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ESPECIAL CORONAVÍRUS E O AGRONEGÓCIO MAIO DE 2020 O ANTES E O DEPOIS DO CORONAVÍRUS NO LEITE VOLUME 6

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Page 1: ESPECIAL CORONAVÍRUS E O AGRONEGÓCIO...O ANTES E O DEPOIS DO CORONAVÍRUS NO LEITE Esta análise se inclui numa série de estudos que o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Econo-mia

ESPECIAL CORONAVÍRUS E O AGRONEGÓCIO

MAIO DE 2020

O ANTES E O DEPOIS DO CORONAVÍRUS NO LEITE

VOLUME 6

Page 2: ESPECIAL CORONAVÍRUS E O AGRONEGÓCIO...O ANTES E O DEPOIS DO CORONAVÍRUS NO LEITE Esta análise se inclui numa série de estudos que o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Econo-mia

Natália Grigol

Autora:

Jornalista responsável: Alessandra da Paz (Mtb: 49.148)

Fotos:

EXPEDIENTE

Data de publicação: 05 de maio de 2020

Sobre o estudo:

ESPECIAL CORONAVÍRUS E O AGRONEGÓCIO – Volume 6 –

O ANTES E O DEPOIS DO CORONAVÍRUS NO LEITE

Esta análise se inclui numa série de estudos que o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Econo-

mia Aplicada), da Esalq/USP, vem realizando, com o objetivo de acompanhar e avaliar o desempenho

das cadeias produtivas do agronegócio durante a pandemia de covid-19. Esta análise se enquadra no

âmbito do acordo celebrado entre SENACON/MJSP (Secretaria Nacional do Consumidor) e a Sober (So-

ciedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural), tendo esta designado o Cepea como

instituição executora das análises que se tornem necessárias ao longo da atual pandemia.

Alessandra da Paz (Mtb: 49.148)

Bruna Sampaio (Mtb: 79.466)

Flávia Gutierrez (Mtb: 53.681)

Nádia Zanirato (Mtb: 81.086)

Revisão:

Bruna Sampaio (Mtb: 79.466)Diagramação:

Pixabay.com

Bento Viana/Senar

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Os primeiros meses deste ano no mer-cado de leite foram uma continuida-de do último trimestre de 2019¹: sus-

tentação dos preços ao produtor em altos patamares, em decorrência da competição acirrada entre os laticínios para assegurar mer-cado e da oferta limitada de leite no campo. De acordo com pesquisas do Cepea, o preço do leite ao produtor de janeiro a abril (refe-rentes à captação pela indústria de dezembro/19 a março/20)² registrou alta acumulada de 6,7% na “média Brasil” líquida³, em termos reais (va-lores deflacionados pelo IPCA de março/20). O preço médio do período foi de aproximadamen-te R$ 1,42/litro, 3,3% menor do que a média de janeiro a abril de 2019, mas 26,8% acima da re-gistrada em 2018. Contudo, o valor do leite cap-tado em abril, que será pago em maio aos pro-dutores, pode se enfraquecer, pressionado por

incertezas relacionadas à crise do coronavírus. Porém, antes de explorar os impac-tos do coronavírus sobre a dinâmica de pre-ços dos lácteos, é necessário contextualizar o mercado doméstico no momento que an-tecede o agravamento da pandemia, ocorri-do na segunda quinzena de março de 2020. A Figura 1 mostra os preços pagos ao produtor nos últimos anos e evidencia que os patamares alcançados em 2020 só foram meno-res do que os registrados em 2019 – quando os valores atingiram o recorde da série histórica do Cepea. Antecipando alguns dos assuntos discu-tidos a seguir, observa-se que os preços em 2015 caíram para patamares baixíssimos em relação à média dos anos anteriores, devido à recessão econômica e ao enfraquecimento da demanda. Isso causou uma retração na produção de leite, elevando as cotações nos anos subsequentes.

