especial de trânsito - 25 de setembro

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CADERNO ESPECIAL DIARIO de P P E E R R N N A A M M B B U U C C O O DOMINGO Recife, 25 de setembro de 2011 EXPEDIENTE: Diretora de redação: Vera Ogando Textos: Tânia Passos Edição: Lydia Barros Edição de fotografia: Heitor Cunha Edição de arte: Christiano Mascaro Motos: contra a barbárie, a educação As mortes no trânsito provocadas por acidentes de motos em Pernambuco são uma das faces mais cruéis da explosão do au- mento da frota, que vem crescendo mais de 300% a cada dé- cada. E a quantidade de mortes já chegou a números alarman- tes. No ano de 2010 foram registradas 571 mortes, uma média de 1,5 por dia. No mesmo ano, a frota alcançou 639 mil motos. Na década de 1990, a diferença entre carros e motos era de 90%, hoje já reduziu essa distância para cerca de 30%. A explosão do aumento na forta não veio acompanhada de um aspecto fundamental: a formação dos condutores. Os pró- prios motociclistas admitem a fragilidade da preparação e o tes- te do Detran não é suficiente para medir a habilidade. O resul- tado pode ser visto nas ruas com motociclistas mal preparados e imprudentes e, o que é pior, transformados em armas letais con- tra eles mesmos e terceiros. Mesmo sem a exigência da lei, os próprios motociclistas estão se organizando em clubes e pas- sando a oferecer alternativas de reciclagem para uma direção se- gura. Eles também chamam atenção da responsabilidade dos fabricantes em relação aos equipamentos de segurança. Na sexta edição do Fórum Desafios para o Trânsito do Ama- nhã, pr nhã omovido pelos Diários Associados, as motos foram o te- ma da discussão. Para tentar reverter o quadro, o governo do es- tado instituiu o Comitê de Prevenção de Acidentes de Moto, com a meta de reduzir pela metade as mortes em até 10 anos. GREG/DP

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Page 1: Especial de Trânsito - 25 de setembro

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DOMINGORecife, 25 de setembro de 2011

EXPEDIENTE: Diretora de redação: Vera Ogando Textos: Tânia Passos Edição: Lydia Barros Edição de fotografia: Heitor Cunha Edição de arte: Christiano Mascaro

Motos:contra abarbárie,a educação

Asmortesnotrânsitoprovocadasporacidentesdemotosem

Pernambucosãoumadas facesmaiscruéisdaexplosãodoau-

mento da frota, que vemcrescendomais de 300%a cada dé-

cada.Eaquantidadedemortes jáchegouanúmerosalarman-

tes.Noanode2010 foramregistradas 571mortes, umamédia

de 1,5pordia.Nomesmoano, a frotaalcançou639milmotos.

Na década de 1990, a diferença entre carros e motos era de

90%, hoje já reduziu essa distância para cerca de 30%.

A explosão do aumento na forta não veio acompanhada de

umaspecto fundamental: a formação dos condutores. Os pró-

priosmotociclistasadmitemafragilidade dapreparaçãoeotes-

te do Detran não é suficiente paramedir a habilidade. O resul-

tadopodeservistonasruascommotociclistasmalpreparados

eimprudentese,oqueépior,transformadosemarmasletaiscon-

tra eles mesmos e terceiros. Mesmo sem a exigência da lei, os

próprios motociclistas estão se organizando em clubes e pas-

sandoaofereceralternativasdereciclagemparaumadireçãose-

gura. Eles também chamam atenção da responsabilidade dos

fabricantes emrelaçãoaos equipamentosde segurança.

NasextaediçãodoFórumDesafiosparaoTrânsitodoAma-

nhã, pr,prnhã omovidopelosDiáriosAssociados,asmotos foramote-

madadiscussão.Paratentarreverteroquadro,ogovernodoes-

tadoinstituiuoComitêdePrevençãodeAcidentesdeMoto,com

ametade reduzir pelametadeasmortes ematé 10anos.

