escola de aperfeiÇoamento de oficiais cap inf ivson ... cap ma… · aos meus camaradas de turma,...

188
ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON BARBOSA MARINHO PROPOSTA DE CADERNO DE INSTRUÇÃO SOBRE MUNIÇÕES DE ARMAMENTOS LEVES: UM ESTUDO DE CASO PARA A ESCOLA DE SARGENTO DAS ARMAS Rio de Janeiro 2018

Upload: others

Post on 07-Aug-2020

2 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS

Cap Inf IVSON BARBOSA MARINHO

PROPOSTA DE CADERNO DE INSTRUÇÃO SOBRE MUNIÇÕES DE

ARMAMENTOS LEVES: UM ESTUDO DE CASO PARA A ESCOLA DE

SARGENTO DAS ARMAS

Rio de Janeiro

2018

Page 2: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS

Cap Inf IVSON BARBOSA MARINHO

PROPOSTA DE CADERNO DE INSTRUÇÃO SOBRE MUNIÇÕES DE

ARMAMENTOS LEVES: UM ESTUDO DE CASO PARA A ESCOLA DE

SARGENTO DAS ARMAS

Dissertação de mestrado apresentado à Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Ciências Militares.

Orientador: Cel Inf R1 Julio Sales

Rio de Janeiro

2018

Page 3: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

Cap Inf IVSON BARBOSA MARINHO

PROPOSTA DE CADERNO DE INSTRUÇÃO SOBRE MUNIÇÕES DE

ARMAMENTOS LEVES: UM ESTUDO DE CASO PARA A ESCOLA DE

SARGENTO DAS ARMAS

Dissertação de mestrado apresentado à Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Ciências Militares.

Aprovada em ____ de ________ de 2018.

Banca Examinadora

_______________________________________

______________________________________

______________________________________

Page 4: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

Aos meus filhos João Victor, Arthur e Sophia, que tanto me encorajam, mesmo que indiretamente, a realizar feitos na minha vida pessoal e profissional, e à minha esposa Letícia, que está do meu lado em todas as situações.

Page 5: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

AGRADECIMENTOS

Agradeço ao meu orientador por ter me dado todas as oportunidades possíveis

no prosseguimento do meu trabalho, no sentido de apresentar o melhor produto

possível, orientando com sua vasta experiência.

Ao General de Brigada Vinícius MARTINELLI, por ter me incentivado no início

de minhas pesquisas sobre munições, quando foi meu comandante na ESA.

Ao Ten Cel GIRON, comandante do Corpo de Alunos da ESA, por autorizar a

realização do experimento na ESA, e confiar na minha capacidade de trabalho como

seu comandado.

Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf

TERTULIANO, por terem contribuído diretamente nas orientações do meu trabalho e

incentivarem a mudança de paradigmas na instrução de tiro do Exército Brasileiro.

Agradeço, ainda, a todos aqueles que participaram do experimento como

voluntários, seja nas instruções, nos questionários ou nas entrevistas, pois foram

partes essenciais no trabalho.

Por fim, agradeço ao Grande Arquiteto do Universo, que iluminou meu caminho

durante essa jornada, e sempre me deixa alerta e vigilante para seguir pelo caminho

mais justo e perfeito.

Page 6: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

O soldado que aprende e aplica corretamente os princípios relativos ao fogo avançará sempre. O soldado que luta é quem vence as batalhas. Lutar significa empregar uma arma, e é o coração do homem quem controla este emprego. Devemos procurar na instrução, todos e quaisquer meios pelos quais possamos aumentar o volume de fogo eficaz, quando tivermos que ir à guerra.

(SAMUEL MARSHALL)

Page 7: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

RESUMO

A presente pesquisa procurou analisar se a atual abordagem da disciplina de ensino

sobre Armamento, Munição e Tiro (AMT), ministrado na ESA, está de acordo com as

demandas da formação profissional do sargento combatente de carreira do Exército,

com ênfase no assunto munição. Sua finalidade é propor um caderno de instrução

que possa suprir a demanda pelo assunto existente principalmente nas escolas de

formação do Exército. Para tanto, esse trabalho vem sendo desenvolvido desde 2016,

pela Seção de Tiro da ESA, por meio de uma pesquisa bibliográfica e descritiva,

levantando dados através de entrevistas e testes. Foram pesquisados nos

documentos de ensino existentes, quais as fontes de consulta utilizadas. Também

foram realizadas entrevistas com militares nas funções de instrutores dos

estabelecimentos pesquisados, bem como agentes de segurança pública e civis

especialistas no assunto. Uma amostra de Alunos da ESA de 2018 recebeu uma

instrução sobre munições de armamentos leves, pautada na proposta de caderno de

instrução elaborado. Esses Alunos, juntamente com outra amostra que não recebeu

a instrução, foram submetidos a um questionário/teste sobre a disciplina armamento,

munição e tiro. Por meio deste experimento, foi possível observar que aqueles Alunos

que tiveram contato com a instrução sobre munições e com o caderno de instrução

obtiveram resultados extremamente expressivos na parte do questionário que tratou

do assunto munições, enquanto que nas partes que trataram sobre armamento e tiro,

todos os Alunos obtiveram resultados semelhantes em média. Assim, foi possível

concluir que existe uma necessidade de que a disciplina AMT seja abordada de modo

que no assunto munições os instruendos consigam atingir os objetivos esperados

pelos documentos de ensino existentes.

Palavras-chave: Armamento. Munição. Tiro. Caderno de Instrução. ESA. Ensino.

Page 8: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

ABSTRACT

The present research sought to analyse whether the present approach to the teaching

discipline on Armament, Ammunition and Shooting (AMT), taught at the ESA, is in line

with the demands of the professional training of the Army career combatant sergeant,

with an emphasis on ammunition. Its purpose is to propose an instruction booklet that

can supply the demand for the existing subject mainly in the Army training schools. To

do so, this work has been developed since 2016, by the ESA Shooting Section, through

a bibliographic and descriptive research, raising data through interviews and tests. We

searched the existing teaching documents, which are the sources of consultation used.

Interviews were also conducted with the military in the functions of instructors of the

researched establishments, as well as public security agents and civilian experts in the

subject. A sample of ESA Students of 2018 received an instruction on light armament

ammunition, based on the proposed instruction book. These students, along with

another sample that did not receive the instruction, were submitted to a questionnaire

/ test on the discipline of ammunition and shooting. By means of this experiment, it was

possible to observe that those Students who had contact with the instruction on

ammunition and with the instruction book obtained extremely expressive results in the

part of the questionnaire that dealt with the subject ammunitions, whereas in the parts

that dealt with weaponry and shooting, all Students obtained similar results on

average. Thus, it was possible to conclude that there is a need for the AMT discipline

to be approached and so that in the subject ammunition the instructors can achieve

the objectives expected by the existing teaching documents.

Key-words: Weaponry. Ammunition. Shot. Instruction Book. ESA. Teaching.

