escola de educação comunitária distribuiÇÃo gratuita · redações se encontram nas mãos dos...

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Exemplar n° 88 Agosto 2018 Primeira publicação: 29 de Maio de 1995 Não jogue este impresso em vias públicas escola Escola de Educação Comunitária Av. Engenheiro Richard, 116 Grajaú - Rio de Janeiro, RJ (21) 2577-4546 DISTRIBUIÇÃO GRATUITA Vira-latas Eliminação do Brasil reacende ferida, faz lembrar quadro político e traz sentimento de sessenta anos atrás. Confira na seção - A História foi assim - Página 8. Você é um doador de órgãos? Sim? Não? Leia sobre os obstáculos na doação de órgãos - Página 6. Antes de criticar, o importante é olhar para si mesmo. O preconceito linguístico. Página 6.

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Exemplar n° 88 Agosto 2018Primeira publicação: 29 de Maio de 1995

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Escola de Educação ComunitáriaAv. Engenheiro Richard, 116

Grajaú - Rio de Janeiro, RJ(21) 2577-4546

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

Vira-latas Eliminação do Brasil reacende ferida, faz lembrar quadro político e traz sentimento de sessenta anos atrás. Confira na seção - A História foi assim - Página 8.

Você é um doador de órgãos? Sim? Não? Leia sobre os obstáculos na doação de órgãos - Página 6.

Antes de criticar, o importante é olhar p a ra s i m e s m o. O p re c o n c e i to linguístico. Página 6.

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Mais uma vez não deu. Todos os nossos alunos

deixaram de ver o Brasil campeão. Nunca viram. Alguns

vão dizer que já eram nascidos em 2002. Poucos... e que

não podem lembrar a felicidade de um povo campeão (a

idade não permite). Nossa alegria acabou antes do tempo.

O futebol, mais do que ópio do povo, nesse ano, foi a

esperança de dias melhores. Tudo vai mal... Tite poderia ter falado com a Márcia. Quem sabe

ela resolvesse seus problemas com o menino Ney. Esse

sim representou o Brasil atual: pouco inspirado, burlador,

fracassado. Beijou uma taça que não era sua e saiu vaiado

(meras semelhanças com algum político não serão

coincidências). Faltou alguma coisa: vontade tiveram,

mas e o sangue nos olhos? Viramos a página, aqui, nesta edição. Outro time

entrou em campo e deu aula de Brasil: os olhos infantis

veem o que já não vemos. Arrasados estamos pelo rancor,

pelo trabalho estafante, pelas críticas a tudo que nos soa

diferente. Perdemos um jogo, o campeonato continua. Amigos: ano de eleição. Assim como se debate

uma mudança de postura nos jogadores da seleção, um

empenho maior, uma renovação, no quadro de quem nos

governa não pode ser diferente. Nem todo mundo é igual.

Pense antes de se abster. Seu voto é igual ao daquele que

você ignora por pensar diferente, é 1x1. Por mais que

sejamos esclarecidos, os ignorantes também têm vez no

processo. Enfim, vamos pensar no futebol jogado na Copa,

e no que vamos jogar nas urnas. Na seleção, mudanças são

necessárias. Na política, mais ainda. Pensar como

vencedor, ajuda; se colocar como um ser superior,

prejudica (vide Neymar). Assusta ver uma geração

talentosa partir pra Portugal (olha o complexo de vira-

latas aí, minha gente!); vamos, no peito e na raça, mudar

esse jogo! Procurar a Márcia para resolver nossas questões

é que não dá mais. Rumo ao Hexa!Professor Ludwig

Agosto 2018

Trinta e três - destino Dom Pedro II

Vamos sublimar em poesiaA razão do dia a diaPra ganhar o pãoAcordar de manhã cedoCaminhar pra estaçãoPra chegar lá em D. PedroA tempo de bater cartão

Não é mole nãoCom a inflação Almejar a regaliaE o progresso da nação

O suburbano quando chega atrasadoO patrão mal-humoradoDiz que mora logo aliMas é porque não anda nesse trem lotadoCom o peito amarguradoBaldeando por aíImagine quem é lá de JaperíImagine quem é lá de Japerí

