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OUTUBRO / 2011 Emergência 22 ARQUIVO JORGE ALEXANDRE ALVES QUALIDADE AMEAÇADA QUALIDADE AMEAÇADA ESPECIAL / CERTIFICAÇÃO Emergência 22 OUTUBRO / 2011 O curso apresentado na foto segue os procedimentos adequados de credenciamento Cursos livres de credenciamento internacional oferecem opção de atualização profissional, mas aluno deve estar atento a fraudes Cursos livres de credenciamento internacional oferecem opção de atualização profissional, mas aluno deve estar atento a fraudes

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QUALIDADEAMEAÇADAQUALIDADEAMEAÇADA

ESPECIAL / CERTIFICAÇÃO

Emergência22 OUTUBRO / 2011

O curso apresentado na fotosegue os procedimentosadequados de credenciamento

Cursos livres de credenciamento internacionaloferecem opção de atualização profissional,mas aluno deve estar atento a fraudes

Cursos livres de credenciamento internacionaloferecem opção de atualização profissional,mas aluno deve estar atento a fraudes

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OUTUBRO / 2011 Emergência 23Emergência 23OUTUBRO / 2011

Oam no pré-hospitalar, seja em serviços públicos ou privados, ou mes-

mo na primeira resposta dentro de empresas, buscam qualificar suaatuação em cursos livres e, assim, fazer frente a um mercado cuja

competitividade é ascendente.A opção costuma recair sobre cursos de credenciamento internacional,

cuja fonte está vinculada a instituições estrangeiras reconhecidas por suaexcelência. No Brasil, tais capacitações são conhecidas por suas siglas, ten-

do os chamados cursos LS (Life Support - Suporte à Vida) como os maisfrequentados.A busca por qualificação profissional sem critérios, contudo, pode colocar o

aluno ou a empresa contratante em situações embaraçosas ou que resultem emperdas financeiras. Incluem-se aí os cursos plagiados (cópias não-autorizadas) e

os crimes de estelionato (quando o curso vendido utiliza indevidamente a marcada instituição). Neste caso, o aluno pode cair em um golpe: ele não terá ocredenciamento internacional que contratou, pois o instrutor não possui autoriza-ção para ministrar o curso.

Júnia Shizue Sueoka, médica do GRAU Resgate, coordenadora do SAME 199São Caetano do Sul/SP e professora de graduação em Medicina, diz que algumaspessoas tiram proveito da grande demanda no mercado e se utilizam de má fé paracopiar e comercializar cursos de forma irregular, com interesse puramente finan-ceiro. Assim, se aproveitam de profissionais ingênuos e, por vezes, oferecem valo-res abaixo dos oficiais, levando o aluno a fazer um curso que não obedece aoscritérios de qualidade exigidos pelos núcleos oficiais e pelos detentores dos direi-tos autorais.

“Temos que combater essas pessoas, acionando-os juridicamente para que não

s frequentes investimentos no setor de atendimen-to a emergências fazem crescer a demanda porcapacitação. Cada vez mais profissionais que atu-

Reportagem de Rafael Geyger

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continuem lesando os profissionais queos procuram, os quais, muitas vezes, têmpoucos recursos para dispor em capaci-tação”, avalia ela.

Diante de tal cenário, como se prote-ger? Como estar seguro de que o treina-mento contratado é ministrado por em-presa idônea e profissional devidamen-te autorizado? Especialistas recomen-dam uma série de medidas que o con-tratante pode adotar para certificar-se daautenticidade do produto.

Na opinião de Randal Fonseca, dire-tor da RTI (Rescue Training International)e instrutor do NSC (National Safety Coun-cil), o aluno tem na internet uma ferra-menta aliada. Nos websites (páginas ofi-ciais) das instituições que desenvolvemos cursos e certificam instrutores e alu-nos, o contratante poderá consultarquais os centros de treinamento e, emalguns casos, os instrutores autorizadospara ministrar aulas. Segundo ele, aodesconfiar da autenticidade do curso, ointeressado pode fazer uma consulta àinstituição no exterior, pois ela tambémterá interesse em coibir o uso indevidoda marca.