Page 9: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Definição operacional da variável dependente ....................................... 26

Quadro 2 - Definição operacional da variável independente ..................................... 27

Quadro 3 - Carga horária da disciplina AMT no período básico ................................ 37

Quadro 4 - Assunto sobre munições enquadrado no período básico ........................ 38

Quadro 5 - Objetivos de aprendizagem do assunto “tipos de munição” .................... 38

Quadro 6 - Abordagem do assunto munições como padrão de desempenho ........... 39

Quadro 7 - Objetivos de aprendizagem por competência para o assunto munições 39

Quadro 8 - Demonstrativo dos entrevistados ............................................................. 99

Page 10: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Média geral da 1ª parte dos Grupos 1 e 2, por questão …………………. 87

Gráfico 2 - Média geral dos acertos da 1ª parte por grupo ........................................ 87

Gráfico 3 - Média geral da 2ª parte dos Grupos 1 e 2, por questão ........................... 89

Gráfico 4 - Média geral dos acertos da 2ª parte do grupo ......................................... 90

Gráfico 5 - Média geral dos resultados da 3ª parte dos grupos 1 e 2 ....................... 92

Gráfico 6 - Média geral da 3ª parte por grupos ......................................................... 92

Gráfico 7 - média de pontos geral e mediana no questionário/teste de AMT ............ 94

Gráfico 8 - menção dos Alunos no questionário/teste ................................................ 95

Gráfico 9 - Média de acertos das 1ª e 3ª partes do questionário ............................... 96

Page 11: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Esquema de um estojo em corte transversal ............................................. 43

Figura 2 - Esquema de tipos de estojos ..................................................................... 44

Figura 3 - Desenho esquemático de virolas ............................................................... 44

Figura 4 - Partes de uma cápsula .............................................................................. 45

Figura 5 - Tipos de cápsulas ...................................................................................... 45

Figura 6 - Esquema de um projétil seccionado .......................................................... 46

Figura 7 - Partes de um estojo .................................................................................. 49

Figura 8 - Alguns tipos de projéteis ........................................................................... 52

Figura 9 - Tipos de pontas de projéteis de chumbo .................................................. 54

Figura 10 - Classificação geral dos estojos quanto ao formato ................................ 56

Figura 11 - Classificação geral dos estojos quanto a sua base ................................ 56

Figura 12 - Classificação geral dos estojos quanto ao tipo de iniciação ................... 56

Figura 13 - Tipos de espoletas e suas utilidades ...................................................... 58

Figura 14 - Projéteis com coeficientes balísticos diferentes ...................................... 64

Figura 15 - Partes de uma espoleta .......................................................................... 66

Figura 16 - Arma com ignição de pederneira ............................................................. 69

Figura 17 - Cartuchos metálicos de Lefauchaux, com percussão em pino lateral ..... 70

Figura 18 - Desenho esquemático de um projétil Minnié ........................................... 71

Figura 19 - Esquema de corte transversal do cano raiado de uma arma de fogo ..... 74

Figura 20 - Relação entre o calibre Gauge e o diâmetro do projétil em mm ............. 76

Figura 21 - Tipos de choque e suas finalidades ......................................................... 77

Page 12: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AMAN Academia Militar das Agulhas Negras

AMT Armamento, Munição e Tiro

BPE Batalhão de Polícia do Exército

CA Corpo de Alunos

CDE Confederação de Desportos do Exército

CFS Curso de Formação de Sargentos

CI Caderno de Instrução

CMB Curso de Material Bélico

COTer Comando de Operações Terrestres

DECEx Departamento de Ensino e Cultura do Exército

EB Exército Brasileiro

ECEME Escola de Comando e Estado Maior do Exército

EE Estabelecimento de Ensino

EME Estado-Maior do Exército

ESA Escola de Sargentos das Armas

ESLog Escola de Sargentos de Logística

EsMB Escola de Material Bélico

EUA Estados Unidos da América

FAL Fuzil Automático Leve

GM Guerra Mundial

IGTAEx Instruções Gerais de Tiro com Armamento do Exército

IME Instituto Militar de Engenharia

IRTAEx Instruções Reguladoras do Tiro com Armamento do

Exército

NATO/OTAN Organização do Tratado do Atlântico Norte

OII Objetivo Individual de Instrução

OM Organização Militar

OMCT Organização Militar de Corpo de Tropa

Page 13: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

PlaDis Plano de Disciplina

PlanID Plano Integrado de Disciplina

PP Programas Padrão

QGAEs Quadro Geral de Atividades Escolares

QMG Qualificação Militar Geral

SeNaSP Secretaria Nacional de Segurança Pública

SETEx Sistema de Educação Técnica de Ensino

SU Subunidade

USArmy United States Army

Page 14: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................... 16

1.1 PROBLEMA ....................................................................................... 18

1.1.1 Antecedentes do Problema .............................................................. 18

1.1.2 Formulação do Problema ................................................................. 20

1.2 OBJETIVO .......................................................................................... 21

1.3 QUESTÕES DE ESTUDO ................................................................... 22

1.4 JUSTIFICATIVA ................................................................................. 22

2 METODOLOGIA ................................................................................ 25

2.1 OBJETO FORMAL DE ESTUDO ........................................................ 25

2.1.1 Definição conceitual das variáveis .................................................. 26

2.1.2 Definição operacional das variáveis ............................................... 26

2.2 AMOSTRA .......................................................................................... 27

2.3 DELINEAMENTO DA PESQUISA ...................................................... 29

2.3.1 Procedimentos para revisão da literatura ....................................... 30

2.3.2 Procedimentos Metodológicos ....................................................... 31

2.3.3 Instrumentos ..................................................................................... 32

2.3.3.1 Aplicação dos questionários ............................................................... 33

2.3.4 Análise dos dados ............................................................................ 33

3 REVISÃO DA LITERATURA .............................................................. 35

3.1 ENTENDENDO A ESTRUTURA DA INSTRUÇÃO NOS PP DO

COTER ............................................................................................... 35

3.2 ENTENDENDO A ESTRUTURA DA INSTRUÇÃO NOS PLADIS

DOS EE .............................................................................................. 36

3.3 PORTARIA Nº 146 DECEX, DE 15 DE OUTUBRO DE 2012 .............. 40

3.4 FONTES DE CONSULTA NAS ESCOLAS DE FORMAÇÃO .............. 40

3.4.1 O Manual Técnico T9-1903 ............................................................... 41

3.4.2 O Manual de Ensino EB60-ME-14.061 ............................................. 41

3.4.3 O Manual de Campanha C 23-1 ........................................................ 42

Page 15: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

3.4.4 As Instruções Gerais de Tiro com Armamento do Exército

(IGTAEx) ............................................................................................ 42

3.4.5 Nota de aula da Escola de Material Bélico do Exército .................. 43

3.4.5.1 Estojo .................................................................................................. 43

3.4.5.2 Espoletas ............................................................................................ 45

3.4.5.3 Propelentes e pólvoras ........................................................................ 45

3.4.5.4 Projéteis .............................................................................................. 46

3.4.6 Nota de aula do Curso de Material Bélico da AMAN ....................... 47

3.5 FONTE DE CONSULTA NA FORMAÇÃO DOS SARGENTOS

FUZILEIROS NAVAIS ......................................................................... 48

3.6 SERVIÇO DE ARMAMENTO E TIRO (SAT) DA POLÍCIA FEDERAL 50

3.6.1 Calibre ................................................................................................ 51

3.6.2 Munição .............................................................................................. 51

3.7 MANUAL DE ARMAMENTO E MANUSEIO SEGURO DE ARMAS DE

FOGO .................................................................................................. 52

3.7.1 Projétil ................................................................................................ 53

3.7.2 Estojo ................................................................................................. 55

3.7.3 Propelente .......................................................................................... 57

3.7.4 Espoleta ............................................................................................. 57

3.8 MANUAL TM43-0001-27 DO EXÉRCITO AMERICANO .................... 59

3.9 MANUAL RT 23-30: MANUAL DE TIRO DO EXÉRCITO DO

URUGUAI ............................................................................................ 59

3.9.1 Conceituação ..................................................................................... 60

3.9.2 Constituição do cartucho ................................................................. 61

3.9.3 Balística ............................................................................................. 62

3.10 M211 - MANUAL DE ELEMENTOS DO ARMAMENTO DO

EXÉRCITO PORTUGUÊS .................................................................. 64

3.10.1 Projéteis ............................................................................................. 65

3.10.2 Estojo ................................................................................................. 66

3.10.3 Espoleta ............................................................................................. 66

3.10.4 Propelente .......................................................................................... 67

3.10.5 Munições especiais ........................................................................... 68

3.11 A EVOLUÇÃO DA MUNIÇÃO: BREVE HISTÓRICO ........................... 69

Page 16: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

3.12 TRABALHO SOBRE ADEQUAÇÃO BALÍSTICA PARA O EB ............ 72

3.13 CALIBRES .......................................................................................... 74

3.13.1 Calibre em armas de cano liso ......................................................... 76

3.14 BALÍSTICA ......................................................................................... 78

3.14.1 O poder de parada (Stopping power) .............................................. 79

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ......................................................... 84

