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ESECS-IPL Observatório de Educação Social Março 2009 Identidade cigana: Tradição e Modernidade

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Page 1: ESECS-IPL Observatório de Educação Social Março 2009 Identidade cigana: Tradição e Modernidade

ESECS-IPLObservatório de Educação Social

Março 2009

Identidade cigana:Tradição e Modernidade

Page 2: ESECS-IPL Observatório de Educação Social Março 2009 Identidade cigana: Tradição e Modernidade

1 - Exploração do conceito de grupo étnico

2 - Apresentação de marcadores culturaisdo grupo étnico cigano - elementos de tradição

3 - Reconhecimento do carácter dinâmico da identidade cultural: redefinição do ser cigano - elementos de modernidade

4 - Discussão do perigo dos preconceitos no exercício de direitos fundamentais

Sumário

Page 3: ESECS-IPL Observatório de Educação Social Março 2009 Identidade cigana: Tradição e Modernidade

Grupo étnico

Sub-grupo Cultura+

Raça

=

Língua

Religião

Práticas sociais

Semelhanças

Diferenças

Auto-percepçãoHetero-percepção

1 – Conceito de grupo étnico

Page 4: ESECS-IPL Observatório de Educação Social Março 2009 Identidade cigana: Tradição e Modernidade

Heterogeneidade interna

Grupo étnico

Manutenção das características culturais

1 – Conceito de grupo étnico

Page 5: ESECS-IPL Observatório de Educação Social Março 2009 Identidade cigana: Tradição e Modernidade

Identidade étnica

• Identidade que resulta do conjunto de características culturais distintivas, do conjunto de marcadores culturais específicos de um grupo 2

• Identidade é dinâmica, está em permanente construção e reconfiguração (processo de aculturação) 3

1 – Conceito de grupo étnico

Page 6: ESECS-IPL Observatório de Educação Social Março 2009 Identidade cigana: Tradição e Modernidade

a) Estratégias e práticas matrimoniais

b) Papel conferido aos mais velhos

c) Solidariedades informais intragrupo

d) Práticas e crenças associadas ao luto

e) Práticas linguísticas

f) Opções e comportamentos religiosos

2 – Marcadores culturais do grupo étnico cigano

Família

Marcadores culturais do grupo étnico cigano (Mendes 2005)

Page 7: ESECS-IPL Observatório de Educação Social Março 2009 Identidade cigana: Tradição e Modernidade

Família

- Patriarcado- Honra e vergonha

Forte diferenciação sexual

2 – Marcadores culturais do grupo étnico cigano

Page 8: ESECS-IPL Observatório de Educação Social Março 2009 Identidade cigana: Tradição e Modernidade

Forte diferenciação sexual aceite socialmente

Homens

(posição dominante)- Exercer autoridade- Gerir os negócios- Zelar pela honra da

família

Mulheres

(posição subalterna)- Educar os filhos- Vigiar as raparigas- Vender na feira- Dirigir-se aos

organismos públicos

2 – Marcadores culturais do grupo étnico cigano

Page 9: ESECS-IPL Observatório de Educação Social Março 2009 Identidade cigana: Tradição e Modernidade

Tradição

Marcadores culturais permanente reconfiguração do ser cigano

Modernidade

2 – Marcadores culturais do grupo étnico cigano

Page 10: ESECS-IPL Observatório de Educação Social Março 2009 Identidade cigana: Tradição e Modernidade

Transformações nos marcadores culturais

• Aculturação: incorporação numa cultura de elementos culturais de outra (principal responsável pelas mudanças)

• Mulheres jovens e escolarizadas (principais operadoras das mudanças)

3 – Redefinição do ser cigano

Page 11: ESECS-IPL Observatório de Educação Social Março 2009 Identidade cigana: Tradição e Modernidade

• Tema: Representações e práticas de saúde sexual e reprodutiva (SSR)

de mulheres ciganas

• Assuntos:- Maternidade e fecundidade- Contracepção- Interrupção Voluntária da Gravidez (IVG)- Cuidados de saúde materno-infantil- Controlo das Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST)- Fontes de informação

3 – Redefinição do ser cigano

Page 12: ESECS-IPL Observatório de Educação Social Março 2009 Identidade cigana: Tradição e Modernidade

• Metodologia: Entrevistas a mulheres ciganas que vivessem ou já tivessem vivido em conjugalidade, jovens e adultas, analfabetas e letradas

Idade 15-29 30-44

Nível de literacia A L A L

Nº de indivíduos (N=12) 2 3 3 4

3 – Redefinição do ser cigano

Page 13: ESECS-IPL Observatório de Educação Social Março 2009 Identidade cigana: Tradição e Modernidade

