escola preparatória de publicada pela escola preparatória ... · jorge luiz pavan cappellano –...

61
Revista Pedagógica 2011 EsPCEx 1 EsPCEx, onde tudo começa Escola Preparatória de Cadetes do Exército Chefe da Seção de Comunicação e Expressão Chefe da Seção de Comunicação e Expressão Comando da Escola Fábio Benvenutti Castro – Coronel Comandante e Diretor de Ensino Pedro Paulo de Araújo Alves – Coronel Subcomandante e Subdiretor de Ensino Fernando Bartholomeu Fernandes – Tenente-Coronel – Comandante do Corpo de Alunos Divisão de Ensino Claúdio Magni Rodrigues – Coronel R1 – Chefe da Divisão de Ensino Wilson Roberto Rodrigues Coronel R1 – Chefe da Seção de Ciências Matemáticas Hajime Kiyota – Coronel R1 – Chefe da Seção de Ciências Sociais Guaraci Alexandre Vieira Collares – Coronel R1 – Chefe da Seção de Comunicação e Expressão José Francisco Martinez – Coronel R1 – Chefe da Seção de Idiomas João Alves de Paiva Neto – Coronel R1 – Chefe da Seção de Ciências Naturais ********************************* Direção da Revista e Diagramação: Jorge Luiz Pavan Cappellano – Coronel R1 Arte Final: Eduardo Tramonte Cappellano – Publicitário Revisão: Edson de Campos Souza– Major Fotolito e Impressão: EGGCF REVISTA PEDAGÓGICA 2011 – 14ª Edição – Publicada pela Escola Preparatória de Cadetes do Exército. Campinas,SP. Fone: (0xx19)37442000,Fax:(0xx19) 32411373 www.espcex.ensino.eb.br, ISSN 1677- 8359. A Nossa Capa reproduz imagens da fachada da EPSP (1940), da EPC (1959) e da atual EsPCEx. Na parte superior, à esquerda, vê-se a imagem que ilustrou a capa da primeira Revista Pedagógica, editada no ano do Jubileu de Ouro da EsPCEx e, à direita, o Brasão da EsPCEx. A capa assinala o ano de implantação do Ensino Superior na EsPCEx. **************************** Tiragem da Revista: 1000 exemplares Os conteúdos dos textos apresentados são de responsabilidade de seus autores e não expressam, necessariamente, as opiniões da direção da EsPCEx. - Distribuição Gratuita - Criação: Eduardo Tramonte Cappellano Nossa Capa

Upload: vonga

Post on 19-Nov-2018

238 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

Page 1: Escola Preparatória de Publicada pela Escola Preparatória ... · Jorge Luiz Pavan Cappellano – Coronel Chefe da Divisão de Ensino João Alves de Paiva Neto – Coronel ... Tendo

Revista Pedagógica 2011 EsPCEx

1EsPCEx, onde tudo começa

Escola Preparatória deCadetes do Exército

Comando da Escola

Décio Luis Schons – Tenente-CoronelComandante e Diretor de Ensino

Luciano Puchalski – Tenente-CoronelSubcomandante e Subdiretor de Ensino

*********************************Divisão de Ensino

Jorge Luiz Pavan Cappellano – CoronelChefe da Divisão de Ensino

João Alves de Paiva Neto – CoronelChefe da Seção de Ciências Naturais

José Francisco Martinez – CoronelChefe da Seção de Ciências Matemáticas

Gil Hermínio Rocha – Tenente-CoronelComandante do Corpo de Alunos

Paulo Roberto Loyolla Kuhlmann – MajorChefe da Seção de Ciências Sociais

Edson de Campos Souza – CapitãoChefe da Seção de Comunicação e Expressão

*********************************

Direção da Revista:Jorge Luiz Pavan Cappellano - Coronel

Revisão:Edson de Campos Souza – Capitão

Diagramação:Wallace Fauth – 1º Tenente

Fotografia:Edison Caldeira Faustino e Edis Faustino

Fotolito e Impressão:Imprensa Oficial do Estado de São Paulo

Comando da Escola

Décio Luis Schons – Tenente-CoronelComandante e Diretor de Ensino

Luciano Puchalski – Tenente-CoronelSubcomandante e Subdiretor de Ensino

*********************************Divisão de Ensino

Jorge Luiz Pavan Cappellano – CoronelChefe da Divisão de Ensino

João Alves de Paiva Neto – CoronelChefe da Seção de Ciências Naturais

José Francisco Martinez – CoronelChefe da Seção de Ciências Matemáticas

Gil Hermínio Rocha – Tenente-CoronelComandante do Corpo de Alunos

Paulo Roberto Loyolla Kuhlmann – MajorChefe da Seção de Ciências Sociais

Edson de Campos Souza – CapitãoChefe da Seção de Comunicação e Expressão

*********************************

Direção da Revista:Jorge Luiz Pavan Cappellano - Coronel

Revisão:Edson de Campos Souza – Capitão

Diagramação:Wallace Fauth – 1º Tenente

Fotografia:Edison Caldeira Faustino e Edis Faustino

Fotolito e Impressão:Imprensa Oficial do Estado de São Paulo

Comando da Escola

Décio Luis Schons – Tenente-CoronelComandante e Diretor de Ensino

Luciano Puchalski – Tenente-CoronelSubcomandante e Subdiretor de Ensino

*********************************Divisão de Ensino

Jorge Luiz Pavan Cappellano – CoronelChefe da Divisão de Ensino

João Alves de Paiva Neto – CoronelChefe da Seção de Ciências Naturais

José Francisco Martinez – CoronelChefe da Seção de Ciências Matemáticas

Gil Hermínio Rocha – Tenente-CoronelComandante do Corpo de Alunos

Paulo Roberto Loyolla Kuhlmann – MajorChefe da Seção de Ciências Sociais

Edson de Campos Souza – CapitãoChefe da Seção de Comunicação e Expressão

*********************************

Direção da Revista:Jorge Luiz Pavan Cappellano - Coronel

Revisão:Edson de Campos Souza – Capitão

Diagramação:Wallace Fauth – 1º Tenente

Fotografia:Edison Caldeira Faustino e Edis Faustino

Fotolito e Impressão:Imprensa Oficial do Estado de São Paulo

Comando da EscolaFábio Benvenutti Castro – CoronelComandante e Diretor de Ensino

Pedro Paulo de Araújo Alves – CoronelSubcomandante e Subdiretor de Ensino

Fernando Bartholomeu Fernandes– Tenente-Coronel –

Comandante do Corpo de Alunos

Divisão de Ensino

Claúdio Magni Rodrigues– Coronel R1 –

Chefe da Divisão de Ensino

Wilson Roberto Rodrigues– Coronel R1 –

Chefe da Seção de Ciências Matemáticas

Hajime Kiyota – Coronel R1 –

Chefe da Seção de Ciências Sociais

Guaraci Alexandre Vieira Collares– Coronel R1 –

Chefe da Seção de Comunicação e Expressão

José Francisco Martinez– Coronel R1 –

Chefe da Seção de Idiomas

João Alves de Paiva Neto – Coronel R1 –

Chefe da Seção de Ciências Naturais

*********************************Direção da Revista e Diagramação:Jorge Luiz Pavan Cappellano – Coronel R1

Arte Final: Eduardo Tramonte Cappellano – Publicitário

Revisão:Edson de Campos Souza– Major

Fotolito e Impressão: EGGCF

REVISTA PEDAGÓGICA 2011– 14ª Edição –

Publicada pela Escola Preparatória deCadetes do Exército. Campinas,SP. Fone:(0xx19)37442000,Fax:(0xx19) 32411373www.espcex.ensino.eb.br, ISSN 1677- 8359.

A Nossa Capa reproduz imagens dafachada da EPSP (1940), da EPC (1959) e daatual EsPCEx. Na parte superior, à esquerda,vê-se a imagem que ilustrou a capa da primeiraRevista Pedagógica, editada no ano do Jubileude Ouro da EsPCEx e, à direita, o Brasão daEsPCEx. A capa assinala o ano de implantaçãodo Ensino Superior na EsPCEx.

****************************

Tiragem da Revista: 1000 exemplares

Os conteúdos dos textos apresentados sãode responsabilidade de seus autores e nãoexpressam, necessariamente, as opiniões dadireção da EsPCEx.

- Distribuição Gratuita -

Criação: Eduardo Tramonte Cappellano

Nossa Capa

Page 2: Escola Preparatória de Publicada pela Escola Preparatória ... · Jorge Luiz Pavan Cappellano – Coronel Chefe da Divisão de Ensino João Alves de Paiva Neto – Coronel ... Tendo

Revista Pedagógica 2011EsPCEx

EsPCEx, onde tudo começa 2

Sumário

EditorialFábio Benvenutti Castro – Cel Comandante e Diretor de Ensino da EsPCEx......................05

A Escola de Ontem, de Hoje e a Visão de FuturoJorge Luiz Pavan Cappellano – Cel R1 Professor de Português e Adm Memorial daEsPCEx............................................................................................................06

As Demandas Doutrinárias em Face da Evolução dos CombatesFábio Benvenutti Castro – Cel Comandante e Diretor de Ensino da EsPCEx......................08

Contextualização e CompetênciaGuaraci Alexandre Vieira Collares – Cel R1 Professor de Português ................................13

Considerações sobre GeopolíticaOscar Medeiros Filho – Maj Professor de Relações Internacionais da AMAN .....................16

Liderança Emocional e Ação DocenteAline Marques Martins – 1º Ten Professora de Desenho Plano e Descritivo .......................21

Ser Educador/Mediador: o grande desafioAna Claudia Rocha Barbosa – Pedagoga ..................................................................23

A Ansiedade Cognitiva e Somática no Esporte: efeitos psicológicos no período pré-competiçãoMárcia Maria Carvalho Luz Fornari – 1º Ten Psicóloga ................................................31

SudãoHelcio Miranda Duque Botelho – Ten Cel Comandante do Corpo de Alunos da EsPCEx .............34

Alfabetização, Leitura e Letramento: estratégias possíveis de norte a sul do BrasilCélia Cristina de Almeida Gauté – Maj Professora de Português .....................................41

Uma Visão da Importância da Informação e da Segurança da Informação para aSociedade, para o País e para as Forças ArmadasSérgio da Costa Ferreira – Maj Chefe da Divisão de Tecnologia da Informação da EsPCEx.....................................................................................................................49

O Projeto Arquitetônico da Escola Preparatória de Cadetes do ExércitoDavi Hoor – 3º Sgt Auxiliar da Seção de Licitações e Contratos ...................................54

Page 3: Escola Preparatória de Publicada pela Escola Preparatória ... · Jorge Luiz Pavan Cappellano – Coronel Chefe da Divisão de Ensino João Alves de Paiva Neto – Coronel ... Tendo

Revista Pedagógica 2011 EsPCEx

3EsPCEx, onde tudo começa

Arcos RomanosJorge Luiz Pavan Cappellano – Cel R1 Professor de Português e Adm Memorial daEsPCEx..............................................................................................................57

A Criação do Brasão da Turma General Pitaluga (registro) ....................................59

Juramento à Bandeira (registro)...........................................................................60

Page 4: Escola Preparatória de Publicada pela Escola Preparatória ... · Jorge Luiz Pavan Cappellano – Coronel Chefe da Divisão de Ensino João Alves de Paiva Neto – Coronel ... Tendo

Revista Pedagógica 2011EsPCEx

EsPCEx, onde tudo começa 4

Nossos Comandantes

General de ExércitoEnzo Martins Peri

Comandante do Exército

General de ExércitoUeliton José Montezano Vaz

Chefe do Departamento de Ensino eCultura do Exército

General de DivisãoFernando Vasconcellos Pereira

Diretor de Formação e Aperfeiçoamento

Page 5: Escola Preparatória de Publicada pela Escola Preparatória ... · Jorge Luiz Pavan Cappellano – Coronel Chefe da Divisão de Ensino João Alves de Paiva Neto – Coronel ... Tendo

Revista Pedagógica 2011 EsPCEx

5EsPCEx, onde tudo começa

EDITORIAL

Fábio Benvenutti Castro – CoronelComandante e Diretor de Ensino da EsPCEx

Se existe algo com poder suficiente para transformar uma sociedade, esse poder estásolidamente fundamentado na Educação.

A Escola Preparatória de Cadetes do Exército é um estabelecimento de ensino vocacionadopara receber jovens destinados à carreira militar, jovens que, no futuro, serão os oficiais doExército Brasileiro.

O Exército Brasileiro é uma instituição moderna, dinâmica, que frequentemente se adapta àsnovas tendências administrativas e, sobretudo, operacionais, alinhando-se, ao longo da suaexitosa história, com o que de mais moderno existe no concerto da arte militar.

As diferentes tecnologias impactam, em maior ou menor grau, os atores responsáveis pelaexecução da defesa. Destarte, a tecnologia impacta, também, o Exército Brasileiro, o que lheimpõe necessárias transformações.

Essas transformações, mandatórias para as Forças que pretendem se manter no estado daarte quanto ao emprego militar, tendem a balizar novas condutas, a desenvolver novas habilidadese a incorporar novos procedimentos, fruto de novos conceitos presentes pela nova dinâmicaproporcionada pela tecnologia crescente.

Em face desse cenário fluido e dinâmico, sobressai a importância e a responsabilidade deuma educação capaz de tornar o homem o agente protagonista das transformações ínsitas àsForças Armadas.

Nesse escopo se insere a EsPCEx, estabelecimento de ensino que, há mais de 70 anos, veminiciando a formação de jovens e educando-os de acordo com os preceitos seculares estabelecidospelo Exército Brasileiro.

Tendo como alicerce a necessária transformação do Exército, a EsPCEx, como Escola deFormação, adapta-se e implementa o ensino por competências a fim de Educar o material humano– os futuros oficiais, para que efetivamente deem as respostas esperadas pelo Exército, o Exércitode Caxias, conhecido pelo Braço Forte e pela Mão Amiga, fatores de garantia e de integraçãonacional.

EsPCEx – Onde se Aprende a Amar a Pátria

Page 6: Escola Preparatória de Publicada pela Escola Preparatória ... · Jorge Luiz Pavan Cappellano – Coronel Chefe da Divisão de Ensino João Alves de Paiva Neto – Coronel ... Tendo

Revista Pedagógica 2011EsPCEx

EsPCEx, onde tudo começa 6

Jorge Luiz Pavan Cappellano(*)Professor de Língua Portuguesa e Literatura

EsPCEx, ONDE TUDO COMEÇA

A Escola de Ontem, de Hoje e a Visão de Futuro

O valor histórico da Escola poderia serexplicado, de uma forma simples, apenas pelasua magnífica arquitetura em estilo colonialespanhol. Trata-se de uma construção única,iniciada em 1944, que, além dos traços coloniais,preserva a tecnologia de engenharia e arquiteturade uma época, quando as grandes obras eramprecedidas por detalhados desenhos, feitos depróprio punho, em papel vegetal. Outracaracterística interessante da metade do séculoXX, predominante nessa obra, foi o emprego degrande quantidade de operários, e de poucasmáquinas, pois a maioria dos serviços dealvenaria era realizado manualmente.

O arquiteto Hernani do Val Penteado, autordo Projeto Original da EsPCEx, criou uma fortalezacom paredes largas e estrutura muito forte,utilizando tijolos de barro, de tonalidade vermelha,assentados em paralelo, dois a dois, o que explicaa resistência e a generosa espessura dasparedes. Não há nada igual na cidade deCampinas e no Estado de São Paulo.

A existência de um acervo composto porsignificativa coleção de peças históricas, reunidasnesses 71 anos – tais como monumentos,estátuas, pinturas, documentos, fotografias etantos outros objetos – acrescentam – por seusreferenciais artísticos, históricos e anímicos –inestimável valor ao magnífico conjuntoarquitetônico e conferem especial notoriedade àbelíssima edificação.

Em cada recanto desse conjuntoarquitetônico, há sempre um fato ouacontecimento que merece ser lembrado eadmirado.

Essa septuagenária Escola Militar, criadano início dos anos quarenta, no bairro da BelaVista, na cidade de São Paulo, e transferida paraCampinas nos primeiros dias de 1959,surpreende-nos não só pela beleza de seus traçosarquitetônicos, mas, também, pelo seu passado

de conquistas e vitórias, que, no decorrer dosanos, foi responsável pela formação de 71 turmase de um valioso acervo histórico e cultural.

Dos primeiros dias de 1941 até hoje, muitascoisas foram se modificando, quer pela própriaevolução da sociedade, quer motivadas pelosconstantes avanços tecnológicos. A Escola,sempre atenta, foi-se adaptando às novidades,impondo intenso ritmo de ensino e aprendizagem,o que lhe garantiu uma posição de vanguarda naárea do Ensino Médio e uma excelência napreparação dos futuros cadetes da AMAN.

Nesses mais de 70 anos, as grandesconquistas foram também entremeadas porgrandes transformações no ensino, como aadoção do curso científico completo (atual EnsinoMédio) em 1948, o funcionamento da Escola comapenas o 3º ano do Ensino Médio a partir de1990, modelo que já havia sido adotado de 1940a 1947. Em todas essas transformações, seusprofissionais, civis ou militares, permaneceramfirmes e determinados na missão de selecionar epreparar futuros cadetes, confirmando, em cadamomento, o compromisso sagrado de despertarvocações e priorizar todos os meios disponíveispara melhor preparar os recursos humanos deque necessitam a Academia Militar das AgulhasNegras (AMAN) e o Exército Brasileiro (EB).

No ano de 2010, o Departamento de Ensinoe Cultura do Exército (DECEx) começou adesenvolver estudos para promover asnecessárias mudanças de atitude de seu públicointerno, sobretudo de professores e instrutores,e a atualização curricular de todos os seusestabelecimentos de ensino, visando àmodernização do Sistema de Ensino Bélico. Essainiciativa foi registrada no documento intituladoNova Sistemática para a Modernização do Ensinodo Exército.

Para proporcionar esse salto de qualidade,a EsPCEx, a partir de 2012, incluirá em seu

Page 7: Escola Preparatória de Publicada pela Escola Preparatória ... · Jorge Luiz Pavan Cappellano – Coronel Chefe da Divisão de Ensino João Alves de Paiva Neto – Coronel ... Tendo

Revista Pedagógica 2011 EsPCEx

7EsPCEx, onde tudo começa

(*) O Coronel R1 de Intendência e do Magistério Militar Jorge Luiz Pavan Cappellano foialuno da EsPCEx, formando-se em 1972. Graduou-se na Academia Militar das AgulhasNegras – AMAN em 1976. Cursou a Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais – EsAO (nívelmestrado) em 1986. Especializou-se em Informática Aplicada à Educação Construtivista(pós-graduação) pela UNICAMP em 1997. É autor dos livros: “Memorial da EsPCEx, daRua da Fonte à Fazenda Chapadão, 65 Anos de História” (2007) e do “Diário da EscolaPreparatória de Cadetes de São Paulo” (2011). Atualmente é Professor de Português eAdministrador do Memorial da EsPCEx.E-mail:[email protected]

currículo os conteúdos do 1º ano do Curso Básicoda AMAN de ensino superior, passando a seconstituir o primeiro dos cinco anos de formaçãodo oficial do EB. Nesse novo modelo, continuará,de forma integrada com o ensino acadêmicosuperior, a exercer sua vocação selecionadora eformadora dos futuros cadetes de Caxias.

Para responder a esses desafios, a EsPCExdesenvolveu, de forma simultânea aofuncionamento do último ano de Ensino Médio,os novos currículos das disciplinas que irãocompor a grade de disciplinas a partir de 2012.

As transformações decorrentes daimplantação desse novo modelo de ensino nãose limitam aos campos materiais e técnicos, mas,sobretudo, buscam um novo profissional,preocupado com o seu autoaperfeiçoamento,consciente de que o que sabe hoje não serásuficiente para responder às necessidades deuma sociedade dinâmica, em constante evolução,sintonizada com os avanços tecnológicos e ainformação.

Com a adoção da Nova Sistemática para aModernização do Ensino do Exército, a EsPCExcontinuará a desenvolver sua vocaçãovanguardista de ensino, em constante busca pornovas formas de ensinar e aprender,proporcionando ao aluno experiências quefavoreçam a aquisição de uma estrutura dinâmicade aprendizado e de aprimoramento cognitivo,afetivo e físico.

***

Page 8: Escola Preparatória de Publicada pela Escola Preparatória ... · Jorge Luiz Pavan Cappellano – Coronel Chefe da Divisão de Ensino João Alves de Paiva Neto – Coronel ... Tendo

Revista Pedagógica 2011EsPCEx

EsPCEx, onde tudo começa 8

As Demandas Doutrinárias emFace da Evolução dos

Combates

A necessidade de mudança na doutrinavigente não pode apoiar-se somente emexperiências passadas, com base emlições aprendidas, que, muitas vezes, não foramratificadas pela prática sistemática. O acervodo conhecimento técnico-doutrinário deve sercoerentemente discutido, reavaliado eponderado, sem que isso signifique dizer que hajaqualquer tipo de crítica às orientações expedidasou diretivas correntes. As discussões doutrináriasdevem ser entendidas como contribuiçõesválidas, não trazendo arranhões à hierarquia e àdisciplina. Muito pelo contrário, o levantamentode novas ideias devem ressaltar, sobretudo,posicionamentos que utilizam outro enfoque, umponto de vista diferente, que visam unicamenteaos mesmos objetivos pretendidos pelo Comando– a ampliação da capacidade de defesa e deproteção da Pátria. Essas discussões, que visamà maturação doutrinária ou ao desenvolvimentode outra forma de conhecimento, estimulam oaperfeiçoamento do alicerce doutrinário que regeas forças em operação. Vale ressaltar que nãohá como evoluir se as modificações seguem aconcordância hegemônica, se as experimenta-ções são limitadas por fatores externos ou se ospossíveis debates abordam temas superficiais. Alinha contraditória de pensamento deve revelarideias e conceitos ainda não colocados em práticaou ainda totalmente não revelados.

A constante aplicação do conhecimentoem exercícios ou em operações, bem como asrevelações proporcionadas pela história militarrecente, servem de ferramentas básicas paranortear o processo de revisão dos princípios queorientam a doutrina. O desapego ao pré-estabelecido, à rotina, às soluções previamenteconcebidas constituem-se em condiçõesessenciais para a formulação de novosprocedimentos doutrinários com vistas a ampliara eficiência operacional e a maximizar condutas,de modo a contemplar a componente estratégica,

em sentido amplo, e, em nível restrito, valorizaros aspectos eminentemente táticos e seusreflexos para a execução de tarefas específicasdos escalões mais elementares da Força.

Necessariamente, a evolução doutrináriacarece de um aperfeiçoamento cíclico eininterrupto. De tempos em tempos, sobinfluência dinâmica de fatores que alteram asrelações mundiais em todos os campos doconhecimento, as soluções doutrinárias deoutrora e talvez as de hoje mereçam sofrercuidadoso reestudo, visando provocar umredirecionamento de procedimentos ou mesmopara ratificar condutas e orientações até entãocreditadas como verdadeiras.

“... cada Era tem tido suas formas peculiares deguerra.(...)Cada qual, portanto, tinha sua própriateoria de guerra e quem quiser compreender aguerra e suas manifestações deve lançar um olhararguto às principais características (...) em cadaEra determinada”. (Clausewitz, On War)

O tempo é Senhor das transformações. Asorganizações concebidas para obter sucesso noscombates previstos para serem realizados noSéculo XXI carecem constantemente dereavaliações, a fim de se verificar sua contínuaadequabilidade para as futuras missões oumesmo para superar as crises que porventurapoderão emergir num mundo cada vez maiscomplexo e multifacetado. Tais crises vão desdecontendas internas, como as operações degarantia da lei e da ordem, como também missõesinternacionais, respeitada a carta das NaçõesUnidas. O espectro de missões atribuídas a forçasmilitares que envolvem aspectos humanitáriosvem crescendo exponencialmente, fato que nãopode ser descaracterizado no estudo dascondicionantes doutrinárias do porvir.