4.1 RESULTADOS DO QUESTIONÁRIO/TESTE DOS ALUNOS DA ESA 85

4.1.1 Aplicação dos instrumentos de pesquisa ...................................... 85

4.1.2 Questionário 1ª Parte: assunto armamento ................................... 86

4.1.2.1 Discussão dos resultados da 1ª Parte do questionário/teste ............... 88

4.1.3 Questionário 2ª parte: assunto munição ........................................ 89

4.1.3.1 Discussão dos resultados da 2ª Parte do questionário/teste ............... 91

4.1.4 Questionário 3ª parte: assunto tiro ................................................. 91

4.1.4.1 Discussão dos resultados da 3ª Parte do questionário/teste ............... 93

4.1.5 Resultado geral do questionário ..................................................... 94

4.1.5.1 Discussão dos resultados do questionário/teste ................................. 95

4.1.6 Conclusão parcial ............................................................................. 96

4.2 DISCUSSÃO DAS ENTREVISTAS .................................................... 98

4.2.1 Entrevista com instrutores .............................................................. 98

4.2.2 Conclusão parcial ............................................................................. 103

5 CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES .............................................. 106

GLOSSÁRIO ...................................................................................... 110

REFERÊNCIAS .................................................................................. 112

APÊNDICE A – INSTRUÇÃO SOBRE MUNIÇÕES DE

ARMAMENTOS LEVES ..................................................................... 116

APÊNDICE B – QUESTIONÁRIO PARA ALUNOS DA ESA ............. 121

APÊNDICE C – ENTREVISTA PARA MILITARES, AGENTES E

CIVIS ESPECIALISTAS NO ASSUNTO MUNIÇÕES ......................... 127

APÊNDICE D – PROPOSTA DE CADERNO DE INSTRUÇÃO

SOBRE MUNIÇÕES DE ARMAMENTOS LEVES .............................. 130

Page 17: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

16

1 INTRODUÇÃO

No contexto da história da humanidade, existem divergências sobre quando o

homem iniciou, na sua evolução, o período de caça para sua sobrevivência. Harari

(2011, p.3) cita que foi na pré-história, no período paleolítico, há 2,5 milhões de anos,

quando surgiu o gênero Homo, na África. Naquele período, no momento em que o

homem utilizou pela primeira vez uma pedra, osso ou madeira, arremessando-os para

abater uma caça ou para atacar e se defender durante uma disputa de liderança em

sua tribo, pode-se dizer que ali foi arremessado o primeiro projétil com o mesmo

objetivo que é utilizado hoje: abater um alvo, seja com a finalidade de atacar ou

defender-se.

Foi durante a idade média que houve o surgimento do ingrediente principal para

potencializar o arremesso de projéteis: a pólvora. Sua descoberta “é atribuída aos

monges taoístas ou alquimistas, que procuravam pelo elixir da imortalidade, na China

no final do período Thang, século XV” (VASCONCELOS; SILVA; ALMEIDA, 2010, p.

2). Desde então, as munições e as armas de fogo, concomitantemente, vêm

evoluindo, sendo utilizadas em larga escala nas guerras, na atividade de caça e, mais

recentemente, para o esporte.

Com o advento dos estudos científicos da Mecânica, o estudo do movimento

dos corpos ganhou substancial atenção e estudos teóricos, visando explicar a energia

envolvida nesse fenômeno. Foi um estudo evolutivo, que iniciou com os filósofos pré-

socráticos. Segundo Aristóteles (384 a.C. - 322 a.C.) (apud DO VALLE, 2014, p. 2)

existia uma entidade imutável, também considerada a matéria, responsável pelo

movimento de todos os outros seres. Já Leonardo Da Vinci (1452 - 1519) desenhou

projéteis com formatos cilíndricos, parecidos com os formatos atuais, percebendo que

isso ajudaria no voo. Galileu (1564 - 1642) iniciou os experimentos científicos relativos

aos movimentos na Terra, estudando a queda livre, o plano inclinado e o pêndulo.

Niccolò Tartaglia1 (1499 - 1557) estudou a aerodinâmica, associando velocidade

inicial com angulação para atingir maiores distâncias no arremesso de projéteis. Mas

foi Isaac Newton que aprofundou os conhecimentos do movimento de projéteis, que

hoje é chamado de estudo da balística, envolvendo os projéteis de arma de fogo.

1 Foi um matemático italiano, que viveu no século XVI em Veneza, um dos responsáveis pela solução

de equações matemáticas do 3º grau.

Page 18: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

17

As armas de fogo e as munições passaram por rápida evolução e, até os dias

atuais, inúmeros tipos de munições são utilizados para diversos fins. Nas operações

militares, as munições de diversos calibres influenciam nas manobras em todos os

escalões, sejam elas munições de armamentos leves, granadas, mísseis ou foguetes,

de armas de fogo portáteis, carros de combate ou aeronaves. Conhecer a munição

que a tropa utiliza, bem como a utilizada pelo inimigo, em seus detalhes técnicos e

balísticos básicos, pode definir resultados em um combate, principalmente no nível

tático de batalha.

Este estudo vai ao encontro dos diversos Programas Padrão (PP) de Instrução

Militar do Comando de Operações Terrestres (COTer) e Planos de Disciplina (PlaDis)

dos Estabelecimentos de Ensino (EE) do Exército Brasileiro (EB), particularmente na

disciplina Armamento, Munição e Tiro (AMT) previsto no PlaDis da Escola de

Sargentos das Armas (ESA). Observa-se que o material de consulta oficial em forma

de manuais e cadernos de instrução, sobre os assuntos armamento e tiro, são vastos

e suficientes, abordando e praticamente esgotando o referido assunto naquilo que é

necessário ao sargento de carreira na sua formação na ESA. Porém no assunto

munição, as fontes de consulta oficiais e padronizadas pelo EB são praticamente

inexistentes para atingir os objetivos impostos pelos próprios PP nos Corpos de Tropa

e PlaDis nos EE, pois não oferece os subsídios de conhecimento necessários aos

seus Instrutores e Monitores.

Este estudo visa contribuir com a formação do sargento combatente de carreira

do EB, formado na ESA, aperfeiçoando seus conhecimentos técnicos sobre AMT.

Observamos no PlaDis do Curso de Formação de Sargentos (CFS), em sua formação

básica, que o padrão de desempenho, para o conteúdo Introdução ao estudo do

armamento, em seus assuntos: 1. Armamento coletivo e individual; e 2. Tipos de

munição, compreende “Conhecer os tipos de armamento e munições, de acordo com

as prescrições das IGTAEx (Instruções Gerais de Tiro com Armamento do Exército),

para garantir o sucesso das ações operativas.” (BRASIL, 2015, p. 18). Vemos que no

próprio conteúdo disciplinar do CFS, existe a referência ao estudo dos tipos de

munições diretamente ligado à operacionalidade militar.

No âmbito do EB, os sargentos combatentes muitas vezes são responsáveis

por assumir funções de Sargento de Tiro da Subunidade (SU), e monitor em instruções

de AMT para seus soldados. Ao se depararem com o assunto “munições”, ou “tipos

de munições”, o seu conhecimento limitado adquirido na ESA não lhe permite explorar

Page 19: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

18

o assunto à contento, e a falta de uma fonte de consulta militar deixa o monitor sem

uma referência de instrução. Consequentemente, o Soldado deixa de conhecer os

detalhes básicos da munição que ele utiliza ou que pode encontrar no campo de

batalha. Um exemplo do reflexo negativo relativo à falta desta instrução pode ser

identificado no Caderno de Instrução CI 21-2/2 Ações Contra Caçadores, onde a tropa

regular deve estar apta a levantar vários Elementos Essenciais de Informação, dentre

eles, identificar “estojos vazios de munição especial, esquecidos no terreno” (BRASIL,

2004, p. 18).

