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Na época, estimava-se que 5,5 milhões de famílias não tinham moradia adequada Até o fim de 2014, 3,7 milhões de unidades haviam sido contratadas, e metade delas efetivamente entregues aos beneficiados. O investimento total já ultrapassou os R$ 230 bilhões O programa conta com três faixas de financiamento. Na primeira, para famílias mais pobres, as parcelas custam a partir de R$ 25 e equivalem a 5% da renda familiar, de até três salários mínimos Os financiamentos são feitos via Banco do Brasil ou Caixa Econômica. Os estados e municípios selecionam os beneficiados. Às construtoras, cabe a escolha dos terrenos e a execução das obras Recém-anunciada, a terceira fase do programa federal promete entregar mais três milhões de casas até o fim de 2018. O projeto vai ganhar uma nova modalidade de financiamento, intermediária entre as faixas 1 e 2 Inquéritos concluídos ou em andamento Fontes: Caixa Econômica Federal, Disque-Denúncia, Ministério das Cidades, Ministério Público do Rio, Polícia Civil e Secretaria municipal de Habitação T T T T T T T T T T T T T T T T T T T T T T T T T T r r r r r r r r r r r r r r r r r á á á á á á á á á á á á á á á á á á á á áf f f f f f f f f f f f f f f f f f f f f f f f f f f f fi i i i i i i i i i i i i i i i i i i i i i i i i i i i i i ic c c c c c c c c c c c c c c c c c c c c c c c c c c c c c c c c c c c c c o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o 12 ESPECIAL extra.globo.com Domingo, 22 de março de 2015 Domingo, 22 de março de 2015 extra.globo.com ESPECIAL 13 MINISTÉRIO DAS CIDADES É o responsável pelo “Minha casa, minha vidaem última instância, uma espécie de pai do programa. É o órgão que define diretrizes e estipula regras, além de comandar a distribuição de recursos entre os estados. .................... BANCO DO BRASIL E CAIXA Os bancos públicos operam os financiamentos. A Caixa Econômica Federal também disponibiliza um telefone (0800 721 6268) para receber denúncias de irregularidades no programa, que são repassadas ao Ministério da Justiça. .................... MINISTÉRIO DA JUSTIÇA A pasta coordena um grupo interministerial, criado em abril do ano passado, destinado a combater problemas no programa. As reunes também incluem o Ministério das Cidades, aPolícia Federal e estados e municípios. .................... POLÍCIA FEDERAL A instituição responde apenas pelas investigações sobre fraudes no programa. Casos de crimes comuns, de maneira geral, são de responsabilidade das polícias estaduais. .................... PREFEITURA E ESTADO Através de suas respectivas secretarias de Habitação, dependendo de cada empreendimento, a prefeitura e o governo estadual cadastram os beneficiados e coordenam os sorteios. Nos primeiros meses após a inauguração, com a presença de assistentes sociais, os órgãos devem acompanhar de perto os moradores, podendo receber denúncias sobre eventuais irregularidades. .................... SECRETARIA DE SEGURANÇA À ela estão subordinadas a Polícia Militar, que faz o policiamento ostensivo, e a Polícia Civil, que faz o trabalho de investigação. A Secretaria estadual de Segurança (Seseg), portanto, responde por quaisquer problemas relativos à segurança pública no estado. AS RESPONSABILIDADES B O Haroldo de Andrade foi inaugurado em 13 de janeiro de 2014, com a presença