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ESPAÇOS PÚBLICOS DA CIDADE DE MARABÁ: DESDOBRAMENTOS NA CIDADE DE FRONTEIRA i Luna Barros Bibas ii Ana Cláudia Cardoso iii (Universidade Federal do Pará) Resumo Após sofrer impactos de várias gerações de investimentos federais, a cidade de Marabá cresceu acele- radamente com pouca atenção dada aos espaços de vivência das pessoas. Evidências mostram a desar- ticulação entre escalas e a falta de suporte à reprodução da vida, além da emergência de conflito entre racionalidades (modos de vida tradicional e moderno). Esse quadro justifica o mapeamento e caracte- rização dos espaços públicos da cidade de Marabá, e contraposição dessa cartografia à discussão sobre cidades em curso desde os anos 1960 pela literatura clássica do desenho urbano (urban design), da pai- sagem urbana (landscape urbanism) e as características que um espaço deve dispor para servir melhor às pessoas na cidade. Desse modo espera-se contribuir para a caracterização de processos intraurbanos desta cidade e dos potenciais que a cidade da fronteira carrega, visibilizando trajetórias de urbanização possíveis, menos impactantes para o contexto amazônico. Na sua conclusão, o artigo oferece subsídios para a construção de políticas urbanas para as regiões de fronteira comprometidos com a articulação entre atributos do desenho urbano e aspectos sócio-ambientais na cidade. Palavras-chave: espaços públicos, cidades amazônicas, desenho urbano. Abstract After the impact by various federal investments throughout generations the city of Maraba grew apace paying very little attention to the spaces intended for people who arrived there and built their lives. Evi- dence show the disconnection between scales and the lack of support to life reproduction, besides the appearance and shock between rationalities. In this context, the need for mapping and characterization of the public spaces of the city of Maraba, arises. Combined discussions that have been on since the 70’s, the classical literature of urban design, urban landscape and the attributes that suits best the urban space built for people. Thereby make a contribution to the knowledge about the inner city problems, the potential that the economical frontier town carries, ratifying possible trajectories less extensive and impacting for the Amazon region cities. In order to contribute to the discussion of an urban policy for economical frontier regions, this article brings together urban design attributes, environment argument and social issues: actors and processes. Palavras-chave: public spaces, amazon cities, urban design. Os anos 50 introduziram no Brasil o desen- volvimentismo, paradigma que priorizava o cresci- mento econômico e desconsiderava pessoas e natu- reza, e que promoveu uma urbanização incompleta no país, com transferência progressiva de popula- ção para as cidades, sem que as cidades fossem pre- paradas para receber essa população (MARICATO, 2000). Em Marabá, cidade do sudeste paraense, a circulação do capital deslanchada com os grandes projetos federais levou à crescente desarticulação entre escalas, e entre homem e natureza (PONTES et al, 2014). Questões tais como destruição da flo- resta e acumulação de terras, privilégios de pou- cos no acesso ao lazer, acesso limitado à serviços e infraestrutura urbana por grupos sociais excluí- dos, via de regra ligados às atividades tradicionais da região, difundiram uma crença de que a nature- za deveria ser “domesticada”, e idealizada a partir de elementos exógenos, que se manifesta desde a poluição dos rios até a criação de espaços públicos incapazes de atender as necessidades da população (PONTES et al, 2015). A industrialização no Brasil e a integração logística do país incorporaram a região Amazônica como fornecedora de matéria prima, gerando for- te impacto sobre a região. Ainda que as políticas federais priorizassem empreendimentos agrários, sua concepção foi baseada em uma lógica urbano- 1

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ESPAÇOS PÚBLICOS DA CIDADE DE MARABÁ: DESDOBRAMENTOS NA CIDADE DE FRONTEIRAi

Luna Barros Bibasii

Ana Cláudia Cardosoiii

(Universidade Federal do Pará)

ResumoApós sofrer impactos de várias gerações de investimentos federais, a cidade de Marabá cresceu acele-radamente com pouca atenção dada aos espaços de vivência das pessoas. Evidências mostram a desar-ticulação entre escalas e a falta de suporte à reprodução da vida, além da emergência de conflito entre racionalidades (modos de vida tradicional e moderno). Esse quadro justifica o mapeamento e caracte-rização dos espaços públicos da cidade de Marabá, e contraposição dessa cartografia à discussão sobre cidades em curso desde os anos 1960 pela literatura clássica do desenho urbano (urban design), da pai-sagem urbana (landscape urbanism) e as características que um espaço deve dispor para servir melhor às pessoas na cidade. Desse modo espera-se contribuir para a caracterização de processos intraurbanos desta cidade e dos potenciais que a cidade da fronteira carrega, visibilizando trajetórias de urbanização possíveis, menos impactantes para o contexto amazônico. Na sua conclusão, o artigo oferece subsídios para a construção de políticas urbanas para as regiões de fronteira comprometidos com a articulação entre atributos do desenho urbano e aspectos sócio-ambientais na cidade.Palavras-chave: espaços públicos, cidades amazônicas, desenho urbano.

AbstractAfter the impact by various federal investments throughout generations the city of Maraba grew apace paying very little attention to the spaces intended for people who arrived there and built their lives. Evi-dence show the disconnection between scales and the lack of support to life reproduction, besides the appearance and shock between rationalities. In this context, the need for mapping and characterization of the public spaces of the city of Maraba, arises. Combined discussions that have been on since the 70’s, the classical literature of urban design, urban landscape and the attributes that suits best the urban space built for people. Thereby make a contribution to the knowledge about the inner city problems, the potential that the economical frontier town carries, ratifying possible trajectories less extensive and impacting for the Amazon region cities. In order to contribute to the discussion of an urban policy for economical frontier regions, this article brings together urban design attributes, environment argument and social issues: actors and processes. Palavras-chave: public spaces, amazon cities, urban design.

Os anos 50 introduziram no Brasil o desen-volvimentismo, paradigma que priorizava o cresci-mento econômico e desconsiderava pessoas e natu-reza, e que promoveu uma urbanização incompleta no país, com transferência progressiva de popula-ção para as cidades, sem que as cidades fossem pre-paradas para receber essa população (MARICATO, 2000). Em Marabá, cidade do sudeste paraense, a circulação do capital deslanchada com os grandes projetos federais levou à crescente desarticulação entre escalas, e entre homem e natureza (PONTES et al, 2014). Questões tais como destruição da flo-resta e acumulação de terras, privilégios de pou-cos no acesso ao lazer, acesso limitado à serviços

e infraestrutura urbana por grupos sociais excluí-dos, via de regra ligados às atividades tradicionais da região, difundiram uma crença de que a nature-za deveria ser “domesticada”, e idealizada a partir de elementos exógenos, que se manifesta desde a poluição dos rios até a criação de espaços públicos incapazes de atender as necessidades da população (PONTES et al, 2015). A industrialização no Brasil e a integração logística do país incorporaram a região Amazônica como fornecedora de matéria prima, gerando for-te impacto sobre a região. Ainda que as políticas federais priorizassem empreendimentos agrários, sua concepção foi baseada em uma lógica urbano-

