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ESCREVAMAIS EMELHORLIVRO 125 DICAS E EXERCÍCIOS PRÁTICOS PARA ESCRITORESDE FICÇÃO
ESCREVA MAIS E
MELHOR 25 DICAS E EXERCÍCIOS PRÁTICOS
PARA ESCRITORES DE FICÇÃO
LIVRO 1: Encontre ideias e desenvolva um processo de criação
DIEGO SCHUTT 1ª Edição - Dezembro 2018
Edição, revisão e design da capa: Diego Schutt
Dedico este livro a você que,
apesar da ansiedade e incerteza inerentes
a todo processo de criação,
segue mergulhando dentro de si mesmo
em busca de algo de valor
para compartilhar com o mundo.
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SOBRE O AUTOR
Diego Schutt combina ideias de teoria literária, dramaturgia e psicologia social para
ajudar escritores iniciantes e experientes a desenvolver textos com mais confiança,
foco e impacto.
Sua formação técnica em escrita criativa inclui cursos e oficinas no Brasil, Austrália,
Suíça, Estados Unidos, Alemanha, Inglaterra e Japão.
Há nove anos, ele escreve e edita o Ficção em Tópicos (www.ficcaoemtopicos.com), o
site mais completo sobre a arte de contar histórias em Português.
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DIREITOS AUTORAIS
Todos os direitos deste livro são reservados ao autor Diego Schutt. Você não tem
permissão para vender, copiar, distribuir, compartilhar ou reproduzir o conteúdo deste
livro em nenhum meio de distribuição impresso ou eletrônico sem a autorização formal
do autor. Qualquer violação dos direitos autorais estará sujeita a ações legais.
SUA AJUDA É BEM-VINDA
Este livro foi revisado com carinho e atenção incontáveis vezes, mas alguns erros
sempre passam despercebidos. Encontrou um erro de gramática ou digitação? Entre
em contato pelo [email protected].
VALE A PENA LER DE NOVO
Este livro reúne vários textos originalmente publicados na série de 100 dicas para
escrever mais e melhor do Ficção em Tópicos. Os textos foram revisados, editados e
reorganizados para que você possa usá-los como uma oficina de escrita criativa. A
novidade é que cada dica traz uma proposta de exercício para você experimentar na
prática as técnicas apresentadas.
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ÍNDICE
Você tem talento para escrever? 8
Transforme pensamentos em palavras 11
Procure ideias originais longe do computador 13
Inspire-se antes de começar a escrever 15
Estimule sua criatividade com exercícios físicos 17
Anote todas as ideias que cruzarem seu caminho 19
Registre tanto boas ideias quanto clichês 21
Comece praticando a escrita de textos curtos 23
Use lápis e papel para desenvolver suas ideias 25
Confie na sua intuição quando escrever 27
Evite interrupções enquanto escreve 29
Desconfie dos seus momentos de inspiração 31
Separe o processo de criação e de edição 33
Aprenda a provocar emoções usando contexto 35
Vista as sensações dos seus personagens 37
Aprenda a informar, entreter e inspirar 39
Escreva vários textos simultaneamente 41
Boas ideias não garantem boas histórias 43
Desenvolver ideias exige tempo e esforço 45
Nem toda narrativa de ficção conta uma história 47
Escrever histórias exige habilidades dramáticas 49
Evite a síndrome do escritor incompreendido 51
Estude os textos dos seus escritores favoritos 53
Não compare seus textos aos dos seus ídolos 55
Decida entre escrever livros ou ser escritor 57
Escreva sobre temas importantes para você 59
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Introdução
VOCÊ TEM TALENTO PARA ESCREVER?
Do momento em que reconheci meu gosto pela escrita, me fiz a seguinte pergunta
centenas de vezes: Será que tenho talento para escrever? Antes de encontrar uma
resposta, precisei investigar o que estava por trás da própria pergunta.
Esse questionamento revela minha ansiedade diante da incerteza sobre
que parâmetros devo considerar para avaliar minhas habilidades de escritor. Se meus
amigos afirmam gostar do que escrevo, isso é sinal de que realmente tenho
aptidão com as palavras? Se outros escritores apreciam minhas narrativas, significa
que eles reconheceram meu talento? Se o instrutor de uma oficina de escrita criativa
mostra entusiasmo pelos meus textos, isso é prova irrefutável do meu dom?
Ou é preciso que uma editora mostre interesse em publicar meu livro para que eu
possa me assegurar de que escrevo bem? Ou quem sabe somente quando meu livro
vender centenas de cópias poderei ter certeza sobre meu talento? Ou será que vender
centenas de cópias não é suficiente, e meu livro precisa se tornar um bestseller para eu
me considerar talentoso?
Mas um único bestseller é suficiente, ou preciso escrever vários livros de sucesso para
provar que tenho talento e não sou escritor de um livro só? Ou será que preciso ser
reconhecido pela crítica e por escritores de círculos literários para ter essa validação? A
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opinião de outras pessoas é realmente importante ou, se estou satisfeito com os textos
que escrevo, posso me considerar talentoso?
Caso eu descubra que tenho talento, o que isso significa? Estarei qualificado para
decidir que outras pessoas também são talentosas? Se eu descobrir que não tenho
talento, devo desistir de ser escritor? Essas perguntas são difíceis de responder porque
existem diversas definições para talento e opiniões divergentes sobre quem está
autorizado a determinar quem é talentoso e quem não é.
Depois de pensar muito sobre tudo isso, hoje acredito que o mais importante é
encontrar minha própria definição de talento, com base nas qualidades que reconheço
nas minhas histórias favoritas, e que também desejo reconhecer nos meus próprios
textos.
Para mim, um escritor talentoso consegue expressar com sensibilidade e clareza a
forma peculiar como enxerga e interpreta o mundo e as pessoas. Esse escritor observa
tudo com olhos curiosos e atentos. Ele consegue captar pequenos movimentos de
grande significado, condensar décadas em algumas poucas frases e expandir um
segundo ao longo de várias páginas.