¹ Acesse a retrospectiva de 2019 em https://www.cepea.esalq.usp.br/br/releases/leite-retro-2019-oferta-limitada-e-competicao-entre-laticinios-mar-cam-2019.aspx² Vale lembrar que existe uma defasagem temporal entre a captação do leite pelas indústrias e o pagamento ao produtor. Assim, o leite que é captado em janeiro é pago em fevereiro. A pesquisa do Cepea convencionou padronizar o preço pelo mês do recebimento. Até o final da elaboração desta análise, o último dado disponível era o preço de abril, referente à captação de março. ³ A “média Brasil” de preços é composta pelos estados de BA, GO, MG, SP, PR, SC e RS. Os preços líquidos não consideram frete e impostos.

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4 Como a pecuária leiteira é uma atividade com produção de ciclo longo, os desajustes entre oferta e demanda de um ano impactam nos subsequentes. Em 2016, houve elevação dos custos de produção, clima desfavorável e menor oferta. Em 2017, o aumento da produção no segundo semestre (incen-tivada também pelo baixo custo dos grãos naquele período), levou à drástica redução das cotações – o que, por sua vez, prejudicou os investimentos de longo prazo da atividade. Em 2018, as cotações só reagiram por conta da greve dos caminhoneiros. A interrupção do fornecimento de insumos prejudicou o ciclo produtivo das vacas e a produtividade. Além disso, no período pós-greve, houve forte disputa por matéria-prima entre empresas – e esse cenário e os contratos firmados com produtores sustentaram o movimento altista até o início da safra. A alta nos custos de produção no último trimestre daquele ano, porém, freou os investimentos e a oferta já se mostrou limitada em janeiro de 2019. Durante todo o ano de 2019, a produção seguiu restrita e a competição entre as empresas para assegurar matéria-prima se elevou, sustentando as cotações em elevados patamares.

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Média 2011-2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020

Figura 1 – Série de preços médios recebidos pelo produtor (líquido) na “média Brasil”, em valores reais (deflaciona-dos pelo IPCA de março/2020)Fonte: Cepea. Elaborado pela autora.

Mesmo com preços ao produtor em pa-tamares elevados, a produção não se recuperou como esperado pelos agen-

tes do setor entre o último trimestre de 2019 e o primeiro trimestre de 2020. Os últimos da-dos do Cepea mostram que, de dezembro/19 a março/20, o Índice de Captação Leiteira (ICAP-L) registrou queda acumulada de 11,5% na “Média Brasil”. A Figura 2 mostra as varia-

ções do ICAP-L e também do volume de leite adquirido pelas indústrias, segundo a Pesquisa Trimestral do Leite (PTL) do IBGE para o Bra-sil e evidencia que é relativamente normal a queda da captação nesse período, por conta de fatores climáticos. A análise de sazonalidade mostra que a captação no Brasil recua a níveis abaixo da média de março a agosto, o que in-fluencia positivamente as cotações (Figura 3).

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Há duas fontes de dados oficiais sobre disponibilidade de leite no Brasil, ambas calculadas pelo IBGE. A Pesquisa Pecuária Municipal (PPM), cuja coleta de dados é anual, disponibiliza dados sobre produção de leite. Já a Pesquisa Trimestral do Leite (PTL), cuja divulgação é trimestral, refere-se à quanti-dade de leite adquirida pela indústria com algum tipo de inspeção sanitária. Com o intuito de acompanhar a oferta mensalmente, o Cepea calcula o Índice de Captação de Leite (ICAP-L) – para mais informações sobre a metodologia do ICAP-L, ver: https://www.cepea.esalq.usp.br/br/metodologia/icap-l-cepea-indice-de-captacao-de-leite-brasil.aspx

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6 Utilizando o método da média geográfica móvel centralizada de 12 meses (ver Hoffman, R., 2002, Estatística para economistas. 3. ed. Piracicaba: Biblioteca Pioneira de Ciências Sociais).