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industrial, muito diversa das práticas tradicionais, provocando rápida transferência de população do campo para cidades improvisadas. Houve priorida-de à provisão de infraestrutura voltada para a pro-dução e negligência da infraestrutura de suporte à vida das pessoas. A implantação da infraestrutura logística em suporte à exploração de recursos na-turais na região e a ocupação de terras por assen-tamentos rurais oficiais, enquanto novas cidades surgiram e as preexistentes cresceram com recep-ção de fluxo crescente de pessoas que migravam de outros estados e áreas do Pará em busca de uma vida melhor. A lógica urbana (industrial moderna) criou um processo de urbanização extensiva em áreas vistas como essencialmente rurais, reorga-nizando a rede urbana e redefinindo o papel das cidades que a partir dai se tornaram difusoras de dinâmicas de consumo e produção capitalistas mas também portadoras de possibilidades de acesso à cidadania e de serviços públicos ofertados pelo Es-tado (MONTE-MÓR, 1994; CORRÊA, 2006). As políticas que vêm sendo praticadas há décadas na região incentivaram a propriedade privada e a informalidade, em nome do progres-so. Modificaram o modo de pensar da população, enaltecendo práticas exógenas, desqualificando o saber local, e banalizando a homogeneização em curso. A nova racionalidade imposta a quem vivia no lugar e ao bioma, que serviu de suporte para todo esse processo, gerou conflitos que precisam de investigação para serem explicitados. Neste trabalho, fez-se a opção pela comparação de pa-râmetros e atributos espaciais de espaços públicos em Marabá, para avaliar a qualidade dos espaços públicos e investigar relações entre o modo de vida tradicional e a construção de identidade local, usando situações de áreas vernáculas (de ocupação tradicional) e de áreas planejadas da cidade inspi-radas na lógica modernista/industrial. Esse tipo de investigação, sobre como os habitantes das cidades paraenses utilizam seus espaços tem sido considerada irrelevante, fora de uma agenda de estudos urbanos, normalmente fo-cada em políticas urbanas e processos metropolita-nos. Contudo a incompreensão de como as pesso-as viviam nesses espaços, tem facilitado o avanço de práticas associadas aqueles mesmos processos metropolitanos, com ênfase na fragmentação e pri-vatização da cidade, e que nega a diversidade e a possibilidade de manutenção dos saberes tradicio-nais, como forma de preservar e melhorar os espa-ços (tanto futuros como preexistentes) de cidades em regiões como a Amazônia.

O Percurso Metodológico da Pesquisa Esta pesquisa teve início com revisão de literatura sobre o contexto amazônico, com parti-cular atenção para a inserção regional de Marabá e para a reunião de informações necessárias para a sua caracterização sócio espacial. A cidade de Ma-rabá foi assumida como objeto de estudo por conter fortes manifestações das transformações ocorridas desde a década de 1970 (TOURINHO, 1991). A análise utiliza as ferramentas do desenho urbano, para oferecer uma caracterização espacial e avaliar formas de apropriação que reflitam qualidades ur-banas capazes de influenciar o comportamento da população (GEHL, 2009; JACOBS, 2011), a partir da perspectiva do pedestre, do ciclista e do usuário do transporte público e da ênfase na diversidade urbana. Em seguida, foi realizada revisão de lite-ratura sobre estudos espaciais clássicos no campo do urbanismo, valorizados em sociedades que são tomadas como referência de experiências urba-nas positivas destacando processos e qualidades capazes de influenciar hábitos e comportamentos em seus usuários. Após a compreensão teórica do problema foi feito trabalho de campo na cidade de Marabá no decorrer de 11 dias do mês de maio de 2014, iniciado pelo reconhecimento de praças e espaços públicos da cidade para seleção de duas praças e de trechos de ruas de diferentes portes e atividades em cada núcleo da cidade, com forma-ção em diferentes momentos históricos, represen-tativos de ciclos de crescimento e expansão da ci-dade diversos. Foram realizados a) levantamentos nos espaços públicos selecionados - mapeamento de uso, identificação de tipologias, e contagem de usuários e de fluxo de veículos, b) levantamento das estratégias de controle urbanístico e preserva-ção ambiental oficiais, c) entrevistas com morado-res da cidade visando o entendimento sobre o olhar que estes têm sobre a cidade, que tipos de ativi-dades exercem e o que esperam que a cidade vá oferecer no futuro e d) levantamento fotográfico e documental que teve como objetivo apreender par-te da história, tranformações espaciais e as visões de mundo predominantes. A partir desse acervo, foram realizadas análises para caracterização dos espaços seleciona-dos, associando-os a atores e processos, de acordo com os atributos e qualidades espaciais apontados na literatura clássica feita na revisão teórica. A pes-quisa foi concluída com a indicação de potenciais de otimização das funções dos espaços públicos na cidade selecionada.

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Área de Estudo Marabá nasceu como entreposto comercial, em 1913, localizada na confluência de dois rios, Tocantins e Itacaiúnas, ponto em que o núcleo da Marabá Pioneira ou Velha Marabá está localizado e a partir de onde a cidade se expandiu. Passou por diversos ciclos econômicos: caucho, castanha, dia-mante, ouro, da mineração e agropecuária. Estes últimos sustentam atualmente a economia da cida-de, exigindo adaptações para a viabilização de tal modo de produção, segundo parâmetros espaciais cada vez mais distantes da escala humana, verna-cular e criativa. A cidade se divide em cinco núcleos (Ma-rabá Pioneira, Nova Marabá, Cidade Nova, Dis-trito Industrial e São Félix), cada um com carac-terísticas específicas. Este trabalho focou nos três núcleos principais, que contam com espaços públi-cos mais consolidados: Marabá Pioneira, Cidade Nova e Nova Marabá. O núcleo pioneiro (ver figura 1) possui ocupação vernacular, fortemente ligada à dinâmi-ca ribeirinha e aos processos naturais. Sofre cheias periódicas que obrigam os moradores do pontal, bairro conhecido como Cabelo Seco ( oficialmen-te bairro Francisco Coelho) a adaptar suas casas ou mudar-se para outros núcleos. É reconhecida a capacidade dos moradores deste bairro de con-viver com as cheias e sempre voltar a seu lugar de origem à beira do rio. Em entrevista, um dos moradores afirmou que vários vizinhos vem cons-truindo lajes para que na época de enchente não haja necessidade de mudanças para outros núcleos, demonstrando o desejo da população tradicional em estabelecer contato com o rio. É possível iden-tificar em observação de campo que o rio é lugar de diversas atividades recreativas, profissionais e domésticas.

O outro lado do rio Itacaiúnas foi ocu-pado no início do século XX a partir da área do atual bairro do Amapá, mas apenas na década de 1960, após abertura da rodovia Transamazônica, e crescimento da exploração de minérios hou-ve expansão e formação do núcleo Cidade Nova.

A justificativa para a criação de um nú-cleo seria o remanejamento de população atin-gida pelas cheias, que ironicamente se punha afastado do rio, adjacente à Rodovia Transama-zônica e BR-222 divergindo muito da escala e ti-pologias do núcleo original de residência dessas

A implantação de diversos projetos federais e a mi-gração de milhares de trabalhadores, vindos prin-cipalmente do interior do Maranhão, resultaram na expansão da Cidade Nova e criação do núcleo Nova Marabá (projeto do governo federal). A Cidade Nova (ver figura 2) abrigou as-sentamentos para os profissionais que trabalhavam na implantação do Plano de Desenvolvimento Ur-bano que implantou a Nova Marabá. A vinculação com a rodovia Transamazônica associou o modo de vida nesse núcleo à dinâmica de “beira de es-trada”, mas ocupações irregulares e especulativas já avançam sobre a várzea em direção ao Rio Ita-caiúnas. É o núcleo mais populoso e atendido por intensa rede de comércio e serviços, porém com rede de infraestrutura escassa.

O principal produto da expansão para a Amazônia foi o núcleo da Nova Marabá (ver figu-ra 3), concebido pelo arquiteto Joaquim Guedes e implantado em 1973 paralelamente às políticas de incentivo fiscal e de reforma agrária de caráter “co-lonizador” (CARDOSO, LIMA, 2006), suas carac-terísticas são de uma cidade planejada, moderna, que não levou em consideração as particularidades locais, contudo nem o local de implantação nem soluções de desenho foram mantidos nas adap-tações feitas no projeto original (TOURINHO, 1991).

