemente nos

Estados Unidos por crimes cometidos naquele país. A sua atuação é mundial, inclusive contra o Papa Francisco.

Leitor(a) 2 – Assim como essas correntes com notícias que se utilizam de robôs para dar “aprovação” a

determinados influenciadores, também fazem campanhas que geram difamação (e até a demonização) de

pessoas, de partidos ou de causas, reforçando preconceitos e discriminações e atentando contra os Direitos

Humanos. Essas práticas disseminam ódio e intolerância entre pessoas da mesma família, comunidades,

religiões e nações.

Leitor(a) 3 – Toda essa engenharia de manipulação da emoção das pessoas é uma “indústria” nova e custa

muito caro, mas seu resultado é alarmante. Basta ver quantas pessoas desconhecidas foram eleitas deputadas

e deputados federais nas últimas eleições! Muitos analistas políticos apontam que são resultado de alto

investimento de recursos financeiros de empresas nacionais e internacionais de forma ilegal para elegerem

parlamentares. E estes políticos, aos quais não interessa a proteção da natureza, a segurança dos direitos dos

trabalhadores, os bens que são patrimônio público (de todo o povo), aprovam leis que flexibilizam as relações

trabalhistas e a proteção ambiental, a privatização de empresas públicas e de serviços públicos, ou seja, estão

a serviço de interesses diferentes da soberania nacional do Brasil.

4. VER – Fato da vida

Vamos recordar como o financiamento por empresários desse tipo de campanha influencia os resultados das eleições. A ação descrita levou o Facebook a cancelar 73 contas no dia 8 de julho; e a instalação de uma CPMI – Comissão Parlamentar Mista de Inquérito sobre as fake news no Congresso Nacional. Leia a reportagem4 abaixo, com adaptações para a redução de seu tamanho:

Ministro do STF determina quebra de sigilo de investigados e bloqueio de perfis na internet Operação é parte do inquérito das 'fake news'.

Por Rosanne D'Agostino, Fernanda Vivas e Márcio Falcão, G1 e TV Globo — Brasília, 27/05/2020 - 14h19 O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) determinou nesta quarta-feira (27) a quebra dos sigilos

fiscal e bancário de suspeitos de financiar grupos de disseminação de fake news e ataques a instituições nas redes sociais. São alvo dos pedidos de quebra de sigilo três empresários e um militar. As informações demandadas pelo STF se referem ao período entre julho de 2018 e abril de 2020.

(...) Nesta quarta, foi deflagrada operação da Polícia Federal para cumprir mandados judiciais contra empresários, blogueiros e parlamentares por suposta produção e disseminação de notícias falsas.

4 Leia a matéria completa em: https://g1.globo.com/politica/noticia/2020/05/27/moraes-determina-quebra-de-sigilo-de-investigados-e-bloqueio-de-perfis-na-internet.ghtml

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Na decisão, o ministro também determinou o bloqueio de contas em redes sociais, tais como Facebook, Twitter e Instagram dos 17 investigados. A assessoria do Twitter disse que a rede social não comentará a decisão. Facebook e Instagram informaram que não foram notificados.

A medida, diz o ministro, é necessária "para a interrupção dos discursos com conteúdo de ódio, subversão da ordem e incentivo à quebra da normalidade institucional e democrática".

O pedido também inclui a apreensão de computadores, tablets, celulares e outros dispositivos eletrônicos, bem como de quaisquer outros materiais relacionados à disseminação das aludidas mensagens ofensivas e ameaçadoras.

Ao autorizar as diligências, o ministro argumentou que (...) "em caráter de absoluta excepcionalidade, é possível o afastamento dos sigilos bancários e fiscais dos investigados, pois existentes fundados elementos de suspeita que se apoiem em indícios idôneos, reveladores de possível autoria de prática delituosa por parte daquele que sofre a investigação".

Para conversar:

• O que esse fato tem a ver com as Eleições Municipais?

• Qual é a relação deste acontecimento com o financiamento de campanha

por empresas, que é ilegal no Brasil? Ele poderá ter influenciado o

resultado das eleições gerais de 2018?

• Você conhece outros fatos que denunciam financiamento ilegal por

empresários a candidaturas em sua cidade, estado ou região?

5. DISCERNIR – O que nos diz a Palavra de Deus, revelada na Bíblia e no ensinamento da Igreja?

No Evangelho de Jesus segundo a Comunidade de Lucas (Lc 16,19-31) descreve o diálogo entre um homem

rico (sem nome, quem é?) e Abraão, após a morte dele e de um pobre (tem nome: Lázaro):

“Havia um homem rico, que se vestia com roupas finas e elegantes e dava festas esplêndidas todos os dias. Um pobre, chamado Lázaro, cheio de feridas, ficava sentado no chão junto à porta do rico. Queria matar a fome com as sobras que caíam da mesa do rico, mas, em vez disso, os cães vinham lamber suas feridas. Quando o pobre morreu, os anjos o levaram para junto de Abraão. Morreu também o rico e foi enterrado. Na região dos mortos, no meio dos tormentos, o rico levantou os olhos e viu de longe Abraão, com Lázaro ao seu lado. Então gritou: ‘Pai Abraão, tem compaixão de mim! Manda Lázaro molhar a ponta do dedo para me refrescar a língua, porque sofro muito nestas chamas’. Mas Abraão respondeu: ‘Filho, lembra-te de que durante a vida recebeste teus bens e Lázaro, por sua vez, seus males. Agora, porém, ele encontra aqui consolo e tu és atormentado. Além disso, há um grande abismo entre nós: por mais que alguém desejasse, não poderia passar daqui para junto de vós, e nem os daí poderiam atravessar até nós’. O rico insistiu: ‘Pai, eu te suplico, manda então Lázaro à casa de meu pai, porque eu tenho cinco irmãos. Que ele os avise, para que não venham também eles para este lugar de tormento’. Mas Abraão respondeu: ‘Eles têm Moisés e os Profetas! Que os escutem!’ O rico insistiu: ‘Não, Pai Abraão. Mas se alguém dentre os mortos for até eles, certamente vão se converter’. Abraão, porém, lhe disse: ‘Se não escutam a Moisés, nem aos Profetas, mesmo se alguém ressuscitar dos mortos, não acreditarão’”. Palavra da Salvação. T.: Glória a vós, Senhor!

O Papa Bento XVI na Sacramentum Caritatis (SCa) alerta que da Eucaristia, nasce a coragem profética:

“Não podemos ficar inativos perante certos processos de globalização que fazem crescer

desmesuradamente a distância entre ricos e pobres em âmbito mundial. Devemos denunciar quem

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dilapida as riquezas da terra. É impossível calar diante dos grandes campos de deslocados ou refugiados,

amontoados em condições precárias. O Senhor Jesus nos incita a tornarmo-nos atentos às situações de

indigência em que vive grande parte da humanidade. Pode se afirmar que bastaria menos da metade das

somas globalmente destinadas a armamentos, para tirar de modo estável, da indigência o exército

ilimitado dos pobres. Isso interpela a nossa consciência” (SCa, nº 90).

O Papa Francisco na Alegria do Evangelho (EG), coloca os cristãos leigos e leigas frente aos desafios:

“Peço a Deus que cresça o número de políticos capazes de entrar num autêntico diálogo que vise

efetivamente sanear as raízes profundas e não a aparência dos males do nosso mundo. A política, tão

difamada, é uma sublime vocação, é uma das formas mais preciosas da caridade porque busca o bem

comum. Temos de nos convencer que a caridade é o princípio não só das microrrelações (...), mas também

das macrorrelações como relacionamentos sociais, econômicos, políticos. Rezo ao Senhor para que nos

conceda mais políticos que tenham verdadeiramente a peito a sociedade, o povo e a vida dos pobres” (EG,

nº 205).

Na Carta ao Cardeal da Comissão para América Latina, sobre a “Indispensável presença dos fiéis leigos nos

espaços públicos da América Latina”, o Papa Francisco orienta:

“Os cristãos leigos que vivem sua fé cristã na vida pública necessitam ser reconhecidos. Muitas vezes os

pastores não conhecem plenamente “os recursos humanos e cristãos” que há em suas igrejas.

Estes cristãos leigos necessitam ser valorizados pelos pastores, o que implica convocá-los, escutá-

los, servir-se [no melhor dos sentidos] deles, da sua experiência e competência, incentivá-los nos seus

compromissos. Atualmente é necessário reabilitar a dignidade da política, dirigida para o bem comum e

não a dominada pela idolatria do poder e do dinheiro, manchada por altos níveis de corrupção em que os

interesses individuais e corporativos tendem a prevalecer. ...estas situações de degeneração não devem

afastar os cristãos da responsabilidade cidadã e até mesmo da ação política.

A Política é uma alta expressão da caridade quando tende para a realização do bem comum!”

Para conversar:

• O que nos ensina o diálogo de um homem rico e do pobre Lázaro com

Abraão, após a morte? O que este diálogo nos ensina sobre os poderosos e

a política?

• Por que se deve criar dificuldades para impedir que o dinheiro não

determine a política?

• Quais as orientações que brotam dessas leituras para nossa atuação

enquanto cristãos e cristãs nas eleições municipais desse ano, em relação

ao apoio e financiamento?

6. AGIR – O que vamos fazer para mudar essa realidade?

Seguem sugestões de ações concretas que poderão ser feitas:

1) Informar-se e organizar-se para ver como enfrentar a corrupção eleitoral (venda de votos, uso de dinheiro

de empresas em campanhas eleitorais, onde denunciar, uso da máquina pública).

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2) Observando as orientações que o Bispo Diocesano vai oferecer, outra possibilidade de ação concreta é

organizar um grupo de suporte de agentes das várias pastorais e movimentos das comunidades, ou de

uma paróquia ou região pastoral, para apoiar as candidaturas que tenham sua origem nas comunidades

e um programa coerente com a caminhada pastoral. O cuidado neste caso é não se utilizar de espaços

eclesiais como celebrações, catequese ou outras atividades para fazer propaganda eleitoral. Isso é vedado

pela legislação eleitoral. Todavia, as pessoas que decidirem apoiar podem ceder espaços de suas

residências para reuniões, conversas ou debates.

3) Analise o que fala e pensa a(o) candidata(o): se defender o uso de armas e a promoção de mais violência

para sanar o desafio da Segurança Pública, por exemplo, não vote nele ou nela. Isso é contra os valores do

Evangelho de Jesus Cristo que veio ‘para que todos tenham vida e em abundância’ (Jo 10,10). Armas

muitas vezes servem/são usadas para provocar mais violência e mortes.

7. REVER – Dicas para entender melhor sobre o assunto

ELEIÇÕES 2020 - Arrecadação de recursos de campanha eleitoral através de Financiamento Coletivo5 A partir do dia 15 de maio do ano eleitoral, é facultado aos pré-candidatos a arrecadação prévia de recursos de campanha na modalidade de Financiamento Coletivo, também conhecida como “Crowdfunding” ou “vaquinha eleitoral” (04-05-2020, às 17h55). A arrecadação de recursos na modalidade de financiamento coletivo apenas é possível por intermédio de entidades (pessoas jurídicas) que promovam técnicas e serviços de financiamento coletivo através de sítios na internet, aplicativos eletrônicos bem como outros recursos similares, desde que atendam aos requisitos listados no artigo 23, § 4º, IV, da Lei nº 9.504/97. Entretanto, a liberação dos recursos eventualmente arrecadados pelas entidades de financiamento coletivo para os pré-candidatos somente pode ocorrer após o requerimento do registro de candidatura, a inscrição no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) e a abertura de conta bancária específica destinada a registrar a movimentação financeira de campanha. Caso o pretenso candidato não se registre na Justiça Eleitoral, os valores arrecadados devem ser devolvidos aos doadores na forma e nas condições estabelecidas entre a entidade arrecadadora e o pré-candidato. As doações recebidas mediante financiamento coletivo devem ser identificadas pelo nome completo e o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas (CPF) de cada um dos doadores, o valor das quantias doadas individualmente, a forma de pagamento e as datas das doações. O valor das doações nessa modalidade deve ser limitado a R$ 1.064,10 (um mil e sessenta e quatro reais e dez centavos), excluindo-se o que define o artigo 21, § 1º da Resolução TSE nº 23.607/2019. A referida modalidade de arrecadação de recursos de campanha encontra-se disciplinada nos artigos 22 a 24 da Resolução TSE nº 23.607/2019

TSE-RESOLUÇÃO N°23 607/17-12-2019 - Art. 27. As doações realizadas por pessoas físicas são

limitadas a 10% (dez por cento) dos rendimentos brutos auferidos pelo doador no ano-calendário

anterior à eleição (Lei nº 9.504/1997, art. 23, § 11). § 1º - O candidato poderá usar recursos próprios em sua campanha até o total de 10% (dez por cento)

dos limites previstos para gastos de campanha no cargo em que concorrer (Lei nº 9.504/1997, art. 23,

§ 20-A).