GREG/DP

Page 2: Especial de Trânsito - 25 de setembro

Aemergência da trau-matologia do Hospi-tal da Restauraçãoestá quase sendo

chamada de emergência de trau-mas de moto. Mais de 80% dosatendimentos são de vítimas deacidente de motocicleta, que ocu-pam praticamente todos os lei-tos, todos os dias. Na última se-gunda-feira, o Diario foi conhe-cer as histórias dessas pessoas, ví-timas do mesmo tipo de trau-ma, e que passaram a dividirsuas dores, suas esperanças e ex-pectativas enquanto se recupe-ram em uma cama de hospital.

Há oito meses internado, o ex-motociclista José Romariz Rêgo,42 anos, assiste à chegada de no-vos pacientes. Alguns conse-guem ter alta antes dele. Josésofreu um acidente no dia 28 dejaneiro deste ano, na Muribeca,em Jaboatão dos Guararapes. Elehavia pego carona na moto deum amigo e viu quando um car-ro entrou na contramão e atin-giu os dois em cheio. Desde quefoi internado, ele já passou porseis cirurgias, mas acabou per-dendo a perna esquerda. A am-putação havia ocorrido quinzedias antes de nossa chegada aohospital. O ex-motociclista esta-va conformado, mas inseguroquanto ao futuro.

“Eles fizeram de tudo para sal-var a minha perna, mas não tevejeito. O importante é que estouaqui. Muitos morrem no aciden-te. Só não sei como será minha vi-da daqui para frente”. Casado e

pai de quatro filhos, ele e a mu-lher costumavam usar a moto co-mo meio de transporte . “Perdi aperna, mas mesmo se não tives-se perdido não iria mais usar mo-to. Minha esposa também nãoquer mais. Foi preciso isso acon-tecer para gente entender que orisco é muito grande e eu pode-ria ter morrido”, afirmou.

Nem todas as vítimas de aci-dente de moto pensam assim. Omototaxista de profissão Adre-nílson Ramos Gonzaga, 26 anos,foi internado no HR no dia 30 deagosto deste ano. Ele sofreu fra-tura na perna, foi operado e de-verá ficar um bom tempo inter-nado. “Uma moto bateu de fren-te com a minha. Eu desmaiei eacordei no hospital. Mas aindaacho a moto um meio de trans-porte seguro. O motoqueiro quebateu em mim estava bêbado.Quando eu sair daqui volto a pi-lotar”, disse.

Tamanha disposição tambémpode ser vista no motoqueiroEdiclei dos Santos da Silva, 25anos, que sobreviveu a um aci-dente por quase milagre. A mo-to de Ediclei também se chocoucom outra. O outro piloto mor-reu. Ele passou dois meses em

coma e teve perda temporáriada memória. Internado desde odia 1º de agosto, está quase re-cuperado. Só continua preso àcama devido a uma fratura naperna e outra no braço. “Só é otempo de sair daqui para subirna moto. Na minha opinião, é omelhor meio de transporte e detrabalho. Não tem outro”, afir-mou Ediclei. Se depender damãe, ele terá que procurar outraprofissão. “Não quero que elevolte a andar de moto. Muitagente está morrendo”, revelouMaria de Fátima dos Santos Ne-vez, 45 anos.

Cirurgião há 21 anos do Hos-pital da Restauração, o médicoJoão Veiga, atual coordenadordo Comitê de Prevenção de Aci-dente de Motos, diz que já per-deu as contas de quantas vezesteve que comunicar a um pai ouuma mãe a morte do filho, víti-ma de acidente de moto. “A gen-te faz de tudo para salvar e, quan-do não consegue, chega o piormomento de dar a notícia. Hojeme recuso a fazer isso. Designeiessa função a um residente. Jádei minha contribuição por 21anos. Tenho filhos adolescentese me coloco na posição dos pais”.

desafios para o trânsito do amanhã

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2 DIARIOddddeeeePPPPEEEERRRRNNNNAAAAMMMMBBBBUUUUCCCCOOOO - Recife, domingo, 25 de setembro de 2011especial

saibamais+

Asortedossobreviventes

Em 1990, Pernambuco tinhauma frota de apenas 33.381 mo-tos. Dez anos depois houve umsalto para 144.804, um aumen-to de 334%. Era o início de umaexplosão no consumo, que en-controu terreno em duas con-junturas: a facilidade na comprado veículo com prestações a per-der de vista e a corrida para es-capar do transporte público aqualquer preço. Não deu outra.De 2000 a 2010, houve mais341% de aumento da frota quepassou, no ano passado, para639.404 motos.

