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ESCOLINHA DE ARTE DO BRASIL: MOVIMENTOS E DESDOBRAMENTOS
Sidiney Peterson F. de Lima UNESPRESUMO
Pesquisar sobre a histria do ensino de arte no Brasil buscar compreender, entre outrosaspectos, os atores, as teorias e caminhos metodolgicos difundidos no percurso histricodo campo de conhecimento investigado. Partindo desse pressuposto pretendemos aquitrazer luz experincias vivenciadas por educadores e educandos no mbito da Escolinhade Arte do Brasil e o surgimento do Movimento Escolinhas de Arte (MEA).
Palavras-chave: Arte/Educao, EAB, Histria do ensino de arte.
ABSTRACT:
Search on the history of art education in Brazil is to understand, among other things, theactors, theories and methodological approaches broadcast the historical path of knowledgeof the field investigated. Based on this assumption here intend to bring to light theexperiences of educators and students in the Little School of Art in Brazil and the emergenceof Schools of the Art Moviment (MEA).
Key Words: Art/ Education, EAB, History of art education.
Buscando analisar o tema proposto, o presente trabalho est dividido em dois
tpicos. No primeiro, abordaremos a criao da Escolinha de Arte do Brasil (EAB),
considerando o contexto do ensino de arte no cenrio educacional brasileiro naquele
momento e no segundo tpico, trataremos sobre o Movimento Escolinhas de Arte
(MEA) e seus desdobramentos.
1. LIBERAO DAS EMOES ATRAVS DA ARTE
Com argumentos de que a arte uma forma de liberao emocional,
pensamento que permeou o movimento de valorizao da arte da criana aps a
queda do Estado Novo, responsvel pelo entrave ao desenvolvimento da
Arte/Educao no Brasil, quando solidificou procedimentos antilibertrios j
ensaiados na educao brasileira anteriormente, como o desenho geomtrico na
escola secundria e primria (Barbosa, 2008, p. 04), verificamos que a partir de
1947, ocorreu uma supervalorizao da arte como livre-expresso.
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Essa Ideia antes introduzida no Brasilpelo Expressionismo Psicolgico e pela
Escola Nova, praticada por artistas como Mrio de Andrade e Anita Malfatti
(Barbosa, 1975, p. 44), tinha como principal finalidade permitir a criana o expressar
de sentimentos, sem perspectivas de aprendizagens relevantes em artes e que
segundo Barbosa (2008, p.5), foi uma espcie de neo- expressionismo que dominou
a Europa e EUA do ps-guerra e que se revelou com muita pujana no Brasil que
acabava de sair do sufoco ditatorial.
Nesse perodo de redemocratizao, o ensino de arte, aceito na educao
como atividade extracurricular, era realizado principalmente em atelis, entre eles,
vale destacar os dirigidos por Guido Viaro em Curitiba-PR, Lula Cardoso Ayres em
Recife- PE e Suzana Rodrigues em So Paulo-SP(Bredariolli, 2000). Os educadores
recorriam s literaturas disponveis para o ensino de arte naquele momento, quais
sejam: John Dewey, Viktor Lowenfeld e Herbert Read, eram os mais utilizados. Os
ideais tericos desses autores influenciaram o trabalho de professores de arte
brasileiros, reafirmando em alguns grupos a tendncia pedaggica de ensino
escolanovista.
Vale ressaltar que naquele momento a disponibilidade de textos traduzidosera restrita, dessa forma, os escritos de Lowenfeld e Read era lido em espanhol ou
no original. Com relao aos textos de John Dewey, para estes j havia tradues,
pois foram amplamente utilizados no momento de redao do Manifesto dos
Pioneiros da Educao Nova em 1932 por Fernando Azevedo que ocupou o cargo
de Diretor Geral da Instruo Pblica do Distrito Federal, at a Revoluo de 1930
(Ghiraldelli, 2009, p. 41).
Os ideais educacionais reconstrutores de John Dewey (Teixeira, 1975)
permaneceriam fazendo parte da agenda de discusses sobre a Educao quando
como sucessor do cargo deixado por Fernando Azevedo foi escolhido Ansio
Teixeira, que havia estudado com Dewey na Universidade de Columbia em 1928 e
foi responsvel por muitas transformaes na educao com base no pensamento
de Dewey.