Fábio Benvenutti Castro (*)Comandante e Diretor de Ensino da EsPCEx

Page 9: Escola Preparatória de Publicada pela Escola Preparatória ... · Jorge Luiz Pavan Cappellano – Coronel Chefe da Divisão de Ensino João Alves de Paiva Neto – Coronel ... Tendo

Revista Pedagógica 2011 EsPCEx

9EsPCEx, onde tudo começa

A Era da indústria de série, da produçãoem massa, deixou de ser decisiva nadeterminação das ilhas de modernidade. Com ainundação do conhecimento, provocada peloenorme avanço da eletrônica e da informática,quem domina a tecnologia, o conhecimento,passou à vanguarda e tem maiores possibilidadesde enfrentar com sucesso os cenários previstospara o milênio que se descortina.

Os exércitos que sabem mais, queconhecem com mais profundidade, que dominama tecnologia e suas ramificações, que secomunicam ininterruptamente e em segurança,que se deslocam mais rápido e de modocoordenado têm maiores chances dealcançar vitórias, impor sua vontade aooponente, com menor desgaste e com o mínimode baixas. Enfim, têm melhores condições dedominar a situação tática e influenciar ocombate, mantendo a iniciativa.

A partir da “Pax de Westphalia”, osexércitos passaram a definir as funções e ascaracterísticas das frações que os integravam.Cada arma possuía sua missão particular, quecompunha um todo harmônico, indivisível. Todaselas, operando coordenadamente, proporciona-vam condições para que as batalhas fossemvencidas. Existia um sincronismo implícito,desejável, de modo que as armas-basecomandavam as ações principais e, via de regra,definiam a sorte dos enfrentamentos. Essaprática foi dominante na organização e naestruturação dos exércitos que se enfrentaramnos maiores combates bélicos do século passado.

Os conflitos posteriores à II Grande Guerrase sucederam e demonstraram a tendênciadeterminante de que o emprego combinado dasarmas-base, infantaria e cavalaria, apoiados pelasações da força aérea e por apoio de fogo preciso,cerrado ou não, seriam fundamentais aos novosconflitos. Tal aspecto foi ressaltado nos conflitosárabe-israelenses, nos quais a velocidade, aaudácia, a liderança em todos os níveis decomando e a flexibilidade foram essenciais àconquista da iniciativa das ações bélicas e, emsíntese, responsáveis pela decisão dos conflitos.

Embora a letalidade dos armamentos tenhasido implementada, sofrendo grande incrementona segunda metade do século XX, a técnica deexecução das batalhas permaneceu inalterada.O combate permaneceu atrelado a linhasdefinidoras de responsabilidade. Essas medidas,

de certo modo restritivas, direcionavam oemprego tático das forças oponentes. Ascampanhas de ar, terra e mar eramplanejadas, em sua maioria, com relativaantecedência a fim de possibilitar ascoordenações mandatórias.

A partir do momento em que a velocidadedo combate foi considerada essencial para quea vitória fosse alcançada, novos meios, oriundosda revolução industrial, foram incorporados aosexércitos, o que provocou uma verdadeiramudança de paradigmas nos escalõesresponsáveis pela manutenção do comando econtrole. Os procedimentos mecanizados em vigorforam, rapidamente, substituídos pelasramificações eletrônicas, característica dainformatização dos processos. Considerandoesses novos meios, os sistemas de comando econtrole, bem como o pessoal envolvido na rotinade trabalho, até então acostumados a operarem ritmo industrial, tiveram que rapidamentese estruturar a fim de acompanhar o avanço datecnologia da informação, adaptando-se àrapidez dos processos comandados pela Eradigital.

O binômio velocidade-informação veio aproporcionar condições para que as fraçõestáticas responsáveis pelos engajamentostivessem possibilidade de impactar precisamenteos adversários. Quem encontrasse e entendessea situação primeiro, poderia se movimentar commais precisão e, assim, orientar o combate demodo a conduzi-lo em vantagem. As informaçõesprocessadas em tempo real passaram afundamentar os procedimentos táticos em todosos escalões.

As decisões, gradativamente, ficaramdependentes de informações precisas eoportunas, que passaram a fluir pelos novossistemas em tempo real. A coleta dos dadostáticos, a busca de inteligência de combate nadamais é do que implementar conhecimento sobre asituação enfrentada, suas ramificações etendências. No Exército, a cavalaria,particularmente a mecanizada, é a fração detropa responsável por nutrir o comando com asinformações necessárias à tomada de decisão.Em síntese, ela é, na essência, a fração de tropaportadora do conhecimento – fator fundamentalpara as operações de combate em todos oscenários.

Page 10: Escola Preparatória de Publicada pela Escola Preparatória ... · Jorge Luiz Pavan Cappellano – Coronel Chefe da Divisão de Ensino João Alves de Paiva Neto – Coronel ... Tendo

Revista Pedagógica 2011EsPCEx

EsPCEx, onde tudo começa 10

O conhecimento, entre outros fatores,depende da capacidade de ver além do limitedefinido pelo campo visual, habilidade permitidaquando há incorporação de sensores específicosque proporcionam essa ampliação do poder decombate da fração, retirando-a do contextotradicional. As operações de inteligência, delevantamento de dados e por sua vez dereconhecimento tornam-se fundamentais aqualquer escalão de tropa encarregado derealizar operações táticas. A transição dessasoperações para missões de combate dependem,em muito, das regras previstas para oengajamento. No entanto as armas-base devemestar preparadas para realizar as missõesinseridas nesse contexto operacional.

Em situações de combate, a condução deoperações de reconhecimento é fundamentalpara o prosseguimento das ações. Hoje, nãosomente é necessária a condução dereconhecimentos, mas também se torna primordialque as operações de inteligência sejamconduzidas no nível tático. Quem, no passado,conduzia reconhecimento, na Era da tecnologiadeve estar apto à condução de operações maisabrangentes, mais incisivas e capazes depreencherem o vazio de conhecimento dosdifusos e complexos cenários atuais. As clássicasmissões de reconhecer, prover segurança ecombater transformar-se-ão em capacidade derealizar inteligência, prover segurança ecombater.

O emprego combinado pressupõe quaisarmas-base tenham condições de operar emestreita ligação. As funções combativas acabamse mesclando. Hoje, há necessidade de que oinfante saiba, reconheça, oriente o esforço deinteligência, e de que o cavalariano combata,dure na ação, opere sensores que ampliem suacapacidade de atualizar a situação táticacontinuamente, enfim, esteja apto a realizaroperações de inteligência, não ficando presosomente à missão de reconhecimento, que limitaseu emprego, e não possibilita ao escalão decomando todas as informações necessárias àcorreta tomada de decisão ou ao perfeitoacompanhamento da situação.

Logicamente, a adequação de novossistemas faz parte de um longo processo deevolução e adequação do “modus faciendi”. Essepasso, por mais difícil que possa parecer, tem

que ser dado sem retardo, e na direção correta,a fim de continuar a transformação do Exércitoem uma Força mais eficaz, mobiliada porguerreiros do conhecimento, que operam eentendem o cenário tecnológico no qual estamosenvolvidos.

Confirmando a necessidade de adequaçãoà guerra do conhecimento, em 1993 o professorvisitante da Academia Militar de West Point, PaulStrassmann, afirma:

“A história da guerra é a história da doutrina.(...)Temos uma doutrina para desembarques empraias, uma doutrina para bombardeios, umadoutrina para a batalha ar-terra, uma doutrina parao combate na selva, contudo não temos umadoutrina para a informação”.

Com esse enfoque, para que ocorra esseajuste, é necessária a preparação específica dohomem. O combatente moderno deve receberinstruções abrangentes. Deve possuirconhecimento do campo de batalha tradicionale do complexo ambiente assimétrico. Devepossuir, sobretudo, conhecimentos do combateirregular, porque muito provavelmente seráempregado em ambientes irregulares,assimétricos. Esse direcionamento é sensível,pois o combate moderno demanda conhecimentos,inclusive, de ordem psicológica, além da essênciatécnica, para que o guerreiro do conhecimentopossa operar com propriedade nesse difuso teatrode operações.

Não é com a simples aquisição de modernosequipamentos que se modifica a maneira decombater. Somente a incorporação de novos emodernos meios não capacita nenhum exércitoao ingresso na Era da informação. A mudança ea adaptação a esse novo tipo de combate é umtrabalho longo, que deve ser desenvolvido porgerações que acompanham a evolução da arteda guerra, o que inevitavelmente contribui paraque se fique familiarizado com o hiato técnico-operacional que se há de ser superado. Cadavez mais, o combatente deve possuir educaçãointegral, ajustada à sociedade, balanceada comconhecimentos técnicos e culturais, favorecendosua percepção do contexto humanístico em queesteja inserido. A transformação requer mudançade processos, de hábitos e até mesmo decrenças, sem romper com o que vem dando certo

Page 11: Escola Preparatória de Publicada pela Escola Preparatória ... · Jorge Luiz Pavan Cappellano – Coronel Chefe da Divisão de Ensino João Alves de Paiva Neto – Coronel ... Tendo

Revista Pedagógica 2011 EsPCEx

11EsPCEx, onde tudo começa

ao longo da história. A qualidade passa a servalorizada em vez da quantidade desqualificada.

Além de se visualizarem alteraçõesdoutrinárias pela incorporação de novos meios,que demandam preparação diferenciada, faz-senecessário estimular o desenvolvimento e atecnologia bélica para que conhecimentossensíveis sejam dominados, da pesquisa àprodução, evitando-se a exclusiva e indesejáveldependência do exterior. Acredita-se que ocombatente com tempo limitado de aprendizagem,o que serve à Força por curto espaço de tempo,possua profundas dificuldades de efetivamentecompreender o ambiente operacional do terceiromilênio.

Do escopo, ressalta-se a importância doconhecimento para que qualquer ação possuaas mínimas chances de ser bem-sucedida. Nacitação de Sun Tzu, que afirmava a necessidadedo autoconhecimento e do conhecimento doinimigo para que a vitória fosse alcançada,verifica-se a necessidade de os exércitospossuem condições de realizar operações deinteligência que venham a fornecer condições àtransição para as operações de combate, commaior ou menor intensidade.

Gradativamente, a velocidade do combatesofre um significativo incremento, e os setoresde decisão necessitam de informações adequadasa fim decidir com suficiente oportunidade. Aincorporação de sensores do tipo radares eveículos não tripulados às tropas responsáveispelo combate combinado por excelênciapoderão alimentar o Comando com oconhecimento adequado à tomada de decisões.A instrução e a especialização de frações detropa capazes de maximizarem o emprego denova tecnologia não é de simples execução. Háuma carência a ser respeitada.

Além disso, a tropa mecanizada carece deum maior número de fuzileiros a fim capacitá-lapara o combate, reorientando seu emprego, oque fatalmente há de se refletir em suaestrutura. Sendo assim, é factível pensar que,em função de todos os avanços técnicos,doutrinários, organizacionais e históricos, asfrações elementares, particularmentede cavalaria, tenham que vir a ser reorganizadas,a fim de se tornarem mais eficientes no modernocampo de batalha, sendo mais ágeis, mais letais,mais combativas, incorporando, com maior

propriedade, a já existente capacidade decombater e de realizar todo tipo de operações,inclusive incorporando a capacidade de realizaroperações de inteligência, fato que tende atornar o combatente moderno mais flexível, maisespecializado e mais instruído.

A exemplo das brigadas Striker (EUA), quecombatem, reconhecem e executam operaçõesde inteligência em um variado repertório, astropas mecanizadas, com pequenasincorporações de material, e algumasmodificações organizacionais, estarão emcondições mais favoráveis para operar nocomplexo ambiente operacional do início desseséculo, inclusive se tornando aptas a conduzircom sucesso as operações de paz que constamdo compromisso do Exército, segundo orientaçãoprevista pela Carta das Nações Unidas.

É lícito afirmar, no entanto, que asmodificações tornam-se mandatórias, a fim deaproximar a tropa responsável por alimentar oComando de informações necessárias efundamentais à decisão da Era do conhecimento.As frações de tropas táticas não podem continuarse adestrando e treinando como se fossemcombater em um cenário pertencente à II GrandeGuerra.

Por tudo isso e com base na história,ponderar sobre doutrina, possibilidades e futurasmodificações fazem importante parte do processoevolutivo. Somente assim, pode-se almejar, demaneira construtiva, o aperfeiçoamento gradativode estruturas e procedimentos que são baseadosem experiências passadas, em um cenário que,dada a tendência, não mais será válido ourepetido.

Sabe-se, contudo, que o próximo combateda próxima guerra não será combatido da mesmaforma como foi o último combate do últimoconflito. Para tanto, adaptações primordiais sãourgentes. Quem permanece inerte corre o riscode tornar-se o próximo alvo. Verprimeiro, identificar primeiro, entender primeiroa situação são tarefas que essencialmentepodem conduzir à vitória.

Atrelando-se às tradições, é imprescindívelapoiar-se na sabedoria de quem em combatedefendeu o Brasil, inspirando lições de liderançapor meio do exemplo, como o general Osório,que costumava afirmar que não se deve descurarda capacidade de reconhecimento do Exército,

Page 12: Escola Preparatória de Publicada pela Escola Preparatória ... · Jorge Luiz Pavan Cappellano – Coronel Chefe da Divisão de Ensino João Alves de Paiva Neto – Coronel ... Tendo

Revista Pedagógica 2011EsPCEx

EsPCEx, onde tudo começa 12

nem mesmo enfraquecer a sua Cavalaria. Acapacidade de reconhecimento associa-se, hoje,à necessidade de as tropas operacionaisrealizarem e conduzirem operações táticas deinteligência, sendo dotadas de sensores que lhesconfiram essa possibilidade, facultando-lhes oemprego em qualquer ambiente operacional, sobquaisquer condições de visibilidade. Tudo issonos leva a acreditar que a operacionalidade deum exército é um estado d’alma a ser alcançado.Essa operacionalidade somente pode ser atingidacom adequada preparação do homem e a inserçãode meios dotados de tecnologia. O início demilênio impõe que o guerreiro do futuro combate– o guerreiro do conhecimento, seja mais flexível,mais audaz, mais bem preparado, técnica epsicologicamente, e saiba, sobretudo, operar emambientes não convencionais, uma realidade dehoje e do porvir.

(*) O Coronel Fábio Benvenutti Castro ingressou no Colégio Militar de Porto Alegre em1981. Graduou-se na AMAN em 1985. Possui, também, os seguintes cursos: Escolade Aperfeiçoamento de Oficiais (nível mestrado) em 1993; Comando e Estado-Maior doExército Brasileiro (nível doutorado) em 2001; Piloto de Helicóptero de Combate; Cavalariae Avançado de Blindados nos Estados Unidos da América (EUA). No exterior, foiobservador militar na Bósnia Herzegóvina e no Chipre; e assessor militar da AcademiaMilitar de West Point-EUA. De 2008 a 2010, comandou o Centro de Aviação do Exército.Atualmente é o Comandante e Diretor de Ensino da EsPCEx.

O difuso ambiente experimentado após odeclínio da bipolaridade mundial, seja na paz,seja na guerra, demanda pela implementação decombatentes do conhecimento, para que oExército continue a garantir, com sua vocaçãoinstitucional-democrática, os destinos da PátriaBrasil.

***

Aquarela do Artista Plástico Duduch, vencedor da3ª Gincana de Pintura da EsPCEx

Page 13: Escola Preparatória de Publicada pela Escola Preparatória ... · Jorge Luiz Pavan Cappellano – Coronel Chefe da Divisão de Ensino João Alves de Paiva Neto – Coronel ... Tendo

Revista Pedagógica 2011 EsPCEx

13EsPCEx, onde tudo começa

Contextualização eCompetência

Guaraci Alexandre Vieira Collares (*)Professor de Língua Portuguesa e Literatura

“Não basta ensinar ao homem uma especialidade.Porque se tornará assim uma máquina utilizável,mas não uma personalidade.

Albert Eistein”

Em clima de modernização do ensino noExército Brasileiro, visando à formação doprofissional combatente e, principalmente, docondutor de homens do século XXI, ganha forçasurpreendente a necessidade de buscar razõespara o aprendizado desta ou daquela disciplina,com o intuito de atrelá-la a uma demanda futura,específica, direcionada, como se isso fossecrucial para o desempenho do futuro oficial, oucomo se fosse possível imaginar que umconhecimento do agora represente um resultadodireto lá adiante, ou um fracasso anunciado, umaequivocada associação ao ensino porcompetência, em fase de implantação.

Acredito que a ideia veio a reboque,alicerçada às opiniões de alguns profissionais quetentam responder a questionamentos do tipo“Para que eu estudei isso se nunca utilizei naprática?”. Pelo pouco que aprendi e que me foipassado sobre o processo de ensino porcompetência, até agora, acredito que mudaapenas a forma da abordagem dos conteúdos eas técnicas utilizadas em sala de aula, o que,salvo melhor juízo, nada tem a ver com anecessidade quase que impositiva de justificar apermanência desta ou daquela disciplina.

É importante refletir sobre talcondicionante, antevendo o perigo que umapostura radical poderá trazer em relação aoensino, cuja amplitude ultrapassa em muito asistematização desejada pelos teóricos deplantão. Estes parecem deixar de lado, inclusive,num primeiro momento, até mesmo aspeculiaridades de cada disciplina, colocandoindevidamente, num mesmo espaço, o ensinotécnico e o acadêmico.

Encontrar respaldo para a manutenção ouretirada de uma disciplina é apenas uma dasdemandas da chamada modernização, pois ocontexto é mais abrangente e contempla umasérie de outras medidas, necessárias e adequadasao momento, na justa medida, como oestabelecimento de um novo perfilprofissiográfico, matriz curricular, mapa funcional,ensino por competência, em substituição ao

tradicional, por objetivos, a interdisciplinaridade,entre outros, sendo estes temas merecedoresnão de um artigo despretensioso como este, masde um estudo bem mais profundo, o que não éobjeto deste trabalho.

O ser humano de hoje, mais bem informadoe questionador, transforma-se o tempo todo, ficamais crítico e busca direcionar o estudo paraesta ou para aquela área, à mercê dos inúmeroscursos que são criados diariamente. É curiosoque isso aconteça num mundo global, em que oconhecimento geral se sobrepõe ao conhecimentoespecífico. Quanto mais perseguida aespecialização, mais ganha espaço o profissionaleclético, que desempenha inúmeras tarefas,domina várias áreas e, por isso, desenvolve umavisão global da empresa ou do ramo em que atua.

Se ela quer um profissional em uma áreaespecífica, busca-o no mercado e encontra-osem muita dificuldade, desde que pague bem.Mas, se busca um líder, um administrador deconflitos, especialmente humanos, fica bem maisdifícil encontrá-lo num ambiente tãosistematizado e especializado.

A profissão militar aparece comoabrangente por excelência, porque desenvolveem seus integrantes não só o aspecto cognitivo,mas também o psicomotor e, principalmente, oafetivo. Por isso, o Exército mantém uma gamadiversa de atividades que, perfeitamentealinhadas com o terceiro milênio, formam oprofissional visionário, o futuro líder e condutorde homens, aquele que vai ter que ser capaz degerenciar com eficácia situações de crise. E, namaior parte do tempo útil na ativa, vai administrarconflitos humanos.

No caso das Escolas Militares Preparatóriasou de Formação, é comum vermos alunoscolocando em xeque a necessidade de estudaresta ou aquela matéria, matemática, por exemplo,se pretendem ir para uma arma combatente.

Alguns responsáveis pelo planejamento doensino não desestimulam essa prática, uma vezque também buscam respostas para as mesmas

Page 14: Escola Preparatória de Publicada pela Escola Preparatória ... · Jorge Luiz Pavan Cappellano – Coronel Chefe da Divisão de Ensino João Alves de Paiva Neto – Coronel ... Tendo

Revista Pedagógica 2011EsPCEx

EsPCEx, onde tudo começa 14

perguntas, tentando sistematizar o que, na minhaopinião, não pode ser sistematizado. Paracomprovar essa tentativa, é só contar o númerode competências selecionadas pelos estudiosos,necessárias para o futuro oficial e o número devezes em que essa relação sofreu alterações ouacréscimos: jamais se chegará a uma quantidadeideal, porque ela simplesmente não existe. Nãose conseguirá obtê-la, pois isso engessaria opróprio cérebro, definindo que, para uma açãoqualquer no presente, um conhecimento anterior,específico, deveria ter sido adquirido outrabalhado.

Na ponta da linha, vejo educadores do maisalto nível e experiência defendendo o própriopeixe e tendo que dar explicações razoáveis econvincentes a respeito da manutenção destaou daquela matéria, justificando a permanênciadeste ou daquele conteúdo. Num verdadeirointerrogatório, estudiosos de lá e professores decá tentam chegar ao ápice de oferecer ao aluno,no presente, condições para que ele estejacapacitado para uma competência exigida lá nofuturo. Exageros à parte, esse seria, na visãodos estudiosos, o ponto ideal, o máximo a seratingido. Como foi dito, competência é umcaminho, não o fim; o ensino é por competêncianão para a competência.

É lógico que jamais se deverá abrir mão doconhecimento técnico necessário ao profissionalmilitar. Meu foco central são os outros, queenglobam o acervo intelectual de qualquerprofissional de nível superior, que sedimentarãonele capacidades que não serão medidas ouavaliadas segundo necessidades que poderãoocorrer ou não, lá na frente. São matérias que,em sentido mais amplo, permitem, inclusive, queo curso de Bacharel em Ciências Militares sejareconhecido pelo MEC como de nível superior, oque tem influência até mesmo no salário doservidor. Não imagino como isso possa seconcretizar apenas no Nível Técnico-Militar,descartando, na parte supostamente semutilidade prática, o Nível Acadêmico, ousimplesmente tentando mesclá-lo com o ensinodito profissional.

Os resultados de uma formação não podemser mensurados de forma tangível. Pode-se, nomáximo, tentar que os erros cometidos nopresente não se repitam no futuro. Somentedepois de tomada a decisão, desencadeada a

missão e dada como concluída, poder-se-á avaliarse ela foi eficaz, correta, se houve falha, se foicumprida adequadamente, enfim. As situaçõesvividas, em tempo de paz e de guerra, foram,são e sempre serão inéditas. Julgar que se poderá,em algum momento, prever todas as situaçõespossíveis é simplesmente ignorar a capacidadeda mente humana.

Um engenheiro formado pelo ITA (InstitutoTecnológico de Aeronáutica), um dos cursos deengenharia mais respeitados, disse-me que, nocurso, aprendeu desde cedo a vencer desafios,pois lá jamais se estuda algo, pensando no queo conteúdo vai ajudar nesta ou naquela tarefano futuro. Se assim for, estará decretado o fimda capacidade de criar.

A formação militar deve buscar, ou continuarbuscando, uma competência global, que não tema ver com o processo: a capacidade para vencerdesafios, e ponto. É ela que vai proporcionar aooficial uma diversidade de situações nas quaisdeverá formar um juízo de valor e tomar umadecisão, atitude que não será consequência doaprendizado desta ou daquela matéria, e sim deum conjunto harmônico de conhecimentos.

Num sentido mais amplo, raciocinando comocidadão, vejo o quanto é fundamental para oPaís a diversidade de conhecimentos. A principalpreocupação do educador é a de formar a pessoa,o cidadão. É só olhar o mapa e verificar o semnúmero de culturas, de conteúdos orientadospela região, pelo ambiente, clima, vegetação,orografia. A beleza do povo brasileiro estájustamente na diversidade; foi ela que o brindoucom essa imensa capacidade de improvisação,que o fez extremamente criativo, adaptável aqualquer terreno ou situação.

