especial de natal

20
ANO 107 DIRETOR JOAQUIM CÂNDIDO DE OLIVEIRA NETO SÃO JOÃO DA BOA VISTA, 22 DE DEZEMBRO DE 2012

Upload: jornal-o-municipio

Post on 11-Mar-2016

226 views

Category:

Documents


4 download

DESCRIPTION

Suplemento Especial de Natal

TRANSCRIPT

Page 1: Especial de Natal

ANO 107 DIRETOR JOAQUIM CÂNDIDO DE OLIVEIRA NETO SÃO JOÃO DA BOA VISTA, 22 DE DEZEMBRO DE 2012

Page 2: Especial de Natal

22 de dezembro de 2012Pág. 2

Daqui a dois dias estaremos come-morando o Natal. Tradicionalmente, o jornal O MUNICIPIO traz aos seus leitores este Suplemento, com o pen-samento e a emoção de seus diretores, jornalistas e funcionários.

Diante de tantos temas que já rechea-ram suplementos natalinos anteriores, a dúvida sobre o conteúdo do caderno atual sempre surge. “Então, o que fazer?”, nos questionamos.

Este ano, O MUNICIPIO traz um Suplemento de Natal Literário, onde escritores e outros profissionais discor-reram livremente em seus textos sobre o tema “Natal”. Cada um lançou mão do seu estilo pessoal e ‘passou’ a men-sagem através da sua visão pessoal.

Doze escritores compõem o material deste ano. Desde a jovem atriz Marcella Marín, passando por Neide Corbelli, Beatriz Castilho Pinto, Ana Lúcia Finazzi, Antonio de Pádua Barros, Sebastião Álvaro Galdino, João

DIRETORJoaquim Cândidode Oliveira Neto

EDITOR-CHEFEReinaldo Benedetti

MTB 50.557 – SP

DIAGRAMAÇÃO E ARTEJuliano de Souza

Alex Zaneli

COLABORAÇÃOClovis Vieira, Rodrigo Falconi

e Helio Correa Fonseca Filho

EXPEDIENTE

Batista Scannapieco, até os religiosos José Benedito de Almeida Davi e Dom Dadeus Grings.

Três grandes escritores, conhecidos nacionalmente - e até no exterior -, completam o time: Davi Arrigucci Jr, Luis Nassif e o português Luis Miguel Rocha.

A todos eles, somos profundamente gratos porque todos os textos constan-tes neste suplemento são exclusivos, inéditos, criados especialmente para esta edição.

Portanto, você leitor pode certificar-se de que os textos deste suplemento são os mais diversificados possíveis. A ideia é que cada um possa ‘viajar através das palavras’ desses escritores e imaginar o Natal que eles estão narrando.

Este é nosso presente para os nossos amigos leitores, que nos acompanharam ao longo de mais este ano. Desejamos um Feliz Natal e uma ótima leitura.

Editorial

Page 3: Especial de Natal

22 de dezembro de 2012Pág. 3

Luis Nassif

Éramos em três casas vizinhas. Na de cima, a do tio Léo e tia Rosita e dos primos Rosa, Cristina, Tereza e Oscar. No meio, a nossa, do seu Oscar e dona Tereza e os filhos Regina, Fátima, Inês, Lourdes e eu, o primogênito. Na de baixo, a de dona Nonda e seu Alexan-dre, com vários filhos, apenas a Cristi-ninha da nossa idade.

No dia 17 passado, aliás, morreu dona Nonda, a última remanescente da sua geração, aos 95 anos.

Foi um período mágico. Pelas salas das casas passaram a velha guarda, do tio Léo, a bossa nova das primas mais velhas e a MPB minha e do primo Oscar. Porta aberta para todos os amigos, como sempre foi na casa dos Nassif, desde que chegaram a São João, nos anos 20, seguindo para Poços de Caldas logo depois.

Em São João ficou Tala, a irmã do meio de papai que morreu muito jovem, amiga de Pagu e, como ela, pioneira em extravagâncias da época, de usar calças compridas. Ficaram também pa-rentes queridos dos velhos, a Sara Sa-lomão, os Gebara, o pessoal do César e outros cuja vinda para o Ocidente embaralhou os sobrenomes, mas todos membros da família Sckhair.

No final dos anos 60, problemas fi-nanceiros implodiram a paz das duas famílias. Era questão de tempo para que esfumaçassem os tempos mági-cos das três casas vizinhas. Em breve papai se mudaria para São Paulo, tio Léo para os fundos da casa em que morava, os filhos mais velhos saindo para o mundo atrás de trabalho.

O último Natal no interiorMas o último Natal ficou para sempre

nas retinas e nos corações de todos.Reunimo-nos todos no “quartão”, um

quarto no fundo da nossa casa, usado para partidas de ping pong e para al-moços de família. Estavam lá todos os Mesquita (da família do tio Léo), todos os Nassif e alguns convidados queri-dos, como o doutor Fabrino, notável médico e boêmio.

As primas montaram um sorteio com tarefas a serem cumpridas por todos. Ao meu pai saiu dançar tango, logo ele que, nos tempos de solteiro era o dan-çarino mais cobiçado dos cassinos de Poços e dos bailes da região.

Outras tarefas foram sendo distri-buídas. Recitar um poema, fazer uma declaração. Até que os sorteio chegou no Dr. Fabrino: falar sobre Papai Noel.

Devia ser 23hs30. Fabrino começou explicando a importância da simbolo-gia na vida das pessoas. Falou rapida-mente de Papai Noel e pulou para… Solano Lopez, o ditador paraguaio que comandou a tragédia da guerra com o Brasil.

Foram uns quinze minutos até que entendêssemos o motivo dessa ilação. Alguns dias antes Dr. Fabrino foram procurado para uma consulta com um Ministro paraguaio. Lá, foi informado da existência de uma bandeira brasi-leira capturada na guerra do Paraguai e mantida escondida, como troféu e

como vingança pequena contra o vizi-nho imperialista.

Diria que os 15 primeiros minutos foram instrutivos. E o Dr. Fabrino não precisava repeti-los nos 15 minutos se-guintes, muito menos nos 30 minutos seguintes.

E não foi mais porque seu discur-so foi interrompido por uma salva de palmas que o impediu de continuar. Ele bem que tentou voltar ao tema ao final de cada salva, mas a salva seguinte nos salvava do discurso e salvou nosso Natal.

Foi o último Natal de um período mágico.

Em breve, o desafio de desbravar São Paulo foi me afastando do inte-rior. Mantive as relações com Poços, em visitas mensais; e as relações com São João, fazendo questão de manter meu título de eleitor por aí até 1982. Só mudei para São Paulo porque se inicia-va o período da redemocratização e era importante eleger FHC prefeito.

