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    Escola de Redes

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    Escola de RedesNovas visessobre a sociedade, o desenvolvimento

    a Internet, a poltica e o mundo glocalizado

    Augusto de Franco

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    Esta uma publicao daEscola-de-Redes = Nodo-de-Curitiba (Brasil).

    Escola-de-Redes uma rede de pessoas dedicadas investigaoterica e disseminao de conhecimentos sobre redes sociais e

    criao e transferncia de tecnologias de netweaving.

    Escola-de-Redes = Nodo-de-CuritibaSociedade do Conhecimento

    Rua Fernando Amaro 1535 - Alto da XV80050-020 Curitiba PR Brasil

    41 3528-9002www.escoladeredes.org.br

    Escola de Redes: Novas vises sobre a sociedade, o desenvolvimento,a Internet, a poltica e o mundo glocalizado.

    Domnio Pblico: Augusto de Franco para Escola-de-Redes, 2008.

    FICHA CATALOGRFICA

    Ilustraes: Bico de Pena de Ftima Zagonel

    Editorao: Saturnos Assessoria em Comunicao Social S/C Ltda.

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    E = R

    A escola a rede

    O que Escola de Redes? Em um sentido amplo, trata-se deuma no-escola. Como mostra a logo exibida na capa destevolume: E = R. Em palavras: se a escola j a rede, para queescola? Se a prpria rede uma escola...

    Neste livro, voc encontrar novas vises da sociedade, dodesenvolvimento, da Internet, da poltica e do mundo glocalizado.Outros livros viro, abordando diferentes aspectos das teoriasdas redes: anlise de redes sociais, redes como sistemasdinmicos e redes como estruturas que se desenvolvem. E maisoutros ainda, aplicando os conhecimentos e as tcnicas denetweaving gesto de redes de stakeholders de uma empresa,de pessoas dedicadas ao desenvolvimento comunitrio, deatores sociais e de agentes polticos.

    Ler esta obra e as outros que viro, como partes da mesma

    coleo j , de certo modo, participar da escola. Mas se vocdesejar, tambm poder se conectar rede concreta que estsendo organizada com o mesmo nome de Escola-de-Redes. Parasaber mais sobre isso, leia a ltima pgina desta publicao.

    Uma nova escola (mesmo uma no-escola) em sentido amploou estrito s se justica se apresentar novas vises e ensejar

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    a sua discusso. No por acaso, Novas Vises o primeirolivro publicado pela Escola-de-Redes.

    Embora inaugural, este livro um texto autoral e no podeexpressar as opinies de outras pessoas conectadas Escola-de-Redes, conquanto pretenda provoc-las, e tambm a voc,caro leitor, cara leitora, que tem aqui um estmulo para entrarnesse debate e, quem sabe, conectar-se nova escola.

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    As distncias somavam a gente para menos.

    Manoel de BarrosemArte de infantilizar formigas do Livro sobre nada (1996)

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    Apresenao

    No nal dos anos 90, comecei a me interessar pelas redes sociais.

    De l para c, venho fazendo exploraes no que chamei demultiverso das conexes ocultas que conguram o que se temchamado de social. Nesse tipo de investigao, j abandonei apretenso de seguir o mtodo, dito cientco, das cincias sociais.Descobri que o que identicado como social, na verdade,raramente o . E isso vale tanto para reavaliar algumas ambiesdas cincias sociais, quanto para desmiticar as chamadaspolticas sociais, que, em sua maioria, so polticas voltadas para

    o desenvolvimento humano e no para o desenvolvimento social,quer dizer, so nos melhores casos polticas de investimentoem capital humano e no em capital social.

    A compreenso da natureza dos fenmenos chamados sociaisest sendo radicalmente alterada nos ltimos anos. A descobertada rede social (a partir do nal dos anos 50 do sculo 20),1 odesenvolvimento das teorias do capital social (na dcada de 90)e os progressos na pesquisa dos sistemas complexos (tambm

    a partir dos anos 90) so eventos que modicam profundamenteas cincias sociais. Evidentemente h um delayentre o queavanam essas novas concepes e teorias e o trato acadmicoque ainda recebem a sociologia e outras disciplinas ans, comoa antropologia social.2

    A partir do incio do presente sculo, as contribuies de novasdisciplinas (como a Social Network Analysis) para o entendimento

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    das redes sociais vm se tornando mais expressivas. O estudoda inteligncia coletiva e da vida articial, os progressos nacomputao baseada em inteligncia distribuda ou na chamada

    swarm intelligence, a aplicao do instrumental das teorias dossistemas dinmicos aos sistemas de agentes compostos porseres humanos, a compreenso da emergncia e da capacidadeda sociedade humana de gerar ordem (bottom up)por meio dacooperao modicam o backgrounde lanam novos pressupostospara as teorias sobre a sociedade. Poder-se-ia dizer, talvez, quea velha sociologia est sendo ultrapassada, em seu mtodo eem seus marcos epistemolgicos, por uma nova cincia nascente

    do social.Mas do que se trata, anal? A questo pode ser colocada demaneira simples (pelo menos aparentemente). Seres humanosvivendo em coletividades estabelecem relaes entre si. Taisrelaes podem ser vistas como conexes, caminhos ou dutospelos quais trafegam mensagens. Qualquer coletivo de trs oumais seres humanos pode conformar uma rede social, que nadamais do que um conjunto de relaes, conexes ou caminhos(gracamente representveis por arestas) e de nodos (vrtices).H rede quando so mltiplos (a rigor mais de um) os caminhosentre dois nodos.

    A partir de certo nmero de conexes em relao ao nmero denodos, comeam a ocorrer fenmenos surpreendentes na rede,que no dependem ao contrrio do que se acredita docontedo das mensagens que trafegam por essas conexes.

    Quanto mais distribuda, menos centralizada ou descentralizada(isto , multicentralizada) for a topologia da rede, maiores seroas chances de tais fenmenos ocorrerem. Esses fenmenos como o clustering (aglomeramento), o swarming (enxameamento),a auto-regulao sistmica, a produo de ordem emergente e/ou a desconstituio de ordem preexistente (ou remanescente)e a reduo do tamanho (social) do mundo (crunch) no

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    podem ser adequadamente captados e explicados pelascategorias e hipteses que compem as teorias tradicionais dascincias sociais.

    Este um livro sobre vises, no sobre anlise. Embora meapie em algumas recentes descobertas cientcas (da nascentecincia das redes), o que vou expor aqui so resultados deexploraes imaginativas e no construes tericas ouinvestigaes experimentais stricto sensu. At agora, as redesforam consideradas pelas cincias sociais como metforasestruturais para agrupamentos sociais, como mais um recursoexplicativo. Trata-se aqui, entretanto, de tentar ver a realidadesocial como rede, tomando o que visvel e conhecvel por meiode sua fenomenologia como manifestao dessa realidadeoculta. A esse tipo de abordagem falta ainda, por certo, umestatuto propriamente cientco. O que no signica que aseventuais descobertas que eu possa ter feito no contenhamconhecimento novo. No pretendo anunciar hipteses aceitasou aceitveis pelas chamadas cincias sociais, mas um modode ver que, espero, acrescente conhecimento ao que, at agora,sabemos sobre o assunto.

    O assunto o que se chama de social como rede social. Ou seja,como espero mostrar neste livro, o assunto poltica.

    No esto aqui os resultados detalhados das investigaesdesenvolvidas por mim durante os ltimos oito anos, quedevero continuar sendo realizadas por um bom tempo. O que

    segue apenas um ndice dessas exploraes imaginativas nomultiverso das conexes ocultas que conguram o que sedenomina de social.

    Escola-de-Redes, Nodo-de-Curitiba, inverno de 2008.

    Augusto de Franco

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    1 Situo a descoberta das redes sociais a partir dos insights de Jane Jacobs,publicados em 1961 no livro Morte e vida das grandes cidades americanas(JACOBS, Jane. The death and life of great american cities. New York: RandomHouse, 1961; cf. trad. bras. So Paulo: Martins Fontes, 2000.). Os antecedentesdo estudo das redes enquanto padro de organizao adaptativo ou sistemacapaz de aprender podem ser buscados, entretanto, na dcada de 1940, nostrabalhos pioneiros sobre redes neurais desenvolvidos por McCulloch e Pitts(1943), por Norbert Wiener (1948), por D. O. Helb (1949); e, na prpria dcadade 1950, por Ross Ashby (1952), Minsky (1954) e, claro, von Newmann(1956/1958). Cf.: McCulloch, W. S. & Pitts, W. (1943). A logical calculus ofthe ideas immanent in nervous activity,Bulletin of Mathematical Biophysics,vol. 5; pp. 115-133; Wiener, N. (1948). Cybernetics: or control and communicationin the animal andthe machine. New York: Wiley, 1948; Helb, D. O. (1949).

    The organization of behavior: a neuropsychological theory. New York: Wiley,1949; Ashby, W. R. (1952). Design for a brain: the origin of adaptativebehavior. New York: Wiley, 1952. Minsky, M. L. (1954). Theory of neural-analog reinforcement systems and its application to the brain-model problem,Ph.D Thesis, Priceton University, Princeton, N. J.; von Newmann, J. (1956).The computer and the brain. New Haven: Yale University Press, 1958.

    2 Isso para no falar das importantes reexes do bilogo chileno HumbertoMaturana Romesin (1985), que reconceituaram o que se denomina social em

    uma perspectiva extremamente inovadora e, at certo ponto, desconcertante.Conforme MATURANA, Humberto (1985). Biologia del fenmeno social. In:_____. Desde la Biologia a la Psicologia. Santiago de Chile: EditorialUniversitria, 1996.