Como é a família ideal?(Representações sobre os papeis sociais)

A mãe a cuidar dos filhos e o pai a trabalhar. [Iara]

3 – Redefinição do ser cigano

Page 14: ESECS-IPL Observatório de Educação Social Março 2009 Identidade cigana: Tradição e Modernidade

Prefere ter filhos rapazes ou raparigas?(Representações da maternidade)

As meninas dão muitas dores de cabeça e muitas preocupações às mães. Os meninos pronto…têm mais liberdade… As meninas tem que se ter mais atenção e depois os meninos é bom para, para defender a família. [Nara]

Puxa-me mais para meninos do que para meninas. Penso que os meninos é diferente, né? Sei lá, são mais desenrascados, são homens, olha. [Maira]

3 – Redefinição do ser cigano

Page 15: ESECS-IPL Observatório de Educação Social Março 2009 Identidade cigana: Tradição e Modernidade

Quando é que gostava que a sua filha começasse a ter filhos?(Representações sobre a maternidade)

Eu queria que ela se juntasse aos 20 anos. Mal ela se ajunte acho que deve ter filhos… [Marisol]

3 – Redefinição do ser cigano

Page 16: ESECS-IPL Observatório de Educação Social Março 2009 Identidade cigana: Tradição e Modernidade

O que seria importante explicar à sua filha sobre relações sexuais?(Representações sobre relações sexuais)

Para não fazer relações, né? Porque ela pode engravidar e depois com um filho nos braços, não é casada, e depois era expulsa do pai e da mãe, da família. [Carla]

Não falo com a minha filha de relações sexuais. A gente tem vergonha né? [Marisol]

Dizia-lhe que as meninas só quando forem para casar é que podem namorar! [Teara]

3 – Redefinição do ser cigano

Page 17: ESECS-IPL Observatório de Educação Social Março 2009 Identidade cigana: Tradição e Modernidade

Quem é a pessoa mais respeitada da sua família?

Aqui é o meu sogro, que é o mais velho. [Carla]

3 – Redefinição do ser cigano

Page 18: ESECS-IPL Observatório de Educação Social Março 2009 Identidade cigana: Tradição e Modernidade

Quanto tempo deve durar o luto de uma viúva?

Deve durar para sempre. Se ela tirar o luto é porque tem intenções de casar. E se ela casar é expulsa da família. [Carla]

3 – Redefinição do ser cigano

Page 19: ESECS-IPL Observatório de Educação Social Março 2009 Identidade cigana: Tradição e Modernidade

Idade com que gostaria que a filha começasse a ter filhos…(Representações da maternidade)

Se ela tivesse, sei lá, 25, 27, 28 anos [Maira]

O primeiro filho com 18, 19 anos. Até aos 20, vá… [Manuela]

3 – Redefinição do ser cigano

Page 20: ESECS-IPL Observatório de Educação Social Março 2009 Identidade cigana: Tradição e Modernidade

Contexto conjugal em que a filha deveria ter filhos…(Representações da maternidade)

Ai isso já era uma coisa dela. Ou depois de casar ou antes. Como ela quisesse. [Iara]

Depois de casar, que viessem os filhos! [Telma]

3 – Redefinição do ser cigano

Page 21: ESECS-IPL Observatório de Educação Social Março 2009 Identidade cigana: Tradição e Modernidade

Planeou/Planeia as gravidezes… (Práticas de fecundidade)

Achámos que ainda era cedo para ter filhos. Mas agora já estamos a pensar mandar vir os bebés. [Nara]

Aquilo calhou, sei lá, não sabia, quando fiquei grávida nem sabia nada… [Manuela]

3 – Redefinição do ser cigano

Page 22: ESECS-IPL Observatório de Educação Social Março 2009 Identidade cigana: Tradição e Modernidade

Pessoas com quem fala sobre contracepção…(Fontes de informação)

A maior parte disso falo com a minha médica. Outras vezes falo com uma amiga ou outra que também me vão dizendo alguma coisa. Conversamos muito sobre isso. [Teara]

Eu não falo com ninguém! Não! Nada! Não falo a respeito dessas coisas assim. (…) Porque eu não gosto de falar. [Manuela]

3 – Redefinição do ser cigano

Page 23: ESECS-IPL Observatório de Educação Social Março 2009 Identidade cigana: Tradição e Modernidade

Cuidados especiais que tinha/tem durante a gravidez…(Práticas de saúde materna)