Já se comprovou isso em inúmerasparticipações do Exército Brasileiro no exterior,na Segunda Guerra Mundial, nas missões de paz,por exemplo, em que, muitas vezes, somente onosso soldado ou o nosso oficial foram capazesde adaptar-se ao povo local e ser bem aceitos,diferente de qualquer outro do mundo, desdeexércitos mais modernos até aqueles menosdotados.

Desprezar o que temos de mais caro, queé a nossa ecleticidade, o nosso autodidatismo,a nossa capacidade de lidar com o desconhecido,a nossa capacidade de decidir e de conduzir

Page 15: Escola Preparatória de Publicada pela Escola Preparatória ... · Jorge Luiz Pavan Cappellano – Coronel Chefe da Divisão de Ensino João Alves de Paiva Neto – Coronel ... Tendo

Revista Pedagógica 2011 EsPCEx

15EsPCEx, onde tudo começa

(*)O Coronel Professor R/1, da Arma de Cavalaria, Guaraci Alexandre Vieira Collares cursouo Colégio Militar de Porto Alegre, de 1964 a 1970. Graduou-se na Academia Militar dasAgulhas Negras em 1974. Cursou a Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (nível mestrado)em 1984 e a Escola de Comando e Estado-Maior (nível doutorado) em 1994. Como funçõesprincipais na ativa, foi Professor em Comissão da Cadeira de Redação e Estilística da AMANde 1988 a 1992; comandou o 2º Regimento de Carros de Combate e foi Chefe de Estado-Maior da 11ª Brigada de Infantaria Leve. Atualmente é Professor de Português da EsPCEx.

homens, sob quaisquer condições, em qualquerterreno, seja selva, montanha, caatinga,pantanal ou área urbana, é, salvo melhor juízo,andar na contramão.

***

Page 16: Escola Preparatória de Publicada pela Escola Preparatória ... · Jorge Luiz Pavan Cappellano – Coronel Chefe da Divisão de Ensino João Alves de Paiva Neto – Coronel ... Tendo

Revista Pedagógica 2011EsPCEx

EsPCEx, onde tudo começa 16

Considerações sobreGeopolítica

Nas linhas que se seguem, pretendemosapresentar alguns argumentos sobre o significadodo estudo de Geopolítica para a formação dofuturo oficial do Exército Brasileiro. Para tanto,serão apresentadas algumas ideias sobre a origeme o significado desse campo do saber, o processode desenvolvimento e a contribuição de militaresque figuram entre os mais importantes nomes daGeopolítica brasileira. O presente texto defendeo argumento de que o pensamento geopolíticoestá intimamente ligado à própria história dopensamento militar brasileiro.

Formação militar e análise de conjuntura

O mundo vive um momento de grandestransformações em todas as áreas,especialmente em termos geopolíticos. Diantedesse quadro, torna-se necessário odesenvolvimento de disciplinas que forneçam aosfuturos oficiais ferramentas conceituais para acompreensão da conjuntura internacional. Ainclusão da disciplina Geopolítica no início daformação do futuro oficial visa ocupar esseespaço: desenvolver no aluno competências queos capacitem a responder de forma eficaz àsincertezas de um mundo em transformação.

A busca por disciplinas que introduzam osnossos alunos em questões de estratégia egeopolítica, gerando gosto pelo tema, estáregistrada na primeira diretriz geral doComandante do Exército, 3 de fevereiro de 2003):

“O futuro chefe militar deverá iniciar o estudo dePolítica e Estratégia na AMAN, sendo exigidonesse mister ao longo da carreira, mesmo quandonão estiver cursando algum EE (um programa deleituras, por exemplo), a fim de criar o hábito depensar estrategicamente. Atualmente, isto só vaiocorrer depois que ele ingressa na ECEME, ouseja, tardiamente”.

Introdução

De certo modo, para o desenvolvimentodas competências supracitadas, concorremdisciplinas como Geografia, História e RelaçõesInternacionais. Os estudos “Grandes PotênciasMundiais” e “Áreas Críticas do Mundo Atual” jáforam temas estudados pela Cadeira de HistóriaMilitar da AMAN nos anos 1990. Recentemente,optou-se por estudar mais especificamente otema “História Militar”. Com essa mudança, coubeà Cadeira de Geografia da AMAN buscar suprir oestudo das potências regionais, aplicando, emalgumas áreas de interesse, o método deLevantamento Geográfico de Área (LGA).

Geopolítica: origem e primeiros passos

A Geopolítica surge, no final do século XIX,como uma simbiose entre estudos da GeografiaPolítica e da Ciência Política. O interesse principaldesse campo do conhecimento é a disputa depoder entre os “organismos territoriais”, entendidaprincipalmente como a luta de poder entreEstados Nacionais em processo de consolidação.Percebam que a expressão “organismo” denotaa importância que a abordagem das ciênciasnaturais tinha, naquele momento histórico, sobreas ciências sociais ou humanas. O geopolíticoenxergava o Estado (e seu território) como umaespécie de organismo que poderia crescer, sedesenvolver e até morrer. Essa perspectiva,compartilhada por autores clássicos, comoFriedrich Ratzel (1844 – 1904), gerou ideias comoa de “espaço vital”, que serviram de inspiraçãopara projetos hegemônicos, como o da AlemanhaNazista. Outra ideia muito conhecida e adotadapelos geopolíticos do início do século XX foi a de“heartland”, ou a busca pelos “corações” dos“organismos” territoriais. O autor da ideia foi ogeógrafo inglês Halford MacKinder (1861–1947),que estabeleceu a famosa frase:

Oscar Medeiros Filho (*)Chefe da Cadeira de Relações Internacionais da AMAN

Page 17: Escola Preparatória de Publicada pela Escola Preparatória ... · Jorge Luiz Pavan Cappellano – Coronel Chefe da Divisão de Ensino João Alves de Paiva Neto – Coronel ... Tendo

Revista Pedagógica 2011 EsPCEx

17EsPCEx, onde tudo começa

“quem domina a Europa Oriental controla ocoração continental; quem domina o coraçãocontinental controla a Ilha Mundial; quem dominaa Ilha Mundial controla o mundo”1.

No Brasil, o mais conhecido dos seus“discípulos” foi o então Capitão do ExércitoBrasileiro Mário Travassos (1891 – 1973) – porsinal o primeiro comandante da Academia Militarde Resende. Em sua obra “Projeção Continentaldo Brasil”, escrita em 1931, defendia a tese deque, assim como a Europa Oriental correspondiaao coração continental da Eurásia, a Bolíviacorrespondia ao heartland da América do Sul. Aexplicação disso, segundo Travassos, residia nofato de a Bolívia ser o único país dosubcontinente que possuia território nas trêsvertentes sul-americanas: Andes, Amazônia ePrata. O coração estaria entre as seguintescidades: Cochabamba (altiplano andino); Sucre(Bacia do Prata) e Santa Cruz (Bacia doAmazonas).Geopolítica: uma pseudociência?

Os anos posteriores à Segunda GuerraMundial registraram certa decadência da “ciênciageopolítica”. Entre os acadêmicos, havia umapercepção de que a Geopolítica não constituíauma área da ciência, mas era parte de discursos(geralmente autoritários/totalitários) dos agentesdos Estados. A utilização da Geopolítica paralegitimar o projeto Nazista na Alemanha, porexemplo, contribuiu muito para essa percepção.O caráter engajado dos geopolíticos e suaabordagem organicista, considerada ultrapassadapara a época, levaram ao descrédito certosestudos geopolíticos. Isso não significa, porém,que eles tenham perdido o seu valor, comoveremos mais adiante.

Geopolítica como Ferramenta de Segurançae Desenvolvimento Nacional

Após a Segunda Guerra Mundial, aGeopolítica toma distância de abordagemorganicista e se aproxima da chamada “GrandeEstratégia”. Ao invés de focar na “luta de vidaou morte dos organismos estatais pelo espaçovital”1, nesse novo contexto, profundamentemarcado pela Guerra Fria, a Geopolítica passa

“É preciso, sobretudo, testemunhar, à evidência,que somos, não só por origem, mas ainda maispor convicção, povos deste mundo livre doOcidente que estaremos prontos a defender”(Ibidem, p. 250).

1 Trecho da célebre conferência intitulada “O Pivô Geográfico da História” ministrada em 1904 por Halford Mackinder, então professorda Universidade de Londres, na Real Sociedade Geográfica.

2 Frase com a qual o general alemão Karl Haushofer (1869 – 1946) definia Geopolítica.

Apesar da dependência do “Ocidente”, ageopolítica de Golbery sugere uma visão“brasilcêntrica”. Para ele, “Não haverá geopolíticabrasileira, que tal nome mereça, sem que seconsidere, de fato, o Brasil como centro douniverso.” (Ibidem, p. 177 ). Nela é clara a ideiade uma projeção mais ativa do Brasil no cenáriomundial, voltada especialmente para o AtlânticoSul.

Por fim, deve-se destacar o fato de que,como geopolítico, Golbery teve em sua vida umaoportunidade rara: ele não ficou só no campodas ideias como a maioria dos geopolíticos. Comohomem de Estado e de Governo, Golbery teve aoportunidade de tentar pôr em prática sua própriaagenda geopolítica.

discutir temas como desenvolvimento esegurança nacional.

Nesse período, o grande nome dageopolítica no Brasil foi o General Golbery doCouto e Silva (1911–1987). Sua principal obraescrita na década de 1950 foi “Geopolítica doBrasil”. Para Golbery, a segurança do Brasil emum mundo bipolar dependia do Ocidente e, emparticular dos EUA (COUTO E SILVA, 1981, p.247). Para ele:

Carlos de Meira Mattos e a Geopolítica “pan-amazônica”

A década de 1970 marca um novo rumo nopensamento geopolítico brasileiro. De uma visãomuito dependente do “Ocidente”, o Brasil começaa ensaiar os primeiros passos rumo a uma políticaexterna mais independente. À medida que seafasta do alinhamento automático com os EUA,o Brasil dá sinais de aproximação com os paísessul-americanos. É nesse contexto que começaa ganhar destaque a obra do Ex-Comandante daAMAN, General Carlos de Meira Matos (1913 –2007).

Page 18: Escola Preparatória de Publicada pela Escola Preparatória ... · Jorge Luiz Pavan Cappellano – Coronel Chefe da Divisão de Ensino João Alves de Paiva Neto – Coronel ... Tendo

Revista Pedagógica 2011EsPCEx

EsPCEx, onde tudo começa 18

Dentre essas possibilidades de intercâmbiofronteiriço, Meira Mattos destacava a regiãoamazônica, inaugurando o que para elerepresentava uma geopolítica pan-amazônica.Para o autor, a integração da Amazônia seria oprimeiro passo para a integração sul-americana:

“Com tal estratégia, integraremos a Pan-Amazônia. Em termos de política sul-americana,será a integração do continente, pois a Pan-Amazônia sairá da situação de vazio inerme epassará a desempenhar, também, o papel de áreade trânsito entre as costas do Atlântico e doPacifico” (MATTOS, 1980, p. 174/5).

Interessante observar que o General MeiraMattos escreve no momento em que o Brasilapresenta a seus vizinhos o seu primeiro passopara a cooperação regional: o Tratado deCooperação Amazônico (TCA), de 1978. Mais

recentemente, e até o final de sua vida, o General

Meira Mattos defendeu de forma incisiva a

integração sul-americana:

“a América do Sul integrada num mercadosolidário terá um peso político e econômicorespeitável no comércio internacional, gerandobenefícios para todos os seus países” (MATTOS,2002, p.102).

Da Globalização a uma GeopolíticaMultidimensional

Até os anos 1980, falar de geopolítica erafalar em conflitos territoriais entre Estados, oude segurança e desenvolvimento desses Estados.A referência era por excelência estatocêntricae, consequentemente, a escala dos entesterritoriais era a do Estado-Nacional. Com oadvento do chamado processo de Globalizaçãonos anos 1990, o termo geopolítica passou aocupar a mídia e ganhar novas conotações.Desde então, é comum se ouvir falar degeopolítica das drogas, geopolítica empresarial,geopolítica da moda etc. Em termos de análisede cenários de relações de poder especificamenteentre entes territoriais, as escalas passaram avariar de supranacional (formação de blocosregionais) até escalas locais (disputa pelo controleterritorial entre facções criminosas, porexemplo).

Uma das principais ideias defendidas porMeira Mattos era a possibilidade de intercâmbiodos espaços fronteiriços do País por meio daarticulação com o sistema de transportes sul-americano (mapa a seguir). A visão prospectivado General Meira Mattos lhe possibilitava chegara conclusões que hoje nos parecem claras, comoo fato de que a integração sul-americana trariavantagens para o Brasil (MATTOS, 1977, p. 18).

Page 19: Escola Preparatória de Publicada pela Escola Preparatória ... · Jorge Luiz Pavan Cappellano – Coronel Chefe da Divisão de Ensino João Alves de Paiva Neto – Coronel ... Tendo

Revista Pedagógica 2011 EsPCEx

19EsPCEx, onde tudo começa

Além da escala, mudou-se também asubstância. Em vez de uma geopolíticapreocupada com elementos fixos (forma doterritório, tamanho, relevo etc.) a geopolíticapassou a discutir os fluxos (redes de toda ordem).

Para a formação militar, entretanto, aampliação do conceito de Geopolítica não pode,de forma alguma, resultar em perda do foco. Aomilitar, como agente de Estado, o nível desejável,como não poderia deixar de ser, continua a ser oestatocêntrico. Em última instância, o objeto daprofissão militar é político. É a possibilidade deconflito armado entre as nações que dá sentidoà existência de uma instituição permanente,voltada à defesa dos interesses nacionais. Nessesentido, vale a pena retomar a frase do GeneralGolbery:

“Não haverá geopolítica brasileira, que tal nomemereça, sem que considere, de fato, o Brasilcomo centro do universo.” (COUTO E SILVA,1981, p. 177).

Considerações Finais

(*) O Major QCO Oscar Medeiros Filho é Graduado em Geografia pela UFMS (1995);Especialista em Informática aplicada à Educação (Unicamp, 1997); Mestre em GeografiaHumana (USP, 2005) e Doutor em Ciência Política (USP, 2010). Foi professor de Geografia eSociologia da EsPCEx entre os anos de 1996 e 2010. Atualmente é Chefe da Cadeira deRelações Internacionais da AMAN.E-mail: [email protected]

A Geopolítica é um campo do saber quetrata de temas intimamente ligados à profissãomilitar. Fazer com que o futuro oficial – porquenão dizer, futuro general – tome conhecimento ecrie gosto pelo tema é papel fundamental dasnossas escolas militares. No caso específico doExército Brasileiro, nota-se claramente, ao longode nossa história, a relação de proximidade entreoficiais e Geopolítica. Pode-se dizer: a fim de secriar o hábito de pensar estrategicamente, o tratocom temas como a Geopolítica deve ocorrerdesde o início da formação militar e não somentenas escolas de Comando e Estado-Maior, comocomumente tem ocorrido.

O atual momento em que o Brasil seencontra no concerto das nações é um conviteà reflexão estratégica e geopolítica. Aos novoscadetes devem ser apresentados temas carosao futuro da Nação, dentre os quais podemosdestacar: o cenário geopolítico sul-americano,

a Amazônia e a reconfiguração do quadrogeopolítico internacional com a ascensão denovas potências, com destaque para oschamados BRICS, bloco de países constituído peloBrasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

***

Bibliografia

COUTO E SILVA, Golbery. Conjuntura Política Nacional, O PoderExecutivo & Geopolítica do Brasil. Livraria José Olympio Editora.Rio de Janeiro, 1981.MATTOS, Carlos de Meira. A geopolítica e as projeções de poder. Riode Janeiro: Bibliex, 1977.______. Uma geopolítica pan-amazônica. Rio de Janeiro: Bibliotecado Exército, 1980.______. Geopolítica e modernidade: a geopolítica brasileira. Rio deJaneiro: Bibliex, 2002.TRAVASSOS, Mário. Projeção Continental do Brasil. São Paulo:Companhia Editora Nacional, 1935.

Page 20: Escola Preparatória de Publicada pela Escola Preparatória ... · Jorge Luiz Pavan Cappellano – Coronel Chefe da Divisão de Ensino João Alves de Paiva Neto – Coronel ... Tendo

Revista Pedagógica 2011EsPCEx

EsPCEx, onde tudo começa 20

Exposição de Pinturas(27 de setembro de 2011)

Classificação: 1º LugarTema: Centro de Tradições da EsPCEx

Modalidade: óleo-acrílicoArtista Profissional: Vera Lúcia Bernardes Pereira

Na semana de comemoração do 71° aniversário da EsPCEx, foi realizada uma Exposição dePinturas, no Salão Carlos Gomes – Salão Nobre, tendo a Escola e suas atividades internas comotema das obras realizadas por diversos artistas plásticos de Campinas e região. Nesta edição,estão reproduzidas algumas das obras que homenageiam a EsPCEx.

Page 21: Escola Preparatória de Publicada pela Escola Preparatória ... · Jorge Luiz Pavan Cappellano – Coronel Chefe da Divisão de Ensino João Alves de Paiva Neto – Coronel ... Tendo

Revista Pedagógica 2011 EsPCEx

21EsPCEx, onde tudo começa

Liderança Emocional eAção Docente

Este trabalho foi desenvolvido com oobjetivo de abordar o tema educação e liderança,com ênfase nas relações possíveis entre a açãoeducacional e a liderança emocional, emcontextos educacionais diversos.

A sociedade atual necessita de conceitosdiferenciados de liderança, mais adequados a umacontemporaneidade que passa por uma crise devalores morais e de horizontes de vida. Espera-se, então, que líderes sejam estratégicos,assertivos e colaboradores, mas, acima de tudo,humanos, que tomem decisões justas e querespeitem seus liderados. O mundo vive a era dainformação e do conhecimento, portanto o focoprincipal para a obtenção dos resultadosacadêmicos não é mais tecnologia, mas sim aformação das pessoas. Neste trabalho, sãoapresentados dois contextos diferentes – o deum combatente na missão de paz e o de umprofessor em sala de aula. Em ambas assituações, a liderança faz-se necessária. E issoconduz a uma maior reflexão sobre o verdadeiropapel do professor.

É correto pressupor que haja uma forterelação entre liderança e aprendizagem, pois boaparte da motivação dos sujeitos para aprendervem das ocasiões em que devem assumirresponsabilidades e ações, que afetam tambéma vida daqueles com quem convivem e trabalham.Correlacionadamente, acredita-se que o educadortenha uma função de liderança a desempenharjunto aos sujeitos e grupos sociais com quetrabalha, favorecendo o desenvolvimento daautonomia organizacional, as perspectivas decompreensão da realidade e sua problematizção,além de incentivo à preparação de novos líderes.O educador pode influenciar estilos de vida ecolaborar para a humanização ou desumanização

dos sujeitos e dos grupos das práticaspedagógicas. Os discursos atuais de promoçãoda liderança entre os educandos, porém, quasenão existem, assim como são poucas as açõesde ensinar os sujeitos a se organizaremsocialmente, de forma a encaminhar suasnecessidades e desejos. Por outro lado, aquestão da liderança se volta para o próprioeducador e dele será cobrada uma nova postura,a de conduzir, de apontar caminhos, gerarconfiança e, ainda, a de favorecer um feedbackpositivo, ou seja, o ensino atual exige umprofessor que lidere, que cative seus alunos,para que esses, pouco a pouco, tornem-se donosde seu próprio processo de aprendizagem.

Mas para isso, o professor, como qualqueroutro líder, precisa se pautar por uma LiderançaEmocional – aquela que se caracteriza pelapresença de um líder motivador, que secompromete com aquilo que faz, preocupa-secom aqueles com quem está envolvido, praticaa escuta e compartilha com o grupo as decisõesquanto ao que será feito e discute os porquês.

A liderança emocional tem como suportequatro componentes: a autoconsciência, aautogestão, a consciência social e a gestão dasrelações. O domínio desses significa entendersuficientemente bem sua própria constituiçãoemocional e a de outras pessoas, para movê-lasna direção da realização dos objetivos.

Na autoconsciência – primeiro componenteda inteligência emocional – temos um profundoentendimento das próprias emoções, forças,fraquezas e necessidades. A partir desseentendimento, surge um controle dos própriossentimentos e impulsos, a autogestão. Já aconsciência social traz, com ponderação, aconsideração dos sentimentos dos liderados para

Aline Marques Martins (*)

Professora de Desenho Plano e Descritivo

Page 22: Escola Preparatória de Publicada pela Escola Preparatória ... · Jorge Luiz Pavan Cappellano – Coronel Chefe da Divisão de Ensino João Alves de Paiva Neto – Coronel ... Tendo

Revista Pedagógica 2011EsPCEx

EsPCEx, onde tudo começa 22

a tomada de decisões inteligentes, existindo umainterligação a partir da motivação – um dospontos fortes da Gestão de Relações.

Líderes que compreendem essa dinâmicapodem extrair as melhores habilidades de seusfuncionários.

Daí a necessidade em saber administrarsentimentos, e não somente possuir oconhecimento técnico. É preciso conhecerintimamente a nós mesmos, lidar com nossasemoções e nos colocarmos no lugar do outropara pensar e sentir o que ele sente. É saberlidar com as diferenças individuais. O psicólogoe célebre autor Daniel Goleman descobriu quelíderes eficazes possuem em comum um alto graude Inteligência Emocional.

A prova de que uma liderança emocionaltraz bons resultados, ou até mesmo que podeprevenir problemas, foi o experimento feito porNaomi Eisenberger pesquisador-chefe deneurociência social da University of California emLos Angeles (Ucla) na qual voluntários jogavamum jogo eletrônico chamado Cyberball, enquantoseu cérebro era examinado por um aparelho deressonância magnética funcional (FMRI). Osparticipantes expressaram sentimentos de raivapor terem sido esnobados ou julgados (...) Areação pôde ser rastreada diretamente dasrespostas do cérebro. E a conclusão foi que dorsocial e dor física produzem respostas similares.As reações fisiológicas e neurológicas são diretae profundamente moldadas pela interação social.

A reportagem em que consta talexperimento cita ainda que, assim como no jogo,pessoas que se sentem traídas ou que não sãoreconhecidas em suas tarefas experimentam umimpulso neural tão poderoso e doloroso quanto

“a maioria dos processos que operam em segundoplano, quando o cérebro está em descanso, serelaciona ao pensamento sobre outras pessoase sobre si mesmo”. Mathew Lieberman

uma pancada na cabeça. Tornam-se lideradosestritamente transacionais, relutantes em darmais de si mesmos, porque o contexto socialfica em seu caminho.

Assim, a liderança dos educadores éfundamental para que ações educacionaisobjetivem o desenvolvimento de comunidades queaprendam e se organizem como agentes de suaprópria trajetória, na formação de líderes éticose comprometidos com o bem-estar. E reforça-sea ideia de que o conceito de liderança emocionalé importante para que o educador seja aqueleque impulsiona o desenvolvimento pessoal egrupal, que motiva, que critica, semconstrangimento; que se preocupa com valoresde justiça e honestidade e demonstra claramenteessa preocupação. Compreender a inteligênciaemocional é fundamental para uma liderançaeficiente.

***

(*)1ºTen Aline Marques Martins é Licenciada e Bacharelada em Matemáticapela Universidade do Grande ABC em 2004, possui curso de pós-graduaçãoLato Sensu em Psicopedagogia pela Universidade Salesiana de São Pauloe cursa Mestrado em Educação Matemática pela Universidade Bandeirantesde São Paulo. Atualmente exerce a função de Professora de DesenhoPlano e Descritivo na EsPCEx.