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    Sumrio

    E = R | A escola a rede ........................................... 5

    Apresentao ............................................................ 9O que ler sobre redes ................................................. 15

    Introduo ................................................................ 21

    Pare 1 | Explorando as redes sociais ..................... 35

    O que so redes sociais .............................................. 37Redes sociais ......................................................... 42

    Topologias de rede ..................................................... 45Redes distribudas e redes centralizadas .................... 46Fenmenos que ocorrem nas redes distribudas .......... 50

    As redes na ordem hierrquica .................................... 63Programas verticalizadores ...................................... 68

    Pare 2 | Colocando os culos de ver redes .......... 79

    A sociedade .............................................................. 81

    No princpio era a rede... ......................................... 85A rede-me......................................................... 91Na sociedade-rede .................................................. 96A nova sociedade civil ............................................. 109A velha sociedade civil organizada .......................... 114A nova sociedade civil desorganizada ...................... 120O grande desao do chamado terceiro setor ............... 127

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    O desenvolvimento .................................................... 141Modelos de desenvolvimento .................................... 145Redes e sustentabilidade ......................................... 151

    A rede aprendendo ................................................. 155Capital social ......................................................... 160

    A Internet ................................................................. 165Redes distribudas na Internet .................................. 172As redes sociais no existem na Internet ................... 175

    A poltica .................................................................. 181As relaes entre redes sociais e democracia .............. 187

    A democracia como um erro no scriptda Matrix.......... 192A poltica na sociedade em rede ............................... 198

    O mundo glocalizado .................................................. 205O local como mundo pequeno .................................. 209O local como cluster............................................... 211O local como terreno da emergncia ......................... 213O local como comunidade ........................................ 214

    ANEXO A | Graus de distribuio de rede ....................... 221

    ANEXO B | Matriz topolgica de rede ............................ 229

    ANEXO C | Um estudo experimental de busca emredes sociais globais (excertos) .................... 237

    ANEXO D | Redes e hierarquias .................................... 245

    Referncias bibliogrcas ............................................ 253

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    O que ler sobre redes

    Se no soasse to antiptico, melhor seria indicar o que no-ler

    sobre redes sociais. Quase toda literatura social sobre redes,sobretudo a que se encontra no Brasil, primria e instrumental,em virtude de tom-las como um novo artifcio organizativo, umexpediente para atingir um objetivo (em geral, de modohierrquico-autocrtico) e de no compreender que as redesno so um meio para fazer a mudana: elas j so a mudana.

    Mas quem quiser car a par da discusso contempornea(praticamente quase toda produzida neste sculo) sobre redes

    sociais, simplesmente no pode deixar de ler os seguintestextos que compem uma lista bsica de trinta e poucasindicaes de leitura:

    1 | MATURANA, Humberto (1985). Desde la Biologa a la Psicologa.3. ed. Santiago de Chile: Editorial Universitria, 1996.

    2 | LIPNACK, Jssica; STAMPS, Jeffrey (1982/1986). Networks:redes de conexes. Aquariana: So Paulo, 1992.

    3 | GUHENNO, Jean-Marie (1993). O m da democracia. 2. ed.Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1999.

    4 | LVY, Pierre (1994). A inteligncia coletiva: por umaantropologia do ciberespao. So Paulo: Loyola, 1998.

    5 | CAPRA, Fritjof (1996).A teia da vida: uma nova compreensocientca dos sistemas vivos. So Paulo: Cultrix, 1997.

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    6 | TAPSCOTT, Don (1996). The digital economy: promise andperil in the Age of Networked Intelligence. New York: McGraw-Hill, 1996.

    7 | CASTELLS, Manuel (1996). A sociedade em rede. SoPaulo: Paz e Terra, 1999.

    8 | STANDAGE, Tom (1998). The victorian Internet. New York:Berkeley Books, 1998.

    9 | CASTELLS, Manuel (1999). Para o Estado-rede: globalizaoeconmica e instituies polticas na era da informao. In:

    PEREIRA, L. C. Bresser; WILHEIM, J.; SOLA, L. Sociedade eEstado em transformao. Braslia: ENAP, 1991.

    10 | WATTS, Duncan (1999). Small Worlds: the dynamics ofnetworks between order and randomness. New Jersey: PrincetonUniversity Press, 1999.

    11 | JACOBS, Jane (2000). A natureza das economias. SoPaulo: Beca, 2001.

    12 | ARQUILLA, John e RONSFELD, David (2000). Swarmingand the future of conict. USA: Rand Corporation, Ofce of theSecretary of Defense, 2000.

    13 | ORAM, Andy (Org.) (2001). Peer-to-peer: o podertransformador das redes ponto a ponto. So Paulo: Berkeley,2001 (em especial o artigo de HONG, Theodore (2001).Desempenho).

    14 | CASTELLS, Manuel (2001).A galxia da Internet: reexessobre a Internet, os negcios e a sociedade. Rio de Janeiro:Jorge Zahar, 2003.

    15 | HIMANEN, Pekka (2001). The hacker ethic and the spirit ofthe information age. New York: Random House, 2001.

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    16 | LEVY, Steven (2001). Crypto: howthe code rebels beat thegovernment, saving privacy in the digital age. New York: PenguinBooks, 2001.

    17 | RAYMOND, Eric S. (2001). The cathedral & the bazaar:musings on linux and open source by an accidental revolutionary.New York: OReilly, 2001.

    18 | CAPRA, Fritjof (2002). As conexes ocultas. So Paulo:Cultrix/Amana-Key, 2002.

    19 | BARABSI, Albert-Lszl (2002). Linked: how everythingis connected to everything else and what it means. New York:Basic Books, 2002.

    20 | WATTS, Duncan; DODDS, Peter; MUHAMAD, Roby (2002).Um estudo experimental de busca em redes sociais globais.Science (2 December 2002; accepted 23 May 2003 |10.1126/science.1081058). Ver a edio de FRANCO, Augusto (2003),disponvel excertos em Carta Capital Social 107 .

    21 | RHEINGOLD, Howard (2002). Smart mobs: the next socialrevolution. New York: Basic Books, 2002. (Existe edio emespanhol: Multitudes inteligentes. Madrid: Gedisa, 2004.)

    22 | BUCHANAN, Mark (2002). Nexus: Small Worlds andgroundbreaking science of networks. New York: WWNorton, 2002.

    23 | BARD, Alexander; SDERQVIST, Jan (2002). La netocracia:el nuevo poder en la red y la vida despus del capitalismo.

    Espanha: Pearson Educacin, 2005.

    24 | WATTS, Duncan (2003). Six Degrees: the science of aconnected age.New York: W. W. Norton & Company, 2003.

    25 | STROGATZ, Steven (2003). Sync: the emerging science ofspontaneous order. New York: Hyperion, 2003.

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    26 | MARTINHO, Cssio (2003). Redes: uma introduo sdinmicas da conectividade e da auto-organizao. Braslia:WWF-Brasil, 2003.

    27 | CROSS, Rob; PARKER, Andrew (2004). The hidden powerof social networks: understanding how work really gets done inorganizations. Boston: Harvard Business School Press, 2004.

    28 | GARDNER, Susannah (2005). Buzz marketting with blogsfor dummies. New York: John Wiley, 2005.

    29 | TAPSCOTT, Don; WILLIAMS, Anthony (2006). Wikinomics:como a colaborao em massa pode mudar o seu negcio. Riode Janeiro: Nova Fronteira, 2007.

    30 | NEWMAN, Mark; BARABSI, Albert-Lszl; WATTS, Duncan(Eds.) (2006). The structure and dynamics of networks. NewJersey: Princeton University Press, 2006.

    31 | UGARTE, David (2007). El poder de las redes: manualilustrado para personas, colectivos y empresas abocados alciberactivismo. Disponvel em:. J existe traduo brasileira, editadacomo livro (em papel) com apresentao de Augusto de Franco:O poder das redes. Porto Alegre: CMDC/ediPUCRS, 2008.

    32 | UGARTE, David; QUINTANA, Pere; GMEZ, Enrique;FUENTES, Arnau (2008). De las naciones a las redes. Disponvel(copin de trabajo) em:

    33 | DUARTE, Fbio; QUANDT, Carlos; SOUZA, Queila (Orgs.)(2008). O tempo das redes. So Paulo: Perspectiva, 2008.

    34 | FRANCO, Augusto (2008). Escola de Redes: Tudo que sustentvel tem o padro de rede. Sustentabilidade empresariale responsabilidade corporativa no sculo 21. Curitiba: Escola-de-Redes, 2008.

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    Faltou aqui, evidentemente, o extenso campo do conhecimentochamado Social Network Analysis, que j conta com algumascentenas de publicaes importantes. Quem quiser obter

    mais informaes sobre o assunto, dever consultar o site daINSNA (International Network for Social Network Analysis)www.insna.org ou ler os livros de Stanley Wasserman, daUniversidade de Illinois.1 H muita coisa alm disso. Mas o fato que as teorias dos grafos so estticas de redes quando seprecisa agora de uma dinmica.

    Tambm tm surgido alguns manuais voltados a organizaesda sociedade civil sobre o que so redes sociais e comoarticul-las. Mas, como foi exposto no incio desta seo, novale muito a pena perder tempo com isso.

    Sobre capital social uma espcie de primrdio das teorias dasredes sociais tambm ser necessrio ler alguma coisa.2

    Noas e referncias

    1 Cf., e. g.: WASSERMAN, Stanley; FAUST, Katherine (1994). Social NetworkAnalysis: methods and applications. Cambridge: Cambridge University Press,1999 e WASSERMAN, Stanley; GALASKIEWICZ (Orgs.) (1994). Advances inSocial Network Analysis: research in the social and behavioral sciences.Thousand Oaks: Sage Publications, 1994.

    2 Quem quiser se aprofundar nas teorias do capital social, poder ler:COLEMAN, James (1990). Foundations of social theory. Cambridge, MA:Harvard University Press, 1990 (sobretudo o captulo 5); DETH, Jan W. van.et al. (Eds.) (1999). Social capital and european democracy. London/NY:

    Routledge/ECPR Studies In: European Political Science, 1999 (em especialdois textos: o de NEWTON, Kenneth. Social capital and democracy in modernEurope e o de WHITELEY, Paul F. The origins of social capital); LEENDERS,Roger and Gabbay, Shaul (1999). Corporate social capital and liability. Boston:Kluwer Academic Publishers, 1999 (em especial o texto de KNOKE, David.Organizational networks and corporate social capital); BARON, Stephen. et al.(Eds.) (2000). Social capital: critical perspectives. New York: Oxford UniversityPress, 2000 (em especial os textos de SCHULLER, Tom; BARON; Stephen;

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    FIELD, John. Social capital: a review and critique e de MASKELL, Peter. Socialcapital, innovation and competitiveness); LESSER, Eric (Ed.) (2000). Knowledgeand social capital: foundations and applications. Boston: Butterworth-Heinemann, 2000 (sobretudo os quatro textos seguintes: NAHAPIET, Janine;GHOSHAL, Sumantra. Social capital, intellectual capital and the organizationaladvantage; PORTES, Alejandro. Social capital: its origins and applications inmodern sociology; SNADEFUR, Rebecca; LAUMANN, Edward.A paradigm forsocial capital; e de ADLER, Paul; KWON, Seok-Woo. Social capital: the good,the bad and the ugly); DASGUPTA, Partha; SERAGELDIN, Ismail (Eds.) (2000).Social capital: a multifaceted perspective. Washington: The World Bank, 2000(sobretudo os trs textos seguintes: GROOTAERT, Christiaan; SERAGELDIN,Ismail. Dening social capital: an integrating view; OSTROM, Elinor. Socialcapital: a fad or a fundamental concept; DASGUPTA, Partha. Economic progress

    and the idea of social capital); EDWARDS, Bob et al. (Eds.) (2001). BeyondTocqueville: civil society and the social capital debate in comparativeperspective. Hanover: Tufts University, 2001 (em especial os textos deNEWTON, Keneth. Social capital and democracye de FOLEY, Michael; EDWARDS,Bob; DIANI, Mario. Social capital reconsidered); DEKKER, Paul; USLANER, Eric(Eds.) (2001). Social capital and participation in everyday life. London/NY:Routledge/ECPR Studies In: European Political Science, 2001 (em especial otexto de GROOTAERT, Christiaan. Social capital: the missing link?); LIN, Nan.et al. (Eds.) (2001). Social capital: theory and research. New York: Aldine de

    Gruyter, 2001 (em especial o texto de LIN, Nan. Building a network theory ofsocial capital); STOLLE, Dietlind; HOOGHE, Marc (2003). Generating socialcapital: civil society and institutions in comparative perspective. New York:Palgrave MacMillan, 2003.