§ 2º - É vedada a aplicação indireta de recursos próprios mediante a utilização de doação a interposta

pessoa, com a finalidade de burlar o limite de utilização de recursos próprios previstos no artigo 23, §

20-A, da Lei nº 9.504/2017.

5 http://www.tre-pe.jus.br/imprensa/noticias-tre-pe/2020/Maio/eleicoes-2020-arrecadacao-de-recursos-de-campanha-eleitoral-atraves-de-financiamento-coletivo-crowdfunding

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§ 3º - O limite previsto no caput não se aplica a doações estimáveis em dinheiro relativas à utilização

de bens móveis ou imóveis de propriedade do doador ou à prestação de serviços próprios, desde que

o valor estimado não ultrapasse R$ 40.000,00 (quarenta mil reais) (Lei nº 9.504/1997, art. 23, § 70).

8. COMPROMISSOS – Preparando o próximo encontro

Distribuir as tarefas do próximo encontro:

• Onde será nosso próximo encontro? Será um encontro presencial ou virtual?

• Quem vai animar a preparação?

• Quem serão os leitores e leitoras?

Quais as ações das indicações acima vamos colocar em prática pelo grupo?

O que vamos fazer?

Quando? Responsável ou

responsáveis?

Com quem? Como? Onde? Observações

9. CELEBRAR – Despedida e oração final (na contracapa detrás).

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COMO MANTER VIVA A ESPERANÇA NAS ELEIÇÕES MUNICIPAIS DE 2020 19

3º ENCONTRO

DISCURSO RELIGIOSO E POLÍTICA

Objetivo desse encontro: pretendemos abordar o perigo de uma utilização da política pela religião ou o

contrário: uso da religião para a política. Também aqui é preciso resgatar a saudável relação entre fé e

política, afastando a ideia de “bancada católica” ou de “bancada de cristãos” de nossos pensamentos e

colocando nossa participação a serviço do “Bem Comum” e do “Bem Viver”.

1. Organização do ambiente físico ou virtual

2. CELEBRAR – Acolhida e oração inicial (na contracapa da frente).

3. Introdução do tema

Leitor(a) 1 – Há mais de três décadas percebe-se um crescimento assustador do poder político de setores

que se identificam como religiosos, principalmente, de cristãos de identidade neopentecostal e

fundamentalistas, tanto católicos quanto evangélicos. Emergiram e ficaram

famosos com a propriedade de Redes de Rádios e TVs, num projeto de

tomada de poder para favorecimento de interesses proselitistas (fazer

crescer o número de seus seguidores), fazendo uma “leitura ao pé da letra

da Bíblia Sagrada” e impondo a visão de mundo a partir de suas crenças

religiosas e fanatismos para toda sociedade, que é plural e diversa.

Leitor(a) 2 – Os Neopentecostais cresceram vertiginosamente no campo

religioso brasileiro a partir da década de 80. Hoje, conforme os dados do

Censo de 2010, o conjunto dos Pentecostais chega a atingir mais de 50% da

população em algumas cidades. O número de adeptos é particularmente

alto no Rio de Janeiro6. Mas, para além do número de adeptos, através de

uma massiva programação nas televisões e nas rádios o que tem sido

logrado é uma grande transformação na cultura brasileira que parece substituir seu ethos7 (“jeito de ser e de

conviver”) católico por um ethos neopentecostal.

Leitor(a) 3 – Esta mudança também tem sido possível graças ao crescimento do Movimento Carismático

Católico, cuja cosmovisão é muito mais próxima do Neopentecostalismo Evangélico do que de outras

expressões católicas8. Expressões como “Só Jesus no comando”, “Deus está te dando um manto”, “Eu calcei

sapatos de fogo”, “Irmão vai soprar um vento na sua vida”, “Estou contigo neste decai”, “Deus vai amassar

vasos nesta noite”, “Dar Livramento”, etc., tornam-se comuns. Trata-se de uma nova visão de mundo que tem

em seu fundamento a Teologia do Domínio, também conhecida como Teologia da Batalha Espiritual da qual

deriva a Teologia da Prosperidade.

Leitor(a) 1 – A Teologia da Batalha Espiritual recupera nos dias de hoje, sem colocar em seu contexto, antigas

narrativas judaico-cristãs extrabíblicas. No núcleo fundamental do Neopentecostalismo está esta concepção

6 Veja-se: BINGEMER, M. e ANDRADE P. (orgs.). O Censo e as religiões no Brasil. Rio de Janeiro: ED Reflexão, 2014. 7 Ethos é o conjunto de traços e modos de comportamento que conformam o caráter ou a identidade de uma coletividade. Em Antropologia, é uma espécie de síntese dos costumes de um povo. 8 Veja-se: STEIL, C. Renovação Carismática Católica: porta de entrada ou de saída do Catolicismo? Uma etnografia do Grupo São José, em Porto Alegre (RS). Religião e Sociedade, v. 24, n. 1, 2004, p. 11-36.

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COMO MANTER VIVA A ESPERANÇA NAS ELEIÇÕES MUNICIPAIS DE 2020 20

de que, desde a Criação e a queda de Satanás, vivemos no Cosmo (na “Terra”) uma guerra, composta de muitas

batalhas tendo de um lado Deus e seus Anjos e do outro Satanás e seus Companheiros, os anjos decaídos, ou

seja, os demônios.

Leitor(a) 2 – Satanás, o inimigo de Deus e dos homens e mulheres, tem domínio sobre as nações, famílias,

pessoas e usa as chamadas brechas, isto é, atos de rebeldia à vontade de Deus feitos pelos homens e mulheres,

para ter poder sobre eles e dominá-los. A Guerra um dia será vencida por Deus e seus Anjos. Deus oferece aos

homens e mulheres a possibilidade de escapar do domínio do Demônio, caso estes tomem a decisão de se

colocar ao lado de Deus nesta Guerra aceitando a salvação trazida por Jesus.

Leitor(a) 3 – O modo de se colocar do lado de Deus é tornar-se seu sócio, renunciando a Satanás e entregando,

através da Igreja, seus bens a Deus9. É neste ponto que a Teologia da Prosperidade nasce como

desdobramento da Teologia do Domínio. Se através do dízimo dou parte dos meus ganhos a Deus, este se

torna meu sócio e tira o poder do Demônio de minha vida. Sem o demônio para me prejudicar, prospero na

vida. Meus negócios correm bem e tenho sucesso na vida profissional e afetiva, obtenho saúde, etc.

Leitor(a) 1 – Note-se que a noção de conversão é reduzida a aceitar Jesus e tornar-se sócio de Deus através

da contribuição financeira. A noção de pecado, em sentido católico, é de certo modo diminuída, pois os atos

contrários à vontade de Deus que cometo são fruto da influência do demônio que me domina. Deus ao retirar

este domínio faz com que os atos que pratico sejam bons. A noção de moralidade é ambígua/confusa, pode-

se mesmo cometer atos ilícitos/maus se estes forem colocados à serviço de Deus na Batalha Espiritual10.

Leitor(a) 2 – Assim, a política é instrumentalizada, ou seja, utilizada como parte das “armas” nesta guerra

espiritual para se obter “ganhos para Deus”, mesmo que se utilizem práticas contrárias à ética cristã e aos seus

valores; neste caso, utiliza-se o pior do pragmatismo/a pior prática na política: “os fins justificam os meios”. E

se organizam na “bancada da bíblia”, que não tem nenhuma dificuldade para se juntar à “bancada do boi”

(ruralistas e latifundiários) e à “bancada da bala” (políticos financiados pelas indústrias de armas de fogo) para

aprovar o fim dos direitos trabalhistas, como aconteceu com a reforma trabalhista (Lei nº 13.467/2017)

aprovada em abril de 2017, ou limites por 20 anos para novos investimentos em políticas públicas, como

aconteceu em dezembro de 2016, quando foi aprovada a “PEC11 da Morte”, transformando-se na EC nº

95/2016, para dar alguns tristes exemplos entre muitos. Estamos conseguindo entender como a religião está

sendo usada e manipulada, desviando-a do seu sentido profundo, para colocá-la a serviço dos interesses

econômicos de pessoas e grupos?

Leitor(a) 3 – Essa prática da “bancada da bíblia” nega, nessa forma de agir, a saudável relação que deve haver

entre fé e política. Por semelhança ao que foi aprovado no Concílio de Calcedônia (ano 451) sobre a natureza

de Jesus: “união sem confusão e separação sem divórcio”. Numa compreensão de que a fé pode ser muito útil

para alargar os horizontes éticos do exercício da política, e a política proporciona a promoção do bem comum,

quando se coloca a serviço da promoção dos Direitos Humanos, dos Direitos Sociais, Econômicos, Ambientais

e Culturais, reconhecendo e respeitando a pluralidade de opiniões e religiões (ou das pessoas que não

professam nenhuma fé ou religião), sem impor o conjunto de valores ou práticas a partir do cristianismo.

9 Para justificar esta posição nas Igrejas Neopentecostais são referidas de modo especial algumas citações bíblicas do Antigo e do Novo Testamento, tais como: Gn 3,15; Mt 4,1-11; 2Cor 10,3-5; Rm 13,12-14; Is 52,7-9, Is 59,17; Ef 4,15; Ef 6,13-18. 10 Estes seis parágrafos desta introdução foram textos adaptados do artigo de P. F. M. Andrade, com o título “Novos Paradigmas na Doutrina Social da Igreja e o Brasil de hoje”, divulgado no CEFEP, em 2019. 11 PEC = Proposta de Emenda Constitucional; EC = Emenda Constitucional depois de aprovada e sancionada.

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4. VER – Fatos da vida

Vocês já conheceram narrativas como estas que seguem:

Numa cidade do Brasil, após um candidato ao poder executivo ter providenciado com recursos públicos o asfaltamento do estacionamento da Igreja, em área de uso comum que foi cercada pela Igreja, uma das lideranças da paróquia pediu para que os coordenadores e coordenadoras das pastorais, serviços, equipes e grupos da paróquia votassem e apoiassem o candidato que asfaltou o estacionamento da Igreja. Você concorda com essa prática?

Em outra cidade, a pessoa que se candidatou sempre falava em Deus em suas aparições públicas, mas nos “bastidores da política”, estimulava a prática da violência, a perseguição aos adversários políticos, o uso de armas de fogo, espalhava o ódio, ou seja, práticas e valores contrários aos ensinamentos e virtudes cristãs, que estão consagradas na Doutrina ou Ensino Social da Igreja.

Vamos recordar como a prática da “bancada da bíblia” existe e atua no Congresso Nacional num tema como a autorização para a ampliação do uso de armas de fogo, o que deveria causar-nos rejeição quando dirigimos o pensamento ao mandamento “não matar”. Leia a reportagem abaixo12, com adaptações para redução de tamanho:

Bancada da Bíblia se divide sobre apoio a decreto de armas Afonso Benites, Brasília - 20 MAY 2019 - 12:00 BRT

A bancada da Bíblia está dividida. A frente parlamentar que reúne 195 deputados e oito senadores, foi um dos mais aguerridos grupos de apoio do Governo. Parte dela aprova o decreto presidencial nº 9.785/2019, que ampliou o rol de pessoas autorizadas a portar armas de fogo no Brasil. A outra, quer vê-lo revogado.

“Houve uma flexibilização muito grande do porte. Quanto maior essa flexibilização, sem critério, teremos mais homicídios. Além de que vários de seus tópicos ferem a Constituição”, afirmou Cavalcante ao EL PAÍS. Membro da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, apadrinhado pelo pastor Silas Malafaia, o deputado diz que é a favor da posse de armas, mas não do porte. “Esse decreto foi feito para atender parte do eleitorado do presidente. Votei e fiz campanha pra ele, mas não concordo com essa proposta”, ponderou.

Outro representante dos evangélicos, Ricardo Izar (PP-SP), apresentou um projeto de decreto legislativo para sustar o decreto presidencial. Justificou que a proposta é uma “clara manobra para contornar o Estatuto do Desarmamento”. Izar ainda alertou que o decreto “trará inseguridade emocional” e pode colaborar para o surgimento de grupos paramilitares. “Qual a possibilidade de garantir à população civil que, diante de um expressivo contingente de atiradores autorizados ela não se tornará vítima da imprudência e inconsequência de pessoas despreparadas emocionalmente e tecnicamente para portar e usar armas de fogo?”, questiona o parlamentar.

(...) Entidades especialistas em segurança pública, como o Instituto Sou da Paz, estimam que o número de pessoas que poderiam solicitar o porte de armas chegaria a pelo menos 19,1 milhões, quase 10% da população brasileira.

“Fico imaginando uma sessão da Câmara de Vereadores de Japeri [no interior do Rio], que reúne um grupo de aguerridos vereadores. Como terminaria uma acalorada sessão de debates lá?”, ironizou Cavalcante. A preocupação dele com as taxas de homicídios faz sentido. A cada hora, cinco pessoas são mortas por armas de fogo no Brasil. De acordo com dados do Datasus, em 2017, último dado disponível, 49.708 mortes ocorreram após disparos de armas de fogo.

