esfera pública em habermas

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  • 8/8/2019 Esfera Pblica em Habermas

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    Para o filsofo alemo Jrgen Habermas, a esfera pblica representa uma dimenso do social queatua como mediadora entre o Estado e a sociedade, na qual o pblico se organiza como portador daopinio pblica. Mas para que a opinio pblica seja formada, tem de existir liberdade deexpresso, de reunio e de associao. Por conseguinte, o acesso a tais direitos deve ser garantidoa todos os cidados.

    Segundo Habermas, os cidados se comportam como corpo pblico quando se comunicam demaneira irrestrita sobre assuntos de interesse geral. No se trata de se comportarem como homensde negcios ou profissionais em transaes privadas (interesses de classe), tampouco comomembros de uma ordem constitucional, sujeitos coao legal de uma burocracia de Estado (poderdo Estado). Numa sociedade de grandes dimenses, esse tipo de comunicao requer meiosespecficos para transmisso de informaes. Hoje, os jornais, revistas, rdios e TVs conformam oque chamamos de "mdia da esfera pblica".

    Origens histricas

    O surgimento da esfera pblica ocorreu no final do sculo 18, com a expanso da participaopoltica e a consolidao dos ideais de cidadania. o resultado da luta da burguesia contra oabsolutismo e, no caso da Inglaterra, da luta para o fortalecimento de uma monarquiaconstitucional, com o objetivo de transformar uma autoridade arbitrria em "autoridade racional",sujeita ao escrutnio dos cidados organizados em um corpo pblico, sob a lei.

    Esse surgimento estava identificado mais obviamente com a demanda por um governorepresentativo e uma constituio liberal - e amplas liberdades civis bsicas perante a lei (liberdadesde expresso, de imprensa, de reunio, de associao e de julgamento justo). Segundo a concepode Habermas, a esfera pblica oferece possibilidades de emancipao humana em torno de umaidia central de racionalidade gerada comunicativamente.

    A esfera pblica conseqncia de um processo mais longo e profundo de transformao social,que Habermas situa entre o final da Idade Mdia e a Idade Moderna, com a ascenso docapitalismo. A categoria do "pblico" a conseqncia no desejada das mudanassocioeconmicas que ocorreram de forma gradual, eventualmente precipitadas pelas aspiraes deuma burguesia bem-sucedida e cada vez mais consciente de si.

    Nesse sentido, Habermas postula uma homologia causal de cultura e economia, originada pela trocae movimentao de mercadorias e notcias, que so processos criados pelo comrcio capitalista delonga distncia. A economia domstica foi substituda pela atividade produtiva para o mercado ereconstituiu as relaes estado-sociedade com base na distino entre pblico e privado.

    Esfera pblica e ideais cvicos

    As associaes voluntrias e a vida associativa formaram as bases sociais para a definio doscompromissos pblicos. Em diversos pases da Europa, a classe burguesa foi criadora de uma sriede associaes voluntrias que foram a matriz de formao das elites locais e incorporaram as basesde suas futuras reivindicaes sociais.

    Por meio dessas associaes organizavam-se bailes, banquetes, palestras e concertos. Taisassociaes geravam na comunidade o debate poltico e uma srie de iniciativas filantrpicas,caritativas, recreativas. Esses grupos sociais burgueses possuam seus prprios prdios e recrutavam

    somente os homens da sociedade local de maior prestgio social.

    Essas associaes formavam uma teia organizada de relacionamento social, possibilitando o

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    desempenho de atividades cvicas: era vital para as pessoas de prestgio social organizar atividadesfilantrpicas, caritativas e de melhoria das instalaes pblicas, alm do patrocnio s artes, aeducao, os festivais pblicos e comemoraes diversas.

    Tais associaes foram vitais para a formao de uma sociedade civil burguesa. O novo princpio deassociao voluntria oferecia um meio alternativo de expressar opinio e idealizar preferncias que

    definiam um espao pblico independente, alm das prescries legais de status e padres polticos.

    Por outro lado, o associacionismo refletiu a fora crescente de uma burguesia e os laos sociais deuma classe culta e rica. Representava tambm uma arena pblica onde a dominao burguesaocorria naturalmente. Era uma fora constitutiva organizacional, que gerou reivindicaes paramudanas polticas e culturais; era uma burguesia que comeava a ver a si prpria como classeuniversal.

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    Mudana cultural

    Para Habermas, entretanto, o que interessa estudar no o processo de mudana poltica que foiimpulsionado pelo surgimento da esfera pblica burguesa. O autor d mais ateno prviatransformao das relaes sociais, que fez emergir as associaes voluntrias e, com elas, agerao de um novo discurso poltico sociocultural em torno desse ambiente de transformao.

    De acordo com Habermas, mudanas polticas no sentido da democratizao emergiram com maisfora onde tais processos subjacentes estavam transformando o contexto geral da comunicaosocial (crescimento da cultura urbana, metropolitana e provinciana), incorporando novos cenrios s

    relaes sociais: 1) arena da vida pblica organizada (casas de encontros, teatros, museus, livrarias);2) infra-estrutura de comunicao social (editoras, imprensa e outras mdias literrias); 3)surgimento de um pblico leitor atravs de sociedades de lngua e leitura, alm de bibliotecas; e 4)transportes melhorados e centros adaptados de sociabilidade (cafeterias, tavernas, clubes).

    Trata-se do florescimento de um novo universo de associao voluntria, que est subjacente formao da esfera pblica. Na verdade, a esfera pblica pressupunha uma mudana sociocultural.Deduz-se que as exigncias por reformas estatais e governamentais eram mais o efeito do que acausa da formao da esfera pblica.

    "Argumentao", "alegao" e "discurso": so esses princpios comunicativos que direcionam a

    anlise habermasiana. Os direitos de expresso, pensamento e debate, com razovel troca entreiguais, conformam o ideal que interessa a Habermas.

    Segundo o que o prprio Habermas diz, "o mercado verdadeiramente livre o do discurso culturalem si, inserido, bvio, em regulaes normativas. O que dito tem sua legitimidade no de simesmo como mensagem, tampouco do status social de quem a proferiu, mas da sua conformidadeenquanto declarao baseada num paradigma de razo registrada no momento do relato".