Situando o Movimento Escola Nova, este foi originado no final do sculo XIXna Europa e EUA, teve seus reflexos no Brasil por volta de 1930, e que segundo
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Demerval Saviani apud Ferraz; Fusari (2009, p.33), deslocou o eixo da questo
pedaggica do intelecto para o sentimento; do aspecto lgico para o psicolgico; dos
contedos cognitivos para os mtodos ou processos pedaggicos; do professor para
o aluno, da disciplina para a espontaneidade. Assim,
[...] as renovaes de posicionamento cultural, pedaggico e artstico levamos intelectuais da poca (Fernando de Azevedo, Osrio Cesar, Flvio deCarvalho, Mrio de Andrade) a motivarem-se pela produo artstica decrianas, bem como por seus processos mentais, seu mundo imaginativo,passando at mesmo a colecionar os desenhos infantis Fusari; Ferraz(2009, p. 33).
Outro interessado nas produes infantis o artista pernambucano Augusto
Rodrigues que auxiliado por Alcides da Rocha Nogueira e Clovis Graciano promove
em conjunto com Margaret Spencer e Lucia Alencastro encontros com outros
professores de arte, artistas, psiclogos de demais profissionais envolvidos no
processo de redemocratizao da educao, entre eles: Ansio Teixeira, Helena
Antipoff, Lois William para discutir um caminho para o ensino de arte no Brasil. Lucia
Alencastro Valentim nos diz que durante os encontros com o grupo no era ideia
criar uma escola de arte. Queramos apenas ver como se desenvolveriam algumas
crianas diante da possibilidade de experimentar livremente as tcnicas de arte
(RODRIGUES, 1980, p 33).
Concordando com Lucia Alencastro Valentim, Augusto Rodrigues acrescenta
que a Escolinha de Arte do Brasil (EAB) no nasceu planejada, no teve fundao
festiva, ao contrrio surgiu como uma experincia simples, mas viva, nutrida desde o
seu incio pela inquietao de profissionais que buscavam afirmar o importante papel
da arte na educao. Ele revela que
Um dia, num caf, encontrei a Margaret Spencer, pintora americana que medisse haver tido experincia com crianas nos Estados Unidos. Ento,convidei-a para ir Biblioteca Castro Alves, no 1 andar do IPASE,pertencente ao Instituto Nacional do Livro, em convnio com a Associaodos Servidores Civis do Brasil. Chegando l, encontro o diretor, conversocom ele com o propsito de conseguir sua permisso para utilizarmos o hallde entrada, que era uma espcie de jardim, circundando uma rea cobertade pedrinhas, com dois banheiros que servia a toda a Biblioteca, para fazeruma experincia com crianas. Compramos o material tinta, lpis, papel e iniciamos a experincia. (RODRIGUES, 1980, p. 33)
Para Augusto Rodrigues:
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A escola surgiu depois, do interesse enorme das crianas, que afluramcada vez mais numerosas e bem vindas sempre. Foi com esse materialhumano Augusto, Margaret e Lcia como professores e um pequenogrupo de crianas que nasceu a Escolinha de Arte do Brasil. Ainda notinha nome. Era pouco mais que uma idia. Mas o fato concreto de se reunir
aquela gente, trs, quatro vezes por semana, prova que j era muito maisque uma simples idia. Era uma semente. Pequena, mas contendo em sitoda a potencialidade do futuro (RODRIGUES, 1980, p.33).
Como mencionado acima, os encontros se davam trs vezes por semana nas
dependncias da Biblioteca Castro Alves-RJ, onde os artistas, educadores se
misturavam s crianas, mas no interferiam em sua produo, pois acreditavam
nessas atividades como vlvula de escape para liberao de energias, descargasdas emoes e meio legal para expressar os sentimentos, quaisquer que fossem
eles do ponto de vista social e moral. Assim, para Augusto Rodrigues e seus
colaboradores, era de fundamental importncia valorizar a criana, sua fala e suas
aes, talvez por esse motivo, uma criana tenha escolhido o nome para o espao
utilizado para os encontros. Em depoimento, Augusto Rodrigues narra o seguinte:
Quando a Escolinha realmente comeou, creio que a tendncia era ela sechamar Escolinha Castro Alves, porque estava na Biblioteca Castro Alves.