Luís Nassif é escritor e jor-nalista especializado em Eco-nomia, nascido em Poços de

Caldas, estudou no Instituto de Educação Cel. Cristiano Osório,

em São João da Boa Vista.

Page 4: Especial de Natal

22 de dezembro de 2012Pág. 4

Ana Lucia Finazzi

A mais inspiradora e executada canção de Natal é conhecida no Brasil como “ Noite Feliz”. Originalmente, a música chama-se “Stille Nacht”, em alemão, e na verdade significa “Noite Silenciosa”, numa alusão à noite do nascimento de Jesus, quando os pasto-res guardavam seus rebanhos em vigí-lia e foram surpreendidos por um coro de vozes angelicais, anunciando a paz entre os homens de boa vontade.

A canção surgiu na vila de Obern-dorf, próxima aos Alpes austríacos, quando o padre Joseph Mohr saiu atrás de seu amigo músico Franz Gruber, para que transformasse em melodia um poema que ele havia escrito, a fim de que fosse tocada na missa de Natal que aconteceria horas depois. Na verda-de, Mohr não estava atrás do músico, mas atrás de um instrumento para ser tocado na Missa do Galo de 1818, pois o órgão de sua paróquia teria tido os foles roídos por ratos. A falta de um instrumento teria inspirado sua letra

Noite Silenciosano humilde Natal de Jesus em Belém. O nome foi mantido pelo inglês “Silent Night”.

Quando criança, eu ficava sentada no chão, sob a árvore de Natal da casa de meus avós, imaginando, na penumbra da sala, a emoção daqueles pastores de Belém, diante do silêncio quebrado pelo coro dos anjos e as promessas de paz.

Mais tarde , quando adolescente, fiz parte do coral da Igreja Presbiteriana. Percorríamos a cidade, nas vésperas do Natal, fazendo serenatas. Cantávamos hinos em frente ao Bispado, sob as ja-nelas da igreja do Perpétuo Socorro, nas escadas do Carmelo. Surpeendía-mos as autoridades civís, religiosas e amigos da comunidade com canções natalinas. Era um romper do silêncio da noite sempre bem vindo e ansiosa-mente aguardado.

Hoje os sons e ruídos da modernidade roubaram a quietude noturna, o cantar dos galos na madrugada, o eco do ba-dalar dos sinos pelas ruas desertas, as serenatas. Igualmente, os corações dos

homens estão agitados pelo frenesi do consumismo, das comilanças, da so-licitude pelas coisas materiais. Até o presépio, antes símbolo de devoção, passou a ser um mero elemento de de-coração. Os votos de boas festas são desprovidos de sinceridade, mecaniza-dos. E a paz não se faz presente pois a boa vontade entre os homens está obs-curecida pelo egoísmo e a intolerância crescentes.

Nossos corações precisam aquieta-rem-se, buscando o silêncio das preces, da comunhão com o autor do Natal. A simplicidade da vila de Belém, dos pastores em sua adoração simples e sincera, só encontrado no refúgio das igrejas, último reduto dos fiéis adora-dores.

Necessitamos fugir da agitação do mundo para podermos ouvir as pro-messas de anjos. Caminharmos pelo deserto árido da vida, conduzidos por uma Estrela promissora. Cristo, a Es-trela da Manhã, capaz de dar tranquili-dade aos espíritos mais conturbados e carentes de amor.

Não é possível celebramos um ani-versário com a ausência do aniversa-riante. A essência do Natal deve ser, sempre, a dádiva maior do Deus Cria-dor às Suas criaturas, tornando o pre-sentear entre os homens na expressão de gratidão ao Pai.

Ana Lucia Finazzié escritora sanjoanense e tem

sido premiada regularmen-te no Concurso Nacional de

Trovas. Atuou no Jornal O MU-NICIPIO na década de 1980.

Page 5: Especial de Natal

22 de dezembro de 2012Pág. 5

Beatriz Castilho Pinto

A menina de quatro anos posa para a foto clássica: vestido branco cobrindo os joelhos ralados, feito em laise inten-samente branca, sapatinho boneca de sola crepe com meia, ambos insupor-tavelmente quentes se não fosse Natal. Ou se não fosse uma foto, revelando a vaidade feminina - inata ou ensinada?

Compondo a cena, o pinheiro natural enfeitado com bolas - que então eram

Retratos de Natalde vidro tipo casca de ovo - bolas ver-melhas, flocos de algodão, anjinhos dependurados e um multicolorido pisca-pisca aceso em plena tarde de verão. Ao lado, o pequeno jipe - sim, um jipe - para a menina dirigir, antes que seu pai comprasse o primeiro fusca alemão da cidade e antes mesmo que sua mãe sonhasse em dirigir na peque-na Águas da Prata daqueles idos de 1950. A menina ainda não podia ver no carro o anúncio da libertação feminina nem do consumismo que enevoaria a data. Um jipe que acendia a luz! Era o presente que Papai Noel lhe trouxe-

ra, ouvira dizer que vindo de São Paulo e misteriosamente deixado ao lado do seu sapati-nho, novo e intocado, à espera daquela data, congelada na fo-tografia colorida pelas mãos do Seu Nagae, o japonês retratista fugido da Guerra.

Aos onze anos, também a menina queria fugir, sem saber qual era sua guerra e ainda sem

descobrir que ela se perpetuaria. Papai Noel já não vinha. Passear de carro pela cidade, com os pais e os irmãos, não lhe bastava. As luzes da cidade pa-reciam sem vida; a luz que lhe faltava era outra, não era a da cidade, não era sequer a do jipe. Estava adolescendo (adoecendo?). Veio-lhe a imagem do Pedrinho, pegando ‘rabeira’ na sua bi-cicleta, e aí ela não sabia mais se queria fugir ou ficar: poderia ele entrar em seu Natal?

Outros Natais chegaram, múltiplos

e dissonantes, ora coloridos por pre-senças radiantes, ora enegrecidos por ausências dolorosamente presentes, ora ainda marcados por presenças au-sentes, concentradas num smartphone, que, em meio à festa, levanta-se e fixa, para sempre, a fotografia dos familia-res revivendo a criança feliz que um dia foram. É Natal em nós.

Beatriz V. C. Castilho Pintoé natural de Duartina/SP, for-

mada em Letras e Direito, é Mestre em Linguística pela Uni-

camp e leciona no UNIFEOB.

Page 6: Especial de Natal

22 de dezembro de 2012Pág. 6

Davi Arrigucci Jr.