A cada ano, o acréscimo sur-preende. De 2008 para 2009 hou-ve um aumento de 83.096 novasmotos. De 2009 a 2010 esse au-mento chegou a 99.020 e a ten-dência é aumentar ainda mais.Apesar de ser um veículo peque-no de fácil locomoção, a motochega a ocupar 4 vezes mais es-paço que o ônibus nas vias.

Para ser controlada, essa “epi-demia” deve seguir alguns ca-minhos. O primeiro é a melho-ria do transporte público. A mo-to ou o carro não podem ganharpara o ônibus ou o metrô. “Namoto eu chego mais rápido aotrabalho. Se for depender do ôni-

bus, vou perder muito tempo”,revelou o motociclista RozanoGomes, 39 anos. A expectativada melhora do transporter pú-blico deve vir com os investi-mentos para a Copa de 2014. Oestado, o município e o governofederal anunciaram investimen-tos na ordem de R$ 1,3 bilhão nainfraestrutura viária de trans-porte, que inclui corredores ex-clusivos, paradas em nível, ho-ra de chegada e partida e, dequebra, a implantação do proje-to de navegabilidade para a par-te Oeste da cidade.

“Não estamos defendendo queas pessoas deixem de comprarcarro ou moto. Mas esses podeme devem ter outra utilidade, co-mo por exemplo o lazer. Nas ati-vidades do dia a dia, o transpor-te público deve ser prioridade ecom qualidade”, declarou o pre-sidente do Fórum Desafios parao Trânsito do Amanhã, o enge-nheiro Laédson Bezerra. O outroviés é o da educação e fiscaliza-ção. “Nós vamos direcionar asações do comitê de Prevenção deAcidentes em dois pilares: edu-cação no trânsito e fiscalização”,detalhou João Veiga, coordena-dor do comitê estadual.

Radiografiados acidentesde moto em PE

8.700atendimentos em 2010

571 mortes

30%das vítimas apresentavamsinais de embriaguez

70%não eram habilitadas

11%das vítimas ficarammutiladas

20%dos atropelamentos depedestres nas calçadas sãopor motociclistas

77%dos acidentes deixamos pacientes em estadomuito grave

Fonte: João Veiga, em pesquisa no HR

Motos ganhamespaço nas vias

1990 2000 2010 2011

Apesardas

sequelas,muitos

acidentados

voltamapilotar

Fonte: Detran - PE

Evolução da frota de motos em PE

33.381motos

144.804motos

639.406motos

701.139motos(até omês de agosto)

Internadoháoitomeses, JoséRomariz perdeu apernadepois de passar por seis cirurgias

Ediclei dos Santos da Silva ficoudoismeses emcoma

Adrenilson Gonzaga sofreu uma fratura na perna, foi operado e deve ficar um bom tempo no hospital

Na Traumatologia doHR, mais de 80% dosinternados são vítimasde acidentes de motos.Recuperação costumaser longa e incerta

FOTOS:

TERESA

MAIA/D

P/D

.APRESS

Page 3: Especial de Trânsito - 25 de setembro

Osenhor concordacoma te-se de que amoto é a grandevilã no trânsito?E ela é? Porque não há nenhumestudo de causa dos acidentesno Brasil. Não sabemos ao certose a responsabilidade é do con-dutor ou do veículo, ou ainda deterceiros. Um buraco na pista,por exemplo, pode ser um cau-sador de acidente.

O motociclista brasileiro épreparado o suficiente na

horade tirar acarteiradeha-bitação?Há uma grande lacuna na capa-citação. O que importa é passar noteste do Detran. Tem uma piadaconhecida que diz que basta saberfazer o oito para passar no teste.E isso, claro, não mede a capaci-dade do condutor. Em São Paulo,por exemplo, não sei aqui, mas látem motociclista que altera a mo-to para que ela acelere mais e en-tão fica mais fácil de passar noteste da rampa.