Um aspecto relevante a ser conside-rado é que cursos da linha Life Support

Paulo) em cursos da AHA (AmericanHeart Association) e diretor do GesBrasil(Grupo de Ensino em Saúde Brasil).Entre outras informações, o documen-to traz o número da autorização paraque o curso seja ministrado no Brasil.“É o agreement que atesta que ele é umcentro credenciado”, diz.

Por fim, a autenticidade é comprova-da com o certificado internacional emi-tido. “Forjar documentos ou criar umacortina de fumaça para vender um pro-duto é fácil. Difícil é, ao final do curso,emitir o certificado verdadeiro”, afirmaRandal. “A carteirinha que o aluno re-cebe em determinados cursos vem dosEstados Unidos e é mais difícil de serfalsificada”, completa Waltecir.

RISCOSDurante o treinamento, o aluno deve

estar atento à abordagem do instrutorpara detectar possíveis desvios e, assim,evitar ser enganado. Waltecir Lopes re-fere ter conhecimento de casos em quemateriais de instituições estrangeiras,como vídeos e livros, foram utilizadosem cursos sem autorização. Seria essauma forma ilegal e imoral de utilizar asigla internacional do curso para captaralunos. “Colocar que um curso é AHAou NSC e usar nomes como BLS (BasicLife Support) sem realmente ser é umainsanidade que deve ser denunciada. Es-tamos vivendo uma loucura e muitaspessoas estão desligadas, mas algumasfalsificações são grosseiras”, diz, refe-rindo-se a falsas credenciais de instru-tores que já flagrou.

O enfermeiro Thiago Nadalin Corain,instrutor da Socesp (Sociedade de Car-diologia de São Paulo), concorda que énecessário cuidado ao procurar profis-sionais e empresas que ofereçam treina-mentos. Um dos cursos mais plagiadosno Brasil é o BLS, que sofre adaptaçõesdiversas. “Não é difícil encontrar insti-tuições oferecendo o curso de SuporteBásico à Vida, pois a maioria não écredenciada e sem a devida autorizaçãopara realizá-lo e o que é pior: com ins-trutores mal preparados e desatualiza-dos”, refere.

Há, ainda, casos de fraude elaborados.Randal Fonseca relata que um indivíduotentou usar um certificado de doação aoNSC para comprovar a uma multinacio-nal que a empresa dele era um centrode treinamento autorizado. Explica Ran-

possuem um vínculo de acreditação emeducação em forma de convênio. Des-sa forma, um centro de treinamento éinicialmente aceito como polo de repre-sentação da entidade internacional emum determinado local (cidade, estado oupaís).

A dica é dada por Rosemary Proven-zano Thami, diretora médica do cursoITLS (International Trauma Life Support)no Brasil e coordenadora acadêmica doSERV-RIO/CITE (Centro Integrado deTreinamento em Emergência). Ela tam-bém lembra que inexiste docência livrepara tais cursos. “Ou seja, todos os ins-trutores têm um vínculo institucionalcom a organização de ensino creden-ciada”, completa.

Também é mais seguro ter uma pes-soa jurídica como provedor dos treina-mentos, avalia Jorge Alexandre Alves,especialista em emergências e diretor daFire & Rescue College Brasil. “Porém,é muito importante conhecer ainda oendereço físico dessa instituição ou se ésomente virtual”, afirma.

Outra medida é solicitar o agreement aquem está vendendo o curso, recomen-da Waltecir Lopes, fisiologista, instrutordo Incor (Instituto do Coração de São

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Caminhos da atualizaçãoOpções de qualificação nos cursos livres internacionais abrangem emergências clínicas e traumáticas diversas

Cursos da linha LS começaram a serprocurados no Brasil por praticantes deatividades esportivas e de aventura, co-mo mergulhadores e alpinistas. Confor-me Jorge Alexandre Alves, especialistaem emergências e diretor da Fire &Rescue College Brasil, o reconhecimentodo credenciamento em qualquer lugardo mundo foi um atrativo para tal gru-po, que também realizava sua atividadeem locais remotos, longe de qualquertipo de assistência de urgência, na mai-oria das vezes.

