escrituração contábil simplificada

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Escriturao contbil simplificada para micro e pequena empresa

Escriturao contbil simplificada para micro e pequena empresaAutores: Paulo Walter Schnorr (coordenador) Domingos Orestes Chiomento Marta Maria Ferreira Arakaki Eduardo Arajo de Azevedo Nivaldo Soares de Souza

Conselho Federal de Contabilidade Braslia 2008

PUBLICAO DO CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE SAS Quadra 5 - Bloco J - Ed. CFC Fone: (61) 3314 9600 / Fax: (61) 3322 2033 Cep: 70070-920 - Braslia-DF Site: www.cfc.org.br E-mail: [email protected] Edio sob responsabilidade de: Maria Clara Cavalcante Bugarim Presidente do Conselho Federal de Contabilidade Nelson Mitimasa Jinzenji Vice-presidente Tcnico Equipe Tcnica Responsvel: Celia Schwindt - Coordenadora da Vice-presidncia Tcnica Helio Jos Corazza - Contador Reviso: Maria do Carmo Nbrega e Patrcio Noronha Diagramao e Capa: Igor Outeiral Tiragem: 30 mil exemplares - Distribuio gratuita 2008

FICHA CATALOGRFICAEscriturao contbil simplificada para micro e pequena empresa / Paulo Walter Schnorr (coordenador)... [et al.] --Braslia: Conselho Federal de Contabilidade, 2008. 148 p. ISBN 978-85-85874-15-5 1. Escriturao Contbil Simplificada. 2. Microempresa. 3. Pequena Empresa. I. Ttulo. II. Chiomento, Domingos Orestes. III. Arakaki, Marta Maria Ferreira. IV. Azevedo, Eduardo Arajo de. V. Souza, Nivaldo Soares de. CDU 657.1:334.012.64/.65Ficha Catalogrfica elaborada pela Bibliotecria Lcia Helena Alves de Figueiredo CRB 1/1.401

Escriturao contbil simplificada para micro e pequena empresa

Apresentao

A Contabilidade vem prestando, h sculos, um servio de fundamental importncia para as naes e as sociedades, nas suas diferentes organizaes econmicas, como ferramenta e instrumento de gesto e de controle. Das primeiras normas sobre escriturao contbil, surgidas no sculo XV, estabelecendo princpios de ordem s informaes at chegar ao estgio atual de convergncia das normas contbeis a um padro internacional, fruto da globalizao da economia mundial, o desenvolvimento da Contabilidade tem acompanhado a evoluo da Histria. No mbito empresarial, um passo importante na histria da rea foi dado pelo Conselho Federal de Contabilidade ao editar a Norma Brasileira de Contabilidade NBC T 19.13, que dispe sobre os procedimentos da Escriturao Contbil Simplificada para Microempresa e Empresa de Pequeno Porte, publicada em dezembro de 2007. Essa edio desfez um equvoco da Lei Complementar n 123/06, que registrava como alternativa s empresas optantes do Simples Nacional a adoo da contabilidade simplificada, quando, na realidade, desejava se referir simplificao da escriturao contbil. Para este trabalho, o CFC constituiu uma comisso tcnica com experientes profissionais da rea contbil para estudar e propor sugestes, visando edio da referida norma. A Resoluo CGSN n 28/08 do Comit Gestor do Simples Nacional estabeleceu que, para essa finalidade, devem ser atendidas s disposies do Cdigo Civil e das Normas Brasileiras de Contabilidade. Esta publicao apresenta o resultado dos estudos desenvolvidos pela comisso tcnica cujo contedo imprescindvel aos profissionais que atuam nessas empresas, uma vez que descreve, esclarece e orienta quanto obrigatoriedade de se manter contabilidade completa pelas diversas legislaes vigentes, ainda que a escriturao seja simplificada. Pela relevncia da obra, o CFC faz questo de agradecer o trabalho da Comisso, formada por Paulo Walter Schnorr (coordenador), Domingos Orestes Chiomento, Marta Maria Ferreira Arakaki, Eduardo Arajo de Azevedo e Nivaldo Soares de Souza. MARIA CLARA CAvALCANTE BUgARIM Presidente do CFC

Escriturao contbil simplificada para micro e pequena empresa

Sumrio1. INTRODUO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 1.1 O Cenrio da Contabilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 1.2 A Escriturao Simplificada LC n 123/06 . . . . . . . . . . . . 13 2. FUNDAMENTOS DA ESCRITURAO CONTBIL . . . . . . . . . . 14 2.1 Constituio Federal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 2.2 Cdigo Civil Brasileiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 2.3 Cdigo Tributrio Nacional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 2.4 Lei de Recuperao de Empresas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 2.5 Lei das Sociedades Annimas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19 2.6 Lei dos Crimes contra a Ordem Tributria . . . . . . . . . . . . . 20 2.7 Lei do Sistema Previdencirio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21 2.8 Responsabilidade do Contabilista pelo Cdigo Civil . . . . . 22 2.9 Declarao para Eximir-se da Responsabilidade . . . . . . . 23 2.10 Contrato de Prestao de Servios Profissionais . . . . . . 25 2.11 tica Profissional: Origem dos Problemas da Classe . . . 27 3. IMPORTNCIA E UTILIDADE DA ESCRITURAO. . . . . . . . . . 28 3.1 Os Pilares e a Essncia da Escriturao . . . . . . . . . . . . . . 28 3.2 A Escriturao Simplificada Lei n 123/06 . . . . . . . . . . . . 29 3.3 O Mercado Internacional e as MEs e EPPs Brasileiras . . . 32 3.4 Livros Fiscais Exigidos de ME e EPP . . . . . . . . . . . . . . . . 33 3.5 Contabilidade uma Cincia Funcional . . . . . . . . . . . . . . . . 34 3.6 Controle dos Limites da Lei Geral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35 3.7 Controle dos Lucros e Resultados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37 3.8 Contabilidade a Servio da Gesto Empresarial . . . . . . . . 38 3.9 Funes Especiais da Contabilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . 39 3.9.1 Na Concordata . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39 3.9.2 Na Falncia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39 3.9.3 Na Percia Judicial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39 3.9.4 Na Dissidncia Societria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40 3.9.5 Na Fiscalizao da Previdncia . . . . . . . . . . . . . . . . . 40 3.9.6 No Crime Tributrio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40 3.9.7 Na Distribuio de Lucros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40 3.9.8 Na Informao Gerencial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40 3.9.9 Na Globalizao da Economia . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41

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3.9.10 Na Orientao Estratgica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41 3.9.11 Na Avaliao Social . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41 3.10 Demonstraes que Ancoram Financiamentos . . . . . . . . 41 4. TRIBUTAO DAS PESSOAS JURDICAS. . . . . . . . . . . . . . . . . 42 4.1 Conceitos sobre as Diferentes Alternativas . . . . . . . . . . . . 42 4.1.1 Lucro Real . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42 4.1.2 Lucro Presumido . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44 4.1.3 Lucro Arbitrado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45 4.1.4 Simples Nacional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46 4.2 Clculo do IRPJ nas Diferentes Modalidades . . . . . . . . . . 46 4.2.1 Lucro Real . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46 4.2.2 Lucro Presumido . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47 4.2.3 Lucro Arbitrado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47 4.2.4 Processo Simplificado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47 4.3 Aspectos sobre Tributao IRPJ e as Opes Equivocadas . .47 5. LEI GERAL DA MICRO E PEQUENA EMPRESA. . . . . . . . . . . . . 48 5.1 Disposies Preliminares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48 5.2 Abrangncia da Lei Geral. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49 5.3 rgos Gestores do Simples Nacional . . . . . . . . . . . . . . . 49 5.4 Conceito de Microempresa e Empresa de Pequeno Porte 49 5.5 Definio de Pequeno Empresrio . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50 5.6 Conceito de Receita Bruta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51 5.7 Receita Bruta Excedente ao Limite . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51 5.8 Regras para o Incio de Atividade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51 5.9 Conseqncias por Excesso de Limite . . . . . . . . . . . . . . . 52 5.10 Situaes Impeditivas ao Simples Nacional . . . . . . . . . . 52 5.11 Participaes no Sujeitas s Vedaes . . . . . . . . . . . . . 53 5.12 Hiptese de Excluso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53 5.13 Inscrio e Baixa de ME e EPP . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53 5.14 Pendncias Tributrias, Trabalhistas e Previdencirias . 54 5.15 Constituio e Legalizao de ME e EPP . . . . . . . . . . . . 54 5.16 Dispensa de Certides de Regularidade . . . . . . . . . . . . . 55 5.17 Extino ou Baixa de ME e EPP . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55 5.18 Simples Nacional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56 5.18.1 Comit Gestor e Informaes do Sistema . . . . . . . . 57 5.18.2 Condies de Ingresso e Enquadramento . . . . . . . . 57

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5.18.3 Fixao de Sublimites pelos Estados . . . . . . . . . . . 58 5.18.4 Vedaes ao Ingresso no Simples Nacional: . . . . . . 58 5.18.5 Atividades Impedidas e Concomitantes . . . . . . . . . . 59 5.18.6 Atividades Admitidas no Simples Nacional . . . . . . . 60 5.18.7 Impostos e Contribuies Unificadas . . . . . . . . . . . . 61 5.18.8 Impostos e Contribuies no Abrangidas . . . . . . . 62 5.18.9 Distribuio de Resultados e Outros Valores. . . . . . 64 5.18.10 Responsabilidade por Lucros Ilcitos ou Fictcios . 64 5.18.11 Base de Clculo do Simples Nacional . . . . . . . . . . 65 5.18.12 Regime de Apurao das Receitas . . . . . . . . . . . . 65 5.18.13 Segregao das Receitas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65 5.18.14 Desdobramento das Receitas por Atividade . . . . . 66 5.18.15 Enquadramento das Receitas para Fins de Alquotas 66 5.18.15.1 Atividades Comerciais 9 Tabelas . . . . . . . . . . . 66 5.18.15.2 Atividades Industriais 17 Tabelas . . . . . . . . . . . 67 5.18.15.3 Atividades de Prestao de Servios 33 Tabelas. .67 5.18.15.4 Prestao de Outros Servios Enquadramento 71 5.18.16 Determinao da Alquota Mensal . . . . . . . . . . . . . 72 5.18.17 Situaes Especiais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73 5.18.18 ISS sobre Prestao de Servios . . . . . . . . . . . . . 73 5.18.19 Recolhimento do Simples Nacional . . . . . . . . . . . . 74 5.18.20 Obrigaes Acessrias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74 5.18.21 Outras Obrigaes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75 5.18.22 Excluso do Simples Nacional . . . . . . . . . . . . . . . . 75 5.18.23 Omisso de Receitas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76 5.19 Outros Benefcios e Incentivos da LC n 123/06 . . . . . . . 77 5.19.1 Compras Governamentais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77 5.19.2 Obrigaes Trabalhistas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77 5.19.3 Fiscalizao Orientadora . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78 5.19.4 Formao de Consrcio Simples . . . . . . . . . . . . . . . 78 5.19.5 Acesso ao Crdito e Capitalizao . . . . . . . . . . . . 79 5.19.6 Estmulo Inovao Tecnolgica. . . . . . . . . . . . . . . 79 5.19.7 Direito de Acesso Justia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79 6. ESCRITURAO CONTBIL SIMPLIFICADA . . . . . . . . . . . . . . 80 6.1 Origem e Evoluo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80 6.2 Escriturao Simplificada para ME e EPP NBC T 19.13 81 6.2.1 Disposies Gerais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81