Olhando a menina de laços de fitaBatucando na marmitaPra não ver o tempo passarEsquecendo da tristeza quando o trem avariarEsquecendo da tristeza quando o trem avariar

E na viagem tem jogo de rondaDe damas e reisVendedores, cartomantes, repentistasTiram onda de artistaNo famoso "Trinta e Três"O trombadinha quase sempre se dá bemO paquera apanha quando mexe com alguémNão é tão mole andar de pingente no tremNão é tão mole andar de pingente no trem

Samba-enredo da escola de samba Em Cima da hora no desfile de 1984

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Nosso tradicional concurso de literatura se encontra na segunda fase. A primeira seleção foi realizada e as redações se encontram nas mãos dos julgadores para a definição das finalistas. Foi um imenso prazer ver nossos alunos dedicados às propostas e escrevendo com afinco e amor sobre variados temas, inspirados pelos homenageados: Lygia Fagundes Telles e Paulo Mendes Campos. Mas a emoção mesmo tomou conta com os textos dos alunos (que cada vez escrevem melhor). Aqui vai uma pequeno prova desse sucesso. Contudo, não se animem e nem comemorem antes do tempo. São dois textos de destaque que passaram apenas pelo primeiro crivo. Parabéns a todos que participaram desse processo!

Agosto 2018

XXXIII Concurso de LiteraturaMaria Helena Xavier Fernandes

Era um dia ensolarado, sem nuvens, pássaros cantando. Um clima agradável . Um dia que aparentemente daria tudo certo. Mas, na realidade, foi tudo ao contrário. Eu tinha brigado com minha mãe, meu cachorro urinou no meu tênis e a alça da minha mochila tinha arrebentado.

Naquele dia eu fiquei realmente frustrado. Por isso nem almocei em casa para evitar discussões. Saí de casa e fui almoçar em um restaurante no final da minha rua. Chegando lá, uma coisa chamou minha atenção: um homem sentado ao lado do restaurante com os braços esticados, pedindo esmolas para comprar um prato de comida.

Aquela situação me comoveu profundamente. Como consequência fui até aquele homem e dei uma parte do dinheiro que tinha comigo. O homem, após receber o dinheiro, olhou para mim com seus olhos brilhando e me agradeceu pelo gesto. Eu entrei no restaurante com aquela imagem em minha cabeça, refletindo sobre o que acontecera. Percebi, dessa forma, que por mais que estivesse chateado com meu dia frustrante, nada se comparava com a rotina daquele homem.

Na minha cabeça nada mais passava sem ser aquela cena. Como fiquei feliz em poder ajudar aquele homem. A partir dali, meus pensamentos mudaram. Não estava mais aborrecido com meu cachorro nem com minha mãe. Pude perceber que os pequenos atos modificam vidas.

João Pedro BauthaTurma 91Grupo III

Um ATO de

soliedaridade Em uma madrugada fria, me encontrava na sala assistindo algum programa insignificante na televisão. Meu celular começou a apitar, indicando que alguém estava me ligando. Atendo o celular e uma voz estridente começou a soar do outro lado da linha.

A voz estridente pertence ao meu pai que falava que tinha uma história um tanto estranha para me contar. Meu pai trabalha em uma delegacia, e sempre tem uma história nova para contar.

"O caso começou quando um homem se apaixonou por uma linda mulher. A mulher era muito estudiosa e conseguiu passar para uma boa faculdade. Algum tempo depois, o homem criou coragem e foi conversar com a mulher. Eles acabaram tendo uma relação, mas o homem infiel acabou sendo descoberto.

Passaram alguns meses e os pais da linda mulher descobriram que a mesma estava grávida. Eles não aceitaram e botaram a filha para fora de casa. Sem um lugar para ir, a mulher precisou deixar a faculdade para tentar achar um emprego.

Sem sucesso, ela ficou meses na rua . Com fome, frio e uma criança prestes a chegar ao mundo, ela resolveu falar com seu antigo namorado para, pelo menos, o seu filho ter uma vida melhor.