Mas eu no quis dar nome Escolinha. Estvamos realmente fazendo umaexperincia em aberto, at o momento em que comeamos a sentir queprecisava de um nome. Ai que surgem as crianas que j comeavam adizer: amanh eu venho Escolinha', e elas s chamavam de escolinha.Percebi de imediato que elas faziam uma distino entre a escolainstitucional e aquele lugar que elas passavam a chamar de Escolinha.Escolinha, no diminutivo, com o componente afetivo. uma era a escola ondeela ia aprender, a outra onde ela ia viver experincia, expandir-se, projetar-se. Ento foram elas mesmas que deram o nome (RODRIGUES, 1980, p.32).
Escolinha de Arte do Brasil (EAB), assim passou a ser chamado e
reconhecido o espao, onde as crianas se encontravam para realizao de
atividades com professores que no incio supriam todas as necessidades financeiras
(materiais principalmente) em nome da experincia vivenciada. Essas atividades
para Augusto Rodrigues deveriam ser realizadas de forma que liberasse a criana
atravs do desenho, da pintura, e cada vez mais interessado em perceber a criana
no seu aspecto global, a criana e a relao professor (a)/aluno(a), a observao do
comportamento delas, o estmulo e os meios para que elas pudessem, atravs das
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atividades, terem um comportamento mais criativo, mais harmonioso. O educador
revela que no contexto da EAB, era preciso ter
[...] um comportamento aberto, livre com a criana; uma relao em que acomunicao existisse atravs do fazer e no do que pudssemos darcomo tarefa ou como ensinamento, mas atravs do fazer e doreconhecimento da importncia do que era feito pela criana e daobservao do que ela produzia. De estimul-la a trabalhar sobre elamesma, sobre o resultado ltimo, desviando-a, portanto, da competio edesmontando a idia de que ali estavam para ser artistas (RODRIGUES,1980, p. 34).
No havia nesse momento cursos de formao de professores de artes em
escolas formais, portanto, no espao da EAB que vo se configurando caminhos
para os interessados em afirmar sua posio quanto ao ensino de arte. Entre oscursos oferecidos, o CIAE: Curso Intensivo de Arte na Educao, que teve como
coordenador a arte/educadora D. Noemia Varela com colaborao de Helena
Antipoff, Ansio Teixeira e da professora La Elliot, d-nos uma dimenso do
ambiente de ensino/aprendizagem, como nos fala Eliot:
Eram bastante tradicionais, da forma como foram planejados, porquetraziam toda uma tradio vinda diretamente da Escola Normal. Mas, comoo processo do curso era um processo vivo, era um processo de troca, muitorapidamente aquelas informaes foram se modificando no sentido dosalunos. Os programas eram flexveis e as discusses que faziam o nossopensar [...] era o professor estudante revivendo a cada momento aexperincia, pois o curso foi fundamental para todos ns.No havia mesmouma posio distinta entre professor e aluno, e havia Noemia comocoordenadora do curso (ELIOT apud BARBOSA;1986, p. 29).
Para D. Noemia Varela, o CIAE foi
Um curso provocador do que chamamos prontido para mudanas, muitasvezes bem sensveis (seja no prprio professor-aluno, seja em escolas eoutras instituies) alargando, estrategicamente, dimenses dapersonalidade e estendendo as fronteiras da experincia nas Escolinhas de
Arte [...] Por muitos anos, no Brasil, o nico curso destinado a professoresde todos os graus de ensino, o que nos permitiu, de certa forma, incentivare descobrir a criatividade do educador brasileiro. (VARELA, 1986, p. 17/18)
O CIAE contemplava no apenas professores titulados ou leigos, mas como
afirma D. Noemia, eram bem vindos tambm: artistas, estudantes e arte, psiclogos,
professores de Pedagogia e de Faculdades de Educao o que segundo sua
coordenadora trazia aos prprios participantes um impacto e a descoberta do outro,
em sua originalidade e poder criativo.