Page 23: Escola Preparatória de Publicada pela Escola Preparatória ... · Jorge Luiz Pavan Cappellano – Coronel Chefe da Divisão de Ensino João Alves de Paiva Neto – Coronel ... Tendo

Revista Pedagógica 2011 EsPCEx

23EsPCEx, onde tudo começa

Ser Educador/Mediador:o grande desafio

Ana Claudia Rocha Barbosa (*)

Pedagoga da Seção de AcompanhamentoPedagógico da EsPCEx

Introdução

Educação

As ideias aqui presentes são fruto de estudosobre a mediação da aprendizagem,apresentadas no VIII EPEMM (EncontroPedagógico do Ensino Médio Militar), ocorrido emsetembro de 2011, na Escola Preparatória deCadetes do Ar (EPCAr) na cidade de Barbacena– MG.

A mediação da aprendizagem faz parte demeus estudos desde 2006, ano em que tive aoportunidade de fazer os cursos de formação noPrograma de Enriquecimento Instrumental (PEI),níveis I e II no Colégio Militar de Fortaleza (CMF),quando trabalhava como Orientadora Educacionalda Seção Psicopedagógica daquela renomadaInstituição de Ensino. Durante os períodos de2006 a 2009, tive a grata satisfação de aplicaresses conhecimentos com os alunos do CMF, oque me trouxe muita alegria, à medida quepercebi o aumento da capacidade cognitiva e asuperação de dificuldades cognitivaspreexistentes nesses alunos.

Este artigo inicia-se com uma visão geralsobre Educação, apresenta a AprendizagemSignificativa, a Mediação Como um PrincípioEducacional e finaliza com o grande desafio deser Professor Educador/Mediador.

Este trabalho é fundamentado nas teoriascognitivas (Piaget, Vygotysk, Ausubel), tendocomo principal foco os estudos do Prof. Dr.Reuven Feuerstein (psicólogo e educadorromeno, especialista em desenvolvimento infantile rendimento cognitivo intelectual).

O principal objetivo deste estudo é refletiracerca do grande desafio de ser um professoreducador/mediador e analisar o processoeducativo (ensinar e aprender) que acontecena escola, lugar privilegiado da ação docente,ação esta que impõe ao docente uma atuação

mais dinâmica no processo e, ao discente, umdesenvolvimento cognitivo eficaz em que,efetivamente, ocorre a construção de novosconhecimentos.

A educação é fundamental na construçãoda vida humana. Ela leva o sujeito a descobrir oconhecimento, incorporando-o e transformando-o em sabedoria. Conhecimento que lhe será útilpara toda a vida. Educa-se por meio do ensino/instrução e da formação.

É no ensino e na instrução que setransmitem os conhecimentos pontuaisimportantes para a vida em sociedade. O ensinoe a instrução ajudam na formação do indivíduoque recebe esses sinais de fora para dentro, ouseja, os estímulos vêm de fora e são lançadossobre o indivíduo que aprende.

A formação é vista como algo que dá formaà ação de ensinar e aprender, em que o sujeitose depara com situações-problema, procurandoagir de acordo com suas experiências eorientações recebidas. A Educação leva oindivíduo para além da informação, construindosignificados às ações e dando sentido àsrealizações. Fala-se aqui de conteúdos, matérias,assuntos que têm significado para o sujeito queaprende, tornando sua aprendizagemsignificativa.

O educador, um dos agentes do processoeducativo, coadjuvante na construção doconhecimento, faz com que o aprendiz consigair além da informação, instrução e ensino, colaboracom o desenvolvimento de competências ehabilidades,propicia o desenvolvimento dopotencial individual e grupal uma vez que permite

Page 24: Escola Preparatória de Publicada pela Escola Preparatória ... · Jorge Luiz Pavan Cappellano – Coronel Chefe da Divisão de Ensino João Alves de Paiva Neto – Coronel ... Tendo

Revista Pedagógica 2011EsPCEx

EsPCEx, onde tudo começa 24

Aprendizagem Significativa

a construção de novos caminhos por meio dopensamento reflexivo, o que leva o indivíduo auma aquisição permanente de conhecimentos.Isso se chama APRENDIZAGEM.

Aprender significa apresentar novoscomportamentos. O indivíduo que aprende nainteração com o mundo muda sua conduta.Aprendizagem não é acúmulo de conteúdos e deconhecimentos. Para isso existe o computador.Salvam-se no computador os conhecimentosnecessários e, em qualquer momento, pode-sedirigir a ele para que sejam devolvidos os dados.Só o ser humano aprende, muda, se modifica ese adapta, resolvendo problemas segundo suasnecessidades e as necessidades do meio em queestá inserido. Isso significa que, para poderadaptar-se ao mundo, é preciso estarconstantemente aprendendo.

Simão de Miranda diz que a educação levaà construção de um mundo mais humano, noqual o educador atua como um maestro que regeuma orquestra heterogênea e rica em diversidadecom um olhar mais humano, sensível, afetivo ealtruísta. Ser educador exige atitudes proativase olhares ávidos em possibilidades. Valorizarpotencialidades e potencializar valores, abusandoda criatividade, leva o aluno à autonomia. Isto éfunção primordial do processo educativo. Oeducador tanto colabora com o processo demudança de seus alunos como, também, estáem processo de mudança, transformando-se acada dia. O educador que acompanha o tempode seus educandos, com reflexão crítica econsciente sobre sua prática, revisa suasposturas e posicionamentos, leva seu trabalho aum resultado positivo, o que favorece a melhoriado ser humano.

O educador estuda e refleteconstantemente em seu cotidiano, parafundamentar sua prática. É por meio dessadinâmica que acontece o movimento deconstrução e reconstrução do conhecimento.

Madalena Freire afirma que a açãoeducativa tem que ser pensada, refletida, paraque não caia no praticismos e tampouco no“bombeirismo” pedagógico. O processoeducativo é movido pela ação, interação e troca,permanentemente entre os partícipes doprocesso. O Educador ensina e, enquanto ensina,aprende, fazendo intervenções,encaminhamentos e devoluções adequadas, as

quais possibilitam a verdadeira aprendizagem.

Celso Antunes diz que o educador ajuda oaluno a construir sua própria aprendizagem,quando trabalha em sala de aula com algunsatributos essenciais. Fazendo um acróstico desseatributos, ele chega à palavra “PLACA” que,curiosamente, serve como aplauso a um atoesportivo magnífico. Usa-se essa palavra parasinalizar a ideia de que esse ato esportivo foigenial e singular, por isso merece uma Placa. Ex:gol de placa, cortada de placa, etc.

Os atributos são:

Protagonismo – o aluno é o ator principaldo processo;

Linguagem – falar, perguntar, questionar,participar efetivamente da aula;

Administração – de competênciasessenciais à aprendizagem, tais como pensar,refletir,saber perguntar, pesquisar, argumentar,relacionar-se com os outros;

Construção – de conhecimentosespecíficos (assuntos e matérias) ligando o quese aprende com o que já se sabe;

Autoavaliação – descoberta daaprendizagem (o que eu sabia antes e o que seiagora)

É muito importante para o processoeducacional que o docente acredite nacapacidade e potencial de seus alunos, sabendoadaptá-los à sua realidade. Esses atributospreconizados pelo prof. Celso Antunes poderãoser uma linha pedagógica de ação do professor/educador, que deve atuar como maestro, regendosua orquestra em direção a uma aprendizagemsignificativa.

David Ausubel (1918-2008), psicólogo epedagogo norte-americano, defensor das teoriascognitivistas e criador da teoria da aprendizagemsignificativa, pressupõe que essa aprendizagemestá relacionada e interligada a aprendizagensjá adquiridas e a conteúdos preexistentes nosujeito, sendo um processo que ocorre por meiode uma nova informação que é relacionada demaneira substantiva e não arbitrária a umaspecto relevante da estrutura cognitiva.

Page 25: Escola Preparatória de Publicada pela Escola Preparatória ... · Jorge Luiz Pavan Cappellano – Coronel Chefe da Divisão de Ensino João Alves de Paiva Neto – Coronel ... Tendo

Revista Pedagógica 2011 EsPCEx

25EsPCEx, onde tudo começa

“Conhecimento é o resultado da interação entreo indivíduo, a informação que lhe é exterior e osignificado que este lhe atribui”.

A Mediação como Princípio Educacional

O conhecimento é resultado de umprocesso de construção, sendo o aprendiz oprotagonista dessa obra.

Para Ausubel, a aprendizagem estáintimamente ligada à estrutura cognitiva . Aquiloque o sujeito aprende deve integrar-se ao que osujeito já conhece. A aprendizagem significativarelaciona-se a conhecimentos prévios, jáincorporados à estrutura cognitiva do aprendiz.

A aprendizagem significativa parte da ideiade ajudar o aluno a confrontar uma informaçãosignificativa e relevante, relacionando-a com umadeterminada realidade.

Dar sentido e significado à informação podelevar o sujeito a ter uma aprendizagemsignificativa. Essa informação pode ser usadacomo ferramenta para pensar, refletir, aprender,como nos fala a professora Isabel Parolin:“Pensar é o eixo da aprendizagem”.

A aprendizagem sofre influência de fatoresexternos, como aula, recursos, metodologias,currículos, cronogramas etc., e de fatoresinternos, como os cognitivos e afetivos, os quaissurgem sempre na disposição do sujeito paraaprender, que é um processo ativo, e surge,também, na motivação intrínseca. A aprendizagemnão acontece passivamente. Só há efetivaaprendizagem, se o aprendiz estiver envolvidono processo como protagonista, na construçãode sua própria aprendizagem.

Para a professora Madalena Freire, o queforma o alicerce da aprendizagem significativa ea construção do novo são as intervenções que

O educador em sua ação docente deveprocurar trabalhar com a aprendizagemsignificativa, relacionando o conhecimento préviodo aprendiz a sua capacidade e a sua curiosidadecriativa, favorecendo, assim, a aquisição de umnovo conceito, um novo significado aoconhecimento que ora foi transmitido.

Mas o que é conhecimento?

Segundo Celso Antunes (2009, p. 46):

o educador faz por meio de perguntas equestionamentos.

Uma educação é dita de qualidade quandohá manifestação e equilíbrio entre preservarsaberes essenciais, transmitir o legado culturalpara novas gerações e inovar, criar, construir onovo, baseado naquilo que já existe.

Os quatro pilares da educação tratadospela Comissão Internacional sobre Educação parao século XXI, desenvolvidos pela UNESCO em1996, continuam muito vivos e atuais, o queleva a uma transformação pessoal e social,fazendo com que se efetive uma aprendizagemrealmente significativa. Esse processoeducacional deve estar imbuído deintencionalidade, a qual deve levar o aluno a:

– aprender a CONHECER (compreender osassuntos apresentados, dominar competênciase adquirir autonomia intelectual);

– aprender a FAZER (desenvolverhabilidades específicas e essenciais);

– aprende a VIVER JUNTO/conviver(conhecer e respeitar integralmente a si e aosoutros, valorizando a diversidade) e

– aprender a SER (através doautoconhecimento e da aquisição de pensamentocrítico e autônomo).

Não existe construção de novosconhecimentos sem um saber preexistenteadquirido com a vivência e as experiências decada indivíduo em particular. É esta culturapessoal que leva o sujeito à aquisição de novasaprendizagens, principalmente quando se usa amediação como um princípio educacional.

A mediação está fundamentada natransmissão de um mundo de significados aosmediados, consistindo numa interaçãointerpessoal com características próprias,específicas e especiais.

A mediação deve ser uma ação consciente,intencional, significativa, recíproca etranscendente, levando o mediado a perpetuara mudança estrutural de seu sistema cognitivo,isto é, levando esse indivíduo a uma aprendizagemefetiva e permanente (uma vez aprendido, jamaisesquecido).

Page 26: Escola Preparatória de Publicada pela Escola Preparatória ... · Jorge Luiz Pavan Cappellano – Coronel Chefe da Divisão de Ensino João Alves de Paiva Neto – Coronel ... Tendo

Revista Pedagógica 2011EsPCEx

EsPCEx, onde tudo começa 26

Legenda: S- estímulo; H-mediador;

O-organismo; e R- resposta.

“Não me aceite como sou, posso crescer,melhorar, avançar, desenvolver e evoluir”.

O mediador deve selecionar, assinalar,organizar e planejar o aparecimento do estímulo,ou seja, trabalhar um conteúdo específico deacordo com situações preestabelecidas e comobjetivos voltados para a interação,caracterizando a mediação como um processoplanejado e intencional.

É papel do mediador selecionar os estímulosmais apropriados, filtrá-los, elaborar esquemas,ampliar uns e ignorar outros.

De acordo com os estudos e as teoriasdesenvolvidas pelo Prof. Dr. Reuven Feuerstein,a aprendizagem vai além da exposição direta aoestímulo (modelo piagetiano: S-O-R), pois omediador se interpõe entre o estímulo, oorganismo e a resposta, trabalhandofundamentalmente com a interação.

O processo ensino/aprendizagem na teoriade Feuerstein está representado de acordo como seguinte modelo:

O prof. Reuven Feuerstein defende a ideiade inteligência como algo dinâmico que semprepode ser desenvolvido, independentemente de

Observa-se que o mediador (H)intermedeia e sofre influência do estímulo (S)recebido pelo organismo (O), assimila esseestímulo e elabora respostas que são lançadas evoltam ao mediador (H), que já está diferente,pois também sofre o processo de construçãoda aprendizagem. De forma cíclica, o mediadorrecebe as respostas como um novo estímulo, oprocesso gera novas respostas e,consequentemente, novos conhecimentos. Édessa forma que se entende a aprendizagemmediada.

“Um momento, deixe-me pensar” é umamáxima do prof. Reven Feuerstein, a qual sugereque a mediação deva ter um momento de parada,

de reflexão, permitindo que a mente do mediadofique mais quieta e tranquila para receber asinformações, decodificá-las e transformá-las,além de ser um momento fundamental para areflexão por parte do mediador, para que elepense, constante e continuamente, sobre asconcepções que embasam a educação, osconteúdos e/ou estímulos apresentados, bemcomo buscar o melhor caminho para a mediaçãoque ora é trabalhada.

A Modificabilidade Cognitiva Estrutural éuma das teorias do Prof. Reuven Feuerstein e éparte principal do processo de mediação, poistrabalha a inteligência e o processo deconstrução cognitiva do sujeito. A inteligência,por sua vez, está diretamente ligada àconstrução ativa do pensamento, sendo dinâmicae modificável, construída a partir de váriosfatores que se relacionam com a cognição, aqual está intimamente ligada à afetividade. Asdimensões cognitiva e afetiva são fundamentaisao desenvolvimento do ser humano, sendofatores de interferência direta no processo demediação.

Por que o prof. Reuven Feuerstein usa apalavra modificabilidade e não modificação?

Modificação é produto resultante dosprocessos de desenvolvimento e maturação doindivíduo, referindo-se a uma mudança estruturalespecífica que se processou na mente domediado. Já a modificabilidade refere-se àmudança estrutural que se processaconstantemente, de forma contínua epermanente na mente humana. Modificabilidadediz respeito à capacidade do indivíduo de mudarum caminho que estaria predeterminado, devidoa deficiências genéticas, neurológicas ou outrosfatores que são independentes da interferênciahumana. Essa modificabilidade, que é semprepositiva, nunca regride.

O trabalho com a Modificabilidade CognitivaEstrutural do prof. Reuven Feuerstein está muitobem exposto nesta frase do próprio autor:

Page 27: Escola Preparatória de Publicada pela Escola Preparatória ... · Jorge Luiz Pavan Cappellano – Coronel Chefe da Divisão de Ensino João Alves de Paiva Neto – Coronel ... Tendo

Revista Pedagógica 2011 EsPCEx

27EsPCEx, onde tudo começa

O Professor/Educador/Mediador

idade, condição social, etnia ou outro fator. Daísua hipótese de “Educabilidade Cognitiva”.Educabilidade é o processo de aprendizagem emque qualquer pessoa, em qualquer idade podeaumentar sua capacidade cognitiva econsequentemente sua inteligência. Cognição,por sua vez, refere-se ao conhecimentoaprendido.

Com base em seu sistema de crenças e nacapacidade de adaptação do ser humano parasobreviver, o prof. Reuven Feuerstein foiconstruindo e reforçando suas teorias(Experiência da Aprendizagem Mediada eModificabilidade Cognitiva Estrutural), que seembasam em uma concepção dinâmica de vidahumana.

Quanto mais cuidadoso e apropriado for otrabalho do educador, mais efetiva será aaprendizagem e a modificabilidade cognitivaestrutural do sujeito, levando o professor aogrande desafio de ser um educador/mediador.

O professor/educador não acredita que seutrabalho seja levar meramente informações econteúdos para seu aluno, mas, sim, fazer comque esses estímulos atinjam a aprendizagem deforma significativa, na qual o aluno use desseconhecimento, transformando-o em sabedoria,ou seja, leva esse novo conhecimento como partepermanente de sua estrutura cognitiva.

O educador/mediador busca contextualizarde forma mediada as aprendizagens e vivênciasdo educando, propiciando, diariamente, situaçõesque desafiem o potencial criativo do aprendiz,as quais devem ter utilidade em sua vida. Esseeducador deve estar sempre aberto a novasaprendizagens e disposto a aprender com seualuno.

Quando o educador/mediador provocadesequilíbrio entre os saberes do grupo,alimentando-o diariamente, as aprendizagens eas transformações acontecem naturalmente deacordo com a necessidade e interesse do grupoem questão.

O professor educador/mediador não deveter preocupação sobre o que seu aluno não sabe,

e sim cuidar para que ele aprenda e desenvolvatoda sua capacidade cognitiva.

O mediador é o educador que enriquece ainteração, que disponibiliza subsídios que preparama estrutura cognitiva do mediado para ir alémdos estímulos recebidos, transcendendo-os paraqualquer situação da vida cotidiana, construindoprincípios. Essas transcendências só ocorremquando a mediação é positiva, clara, objetiva equando o processo de mediar for contínuo epermanente. Não adianta o professor usar umaúnica vez do processo de mediação, pois estenão atingirá os objetivos desejados.

O mediador é sempre parceiro do aprendiz.

O mediador deve estar sempre atento àprivação cultural de seus mediados, para quepossa, junto com o grupo, ampliar o campo deexperiências vividas de seus alunos para alémdo imediato, saindo de situações episódicas eaumentando o potencial para o “Aprender aAprender”.

Quando se fala de privação cultural,dentrodo pensamento de Feuerstein, quer dizer que háuma total ausência de mediação. Ele não serefere à falta de cultura de uma maneira geral,mas ao indivíduo que dela foi privado por não tervivido a experiência da mediação.

O professor educador/mediador estimulaseus alunos, situando-os historicamente nosconteúdos trabalhados em sala de aula, fomentadiscussões e reflexões, faz perguntasconstantemente, traz situações-problemas paraque o aluno levante hipóteses e busque soluçõesadequadas, não transmite meros conteúdos, masestratégias de análise, síntese, comparação,classificação e estabelece relações. A açãomediadora deve propiciar a curiosidade e fazligação direta da realidade com sua importânciae significado para cada um dos mediados.

Quando há experiência de aprendizagemmediada, existe aprendizagem real tanto para oaluno/mediado quanto para o professor/mediador.

As professoras Elizabeth Schenker e TerezaPereira (2008, p. 6), em seu curso de DidáticaCentrada nos Processos de Aprendizagem,fizeram uma comparação dos papéisdesenvolvidos no ensino tradicional e naaprendizagem mediada, descritos na tabela 1:

Page 28: Escola Preparatória de Publicada pela Escola Preparatória ... · Jorge Luiz Pavan Cappellano – Coronel Chefe da Divisão de Ensino João Alves de Paiva Neto – Coronel ... Tendo

Revista Pedagógica 2011EsPCEx

EsPCEx, onde tudo começa 28

Tabela 1 – Comparação entre o Ensino Tradicional e aAprendizagem Mediada

Considerações Finais

“Para enfrentar os desafios do século XXI, seriaindispensável atribuir novos objetivos para aeducação e, por conseguinte, modificar a ideiaque fazemos de sua utilidade. Uma novaconcepção mais ampla de educação deveria levarcada pessoa a descobrir, despertar e incrementarsuas possibilidades criativas, atualizando assim

o tesouro escondido em cada uma... a realizaçãopessoal; que ela inteiramente aprenda a ser (…),aprenda a conhecer, aprenda a fazer e aprenda aviver com os demais. ( DELLORS; apud TÉBAR,2011, p.43)”

Fonte: SCHENKER, Elizabete; PEREIRA, Teresa. Didática Centrada nos Processos de Aprendizagem. Rio de Janeiro:[S.n],2008. (Apostila de curso Didática Centrada nos Processos de Aprendizagem, Núcleo de Desenvolvimento do PotencialCognitivo – NDPC)

Bibliografia

ANTUNES, Celso. Professores e Professauros: uma reflexão sobrea aula e práticas pedagógicas diversas. 3.ed. Petrópolis, RJ. Vozes,2009.

FREIRE, Madalena. Educador, educa a dor. São Paulo: Paz e Terra,2008.

MEIER Marcos; GARCIA Sandra. Mediação da Aprendizagem:Contribuição de Feuerstein e de Vygotsky. Edição do autor. Curitiba,2007.

A quebra de paradigmas pedagógicos quelevam à transformação e a mudanças é um fatoinevitável. A atitude do docente diante de suamissão é algo que vai transformar o ensino, tendocomo consequência uma mudança social positiva.

O professor educador/mediador é agenteimprescindível no processo educativo, o qual tem,na educação, uma ciência multidisciplinar queexige mudanças contínuas, permanentesreflexões e revisões de princípios e métodos.

A teoria cognitiva do Prof. Dr. ReuvenFeuerstein é uma luz nesse caminho educacional.Ambientes modificadores devem ser criados, aformação de professores educadores/mediadorese o autoaperfeiçoamento devem ser umaconstante na vida dos educadores/mediadores.

Dessa forma, entende-se que o grandedesafio de ser um educador/mediador é percebera importância de trabalhar com a mediação comoum princípio educacional, o que faz dela umprocesso modificador e construtor de homens emulheres mais inteligentes, criativos e,consequentemente, mais humanos.

***

Page 29: Escola Preparatória de Publicada pela Escola Preparatória ... · Jorge Luiz Pavan Cappellano – Coronel Chefe da Divisão de Ensino João Alves de Paiva Neto – Coronel ... Tendo

Revista Pedagógica 2011 EsPCEx

29EsPCEx, onde tudo começa

MIRANDA, Simão de. Como Tornar-se um Educador de Sucesso:dicas, conselhos, propostas e ideias para potencializar a aprendizagem.Petrópolis, RJ: Vozes, 2001.

SCHENKER, Elizabete; PEREIRA, Teresa. Didática Centrada nosProcessos de Aprendizagem. Rio de Janeiro: [S.n], 2008. ( Apostilade curso Didática Centrada nos Processos de Aprendizagem, Núcleo deDesenvolvimento do Potencial Cognitivo – NDPC)

SOUZA, Ana Maria de; DEPRESBITERIS, Léa; MACHADO, OsnyTelles Marcondes. A Mediação Como Princípio Educacional: Basesteóricas das abordagens de Reuven Feuerstein. São Paulo: Editora SenacSão Paulo, 2004.

TÉBAR, Lorenzo. O Perfil do Professor Mediador: pedagogia damediação. São Paulo: ed. Senac São Paulo, 2011.

(*) A professora Ana Claudia Rocha Barbosa é pedagoga, formada pela Universidade Federaldo Ceará (UFC); Especialista em Educação Infantil pela Universidade Estadual do Ceará(UECE), em Psicopedagogia pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e em Docência doEnsino Superior pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Tem formação em PEI( Programa de Enriquecimento Instrumental) nos níveis I e II, reconhecidos pelo ICELP (TheInternational Center for the Enhancement of Learning Potential – Centro Internacional para oMelhoramento do Potencial de Aprendizagem). Foi Orientadora Educacional do Colégio Militarde Fortaleza de 1995 a 2009. Atualmente exerce a função de pedagoga da Seção deAcompanhamento Pedagógico da EsPCEx.