Ele não se contenta com conclusões superficiais e busca sempre um entendimento
mais profundo sobre as coisas. Ele olha para tudo ao seu redor aberto para descobrir
novas perspectivas. Ele está em busca da verdade escondida por trás do estereótipo e
do senso comum. Ele levanta perguntas que direcionam a imaginação do leitor para
considerar ideias pouco exploradas, sem a pretensão de encontrar uma única resposta
certa.
Esse escritor tem sensibilidade para reconhecer os pensamentos que estava tentando
expressar enquanto escrevia os primeiros rascunhos de uma narrativa. Ele também tem
um olhar aguçado para identificar o que precisa ser refinado no texto para
expressar com mais clareza a ideia que o motivou a escrever.
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Essa preocupação com clareza é reflexo do desejo de estabelecer um diálogo com
quem lê seus textos. Isso não significa mastigar suas ideias e entregá-las prontas para o
leitor engolir. A clareza a que me refiro é a consciência sobre a função de cada parte
da narrativa para expressar a beleza ou a importância das informações que o escritor
decidiu compartilhar.
Esse escritor sabe que todo texto é uma promessa de que suas palavras estão
registrando algo relevante, bonito, poético, curioso, engraçado, aterrorizante,
interessante, provocador, excitante ou emocionante. Por isso, suas escolhas estilísticas
focam em evocar os pensamentos e emoções que melhor representam a história e a
experiência de leitura que ele deseja criar.
Esse escritor convida, não intimida. Ele consegue desapegar do seu ego e escrever
histórias para expressar a forma particular como ele interpreta a vida, não para exibir
domínio técnico, impressionar o leitor, ou tentar provar sua inteligência.
Com base nesses critérios, sou um escritor talentoso? Considerando que, por
definição, talento é uma facilidade natural para fazer alguma coisa, a resposta é
não. Mas pelo menos agora sei quais habilidades preciso desenvolver para me tornar
esse escritor.
As vinte e cinco dicas e exercícios deste livro servem como um guia para identificar
que habilidades você precisa desenvolver para se tornar o escritor que deseja ser,
refinar seu processo de criação de histórias e escrever com mais autenticidade,
confiança e impacto.
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Dica 1
TRANSFORME PENSAMENTOS EM PALAVRAS
A não ser que você tenha descoberto uma fonte de iluminação divina, inspiração
infinita ou técnicas infalíveis, não existe outra forma de melhorar seus textos a não ser
escrevendo regularmente. Escrever é, fundamentalmente, transformar pensamentos
abstratos em sequências de palavras. Essa é a primeira habilidade que um aspirante a
escritor precisa desenvolver.
Você não precisa produzir textos que vão mudar o mundo ou reinventar a literatura.
Comece simplesmente com a intenção de registrar a primeira ideia ou inspiração que
motivou você a sentar para escrever. Pode ser a trama de uma história, os
pensamentos de um personagem, a descrição de um cenário, o início de um diálogo,
o final de uma cena, divagações sobre um tema que você deseja investigar, ou mesmo
associações livres a uma palavra aleatória.
Nesse primeiro momento, não se preocupe com originalidade, lógica, coerência,
ortografia ou gramática. Se concentre em plantar suas ideias na página em branco e,
aos poucos, você vai perceber que elas naturalmente começarão a apontar para uma
determinada direção, dando pistas da história que você quer contar.
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COLOQUE EM PRÁTICA
Escolha uma palavra aleatória e escreva tudo o que vier à mente por, no mínimo, vinte
minutos ininterruptos. Não se preocupe com coerência, linearidade ou com a
qualidade do texto. Foque em registrar o maior número de ideias que você conseguir
associar à palavra que escolher.
Por exemplo, se você escolheu a palavra maçã, considere estas perguntas: Como você
descreveria o gosto dessa fruta em detalhes? Que memórias você associa a essa fruta?
Que tipo de pessoa gosta de maçã? Se maçã fosse uma emoção, qual seria e por quê?
Como você descreveria a rotina de um personagem que trabalha na colheita de
maças?
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Dica 2
PROCURE IDEIAS ORIGINAIS LONGE DO COMPUTADOR
Ideias originais são excêntricas e introvertidas. Já reparou como elas raramente
aparecem quando você está com o processador de texto aberto ou com o lápis na
mão? Pare de procurar ideias originais apenas em locais que elas evitam frequentar,
como escrivaninhas, telas de computador e páginas em branco.
Você tem muito mais chances de encontrá-las em lugares inusitados, como em salas de
espera, chuveiros de academias, pistas de dança, parques de diversões, galerias de
arte e calçadões na beira da praia. Quando encontrar uma ideia original, resista à
tentação de convidá-la para participar da sua trilogia de fantasia medieval. Comece do
começo. Pergunte como foi seu dia, o que ela faz em domingos de chuva, qual o seu
filme favorito, onde passou as últimas férias.
Você precisa passar tempo com cada ideia que encontrar, sem nenhuma ambição além
de conhecê-la melhor. Só assim ela vai se sentir à vontade para revelar o que está por
trás de suas excentricidades. Quando você atinge esse nível de intimidade com uma
ideia, você começa a entender, aos poucos, como ela precisa ser moldada para ajudar
você a contar sua história com mais foco e autenticidade.
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COLOQUE EM PRÁTICA
Escolha um lugar fora de sua casa que você gosta de frequentar. Visite esse local pelo
menos três vezes na mesma semana. Preste atenção aos estímulos sensoriais deste
ambiente, nas pessoas que frequentam esse lugar e no que está acontecendo ao seu
redor.
Anote as ideias que surgirem durante essas visitas. Não se limite a registrar apenas
ideias de história. Anote possíveis ideias de personagens, de descrições, de situações,
de diálogos etc.