O casarão vinha de outros tempos e aparecia de repente, enfiado no escuro do mato. Chegava-se por uma estradi-nha de terra que serpenteava em curvas secas e sempre voltava, repetida em zigue-zagues. Mais adiante se estira-va, alvacenta, em longo areal, rodeada de barbas-de-bode empoeiradas, até mudar, sumida por uma baixada. Ao lado, a capoeira virava mato alto, ao pé de um riacho de águas rasas que saíam do escuro, clareavam alegres na passa-gem, perdendo-se de novo na sombra.

As Areias era a fazenda aonde que-ríamos chegar. Eu ficava o tempo todo olhando pela janela, enquanto meu pai dirigia o Mercury 51 para atender o chamado. Era o sempre igual, até o chiado dos pneus no cascalho na saída da água. Aí começava o diferente: o frio das altas árvores, o casarão.

Eu tinha de ficar no carro, à espera. Meu pai ia ver o doente, carregando a maleta de couro com instrumentos e remédios. Não se cansava nunca, tra-balhando o tempo todo,

Lembrançassem perder o ânimo, mesmo que fosse dia de Natal ou passagem de ano. Eu ficava só olhando. Enjoado, às vezes descia para espiar um ninho de coruja num buraco de cupim à beira da estra-da: penas, ossos, pedrinhas soltas na entrada do buraco, aquela mesmice. Voltava para o carro. Ligava o acen-dedor de cigarros e sapecava rodinhas em brasa no avesso do tapete, que era um couro de bezerro zebu. Sentava na direção, bancava o chofer, bestava um tempo, cismando. De vez em quando olhava para o arvoredo: algum baru-lhinho, um pio de juriti ou nhambu, os grilos trepidando no capim, os sapos ecoando no brejo perto. Era de tarde: a boca da noite se abria, engolindo tudo na escuridão. Para o lado do casarão, quase que nem olhava. Ele é que pare-cia olhar para o meu lado: os respiros do porão, olhões vazados onde se con-tava que viviam os loucos da família, trancafiados.

Naquele dia, fiz como sempre, mas me cansei, acabei adormecendo. A cabeça branca de meu pai subia a escada curva, com a maleta na mão,

até o copiar lá encima: as ja-nelas cinzentas fechadas, ervas de passarinho sobre as telhas, ninhos de pardais nos caibros, caixas de marimbondo estufa-das sob as abas do telhado...

Meu pai me contou tudo, depois. Subiu e entrou. Passou um tempo grande batendo lá

dentro, clamando pelo ó de casa! Era o que fazia na visita aos doentes. Mas ali tudo era imenso, vazio. A voz se perdia naquele fim de mundo. Altas paredes de adobe, limpas, inchadas, despidas, com raros retratos em moldura grossa de ma-deira, olhares de outro tempo, móveis es-parsos, uma roca de fiar, um piano ilhado num canto da sala de visitas, o corredor gelado que se abria para portas altíssi-mas de cômodos inalcançáveis.

Ficou sozinho na sala onde um reló-gio em forma de oito tinha parado, es-piando o corredor sem fim. Nada, o oco do silêncio. Nenhum sinal de gente. Andou pra lá e pra cá; esfregou as mãos, num gesto costumeiro. Resolveu ir embora; já se voltava para a porta, quando percebeu uma luz que vinha do fundo do corredor.

Era um velho alto, magro, de rosto com-prido, maçãs ossudas, queixo em riste com a barbicha pontiaguda, nariz aquilino, lábios fininhos, feição imprecisa, fugi-dia na pouca luz. Não soube distinguir quem era, embora parecesse conhecido. Vestia um camisolão branco até os pés descalços, esquálidos. Caminhava deva-gar com uma longa vela numa das mãos, um livro na outra, e falou claro, pausado, olhando fixo para meu pai:

- O senhor é nascido ou aparecido? Ao sair às pressas, sem se voltar,

meu pai ouviu apenas um chacoalhar de ossos. Lembrou-se da rua das Mar-recas, onde escondera, para espanto da dona da pensão, o esqueleto destinado aos estudos de medicina na velha Fa-culdade da Praia Vermelha, no Rio de sua mocidade.

Muitos anos depois, numa noite de insônia, deixei de lado o livro e reatei em pensamento a viagem. Queria saber por que aquela triste figura tinha aparecido para o pai, incansável médico do in-terior, e não para o filho, metido, desde pequeno, em caraminho-

las literárias - tortuosas, inúteis.

Davi Arrigucci Jr.é sanjoanense formado na

Universidade de São Paulo, onde foi professor de crítica literá-

ria, e é autor de diversos livros. Davi Arrigucci é um dos maiores

críticos literários do Brasil.

Page 7: Especial de Natal

22 de dezembro de 2012Pág. 7

Marcella Marín

De repente, me deparei com um grupo de crianças muito pequenas, muito pequenas mesmo, de uns seis, sete anos, tendo uma importante dis-cussão: um deles falava sobre Papai Noel.

Foi quando uma menininha, com um estranho brilho nos olhos, olhou para o pobre rapazinho e disse ´”Papai Noel não existe! É minha mãe e meu pai que colocam os presentes embaixo da árvore!”.

O coleguinha não pode responder outra coisa, senão um enfático “É mentira!”. Mas a semente da dúvida já tinha sido plantada na cabecinha dele. E, mesmo sabendo que era tarde demais (talvez, eu deva, de fato, ter ficado mais desesperada do que ele, por vê-lo perdendo toda sua fé em um mundo fantástico, bem diante dos meus olhos), tentei ainda salvar alguma coisa, dizendo que eu - sim, eu mesma, uma adulta -, acreditava e tinha certeza que Papai Noel existe!

Mas para minha surpresa, todas as crianças riram com aquele ar de “está bem, tia, você tentou!” Uma profunda decepção tomou conta de mim; ques-tionei o que estaria acontecendo com esse mundo, onde crianças de seis anos não acreditam mais em Papai Noel. Fui para casa, olhei o cenário natalino que construí com tanto amor, em meados de novembro.

Veio-me a memória da infância, quando em todos os anos minha avozi-nha montava a árvore de Natal comigo, era um galho de verdade, pintado de prateado, onde pendurávamos com o maior zelo, as bolinhas de vidro.

Uma questão de mágicaFiquei bastante tempo pensando nessa lembrança, em como esse tempo era bom e como era gostoso ser criança e acreditar em Papai Noel!

Lembrei-me da minha primeira ex-periência natalina, quando minha mãe havia me dito para ir dormir, porque na manhã seguinte alguém muito diferen-te de todo mundo que eu conhecia, um velhinho simpático e carinhoso, dotado de poderes mágicos, iria me deixar um presente, facilmente assim.