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6.2.2 Formalidades da Escriturao . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82 6.2.3 Demonstraes Contbeis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83 6.2.4 Plano de Contas Simplificado . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84 6.3 Livros Obrigatrios e Auxiliares. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85 6.3.1 Obrigatoriedade de Escriturao . . . . . . . . . . . . . . . . 85 6.3.2 Livros Fiscais e Contbeis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87 6.3.3 Formalidades Intrnsecas aos Livros: . . . . . . . . . . . . 88 6.3.4 Formalidades Extrnsecas aos Livros: . . . . . . . . . . . . 88 6.4 Registro das Operaes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89 7. PLANO DE CONTAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89 7.1 Conceitos e Utilidades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89 7.2 Estrutura Bsica do Plano de Contas Simplificado . . . . . . 92 7.3 Estrutura Bsica das Demonstraes Contbeis. . . . . . . . 93 7.3.1 Balano Patrimonial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94 7.3.2 Demonstrao do Resultado do Exerccio . . . . . . . . . 95 7.4 Plano de Contas Simplificado para Empresas com Atividades Mistas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97 7.4.1 Elenco de Contas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97 7.5 Funo e Funcionamento das Principais Contas. . . . . . . 106 8. REGISTRO DE OPERAES EXEMPLOS. . . . . . . . . . . . . . . 126 8.1 Operaes comuns a vrios ramos de atividades previstas na Lei Geral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 126 8.2 Operaes tpicas de empresas comerciais . . . . . . . . . . 129 8.2.1 Optantes pelo Simples Nacional com receita bruta at o limite do subteto estadual. . . . . . . . . . . . . . . . 129 8.2.2 Optantes pelo Simples Nacional com receita bruta anual acima do limite do subteto estadual ou no optante pelo Simples.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 130 8.3 Operaes tpicas de empresas industriais . . . . . . . . 131 8.3.1 Optantes pelo Simples Nacional com receita bruta anual at o limite do subteto estadual.. . . . . . . . . . . 131 8.3.2 Optantes pelo Simples Nacional, com receita bruta anual acima do limite do subteto estadual ou no optante pelo Simples . . . . . . . . . . . . . . . . . . 133 8.4 Operaes tpicas de empresas prestadoras de servio . 133

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8.4.1 Optantes pelo Simples Nacional com receita bruta anual at o limite do subteto estadual . . . . . . . . . . . 133 8.4.2 Optantes pelo Simples Nacional com receita bruta anual acima do limite do subteto estadual ou no optante pelo Simples. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 135 9. FONTES DE CONSULTA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 136 9.1 Bibliografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 136 9.2 Legislao Aplicada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 136

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1. INTRODUO1.1 O Cenrio da Contabilidade gratificante escrever sobre o tema Contabilidade quando, por presuno, se conclui que os leitores so profissionais ticos; que observam princpios e normas estabelecidas; que praticam com transparncia e qualidade os servios contratados. Portanto, nestes casos, a leitura nivelada aos padres presumidos pelo autor. O mais incentivador seria se referidos contabilistas fizessem desse mercado profissional um diferencial prprio para demonstrar competncias e habilidades. Todavia, cumpre lembrar que as exposies que seguem visam alcanar todos os contabilistas, medida que a globalizao impe o crescimento da classe profissional. importante conhecer e estudar Contabilidade. E, quanto mais se explora a essncia e os fundamentos da Contabilidade e quanto mais se estuda sua histria e evoluo, mais convincente a importncia dos arquelogos, profissionais que se preocupam em levantar ou provar a origem deste ou daquele fato, fenmeno, ocorrncia, profisso, como, alis, o caso. Certamente, um retrospecto na arqueologia possibilita concluir o quanto so antigos a profisso de contador e o processo da escrita e o controle e a gesto empresarial por meio da contabilidade. Sem receio quanto a equvocos, pode-se concluir que tanto o histrico quanto a evoluo da Contabilidade passaram por etapas at atingir o ano de 1494. Surgiram ento as primeiras normas sobre a escriturao. Muito provavelmente, preocupado com a desordem e o descontrole nas finanas ou nas informaes corporativas, Frei Lucca Pacciolo apresentou e props o emprego do Mtodo das Partidas Dobradas, que consiste em uma regra bsica: a cada dbito corresponde a um crdito ou vice-versa. Assim, no ano de 1494, talvez tentando controlar, organizar, orientar e padronizar os processos administrativos, Frei Lucca Pacciolo, com autoridade, escreveu a sua Summa de Arithmetica, Geometria, Proportioni et Proportionalita e o Tratactus 11, que cuida da parte relativa contabilidade, tornando-se, dessa forma, o propulsor do mtodo das partidas dobradas. Em 1840, formou-se uma corrente com os maiores discpulos daquela metodologia, no sentido de se elevar a contabilidade como cincia. Resultou do movimento o surgimento de novas escolas e doutrinas, entre elas, a doutrina contista, controlista, aziendalista, personalstica e patrimonialista, todas assimiladas na formao profissional.

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Desde ento a Cincia da Contabilidade tem sido entendida e difundida pelos estudiosos como processo, ferramenta e instrumento de gesto empresarial, muito embora nem sempre praticada com submisso quelas finalidades. No se pode afastar a concluso de que a Contabilidade uma cincia com fundamental importncia na vida econmica das naes, das empresas, das pessoas naturais. Mesmo nas economias pouco desenvolvidas ou ento nas empresas de pequeno porte, necessrio manter o controle de gastos, despesas, receitas, ativos, dvidas, negociaes, posicionamento sobre fatos ou tendncias mercadolgicas. papel da Contabilidade realizar esses controles ou ento evidenciar os desvios em relao aos objetivos pretendidos pelos gestores empresariais. E quando o Frei Lucca Pacciolo vislumbrou a importncia e a necessidade na adoo de processos administrativos padronizados, feitos por meio do Mtodo das Partidas Dobradas, deve ter concludo que a sade da corporao qual servia no se apresentava satisfatria e que um instrumento de controle precisava ser adotado: a escriturao, a contabilidade, mxime, as demonstraes contbeis. Ento, para combater a enfermidade que se aflorava naquela instituio, entendeu como necessrio adotar um processo de escriturao, racional, prtico, capaz de manter sob controle no apenas o foco principal da preocupao, como tambm, e fundamentalmente, as ocorrncias adjacentes com implicaes diretas sobre o combate das causas. Portanto, Contabilidade antdoto sade financeira de qualquer empresa, independente do porte ou da formatao jurdica. Nessa linha conclusiva, a contabilidade, quando revestida das formalidades prprias, serve para diagnosticar as enfermidades que esto atacando a empresa e, simultaneamente, um receiturio com medicamentos para combater as molstias. Todavia, importante destacar que a contabilidade no deve apenas cumprir a sua funo enquanto cincia, e as demonstraes elaboradas com base nos registros precisam traduzir transparncia e serem utilizadas no processo da gesto corporativa, pois so vetores de atos econmicos, realidade operacional e norte corporativo. Neste particular, contabilistas, empresrios e usurios devem estar sincronizados sobre providncias e procedimentos que podem ser adotados para realinhamento dos eventuais desvios.

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1.2 A Escriturao Simplificada LC n 123/06Especificamente sobre escriturao simplificada, houve a oportunidade, em 2007, de analisar, contribuir e acompanhar o trabalho desenvolvido pelo Conselho Federal de Contabilidade que, preocupado com o disposto no art. 27 da Lei Complementar n 123/06, pela primeira vez, ousou tratar do referido tema, o que fez por meio de comisso tcnica constituda para essa finalidade. Evidentemente, no se podem admitir orientaes inteis em norma legal, notadamente uma Lei Complementar, quando se sabe, fruto de trabalhos, encontros, debates e discusses, cujos resultados esto sendo aguardos h mais de trs anos. Por outro lado, se o legislador pretendesse dispensar as Microempresas (MEs) e as Empresas de Pequeno Porte (EPPs) da obrigatoriedade da escriturao mercantil, no teria consignado no art. 27 da LC n 123/06 o regramento textual no sentido de que as empresas que fizessem a opo pelo Simples Nacional ficariam com a faculdade, ou seja, o direito e a alternativa de adotar contabilidade simplificada para registrar e controlar as operaes realizadas. No particular da obrigatoriedade focalizada, no h o que se falar em interpretao equivocada. Portanto o art. 1.179 do Cdigo Civil Brasileiro (Lei n 10.406/02) determinativo quanto exigncia da contabilidade. Efetivamente, desde 1996, quando foi implantada a Lei n 9.317, que institui o primeiro Simples Federal, em vigor at junho de 2007, havia certo desconforto e indefinio por parte dos profissionais contabilistas acerca da necessidade, ou no, de contabilidade diferenciada para microempresa e empresas de pequeno porte. Grupos de Trabalhos foram institudos, estudos foram realizados e sugestes propostas sem que se tivessem encontrado guarida por parte das autoridades federais. A constituio do Grupo de Trabalho com referida atribuio foi um avano em reconhecimento aos esforos expendidos naquele sentido. consenso entre os profissionais da rea que apenas o Conselho Federal de Contabilidade deveria editar normas sobre escriturao contbil, todavia, nem sempre a teoria funciona. Assim, uma comisso tcnica constituda para estudar o assunto, procurando resguardar os profissionais e o prprio mercado de trabalho da categoria, em julho de 2007, apresentou ao Comit Gestor do Simples Nacional, proposta de Norma Brasileira de Contabilidade, facultando para as MEs e EPPs o regime de escriturao contbil simplificada e, no, de contabilidade simplificada, conforme redao equivocada do

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art. 27 da LC n 123/06. A presente publicao trata de escriturao simplificada, portanto inexiste contabilidade simplificada. Referida proposta foi entregue pela presidente do Conselho Federal de Contabilidade ao secretrio executivo do Comit Gestor do Simples Nacional, a qual foi amplamente analisada, discutida e acolhida. Aps o trmite no CFC, a proposta foi colocada em audincia pblica e, em dezembro/07, foi editada a Resoluo CFC n 1.115/07, ficando assim aprovada a NBC T 19.13, que dispe sobre a Escriturao Contbil Simplificada para Microempresa e Empresa de Pequeno Porte, Resoluo essa devidamente publicada no DOU em 19/12/07. Portanto, a Escriturao Contbil Simplificada, no mnimo obrigatria para as empresas contempladas pelas disposies da LC n 123/06, alterada pela LC n 127/07, est contextualizada pela NBC T 19.13, tratada na Resoluo CFC n 1.115/07.