    Antes de percorrer essa extensa lista, seria bom conhecer o bsico, nodeixando de comear pelos clssicos: Thomas Paine: Direitos do homem(1791); Tocqueville:A democracia na Amrica (1835-1840); Stuart Mill: Sobrea liberdade (1859) e Sobre o governo representativo (1861); e Jane Jacobs:Morte e vida das grandes cidades (1961), em que, pela primeira vez, o conceito

    de capital social denido como rede social. Depois, seria bom ler: JamesColeman: Social capital in the creation of human capital(In:American Journalof Sociology, Supplement 94 (s95-s120), 1998); Robert Putnam (1993):Comunidade e democracia: a experincia da Itlia moderna (o ttulo originalMaking democracy work, muito mais esclarecedor); Francis Fukuyama: Agrande ruptura: a natureza humana e a reconstituio da ordem social (1999)e Claus Offe:A atual transio da histria e algumas opes bsicas para asinstituies da sociedade (1999).

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    Inroduo

    Uma mudana signicativa em nossa viso sobre a sociedade

    vem ocorrendo nos ltimos anos com a descoberta das redessociais. Com efeito, as redes sociais so surpreendentes. Elassurpreendem, em primeiro lugar, os que vivem antenados comas novidades e esperam assumir uma posio de vanguardaou de destaque ao aderirem a elas. Essas pessoas, muitasvezes, cam chocadas quando se lhes diz que a rede social no nada mais do que a sociedade. Em geral, elas entram naonda das redes porque acham que descobriram um novo modo

    de chamar a ateno para si prprias, para suas idias ou paraseus produtos.

    J existe uma ampla literatura empresarial armando que quantomais conectada estiver uma pessoa, mais chances de sucessoela ter em sua carreira ou em seus negcios. Atualmente, htodo um setor do marketing tentando descobrir as regras domarketing em rede ou do marketing viral.

    Se os interessados nas redes sociais so polticos com vocaopara reformadores do mundo, ento, acham que agora estoprestes a descobrir um novo meio de mobilizar as massas emtorno de suas propostas de mudana ou de transformao dasociedade. Muitos ouviram falar do swarming civil, ocorrido naEspanha entre 11 e 13 de maro de 2004, que mudou bruscamenteo destino das eleies que levaram Zapatero ao poder pela

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    primeira vez e, ento, cam querendo descobrir o segredo decomo atingir o tipping point, de como desencadear aes quepossam crescer exponencialmente, amplicadas pelos mecanismos

    prprios das redes, de sorte a mudar o comportamento dosagentes do sistema em ampla escala.

    Toda essa curiosidade legtima, mas o mesmo no se podefalar, em geral, das motivaes e atitudes, que, s vezes, aacompanham. Se quisermos usar as redes sociais com essaexpectativa instrumental, quase certo que teremos problemasde frustrao de expectativas. No que esses fenmenosdesejados no ocorram: eles podem, sim, acontecer de fato.Mas a questo est na atitude de utilizao que freqentementenos impede de ver que as verdadeiras redes sociais querdizer, as redes sociais distribudas no podem ser urdidas pelodesejo de controle ou pela vontade de poder. Quem permanececom essa viso, em geral, no consegue articular redes sociais.Antes de qualquer outra coisa, no consegue entender o queso realmente redes sociais.

    Em geral (em mais de 90% dos casos), tem-se indevidamentedenominando de redes estruturas descentralizadas que tentamconectar horizontalmente instituies verticais, quer dizer,organizaes hierrquicas, mesmo que essas organizaesfaam parte da sociedade civil e pertenam nova burocraciaassociacionista das ONGs.

    Mas, ento, pergunta-se, freqentemente, como fazer uma

    rede social propriamente dita, quer dizer, uma rede distribuda.Para se chegar a uma resposta, preciso comear dando umaboa olhada nos velhos diagramas de Paul Baran (1964), esboadosem um documento em que o autor descrevia a estrutura deum projeto que mais tarde se converteria na Internet, em suaverso original.1

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    FIG. 1 | Diagramas de Paul Baran

    Nos trs desenhos (da FIG. 1), os pontos (nodos) so os mesmos,o que varia a forma de conexo entre eles. Redes propriamente

    ditas so apenas as redes distribudas (o terceiro grafo). Asoutras duas topologias centralizada e descentralizada podemser chamadas de redes, mas apenas como casos particulares(em termos matemticos). Ambas so, na verdade, hierarquias.

    Bem, para que redes sejam articuladas, em primeiro lugar, faz-senecessrio conectar pessoas ou redes propriamente ditas, querdizer, redes distribudas. A conexo horizontal de instituies

    hierrquicas no gera redes distribudas pela simples razo de queo uxo pode ser interrompido (controlado, ltrado) em cada nodo.Se isso acontecer, a topologia passa a ser descentralizada, isto ,multicentralizada. Em segundo lugar, preciso conectar as pessoasentre si e no apenas com um centro articulador ou coordenador,mesmo que esse centro se chame equipe de animao.

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    Bastaria isso? Sim, a rigor isso seria o bastante. Mas, ento, porque as iniciativas voltadas para a articulao de redes nocostumam funcionar?

    Ora, porque, em geral, no se faz isso. Simples assim. De modogeral, so conectadas instituies hierrquicas e no pessoas(ou redes distribudas de pessoas, o que a mesma coisa). Ou,ento, quando se conectam pessoas, institui-se sob o pretextode se realizar o trabalho de animao da rede um centrocoordenador, que mantm, de fato, uma ligao direta e transitivacom cada nodo da rede, mas que, na prtica, acaba funcionandocomo uma espcie de direo que decide o que ser feito emtermos coletivos. Decide pela rede. Decide para toda a rede.

    Bem, e se apenas pessoas (ou redes distribudas de pessoas)forem conectadas? E se essas pessoas estiverem conectadasentre si e no for exercido demasiado protagonismo a ttulo deanimao a ponto de desestimular o surgimento de iniciativasdiversicadas, caria garantido que a rede funcionaria?

    Sim, com certeza! Mas com um porm: depende do que seentende por funcionar! Uma rede funciona quando existe, ouseja, quando se congura segundo a morfologia de rede(distribuda) e manifesta sua dinmica caracterstica.

    Aqui preciso entender que as redes no so expedientesinstrumentais para pescar pessoas e lev-las a trilhar umdeterminado caminho ou seguir uma determinada orientao. Asredes faro coisas que seus membros quiserem fazer; ou melhor,

    s faro coisas conjuntas os membros de uma rede que quiseremfazer aquelas coisas. Se algum prope fazer alguma coisa emuma rede de 100 participantes, talvez 40 aceitem a proposta; osoutros 60 faro outras coisas ou no faro nada. Em rede assim: no h centralismo. No h votao. No h um processode vericao da formao da vontade coletiva que seja totalizantee que se imponha a todos, baseado no critrio majoritrio.

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    Alm disso, dizer que as pessoas esto conectadas umas comas outras, signica muito mais do que fornecer a cada uma onome, o e-mail, o endereo e o telefone das demais pessoas.

    necessrio que elas se conectem realmente (a conexo realno um trao em um grafo: como aquela fonte do heraclticoGoethe, ela s existe enquanto ui). Tambm necessrioque todas as pessoas disponham de meios para fazer isso, querdizer, meios para entrar em contato umas com as outras: sequiserem, quando quiserem e com quem quiserem.

    Em suma, quem quer articular e animar redes sociais deveresistir s (quatro) tentaes seguintes: fazer redes deinstituies (em vez de redes de pessoas), car fazendo reuniespara discutir e decidir o que os outros devem fazer (em vez de,simplesmente, fazer), tratar os outros como massa a sermobilizada (em vez de amigos pessoais a serem conquistados)e, por ltimo, querer monopolizar a liderana (em vez deestimular a emergncia da multiliderana).

    Resistir tentao de fazer redes de instituies (entidades,

    organizaes). Muitas vezes, necessrio, para comear umprojeto ou mesmo para dar respaldo sua implantao, reunirinstituies em torno de um propsito. Pode-se at chamar esseconjunto de instituies de rede. No entanto, redes propriamenteditas, ou seja, redes distribudas, no podem ser compostas porinstituies hierrquicas (centralizadas ou descentralizadas,quer dizer, multicentralizadas). Redes distribudas devem ser depessoas (P2P). Portanto, necessrio conectar as pessoas

    diretamente rede, mesmo que essas pessoas ainda imaginemestar ali representando suas instituies. Ocorre que um membroconectado rede no pode ser substitudo por outro membroda mesma instituio (nenhuma pessoa substituvel em umarede). Alm disso, as redes devem ser compostas pelas pessoasque queiram participar delas, independentemente de estaremou no representando instituies, pois redes no so coletivos

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    de representao, mas de participao direta ou de interao sem mediaes de instituies hierrquicas.

    Resistir tentao de fazer reunies para discusso oudeliberao com os membros da rede. Rede uma forma deorganizao que no se baseia no ajuntamento, arrebanhamento,connamento de pobres coitados em uma salinha fechada, onde,em geral, discute-se o que outros (que no esto ali) devemfazer. Sim, pois se for para fazer alguma coisa, ento, no setrata de reunio de discusso e sim de atividade coletiva. Outracoisa nociva a tal da reunio para decidir algo, sobretudo pelo

    voto. Isso um desastre! Se houver necessidade de votar paradecidir, sinal de que o assunto no est maduro. Se estivesse,a soluo se imporia naturalmente.

    Ter sempre presente que fazer rede fazer amigos. To simplesassim. Ento, as pessoas devem estabelecer comunicaespessoais entre si, uma a uma. Cada membro da rede umparticipante nico, insubstituvel, totalmente personalizado, que

    deve ser tratado sempre pelo nome, valorizado pelo que tem depeculiar, includo pelo reconhecimento de suas potencialidadesdistintivas. Nada, portanto, de circulares impessoais, panetos,chamamentos coletivos. Nada de mobilizao de massa. Quemgosta de massa so os candidatos a condutores de rebanhos,que estabelecem uma relao vertical, autoritria e paternalistacom o povo.