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O CIAE que funcionava desde 1961, como o nico curso de especializao
para professores em educao atravs da arte, continuou funcionando at 1981,
mesmo com a criao do curso de Educao Artstica atravs da Lei 5.692/71, em
que comeou a ser ministrada essa especializao oficialmente em outras escolas,
os professores formados nesse curso s comearam a lecionar anos aps sua
criao.
Conforme verificamos, D. Noemia exerceu grande influncia do ensino de arte
em direo ao desenvolvimento da criatividade, que viria a caracterizar o
modernismo em Arte/Educao. Conforme narrado por ela em entrevistas
concedidas a Lucimar Bello Frange (2001) e Fernando Antnio Azevedo (2000).
Para D. Nomia:
Escola com ou sem criatividade. Escola e anti-escola.Ou nada ainda,Escolade Humanos e Escolas de Robs.E por que no a Escola do HomemCriativo para a redeno do rob? Imagens no inspiradas na ficocientfica, mas na filosofia da educao pela Arte, vinda de Herbert Read.Resumem tambm a imagem que temos da escola onde sempreencontramos o Homem- em seu poder de expresso simblica, em suadimenso criativa, o homem, que na viso potica de L. Pawels, para estarpresente precisa transformar-se em contemporneo do futuro. Ora, a
formao do professor em processo criativo no seria tema maisglobalizador se concentrasse nossos interesses comuns? (FRANGE, 2001,p. 181)
2. Sobre Movimento Escolinhas de Arte (MEA)
dentro de um ambiente profcuo aprendizagem, dentro dos ideais que
fundamentavam as atividades na escolinha, que a arte/educadora pernambucana D.Noemia Varela fez seu lugar na EAB, que em primeiro contato viu a Escolinha da
seguinte forma:
Havia plantas, havia as mesmas mesinhas que esto hoje l, havia umaarrumao mais livre. Aquelas poucas mesas, aquelas cadeiras, cerca devinte, vinte e cinco crianas de idades diferentes e uma Jovem professora Lcia Alencastro Valentim atendendo quelas crianas semassistentes. E elas livremente apanhando seus dirios, fazendo suaspinturas. Aquele grupo trabalhava, e Augusto Rodrigues atendia tambm scrianas, mas quando chegavam visitas como era o meu caso atendia
aos visitantes. Enquanto eu olhava as crianas trabalharem topoeticamente, ouvia a voz de Augusto falando sobre Herbert Read, asexperincias, o interesse e a importncia de auto-expresso. Aquilo tudo me
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encantou mas me encantou, sobretudo, o ato, o fazer, a ao daexpresso da criana (AZEVEDO, 2000, p. 25).
Visionrio, Augusto Rodrigues percebeu no sucesso da EAB nas
dependncias da biblioteca, um motivo para estender os ideais da Escolinha paraoutros territrios. Iniciou o processo de expanso na prpria cidade do Rio de
Janeiro- RJ deixou funcionando a Escolinha Castro Alves no mesmo local e passou
a utilizar o endereo no bairro de Botafogo para abrir uma nova Escolinha de Arte.
Fora do Rio de Janeiro a Escolinha de Desenho do Circulo Militar de Porto Alegre,
fundada pelo Major Fortunato e Edna Ster, foi a primeira a oferecer atividades
contando com o auxilio de Augusto Rodrigues, D. Noemia Varela e demais
envolvidos nas Escolinhas fluminenses. Nessa unidade de Porto Alegre eramrealizadas produo de fantoches, encenao teatral e os participantes discutiam
essas atividades relacionando-as aos ideiais prticos e tericos a EAB.