do ho- je governador Luiz Fernando Pezão. O crime, porém, demo- rou menos de uma semana pa- ra ocupar o conjunto: no dia 17, houve no local um tiroteio entre bandidos e agentes da 39ª DP (Pavuna), que acabou com um trafi- cante ferido e a apreensão de uma esco- peta e drogas. O EXTRA localizou 26 famílias ex- pulsas. Todas moravam nos seis blocos do Haroldo de Andrade I e vieram de uma comunidade próxima a Manguinhos. Agora, vivem na casa de parentes, porque seus antigos barracos foram demolidos pela prefeitura. Na esperança de um dia re- cuperarem os apartamentos, parte das famílias seguiu pa- gando o financiamento. Por oito meses, Pedro* depositou a quantia de R$ 25,80. Em de- zembro, não conseguiu mais. — Tive que optar entre o apartamento e o aluguel de um novo teto — explica. Por conta da presença osten- siva do tráfico, o conjunto foi o único onde o EXTRA não con- seguiu entrar. Policiais do 41º BPM (Irajá) e da 39ª DP, res- ponsáveis pela área, fo- ram consul- tados e desa- conselharam a visita. Em Barros Filho, a um quilômetro do Haroldo de Andrade, há outros dois empreendimentos do “Minha casa, minha vi- da”— o Recanto Beija-flor e o Recanto dos Rouxinóis — des- tinados a pessoas com uma renda maior. Apesar da proxi- midade, são os mais pobres que sofrem com a violência: não há registros ou relatos de invasão nos condomínios mais afortunados. Inauguração e tiroteio Moradora expulsa do condomínio pelo tráfico: 80 famílias sem casa BIO GUIMARÃES “TIVE QUE OPTAR ENTRE O APARTAMENTO E UM NOVO TETO” todos os nomes utilizados na série são fictícios * se lembra com exati- dão da época mais feliz da sua vida: fevereiro de 2014, quan- do recebeu as chaves da pri- meira casa própria. A vendedo- ra de 54 anos era, então, uma das 1.200 pessoas agraciadas com apartamentos do progra- ma federal “Minha casa, minha vida” no Residencial Haroldo de Andrade, em Barros Filho, Zona Norte do Rio. Logo insta- lou janelas de madeira, botou piso na cozinha, pintou as pa- redes de azul — “uma cor ale- gre, para quem nunca viu tinta em barraco”. O dia mais triste veio menos de dois meses de- pois. Em abril, Maria e seus quatro filhos, ao lado de ou- tras 79 famílias, foram obriga- dos por trafi- cantes a deixar para trás mó- veis, roupas, objetos, aparta- mentos... E sonhos. A história de Maria não é um caso isolado. Após três meses de apuração, o EXTRA consta- tou que todos, absolutamente todos, os 64 condomínios do “Minha casa, minha vida” des- tinados aos beneficiários mais pobres — a chamada faixa 1 de financiamento — no municí- pio do Rio são alvo da ação de grupos criminosos. Neles, mo- ram 18.834 famílias submeti- das a situações como ex- pulsões, reuniões de condomí- nio feitas por bandidos, bocas de fumo em apartamentos, in- terferência do tráfico no sor- teio dos novos moradores, es- pancamentos e homicídios. Mais de 200 pessoas foram ouvidas, entre moradores, sín- dicos, policiais civis e militares, promotores, funcionários pú- blicos e terceirizados, pesqui- sadores e autoridades. Além disso, foram analisados docu- mentos da Polícia Civil, do Mi- nistério Público, da Secretaria de Habitação, do Disque-De- núncia, da Caixa Econômica e do Ministério das Cidades, par- te deles obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação. O ma- terial dá origem à série “Minha casa, minha