O homem surtou. Disse que não iria assumir a criança e que a culpa era da jovem mulher. A mulher esperou a criança nascer e, agora, está tentando fazer o homem 'ajudar' a cuidar da criança financeiramente."

E assim acabou a louca história do meu pai. Desliguei o celular e fiquei pensando... no quão sortuda eu sou por nunca ter passado por esses problemas.

Luiza da Fonseca Pinheiro

Turma 91Grupo III

A LIGAÇÃO

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Por que você quis virar professora?Porque eu gosto de gente, adoro falar. Eu acho

que, na prof issão de professora, você acaba aprendendo mais do que ensina. Ensino a gramática e aprendo sobre a vida.

Você já teve algum conflito com um aluno em sala de aula?

Sim. Já tive alguns conflitos, mas o mais marcante foi quando um aluno estava colando durante a prova. Eu fui chamar a atenção dele e ele disse que não estava colando. De repente ele me xingou. Eu conhecia esse aluno desde o 6° ano. Fiquei extremamente triste, o tirei de sala e continuei sem entender o porquê dele ter feito aquilo. Depois de um tempo, ele me procurou para pedir desculpas, eu aceitei lógico; mas nunca esqueci a cena daquele aluno me xingando.

Que curso e que faculdade você fez?Eu fiz faculdade de letras. Eu comecei a fazer na

UERJ, mas a UERJ estava com muita greve; e acabei terminando meu curso na Estácio de Sá. Estava tentando fechar as matérias na UERJ, mas agora já estava extrapolando os quatro anos, e eu queria logo dar aulas. Eu, inclusive, dava aulas particulares. Por isso, fui pra Estácio concluir meu curso, de forma que foi rápido, já que eliminei muitas matérias cursadas na UERJ.

Você teve vontade de trancar sua matrícula na faculdade?

Logo que meu pai saiu do emprego e não tinha como me ajudar, eu pensei. Precisava trabalhar, mas graças a Deus, meu pai não deixou que eu trancasse. Apesar dos apertos, meus pais não deixaram eu trancar minha matrícula, o que, no final, foi bom.

Se você não fosse professora, o que você seria?Eu adoro ser professora. Eu acho que faço o papel

de psicóloga também. então eu acho que poderia ser uma psicóloga, porque como os professores, tratam de questões humanas. Como eu gosto de gente e de trabalhar o conhecimento e o autoconhecimento, de saber o que o outro pensa, poderia ter feito psicologia.

ENTREVISTA COM O PROFESSOR:

Agosto 2018

MÁRCIA (português)

Você era uma boa aluna?

Eu era boa aluna em humanas; em exatas, eu não era, não. Meu relacionamento com os professores de história e de geograf ia era ótimo. Com o de matemática e de física era difícil, porque eles gostavam de alunos que tiravam notas boas. Contudo, sempre fui esforçada nessa parte, eu não entendia, mas procurava as pessoas que sabiam. Como não tinha dinheiro pra pagar explicadora, tinha que ser um ajudando o outro.

Foi no ensino fundamental que você se tocou que queria trabalhar com letras?

Na escola percebi que as pessoas me ouviam bastante e achei que tinha jeito pra ser professora. Acho que foi a primeira coisa que pensei é que tinha jeito pra isso.

Sua filha estuda na escola em que você trabalha. Qual sua relação com ela na escola? Acha que ela se sente muito acomodada por isso?

É a primeira vez que ela estuda em uma escola em que t raba lho. E la , à s vezes , se sente meio desconfortável, porque cito o nome dela na sala. Sempre me diz: "mãe, as pessoas me conhecem, porque você fala de mim. Você fala dos meus erros, dos meus problemas". Agora ela está mais calma, mas se sentia meio desconfortável com isso antes.

Entrevista concedida aos alunos Carol ina Mendonça, Fernando Klippel, João Pedro Bautha, Letícia Peroni, Letícia Cardoso e Luana Cardoso da Turma 91

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A língua das mariposas, de

José Luis Cuerda. O filme trata do momento que antecede a Guerra Civil Espanhola e o crescimento do fascismo a partir da relação entre um menino e um velho professor, defensor das ideias socialistas. Um filmaço que retrata tanto a História como as profundas relações humanas, baseadas no afeto, no respeito, e na admiração. Um filme fundamental para um tempo difícil como o nosso e uma sociedade tão carente de conhecimento quanto a brasileira. Entender nossa humanidade nunca é entediante, é determinante.