Não ficar ao pé dos fumadores, e quando havia alguma festa queriam-me oferecer álcool e eu não bebia. [Iara]

Tento repousar o máximo possível. Não enervar-me… [Carla]

Eu trabalhava tudo igual, fazia tudo igual. Lavava, fazia comer, ia a pedir, fazia tudo. Comia de tudo. [Rosa]

3 – Redefinição do ser cigano

Page 24: ESECS-IPL Observatório de Educação Social Março 2009 Identidade cigana: Tradição e Modernidade

Regularidade com que frequentou consultas de vigilância da gravidez…(Práticas de saúde materna)

Fui a todas as consultas que foram marcadas. [Teara]

Fui muito rija para isto, não ia a consultas nem ia a nada. [Manuela]

3 – Redefinição do ser cigano

Page 25: ESECS-IPL Observatório de Educação Social Março 2009 Identidade cigana: Tradição e Modernidade

Presença do marido durante o parto…(Práticas durante o parto)

Quando tive o rapaz, o que eu mais gostei foi estar o meu marido ali ao pé de mim, com tantas dores que eu tinha… [Marisol]

Assim que fui para a sala de partos o meu marido entrou logo. E é diferente, com ele é muito melhor… [Maira]

O meu homem que era meu homem eu senti-me tão mal por ele estar ali a ver… Eu ainda disse para ele que se fosse embora mas ele não quis… [Manuela]

3 – Redefinição do ser cigano

Page 26: ESECS-IPL Observatório de Educação Social Março 2009 Identidade cigana: Tradição e Modernidade

Cumprimento do calendário de vacinação dos filhos…(Práticas de saúde infantil)

Sim, sempre… Eles têm as vacinas em dia. [Marisol]

Ainda me faltam dar muitas vacinas às pequenininhas que ainda não fui dar. Não tenho paciência para tudo. Os outros filhos têm. Agora as 2 pequenininhas, que têm 6 anos e a outra de 5 têm poucas. Devem ter para aí umas 2 vacinas. [Manuela]

Alguns não têm as vacinas todas. Deixei de ir às vacinas… [Telma]

3 – Redefinição do ser cigano

Page 27: ESECS-IPL Observatório de Educação Social Março 2009 Identidade cigana: Tradição e Modernidade

Utilização da língua cigana…

Ah, não! Isso não existe! Isso era antigamente é que diziam aquelas palavras mais coiso. Mas eram os antigos muito antigos! A gente, as jovens, não. Nem os meus filhos, se você perguntar, não sabem nada! Só o Português. [Maira]

Falo a língua cigana com o meu marido, com os meus filhos… Tenho duas maneiras: falar a língua cigana para eles, falar português para vocês.. [Telma]

3 – Redefinição do ser cigano

Page 28: ESECS-IPL Observatório de Educação Social Março 2009 Identidade cigana: Tradição e Modernidade

• Teara: <30 anos; letrada• Carla: <30 anos; letrada• Iara: <30 anos; letrada• Maira: >30 anos; letrada• Nara: >30 anos; letrada• Marisol: <30 anos; analfabeta

• Telma: >30 anos; analfabeta• Manuela: >30 anos; analfabeta• Rosa: >30 anos; letrada

3 – Redefinição do ser cigano

Page 29: ESECS-IPL Observatório de Educação Social Março 2009 Identidade cigana: Tradição e Modernidade

MulheresJovens e Letradas

Representações e práticas inovadoras e próximas

das da cultura dominante

ELEMENTOS DE MODERNIDADE

+Representações e práticas próximas dos marcadores

culturais que definem o grupo étnico ciganoELEMENTOS DE

TRADIÇÃO

Assimilação

• Identidade étnica cigana em permanente reconstrução

• Aculturação

3 – Redefinição do ser cigano

Page 30: ESECS-IPL Observatório de Educação Social Março 2009 Identidade cigana: Tradição e Modernidade

Heterogeneidade interna das mulheres dentro do grupo étnico cigano: as características de uns não podem ser generalizadas ao conjunto

Perigo dos estereótipos e preconceitos

4 – Perigo dos preconceitos

Page 31: ESECS-IPL Observatório de Educação Social Março 2009 Identidade cigana: Tradição e Modernidade

• Estereótipo: generalização abusiva sem fundamentação científica de uma característica de um conjunto de indivíduos a todo o grupo

• Preconceito: estereótipo negativo; atribuição de características negativas de um conjunto de indivíduos a todo o grupo

• Base de comportamentos discriminatórios que negam direitos aos indivíduos

4 – Perigo dos preconceitos

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