sina”, que o EX- TRA publica a partir de hoje. No apartamento de onde Ma- ria fugiu só com a roupa do cor- po, hoje moram bandidos. Uma investigação da Polícia Civil re- vela que, por trás da expul- são, há uma ordem direta do criminoso mais procura- do do estado: Celso Pinheiro Pimenta, o Playboy, chefe do tráfico do Complexo da Pedreira, no bair- ro vizinho de Costa Barros. Em outubro do ano passado, em meio a uma guerra do tráfi- co, Playboy gravou um áudio endereçado a rivais. No discur- so, conta que deu casas a ban- didos que mudaram de facção e se juntaram ao seu exército: “Os ‘menor’ tá aqui, tá na pure- za, ganharam apartamento, ganharam vários ‘bagulho’”. As 80 famílias expulsas não foram escolhidas ao acaso. To- das vieram das proximidades de Manguinhos, favela domi- nada por uma facção rival. — Os bandidos pergunta- ram, armados, de onde nós tínhamos vindo. Quando descobriram, deram um dia para sair — lembra Maria. Os bandidos deram um dia para a gente sair” Após expulsar 80 famílias de condomínio, traficante Playboy deu os apartamentos a aliados maria * DEPOIMENTO B No dia da inauguração, falaram que a gente iria mo- rar com dignidade. Ainda quero conhecer o que é digni- dade de verdade. Morava debaixo de um viaduto, meu barraco caindo aos pedaços, mas os bandidos não ficavam mandando eu sair de casa. Lá em Barros Filho, eles passa- vam armados nos apartamen- tos, perguntavam de onde tínhamos vindo. Mandavam a gente mostrar o contrato com o antigo endereço. Quando viam “Manguinhos”, davam uma noite para sairmos. Mes- mo sendo pobre miserável, a gente faz parte do Brasil. queremos a dignidade que prometeramMARIA* Vendedora expulsa do Haroldo de Andrade B O governador Luiz Fernan- do Pezão classificou como “abominável” a expulsão de 80 famílias do Haroldo de Andrade. Procurado pelo EX- TRA, ele afirmou estar “à dis- posição do governo federal para agir conjuntamente”. — A Polícia Civil vem in- vestigando exaustivamente a ação do tráfico e da milícia nesses episódios — afirma o governador. O secretário de Segurança José Mariano Beltrame, por sua vez, soube da invasão ao condomínio através de um ofí- cio da Polícia Federal, que co- municou a presença de “pes- soas armadas impedindo o acesso dos moradores”. O do- cumento foi remetido à 39ª DP, que abriu um inquérito no início deste mês para apurar o caso. A Secretaria estadual de Segurança, porém, informou que só a Polícia Civil iria se ma- nifestar sobre o ocorrido. Por nota, a Civil confirmou que há inquéritos abertos so- bre a presença do tráfico de drogas “em alguns empreen- dimentos do ‘Minha casa, mi- nha vida’”, acrescentando que “as investigações estão em an- damento e correm sob sigilo”. Convidado a se manifestar sobre a situação das 80 famíli- as expulsas pelo tráfico, o Mi- nistério das Cidades avisou que não se pronunciaria, por se tratar de “caso de segurança pública”. Já a Caixa afirmou que “as denúncias relaciona- das a possíveis invasões e ex- pulsões de moradores são re- passadas ao Ministério da Jus- tiça”. As íntegras das respostas estão no site do EXTRA. s t Para Pezão, expulsão é abominável.................................................................................... AMANMinistro manda PF investigar tráfico nos condomínios. MAIS NO SITE extra.globo.com Assista ao vídeo com depoimentos de moradores.