    Levar em conta que rede um campo para a emergncia dofenmeno da multiliderana. Cada um pode ser lder em algumassunto de que goste e domine, por meio do qual seja capaz depropor iniciativas que sejam acolhidas voluntariamente poroutros. Redes no podem ter lderes nicos, lderes de todos osassuntos, dirigentes autocrticos que tentam monopolizar aliderana e impedir que os outros a exeram.

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    Por certo, nem todos esto satisfeitos com as redes. H os quese decepcionam com o fato de terem tentado construir redesque, depois de algum tempo, desarticularam-se. H tambm os

    que esto nervosos porque suas redes no crescem em termospopulacionais (em nmero de nodos) e no se tornam tograndes quanto gostariam. No raro, essas pessoas acabamculpando a forma de organizao em rede pelo (que avaliam sero) seu fracasso.

    Ora, preciso ver que, como disse aquele programa chamadoOrculo, da srie The Matrix(interpretado pelas atrizes GloriaFoster e Mary Alice): tudo que tem um incio, tem tambm umm. Em outras palavras, redes voluntariamente articuladas noso para durar para sempre. Nada dura a vida toda. Experinciasde redes distribudas, sobretudo em uma sociedade invadida porprogramas centralizadores, so eventos limitados no espao eno tempo. Cada rede tem, assim, um tempo de vida. Elas sefazem e refazem. Somem e reaparecem, muitas vezes, comooutras redes. O que quer viver para sempre, que no aceita ouxo da vida, que continuamente transforma uma coisa emoutra, so os programas verticalizadores sintonizados com o egodo predador (o Agente Smith, interpretado pelo excelente HugoWeaving, se quisermos continuar fazendo um paralelo com asmetforas do lme). Quando se incrustam em uma formaosocial, tais programas centralizam a rede com o propsito decar l para sempre, tapando com cimento, como fazem astrmites, todas as sadas para a luz,2 ou seja, construindobunkers para se protegerem dos uxos que podem atravess-lose... modic-los. por isso que as autocracias constituem modospolticos prprios de estruturas centralizadas que querem trancaro futuro ou reduzir o estoque de futuros possveis para umacoletividade. Somente autocratas, que precisam necessariamenteviver em estruturas centralizadas, imaginam que podem durarpara sempre.

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    Por outro lado, por que uma rede teria que crescer de tamanho(em termos populacionais)? Crescer para qu? Por que, porexemplo, uma rede distribuda de 50 pessoas precisaria crescer?

    Para fazer alguma coisa? Mas as redes no so para fazer coisaalguma: elas so simplesmente para ser. Elas so o que qualquersociedade seria se no tivesse sido invadida por programascentralizadores.

    Fala-se, portanto, em crescer, mas uma rede no cresceapenas aumentando seus nodos e sim tambm aumentando suaconectividade e seu grau de distribuio. Alm disso, possvel

    que a rede cresa ainda em outro sentido: aumentando alargura de banda das suas conexes. Talvez a rede, almde crescer (mudana quantitativa), desenvolva-se (mudanaqualitativa). E talvez seja mais importante se desenvolver (querdizer, promover mudanas regulacionais) do que propriamentecrescer (em nmero de nodos). Por ltimo, talvez se esteja umpouco hipnotizado pelo fetiche do nmero (tal como oseconomistas; j se sabe que aquilo que foi chamado de Economics

    nasceu para ser uma cincia do crescimento).

    Freqentemente, tambm, est presente a preocupao com asredes que param de crescer, mas as redes so mveis mesmo.Crescem at certo ponto, ou melhor, dentro de um certo tempo(o seu tempo) e, depois, tendem a diminuir ou at a desaparecer.Ora, se a inteno no usar a rede como um instrumento parase fazer algo, que problema h aqui?

    Muita desiluso prematura com as redes nasce de umaincompreenso profunda do que elas signicam realmente.Quem quer usar as redes porque est na moda ou porqueimagina que, assim, conseguir ampliar seu poder, em geral,no se d muito bem. At mesmo quem quer usar as redes parapromover transformaes em nome de uma causa, muitas

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    vezes, ca decepcionado. Por qu? Porque a rede no uminstrumento para fazer a mudana. Ela j a mudana.

    Mas essa mudana no uma transformao do que existe emuma coisa que no existe e sim a liberdade para que o que jexiste possa ser capaz de regular a si mesmo. Sim, as pessoascaram completamente alienadas nos ltimos dois ou trssculos com esse modelo transformacional da mudana, quepressupe um agente de vontade capaz de promover, organizare liderar a mudana. Isso no ocorre na natureza nem emqualquer outro sistema complexo e a sociedade humana umsistema complexo. Na natureza e no mercado (que tambm sosistemas complexos), por exemplo, as mudanas seguem acombinao de um modelo variacional com um modeloregulacional. Os sistemas complexos adaptativos so aquelesque aprenderam a se auto-regular e s redes podem fazerisso, razo pela qual esses sistemas, seja o crebro humano ouum ecossistema, sempre se estruturam em rede de sorte apoderem se adaptar s mudanas (variaes aleatrias) internase externas. Ou a m de poderem conservar sua adaptao(uma boa denio de sustentabilidade), fazendo e refazendo,continuamente, congruncias mltiplas e recprocas com o meio.

    Essa idia de que voc tem que se transformar em uma pessoadiferente (que voc no ) foi uma coisa ruim que colocaramem sua cabea. Voc no precisa se transformar e sim despertarpara suas imensas potencialidades. Da mesma forma, a sociedadeno precisa ser transformada em outra coisa: ela precisa ser

    simplesmente o que quando as pessoas se conectam entre sihorizontalmente, sem a introduo de muros, escadas, portase fechaduras, cuja funo obstruir a livre uio, criando todasorte de anisotropias no espao-tempo dos uxos.

    A rede social no uma inveno contempornea. possveldizer que no princpio era a rede... a rede social que existe

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    independentemente de esforos organizativos voluntrios (oque ser chamado aqui de rede-me) a sociedade que existe(no a que no existe) e que s no se manifesta como

    porquanto foi invadida por programas verticalizadores, queatuam alterando a topologia distribuda, centralizando uxos.Quando se v livre desses programas, o seu Bios (Basic Imput/Output Sistem) d conta de regular suas mudanas. Por issoarma-se que a rede j a mudana e no a mudana paraoutra coisa que ela, a sociedade, no , mas a mudana para oque sempre foi por denio. Embora possa parecer, no h aquiqualquer jogo ardiloso de palavras. Seres humanos que se

    conectam entre si formam redes. O social isso. Ponto.Nos ltimos anos, fala-se muito de redes digitais. E ca-se coma impresso de que so as novas tecnologias de informao ecomunicao que representam toda essa novidade organizativa.Mas no bem assim. Como percebeu Don Tapscott, h maisde 10 anos, no se trata da organizao em rede da tecnologia,mas da organizao em rede dos seres humanos atravs datecnologia. No se trata de uma era de mquinas inteligentes,

    mas de seres humanos que, atravs das redes, podem combinara sua inteligncia,3 gerando uma inteligncia em rede, um novotipo de inteligncia coletiva. Mas essa inteligncia coletiva nonasce como resultado da aplicao de uma engenharia quecombine de forma planejada as inteligncias humanas individuais.Ela uma inteligncia social, que nasce por emergncia,uma espcie de swarm intelligence que comea a brotarespontaneamente quando muitos micromotivos diferentes so

    combinados de uma forma que no se pode prever de antemo.Aqui tambm no se pode pretender aplicar uma frmula, umesquema, para produzir esse supercomputador que a redesocial. O mais surpreendente nisso tudo que, na verdade, otal supercomputador o que chamado de social. Como diziaRalph Waldo Emerson (1841), em Self-reliance: we lie in thelap of an immense intelligence.

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    Muitas pessoas ainda insistem em dizer que as redes sobaseadas na cooperao. Isso verdade, mas no pelas razesque comumente so apresentadas. As pessoas pensam que as

    redes so uma nova forma de organizao baseada em princpioscooperativos, como se eles fossem uma condio a prioriparaque algum se conecte a uma rede, tendo que aderir a taisprincpios. Assim, as redes seriam colaborativas porque, aocomp-las, as pessoas fariam uma espcie de prosso de fnas vantagens da cooperao e mudariam pessoalmente seucomportamento para participar das redes, como quem tomauma deciso crucial de mudar de vida e faz um voto sobre isso

    para poder ser aceito em uma organizao religiosa.Nada disso. As redes sociais convertem, de fato, competio emcooperao, mas como resultado de sua dinmica. Elas noconvertem indivduos competitivos, beligerantes e possuidoresde forte nimo adversarial em indivduos cooperativos, paccose amigveis. Ao favorecer a interao e permitir a polinizaomtua de muitos padres de comportamento, o resultado dofuncionamento de uma rede social produzir mais cooperao,

    como j descobriram (ou esto descobrindo) os que trabalhamcom o conceito de capital social. As pessoas podem continuarquerendo competir umas com as outras, porm, quandoconectadas em uma rede, esse esforo no prevalece comoresultado geral visto que, na rede, elas no podem impedir queoutras pessoas faam o que desejam fazer nem podem obrig-las a fazer o que no querem. Assim, a rede no um instrumentoadequado para algum adquirir mais poder que sempre o

    poder de obstruir, separar e excluir. Por ltimo, as redesconstituem um corpo cujo metabolismo correspondente necessariamente democrtico (no sentido forte do conceito dedemocracia) ou plurirquico, como propuseram Bard e Sderqvistem 2002.4 Quanto mais distribudas elas forem, mais ademocracia que se pratica em seu interior vai adquirindo asfeies de uma pluriarquia.

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    Explicando melhor: em uma rede distribuda, como escreveuDavid de Ugarte (2007), ainda que a maioria no simpatizecom uma proposta e se manifeste contra ela no poder

    evitar a sua realizao, como ocorre nas formas democrticasatuais, que tomam a democracia no sentido fraco do conceitoe adotam um modo de vericao da formao da vontadepoltica coletiva por meio de processos aritmticos de contagemde votos, congurando-se como um sistema de escassez: acoletividade tem que eleger entre uma coisa e outra, entre umltro e outro, entre um representante e outro.5

    Ao contrrio, nas redes distribudas, como lembra o bloggerEnrique Gomes, h uma abundncia de recursos que tende aoinnito. Podemos criar tantos blogs, agregadores [de blogs],ambientes colaborativos, wikis ou fruns quanto quisermos.Ento, que sentido tem submetermo-nos aos desejos e s ordensde alguns...?.6 No por acaso que blogs e agregadores deblogs foram evidenciados aqui: blogosferas so, por enquanto,os melhores exemplos de redes distribudas.