Outros dois membros da bancada da Bíblia pensam de maneira diferente, entretanto. “Como governista concordo com tudo o que o presidente assina. Essa foi mais uma promessa de campanha que ele cumpriu. Pelo menos não está cometendo estelionato eleitoral”, afirmou o deputado Marco Feliciano (PODE-

12 Leia a matéria completa em: https://brasil.elpais.com/brasil/2019/05/15/politica/1557873968_114557.html

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COMO MANTER VIVA A ESPERANÇA NAS ELEIÇÕES MUNICIPAIS DE 2020 22

SP). Para ele, os que são contrários à medida costumam se posicionar contra tudo o que Bolsonaro propõe. (...)

Já o presidente da frente parlamentar evangélica, Silas Câmara (PRB-AM), afirma que cada deputado expressa sua opinião individualmente, que o grupo não deve se manifestar enquanto um colegiado e que essa questão deveria caber a cada partido. “Esse tema é mais partidário do que nossa frente”. Ele não quis emitir opinião relacionada ao decreto para não parecer que ela seria uma manifestação da bancada da Bíblia. Disse apenas que o momento não era o mais apropriado para apresentar a mudança. (...)

Para conversar:

• O que esse fato tem a ver com as Eleições Municipais?

• Qual é a relação destes acontecimentos com a utilização da fé para a

política ou o uso da política pela fé?

• Você conhece outros fatos que denunciam a manipulação da fé pela

política ou o uso da política para beneficiar igrejas ou para perseguir

religiões?

• As pessoas cristãs quando se elegem devem formar “bancadas católicas”

ou devem colocar seu poder a serviço do bem comum e do bem viver,

junto com outros políticos?

5. DISCERNIR – O que nos diz a Palavra de Deus?

Na Carta ao Povo de Deus, que 152 bispos católicos divulgaram no dia de Santa Maria Madalena, 22 de julho de 2020, há um parágrafo que afirma:

“Até a religião é utilizada para manipular sentimentos e crenças, provocar divisões, difundir o ódio, criar tensões entre igrejas e seus líderes. Ressalte-se o quanto é perniciosa toda associação entre religião e

poder no Estado laico, especialmente a associação entre grupos religiosos fundamentalistas e a manutenção do poder autoritário. Como não ficarmos indignados diante do uso do nome de Deus e de sua

Santa Palavra, misturados a falas e posturas preconceituosas, que incitam ao ódio, ao invés de pregar o amor, para legitimar práticas que não condizem com o Reino de Deus e sua justiça?”

No Evangelho de Jesus segundo a comunidade de Marcos 10,35-45, Jesus aponta para o modo de exercer o poder na perspectiva do Reino de Deus – exercê-lo como serviço:

Tiago e João, filhos de Zebedeu, aproximaram-se de Jesus e lhe disseram: “Mestre, queremos que faças por nós o que te vamos pedir”. Ele perguntou: “Que quereis que eu vos faça?” Responderam: “Permite que nos sentemos, na tua glória, um à tua direita e o outro à tua esquerda!” Jesus lhes disse: “Não sabeis o que estais pedindo. Podeis beber o cálice que eu vou beber? Ou ser batizados com o batismo com que eu vou ser batizado?” Responderam: “Podemos”. Jesus então lhes disse: “Sim, do cálice que eu vou beber, bebereis, com o batismo com que eu vou ser batizado, sereis batizados. Mas o sentar-se à minha direita ou à minha esquerda não depende de mim; é para aqueles para quem foi preparado”. Quando os outros dez ouviram isso, ficaram zangados com Tiago e João. Jesus então os chamou e disse: “Sabeis que os que são considerados chefes das nações as dominam, e os seus grandes fazem sentir seu poder. Entre vós não deve ser assim. Quem quiser ser o maior entre vós seja aquele que vos serve, e quem quiser ser o primeiro entre vós seja o escravo de todos. Pois o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate por muitos”. Palavra da Salvação. T.: Glória a vós, Senhor!

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Ainda no Evangelho de Jesus segundo a comunidade de Marcos 12,13-17, alguns fariseus e submissos ao poder do Império Romano tentam incriminar Jesus com uma pergunta que é uma armadilha: a quem servir?

Então, mandaram alguns fariseus e partidários de Herodes, para apanhar Jesus em alguma palavra. Logo que chegaram, disseram-lhe: “Mestre, sabemos que és verdadeiro e não te deixas influenciar por ninguém. Tu não olhas a aparência das pessoas, mas ensinas segundo a verdade o caminho de Deus. Dize-nos: é permitido ou não pagar imposto a César? Devemos dá-lo ou não?” Ele percebeu-lhes o fingimento e respondeu: “Por que me armais uma armadilha? Trazei-me a moeda do imposto para eu ver”. Trouxeram-lhe uma moeda. Ele perguntou: “De quem é esta figura e a inscrição?”. Responderam: “De César”. Então, Jesus disse: “Devolvei, pois, a César o que é de César e a Deus, o que é de Deus”. E estavam extremamente admirados a respeito dele. Palavra da Salvação. T.: Glória a vós, Senhor!

Em Mateus 25,31-45, Jesus apresenta como se expressa a adesão ao projeto do Reino de Deus, por meio do amor concreto.

“Quando o Filho do Homem vier em sua glória, acompanhado de todos os anjos, ele se assentará em seu trono glorioso. Todas as nações da terra serão reunidas diante dele, e ele separará uns dos outros, assim como o pastor separa as ovelhas dos cabritos. E colocará as ovelhas à sua direita e os cabritos, à sua esquerda. Então o Rei dirá aos que estiverem à sua direita: ‘Vinde, benditos de meu Pai! Recebei em herança o Reino que meu Pai vos preparou desde a criação do mundo! Pois eu estava com fome, e me destes de comer; estava com sede, e me destes de beber; eu era forasteiro, e me recebestes em casa; estava nu e me vestistes; doente, e cuidastes de mim; na prisão, e fostes visitar-me’. Então os justos lhe perguntarão: ‘Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer? Com sede, e te demos de beber? Quando foi que te vimos como forasteiro, e te recebemos em casa, sem roupa, e te vestimos? Quando foi que te vimos doente ou preso, e fomos te visitar?’. Então o Rei lhes responderá: ‘Em verdade, vos digo: todas as vezes que fizestes isso a um destes mais pequenos, que são meus irmãos, foi a mim que o fizestes!’. Depois, o Rei dirá aos que estiverem à sua esquerda: ‘Afastai-vos de mim, malditos! Ide para o fogo eterno, preparado para o diabo e para os seus anjos. Pois eu estava com fome, e não me destes de comer; com sede, e não me destes de beber; eu era forasteiro, e não me recebestes em casa; nu, e não me vestistes; doente e na prisão, e não fostes visitar-me’. E estes responderão: ‘Senhor, quando foi que te vimos com fome ou com sede, forasteiro ou nu, doente ou preso, e não te servimos?’ Então, o Rei lhes responderá: ‘Em verdade, vos digo, todas as vezes que não fizestes isso a um desses mais pequenos, foi a mim que o deixastes de fazer!’. E estes irão para o castigo eterno, enquanto os justos irão para a vida eterna”. Palavra da Salvação. T.: Glória a vós, Senhor!

Para conversar:

• O que o trecho da Carta ao Povo de Deus nos alerta acerca do mau uso do

nome de Deus e de símbolos ou valores religiosos por políticos

inescrupulosos?

• O que nos ensinam esses trechos do Evangelho acerca do jeito que Jesus

propõe o exercício do poder?

• A serviço de que rojeto de sociedade é preciso que estejam nossas

comunidades, pastorais, serviços e movimentos?

• Quais orientações que brotam dessas leituras para nossa atuação enquanto

cristãos e cristãs nas eleições municipais desse ano, na relação entre fé e

política?

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6. AGIR – O que vamos fazer para mudar essa realidade?

Seguem sugestões de ações concretas que poderão ser feitas:

1. Não votar em candidaturas a Prefeitura ou à Câmara Municipal apoiadas por partidos ou por deputados

ou deputadas federais e senadores ou senadoras que votaram contra os Direitos Trabalhistas e contra a

garantia de recursos para políticas públicas que houve pronunciamentos da CNBB e de outras Pastorais

Sociais e Organismos em matérias sobre: EC nº 95/2016 – que congelou por 20 anos novos investimentos

de recursos em políticas públicas, mas não estabeleceu nenhum limite para o pagamento dos juros e da

rolagem da Dívida Pública. Reforma Trabalhista – Lei nº 13.467/2017 – que flexibilizou e retirou direitos

trabalhistas conquistados há mais de 70 anos atrás com a CLT – Consolidação das Leis Trabalhistas.

2. A tarefa aqui é fazer um levantamento dos parlamentares do seu estado e com influência nos municípios

e denunciar com base em consultas nos portais da Câmara dos Deputados e do Senado Federal sobre

aqueles e aquelas que votaram favoráveis a estas medidas apesar de terem sido alertados por meio de

notas públicas da CNBB e/ou das Pastorais Sociais e Organismos Eclesiais. A ideia é divulgar seus nomes e

partidos para ficarem cientes que o eleitorado está sabendo como eles votam em Brasília/DF.

3. Alertar sobre a manipulação da fé e da religião quando perceberem candidaturas que se utilizam muito

do “nome de Deus” em vão, apresentando propostas contrárias à defesa e promoção da vida em todas as

suas etapas: que incitem violências contra as mulheres, domésticas ou de gênero; que promovam

preconceitos e discriminações contra afrodescendentes, estrangeiros, comunidade LGBTQI+; que

reduzam direitos sociais e trabalhistas, que aplaudem o uso de armas de fogo como forma de resolver o

problema da violência urbanas ou do narcotráfico, a transformação de políticas públicas e do serviço

público em negócios, por meio de privatizações; que apontem o trabalho infantil como solução para

educação de crianças e adolescentes em conflito com a lei. Informar a população sobre candidatos com

esse tipo de posturas. Isso ajuda a criar a boa e correta consciência política.

4. Não compartilhar matérias e divulgações nas redes sociais sobre candidaturas sem verificar a seriedade

da fonte das informações ou se apresenta data ou fonte confiável.

5. Promover um Seminário ou Grupo de Estudo para fazer uma escuta ou consulta sobre as necessidades de

políticas públicas para o bairro ou localidade onde se vive, utilizando-se os recursos das Tecnologias da

Informação e Comunicação, se houver o isolamento físico recomendado para não propagar a pandemia e

fazer uma plataforma de propostas que possam ser apresentadas às candidaturas no município em

conversas públicas.

6. Questionar candidatos e candidatas sobre quais são suas propostas e perguntar o que vão defender em

relação aos direitos humanos, aos direitos trabalhistas, aos mais empobrecidos na sociedade; sobre o

papel das mulheres na política; sobre como pretendem exercer o poder se forem eleitos, ou seja, quais

são as propostas e o programa político que ele ou ela defendem; e se o que foi dito atende aos anseios da

comunidade e da coletividade onde você está inserido.

7. REVER – Dicas para entender melhor sobre o assunto

Para saber como votaram os partidos e parlamentares em temas decisivos para garantia dos Direitos dos Trabalhadores e Trabalhadoras, acesse o Mapa das Votações, material elaborado pelo DIAP – Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar, no link abaixo: https://www.diap.org.br/index.php/publicacoes/send/55-mapa-de-votacoes-camara-dos-deputados-e-senado-federal-2015-a-2019-55-legislatura/931-mapa-de-votacoes-camara-dos-deputados-e-senado-federal-2015-a-2019-55-legislatura Encontre o resultado de cada votação:

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= Na página 20 (Câmara dos Deputados) e 96 (Senado Federal) – EC nº 95/2016 – que congelou por 20 anos novos investimentos de recursos em Políticas Públicas, mas não estabeleceu nenhum limite para pagamento dos juros e da rolagem da Dívida Pública. = Nas páginas 40, 42 e 44 (Câmara dos Deputados) e 98 e 100 (Senado Federal) Reforma Trabalhista – abril de 2017.

8. COMPROMISSOS – Preparando o próximo encontro

Distribuir as tarefas do próximo encontro:

• Onde será nosso próximo encontro? Será um encontro presencial ou virtual?

• Quem vai animar a preparação?

• Quem serão os leitores e leitoras?

Quais as ações indicadas acima vamos colocar em prática pelo grupo?

O que vamos fazer?

Quando? Responsável ou

responsáveis?

Com quem? Como? Onde? Observações

9. CELEBRAR – Despedida e oração final (na contracapa detrás).

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4º ENCONTRO

LEITURA CRÍTICA DAS NOTÍCIAS NOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO TRADICIONAIS E NAS REDES SOCIAIS

Objetivo desse encontro: nunca foi tão importante perceber a manipulação que se faz por meio de fake news

e da chamada pós-verdade, percebendo o uso que se faz e como não ser um “cavalo de Tróia”, compartilhando

essas notícias falsas sem saber. Mais que isso, vamos oferecer canais onde você possa checar.