Figura 1 - Desenho ilustrativo das ruas do núcleo da Marabá Pioneira.

Fonte: Google Maps, 2015. Elaboração: Luna Bibas.

Figura 2 - Desenho ilustrativo das ruas do núcleo da Cidade Nova.

Fonte: Google Maps, 2015. Elaboração: Luna Bibas.

Figura 3 - Desenho ilustrativo das ruas do núcleo da Nova Marabá.

Fonte: Google Maps, 2015. Elaboração: Luna Bibas.

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famílias (ribeirinhas), também contava com dese-nhos modular de super quadras, com ruas sem sa-ída e em forma de folhas de castanheira. O plano seguiu a linha dos projetos para cidades modernas, de sociedades industriais, com propostas bidimen-sionais, que priorizavam a técnica em detrimento das experiências das pessoas e das características do bioma local, sua escala foi concebida para os carros, distanciou a moradia do rio e também dos espaços de lazer.

Pano de Fundo Teórico da Pesquisa A implantação de grandes projetos abran-geu um conjunto de atividades, combinação de forças produtivas e relações de produção global que que transformaram Marabá definitivamente em área de fronteira. A superposição de racionali-dades tem levado a supressão dos espaços livres e naturais bem como dos espaços públicos, pelo pen-samento cartesiano, produtor de abstrações, que procura substituir a heterogeneidade local por uma homogeneidade genérica, possibilita a reprodução de relações sociais já conhecidas, de espaços sem atritos, e da exploração sem medidas. A figura 4, apresenta a redução da vegetação na área contida pelo atual perímetro urbano de Marabá, entre os anos de 1994 e 2014. O meio ambiente é impacta-do e o espaço público é deixado em segundo plano, dada a força do padrão hegemônico que está sendo implantado.

São claras as tendências de condução a um futuro pré-fixado de exclusão social, degradação ambien-tal e carência de recursos naturais sob o pretexto de desenvolvimento e progresso. A maior marca da fronteira é o processo facilitado de acumulação, as cidades da Amazônia apresentam muito poten-cial de desenvolvimento de uma nova alternativa (PONTES, 2015) por ainda se encontrarem em processo de expansão, e de melhor articular o bi-nômio cidade-natureza e atender necessidades co-letivas e de preservação da natureza. Entre as décadas de 1960 e 1970, na mes-ma época que Marabá estava recebendo os gran-des investimentos federais que buscava integrar a região amazônica ao resto do país, os países cen-trais viviam outro momento, de críticas diversas inclusive ao espaço urbano. Foi nesta época que as cidades do mundo todo passaram a colecionar experiências sobre a qualidade do espaço urbano, e o campo disciplinar do desenho urbano foi estru-turado. Esse fato revela um descompasso entre os discursos e atividades dos profissionais urbanistas baseados nos países do centro e nos países periféri-cos, que ainda nesta época implantavam no Brasil planos prontos, alheios à realidade do local de im-plantação, modelando o espaço urbano de maneira imprópria e incompleta. É também nesse contexto que a arquitetura foi buscar em outras disciplinas ferramentas para compreender espaços atrativos, vivos e o que faz a qualidade de certos espaços ur-banos, de certas cidades, em detrimento de outras. Recorrem à psicologia, a semiótica, ao compor-tamentalismo para entender como se dá a vida na cidade, antes apenas compartimentalizada e sim-plificada em funções. As abordagens que se des-tacaram no campo disciplinar do desenho urbano foram os campos da morfologia urbana, da análise visual, da percepção do meio ambiente e do com-portamento ambiental (DEL RIO, 1990). O campo da morfologia urbana tem como foco principal o tecido urbano e seus elementos construídos forma-dores, gerados através de transformações, inter-re-lações e de processos sociais. Nos anos 1970/80 Rodrigo De Arce e Anne Moudon exploraram a apropriação das formas urbanas pela população e as suas adaptações realizadas ao longo do tempo. O campo da análise visual procura relacio-nar a percepção visual do ambiente enquanto ex-periência estética e emocional, através da experi-ência da paisagem urbana; leva em consideração o ponto de vista do usuário, baseada na sua percep-ção do meio ambiente, que levaram Kevin Lynch (1999) a destacar quatro qualidades urbanas como referências principais, extremamente ligadas à

Figura 4 - Involução do verde no preímetro urbano do municí-pio de Marabá.

Fonte: Imagens no Landsat, 1990-2014; Google Earth, 2014. Elaboração: Luna Bibas.

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categoria de Análise Visual: Legibilidade, Identi-dade, Estrutura e Significado e Imageabilidade. A análise visual foi uma das primeiras ferramentas utilizada por Gordon Cullen (1978) para introdu-zir o conceito de paisagem urbana, que possibili-ta análises sequenciais e dinâmicas da paisagem a partir de premissas estéticas - quando elementos urbanos provocam impactos de ordem emocional. A articulação entre escalas, temas e riqueza visual, são elementos defendidos pelo autor. Por último o campo do comportamento ambiental parte do princípio de que algumas ações são influenciadas pelo ambiente físico espacial, a partir do que diz-se que o ambiente sugere, facilita ou inibe comporta-mentos. Esses atributos e qualidades espaciais do ambiente urbano possibilitam, então, uma caracte-rização espacial que promove a menor escala, com ênfase no pedestre, no ciclista e usuários de trans-porte público, favorecendo a diversidade urbana e vigilância coletiva (GEHL, 2009; JACOBS, 2011). A introdução da dimensão ambiental nas políticas urbanas remonta também à década de 1960 quando se estabeleceu a discussão sobre me-tas políticas relacionadas à preservação do meio ambiente e a erradicação da pobreza, mas foi ape-nas na década de 1980 que a definição de desen-volvimento sustentável foi difundida pautando a preocupação ambiental nas agendas políticas mundiais. Porém, tal discussão só foi transposta para o urbano 10 anos depois, na década de 1990 (HARDOY et al., 2001). As propostas do início do século XX deveriam servir para a ordenação do território através da investigação de dimensões da cidade: biológicas, físicas e socioeconômicas (GE-DDES, 1915), e serviram de legado para aborda-gens de planejamento urbano (da paisagem) que se mostraram eficazes para a dissolução do binômio cidade-natureza através do tratamento da paisagem urbana a partir da decomposição nos espaços na-turais em camadas, e a superposição destes para uma melhor estratégia de implantação de espaços urbanos respeitando o espaço natural, abrindo ca-minho para novas soluções, revelando a criação de ambientes urbanos integrados com a natureza (McHARG, 1971). A sistematização de experiências em ci-dades ao longo da história, revela o quanto a des-consideração de ciclos naturais podem manifestar consequências como a poluição do ar, do solo e das águas, aceleração de processos geológicos, doenças, surgimento de pragas urbanas e altos custos de manutenção e de reparos à eventos ex-tremos, cheias, desabamentos, etc., prejudicando espaços públicos valiosos para a vitalidade urbana.