    Armou-se acima que a rede j a mudana porque ela apossibilidade de exerccio da democracia naquele sentido queJohn Dewey atribua ao conceito: a democracia como modo devida, a democracia na base da sociedade e no cotidiano docidado (e no apenas como forma de administrao poltica doEstado ou regime poltico), a democracia comunitria, ademocracia local. E, como se sabe, a democracia (nesse sentidoforte do conceito) o que h; quer dizer, a nica utopia

    que no aliena o indivduo, remetendo-o a algum lugar no futuro.Sobre isso, pode-se dizer que quem precisa de utopia so asautocracias, no a democracia.

    Porque a utopia da democracia a poltica uma topia eno o contrrio, ou seja, no se deve usar a poltica paraobjetivos extrapolticos, como levar as massas para algum

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    lugar do futuro; e, na verdade, no se quer nada com a polticaa no ser que os seres humanos possam, aqui e agora, viverem liberdade, como seres polticos, participantes da comunidade

    poltica.7

    Assim, tal como as redes, a democracia no pode ser usadainstrumentalmente para se obter qualquer coisa, para atingirum conjunto de objetivos generosos, na medida em que ela jfaz parte desses objetivos, est co-implicada em sua realizao.A democracia tem, sim, uma utopia, mas que uma no-utopia porquanto no nalstica, no Shangrilah, Eldoradoou a Cidade do Sol, mas a estrela polar dos navegantes quepode ser vista por qualquer um, independentemente do poderque arregimentou ou do conhecimento que acumulou, dequalquer lugar no meio do caminho. E que no para seralcanada no futuro. E, ainda, que no admite que algum emvirtude de sua fora ou de sua sabedoria faa-nos seguir ummapa (o seu mapa) para aport-la. Por qu? Porque a democraciano o porto, o ponto de chegada (no futuro), mas o modo decaminhar (no presente). Assim, a utopia da democracia umatopia: a poltica. viver em liberdade como um ser poltico: cadaqual como um participante nico, diferenciado, totalmentepersonalizado da comunidade poltica,8 tal como aconteceapenas nas redes sociais distribudas de pessoas.

    Ocorre que redes distribudas so sempre comunitrias, semprelocais se tomarmos um conceito mais abrangente (e maispreciso) de local como cluster, abarcando socioterritorialidades

    ou comunidades. A emergncia de uma chamada sociedade-rede vem acompanhada de um processo de globalizao do locale, simultaneamente, de localizao do global. O futuro mundodas redes distribudas se vier no ser, como previa McLuhan,uma aldeia global, seno mirades de aldeias globais. A aldeiaglobal miditica (e molar), de Marshall McLuhan, sugere omundo virando um local. A sociedade-rede (molecular)

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    percebida por Levy, Guhenno, Castells e vrios outros sugerecada local virando o mundo, hologracamente. No o localseparado, por certo, mas o local conectado que tende a virar

    o mundo todo, desde que a conexo local-global passou a seruma possibilidade.9

    Noas e referncias

    1 BARAN, Paul (1964). On distributed communications: I. introduction todistributed communications networks. In: Memorandum RM-3420-PR, August1964. Santa Mnica: The Rand Corporation, 1964.

    2 A frase, belssima, de Antoine de Saint-Expery (1939) em Terra doshomens.

    3 Cf. TAPSCOTT, Don. The digital economy: promise and peril in the age ofnetworked intelligence. New York: McGraw-Hill, 1996.

    4 Cf. BARD, Alexander; SDERQVIST, Jan. Netocracy: the new power eliteand life after capitalism. London: Pearson Education, 2002.

    5 UGARTE, David (2007). O poder das redes. Porto Alegre: CMDC/ediPUCRS,

    2008.6 Idem.

    7 FRANCO, Augusto (2007). Alfabetizao democrtica: o que podemospensar (e ler) para mudar nossa condio de analfabetos democrticos.Curitiba: FIEP / Rede de Participao Poltica do Empresariado, 2007.

    8 Idem.

    9 FRANCO, Augusto (2003).A revoluo do local: globalizao, glocalizao,

    localizao. Braslia/So Paulo: AED/Cultura, 2003.

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    Explorandoas redes sociais

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    O que so redes sociais

    No se pretende reproduzir nem desenvolver aqui as teorias

    construdas para analisar redes sociais. Os interessados nachamada cincia das redes devem estudar a bibliograaindicada, tomando como guia o bom readerThe structure anddynamics of networks, editado por Mark Newman, Albert-LszlBarabsi e Duncan Watts (2006), onde o leitor poder entrar emcontato com os diversos campos de investigao da nova cinciadas redes: modelagem de redes real-world, redes como estruturasque se desenvolvem e redes como sistemas dinmicos.

    O foco deste trabalho no investigar as pesquisas dos estudiososdas redes, mas fazer exploraes no mundo das redes buscandoinferir interpretaes que inspirem novas vises sobre a sociedade.Como foi mencionado na apresentao deste volume, este umlivro sobre vises, no sobre anlise.

    O que chamado de mundo das redes, todavia, no o mundofsico que pode ser visto, mas um multiverso de conexes que

    no se v, ao qual s se pode ter acesso por meio da cincia ouda imaginao. Ainda que apoiadas em conhecimentos fornecidospela cincia das redes, as presentes exploraes so, em grandeparte, imaginativas.

    Pois bem, redes so sistemas de nodos e conexes. No caso dasredes sociais, tais nodos so pessoas e as conexes so relaes

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    entre essas pessoas. As relaes em questo so caracterizadaspela possibilidade de uma pessoa emitir ou receber mensagensde outra pessoa. Quando isso acontece de fato dize-se que uma

    conexo foi estabelecida.No entanto, isso menos trivial do que parece. A velocidade depropagao da mensagem depende do meio. Com a transmissoeletromagntica de mensagens em velocidades prximas velocidade da luz, as distncias foram praticamente anuladasem escala planetria e no se presta ateno na variveltemporal envolvida.

    No seria a mesma coisa se a comunicao estivesse ocorrendopor rdio com um nodo de rede situado, por exemplo, em umaestao espacial na rbita de Jpiter. Haveria um delayde, pelomenos, trinta e poucos minutos entre a emisso e a recepo.Assim como no era a mesma coisa no chamado networkdaFiladla, engajado na formulao da Declarao de Independnciados Estados Unidos, do qual participavam pessoas espalhadasem onze localidades distantes do comit redator. No primeiro

    semestre de 1776, uma carta, contendo uma sugesto para adeclarao, enviada por Oliver Wolcott, de Connecticut, levouquanto tempo para chegar s mos de Thomas Jefferson, naVirgnia? Cartas que seguiam por correio a cavalo, que nodeviam percorrer mais do que 60 km por dia, mensagens deNew Hampshire ou da Gergia, de Delaware ou de Nova York,levavam dias para chegar ao seu destino.

    Ora, uma conexo uma mensagem uindo, desde o momentoem que foi emitida. Isso coloca uma questo interessante: umapessoa que envia uma mensagem para uma pessoa desconhecidacria uma conexo que no havia? Quando a transmisso damensagem no em tempo real (quer dizer, muito rpida paraa distncia entre os nodos), como que o tempo deve serconsiderado? No caso do network da Filadla, em que

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    momento se estabelecia a conexo: quando as cartas eramenviadas, quando estavam no meio do caminho ou quandochegavam ao destinatrio? Era relevante que o emitente casse

    sabendo quando ela chegou? Para a conexo ser transitiva, serianecessrio que o emitente recebesse uma resposta? Em suma,quando Oliver Wolcott, de Connecticut, Josiah Barlett, de NewHampshire, George Walton, da Gergia, Caesar Rodney, deDelaware, ou Lewis Morris, de Nova York, poderiam dizer queestavam conectados rede da Filadla?

    Para contornar tais diculdades seria melhor denir que umaconexo um caminho que no existe sem o caminhante. Ocaminhante a mensagem. Uma rua conexo quando aspessoas passam por ela. Cada pessoa que transita (a p, a cavalo,de carroa ou de automvel) uma mensagem que foi de umnodo a outro. Um cabo de bra ptica s conexo quer dizer,s conecta de fato quando alguma mensagem est uindo porele. De qualquer modo, o que se transmite sempre um padro(nos termos da Teoria da Informao, um padro umamensagem), seja esse padro transmitido como uma sensaottil, um sabor, um odor, um som, um raio de luz. No importase o cdigo est se propagando por um meio slido ou uido, umgs ou uma mistura de gases (como a voz se propagando peloar) ou, ainda pelo vcuo (como as ondas eletromagnticas).

    Tudo isso para deixar claro que as redes no so estruturasxas, mas sistemas de uies.

    Aqui j h muita coisa em que se pensar. Geralmente se levado a tomar a rede pela sua representao grca (o grafo,com vrtices ligados por arestas). Sem querer, pensa-se, ento,que as arestas so estruturas xas, como a malha viria deuma cidade. Ocorre que, na realidade, uma aresta desenhadacomo uma linha de pontos co-presentes em um grafo, no temseus pontos no mesmo tempo. Ela uma trajetria, um rastro

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    de uio e no um caminho fsico. Quando a mensagemenviada do nodo A para o nodo B chegar ao seu destinatrio,no existir mais nada, sicamente falando. Apenas uma

    representao imaginria.

    FIG. 1.1 | Rede com 4 nodos

    Se, por exemplo, uma pessoa representada pelo nodo A (na FIG.1.1) falecesse antes de sua mensagem chegar ao nodo B, comoseria possvel continuar representando-a por um ponto no grafo?E se a posio relativa do nodo A em relao aos outros nodosda rede (ou seja, suas conexes com os nodos C e D) se

    modicassem enquanto a mensagem enviada do nodo A ao Bestivesse a caminho?

    Isso relevante porquanto uma conexo, uma vez estabelecida,ativa um circuito e modica a morfologia e a dinmica da redecomo um todo. E, alm disso, porque, de um modo ou de outro,esse processo ocorre o tempo todo em redes sociais queconectam um grande nmero de pessoas.

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    Diz-se freqentemente que os grafos das redes so instantneos.Na verdade, no so. Em uma representao instantnea, arigor, no apareceriam as conexes e sim os trnsitos daquele

    momento (FIG. 1.2). Poderia ser, talvez, mais ou menos, comouma foto de um espalhamento de partculas, mas, novamente,tal representao no seria tima, porquanto no existem, nocaso, as partculas, a menos que se queira considerar a existnciade algum bson como um fton , quer dizer, umapartculamensageira do campo eletromagntico.