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Dica 3
INSPIRE-SE ANTES DE COMEÇAR A ESCREVER
Grande parte do que você faz no seu dia a dia não exige originalidade. Tomar banho,
escovar os dentes, comer, dirigir e conversar são exemplos de atividades que você
realiza quase por instinto. Para escrever ficção, entretanto, você precisa abandonar
esse modo automático de pensar e aprender a estimular áreas mais perceptivas da sua
mente.
Antes de mergulhar de cabeça na escrita de um texto, experimente fazer, escutar, ler
ou assistir alguma coisa que mexe com sua imaginação. Comece a prestar atenção no
tipo de situação, circunstância e conteúdo que inspira em você ideias de história ou
simplesmente o desejo de sentar e escrever.
Assista à cena de um filme que faz você morrer de rir. Converse com amigas que
forçam você a explicar suas ideias e opiniões em detalhes. Releia um dos seus contos
favoritos. Escute uma música que faz você chorar. Estude técnicas de escrita que
instiguem você a testá-las na prática.
Sejam quais forem as atividades que façam sua energia criativa se movimentar, use-as
como combustível para dar início ao seu processo de criação. Isso ajuda a ativar cantos
adormecidos da sua mente, onde diversão, invenção e experimentação são mais
importantes do que raciocínio, lógica e praticalidades.
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COLOQUE EM PRÁTICA
Escute três vezes seguidas uma música que você associa a um momento importante da
sua vida. Escolha um trecho da letra dessa música para ser a primeira frase de um texto
que descreve a relação de um personagem com sua mãe.
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Dica 4
ESTIMULE SUA CRIATIVIDADE COM EXERCÍCIOS FÍSICOS
Atividades intelectuais não são a única forma de estimular sua criatividade. Sua mente
precisa de descanso e seu corpo precisa de movimento. Não use todo o seu tempo
livre para escrever. Invista pelo menos algumas horas por semana em alguma atividade
física.
Exercícios físicos têm um efeito profundo na química do cérebro e na habilidade da
mente de conectar ideias. Além dos benefícios cognitivos, mover seu corpo também
influencia no seu humor e produtividade.
Sua criatividade está mais ligada aos seus instintos do que ao seu intelecto. Por isso, as
melhores ideias só aparecem quando a mente está menos pensativa e livre para
divagar. Desafiar os limites do corpo é a melhor forma de esvaziar a cabeça de
preocupações e expandir sua percepção sobre uma ideia.
Exercite-se regularmente. Sua saúde e suas histórias vão sair ganhando.
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COLOQUE EM PRÁTICA
Da próxima vez que você travar enquanto escreve uma história, deixe o texto de lado e
saia para andar de bicicleta, correr ao redor do quarteirão, puxar ferro na academia, ou
fazer uma aula de aeróbica.
Enquanto se exercita, pense casualmente sobre a história que você está escrevendo.
Teste ideias de cenas na sua mente, imagine como você recomeçaria o texto do zero e
considere que emoções você deseja expressar com essa narrativa.
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Dica 5
ANOTE TODAS AS IDEIAS QUE CRUZAREM SEU CAMINHO
De repente, você imagina um personagem em uma situação inusitada. Você escuta um
diálogo que o deixa intrigado. Você lê uma notícia de jornal que desperta sua
curiosidade. Você entra em um local que faz você se sentir desconfortável e ansioso.
Esses são alguns dos sinais que você recebe quando uma história está convidando
você para escrevê-la.
Ignorar esses fragmentos de histórias que cruzam o seu caminho é recusar uma viagem
para um universo de ficção que, de alguma forma, mexeu com sua imaginação e,
portanto, tem grandes chances de mexer com a imaginação de outras pessoas. Como
escritor, você precisa treinar sua mente para reparar os pequenos detalhes que passam
despercebidos pela maioria das pessoas. Quando você observa o mundo com calma e
atenção, tudo vira inspiração.
Carregue com você um bloquinho de notas dedicado exclusivamente ao registro
desses fragmentos de histórias que cruzarem seu caminho. Naqueles dias em que você
não souber sobre o que escrever, essa coleção de ideias vai ajudar você a lembrar de
como olhar para o mundo como um escritor.
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COLOQUE EM PRÁTICA
Compre um jornal no fim de semana. Com uma caneta na mão, leia e circule as
notícias que provocaram sua imaginação e despertaram sua curiosidade. Depois,
registre no seu bloquinho de ideias as informações e detalhes sobre essas notícias que
podem render boas histórias no futuro.
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Dica 6
REGISTRE TANTO BOAS IDEIAS QUANTO CLICHÊS
Quando estamos escrevendo uma história, temos o impulso de incluir apenas ideias
que consideramos boas e que, possivelmente, farão parte da versão final do texto. Isso
pode limitar sua criatividade.
Ao escrever os primeiros rascunhos de uma narrativa, registre todas as ideias que
parecerem remotamente interessantes, ainda que seus pensamentos não sejam claros,
completos ou originais à primeira vista. Originalidade não é resultado de ideias
totalmente inéditas, mas da combinação inesperada de ideias que aparentemente não
têm nada em comum.
Outro benefício de anotar tanto boas ideias quanto clichês é a criação de um registro
da construção da narrativa, da inspiração inicial até a versão final do texto. Refletir
sobre como suas ideias evoluíram para dar forma a sua história vai ajudar você a
perceber que, muitas vezes, narrativas originais são apenas clichês apresentados de
uma forma diferente.
Não jogue nenhuma ideia fora no lixo comum. Todas elas podem ser recicladas.
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COLOQUE EM PRÁTICA
Procure por um texto que você abandonou por acreditar que a ideia era ruim ou clichê.
Experimente repensar alguns detalhes que possam mudar sua percepção sobre a
originalidade dessa ideia.
Um bom exercício é pensar em contrários. Se sua ideia era escrever a história de um
menino órfão em busca de vingança contra as forças malignas que mataram seus pais,
como a história mudaria se os pais do protagonista estivessem vivos e, como a relação
entre o menino e os pais era péssima, o personagem buscasse ajuda dessas forças
malignas para se livrar de seus pais?