Devido à boa qualidade dos materiaisdidáticos e da atualização dos protoco-los oferecida em tais treinamentos, ex-plica Jorge, profissionais de emergênciapassaram a procurar por esse tipo dequalificação. “Atualmente, os participan-

tes desses cursos são das mais diversasáreas”, relata.

Na avaliação de Júnia Shizue Sueoka,médica do GRAU Resgate e coordena-dora do SAME 199 São Caetano do Sul,tais cursos proporcionaram uma melho-ra significativa no atendimento ao paci-ente, impactando diretamente na suamorbimortalidade. Ela afirma que, como objetivo de padronizar conceitos deatuação, os cursos de certificação inter-nacional já são, inclusive, utilizadoscomo pré-requisito para contrataçõesem algumas empresas.

O ganho do aprendizado de um pro-tocolo técnico e sistematizado, reconhe-cido e utilizado em vários países, é tam-bém ressaltado como uma vantagemdesse tipo de treinamento por Rosemary

dal que qualquer pessoa quedoe 500 dólares ao NSC re-ceberá um diploma demembro da instituição, masque ser membro doador nãoo autoriza a ministrar cur-sos do NSC.

De posse do papel, o este-lionatário ofereceu umaqualificação criada por elepróprio, como se tivesse ouso autorizado pelo NSC.Também comprou um ma-nequim de treinamento junto ao depar-tamento de vendas do NSC e alegou quea instituição havia, inclusive, enviado aele tal material para o curso.

A multinacional detectou o risco econsultou o NSC nos EUA, que já ha-via estranhado o pedido de urgência doindivíduo em receber seu certificado dedoador. “Tivemos que interromper aação de um indivíduo que tentou se lo-cupletar do trabalho do NSC para ven-der um produto feito na sua cozinha,dizendo que aquele produto estava endos-sado por uma instituição internacional,sem realmente estar”, reclama Randal.

Para Rosemary Provenzano, as ativida-des ilícitas ocorrem em razão da lacunadeixada pela educação formal, já que háum hiato educacional com relação ao en-sino da Emergência na graduação (En-fermagem e Medicina). Com isso, o queseria um simples curso para atualizaçãoprofissional passa a ser visto como capa-citação, já que as escolas médicas e deEnfermagem, em sua maioria, não a-companharam a evolução curricular.

“A educação, no aspecto comercial, éuma atividade rentável. Sendo assim,muitos locais passam a oferecer cursoslivres para um público-alvo ávido porconhecimento”, diz. Ela mesma já de-tectou a oferta de um curso ITLS porempresa não autorizada.

RESPONSABILIDADEO raciocínio é lógico: só há mal-in-

tencionados ofertando cursos falsos ouplagiados por que há compradores dis-postos a pagar pela ilegalidade e despre-ocupados com a qualidade do aprendi-zado. Sendo assim, o contratante do trei-namento tem a responsabilidade implí-cita de disciplinar o mercado.

Para Waltecir Lopes, uma minoria con-trata qualidade e o aluno não costumafazer jus ao que pagou pelo treinamen-

to, pois não tem o hábitode cobrar ou mesmo che-car a sua autenticidade. Jápara Jorge Alexandre Al-ves, quando o curso é pro-curado por pessoa física,o menor preço costumaser adotado como princi-pal fator de escolha, asso-ciado à localização próxi-ma da sua residência e doperfil do grupo de partici-pantes, como gênero, faixa

etária e profissão.Por sua vez, Randal Fonseca relata o

caso de uma empresa que precisava queseus funcionários tivessem o certifica-do internacional para prestar serviços auma multinacional. Um instrutor doNSC, então, ofereceu uma proposta comcredenciamento NSC e outra sem o ma-terial didático do NSC, mas com menorpreço e certificado doméstico, assinadopor ele.