2. FUNDAMENTOS DA ESCRITURAO CONTBILConforme os fundamentos que norteiam a cincia, comporta reavivar que no atual estgio de globalizao da economia, o processo da escriturao mercantil, a transformao dos dados em informaes e os relatrios da contabilidade se apresentam indissociveis da moderna gesto empresarial. Nessa mesma linha conclusiva, vale destacar que, qualquer tipo de empresa, independente do porte ou da tipicidade jurdica, necessita de escriturao contbil, ainda que de forma simplificada, para controlar o seu patrimnio e gerenciar adequadamente os negcios, sob pena de naufrgio a qualquer momento e lugar; sua ausncia indica a falta de vetores e de coordenao instrutiva. Entretanto, fazer contabilidade dentro dos preceitos no se trata, exclusivamente, de necessidade gerencial, fato que j se prestaria como importante justificativa. A escriturao contbil, ainda que de forma simplificada, e as demonstraes contbeis dela decorrentes esto arroladas como exigncias ou atribuies que devem ser satisfeitas pelos contabilistas em atendimento aos diversos dispositivos da legislao de regncia, sob pena de punio e responsabilidade profissionais, conforme vnculo obrigacional que seguem.

2.1 Constituio FederalO art. 5 da Carta Magna, ao dispor sobre o princpio da estrita legalidade, ao assegurar textualmente que, sem distino de qualquer natureza,

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todos so iguais perante a lei, mxime por fora do inciso II da referida norma, por meio do qual se constata que, ningum ser obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa seno em virtude de lei, combinado ainda com dispositivos contidos em outros regramentos, no restam dvidas de que a escriturao contbil, mesmo que de forma simplificada, constitui atribuio profissional regulada por leis especficas e, portanto, obrigatoriedade jurdica, que impe observncia; ressalvado o caso dos pequenos empresrios de que trata o art. 970 da Lei n 10.406/02, combinado com o art. 68 da LC n 123/06. Ainda no que concerne a escriturao contbil simplificada, seguindo-se ao comando constitucional, encontra-se pela leitura combinada do disposto no art. 146, incisos II e III, alnea d, que compete lei complementar estabelecer normas gerais em matria de legislao tributria, especialmente sobre definio de tratamento diferenciado e favorecido para microempresa e para empresa de pequeno porte, inclusive regimes especiais ou simplificados de arrecadao dos impostos e contribuies da Unio, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios, exatamente conforme previsto e facultado pelo art. 27 da LC n 123/06. Portanto, a opo facultada pelo art. 27 da LC n 123/06, tambm chamada de Lei Geral das Microempresas e das Empresas de Pequeno Porte, no que se refere escriturao contbil simplificada, objeto deste trabalho, guarda integral conformidade com a ordem jurdica; tanto no que se refere obrigatoriedade de ser feita, quanto na adoo de processo mais simples.

2.2 Cdigo Civil BrasileiroTalvez, entre tantas normas jurdicas a que se sujeitam os profissionais da Contabilidade, todas no menos importantes, as disposies baixadas pelo Cdigo Civil Brasileiro, Lei n 10.406/02, constituem cenrio de preocupao cotidiana, no apenas pelas atribuies e responsabilidades adicionais conferidas classe, como tambm e fundamentalmente pela dificuldade em se promover e se implantar uma conscientizao dos clientes-empresrios, no que se refere submisso legal ou ento transparncia sobre a realidade das operaes econmicas praticadas. Isso no pode ser avocado com o intuito de desvincular os contabilistas, enquanto prepostos, das fraudes, irregularidades ou omisses cometidas por aqueles, salvo se demonstrado de forma inconteste a no-anuncia ou conivncia procedimental, o que no constitui tarefa de fcil evidncia.

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No bastasse a preocupao decorrente do art. 1.179, redigido de forma impositiva aos profissionais da rea, no sentido de que o empresrio e a sociedade empresria so obrigados a seguir um sistema de contabilidade, mecanizado, ou no, com base na escriturao uniforme de seus livros, em correspondncia com a documentao respectiva, e a levantar anualmente o balano patrimonial e o resultado econmico, comporta destacar que o disposto pelo art. 1.009 do vigente Cdigo Civil muito mais preocupante ainda aos contabilistas, impondo uma perfeio vinculativa. Acerca do disposto no art. 1.009 do CCB: A distribuio de lucros ilcitos ou fictcios acarreta responsabilidade solidria dos administradores que a realizem e dos scios que os receberem, conhecendo ou devendo conhecer-lhes a ilegitimidade. Ainda que sejam aceitas justificativas desprovidas de materialidade ftica, haja vista que meras alegaes com finalidade de acobertar mltiplas exposies, a verdade que no se pode ignorar a abrangncia e as implicaes decorrentes do disposto no art. 1.009, acima compilado. E o que seria distribuio de lucros ilcitos ou fictcios para o alcance da responsabilidade solidria dos administradores? Os profissionais que examinaram o assunto esto convencidos de que qualquer distribuio de resultados que no tenha sido apurada pela contabilidade, cujos registros e assentos no guardem conformidade com os documentos ou ento cuja escriturao mercantil se afaste dos preceitos que constituem a essncia dos trabalhos contratados, ocorre com afronta ao disposto no art. 1.009 do CCB, aprovado pela Lei n 10.406/02. Ento nessa linha conclusiva possvel afirmar que todos quantos realizaram distribuio de resultados apartados ou sem observncia da contabilidade, por exemplo, com base no saldo de caixa, ou ainda, por simples clculos sobre o faturamento mensal, estejam correndo riscos em relao regra examinada? Com o devido respeito e at com respeito s posies contrrias, os profissionais esto convencidos que sim, pois fora da contabilidade no se pode falar em lucros legais ou lucros materiais, comprovados, verdadeiros. Mais preocupante que as concluses acima externadas, saber que o Cdigo Civil Brasileiro, nesse particular, est em vigor h mais de cinco anos. Isso significa que todas as distribuies ocorridas no espao temporal, quando dissociadas da escriturao ou dos relatrios contbeis, podem ensejar questionamentos, com desdobramentos e implicaes negativas contra os profissionais contabilistas vinculados. Preocupantes, tambm, so as evidncias prticas. Comporta aqui uma reflexo, no sen-

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tido de que alguns profissionais, sob pretexto de baixar o saldo da conta caixa, sem quaisquer outras providncias esto emitindo manualmente, avisos de lanamentos, normalmente em datas prximas ao final do perodo, debitando distribuio de resultados e creditando caixa em uma equivocada concluso de que a conta caixa armazena lucros, atropelando os mais elementares princpios da cincia.

2.3 Cdigo Tributrio NacionalO Cdigo Tributrio Nacional, Lei n 5.172/66, no art. 195, pargrafo nico, ao tratar de aspectos administrativos vinculados, das atribuies dos servidores pblicos, das responsabilidades dos contribuintes e seus prepostos, aqui, entendido, os contabilistas, estabeleceu que, para os efeitos da legislao tributria, no tm aplicao quaisquer disposies legais excludentes ou limitativas do direito de examinar mercadorias, livros, arquivos, documentos, papis e efeitos comerciais ou fiscais, dos comerciantes industriais ou produtores, ou da obrigao destes em exibir referidos documentos, fixando, ainda, no caso da escriturao contbil, que os livros obrigatrios de escriturao comercial e fiscal e os comprovantes dos lanamentos efetuados sero conservados at que ocorra a prescrio dos direitos tributrios decorrentes das operaes a que se refiram. Consubstanciado nas transcries acima examinadas, emanadas de norma jurdica aplicvel a todas as empresas, independente do seu porte ou ento da forma de tributao exercida lucro real, lucro presumido, lucro arbitrado ou simples nacional , foroso ser concluir que, ante a ausncia da escriturao mercantil revestida das formalidades que lhes sejam pertinentes, os agentes fiscais no podem realizar suas aferies com a preciso requerida, fato que pode resultar em autuao por evidente materialidade do caso analisado ou ento por simples presuno, instituto jurdico no raras vezes utilizado por servidores pblicos em seus trabalhos de campo, sempre que as atribuies a cargo dos contabilistas apresentem quaisquer irregularidades.

2.4 Lei de Recuperao de EmpresasOutra importante norma jurdica que ancora os fundamentos da escriturao contbil, agora Lei n 11.101/05, que especificamente regula o instituto da recuperao judicial, extrajudicial e a falncia do empresrio e da

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sociedade empresria, na Seo V Do Plano de Recuperao Judicial para Microempresas e Empresas de Pequeno Porte, mxime no art. 70, preceitua que as pessoas de que trata o art. 1 desta Lei e que se incluam nos conceitos de microempresa ou empresas de pequeno porte, nos termos da legislao vigente, sujeitam-se s normas deste Captulo. As microempresas e as empresas de pequeno porte, conforme definidas em lei, podem apresentar plano especial de recuperao judicial, desde que afirmem sua inteno de faz-lo na petio inicial de que trata o art. 51 da Lei n 11.101/05, restando explicitado que os credores no atingidos pelo plano especial no tero seus crditos habilitados na recuperao judicial. Remetendo as anlises para o disposto no art. 51 da Lei n 11.101/05 o que se faz com objetivos de vincular as condies antes estabelecidas, na Seo II Do Pedido e do Processamento da Recuperao Judicial, encontrase o seguinte direcionamento prtico: Art. 51. A petio inicial de recuperao judicial ser instruda com: I. A exposio das causas concretas da situao patrimonial do devedor e das razes da crise econmico-financeira; II. As demonstraes contbeis relativas aos 3 (trs) ltimos exerccios sociais e as levantadas especialmente para instruir o pedido, confeccionadas com estrita observncia da legislao societria aplicvel, composta obrigatoriamente de: a) Balano patrimonial; b) Demonstrao de resultados acumulados; c) Demonstrao do resultado desde o ltimo exerccio social; d) Relatrio gerencial de fluxo de caixa e de sua projeo. III. Outros documentos administrativos e certides que contemplam os incisos III a IX do art. 51 da Lei 11.101/ 2005. Relativamente aos documentos da escriturao contbil e, mais precisamente, no que se refere s microempresas e s empresas de pequeno porte, comporta transcrever, ainda do art. 51, o seguinte: 1 Os documentos de escriturao contbil e demais relatrios auxiliares, na forma e no suporte previstos em lei, permanecero disposio do juzo, do administrador judicial e, mediante autorizao judicial, de qualquer interessado; 2 Com relao exigncia prevista no inciso II do caput deste artigo, as microempresas e empresas de pequeno porte podero apresentar livros e escriturao contbil simplificada nos termos da legislao especfica.