    FIG. 1.2 | Espalhamento de partculas

    Para representar gracamente redes, entretanto, no h muitocomo fugir dos grafos que enfatizam a estrutura, ou seja, omapa do trfego de mensagens, conquanto freqentemente se

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    uma rede o que Guhenno (1993) chamou de idade dasredes e, depois, Castells (1996) chamou de sociedade-rede.Entretanto, a rigor, a rede social existe desde sempre, ou seja,

    desde que existem seres humanos se constituindo como tais narelao com outros seres humanos. Ou seja, a rede social oque propriamente se chama de social.

    A sociedade no est se constituindo como uma sociedade-redeapenas agora. Toda vez que sociedades humanas no soinvadidas por padres de organizao hierrquicos ou piramidaise por modos de regulao autocrticos, elas se estruturam comoredes. O que ocorre, atualmente, que a convergncia defatores tecnolgicos (como a bra ptica, o laser, a telefoniadigital, a microeletrnica e os satlites de rbita estacionria),polticos, econmicos e sociais est possibilitando a conexo emtempo real (quer dizer, sem distncia) entre o local e o globale, assim, est tornando mais visvel a rede social e os fenmenosa ela associados, ao mesmo tempo em que est acelerando epotencializando os seus efeitos, o que no pouca coisa.

    Isso no signica que as formas organizativas que queremosensaiar em uma sociedade no possam tambm adotarvoluntariamente o padro de rede. Mas so duas coisasdiferentes: uma organizao territorial, setorial ou temticavoluntariamente construda recebe o nome de rede quando seusintegrantes (pessoas, grupos e outras organizaes em rede)esto conectados entre si horizontalmente (ao contrrio decomo se organizam nas organizaes hierrquicas ou em uma

    holding, por exemplo). Mas a denominao de rede no se aplicaadequadamente a muitos esforos voluntrios de construirredes, que em geral apenas disfaram uma organizaocentralizada ou com um nmero insuciente de caminhos, naqual no podem se manifestar plenamente os fenmenosprprios da mltipla conexo em rede distribuda.

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    topologias de rede

    Como exposto na apresentao deste livro, qualquer coletivo de

    trs ou mais seres humanos pode conformar uma rede social,que nada mais do que um conjunto de relaes, conexes oucaminhos (gracamente representveis por arestas) e de nodos(vrtices). H rede quando so mltiplos (a rigor mais de um)os caminhos entre dois nodos.

    A partir de certo nmero de conexes em relao ao nmero denodos comeam a ocorrer fenmenos surpreendentes na rede,

    que no dependem, ao contrrio do que se acredita, do contedodas mensagens que trafegam por essas conexes. Quanto maisdistribuda ou menos centralizada for a topologia da rede,maiores sero as chances de tais fenmenos ocorrerem. Essesfenmenos no podem ser adequadamente captados e explicadospelas categorias e hipteses (que compem as teorias)tradicionais das cincias sociais. Esse o motivo do surgimentode uma nova cincia das redes.

    Entre esses fenmenos, at h pouco desconhecidos e que estosendo agora investigados, os principais talvez sejam o clustering(aglomeramento), o swarming (enxameamento), a auto-regulaosistmica, a produo de ordem emergente e a reduo dotamanho (social) do mundo (crunch). Na dinmica endgenadas redes, porm, existe toda uma fenomenologia ainda no

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    compreendida, como a pulsao e a intermitncia, os mltiploslaos de realimentao de reforo (feedbackpositivo), a iterao(ou reiterao), o relmpago e o assembleiamento, o loop e

    a reverberao.

    Como todos esses eventos dependem, entre vrios outros fatores,do nmero de conexes e de nodos e do grau de distribuio darede, para investig-los bom comear discutindo as topologiasde rede. No espao-tempo dos uxos, a topologia, se no determina,pelo menos, condiciona fortemente a fenomenologia.

    Costuma-se caracterizar como rede apenas as chamadas redesdistribudas (ao contrrio das redes centralizadas e das redesdescentralizadas) cuja topologia P2P, ou seja, em que osnodos esto ligados ponto a ponto e no por meio de um nicocentro (rede centralizada) ou de vrios plos (rede descentralizada).A novidade das redes se refere s redes distribudas.

    Redes disribudas e redes cenralizadasA rigor, entretanto, no se pode falar em redes distribudas ouredes centralizadas (monocentralizadas ou multicentralizadas,quer dizer, descentralizadas). O correto seria falar em graus dedistribuio ou, inversamente, em graus de centralizao.

    Ser preciso retomar, para comear, aqueles diagramas propostosoriginalmente por Paul Baran (1964):

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    FIG. 1.3 | Rede centralizada

    FIG. 1.4 | Rede descentralizada

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    FIG. 1.5 | Rede distribuda

    Entre a monocentralizao (o grau mximo de centralizao, queaparece como rede centralizada: FIG. 1.3 no diagrama de Baran)e a distribuio mxima (todos os caminhos possveis,correspondendo ao nmero mximo de conexes para um dadonmero de nodos que no aparece no terceiro grafo do diagramade Paul Baran por razes de clareza de visualizao: FIG. 1.5),existem muitos graus de distribuio. entre esses dois limites

    que se realiza a maioria das redes realmente existentes.

    Portanto, no parece muito consistente falar de rede centralizadaou rede distribuda, a no ser, em termos matemticos, comolimites. A partir de certo nmero de nodos, nenhuma rede socialreal consegue ser totalmente centralizada (isso seria supor ainexistncia de conexes entre os nodos, mas apenas de

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    conexes entre o nodo central e os outros nodos). Ora, a partirde certo nmero de nodos impossvel que isso acontea, pois o prprio tamanho (social) do mundo que impe um determinado

    nmero mnimo de conexes entre quaisquer nodos escolhidosaleatoriamente. Assim, mesmo que no se queira, os nodosligados a um centro tendem tambm a estar ligados entre si emalguma medida. Esse nmero de nodos a partir do qual umarede no conseguir mais permanecer centralizada depende domundo em que se est, de seus graus de separao.

    O mesmo vale, mutatis mutandis, para as redes com topologiaconsiderada descentralizada. Existem diferentes graus dedescentralizao. Mas o menor grau de descentralizao j (em termos locais) um grau de distribuio. A descentralizaomxima coincide com a distribuio (quando cada centrocoincidir com cada nodo, bvio). Distribuir des-con-centrar.A rigor, portanto, mais de um centro j des-con-centra. H umproblema com o segundo grafo de Baran (o da rede descentralizada:FIG. 1.4): os nodos conectados a cada um dos mltiplos centrosno costumam estar totalmente desconectados entre si, comoaparece no segundo grafo de Baran, quer se pense em liaisde uma empresa multinacional, quer se pense em um partidode clulas.

    No existe um nmero ideal para uma rede poder ser consideradadistribuda, a no ser o nmero total de conexes possveis entreseus nodos, correspondendo ao grau mximo de distribuio.

    O assunto merece um tratamento mais cuidadoso. Necessita-sede um ndice de distribuio de rede1 e, alm disso, de umamaneira inequvoca de caracterizar uma topologia de rede.2Avalia-se que esse grau de distribuio depende diretamente,para alm do nmero de conexes, do nmero de nodos queso desconectados com a eliminao do nodo mais conectadoe, inversamente, do nmero de conexes eliminadas com a

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    eliminao do nodo mais conectado. Se todos os nodos sodesconectados quando se elimina o nodo mais conectado,obtm-se uma rede totalmente centralizada. Em todos os outros

    casos, tem-se algum grau de distribuio, que pode chegar aomximo, para um dado nmero de nodos, quando nenhum nodo desconectado com a eliminao do nodo mais conectado (comexceo deste ltimo) e, alm disso, quando esses nodos tmo mesmo nmero de conexes do que teria o nodo maisconectado em uma rede totalmente centralizada. Assim, na redetotalmente distribuda, cada nodo um centro: a distribuiomxima a mxima descentralizao.3

    O fundamental aqui que o grau de distribuio o fator maisimportante a ser considerado para explicar os fenmenos queocorrem em uma rede.

    Fenmenos que ocorrem nas redesdisribudas

    Algum esforo meritrio tem sido feito, mas no se podeestabelecer as condies em que surge cada um dos fenmenos,aqui mencionados, que podem ocorrer em uma rede, conquantodepara-se com eles freqentemente quando se passa da friaanlise sociolgica para a percepo da dinmica das redessociais. Ainda no possvel inferir essa fenomenologia datopologia, mas j se sabe que ela depende da topologia. Isso to importante quanto surpreendente para todos ns que fomosacostumados a pensar que o decisivo so os contedos (comoos valores corretos ou as idias ou as opinies certas: orto-doxa). Estes so alguns exemplos:

    Clustering As idias, como dizia William Irwing Thompson(1987), do em cachos, como as uvas.4 Grupos criativos seformam e produzem alucinadamente durante um perodo. Mas,

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    depois, quando se desfazem, seus integrantes, por mais que seesforcem, no conseguem atingir o mesmo nvel de criatividade.Pacientes de uma mesma doena auto-imune (no-contagiosa,

    portanto, nem dependente de condies ambientais visveis ouconhecidas), aglomeram-se (!) em certas regies do planeta.Populaes de certas localidades parecem congeladas no tempoe continuam reproduzindo, nas praas de suas cidades, asmesmas conversas de seus ancestrais (dando a impresso deque sua cultura est presa em um looping). Pobres que s tmamigos pobres tendem a continuar pobres. E, como diz osubttulo de um interessante livro de Mark Buchanan (2007),

    rich get richer, cheaters get caught and your neighbor usuallylooks like you.5 assim que as pessoas que vivem em um lugarpertencem a uma comunidade, acabam adquirindo os mesmoshbitos e comportamentos, vestindo as mesmas roupas,gesticulando de modo parecido, usando as mesmas expresses.Isso tem a ver com a capacidade da rede social (ou do clusterparticular), a que pertencem tais pessoas, de induzircomportamentos. O mecanismo parece ser semelhante ao da

    replicao dos memes (por imitao).6

    O que se chama de localj o resultado de uma clusterizao (FIG. 1.6).7

    Swarming Uma pessoa, indignada com certo comportamentodo governo, sentada, talvez, em um bar numa rua perifrica dacapital, comea a mandar mensagens por SMS (Short MessageService, tambm conhecido como torpedo) para seusconhecidos, que as reproduzem por celular e por e-mail paraseus amigos e, de repente, irrompe um movimento de milhes

    de pessoas que ocupam praas e ruas do pas e mudam aconjuntura poltica nacional em poucas horas, alterando umresultado eleitoral tido como certo. Sim, foi o que aconteceuentre 11 e 13 de maro de 2004 na Espanha, nas vsperas daeleio que levou Zapatero ao poder pela primeira vez.8 Outroexemplo: contra as opinies dos grandes lderes polticos, derespeitados intelectuais e de famosos artistas e desportistas,

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    intensamente veiculadas pela mdia, voc d sua opinio sobreuma questo que est sendo submetida a referendo a umapessoa na la de um banco. Daqui a pouco, passadas algumas

    horas, milhares de pessoas esto emitindo tambm suas prpriasopinies em todas as las, dos pontos de nibus aos sales deembarque nos aeroportos. O boca-a-boca se espalha e seamplica pelo celular, ganha as listas de e-mails, os blogs e ossites de relacionamento na Internet. Em poucos dias, h umareviravolta. O resultado esperado da consulta se inverte. Sim,foi mais ou menos o que aconteceu em 2005 no Brasil, nasegunda metade da campanha do referendo sobre a proibio

    da comercializao de armas e munies.9

    Swarming , a rigor,a produo disruptiva de ordem emergente que pode semanifestar em um conito que se dissemina e engaja seuscontendores bottom up, por contaminao viral (FIG. 1.7).