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Comparação entre variação acumulada do ICAP-L e da captação formal (PTL-IBGE)

ICAP-L Brasil PTL Brasil

Figura 2 – Variação acumulada do ICAP-L e do volume de leite captado pelas indústrias, segundo a Pesquisa Trimestral do Leite do IBGE para o Brasil (base 100 estabelecida em dez/17).Fonte: Cepea e Pesquisa Trimestral do Leite (PTL) do IBGE. Elaborado pela autora.

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Sazonalidade de captação e preços no Brasil

Captação (PTL-IBGE) Preço (Cepea)

Figura 3 – Análise da sazonalidade da captação e dos preços no Brasil.Fonte: Dados do Cepea e da Pesquisa Trimestral do Leite (PTL) do IBGE. Elaborado pela autora.

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A menor oferta de leite no período, portanto, esteve atrelada principalmente à ins-tabilidade climática (fortes variações nos regi-mes de chuvas), limitando a disponibilidade de pastagens e de alimentação animal. A situação mais drástica ocorreu no Sul do País, que en-frenta forte estiagem. Outros fatores também desestimularam o aumento da produção, como a alta dos preços do concentrado (puxado pela constante valorização dos grãos) e o maior abate de vacas leiteiras, devido à elevação dos preços no mercado de corte no final de 2019. Além disso, é importante destacar que a restrição da oferta foi intensificada pela sa-ída de produtores da atividade nos últimos anos e pela grande insegurança – verifica-da em anos anteriores e neste também – em realizar investimentos de longo prazo frente às incertezas no curto prazo. As dificuldades e baixos níveis de investimentos em 2017 e 2018 se desdobraram em efeitos de longo prazo, que limitaram o potencial de crescimen-to da atividade em 2019 e no início de 2020. A fragilidade estrutural da produção

leiteira nos últimos anos pode ser avaliada por meio dos dados do IBGE. Os últimos dados da Pesquisa Pecuária Municipal (PPM) do IBGE mostram que, em 2018, a produção brasileira de leite foi de 33,8 bilhões de litros, 1,6% acima do registrado em 2017. A última elevação da pro-dução que havia sido registrada antes disso foi de 2013 para 2014, cuja alta foi de 2,5%. Ainda assim, o volume atingido em 2018 não supera o de 2015 – quando se iniciou a desaceleração da produção, por conta da recessão econômica e do consequente enfraquecimento do consumo. Assim, de 2015 a 2018, a produção caiu 2,2%. Para suprir a demanda nesses anos de produção estagnada, observou-se a diminui-ção do mercado informal – ou seja, do leite que não passa por alguma inspeção sanitária no Brasil. Os dados da Pesquisa Trimestral do Leite do IBGE mostram que, em 2019, o volu-me captado pelas indústrias (formal) chegou a 25 bilhões de litros, elevação de 2,3% em relação a 2018. Considerando-se o período de 2015 e 2019, houve aumento de 3,9% na aquisição de leite pelas indústrias (Figura 4).

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BILHÕES DE LITROS

Produção Brasil (PPM) Captação Brasil (PTL)

Figura 4 – Comparação da produção e da captação de leite em anos selecionadosFonte: Fonte: Pesquisa Pecuária Municipal (PPM) e Pesquisa Trimestral do Leite (PTL) do IBGE. Elaborado pela autora.Nota: os dados de 2019 só estão disponibilizados para a PTL. Considerou-se estabilidade da produção para essa análi-se.

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Ainda sobre a quantidade de leite dis-ponível às indústrias, é preciso falar sobre a queda nas importações. O Brasil é um tradicio-nal importador de lácteos, adquirindo, princi-palmente, leites em pó e queijos da Argentina e Uruguai – parceiros do Mercosul. Os dados da ComexStat mostram que as importações de lácteos no primeiro trimestre de 2020 diminuí-ram 29,5% em relação ao mesmo período do

ano passado. O dólar, 18,5% mais valorizado nesse período, desestimulou as compras exter-nas, ao mesmo tempo em que a produção de lácteos da Argentina e Uruguai também esteve limitada no período. Por outro lado, as exporta-ções de lácteos aumentaram 32% em relação ao primeiro trimestre de 2019, impulsiona-das pela desvalorização do câmbio (Figura5).