1. Organização do ambiente físico ou virtual

2. CELEBRAR – Acolhida e oração inicial (na contracapa da frente)

3. Introdução ao tema13

Leitor(a) 1 – Os meios de comunicação – jornais, revistas, rádios, TVs, blogs ou redes sociais via internet –

cumprem um papel fundamental na democracia. De um lado, porque fiscalizam os agentes públicos e

empresários, e, de outro, porque fazem a mediação entre sociedade e

governo, além de promoverem o entretenimento. O ideal é que esse serviço

de utilidade pública seja prestado com isenção e equilíbrio.

Leitor(a) 2 – Entretanto, por escassez de tempo ou para tornar a notícia mais

atraente, quase sempre os veículos de comunicação tratam apenas de uma

parte do problema ou fazem um recorte que favoreça o ponto de vista ou

interesse de quem escreve, do editor, da direção ou do proprietário do veículo

de comunicação. No caso das redes sociais, o problema não é de tempo nem

de edição. Nesse caso, infelizmente, esses instrumentos têm sido mais

utilizados para arruinar reputações, difamar, caluniar, em campanhas sem compromisso com a solução de

demandas, com a identificação de problemas, ou para propor soluções para os problemas.

Leitor(a) 3 – Nesta perspectiva, não existe imprensa ou veículo imparcial, até porque é papel dos meios de

comunicação oferecer contraponto e/ou informações públicas qualificadas que revelem atos de governantes

ou de políticos em prejuízo da sociedade. E a relação de contrapoder, nessa situação, é fundamental. A

intencionalidade torna-se determinante para denunciar ou alterar uma situação irregular, condenável ou

injusta socialmente, quando praticada por um representante do povo. Assim, em regra, os temas são

mostrados sob determinada ótica, uma vez que é ela quem orienta a escolha das fontes que o jornalista deseja

ouvir.

Leitor(a) 1 – A cobertura da mídia, de um modo geral, prioriza a crítica, a notícia negativa ou a polêmica. Entre

veicular uma notícia positiva que não empolgue ou denunciar um escândalo, a segunda opção é priorizada.

Nas redes sociais, então, a prioridade, lamentavelmente, tem sido a desqualificação dos adversários. A

imprensa, muitas vezes a serviço de interesses privados ou comerciais, e as redes sociais, também em muitas

ocasiões a serviço de interesses ocultos e até criminosos, influenciam na divulgação da realidade e dos fatos

ao selecionar suas fontes oficiais e institucionais e, principalmente, pelo modo de abordagem dos fatos que

consideram relevantes.

13 Introdução baseada no Caderno do DIAP “Eleições Municipais 2020 – orientações a eleitores e a candidatos”, p. 22 a 24, disponível em: https://www.diap.org.br/index.php/publicacoes/category/67-eleicoes-municipais-2020-orientacao-a-eleitores-e-candidatos

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Leitor(a) 2 – Ao promover o recorte que lhes interessa, os meios de comunicação e as redes sociais participam

da construção de uma narrativa sobre a realidade e fazem com que a sociedade acolha como suas as

prioridades e os interesses que, de forma oculta, esses meios defendem.

Leitor(a) 3 – Segundo Cohen14, historiador estadunidense, a mídia (e mais recentemente as redes sociais),

influencia a estruturação do pensamento e organiza os fatos de um modo tal que, em lugar de estimular as

pessoas a refletir, conduzem-nas sobre o que pensar, prejudicando, assim, a possibilidade de formarem de

maneira autônoma suas vontades. Como as pessoas agem pelo que leem ou escutam, principalmente nas

rádios, nas televisões ou nas redes sociais, a forma de organização e divulgação das notícias muitas vezes deixa

de mostrar o que realmente acontece, escondendo a realidade ou “produzindo” uma realidade que

frequentemente só existe na mídia. É o que se chama de “narrativa sobre a realidade”, ou então divulgam

uma “versão do fato” e não o “fato em si”.

Leitor(a) 1 – O mundo político comumente é abordado pelos jornalistas e, mais recentemente, pelas redes

sociais. Portanto, ao ler ou escutar uma notícia ou informação, especialmente quando se trata de escândalo

ou da espetacularização de fatos da realidade, todo cuidado é pouco. Deve-se sempre checar a fonte e verificar

se é mesmo notícia ou uma fake news (“falsa notícia”, ao pé da letra). No caso específico de escândalos, a

imprensa seleciona e enaltece uma parte mais importante do fato, tornando-a relevante muitas vezes com o

puro objetivo de gerar polêmica e alimentar o noticiário.

Leitor(a) 2 – Na opinião de Malena Rodrigues, no livro “Imprensa e Congresso ou Como a mídia pauta a

política”15, a mídia exerce uma ação política porque é a publicizadora, a construtora da realidade e a indutora

da memória coletiva, atingindo ou invadindo o imaginário popular. Registra-se que os veículos de

comunicação, antes de qualquer coisa, são empresas, e como tal buscam formas de maximizar os seus ganhos.

Como diz o filósofo Roberto Romano, em “Fim da Política do Estado e da cidadania?”, de 2014, “A mídia,

quando se acumplicia aos interesses financeiros globais, administra campanha de terror contra os povos e

dirigentes que não obedecem aos ditames de empresas”.

Leitor(a) 3 – Como se sabe, os veículos de comunicação, no Brasil, são parte de grandes grupos empresariais,

cujos proprietários ou acionistas possuem negócios em quase todos os setores da atividade econômica, alguns

dos quais regulados pelo governo. Se, com a mídia comercial, deve-se ter cuidado, este deve ser redobrado

com informações recebidas pelas redes sociais, ambiente cheio de mercenários e até de robôs direcionando

informações para reforçar a discórdia, os preconceitos e o ódio em relação aos adversários políticos.

Leitor(a) 1 – Para combater esse mal, a formação política e cidadã é a condição necessária para atuar nesse

mundo de confusão e desinformação proposital. Com cidadãos conscientes, a corrupção e a manipulação não

têm vez ou pelo menos diminuem em níveis significativos.

4. VER – Fato da vida

Confiram o fato abaixo, descrito pela jornalista Patrícia Campos Mello, na introdução do Livro “A Máquina do Ódio: notas de uma repórter sobre fake news e violência digital”, publicado pela Companhia das Letras, com adaptações para reduzir o texto de tamanho: Vocês já conheceram narrativas como estas abaixo:

14 COHEN, Bernard C. The Press and Foreign Policy. Princeton: Princeton University Press, 1963. 288 p. 15 RODRIGUES, Malena R. Imprensa e Congresso ou Como a mídia pauta a Política. Brasília: Centro de Documentação e Informação – CEDI, 2002.

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Como as redes sociais me transformaram em uma “jornalistinha” comunista

Patrícia Campos Mello, Introdução (p. 6 e 7 do livro “A Máquina do Ódio”)

Num dia de fevereiro de 2019, o Manuel entrou no meu quarto e falou: – Mamãe, tem um vídeo na internet de um cara te xingando. Posso assistir com você? Meu filho tinha acabado de completar sete anos. Eu havia deixado que ele criasse um canal no

YouTube para gravar vídeos enquanto jogasse videogame. Era privado, ninguém podia acessar. Mas para entrar era preciso escrever meu nome – e a primeira coisa que aparecia no Google quando ele digitava Patrícia Campos Mello era o tal vídeo, com uma foto minha ao lado de uma outra do então candidato a deputado federal AF, e a legenda: VAGABUNDA SEM-VERGONHA. DESCLASSIFICADA.

Assistimos juntos ao filme de oito minutos. Desclassificada, sem-vergonha, mentirosa, petista — esses eram alguns dos termos que o candidato

usava para me descrever, mostrando fotos minhas. Tentei explicar: – Fiz umas reportagens no ano passado, tem gente que gostou, tem gente que não gostou. Esse cara

aí do vídeo não gostou, por isso está xingando a mamãe. O Manuel não sossegou. – Mas, mãe, ele está te chamando de sem-vergonha. Isso é muito grave. Pensei, pensei, e a única coisa que me veio à cabeça foi uma justificativa bem pueril. – Filho, esse cara aí fazia filme pelado. A mamãe nunca fez filme pelada. Quem você acha que é sem-

vergonha? Cheguei a achar a história divertida, até me ocorrer que qualquer um que buscasse meu nome no

Google ia se deparar, logo de cara, com aquele vídeo. (...)

Para conversar:

• O que esse fato tem a ver com as Eleições Municipais?

• Você conhece outras pessoas ou candidaturas que foram prejudicadas com

abordagens na mídia ou nas redes sociais como estas que foram descritas?

• Você acredita em tudo o que as TVs, jornais, revistas e as redes sociais

apresentam?

• E você lê toda reportagem, ouve todo o podcast ou assiste o vídeo

completamente e checa a data e as fontes antes de compartilhar qualquer

notícia ou reportagem pelas redes sociais?

5. DISCERNIR – O que nos diz a Palavra de Deus?

A divulgação de mentiras, é algo que não é de hoje! Afirma o provérbio popular: “Uma mentira contada mil vezes se torna verdade”. Veja essa passagem do Evangelho sobre a ressureição de Jesus Cristo, em Mateus 28,8-15:

Nisso, o próprio Jesus veio-lhes ao encontro e disse: “Alegrai-vos!” Elas se aproximaram e abraçaram

seus pés, em adoração. Jesus lhes disse: “Não tenhais medo; ide anunciar a meus irmãos que vão para

a Galileia. Lá me verão”. Quando foram embora, alguns da guarda entraram na cidade e comunicaram

aos sumos sacerdotes o que tinha acontecido. Reunidos com os anciãos, deliberaram dar bastante

dinheiro aos soldados; e instruíram-nos: “Contai o seguinte: ‘Durante a noite vieram os discípulos dele

e o roubaram, enquanto estávamos dormindo’. E se isso chegar aos ouvidos do governador, nós o

tranquilizaremos, para que não vos castigue”. Eles aceitaram o dinheiro e fizeram como lhes fora

instruído. E essa versão ficou divulgada entre os judeus, até os dias de hoje. Palavra da Salvação. T.:

Glória a vós, Senhor!

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Na Exortação Apostólica Alegria do Evangelho (EG), escrita pelo Papa Francisco em 2013, nos números 99 a 101, aborda-se as situações de divisões e do ódio, orientando qual é a atitude mais adequada a se tomar nesses casos:

O mundo está dilacerado pelas guerras e a violência, ou ferido por um generalizado individualismo

que divide os seres humanos e põe-nos uns contra os outros visando o próprio bem-estar. Em vários

países, ressurgem conflitos e antigas divisões que se pensavam em parte superados. Aos cristãos de

todas as comunidades do mundo, quero pedir-lhes de modo especial um testemunho de comunhão

fraterna, que se torne fascinante e resplandecente. Que todos possam admirar como vos preocupais

uns pelos outros, como mutuamente vos encorajais, animais e ajudais: “Por isto é que todos

conhecerão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros” (Jo 13,35). Foi o que Jesus,

com uma intensa oração, pediu ao Pai: “Que todos sejam um só (…) em nós [para que] o mundo

creia” (Jo 17,21). Cuidado com a tentação da inveja! Estamos no mesmo barco e vamos para o

mesmo porto! Peçamos a graça de nos alegrarmos com os frutos alheios, que são de todos. (EG 99).

Para quantos estão feridos por antigas divisões, resulta difícil aceitar que os exortemos ao perdão e à

reconciliação, porque pensam que ignoramos a sua dor ou pretendemos fazer-lhes perder a memória

e os ideais. Mas, se virem o testemunho de comunidades autenticamente fraternas e reconciliadas,

isso é sempre uma luz que atrai. Por isso me dói muito comprovar como nalgumas comunidades

cristãs, e mesmo entre pessoas consagradas, se dá espaço a várias formas de ódio, divisão, calúnia,

difamação, vingança, ciúme, a desejos de impor as próprias ideias a todo o custo, e até perseguições

que parecem uma implacável caça às bruxas. Quem queremos evangelizar com estes

comportamentos? (EG 100).

Peçamos ao Senhor que nos faça compreender a lei do amor. Que bom é termos esta lei! Como nos

faz bem, apesar de tudo amar-nos uns aos outros! Sim, apesar de tudo! A cada um de nós é dirigida a

exortação de Paulo: “Não te deixes vencer pelo mal, mas vence o mal com o bem” (Rm 12,21). E

ainda: “Não nos cansemos de fazer o bem” (Gl 6,9). Todos nós provamos simpatias e antipatias, e

talvez neste momento estejamos chateados com alguém. Pelo menos digamos ao Senhor: “Senhor,

estou chateado com este, com aquela. Peço-Vos por ele e por ela”. Rezar pela pessoa com quem

estamos irritados é um belo passo rumo ao amor, e é um ato de evangelização. Façamo-lo hoje

mesmo. Não deixemos que nos roubem o ideal do amor fraterno! (EG 101).