    FIG. 1.6 | Clusters

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    FIG. 1.7 | Swarming (imagens de nuvens de insetos)

    Auto-regulao sistmica e ordem emergente Uma rede, emcertas condies, pode enxamear (swarming) e manifestarinteligncia de enxame (swarm-intelligence) ainda que seusnodos, individualmente, no tenham mais do que a intelignciade um inseto. Por exemplo, com base em regras relativamentesimples, que cada indivduo segue em relao uns aos outros,os cupins africanos conseguem erigir uma construo arquitetnicamais complexa do que qualquer criao humana (FIG. 1.8).10

    difcil compreender isso porquanto que se foi educado paraentender o comportamento complexo como sendo o resultadode inteligncia complexa, como escreveu Michael Crichton(2002) em seu romance intitulado Presa: espera-se encontrarum comando central em qualquer organizao. Os pasespossuem governos. As empresas possuem CEOs. As escolaspossuem diretores. Os exrcitos possuem generais. Os sereshumanos tm a tendncia de acreditar que sem um comandocentral, o caos tomaria conta da organizao e nada signicativopoderia ser realizado.11

    Mas a natureza est mostrando que as coisas no so bemassim. E isso no acontece somente na natureza no-humana.Como percebeu Jol de Rosnay (1995) em O homem simbitico,um dos pontos fundamentais da ao em rede (...) [ que]

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    milhares de agentes atuando em paralelo, a partir de regrassimples, podem resolver coletivamente problemas complexos(...) [e que] enquanto as grandes manifestaes pblicas

    mostram que as multides esto longe de dar prova de umainteligncia signicativa, determinados sistemas adaptados deretroao societal podem fazer emergir uma inteligncia coletivasuperior dos indivduos isolados.12 Nesse caso, a regra bsicada emergncia, como salientou Steven Johnson, aquela mesmados cupins: aprender com os vizinhos.13

    FIG. 1.8 | Cupins enxameando

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    Crunch Em uma localidade, em uma organizao social ou emuma empresa, pessoas comeam a se conectar umas com asoutras em torno de propsitos comuns (como um sonho de

    futuro que passa a ser coletivamente desejado) ou simplesmentepara compartilhar idias, msicas, lmes ou outra coisa qualquer.A partir de certo momento, comeam a acontecer coisassurpreendentes que modicam profundamente essas pessoas,tornando-as e s suas organizaes, mais conantes no seuprprio futuro e mais encorajadas a empreender e a inovar.Passado algum tempo, a localidade, a entidade ou a empresa aque pertencem tais pessoas muda radicalmente sua estrutura

    e sua dinmica e as pessoas passam a se comportar comocoletivos que aprendem, adaptam-se mais facilmente smudanas que ocorrem no ambiente em que esto inseridas,ou seja, passam a ser comunidades (redes identitrias) que sedesenvolvem. Mais do que isso, passam a ser comunidades quese comportam como se fossem um indivduo. Ocorreu umcrunch, que como chamada a reduo do tamanho (social)do mundo provocada por um aumento acelerado do grau de

    distribuio (incluindo aqui o aumento de conectividade) de umarede. E isso tem tudo a ver com o que tem sido chamado, nosltimos anos, de empoderamento: alis, essa a nica maneiraintrnseca de explicar como ocorre esse efeito (empowerment).

    Esse o fenmeno mais surpreendente e mais promissor doponto de vista da emergncia de uma nova sociedade-rede,ligado ao que estudiosos como Duncan Watts e Steven Strogatzchamam de Small World Phenomenon. Watts, Strogatz eoutros pesquisadores que trabalham com o tema no extraem,por certo, as mesmas concluses que sero apontadas aqui.14

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    por fora) de uma alta tramatura do tecido social, uma forapoderosssima. Porque quanto mais caminhos existirem, maispossibilidades existiro de um pequeno estmulo, proveniente

    de qualquer lugar do mundo, propagar-se e se amplicar porreverberao, por feedbackpositivo, isto , pela ocorrncia demltiplos laos de realimentao de reforo, atingindo o mundotodo. Ora, isso signica, por um lado, que os elementos domundo (os nodos da rede) tero mais chances de verem suasidias ou os seus memes se replicarem, ou seja, eles estaromais empoderados. Mas, signica tambm, por outro lado, emprimeiro lugar, que o sistema como um todo que empodera

    seus componentes e, em segundo lugar, que tal sistema funcionacomo amplicador e macroprocessador dos estmulos recebidos/emitidos por seus componentes.

    Dizer que small is powerfulsignica dizer que o mundo pequeno(no sentido de muito distribudo e muito tramado socialmente) mais empoderante de seus componentes do que o mundogrande e que ele tem mais capacidade de usinar softwares queinstruem a construo de comportamentos e de replicar taisprogramas. Porm, muito alm disso tudo, signica dizer queuma mudana de comportamento, mesmo perifrica, ensaiadaem um mundo pequeno, tem mais chances de se propagar parao sistema como um todo, afetando o comportamento dos outrosagentes que o compem. Ou seja, mundos pequenos so mundosmais susceptveis mudana social do que mundos grandes.16

    Parece evidente que o crunch tem a ver com os outros fenmenos

    de rede mencionados anteriormente, quer dizer, com o clustering(que est na raiz do Small World), com a produo de ordememergente e com o swarming: sim, porquanto a produo deordem emergente tambm a desconstituio de ordempreexistente (ou remanescente). aqui que se encontra aquelaMatrixdo lme, o mainframe cujo objetivo o controle.

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    Noas e referncias

    1 Ver Anexo A.

    2 Ver Anexo B.3 Cf. Anexo A.

    4 Parece que as idias brotam ou emergem (ou imergem?) em complexos. por isso que, como dizia Thompson, em 1987, no prefcio de Gaia: uma teoriado conhecimento, as idias, da mesma forma que as uvas, crescem emcachos. as pessoas gostam de se agregar pelo simples fato de sentir que, navideira, suas idias se tornam mais completas e mais enriquecidas e so,freqentemente, o resultado do trabalho de uma comunidade intelectual que

    reete as idias, reunies, discusses, cartas e comunicaes... acontecidasa partir do momento em que cada um de seus membros reconhece que o seutrabalho est sendo descrito e desenvolvido no mais individualmente, maspor outros colegas (cf. THOMPSON, William Irwin (Org.) (1987). Prefcio.In: Gaia: uma teoria do conhecimento. So Paulo: Gaia/Global, 1990).

    5 Cf. BUCHANAN, Mark (2007). The social atom. New York: Bloomsbury, 2007.

    6 O problema com as teorias dos memes que elas no trabalham com a noode rede, preferindo derivar uma espcie de padro variacional de mudana usado

    pelo darwinismo e pelo neodarwinismo em vez de adotar o padro regulacionalde mudana. Isso pode levar a uma espcie de determinismo memtico (decalcadodo determinismo gentico): assim como no so os genes que explicamdisposies inatas e comportamentos biolgicos derivados, tambm no so osmemes que podem fazer isso no plano cultural. So as redes.

    7 Cf. A viso sobre o mundo glocalizado na parte 2 deste livro.

    8 O atentado terrorista de 11 de maro de 2004, na Espanha, ocorreu svsperas de uma eleio presidencial, em que o candidato de Aznar, do PP

    (Partido Popular), Mariano Rajoy, j estava cotado em todas as pesquisascomo o virtual vencedor. Mesmo assim, para fazer mais um movimento quegarantisse sua vitria, o governo de Aznar resolveu vir a pblico apontando oETA como responsvel pelo atentado. Rafael Estrella, deputado por Granada,ex-Presidente de Assemblia Parlamentar da OTAN, assim descreveu asituao: Parece evidente que, en la maana del 11-M, Aznar, sus spin doctorsy la direccin de la campaa tomaron una decisin tan coherente comomiserable: el atentado encajaba plenamente en la estrategia de campaa del

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    PP. Con el atentado, la ecuacin creada en torno a ETA se haca realidad yadquira toda su potencia dada la dimensin de la masacre. Por tanto, no slose supona que era ETA la autora, sino que... tena que ser ETA. Con ello,la mayora absoluta que las encuestas descartaban volva a estar al alcancede la mano. La hiptesis plausible se convirti as en certeza y en verdadincuestionable, incluso cuando la autntica verdad se abri paso. El resto esconocido: la manipulacin interesada, la ocultacin y el falseamiento de lainformacin, llevado hasta el extremo por Ana Palacio cuando todava el 14-Mmantena ante la prensa internacional la hiptesis de ETA. Pero a esa hora laevidencia del engao haba atravesado ya prcticamente todas las barreras,desde Sydney a Londres o Nueva York, desde Madrid a Barcelona, Bilbao oGranada. No fue el atentado lo que provoc el giro electoral que dio lugar auna contundente victoria socialista. Tampoco fue la evidencia de que haba

    sido provocado por AlQaida ni la relacin del atentado con la guerra de Iraq.Fue el intento irresponsable de ocultar y falsear la verdad lo que activ convirulencia todos los elementos, incluido el rechazo por la guerra y las mentirasde Iraq. (1) (Cf. ESTRELA, Rafael (2004). Un prlogo y una visin sobre el11-M y Espaa. In: UGARTE, David (2004). 11M: redes para ganar una guerra.Barcelona: Icaria, 2004). David de Ugarte (2004), nesse mesmo livro em queescreveu sobre o assunto, conta em detalhes o momento em que comeou ocrescimento exponencial da mobilizao: Sbado, hora de comer. Justo antesde la hora en que las cuadrillas de amigos quedan y organizan la tarde. Suena

    el mvil. Mensaje de texto: Aznar de rositas? Lo llaman jornada de reexiny Urdazi trabajando? Hoy 13M, a las 18h. Sede PP C/ Gnova 13. Sin partidos.Silencio por la verdad. Psalo! En menos de una hora el mensaje ha llegadoya a Barcelona y una red informal de gente se pone a convocar una movilizacinequivalente. All el telfono jo tambin movilizar redes de amigos. Los foros,la mensajera instantnea, las bitcoras, las listas de correo, trabajarn apleno rendimiento hasta las seis. A esa hora ya hay ms de doscientas personasen la calle Gnova de Madrid. La prensa digital lo recoge. Conforme pasan lashoras el nmero va creciendo, mil, dos mil, tres mil. La radio se hace eco y

    se alcanzan as cinco mil personas. En Barcelona se convierte en una caceroladamasiva. El fenmeno est saltando de ciudad en ciudad: Bilbao, Gijn, Oviedo,Valencia, Palma de Mallorca, Santiago de Compostela, Alicante, Granada, LasPalmas, Sevilla, Zaragoza, Burgos, Badajoz... El stablishment tiene miedo. SuMajestad el Rey llama al candidato socialista, Zapatero, para pedirle que llamea la cadena SER y pida que no d ms cancha a la manifestaciones. Este lohace. Pero no siendo el motor de la movilizacin tiene difcil pararla. Elcandidato popular, Rajoy, que ha dejado durante toda la campana la cara ms