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Exportações Importações Balança comercial Média Dólar

Figura 5 – Balança comercial de lácteos nos primeiros trimestres de 2018, 2019 e 2020, em milhões de litros em equivalente leite, e preço do dólar.Fontes: ComexStat e Cepea. Elaborado pela autora.

Por fim, é interessante mostrar a eleva-ção do preço do leite spot (negociado entre as indústrias) nos últimos meses (Figura 6). O leite spot é um importante indicador da oferta de lei-te no campo. As negociações entre as indústrias de leite já captado ocorrem quinzenalmente, o que direciona as estratégias de processamen-to e de compra da matéria-prima no campo. De janeiro a março, o leite spot negocia-do em Minas Gerais apresentou alta acumulada

de 13,4%. Os patamares de preços alcançados nesse período foram um dos mais altos nos últi-mos anos, refletindo a oferta limitada de leite no campo e a acirrada concorrência entre as indús-trias para obter matéria-prima. No entanto, de-vido aos efeitos das incertezas diante da pande-mia de coronavírus, as cotações caíram 18,2% no acumulado de abril – o que deve influenciar negativamente o preço ao produtor de maio.

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PREÇO LEITE SPOT EM MINAS GERAISVALORES REAIS - R$/LITRO (Deflacionados pelo IPCA de março/20

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Figura 6 – Preços do leite spot negociado em Minas Gerais, em valores reais (deflacionados pelo IPCA de março/2020)Fonte: Cepea. Elaborado pela autora.

Desde o final de 2018, o contexto de oferta restrita intensificou o desequilíbrio em re-lação à demanda das indústrias. Verifica-

-se queda no consumo aparente per capita total desde 2014 – quando o poder de compra do bra-

sileiro também diminuiu. É importante lembrar que o consumo de muitos lácteos, como queijos e iogurtes, é fortemente impactado pela oscila-ção da renda (Figura 7), além de haver sensibili-dade diferente a preços dos diversos derivados.

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Consumo aparente per capita (litros em equivalente leite/habitante) - total

Figura 7 – Consumo aparente per capita (litros em equivalente leite/habitante) total.Fontes: ComexStat e IBGE. Elaborado pela autora.

A seguir, serão tomados como base para análise o queijo muçarela, o leite em pó e o leite UHT, os três principais derivados consumidos no Brasil. Estima-se que 34% do leite inspeciona-do seja direcionado para a produção de quei-jos; 24%, para leite em pó; e 29%, para UHT . Observa-se que os preços da muçarela conseguiram se manter elevados nos últimos meses, por conta da redução da produção – limi-tada pela menor oferta do spot, um importante canal de oferta de leite para a produção de quei-jos. A Figura 8 apresenta o preço médio recebido pela indústria pela venda da muçarela em São Paulo (o maior mercado consumidor do Brasil). Ao analisar a relação entre os preços do leite captado e os da muçarela, observa-se que os maiores resultados ocorreram nos anos de 2017 e 2019, quando os valores no cam-po representaram mais que 8% do preço do

lácteo. Em 2020, a participação do preço ao produtor na cotação da muçarela se mante-ve mais estável, em torno de 7,5% (Figura 9).

7 De acordo com dados da Associação Brasileira do Leite Longa Vida (ABLV) in: MARTINS, P. C.; ZOCCAL, R.; RENTERO, N.; ALBUQUERQUE, A. (org). Anuário Leite 2018. EMBRAPA, 2018. p.61.

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Figura 8 – Preços do queijo muçarela recebidos pela indústria em negociações no estado de São Paulo (médias mensais obtidas de cotações diárias), em valores reais (deflacionados pelo IPCA de março/2020).Fonte: Pesquisa de preços diárias do Cepea-Esalq/USP com apoio financeiro da OCB. Elaborado pela autora.