Em 1950, Isabel Rocha Braga cria a Escolinha de Arte de Cachoeiro do
Itapemirim e em 06 de maro de 1953, D. Noemia Varela e Ulisses Pernambucano
fundaram a Escolinha de Arte do Recife (EAR), que segundo D. Nomia, aconteceu
da seguinte forma:
Em 1953, organizamos um curso para 43 professores do Estado, situandoaspectos psicolgicos, pedaggicos, princpios de formao de umeducador para a educao especial. Convidamos Augusto Rodrigues paradar a parte de arte neste curso. E tambm toda a equipe de mdicos,psiquiatras, antroplogos, psiclogos de Recife que era um grupo muitoamigo. Levamos tambm para esse curso de 53, Olivia Pereira, que hoje assessora do CENESP, que trabalhava na Pestalozzi, e Leopoldina Neto,que trabalhava no Santa Lcia. Foi muito importante o contato com essegrupo porque foi nessa escola, a 6 de maro de 1953, que se fundou aEscolinha de Arte do Recife, em sesso presidida por Anita Paes Barreto,com apoio da Secretaria de Educao e Cultura, e de todo o grupo daescola (no sentido universitrio) de Ulisses Pernambucano, alm de artistascomo Alosio Magalhes, Francisco Brennand, Lula Cardoso Aires. Augustose entusiasmou com aquela pequena e simples experincia, comprofessores que estavam interessados no campo da educao especial etinham a compreenso da funo da arte no processo educativo. E dai saiua Escolinha de Arte. Ela foi para a Rua do Cupim n. 124 onde est athoje , onde Hermilo Borba, teatrlogo, amigo do grupo e tambmfundador, encontrou um chalezinho antigo. Por coincidncia, nesse chal
Augusto Rodrigues aprendera a ler. . . A Escolinha foi fundada assim(Depoimento de D. Noemia Varela publicado em Escolinha de Arte do Brasil
Anlise de uma experincia no processo educacional brasileiro,AUGUSTO, 1980, p. 75/76).
Com a abertura de vrias escolinhas no Brasil, Augusto Rodrigues passou avisitar outros pases, tendo sempre a ideia de extenso dos ideais da EAB. Estava
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sempre presente na fundao de uma nova Escolinha, para discutir ideias, seja para
levar ao conhecimento dos presentes as experincias vividas nas Escolinhas j em
funcionamento. Esse interesse de Augusto Rodrigues alcanou territrios
internacionais e conforme verificamos, foram abertas Escolinhas em Assuno
(Paraguai), em Buenos Aires e Rosrio (Argentina), Lisboa (Portugal). Estava em
plena formao o Movimento Escolinhas de Arte (MEA).
Segundo D. Nomia Varela:
Logo, nos anos 50, tornou-se uma expresso muito familiar no dia a dia daEscolinha: Movimento Escolinhas de Arte. Expresso nem sempre bemcompreendida, mas de uso adequado para melhor situar a polticaeducacional de expanso da Escolinha de Arte do Brasil, para defini-la emsua utpica e sempre necessria intencionalidade de suprir a ausncia decriatividade de nosso sistema educacional, especialmente em sua prticaeducativa. Agora, ouso apenas delimita-lo. Na minha tica, um tipo demovimento de organizao no-formal, alternativo, sado do ventre daEscolinha de Arte do Brasil, refletindo, por isso mesmo, o que tem deinconcluso e criativo o projeto de educao criadora desenvolvido por essaEscolinha. E, nesse sentido, a partir de 1948, posso dizer que o MovimentoEscolinhas de Arte MEA atravessa a prpria arte-educao que vemsendo construda, no af visionrio de se fazer inovadora, de chegar a umagir e um saber desejosos e possveis de recriao, no mago do processoeducativo brasileiro. Claro que, at hoje, esse movimento no resolveu oproblema da falta de criatividade que marca nossa educao (nem foi essaa sua inteno em todo o seu trajeto catalisador), mas, na verdade,
conseguiu inspirar uma cadeia de processos objetivos de pensamentos euma srie de procedimentos prticos, de ncleos de estudo e trabalhoprtico-poticos que at hoje sobrevivem, seja como Escolinhas de Arte no Brasil, Paraguai e Portugal seja como idias mobilizadoras em outrasreas onde se faz realmente arte-educao. (texto Movimento Escolinhasde Arte, publicado no instinto jornal da FUNARTE, Fazendo Artes, n 13,1988, p. 3 apud AZEVEDO 2000, p. 27).