Atualmente o conhecimento básico sobre munições é largamente difundido

entre atiradores desportivos, em clubes de tiro e nas academias de polícia militar, civil

e federal. A Secretaria Nacional de Segurança Pública (SeNaSP) atinge o estado da

arte, ao oferecer cursos de ensino à distância sobre balística forense e armas de fogo,

onde o assunto munições é abordado com excelência. Vale salientar que uma vez

aprendido os conceitos gerais, eles podem se aplicar a qualquer tipo atual de munição

para armamento leve.

1.1 PROBLEMA

Para o correto entendimento do escopo do trabalho, buscou-se determinar clara

e objetivamente o problema resultante do relacionamento da falta de fontes de

consulta militares sobre munições, com a formação do Sargento de carreira na ESA.

Para isso, serão exibidos os antecedentes do problema, como se observa a seguir.

1.1.1 Antecedentes do problema

A atual conjuntura de constante evolução tecnológica dos armamentos leves

acompanha, concomitantemente, a evolução de projetos de munições adequadas. O

combate moderno exige que para cada tipo de operação, se utilize de um projétil com

características específicas, pois ora se quer eliminar uma ameaça, ora se quer apenas

paralisá-la, ou até mesmo incapacitá-la por alguns instantes. Esse conhecimento

técnico deve estar de posse dos comandantes das pequenas frações, para que possa

planejar corretamente suas ações e assessorar o comando no nível tático.

Page 20: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

19

Atualmente, o Estado-Maior do Exército (EME) realiza uma pesquisa2 por

intermédio de sua 4ª Subchefia, no âmbito de todas as Organizações Militares (OM)

do Exército, sobre a adoção do calibre 5,56x45 NATO, com o fuzil IMBEL IA-2. Para

que o sargento profissional possa opinar nessa questão, é imprescindível que

conheça as características gerais de um cartucho. Ora, o EME solicita a opinião dos

militares comandantes das pequenas frações, porém eles não têm uma fonte de

consulta militar, com linguagem técnica padronizada, sobre as características gerais

das munições de armamentos leves. Obviamente, tiveram que recorrer a fontes de

fabricantes, artigos civis e tantas outras com conceitos, nomenclaturas e dados

técnicos variados.

Ao deparar-se com uma situação em que os comandantes táticos deveriam

analisar uma situação de caráter operacional (a utilização do fuzil IA2 pelas tropas do

EB), viu-se a necessidade de consultar material civil e entrevistar especialistas civis,

que não possuem a vivência militar, porém o conhecimento técnico profundo. É certo

que foram realizados diversos trabalhos (e ainda estão sendo), até mesmo científicos,

sobre doutrina para utilização do fuzil IA2. Mas foi a partir daí que se verificou a

necessidade do profissional militar ter o conhecimento básico sobre munições.

Em se tratando de ensino por competências, o assunto munições pode ser

aprendido e avaliado através de conteúdos de aprendizagem factuais e conceituais,

tendo em vista que pode ser um assunto delimitado em manual em sua essência,

porém em constante evolução numa abrangência geral. Os conteúdos conceituais

podem levar ao interesse de um aprofundamento no assunto, e permite que o militar

se interesse por produzir conhecimento para subsidiar aspectos doutrinários da Força,

em um nível tático. Isso cresce de importância quando se observa esse conhecimento

nas escolas de formação, tendo em vista que os militares recém formados irão ocupar

funções nos quartéis espalhados pelo território nacional, e serão responsáveis

também pela formação e adestramento das pequenas frações.

A disciplina AMT existe em praticamente todos os PP de Instrução do COTer,

e em todos os PlaDis da maioria dos EE do EB. A abordagem deste conteúdo é ampla,

2 Em abril de 2017, numa videoconferência onde participaram a Seção de Tiro da Escola de Sargentos

das Armas e da Academia Militar das Agulhas Negras, o Comandante da Escola Preparatória de Cadetes do Exército, membros do Comando Logístico do Exército e das Regiões Militares, coordenada pela 4ª Subchefia do EME, foi discutido como seria a distribuição dos fuzis IA2 calibre 5,56x45 NATO, porque determinadas tropas utilizariam, e se era viável logisticamente tal distribuição. Além disso, no ano de 2015, diversas Brigadas foram consultadas sobre a adoção do calibre 5,56x45 NATO em detrimento do 7,62x51 NATO.

Page 21: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

20

e não poderia deixar de ser quando se trata de uma Força Armada. No PlaDis atual

da ESA, o aluno em sua formação de qualificação tem carga horária de AMT de 44

horas, e os conceitos sobre munições são passados durante intervalos dos módulos

de tiro, como forma de complementação da instrução. Nesse documento não existe

uma carga horária específica para abordagem do assunto munições de armamentos

leves na qualificação, apenas no período básico do CFS.

Pela experiência profissional do autor, e de vários outros militares entrevistados

por ele, verificou-se que existe uma lacuna na área do ensino e da instrução no que

diz respeito ao conhecimento sobre munições, principalmente por parte dos militares

profissionais de carreira combatentes do EB. Dentro das próprias escolas de formação

de oficiais e sargentos existe essa lacuna, bem como em relação a manuais, cadernos

de instrução ou mesmo apostilas no assunto. Verifica-se uma dificuldade em

disseminar esse conhecimento, que deveria fazer parte do arcabouço intelectual do

militar profissional, já que a munição é a razão de ser da arma de fogo, que, por

conseguinte é a principal ferramenta de trabalho do combatente individual.

A Portaria nº 734, de 19 de agosto de 2010, do Diretor de Ensino e Cultura do

Exército, conceitua Ciências Militares, estabelece a sua finalidade e delimita o escopo

de seu estudo. Ela determina as áreas de estudo a serem abrangidas pelas ciências

militares. Dentre elas está a balística, que é diretamente ligada ao estudo das

munições.

1.1.2 Formulação do Problema

As Ciências Militares estão em constante evolução, pois as guerras cada vez

mais perdem a forma tradicional e ganham facetas distintas e não convencionais. Isso

influencia diretamente na preparação tática das pequenas frações, haja visto que elas

se tornam uma importante peça de manobra. Além disso, se busca cada vez mais

diminuir os efeitos colaterais em combate, procurando atender aos apelos dos direitos

humanos, evitando mortes de inocentes.

Os modernos sistemas de armas também ditam o desenvolvimento das

operações, possibilitando preservar mais vidas no campo de batalha e atingir os

objetivos propostos pelo comando, através da designação de alvos mais seletivos.

Assim, cada vez mais o soldado deve ter conhecimento das capacidades de sua

Page 22: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

21

fração, para que possa confiar nas decisões do escalão superior, em particular nas

possibilidades do poder de fogo da tropa que dá o suporte para o militar de Infantaria.

No Exército Brasileiro, a ESA é o EE responsável pela formação de todos os

sargentos de carreira da linha de ensino militar bélico. Assim, é o principal vetor de

transmissão do conhecimento, que irá se irradiar nos Corpos de Tropa, formando um

sargento combatente especializado e atualizado. Dessa forma, poderá melhorar o

conhecimento técnico de seus subordinados.

Como consequência, as pequenas frações recebem atualizações táticas

através das turmas mais recentemente formadas na ESA, criando um círculo virtuoso

de constante evolução tática da tropa na linha de frente do combate. O conhecimento

sobre munições de armamentos leves é essencial para a formação de um sargento

profissional, que encontrará no Corpo de Tropa um cenário atual de evolução e

discussão sobre novos calibres e novos armamentos a serem utilizados pelo

combatente individual.