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Dica 7
COMECE PRATICANDO A ESCRITA DE TEXTOS CURTOS
Antes de tentar escrever uma trilogia, aprenda a escrever um livro.
Antes de tentar escrever um livro, aprenda a escrever um capítulo.
Antes de tentar escrever um capítulo, aprenda a escrever uma cena.
Antes de tentar escrever uma cena, aprenda a escrever um parágrafo.
Antes de tentar escrever um parágrafo, aprenda a escrever uma frase.
Se você não consegue escrever algumas páginas que despertam a curiosidade do
leitor para seguir lendo o texto, por que você espera que alguém vai se interessar em
ler sua aventura épica de quatrocentas páginas?
Se você está recém começando sua caminhada como escritor, deixe suas ideias
complexas guardadas na gaveta. Concentre-se em praticar a escrita de narrativas mais
curtas, tais como cenas e contos. Entender a função de cada uma das peças que
compõe uma história vai ajudar você a desenvolver a confiança e as habilidades
necessárias para escrever textos cada vez mais longos, elaborados e envolventes.
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COLOQUE EM PRÁTICA
Escolha uma cena da trilogia ou livro que você está escrevendo. Escreva um conto com
base nesta cena. Certifique-se que o texto pode ser compreendido mesmo sem o
conhecimento da história completa.
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Dica 8
USE LÁPIS E PAPEL PARA DESENVOLVER SUAS IDEIAS
Processadores de texto criam certa atmosfera de formalidade para a escrita. A fonte
legível, os parágrafos alinhados e o espaçamento entre linhas perfeito estimulam um
pensamento mais linear e comportado. Isso pode limitar sua imaginação e criatividade.
Se o início do seu processo de criação sempre acontece na frente do computador,
você está forçando suas ideias a se manifestarem na forma de palavras. Além disso,
você está a um clique de desviar sua atenção do que está escrevendo para se perder
no paraíso hedonista da Internet.
Nos primeiros estágios de desenvolvimento de uma história, experimente usar lápis e
papel. Rabisque, desenhe, esquematize. Permita que suas ideias e pensamentos se
manifestem da forma como bem entenderem.
Ao escrever um primeiro rascunho do texto à mão, além de criar com mais liberdade
por saber que aquela versão do texto não será lida por ninguém, você cria um ritual
para reavaliar suas ideias: o momento de digitar o texto no computador.
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COLOQUE EM PRÁTICA
Escolha um lugar na sua casa onde seria difícil escrever usando um computador. Pode
ser sentado na máquina de lavar em funcionamento, dentro da banheira, ou mesmo
embaixo da mesa da cozinha. Usando lápis e papel, escreva uma cena que se passa
neste local.
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Dica 9
CONFIE NA SUA INTUIÇÃO QUANDO ESCREVER
Estude teoria literária e use técnicas para revisar e editar seus textos, mas confie na sua
intuição quando estiver escrevendo. Nas suas primeiras tentativas de articular uma
ideia com palavras, simplesmente escreva o que vier à mente.
Não tente melhorar o texto neste primeiro momento. Não teorize, racionalize ou
analise sua produção ao mesmo tempo em que escreve. Concentre-se em registrar
suas ideias e pensamentos da forma como eles forem surgindo.
Esse processo de escrita livre e despretensiosa permite que sua intuição guie a escrita,
e um lado mais espontâneo da sua personalidade venha à tona. Quando você abre
espaço para o inconsciente participar do processo de criação dos seus textos, você
tem mais chances de escrever com autenticidade e originalidade.
Uma forma de convidar seu inconsciente para suas sessões de escrita é escrever
olhando para o teclado, ao invés de olhar para a tela do computador. Outra opção é
diminuir o brilho até a tela ficar escura. Isso força você a se concentrar em suas ideias,
ao invés de se preocupar com as palavras que estão aparecendo na página.
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COLOQUE EM PRÁTICA
Diminua o brilho da tela do computador até que ela fique escura e você não enxergue
absolutamente nada. Programe um alarme para despertar em 25 minutos. Durante
esse tempo, escreva sobre a característica mais irritante de alguém que você conhece.
Só aumente o brilho da tela para ler o que escreveu quando o alarme tocar.
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Dica 10
EVITE INTERRUPÇÕES ENQUANTO ESCREVE
Escrever é uma atividade que exige foco e disciplina. Somos todos muito criativos ao
inventar desculpas para deixar para outro dia. Quando finalmente você conseguir
vencer todas as suas resistências e sentar para escrever, não permita que distrações
interrompam sua concentração.
Checar os emails, dar uma espiadinha nas redes sociais e levantar para pegar algo para
beber são exemplos clássicos do tipo de justificativa inofensiva usado como desculpa
para procrastinar.
Antes de iniciar uma sessão de escrita, considere se você tem tempo suficiente para se
concentrar, sem precisar desviar sua atenção para outras atividades. Desligue o
telefone e o wifi do computador. Peça para todos que estiverem por perto que não o
interrompam durante um determinado período de tempo. Dedique cem por cento da
sua atenção para o que você está escrevendo. Você vai perceber que vinte minutos de
concentração absoluta podem ser mais produtivos do que uma hora cheia de
interrupções.
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COLOQUE EM PRÁTICA
Da próxima vez que você estiver escrevendo, preste atenção no que atrapalha sua
concentração. Cansaço? Encontre tempo para escrever durante um horário do dia em
que você se sente mais disposto. Interrupções? Escreva em algum lugar onde ninguém
possa incomodar você. Preocupações? Reserve um tempo para esvaziar sua mente
fazendo uma lista de problemas que vêm rondando sua cabeça, para pensar sobre as
ansiedades que eles causam em você e para considerar formas de superá-los.