Page 30: Escola Preparatória de Publicada pela Escola Preparatória ... · Jorge Luiz Pavan Cappellano – Coronel Chefe da Divisão de Ensino João Alves de Paiva Neto – Coronel ... Tendo

Revista Pedagógica 2011EsPCEx

EsPCEx, onde tudo começa 30

Exposição de Pinturas(27 de setembro de 2011)

Classificação: 2º LugarTema: Entrada Principal da EsPCEx

Modalidade: óleo sobre tela

Artista Profissional: Roberto Ansil

Page 31: Escola Preparatória de Publicada pela Escola Preparatória ... · Jorge Luiz Pavan Cappellano – Coronel Chefe da Divisão de Ensino João Alves de Paiva Neto – Coronel ... Tendo

Revista Pedagógica 2011 EsPCEx

31EsPCEx, onde tudo começa

A Ansiedade Cognitiva e Somática noEsporte: efeitos psicológicos no

período pré-competição

A relação entre os efeitos benéficos dosexercícios físicos contra a ansiedade e adepressão e os estados negativos de humor éapontada em diversos estudos que abordam osbenefícios psicológicos da prática regular deatividades físicas. Segundo Araújo et al (2007),em situações emocionais, o ser humano podeexperimentar basicamente três emoçõesprincipais em resposta a uma situaçãoameaçadora: raiva dirigida para fora (oequivalente à cólera), raiva dirigida contra simesmo (depressão) e ansiedade ou medo.Portanto, em estado de alerta, o indivíduo reagecom um comportamento de fuga ou de ataqueao agente estressor. Após essa descarga deexcitação, o organismo retorna ao estado deequilíbrio.

No entanto essa fase de desequilíbrio podeperdurar em determinadas pessoas, envolvendooutros processos internos até a exaustão. Nessecaso, desenvolve-se uma psicopatologia. Paramelhor entendimento desse processo, faz-senecessário distinguir ansiedade-traço eansiedade-estado. A ansiedade-traço estariarelacionada a uma condição relativamenteestável de propensão à ansiedade e trata-se deuma predisposição de perceber certas situaçõescomo sendo ameaçadoras e a elas respondercom níveis variados de ansiedade-estado. Já osegundo tipo de ansiedade é considerado umestado emocional transitório e que representauma resposta à percepção da situaçãoameaçadora, estando ou não presente um perigoreal (Araújo et al, 2007).

De acordo com os autores, no aspectocognitivo, as reações e/ou sintomas podem sercaracterizados por sentimentos subjetivos, comoapreensão, tensão, medo, tremores, impaciênciaetc, no aspecto somático, taquicardia, vômitos,

diarreia, insônia, cefaleia dentre outros. Aansiedade não é de todo prejudicial, pois suafunção primeira é proteger o ser humano eresguardar sua sobrevivência. Pode, porém,adquirir contornos psicopatológicos e variar emfrequência e duração de pessoa para pessoa.Fatores genéticos, ambientais e experiênciasvividas podem associar-se à ansiedade.

Situações de avaliação podem gerarsentimentos de rivalidade, de expectativa e deansiedade, além de outros fatores, tais comoprestígio, autoestima, admiração ereconhecimento. Essas vivências esportivastambém podem ocasionar estados afetivos esomáticos inerentes às particularidades de cadamodalidade esportiva e de cada personalidade,bem como a carga afetiva que o indivíduo colocana competição. Essa carga afetiva provocareações emocionais no momento da competiçãoou antecipatória no período pré-competição, taiscomo o medo, a ansiedade, a depressão e aangústia.

A ansiedade, portanto, relaciona-se como rendimento esportivo e com a necessidade desuperar obstáculos e conquistar objetivos. Ela éresponsável pela adaptação do organismo àssituações novas, porém, a partir de certo ponto,a ansiedade excedente, ao invés de contribuirpara a adaptação, concorrerá para o seuesgotamento. Considerando as reações nervosasno esforço emocional durante competição ouantes dela, esses estados psicofisiológicos sãodesencadeados diante da necessidade de seenfrentar algum desafio. Então temos uma triplaação: a ativação fisiológica, a respostacomportamental e a resposta emocional.

Márcia Maria Carvalho Luz Fornari (*)Psicóloga

Page 32: Escola Preparatória de Publicada pela Escola Preparatória ... · Jorge Luiz Pavan Cappellano – Coronel Chefe da Divisão de Ensino João Alves de Paiva Neto – Coronel ... Tendo

Revista Pedagógica 2011EsPCEx

EsPCEx, onde tudo começa 32

A ansiedade no esporte relaciona-se àsexpectativas de êxito por parte do esportista edos demais colegas sobre sua vitória. Éimportante diferenciar a ansiedade cognitiva daansiedade somática. A ansiedade somáticaenvolve a participação do organismo como umtodo, colocando-o em estado de alerta (aumentaos níveis de adrenalina e cortisol), e é essencialpara atividades globais que requerem rapidez,resistência física e força, como, por exemplo,natação, jogos de futebol, corridas, lutascorporais etc. Todavia um nível elevado deansiedade somática é negativo para habilidadescomplexas, que exigem movimentos muscularesfinos, coordenação, concentração e equilíbrio.

A ansiedade cognitiva envolve umasensação emocional de apreensão. Esse tipo deansiedade aumentada produz efeitos negativosnas atividades esportivas que necessitam demaior concentração, estratégia e agilidadepsicomotora fina, como no xadrez, tiro etc.Ambos os tipos de ansiedade podem estarpresentes em um mesmo atleta, predominandoum tipo ou outro, dependendo da modalidadeesportiva e/ou do tipo de personalidade. Aconsequência mais direta é na autoconfiança.Essa, por sua vez, pode estar ligada aorendimento, opondo-se à ansiedade cognitiva.

Os estados afetivos do esportista(sentimentos e emoções) determinam a atitudegeral da pessoa diante de qualquer experiênciavivencial, promovem os impulsos motivadores einibidores, fazendo-a perceber os fatos demaneira agradável ou sofrível, conferindo-lhe umadisposição indiferente ou entusiasta. Assim, aafetividade modela o modo de relação da pessoacom a vida e será através desse estado de ânimoque a pessoa perceberá o mundo e a realidade.

Há estados afetivos momentâneos econstitucionais. Os momentâneos sãodeterminados por circunstâncias vivenciais e osconstitucionais, pela tonalidade afetiva ou humorbásico (introvertido ou extrovertido). Valesalientar que as influências do meio atuam sobreo rendimento do esportista, assim como ascondições de treinamento, a autoconfiança e osentimento de se sentir pressionado oupreparado.

As motivações do esportista podemrelacionar-se com a busca por um rendimento

desejado, não estando necessariamente ligadasao acúmulo de ansiedade cognitiva, mas estãorelacionadas ao aumento da motivação. Por outrolado, a derrota, pode levar ao aumento daansiedade cognitiva e à diminuição da motivaçãoe do rendimento. O domínio da disciplina notreinamento pode diminuir a ansiedade cognitivae aumentar a motivação, fazendo o esportistater a sensação de estar preparado, diminuindoassim a ansiedade frente a novos desafios.

As características de personalidadecolaboram para o sucesso do esportista, como,por exemplo, as atitudes dirigidas para seconseguir evitar momentos de neurose,depressão, fadiga, confusão e ira. Algunsesportistas mantêm excelente nível deautoconfiança e são orientados para a vitória. Osegredo da vitória parece residir naautoconfiança, pois esta faz com que o esportistaexperimente menos ansiedade do que aquelesque duvidam de suas aptidões. Além do mais, onível de treinamento, habilidade e histórico devitórias anteriores aumentam a autoconfiança,diminuindo a ansiedade cognitiva e somática.

De modo geral, parece não haver uma leisobre o caráter inibidor ou estimulante daansiedade sobre o esporte de acordo com o perfilafetivo e ansioso de cada personalidade. Aquantidade ótima de ansiedade necessária paraum bom desempenho depende de cadaesportista, parecendo haver uma concordânciano que se refere ao fato de a ansiedade não tero mesmo efeito em todos os esportes e em todasas pessoas. Assim, para se compreender o efeitoda ansiedade, não podemos simplesmente avaliarsua intensidade, nem se seu tipo é cognitiva(afetiva) ou somática, mas sim avaliar acapacidade de enfrentamento do atleta.

***

Page 33: Escola Preparatória de Publicada pela Escola Preparatória ... · Jorge Luiz Pavan Cappellano – Coronel Chefe da Divisão de Ensino João Alves de Paiva Neto – Coronel ... Tendo

Revista Pedagógica 2011 EsPCEx

33EsPCEx, onde tudo começa

(*) A 1º Ten Marcia Maria Carvalho Luz Fornari é graduada em Psicologia com Habilitação emPsicologia como Psicólogo Pesquisador pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas.Especialista em Desenvolvimento do Potencial Humano nas Organizações e Mestre emPsicologia como Profissão e Ciência pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas.Psicopedagoga pela Universidade Gama Filho (UGF-RJ). Extensão na UNICAMP (Faculdadede Educação e Gerontologia). Formação complementar na área de Gestão Empresarial pelaFundação Getúlio Vargas (FGV-RJ). Graduanda em Administração na Universidade Paulista.Atualmente é Psicóloga Adjunta da Seção Psicopedagógica da EsPCEx.

Bibliografia

ARAÚJO, S. R. C. et al (2007). Transtornos de ansiedade e exercíciofísico. Revista Brasileira de Psiquiatria 29 (2) 164-171.BALLONE, G. J. Ansiedade e Esporte. Disponível no sítio eletrônico:www.virtualpsy.org/temas/esporte.html. Acessado em 13/07/2011.

Page 34: Escola Preparatória de Publicada pela Escola Preparatória ... · Jorge Luiz Pavan Cappellano – Coronel Chefe da Divisão de Ensino João Alves de Paiva Neto – Coronel ... Tendo

Revista Pedagógica 2011EsPCEx

EsPCEx, onde tudo começa 34

Sudão

Das origens do conflito aos dias atuais, o que resume a controversa esangrenta história recente de um dos países mais ricos em petróleo do

continente africano

Helcio Miranda Duque Botelho (*)

Observador Militar da Missão das Nações Unidas no Sudão,de setembro de 2010 a julho de 2011

Fig 1 – Sudão antes da secessão

Um País Continente

O Sudão foi o maior país do continente africano e o décimo do mundo em extensão territorial,desde sua independência do jugo egípcio-britânico, em 1956, até 9 de julho de 2011, quando ainevitável separação fez nascer a mais jovem Nação do Planeta, o Sudão do Sul.

Banhado a nordeste pelas águas do Mar Vermelho e bordeado pelo Egito, Líbia, Chade,República Centro-Africana, Congo, Uganda, Kênia, Etiópia e Eritreia, o país se estendia da ÁfricaSaariana, ao norte, até as entranhas da selva equatorial no coração africano, cobrindo umaextensão de mais de 2.500.000 Km2, que abrigava uma população de 41 milhões de habitantes. Aocentro do território, cortando o país de sul a norte, debruça suas águas caudalosas o imponenteNilo, fonte de vida e único oásis de civilização em vastas extensões de terra árida e inóspita.

Page 35: Escola Preparatória de Publicada pela Escola Preparatória ... · Jorge Luiz Pavan Cappellano – Coronel Chefe da Divisão de Ensino João Alves de Paiva Neto – Coronel ... Tendo

Revista Pedagógica 2011 EsPCEx

35EsPCEx, onde tudo começa

Origens do Conflito

O Sudão do século XX sempre foi marcadopelos contrastes religiosos (70% de muçulmanos,25% animistas e 5% cristãos), étnicos (africanoe árabe), tribais e econômicos (atividade nômadee sedentária). Desde a sua independência, em1956, o país vem sendo caracterizado porcontínuas tensões centro-periféricas. Comoresultado, a guerra quase constante temassolado a população por décadas intermináveisde violência, abandono, migrações forçadas egenocídio indiscriminado, tendo sido maissangrentos os conflitos entre norte e sul, de1956-1972 e 1983-2005 e, mais recentemente,o conflito em Darfur.

Durante os anos de dominação, sob aestratégia britânica de “dividir e governar”, opaís foi separado administrativamente em Nortee Sul. Em 1947, o poder político foi transferido àelite nortista árabe-muçulmana, que o reteveapós a independência em 1º janeiro de 1956 (dataque dá nome à linha limítrofe norte-sul 1-1-56).Antecipando a marginalização pelo Norte, oficiaissulistas do exército amotinaram-se em 1955 eformaram o movimento de guerrilha Anya-Nya(veneno de cobra), que passou a desferir ataquesàs tropas do governo central. A partir de então,o povo sudanês jamais voltaria a conhecer aPaz.

A sucessão de governos árabe-orientados(seguidores da cultura árabe) nas décadas de50, 60 e 70, mediante alternância de golpes deestado, caracterizou-se pelas recorrentespolíticas de islamização do país, por meio daimplementação da “Sharia” (lei islâmica) pelaforça. No início dos anos 80, após descoberta

de ricas reservas de petróleo nas regiões ao sul,a Sharia substituiu a lei tradicional sudanesa. Arevogação das garantias constitucionais do Sul,a adoção do árabe como língua oficial e odesrespeito aos acordos previamenteestabelecidos terminaram por cristalizar as forçasoponentes de guerrilha ao redor do MovimentoExército de Libertação do Povo do Sudão (eminglês South People Liberation Moviment Army –SPLMA), liderados por John Garang. O ano de1983 marcou o início de uma guerra civil, quecontou mais de dois milhões de mortes, desalojou4 milhões de habitantes e criou aproximadamente600 mil refugiados fora do país.

Fig 2 – Sudão: três décadas deguerra civil

Fig 2a – Sudão: três décadas deguerra civil

Todas as tentativas de alcançar a pazentre o SPLMA e o governo de Khartoum foramsuspensas quando a Frente Islâmica Nacional(NIF) desferiu um golpe sem derramamento desangue em junho de 1989. Liderada pelo GeneralOmar Al-Bashir, a NIF, mais tarde transformadaem Partido do Congresso Nacional (NCP), revogoua constituição, extinguiu os partidos de oposição,iniciou a islamização do sistema judiciário eescalou a guerra entre o Norte e o Sul, declarando“jihad” contra o Sul não muçulmano.

Com o enfraquecimento do SPLMA no iníciodos anos 90, os conflitos tribais acirraram-seno Sul do país. O acolhimento de Osama Bin Ladene outros grupos fundamentalistas islâmicos emKhartoum levaram ao isolamento internacional.Em 1998, após atentados à bomba às suasembaixadas em Nairobi e Dares-Salaam, osEstados Unidos chegaram a responder compesados ataques de mísseis.

Page 36: Escola Preparatória de Publicada pela Escola Preparatória ... · Jorge Luiz Pavan Cappellano – Coronel Chefe da Divisão de Ensino João Alves de Paiva Neto – Coronel ... Tendo

Revista Pedagógica 2011EsPCEx

EsPCEx, onde tudo começa 36

Acordos e Protocolos de Paz

Frágeis negociações entre o governocentral e o SPLMA, sob a Autoridade para oDesenvolvimento Intergovernamental (IGAD),fizeram pequenos progressos entre 1994 e 2001.

O Protocolo Machakos de julho de 2002,estipulou um referendo sobre a autodeterminaçãodo Sul, que seria declarada após um prazo de 6anos, enquanto a Sharia era mantida no Norte.As negociações de Naivasha, finalizadas emjaneiro de 2005, puseram, oficialmente, um fim adécadas de guerra, com a assinatura do Acordode Paz Compreensiva (CPA, como ficou conhecidopela sigla em inglês). O acordo incorporou oSPLMA ao Governo da Unidade Nacional (GNU) eprogramou as eleições gerais para 2009, maistarde postergadas para 2010.

Com a implementação dos acordosestagnada, principalmente devido à ausência devontade política dentro do partido do governo(NCP), uma nova constituição foi sancionada eum novo governo empossado em outubro de2006. Contudo tensões entre Khartoum e áreaspériféricas do Sudão persistiram e, em algunslocais, alimentaram um novo ciclo de violência.

A implementação prática dos maioresmecanismos destinados a extinguir o conflito,com destaque para o CPA, foi lenta einsatisfatória desde sua concepção, basicamentedevido à resistência do NCP, partido do governode Al-Bashir.

Em abril de 2010, conforme previsto peloCPA, eleições gerais pluripartidárias foramconduzidas e confirmaram o governo islâmico,tendo sido marcadas pelo boicote da maioria dospartidos de oposição. Apesar das tensões e dealguns episódios locais de violência, a realizaçãodas eleições foi considerada um avançosubstancial.

Da mesma forma, o Referendo deAutodeterminação, agendado pelo CPA para 9de janeiro de 2001, transcorreusurpreendentemente em paz e confirmou o desejode separação do povo sul-sudanês. Em seguida,iniciou-se o período de transição até a declaraçãoda independência do Sudão do Sul, em 9 de julhode 2011.

A UNMIS

O Conselho de Segurança da ONU, por meioda Resolução 1590, de 24 de março de 2005,decidiu estabelecer a Missão das Nações Unidaspara o Sudão (United Nations Mission in Sudan –UNMIS) a fim de dar suporte à implementaçãodo Acordo de Paz Compreensiva (CPA) assinadopelo Governo do Sudão (GoS) e o MovimentoExército de Libertação do Povo do Sudão(SPLMA), em 9 de janeiro de 2005. O Conselhodecidiu que as tarefas da UNMIS, entre outras,seriam: apoiar a implementação do CPA; facilitare coordenar, dentro de suas possibilidades e emsuas áreas de desdobramento, o retornovoluntário de refugiados e migrantes e aassistência humanitária; apoiar as partesbeligerantes no campo das ações de desminageme contribuir com os esforços internacionais paraproteger e promover os Direitos Humanos noSudão.

Dando suporte às instituições e apoiopolítico às partes, a UNMIS permaneceu emcampo por mais de seis anos, abrangendo todoo período de implementação do CPA, paramonitorar e verificar os acordos de segurança eoferecer ajuda em muitos setores de atividade,incluindo governabilidade, reconstrução edesenvolvimento. Para tanto, a UNMIS seorganizou em cinco setores territoriais ao longoe ao sul da linha 1-1-56, onde desdobrou suaspróprias agências justapostas às tropas dospaíses contribuintes.

Fig 3 – Divisão Setorial da UNMIS

Page 37: Escola Preparatória de Publicada pela Escola Preparatória ... · Jorge Luiz Pavan Cappellano – Coronel Chefe da Divisão de Ensino João Alves de Paiva Neto – Coronel ... Tendo

Revista Pedagógica 2011 EsPCEx

37EsPCEx, onde tudo começa

No ápice de sua força de trabalho, a UNMIScontou com o aporte de 67 países, representadospor 10.519 pessoas, incluindo 9.304 militares docorpo de tropa, 513 observadores militares, 702policiais, 966 civis estrangeiros contratados e477 voluntários das Nações Unidas, além de os2.837 civis sudaneses contratados.

Ao término do mandato, a UNMIScontabilizava cifras em torno de 5,76 bilhões dedólares americanos dispendidos pelos cofres daONU. Incomensuravelmente maior, o consumo devidas humanas alcançou 23 militares de corpode tropa, 3 policiais, 3 observadores militares, 8civis estrangeiros e 22 civis sudanesescontratados.

O Referendo, a Transição e a Independência

O tão esperado Referendo pelaAutodeterminação do Sudão do Sul, antecipadopor muitos com incerteza, desconfiança e medoda violência, transcorreu pacificamente e dentrodos limites estabelecidos pelo CPA. No dia 9 dejaneiro de 2011, mais de 6 milhões de sul-sudaneses compareceram às urnas para votar.A esmagadora maioria de 98,83% decidiu pelasecessão do Sudão, resultado também jáesperado por muitos.

O governo de Al-Bashir e o NCP, seu partido,foram fiéis às suas promessas de respeitar osresultados do Referendo. As pressões políticas,entretanto, não deixaram de existir. Durante assemanas que antecederam o 9 de janeiro de2011, representantes do partido e do governodavam declarações isoladas, diariamente namídia, acerca dos atrasos no cumprimento dascláusulas do CPA, da impossibilidade de realizaçãodo Referendo dentro do prazo programado e desua provável ilegalidade e imediata rejeição.

Havia ainda os impasses e atrasos nasregiões controversas como Abyei, e nos estadosde Blue Nile e Kadugli, onde o Referendo nãofora contemplado pelo CPA. Nessas regiões, umaConsulta Popular seria conduzida em um processoparalelo às fases do Referendo, para que aspopulações locais expressassem, aindapreliminarmente, seu desejo de se submeteremou não à jurisprudência do governo de Khartoume, por consequência, a todas as provisões doCPA, assinado por aquele governo e o SPLMA.

Após a oficialização da decisão popularexpressa nas urnas, iniciou-se uma nova fasede transição. Por seis meses, de 9 de janeiro a 9de julho, o Sudão do Sul deveria consolidar suasinstituições de estado e todas as questõesdecorrentes da separação deveriam serresolvidas como preparo para a independência aser declarada de direito e de fato.

No campo militar, a desconfiança pré-existente entre as partes aumentou ainda maise as tensões agravaram-se progressivamente,começando pelos escalões mais inferiores noscomandos locais. Mais de 37% do SPLMAencontrava-se ainda ao norte da provável novalinha de fronteira após o Referendo e nadaindicava que havia intenção de sua retirada parao sul.

A crise escalou ao longo do período eagravou-se no mês de maio com a ocupaçãomilitar de Abyei pelas SAF. No dia 1º de maio de2011, como amostra de um ensaio para osembates que seriam travados no mês, tropasdas SAF, que, segundo o NCP (partido do governocentral) estariam realizando uma entregaautorizada de armamento a uma unidade militarmista, foram detidas ao norte da cidade de Abyeipor policiais locais alinhados com o SPLMA; 14morreram no tiroteio.

No dia 11 de maio, uma patrulha regular daUNMIS foi atacada por militantes da triboMissiriya (pró-NCP), deixando 4 observadoresmilitares feridos. A mesma milícia desferiu outrospesados ataques a postos policiais em Abyei.

Fig 4 – Referendo pelaIndependência do Sudão do Sul

Page 38: Escola Preparatória de Publicada pela Escola Preparatória ... · Jorge Luiz Pavan Cappellano – Coronel Chefe da Divisão de Ensino João Alves de Paiva Neto – Coronel ... Tendo

Revista Pedagógica 2011EsPCEx

EsPCEx, onde tudo começa 38

A situação atingiu o ápice em 19 de maio.As versões ainda são divergentes. O que ficouclaro foi que, enquanto a UNMIS escoltava umcomboio de 200 soldados das SAF, oriundos deuma unidade mista, para suas posições deocupação, forças alinhadas com o SPLMA abriramfogo 10 Km ao norte da cidade de Abyei.

A reação de ambos os lados foi imediata.No dia 21 de maio, o Chefe do Estado-Maior dasSAF enviou, por escrito, um ultimato ao Chefedo Estado-Maior do SPLMA, exigindo que adesocupação militar das regiões ao norte dafronteira (CBL – Comprehensive Border Line) fosseconcluída até 31 de maio, a partir de quando, asSAF estariam autorizadas a marchar sobre asregiões de Abyei, Kadugli e Blue Nile State eassumir seu controle à força, empurrando oSPLMA para o sul. Este, por sua vez, emitiu ordemunilateralmente aos seus comandos locais,cessando todo e qualquer apoio às ações demonitoramento e verificação por parte da UNMIS,em represália às declarações do ForceCommander da UNMIS em visita à Abyei, queteria atribuído a escalada da violência ao SPLMA.