A fim de verificar se o conhecimento sobre munições passado ao aluno da ESA

é suficiente e se esse conhecimento tem condições de ser multiplicado nos Corpos de

Tropa de forma condizente, foi formulado o seguinte problema: em que medida a

elaboração de um Caderno de Instrução sobre Munições de armamentos Leves

contribuirá para melhorar a formação dos sargentos de carreira da Escola de

Sargentos das Armas (ESA)?

1.2 OBJETIVO

Tendo em vista o problema proposto, esta pesquisa pretende, como objetivo

geral, analisar se a atual abordagem do conteúdo de ensino sobre Armamento,

Munição e Tiro, ministrado na ESA, está de acordo com as demandas da formação

profissional do sargento combatente de carreira do Exército, com ênfase no assunto

munição. Sendo assim, este trabalho pretende concluir apresentando uma fonte de

consulta em forma de Caderno de Instrução sobre o assunto Munições de

Armamentos Leves.

Com o intuito de nortear o trabalho à consecução de seu propósito, foram

enumerados os seguintes objetivos específicos:

a. descrever o atual perfil profissiográfico do aluno da ESA;

Page 23: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

22

b. descrever como é abordado atualmente a disciplina AMT na ESA, segundo

o PlaDis;

c. identificar o conhecimento básico sobre munições de armamentos leves de

interesse para formação do sargento combatente de carreira;

d. identificar situações de combate onde os tipos de munição de armamento

leve influenciam;

e. identificar o nível de conhecimento sobre o assunto que é ministrado na ESA,

através de questionários e entrevistas; e

f. apresentar uma proposta de Caderno de Instrução sobre Munições de

Armamentos Leves como fonte de consulta para instrução na ESA, podendo ser

aproveitado no âmbito do Exército Brasileiro.

1.3 QUESTÕES DE ESTUDO

Com base nos objetivos específicos elencados, foram investigadas as

seguintes questões de estudo:

a. Como é estruturado o ensino de AMT na ESA atualmente, de acordo com o

PlaDis, e qual o impacto de uma mudança no conteúdo de AMT na formação?

b. Como é estruturada a instrução de AMT nos corpos de tropa, de acordo com

os PP do COTer?

c. Quais os materiais de consulta no ensino militar, que abordam o assunto

munições, no âmbito das Forças Armadas nacionais, internacionais e órgãos de

segurança pública no Brasil?

d. Qual a média de rendimento escolar os alunos da ESA apresentam na

matéria AMT atualmente, e se essa média aumentaria caso houvesse um caderno de

instrução sobre munições?

1.4 JUSTIFICATIVA

O Exército Brasileiro possui uma estrutura de ensino bem consolidada, com

diretorias específicas para os diversos níveis de formação de seus militares de

carreira, sejam eles da Linha de Ensino Militar Bélica ou Não Bélica, dirigidos pelo

Page 24: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

23

Departamento de Ensino e Cultura do Exército (DECEx). Já o Comando de Operações

Terrestres (COTer) é o responsável por ditar as instruções atinentes às formações de

militares temporários, que completam as fileiras do Exército nos Corpos de Tropa, e

do adestramento de tropa. Em ambos os casos, a disciplina Armamento, Munição e

Tiro (AMT) faz parte da grade curricular.

É indiscutível a relevância da disciplina AMT para um militar, principalmente os

combatentes de carreira, e levando em consideração que a arma de fogo é a principal

ferramenta de trabalho do militar combatente do Exército. O DECEx e o COTer já

homologaram e disponibilizaram vasto material didático no assunto, porém,

curiosamente, o assunto específico munições não é abordado de forma direta em

nenhum manual. Existe apenas um Manual Técnico, o T9-1903 Armazenamento,

Conservação, Transporte e Destruições de Munições, Explosivos e Artifícios, edição

de 1970, e que não aborda os conceitos específicos sobre cartuchos. É o Manual

utilizado como referência no PlaDis da ESA e em diversos Planos de Seção sobre a

disciplina AMT. Existe ainda o Manual de Ensino EB60-ME-14.061, edição de 2013,

que aborda com propriedade os assuntos Armamento e Tiro, porém o assunto

munições é explorado como no Manual Técnico T9-1903.

Sobre a disciplina AMT, especificamente no assunto Munições, deve ser

abordado na formação do sargento na ESA um enfoque nos conceitos básicos de

munições, já consolidados, quais sejam: tipos de cartuchos, tipos de projéteis e seus

efeitos, tipos de espoleta, tipos de estojos e seus efeitos, características da arma de

fogo que influenciam no desempenho dos projéteis, a correta utilização dos cartuchos,

características de projéteis especiais e noções de balística.

Hoje em dia se tem destrinchado o assunto munições de armamentos leves

apenas em cursos essencialmente técnicos, como no Curso de Mecânico de

Armamento Leve da Escola de Sargentos de Logística (ESLog – Rio de Janeiro), no

Curso de Material Bélico da Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN - Resende),

no curso de Engenharia de Armamento no Instituto Militar de Engenharia (IME – Rio

de Janeiro), no curso de Perito Militar no 1º Batalhão de Polícia do Exército (1º BPE –

Rio de Janeiro) e nos Estágios nos Comandos Militares de Área de Caçador Militar.

Todo o material de consulta utilizado é baseado em livros de renomados autores civis

e apostilas confeccionadas pelos próprios instrutores, porém todos sem referência em

alguma fonte de consulta militar.

Page 25: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

24

Pelo fato do conhecimento sobre munições não ter uma fonte militar, são

repassados, nos cursos técnicos, várias nomenclaturas diferentes, e não há um

consenso sobre até que nível de conhecimento sobre munições interessa em cada

curso e no geral. Um Caderno de Instrução sobre Munições de Armamentos Leves,

homologado pelo COTer ou DECEx, traria uma padronização do conhecimento geral

sobre o assunto, vindo a suprir uma demanda dos próprios PlaDis e PP que é ministrar

uma instrução sobre o assunto munições. Já existe esse assunto previsto nos

documentos de ensino.

O conhecimento básico sobre munições, como dito anteriormente, é relevante

no planejamento das operações militares, e não pode ser tratado como estritamente

técnico como é atualmente. Um exemplo de conhecimento básico pouco difundido é

o calibre de arma de cano liso, chamado de Gauge, que não é medido nem em

milímetros, nem em polegadas, como nas armas de cano raiado. Assim, “tomando-se

uma perfeita esfera de chumbo (com uma libra de peso), seu diâmetro seria então o

gauge (Ga.) 1, ou seja, o calibre 1” (VASCONCELOS, 2015, p.42). Para obter o calibre

12, basta dividir a esfera de chumbo de Ga. 1 em 12 partes idênticas, e o diâmetro de

uma esfera será o diâmetro (calibre) do cano da arma de fogo.

Um Caderno de Instrução sobre Munições de Armamentos Leves não só

melhoraria a instrução na ESA, como também poderia servir como fonte de consulta

para instrutores de outros EE e do Corpo de Tropa, criando uma unidade na instrução

em todo o Exército. Seria uma inovação na instrução em toda a Força Terrestre ter

um material padronizado sobre o assunto, já que há décadas o assunto já está

incorporado às instruções militares básicas.

Enfim, pode-se dizer que o principal beneficiário deste estudo é o próprio

Exército, já que terá uma formação de seus quadros mais técnica e atualizada. O

resultado do estudo, que é o Caderno de Instrução, se destina num primeiro momento

à formação do Sargento da ESA, mas não impede que seja utilizado em outros EE e

no Corpo de Tropa. As vantagens disto são: unidade no conhecimento sobre

munições, melhoria no planejamento das operações no nível tático, na preparação

técnica dos quadros e possibilidade de aprofundamento nos estudos sobre o assunto.