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Dica 11
DESCONFIE DOS SEUS MOMENTOS DE INSPIRAÇÃO
Quando você está muito envolvido e entusiasmado com uma ideia, produz páginas e
mais páginas com uma facilidade assustadora. A história parece estar se escrevendo
sozinha, os personagens parecem ter vida própria, e você se sente um poço de
criatividade sem fim.
Essas histórias que vêm com muita facilidade possivelmente são versões mal acabadas
de livros que você gostou, filmes que você amou, ou seriados de televisão em que
você se viciou. Sempre desconfie das suas primeiras ideias. Todo processo criativo é
angustiante. Nosso impulso inicial é procurar por uma solução rápida para aliviar a
tensão inerente a qualquer esforço de expressão artística.
Como resultado, você acaba se apegando a certos aspectos da sua ideia e dando
muita importância para escolhas que podem limitar sua criatividade ou, até mesmo,
impedir que você desenvolva sua história.
As melhores ideias geralmente aparecem durante o trabalho de revisão e edição do
texto, em especial quando você se desafia a questionar a qualidade do que escreveu e
as escolhas que fez para construir e narrar a história.
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COLOQUE EM PRÁTICA
Releia um texto inacabado que você está encontrando dificuldade para terminar. Se
pergunte como a história seria diferente se você mudasse o gênero, idade ou profissão
do protagonista. Se quiser ir ainda mais longe, escolha outro personagem para ser o
protagonista e imagine a história do ponto de vista dele.
Considere como a narrativa poderia ficar mais interessante se você alterasse o foco
narrativo da terceira pessoa para primeira pessoa, ou vice-versa. Imagine como o
enredo poderia se desenvolver de uma forma diferente se você ambientasse a história
em um outro cenário.
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Dica 12
SEPARE O PROCESSO DE CRIAÇÃO E DE EDIÇÃO
Você não precisa saber tudo o que vai acontecer na sua história antes de começar a
escrever. Os primeiros rascunhos servem, justamente, para testar possibilidades e
explorar a ideia que o inspirou. Nesse primeiro momento, deixe sua intuição tomar
conta do processo.
É perda de tempo tentar escrever um texto pronto na primeira tentativa. Escrever é
reescrever. Revisões, edições e reajustes fazem parte do processo de criação, mas são
etapas que vêm mais tarde, quando você já tiver mais claro que história deseja contar
e o que está tentando expressar com seu texto.
Ignore aquela voz dentro da sua cabeça que julga suas ideias antes mesmo de você ter
a oportunidade de desenvolvê-las. Pare de questionar suas habilidades de escritor
enquanto você ainda está descobrindo e explorando o universo de ficção da sua
história.
Aprenda a separar as fases de criação e edição. Dessa forma, a história se beneficiará
tanto da espontaneidade da sua intuição quanto das suas habilidades técnicas.
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COLOQUE EM PRÁTICA
Escreva em uma única sessão de escrita de no máximo 60 minutos uma história de
amor, do início ao fim. Inclua todos os clichês que conseguir imaginar sobre o assunto.
Seja piegas, melodramático e superficial. Não questione a qualidade do que está
colocando na página nem por um segundo.
Esse exercício de intencionalmente escrever algo ruim vai permitir que você aprenda a
controlar sua autocrítica nas primeiras etapas do processo de criação de uma história.
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Dica 13
APRENDA A PROVOCAR EMOÇÕES USANDO CONTEXTO
Contexto é o conjunto de circunstâncias que permitem a compreensão do significado
e importância de um evento, ideia ou informação. O contexto criado no início de uma
história molda a experiência de leitura e ajuda o leitor a dar significado às ações,
reações e falas dos personagens.
Para provocar emoções ao longo de uma narrativa, você precisa considerar que
informações precisa compartilhar em cada momento do texto para condicionar o leitor
a interpretar de uma determinada forma o que acontecerá dali para frente.
Se no início de um texto você caracteriza um personagem como tímido e fechado, por
exemplo, o leitor vai, a partir de então, interpretar o que acontece com ele usando tais
características como referência. Se esse personagem for pressionado a falar em público
em uma cena futura, o leitor poderá imaginar e, possivelmente, sentir sua vergonha e
nervosismo diante de tal situação.
Ao editar e revisar cada passagem da sua história, considere se você criou um contexto
adequado para que o leitor reaja às informações e revelações sobre os personagens e
a trama da forma como você deseja.
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COLOQUE EM PRÁTICA
Escreva um texto com até 800 palavras ilustrando a importância que um personagem
dá para sua carreira profissional. Seu objetivo é mostrar para o leitor – através das
ações, reações e falas desse personagem – que não há nada mais importante para ele
do que seu trabalho. Nas últimas linhas do texto, introduza um conflito na vida do
personagem, fazendo com que ele perca seu emprego.
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Dica 14
VISTA AS SENSAÇÕES DOS SEUS PERSONAGENS
Ao vestir terno e gravata (ou terninho para as mulheres), você se sente sério e formal.
Quando você veste jeans e camiseta, se sente casual e informal. Ao colocar um pijama,
você se sente descansado e relaxado.
Associamos certos trajes a determinadas sensações e atividades. Por isso, a forma
como você se veste influencia no seu comportamento e estado de espírito.
Experimente vestir roupas e acessórios que façam você se sentir como um dos seus
personagens em uma cena da sua história. Por exemplo, vista um jeans justo e calce
sapatos apertados para simular a sensação de desconforto. Vista um casaco e um
cachecol pesados para simular a sensação de sufoco.
Esse exercício pode ajudar você a imaginar novas formas de descrever certos detalhes
sobre as experiências dos seus personagens e, assim, enriquecer sua história.
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COLOQUE EM PRÁTICA
Procure por um trecho de uma história que você já começou a escrever onde você
descreve como o personagem está se sentindo. Imagine que roupas e acessórios você
poderia usar para simular uma sensação parecida. Reescreva essa passagem do texto
descrevendo a experiência do personagem de uma forma mais precisa e visceral.