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RELAÇÃO DO PREÇO AO PRODUTOR COM A MUÇARELA

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Figura 9 – Relação entre os preços do leite captado no campo (média Brasil líquida) e os do queijo muçarela rece-bido pela indústria em negociações no estado de São Paulo (médias mensais obtidas de cotações diárias), em valores reais (deflacionados pelo IPCA de março/2020).Fonte: Pesquisa de preços diárias do Cepea-Esalq/USP com apoio financeiro da OCB. Elaborado pela autora.

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Em relação ao leite em pó, observa-se que os preços registrados para o produto fracio-nado (embalagem de 400g) em 2020 estiveram em patamares acima dos registrados nos últi-mos anos (Figura 10). Devido à oferta restrita no campo, a produção do leite em pó fracionado acabou se retraindo para privilegiar o proces-samento de leite em pó industrial nos últimos meses. Além disso, é preciso ressaltar que, den-tre todos os derivados lácteos, o leite em pó é o único produto que se caracteriza como bem inferior – ou seja, o gasto percentual diminui

frente ao aumento percentual da renda e vice--versa . Isso significa que, num contexto de per-da de poder de compra, a procura por leite em pó pode se elevar, já que é comum aumentar a diluição do produto para elevar seu rendimento. Em 2020, o peso do preço do leite ao produtor no do leite em pó foi próximo de 8,5%, valor acima do registrado em anos anteriores para esse período – com exceção de 2019, quando houve dificuldade em repassar a alta da matéria-prima para o consumidor (Figura 11).

8 Ver CARVALHO, G. R. Elasticidades-renda dos dispêndios de leite e derivados no Brasil. Monografia de Conclusão de Curso. Universidade Federal de Juiz de Fora. 2011.

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Figura 10 – Preços médios mensais do leite em pó fracionado (400g) recebidos pela indústria em negociações no estado de São Paulo (médias de cotações semanais), em valores reais (deflacionados pelo IPCA de março/2020). Fonte: Pesquisa de preços diárias do Cepea-Esalq/USP com apoio financeiro da OCB. Elaborado pela autora.

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Figura 11 – Relação entre os preços do leite captado no campo (média Brasil líquida) e os do leite em pó recebido pela indústria em negociações no estado de São Paulo, em valores reais (deflacionados pelo IPCA de março/2020).Fonte: Pesquisa de preços diárias do Cepea-Esalq/USP com apoio financeiro da OCB. Elaborado pela autora.

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RELAÇÃO DO PREÇO AO PRODUTOR COM O LEITE EM PÓ

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Por outro lado, no caso do leite UHT, as cotações reais nos últimos meses em ter-mos reais estão em patamares baixos em re-lação aos anos anteriores. É preciso pontuar que o UHT é o derivado cuja demanda é me-nos elástica à renda, sendo considerado um item de cesta básica e um importante produto para as redes varejistas atraírem consumidores. A Figura 12 apresenta o preço médio recebido pela indústria pela venda do leite UHT em São Paulo (o maior mercado consumidor do Brasil). Observa-se um aumento importante nas cotações a partir de março de 2020 – embora dentro dos limites de anos anteriores –, quando houve um choque de demanda pelo produtor (abordado na próxima seção). Em abril, a par-cial mostra que o preço médio continua eleva-do, embora o acompanhamento diário das cota-ções já demonstre reversão da tendência altista. A análise da relação entre os preços do leite captado e os do UHT mostra que a mar-gem da indústria se espremeu nos últimos anos

para esse lácteo. Nos inícios dos anos de 2019 e de 2020, a participação do preço ao produ-tor na cotação do UHT chegou a cerca de 60% (Figura 13). A redução dessa relação em março de 2020 se deu por conta da expressiva alta de preços no UHT, desencadeada, por sua vez, pelo choque de demanda frente à crise do corona-vírus – como será abordado na próxima seção.

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MÉDIAS MENSAIS DO UHTVALORES REAIS - R$/LITRO (Deflacionados pelo IPCA de março/20)

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Figura 12 – Preços do leite UHT recebidos pela indústria em negociações no estado de São Paulo (médias mensais obtidas de cotações diárias), em valores reais (deflacionados pelo IPCA de março/2020).Fonte: Pesquisa de preços diárias do Cepea-Esalq/USP com apoio financeiro da OCB. Elaborado pela autora.