Page 26: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

25

2 METODOLOGIA

Neste capítulo será apresentado a sequência do desenvolvimento da pesquisa,

para que seja possível detalhar o método científico utilizado, e deixar claro os objetivos

a serem alcançados. Nesse intuito, será abordado o objeto formal do estudo, a forma

de delineamento da pesquisa, o universo pesquisado, a amostra utilizada, os critérios

e estratégias adotadas e a definição de instrumentos e procedimentos para análise de

dados.

2.1 OBJETO FORMAL DO ESTUDO

O presente estudo pretende avaliar em que medida a falta de uma fonte de

consulta padronizada pelo Exército Brasileiro, influencia a aquisição de

conhecimentos sobre o assunto munições por parte dos sargentos formados na ESA.

A pesquisa foi limitada ao universo de militares do corpo discente do Corpo de

Alunos (CA) da ESA, constando de 680 Alunos. A amostra da pesquisa englobou os

Alunos do CA da ESA, totalizando 334 Alunos. Participaram das entrevistas

instrutores e monitores da Seção de Tiro da ESA, da ESLog, da EsMB, da Seção de

Tiro da AMAN e do curso de perícia criminal do 1º BPE, instrutores e monitores da

escola de formação de sargentos fuzileiros da Marinha e de sargentos especialistas

da Força Aérea e instrutores do Serviço de Armamento e Tiro (SAT) Academia

Nacional de Polícia (ANP) da Polícia Federal. Delimitou os calibres de armamentos

leves considerando diâmetros de projétil entre 5,5 mm a 15,24 mm, por serem os

calibres utilizados nos armamentos leves existentes atualmente nas Forças Armadas

brasileiras, bem como nas Forças Armadas de países pertencentes aos grandes

blocos de cooperação militar, como a ONU e a OTAN.

Da análise das variáveis envolvidas no presente estudo, a “Instrução Militar –

assunto munições de armamentos leves” apresenta-se como variável dependente,

tendo em vista que a manipulação na variável independente, “Fonte de consulta militar

para melhoria na formação do sargento”, causa efeito significativo sobre a primeira.

Dessa forma, podem-se definir as variáveis conceitual e operacionalmente, como

mostrado a seguir.

Page 27: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

26

2.1.1 Definição conceitual das variáveis

Variável I: melhoria na instrução militar na disciplina AMT

No contexto desta pesquisa, a variável dependente “Instrução Militar – assunto

munições de armamentos leves” pode ser compreendida como toda instrução

recebida pelo Aluno da ESA, no âmbito do Corpo de Alunos daquele Estabelecimento

de Ensino, prevista no Plano de Disciplina do Estabelecimento de Ensino, no conteúdo

Armamento, Munição e Tiro, durante o Curso de Formação de Sargentos (CFS). Indica

como o assunto munições é tratado atualmente, e como poderá ser tratado por uma

fonte de consulta militar.

Variável II: adoção de um CI sobre munições de armamentos leves

No contexto desta pesquisa, a variável independente “Fonte de Consulta

Militar” pode ser compreendida como Manuais, Cadernos de Instrução, Instruções

Provisórias ou outras publicações que forem homologadas pelo COTer ou DECEx,

devidamente publicadas em Boletins do Exército e baixadas como Portarias, de

acordo com as Instruções Gerais para as Publicações Padronizadas do Exército, 1ª

Edição 2011, ou diretrizes vigentes; notas de aula utilizada pelos cursos de formação

da ESA; o Caderno de Instrução de Munições de Armamentos Leves proposto pelo

autor; e material didático disponibilizado pela Divisão de Ensino para o Aluno cursando

o CFS. Tudo isso relacionado ao conteúdo Armamento, Munição e Tiro.

2.1.2 Definição operacional das variáveis

A operacionalização das variáveis está organizada segundo o quadro a seguir,

que permitirá a observação de suas dimensões através dos indicadores propostos.

Variável

dependente Dimensão Indicadores Forma de medição

Melhoria na

instrução

militar na

Abordagem do

assunto

Munição de

Abordagem atual do assunto na

ESA

No máximo 50% de

média de acertos do

questionário na parte

de munição

Page 28: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

27

disciplina

AMT

armamentos

leves Abordagem do assunto baseada

no Caderno de Instrução

proposto

No mínimo 51% de

média de acertos do

questionário na parte

de munição

Eficiência da abordagem do

assunto munições no CFS

Análise qualitativa

da entrevista para

Oficiais e Sargentos

Quadro 1: Definição operacional da variável dependente. Fonte: O Autor.

Variável

independente Dimensões Indicadores Forma de medição

Adoção de

um CI sobre

munições de

armamentos

leves

Assunto

armamento

Desempenho no questionário na

parte de armamento

Média de acertos de

no mínimo 51% das

questões na parte de

armamento

Assunto

munição

Desempenho no questionário na

parte de munição

Média de acertos de

no mínimo 51% das

questões na parte de

munição

Assunto tiro Desempenho no questionário na

parte de tiro

Média de acertos de

no mínimo 51% das

questões na parte de

tiro

Quadro 2: Definição operacional da variável independente. Fonte: O Autor.

2.2 AMOSTRA

A amostra estudada na pesquisa quantitativa é composta por 334 Alunos da

ESA, de um universo de 680 Alunos que compõem o Corpo de Alunos da ESA; na

pesquisa qualitativa por 2 militares da Seção de Tiro da ESA; por 2 militares da

Seção de Tiro da AMAN; por 2 militares do corpo docente do curso de logística da

ESLog; por 2 militares do corpo docente da EsMB; por 2 militares do corpo docente

do curso de perito criminal do 1º BPE; por 2 instrutores de AMT do Serviço de

Page 29: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

28

Armamento e Tiro (SAT) da Academia Nacional de Polícia da Polícia Federal; por 2

instrutores de AMT da Escola de Especialistas da Aeronáutica (EEAr); por 2

instrutores de AMT da Escola de Formação de Sargentos Fuzileiros Navais da

Marinha; e por 4 especialistas civis instrutores de AMT. A amostra da pesquisa

quantitativa está contida na população dos Alunos que estão cursando, no presente

ano (2018) o CFS da ESA. A amostra da pesquisa qualitativa está contida na

população de instrutores e monitores da ESA, ESLog, EsMB, Seção de Tiro da AMAN

e do 1º BPE, Academia Nacional de Polícia da Policia Federal, EEAr e da Escola de

Formação de Sargentos Fuzileiros Navais da Marinha (CFS Fuz Nav). No geral, as

entrevistas serão realizadas com:

- Instrutores Chefes das Seções de Tiro da ESA e da AMAN;

- Instrutores e monitores das Seções de Tiro da ESA e da AMAN;

- Instrutores e monitores da ESLog, EsMB e do Curso de Polícia do Exército do

1º BPE, EEAr, CFS Fuz Nav;

- Agentes de segurança pública federal, exercendo funções de instrutor; e

- Civis que exercem funções de instrução de tiro e/ou que já publicaram obras

literárias sobre o assunto.

Assim, os resultados desta pesquisa procurarão refletir a realidade atual sobre

como o sargento de carreira formado na ESA está sendo formado no conteúdo

armamento, munição e tiro.

Os requisitos a serem preenchidos para a pesquisa quantitativa são:

− Ser voluntário para preencher a pesquisa;

− Ser aluno do Corpo de Alunos da ESA, ou oficial instrutor, ou subtenente

monitor ou sargento monitor do CA;

− Não ter tirado grau abaixo de 5,0 em nenhuma avaliação de armamento,

munição e tiro até o momento da pesquisa; e

− Estar dentro dos limites de pontos perdidos por falta em instruções, segundo

as Normas Gerais de Ação do Corpo de Alunos da ESA.