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    autoritaria para sus lugartenientes da una rueda de prensa en la sede de supartido pidiendo la represin de las manifestaciones. Al recogerlo los mediosy aparecer en televisin, lo que quiere sea una sutil combinacin de victimismoy rmeza se le vuelve en contra: aparece crispado, violento, pattico, buscandoconvocantes inexistentes... fuera denitivamente del tiempo histrico. Estetipo no sabe ni lo que es una cadena de mensajes, que decir de um ash-mob,comenta un manifestante en un bar cercano a la zona de protestas. En esemomento se percibe en el aire la indignacin: una nueva cadena masivarecorre Espaa Contra el golpe de estado del PP, con nuevos puntos de cita.Desde sus casas, con mviles, algunos conectores de la naciente red informalse dedican a avisar a la prensa y llamar a radios y sitios de noticias. La noticiase amplica una y otra vez. El mensaje funciona: Espaa percibe que alguiencuyas respuestas son tan extemporneas no puede ser el Presidente en los

    nuevos tiempos que el horror ha abierto. Rajoy ha perdido, l solito, laselecciones. El guerracivilismo autoritario del PP, que haba optado comoestrategia por asociar al terrorismo a todos los que no compartan su visinde la identidad nacional, h acabado cobrndose al delfn de Aznar comovctima. (Idem)

    9 No dia 23 de outubro de 2005, pouco menos de 100 milhes de brasileirosforam s urnas para decidir se o comrcio de armas para civis seria proibidoou no no pas, no primeiro referendo da histria da Repblica. O sim

    proibio estava, segundo a maioria dos analistas (e inclusive dos institutosde pesquisa da opinio), com a vitria praticamente garantida. No foi o quese viu no nal do dia, quando saiu o resultado das urnas. O no proibioteve 64% dos votos, enquanto que o sim cou com 36%, mostrando que amaioria da populao brasileira no a favor da proibio de armas de fogoaos civis e, surpreendentemente, contrariando a opinio do principal lder dasituao (o presidente Lula), do principal lder da oposio (o ento prefeitode So Paulo, Jos Serra) e da maior parte dos intelectuais, artistas,desportistas e outros cones da mdia que se engajaram, infrutiferamente, nacampanha do sim. Alguns analistas botaram a culpa pelo resultado no fato

    dos partidrios do sim no terem sabido usar a Internet to bem quanto ospartidrios do no.

    10 Os cupins africanos so um exemplo clssico. Esses insetos constroemmontculos de terra semelhantes a um castelo com trinta metros de dimetroe espirais que se projetam seis metros no ar. Para apreciar sua realizao preciso imaginar que, se os cupins tivessem o tamanho de pessoas, essesmontes de terra seriam arranha-cus com um quilmetro e meio de altura e

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    oito quilmetros de dimetro. Assim como um arranha-cu, o cupinzeiropossua uma intricada arquitetura interna para proporcionar ar fresco, removero excesso de calor e CO2, e assim por diante. Dentro da estrutura, h localapropriado para o cultivo de alimentos, aposentos para a realeza e espaopara at dois milhes de cupins. No h dois cupinzeiros exatamente iguais;cada qual construdo individualmente para se adequar s exigncias evantagens de um determinado local. Tudo isso conseguido sem nenhumarquiteto, nenhum mestre-de-obras, nenhuma autoridade central. No h nemmesmo uma planta de construo codicada nos genes do cupim. Em vezdisso, essas enormes criaes so o resultado de regras relativamente simplesque cada cupim segue em relao uns aos outros. (Regras como: Se sentir ocheiro de que outro cupim esteve aqui, coloque um gro de areia neste lugar).No entanto, o resultado poderia ser considerado mais complexo do que

    qualquer criao humana. (Cf. CRICHTON, Michael (2002). Presa. Rio deJaneiro: Rocco, 2003).

    11 Idem.

    12 Cf. Captulo 5 do livro de ROSNAY, Jol (1995). O homem simbitico.Petrpolis: Vozes, 1997. Sobretudo a seo Democracia participativa eretroao societal.

    13 Cf. o artigo de STEVEN, Johnson, Only conect, publicado no The Guardian

    em 15/10/01.14 No nal de 2002, Peter Sheridan Dodds, Roby Muhamad e Duncan Watts,da Universidade de Colmbia, apresentaram revista Science os resultadosde um estudo experimental de busca em redes sociais globais. Utilizandoprogramas de e-mail, eles, de certo modo, buscaram refazer o trabalhoexperimental pioneiro realizado por Travers e Milgram no nal dos anos 60 dosculo 20. As concluses da pesquisa so surpreendentes. Duncan e seuscolegas encontraram para o mundo inteiro e 35 anos depois um resultadomuito parecido com o de Milgram, que focalizou apenas a sociedade americana.

    Isso sugere que o tamanho de mundo do mundo inteiro no nal de 2002 mais ou menos o mesmo do tamanho de mundo dos USA em 1967. Mastalvez no seja possvel armar isso com base (ou somente) no experimentode Duncan. Travers e Milgram encontraram, em mdia, seis graus de separao.Duncan e sua turma, que pareciam j conhecer o resultado antes mesmo doexperimento, encontraram cinco a sete graus de separao! Se o experimentode Duncan tivesse sido feito, com outros meios no-eletrnicos, no nal dosanos 60, provavelmente seria encontrado um grande intervalo entre os valores

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    mundiais e os americanos. Como no possvel inferir isso do experimentoque zeram, resta a Duncan e sua equipe refazer o trabalho para algumassociedades escolhidas, inclusive a americana. De qualquer modo, o experimentorevelou, entre outros, quatro resultados importantes: a) existe mesmo o efeito

    Small-World Network,essa a principal concluso; b) os laos fracos somais relevantes que os fortes, ou seja, cooperao social vale mais do quelaos de sangue ou parentais (conrmando as hipteses das teorias do capitalsocial). Como eles prprios escreveram: Laos fracos so desproporcionalmenteresponsveis pela conectividade social; c) nas palavras dos prprios autores,

    a busca social parece ser um exerccio geralmente igualitrio, cujo sucessono depende de uma pequena minoria de indivduos excepcionais; e d) umligeiro incremento de incentivos pode levar as buscas sociais ao sucesso sobdiferentes condies. Ou seja, como eles dizem, a rede no tudo, porm,

    existindo a rede, basta um peteleco. Excertos das concluses desse novoexperimento (publicado em maio de 2003 | 2 December 2002; accepted 23May 2003 |10.1126/science.1081058) esto no Anexo C.

    15 Ver Anexo D.

    16 Cf. FRANCO, Augusto (2003).A revoluo do local: globalizao, glocalizao,localizao. So Paulo/Braslia: Cultura/AED, 2003.

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    As redes na ordem hierrquica

    Seres humanos se conectam uns com os outros formando redes

    sociais. No necessrio que algum tome a deciso de fazerisso. No h qualquer razo decorrente de alguma coisa comouma natureza humana, seja l o que isso for pela qual essasrelaes no sejam horizontais, quer dizer, mais distribudasdo que centralizadas.

    Dentro de certos limites impostos pelo nmero de pessoas epelas distncias entre elas, quer dizer, para usar o jargotecnolgico atual, pela largura da banda ou pela velocidadeda conexo , em princpio, tambm no h qualquer motivotipicamente humano para que todas as pessoas no se conectemdiretamente com todas as pessoas. A tendncia que isso acabeacontecendo, se no houver qualquer impedimento. a que acoisa comea a complicar: quando a rede invadida por padreshierrquicos e modos de regulao autocrticos.

    S, ento, percebe-se que a rede est presente no cotidiano de

    uma maneira muito mais concreta do que se imagina. Estes soalguns exemplos:

    Voc tenta falar com uma pessoa e no consegue, voc chegaa uma instituio pblica e lhe do um ch de cadeira: ora, oque est havendo seno obstrues na rede? Se os caminhosestivessem abertos voc escorreria por eles; se alguns caminhos

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    estivessem impedidos ou congestionados, voc tomaria rotasalternativas. Mas quando no h mltiplos caminhos sinal deque no h rede e essa , alis, a prpria denio de rede

    (stricto sensu, distribuda). Muitas vezes os caminhos soobstrudos por barreiras ou cancelas burocrticas.

    Voc fez um estudo interessante sobre determinado assunto,mas a burocracia sacerdotal do conhecimento acadmico nolhe d crdito; voc tenta ler (ou escrever) alguma coisa indita,mas no consegue entender (ou ser entendido) por razesestranhas racionalidade formal (lgica e metodolgica) ousubstantiva (semntica includa) do texto: certamente esthavendo algum tipo de interveno hierrquica, que selecionaalguns caminhos na rede em detrimento de outros. Algumprograma particularizou uma regio da rede instaurando cdigosde reconhecimento e permisses. Se voc no possui ascredenciais (um ttulo, por exemplo, com o qual os mesmos desempre se condecoram mutuamente em um circuito fechado dequem leu as mesmas coisas, participou das mesmas conversas,quer dizer, compartilhou voltas em torno do mesmo assunto ouda mesma maneira de abord-lo), seu acesso proibido. Paraesse tribunal epistemolgico que se arroga o direito de dizero que e o que no vlido em termos de pensamento todosso culpados de heresia em princpio. Voc tem que ser absolvidopor ele, de antemo, para ser aceito.

    Voc tem uma opinio sobre determinado assunto, mas no lhereconhecem o direito de proferi-la ou, ento, tentam desvaloriz-

    la em princpio. Algum