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Veja-se, portanto, agora sob outro prisma, que as atribuies sob responsabilidade dos contabilistas, especialmente a temtica da escriturao mercantil, direcionam a concluses de que a contabilidade no se presta to somente como processo, ferramenta, instrumento de gesto empresarial e sim, tambm, como sustentculo, base de apoio, nos processos de recuperao judicial ou extrajudicial das microempresas e das empresas de pequeno porte, ainda que tenha sido executado sob forma de escriturao simplificada, como o caso da faculdade prevista no art. 27 da LC n 123/06.

2.5 Lei das Sociedades AnnimasDeslocando a temtica agora para o campo das grandes corporaes, comporta destacar que o regramento bsico, Lei n 6.404/76, alterada pela Lei n 11.638/07, no que se refere aos procedimentos e s normas para as demonstraes contbeis das Sociedades Annimas, aplicvel extensivamente s demais sociedades, estabeleceu, em sntese, que: Art. 176. Ao final de cada exerccio, a diretoria far elaborar, com base na escriturao mercantil da companhia, as seguintes demonstraes financeiras, que devero exprimir com clareza a situao do patrimnio da companhia e as mutaes ocorridas no exerccio: I. Balano Patrimonial; II. Demonstrao dos Lucros ou Prejuzos Acumulados; III. Demonstrao de Resultado do Exerccio; IV. Demonstrao dos Fluxos de Caixa; e V. se companhia aberta, Demonstrao do Valor Adicionado. Quando se analisa o art. 188 da Lei n 6.404/76, com a nova redao da Lei n 11.638/07, no particular, encontra-se o seguinte ordenamento prtico: as demonstraes referidas no inciso IV Demonstrao dos Fluxos de Caixa e V Demonstrao do Valor Adicionado, do art. 176 desta Lei indicaro, no mnimo: I. Demonstrao dos Fluxos de Caixa as alteraes ocorridas, durante o exerccio, no saldo de caixa e equivalentes, segregandose essas alteraes em, no mnimo 3 (trs) fluxos: a) das operaes; b) dos financiamentos; e, c) dos investimentos. II. Demonstrao do Valor Adicionado o valor da riqueza gerada pela companhia, a sua distribuio entre os elementos que con-

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triburam para a gerao dessa riqueza, tais como empregados, financiadores, acionistas, governo e outros, bem como a parcela da riqueza no distribuda. Preceitua ainda o art. 176 da Lei n 6.404/76, com redao dada pelo art. 7 da Lei n 11.638/07, que as demonstraes referidas nos incisos IV e V do caput podem ser divulgadas no primeiro ano de vigncia desta lei, sem a indicao dos valores correspondentes ao exerccio anterior. Por outro lado, j o pargrafo 6 do mesmo art. 176 estabelece que a companhia fechada com patrimnio lquido, na data do balano inferior a R$ 2.000.000,00 no ser obrigada elaborao e publicao dos fluxos de caixa. Consubstanciado nas disposies acima compiladas, respeitadas algumas particularidades, no restam dvidas sobre a obrigatoriedade ou a importncia da escriturao mercantil, mxime pelo fato de que, agora, por fora da Lei n 11.638/07, todas as companhias fechadas, com patrimnio lquido, na data do balano, superior a R$ 2.000.000,00, inclusive as sociedades de grande porte, ainda que no constitudas sob a forma de sociedade por aes, so obrigadas a elaborar e publicar as demonstraes financeiras, conforme dispe o art. 176 do novo regramento.

2.6 Lei dos Crimes contra a Ordem TributriaA Lei n 8.137/90 se constitui noutra implicao vinculativa que amarra o profissional contabilista ao cliente-empresrio, especialmente no que se refere aos procedimentos escusos por parte daquele, nem sempre reportados ou conhecidos. Assim, a norma jurdica aqui examinada, ao definir os crimes contra a ordem tributria, econmica e contra as relaes de consumo e outras providncias mencionadas, talvez de forma objetiva ou tangencial, acabou vinculando o profissional responsvel pela escriturao mercantil, aos crimes eventualmente praticados pelos empresrios. Guardadas as excees, muitos contabilistas sabem e reconhecem que so partcipes dos crimes ou fraudes praticadas por seus clientes-empresrios; seja por acolhimento ou por velada anuncia, sem, todavia, adotar providncias que objetivem estabelecer a ruptura ou os limites dessa responsabilidade. Assim, ao dispor textualmente sobre a tipificao ou ento construir o cenrio de abrangncia, no particular da norma examinada, art. 1 e seguintes da Lei n 8.137/90, o legislador estabeleceu:

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Art. 1. Constitui crime contra a ordem tributria suprimir ou reduzir tributo, ou contribuio social e qualquer acessrio, mediante as seguintes condutas: I. Omitir informao, ou prestar declarao falsa s autoridades fazendrias; II. Fraudar a fiscalizao tributria, inserindo elementos inexatos, ou omitindo operao de qualquer natureza, em documento ou livro exigido pela lei fiscal; III. Fazer declarao falsa ou omitir declarao sobre rendas, bens ou fatos, ou empregar outra fraude, para eximir-se, total ou parcialmente, de pagamento de tributo; IV. Deixar de recolher, no prazo legal, valor de tributo ou de contribuio social, descontado ou cobrado, na qualidade de sujeito passivo de obrigao e que deveria recolher aos cofres pblicos; A rigor das transcries trazidas a exame, acima compiladas, considerando-se as atribuies e a responsabilidade dos profissionais contabilistas, e vista de que no raras vezes deixam de trilhar os caminhos da submisso legal; da tica e da transparncia, atropelando os princpios elementares que constituem a essncia de seus trabalhos, quando desprovidos dos referidos valores, respondem, talvez, quantitativamente, em maior grau de culpabilidade, no apenas pelo papel que exercem, mas, tambm e fundamentalmente, pelos ensinamentos que o mercado e a profisso possibilitam. Claro que os mecanismos de controles e fiscalizaes ainda esto aqum das necessidades prementes; mas tudo se apresenta cristalino, impulsionado, direcionado e ser apenas questo de tempo; conforme evidncias cotidianas manifestas por meio de aes dos rgos do Poder Pblico federal.

2.7 Lei do Sistema PrevidencirioA Lei n 8.212/91, que dispe sobre a organizao da seguridade social; institui o plano de custeio e d outras providncias, no art. 32, ao tratar da escriturao contbil determina que todas as empresas so obrigadas a lanar mensalmente em ttulos prprios de sua contabilidade, de forma discriminada, os fatos geradores das contribuies, o montante das quantias descontadas, as parcelas de contribuies da empresa e os totais que

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foram recolhidos. Por outro lado, o art. 231 do Decreto n 3.048/99, Regulamento da Previdncia Social, estabelece que prerrogativa do Ministrio da Previdncia e Assistncia Social; do Instituto Nacional do Seguro Social e ou da Secretaria da Receita Federal, o exame da contabilidade da empresa, que, desde j por si ou por seus prepostos, ficam obrigados a prestar todos os esclarecimentos e as informaes solicitadas. Em outro dispositivo, agora o art. 235 da mesma norma legal, viu-se que, se no exame da escriturao contbil e de qualquer outro documento da empresa, a fiscalizao constatar que a contabilidade no registra o movimento real da remunerao dos segurados a seu servio, da receita ou do faturamento e do lucro, esta ser desconsiderada, sendo apuradas e lanadas de ofcio as contribuies devidas, cabendo empresa o nus da prova negativa. Portanto, com base nas transcries trazidas a exame, fica robustamente demonstrado que tambm pelo lado da Previdncia Social, a exigncia da Contabilidade se apresenta inconteste, no havendo mais nada a ser acrescentado no sentido de se demonstrar os fundamentos que corroboram o vnculo obrigacional.

2.8 Responsabilidade do Contabilista pelo Cdigo CivilConforme disposto no art. 1.177 do Cdigo Civil Brasileiro, Lei n 10.406/02, o contabilista assumiu por fora daquele regramento responsabilidade pessoal e solidria perante terceiros, relativamente aos servios prestados. Significa dizer, que, enquanto responsvel pela escriturao mercantil, o contabilista responde pessoalmente perante o seu cliente, quando praticar com culpa; e, solidariamente com o cliente, perante terceiros, se comprovado que praticou com dolo, podendo, inclusive, responder com seus bens patrimoniais. Veja-se, portanto, que o profissional contabilista corre o risco de ser responsabilizado por ocorrncias ou operaes praticadas por seus clientes, as quais nem sempre so do conhecimento; especialmente pelo fato de que os empresrios insistem em no ver com a mesma viso do contador. Em outras palavras, significa dizer que, apesar de exaustivamente alertados, cobrados quanto transparncia operacional e submisso aos ditames legais, continuam relutantes em aceitar ou assumir as orientaes expendidas, como que a desafiar as autoridades fiscais ou ento sob o argumento de que, como muitos fazem assim ou assado, se no praticarem exatamente daquela mesma forma, no prosperam.

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No particular da LC n 123/06, combinado com o art. 12 da Resoluo CGSN n 4, no podem recolher os impostos e as contribuies na forma do Simples Nacional, entre outras vedaes, a ME e EPP: I. de cujo capital participe pessoa fsica que seja inscrita como empresrio ou scio de outra empresa que receba tratamento jurdico diferenciado nos termos da LC n 123/06, se a receita bruta global ultrapassar o limite estabelecido R$ 2.400.000,00; II. cujo titular ou scio participe com mais de 10% do capital de outra empresa no beneficiada pela LC n 123/06, desde que a receita bruta global ultrapasse o limite estabelecido R$ 2.400.000,00; III. cujo scio ou titular seja administrador ou equiparado de outra pessoa jurdica com fins lucrativos, desde que a receita bruta global ultrapasse o limite estabelecido R$ 2.400.000,00; IV. que participe do capital de outra pessoa jurdica; V. que tenha scio domiciliado no exterior; VI. que exera atividade de produo ou venda no atacado de bebidas alcolicas, bebidas tributadas pelo IPI com alquota especfica, cigarros, cigarrilhas, charutos, filtros para cigarros, armas de fogo, munies e plvoras, explosivos e detonantes; VII. que realize atividade de consultoria.