No entanto, há as um amplo leque de exemplos e metodologias bem-sucedidas que apoiam a pro-dução e a gestão do espaço urbano articulado ao seu ecossistema, reduzindo custos de manutenção, combatendo incômodos e ofercendo maior quali-dade de vida na cidade (SPIRN, 1995). Mais re-centemente, aliadas às politicas de planejmanto ur-bano e ambiental pensadas para a escala local surge da evolução do New Urbanism os SmartCodes que têm o objetivo de inserir qualidade ambiental em ambientes urbanos, através de estratégias de gestão aliadas ao desenho urbano que valorizem o pedes-tre e a escala humana (dentro do contexto norte-a-mericano, onde sua malha urbana foi pensada para automóveis). Estas estratégias partem de um longo diagnóstico que revelam uma análise concentra-da nas particularidades das regiões, das cidades e bairros (MARSHALL, 2009). A tabela 1 oferece uma síntese dos auto-res estudados, clássicos da literatura de desenho urbano, e dos conceitos que ofereceram para a formulação de diretrizes de planejamento urbano e ambiental (paisagístico) a serem perseguidos de forma sistêmica, como reação à trajetória da ci-dade industrial moderna. Esta última tinha pouca preocupação com a escala humana e do pedestre, e forte adesão à lógica da indústria, à escala automo-bilística e mobilização logística. Essa síntese tem como objetivo e exposição do debate em torno de espaços públicos, pensados para pessoas, respeitando seus modo de vida e ne-cessidades. A partir desse quadro, optou-se pela seleção dos seguintes parâmetros de qualidade, a serem utilizados na análise de espaços públicos da cidade de Marabá: diversidade, atratividade, conforto ambiental, acesso igualitário, seguran-ça e identidade.

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Tabela 1 - Resumo dos autores clássico no campo do desenho urbano e paisagem urbana e suas contribuições para o presente trabalho.

Fonte: Alexander (2013); Lynch (1999); Cullen (1978); Ghel (2009); Bentley (1999); McHarg (1971). Elaboração: Luna Bibas.

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Análise dos Espaços Públicos em Marabá

Com o intuito de caracterizar o espaço público da fronteira, identificando suas tipologias e potenciais foram registradas as seguintes informações coleta-das nos três núcleos de Marabá, selecionados para pesquisa. Marabá Pioneira: ligado com a história de Ma-rabá e com a origem ribeirinha da cidade, contou com ocupação espontânea, vernacular onde pre-valece uma escala espacial humanizada. A mor-fologia conta com ruas estreitas, casas pequenas em madeira ou alvenaria que, na área popular, são relacionadas com atividades ribeirinhas, e nas áre-as de maior movimento há um ambiente de orla, com uma elitização dos serviços (restaurantes) e comércio que tendem a repelir os consumidores de mercadorias mais baratas, atraídos por vendedores ambulantes que disputam as calçadas (ver figura 5).

Este núcleo apresenta áreas livres, princi-palmente no interior das quadras, há convívio so-cial e vitalidade nos espaços públicos observados. Sua orla é um dos espaços mais importantes para o núcleo e para cidade, conta com calçada larga, ban-cos e guarda-sol, que não funcionam muito bem;

A praça Duque de Caxias promove um es-paço mais vivo durante o dia do que durante a noite em função do movimento gerado pelo uso comer-cial durante horário comercial. O fluxo de carros é intenso em dois lados da praça e em seu interior a praça oferece espaço de alimentação, lojinha de produtos regionais e playground para crianças (de maior utilização pela parte da noite). Dentre as ativi-dades observadas neste estapaço estão: caminhada,

o calor é intenso e a arborização escassa; há inten-sa atividade informal ao cair da noite. A rua divide atividades informais, na calçada da orla, e as ati-vidades formais do outro lado da rua. As ativida-des ao longo da orla incluem atividades esportivas, passeios, ciclismo, comércio, etc (ver tabela 2). Ainda que não realize todo o seu potencial a orla é muito procurada pela população e seus turistas pois este espaço possui uma centralidade que está intimamente ligada à identidade deste núcleo, ao surgimento da cidade e à cultura amazônica e sua rede urbana ribeirinha (ver figura 6). Os pedestres ficam bem separados do fluxo de carro, pois a sua calçada é larga, porém os engarrafamentos são fre-quentes nesta área por conta da atratividade paisa-gística e das diferentes atividades que ocorrem ao longo da orla (ver figura 7).

Figura 5 - O núcleo da Marabá Pioneira com a localização dos espaços observados e seus usos.

Fonte: Base Cartográfica do IBGE, 2010. Elaboração: Luna Bibas.

Figura 6 - Desenho da Orla e Praça Duque de Caxias e os usos em seu entorno com respectivas imagens.

Fonte: Base Cartográfica do IBGE, 2010; Acervo fotográfico pessoal. Elaboração: Luna Bibas.

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encontro, recreação de crianças, lanchonetes e etc (ver tabela 2). A praça tem localização estratégi-ca para reduzir a velocidade dos veículos favore-ce a apropriação do espaço criado (oposto à rua principal) como continuação da praça, até mesmo pequenos bancos e barracas de comida foram po-sicionados contando com o o movimento lento de carros. A praça também gera mais segurança para os transeuntes e distribui os veículos que passam por ela (ver figura 7).

Três ruas do núcleo foram observadas, cada uma com características diferentes na predo-minância de usos, porém com uma característica em comum, todas as três absorvem bem o uso da bicicleta e do pedestre (ver figura 8). Este núcleo é o que apresenta os menores números na contagem de carros, onde as pessoas

deslocam-se mais a pé ou de bicicleta (o núcleo concentra o maior número na contagem de bicicle-tas nos espaços públicos observados) graças ao re-levo e a escala humana, que favorece o movimento

Figura 8 - Ruas de diferentes portes e seus usos.

Figura 7 - Croquis dos espaços observados com análise espa-cial e do desenho.

Fonte: Elaboração pela autora.

Tabela 2 - Os prós e contras de cada espaço observado e as atividades que acontecem ao longo da orla.

Fonte: Elaboração pela autora.

PRÓS (ORLA) CONTRAS (ORLA) ATIVIDADES (ORLA)

- Serviços disponíveis como restaurantes e bares desde o horário do almoço.- Durante a noite é agradável passear e ver a orla (espaço de en-contro).- Atividades Sociais e não obrigatórias dão--se neste espaço.- Diversidade no con-sumo (formal/infor-mal)

- Mobiliários inade-quado, cucateado ou inexistente (materiais de alta condutibilidade térmica)- Falta de arborização e sombreamento fa-zendo com que a orla funcione exclusiva-mente para atividades obrigatórias durante o dia. - Falta de atividades mais atrativas.

- Pesca;

- Recreação;

- Água para: banho lavar roupa lavar louça

- Pôr-do-sol;

- Caminhadas;

- Patins e skate;

- Bicicleta (recreação e meio de transporte)

- Rua: locomoção de automóveis (em parte da orla);

- Calçada: espaço de encontro, atividades esportivas, comércio informal, espaço de contemplação da natu-reza (ao longo de toda a orla)

PRÓS (PRAÇA) CONTRAS (PRAÇA)

- Grande quantidade de serviços ao redor da praça (comércios, bancos, restaurantes).- Fluxo intenso de pessoas que diminui durante a noite. - Espaço de atividades obrigatórias, não obri-gatórias e sociais. - Possui espaço para crianças. - Há praça de alimen-tação.- É bem arborizada proporcionando con-forto nas horas de sol intenso.

- Muitas atividades comerciais fecham as portas cedo, influen-ciando na diminuição do movimento. - Falta iluminação.- O espaço da praça tem potencial para ser mais diversificado.- Há uma loja de pro-dutos regionais mas esteve fechada em to-das as visitas.

Rua Barão: predominância de uso residencial

Rua 7 de Junho: predominância de uso misturado

Rua Antônio Maia: predominância de uso comercial

Fonte: Base Cartográfica do IBGE, 2010; Acervo fotográfico pessoal. Elaboração: Luna Bibas.

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de pedestres e ciclistas, quando o comparado aos outros núcleos (ver tabela 5).