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Dica 15
APRENDA A INFORMAR, ENTRETER E INSPIRAR
Quando lemos um texto, estamos em busca de informação (para entendermos melhor
um determinado assunto), de entretenimento (para sentirmos prazer intelectual e
emocional) ou de inspiração (para compreendermos melhor o mundo e a nós mesmos).
Histórias de ficção nos fascinam porque podem nos oferecer tudo isso em uma única
experiência de leitura.
Quando estiver revisando e editando seus textos, considere o seguinte:
• A narrativa inclui informações específicas, relevantes e interessantes sobre os
personagens, os cenários e o contexto da história?
• O enredo cria tensão e desperta curiosidade sobre os conflitos do protagonista e o
desenvolvimento da trama?
• A história convida o leitor a refletir sobre sua vida, ou a contemplar um tema a
partir de uma perspectiva original?
Nem toda história tem a ambição de, simultaneamente, informar, entreter e inspirar. Ao
revisar seus textos, procure refletir sobre a experiência de leitura que você quer criar
para o leitor.
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COLOQUE EM PRÁTICA
Escolha um dos seus contos favoritos. Separe três canetas de cores diferentes.
Sublinhe com uma cor as passagens que focam em compartilhar informações
interessantes sobre um cenário, os personagens ou o contexto da história. Sublinhe
com outra cor as passagens que criam tensão e despertam curiosidade em você para
descobrir o que acontecerá na sequência.
Sublinhe com outra cor as passagens que fazem você refletir sobre sua vida ou
contemplar uma situação ou um tema a partir de uma perspectiva nova para você.
Depois, observe com que frequência a narrativa muda de uma cor para outra e veja
qual cor prevalece nesse texto em particular. Isso vai ajudar você a entender se esse
texto está mais focado em informar, entreter ou inspirar.
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Dica 16
ESCREVA VÁRIOS TEXTOS SIMULTANEAMENTE
Quando você investe toda sua energia em uma única história por meses ou anos, esse
texto ganha uma importância exagerada na sua vida. Seu medo de fracassar aumenta
e, como consequência, seu prazer em escrever pode se transformar em ansiedade e
desespero.
Ao invés de concentrar todos os seus esforços em uma única história, desenvolva duas
ou mais ideias ao mesmo tempo. Intercale entre uma narrativa e outra a cada semana
ou mês. Só tome cuidado para não usar essa técnica como uma forma de
procrastinação.
Lembre-se que não existe garantia nenhuma de que o resultado final dos seus esforços
para escrever uma história vai agradar a outras pessoas ou mesmo a você. Ainda assim,
todos os seus textos – mesmos os ruins – têm um papel fundamental no seu
desenvolvimento como escritor.
Fracassos permitem que você reconheça suas limitações técnicas e siga trabalhando
humildemente no desenvolvimento do seu ofício. Persistência é uma habilidade
fundamental para quem deseja escrever cada vez mais e melhor.
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COLOQUE EM PRÁTICA
Comece a escrever uma história nova hoje. Abandone essa história no final desta
semana, não importa em que ponto do processo de criação você esteja. Comece a
escrever outra história. Depois de mais uma semana, retome a história anterior. Siga
intercalando entre um texto e outro semanalmente até você terminar os dois.
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Dica 17
BOAS IDEIAS NÃO GARANTEM BOAS HISTÓRIAS
Lembre-se que ideias são apenas pontos de partida para você começar a escrever. O
leitor não está nem um pouco interessado na genialidade das suas ideias. Essa
preocupação é apenas sua, prezado escritor. O leitor quer apenas uma experiência de
leitura que recompense seu tempo. Não existe experiência de leitura em uma ideia.
O que determina a qualidade de uma história é a forma como você transforma uma
ideia em uma narrativa. Se você está quebrando a cabeça tentando contar uma história
e nada que você escreve fica bom, considere as seguintes possibilidades:
• Sua ideia não faz sentido fora da sua cabeça ou é abstrata e genérica demais;
• A ideia de história é boa, mas você ainda não encontrou o enredo, o foco
narrativo ou os personagens certos para contá-la;
• Você está dando muita importância para a ideia, ao invés de deixar a história
emergir das circunstâncias em que os personagens se encontram;
• Você ainda não tem domínio técnico suficiente para desenvolver essa ideia da
forma como gostaria.
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COLOQUE EM PRÁTICA
Resgate uma ideia que você gosta, mas que, quando tentou transformá-la em uma
história, não resultou em um texto bom. Avalie se sua dificuldade para desenvolver
essa ideia está relacionada a alguma das possibilidades descritas anteriormente.
Identifique as habilidades técnicas que você precisa estudar e praticar para conseguir
desenvolver sua ideia da forma como gostaria.
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Dica 18
DESENVOLVER IDEIAS EXIGE TEMPO E ESFORÇO
Na viagem entre o pensamento e a página em branco, é comum que uma ideia de
história perca força e coerência. Quando isso acontece, nosso primeiro impulso é
abandonar o texto e se render aos encantos de uma nova ideia. Fazemos isso porque:
• Nos convencemos de que a ideia não era tão boa quanto imaginávamos;
• Acreditamos ter perdido controle sobre a direção que a história estava tomando;
• Não sabemos o que é preciso mudar para tornar a narrativa mais envolvente.
A busca por novas ideias pode facilmente se tornar um vício e uma forma de
procrastinação. É um hábito improdutivo que colocará você no limbo de escritores
com dezenas de histórias começadas e poucas terminadas.
Desenvolver ideias exige tempo e esforço. Ao invés de abandonar um texto que você
acredita não ter mais salvação, questione as escolhas de estilo e estrutura que você fez
e identifique o que poderia ser alterado para dar mais força, foco e impacto para a
narrativa.