A escolha foi pela oferta mais barata,mas a credencial não foi aceita pela mul-tinacional, pois não cumpria os requisi-tos internacionais para a formação doaluno e, assim, os funcionários da con-tratada não puderam trabalhar. “Quemcompra um curso alternativo é tão cri-minoso quanto o instrutor que oferece

esse tipo de treinamento”, reitera.Além disso, refere Randal, muitas

empresas estão mais interessadas nocertificado do que no aprendizado. “Onúmero de propostas que recebemospara vender certificado é alto”, diz. “Nãovendemos, mas sabemos que há quemo faça, entregando certificados sem com-provação do aprendizado”, completa.

A credencial do NSC só é entregueapós aprovação do aluno na avaliaçãoprática e no exame escrito, em que cons-te a assinatura do aluno solidária com ado instrutor. Os centros de treinamen-to NSC devem enviar também uma fotodos alunos com os equipamentos obri-gatórios. Mesmo que lentamente, avaliaRandal, a prática tem dado resultados.“Os centros de treinamento que que-rem ser sérios, vingarão. Temos vistomodificações promissoras, substituindoa velha cultura do jeitinho brasileiro”,diz.

Ele ressalta ainda que o aluno que optapor aprender tem como retorno a grati-ficação pelo aprendizado. “Ser espertoé fazer a coisa certa, não é permanecerna ignorância. Esperteza é ensinar cor-retamente e, no dia em que o filho, ocônjuge ou o colega de trabalho de umsocorrista bem formado precisar, elesaberá como agir”.

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Thiago: cuidar treinamentos

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Provenzano Thami, diretora médica docurso ITLS no Brasil e coordenadoraacadêmica do SERV-RIO/CITE. Con-tudo, ela lembra que tais qualificaçõesnão têm o caráter de habilitação, ou seja,não tornam um profissional apto parao atendimento a emergências.

As opções de qualificação nos cursoslivres abrangem emergências clínicas etraumáticas. O ITLS (antigo BTLS) édividido em básico e avançado. ExplicaRosemary que a opção básica é destina-da, preferencialmente, a profissionais denível técnico e também a brigadistas,bombeiros civis, dentistas e fisioterapeu-tas. Já o curso avançado é voltado a en-fermeiros, médicos, acadêmicos de En-fermagem ou Medicina, a partir do séti-mo e oitavo períodos, respectivamente.

Ainda na área do trauma, as opçõesmais conhecidas são o PHTLS (Pre Hos-pital Trauma Life Support), o ATLS (Ad-vanced Trauma Life Support) e o ATCN(Advanced Trauma Care for Nurses), esteúltimo voltado exclusivamente a enfer-meiros, define Thiago Nadalin Corain,enfermeiro e instrutor na Socesp.

Já na área clínica, refere Thiago, a op-ção mais procurada é o BLS, que é vol-tado a profissionais da saúde em geral,

profissionais de resgate e que pode sercursado por pessoas ligadas a ativida-des diversas. Em seu conteúdo, o alunoaprende manobras de ressuscitação, usodo DEA e procedimentos de primeiraresposta a situações de urgência maiscorriqueiras.

Na área cardiológica, o ACLS (Advan-ced Cardiac Life Support) é direcionado a

médicos, acadêmicos de Medicina e en-fermeiros e aborda procedimentos a-vançados, como manipulação de fárma-cos e condução terapêutica em situaçõescomo infarto e acidente vascular. Emlinha semelhante, mas voltado a pacien-tes pediátricos, a opção é o PALS (Pe-diatric Advanced Life Support).

Ainda com certificação estrangeira, há

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Cursos de certificação internacional têm participantes de diversas áreas

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Antes da matrícula, alunos devem saber o que realmentebuscam e qual a aplicação prática do conteúdo para asua vida profissional

OBJETIVOSTRAÇADOS

uma série de outros treinamentos bas-tante praticados no Brasil, que contamcom instrutores treinados para seguir osprotocolos internacionais atualizados,como Heart Saver (reconhecimento eresposta à parada cardiorrespiratória) eFirst Responder (agente de emergênciasmédicas).