Cidade Nova: esse núcleo tem forte conexão com o fluxo migratório desencadeado com a implanta-ção do projeto da Nova Marabá, do aeroporto e da vila para abrigar os funcionários do INCRA (Vila Tranamazônica). Seu desenho possui um traçado curioso que difere dos dois outros núcleos analisa-dos, é formado em sua maioria pela aglutinação de loteamentos clandestinos e ocupações que se apro-ximam cada vez mais do Rio Itacaiunas, demons-trando a força e simplicidade com que este tipo de traçado impõe-se na vida cotidiana da população do núcleo (ver figura 9).

Os espaços públicos analisados nes-te núcleo são muito diversos, a praça da Bíblia possui maior movimentação durante o dia liga-das às atividades existentes em seu entorno, é local de passagem de transeuntes apesar de ser um espaço primeiramente destinado para rece-ber pessoas e de descanso de pedestres, preci-sa de atrativos que convidem as pessoas a ficar; é um espaço muito barulhento devido à rodovia adjacente (ver figura 10). No entanto este espaço

Figura 9 - O núcleo da Cidade Nova com a localização dos espaços observados e seus usos.

Fonte: Base Cartográfica do IBGE, 2010. Elaboração: Luna Bibas.

engana em um primeiro momento, pois segundo as contagens de fluxo de pessoas e veículos esta pra-ça atrai poucas pessoas. Apesar de confortável ela está posicionada ao longo da rodovia Transama-zônica e desempenha um papel importante que é de proteger o outro lado da via contra o ruído, a poluição do ar e o fluxo intenso e rápido dos carros nesta rodovia, ele também promove a redução da velocidade dos carros que a partir dela entram em outra escala da cidade, em ritmo mais lento, menos frenético (ver figura 11). Já a praça São Francisco é a que atrai maior número de pessoas de Marabá (ver tabela 5), seu entorno é repleto de atividades comerciais como restaurantes, lanchonetes e supermercados. Dentro da praça há dois espaços para alimentação, além de diversas barraquinhas de comida playground des-tinado às crianças, espaço para esportes radicais, apresentação musical, além de outras atividades como caminhadas esportivas (ver figura 10 e tabe-la 3). Ela ainda funciona como redutor de fluxos, como atrai um número de pessoas muito grande e para diferentes atividades são frequentes os en-garrafamentos formados em suas laterais, permi-tindo que as pessoas possam chegar a seu destino em segurança. A rua oposta à rua de maior fluxo Figura 10 - Desenho da Praça da Bíblia e da Praça São Fran-

cisco e os usos em seu entorno com respectivas imagens.

Fonte: Base Cartográfica do IBGE, 2010; Acervo fotográfico pessoal. Elaboração: Luna Bibas.

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de veículos (Rua Nagib Mutran) tornou-se um es-paço prioritário para os pedestres, nessa rua cir-culam apenasos automóveis dos moradores deste quarteirão (ver figura 11 e tabela 3).

Este núcleo concentra os maiores números de carros nas contagens (ver tabela 5) feitas ao re-dor desses espaços públicos, apesar de concentrar maior densidade populacional, o núcleo não pos-sui muitas áreas de espaços públicos, o que acaba por lotar espaços disponíveis como a Praça São Francisco, que recebe muitas pessoas, tanto no pe-ríodo da manhã quanto no período da noite. Além de possuir poucos espaços públicos e de descanso do pedestre, o núcleo conta com arborização es-cassa, o que contribui para o desconforto térmico nas caminhadas pelas ruas e calçadas, o que agra-vado pelo tráfegodo transporte público por poucas

A três ruas observadas deste núcleo tem portes pa-recidos, mesmo a rua com predominância residen-cial e de menor escala, é larga e propícia à tráfego de veículos motorizados (ver figura 12).

Figura 11 - Croquis dos espaços observados com análise espa-cial e do desenho.

Fonte: Elaboração pela autora.

ruas, favorendo o uso do automóvel particular e contribui para uma menor interação social e possi-bilidades de encontro (GHEL, 2009).

Tabela 3 - Os prós e contras de cada espaço observado.

Fonte: Elaboração pela autora.

PRÓS (PÇA. BÍBLIA) CONTRAS (PÇA. BÍBLIA)

- Espaço de descanso, possível de caminhar ao longo de uma rodovia de grande porte (Rodovia Transa-mazônica);- Serve como espaço de separa-ção (humanizado) entre a rodovia Transamazônica e da rua de menor escala mais aproximada aos comér-cios e serviços próximos;- É uma praça que atende também às crianças e supporta certo núme-ro de atividades como caminhada esportiva, espaço de encontr, ban-cos para sentar, playground;- Espaço bem arborizado, o que minimiza o calor constante de Ma-rabá;

- O nível de poluição do ar e sonora é alto, devido o intenso número da circulação de automóveis (trans-porte público e de particulares);- A praça fica soturna durante a noite por conta dos estabelecimen-tos que fecham em horário comer-cial e não há atratividade no entor-no, portanto, não há uma vigilância coletiva (JACOBS, 2011) tornando a praça perigosa;- Há pouca iluminação na praça e nota-se que está mal cuidada, falta manutenção e percebe-se que os habitantes também não têm cuida-do com esse espaço.

PRÓS (PÇA. S. FRANC.) CONTRAS (PÇA. S. FRANC.)

- Está sempre movimentada;- Pela manhã: por causa de estabe-lecimentos comerciais que estão no entorno.-Pela noite: por conta dos estabele-cimentos que são relacionados ao lazer (bares, restaurantes...)- Há vigilância coletiva;- Atividades dentro da praça: play-fround destinado as crianças, praça de alimentação, comércio informal, espaço de encontro; fora da praça (em seu entorno): bares, restauran-tes,, supermercado...)

- Dentro da praça há uma área pou-co aborizada e sem proteções con-tra o sol, dessa forma, nas horas de calor mais intenso essa área somen-te serve de passagem.- O espaço destinao aos esportes ra-dicais é pequeno e mal cuidado, as pessoas acabam dando outros usos ao espaço.- O fluxo de carros ao redor da pra-ça é intenso e há congestionamento na rua principal.- Falta manutenção em varios ele-mentos e no mobiliário.

Figura 12 - Ruas de diferentes portes e seus usos.

Rua Manaus: predominância de uso residencial

Fonte: Base Cartográfica do IBGE, 2010; Acervo fotográfico pessoal. Elaboração: Luna Bibas.

Rua Tocantins: predominância de uso misturado

Rua Nagib Mutran: predominância de uso comercial

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Nova Marabá: núcleo planejado revela o caráter colonizador dos projetos na Amazônia dos anos 1970, seu desenho exótico assume formas de folha da castanheira (ver figura 13) e justificava a neces-sidade de criação de uma base urbana de apoio à atividade industrial, pensado para o uso do auto-móvel, sua escala desvaloriza o pedestre e ativida-des que estimulem encontros. Os espaços públicos deste núcleo são de baixa qualidade, a praça da prefeitura não atrai intensa movimentação, comparada com as praças vistas anteriormente porém oferece um conforto térmico que mantém pessoas aproveitando a praça. Não há pontos comerciais exceto por um supermer-cado e as atividades registradas foram: caminhada esportiva, passeios, grupos de dança e prática de esporte (futebol), mesmo não havendo quadra.