2.9 Declarao para Eximir-se da ResponsabilidadeApesar do acima compilado por transcrio parcial do art. 12 da Resoluo CGSN n 4/07, o fato verdadeiro que nem sempre o contabilista resta informado pelo empresrio-cliente, do que este fez ou pretende fazer. Portanto, para eximir-se das responsabilidades inerentes, considerando-se que: a) o scio de empresa enquadrada no Simples Nacional ingressa em outra sociedade e o contabilista acaba no sendo informado; b) o scio de empresa enquadrada no Simples Nacional acaba assumindo o cargo de administrador ou equiparado de outra pessoa jurdica com fins lucrativos e, novamente, o contabilista no informado; c) a empresa enquadrada no Simples Nacional, por deciso isolada dos scios, acaba participando do capital social de outra pessoa jurdica, sem que esta situao seja do conhecimento, mesmo porque a investida tem como contabilista outro profissional;

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d) em alguns municpios fronteirios, o scio de empresa enquadrada no Simples Nacional, ao resolver mudar sua residncia para o outro lado da rua, acaba fixando moradia em outro pas e, portanto, agora, domiciliado no exterior; e) no obstante o disposto no contrato social e suas alteraes, na prtica, a empresa enquadrada no Simples Nacional acaba exercendo total ou parcialmente atividades vedadas; f) finalmente, que, na prtica, impossvel ao contabilista, acompanhar e controlar para que seus clientes-empresrios observem, rigorosamente, as vedaes focalizadas, implicando dizer, que, em determinados casos, a empresa j estava excluda do Simples Nacional, todavia, continuou pagando impostos e contribuies como se nada de anormal acontecera, mesmo porque o responsvel pela contabilidade, primeiro, no trabalha to-somente para um cliente; segundo, no fora avisado sobre estas ou aquelas situaes impeditivas. importante e urgente rever as condies do contrato de prestao de servios e fazer as devidas adaptaes no sentido de se estabelecer um ponto de ruptura sobre as responsabilidades. Portanto, seja por clusula no contrato de prestao de servios ou por meio de termo de aditamento ao contrato ou, ento, por simples declarao dissociada daquele instrumento bsico, entende-se que o contabilista, com propsito nico de resguardar interesses prprios e eximir-se de responsabilidades descabidas, portanto inimputveis na forma descendente, deve procurar o cliente-empresrio a fim de que ele assine uma declarao assumindo as condies a seguir relacionadas: Declaro sob as penas da Lei, especialmente para fins do disposto no art. 3o, da LC n 123/06, alterada pela LC n 127/07, combinado o art. 12 da Resoluo CGSN n 4/07, que: I. no participo ou participarei do capital social de outra pessoa jurdica; II. a empresa da qual sou scio, enquadrada no Simples Nacional, no participar do quadro societrio de outra pessoa jurdica; III. no sou administrador ou equiparado de outra pessoa jurdica com fins lucrativos; IV. no resido e tampouco pretendo fixar residncia no exterior; V. no revendo ou pretendo revender produtos ou mercadorias de que trata o dispositivo que cuida das vedaes ao Simples Nacional;

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VI. envidarei esforos no sentido de impedir que os percentuais de que tratam os incisos IX e X do art. 29 da LC n 123/06 sejam extrapolados; VII. quando deliberar descumprir qualquer das alternativas acima, assumo o compromisso de comunicar imediatamente, por escrito, o Contador Fulano da Silva, sob pena de nada poder alegar ou reclamar oportunamente quanto a diferenas, multas, parcelas, pagamentos de impostos, contribuies e outros encargos devidos em decorrncia do enquadramento e eventual excluso do Simples Nacional; VIII. por reconhecimento da verdade e para que produza os jurdicos efeitos, firmo esta declarao na presena das testemunhas, em duas vias de igual teor e forma. importante observar, todavia, que a simples declarao conforme modelo acima focalizado no suporta o vnculo obrigacional entre os contabilistas e seus clientes-empresrios. Entretanto, a relao das atribuies e responsabilidades no conclusiva e, sim, extensiva. O modelo apresentado se presta para regular as particularidades nele inseridas, limitadamente a elas e nada mais. Significa dizer que o vnculo obrigacional entre contabilistas e seus clientes-empresrios supera quantitativamente aquele contexto, devendo, portanto, ser objeto de ajustes formal, conforme abordado no item seguinte.

2.10 Contrato de Prestao de Servios ProfissionaisO profissional contabilista ou a organizao contbil, conforme disposto na Resoluo CFC n 987/03, deve manter contrato de prestao de servios por escrito. Comporta observar que referido contrato constitui-se manifesto acordo de vontades entre as partes, destinado a estabelecer regramento de direitos e obrigaes recprocas em conformidade com a ordem jurdica. Tem a finalidade, superveniente de evidenciar e comprovar os limites e a extenso das atribuies e responsabilidades individuais, permitindo tranqilidade e segurana s partes no que se refere ao regular desempenho das obrigaes assumidas. Alguns captulos do Cdigo Civil Brasileiro merecem ateno especial por parte dos profissionais da contabilidade, notadamente em funo do art. 2.045, que revogou parte do Cdigo Comercial. Entre os pontos que comportam melhor avaliao, destacam-se as mudanas significativas reporta-

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das nos art. 1.177 e 1.178 da Lei n 10.406/02 que tratam da responsabilidade dos contabilistas enquanto prepostos perante os clientes-empresrios. Portanto, as responsabilidades devem ser bem definidas e delimitadas no contrato escrito, de forma a evitar controvrsias no relacionamento profissional entre as partes. No particular, vale dizer que o Cdigo de tica, em seu art. 6, aprovado pela Resoluo CFC n 803/96, prev que o valor dos servios deve ser fixado, previamente, sempre por contrato escrito. Por outro lado, a citada Resoluo CFC n 987/03 estabelece a necessidade do contrato de prestao de servios, com objetivos comprovao dos limites e a extenso da responsabilidade tcnica perante o cliente ou o empregador. O Regulamento Geral dos Conselhos de Contabilidade, aprovado pela Resoluo CFC n 960/03, tambm prev, no captulo relativo s infraes e s penalidades, que constitui infrao deixar de apresentar prova de contratao dos servios profissionais, quando exigida pelo CRC ou, ainda, quando for o caso, servir de contraprova em denncias de concorrncia desleal. Assim sendo, devem constar no contrato, pelo menos, os seguintes dados: identificao dos contratantes; relao textual dos servios que sero prestados; durao do contrato; clusula rescisria com a fixao de prazo para a assistncia, aps a denncia do contrato; honorrios profissionais; prazo para entrega dos documentos e tambm prazo para pagamento por parte da contratante; atribuies e responsabilidade individuais; alm, claro, da indicao de foro para equacionar eventuais conflitos decorrentes do referido contrato. O vnculo obrigacional formalmente estabelecido entre as partes se presta no apenas para evidenciar a relao profissional de tomadores e prestadores de servios, como tambm fundamental para fixar o ponto de ruptura, a partir do qual as responsabilidades so dissociadas. Significa dizer, portanto, que, inexistindo o contrato de prestao de servios profissionais, depois da vigncia da Lei n 10.406/02, mxime art. 1.177, o contabilista pode ser responsabilizado ilimitadamente pelos desmandos de seus clientes-empresrios. Assim, como o referido dispositivo fixou ao contabilista responsabilidade pessoal e solidria perante terceiros em relao aos servios prestados, parece correto concluir que somente por meio do contrato possvel fixar o ponto de segregao, a partir do qual as responsabilidades restam dissociadas.

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Leitura apurada do disposto no art. 1.177 e seguintes da Lei n 10.406/02 impe concluir que o contabilista, enquanto responsvel tcnico pela escriturao mercantil ou fiscal, responde pessoalmente perante o seu cliente quando praticar com culpa, e, solidariamente com o cliente, perante terceiros, se comprovado que praticou com dolo, podendo, inclusive, responder com seus bens patrimoniais.

2.11 tica Profissional: Origem dos Problemas da ClasseSegundo o dicionrio de sinnimos, 3 edio, v. Lisboa, tica Cincia dos costumes, parte da filosofia moral que trata dos deveres sociais do homem, dos ofcios ou obrigaes mtuas. Em outra definio, Brevirio de tica Jurdica, pg. 6, Ed. Rideel, Um conjunto de princpios que regem determinada profisso. Acompanhando abalizados conceitos, comporta dizer que o contabilista, no exerccio profissional, deve observar as regras de conduta previstas no Cdigo de tica Profissional do Contabilista, conforme Resoluo CFC n 803/96, a fim de manter o respeito da sociedade para com a sua profisso. O contabilista precisa adotar conduta profissional que garanta a execuo de seu trabalho dentro dos padres morais e ticos pertinentes. Verdadeiramente, se o contabilista exercer sua profisso com zelo, diligncia e submisso aos princpios, praticando sempre com transparncia e qualidade nas atribuies que lhes forem conferidas, certamente ter benefcios, reconhecimento da sociedade, valor e respeito prprios e ser prspero na sua empreitada profissional. Neste particular, considerando-se situaes vivenciadas ao longo dos tempos, um contrato de prestao de servios bem elaborado, com aspectos e atribuies definidas, se constitui na base propulsora da referida prosperidade, do crescimento pela postura, coerncia, respeito aos colegas e pela tica profissional. Todavia, na mesma proporo com que se fala da tica enquanto cincia dos costumes, preciso assumir que problemas e entraves dos contabilistas brasileiros decorrem exatamente pelo atropelo daquela. Com efeito, independente da categoria, todo profissional que no praticar com submisso os preceitos da tica acaba contaminando a classe da qual participa. preciso e urgente repensar sobre a tica enquanto sustentculo do crescimento profissional.

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3. IMPORTNCIA E UTILIDADE DA ESCRITURAO3.1 Os Pilares e a Essncia da EscrituraoA Contabilidade est para a empresa seja de grande ou pequeno porte na mesma importncia com que o plano de vo est para o piloto. Pilotar uma aeronave, independente do seu tamanho ou dos recursos aerovirios sem fazer plano de vo, corre-se o risco de pouso forado a qualquer momento e lugar; de conseqncias imprevisveis, podendo implicar apenas um grande susto aos passageiros, como tambm, a total destruio da aeronave, com a morte de todos os usurios. Essa a essncia da Contabilidade: processo, ferramenta, controles, demonstraes, ou seja, instrumentos de gesto empresarial. No Brasil, equivocadamente, com as excees, a escriturao mercantil e as atribuies do contador sempre estiveram associadas ao pagamento de impostos. Todavia, independente da forma de tributao adotada pela pessoa jurdica, a contabilidade, por meio das demonstraes, que posiciona o gestor como esto se portando os negcios; qual a rentabilidade; o grau de endividamento; o comportamento das contas a receber e a pagar; a capacidade de solvncia, antecipando por conta das informaes, causas, conseqncias, alternativas que se dispem para a correo dos desvios em relao aos planos estabelecidos. Quando se presta e contempla as atribuies, a Contabilidade cumpre a sua essncia enquanto cincia informativa. Portanto, correto afirmar que, quanto mais completo e transparente forem os registros da Contabilidade, mais eficientes sero os diagnsticos, as concluses, as causas. Tambm, se os relatrios forem analisados corretamente, muito mais fceis ser prescreverem-se sintomas, avaliaremse medidas, receitarem-se medicamentos. Os contabilistas, empresrios e usurios das informaes devem se posicionar em conjunto para o equacionamento das enfermidades, independente do volume dos negcios. Ratificando, a Contabilidade constitui processo, ferramenta, instrumento de gesto empresarial. Os pilares que constituem a essncia da contabilidade podem ser resumidos em: escriturao, princpios, transparncia, submisso s normas, qualidade nos servios e tica profissional. As concluses aqui expendidas se aplicam indistintamente s empresas tributadas pelo Lucro Real, Lucro Presumido, Lucro Arbitrado ou pelas regras do Simples Nacional, ainda que no caso desta ltima opo a pessoa jurdica tenha praticado escriturao simplificada.