No trecho abaixo da Encíclica Laudato Si´ sobre o Cuidado com a Casa Comum, em 2015, o Papa Francisco alerta sobre a percepção distorcida que temos dos problemas locais, regionais e do próprio país pela influência que exercem:

Gostaria de assinalar que muitas vezes falta uma consciência clara dos problemas que afetam

particularmente os excluídos. Estes são a maioria do planeta, milhares de milhões de pessoas. Hoje

são mencionados nos debates políticos e econômicos internacionais, mas com frequência parece que

os seus problemas se coloquem como um apêndice, como uma questão que se acrescenta quase por

obrigação ou perifericamente, quando não são considerados meros danos colaterais. Com efeito, na

hora da implementação concreta, permanecem frequentemente no último lugar. Isto deve-se, em

parte, ao fato de que muitos profissionais, formadores de opinião, meios de comunicação e centros

de poder estão localizados longe deles, em áreas urbanas isoladas, sem ter contato direto com os

seus problemas. Vivem e refletem a partir da comodidade de um desenvolvimento e de uma qualidade

de vida que não está ao alcance da maioria da população mundial. Esta falta de contato físico e de

encontro, às vezes favorecida pela fragmentação das nossas cidades, ajuda a cauterizar a

consciência e a ignorar parte da realidade em análises tendenciosas. Isto, às vezes, coexiste com um

discurso “verde”. Mas, hoje, não podemos deixar de reconhecer que uma verdadeira abordagem

ecológica sempre se torna uma abordagem social, que deve integrar a justiça nos debates sobre o

meio ambiente, para ouvir tanto o clamor da terra como o clamor dos pobres. (LS 49).

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COMO MANTER VIVA A ESPERANÇA NAS ELEIÇÕES MUNICIPAIS DE 2020 30

Na Encíclica Caridade na Verdade, de 2009, o Papa Bento XVI lança luz sobre a necessidade da verdade para que a caridade seja a revelação do Deus da Vida em verdadeiro benefício dos povos. Infelizmente, vemos a maioria dos instrumentos da grande mídia adotar outra direção.

Pela sua estreita ligação com a verdade, a caridade pode ser reconhecida como expressão autêntica

de humanidade e como elemento de importância fundamental nas relações humanas, nomeadamente

de natureza pública. Só na verdade é que a caridade refulge e pode ser autenticamente vivida. A

verdade é luz que dá sentido e valor à caridade. Esta luz é simultaneamente a luz da razão e a da fé,

através das quais a inteligência chega à verdade natural e sobrenatural da caridade: identifica o seu

significado de doação, acolhimento e comunhão. Sem verdade, a caridade cai no sentimentalismo. O

amor torna-se um invólucro vazio, que se pode encher arbitrariamente. É o risco fatal do amor numa

cultura sem verdade; acaba prisioneiro das emoções e opiniões contingentes dos indivíduos, uma

palavra abusada e adulterada chegando a significar o oposto do que é realmente. (...) (CV 3).

Ligada ao desenvolvimento tecnológico está a crescente presença dos meios de comunicação social.

Já é quase impossível imaginar a existência da família humana sem eles. No bem e no mal, estão de

tal modo encarnados na vida do mundo, que parece verdadeiramente absurda a posição de quantos

defendem a sua neutralidade, (...) Muitas vezes tais perspectivas, que enfatizam a natureza

estritamente técnica dos meios de comunicação social, de fato favorecem a sua subordinação a

cálculos econômicos, ao intuito de dominar os mercados e, não último, ao desejo de impor modelos

culturais em função de projetos de poder ideológico e político. Dada a importância fundamental que

têm na determinação de alterações no modo de ler e conhecer a realidade e a própria pessoa humana,

torna-se necessária uma atenta reflexão sobre a sua influência principalmente na dimensão ético-

cultural da globalização e do desenvolvimento solidário dos povos.

(...) os mesmos podem tornar-se ocasião de humanização, não só quando, graças ao

desenvolvimento tecnológico, oferecem maiores possibilidades de comunicação e de informação,

mas também e sobretudo quando são organizados e orientados à luz de uma imagem da pessoa e do

bem comum que traduza os seus valores universais. Os meios de comunicação social não favorecem

a liberdade nem globalizam o desenvolvimento e a democracia para todos simplesmente porque

multiplicam as possibilidades de interligação e circulação das ideias; para alcançar tais objetivos, é

preciso que estejam centrados na promoção da dignidade das pessoas e dos povos, animados

expressamente pela caridade e colocados ao serviço da verdade, do bem e da fraternidade natural e

sobrenatural. (...) (CV 73).

Na Carta ao Povo de Deus, que 152 bispos católicos divulgaram no dia de Santa Maria Madalena, 22 de julho de 2020, há um parágrafo que afirma:

O sistema do atual governo não coloca no centro a pessoa humana e o bem de todos, mas a defesa

intransigente dos interesses de uma “economia que mata” (Alegria do Evangelho, 53), centrada no

mercado e no lucro a qualquer preço. Convivemos, assim, com a incapacidade e a incompetência do

Governo Federal, para coordenar suas ações, agravadas pelo fato de ele se colocar contra a ciência,

contra estados e municípios, contra poderes da República; por se aproximar do totalitarismo e utilizar

de expedientes condenáveis, como o apoio e o estímulo a atos contra a democracia, a flexibilização

das leis de trânsito e do uso de armas de fogo pela população, e o recurso à prática de suspeitas

ações de comunicação, como as notícias falsas, que mobilizam uma massa de seguidores radicais.

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Para conversar:

• O que nos ensina o trecho acima do Evangelho acerca da atitude dos sumos

sacerdotes em relação à boa notícia da ressureição de Jesus?

• A partir da Exortação “Alegria do Evangelho”, qual deve ser nossa atitude

diante da disseminação de tanta divisão e ódio?

• Por que os problemas dos mais pobres são tratados “como meros danos

colaterais” se eles são a “maioria do Planeta”?

• O que escondem os “discursos técnicos” por detrás dos Meios de

Comunicação Social, de acordo com a Encíclica “Caridade na Verdade”? O

que se torna a caridade sem a verdade?

• O que tem sido colocado pelo governo atual que é mais importante que a

dignidade da pessoa humana e do bem de todos, de acordo com a Carta ao

Povo de Deus, de 22 de julho?

6. AGIR – O que vamos fazer para mudar essa realidade?

1. Confira as notícias em portais de checagem para saber se são verdadeiras ou falsas. Segue a

indicação de alguns links que ajudam para isso:

https://coletivobereia.com.br/

https://piaui.folha.uol.com.br/lupa/

https://noticias.uol.com.br/confere/

https://www.boatos.org/

https://www.e-farsas.com/

2. Promova oficinas para desenvolver o senso crítico frente aos meios de comunicação social e redes

sociais, utilizando materiais, roteiros e ideias disponíveis na internet:

- https://www.cidadeescolaaprendiz.org.br/wp-content/uploads/2014/06/educomunicar_rede-

cep.pdf - Educomunicar: Comunicação, Educação e Participação para uma educação pública de

qualidade. Há várias ideias de oficinas que podem ser realizadas em escolas e comunidades.

- https://www.cidadeescolaaprendiz.org.br/wp-content/uploads/2014/06/mudando_sua_escola-

melhorando_o_mundo.pdf - Mudando sua Escola, Mudando sua Comunidade, Melhorando o

Mundo! Sistematização da Experiência em Educomunicação, que, a partir da p. 86, traz roteiros de

oficinas para serem desenvolvidas em escolas e comunidades.

3. Procure se informar em páginas confiáveis, sítios de boas informações e análises, tais como:

www.ihu.unisinos.br

https://midianinja.org/

www.brasil247.com

www.brasildefato.com.br

https://jornalistaslivres.org

www.fepolitica.org.br

http://www.periodistadigital.com

https://diplomatique.org.br

https://brasil.elpais.com/

http://www.cnlb.org.br/

www.cnbb.org.br

https://outraspalavras.net/

https://domtotal.com/

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7. REVER – Dicas para entender melhor sobre o assunto

A REPAM Brasil – Rede Eclesial Pan-Amazônica, lançou uma campanha em junho de 2020, com cards

(pequenos cartazes para internet) para contribuir na identificação das fake news. Que tal contribuir em sua

divulgação? Seja um ativista na denúncia das fake news, acesse a cartilha completa em:

https://issuu.com/repambrasil/docs/cartilha_-_fake_news - e veja abaixo, alguns dos cards:

8. COMPROMISSOS – Preparando o próximo encontro

Distribuir as tarefas do próximo encontro:

• Onde será nosso próximo encontro? Será um encontro presencial ou virtual?

• Quem vai animar a preparação?

• Quem serão os leitores e leitoras?

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Quais as ações das indicações acima vamos colocar em prática pelo grupo?

O que vamos fazer?

Quando? Responsável ou

responsáveis?

Com quem? Como? Onde? Observações

9. CELEBRAR – Despedida e oração final (na contracapa detrás).

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5º ENCONTRO

NOVAS EXPERIÊNCIAS NA POLÍTICA?

Objetivo desse encontro: Nesta parte final queremos anunciar boas notícias sobre novas práticas na política,

como forma de enfrentar a “criminalização da política” e valorizando novos e novas protagonistas: as

mulheres, as juventudes, indígenas e afrodescendentes; mas sempre “de olho” nas propostas que estão

defendendo.

1. Organização do ambiente físico ou virtual

2. CELEBRAR – Acolhida e oração inicial (na contracapa da frente)

3. Introdução do tema

Leitor(a) 1 – A ideia que geralmente é associada à política vem com uma carga negativa, lembrando quase

sempre: corrupção! Isso não é à toa. Há uma campanha permanente para

desqualificar a política e criminalizá-la, reduzindo o interesse da população em

geral pelo que acontece nas arenas de decisão do poder. Assim, ela se torna

uma prática cada vez mais elitizada, só podendo ser realizada por

profissionais. Todavia, as decisões que determinam a destinação dos recursos

públicos são tomadas no âmbito da política.

Leitor(a) 2 – Assim é muito importante que se acompanhe a atuação de

representantes eleitos e eleitas, pois eles e elas se constituem em “servidores

e servidoras do povo”, “empregados pagos pelo povo”, daí a necessidade de

transparência na gestão pública e nas votações para que os eleitores

conheçam quais foram as posições públicas tomadas pelos que tiveram a maioria dos votos populares. E

fiscalizem as promessas e os compromissos feitos na campanha e o que as(os) eleitas(os) de fato vão fazer,

como vão se comportar no exercício de seu mandato. Não são elas(es) que se elegem, é o povo que vota, que

tem o poder de decidir e eleger. Como usamos esse poder que temos?

Leitor(a) 3 – Como se abordou no início desse Caderno, a democracia representativa não é suficiente, e

atualmente encontra-se em uma crise muito grande, porque há a utilização de estratégias de marketing que

“vendem” uma imagem das candidaturas que não corresponde à realidade dos fatos. Foi o assunto tratado no

encontro anterior. As candidaturas são “embrulhadas num lindo pacote”, com cores que seduzem, mas são

verdadeiros “sepulcros caiados”.

Leitor(a) 1 – Isso acontece em detrimento/prejuízo de outras candidaturas que não dispõem de recursos

suficientes para se apresentarem a um grande número de eleitores, apesar de serem consistentes e terem

uma trajetória de vida de lutas e compromissos com as organizações da classe trabalhadora e junto aos mais

excluídos e excluídas da sociedade.

Leitor(a) 2 – Cresce no Brasil, principalmente após o assassinato, em março de 2014, da vereadora do Rio de

Janeiro, Marielle Franco, e do assessor que dirigia o veículo, Anderson Gomes, a experiência de mandatos

populares e de mandatos coletivos. Ela foi catequista em sua comunidade da periferia e era uma valente

defensora dos Direitos Humanos. Realizava um mandato que questionava as estruturas de poder, as diversas

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formas de violência e os assassinatos no Rio de Janeiro. E até hoje ressoa a pergunta não respondida: Quem

assassinou Marielle Franco? Quem mandou matar Marielle?

Leitor(a) 3 – Do que se trata essa experiência? Mandatos Populares são uma experiência mais antiga, e se

caracterizam pela dedicação das pessoas eleitas em contar com mecanismos de participação popular e social

permanente no exercício do mandato, havendo a construção coletiva do programa que vai ser defendido e

executado pela candidatura depois de eleita e formas periódicas de escuta e consulta dos movimentos

populares e sociais e das comunidades que o mandato representa na Câmara Municipal ou na Prefeitura.

Leitor(a) 1 – Há discussão coletiva da destinação dos recursos que poderão ser destinados pelo mandato,

realização de audiências públicas, de auditorias públicas, fiscalização e Comissões Parlamentares de Inquérito,

debates sobre o orçamento municipal, discussão de prioridades em termos de políticas públicas e de obras

públicas, bem como da instalação de unidades públicas de serviços, de acordo com critérios previamente

estabelecidos, de forma a alcançar a justiça social.