possvel destacar da fala de D. Noemia, que o movimento surge da mesma
forma que a EAB, conforme mencionado anteriormente: do ideal de suprir uma
necessidade urgente no ensino de arte no Brasil (e em outros pases). Assim, forampromovidos encontros para definio das linhas de ao do Movimento. O primeiro
ocorreu em 1961, mas foi no segundo encontro, ocorrido de 17 a 21 de julho de
1972, que decidiram entre outros pontos, os objetivos do Movimento:
Favorecer o congraamento de todos os membros das Escolinhas deArte; b) Promover a troca e anlise de experincias, a fim de permitirum estudo das caractersticas do Movimento; c) Levantar dados sobreos fundamentos, mtodos, condies e recursos das Escolinhas,visando a uma pesquisa de aprofundamento; d) Dar oportunidade para
uma reavaliao dos princpios, permitindo renovar a poltica de aodas Escolinhas, em face das mudanas no campo educativo e cultural;
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e) Reforar a integrao das Escolinhas, a fim de formular perspectivasmais amplas para o futuro (RODRIGUES, 1980, p.80).
Ao final deste encontro ficou instaurado como postulado do Movimento:Respeito ao ser humano, sua capacidade de criar, levando-o a encontrar na
arte formas de se realizar e expressar o conhecimento de si mesmo como ser
atuante em busca da liberdade. E, cada unidade deveria desenvolver
experincias que culminassem no desejvel aos participantes.
2.1 Desdobramentos do MEA
D. Noemia Varela, segue para o Rio de Janeiro depois de estabelecer asbases da Escolinha de Arte do Recife (EAR) foi convidada por Augusto Rodrigues
a integrar o corpo docente da Escolinha de Arte do Brasil (EAB). Deixa como
diretora da EAR, Maria Luiza Rocha e para ficar frente dos trabalhos com a
Universidade (na EAR havia um programa de estgio com os estudantes da
Escola de Belas Artes do Recife- PE) a at ento estagiria da EAR, Ana Mae
Barbosa. Trabalho que surgiu no momento em que Ana Mae conhece D. Noemia
em 1955 durante um curso preparatrio para concurso de professores da rede
publica de Recife. O curso foi organizado pelo educador Paulo Freire, e a esposa
dele D. Elza Freire no Instituto Capibaribe. No curso, alm das aulas de
portugus com o organizador, tinha tambm aulas de Arte/Educao com D.
Noemia. Sobre esse encontro com a Arte, Ana Mae diz em depoimento a Gerda
Margit Schutz-Forest
Eu tinha sido uma pssima aluna de arte. Com histrias horrveis de oprofessor rasgar desenhos, chamar na frente de todo mundo e dizer Olhaque coisa horrorosa!. Foi uma das piores experincias. O curso de Arte-Educao foi uma descoberta. Fiquei apaixonada pele ensino de Arte(SCHTZ-FOERSTE, 1996, p. 07).
Os trabalhos com as crianas seguiam na EAR at a ecloso da ditadura
militar, quando muitos intelectuais, inclusive Paulo Freire, saem do Recife e
mesmo do pas. Ana Mae, casada com o Professor Joo Alexandre Barbosa,
viaja para Braslia-DF, onde o marido trabalharia na Universidade de Braslia e
ela pretendia dar continuidade ao seu trabalho em Arte/Educao.
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Imersa nas ideias do Movimento Escolinhas de Arte, em 1965, ao lado de
Alcides Miranda e com o auxilio de Augusto Rodrigues, Ana Mae fundou a
Escolinha de Arte de Braslia. Nas palavras da fundadora era
O elemento de ligao entre a comunidade universitria e a populao. Aescolinha estava ligada ao departamento de extenso. Eu trabalhava com oDr. Alcides Rocha Miranda do Instituto Central de Artes, chamado ICA. Masa escolinha estava funcionalmente ligada ao departamento de extenso. Ena lei de Pompeu de Sousa constava a criao do vnculo da Universidadecom o pblico, que achava ser uma estratgia para a Universidade ser maisbem aceita. E a escolinha seria um dos primeiros [...] J havia umaescolinha de Arte, que era da Aliana Francesa. Imaginou-se que aEscolinha de Arte atrairia muita gente da populao, Isso foi verdade. Eucheguei a fazer as matrculas. A escolinha era muito bem pensada: os
mveis foram todos desenhados por um arquiteto, como tese de seumestrado; O prprio Dr. Alcides tratou de fazer uma adaptao do espaoda escolinha toda em vidro. Proporcionando crianada ver todo o meioambiente, no se isolando dele. Estvamos dentro de uma caixa de vidropraticamente. Era uma ideia muito interessante. Mas acontece que a(escola) invadida pelo exrcito (SCHTZ-FOERSTE, 1996, p. 07).