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Conforme j destacado, o contabilista deve executar a escriturao contbil e elaborar as demonstraes contbeis da empresa contratante nos termos das disposies vigentes, mxime em atendimento ao disposto no art. 1.179 do Cdigo Civil Brasileiro, Lei n 10.406/02, segundo o qual, todo empresrio ou sociedade empresria est obrigado a adotar e a seguir um sistema de contabilidade. Deve, portanto, o contabilista, na condio de preposto do contratante, contribuir para que o cliente atenda ao princpio da legalidade, fixado no sentido de que ningum ser obrigado a fazer ou a deixar de fazer alguma coisa seno em virtude de lei, no lhe sendo permitido alegar desconhecimento. Como nesse particular o art. 1.180 do Cdigo Civil Brasileiro determinativo quanto obrigatoriedade da escriturao contbil, ainda que de forma simplificada, no apenas pelo lado do cliente-empresrio, como pela prpria submisso legal, o contabilista se acha vinculado a cumprir o regramento, at porque depende dos livros mercantis devidamente registrados na Junta Comercial ou Cartrio de Ttulos e Documentos, para constituio de provas perante terceiros e assim eximir-se de eventuais responsabilidades em demandas administrativas ou judiciais. Art. 1.180. Alm dos demais livros exigidos por lei, indispensvel o Dirio, que pode ser substitudo por fichas no caso de escriturao mecanizada ou eletrnica. Pargrafo nico. A adoo de fichas no dispensa o uso de livro apropriado para o lanamento do balano patrimonial e do de resultado econmico. Assim, a escriturao contbil exigncia estabelecida textualmente pela Lei n 10.406/02, arts. 1.179 e 1.180 no pode jamais ser confundida como mera escriturao fiscal, porquanto nesta os objetivos consistem atender as necessidades dos rgos fiscalizadores, uma vez que os agentes pblicos, nas suas atribuies funcionais, dependem dos registros para poder aferir e atestar como as obrigaes decorrentes das relaes tributrias que vinculam o sujeito ativo e passivo foram efetivamente satisfeitas. Logo, no h como confundir as duas escrituraes.

3.2 A Escriturao Simplificada Lei n 123/06A Lei Complementar n 123/06, batizada de Lei Geral das Microempresas e das Empresas de Pequeno Porte, no art. 27, assegura que as pessoas jurdicas enquadradas dentro das condies estabelecidas podem ado-

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tar contabilidade simplificada. Todavia, considerando que, por essncia da cincia, inexiste aquela figura, o Conselho Federal de Contabilidade, acolhendo o esprito do legislador, acabou ancorando o permissivo de uma escriturao contbil simplificada. Portanto, em vez de realizar contabilidade completa, as microempresas e as empresas de pequeno porte podem valer-se de sistema escritural de menor complexidade, mais prtico em termos operacionais. Seguindo-se na mesma norma legal, o art. 68, ao acolher o disposto pelo art. 970 da Lei n 10.406/02 estabeleceu, ainda, tratamento mais diferenciado ao pequeno empresrio entendido firma individual e somente ela, com receita bruta anual de at R$ 36 mil, que agora est dispensada de manter qualquer forma de escriturao contbil. Assim, leitura atenta aos dispositivos da LC n 123/06, combinada com o art. 1.179 do Cdigo Civil Brasileiro e outras disposies vigentes, com a ressalva do caso do pequeno empresrio de que trata o art. 970 da Lei n 10.406/02, corrobora a concluso sobre a obrigatoriedade da escriturao contbil. Todavia, preciso aceitar que muitas discusses afloram o cotidiano profissional sobre a obrigatoriedade, ou no, de as microempresas e das empresas de pequeno porte fazerem contabilidade, especialmente pelo fato de que, para fins de apurao dos tributos, o legislador apenas fixou a exigncia do livro de movimentao financeira, alm de outros meramente fiscais e que dispensam comentrios. Alguns defensores da desobrigao sustentam que a manuteno de livros contbeis representa burocracia fiscal e custo elevado; que a dispensa daquela obrigao estaria evidenciando tratamento diferenciado para as microempresas e pequenas empresas, entendendo e se posicionando no sentido que a contabilidade constitui empecilho, nus e exigncia impeditiva ao crescimento daquelas empresas. Todavia, conforme j fundamentado no mbito das esferas comerciais e do direito societrio ou falimentar, o panorama diferente: as empresas que no praticam contabilidade regular correm riscos de seus gestores serem responsabilizados por crimes de falncia fraudulenta, sonegao, crime contra a economia popular, concorrncia desleal, entre outros tipificados. Alm disso, a contabilidade regular constitui meio de proteo da sociedade para aferio quanto ao desempenho do empreendimento, sob o ponto de vista social, da gerao de empregos, da aplicao dos impostos arrecadados, da implantao dos projetos de expanso e da avaliao das taxas de

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retorno por parte de fornecedores, terceiros interessados e instituies que aportaram financiamentos. Por outro lado, sob a temtica da gesto empresarial, a Contabilidade oferece aos gestores, ferramenta indispensvel, com informao confivel para tomadas de decises, permitindo aes corretivas, projees, simulaes, bem como anlises e concluses para a correta consecuo dos planos de crescimento ou insero da empresa no cenrio do segmento econmico. A Contabilidade, por seu turno, se presta para a defesa dos interesses da empresa ou ento seus gestores, quanto aos atos praticados, s garantias oferecidas, aos contratos de longo prazo, bem como fazer prova contra terceiros, eventualmente demandantes em sentido contrrio. A contabilidade , sob determinados aspectos, necessria, oportuna e imprescindvel. Os registros e os assentos dos atos e dos fatos administrativos, suscetveis de avaliao financeira e patrimonial, a essncia da escriturao contbil. Logo, ao fazer a escriturao completa da entidade, o profissional contabilista est contribuindo para a correta apurao dos resultados da empresa. Esta escriturao regular, diga-se, obrigatria, deve estar revestida das formalidades legais e ainda ser processada a partir da observncia das Normas Brasileiras de Contabilidade. As normas oriundas do Conselho Federal de Contabilidade que tratam da escriturao contbil so chamadas NBC T. Entre tantas, vale destacar a NBC T 2, que prescreve os requisitos mnimos que devem ser observados. A partir do cumprimento desta NBC T, h como conseqncia da escriturao o Livro Dirio e o Livro Razo. O primeiro deve ser levado para registro na Junta Comercial ou no Cartrio de Ttulos e Documentos, conforme for o caso. O segundo fica como livro auxiliar, disposio da fiscalizao. O Livro Dirio, registrado, se presta para produo de provas contra terceiros, no comportando dvidas, exceto quando os lanamentos contemplem dolo ou m-f, relativamente aos assentos efetuados. O regramento acerca das providncias a cargo do contabilista quanto s demonstraes contbeis e vista das disposies do RIR/99, exige que sejam transcritas no Livro Dirio, pelo menos, as demonstraes I e III que seguem; j consignadas, neste particular, as alteraes realizadas pela Lei n 11.638/07: I. Balano Patrimonial; II. Demonstrao dos Lucros ou Prejuzos Acumulados; III. Demonstrao de Resultado do Exerccio;

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IV. Demonstrao dos Fluxos de Caixa; V. Demonstrao do Valor Adicionado; oportuno reavivar a necessidade de que as demonstraes contbeis precisam estar assinadas pelo contabilista e pelo administrador da empresa, no importando o enquadramento fiscal do contribuinte, o seu porte ou se a empresa , ou no, tributada por este ou aquele regime. Neste particular vale observar o que tambm determina o art. 1179 do Cdigo Civil. Portanto, quando se fala de escriturao contbil ou de Livro Dirio, trata-se da segurana do contabilista. Igualmente, conforme previsto no art. 1.078, inciso I, combinado com art. 1.075 e seus , do Cdigo Civil Brasileiro, as empresas devem apresentar anualmente para registro, na Junta Comercial ou no Cartrio de Ttulos e Documentos, ata de aprovao das suas contas, bem como apresentar para arquivo-cpia de tais demonstraes contbeis no mesmo rgo, independente da tipicidade jurdica, ressalvado a ME ou EPP. Consubstanciado no regramento focalizado, comporta indagar, qual seria a pretenso do legislador, ao impor referidas exigncias? Por presuno, pode-se concluir que o legislador objetivou por maior transparncia e maior clareza para os scios minoritrios. Portanto, se assim no restar praticado pelas empresas, no teriam eles, talvez, acesso s informaes, aos livros e aos demais documentos contbeis.

3.3 O Mercado Internacional e as MEs e EPPs BrasileirasOutra grande importncia da contabilidade, ainda que de forma simplificada, est materializada no fato de que o Mercosul e as necessidades de convergncia das demonstraes contbeis para Normas Internacionais sobre Contabilidade esto presentes e indissociveis. As microempresas e as empresas de pequeno porte tm sido objeto da ateno por outros pases, especialmente no contexto do MERCOSUL. Portanto, o modelo de desenvolvimento das naes integrantes passa, necessariamente, pelo apoio ao crescimento e ao incremento das transaes dessas empresas com outras corporaes, inclusive com grandes multinacionais. A poltica de apoio s MEs e EPPs, cujo assunto no novo, e at porque nos seus respectivos pases elas tambm so responsveis pela gerao de mais de 60% dos empregos, pelo recolhimento de impostos e gerao de divisas. O Brasil, atento a esta dinmica evolutiva, instituiu o Comit de Pronunciamentos Contbeis, que, entre outras atribuies, possui a incum-

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bncia de harmonizar as prticas contbeis aos padres internacionais, no sentido de proporcionar instrumentos que possam refletir demonstraes contbeis de ou para outros pases, possibilitando informaes para potenciais investidores, sejam eles nacionais ou internacionais. Esta uma tarefa difcil, que ir requerer grandes esforos dos profissionais contbeis e tambm dos governantes. Atualmente 107 pases adotam o padro internacional, cujas normas so editadas pelo International Standards Board (IASB). No Brasil, a expectativa que nos prximos anos seja conduzido o processo de convergncia das Demonstraes Contbeis, que ir inserir o pas na lista de usurios do International Financial Reporting Standards (IFRS). A criao do Comit de Pronunciamentos Contbeis, pela Resoluo CFC n 1.055/05, pode ser considerada uma das aes mais efetivas no particular. Alm do CFC, o CPC integrado, ainda, pela Associao Brasileira das Companhias Abertas (Abrasca); pela Associao dos Analistas Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (Apimec); Fundao Instituto de Pesquisas Contbeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi); Bolsa de Valores de So Paulo (Bovespa) e pelo IBRACON Instituto dos Auditores Independentes do Brasil. Apesar dos avanos, ainda h muito a ser feito para que as demonstraes contbeis brasileiras alcancem um padro internacional. Existem estudos avanados sobre a temtica e aqui, por enquanto, no comporta comentrios. O que se pretende destacar que fora do Brasil a contabilidade muito valorizada e indispensvel, e ningum discute l sua importncia ou necessidade. Se os empresrios brasileiros pretendem ingressar no mundo dos negcios globalizados e se efetivamente pretendem assumir postura expansionista, precisam, desde j, ficar advertidos sobre a essncia da contabilidade.