Senhores e senhoras, fica a dica,abraços afetuosos do

Professor Paulo

Agosto 2018

Gostei muito dessa parte do jornal em que outros professores podem ter voz e mostrar um pouco de sua cultura e do seu gosto. Não consigo escrever de forma tão apaixonada quanto um professor de linguagens como n o s s o D e d é ( o A n d r é c o m o o c h a m a m o s carinhosamente). Quando o Lud me convidou a dar minhas sugestões, vi a possibilidade de indicar duas joias, da quais já falei repetidas vezes com ele e com nossos colegas. Agora, compartilho com os senhores e senhoras, minhas opções artísticas que agregam ao que é trabalhado na sala de aula, principalmente na disciplina História no que toca à liberdade e a imaginação. Vamos às indicações...

InDicAçÃo

Cem anos de solidão, de

Gabriel García Márquez. Esse livro me marcou pelo realismo fantástico: no que se refere ao fato de que vários personagens morrem, porém continuam em diálogo com a personagem Úrsula, uma centenária mulher da família Buendía, resolvendo as questões familiares e sociais vivenciadas por e entre eles. Assim percebi que poderia revisitar também os meus próprios "fantasmas" e, portanto, compreendê-los ou me fazer compreender por eles; pois, da mesma forma que os Buendía, muitos dos nossos atritos foram motivados pelo fato de que, na época, não tínhamos condição de maior compreensão uns dos outros por várias razões. Esse livro me ajudou a perceber que o temo passa, mas os fantasmas continuam, pedem passagem, clamam por diálogo.

doPROFESSOR

o livro: o filme:

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Atualmente, o preconceito linguístico é muito percebido. A diversidade na fala entre grupos distintos é grande e, até mesmo sem querer, as pessoas relacionam a falta de um bom diálogo (culto, seguindo as regras gramaticais) às pessoas oriundas das classes sociais menos elevadas.

Apesar de todos estarem cientes da grande diferença de estudo e oportunidade desse grupo social em relação às classes média e média-alta, a vontade de sair de uma situação adversa é maior. Aliás, diminuir os outros para se sentir melhor é muito comum, mais comum ainda é se utilizar dos meios linguísticos para se menosprezar o outro. Piadas e críticas são feitas diariamente relacionando a linguagem diferente (essa existente por razões já expostas) a um tipo de burrice, o que só demonstra um tipo de preconceito perverso.

Às vezes nem mesmo é necessária a correção na fala alheia, mas alguns, só por pensarem que são mais inteligentes por dominarem uma variante mais "nobre" da língua, fazem essa correção para se sentiram maiores, tornando a outra insegura. Um exemplo é o preconceito sofrido pelos nordestinos e pelos moradores das comunidades nesse quesito.

Olhar para si mesmo (reconhecer os próprios erros) demonstra honestidade em relação a quem prefere se esconder numa melhor oportunidade da vida e no preconceito com o diferente, pois só quando olhamos para dentro é que percebemos que nosso mundo não é a perfeição. Falar diferente tem muitas causas, ser preconceituoso uma única: a verdadeira burrice.

Bruna PiresTurma Pré I

Agosto 2018

OS obstáculosNA doação de órgãos

Meus pais morreram em um acidente de carro, no dia quatro de novembro de 2007, quando eu tinha apenas dois anos. Desde então quem me assumiu foi a minha tia Ester, que desde aquele dia é minha segunda mãe.

Eu a chamo de segunda mãe, porque ela não queria que eu a chamasse de mãe: ela me explicou o porquê. Não queria ocupar o lugar de minha mãe que está no céu; além de não gostar de comemorar o dia das mães (disse que quer preservar a memória da irmã).

Por isso resolvi criar o dia da segunda mãe em homenagem a minha tia que é tão dedicada e humilde. Poderia ser comemorado no todo dia quatro de novembro, pois foi a partir desse dia que Ester passou a ser minha segunda mãe.