Desde pequena o ceticismo já tomava conta de mim, fui dormir, um pouco contrariada e muito desconfiada. Na manhã seguinte, acordei ansiosa, corri para a sala e lá estava, entre os enfeites da janela, um presente para mim e um presente para meu irmãozinho recém nascido. Eu me esforço para lembrar-me daquela sensação de que há muito mais nesse mundo do que a gente pode ver. Aquela sensação era para mim a própria magia do Natal, que tomava conta de todo o meu ser e das pessoas a minha volta!

Devo dizer que aquelas crianças de seis anos me entristeceram, mas eu mesma não acreditei

em Papai Noel por muito tempo. Ou melhor, acreditar eu sempre acreditei, mas eu soube logo,

que não era bem ele quem colocava os presentes na minha árvore.

Mesmo assim, enfeito a casa, prepa-ro a ceia com a minha mãe e a minha avó, como em todos os anos, e quando nos sentamos para comer, olho para a minha família, o brilho nos olhos azuis da minha avozinha, meus pais sorri-dentes, meu irmão arteiro, meu na-morado carinhoso e aquele sentimen-to cresce em mim. Eu descobri que a

magia do Natal não vem de fora, ela está dentro de mim, é o amor que eu sinto por todas aquelas pessoas.

Eu não preciso ver o Papai Noel, ou fazer uma super festa ali, com apenas quatro pessoas, pois a casa estava cheia de amor e é isso que é o Natal. É o nas-cimento de Jesus, que trouxe amor para a Terra, são os duendes, as fadas, os anjos, as renas, polo norte, Papai Noel e tudo o mais que for lindo e fantástico que a gente possa acreditar, mas claro, acima de tudo, o Amor.

Foi isso que corri para falar para as crianças de seis anos no dia seguinte, não importava se elas não acreditassem em mais nada, se todo esse mundo fan-tástico não existisse para elas, desde que elas acreditassem no Amor, tudo ficaria bem. Elas acenaram que “sim” com a cabeça e foram embora. E assim, eu desejo a todos, um Feliz Natal, que não precisa ser fantástico, mas que seja cheio de amor.

Marcella Marín,é sanjoanense, formada em

Publicidade e Propaganda e é atriz do Grupo de Teatro Cena IV.

Page 8: Especial de Natal

22 de dezembro de 2012Pág. 8

Neyde Corbelli

O mistério de Deus feito homem, meditado e celebrado no Natal, dá-nos a oportunidade de refletir sobre o valor de toda criança como reprodução que é do Jesus Menino.

O nascer de uma criança é o surgi-mento de uma vida, um começo ou partida cheia de promessas. Uma espe-rança. O nascimento de Jesus é o nasci-mento de uma criança, que torna o nas-cimento de todas as crianças o surgir da Vida. Daí, a alegria do Natal. É hora de dar graças. É responder com a grati-dão, diante da gratuidade do amor.

Neste Natal, que se veja algum sinal de esperança para com as crianças ameaçadas com o aborto clandestino ou o legalizado ou o legitimado.

E as crianças assassinadas, por conta de encomenda. Morte moral de criança, que é tão perversa quanto a morte bioló-gica; o abandono; condenadas pelos pais por malícia ou ignorância ou por falta de condições mínimas para criá-las.

O abuso sexual para satisfazer instin-tos patológicos de adultos depravados, sejam esses quem forem.

É preciso gritar alto, aos que represen-tam o povo, fazer chegar aos ouvidos dos que “mandam” e não “fazem leis” morais.

É preciso não ter medo!

O Menino e o NatalNão tenho medo de dizer diante do

presépio e do corpo do Menino Deus, que quem se omite - por medo ou co-modismo ou acordo espúrio, podendo fazer algo para denunciar e coibir a exploração sexual de menores, em ruas centrais de cidade, nos jardins de bair-ros -, está sendo cúmplice e conviven-te, é o sexo desenfreado.

Também, a morte por falta de remé-dios, por doença, por destruição – nos chama. Essa interpelação é especial e pungente neste tempo de Natal, quando a criança de Belém é sinal da absolu-ta e intangível dignidade de qualquer criança.

Poetizar um belo poema é fácil, mas as circunstâncias não banais, imperati-vas, exigem que se fale bem alto o que se sente no mais íntimo da alma.

Que este Natal seja de Amor; que para o Cristão amor é justiça e só os justos amam.

Amar é mais do que compadecer-se, é revoltar-se com a dor do outro, com a fraqueza, com a carência e mobilizar esforços para mitigá-la.

Como já estou na curva descendente da elipse da vida, os temores já não se manifestam, porque a idéia da extinção cede lugar à certeza do próprio fim em algum lugar do trecho que se avizinha,

no curso do caminho.Num ato de teimosia, ao invés de

cuidar de esperar que o tempo se cumpra e de vivê-lo em causa pró-pria, impulso individualista, recolho os cacos das últimas esperanças, das últi-mas forças, o pequeno feixe a que se reduzem meus sonhos e ilusões quando profissional em atividade – cuido de prosseguir na tarefa de provocar rea-ções nos sentimentos e pensamentos alheios.

Que todo o Brasil cuide das crian-ças que choram. Tenhamos a reflexão simples e profunda sob clima e inspi-ração acima da materialidade, da troca de presentes ou do acinte das mesas excessivamente fartas. No Natal, que Jesus nos permita resistir ao sopro e ao turbilhão do domínio, da ambição, do individualismo, da violência.

Que Deus - que nasce para o amor, no amor e pelo amor, em sua miseri-córdia -, não permita que se apaguem o lugar das criancinhas, dos jovens, dos nossos homens do futuro, no mundo da Felicidade.

Mas chora o meninoComo poetizou Ada Negri (1870

-1945) para o Natal, que no presépio:“Chora o menino, no silêncio enorme e

nem a mãe consegue fazê-lo adormecer. Chora tão alto que, do céu os Anjos

descem até Ele, acordando os sinos.Chora o menino, sim, no choro de

cada criança infeliz por alguma razão”.

Neyde de Lima Santos Corbellié advogada sanjoanense,

professora, procuradora fe-deral aposentada e ex-agente

da Previdência Social.

Page 9: Especial de Natal

22 de dezembro de 2012Pág. 9

João Baptista Scannapieco

(Origem do Natal )

Dentre as solenidades cristãs, a luz é o principal símbolo do Senhor Jesus. Sempre ouvimos os salmistas canta-rem: “Eis a luz de Cristo”!

A origem da festa do Natal nos remete ao ano de 336, quando a Igreja de Roma celebrava já o nascimento de Cristo em 25 de dezembro.

A origem histórica do Natal nesta data é interessante. Existe, de fato, re-lação muito íntima entre o Natal Cris-tão e a festa do natalis Solis Invicti. O mundo pagão celebrava, em 25 de de-zembro, a festa do “nascimento do sol venerável”. Festa do sol que nasce, a cada dia, vencendo as trevas!