Leitor(a) 2 – Os Mandatos Coletivos ou Compartilhados são mais recentes, a maioria deles tem menos de

duas décadas de experiência. Uma pessoa é a legalmente registrada como “candidata”, com o acordo

pactuado com as demais pessoas do processo de tomada de decisões. Se caracterizam pela apresentação de

várias pessoas como “candidatas” ao cargo público pretendido que atuam de forma coletiva e que mobilizam

diferentes setores sociais que isoladamente não teriam condições de se eleger, mas de forma coletiva,

conseguem impactar a campanha eleitoral.

Leitor(a) 3 – Isso acontece porque são várias pessoas fazendo campanha para o mesmo projeto coletivo, com

forte atuação nas redes sociais para divulgação das propostas, e ao mesmo tempo, representando os setores

mais excluídos da sociedade: mulheres, juventudes negras da periferia, comunidade LGBTQI+, indígenas,

quilombolas, ribeirinhos, entre tantas identidades discriminadas e marginalizadas na sociedade.

4. VER – Fato da vida

Vejam abaixo a introdução ao capítulo quarto, às páginas 37 e 38 do livro “Mandatos Coletivos e Compartilhados: desafios e possibilidades para a representação legislativa no século XXI”, estudo elaborado em 2019 pela RAPS – Rede de Ação Política pela Sustentabilidade, com adaptações:

Candidaturas e Mandatos Coletivos e Compartilhados no Brasil

O Brasil tem sido um terreno fértil para a experimentação de inovações na democracia, em especial por meio de candidaturas coletivas e mandatos compartilhados. Como já mencionamos na introdução, muitas vezes essas iniciativas tomam outros nomes, como mandatos coletivos, colaborativos, cooperativos, participativos ou cidadanistas.

Em essência, todas essas denominações traduzem a definição aqui apresentada de compartilhamento do poder decisório e do exercício do poder legislativo entre o parlamentar eleito ou candidato e um grupo de pessoas. Por uma questão de padronização e de classificação, referimo-nos aqui a essas iniciativas como “mandatos coletivos ou compartilhados”, mesmo quando se referem ao período eleitoral.

4.1 Análise das candidaturas coletivas e compartilhadas No Brasil, entre os anos de 1994 e 2018, mapeamos 94 pessoas que experimentaram em suas

candidaturas as lógicas coletivas ou compartilhadas. Esses 94 candidatos e candidatas concorreram em 110 campanhas legislativas em todo o Brasil, em diferentes momentos. Tais candidaturas foram para os cargos de vereador, deputado estadual, deputado federal e senador, dispersas em 50 municípios16, 17 estados da

16 Alto Paraíso de Goiás, Araquari, Balneário Camboriú, Belo Horizonte, Biguaçu, Blumenau, Camboriú, Candói, Chapecó, Cuiabá, Curitiba, Dionísio, Divinópolis, Faxinal do Soturno, Fazenda Rio Grande, Florianópolis, Franco da Rocha, Governador Celso Ramos, Guarapuava, Guarulhos, Ibirama, Itajaí, Itaquaquecetuba, Joaçaba, Joinville, Limeira, Manaus, Marcelino Vieira, Mogi das Cruzes, Muriaé, Natal, Petrolina, Piracicaba, Poconé, Poços de Caldas, Pontal do Paraná,

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federação17, representando 22 partidos políticos distintos18. Juntos, atingiram mais de um milhão e duzentos mil votos válidos. Alguns desses políticos inovadores foram candidatos mais de uma vez em eleições diferentes, tanto em cargos semelhantes entre si quanto diferentes.

Além disso, destaca-se que 24 candidatos foram eleitos em 32 mandatos diferentes (contabilizando-se as reeleições), em oito estados diferentes. Com isso, é possível perceber que a iniciativa de compartilhamento legislativo, apesar de recente, apresenta significativa adoção no cenário político brasileiro, em especial nos últimos três anos.

Cabe ainda ressaltar que, embora as experiências de candidaturas e mandatos compartilhados e coletivos possam ser observadas há mais de 20 anos no país, sua grande expansão se deu após as eleições municipais de 2012 e as eleições gerais de 2014 (sete candidaturas e cinco mandatos), com grande destaque para o último biênio estudado, com 98 candidaturas e 22 mandatos. Na Figura 2, é possível observar a difusão desse tipo de candidatura ao longo do tempo e sua conversão em mandatos conquistados ao longo dos ciclos eleitorais.

Leiam a notícia abaixo acerca da distribuição igualitária de recursos para candidatos homens (brancos e negros) e candidatas mulheres (brancas e negras), publicada pela BBC Brasil com adaptações:

Partidos preparam reação contra reserva de recursos para candidatos negros

André Shalders - @andreshalders, da BBC News Brasil em Brasília, 25/09/2020

O assunto foi discutido em reuniões de dirigentes partidários e advogados eleitorais ao longo da penúltima semana de setembro. Ainda não se sabe se a decisão será tomada por meio de uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) ou por meio do Congresso Nacional.

De acordo com fontes ouvidas pela BBC News Brasil sob condição de anonimato, mais de uma dúzia de partidos está disposta a participar da iniciativa — da direita à esquerda.

Recife, Ribeirão Preto, Rio Claro, Rio de Janeiro, Salvador, Santa Gertrudes, São Carlos, São José, Sinop, Socorro, Tapira, Tatuí, Torres e Urussanga. 17 Amazonas, Bahia, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Tocantins. 18 AVANTE (PTdoB), MDB (PMDB), PCdoB, PDT, PHS, PMN, PPS, PR, PRB, PROS, PSB, PSC, PSD, PSDB, PSL, PSOL, PT, PTB, PTN, PV, REDE, SD.

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A regra da distribuição igualitária dos recursos foi criada pelos ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no fim de agosto, em resposta a uma consulta formulada pela deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ) e pelo Instituto Educafro.

Na decisão original do TSE, os partidos deveriam garantir a divisão proporcional dos recursos do Fundo Eleitoral e do Fundo Partidário, e também do tempo de TV, entre candidatos negros (pretos e pardos) e brancos — mas a regra só valeria para as eleições 2022.

Não se trata de cotas de candidatos, como já acontece com o percentual mínimo de 30% de mulheres, mas apenas de garantir a divisão proporcional dos recursos.

No entanto, no dia 10 de setembro, o ministro Ricardo Lewandowski decidiu de forma monocrática (individual) que a regra deverá valer já nas eleições municipais deste ano, o que gerou descontentamento entre os partidos.

Uma das propostas em discussão entre os partidos é aprovar no Congresso um projeto de decreto legislativo (PDL) para sustar a decisão de Lewandowski.

Os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) começarão a decidir nesta sexta-feira (25/9) se mantém ou não a decisão do ministro. A votação será em plenário virtual. Neste caso, não há discussão verbal do assunto e os ministros têm até sete dias para votar, sem necessidade de fazê-lo no mesmo dia.

Presidentes de vários partidos reclamaram da antecipação da regra para 2020 durante uma reunião com o presidente do TSE, ministro Luís Roberto Barroso, no dia 22 de setembro. Alguns dos dirigentes cobraram mais informações sobre como deveria ser feita a divisão de recursos.

Em resposta aos partidos, Ricardo Lewandowski apresentou esclarecimentos sobre como deve ser feita a divisão de recursos. Candidatos negros e brancos devem ser beneficiados igualmente dentro de cada gênero (homens e mulheres), e não de forma global. A medida visa a proteger as candidaturas femininas, evitando a concentração de recursos nos candidatos homens.

Tema divide chefes de partidos

A decisão de aplicar a reserva de recursos a candidatos negros já em 2020 divide os presidentes de partidos políticos consultados pela BBC News Brasil.

Presidente do Republicanos, o deputado federal Marcos Pereira (SP) diz que a legenda foi pega de surpresa pela decisão de Lewandowski. "Não dá tempo para organizar para essa (eleição)", disse ele à BBC News Brasil, por mensagem de texto. "Vai ser uma confusão se for para (aplicar) este ano", disse ele, que é também vice-presidente da Câmara dos Deputados.

Pereira diz que há também uma preocupação com fraudes — candidatos que se autodeclarem negros, mesmo sem ser. "Como controlar a eleição em mais 5,5 mil municípios?", questionou ele. (...)

Nas eleições de 2018, os negros (pretos e pardos) continuaram sub-representados em relação aos brancos em número de candidatos.

Cerca de 53% das pessoas que disputaram algum cargo eram brancas, embora este grupo represente apenas 44% da população brasileira. Enquanto isso, os negros, que são 55% dos brasileiros, somaram 46% dos candidatos.

Um estudo do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) também mostrou que os partidos políticos privilegiaram os candidatos brancos na hora de dividir os recursos.

Para conversar:

• O que esses fatos têm a ver com as Eleições Municipais?

• Você conhece experiências de Mandatos Populares ou Mandatos Coletivos

em sua cidade ou estado?

• Você conhece decisões políticas que favoreceram os excluídos e excluídas

da população?

• Por que as mulheres, as juventudes, os negros e as negras ainda são sub-

representados nos espaços de poder?

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5. DISCERNIR – O que nos diz a Palavra de Deus?

Leia e medite o livro do Êxodo 18,13-26 e reflita como o conselho de Jetro, sogro de Moisés, pode ser útil para

orientar a forma de exercer a política nos dias atuais:

No dia seguinte, Moisés sentou-se para julgar as questões do povo, e o povo ficou diante dele

desde a manhã até a tarde. Vendo tudo o que fazia pelo povo, o sogro de Moisés disse: “Que

estás fazendo com o povo? Por que apenas tu ficas aí sentado, com tanta gente parada diante

de ti desde a manhã até à tarde?” Moisés respondeu ao sogro: “É que o povo vem a mim para

consultar a Deus. Quando têm alguma questão, vêm a mim para que decida e lhes comunique

os decretos e as leis de Deus”.

Mas o sogro de Moisés disse-lhe: “Não está bem o que fazes. Acabarás esgotado, tu e este povo

que está contigo. É uma tarefa acima de tuas forças. Não poderás executá-la sozinho. Agora

escuta-me: vou dar-te um conselho, e que Deus esteja contigo. Tu deves representar o povo

diante de Deus e levar a Deus os problemas. Esclarece o povo a respeito dos decretos e das

leis, e dá-lhe a conhecer o caminho a seguir e o que devem fazer. Mas procura entre todo o povo

homens de valor, que temem a Deus, dignos de confiança e inimigos do suborno, e estabelece-

os como chefes de mil, de cem, de cinquenta e de dez. Eles julgarão o povo em casos cotidianos.

A ti levarão as questões de importância maior, decidindo eles mesmos as menores. Assim eles

repartirão contigo o peso e tu ficarás aliviado. Se assim procederes, serás capaz de manter-te

de pé quando Deus te der ordens, e o povo poderá chegar em segurança a seu destino”. Moisés

atendeu ao conselho do sogro e fez tudo o que ele disse. Escolheu entre todo o povo homens

de valor e colocou-os à frente do povo como chefes de mil, de cem, de cinquenta e de dez. Eles

julgavam o povo em casos cotidianos. Levavam a Moisés as questões mais graves, resolvendo

eles mesmos as menores. Palavra do Senhor. T.: Graças a Deus!

Na leitura do Evangelho segundo a comunidade de Marcos 6, 30-44, Jesus apresenta um caminho para a

construção da cidadania: Quais são os passos que são orientados para o caminho da superação da fome do

povo?

Os apóstolos se reuniram junto de Jesus e lhe contaram tudo o que tinham feito e ensinado. Ele

disse-lhes: “Vinde, a sós, para um lugar deserto, e descansai um pouco”! Havia, de fato, tanta

gente chegando e saindo, que não tinham nem tempo para comer. Foram, então, de barco, para

um lugar deserto, a sós. Muitos os viram partir e perceberam a intenção; saíram então de todas

as cidades e, a pé, correram à frente e chegaram lá antes deles. Ao sair do barco, Jesus viu uma

grande multidão e encheu-se de compaixão por eles, porque eram como ovelhas que não têm

pastor. E começou, então, a ensinar-lhes muitas coisas. Já estava ficando tarde, quando os

discípulos se aproximaram de Jesus e disseram: “Este lugar é deserto e já é tarde. Despede-os,

para que possam ir aos sítios e povoados vizinhos e comprar algo para comer”. Mas ele

respondeu: “Vós mesmos, dai-lhes de comer”! Os discípulos perguntaram: “Queres que

gastemos duzentos denários para comprar pão e dar de comer a toda essa gente?”. Jesus

perguntou: “Quantos pães tendes? Ide ver”. Eles foram ver e disseram: “Cinco pães e dois

peixes”. Então, Jesus mandou que todos se sentassem, na relva verde, em grupos para a

refeição. Todos se sentaram, em grupos de cem e de cinquenta. Em seguida, Jesus tomou os

cinco pães e os dois peixes, ergueu os olhos ao céu, pronunciou a bênção, partiu os pães e ia

dando-os aos discípulos, para que os distribuíssem. Dividiu, também, entre todos, os dois

peixes. Todos comeram e ficaram saciados, e ainda encheram doze cestos de pedaços dos pães

e dos peixes. Os que comeram dos pães foram cinco mil homens. Palavra da Salvação. T.: Glória

a vós, Senhor!