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RELAÇÃO DO PREÇO AO PRODUTOR COM O UHT

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Figura 13 – Relação entre os preços do leite captado no campo (média Brasil líquida) e os do UHT recebido pela indústria em negociações no estado de São Paulo (médias mensais obtidas de cotações diárias), em valores reais (defla-cionados pelo IPCA de março/2020).Fonte: Cepea-Esalq/USP. Elaborado pela autora.

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O DEPOIS DO CORONAVÍRUS

Os impactos da pandemia de corona-vírus sobre o consumo de lácteos no Brasil se deram a partir de 17 de mar-

ço, quando a pesquisa diária do Cepea, reali-zada com o apoio financeiro da OCB, registrou choque de demanda para o leite UHT. Redes atacadistas e varejistas intensificaram a pro-cura pelo derivado, diante da forte deman-da de clientes, que queriam fazer estoques por conta das recomendações de isolamento em decorrência da pandemia de coronavírus. Agentes do setor relatam que, duran-te a segunda quinzena de março, as vendas semanais do UHT foram até oito vezes maio-res do que numa semana normal. Isso teria ocasionado uma baixa generalizada nos es-toques, tanto das indústrias, como dos canais de distribuição. Com a menor disponibilida-de do produto, o preço médio do UHT regis-trou altas de 22,7% na segunda quinzena de março e de 24,8% no acumulado do mês. As cotações do leite em pó fraciona-do (400g) negociado no estado de São Paulo também subiram, com elevação acumulada de 4,1% em março. Agentes do setor consultados pelo Cepea relataram que a produção do leite em pó fracionado esteve limitada para privile-giar o processamento de leite em pó industrial. Por outro lado, com fechamento de redes de serviço e alimentação, o consumo de lácteos refrigerados, como queijos, teria sido muito prejudicado. A pesquisa diária do Ce-pea mostrou que o preço médio da muçarela recebido pelas indústrias em negociações no estado de São Paulo teve queda acumulada de 0,97% em março. Ressalta-se que dificul-dades no escoamento de queijos colocam em risco o faturamento de pequenas e médias in-dústrias – algumas, inclusive, já teriam parali-

sado suas atividades e suspendido a compra de leite no campo em regiões onde o sistema agroindustrial do leite é menos desenvolvido. Mesmo com a queda de preço da muçarela, o leite spot (negociado entre indús-trias) havia registrado alta nas duas quinzenas de março, com o preço médio mensal ficando quase 5% superior ao de fevereiro em Mi-nas Gerais. Assim, o pagamento ao produ-tor em abril se manteve na tendência altista. Ao longo de abril, porém, os derivados apresentaram tendência de queda nas nego-ciações. Além do atendimento dos serviços de alimentação (importantes canais de distribuição de lácteos) terem sido afetados pelo agravo da pandemia, também houve a diminuição da frequência das compras por parte dos consumi-dores e a redução da renda de muitas famílias – fatores que impactaram negativamente sobre o consumo de diversos derivados em abril, es-pecialmente os refrigerados (perecíveis), que têm maior valor agregado para as indústrias. O consumo de muçarela seguiu en-fraquecido e agentes de mercado consultados pelo Cepea relataram muitas dificuldades em assegurar a liquidez e necessidade de realizar promoções. Dados da pesquisa diária reali-zada pelo Cepea com o apoio financeiro da OCB mostram que, em abril, o preço médio da muçarela recebido pela indústria em negocia-ções no estado de São Paulo apresentou que-da acumulada de 8,3%, em valores nominais (Figura 14). A média do mês, de R$ 17,93/kg, mostra redução de 6,3% em relação à média de março, de R$ 19,12/kg, em valores nominais.

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Preços nominais diários de Queijo Muçarela no Estado de São Paulo

Figura 14 – Preços diários do queijo muçarela recebidos pela indústria em negociações no estado de São Paulo, em valores nominaisFonte: Pesquisa de preços diárias do Cepea-Esalq/USP com apoio financeiro da OCB.