A Praça da Criança não é utilizada duran-te o dia, no período da noite transforma-se em local de intenso fluxo de pessoas. Seu entorno limita-se à largas vias (lógica automobilística), e conta o apoio de uma lanchonete nos arredores (ver figura 14). Devido à concepcão de caráter moderno, as vias de ligação entre as folhas são largas, separadas por grandes canteiros, com cal-çadas largas; parece deserta, pela diluição dos

pedestres no amplo espaço que assume o carro particular como principal meio de transporte. Por conta da carência de espaços destinados à popula-ção e à grande quantidade de pessoas que não pos-suem carros, os canteiros deste núcleo foram mo-dificados para receber quadras, praças, espaços de convivência e o mais inusitado: estacionamentos, ampliando as possibilidades de expulsão do pedes-tre destas áreas do núcleo. O local é inapropriado para implantação de um praça, pela intensidade do tráfego que a contorna, apesar da disponibilidade de bons espaços para implantação de espaços pú-blicos neste núcleo, percebe-se que há uma clara divisão entre o espaço do carro e o espaço do pe-destre (ver figura 15 e tabela 4). A Praça da Prefeitura também tem sua in-serção da malha de modo a favorecer o fluxo dos carros, mostrou-se como espaço de curta perma-nência, salvo por alguns grupos de jovens. Esta praça conta com diminuição do fluxo tanto de car-ros, quanto de pessoas na medida que avança em oposição a rua mais movimentada, desse modo, os espaços com menor fluxo tornam-se espaços sem vida, sem movimento, e perigosos pois não há vi-gilância coletiva (ver figuras 14 e 15 e tabela 4).

Figura 13 - O núcleo da Nova Marabá com a localização dos espaços observados e seus usos.

Fonte: Base Cartográfica do IBGE, 2010. Elaboração: Luna Bibas.

Figura 14 - Desenho da Praça da Prefeitura e da Praça da Criança e os usos em seu entorno com respectivas imagens.

Fonte: Base Cartográfica do IBGE, 2010; Acervo fotográfico pessoal. Elaboração: Luna Bibas.

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Na síntese das observações é claro o pre-domínio da utilização do automóvel neste núcleo, além da dificuldade de compreensão do arranjo es-pacial da quadra que dificulta a apreensão e utiliza-ção do espaço. Comparado aos outros núcleos é o mais difícil de se orientar por conta da monotonia da paisagem e carência de marcos visuais (CUL-LEN, 1978). Observa-se que não há uma defini-ção de quarteirões, o lotes são grandes e a escala atrapalha na caminhada de pedestres e dos ciclistas (ver figura 16). A sobreposição das contagens às entre-vistas realizadas e às percepções e observações de campo permitiram a classificação desses es-paços públicos no quadro 1 através do uso em

cores correspondentes aos graus de urbanidade (decomposta nas categorias: diversidade, atrati-vidade, acesso, segurança, identidade e conforto) de cada um dos núcleos. No quadro 1 montou-se a comparação entre cada uma dessas categorias com o objetivo de analisar o comportamento de cada espaço público dentro de seu núcleo em relação às categorias citadas, a plicadas à eles. O núcleo pioneiro revelou-se como o de me-lhor dempenho, seguido pela Cidade Nova e Nova Marabá, seus espaços carregam características

Figura 15 - Croquis dos espaços observados com análise espa-cial e do desenho.

Fonte: Elaboração pela autora.

PRÓS (PÇA. PREFEITURA) CONTRAS (PÇA. PREFEITURA)

- Praça preparada para que seus usuários possam preparar exercí-cios físicos;- Pussui boxes de serviços de ali-mentação;- É bastante arborizada o que per-mite conforto térmico e seu dese-nho curioso possibilita espaços de privacidade e de coletividade;

- Os aparelhos para exercícios en-contram-se quebrados, sem manu-tenção; - Apenas um box de alimentação estava aberto durente as visitas de observação do espaço;- Apesar da arborização a praça precisa de mais atratividade, mui-tos pedaços mostram a falta de cui-dado do poder público;- Localização propícia à pessoas que possuem carros em detrimento dos pedestres;

PRÓS (PÇA. CRIANÇA) CONTRAS (PÇA. CRIANÇA)

- Durante a noite, esta praça fica bem lotada e animada;- Há muitas crianças, mas também grupos de adultos fazendo exercící-os físicos e pessoas aproveitando o comércio informal que se forma ao redor da praça por conta do movi-mento;

- Fica deserta durante o dia por causa do calor intenso, não há pro-teções contra o sol e a arborização da praça limita-se a arbustos e pal-meiras;- Não acompanha a escala do pe-destre, o acesso próprio da praça é feito por carro;- O entorno imediato com grandes terrenos que dificultam o acesso di-reto da população.

Tabela 4 - Os prós e contras de cada espaço observado.

Fonte: Elaboração pela autora.

Figura 16 - Ruas de diferentes portes e seus usos.

Rua da Folha 28 quadra 29: predominância de uso misturado

Fonte: Base Cartográfica do IBGE, 2010; Acervo fotográfico pessoal. Elaboração: Luna Bibas.

Rua da Folha 32: predominância de uso residencial

Rua VP-8: predominância de uso comercial

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que lhe conferem diversidade, atratividade, aces-so igualitário, segurança, identidade e conforto (exceto pelo atributo conforto no espaço público da orla). Portanto o núcleo pioneiro possui a me-lhor qualidade urbana de acordo com a literatura pesquisada ligada às categorias selecionadas que caracterizam qualidade urbana, revelando a articu-lação do espaço tradicional com o bioma e a so-ciabilidade de seus habitantes (que se apropriam, utilizam e modificam o espaço) revelando que o espaço tradicional é articulado com o bioma e faci-lita a apropriação dos habitantes que dependem de atividades tradicionais ligadas ao rio. Já os núcleos da Cidade Nova e Nova Marabá

possuem estas características em níveis médios ou baixos de acordo com as contagens cruzadas com seus desenhos e as categorias relacionadas, estes núcleos estão relacionados com a aspiração do for-talecimento econômico, trajetória de destruição do bioma e da memória tradicional. Essa última traje-tória esteve articulada à floresta e sua preservação por séculos. A nova lógica formata a substituição do modo de vida tradicional por fórmulas e estraté-gias que transformam a cidade em ponto de apoio das atividades de grande porte ligadas à acumu-lação de capital, e a proposta de desenvolvimen-to econômico que valoriza o uso da terra pelo seu valor de troca, e não mais de uso como a anterior,

Tabela 5 - Tabela com a síntese das contagens em cada espaço público observado organizadas a partir dos núcleos e dos turnos.

Fonte: Observações feitas no local.

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Quadro 1 - Comparação entre os três núcleos das categorias analisadas das qualidades de seus espaços públicos.

Fonte: Observações feitas no local.

e alimentam os processos de valorização imobili-ária. O quadro 1 mostra análise produzida nos es-paços pesquisado à luz da literatura sobre os países do centro, abrangendo aspectos urbanísticos e am-bientais. Na presença do estudo e das observações sobre espaços públicos, as experiências de países de centro e a sua produção acadêmica a respeito do assunto e a questão ambiental combinados, permi-tem a criação de um sistema de espaços públicos que podem beneficiar diversas escalas dentro do

perímetro urbano devido ao potencial que a cidade ainda guarda por conta do processo que a região experimenta. Após esse percurso metodológico, a pes-quisa produziu o mapa de espaços propostos para a cidade (ver figura 17), para dar visibilidade aos tipos de espaços livres de Marabá: espaços pon-tuais, já utilizadas na cidade, mas que são insufi-cientes para a demanda, os espaços que são po-tenciais, marcados em vermelho, que podem ser

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trabalhados para criação de praças, espaços de des-canso, amortecedores de trânsito ou simplesmente em barreiras de tráfego. Esses espaços podem con-tribuir para a criação de novas centralidades, dese-jáveis para o fortalecimento de qualidades urbanís-ticas, tais como vitalidade, segurança, identidade e etc, tornando o espaço o território da cidade mais seguro e diverso. Os seguimentos em linha cheia representam a possibilidade de espaços lineares em sua maioria relacionados à espaços contínuos de verde, já exis-tente ou verdes com córregos, braços de rios e canais, espaços como parques lineares, vias ecológicas ou diferentes espaços sobrepostos em espaços contí-nuos podem contribuir para o microclima local, co-brem o território com espaços públicos necessários à população, carente de espaços públicos combina-

dos com a natureza própria do bioma amazônico e confere identidade para a cidade de Marabá, ca-racterística importante segundo Alexander (2013) para a população criar vinculo e desenvolver a res-ponsabilidade pelo cuidado com o lugar em que vive. Outro tipo de espaço detectado com gran-de potencial são os espaços verdes contínuos, que correspondem aos varjões entre os núcleos e as beiras de rio são de extrema importância para o meio ambiente e devem ser preservados, estes já estão sob a força das leis de preservação no plano diretor, porém essas leis não tem sido obedecidas tanto por falta de fiscalização quanto pela falta de uso dessas áreas permitindo que empresas privadas e ocupações informais se apropriarem deles, e os explorarem/utilizem de forma indevida.