Essa prática pagã exercia atração aos fiéis, mesmo depois que se convertiam ao cristianismo, sendo uma superstição perniciosa, que devia ser evitada pelos seguidores de Cristo. Assim, o Papa

Natal - Festa da LuzSão Leão I, em uma de suas homilias, já no século IV, proclamou: “Amados filhos, cheios de confiança que brota de grande esperança, permanecei imbatí-veis na fé em que foram confirmados”.

A alusão à festividade pagã de adora-ção ao astro sol está clara. Ela ameaça-va a fé dos fiéis.

A Igreja, porém, reteve da solenida-de pagã algo de positivo: o simbolismo da luz. Cristo é a “luz que brilha nas trevas”, “luz verdadeira que veio a este mundo e ilumina todo homem”.

Com esta atitude conciliadora e evangelizadora, a Igreja descartou a adoração ao astro “sol venerável” e co-locou, em seu lugar, a comemoração do nascimento de Jesus Cristo no mesmo dia – 25 de dezembro. Coincide com o solstício de inverno, para o hemis-fério norte- época em que esta região, da Terra, tem a noite mais longa e o dia mais curto, frio e nublado e, quando o sol aparece, tudo se aquece e se ilumina.

O nosso sol é Cristo, que nos con-templa com a luz da sabedoria, para o nosso bem viver todos os dias, meses

após meses, anos após anos! Por isso, comemoramos seu nasci-

mento com luzes, festas em família, presentes, porque

Ele é o maior presente que Deus nos deu!

Hoje, a Igreja canta alegre, comemoran-do o Natal:- “Tu, Senhor, és o sol da minha vida. Tu me proteges”.

João Bap-

tista Scan-napieco

nasceu em Espírito Santo do Pinhal e é um dos pro-

fessores mais respeitados de São João

da Boa Vista. Atualmente, é

professor do Curso Filosófico

do Seminário Diocesano.

Page 10: Especial de Natal

22 de dezembro de 2012Pág. 10

Luis Miguel Rocha

Quantos natais passaram? Podia dizer o primeiro número que me viesse à cabeça, mas não é possível ludibriar o tempo. Sabes perfeitamente quantos foram, quantos deixei de celebrar sem acomodar no meu âmago um vestígio que fosse do espírito Natalino... e eu também sei. Espero que Ele me absol-va do desapego com que lhe conto os anos, que entenda a minha dificuldade em lidar com o dia da Natividade, não por ser o Dele... mas por ser o vosso. Há acontecimentos pessoais que se sobrepõem aos usos da Humanidade. Espero que Ele entenda... e perdoe.

Romeu morreu em Roma, na cidade do Ressurgimento, e eu estava lá conti-go, naquela funesta e fria noite de Natal, enquanto o galo cantava na missa o nascimento de Jesus. In nomine Patris, et Filii, et Spiritus Sancti. Amen. Qual Verona, qual Sodoma? Ninguém melhor do que eu conheceu essa rela-ção intensa, essa chama que brotava dos vossos corações e queimava tudo ao redor, até vós mesmos.

Prometi-te que seria fiel aos sucedimentos, mas não me senti capaz de dizer a verdade com inteireza sem cambiar as paragens e outras figuras, identidades e linhagens, para proteger a vossa paz perenal. Verona pareceu-me um bom lugar para acoitar a vossa história. Tão bom como outro qualquer, desde que não fosse o verdadeiro, desde que não tivesse de pronunciar os vossos nomes de batismo. Tudo menos isso. Todas as lendas são uma contorção da verdade. Talvez tenha sido egoísmo meu dar a lenda ao mundo e guardar o que realmente aconteceu para mim... só para mim. Chama-me frouxo. Tu podes e eu aceitarei que o faças sem te tirar o fundamento. Mas a ideia de romarias e peregrinações ao local do vosso repouso atormentava-me tanto como aquela noite de Natal. Aquela que acabou com todas as que se lhe seguiram. Que me torna pecador aos

Romeu morreu em Romaolhos Dele. Espero que Ele entenda... e perdoe.

Posso dizer-te que Romeu sofreu, muito, não tanto pelo estertor da morte, quando esta se aproximava inclemen-te, deixando-me estarrecido e assom-brado por presenciar tal ventura, mas por ver-te, outrora bela e florente, ali inerte, arrefecida e branca, inânime. Queria contar-lhe, explicar-lhe que era tudo fantasia, que era tudo embustice, que era tudo fingimento, mas a boca fechou-se-me e a voz traiu-me. Não consegui pronunciar uma palavra que fosse que o aliviasse da aflição... Um gesto que lhe entravasse a morte certa. Judica me, Deus, et discerne causam meam de gente non sancta: abhomine iniquo et doloso erue me.

Romeu deixou de ouvir os cânticos do galo na igreja... os Amen... Deo Gratias... Agnus Dei, qui tollis peccata mundi... Miserere nobis... O Natal extinguiu-se naquele instante em que viu o teu corpo esvaziado da vida como as brasas descuidadas das lareiras que se deixavam esfriar pela noite e pelos sonos.

Romeu sofreu quando te viu morta pelo veneno enjeitado, preparado para embromar, mas tu não sabias, como o poderias saber se o destino teceu as sortes e os amores e a morte? Como poderias saber se a insídia andou sempre a vosso lado sem que reparás-seis? Como poderias saber se o amor vos cegava enquanto o destino tecia o fio à sua maneira e iludia a vossa es-perança que levava sempre ao mesmo caminho? À morte, à dor, à plangên-cia... Poderia dizer muitas outras pala-vras, mas julgo que já percebeste o que és isso. Sêneca sentenciou o destino humano muito antes de nós. Nullicon-tingit impune nasci. A ninguém é dado nascer impunemente.

Romeu morreu em Roma naquela fria noite de Natal. Mas não do veneno que ingeriu. Morreu da adaga crivada no coração, por ele próprio, e posso dizer-te que para ele foi libertação quando

Page 11: Especial de Natal

22 de dezembro de 2012Pág. 11

a ceifeira o levou para o paraíso. A morte liberta, com certeza já ouviste dizer. E posso dizer-te que o libertou. Percebeu-se nos olhos vítreos, depois da vida apagada, a olhar o vazio, enquanto os sinos anunciavam o fim da missa no ar gélido da noite, e os fiéis do Senhor se dirigiam para o refúgio dos lares, as brasas adormecidas das lareiras que haveriam de crepitar novamente com fulgor, ignorando os pedintes e as mãos estendidas, a ralé humana que se arrastava pelas ruas a pedir aos homens um gesto solidário, um pouco de comida para aquecer o estômago, enquanto os ossos pediam clemência ao frio. DominusVobiscum. Benedicat vos omnipotens Deus: Pater, etFilius, etSpiritusSanctus.