Os requisitos a serem preenchidos para a pesquisa qualitativa são:

- Ser instrutor ou monitor da Seção de Tiro da ESA e da AMAN;

- Ser instrutor ou monitor da EsLog, EsMB, Curso de Perito do 1º BPE

Dessa forma, o trabalho buscou realizar uma pesquisa quantitativa com os

alunos, e uma pesquisa qualitativa no universo dos oficiais, subtenentes, sargentos,

Page 30: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

29

agentes de segurança pública e civis especialistas. Consequentemente, foi possível

obter uma visão ampla para estudar melhor o caso.

Por fim, será possível retratar a real necessidade de um Caderno de Instrução

sobre o assunto munições.

2.3 DELINEAMENTO DA PESQUISA

O presente estudo caracteriza-se por utilizar o método de abordagem

indutivo e o procedimento de estudo de caso para a construção do modelo de análise

e solução do problema de pesquisa. Assim, se pretende induzir, a partir de um estudo

de caso para a instrução sobre Munições, a importância de um Caderno de Instrução

regular, como fonte de consulta no referido assunto, no âmbito da ESA.

Quanto ao tipo, a pesquisa apresenta-se como de natureza aplicada, pois tem

por objetivo gerar conhecimentos de aplicação prática, a fim de proporcionar um

melhoramento no ensino-aprendizagem através de uma proposta de Caderno de

Instrução. A forma de abordagem adotada será de cunho quantitativo, pois busca-se

apreender dimensões traduzidas em dados estatísticos, apesar de ter apoio qualitativo

em determinadas etapas, buscando a interpretação de competências de cunho

subjetivo e individual. Nesse caso, segundo Neves e Domingues (2007, p. 57), os

dados numéricos da abordagem qualitativa podem possuir significados agregados à

pesquisa quantitativa, sendo passíveis de interpretação.

Com base nos objetivos gerais, trata-se de uma pesquisa do tipo

exploratória, pois, apesar de existir o conteúdo Armamento, Munição e Tiro na

formação básica e qualificada no CFS, o assunto Munições é pouco explorado. As

fontes de consulta militar disponíveis não permitem o desenvolvimento dos

conhecimentos básicos no referido assunto para a formação acadêmica militar. Cabe

ressaltar que as fontes de consulta não militares são vastas no assunto munições,

permitindo a consulta acessível a diferentes autores, e permitindo uma relação com o

meio militar de ensino.

No tocante à técnica de obtenção de dados, inicialmente, o estudo utilizará a

modalidade de coleta documental, a fim de reunir o conhecimento necessário ao

estudo aprofundado das partes que compõe o problema. Em seguida, será realizado

levantamento, no qual uma amostra de alunos da ESA será submetida a uma

Page 31: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

30

avaliação sobre seus conhecimentos adquiridos nas instruções de AMT. Através de

questionários, serão levantadas as impressões dos instrutores e monitores atuais da

ESA, ESLog, EsMB, Seção de Tiro da AMAN e curso de perícia criminal do 1º BPE

sobre o conhecimento de munições na formação do sargento de carreira da ESA. E,

por fim, serão realizadas entrevistas estruturadas com civis e militares especialistas

na disciplina AMT, abordando as atualidades sobre munições e a importância do

conhecimento militar delas. Os resultados obtidos serão analisados e incluídos no

estudo.

2.3.1 Procedimentos para revisão da literatura

A fim de buscar as informações necessárias à definição de termos e conceitos,

atualizações sobre o assunto e fundamentos capazes de viabilizar a solução do

problema de pesquisa, será realizada uma pesquisa bibliográfica e documental nos

seguintes termos:

a. Fontes de busca

− Publicações do Comando Logístico do Exército e suas subordinações;

− Publicações do DECEx;

− Documentação de ensino da ESA, AMAN, Escola de Material Bélico

(EsMB), Escola de Logística (ESLog), Curso de Perito do 1º Batalhão de Polícia do

Exército (1º BPE), e outras organizações militares com instruções afetas;

− Manuais dos Exércitos Brasileiro, Português, Francês, Espanhol e Norte

Americano;

− Livros e monografias das bibliotecas da EsAO e da ECEME;

− Acervo da Rede de Bibliotecas Integradas do Exército;

− Manuais e apostilas da Força Aérea e da Marinha, utilizados na formação

dos militares;

− Manuais e apostilas das academias de órgão de segurança pública;

− Artigos científicos publicados nos principais periódicos de assuntos

militares e em revistas especializadas em munições e armamentos; e

− Livros e publicações de autores de reconhecida importância na área de

Page 32: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

31

balística e perícia criminalística.

b. Estratégias de busca para as bases de dados eletrônicas

Serão utilizados os seguintes termos descritores, ou palavras-chave:

"características das munições, balística, perícia criminal, ensino, armamento leve,

projéteis, espoletas, estojos”, respeitando as peculiaridades de cada base de dados.

Após a pesquisa, as referências bibliográficas dos estudos considerados

relevantes serão revisadas, no intuito de encontrar artigos não localizados durante a

busca eletrônica.

2.3.2 Procedimentos Metodológicos

A fim de solucionar o problema, foram estabelecidos os objetivos de pesquisa

e levantadas questões de estudo. Definiram-se as variáveis, alcances e limites do

objeto formal de estudo, seguida da seleção da amostra. Apresentou-se o

delineamento da pesquisa, as fontes de busca e as estratégias de procura eletrônica.

Os dados foram obtidos, inicialmente, através da coleta documental, por meio

de publicações oficiais, periódicos especializados no assunto e materiais de autores

com renomada importância. Para definir os dados relevantes ao estudo, foram

estabelecidos os seguintes critérios:

a. Critérios de inclusão

− Estudos que fossem direcionados ao conhecimento básico sobre munições

e balística; e

− Estudos quantitativos e qualitativos que descressem experiências

relacionadas ao emprego de diferentes tipos de munições de armamentos leves em

operações reais.

b. Critérios de exclusão

− Artigos ou relatos sem fundamentação comprovada ou sem credibilidade; e

− Estudos que fugiram da área do ensino militar, da formação militar, do

assunto armamento, munição e tiro e do tempo e do espaço delimitados pelo projeto.

Page 33: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

32

Após a coleta documental de dados, será realizado um levantamento por meio

de questionários, buscando respostas que possam ser mensuradas quantitativamente

e qualitativamente. Por fim, os instrumentos serão aplicados na amostra e os

resultados obtidos, após exaustivamente analisados, serão organizados,

categorizados e transformados em uma proposta de reformulação do ensino no

assunto munições. Tudo isso tendo como base os resultados quantitativos levantados

em entrevistas de especialistas no assunto.

2.3.3 Instrumentos

a. Coleta documental

A fim de reunir o conhecimento essencial ao desenvolvimento do estudo e

coletar dados essenciais para a elaboração de um Caderno de Instrução no assunto

Munições, foi realizada uma pesquisa bibliográfica dos seguintes assuntos:

− Conceitos básicos sobre armas de fogo;

− Conceitos básicos sobre balística;

− Características das munições de armamentos leves;

− Elaboração de PlaDis e PP; e

− Tipos de munições utilizadas pelos Exércitos dos países membros da OTAN.

b. Instrução sobre munições

Para iniciar o experimento, foi ministrada uma instrução sobre munições de

armamentos leves, baseada na proposta de caderno de instrução sobre munições

(proposta do Autor), para 255 Alunos da amostra em estudo. O Instrutor Chefe da

Seção de Tiro da ESA ficou responsável por ministrar a referida instrução, com o

intuito de possuirmos um grupo no experimento com conhecimento considerado o

ideal na formação do sargento.

c. Questionários (Apêndice B) e entrevistas (Apêndice C)

Para complementar a coleta de dados documental, foi aplicado um questionário

sobre conceitos básicos da disciplina AMT para os Alunos da amostra em estudo.

Simultaneamente, entrevistas levantando a relevância de um Caderno de Instrução

sobre o assunto munições de armamentos leves foram realizadas com a amostra da

Page 34: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

33

pesquisa qualitativa. O questionário foi realizado com perguntas fechadas e abertas.