Na sua opinião, a fiscaliza-çãoprecisaria sermais rigo-rosa?Sim. Quando há um acidente en-volvendo moto ninguém investi-ga se a moto estava com defeito.Em alguns casos é possível iden-tificar se o condutor estava ounão alcoolizado, mas a moto nãoé fiscalizada.

Em relação aos itens de se-gurança da moto, os fabri-cantesnãopoderiammelho-

rar a qualidade e os acessó-rios serem obrigatórios noato da venda do produto.É preciso que tenha uma regula-mentação sobre isso, uma vezque não é permitida a venda ca-sada. E não é certeza se fosse ofe-recido um capacete básico jun-to com a moto, se o motociclis-ta iria utilizar.

Deque formaos fabricantespodem colaborar na redu-ção dos acidentes?

Nós estamos abertos a colaborarno que for possível. E já fizemosalgumas iniciativas por conta pró-pria, inclusive com a realização demutirão para fiscalizar as condi-ções das motos. Foram observa-dos 21 itens de manutenção emalguns estados brasileiros. Aqui,por exemplo foi observado que sequebra mais a coroa e a corrente.Não sabemos ao certo a razão, queprecisa ser melhor investigada.Em São Paulo são os freios quesão mais danificados.

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DIARIOddddeeeePPPPEEEERRRRNNNNAAAAMMMMBBBBUUUUCCCCOOOO - Recife, domingo, 25 de setembro de 2011 especial 3

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desafios para o trânsito do amanhã

Quando há um

acidente com

moto ninguém

investiga se

ela estava

comdefeito”

Diretor daAbraciclo critica a falta deumpadrãona fiscalizaçãode veículos e condutores

entrevista >> Moacir Alberto Paes

“Nãohá estudosobre a causadosacidentes nopaís”

Vilã ou vítima? Estigmatizada, em função da quantidade de

vítimas no trânsito, amoto vem se transformando emalvo fá-

cil de críticas. Mas a Associação Brasileira dos Fabricantes

de Motos (Abraciclo) questiona a ausência de um estudo da

causa dos acidentes. De fato não existe. Também não há ho-

je um padrão de fiscalização que seja capaz de identificar as

condições do veículo e do condutor. Na entrevista abaixo, o

diretor executivo da Abraciclo, Moacir Alberto Paes, fala so-

bre o que poderia ser melhorado na fiscalização e capacita-

ção. Há muito o que ser feito e os fabricantes também preci-

sam ser chamados para fazer a parte deles.

JULIO JACOBINA /DP/ D.A PRESS

ALEXANDREGONDIM

/DP/D

.APRESS

-03/07/20

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Page 4: Especial de Trânsito - 25 de setembro

Aepidemia social resul-tante do crescimen-to da frota de motosno estado respinga

responsabilidade para todos os la-dos. Não há um único culpado. Oefeito dominó tem raízes que seiniciam desde a ausência de umaformação adequada dos conduto-res, da não disponibilização, pe-los fabricantes, dos equipamen-tos de segurança e da falta de res-ponsabilidade de motociclistas,motoristas e pedestres.

A resolução nº 356/2010 do Con-selho Nacional de Trânsito (Con-tran) define os requisitos de se-gurança, por exemplo, para moto-frete e mototáxi: protetor de per-nas e motor, aparador de linha(corta-pipa), faixas refletivletivef as e di-mensões das cargas e alça paraapoio dos passageiros, entre ou-tros. A resolução, no entanto, nãoaponta até onde vai a responsabi-lidade do fabricante. “Os itens desegurança da moto eram para virjunto com a moto. Ninguém com-pra um carro faltando o cinto desegurança. A nossa legislação éomissa na hora de chamar os fa-bricantes à responsabilidade”, cri-ticou o motociclista e conselhei-ro de segurança do Clube Bodesdo Asfalto, Aílton Martins Cezar.