Completam o cenário alguns cursosainda não difundidos no Brasil, lembraJorge Alexandre. Ele cita o AMLS(Advanced Medical Life Support), que ofe-rece suporte avançado voltado a médi-cos, o BHLS (Basic Hazmat Life Support)e o AHLS (Advanced Hazmat LifeSupport). Os dois últimos têm conteú-dos específicos para suporte de vida ememergências com produtos perigosos,contando com o reconhecimento daAACT (American Academy of ClinicalToxicology).

APLICAÇÃOAntes de matricular-se em cursos li-

vres, é muito importante saber o querealmente está buscando e qual a apli-cação prática do conteúdo para sua vidaprofissional. Segundo Jorge Alexandre,é preciso ponderar, por exemplo, se ocurso básico cumpre com as expectati-vas nele depositadas e se há nível de for-mação suficiente para compreender osprocedimentos do curso avançado, bemcomo realizá-los sem impedimento le-gal, dentro do seu limite de atuação.

Randal Fonseca, diretor da RTI e ins-trutor do NSC, faz ressalva semelhante.Como exemplo, ele cita que os cursosPHTLS e ATLS são direcionados nos

EUA a médicos e paramédicos - cate-goria que permanece sem similar noBrasil. Assim, profissionais de nível téc-nico podem até aprender sobre farma-cologia e manobras invasivas, que sãode atribuição exclusiva do médico noAPH brasileiro. “Algumas drogas e equi-pamentos usados no ATLS não existemno Brasil”, diz. “As pessoas fazem essescursos, objetivando conhecimento indi-vidual, uma vez que dentro da equipe oprofissional não poderá aplicar as téc-nicas se não for um médico”, completa.

Da necessidade, surgem as adapta-ções, que podem impor riscos à qualifi-cação ao modificar o conteúdo do trei-namento. Por esta razão, qualquer adap-tação deve se restringir à aplicabilidadedo aprendizado e não ao protocolo deensino. “Só não podemos mudar o con-teúdo e a essência do curso”, diz Júnia.

Ainda assim, a adaptação só pode serrealizada quando do conhecimento eautorização dos núcleos centrais.

Thiago Corain diz que devem ser en-sinados aos alunos procedimentos emconformidade com os modelos interna-cionais para, em seguida, discutir em aulao que pode ser feito no dia a dia dosatendimentos para se aproximar ao má-ximo possível do protocolo.

Como exemplo, ele cita a recomenda-ção para que o aluno, após reconheceruma pessoa inconsciente fora do hospi-tal, peça ajuda e um DEA (DesfibriladorExterno Automático). No Brasil, contu-do, a existência do aparelho na maioriados locais ainda é rara. “Então, orienta-mos ao aluno a solicitar ajuda o maisrápido possível de uma equipe especia-lizada, esperando que ela venha com umdesfibrilador”, pontua.

Para Jorge Alexandre, pode haver umaadaptação também quanto ao profissio-nal que participa do treinamento. Ouseja, ele recomenda que equipes de su-porte avançado também frequentemcursos de suporte básico, considerandoa notória insuficiência desse conteúdona formação profissional.

Já nos treinamentos de suporte avan-çado, é importante ter a participação deprofissionais enfermeiros e técnicos quetrabalham em equipes de emergência emhospitais e no pré-hospitalar. SegundoJorge, mesmo que não possam efetuarprocedimentos invasivos, eles devemconhecer as rotinas e protocolos para,em forma de time, serem mais eficien-tes no atendimento crítico dos pacien-tes.

Além de tomar a qualificação como

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Cursos trazem protocolo técnico e sistematizado, reconhecido e utilizado em vários países

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Ética do aprendizadoCentros de treinamentos e instrutores devem ter compromisso com o conteúdo dos cursos, construído por pesquisas científicas

Os cursos livres com credenciamentointernacional têm em suas bases maisdo que sólidas instituições. Seus conteú-dos são formatados a partir de fontes,ou seja, do resultado de pesquisas quecomprovam, cientificamente, o que estáse propondo a ensinar.