Todos somos iguais na morte, todos nos libertamos. E para alguns, como ele, que suportaram o maior dos sofri-mentos, o do amor, a maior das doen-ças que habitam no homem, a morte é o melhor dia da vida.

Romeu morreu em Roma. Os planos, os conluios e as intrigas da família dei-xaram de fazer qualquer sentido. E por que? Porque Romeu amou. Vibrou e cegou-se contigo, todos os dias da sua vida, desde que te conheceu, naquele baile de máscaras. Lembras-te? Nunca tinha visto olhar tão angélico num ser feminino tão delicado como tu. Foi amor à primeira vista, não foi? E para quê? De que valem os planos, os conluios e as intrigas da família com ele morto? Vão casá-lo com quem pretendiam? Não. E porquê? Porque Romeu está sete palmos abaixo da terra que calcamos, corrompido, cor-roído. Morreu de quê? Por amor? Não. Morreu por causa de planos, conluios e intrigas, conjurações, tenções dúbias e outras muito peculiares. Eles mata-ram-no... Eu matei-o... Eu matei-vos.

Romeu sofreu e a família dirá que a culpa é toda tua. Ninguém é suficien-temente basbaque e humilde para re-conhecer a culpa em si. E eles também não o farão. Seria reconhecer a razão

de Romeu em matar-se, seria reconhe-cerem-se como assassinos. Foram eles que empurraram a faca que o matou, o veneno que lhe queimou as entranhas. Eles e eu. Dirão que foste tu e que Romeu estava possuído por um qual-quer demônio, por ti libertado, porque não passavas de uma bruxa com corpo de anjo. Não que eles alguma vez re-conhecessem o teu corpo de anjo. Por-ventura, nem nos seus mais decorosos pensamentos o fariam. Não. A razão e a justiça está do lado deles e todos o dirão. Até o povo. Romeu era um tolo, dirão, obcecado por uma mulher que não semelhava a sua condição. Sa-bemos que essa não é a verdade. São patranhas que contam a si mesmos e aos outros para se desculparem. Todos queremos esquivar-nos aos nossos crimes. Possivelmente, a tua condição era superior, ou seriam iguais que é o mais certo. Mas nunca aos olhos deles. Nem da tua família, diga-se também. Mas sei que sabes de todos em geral e de cada um em particular, ninguém nunca te enganou, nem eu, muito menos agora. Amaste e foste amada e pagaste o preço de quem ama um amor como o que amaste. Por isso, não te admiras que te culpem para todo o sempre, ainda que a culpa seja deles. De todos eles. Ainda que a culpa seja minha... Toda minha...

Nem tu, nem ele, nem eu vivere-mos mais natais... Romeu morreu em Roma... E tu também.

William

Luís Miguel Rocha é o primeiro autor português a constar na lista do The New York Times.

É autor de diversos livros, traduzidos para vários países.

Será um dos palestrantes na Feira do Livro de Poços de Caldas

de 2013 e escreveu este texto exclusivo para O MUNICIPIO .

Page 12: Especial de Natal

22 de dezembro de 2012Pág. 12

José Benedito de Almeida David

Dia desses, um jovem universitário me perguntava: qual o sentido das celebrações que realizamos na Igreja, qual o sentido do culto que pres-tamos a Deus? Pode o ser humano estabelecer com Ele uma relação de troca, como que uma espécie de “co-mércio”, buscando ser favorecido ao oferecer-lhe algum bem?

Diferentemente do que ocorre em muitas comunidades religiosas onde o culto se caracteriza como uma ação do ser humano que busca atin-gir a divindade para com ela estabe-lecer relação ou para dela conseguir um favor, na experiência religiosa judaico-cristã o caminho é bem o in-verso: a iniciativa é de Deus que, no seu imenso amor, vem ao encontro do homem e o convida à comunhão com Ele. Tudo é Graça, tudo é dom gra-tuito de Deus. O culto judaico-cristão é, antes de tudo, ação de Deus, e é claro com a necessária participação do ser humano. Ação de Deus que se lembra do ser humano, ação do ser humano que responde a Deus re-conhecendo seu agir em seu favor, lembrando-se Dele e de sua Aliança.

Assim “celebrar” é antes de tudo “fazer memória”, fazer “memorial”. Fazer “memorial” – tema que é central na fé que dá sentido à vida do Povo do Antigo Testamento - é muito mais que uma mera lembran-ça de fatos passados à moda grega, muito mais que uma recordação bu-cólica a nos mover a imaginação e os sentimentos. Os acontecimentos realizados por Deus em favor dos homens têm uma virtude duradou-ra que atravessa a história e atinge não só os destinatários imediatos, mas todas as gerações futuras, como comenta a Mishná: “A festa deve ser celebrada como se cada um, ele mesmo, tivesse saído do Egito” (Pe-sahin 10,5; Deut. 5,2-3)

Fazer “Memorial” é tornar pre-sente, no nosso hoje, as ações mara-vilhosas que o Senhor foi realizando no decorrer da história a favor do seu Povo, a favor de sua vida, como expressão do seu permanente amor. Fazer “memorial” é “atualizar” para nós, é fazer que se “tornem hoje”,

Celebrando o Natal de Jesus...em nós e em nossa vida, as maravi-lhas realizadas por Deus na história humana, e que permanecem sempre presentes, fazendo desta mesma histó-ria, aos olhos da fé que lhe dá sentido, uma História de Salvação.

É assim que estamos por celebrar a grande maravilha da presença huma-no-divina do Verbo de Deus na história humana... É Natal! Desejamos celebrá-lo não apenas recordando-o como fato passado, acontecido, como nos diz o Evangelho de Lucas, no tempo do Im-perador César Augusto, quando Quiri-no era governador da Síria...