A fragilidade do mercado de queijos em abril levou ao aumento do volume de leite cru disponível, o que pressionou as cotações do lei-te spot. Em Minas Gerais, o preço médio do leite spot caiu 7,3% na primeira e 11,7% na segunda quinzena de abril. A maior oferta de leite neste mercado influenciou as quedas nos mercados do leite em pó e do UHT, como abordado a seguir. A pesquisa semanal do Cepea realiza-da com o apoio financeiro da OCB mostra que

as cotações médias do leite em pó também oscilaram em abril (Figura 15). Houve queda acumulada de 3,7% em valores nominais. O recuo da cotação média na última semana do mês influenciou esse resultado e ocorreu devi-do ao aumento do estoque das indústrias no período. A média mensal abril, contudo, foi de R$ 17,89/kg, valor 3,1% acima do registrado em março (R$ 17,36/kg), em termos nominais.

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Preços médios semanais de leite em pó fracionado (400g) no Estado de São Paulo

Figura 15 – Preços semanais do leite em pó recebidos pela indústria em negociações no estado de São Paulo, em valores nominais.Fonte: Pesquisa de preços diárias do Cepea-Esalq/USP com apoio financeiro da OCB.

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Como apresentado anteriormente, a produ-ção leiteira está num momento de transição para a entressafra no Sudeste e Centro-Oes-te. No Sul, a estiagem prejudica a atividade e

compromete a quantidade e a qualidade da produção de silagem para os próximos meses. Tipicamente, neste cenário, as indústrias empe-nhariam esforços para recompor seus estoques.

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Preços nominais diários de Leite UHT no Estado de São Paulo

Figura 16 – Preços diários do leite UHT recebidos pela indústria em negociações no estado de São Paulo, em valores nominais.Fonte: Pesquisa de preços diárias do Cepea-Esalq/USP com apoio financeiro da OCB.

No caso do leite UHT, a pesquisa diária realizada pelo Cepea com o apoio financeiro da OCB mostrou que o preço médio do UHT re-gistrou queda acumulada de 11,9% durante abril, em valores nominais (Figura 16). Houve uma certa regularidade na manutenção dos estoques, sugerindo que o consumidor final já começa a estabilizar novamente sua demanda. Apesar da tendência de queda, a média mensal

do mês é de R$ 2,87/litro, 8,1% acima da de março, de R$ 2,66/litro, em termos nominais. Contudo, o aumento da incerteza, a diminuição da renda da população e as pers-pectivas negativas sobre o consumo no médio e longo prazos têm diminuído o investimento das indústrias em estoques, ainda mais num momento em que a matéria-prima está va-lorizada, por conta das condições de oferta.

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INCERTEZA PODE PRESSIONAR VALORES AO PRODUTOR EM MAIO

É preciso lembrar que o preço no campo é for-mado depois das negociações quinzenais do leite spot e da venda dos derivados lác-

teos. Assim, a defasagem temporal entre a pro-dução e a comercialização dos derivados causa a diferença de um mês no repasse das condi-ções de mercado para o produtor. Por conta des-sa dinâmica de formação dos preços no campo, as cotações do spot e dos derivados de abril irão influenciar os valores do leite captado na-quele mês, que será pago ao produtor em maio. Desse modo, as negociações em que-da dos derivados e do spot no correr de abril indicam um cenário desfavorável ao preço ao

produtor de maio. As indústrias lácteas po-derão se deparar, em poucas semanas, com um cenário de baixo faturamento, o que cer-tamente será transmitido aos produtores. Ao mesmo tempo, a queda na receita dos produtores num momento de alta nos custos de produção e próximo ao período típico de entres-safra pode refletir em aumento do abate de fême-as e na saída de produtores da atividade leiteira. Assim, o momento é delicado, pois privilegia decisões focadas no curto prazo, o que pode trazer consequências negativas no longo prazo – ainda mais para uma ativi-dade tão complexa como a produção de leite.