Essa é uma carência do ensino eaprendizagem na área de emergência noBrasil, detecta Randal Fonseca. “Em vezde os profissionais se unirem e funda-rem instituições sólidas, preferem baterna porta dos órgãos de governo e pedirque entreguem a coisa pronta. Institui-ções criadas pela sociedade civil organi-zada é que devem dar aos governantesos parâmetros de como querem que ascoisas sejam feitas e não ao contrário,como vemos”, avalia.

Ele reitera que os primeiros socorros,

as técnicas de resgate e as operaçõesespeciais deixaram de ser apenas con-teúdos criativos sem grande responsa-bilidade e passaram a ser desenvolvidosa partir de tecnologias altamente sofis-ticadas, o que exige padronizar e con-trolar a emissão dos certificados, tantopara os instrutores, como para os alunos.

Os representantes no Brasil das insti-tuições promotoras dos cursos livres sãoos centros de treinamento. Um docu-mento de gestão contratual entre as par-tes estabelece uma série de cláusulassobre limites éticos, técnicos, adminis-trativos, gerenciais e de uso da imagemdo órgão credenciador pelo núcleo bra-sileiro.

Conforme Rosemary ProvenzanoThami, quando algum centro se distan-cia destas limitações e responsabilida-

des, ele é automaticamente descreden-ciado ou poderá sofrer algum tipo depunição, conforme estabelecido no con-vênio.

Por sua vez, Jorge Alexandre Alves,explica que um dos instrumentos de fis-calização da qualidade do treinamento(sempre pela instituição credenciadora,já que não existe órgão regulador) é aavaliação direta dos alunos por meio deum questionário. Tal metodologia poderesultar no descredenciamento de cen-tros e de instrutores.

Na análise de Randal, é importanteestar atento a condutas suspeitas de cen-tros que, mesmo credenciados, podemprejudicar a qualidade do aprendizado.Entre elas, está a falta de controle naemissão das credenciais de instrutorese de alunos. Randal sugere que o con-tratante desconfie da seriedade do cen-tro que prometer enviar as credenciaisjuntamente dos livros didáticos, antesmesmo da conclusão do curso.

“Livros, por si só, não ensinam a sal-var vidas”, diz. “De nada adiantará ter aferramenta para ensinar se o instrutornão está sensibilizado e motivado a fa-zer o uso devido dela, como tambémnão adianta entregar livros de boa qua-lidade para os alunos e acreditar que elesaprenderão sozinhos”, completa.

INSTRUTORO principal aliado do aluno que dese-

ja aprender é o seu instrutor e, por isso,investir na formação adequada desseprofissional é necessário. Lembra Rose-mary que cada curso possui o seu ma-nual do instrutor, com diretrizes e exi-gências contratuais pedagógicas, didáti-cas e administrativas já pré-estabelecidase que devem ser seguidas. Os critériosde identificação do instrutor em poten-cial e do programa obrigatório para asua formação também são particularesde cada curso. Em linhas gerais, explicaela, após um desempenho exemplar notreinamento, seguido pelo curso especí-fico de instrutor feito por indicação ede alcançar índice satisfatório em com-petência e perfil pedagógico, o profissi-onal terá apoio do seu centro de treina-mento para exercer esta potencialidade.O cenário atual, entretanto, remete à au-sência de uma supervisão pedagógica tãocriteriosa e contínua em alguns sítioscredenciados.

Preocupação semelhante é demons-

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Cursos formatados a partir de pesquisas que comprovam cientificamente o que está sendo ensinado

um ganho para a equipe, é preciso siste-matizar os processos fazendo com quecada etapa do atendimento seja integra-da com as outras ações. Cada tipo decurso é apenas uma peça na engrena-gem, avalia Randal. “Um programa detreinamento necessita de cursos que, aoserem concluídos, seja o começo deoutro programa, dentro de uma corren-te de responsabilidade. Um sistema é,portanto, um conjunto de mecanismosafins que deve conduzir a uma ação dequalidade mensurável. Se os serviços

não estiverem elencados dentro de umprocesso lógico, teremos uma colcha deretalhos”, afirma.