3.4 Livros Fiscais Exigidos de ME e EPPConforme disposto na Lei Complementar n 123/06, no Regulamento do Imposto de Renda e nas Resolues do Comit Gestor do Simples Nacional, as empresas enquadradas como ME e EPP devem manter em boa ordem os documentos que embasam os clculos dos tributos e contribuies, ainda que adote escriturao simplificada, a fim de permitir a correta aferio dos recolhimentos realizados a ttulo de Simples Nacional e, entre os livros obrigatrios, destacam-se:

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I. Livro de Registro de Entradas; II. Livro de Servios Prestados; III. Livro de Servios Tomados; IV. Livro de Movimentao Financeira; V. Livro de Inventrio. Assim sendo, para fins de apuraes fiscais, as MEs e as EPPs no precisam apresentar o Livro Dirio ou o Livro Razo. Entretanto, os livros fiscais devem ser escriturados e mantidos disposio da fiscalizao pelo prazo decadencial fixado para atendimento das necessidades prescritas pelo legislador. Todavia, referidas empresas no esto dispensadas da escriturao mercantil, conforme regramento determinativo da Lei n 10.406/02. Tambm, ressalte-se que o Livro de Movimentao Financeira no pode ser confundido com Livro Caixa; haja vista que este se refere apenas a recebimentos e a pagamentos efetuados, enquanto o livro anterior exige a escriturao com toda a movimentao financeira verificada, inclusive a bancria. Note-se que a exigncia de escriturao fiscal no se restringe aos ingressos de recursos, mas tambm alcana pagamentos efetuados com despesas e custos que decorram da atividade empresarial, tais como compras de mercadorias ou servios tomados. Certamente essas exigncias tm um propsito: acompanhar o desempenho das despesas e custos, em face dos recursos declarados. Ora, se a legislao fiscal requer informes detalhados sobre os ingressos e as sadas de recursos, claro que o legislador desejou saber o resultado do negcio do contribuinte, analisando sua capacidade de pagamento e a forma como se comporta em termos de caixa.

3.5 Contabilidade uma Cincia FuncionalAo longo das exposies procurou-se demonstrar que o vnculo obrigacional em torno da contabilidade contempla simultaneamente empresrios, contabilistas e agentes fiscais, medida que todos mantm responsabilidades por fora de normas legais especficas. Os empresrios esto obrigados ao disposto nos arts. 1.179 e 1.180 do CCB, que tambm vincula o profissional contabilista no apenas por atribuies intrnsecas dos mesmos dispositivos, como especialmente por contrato de prestao de servios, alm de legislaes supervenientes. Nesse trip, os agentes fiscais, que possuem responsabilidades funcionais nos servios pblicos, tambm

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dependem da escriturao contbil e fiscal para poder cumprir o que a legislao lhes impe enquanto servidores pblicos. Portanto, a contabilidade cumpre sua funo quando, por meio dos registros, livros e demonstraes pertinentes permite que o vnculo obrigacional que une empresrios, contabilistas e agentes fiscais reste satisfeito nas atribuies, nas particularidades e nas responsabilidades individuais.

3.6 Controle dos Limites da Lei GeralAs empresas que possuem escriturao contbil regular podem demonstrar as receitas segregadas por atividades, bem como controlar com preciso os limites estabelecidos para as MEs e EPPs, no que se refere aos pagamentos de despesas, aquisies de mercadorias ou ingressos de recursos, conforme regramento contido nos incisos IX e X do art. 29 da LC n 123/06, que focaliza os casos de excluses do Simples Nacional, quando a empresa extrapolar os padres fixados. Observe: IX for constatado que durante o ano-calendrio o valor das despesas pagas supera em 20% o valor de ingressos de recursos no mesmo perodo, excludo o ano de incio de atividade. Neste inciso, o legislador estabeleceu que, se as despesas pagas durante o ano-calendrio forem mais que 20% do total de ingressos financeiros, materializam uma hiptese de excluso. Para efeito desse clculo, devem ser computadas as despesas operacionais e no-operacionais no-inclusas nos custos dos produtos, das mercadorias ou dos servios vendidos. Por despesas deve ser entendido: despesas comerciais, administrativas, financeiras e gerais. No que se refere ao total de ingressos para fins dos mesmos clculos devem ser consideradas as entradas de recursos decorrentes de vendas, recebimentos, emprstimos financeiros, aporte de capital, adiantamentos pessoais e outras no especificadas. Apesar da orientao relativamente ao disposto no inciso IX acima entende-se que a inteno do legislador foi a de considerar como ingressos to-somente os recursos inclusos no conceito de receita bruta; implicando dizer que cada contabilista precisa avaliar as particularidades de seus clientes. X for constatado que durante o ano-calendrio o valor das aquisies de mercadorias para comercializao ou industrializao, ressalvadas as hipteses justificadas de aumento de estoque, for supe-

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rior a 80% dos ingressos de recursos no mesmo perodo, excludo o ano de incio de atividades. No caso do inciso examinado, o legislador estabeleceu que, se durante o ano-calendario, as compras para industrializao ou comercializao forem mais que 80% do total de ingressos financeiros no perodo, observada a excluso no caso do inciso IX para materializar outra hiptese de excluso. Novamente, no que se refere ao total de ingressos para fins dos mesmos clculos, devem ser consideradas as entradas decorrentes das vendas, dos recebimentos, dos emprstimos financeiros, do aporte de capital, dos adiantamentos pessoais e de outras no-especificadas. Igualmente, no obstante a orientao externada quanto ao disposto no inciso X acima compilado, renova-se o entendimento de que a inteno do legislador talvez fora considerar como ingressos somente os recursos inclusos no conceito de receita bruta, impondo reconhecer, portanto, que cada contabilista precisa avaliar as particularidades dos clientes. Demonstrado, agora, a rigor dos incisos IX e X do art. 29 da LC n 123/06, que a escriturao contbil, quando corretamente realizada por sua exatido e detalhes das informaes decorrentes, se presta para ancorar concluses sobre apurao dos respectivos limites, o que neste caso constitui ferramenta de grande valia. Alis, em termos de ferramentas e informaes, no se pode negar que o Brasil vem avanando sobremaneira na integrao dos controles fiscais. Portanto, cabe ao contabilista sistemtica preparao para atender evoluo tecnolgica que vem sendo anunciada por autoridades governamentais. Em verdade, o Sistema Pblico de Escriturao Digital (SPED) aguardado com ansiedade e preocupao, haja vista que o processo da escriturao fiscal dever acolher por meio de nico aplicativo eletrnico tanto a nota fiscal quanto os livros fiscais que, integrados contabilidade, se prestam para consolidar, em tempo real, significativas informaes sobre bases de clculo e recolhimentos tributrios, aumentando a eficincia dos controles governamentais, com reflexos e implicaes sobre os contabilistas, as empresas e, por conseguinte, a sociedade em geral. O Sistema Pblico de Escriturao Digital constitui aplicativo de soluo tecnolgica que oficializa arquivos digitais das escrituraes fiscal e contbil dos sistemas operados pelos contabilistas dentro de formato especfico. Na prtica, o SPED pode ser entendido como um software que ser disponibilizado pela Receita Federal para todas as empresas e seus

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contabilistas, para que mantenham e encaminhem aos rgos credenciados informaes de natureza previdenciria, contbil e tributria, bem como emisso de notas fiscais e escriturao dos livros fiscais articuladas a partir daquela escriturao eletrnica. Portanto, o contabilista e seus clientes podem validar referidos arquivos, assinar digitalmente quaisquer documentos, visualizar o seu contedo e transmitir eletronicamente os dados e as informaes para diferentes rgos de fiscalizao ou para reas especificadas nos diversos nveis de governo. A possibilidade de se operar aplicativo eminentemente digital, eliminando rea operacional engessada, papis sem utilidade prtica, cumulado com o processo da certificao digital, criada pela MP n 2.200-2/01, evidencia que a contabilidade dever provocar uma nova sistemtica operativa que garanta autenticidade, integridade e validade jurdica dos documentos pertinentes. Finalizando, o objetivo do projeto se baseia na integrao das entidades, no cumprimento das informaes fiscais, federal, estaduais e, posteriormente, municipais, por meio da padronizao, da racionalizao e do compartilhamento das informaes contbil e fiscal digital. Alm disso, o SPED visa integrar todo o processo relativo s notas fiscais, implicando dizer, talvez, novos custos com processamento e encargos por conta das obrigaes acessrias decorrentes no obstante os benefcios. A funo do SPED consiste em analisar, acolher, avaliar ou propor iniciativas com resolues conjuntas, criando ambientes especficos, aprovando metodologia corrente com implantao e efetivao dos pilares de sustentao: Nota Fiscal Eletrnica; Escriturao Fiscal Eletrnica e Contabilidade Eletrnica. Contabilistas, contribuintes e autoridades tributrias sero os grandes beneficiados com esta nova realidade operacional, medida que as relaes sero pontuais, com mudanas acentuadas na sistemtica vigente.

3.7 Controle dos Lucros e ResultadosO art. 14, 1, da LC n 123/06, considera os valores efetivamente pagos ou distribudos ao titular ou scio da microempresa ou empresa de pequeno porte, quantificados por presuno dos lucros menos o imposto pago, relativamente parcela do imposto de renda devido nos termos do Simples Nacional, isentos do IRF e tambm na declarao anual de ajuste. J o 2 do mesmo regramento prescreve que no se aplica o disposto no

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art. 14, 1, da LC n 123/06, caso a pessoa jurdica mantenha escriturao contbil regular de forma a evidenciar lucro efetivo superior quele limite. Portanto, todo o lucro apurado pela escriturao contbil pode ser distribudo aos scios com iseno do imposto de renda na fonte e tambm na declarao anual de ajuste da pessoa fsica beneficiada. Logo, esta mais uma vantagem em favor de microempresas e empresas de pequeno porte sempre que adotarem escriturao contbil, ainda que simplificada, e desde que processadas com submisso a princpios e preceitos legais, o controle dos resultados se apresenta absolutamente perfeito tipicidade, possibilitando assim o permissivo da distribuio dos lucros, com ligeira diminuio da carga tributria. Todavia, no se deve afastar o que preceitua o art. 1.009 do Cdigo Civil, especificamente no que concerne aos lucros distribudos, in verbis: Art. 1.009. A distribuio de lucros ilcitos ou fictcios acarreta responsabilidade solidria dos administradores que a realizarem e dos scios que os receberem, conhecendo ou devendo conhecer-lhes a ilegitimidade. Assim sendo, foroso concluir que, dissociado da contabilidade, como comprovar a efetiva apurao dos resultados anuais para fins de impedir a distribuio de valores aos scios lucros ilegais ou ento fictcios desrespeitando dessa forma o art. 1.009 do Cdigo Civil Brasileiro? Fora da contabilidade, todas as distribuies realizadas ou so ilegais ou so fictcias, concluram os profissionais que analisaram o assunto.