A crítica de quem está numaguerra diária no trânsito é tam-bém em relação à falta de forma-ção dos condutores. E nesse que-sito a lacuna é talvez a mais da-nosa, uma vez que traz conse-quências, em geral, irreversíveispara o próprio condutor ou tercei-ros. “Ninguém aprende a condu-zir nos cursos das autoescolas. Apessoa aprende apenas a passare as autoridades sabem disso enão fazem nada para mudar”,afirmou Aílton Cezar. E ele nãoé o único. O próprio diretor defiscalização do Detran, SérgioLins, admite que a formação nãoé suficiente. “São escolas de ha-bilitação. Não de formação”, reve-lou durante uma audiência públi-

ca sobre os motociclistas na Câ-mara de Vereadores.

A educação no trânsito é umdos pilares do Comitê Estadualde Prevenção de Acidentes. Se-gundo o coordenador e médicoJoão Veiga, será feito um traba-lho junto às escolas. “Somente es-te ano, nós teremos 60 escolasque irão adotar a disciplina deeducação no trânsito, mas a pro-posta é ampliar para todos os ní-veis de ensino”, revelou.

Dentro do tema de educação,o motociclista Aílton Martins Ce-zar acredita que é uma oportu-

nidade de se repensar a forma-ção dos condutores. “O estadoprecisa fiscalizar e tornar obriga-tória uma formação mais com-pleta para os condutores. Nãoadianta criar metas de reduçãoda mortalidade se não se comba-ter a raiz do problema”, ressal-tou. E a raiz pode ser o própriocondutor. “Eu costumo dizer quea moto sozinha não oferece ne-nhum risco. Mas uma moto comum condutor mal capacitado étão perigosa quanto uma armacarregada”, comparou Moacir Al-berto Paes, da Abraciclo.

desafios para o trânsito do amanhã

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saibamais+Dicas de comopilotarcom segurança:

Não passe emalta velocidadeentre os carros.Numaemergência, você pode precisarfrear rápido. E frear acima dos30Km/h entre os carros podesermuito difícil

A velocidade boa é poucoacima da velocidade dos carros.Se eles estiveremparados operigo é dobrado

Osmotoristas podemabrir aporta do carro, colocar o braçopara fora, ou uma criança podecolocar a cabeça para fora

Cuidado ao passar ao lado deônibus parados.Algummotorista pode passar pelafrente dele tentando atravessara rua e dar de cara com você

Se você se desequilibrar entreumcarro e umônibus, opte porse encostar no ônibus. Ele tema superfíciemais lisa e poucospontos para prender suamoto

Émais fácil “rolar”por baixode umônibus do que de umcarro

Observe os retrovisores. Seentortar o restrovisor de umcarro, pare e arrume.Sequebrar, seja honesto e pague

Não tire “onda”coma caradosmotoristas presos noengarrafamento. Eles comcerteza já estãomuitorevoltados por estarempresos no trânsito

Não pare para discutir.Nãovale a pena jogar fora seutempo emdiscussões que nãotrazembenefício algum

A velocidade no trânsitodependemuito da capacidadede frenagemda suamoto, e dasua habilidade, que você comobommotociclista, deveconhecer e reconhecer sempre

Não pare amoto emcimada faixa de pedestre.Vocêse arrisca a ganhar umamulta e não ganhamaistempo com isso

O certo é parar longe dosinal (semáforo). Isso tambémevita a situação desagradáveldomotormorrer na frentede todomundo

À noite é recomendávelnão parar “em cima”dosinal. Os assaltos acontecemnestes pontos

Se a a rua tiver poucomovimento, émelhor avançar osinal do que ficar parado.Claro,olhando antes de avançar

Fique atento ao retrovisor.Caso veja umamoto comdoisocupantes se aproximando,deixe amoto engrenada (aliás,deixe sempre engrenada) eprepare-se para acelerar

Fonte: Motoclube Bodes da Estrada(www.bodesdaestrada.com.br)

O aumento da frota de motosno estado cresceu mais de 600%nas duas últimas décadas. É osegundo tipo de veículo emmaior número no estado. Só per-de, por enquanto, para o carro.Uma diferença de menos de 30%.Em 1990, essa diferença era dequase 90%. “As motos vieram pa-ra ficar. É preciso saber convivercom elas e cada um deve fazer asua parte”, afirma o conselheirode segurança do clube Bodes doAsfalto, Aílton Martins Cezar.