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BarrosFilho

Colégio

Madureira

Praça Seca

Cidade de Deus

Tanque

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Inhaúma

São Cristóvão

Rio Comprido

Tijuca

Copacabana

Barra daTijuca

Jacarepaguá

Bangu Realengo

Campo Grande

Santa Cruz

Guaratiba

Registros de ocorrência

Legenda

Relatos de moradoresouvidos pelo EXTRA

Ocorrência de operaçãopolicial no interiordo condomínio

20

TOTAL

APARTAMENTOS20.331

OCUPADOS18.834

CUSTO DA OBRAR$ 1.027.775.011

CONDOMÍNIOS64

OS CONDOMÍNIOS

Radiografia do Conjunto

Residenciais Zé Keti eIsmael Silva

1

Condomínios Jardim dasAcácias e Palmeiras

2

ResidencialJardim Canário

Residencial JardimBeija-Flor

4

Bairro Carioca (totalde 11 condomínios)

5

Conjunto ResidencialHaroldo de Andrade I, II, III e IV

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Mangueira Residencial I e II

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Vivendas do Ipê Amareloe Vivendas do Ipê Branco

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Residenciais Destri, Taroni, Ayres,Vidal, Vaccari e Speranza

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Conjunto ResidencialPresidente Itamar Franco I, II e III

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Parque Carioca

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Residenciais Zaragoza,Sevilha e Toledo

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Residenciais Évora, Almada, Aveiro,Cascais, Coimbra e Estoril

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Park Royal e Park Imperial

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Condomínio Aterradodo Leme I, II e III

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Vivendas das Andorinhas

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Residencial Rio Bonito eVivendas das Castanheiras

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Vivendas do Jardimde Anápolis

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Condomínios Livorno,Trento e Varese

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Condomínios Treviso,Terni e Ferrara

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Vivendasdas Patativas

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Condomínio Oiti

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Vivendas Recantoda Natureza

23

Vivendas das Rosas eVivendas das Orquídeas

24

Barros Filho

1.2601.250

R$ 63.333.081Janeiro de 20144

BAIRRO

PROBLEMAS

APARTAMENTOS

FAMÍLIAS

CUSTO DA OBRA

INAUGURAÇÃO

CONDOMÍNIOS

3

O PROGRAMA

Lançado em 2009, o "Minha casa, minha vida" foi a grande aposta do governo federal para diminuir o déficit habitacional do país. Na época, estimava-se que5,5 milhões de famílias não tinham moradia adequada

Até o fim de 2014, 3,7 milhões de unidades haviam sido contratadas, e metade delas efetivamente entregues aos beneficiados.O investimento total jáultrapassou osR$ 230 bilhões

O programa conta com três faixasde financiamento.Na primeira,para famílias mais pobres, as parcelas custam a partirde R$ 25 e equivalem a 5%da renda familiar, de até trêssalários mínimos

Os financiamentos são feitos via Banco do Brasil ou Caixa Econômica.Os estados e municípiosselecionamos beneficiados.Às construtoras, cabe a escolhados terrenos e a execução das obras

Recém-anunciada,a terceira fase do programa federal promete entregar mais três milhões de casas até o fim de 2018. O projeto vai ganhar uma nova modalidade de financiamento, intermediária entre as faixas 1 e 2

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Inquéritos concluídosou em andamento

Fontes: Caixa Econômica Federal, Disque-Denúncia, Ministério das Cidades, Ministério Público do Rio, Polícia Civil e Secretaria municipal de Habitação

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MINISTÉRIO DAS CIDADESÉ o responsável pelo “Minha casa,minha vida” em última instância,uma espécie de pai do programa.É o órgão que define diretrizes eestipula regras, além decomandar a distribuição derecursos entre os estados. ....................

BANCO DO BRASIL E CAIXAOs bancos públicos operam osfinanciamentos. A CaixaEconômica Federal tambémdisponibiliza um telefone (0800721 6268) para receber denúnciasde irregularidades no programa,que são repassadas ao Ministérioda Justiça. ....................

MINISTÉRIO DA JUSTIÇAA pasta coordena um grupointerministerial, criado em abril doano passado, destinado acombater problemas noprograma. As reuniões tambémincluem o Ministério das Cidades,a Polícia Federal e estados emunicípios. ....................

POLÍCIA FEDERALA instituição responde apenas

pelas investigações sobrefraudes no programa. Casos decrimes comuns, de maneirageral, são de responsabilidadedas polícias estaduais. ....................

PREFEITURA E ESTADOAtravés de suas respectivassecretarias de Habitação,dependendo de cadaempreendimento, a prefeitura e ogoverno estadual cadastram osbeneficiados e coordenam ossorteios. Nos primeiros mesesapós a inauguração, com apresença de assistentes sociais, osórgãos devem acompanhar deperto os moradores, podendoreceber denúncias sobreeventuais irregularidades. ....................