Queremos, sim, apropriar-nos do sentido deste gesto de Deus que vem ao nosso encontro, no Menino de Belém, e celebrar, na festa, com o coração cheio de alegria e esperança, o que o Senhor nos revela: “Não tenhais medo, eis que vos anuncio uma boa notícia que será alegria para todo o povo: hoje nasceu para vós um Salvador, que é o Cristo Senhor... Glória a Deus no mais alto dos céus e sobre a terra paz para os homens seus bem-amados.” (Lc.2,10-14)

O primeiro anúncio, o primeiro con-vite que ecoa do Evangelho do Natal é: “Não tenhais medo!” Por que temos medo de Deus? Ter medo de Deus não é atitude de filho... No lugar do medo deve estar a confiança. Confiança em Deus. Confiança que nasce ao percebermos seu amor por nós, amor tão antigo no dizer do Novo Testamento: Ele nos amou primeiro... nos amou... nos chamou... desde antes da criação do mundo, e ainda... deu-nos seu Filho como reden-ção quando ainda éramos pecadores... (Ef.1,3-14; Rom.8,28-30; 1Jo.4,9-10)

Não ter medo porque o anúncio

é “uma boa notícia que será alegria para todo o povo”. A “boa notícia” – evangelion do grego, não é apenas para alguns... É para “todo o povo”! O Verbo que chega, chega para todos, quer ser presença em todos, irmão de todos, sem excluir ninguém. E é motivo de alegria para toda a humani-dade, de todos os tempos, de todas as nações. Alegria porque o Deus, presen-te na Criança, não mais amedronta, se faz próximo, testemunha gratuidade, revela carinho, vida, é companheiro que caminha junto.

“Nasceu para vós um Salvador, o Cristo Senhor.” Mysterium Fidei: a criança frágil é o Senhor que dá a Vida! Só a fé pode levar-nos a acolher, reco-nhecer e a repetir: “No principio era o Verbo... tudo foi feito por meio dele e sem Ele nada foi feito de tudo o que existe... E o Verbo se fez carne e habitou entre nós... dele nos vem a vida.” (Jo1,1-18) “Salvar” é reconciliar...mas, antes de tudo é dar vida! O Salvador é a Fonte da Vida para toda a criação, no Ressuscita-do, homem como nós, revela-se o nosso futuro: vida plena, vida para sempre.

Acolher Jesus que vem a nós como Salvador e Senhor é acolher sua Pala-vra como o sentido do nosso viver, é deixar-nos iluminar nossa vida por sua luz que nos permite enxergar o mundo com os seus olhos divinos - e por isso plenamente humanos - levando-nos a um compromisso sempre maior com o estabelecimento da justiça e da fra-ternidade que geram vida para todos. Dizer, na fé, Jesus é o Salvador e Senhor é dizer que todos os proble-mas nossos e do nosso mundo podem ser superados. É acreditar que tudo

tem saída, nada é irremissível, qual-quer situação pode ser mudada para melhor, pois a morte foi vencida pela vida. O Salvador e Senhor de Belém desfataliza a historia humana e nos chama a “viver na liberdade dos filhos de Deus” (Rom. 5 ss).

A Deus, glória nos céus; aos homens por ele bem-amados, a paz! Esse solene canto dos mensagei-ros de Natal na noite de Belém nos ajuda a ver que, quando na fé reco-nhecemos a Deus como o sentido maior que orienta nossa vida, não só encontramos a paz tão desejada no fundo do nosso coração humano, mas ainda nos colocamos na direção da construção da paz no mundo em que vivemos. Construir a paz é tarefa humana para cada ser humano. Não uma tarefa individual, mas um tra-balho que precisa ser de conjunto. Conjunto porque envolvendo a ati-vidade de todos. Conjunto porque não deixando de lado a atenção com nossa Terra-mãe. Ninguém tem paz sozinho, nem ninguém sozinho fica em paz. Nas Escrituras Judaica e Cristã, paz é plenitude, plenitude de bens, de vida, de comunhão com Deus, com outros, com a natureza. Paz é plena realização humana. Paz é realização do projeto de Deus para sua criação.

É isso o que Deus nos convida a celebrar nesta festa do Natal de Jesus, atualizando e vivendo sua ma-ravilhosa presença em nossa histó-ria. Somos convidados a acolhê-Lo como Salvador e Senhor que nos orienta e nos dá a vida, a acolhê-lo como Irmão que nos ensina, nas suas atitudes de homem, como chamar a Deus de Pai e a tratar homens e mulheres como irmãos amados. Ali-mentemos, pois, em nossos corações a alegria e a esperança que o Natal de Jesus nos anuncia: Deus nos ama, amemo-nos na medida de Jesus!

Feliz Natal!

Prof. Pe. Dr. José Bene-dito de Almeida David

é sanjoanense, professor de Teologia Sistemática na PUC-Campinas, onde já foi Reitor,

e é Presbítero Cooperador da Paróquia Coração de Maria

de São João da Boa Vista.

Page 13: Especial de Natal

22 de dezembro de 2012Pág. 13

Antônio de Pádua Barros

Na base da doutrina de AMOR, que Jesus Cristo veio trazer ao mundo, está a FRATERNIDADE. O Evangelho (Boa Notícia) nos diz, em primeiro lugar, que Deus é PAI e que, em con-sequência, todos nós somos IRMÃOS. E, portanto, deveríamos viver como irmãos. Contudo, não é o que vemos acontecendo no nosso planeta.

No próximo dia 25 de dezembro, celebraremos os 2012 anos do nasci-mento de Jesus Cristo e, no entanto, o que presenciamos no mundo é o cres-cimento da miséria, que provoca o au-mento da violência que, por sua vez, produz as revoluções e as guerras.

As perguntas que povoam o nosso pensamento são estas: a causa de tanta miséria é a falta de comida? É a falta de roupas? É a falta de habitações? É a falta de medicamentos? A resposta é simples: NÃO! A causa de tanta misé-ria é a falta de PARTILHA!

Uma minoria muito pequena da hu-manidade, que tem muito, quer ter cada vez mais; e a imensa maioria da popu-lação, por isso mesmo, tem cada vez menos! O grande motivo: não há uma CONSCIÊNCIA sólida de que somos todos IRMÃOS, filhos do mesmo PAI, que é Deus. E sem essa consciência sólida, não haverá PARTILHA.

A mensagem de Jesus, na cena da multiplicação dos pães, é muito clara. Quando os apóstolos lhe sugeriram

Natal: Festa da Fraternidademandar a multidão embora, pois já caía a noite, para que “se virassem” quanto à alimentação, a resposta do Mestre teve peso de eternidade: “Dai-lhes vós mesmos de comer”. Entretanto, no meio de tanta gente (mais de 5.000 pessoas), apenas um menino, que trazia consigo cinco pães e dois peixes, se dispôs a fazer a PARTILHA.

Dizem alguns exegetas que o mila-gre da multiplicação que Jesus reali-zou, não foi o dos pães e peixes. Ele fez coisa muito mais difícil: multipli-cou nos corações de centenas e cente-nas de pessoas, que traziam alimentos suficientes para dois ou três dias, es-condidos nas dobras dos seus mantos, o gesto fraterno daquele menino que ofereceu tudo o que trazia para a par-tilha. E sobraram doze cestos, com os restos dos alimentos, depois que todos se alimentaram! Que grande lição!