Qual a parte que cabe a cadaum de nós? Do estado, a capacita-ção dos condutores, a educaçãoda disciplina trânsito na rede es-colar e, ainda, a fiscalização. Aparte que cabe aos condutores é pi-lotar com responsabilidade, parti-cipar dos cursos de capacitação,entender a lógica da direção defen-siva e saber se comportar no trân-sito em meio a uma selva de car-ros. Aos motoristas, a responsabi-lidade no trânsito requer tambémum detalhe básico de respeito aos

veículos menores e ao pedestre.O pedestre também precisa sa-

ber ocupar o seu espaço no trân-sito e isso significa usar a faixa eos passeios. “Precisamos fazer umtrabalho de base. Há registro deque 20% dos atropelamentos depedestres nas calçadas são feitospor motociclistas. Ninguém estárespeitando o espaço de ninguéme é claro que isso não pode con-tinuar assim”, ressaltou João Vei-ga, do Comitê Estadual de Pre-venção de Acidentes.

Desafio para todos

Condutores malpreparados e a faltade equipamentos desegurança nas motosreforçam as estatísticas

Tragédia emefeito dominó

Diferença entre o número de carros emotos é de 30%

Em 20 anos, frota demotos no estado cresceu 600%

FOTOS: TERESA MAIA/DP/D.A. PRESS

Page 5: Especial de Trânsito - 25 de setembro

Uma das maiores críti-cas em relação à for-mação dos motociclis-tas pelas autoescolas e

centros de formação de condutor,para quem vai tirar a carteira dehabilitação para moto, é quanto aotipo de curso que é oferecido. Ameta é deixar o aluno pronto pa-ra o teste do Detran, mas não ne-cessariamente saber conduzir comsegurança no trânsito.

“É costume dizer que basta sa-ber fazer o oito com a moto, queo candidato passa no teste”, de-clarou o presidente da AssociaçãoBrasileira dos Fabricantes de Mo-to (Abraciclo), Moacir Alberto Paes.Com 15 aulas práticas em umaautoescola, Andréa Sales, 28 anos,conseguiu tirar a carteira de ha-bilitação para as categorias A e B,respectivamente, carro e moto.

Das quinze aulas obrigatórias,10 ficaram para o carro e cincopara aprender a pilotar moto. Eela não teve dificuldade para pas-sar. Não é um caso isolado. Dos200 exames realizados por dia noDetran-PE, cerca de 70% são apro-vados. Para o teste da moto, o de-safio é fazer o oito, três curvas àdireita e três à esquerda, um zi-gue-zague em dois cones e a subi-da na prancha acelerando semdesequilibrar. “Não me sinto pron-ta para as ruas. O aprendizado vaiser na prática”, admitiu Andréa.

Os cursos oferecidos nas escolase centros de formação estão deacordo com a resolução nº168/2004 do Contran. Segundo ocoordenador de educação de trân-sitodoDetran/PE,MarceloTenório,as cinco aulas oferecidas são sufi-centes para preparar o aluno. “Pi-lotar é uma questão intuitiva. Ocurso é suficiente se o instrutorpreparar bem o aluno”.

A segurança do coordenador detrânsito do Detran não parece con-dizer com o que acontece na prá-tica. Basta olhar para as estatísti-cas dos acidentes. Um total de 8,7mil atendimentos com vítimas deacidentes de moto em 2010. “Nin-guém começa a dirigir um carro

com perfeição. Com a moto é amesma coisa. A prática ensina”,afirmou Tenório.