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COLOQUE EM PRÁTICA
Encontre o rascunho de uma história que você começou, mas não terminou. Releia o
texto e procure identificar as razões que levaram você a abandonar essa ideia. Liste o
que você gosta e o que não gosta na narrativa. Escreva uma nova versão do texto,
tentando melhorar os pontos fracos que você identificou.
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Dica 19
NEM TODA NARRATIVA DE FICÇÃO CONTA UMA HISTÓRIA
Uma narrativa de ficção é qualquer texto cujo conteúdo foi criado pela imaginação do
escritor. Muitos textos literários são narrativas de ficção. A intenção de quem escreve
esse tipo de texto não é contar uma história, mas examinar a psicologia de um
personagem, ou explorar um tema, ou criar certa atmosfera, ou experimentar com a
linguagem.
Uma história de ficção é um texto que foca em compartilhar uma experiência peculiar
vivida por um personagem. A palavra história traz implícita a ideia de um
evento incomum, extraordinário, não necessariamente no sentido grandioso e radical
dessas palavras, mas significando um acontecimento inesperado no contexto da vida
do protagonista.
Nem toda narrativa de ficção conta uma história, mas toda história é uma narrativa de
ficção. Entender essa distinção vai permitir a você julgar que tipo de texto você está
escrevendo e entender que técnicas podem ajudar você a enriquecer a narrativa ao
revisar e editar o texto.
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COLOQUE EM PRÁTICA
Releia seus textos favoritos e identifique quais são narrativas de ficção e quais são
histórias de ficção. Perceba a diferença no estilo da prosa, no ritmo, na linguagem e
nos temas abordados por cada um desses dois tipos de texto.
Releia seus próprios textos e faça esse mesmo exercício. Considere se os textos que
você não conseguiu terminar são narrativas de ficção que renderiam boas histórias, ou
histórias que funcionariam melhor como narrativas de ficção. Pense em qual tipo de
texto permitirá a você explorar melhor o potencial que você reconhece nas suas ideias.
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Dica 20
ESCREVER HISTÓRIAS EXIGE HABILIDADES DRAMÁTICAS
Se você escreve bem, isso não significa que você tem as habilidades necessárias para
escrever histórias de ficção. Se você tem facilidade para encontrar ideias de história
originais, isso não significa que você escreve bem. A escrita de ficção exige do escritor
tanto habilidades narrativas quanto habilidades dramáticas.
Escrever bem é ser competente na escolha de palavras para explicar suas ideias e
visões de mundo com clareza, coerência e precisão. Habilidades narrativas – a
capacidade do escritor de organizar e apresentar informações para criar uma
experiência de leitura interessante – é a marca de alguém que escreve bem. Isso vale
tanto para escritores de ficção quanto de não ficção.
Escrever bem ficção é saber expressar suas ideias através de ações, imagens, símbolos,
descrições e diálogos, em uma narrativa que, ao invés de explicar, dramatiza sua visão
de mundo sobre um tema. Habilidades dramáticas – a capacidade de ilustrar ideias,
emoções e pensamentos abstratos através de comportamentos e acontecimentos
concretos – é a grande marca de um bom escritor de ficção.
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COLOQUE EM PRÁTICA
Escreva um texto de não ficção explicando sua opinião sobre um assunto polêmico.
Depois, escreva um texto de ficção que ilustre a sua visão sobre esse tema através das
ações e reações de um personagem no contexto de uma história.
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Dica 21
EVITE A SÍNDROME DO ESCRITOR INCOMPREENDIDO
Se você já mostrou seus textos para diversas pessoas que gostam de ler o estilo de
narrativa que você escreve e ninguém demostrou muito entusiasmo por eles, pare de
pensar que o problema só pode ser a falta de sensibilidade dos outros para
reconhecer sua genialidade.
Considere a possibilidade de que suas descrições são entediantes, as estruturas dos
seus textos são confusas, o tom das suas narrativas subestima a inteligência do leitor,
os seus protagonistas não despertam empatia ou seus textos não oferecem uma
perspectiva original sobre os temas que abordam.
Ao invés de se revoltar contra o mundo e assumir a postura do escritor
incompreendido – que sofre com a estupidez e falta de bom gosto alheia – escute
abertamente os comentários de outras pessoas sobre suas narrativas. Escreva novas
versões dos seus textos, levando em consideração a diferença entre as reações dos
seus leitores e a experiência de leitura que você deseja criar.
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COLOQUE EM PRÁTICA
Convide alguém cuja opinião você respeita para ler uma história que você já terminou
de escrever. Peça para essa pessoa marcar, durante a leitura, as passagens que achar
confusas, chatas, rápidas demais e devagar demais.
Evite a tentação de orientar o leitor, explicando a história ou sua intenção. O texto
precisa se sustentar sozinho. Edite e revise a narrativa, considerando os pontos
levantados por esse leitor beta.
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Dica 22
ESTUDE OS TEXTOS DOS SEUS ESCRITORES FAVORITOS
Releia histórias dos seus escritores favoritos regularmente. Considere que elementos
no início desses textos despertaram sua curiosidade para continuar a leitura. Talvez
seja um personagem peculiar, ou um conflito dramático, ou uma trama envolvente, ou
um tema interessante, ou um cenário fantástico, ou um diálogo misterioso, ou uma
combinação de tudo isso.
Identifique também o que você admira no estilo de escrever de cada um dos seus
escritores favoritos e por quê. É a forma precisa como ele descreve o universo de
ficção em que a história se passa? É o ritmo eletrizante da narrativa? É a forma como
os eventos do enredo se encaixam? É o nível de detalhe que ele inclui sobre o período
histórico em que a história é ambientada?
Desconstrua suas histórias favoritas capítulo por capítulo, página por página, parágrafo
por parágrafo, linha por linha, palavra por palavra. Entenda a função de cada um
desses elementos na construção dessas experiências de leitura que lhe dão tanto
prazer.