Por isso é triste verificar que, depois de mais de 2000 anos do nascimento de Jesus, de sua vigorosa mensagem, dos seus exemplos pessoais de con-duta, dos seus milagres, de sua paixão e morte na cruz e, sobretudo, de sua Ressurreição gloriosa, a Humanidade continue caminhando sem FRATER-NIDADE e, portanto, sem vivenciar a partilha.

Ora, não havendo partilha não haverá IGUALDADE; não havendo igualdade, não haverá LIBERDADE; não havendo

liberdade, não haverá PAZ, que é o maior anseio do ser humano sobre a terra!

Portanto, neste Natal, peçamos a Deus que dê à Humanidade, em espe-cial aos ricos e poderosos, que mantêm o poder político e econômico em todas as nações da Terra, o grande presente da CONSCIÊNCIA DA FRATERNI-DADE, para que cada IRMÃO possa levar uma vida digna e, assim, se re-alize finalmente o pedido feito pelos anjos, naquela primeira Noite Santa: “Glória a Deus nas alturas e PAZ na terra aos homens de boa vontade!”

Antônio de Pádua Barros é nascido em Paraisópolis/MG, mora atualmente em Espírito

Santo do Pinhal, onde recebeu o Título de Cidadão Pinhalense.

É formado em Direito e é apo-sentado do Banco do Brasil.

Page 14: Especial de Natal

22 de dezembro de 2012Pág. 14

Dom Dadeus

Contrariamente às demais religiões, o Cristianismo é uma História muito simples. Tem, na sua origem, uma jovem, de nome Maria, e um homem, chamado José. A jovem permaneceu sempre virgem. Mas teve um filho que recebeu o nome de Jesus. Podemos de-finir, a partir daqui, que o Cristianismo é graça que se estende ao mundo intei-ro. Tem como única referência Jesus.

Fixemos o início. O Cristianismo busca sua origem, dois mil anos atrás, em duas pessoas: José e Maria, que viram Deus com seus próprios olhos. Não se tratava de uma visão mística. Maria deu à luz uma criança. Ela e José olharam-na maravilhados. Assim começou a história da Igreja. É muito simples, singela e rica. Olhando para aquela criança viam Deus.

Será que, no século XXI, conse-guimos olhar, com a mesma singele-za, para aquela criança, depois, para

Uma história muito simplesaquele Pregador do Evangelho, e, por fim, para aquele Crucificado e Ressus-citado? Ele continua presente e atual entre nós, na Igreja. Nossos pais na fé nos contaram maravilhas. Temos tes-temunhas fidedignas ao longo de toda nossa História de dois mil anos. Muitos deram sua vida para nos garantir esta fé que salva. Os que viveram de acordo com ela, que a Igreja canonizou, isto é, declarou norma de fé para nós, dão tes-temunho alegre e vigoroso. São dignos de fé. Foram as pessoas mais queridas que passaram no mundo. Tornaram-se os melhores intérpretes do Evangelho. Não por idéias e pesquisas que tives-sem feito, mas pela vida, baseada uni-camente na fé em Jesus Cristo, que os tornou felizes.

Os Evangelhos narram episódios da vida de Jesus e sua acolhida entre os homens. Apontam aqueles que o se-guiram, deixando para trás todas as demais preocupações e buscas. Pedro, o mais ardoroso na fé, diante da pri-

meira grande crise dos discípulos, ex-clama: “Só tu tens Palavras de vida eterna e nós cremos que tu és o santo de Deus”.

Depois da prova final, que balançou os fundamentos da fé dos discípulos, Tomé se prostra diante do Ressuscita-do, num gesto de adoração e acolhida: “Meu Senhor e meu Deus”. Chegamos à plenitude. Temos a salvação por sua morte e ressurreição.

A História continua simples. O im-portante não são as idéias nem a práti-ca. Em primeiro lugar está a fé: somos apaixonados por Cristo. Quem crê nesta História, tão simples e fecunda, está salvo. É dom de deus. É graça.

Dom Dadeus Gringsé um dos bispos católicos

mais queridos que a Dioce-se de São João da Boa Vista já

teve. Atualmente, Dom Dadeus é arcebispo de Porto Alegre.

Page 15: Especial de Natal

22 de dezembro de 2012Pág. 15

Sebastião Álvaro Galdino Durante o mês de janeiro, no Brasil,

a chuva e o sol se confundem, ora surge um, ora o outro, mas em alguns momentos os dois se casam como por magia. Em fevereiro é a espera e a rea-lização pessoal. Já em março as ações aparecem quase infindáveis e em abril é pura sensibilidade.

Quando chega maio até o trabalho diminui e abre o portão da felicidade, mas, junho jamais será julho, e, julho jamais será agosto. O mês de setem-bro chega com a força da primavera, acenando para outubro, novembro e dezembro com as fotos das flores. Mas dezembro, que marca início do verão, finaliza com a força do NATAL em co-memoração ao Nascimento de Cristo.

Segundo Jesus Cristo: “o Reino de

NatalDeus está em vós”, portanto é só trans-bordar de amor no NATAL e durante a vida toda. O NATAL deve ser co-memorado, inicialmente, de maneira espiritual, para em seguida dar sentido humano em suas comemorações.

Naquele tempo disse Jesus a seus discípulos: ¹²Que vos parece? Se um homem tem 100 ovelhas, e uma delas se perde, não deixa ele as noventa e nove nas montanhas, para procurar aquela que se perdeu? ¹³Em verda-de vos digo, se ele a encontrar, ficará mais feliz com ela, do que com as no-venta e nove que não se perderam. Do mesmo modo, o Pai que está nos céus não deseja que se perca nenhum desses pequeninos.

Que o NATAL de 2012 seja o início para não se perder a unidade da família, da sociedade, da amizade, da felicida-

de, da harmonia e do caminho da paz. Espera-se que todo ser humano tenha condições de comemorar o aniversário de Jesus Cristo, independentemente do credo, raça ou situação financeira. Que a Energia Vital (Deus) esteja com todas as vidas do planeta Terra: “no início, meio e fim”.

Sebastião Álvaro Galdino é sanjoanense, formado em

Educação Física na instituição de ensino Náutico Mogiano e Univer-

sidade Bráz Cubas de Mogi das Cruzes. Atualmente, ele leciona no UNIFAE e é diretor de espor-

tes da Prefeitura Municipal.

Page 16: Especial de Natal

22 de dezembro de 2012Pág. 16

Page 17: Especial de Natal

22 de dezembro de 2012Pág. 17

Page 18: Especial de Natal

22 de dezembro de 2012Pág. 18

Page 19: Especial de Natal

22 de dezembro de 2012Pág.19

Page 20: Especial de Natal

22 de dezembro de 2012Pág.20