Formas Descrição Tipologias Funções Perfis

Pontual

-Praças-Largos-Pátios-Jardins-Orlas

-Encontro-Respiro de áreas densificadas-Amortecimento de tráfego

Estas áreas possuem dimensões menores, que na escala local vão auxiliar o pedestre ao longo do tecido urbano, promover o encontro da população no nível de vizinhança e/ou bairro, amortecer o trânsito inten-so (estabelecer velocidade de vias) e criar espaços de descanso no caminho de pedestres.

Figura 17 - Mapa com os espaços propostos para a cidade de Marabá e legenda elaborada com os perfis de espaços públicos propos-tos para os epaços identificados.

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Considerações Finais Enquanto as metrópoles brasileiras, conso-lidadas há mais tempo, colhem segregação e degra-dação socioespacial como fruto de uma urbaniza-ção guiada pela racionalidade cartesiana, industrial e homogeneizadora; a cidade da fronteira da Ama-zônia ainda não absorveu completamente tal mo-delo, havendo ainda possibilidade dos encontros de racionalidades, visões de mundo e modos de usar e produzir o espaço urbano conforme obser-vado nas avaliações dos espaços públicos da Ma-rabá Pioneira. Embora, nessa condição de periferia da periferia, a destruição e as perdas aconteçam de forma mais voraz e com menos visibilidade, ainda resiste o potencial de traçar outras trajetórias que aprendam dos equívocos de outras cidades, do ar-cabouço da ciência e que tenha alguma sensibili-dade às demandas reais das pessoas que habitam a cidade, e que para além do moderno simbólico e das promessas de crescimento econômico, produza melhor qualidade de vida e valores de uso, con-forme observado na diversidade e exemplificações nas áreas destacadas da figura 17. Os países centrais têm encontrado na re-construção ecológica oportunidade econômica para superar o fim de outros ciclos econômicos. A reco-nexão tardia entre o debate ambiental e o urbano, fez com as intervenções em cidades consolidadas fossem mais custosas e complexas. Como o territó-rio de Marabá não está plenamente estruturado, esse tipo de estratégias e os caminhos para afrouxar a ra-cionalidade orgânica poderiam ser simplificados e menos onerosos. Além disso, o fato de que a racio-nalidade industrial moderna ainda não se sobrepôs

Fonte: Base Cartográfica do IBGE, 2010. Elaboração: Luna Bibas.

Pontual -Parques -Ambiental Área própícia aos parques e bosques, monitoradas pelo poder público, tem função majoritariamente ambiental como o auxilio no microclima, preservação, composição de um sistema de áreas verdes e azuis,-no entanto contém espaços de encontro sem ser seu objetivo principal.

Linear-Parques Lineares-Orlas-Conjunto de Espaços (implan-tação linear)

-Mista Estes espaços podem mesclar as funções ambientais e de encontro, já que se inserem ao longo de áreas den-sas e não densas. Podem ser parques urbanos e conter diversos tipos de espaços coexistindo e organizados linearmente como, praça, jardins, ruas contiguas, ciclovias, canais, canteiros, vias ecológicas e etc.

Interstício -Áreas de Preser-vação

-Ambiental Tais áreas são exclusivamente de preservação am-biental, têm dimensões municipais e podem acolher diretrizes de códigos florestais ou ainda “códigos ambientais para zonas urbanas”, podem alinhar-se e receber parques lineares e parques ambientais de forma pontualmente com o objetivo de auxiliar na mantenção do caráter de preservação dessas áreas.

completamente às racionalidades associadas à flo-resta e ao rural, e de que a transformação do espa-ço urbano sob preceitos modernizantes seja rela-tivamente recente na cidade de Marabá, também podem contribuir para a inovação em soluções de urbanização que não corroborem com a dicotomia cidade-natureza. Genericamente, não há ênfase no desem-penho dos espaços públicos na prática de planeja-mento urbano brasileira, espaços de convivência e encontros normalmente são vistos pela perspectiva do paisagismo apenas, em Marabá não é diferen-te, onde ocorre uma carência tanto de quantidade quanto de qualidade de espaços públicos, em seu desenho. Esta insuficiência está associada à falta de repertório tanto dos profissionais que propõem os projetos quanto da população, na demanda por esses espaços. Há, além de uma defasagem histó-rica entre a produção de conhecimento nos países ricos e a produção do espaço em cidades como Marabá, a dificuldade dos programas oficiais em lidar com o bioma amazônico (de fácil domínio da população local com seus saberes tradicionais) como ficou claro tanto na proposta modernista para a Nova Marabá, como nas ferramentas insufi-cientes de planos federais e mais recentemente, na execução de programa como o Minha Casa Minha Vida, como demonstrado em Lima et al. (2015). A condição híbrida da cidade de Marabá deu lugar a um tecido fragmentado, mas entrecortado por espaços livres, condição invejável a qualquer ci-dade no mundo comprometida com a qualidade ur-bana, que apresenta não apenas potencial para cum-prir demandas urbanas e ambientais como potencial

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para resgatar e incentivar a preservação de conhe-cimentos relativos à proximidade homem-bioma que desaparecem gradativamentejunto ao poten-cial de reestabelecimento de áreas degradadas e do aparecimento de tecnologias que respeitam a biodiversidade amazônica. A transformação do potencial em perdas se esconde por trás de uma visão deturpada de progresso, nesse sentido, torna visível os processos em curso e a homogeneização que decorre na baixa qualidade urbana é uma tare-fa para os estudos urbanos que poderiam auxiliar a população a (re)conhecer seu próprio potencial, para assim reivindicar espaços melhores. A falta de aderência das propostas elabo-radas por profissionais na cidade, ao contexto e as demandas reais, observadas principalmente no nú-cleo Nova Marabá, está relacionada a dificuldade destes em enxergar e lidar com a diversidade ou de vislumbrar utopias alternativas à prática hegemô-nica proveniente das grandes metrópoles. Marabá parece caminhar na contramão da busca pela qua-lidade de vida, onde as pressões econômicas se so-brepõem à vida cotidiana e os valores de troca aos valores uso. A evolução da tecnologia, a facilidade de acesso a informações e mapas, fazem com que o registro dos processos típicos da fronteira contem-porânea, e seu avanço sobre “terras livres”, seja di-ferente das fronteiras de outrora, ainda que existam limitações. É desafio do presente evitar equívocos revisitados e de difícil resolução, e buscar cami-nhos que conduzam ao projeto da cidade gregária em suas dimensões culturais, sociais e ambientais. Há muito aprendizado possível no estu-do das formações vernáculas, informais que além de flexibilidade, baixos custos e cumprimento de demandas reais, souberam produzir espaços com maiores graus de urbanidade que aqueles planeja-dos pelo mercado ou pelo poder público. Não se trata de negar a produção do mercado imobiliário nem as estratégias de inspiração modernista, mas aprender dos equívocos e acertos de cada um deles, posto que a qualidade espacial não está tão ligada a quem a produz, mas à capacidade do arranjo em cumprir as demandas da população, de quem re-produz a vida naquele espaço. A espacialização das particularidades do encontro de racionalidades na cidade de Marabá se reflete nos espaços públicos também através de nuances morfológicas, topológicas e nas formas de apropriação pela população que revelam uma forte relação entre cultura e natureza que não é levada em conta pela gestão pública na produção de espa-ços públicos ou requalificação urbana. Na busca por descongelar aspectos da