Se depender do que diz a reso-lução do Contran, no caso de mu-dança de classificação, isto é, dequem já dirige e vai tirar a cartei-ra para moto, as aulas teóricasnão são obrigatórias desde 1998.Mas, nesse aspecto, há chances demelhora. Uma nova portaria doContran vai entrar em vigor emfevereiro de 2012. Trata-se da re-solução nº 321/2012, que prevêreavaliação dos instrutores e exa-minadores dos testes.

A expectativa é de que o níveldos instrutores e examidores pas-se a ser top de linha. “O Detrande Pernambuco está entre os seisdetrans do Brasil que vão apli-car a nova resolução. Até o fimdo ano, vamos implementar exa-mes para instrutores e examina-dores”, detalhou Marcelo Tenó-rio, que integra o Comitê Esta-dual de Prevenção de Acidentescom Motos. Segundo ele, quemnão passar no teste e for reinci-dente perderá a licença para serinstrutor. Isso dificilmente ocor-rerá. Afinal, se um instrutor nãoconsegue passar em um teste,não precisa dizer mais nada.

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desafios para o trânsito do amanhã

Com cinco aulaspráticas e o testede condução noDetran, pode-se tirar ahabilitação para moto

saibamais+

Basta fazer ooito…

Nova resolução

doContrandeve

melhornível

dos instrutores

LAIS TELLES/ESP. DP/D.A PRESS

LAIS TELLES/ESP. DP/D.A PRESS

Cerca de 70% dos candidatos são aprovados no exame, que consiste de desafios de equilíbrio, como curvas, zigue-zagues e subidas em rampas

De volta à sala de aula. O mo-tociclista Everton dos Reis, 27anos, pilota moto há dois anos,mas teve que se submeter a umcurso oferecido pelo Centro deTreinamento da Companhia deEngenharia de Tráfego de SãoPaulo (CET), que ensina motoci-clistas, já habilitados, a enfrentarcom segurança o trânsito de SãoPaulo. A exigência foi da empre-sa onde ele trabalha. “A firmamandou que todos os emprega-dos que usam a moto como meiode transporte fizessem o cursode formação da CET. Aqui estoureaprendendo a me comportarno trânsito”, contou.

Um dos ensinamentos do cur-so é em relação à frenagem. Amoto tem três tipos de freios:dianteiro, traseiro e o freio mo-tor. O instrutor da CET é categó-rico no primeiro dia de aula. “Es-queçam tudo o que vocês apren-deram para fazer o teste do De-tran. Aqui vocês vão aprender a

pilotar com segurança”, afirmouo instrutor que não teve autori-zação para dar entrevista.

Ele faz simulações de frenagemcom a moto para mostrar como oveículo se comporta em diferen-tes velocidades e condições do pi-so. Outro ponto insistentementerepetido é quanto a obrigatorieda-de do uso da viseira. “Os motoci-clistas chegam aqui com muitosvícios”, revelou a gestora de educa-ção da CET, Irismar Menezes.

No Recife, cursos do gênero sãooferecidos pelo Sesc/Senat e o cen-tro de treinamento de motos daHonda, em parceria com os clubesde moto. “Basta o motociclista seassociar a um dos clubes que te-rá acesso gratuito. Depois da ex-periência, a maioria reconheceque não sabia pilotar”, contou Aíl-to Cezar, do Motoclube Bodes daEstrada. “Infelizmente a procurapelos cursos ainda é muito peque-na”, revelou Lúcia Recena, gesto-ra do trânsito em Jaboatão.

Reaprendendoa pilotar

Você sabe quantostipos de condução demotos existem?

Condução Urbana:

No trânsito urbanodas cidades

Nos fins de semana

Lazer

Condução em BRs:

Viagens

Condução Off-Road:

Trafegar em terrenos nãopavimentados

Condução Esportiva:

Off-Road(Trilha, enduro, emcompetição demotocros)

Autódromos(Tracky Days, competições)

Exibições(Stunt Bikes,Manobras,Acrobracias,ArenaCross)

Fonte: Motoclube Bodes da Estrada

Motociclistas chegam aoCET commuitos vícios

Andrea tem a carteira,mas não se sente segura

TANIA PASSOS/DP/D. A PRESS

Page 6: Especial de Trânsito - 25 de setembro

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