No dia 27 de maio, colunas enormes detropas das SAF, pesadamente armadas, forammonitoradas movimentando-se em direção aoestado de Kadugli, deixando bem claro que oultimato não tinha sido uma ameaça. Após osbombardeios iniciados em 30 de maio e aocupação do estado pelas SAF, as tensões naUNMIS elevaram-se a níveis inéditos até então.O estado vizinho de Blue Nile, há décadasocupado pelas duas forças, seria o próximo passo,inevitavelmente. A movimentação logística dasSAF foi monitorada por mais de 4 semanas, masa retirada da ONU estava próxima.

Em 9 de julho de 2011, o mandato da UNMISexpirou, completando o prazo de seis anos emeio de período interino do CPA, assinado pelaspartes em 9 de janeiro de 2005. No dia 17 demaio, o Secretário-Geral concitara as partes e oConselho de Segurança a considerar apossibilidade de estender a UNMIS por trêsmeses, devido a questões de segurança aindapendentes no Sudão do Sul, que estavamdiretamente relacionadas a problemas que o Nortee o Sul ainda teriam que dirimir juntos. Em 31 demaio, Ban Ki Moon encaminha ao Conselho deSegurança da ONU uma carta do Governo doSudão (GoS) anunciando tácita e

irrevogavelmente a decisão de encerrar apresença da UNMIS em 9 de julho de 2011.

A abrupta e desorganizada retirada dastropas da UNMIS e de todas as suas agênciasdo Sudão do Norte, incluindo seu Quartel-Generalem Khartoum, contribuiu ainda mais para oagravamento das relações entre Al-Bashir e aONU. O aproveitamento de pessoal remanescenteda UNMIS, tanto nas futuras missões da ONU noSudão do Sul e em Abyei como na já existenteem Darfur, foi planejado às pressas e reajustadovárias vezes, tendo sido marcado pelo improviso,pela desinformação e pelo desperdício derecursos.

A transferência de pessoal para a UNAMIDem Darfur esbarrou no protocolo dos processosde consulta aos países contribuintes e atrasouo desencadeamento das medidasadministrativas. Por fim, após grande número deobservadores militares terem sido redesdobradosnaquela missão, Al-Bashir volta atrás e declaranão aceitar em Darfur contingentes oriundos daextinta UNMIS.

Com o Sudão do Sul independente após 9de julho de 2011, o balanço das relações políticasinternacionais foi completamente reestabelecidona região do Chifre Africano. As tensões internasque levaram o Sudão à guerra civil e à secessãoderam lugar a uma zona de fortes atritosinternacionais, onde questões limítrofes,impasses na exploração e partilha de recursosnaturais e de utilização de oleodutostransnacionais, problemas étnicos e migratóriose até mesmo o compartilhamento de recursoshídricos do rio Nilo ainda permanecem semsolução. A mais nova nação do planeta tambémenfrenta ainda sérios desafios internos,decorrentes dos conflitos tribais e da disputapelo poder central, sem considerar a profundagravidade das carências sociais que assolam opaís.

A nova Missão da ONU no Sudão do Sul

A Resolução 1996 do Conselho deSegurança da ONU, de 9 de julho de 2011,estabeleceu a Missão das Nações Unidas para oSudão do Sul (UNMISS) por um período inicial deum ano.

Page 39: Escola Preparatória de Publicada pela Escola Preparatória ... · Jorge Luiz Pavan Cappellano – Coronel Chefe da Divisão de Ensino João Alves de Paiva Neto – Coronel ... Tendo

Revista Pedagógica 2011 EsPCEx

39EsPCEx, onde tudo começa

A nova Missão da ONU na disputada Abyei

Um Referendo à parte, com a finalidade dedeterminar se a região de Abyei, rica em petróleo,permaneceria como parte do Sudão de norte ouseria anexada ao novo país não foi levado a efeitoem janeiro de 2011, conforme originalmenteplanejado. Tal insucesso deu-se devido à falhaem estabelecer uma comissão de referendo e àfalta de consenso acerca de quem poderia votar,principalmente no caso da tribo nômade Missiryia.

Sucessivos surtos de violênciareacenderam-se no começo de março de 2011,deslocando mais de 20.000 civis de suasresidências. O Conselho de Segurança da ONUrespondeu à situação de Abyei por meio daResolução 1990, de 27 de junho, estabelecendoa Força de Segurança Interina das Nações Unidasem Abyei (UNISFA), como resultado de profundapreocupação da comunidade internacional acercada violência, da escalada das tensões e doelevado número de civis desalojados. A operaçãovai monitorar a faixa crítica de fronteira entreNorte e Sul e está autorizada a fazer o uso daforça para a proteção de civis e da ajudahumanitária em Abyei.

***

Bibliografia

www.smallarmssurveysudan.org (Dez 2011).www.un.org (Set 2011).www.unmis.un.org (Nov 2010 a Jun 2011).International Crisis Group (Dez 2010).United Nations, UNMIS, GoS e GoSS – Comprehensive PeaceAgreement, 9 Jan 2005.

TC Cav Helcio Miranda Duque Botelho graduou-se pela Academia Militar das Agulhas Negras(AMAN), em 1991, cursou a Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO) em 1999, (nívelmestrado) e concluiu o Curso de Comando e Estado Maior (ECEME) em 2007 (nível doutorado).Possui os curso de Educação Física pela EsEFEx (1994) e de especialização em musculaçãopela Faculdade de Educação Física de Muzambinho/MG (1998). Foi instrutor na AcademiaMilitar da Venezuela em 2001, da EsEFEx, de 1996 a 1998, da AMAN, de 2003 a 2005, e daEsAO, de 2009 e 2010. É credenciado nos idiomas inglês e francês pela Canadian ForcesLanguage School (2010). Foi Observador Militar da Missão das Nações Unidas no Sudão, desetembro de 2010 a julho de 2011. Atualmente, é o Comandante do Corpo de Alunos daEscola Preparatória de Cadetes do Exército.

O mandato da UNMISS concebeu, comotarefas primordiais, a consolidação da paz e dasegurança, bem como a ação de suporte para acriação das condições para o desenvolvimento,como o fortalecimento da capacidade do Governoda República do Sudão do Sul de governar efetivae democraticamente e consolidar boas relaçõescom seus vizinhos.

Page 40: Escola Preparatória de Publicada pela Escola Preparatória ... · Jorge Luiz Pavan Cappellano – Coronel Chefe da Divisão de Ensino João Alves de Paiva Neto – Coronel ... Tendo

Revista Pedagógica 2011EsPCEx

EsPCEx, onde tudo começa 40

Classificação: 3º LugarTema: A Torre Duque de Caxias

Modalidade: óleo-acrílico

Artista Profissional: Beth Schons

Exposição de Pinturas(27 de setembro de 2011)

Page 41: Escola Preparatória de Publicada pela Escola Preparatória ... · Jorge Luiz Pavan Cappellano – Coronel Chefe da Divisão de Ensino João Alves de Paiva Neto – Coronel ... Tendo

Revista Pedagógica 2011 EsPCEx

41EsPCEx, onde tudo começa

Alfabetização, Leitura e Letramento: estratégias possíveis denorte a sul do Brasil

Célia Cristina de Almeida Gauté (*)

Professora de Língua Portuguesa e Literatura

Aspectos Teóricos

Desde metade da década de 1980,pesquisa-se sobre o conceito de letramento.O termo, recente na literatura acadêmica, suscitauma série de questionamentos. Uma das grandesestudiosas do assunto, a professora MagdaBecker Soares, da UFMG, ressalta que “osignificado do termo letramento refere-se aoestado ou condição de quem não apenas sabeler e escrever, mas cultiva e exerce práticassociais que usam a escrita” (2006, p. 47). Paraa autora, “letrar é mais que alfabetizar, é ensinara ler e escrever dentro de um contexto onde aescrita e a leitura tenham sentido e façam parteda vida do aluno” (2003a). Por isso, a palavraletramentos, no plural, vem sendo bastanteutilizada, por ser mais abrangente.

Já o vocábulo alfabetização é empregadocom o sentido mais restritivo de ação de ensinara ler e escrever as primeiras letras. Alfabetizar-se faz parte de um processo individual deaquisição do código escrito. Continua a autora:

Dissociar alfabetização e letramento é umequívoco porque, no quadro das atuaisconcepções psicológicas, linguísticas epsicolinguísticas de leitura e escrita, a entradada criança no mundo da escrita ocorresimultaneamente por esses dois processos: pelaaquisição do sistema convencional de escrita –a alfabetização – e pelo desenvolvimento dehabilidades de uso desse sistema em atividadesde leitura e escrita, nas práticas sociais queenvolvem a língua escrita – o letramento. Nãosão processos independentes, masinterdependentes, e indissociáveis: aalfabetização desenvolve-se no contexto de e pormeio de práticas sociais de leitura e escrita, istoé, através de atividades de letramento, e este,por sua vez, só se pode desenvolver no contextoda e por meio da aprendizagem das relaçõesfonema-grafema, isto é, em dependência daalfabetização (SOARES, 2003b, p. 9):

Portanto deve-se alfabetizar letrando eletrar alfabetizando. Soares acredita que o nome‘letramento’ ganhou “estatuto de termo técnicono léxico do campo da Educação e das CiênciasLinguísticas” (2006, p. 15). Palavras comoalfabeto, analfabeto, analfabetismo,alfabetizar, alfabetização, bem como letradoe iletrado, são de domínio comum há bastantetempo. Mas letramento foi cunhada comopalavra “antiquada” no Dicionário de CaldasAulete, na terceira edição brasileira, de 1974.Porém, trinta anos depois, o mesmo dicionárionão só reconhece o termo, mas também o define:

Letramento. A condição que se tem, uma vezalfabetizado, de se usar a leitura e a escrita comomeios de adquirir conhecimentos, cultura etc.,estas como instrumento de aperfeiçoamentoindividual e social. O termo ‘letramento’, de usorecente no campo da pedagogia e da educação,deriva do inglês “literacy”, (referência não àacepção de ‘condição de quem sabe ler e escrever’(ao que corresponde o termo ‘alfabetismo’ ou‘alfabetização’), mas a condição, capacidade dee disposição para, uma vez dominada a técnicade ler e escrever, usá-la para assimilar e transmitirinformação, conhecimento etc. Assim, oletramento é uma continuação possível edesejável da alfabetização, e é através dele queo potencial do alfabetismo pode se transformarem conhecimento e cultura (AULETE, 2004).

Desse modo, ‘letramento’ surgiu de umaversão feita da palavra inglesa literacy, coma representação etimológica de ‘estado,condição, ou qualidade de ser literate’; e literateé o mesmo que ‘educado’, especialmente, paraler e escrever. No dicionário Aurélio (2009),‘alfabetizado é aquele que sabe ler e escrever.Já ‘letrado’ é o versado em letras, erudito; e‘iletrado’ é o que não tem conhecimentos literáriose é, também, o analfabeto ou quase analfabeto.

Page 42: Escola Preparatória de Publicada pela Escola Preparatória ... · Jorge Luiz Pavan Cappellano – Coronel Chefe da Divisão de Ensino João Alves de Paiva Neto – Coronel ... Tendo

Revista Pedagógica 2011EsPCEx

EsPCEx, onde tudo começa 42

Para tornar-se estudante, profissional ecidadão competente, não basta ter acesso àaprendizagem da língua escrita (estaralfabetizado). É preciso ir além, entendendo einterpretando o que leu, escrevendo comdesenvoltura e fazendo uso adequado dosdiversos gêneros encontrados na sociedade donovo século. Seja uma criança ou um jovem,seja um adulto, todos precisam da leitura e daescrita como instrumentos para viver comautonomia na sociedade. Todos precisam saberler o mundo. Ler os livros literários, as revistas,as histórias em quadrinhos, os dicionários, osperiódicos, os jornais impressos, os livrosdidáticos, as bulas de remédio, as receitas, ossinais de trânsito. Ler os manuais técnicos e aslinguagens da propaganda – que invadem as casaspela televisão, rádio e Internet. Ler os cartazes,os panfletos, os outdoors. Ler o teatro, ocinema, o museu, a música e toda a culturaarmazenada ao longo dos séculos. Por isso, MárioQuintana afirmou que “o pior analfabeto é o queaprendeu a ler e não lê”, isto é, não faz uso daleitura em seu cotidiano.

Com a expansão da tecnologia, fala-se emletramento digital, em que é preciso saber lere escrever em um hipertexto (texto associadoaos suportes eletrônicos); saber enviar um e-mail e uma mensagem pelo celular; saber usarum smartphone ou um blackberry; aprender aparticipar das redes sociais, das comunidadesvirtuais e das redes de aprendizagem on line. Oensino a distância (EAD) ganhou espaço nessenovo mercado, levando a educação a lugaresonde seria impossível nos séculos anteriores.Mas, para ter sucesso na aprendizagem, o alunoprecisa saber trabalhar o autoaperfeiçoamentoe, ao mesmo tempo, estar apto a ler emdiferentes suportes e a dominar o mundo virtual.

Como tudo isso pode ser possível em umPaís com tantas desigualdades socioeconômicas,educacionais e culturais? Como formar um leitorcrítico e em processo contínuo de letramentosem uma sociedade cuja mortalidade infantil éalta; na qual nem todas as crianças estão naescola; em que o ensino público não temqualidade e o número de adultos analfabetos (oucom baixo nível de letramento, ou que nãoconcluiu o primeiro ciclo do ensino fundamental)ainda é alarmante? Como fazer para que essepúblico amadureça sua capacidade leitora aointeragir com textos literários e com escritos que

circulam socialmente? Como conquistar o leitorcom um cardápio variado de leitura – livros deimagens, de narrativas, de poesia – a fim detransformar a leitura em uma espécie depassaporte para o mundo da cultura e dodesenvolvimento? Sem dúvida, sãoquestionamentos difíceis de responder, porquesão problemas da base do processo educacionale social brasileiro.

Uma Experiência de Letramento naAmazônia Ocidental Brasileira

Qualquer ser humano lê o mundo antes deler a palavra. Não é preciso ir à escola paraaprender qual ônibus tomar para ir de um local aoutro. Basta decorar o número, a cor e as imagensque as letras representam. Ou pode-se pedir aalguém no ponto de espera que indique qual ocoletivo desejado. Uma criança, antes deaprender o código escrito, reconhece uma latade coca-cola pela cor, desenho das letras e estilodo objeto. Em consequência, ela “lê” as coisas,mas não lê as palavras. Soares (2006, p. 24)afirma que

Um indivíduo pode não saber ler e escrever, istoé, ser alfabetizado, mas ser, de certa forma,letrado (atribuindo a este adjetivo sentidovinculado a letramento). Assim, um adulto podeser analfabeto porque marginalizado social eeconomicamente, mas, se vive em um meio emque a leitura e a escrita têm presença forte, sese interessa em ouvir a leitura de jornais feita porum alfabetizado, se recebe cartas que outrosleem para ele, se dita cartas para que umalfabetizado as escreva, se pede a alguém quelhe leia avisos ou indicações afixados em algumlugar, esse analfabeto é, de certa forma, letrado,porque faz uso da escrita, envolve-se em práticassociais de escrita.

Ao entender que a alfabetização é umaexperiência de cunho social e que o livro é oespaço da aprendizagem por excelência, háalguns anos venho me dedicando ao trabalhocom o letramento em instituições beneficentesdo Rio de Janeiro. Ao ser transferida da Diretoriade Ensino Preparatório e Assistencial (DEPA) paraa 16ª Brigada de Infantaria de Selva, em Tefé,interior do Amazonas, em janeiro de 2009,procurei levar esse trabalho àquela região. Tão

Page 43: Escola Preparatória de Publicada pela Escola Preparatória ... · Jorge Luiz Pavan Cappellano – Coronel Chefe da Divisão de Ensino João Alves de Paiva Neto – Coronel ... Tendo

Revista Pedagógica 2011 EsPCEx

43EsPCEx, onde tudo começa

logo cheguei, percebi a carência em atividadesde fomento à leitura, bem como a ausência debibliotecas. Constatei que, em Tefé, haviasomente uma livraria pertencente à IgrejaCatólica, com literatura de cunho religioso.

A cidade localiza-se a 575 km de Manaus.Por não existirem estradas que liguem a capitalao interior do Estado, só se chega aos municípiosdo Amazonas de barco ou avião. Com isso, oisolamento, por si só, já é um fator determinantepara o baixo nível de letramento dos moradores.O interessante é que, embora não hajabibliotecas e livrarias, e as pessoas não tenhamo hábito de comprar livros para o acervo pessoal,essa carência não impede que os moradoresadquiram celular e laptop; que tenham acesso àInternet e que, praticamente, cada adulto tenhauma motocicleta, devido à quase totalinexistência de transporte público. Logo, compra--se o que é oferecido: tecnologia e bensmateriais, em detrimento da educação e cultura.

Por trabalhar na Seção de ComunicaçãoSocial, pude travar contato com inúmerascomunidades, escolas e estabelecimentos dacidade e da região, o que permitiu ter informaçõessobre o andamento da educação e da leitura.Descobri que existe a ação do Grupo Vaga-Lume,uma ONG financiada pelas Casas Bahia, quecapacita contadores de histórias da própria regiãopara serem multiplicadores de leitura, além dedoar livros de excelente qualidade para amontagem de acervos. Esse trabalho aconteceem vários Estados e localidades da Amazônialegal, nos quais não há bibliotecas.

Observei, também, que há iniciativas daUniversidade do Estado do Amazonas (UEA), masque não atende à demanda de leitores. Se Tefé,que é uma cidade-polo para outros municípiosmenores (Codajás, Uarini, Coari, Alvarães,Nogueira), não possui estrutura para promovera leitura, o que dizer das comunidades ribeirinhas,que são inúmeras e extremamente carentes eisoladas? Notei, ainda, que, com exceção daCapital, em nenhum outro lugar da AmazôniaOcidental Brasileira existem teatros, cinemas,museus e outras instituições culturais.

De acordo com a professora Rocco (1996),sabe-se que, aos seis anos, a criança já podeser alfabetizada por meio do contato com livrose situações práticas de leitura e escrita,escolares ou não. A aproximação com materiais

escritos, a contação de histórias, que influenciapositivamente no processo de aquisição daescrita e as brincadeiras levam ao mundo daleitura. Mas como fazer isso em um lugar quenão privilegia a tal prática?

Diante desse panorama, busquei levar meutrabalho de incentivo à leitura ao maior númerode pessoas durante os dois anos em que serviem Tefé. Contudo, para transformar o sonho emrealidade, precisava de material, pois sabia dafalta de estrutura, mesmo nas escolas públicas,algumas, inclusive, sem nenhum livro paradidáticoem suas acanhadas bibliotecas. Minha estreiaaconteceu na conclusão do Estágio deAdaptação à Selva, quando aconteceu uma AçãoCívico-Social (ACISO) na comunidade ribeirinha“Catuiri de Cima”, pertencente ao município deNogueira/AM.

A única escola existente era uma espéciede palafita e não possuía carteiras ou livros deleitura. Tinha, apenas, um quadro negro, umamesa e um armário de madeira com poucosobjetos didáticos. Naquele espaço único daescola, sentei-me, dispus os livros em roda nochão e contei histórias para as crianças, queficaram encantadas com a atividade. Ao final,doei os livros (cerca de 30 paradidáticos) paraaquele educandário. Constatei que a professora,que atendia ao ensino fundamental e médio, vinhade Tefé para lecionar somente duas horas pordia, pois também trabalhava em outrascomunidades.

Pude observar que o isolamento é enorme.Os moradores só saem do local de voadeira(barco com motor), cujo diesel é fornecido pelaPrefeitura. A diversão das crianças é nadar noRio Solimões. As casas possuem televisão, masnenhuma tem livros. Os únicos materiais de leiturasão os poucos livros didáticos da escola e aBíblia. Essa situação foi constatada nas demaiscomunidades ribeirinhas visitadas.

Em todas as ocasiões em que realizei otrabalho com o letramento, verifiquei que ascrianças eram altamente receptivas e sedeslumbravam com o cenário, a variedade doslivros e das atividades proporcionadas. Interagiambastante e algumas participavam mais de umavez quando o evento ocorria o dia inteiro. Eramaravilhoso ver os olhos delas brilhando quandoeu contava uma história; quando abria um livrobem bonito, cheio de pop-ups; quando

Page 44: Escola Preparatória de Publicada pela Escola Preparatória ... · Jorge Luiz Pavan Cappellano – Coronel Chefe da Divisão de Ensino João Alves de Paiva Neto – Coronel ... Tendo

Revista Pedagógica 2011EsPCEx

EsPCEx, onde tudo começa 44

manuseava um fantoche e cantava uma música;enfim, quando interatuava colocando-as no meioda roda de leitura. Elas queriam, ao mesmo tempo,ouvir as histórias, manusear os livros, brincarcom os fantoches e, claro, com as outrascrianças. Para elas, tudo era mágico, eranovidade. Em muitos momentos, os próprios paislevavam os filhos e ficavam para assistir, tendoa chance de voltar à infância. Realizei oficina deleitura para professores e constatei a carênciadesses docentes, tanto de material quanto decursos com profissionais qualificados. Mas a sedede saber, por parte de todos, era enorme.

Destaco que meu trabalho só foi possívelporque contei com a ajuda de familiares, amigose colegas da DEPA e dos Colégios Militares, quenão mediram esforços para angariar livros e enviara Tefé. Muito do acervo utilizado eu já havialevado do Rio de Janeiro e fui adquirindo outrosmateriais em viagens a Manaus e ao Rio. Por fim,uma empreitada, que me rendeu 300paradidáticos novos e altamente recomendáveis,foi a segunda colocação no concurso daFundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil(FNLIJ), que elege os melhores projetos deincentivo à leitura em todo o Brasil. Recebi oprêmio no dia 25 de agosto de 2010,coincidentemente, Dia do Soldado, em cerimôniana Casa Austregésilo de Athayde – sede da FNLIJ– no Cosme Velho/RJ. No início de setembro, coma visita do Comandante do Exército a Tefé eTabatinga, os livros puderam ser levados poraeronave militar, tendo sido todos doados até ofim de 2010.

ACISO: Contador de Histórias(Nogueira/AM)

Registro meu reconhecimento a todos osque ofertaram materiais: à Academia Brasileirade Letras e à FNLIJ, que me apoiaram com asdoações. Agradeço aos comandantes da 16ª BdaInf Sl, dos biênios 2008/2009 e 2010/2011, e aoGrupo Beneficente das Missões, por apoiarem meutrabalho. Agradeço, ainda, aos moradores de Tefée municípios da região; às comunidades ribeirinhase aos Pelotões Especiais de Fronteira, os quaistive o privilégio de conhecer e de levar um poucode leitura a esses rincões tão esquecidos. Namaioria deles, o único representante do Governoé o Exército Brasileiro, que acolhe, protege ecuida dos ribeirinhos com muita dedicação eamor.

APAE : Contador de Histórias

Espero que outros militares e familiares,ao serem transferidos para esses locais, possamrealizar trabalhos semelhantes, pois a Amazônia(e o Nordeste) necessita sair do atraso culturale social. O desenvolvimento do Brasil jamaisacontecerá plenamente enquanto houverbrasileiros em condições desiguais. É preciso olharo próximo como a nós mesmos, uma vez que nãoé possível ser feliz sabendo que em diversoslugares há crianças, jovens e adultosmarginalizados e excluídos, carentes não só derecursos materiais, mas também de informação,leitura e educação.