Esse dia deveria existir também, porque, de uma forma ou outra, mesmo com os pais vivos, há sempre alguém que tem amor e carinho por nós e que deveria ser homenageado, pois são como se fossem uma segunda mãe.

João PedroTurma 71

Assistindo a qualquer noticiário da televisão, podemos perceber que o número de doações de órgãos no Brasil tem aumentado consideravelmente. Cada vez mais pessoas entendem o quão importante esse processo é, já que pode salvar vidas. Contudo, há muitos obstáculos a serem superados, como a autorização da família e a falta de recursos necessários para o bom funcionamento do transporte de órgãos.

Devemos considerar que, muitas vezes, o transporte dos órgãos não é efetivo devido à falta de recursos: de verbas a ferramentas. O transporte pode ficar prejudicado e atrasado; por exemplo: uma falta de gasolina para as ambulâncias. Esse problema poderia ser superado com a utilização de helicópteros que aceleraria o processo. No entanto, também não há verbas suficientes para o financiamento dessa alternativa.

Vale ressaltar que a autorização e compreensão da família é muito importante para que a doação ocorra. Há famílias que não respeitam a vontade do familiar (que tinha o desejo de doar) e não permitem o processo. Muitas delas não autorizam por acreditarem que a cirurgia estaria "violando" o corpo do ente que acabou de falecer.

Percebe-se que a doação de órgãos é muito importante, principalmente para as pessoas que necessitam de um transplante. A importância desse processo deveria ser mais abordada, tanto por famílias quanto pela escola. A criação de campanhas para uma maior conscientização da população também seria uma boa medida. Além disso, o ministério da saúde deveria aplicar melhor seus recursos e criar mecanismos de fiscalização no que tange o dinheiro empregado e o suporte técnico para tais operações. Só assim, poderemos ter um maior eficácia na doação de órgãos, salvando muito mais vidas.

Rani Delecrodi L. Pereira

Turma Pré II

Dia da 2ª MÃETuDo pOde SER como PaReCe

Em uma escola havia um menino que adorava desenhar. Seus amigos diziam que seus desenhos não pareciam com o que ele dizia ser. Arturo sonhava em ser um desenhista e não desistiria de seu sonho.

Certo dia, ele decidiu praticar mais seus desenhos para chegarem a perfeição. Quando chegou em casa, fez os deveres da escola e começou a desenhar. Arturo percebeu que seus desenhos e traços continuavam os mesmos.

No dia seguinte, sua mãe o levou a um museu de arte moderna. Ele percebeu que aqueles quadros pareciam com seus próprios desenhos. Arturo teve a ideia de continuar a fazer seus desenhos, seguir seus próprios traços, e tentar expô-los em lugares mais relevantes, mostrando que tudo pode ser como parece.

Sophia Lexheimer Ibañez

Turma 63

olhar para si MeSmO

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www.eco.g12.brAgosto 2018

Para pensar o Brasil atual, nada melhor que partir de

uma visão antiga. Talvez partindo do que nunca foi; com certeza parodiando uma visão do que não é mais.

A paródia é uma releitura cômica de alguma composição literária , que frequentemente utiliza ironia e deboche. Ela geralmente é parecida com a obra original, e quase sempre tem sentidos diferentes.

A paródia surge a partir de uma nova interpretação, da recriação de uma obra já existente e, em geral, consagrada. Seu objetivo é adaptar a obra original a um novo contexto, passando diferentes versões para um lado mais despojado, e aproveitando o sucesso da obra original para passar um pouco de alegria. A paródia pode ter intertextualidade.

O dicionário diz que paródia pode ser: Verbal: Altera uma palavra ou outra do texto original; Formal: O estilo e os efeitos técnicos de um escritor

são usados como forma de zombaria; Temática: em que se faz a caricatura da forma e do

espírito de um autor. Enfim... a parodia se define através de um jogo de

intertextualidade e intratextualidade (quando o autor retoma sua obra e a reescreve).

Vamos parodiar com nossos jovens...

O exílio é todo nosso!