Para Randal, é uma ilusão dos profis-sionais das empresas e instituições go-vernamentais acreditar que os seus in-teresses possam ser atendidos somentepelo fato de os cursos virem dos EUA,indiscriminadamente. “Um curso, sozi-nho, é como se alguém aprendesse atocar notas musicais de forma aleatória.Há uma série de sons até harmônicos,mas não há uma melodia”, compara.

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OPÇÃO CUSTOMIZADANão é apenas por cursos livres de certificação

internacional que o profissional de emergênciapode se capacitar no Brasil. Há uma série de trei-namentos oferecidos por empresas e instrutoresna área de consultoria, muitos deles elaboradospara necessidades específicas.

Conforme Waltecir Lopes, instrutor do INCORe diretor do GesBrasil, é importante que o con-tratante avalie esse tipo de qualificação comoalternativa, pois o curso sem credenciamento po-de, conforme o caso, até superar o treinamentoque oferece a certificação.

“Há empresas que não querem curso com cre-

denciamento internacional, mas cursos customi-zados, ou seja, desejam que cumpra suas neces-sidades legais, que use a sua realidade, que pro-ponha alternativas para os planos de emergência eque respeite a sua logística, recursos humanos,etc.”, diz.

Assim como ocorre com os cursos certificados,para esse tipo de treinamento a recomendação aocontratante é avaliar o currículo do instrutor e a ido-neidade da empresa responsável pelo curso, alémde seu histórico e proposta pedagógica, questio-nando a fonte utilizada para a formatação do trei-namento.

trada por Waltecir Lopes. Dependênciado material didático e falta de domíniosobre o conteúdo são falhas apontadaspor ele. Waltecir lembra também docompromisso do instrutor com a apren-dizagem e destaca que o ensino não po-de ser transformado em uma disputa so-bre quem ministra a aula mais rapida-mente.

Para ele, embora não haja exigêncialegal, seria recomendável que o instru-tor tivesse formação de professor, ouseja, graduação com Licenciatura Ple-na. Os cursos de credenciamento inter-nacional, no entanto, exigem apenas queo instrutor seja da área de saúde (são 13profissionais, conforme a Resolução218/97, do Conselho Nacional de Saúde).

Randal Fonseca recomenda que o ins-trutor invista na sua carreira e mante-nha sua credencial internacional sempreatualizada. “Todo instrutor, de qualquertipo de curso livre, que emita certificaçãode qualificação profissional internacio-nal, deve ter Licenciatura Plena. Semisso, ninguém poderia estar autorizadoa ministrar aulas em cursos que preci-sam passar por auditorias”, defende ele.

ALUNOJá por parte do aluno, ao concluir o

curso e receber sua credencial (cartei-rinha), ele inicia uma nova fase profissi-onal, que pode lhe trazer novas oportu-nidades de emprego, como tambémimplicações legais caso ultrapasse as suaslimitações de competência. A credencialtem validade curta (em geral dois anos)e o curso deve ser refeito após esse pe-ríodo. De acordo com Waltecir Lopes,ela atesta que o aluno foi aprovado den-tro do mínimo de desempenho exigido

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Treinamentos para necessidades específicas

em habilidades práticas, psicomotoras ecognitivas.

Júnia Shizue Sueoka, lembra que acarteirinha não garante uma vaga nomercado, mas é um indicativo de queaquele profissional passou por avaliaçãocriteriosa e que teve as informações ne-cessárias para o atendimento da vítima.

Não há no Brasil nenhuma legislaçãoou mesmo política interna em institui-ções privadas que preveja o porte ourenovação das credenciais, esclarece Jor-ge Alexandre. Já nos Estados Unidos,

país de origem da maioria desses creden-ciamentos, a carteirinha deve estar váli-da e ser apresentada sempre que solici-tada em fiscalizações, auditorias ou exi-gências legais locais.

Segundo Jorge, ela serve de critériopara os profissionais comprovaremque estão aptos a trabalhar em deter-minados serviços de emergências emterritório norte-americano, como salasde emergências em hospitais ou am-bulâncias, independente da sua forma-ção.