SECRETARIA DE SEGURANÇAÀ ela estão subordinadas aPolícia Militar, que faz opoliciamento ostensivo, e aPolícia Civil, que faz o trabalhode investigação. A Secretariaestadual de Segurança (Seseg),portanto, responde porquaisquer problemas relativos àsegurança pública no estado.

AS RESPONSABILIDADES

B O Haroldo de Andrade foiinaugurado em 13 de janeirode 2014, com a presença do ho-je governador Luiz FernandoPezão. O crime, porém, demo-rou menos de uma semana pa-ra ocupar o conjunto: no dia17, houve no local um tiroteioentre bandidos e agentes da39ª DP (Pavuna), que acaboucom um trafi-cante ferido ea apreensãode uma esco-peta e drogas.

O EXTRAlocalizou 26famílias ex-pulsas. Todasmoravam nos seis blocos doHaroldo de Andrade I e vieramde uma comunidade próximaa Manguinhos. Agora, vivemna casa de parentes, porqueseus antigos barracos foramdemolidos pela prefeitura.

Na esperança de um dia re-cuperarem os apartamentos,parte das famílias seguiu pa-gando o financiamento. Poroito meses, Pedro* depositou

aquantia de R$ 25,80. Em de-zembro, não conseguiu mais.

— Tive que optar entre oapartamento e o aluguel deum novo teto — explica.

Por conta da presença osten-siva do tráfico, o conjunto foi oúnico onde o EXTRA não con-seguiu entrar. Policiais do 41ºBPM (Irajá) e da 39ª DP, res-

ponsáveispela área, fo-ram consul-tados e desa-conselharama visita.

Em BarrosFilho, a umquilômetro

do Haroldo de Andrade, háoutros dois empreendimentosdo “Minha casa, minha vi-da”— o Recanto Beija-flor e oRecanto dos Rouxinóis — des-tinados a pessoas com umarenda maior. Apesar da proxi-midade, são os mais pobresque sofrem com a violência:não há registros ou relatos deinvasão nos condomíniosmais afortunados.

Inauguração e tiroteio

Moradora expulsa do condomínio pelo tráfico: 80 famílias sem casa

BIO

GU

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ES

“TIVE QUE

OPTAR ENTRE O

APARTAMENTO E

UM NOVO TETO”

todos os nomes utilizados na série são fictícios*

se lembracom exati-

dão da época mais feliz da suavida: fevereiro de 2014, quan-do recebeu as chaves da pri-meira casa própria. A vendedo-ra de 54 anos era, então, umadas 1.200 pessoas agraciadascom apartamentos do progra-ma federal “Minha casa, minhavida” no Residencial Haroldode Andrade, em Barros Filho,Zona Norte do Rio. Logo insta-lou janelas de madeira, botoupiso na cozinha, pintou as pa-redes de azul — “uma cor ale-gre, para quem nunca viu tintaem barraco”. O dia mais tristeveio menos de dois meses de-pois. Em abril,Maria e seusquatro filhos,ao lado de ou-tras 79 famílias,foram obriga-dos por trafi-cantes a deixarpara trás mó-veis, roupas, objetos, aparta-mentos... E sonhos.

Ahistória de Maria não é umcaso isolado. Após três mesesde apuração, o EXTRA consta-tou que todos, absolutamentetodos, os 64 condomínios do“Minha casa, minha vida” des-tinados aos beneficiários maispobres — a chamada faixa 1 definanciamento — no municí-pio do Rio são alvo da ação degrupos criminosos. Neles, mo-ram 18.834 famílias submeti-das a situações como ex-pulsões, reuniões de condomí-nio feitas por bandidos, bocasde fumo em apartamentos, in-terferência do tráfico no sor-teio dos novos moradores, es-pancamentos e homicídios.

Mais de 200 pessoas foramouvidas, entre moradores, sín-

dicos, policiais civis e militares,promotores, funcionários pú-blicos e terceirizados, pesqui-sadores e autoridades. Alémdisso, foram analisados docu-mentos da Polícia Civil, do Mi-nistério Público, da Secretariade Habitação, do Disque-De-núncia, da Caixa Econômica edo Ministério das Cidades, par-te deles obtidos por meio da Leide Acesso à Informação. O ma-terial dá origem à série “Minhacasa, minha sina”, que o EX-TRA publica a partir de hoje.