3.8 Contabilidade a Servio da Gesto EmpresarialO processo da escriturao avana, ganha novos contextos e se constitui, em algumas corporaes, ferramenta de gesto indissocivel da rea financeira. A contabilidade gerencial um sistema de informaes financeiras e operacionais empregado para mensurar, avaliar e posicionar investimentos e resultados empresariais, fornecendo orientaes para tabulao do fluxo de caixa, planejamento, controles e tomadas de deciso. Sob este prisma, a escriturao contbil, mesmo quando simplificada, se presta para posicionar informaes prprias da contabilidade gerencial, com reflexos positivos nas interaes dos planos, das execues e dos controles corporativos.

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Logo, considerando estes aspectos, a Contabilidade importante para: I. apurao do custo dos produtos, das mercadorias e dos servios vendidos; II. formao dos preos de venda; III. estabelecer necessidades de capital de giro; IV. apurao de indicadores econmicos e financeiros; V. planejamento empresarial ou fiscal para a empresa; VI. eficincia e segurana nas tomadas de deciso.

3.9 Funes Especiais da ContabilidadeResumindo, todo o exposto tem a finalidade nica de justificar a obrigatoriedade da contabilidade nas empresas, independente do porte ou da opo de tributao da pessoa jurdica, ainda que executada sob a forma de escriturao simplificada, no obstante as razes e as normas que amparam referida exigncia, mxime a temtica da gesto empresarial, outras necessidades corporativas se prestam para evidenciar a importncia daquela providncia. Com efeito, somente por meio da escriturao contbil que a empresa est habilitada para enfrentar ou transpor situaes pontuais: 3.9.1 Na Concordata Se a empresa enfrenta dificuldades financeiras, encontra no Poder Judicirio, por meio de medida apropriada, o direito de apresentar plano de recuperao operacional. Porm, um dos principais requisitos para a obteno desse benefcio que se apresentem, em juzo, Balano Patrimonial, Demonstrativos de Resultados Acumulados, Demonstrativo de Resultados desde o ltimo exerccio social e Relatrio Gerencial dos Fluxos de Caixa e sua projeo. 3.9.2 Na Falncia A mesma norma jurdica que trata do instituto da recuperao judicial ou extrajudicial das empresas, Lei n 11.101/05, prescreve que, para que a falncia no seja considerada fraudulenta, a empresa precisa demonstrar por meio dos livros mercantis e dos documentos que do suporte aos lanamentos que suas operaes guardam conformidade com os preceitos da legislao de regncia, sob pena de implicaes e sanes aos scios, administradores e prepostos vinculados. 3.9.3 Na Percia Judicial Principalmente em relao a questes trabalhistas, a empresa que estiver desprovida de escriturao

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contbil revestida das formalidades, fica em situao de grande vulnerabilidade ftica diante da necessidade de comprovar, cabalmente, o cumprimento das obrigaes inerentes rea. O nus da prova recai sempre contra a figura da pessoa jurdica, que a faz mediante a constatao dos assentos feitos na contabilidade, especialmente por meio do Livro Dirio. Na Dissidncia Societria As sociedades no restam contratadas para um cenrio de divergncias ou intrigas, todavia, se porventura aquelas venham ocorrer na relao entre os scios da empresa, no caso de dissidncia societria, certamente precisaro fazer uso de percias tcnicas para apurao dos direitos individuais ou responsabilidades em relao aos fatos suscitados. A ausncia da escriturao contbil motivo para inviabilizar melhores concluses acerca do patrimnio lquido pertencente empresa, objeto de partilha entre os scios, impedindo que os trabalhos periciais se direcionem sobre direitos e obrigaes. Na Fiscalizao da Previdncia A legislao previdenciria exige expressamente que as empresas mantenham uma escriturao contbil, sob pena de arbitramento, com reflexos negativos aos administradores e gestores financeiros. No Crime Tributrio A Lei n 8.137/90 relaciona as hipteses nas quais se materializam os chamados crimes contra a ordem tributria e, neste particular, restou evidenciado no apenas a importncia, como tambm a necessidade da existncia de escriturao contbil, cumulado com outras providncias, a fim de que os profissionais da contabilidade sejam apartados, ou seja, dissociados das prticas fraudulentas. Na Distribuio de Lucros Segundo contemplado no art. 1.009 do CCB, aprovado pela Lei n 10.406/02, a distribuio de lucros ilcitos ou fictcios acarreta responsabilidade solidria dos administradores que a realizem e dos scios que os receberem, conhecendo ou devendo conhecer-lhes a ilegitimidade, regramento que somente cumprido se a empresa dispuser de contabilidade revestida das formalidades, ainda que mediante escriturao simplificada. Na Informao Gerencial Os empresrios ou os usurios das informaes dependem do posicionamento das demonstraes contbeis s tomadas de decises. A contabilidade, quando re-

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gular, oferece dados formais, cientficos e universais que permitem atender s necessidades. 3.9.9 Na Globalizao da Economia Com a expanso dos negcios e ainda a globalizao da economia, as informaes contbeis, alm de subsidiarem a gesto financeira e econmica, no apenas se prestam para exigncias internas, como tambm podem balizar transaes internacionais. 3.9.10 Na Orientao Estratgica A deciso de investir, reduzir custos, modificar linha de produtos ou de praticar outros atos gerenciais deve se basear em informaes econmicas, cenrios e dados tcnicos extrados dos registros contbeis, sob pena de naufrgio corporativo, com riscos ao patrimnio dos scios- investidores. 3.9.11 Na Avaliao Social A falta de escriturao contbil uma das principais dificuldades para se avaliar uma economia, o que distorce as estatsticas tabuladas. No Brasil, como em qualquer outra nao, desconhecer a realidade econmica pode gerar decises completamente dissociadas das necessidades empresariais e da sociedade em geral e, certamente, tem causado transtornos avaliativos ao Pas.

3.10 Demonstraes que Ancoram FinanciamentosA escriturao contbil e o levantamento das demonstraes contbeis so providncias de suma importncia e utilidade para os contabilistas, as empresas, os seus scios e a sociedade em geral, especialmente para as instituies financeiras e os servidores pblicos, conforme anteriormente exposto. Mesmo que j demonstrado exaustivamente sob ttulo prprio, observe adicionalmente, como a contabilidade cumpre sua funo na exata medida em que auxilia empresrios, profissionais da rea e usurios das demonstraes contbeis: Instituies ou Agentes Financeiros Aqui a escriturao contbil assume papel determinante, porquanto se presta para evidenciar a situao econmico-patrimonial real da empresa, instruindo e orientando com segurana, por exemplo, em solicitao de financiamento para capital de giro ou inverses fixas. A anlise de Balanos Patrimoniais sucessivos permite estabelecer os indicadores econmicos e

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financeiros, o comportamento dos negcios, a evoluo patrimonial corporativa e ainda, se, historicamente, existem vetores que acenam para risco ou retorno das aplicaes financeiras. Os registros mercantis e as informaes contidas nas demonstraes que so emitidas a partir da contabilidade tornam-se importantes para, entre outros aspectos, analisar as causas que levam grande nmero de microempresas e empresas de pequeno porte a fecharem suas portas prematuramente. Finalmente, conclui-se ento de forma irrefutvel que a escriturao contbil completa ou simplificada, incontestavelmente necessria empresa de qualquer porte ou natureza, independente da sistemtica de tributao da pessoa jurdica, como principal instrumento de defesa, controle e gesto do seu patrimnio.

4. TRIBUTAO DAS PESSOAS JURDICASNo Brasil, conforme faculta a legislao vigente, as pessoas jurdicas podem ser tributadas por opes diferentes, segundo melhor convenincia, seja para contemplar menor desembolso tributrio, ou ento, para contornar dificuldades na base documental. Assim sendo, no que se refere tributao dos resultados decorrentes das atividades econmicas, as empresas podem pagar o Imposto de Renda de Pessoa Jurdica (IRPJ) e a Contribuio Social sobre Lucro Lquido (CSLL) com base: a) no Lucro Real; b) no Lucro Presumido; c) no Lucro Arbitrado ou d) atravs de processo simplificado, este ltimo regulado por fora da LC n 123/06.

4.1 Conceitos sobre as Diferentes AlternativasExistem aspectos e particularidades de cada uma das diferentes opes, focalizadas exclusivamente com objetivos de possibilitar um cenrio de posicionamento desprovido de qualquer pretenso relativamente ao tratamento que vem sendo adotado pelos profissionais contabilistas.

4.1.1 Lucro RealO lucro real um conceito fiscal e no um conceito econmico. No conceito econmico, o lucro o resultado positivo entre a soma algbrica da receita bruta das vendas de bens ou servios, deduzidos das devolues,

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dos tributos incidentes sobre as vendas e tambm dos custos e despesas operacionais pertinentes. Referido resultado, quando positivo, chamado lucro operacional e, quando negativo, denominado prejuzo operacional. A esse resultado lucro ou prejuzo operacional deve ser adicionado ou deduzido conforme ocorrncia, o resultado positivo ou negativo das receitas e despesas no-operacionais, determinando-se assim o resultado do perodo, antes do IRPJ e da CSLL, chamado tambm Lucro Antes do Imposto de Renda (LAIR). Diminuindo-se do resultado LAIR as parcelas devidas a ttulo exatamente de IRJP e CSLL nos termos e percentuais vigentes, encontra-se aqui o lucro lquido. Comporta destacar que a legislao do Imposto de Renda, consolidada no Decreto n 3.000/79, denomina esse resultado contbil e, portanto, econmico, de lucro lquido do exerccio, fato que, todavia, contraria disposies da Lei das Sociedades Annimas, que o regramento bsico para fins das demonstraes contbeis emitidas pela contabilidade naquele cenrio. Portanto, de acordo com a legislao comercial, cujo ordenamento bsico a Lei das Sociedades por Aes Lei n 6.404/76 com as alteraes da Lei n 11.638/07, o lucro lquido apurado deduzindo-se do resultado do perodo as provises pertinentes ao IRPJ e CSLL. Logo, foroso concluir, neste particular, que o lucro lquido o residual remanescente disposio da assemblia de scios ou de acionistas para deliberarem sobre sua destinao. O lucro real, conforme textualmente preceituado no art. 247 RIR, o lucro contbil, agora, antes do IRPJ e da CSLL do perodo de apurao, ajustado pelas adies e pelas excluses prescritas na lei de regncia. Ainda, nos termos do mesmo RIR, esse lucro ajustado base de clculo para a compensao de prejuzos f