Minha terra tem palmaresonde cantariam os sabiás.Eles que aqui gorjearam,nunca pensaram em não estar.

Se nosso céu tem mais estrelas,nossas várzeas têm mais flores,nossos bosques têm mais vida,por que nossas vidas não poderiamter mais amores?

Por que cismar sozinho à noite,se o mundo é de todos?Se há vontade de melhorar para que se dividir;poderíamos nos unir?

Minha terra tem privilégios pra uns,injustiça para outros.Mas, na verdade,todos somos os sabiásprocurando um espaço pra gorjear.

Minha terra tem palmeiraspara todos os sabiás.Vários sabiás que, aqui, deveriam gorjearnão tem onde cantar!Esquece os sabiás:somos humanos, o que é que há?precisamos buscarnossa humanidade no olhar!

Permita Deus ou algum orixá,em quem tu preferires crer,

PaROdiAndO ou mesmo não acreditar,que o NÃO seja ditoà homofobia, ao racismo;gordofobia e xenofobia;tudo que tirar a condiçãode voltar ao sabiádo velho poema românticoque ficava a cantar.

Só não deixe nos deixe morrersem que a gente um dia vápara um lugar melhor!Sem que desfrutemos da humanidadeque não conhecemos ainda cá.Precisamos ver o sol em que cantaramos velhíssimos sabiás.

Lara Mel SoaresTurma 91

Canção do silêncio

Minha terra tem pessoascom armas a segurar;e, agora, nas ruas,as pessoas não podem ficar.

Era tudo tão bonito,quando não estavam por lá.Mas, hoje em dia, amedrontama quem só queria cantar.

Minha terra é silêncio.Não querem mais acreditare o povo que ainda canta,não canta como lá.

Não permita Deus que eu morrasem antes tudo mudar;sem que eu ouça o belo cantoque não encontro eu por cá.

Julia de Cerqueira L. LopesTurma 91

RJ

Minha terra tem bala perdida,é melhor você se cuidar:as pessoas aqui morrem,não é igual a Escócia.

Minha terra tem pivetes,que tais encontro em todo lugar.Não se deve andar à noite,senão pipoco vai levar.Minha terra tem boca,drogas sem parar.

Difícil não ser assaltado,antes de pra casa voltar.Alguém pode me furtar,porque emprego não há.Melhor virar rápido a rua,alguém do governo pode chegar.

Pedro Henrique B. MilessisTurma 91

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Letícia Peroni 91Letícia Cardoso 91 Luana Cardoso 91Luiza da Fonseca Pinheiro 91Pedro Henrique B. Milessis 91Rani Delecrodi L. Pereira Pré IISophia Lexheimer Ibañez 63

Editor Responsável: Prof. LudwigCoordenação: Prof. LudwigApoio: Fábio de CarvalhoSergiana Marques

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Prof. LudwigProfessora Márcia MartinsProf. Paulo

Diagramação: Prof. LudwigFabio de Carvalho

Colaboradores:Bruna Pires - Pré ICarolina Mendonça - 91Fernando Klippel - 91 João Pedro - 71João Pedro Bautha - 91 Julia de Cerqueira L. Lopes - 91Lara Mel Soares 91

Em 31 de maio de 1958, pouco antes da seleção brasileira partir em busca do então primeiro título mundial de futebol, Nelson Rodrigues nos brindava com um texto definitivo sobre o sentimento que pesava sobre nosso peito: o complexo de vira-latas.

Sentimento esse que parece voltar por questões diversas: a violência, o quadro político e o próprio futebol. A ideia de que tudo é melhor na Europa e nos EUA ganha notoriedade em nossa sociedade, e, cada vez mais, partimos pra Portugal.

Quisera que o texto ficasse datado: um documento impresso do que pensávamos há décadas, no século passado. O futebol, depois desse texto, colocou um traço de identidade em nosso povo; mas o 7x1, mudou tudo outra vez: não prestamos mais. O cai-cai e o choro convulso nos transformaram em menininhos novamente, como há seis décadas atrás. O pior é que já não dissemos que o Brasil é o país do futuro.

Vale a pena conferir como os fatos mudam, mas a história se repete, infelizmente, nesse caso, pra nós. A História foi assim...