No apartamento de onde Ma-ria fugiu só com a roupa do cor-po, hoje moram bandidos. Umainvestigação da Polícia Civil re-

vela que, portrás da expul-são, há umaordem diretado criminosomais procura-do do estado:Celso PinheiroPimenta, o

Playboy, chefe do tráfico doComplexo da Pedreira, no bair-ro vizinho de Costa Barros.

Em outubro do ano passado,em meio a uma guerra do tráfi-co, Playboy gravou um áudioendereçado a rivais. No discur-so, conta que deu casas a ban-didos que mudaram de facçãoe se juntaram ao seu exército:“Os ‘menor’ tá aqui, tá na pure-za, ganharam apartamento,ganharam vários ‘bagulho’”.

As 80 famílias expulsas nãoforam escolhidas ao acaso. To-das vieram das proximidadesde Manguinhos, favela domi-nada por uma facção rival.

— Os bandidos pergunta-ram, armados, de onde nóstínhamos vindo. Quandodescobriram, deram um diapara sair — lembra Maria.

“Os bandidos

deram um

dia para a

gente sair”

Após expulsar 80 famílias decondomínio, traficante Playboydeu os apartamentos a aliados

maria*

DEPOIMENTO

B No dia da inauguração,falaram que a gente iria mo-rar com dignidade. Aindaquero conhecer o que é digni-dade de verdade. Moravadebaixo de um viaduto, meubarraco caindo aos pedaços,mas os bandidos não ficavammandando eu sair de casa. Láem Barros Filho, eles passa-vam armados nos apartamen-tos, perguntavam de ondetínhamos vindo. Mandavam agente mostrar o contrato como antigo endereço. Quandoviam “Manguinhos”, davamuma noite para sairmos. Mes-mo sendo pobre miserável, agente faz parte do Brasil.

‘Só queremos adignidade queprometeram’

MARIA*Vendedora expulsa doHaroldo de Andrade

B O governador Luiz Fernan-do Pezão classificou como“abominável” a expulsão de80 famílias do Haroldo deAndrade. Procurado pelo EX-TRA, ele afirmou estar “à dis-posição do governo federalpara agir conjuntamente”.

— A Polícia Civil vem in-vestigando exaustivamentea ação do tráfico e da milícianesses episódios — afirma ogovernador.

O secretário de SegurançaJosé Mariano Beltrame, porsua vez, soube da invasão aocondomínio através de um ofí-cio da Polícia Federal, que co-municou a presença de “pes-soas armadas impedindo oacesso dos moradores”. O do-cumento foi remetido à 39ªDP, que abriu um inquérito noinício deste mês para apurar ocaso. A Secretaria estadual deSegurança, porém, informouque só a Polícia Civil iria se ma-nifestar sobre o ocorrido.

Por nota, a Civil confirmouque há inquéritos abertos so-bre a presença do tráfico dedrogas “em alguns empreen-dimentos do ‘Minha casa, mi-nha vida’”, acrescentando que“as investigações estão em an-damento e correm sob sigilo”.

Convidado a se manifestarsobre a situação das 80 famíli-as expulsas pelo tráfico, o Mi-nistério das Cidades avisouque não se pronunciaria, porse tratar de “caso de segurançapública”. Já a Caixa afirmouque “as denúncias relaciona-das a possíveis invasões e ex-pulsões de moradores são re-passadas ao Ministério da Jus-tiça”. As íntegras das respostasestão no site do EXTRA. s

t

Para Pezão,expulsão é‘abominável’

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AMANHÃMinistro manda PF investigartráfico nos condomínios.

MAIS NO SITEextra.globo.com

Assista ao vídeo com depoimentos de moradores.