Mas não se iluda. Esse exercício não vai fazer você desvendar técnicas que garantem a
criação de boas histórias. A ideia é que você desenvolva, pouco a pouco, um olhar
crítico e uma sensibilidade estética para reconhecer o papel de cada elemento da
narrativa na construção de uma experiência de leitura envolvente.
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COLOQUE EM PRÁTICA
Escolha sua passagem favorita de uma história. Reescreva à mão essa passagem.
Depois, releia o texto e procure articular da forma mais precisa possível as qualidades
que você reconhece neste trecho da narrativa.
Observe como a escritora costura ideias, ações e imagens. Reflita sobre as palavras e
expressões que ela escolheu para descrever detalhes sobre os personagens,
comportamentos e cenários. Preste atenção à ordem em que as informações são
apresentadas. Considere a importância desta passagem para a história como um todo.
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Dica 23
NÃO COMPARE SEUS TEXTOS AOS DOS SEUS ÍDOLOS
Se você está iniciando sua caminhada no mundo da escrita de ficção, não compare
suas histórias às dos seus escritores favoritos. Seria o mesmo que comparar as fotos de
um fotógrafo profissional às de alguém que recém comprou sua primeira câmera. Isso
resulta na criação de expectativas irrealistas sobre a qualidade dos seus textos, uma
receita infalível para desmotivação e frustração.
Uma forma mais produtiva de avaliar a qualidade da sua escrita é comparando um
texto que você escreveu recentemente a um que você escreveu há um ano atrás. Não
consegue perceber nenhuma grande diferença? Grandes chances de que você não
está escrevendo com frequência, ou não está se esforçando regularmente para
identificar os pontos fortes e fracos dos seus textos, ou não está compartilhando suas
histórias com alguns leitores-beta para ganhar perspectiva sobre o que escreveu.
As histórias dos seus ídolos não devem ser referencial de qualidade para o que você
cria no início da sua trajetória de escritor, mas sim servir de inspiração e incentivo para
você escrever cada vez mais e seguir aperfeiçoando suas habilidades de escrita.
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COLOQUE EM PRÁTICA
Resgate um texto que escreveu há um tempo atrás. Quanto mais antigo, melhor. Use a
mesma ideia como base para escrever uma nova versão da história. Não use trechos
do texto antigo. Comece do zero. Depois, compare os dois textos.
Você consegue identificar uma melhora na forma como desenvolveu a ideia? Que
características negativas você identifica nas duas versões? Que dificuldades você
encontrou para escrever a nova versão? Converse com escritores mais experientes que
você e descubra como eles costumam superar esses problemas.
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Dica 24
DECIDA ENTRE ESCREVER LIVROS OU SER ESCRITOR
Se você quer escrever livros, seu foco é se tornar um autor publicado.
Você acredita ter ideias que podem resultar em boas histórias. Você acredita que
algumas dessas histórias têm o potencial de despertar o interesse de um público
grande o suficiente para atrair o interesse de uma editora. Seu grande objetivo é
desenvolver a habilidade de manter o leitor curioso para seguir acompanhando sua
história, da primeira linha até o último ponto final. Para você, palavras são ferramentas
para compartilhar suas ideias e pensamentos.
Se você quer ser escritor, seu foco é escrever textos que iluminem dentro do leitor algo
importante que você iluminou dentro de você mesmo.
Você acredita que sua forma única de olhar para a vida pode ajudar outras pessoas a
refletir profundamente sobre a natureza do mundo e do ser humano. Seu grande
objetivo é ajudar o leitor a descobrir o familiar no estranho e o estranho no familiar.
Para você, palavras são aliadas nos seus incansáveis esforços para compartilhar as
verdades que você descobre sobre a vida.
Um escritor pode vir a publicar livros, mas ter um livro publicado não torna ninguém
um escritor.
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COLOQUE EM PRÁTICA
Reflita sobre que critérios você vai usar como referência para avaliar seu sucesso como
escritor. Será a quantidade de livros que você vender? O número de elogios que
receber? O reconhecimento dos seus familiares e amigos? As resenhas positivas de
críticos literários? O quanto a experiência de escrever cada texto ajudou você a se
conhecer melhor? Entenda suas motivações para criar histórias de ficção e decida se
você quer escrever livros ou ser escritor.
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Dica 25
ESCREVA SOBRE TEMAS IMPORTANTES PARA VOCÊ
Você já percebeu a quantidade de livros preenchendo as prateleiras das livrarias? A
infinidade de textos disponíveis na Internet? A variedade de revistas e jornais nas
bancas? Os incontáveis seriados e novelas passando na tv? O número de filmes e
peças de teatro em cartaz? Suas histórias estão competindo por atenção com tudo
isso.
Para ter uma chance de se sobressair nesse mar de informação, escreva sobre temas
nos quais você tem interesse genuíno. Procure encontrar respostas possíveis para
perguntas que provocam sua imaginação. Use seus textos para refletir sobre assuntos
que mexem com suas emoções. Vasculhe suas inseguranças, faça um inventário dos
seus desejos e fantasias, admita para si mesmo seus maiores medos. Use o que você
encontrar nessa pesquisa interna como matéria-prima para escrever suas histórias.
A grande fonte de energia de um texto vem da persistência do escritor para encontrar
as palavras que expressam com o maior grau de precisão possível a forma única e
particular como ele experimenta a vida e interpreta o mundo. Mesmo que ninguém se
interesse por suas histórias, seus esforços criativos nunca serão perda de tempo se
você escrever com a intenção de mergulhar cada vez mais fundo dentro de você.
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COLOQUE EM PRÁTICA
Escolha um assunto sobre o qual você tem uma opinião diferente da maioria das
pessoas, em especial, sobre aqueles tópicos que evocam afirmações do tipo “Eu não
consigo entender por que você pensa assim” ou “Não há nada que justifique esse tipo
de comportamento”. Escreva um texto de ficção que ajude o leitor a entender – ainda
que siga discordando – como olhar para esse tema de uma perspectiva diferente.
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