Complexo de vira-latas

Hoje vou fazer do escrete o meu numeroso personagem da semana. Os jogadores já partiram e o Brasil vacila entre o pessimismo mais obtuso e a esperança mais frenética. Nas esquinas, nos botecos, por toda parte, há quem esbraveje: "o Brasil não vai nem se classificar!”. E, aqui, eu pergunto:

— Não será esta atitude negativa o disfarce de um otimismo inconfesso e envergonhado?

Eis a verdade, amigos: desde 50 que o nosso futebol tem pudor de acreditar em si mesmo. A derrota frente aos uruguaios, na última batalha, ainda faz sofrer, na cara e na alma, qualquer brasileiro. Foi uma humilhação nacional, que nada, absolutamente nada, pode curar. Dizem que tudo passa, mas eu vos digo: menos a dor-de-cotovelo que nos ficou dos 2x1. E custa crer que um escore tão pequeno possa causar uma dor tão grande. O tempo passou em vão sobre a derrota. Dir-se-ia que foi ontem, e, não há oito anos, que, aos berros, Obdulio arrancou, de nós, o título. Eu disse “arrancou” como poderia dizer — “extraiu” de nós o título como se fosse um dente.

E hoje, se negamos o escrete de 58, não tenhamos dúvida: é ainda a frustração de 50 que funciona. Gostaríamos talvez de acreditar na seleção. Mas o que nos trava é o seguinte: o pânico de uma nova e irremediável desilusão. E guardamos para nós mesmos qualquer esperança. Só imagino uma coisa: se o Brasil vence na Suécia, se volta campeão do mundo! Ah, a fé que escondemos, a fé que negamos, rebentaria todas as comportas e 60 milhões de brasileiros iam acabar no hospício.

Mas vejamos: o escrete brasileiro tem, realmente, possibi l idades concretas? Eu poderia responder, simplesmente, “não”. Mas eis a verdade:

— Eu acredito no brasileiro, e pior do que isso: sou de um patriotismo inatual e agressivo, digno de um granadeiro bigodudo. Tenho visto jogadores de outros países, inclusive, os ex-fabulosos húngaros, que apanharam, aqui, do aspirante-enxertado do Flamengo. Pois bem: não vi ninguém que se comparasse aos nossos. Fala-se num Puskas. Eu contra-argumento com um Ademir, um Didi, um Leônidas, um Jair, um Zizinho.

A pura, a santa verdade é a seguinte: qualquer jogador brasileiro, quando se desamarra de suas inibições e se põe em estado de graça, é algo de único em matéria de fantasia, de improvisação, de invenção. Em suma: temos dons em excesso. E só uma coisa nos atrapalha e, por vezes, invalida as nossas qualidades. Quero aludir ao que eu poderia chamar de “complexo de vira-latas”. Estou a imaginar o espanto do leitor: “o que vem a ser isso?”. Eu explico.

Por “complexo de vira-latas” entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo. Isto em todos os setores e, sobretudo, no futebol. Dizer que nós nos julgamos “os maiores” é uma cínica inverdade. Em Wembley, por que perdemos? Por que, diante do quadro inglês, louro e sardento, a equipe brasileira ganiu de humildade? Jamais foi tão evidente e, eu diria mesmo, espetacular o nosso vira-latismo.

Na já citada vergonha de 50, éramos superiores aos adversários. Além disso, levávamos a vantagem do empate. Pois bem: e perdemos da maneira mais abjeta. Por um motivo muito simples: porque Obdulio nos tratou a pontapés, como se vira-latas fôssemos.

Eu vos digo: o problema do escrete não é mais de futebol, nem de técnica, nem de tática. Absolutamente. É um problema de fé em si mesmo.

O brasileiro precisa se convencer de que não é um vira-latas e que tem futebol para dar e vender, lá na Suécia. Uma vez que ele se convença disso, ponham-no para correr em campo e ele precisará de dez para segurar, como o chinês da anedota.

Nelson RodriguesIn: Manchete Esportiva, em 31 de maio de 1958.

a HISTÓRIA foi assim...

Agosto 2018