A seguir, faz-se um resumo dos meusprincipais trabalhos com o letramento naAmazônia:

Page 45: Escola Preparatória de Publicada pela Escola Preparatória ... · Jorge Luiz Pavan Cappellano – Coronel Chefe da Divisão de Ensino João Alves de Paiva Neto – Coronel ... Tendo

Revista Pedagógica 2011 EsPCEx

45EsPCEx, onde tudo começa

09ABR09

ComunidadeRibeirinha Catuiri

de Cima (Nogueira/AM)

ACISO – leitura de livros e contação de histórias.Doação de brinquedos, brindes e 30 livrosparadidáticos para Escola. Entrega da revista “ORecrutinha”.

Eventos e Atividades CriançasAtendidas

LocalData

80

04/05DEZ09

Escola MunicipalTereza Praia

Tavares (Tefé/AM)

Páscoa – leitura de livros e contação de histórias.Doação de coleções didáticas, materias educativose 250 livros paradidáticos para Escola. Entrega darevista “O Recrutinha”.

240

Escola Municipalde Nogueira

(Nogueira/AM)

ACISO – leitura de livros e contação de históriasdurante a escovação dentária. Doação de 50 livrose 50 revistas para Escola. Entrega da revista “ORecrutinha”. Roda de histórias e dramatização.

18ABR09

300

Escola Municipalde Tefé

(Tefé/AM)

08AGO09

ACISO – leitura de livros e contação de históriasdurante a escovação dentária. Doação de 100 livrose 50 revistas para Escola. Roda de histórias ereprodução de histórias em DVD.

200

ACISO: Contador de Histórias(Tefé/AM)

ACISO: Contador de Histórias.Pelotão Especial de Fronteira

(Palmeira do Javari/AM)

ACISO: Contador de Histórias.Pelotão Especial de Fronteira

(Estirão do Equador/AM)

Contador de Histórias.Pelotão Especial de Fronteira

(Pastoral do Menor/AM)

Page 46: Escola Preparatória de Publicada pela Escola Preparatória ... · Jorge Luiz Pavan Cappellano – Coronel Chefe da Divisão de Ensino João Alves de Paiva Neto – Coronel ... Tendo

Revista Pedagógica 2011EsPCEx

EsPCEx, onde tudo começa 46

Eventos e AtividadesLocalData

03DEZ10

Pelotão Especialde Fronteira(Estirão do

Equador/AM)

Natal – Contação de Histórias. Doação de livros emateriais didáticos ao cantinho da leitura e entregade gibis e brindes às crianças.

150

04DEZ10

Pelotão Especialde FronteiraPalmeira do(Javari/AM)

Natal – Contação de Histórias. Doação de livros emateriais didáticos ao cantinho da leitura e entregade gibis e brindes às crianças.

120

Ao longo de2000/2010

17º B Inf Selva(Tefé/AM)

Programa Força no Esporte – Oficina de Leiturae Redação, Contação de Histórias, dramatização.Apresentação teatral para os pais. Doação de gibis,revistas p/ colorir e material escolar

200 acada ano

Ao longo de2000/2010

16ª Bda de Inf deSelva

(Tefé/AM)

Programa de Leitura para Cabos e Soldados –Palestras, dinâmicas, leituras e contação dehistórias. Doação de livros didáticos e paradidáticose textos a cada participante.

200 acada ano

Programa de Leitura para Cabos e Soldados da Guarnição de Tefé/AM

CriançasAtendidas

Page 47: Escola Preparatória de Publicada pela Escola Preparatória ... · Jorge Luiz Pavan Cappellano – Coronel Chefe da Divisão de Ensino João Alves de Paiva Neto – Coronel ... Tendo

Revista Pedagógica 2011 EsPCEx

47EsPCEx, onde tudo começa

O Programa de Leitura para os Alunos daEscola Preparatória de Cadetes do Exército

Até 2011, os alunos cursavam, na EsPCEx,o terceiro ano do ensino médio. Além dasdisciplinas comuns a esse último ano da educaçãobásica, esses jovens frequentavam, ainda, aulasde Informática, Instrução Militar, TreinamentoFísico Militar, além de realizarem atividades típicasda vida na caserna, como tiro, acampamento,marchas, competições esportivas, dentre outras.Devido à extensa carga didática e à quantidadede avaliações, os discentes tinham pouco tempona grade curricular para as atividades extraclasse.

Em minhas aulas de Literatura, pudeperceber o interesse dos alunos pela leituradesvinculada do estudo e das provas, a chamada‘leitura prazerosa’. Porém muitos diziam não tertempo para ler, uma vez que a intensa rotina daEscola não lhes possibilitava nem momentos livres,nem disposição para tal prática. Ao perguntar-lhes se conseguiam encontrar tempo e interessepara navegar na Internet e para utilizar oFacebook, o Orkut, o Twitter ou o e-mail, agrande maioria acenou que sim. Por essa razão,decidi realizar uma atividade de incentivo à leiturapara mostrar a essa mocidade verde-oliva que aleitura, as artes e o senso estético não podemser desvinculados da carreira, mas que, docontrário, ao estarem presentes, tornam o militarnão só mais bem preparado para a profissão,mas também para a vida. Os 522 discentes,divididos por companhia de alunos, assistiram auma palestra sobre a importância da prática daleitura, atividade seguida de dinâmicas, contaçãode histórias, leitura de textos, sorteio de livros eentrega de brindes aos alunos mais participativos.

O resultado foi surpreendente, uma vez queos jovens se interessaram pelo tema, interagirambastante e me procuraram em outros momentospara pedir livros emprestados. Tudo isso mostrouque, ao contrário do que se pensa, essa geração,de fato, gosta de ler, mas, uma vez imersa natecnologia e na maciça propaganda da mídia, edevido à falta de exemplos de leitores, acabapor sucumbir à pressão da sociedade por umconsumo desenfreado de parafernálias digitaisna busca por informações excessivas,desnecessárias e alienantes.

Considerações Finais

Em nenhum momento das atividades coma leitura, preocupei-me em formar leitores

literários, pois essa é tarefa dos pais e do sistemaescolar, instituição que, infelizmente, apresentaMachado de Assis do 6º ao 9º ano do ensinofundamental, repete o autor no ensino médio e,ainda assim, não consegue fazer com que osalunos gostem de ler e conheçam o maior escritorbrasileiro. Preocupei-me não só com os gênerosescritos, mas também com os orais, pois conteihistórias populares, usei músicas folclóricas, fizleitura de livros de autores conhecidos e, também,dos estreantes, propus debates e dinâmicas,realizei dramatizações e expus meus materiaiscomo um “banquete” a ser saboreado pelaassistência. Procurei, ainda, incentivar os pais aestimularem os filhos, já que aqueles são osprimeiros e melhores modelos para a juventude.

Na Amazônia, busquei inserir novosprotocolos de leitura, que foram novas maneirasde ler para as crianças, jovens e adultos comquem travei contato durante os dois anos emque tive o privilégio de morar e trabalhar naregião. Se a função básica da escritura écomunicar, da leitura também é. Por conseguinte,esse foi meu objetivo: levar a leitura e a escritapara poder compartilhar, com o povo amazonense,o que uma pessoa da região centro-sul brasileiraconhece muito bem – o acesso à cultura. Mostrarque há um mundo maravilhoso à espera de todose que, apesar da distância e do isolamento, épossível ser alfabetizado e letrado.

Aos alunos da EsPCEx, procurei mostrar queo dia a dia do profissional não serve de desculpaà inércia e à alienação intelectual, e que atecnologia não substitui a leitura e a feitura dotexto escrito, ferramentas indispensáveis em umasociedade letrada. Enfatizei que o aprendizadoda autoria na escrita requer tempo, paciência ematuridade e que o exercício da leitura deveservir para estimular o crescimento e oamadurecimento, para transformar a mentalidade,para formar cidadãos críticos e para realizarsonhos possíveis. Ler, enfim, deve ser umaexperiência feliz.

***

Page 48: Escola Preparatória de Publicada pela Escola Preparatória ... · Jorge Luiz Pavan Cappellano – Coronel Chefe da Divisão de Ensino João Alves de Paiva Neto – Coronel ... Tendo

Revista Pedagógica 2011EsPCEx

EsPCEx, onde tudo começa 48

BibliografiaAULETE, Caldas. Minidicionário contemporâneo da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2004._____ Dicionário contemporâneo da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Delta, 1974.HOLANDA, Aurélio Buarque Ferreira de. Novo dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. 4. ed. Curitiba: Positivo, 2009.ROCCO, Maria Thereza Fraga. Viagens da leitura (Cadernos da TV Escola). Brasília, Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria deEducação a Distância, 1996.SOARES, Magda Becker. Letramento: um tema em três gêneros. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2006.____O que é letramento? Jornal Diário do Grande ABC, Santo André, 29 ago., 2003a.____ Alfabetização: a ressignificação do conceito. Jornal Alfabetização e cidadania. Nº 16, p. 9-17, jul. 2003b.

(*) A Major Célia Cristina de Almeida Gauté pertence ao Quadro Complementar de Oficiais,formando-se pela EsFCEx (antiga EsAEx) na turma de 1995. Especializou-se em LinguísticaTextual pela Universidade de Cruz Alta/RS, em 1997; e em Supervisão Escolar, pela UFRJ, nomesmo ano. É Mestre em Letras/Linguística pela Universidade Federal de Santa Maria, RS,em 2000. Cursou a EsAO em 2004. Co-autora do Projeto “Práticas Docentes em Diálogo: pelaemergência de novos letramentos na escola”, que deu origem a um curso de capacitação deprofessores promovido pelo Departamento de Educação e Cultura do Exército. Atualmente éa Bibliotecária e a Coordenadora do Programa de Leitura da EsPCEx.

Page 49: Escola Preparatória de Publicada pela Escola Preparatória ... · Jorge Luiz Pavan Cappellano – Coronel Chefe da Divisão de Ensino João Alves de Paiva Neto – Coronel ... Tendo

Revista Pedagógica 2011 EsPCEx

49EsPCEx, onde tudo começa

Uma Visão da Importância daInformação e da Segurança daInformação para a Sociedade,para o País e para as Forças

Armadas

Sergio da Costa Ferreira (*)

Chefe da Divisão de Tecnologia da Informaçãoda EsPCEx

“Ao longo da história, desde a mais remotaantiguidade, o ser humano vem buscando

controlar as informações que julgaimportantes.”

(CASANAS e MACHADO, 2006)

Esta é, e sempre foi, a realidade no mundonas relações humanas. Desde os mais primitivostempos, o ser humano busca protegerdeterminadas informações que julgue poder lhetrazer vantagens ou prejudicá-lo caso nãorecebam o devido tratamento sigiloso.

Com o passar dos tempos, essaproblemática vem se agravando, devido aocrescimento da quantidade de informaçõescirculantes e da diversificação dos meios decomunicação por onde elas tramitam. SegundoCasanas e Machado (2006, p. 4), o mundo estáatravessando a era da informação – um períodojamais visto desde a criação da escrita por nossosancestrais. Todo esse cenário se deveprincipalmente ao surgimento da Tecnologia daInformação e Comunicações (TIC), que vemimpondo ao homem moderno atitudes muito maisbem elaboradas para controlar a informação doque as rudimentares práticas existentes nostempos antigos.

Em anos recentes a informação assumiuimportância vital para manutenção dos negócios,marcados pela dinamicidade da economiaglobalizada e permanentemente conectada, detal forma que não há organização humana nãodependente da tecnologia da informação, deforma que o comprometimento do sistema deinformações por problemas de segurança podecausar grandes prejuízos ou mesmo levar aorganização ao fim. (CARUSO,1999, apudCASANAS e MACHADO, 2006, p. 1).

Ainda de acordo com Casanas e Machado(2006, p. 4), o modo como a informação circulaevoluiu muito rapidamente depois que asorganizações e pessoas passaram a estabelecercontato com sistemas externos aos seus,contatos esses proporcionados pela evolução dasredes de computadores e sistemascomputacionais. Antigamente a segurança dasinformações e dos sistemas de computação deuma instituição não era muito preocupantedevido ao limitado acesso que se tinha a essesrecursos, que eram praticamente confinados aoambiente interno da organização. Mas, com aevolução da informática e das redes decomputadores, tornou-se possível umaintegração dessas estruturas, globalizando ocompartilhamento das informações.

Um claro exemplo disso é que hoje em diaé comum um indivíduo qualquer, sem sequer sairda sua casa, adquirir qualquer tipo de produto;ou ter acesso as principais notícias do mundo;ou movimentar sua conta no banco; ou realizarpesquisas a conteúdos didáticos; ou aindaparticipar de redes de relacionamento e trocarmensagens com amigos distantes no tempo ouno espaço. Além de tudo isso, existe ainda umaimensa gama de operações transacionaisexecutadas por empresas, governos e os maisvariados tipos de organização. Enfim, asinformações estão em toda parte e fazendo omundo acontecer. Assim, a informação passa aconstituir-se em um importante ativo que deveser protegido de maneira adequada e compatível

Page 50: Escola Preparatória de Publicada pela Escola Preparatória ... · Jorge Luiz Pavan Cappellano – Coronel Chefe da Divisão de Ensino João Alves de Paiva Neto – Coronel ... Tendo

Revista Pedagógica 2011EsPCEx

EsPCEx, onde tudo começa 50

com o valor que representa para o seu detentor.(MONTEIRO, 2009, p. 23)

Todo esse avanço tecnológico motivou aevolução também daquela antiga necessidadede se manter segura a informação. Daí osurgimento de modernas técnicas de segurança,que atualmente são definidas simplesmente peloconceito de “segurança da informação” e queassumiu um papel fundamental no contextomundial da informação e comunicação.

O conceito de segurança da informação éexplicado de diversas formas e sob vários pontosde vista. Para a ABNT (2005, p. ix), “segurançada informação é a proteção da informação contravários tipos de ameaças para garantir acontinuidade do negócio, minimizar o risco aonegócio, maximizar o retorno sobre osinvestimentos e as oportunidades de negócio.”É necessário acrescentar que devem serpreservadas a confidencialidade, a integridade ea disponibilidade da informação; e, ainda, aautenticidade, a responsabilidade, o não repúdioe a confiabilidade. (ABNT, 2005, p. 1)

A esse respeito, o Decreto nº 3.505, noinciso II do seu artigo 2º, traz o seguinteconceito:

“Segurança da Informação: proteção dos sistemasde informação contra a negação de serviço ausuários autorizados, assim como contra aintrusão, e a modificação desautorizada de dadosou informações, armazenados, emprocessamento ou em trânsito, abrangendo,inclusive, a segurança dos recursos humanos,da documentação e do material, das áreas einstalações das comunicações e computacional,assim como as destinadas a prevenir, detectar,deter e documentar eventuais ameaças a seudesenvolvimento” (BRASIL, 2000, p. 2).

Esses conceitos trazem ideiascomplementares, uma vez que o primeiropermanece focado na proteção da informaçãopropriamente dita e no seu impacto nos negócios;e o segundo, de uma forma mais abrangente,inclui, na perspectiva de segurança, os sistemasde informação, os recursos humanos, adocumentação, o material, enfim, quase que aorganização como um todo. Mas, para entendermelhor o conceito de segurança da informação,faz-se necessário verificar outras definições,como a apresentada na Instrução Normativa nº01 do GSIPR, a seguir:

“Segurança da Informação e Comunicações:ações que objetivam viabilizar e assegurar adisponibilidade, a integridade, a confidencialidadee a autenticidade das informações.” (GSIPR,2008, p. 2).

Ou, ainda, segundo as Instruções Geraisde Segurança da Informação para o ExércitoBrasileiro (IG 20-19):

“Segurança da Informação compreende umconjunto de medidas, normas e procedimentosdestinados a garantir a integridade, adisponibilidade, a confidencialidade, aautenticidade, a irretratabilidade e a atualidadeda informação em todo o seu ciclo de vida.”(BRASIL, 2001, p. 3).

Sintetizando o que foi apresentado, têm-se, segundo Freitas e Lauro (2009, p. 2), que asegurança de informações visa garantir aintegridade, confidencialidade, autenticidade edisponibilidade das informações processadas poruma organização.

Dessa forma, a grande massa dasorganizações existentes no mundo atual estápreocupada com a segurança de suas informaçõese, por causa disso, vem investindo uma grandequantidade de recursos nesse objetivo. Nessecontexto, praticamente, todas as empresaspossuem em seus quadros pessoas destinadas acuidar dessa questão.

Normalmente os profissionais de Tecnologiada Informação são os responsáveis pelasegurança da informação nas organizações.Esses profissionais estão sempre buscando novosmeios para manter disponibilidade, integridade econfidencialidade das informações de suasorganizações, lançando mão de todas astecnologias e procedimentos disponíveis.Normalmente, esses recursos são regulados pornormas e padrões internacionais, criados paraestabelecer diretrizes e princípios para melhorara gestão de segurança da informação nasorganizações, como é o caso da família de normasABNT NBR ISO/IEC 27000.

Nota-se que, segundo aponta Holanda(2006, p. 1), atualmente existe uma tendênciamuito forte de adoção dessas normas nomercado, sensibilizado pela importância de seproteger as informações, que se constituem em

Page 51: Escola Preparatória de Publicada pela Escola Preparatória ... · Jorge Luiz Pavan Cappellano – Coronel Chefe da Divisão de Ensino João Alves de Paiva Neto – Coronel ... Tendo

Revista Pedagógica 2011 EsPCEx

51EsPCEx, onde tudo começa

ativo essencial para os negócios de qualquerempresa, e devido a uma grande aceitação dospadrões ISO como referencial, conforme observaCaubit (2006, p. 2).

Dentro desse cenário, é fácil deduzir que,de forma generalizada, são implementadasmedidas de segurança da informação nas diversasorganizações dos mais variados setores dasociedade e dos negócios.

“As medidas de segurança são um conjunto depráticas que, quando integradas, constituem umasolução global e eficaz da segurança dainformação.” (ALASI, 2006, p. 60).

A norma ABNT NBR ISO/IEC 27002 traz esseconjunto de práticas, definido através decontroles, dentre os quais figuram o documentoda política de segurança da informação; aatribuição de responsabilidades para a segurançada informação; a conscientização, a educaçãoe treinamento em segurança da informação; oprocessamento correto nas aplicações; a gestãode vulnerabilidades técnicas; a gestão dacontinuidade do negócio; a gestão de incidentesde segurança da informação e as melhorias.

Souza Neto (2009, p. 19) destacou aimportância da segurança da informação efetivanos órgãos e entidades da Administração PúblicaFederal (APF), uma vez que a Constituição Federal(1988) vincula a Administração Pública aosprincípios da legalidade, impessoalidade,moralidade, publicidade e eficiência. As ForçasArmadas, que também integram a APF, possuemresponsabilidade ainda maior nessa questão,porque, segundo o previsto no artigo 142 daConstituição Federal (1988), as Forças Armadasdestinam-se à defesa da Pátria, à garantia dospoderes constitucionais e da lei e da ordem, istoé, são responsáveis pela defesa nacional emvárias vertentes.

Portanto, por uma questão de concepçãoe vocação inata das Forças Armadas, as unidadesque compõem cada força manipulam informaçõesque, além de serem vitais para a existência daspróprias organizações militares, analogamente aqualquer outra organização, são, muitas dasvezes, vitais para o Estado Brasileiro e para adefesa da Pátria.

Visto dessa forma, esse conjunto deinformações manipulado pela Marinha, Exércitoe Aeronáutica constitui-se em ativo que mereceespecial atenção com relação à segurança dainformação.

Certo, portanto, que a questão desegurança da informação para as organizaçõesmilitares possui um peso diferenciado deimportância, devendo, então, ser tratada comextrema seriedade e responsabilidade; mesmoporque as unidades militares, por sua condiçãoconstitucional, deveriam ser exemplos nasquestões relacionadas à segurança, sejam elasde qualquer ordem.

O Exército Brasileiro como Força Armadaé, portanto, corresponsável pela segurançadessas informações do Estado Brasileiro, alémde ser o responsável direto por essa questão noâmbito nacional, como prevê a EstratégiaNacional de Defesa.

***Bibliografia

ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS.Tecnologia da informação – Técnicas de segurança – Código deprática para a gestão da segurança da informação: ABNT NBR ISO/IEC 27002:2005. 2a. ed. Rio de Janeiro, 2005.ALASI – ACADEMIA LATINO-AMERICANA DE SEGURANÇADA INFORMAÇÃO. Curso Básico de Segurança da Informação.Módulo 1. Brasil: 2006, 65p.BRASIL. Constituição Federal, 1988.BRASIL. Decreto n° 3.505-PR, de 13 de junho de 2000. Institui aPolítica de Segurança da Informação e Comunicações nos órgãos eentidades da Administração Pública Federal. Diário Oficial da União.Brasília, DF, 14 jun. 2000, Seção 1, p. 2.BRASIL. Ministério da Defesa. Exército Brasileiro. Portaria n° 483-Cmt EB, de 20 de setembro de 2001. Aprova as Instruções Gerais deSegurança da Informação para o Exército Brasileiro (IG 20-19).CASANAS, Alex Delgado Gonçalves, MACHADO, Cesar de Souza. Oimpacto da implementação da norma NBR ISO/IEC 17799. MóduloSecurity Magazine: 2006, 8p. Disponível em: <http://www.abepro.org.br>. Acessado em: 30 maio 2010.CAUBIT, Rosângela. O que é a ISO 27001, afinal? Módulo: 2006, 2p.Disponível em: <http://www.modulo.com.br>. Acessado em: 30 maio2010.FREITAS, Marcus Vinicius Maia de. LAURO, José. Políticas deSegurança da Informação. Rio de Janeiro: Universidade Estácio deSá, 2009. 22p. Pós- Graduação em Segurança da Informação. Disponívelem: <http://www.viniciusmaia.com.br>. Acessado em: 30 maio 2010.GSIPR – GABINETE DE SEGURANÇA INSTITUCIONAL DAPRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Instrução Normativa GSI nº 1, de13 de junho de 2008: Disciplina a gestão de segurança da informaçãoe comunicações na administração pública federal, direta e indireta, edá outras providências. Brasília, junho 2008. Publicada no DOU nº115, de 18 Jun 2008 – Seção 1. Disponível em: <http://dsic.planalto.gov.br>. Acesso em: Maio de 2011.

Page 52: Escola Preparatória de Publicada pela Escola Preparatória ... · Jorge Luiz Pavan Cappellano – Coronel Chefe da Divisão de Ensino João Alves de Paiva Neto – Coronel ... Tendo

Revista Pedagógica 2011EsPCEx

EsPCEx, onde tudo começa 52

HOLANDA, Roosevelt de. O estado da arte em sistemas de gestão dasegurança da Informação: Norma ISO/IEC 27001:2005. MóduloSecurity Magazine: 2006, 3p. Disponível em: <http://www.modulo.com.br>. Acessado em: 30 maio 2010.MONTEIRO, Iná Lúcia Cipriano De Oliveira. Proposta de um Guiapara Elaboração de Políticas de Segurança da Informação eComunicações em Órgãos da Administração Pública Federal. 2009.67 f. Monografia de Conclusão de Curso (Especialização) –Departamento de Ciência da Computação, Instituto de Ciências Exatas,Universidade de Brasília.SOUZA NETO, João. Política e Cultura de Segurança: GSIC051(Notas de Aula). Curso de Especialização em Gestão da Segurança daInformação e Comunicações: 2009/2011. Departamento de Ciênciasda Computação da Universidade de Brasília. 2010. 33 p.

(*) O Major Inf Sergio da Costa Ferreira foi aluno da EsPCEx, formando-se em 1988, é Bacharelem Ciências Militares pela Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN – 1992), Mestre emOperações Militares pela Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO – 2000), graduado emTecnologia de Sistemas de Informação pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC– 2005) e está concluindo uma pós-graduação Lato Sensu em Gestão de Segurança daInformação e Comunicações pela Universidade de Brasília (UnB). Exerceu a função deComandante de Pelotão de Alunos no período de 1996 a 1999 e atualmente é o Chefe daDivisão de Tecnologia da Informação da EsPCEx.