Essa invaso descrita por Ana Mae no apenas fsica, mas ideolgica, pois,
como explica Paulo Ghiraldelli Jr.
Entre junho de 1964 e janeiro de 1968 foram firmados doze acordos entre oMinistrio da Educao e Cultura e aAgency for International Development(os acordos MEC-USAID), o que comprometeu a poltica educacional donosso pas s determinaes de um grupo especfico de tcnicos norte-americanos, um grupo nada representativo da democracia americana e do
American Way of life. No se tratava, nem um pouco, de um grupo detcnicos que fossem leitores e admiradores de John Dewey (Ghiraldelli Jr.2009, p112).
Frente a essa invaso e a crise instaurada na Universidade, todos os 280
professores da instituio pedem demisso. Com o fato, a famlia de Ana Mae e sua
famlia decidem voltar para Recife, onde ela retorna s atividades em Arte/Educao
na EAR, permanecendo at 1967, quando viajam, ainda pelos mesmos motivos
polticos, para So Paulo. Na capital paulista a arte/educadora passou a desenvolver
trabalhos no Instituto Montessori e Escola Judaica.
Em 1969, Ana Mae Barbosa cria a Escolinha de Arte de So Paulo (EASP),
com auxilio de Augusto Rodrigues e Jos Mindlin, a nica Escolinha ligada ao MEA
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na cidade de So Paulo, mas havia outras escolinhas na cidade, conforme Ana Mae
explicitou em entrevista:
A escolinha de arte do grupo Augusto Rodrigues a primeira, mas haviamoutras: Escolinha de Artes da Fundao Armando lvares Penteado; aprpria mulher de Augusto Rodrigues, Susana Rodrigues teve umaescolinha; havia a escolinha de Hebe Carvalho; havia a escolinha da Fanny
Abramovich. Todos me receberam muito bem. Antes de iniciar fui observaraulas de dona Fernanda, Hebe e Fanny dizendo a elas que iria abrir umaescolinha. Elas me receberam muito bem e ainda indicavam onde comprartinta, procurar materiais etc. Foram muito receptivas. Nenhuma delas era dogrupo de Augusto. Susana Rodrigues j havia sado da Escolinha ArmandoPenteado e trabalhava com Dona Fernanda, por isso ele se sentiu vontade para criar a escolinha ligada ao grupo Augusto Rodrigues l(SCHTZ-FOERSTE, 1996, p. 10).
Ao lado da fundadora estava educadora Madalena Freire que ficou
responsvel pelo ensino de artes plsticas e Joana Lopes, como professora
teatro e podemos verificar at este momento de nosso estudo que os processos
educativos na EASP estavam baseados em atividades que buscavam caminhos
diferentes dos pensamentos anunciados na poca que determinavam a
originalidade como foco para ensino de arte.
No vis de discusso acerca das aes educacionais realizadas na EASP,
preciso nos atentar aos escritos do livro Teoria e Prtica da Educao Artstica
(1975), intitulado:Arte-Educao: uma experincia programada em que Ana Mae
Barbosa demonstra os caminhos tericos e metodolgicos percorridos para o
planejamento curricular da EASP. Caminhos que se configuram como nosso
objeto de estudo por suas possibilidades de transformaes para o ensino da arte
no Brasil.
____________________
1 Para conhecer mais sobre o tema, ver R. COUTINHO (2002).
REFERNCIAS
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7/29/2019 Escolinha de Arte Do Brasil - Movimentos e Desdobramentos
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Sidiney Peterson Ferreira de Lima
Mestrando do Instituto de Artes UNESP- Universidade Estadual Paulista Jlio MesquitaFilho, Orientadora: Rejane Galvo Coutinho. Graduao em Licenciatura em Pedagogia pela
Unidade Acadmica de Garanhuns/UFRPE.