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Na Exortação Alegria do Evangelho (EG) são apresentados quatro princípios que também são abordados no

Documento 105 da CNBB. Neste caso, a explicação é sobre o princípio “o tempo é superior ao espaço”. Que

orientações de método político pode-se tirar da reflexão desse trecho que segue?

Este princípio permite trabalhar a longo prazo, sem a obsessão pelos resultados imediatos. Ajuda a

suportar, com paciência, situações difíceis e hostis ou as mudanças de planos que o dinamismo da

realidade impõe. É um convite a assumir a tensão entre plenitude e limite, dando prioridade ao tempo.

Um dos pecados que, às vezes, se nota na atividade sociopolítica é privilegiar os espaços de poder

em vez dos tempos dos processos. Dar prioridade ao espaço leva-nos a proceder como loucos para

resolver tudo no momento presente, para tentar tomar posse de todos os espaços de poder e

autoafirmação. É cristalizar os processos e pretender pará-los. Dar prioridade ao tempo é ocupar-se

mais com iniciar processos do que possuir espaços. O tempo ordena os espaços, ilumina-os e

transforma-os em elos duma cadeia em constante crescimento, sem marcha atrás. Trata-se de

privilegiar as ações que geram novos dinamismos na sociedade e comprometem outras pessoas e

grupos que os desenvolverão até frutificar em acontecimentos históricos importantes. Sem

ansiedade, mas com convicções claras e tenazes. (EG 223).

A Encíclica Laudato Si´ sobre o cuidado com a Casa Comum apresenta o como qualquer política pública, plano

ou programa precisa ser construído para respeitar os povos indígenas e as comunidades tradicionais,

principalmente quando impactam os aspectos socioambientais da vida. O que podemos aprender da conversa

sobre esses dois números da Laudato Si´?

A visão consumista do ser humano, incentivada pelos mecanismos da economia globalizada atual,

tende a homogeneizar as culturas e a debilitar a imensa variedade cultural, que é um tesouro da

humanidade. Por isso, pretender resolver todas as dificuldades através de normativas uniformes ou

por intervenções técnicas, leva a negligenciar a complexidade das problemáticas locais, que

requerem a participação ativa dos habitantes. Os novos processos em gestação nem sempre se

podem integrar dentro de modelos estabelecidos do exterior, mas hão de ser provenientes da própria

cultura local. Assim como a vida e o mundo são dinâmicos, assim também o cuidado do mundo deve

ser flexível e dinâmico. As soluções meramente técnicas correm o risco de tomar em consideração

sintomas que não correspondem às problemáticas mais profundas. É preciso assumir a perspectiva

dos direitos dos povos e das culturas, dando assim provas de compreender que o desenvolvimento

dum grupo social supõe um processo histórico no âmbito dum contexto cultural e requer

constantemente o protagonismo dos atores sociais locais a partir da sua própria cultura. Nem mesmo

a noção da qualidade de vida se pode impor, mas deve ser entendida dentro do mundo de símbolos e

hábitos próprios de cada grupo humano. (LS 144). Um estudo de impacto ambiental não deveria ser

posterior à elaboração dum projeto produtivo ou de qualquer política, plano ou programa. Há de

inserir-se desde o princípio e elaborar-se de forma interdisciplinar, transparente e independente de

qualquer pressão econômica ou política. Deve aparecer unido à análise das condições de trabalho e

dos possíveis efeitos na saúde física e mental das pessoas, na economia local, na segurança. Assim

os resultados económicos poder-se-ão prever de forma mais realista, tendo em conta os cenários

possíveis e, eventualmente, antecipando a necessidade dum investimento maior para resolver efeitos

indesejáveis que possam ser corrigidos. É sempre necessário alcançar consenso entre os vários

atores sociais, que podem trazer diferentes perspectivas, soluções e alternativas. Mas, no debate,

devem ter um lugar privilegiado os moradores locais, aqueles mesmos que se interrogam sobre o que

desejam para si e para os seus filhos e podem ter em consideração as finalidades que transcendem o

interesse económico imediato. É preciso abandonar a ideia de “intervenções” sobre o meio ambiente,

para dar lugar a políticas pensadas e debatidas por todas as partes interessadas. A participação

requer que todos sejam adequadamente informados sobre os vários aspectos e os diferentes riscos e

possibilidades, e não se reduza à decisão inicial sobre um projeto, mas implique também ações de

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COMO MANTER VIVA A ESPERANÇA NAS ELEIÇÕES MUNICIPAIS DE 2020 40

controle ou monitoramento constante. É necessário haver sinceridade e verdade nas discussões

científicas e políticas, sem se limitar a considerar o que é permitido ou não pela legislação. (LS 183).

A Exortação Pós-Sínodo da Amazônia Querida Amazônia apresenta os desafios que o cuidado desse bioma

tão importante para o Brasil e para o Planeta apresenta no diálogo com os Povos da Amazônia. Que cuidados

é preciso ter nessas interações com os povos originários?

Para cuidar da Amazônia, é bom conjugar a sabedoria ancestral com os conhecimentos técnicos

contemporâneos, mas procurando sempre intervir no território de forma sustentável, preservando ao

mesmo tempo o estilo de vida e os sistemas de valores dos habitantes[66]. A estes, especialmente

aos povos nativos, cabe receber, para além da formação básica, a informação completa e

transparente dos projetos, com a sua amplitude, os seus efeitos e riscos, para poderem confrontar

esta informação com os seus interesses e com o próprio conhecimento do local e, assim, dar ou

negar o seu consentimento ou então propor alternativas[67]. (QA 51)

Os mais poderosos nunca ficam satisfeitos com os lucros que obtêm, e os recursos do poder

econômico têm aumentado muito com o desenvolvimento científico e tecnológico. Por isso, todos

deveríamos insistir na urgência de “criar um sistema normativo que inclua limites invioláveis e

assegure a proteção dos ecossistemas, antes que as novas formas de poder derivadas do paradigma

tecnoeconômico acabem por arrasá-los não só com a política, mas também com a liberdade e a

justiça”[68]. Se a chamada por Deus exige uma escuta atenta do grito dos pobres e ao mesmo tempo

da terra[69], para nós “o grito da Amazônia ao Criador é semelhante ao grito do Povo de Deus no

Egito (cf. Ex 3,7). É um grito desde a escravidão e o abandono, que clama por liberdade”[70].(QA 52)

Para conversar:

• O que nos ensina essa passagem do livro do Êxodo, conhecida como

“conselho de Jetro a Moisés”? O que ela tem a ver com o exercício da

política?

• Qual é o método de promover o bem comum que Jesus utiliza nesta

passagem do “Milagre da partilha”?

• O que significa na prática da política o princípio de que o “tempo é superior

ao espaço”, conforme propõe a Exortação Alegria do Evangelho?

• De acordo com a Laudato Si´, por que é importante a participação ativa dos

habitantes na busca de soluções para problemas comuns, principalmente

socioambientais?

• Segundo a Exortação Querida Amazônia, por que é necessário consultar de

forma prévia, livre, informada e transparente as pessoas em qualquer

política pública ou projeto que venha a ser implantado?

6. AGIR – O que vamos fazer para mudar essa realidade?

1. Apoie candidaturas populares, principalmente com proposta de Mandato Coletivo ou Popular,

analisando a trajetória dos presentes, marcadamente de juventudes, mulheres e afrodescendentes ou

de outros povos indígenas ou comunidades tradicionais.

2. Contribua na fiscalização das eleições municipais, denunciando a compra de votos ou o uso da

máquina administrativa, acesse a página e saiba como denunciar: http://www.mcce.org.br/como-

denunciar/

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3. Estudar e aprofundar as práticas fascistas, contribui para saber como enfrentá-las nos diálogos

familiares e sociais, além de orientar como atuar nas redes sociais, e para isso indicamos alguns

artigos e dicas para essa compreensão acessíveis em:

- https://www.agazeta.com.br/es/politica/entenda-o-que-e-fascismo-e-antifascismo-termos-

que-tomaram-conta-das-redes-0620

- https://sindipetrosp.org.br/10-livros-e-filmes-para-entender-porque-combater-o-fascismo-e-

obrigacao/

7. REVER – Dicas para entender melhor sobre o assunto

1. Conheça mais sobre Mandatos Populares, Coletivos ou Compartilhados estudando em grupo o livro

disponível em: https://www.raps.org.br/2020/wp-content/uploads/2019/11/mandatos_v5.pdf

2. Saiba o que fazer para enfrentar o fascismo, nesta rápida entrevista com a filósofa Márcia Tiburi:

O que é o fascismo?

Fascismo é uma tecnologia política com características populistas, cujo nome foi criado por Benito Mussolini na Itália do começo do século 20. Mas o conceito de expandiu e passou a ser usado para designar manifestações de ódio ao outro que se organizam em movimentos de massas. No fascismo cria-se um inimigo para poder combatê-lo. Como ele se manifesta? O fascismo se manifesta como discurso de ódio, autoritarismo de todo tipo, submissão a um líder autoritário, presença de agitadores criando confusão nas massas, racismo, misoginia19, homofobia e preconceitos que fazem pensar em uma síndrome autoritária como uma espécie de perturbação mental coletiva. Quais são os símbolos? O fascismo tem símbolos conforme os países nos quais se instaura. Na Itália de Mussolini se usava um machado com um cabo de feixes. Na Alemanha nazista se usava uma suástica. Mas há um fascismo difuso e em potencial sem nenhum tipo de símbolo. Quais os traços do fascismo no Brasil? No Brasil, há muitos traços fascistas: ódio ao outro, racismo, devoção ao líder autoritário, elogio da ignorância, homofobia, misoginia, elogio da morte, negação das verdades científicas, apologia da violência, frieza, cinismo. O que caracteriza um governo fascista? A diferença entre o fascismo subjetivo e o fascismo dos agitadores e do Estado é meramente formal. Um Estado pode superar o fascismo dos cidadãos promovendo a democracia. Ou promover o fascismo e ajudar a nutrir e manipular o sentimento de ódio nas massas. Ser de direita é ser fascista? Ser de direita não implica ser fascista. Ser de extrema-direita, sim. É possível ser de esquerda e ser fascista? Se a esquerda se torna autoritária e pratica as mesmas coisas que a extrema-direita, sim, mas aí já não seria mais esquerda. Como identificar um(a) fascista? Identifica-se um(a) fascista pelos seus preconceitos expressos em discursos de ódio. Dá para dialogar com um(a) fascista e fazê-lo(a) mudar de ideia? O fascismo se expressa em graus diversos. É possível ajudar uma pessoa com grau baixo de fascismo a mudar. Todo preconceituoso (racista, machista, sexista, xenófobo) é fascista? Por quê?

19 Misogenia é o ódio ou aversão às mulheres e/ou aversão ao contato sexual com as mulheres.

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Não. O fascismo não é um preconceito, mas uma combinação de preconceitos na forma de uma síndrome autoritária. Um preconceito isolado e em grau abordável não configura fascismo. Tenho um(a) amigo(a) fascista. O que fazer? Se meu amigo é fascista devo avisar que ele está com um problema e tentar ajudar indicando reflexão, psicanálise e até psiquiatria. Se não for possível conversar sobre isso, devido à exacerbação do quadro, melhor afastar-se. É possível ser fascista e não saber? É possível ser fascista e não saber por que uma pessoa fascista não costuma questionar e refletir sobre si mesma. Ela tem profunda dificuldade de se olhar no espelho. A incapacidade emocional e cognitiva característica dos fascistas. Qual a diferença entre fascismo e nazismo (para a compreensão de hoje)? O nazismo é uma forma de fascismo. Uma forma de fascismo que foi criada na Alemanha e incrementada por Hitler. Por que o fascismo é ‘sedutor’? O fascismo seduz pessoas com capacidade intelectual e sensível limitadas porque apresenta ideias prontas e simples e compensação emocional para os ressentimentos de classe — muito comuns de quem adere ao fascismo. Como combater o fascismo? Para combater o fascismo, existem dois caminhos possíveis, aponta Márcia Tiburi. Primeiro, é precisar criar uma sociedade que não dê condições para o florescimento do fascismo. Em outras palavras, “essa sociedade precisa se estabelecer em condições democráticas tais que o fascismo não surja”. Se o trem já descarrilhou e o fascismo se instalou, o caminho é recuperar a democracia. Para isso, é necessário garantir e fortalecer instituições democráticas em funcionamento e, ao mesmo tempo, cuidar das subjetividades — ou seja, o Estado precisa criar condições para formar cidadãos e cidadãs capazes de diálogo e de pensar sobre si mesmos.

Ana Clara, Agência Todas

8. COMPROMISSOS – Preparando o próximo encontro

Distribuir as tarefas do próximo encontro:

• Onde será nosso próximo encontro? Será um encontro presencial ou virtual?

• Quem vai animar a preparação?

• Quem fará serão os leitores e leitoras?

Quais as ações das indicações acima vamos colocar em prática pelo grupo?