Page 53: Escola Preparatória de Publicada pela Escola Preparatória ... · Jorge Luiz Pavan Cappellano – Coronel Chefe da Divisão de Ensino João Alves de Paiva Neto – Coronel ... Tendo

Revista Pedagógica 2011 EsPCEx

53EsPCEx, onde tudo começa

Exposição de Pinturas(27 de setembro de 2011)

Tema: A Torre Duque de Caxias e o Pátio Agulhas NegrasModalidade: óleo-acrílico

Artista Profissional: Joel Gonçalves

Page 54: Escola Preparatória de Publicada pela Escola Preparatória ... · Jorge Luiz Pavan Cappellano – Coronel Chefe da Divisão de Ensino João Alves de Paiva Neto – Coronel ... Tendo

Revista Pedagógica 2011EsPCEx

EsPCEx, onde tudo começa 54

O Projeto Arquitetônico da Escola Preparatória deCadetes do Exército

Davi Horr (*)Auxiliar da Seção de Licitações e Contratos

“(...)II) – Projetos:O Projeto arquitetônico e a Fiscalização dasObras da Escola Preparatória de Cadetes deCampinas estão a cargo da Diretoria de ObrasPúblicas do Estado de São Paulo. A execuçãodo referido projeto e desenvolvimento do mesmoestá sendo efetuada pela Sociedade ConstrutoraBrasileira Ltda, e parte relativa às instalaçõeselétricas está a cargo da Sociedade Técnica deInstalações Gerais S. A., conforme contrato emanexo”. 2

Para a concretização do ideal de possuirem seu território uma escola preparatória doExército Brasileiro (EB), o Governo e a Sociedadepaulista passaram por longa e difícil negociaçãopara esse projeto. Haviam sido analisadas váriaspropostas sobre a aquisição do terreno e tambémdo financiamento da construção do prédio. Porfim, ficou acordado, numa primeira fase, que oEstado de São Paulo arcaria com todos os custosda compra do terreno, conforme fica determinadono Decreto-Lei nº 13.906, de março de 1944,que assim dispõe sobre a aquisição de imóveisdo então Interventor o Senhor Fernando de SouzaCosta.1

Também restou a responsabilidade pelaidealização do projeto, a condução e aconcretização do empreendimento, consideradoépico, ao Governo paulista. Depois de autorizadopelo responsável administrativo do Estado--Membro, foi determinado à Secretaria de ObrasPúblicas (DOP) o início dos procedimentosadministrativos para a construção da EscolaPreparatória de Campinas (EPC), como pode serextraído do Diário Oficial do Estado de São Paulo:

Para cumprimento da ordem do Governador,ratificada pela Assembleia do Estado de SãoPaulo, foram contratadas empresas de grande

porte e destaque nacional, em face dacomplexidade do projeto. Para as obras deconstrução da EPC foi contratada a SociedadeConstrutora Brasileira (SCB),3 herdeira daCompanhia Construtora de Santos (CCS), depropriedade de Empresário da Construção Civilde grande destaque, o Dr. Roberto Simonsen,4

figura de extraordinário poliformismo, projetando-se no vasto cenário da vida nacional. Na décadade 1920, mercê de sua reconhecida inteligênciae pelo seu criterioso e dinâmico trabalho comoDiretor-Presidente da CCS, apresentava obrasmonumentais em várias cidades pelo Brasil aforae, dessa forma, é vencedor em disputadasconcorrências para contratos de construção dequartéis destinados ao Exército Nacional, assimcomo para outras obras de vulto.5 E para asinstalações elétricas e de força, foi contratadaa Sociedade Técnica de Instalações ElétricasS.A. (STI).6

Eram dois os contratos para a construçãoda Escola Preparatória de Campinas: um cujoobjeto era a execução de todas as obras daconstrução, firmado junto à SCB, datado de 25de julho de 1944; o outro, tendo como objeto ainstalação de luz e força, ficou sob aresponsabilidade da STI, datado de 26 de agostode 1946. Os contratos foram firmados com aAdministração do Estado de São Paulo, naocasião representado pela Secretaria da Viaçãoe Obras Públicas – Diretoria de Obras Públicas.7

Herdeira de todo esse prestígio, a SCB tinhacomo administradores responsáveis para odesenvolvimento de projetos os seguintesprofissionais de destaque nacional na área deengenharia e arquitetura: Dr Roberto Simonsen,Dr Mário Freire, Dr Oscar Egídio de Araújo, DrFrancisco Teixeira da Silva Telles, Dr Pérsio P.Mendes e Dr Mário Freire Filho.8

1 CAPPELLANO, Jorge Luiz Pavan. Memorial da Escola Preparatória de Cadetes do Exército: da rua da Fonte à FazendaChapadão, 65 anos de história, 1940 a 2005. Campinas: Brasil, 2007.2 SÃO PAULO. Secretaria da Viação e Obras Públicas. Diretoria de Obras Públicas. Diário oficial do Estado de São Paulo dosEstados Unidos do Brasil. Diário da Assembleia Legislativa. Ano LXV – nº 72. 31 Mar 55. p 44 e 45.

4 RODRIGUES, Olao. Veja Santos. 2º Ed. São Paulo: Santos, 1975.3 Ibidem

5 Ibidem6 Cf nota 27 Cf nota 28 RODRIGUES, Olao. Veja Santos. 2º Ed. São Paulo: Santos, 1975.

Page 55: Escola Preparatória de Publicada pela Escola Preparatória ... · Jorge Luiz Pavan Cappellano – Coronel Chefe da Divisão de Ensino João Alves de Paiva Neto – Coronel ... Tendo

Revista Pedagógica 2011 EsPCEx

55EsPCEx, onde tudo começa

9 REIS FILHO, Nestor Goulart. Aspectos da história da engenharia civil em São Paulo de 1860-1960. São Paulo: LivrariaKosmos Ed., 1989. p. 230.

11 SÃO PAULO. Decreto-Lei nº 14.259, de 27 de outubro 1944. Diário Oficial do Estado de São Paulo dos Estados Unidos do Brasil.

Disponível em em <www.al.sp.gov.br/repositorio/legislativo/decreto%20lei/1944/decreto-lei%20n.14259,%20de%2027.10.1944.htm>. Acesso em 11 Ago 11.

12 LEMOS, Carlos A. C. O que é patrimônio histórico. São Paulo: Brasiliense, 2004. p. 67-68.

O profissional designado para projetar aEscola Preparatória de Campinas foi o Engenheiro-Arquiteto Hernani do Val Penteado, que pertenciaaos quadros funcionais da Diretoria de ObrasPúblicas de São Paulo, apresentando sua intençãoplástica decorrente de um ideário estéticoaprimorado e vasto conhecimento histórico, comopoderemos acompanhar nas maquete, desenhose plantas. Outra obra de magnífica projeção doDr Val Penteado, que evidencia seu valorprofissional e artístico, é o prédio do Aeroportode Congonhas em São Paulo, onde ele atuoutambém como artista plástico com suas aquarelasem paredes do prédio.9

Fazendo parte do projeto para aconstrução da EPC, o Dr Hernani confeccionouem torno de 550 plantas10 e uma maquete, comuma riqueza de detalhes que surpreende até omais familiarizado com projetos arquitetônicosde grandes engenheiros e arquitetos.

Nas plantas do projeto e fiscalização daDiretoria de Obras Públicas, que apresentam todoo programa, verifica-se a visão do Engenheiro--Arquiteto, que planeja toda a estruturanecessária para a vida administrativa e de ensinopreparatório de uma escola militar, demonstrandoseu alargado conhecimento das necessidadesmilitares e acadêmico-militares da época, comotambém sua sustentação no futuro, tanto parao prédio, quanto para o ensino.

Na maquete, nos desenhos e nas plantaspodemos ver meticulosos detalhes, inclusive dasáreas internas, com destaque para as portas,vitrais e tetos ornamentados, demonstrandocomo o autor vislumbrava a Escola Preparatóriade Campinas e, também, como determinava ostraços arquitetônicos, os elementos decorativosa serem aplicados na construção da Escola. Aindapode ser destacado que fazia parte do projeto opaisagismo, com ruas, jardins, chafarizes,bosques, praças, vislumbrando a configuraçãofinal.

Logo no início dos projetos, verificou-seque o terreno seria pequeno para a dimensão

que se daria ao prédio principal e a todas asdemais obras necessárias para se concretizar oprojeto da Escola. Para resolver esse problema,o Governo paulista adquiriu mais uma faixa deterra, destinada à ampliação da construçãoproposta pelo arquiteto. Os procedimentos legaispara esse fim, bem como a autorização para aaquisição da nova gleba de terra destinadas àampliação do terreno da EPC encontram-se nocorpo do Decreto-Lei nº 14.259, de 27 de outubrode 1944.11

Temos no seu projeto bem identificado qualfoi o seu objetivo. Pode-se ver claramente quese trata de uma escola, já demonstrando suapreocupação com a conservação e preservaçãodo prédio, pois

No projeto, pode-se identificar uma sériede símbolos que remete à arquitetura militaraplicada em quartéis e fortes, tais como: a torrecomo observatório e demonstração desegurança, as guaritas de vigia e o Corpo daGuarda como acesso principal, demonstrando seruma perfeita conjectura de escola-quartel. Chamaa atenção o pórtico de entrada, de inspiraçãoneocolonial, formando um belíssimo conjunto coma fachada da Escola e com o programa do prédio.

10 Cf nota 7

“o uso do edifício nas condições previstas peloprojeto é, já de início, o primeiro fator de suaconservação garantida. Realmente, a satisfaçãointegral do programa é condição básica depreservação da integridade de uma obraarquitetônica.”12

Page 56: Escola Preparatória de Publicada pela Escola Preparatória ... · Jorge Luiz Pavan Cappellano – Coronel Chefe da Divisão de Ensino João Alves de Paiva Neto – Coronel ... Tendo

Revista Pedagógica 2011EsPCEx

EsPCEx, onde tudo começa 56

(*) 2º Sgt Músico Davi Horr. Possui graduação em Direito pela Universidade do Vale do Itajaí-UNIVALI (2002). Pós-Gradução Lato Sensu em Direito Administrativo Aplicado pelo Complexode Ensino Superior de Santa Catarina (CESUSC) e Pós-Graduação em História Militar pelaUniversidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL). É aluno de Mestrado do Programa deArquitetura, Tecnologia e Cidades da UNICAMP. Atualmente, é Auxiliar da Seção de Licitaçõese Contratos da EsPCEx.

“com a passagem do tempo, que a arquiteturavai se impregnando de vida e dos valoreshumanos”.11

Hoje a Escola Preparatória de Campinas,atual Escola Preparatória de Cadetes do Exército,faz parte incontestável da história de Campinase Estado de São Paulo, em conjunto com o EnsinoMilitar do Exército Brasileiro e, em especial, paraa historicidade da arquitetura.

***

Como observava John Ruskin, teórico dapreservação do século XIX, em relação àimportância de construir prédios duráveis, poisassim:

Page 57: Escola Preparatória de Publicada pela Escola Preparatória ... · Jorge Luiz Pavan Cappellano – Coronel Chefe da Divisão de Ensino João Alves de Paiva Neto – Coronel ... Tendo

Revista Pedagógica 2011 EsPCEx

57EsPCEx, onde tudo começa

Arcos Romanos

Um dos mais belos detalhes arquitetônicosdo prédio da EsPCEx é a existência de inúmeraspassagens e ornamentos em forma de arcosromanos. As fotografias do canteiro de obras doinício da construção do prédio nos revelam umatecnologia que hoje já não se usa mais, a nãoser para atribuir um valor arquitetônico e artísticomuito além da simples aparência do edifício.

Mesmo para o início da década de 1940,essa técnica de construção de arcos romanospoderia ser interpretada como uma forma devalorizar, ainda mais, essa belíssima construçãoem estilo colonial espanhol. É preciso ressaltar,ainda, que o arquiteto Hernani do Val Penteadoera uma das maiores autoridades de sua época,quando o assunto era arquitetura colonial e,possivelmente, empregou essa tecnologia paramelhor identificar sua obra com um período dahistória.

Na antiguidade, a construção de passagensem forma de arcos nas edificações era a maisutilizada, principalmente pelos romanos, queaperfeiçoaram e dominaram essa tecnologia.Nesse período, já se conhecia uma massa paraassentamento de pedra, obtida a partir da cal edo barro (sedimento vulcânico), que tinha algumaresistência, mas que sozinha era insuficiente paragarantir a segurança de formas sofisticadas, comoa dos arcos romanos. Para tornar possível essetipo de construção, eram fabricadas caixas demadeira em forma de arco junto às bases daspassagens da edificação. As pedras eramcortadas, uma a uma, em forma de curva, eassentadas a partir das bases do arco. A últimapedra a ser colocada era a do centro do arco.Com a retirada da armação, a pressão exercidapelas pedras garantia a estabilidade daconstrução.

Na construção dos diversos arcos queintegram o conjunto arquitetônico da EsPCEx,foi empregada uma técnica muito parecida com

a descrita. As pedras e a massa foramsubstituídas por tijolos e reboco. Na construçãoda curva dos arcos, não foram empregadasarmações de ferro, mas, sim, modelos de madeira.A estabilidade dos arcos foi obtida pela oposiçãode forças estabelecida pela colocação dos tijolossomadas ao reboco, técnica muito semelhante àutilizada na antiguidade, diferenciando-se apenaspelo tipo e qualidade dos materiais utilizados.

O Primeiro Desenho da Escola data de 30de agosto de 1944, ano em que teve início aconstrução desse histórico edifício, que haveriade abrigar inúmeras gerações de alunos etradições de formação do ensino preparatóriodo EB.

O magnífico edifício da EsPCEx não guardaapenas os grandes momentos da formação denossos alunos, mas é, também, depositário damemória de um momento especial das técnicasde construção de uma época.

***

Jorge Luiz Pavan Cappellano-Cel R1

Professor de Português e Adm Memorial daEsPCEx

Foto: TF De Souza

Caixas de Madeira em Forma de Arco

Foto: Registro do Histórico-Acervo do Memorial da EsPCEx

Page 58: Escola Preparatória de Publicada pela Escola Preparatória ... · Jorge Luiz Pavan Cappellano – Coronel Chefe da Divisão de Ensino João Alves de Paiva Neto – Coronel ... Tendo

Revista Pedagógica 2011EsPCEx

EsPCEx, onde tudo começa 58

Exposição de Pinturas(27 de setembro de 2011)

Classificação: 1º LugarTema: Praça Cidade de Campinas - EsPCEx

Modalidade: óleo sobre tela

Artista Amador: Leonardo Ávila Campana

Page 59: Escola Preparatória de Publicada pela Escola Preparatória ... · Jorge Luiz Pavan Cappellano – Coronel Chefe da Divisão de Ensino João Alves de Paiva Neto – Coronel ... Tendo

Revista Pedagógica 2011 EsPCEx

59EsPCEx, onde tudo começa

Criação do Brasão da TurmaGeneral Pitaluga

(registro)

No dia 12 de dezembro 2011, em formatura no Pátio Agulhas Negras, presidida pelo Generalde Exército Adhemar da Costa Machado Filho, Comandante Militar do Sudeste, foi lançado oBrasão da Turma General Pitaluga.

O aluno Winston, melhor classificado no curso da Escola no corrente ano, fez a leitura de umtexto alusivo ao brasão da turma:

“O brasão da turma foi criado para tornar-se um dos emblemas mais perpetuadores e

significativos da passagem da Turma General Pitaluga pela EsPCEx e de sua incorporação ao

Exército Brasileiro. O brasão representa a força juvenil de uma nova turma de futuros cadetes e

oficiais de Caxias, amalgamada e forjada pelos mais caros valores e tradições da Força Terrestre.

No canto superior esquerdo, o brasão da EsPCEx, Onde Tudo Começa, simboliza o berço da sólida

formação militar. No canto superior direito, a inscrição numérica representa os 532 alunos que

foram matriculados no dia 12 de fevereiro de 2011 no curso da EsPCEx, iniciando juntos e em sã

camaradagem a jornada rumo ao oficialato. No centro do brasão, as lanças da nobre arma de

cavalaria, sustentadas ao fundo pelo escudo da Força Expedicionária Brasileira, fazem alusão ao

patrono da turma e que a batiza com seu nome, General Plínio Pitaluga. Estando entre os mais

destacados heróis brasileiros, o Gen Pitaluga comandou o 1º esquadrão de reconhecimento da FEB

no teatro de operações da Itália. Oficial possuidor de elevado espírito de decisão e coragem,

liderou de maneira singular seus homens rumo à vitória e serve de inspiração e exemplo aos alunos

de 2011. O emblemático brasão da turma Gen Pitaluga, além de manter acesa a chama dos inabaláveis

valores do passado, incendeia os corações dos alunos de hoje e descortina-lhes um horizonte de

sonhos e virtudes.”

Page 60: Escola Preparatória de Publicada pela Escola Preparatória ... · Jorge Luiz Pavan Cappellano – Coronel Chefe da Divisão de Ensino João Alves de Paiva Neto – Coronel ... Tendo

Revista Pedagógica 2011EsPCEx

EsPCEx, onde tudo começa 60

Juramento à Bandeira(registro referente a 2012)

No dia 18 de agosto, no tradicional Pátio Agulhas Negras da EsPCEx, foi realizada a cerimôniade Juramento à Bandeira da turma de alunos incorporada no corrente ano. A Formatura foi presididapelo Exmo Sr. Gen Div Fernando Vasconcellos Pereira, Diretor de Formação e Aperfeiçoamento.Nesta data, também foi consagrado o nome de batismo da turma de 2012, que passou a sechamar “Turma Sesquicentenário da Batalha de Tuiuti”.

De acordo com o Regimento Interno da EsPCEx, o Al Felipe Araújo de Sousa, do 5º Pel da 1ªCompanhia de Alunos, por ter conquistado, até a presente data, os melhores resultados no EnsinoAcadêmico e na Instrução Militar, recebeu o Estandarte-Distintivo da Escola que será conduzidopor ele em todas as formaturas em que a Guarda-Bandeira estiver incorporada.

Para selar os compromissos que os militares assumem nesse sagrado cerimonial, os alunos,perante à Bandeira do Brasil, à Pátria e ao Exército Brasileiro, realizaram o solene juramento:

“Incorporando-me ao Exército Brasileiro, prometo cumprirrigorosamente as ordens das autoridades a que estiver subordinado,respeitar os superiores hierárquicos, tratar com bondade ossubordinados e dedicar-me inteiramente ao serviço da Pátria, cuja honra,integridade e instituições defenderei com o sacrifício da própria vida”

O Comandante da Escola, Cel Fábio Benvenutti Castro, assinalou esse momento históricopara a Turma Sesquicentenário da Batalha de Tuiuti com vibrante discurso dirigido aoscompromitentes, a seguir transcrito:

“Senhoras e Senhores que com suas presenças abrilhantam essa cerimônia, hojeexperimentamos uma jornada memorável. Uma jornada em que jovens, brasileiros, imbuídos dosmais nobres sentimentos cívicos se apresentam perante Bandeira do Brasil, a nossa bandeira, eprestam o solene juramento à Pátria. Reconhecemos essa missão de grandeza.

Nesse ponto, compartilhando a emoção e os sentimentos dos alunos da TurmaSesquicentenário da Batalha de Tuiuti, na qual feitos heroicos foram realizados pelos nossospatronos em defesa da nossa Pátria, gostaria de expressar os verdadeiros sentimentos dessesnossos jovens soldados – sei que eles individualmente gostariam de assim se expressar. Incorporoseus pensamentos e cumpre-me traduzi-los. Repito, passo a traduzir os pensamentos dos alunos:

Inicialmente, pai, mãe, parentes e amigos gostaria de agradecer a confiança que depositaramem mim. Em todos os momentos nessas jornadas, senti seus estímulos, suas preces, quevenceram as barreiras físicas e fortificaram minha vocação – a vocação de um soldado, de umsoldado de Caxias.

Hoje, pai, mãe, parentes e amigos, posso lhes afiançar que ingressei em uma das maisrespeitadas instituições da Nação. Uma instituição, correta, justa, que valoriza o mérito, adisciplina e que se mantém alinhada com seu passado, garantindo os poderes constituintes donosso Brasil.

Aqui aprendi, aprendi a ser soldado. Amadureci, cresci como homem, como aluno, comocidadão, que tem o dever de amar a Pátria. Sei que dedico a seiva da minha juventude a esseExército que tanto amo e me sinto reconfortado, particularmente porque o que faço é minhavocação.

Ainda, como aluno, gostaria de agradecer a meus instrutores, professores, aos praças eao pessoal civil que aqui serve. Sei que vocês trabalham diuturnamente, sem medir esforços, namaioria das vezes relegando o descanso e o lazer, para que eu seja um militar capaz decorresponder às demandas inerentes à Força Armada – Exército no Século XXI. Meu muitoobrigado. Eu não os decepcionarei. Eu não decepcionarei vocês – pai, mãe e parentes. Eu nãodecepcionarei minha Pátria, meu país, meu Brasil.

Page 61: Escola Preparatória de Publicada pela Escola Preparatória ... · Jorge Luiz Pavan Cappellano – Coronel Chefe da Divisão de Ensino João Alves de Paiva Neto – Coronel ... Tendo

Revista Pedagógica 2011 EsPCEx

61EsPCEx, onde tudo começa

Após irradiar o pensamento dos alunos – Turma Sesquicentenário da Batalha de Tuiuti,sinto-me confortável para nesse momento dirigir-me aos meus instruendos. Vocês são a razãode ser dessa Escola. Vocês são o futuro do Exército. O que aprendem aqui são atributos, valores,procedimentos inerentes à vocação que livremente escolheram. Alinhem-se e incorporem sempreos exemplos que lhes são passados, desenvolvam camaradagem, tenham sensibilidade paratrabalhar ao lado da justiça, confiem... confiem em vocês, como nós confiamos... exijam devocês sempre as melhores performances pessoais e profissionais. Sejam sempre bons filhos,bons esposos, bons pais... assim serão bons soldados... os soldados que esperamos que vocêssejam...garantindo nossas tradições hoje, como soldados do amanhã. Que o Senhor Deus dosExércitos lhes ilumine nas fantásticas jornadas castrenses. Aqui se aprende a amar a Pátria.Assina: Fábio Benvenutti Castro. Comandante da EsPCEx.”

Pais, parentes e amigos dos compromitentes, visivelmente emocionados, assistiram a essemomento inesquecível, que haverá de permanecer vivo, para sempre, no coração e na memória decada um desses alunos.

Também prestigiaram com suas presenças, ao solene compromisso, as seguintes autoridades:General de Brigada Mario Antonio Ramos Antunes – Comandante da 12ª Brigada de InfantariaLeve Aeromóvel; General de Brigada Samuel da Silva Ricordi – Chefe do Estado-Maior do ComandoMilitar do Oeste; General de Brigada Tomás Miguel Miné Ribeiro Paiva – Comandante da 11ªBrigada de Infantaria Leve e Comandante da EsPCEx no período de 2010 a 2011; General deBrigada Alberi Silveira DIAS; General de Brigada Benedito Lajóia Garcia; General de Brigada Mariode Oliveira Seixas – Comandante da EsPCEx no período de abril de 1996 a janeiro de 1998; CelEdson Bellini Chiavegatto – Chefe do Estado-Maior da 11ª Brigada de Infantaria Leve; Cel MauroSinott Lopes – Comandante do Corpo de Cadetes da Academia Militar das Agulhas Negras; CelFrancisco Ronald Silva Nogueira – Comandante da EsPCEx no período de janeiro de 1992 a janeirode 1994; Desembargador do TRT DR. Manoel Carlos Toledo, e Ten Cel Aviador Marco AntonioGonçalves – Comandante do Corpo de Alunos da Escola Preparatória de Cadetes do Ar.

***