relação orgânica entre cidade e natureza, é reunido um importante arcabouço de experiências e mé-todos capazes de transcender a visão dicotômica da cidade industrial e conciliar funções naturais às necessidades humanas. Esse acúmulo de conheci-mento pode ser bastante útil para orientar a busca da qualidade urbano-ambiental em todo o mundo. Observa-se que a cidade pioneira, que foi construída de forma espontânea, contém espaços que ou estão intimamente ligados ou à identida-de local, a natureza e os saberes tradicionais, ou são espaços seguros para que as pessoas possam simplesmente estar ou desenvolver algum tipo de atividade, seja ela espontânea ou obrigatória. Nas áreas planejadas da cidade, observa-se uma negação da identidade local e a imposição da cul-tura do carro, além disso esta cidade recebe poucos investimentos no transporte público, o que dificul-ta mais ainda a circulação de pessoas nesses espa-ços voltados quase que exclusivamente para car-ros. Nesse caso, os espaços públicos desestimulam a permanência de pessoas nos espaços feitos para elas, de acordo com as contagens realizadas em cada núcleo e com os croquis das figuras 7, 11 e 15. É evidente que o número de carros é inversamente proporcional ao número de pessoas e transportes alternativos como a bicicleta, muito presente no nú-cleo pioneiro e pouco presente no núcleo planejado. É interessante observar também que espaços que não atraem pessoas podem, por vezes, se constituir em elementos úteis para outras funções tanto no desenho, como também na atenuação dos efeitos negativos do meio ambiente. Infelizmente, devido a sobreposição das ló-gicas e aos processos que vem ocorrendo na Ama-zônia esqueceu-se da importância do repertório es-pacial gerador do espaço público, do encontro, das demandas das pessoas, em detrimento à lógica de circulação da mercadoria e dos recursos naturais, alvo e sustento dessas cidades. Ocorreu a imposi-ção de uma cultura da técnica que nem sempre é tão bem sucedida quanto a produção espontânea, uma vez que a utilização do espaço passou a ser algo secundário. Reservou-se à população espaços residuais com inserção inadequada e desenhos já obsoletos, inadequados para uma cidade do porte de Marabá, revelando a falta de cuidado do po-der público para com a sua população. Esta constatação foi evidenciada pelascon-tagens que demonstram que todos os espaços são utilizados, uns menos outros mais, testemunhando a importância desse tipo de espaço para a população Para além da falta de qualidade nos espaços da ci-dade, a falta de identidade destes locais prejudica a

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permanência da população, gera confusão no modo como veem a cidade e como se enraízam nela. Em Marabá, os rios internos ainda são tamponados, quando não são deixados abertos re-cebendo o esgoto, ainda cortam-se as árvores que “sujam” as ruas, nivelam-se terrenos que “atra-palham” a circulação, aterram as áreas alagadas e assim por diante, tudo em nome do progresso e segundo a lógica da fronteira em que atores econô-micos e políticos se consideram acima da legisla-ção ambiental. Este trabalho procurou demonstrar a possibilidade da construção de perfis espaciais que articulados à diretrizes de desenho e análise do local, potencializam a qualidade urbana aliada ao bioma amazônico e possibilitam a produção de um espaço-sistema e que conecta a população com o espaço público adequado que está aberto à diferen-tes projetos e propostas que aliem população-espa-ço-natureza, auxiliando a construção da identidade da cidade de fronteira amazônica.

Publicações Um artigo apresentado no evento APP Ur-bana/2014 e em seus anais:- PONTES, L.; CARDOSO, A.; GOMES, T.; BI-BAS, L. Descompasso entre linhas: das linhas do tempo às linhas que separam cidade e natureza. In: Anais do 3º Seminário Nacional Sobre o Tra-tamento de áreas de de APP em meio Urbano e Restruções Ambientais ao Parcelamento do Solo, 2014. Disponívem em: http://anpur.org.br/app--urbana-2014/anais/ARQUIVOS/GT1-105-121-20140531153723.pdfUm artigo apresentados no evento Portuguese Ne-twork Urban Morphology e publicado em sua re-vista:- PONTES, L.; BIBAS, L.; CARDOSO, A.; Espa-ços livres em Marabá-Pa: nuances da forma e da apropriação dos espaços públicos.Um resumo aceito e artigo enviado para o evento II Encontro Nacional de Tecnologia Urbana:- BIBAS, L.; CARDOSO, A. Uma reflexão sobre os espaços públicos na cidade de fronteira: o caso de Marabá. Resumo aceito no evento N- Aerus:- PONTES, L.; CARDOSO, A.; GOMES, L.; BI-BAS, L. Into the emergence in Amazonian cities.

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iTrabalho desenvolvido com o apoio do Programa PIBIC/UFPAiiGraduando do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Pará. Bolsista PIBIC/CNPq. Email: [email protected] do curso de Arquitetura e Urbanismo vin-culado ao Instituto de Tecnologia - ITEC, Univer-sidade Federal do Pará. E-mail: [email protected].

Parecer do Orientador

Considero que a bolsista cumpriu muito bem seu plano de trabalho, demonstrando discipli-na e criatividade para o desenvolvimento de pes-quisa científica, e grande habilidade para traduzir conteúdos em gráficos e representações espaciais. Ela trabalhou em uma frente de pesquisa que pro-cura aproximar conteúdos de desenho urbano, ambientais e sócio-econômicos, com a então mes-tranda Louise Pontes, com quem desenvolveu tra-balho de campo e produziu cartografias na cidade de Marabá, com apoio de um projeto de pesquisa multisiciplinar intitulado UrbisAmazônia e parti-cipação em outras pesquisas em desenvolvimento no Labcam. Nesse ambiente foi possível a asso-ciação de conteúdos da Arquitetura e Urbanismo com conteúdos de outras disciplinas (economia política, demografia, ecologia), para viabilizar a mediação de conteúdos da literatura internacional do campo disciplinar do desenho urbano, para o contexto amazônico. A produção acadêmica de Luna Bibas foi

construída a princípio associada ao trabalho de Louise e da orientadora, para os eventos realiza-dos em 2014, a saber: PONTES, L.; CARDOSO, A.; GOMES, T.; BIBAS, L. Descompasso entre linhas: das linhas do tempo às linhas que sepa-ram cidade e natureza. In: Anais do 3º Seminário Nacional Sobre o Tratamento de áreas de de APP em meio Urbano e Restruções Ambientais ao Par-celamento do Solo, 2014; PONTES, L.; BIBAS, L.; CARDOSO, A.; Espaços livres em Marabá-Pa: nuances da forma e da apropriação dos espaços pú-blicos; e mais independente, em conjunto com a orientadora em 2015: BIBAS, L.; CARDOSO, A. Uma reflexão sobre os espaços públicos na cida-de de fronteira: o caso de Marabá; PONTES, L.; CARDOSO, A.; GOMES, L.; BIBAS, L. Into the emergence in Amazonian cities.

Belém, 10 de Agosto de 2015

Ana Cláudia Cardoso

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