O que vamos fazer?

Quando? Responsável ou

responsáveis?

Com quem? Como? Onde? Observações

9. CELEBRAR – Despedida e oração final (na contracapa detrás).

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A NEXO

CARTA AO POVO DE DEUS

22 de julho de 2020.

Festa de Santa Maria Madalena, “Apóstola dos Apóstolos”.

Povo de Deus,

A vós, graça e paz, da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo (Ef 1,2).

Eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância (Jo 10,10).

1. Somos bispos da Igreja Católica, de várias regiões do Brasil, em profunda comunhão com o Papa

Francisco e seu magistério e em comunhão plena com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil,

que no exercício de sua missão evangelizadora, sempre se coloca na defesa dos pequeninos, da

justiça e da paz. Escrevemos esta Carta ao Povo de Deus, interpelados pela gravidade do momento

em que vivemos, sensíveis ao Evangelho e à Doutrina Social da Igreja, como um serviço a todos

os que desejam ver superada esta fase de tantas incertezas e tanto sofrimento do povo.

2. Evangelizar é a missão própria da Igreja, herdada de Jesus. Ela tem consciência de que “evangelizar

é tornar o Reino de Deus presente no mundo” (Alegria do Evangelho, nº 176). Temos clareza de que

“a proposta do Evangelho não consiste só numa relação pessoal com Deus. A nossa reposta de

amor não deveria ser entendida como uma mera soma de pequenos gestos pessoais a favor de

alguns indivíduos necessitados [...], uma série de ações destinadas apenas a tranquilizar a própria

consciência. A proposta é o Reino de Deus [...] (Lc 4,43 e Mt 6,33)” (Alegria do Evangelho, nº 180).

Nasce daí a compreensão de que o Reino de Deus é dom, compromisso e meta.

3. É neste horizonte que nos posicionamos frente à realidade atual do Brasil. Não temos interesses

político-partidários, econômicos, ideológicos ou de qualquer outra natureza. Nosso único interesse

é o Reino de Deus, presente em nossa história, na medida em que avançamos na construção de uma

sociedade estruturalmente justa, fraterna e solidária, como uma civilização do amor.

4. O Brasil atravessa um dos períodos mais difíceis de sua história, comparado a uma “tempestade

perfeita” que, dolorosamente, precisa ser atravessada. A causa dessa tempestade é a combinação

de uma crise de saúde sem precedentes, com um avassalador colapso da economia e com a tensão

que se abate sobre os fundamentos da República, provocada em grande medida pelo Presidente da

República e outros setores da sociedade, resultando numa profunda crise política e de governança.

5. Este cenário de perigosos impasses, que colocam nosso país à prova, exige de suas instituições,

líderes e organizações civis muito mais diálogo do que discursos ideológicos fechados. Somos

convocados a apresentar propostas e pactos objetivos, com vistas à superação dos grandes desafios,

em favor da vida, principalmente dos segmentos mais vulneráveis e excluídos, nesta sociedade

estruturalmente desigual, injusta e violenta. Essa realidade não comporta indiferença.

6. É dever de quem se coloca na defesa da vida posicionar-se, claramente, em relação a esse cenário.

As escolhas políticas que nos trouxeram até aqui e a narrativa que propõe a complacência frente

aos desmandos do Governo Federal, não justificam a inércia e a omissão no combate às mazelas

que se abateram sobre o povo brasileiro. Mazelas que se abatem também sobre a Casa Comum,

ameaçada constantemente pela ação inescrupulosa de madeireiros, garimpeiros, mineradores,

latifundiários e outros defensores de um desenvolvimento que despreza os direitos humanos e os

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da Mãe Terra. “Não podemos pretender ser saudáveis num mundo que está doente. As feridas

causadas à nossa mãe terra sangram também a nós” (Papa Francisco, Carta ao Presidente da Colômbia

por ocasião do Dia Mundial do Meio Ambiente, 05/06/2020).

7. Todos, pessoas e instituições, seremos julgados pelas ações ou omissões neste momento tão grave

e desafiador. Assistimos, sistematicamente, a discursos anticientíficos, que tentam naturalizar ou

normalizar o flagelo dos milhares de mortos pela Covid-19, tratando-o como fruto do acaso ou do

castigo divino, o caos socioeconômico que se avizinha, com o desemprego e a carestia que são

projetados para os próximos meses, e os conchavos políticos que visam à manutenção do poder a

qualquer preço. Esse discurso não se baseia nos princípios éticos e morais, tampouco suporta ser

confrontado com a Tradição e a Doutrina Social da Igreja, no seguimento Àquele que veio “para

que todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10).

8. Analisando o cenário político, sem paixões, percebemos claramente a incapacidade e inabilidade

do Governo Federal em enfrentar essas crises. As reformas trabalhista e previdenciária, tidas como

para melhorarem a vida dos mais pobres, mostraram-se como armadilhas que precarizaram ainda

mais a vida do povo. É verdade que o Brasil necessita de medidas e reformas sérias, mas não como

as que foram feitas, cujos resultados pioraram a vida dos pobres, desprotegeram vulneráveis,

liberaram o uso de agrotóxicos antes proibidos, afrouxaram o controle de desmatamentos e, por

isso, não favoreceram o bem comum e a paz social. É insustentável uma economia que insiste no

neoliberalismo, que privilegia o monopólio de pequenos grupos poderosos em detrimento da

grande maioria da população.

9. O sistema do atual governo não coloca no centro a pessoa humana e o bem de todos, mas a defesa

intransigente dos interesses de uma “economia que mata” (Alegria do Evangelho, nº 53), centrada no

mercado e no lucro a qualquer preço. Convivemos, assim, com a incapacidade e a incompetência

do Governo Federal, para coordenar suas ações, agravadas pelo fato de ele se colocar contra a

ciência, contra estados e municípios, contra poderes da República; por se aproximar do

totalitarismo e utilizar de expedientes condenáveis, como o apoio e o estímulo a atos contra a

democracia, a flexibilização das leis de trânsito e do uso de armas de fogo pela população; e o

recurso à prática de suspeitas ações de comunicação, como as notícias falsas, que mobilizam uma

massa de seguidores radicais.

10. O desprezo pela educação, cultura, saúde e pela diplomacia também nos estarrece. Esse desprezo

é visível nas demonstrações de raiva pela educação pública; no apelo a ideias obscurantistas; na

escolha da educação como inimiga; nos sucessivos e grosseiros erros na escolha dos ministros da

educação e do meio ambiente e do secretário da cultura; no desconhecimento e depreciação de

processos pedagógicos e de importantes pensadores do Brasil; na repugnância pela consciência

crítica e pela liberdade de pensamento e de imprensa; na desqualificação das relações diplomáticas

com vários países; na indiferença pelo fato de o Brasil ocupar um dos primeiros lugares em número

de infectados e mortos pela pandemia sem, sequer, ter um ministro titular no Ministério da Saúde;

na desnecessária tensão com os outros entes da República na coordenação do enfrentamento da

pandemia; na falta de sensibilidade para com os familiares dos mortos pelo novo coronavírus e

pelos profissionais da saúde, que estão adoecendo nos esforços para salvar vidas.

11. No plano econômico, o ministro da Economia desdenha dos pequenos empresários, responsáveis

pela maioria dos empregos no país, privilegiando apenas grandes grupos econômicos,

concentradores de renda e os grupos financeiros que nada produzem. A recessão que nos assombra

pode fazer o número de desempregados ultrapassar 20 milhões de brasileiros. Há uma brutal

descontinuidade da destinação de recursos para as políticas públicas no campo da alimentação,

educação, moradia e geração de renda.

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12. Fechando os olhos aos apelos de entidades nacionais e internacionais, o Governo Federal

demonstra omissão, apatia e rechaço pelos mais pobres e vulneráveis da sociedade, quais sejam:

as comunidades indígenas, quilombolas, ribeirinhas, as populações das periferias urbanas, dos

cortiços e o povo que vive nas ruas, aos milhares, em todo o Brasil. Estes são os mais atingidos

pela pandemia do novo coronavírus e, lamentavelmente, não vislumbram medida efetiva que os

levem a ter esperança de superar as crises sanitária e econômica que lhes são impostas de forma

cruel. O Presidente da República, há poucos dias, no Plano Emergencial para Enfrentamento à

Covid-19, aprovado no legislativo federal, sob o argumento de não haver previsão orçamentária,

dentre outros pontos, vetou o acesso a água potável, material de higiene, oferta de leitos

hospitalares e de terapia intensiva, ventiladores e máquinas de oxigenação sanguínea, nos

territórios indígenas, quilombolas e de comunidades tradicionais (Cf. Presidência da CNBB, Carta

Aberta ao Congresso Nacional, 13/07/2020).

13. Até a religião é utilizada para manipular sentimentos e crenças, provocar divisões, difundir o ódio,

criar tensões entre igrejas e seus líderes. Ressalte-se o quanto é perniciosa toda associação entre

religião e poder no Estado laico, especialmente a associação entre grupos religiosos

fundamentalistas e a manutenção do poder autoritário. Como não ficarmos indignados diante do

uso do nome de Deus e de sua Santa Palavra, misturados a falas e posturas preconceituosas, que

incitam ao ódio, ao invés de pregar o amor, para legitimar práticas que não condizem com o Reino

de Deus e sua justiça?

14. O momento é de unidade no respeito à pluralidade! Por isso, propomos um amplo diálogo nacional

que envolva humanistas, os comprometidos com a democracia, movimentos sociais, homens e

mulheres de boa vontade, para que seja restabelecido o respeito à Constituição Federal e ao Estado

Democrático de Direito, com ética na política, com transparência das informações e dos gastos

públicos, com uma economia que vise ao bem comum, com justiça socioambiental, com “terra,

teto e trabalho”, com alegria e proteção da família, com educação e saúde integrais e de qualidade

para todos. Estamos comprometidos com o recente “Pacto pela vida e pelo Brasil”, da CNBB e

entidades da sociedade civil brasileira, e em sintonia com o Papa Francisco, que convoca a

humanidade para pensar um novo “Pacto Educativo Global” e a nova “Economia de Francisco e

Clara”, bem como, unimo-nos aos movimentos eclesiais e populares que buscam novas e urgentes

alternativas para o Brasil.

15. Neste tempo da pandemia que nos obriga ao distanciamento social e nos ensina um “novo normal”,

estamos redescobrindo nossas casas e famílias como nossa Igreja doméstica, um espaço do

encontro com Deus e com os irmãos e irmãs. É sobretudo nesse ambiente que deve brilhar a luz do

Evangelho que nos faz compreender que este tempo não é para a indiferença, para egoísmos, para

divisões nem para o esquecimento (cf. Papa Francisco, Mensagem Urbi et Orbi, 12/04/20).

16. Despertemo-nos, portanto, do sono que nos imobiliza e nos faz meros espectadores da realidade de

milhares de mortes e da violência que nos assolam. Com o apóstolo São Paulo, alertamos que “a

noite vai avançada e o dia se aproxima; rejeitemos as obras das trevas e vistamos a armadura da

luz” (Rm 13,12).

O Senhor vos abençoe e vos guarde. Ele vos mostre a sua face e se compadeça de vós.

O Senhor volte para vós o seu olhar e vos dê a sua paz! (Nm 6,24-26).

Seguem os 152 nomes dos Bispos que assinaram

(Para conferir acesse: https://bit.ly/3mFIUaa)

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Oração final para todos os dias

1. SALMO: Salmo 84(85) - "JUSTIÇA E PAZ SE ABRAÇARÃO",

Adaptação para a CF 1996: FRATERNIDADE E POLÍTICA

Ouça aqui a música

1. Boa nova, irmãos, já chegou! Jesus Cristo nos diz conversão!

Seu projeto de fraternidade, vai mudar vida e coração! Então:

"Justiça e Paz se abraçarão!"

2. Bem atentos à sociedade, bem comum, todos dando as mãos

Os direitos, também os deveres, respeitados por todos serão! Então:

3. Jesus Cristo, só Ele é o caminho, plena luz a indicar a direção

De um mundo no amor renovado, novo céu, nova terra virão! Então:

4. Jesus Cristo, verdade e vida, pela cruz vêm a ressurreição

Convivência na felicidade, povo irmão, rumo à libertação! Então:

2. PRECES DA COMUNIDADE

Acolhendo os ensinamentos e aprendizagens realizados no encontro de hoje, façamos nossas preces:

Após cada prece, rezemos: SENHOR, ESCUTAI A NOSSA PRECE.

3. PAI-NOSSO…

4. BÊNÇÃO FINAL

- Que o Deus de Abraão e Sara que a história começou,

- Que o Deus de Moisés seu povo libertou,

- Que o Deus dos Profetas a justiça anunciou e os governos e tiranos denunciou,

- Que o Deus de Maria mãe, que o Emanuel Deus Conosco ficou nos abençoe e nos guarde, fortalecendo em

nossos dias o movimento pela vida e libertação, amém, amém, amém.

5. CANTO FINAL (à escolha do grupo).