As entrevistas com perguntas abertas.

O objetivo dos questionários e entrevistas é levantar dados quantitativos no

questionário, e qualitativos nas entrevistas. Assim, realizou-se um cruzamento de

dados de forma a se obter uma conclusão positiva sobre a necessidade de uma fonte

de consulta militar, que cubra uma lacuna existente na formação do sargento

combatente de carreira formado na ESA.

2.3.3.1 Aplicação dos questionários

O questionário equivaleu-se a um teste, e foi composto de três partes, sendo:

a primeira parte com cinco perguntas sobre armamento; a segunda parte com cinco

perguntas sobre munições; e a terceira parte com cinco perguntas sobre tiro. Cada

pergunta tem o valor de um ponto, totalizando quinze pontos do teste. Os Alunos

tiveram um tempo de trinta minutos, farão o teste ao mesmo tempo e no mesmo local.

Os Alunos não puderam utilizar fontes de consulta. Os testes não valeram como

avaliação somativa no curso. Os Alunos tomaram ciência da aplicação do teste com

pelo menos quarenta e oito horas de antecedência. Os instrutores chefes dos cursos,

e o comandante do Corpo de Alunos da ESA autorizaram a realização do experimento.

Foi realizado um pré-teste do questionário, com a aplicação do teste aos

militares da Seção de Tiro da ESA, com o intuito de realizar possíveis melhoramentos

na pesquisa. O teste só foi aplicado após as correções verificadas no pré-teste.

2.3.4 Análise dos Dados

A análise dos dados se deu de forma distinta para cada caso. Na coleta

documental, os dados foram analisados e fichados, por assunto, e relacionados com

a finalidade do estudo alvo deste projeto.

Os dados do questionário quantitativo foram levantados, analisados,

organizados e exibidos em forma de gráficos. Os resultados foram apresentados

Page 35: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

34

relacionados com o mapeamento da literatura sobre o assunto e apontando aspectos

da proposta do caderno de instrução.

Já os dados das entrevistas foram analisados pelo nível de importância dado

ao assunto pelos entrevistados. Numa segunda fase, as respostas foram submetidas

a análises relacionadas com os dados da coleta documental e com o questionário

quantitativo.

Por fim, o objetivo geral foi atingido buscando a convergência dos resultados

quantitativos, qualitativos e da revisão da literatura, introduzindo novos problemas de

pesquisar futuras.

Page 36: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

35

3 REVISÃO DA LITERATURA

Diante do problema de pesquisa verificado, foi realizado o estudo bibliográfico

do tema para apurar como é a legislação de ensino do EB. Também foi levantado

quais fontes de consulta são utilizadas nas instruções de AMT nos corpos de tropa e

nos EE.

Por meio da revisão da literatura, procurou-se analisar os conceitos sobre

munições abordados por autores civis especializados no assunto, observar estudos

anteriores e esclarecer a relação entre o material de consulta utilizado na ESA e a

deficiência no conhecimento do assunto pelos Alunos formados no CFS.

Para fins de exposição, o capítulo está dividido, no geral, em: estrutura da

instrução e do ensino do Exército Brasileiro; manuais militares e notas de aula sobre

munições de armamentos leves; publicações civis sobre o assunto munições, calibres

e balística; e o Caderno de Instrução proposto pelo autor.

3.1 ENTENDENDO A ESTRUTURA DA INSTRUÇÃO NOS PP DO COTER

A estrutura da instrução nos PP do COTer “baseia-se no princípio metodológico

da instrução militar orientada para o desempenho (…) qualquer que seja a QMG”

(BRASIL, 2013, p. 1-10).

Ao analisar cada uma das partes que compõe o conceito da estrutura da

Instrução Individual Básica, segundo o PP de Instrução Individual Básica Ed. 2013, é

possível identificar as áreas de desempenho da instrução:

- Instrução sobre matérias fundamentais à preparação básica do combatente;

e

- O desenvolvimento de atitudes e habilidades necessárias à formação do

soldado.

Em se tratando das instruções fundamentais, a estrutura compreende um

conjunto de “matérias; assuntos integrantes de cada matéria; sugestões de objetivos

Page 37: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

36

intermediários; e objetivos terminais, chamados de Objetivos Individuais de Instrução

(OII)” (BRASIL, 2013, p. 1-11).

Dentro das matérias encontram-se os assuntos, e dentro dos assuntos os

objetivos intermediários, que permitem ao Instrutor, “levando em conta sua

experiência, as disponibilidades materiais, e as características do militar” (BRASIL,

2013, p. 1-11, grifo nosso), formular ou estabelecer novos objetivos intermediários. As

matérias, os assuntos, os objetivos intermediários e as tarefas são “os elementos

básicos que constituem o PP” (BRASIL, 2013, p. 1-11).

Os PP usam, como métodos e processos de instrução, o princípio do realismo,

ou simulação, colocando o instruendo constantemente em situações semelhantes às

que deverão ocorrer no exercício de suas atividades. De acordo com o Manual do

Instrutor e do Professor no Âmbito do Departamento de Educação e Cultura do

Exército (DECEx), Edição Experimental 2013, o realismo, ali chamado de

dramatização, simula “ações e procedimentos existentes na realidade do militar” e “é

muito adequada para o ensino dos conteúdos procedimentais e atitudinais” (BRASIL,

2013, p. 3-16).

Para cada qualificação de militares temporários, existe um Programa Padrão

de Instrução, que atende às mais diversas demandas de conhecimentos técnicos,

dependendo da área em que o militar está sendo qualificado. Já a formação básica é

composta por matérias de assuntos comuns, que devem ser de conhecimento de

todos os militares e que servirá de subsídio para cumprir suas missões em qualquer

qualificação que lhe for designada. Dentre as matérias, se apresenta Armamento,

Munição e Tiro.

3.2 ENTENDENDO A ESTRUTURA DA INSTRUÇÃO NOS PLADIS DOS EE

De acordo com o Manual do Instrutor e do Professor no Âmbito do DECEx,

Edição Experimental 2013:

O Estabelecimento de Ensino realiza o planejamento curricular, que resulta

na confecção dos seguintes documentos: Perfil Profissiográfico, Plano de

Disciplinas (PLADIS), Plano Integrado de Disciplinas (PLANID), Quadro Geral

de Atividades Escolares (QGAEs) (BRASIL, 2013, p. 4-1).

Page 38: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

37

O PlaDis é a base para que os Instrutores/Professores organizem de modo

didático as principais ideias a serem repassadas aos Alunos/Instruendos. Assim, o

Instrutor/Professor define os objetivos de aprendizagem, que “servem para indicar

quais aspectos devem ser desenvolvidos nos Alunos” (BRASIL, 2013, p. 4-2).

Os Objetivos de Aprendizagem estão diretamente relacionados com os

Conteúdos de Aprendizagem, que são listados como sendo: FACTUAL,

CONCEITUAL, PROCEDIMENTAL ou ATITUDINAL.

Com o PlaDis pronto, o Instrutor/Professor tem condições de planejar sua

Aula/Instrução. Ele consegue extrair o conteúdo ou assunto a ser repassado, os

objetivos a serem alcançados, define o foco da instrução em função dos conteúdos

de aprendizagem determinados e define os procedimentos, ferramentas e técnicas

didáticas adequadas para alcançar os objetivos.

O PlaDis do período de instrução básica do Curso de Formação de Sargentos

(CFS), contém a disciplina AMT, com seus conteúdos e assuntos. No conteúdo “1.

Introdução ao estudo do armamento”, encontramos o assunto “2. Tipos de munição”.

Para que o Aluno possa conhecer os tipos de munição, torna-se necessário que o

instrutor saiba quais são esses tipos e tenha uma fonte de consulta confiável para

ensinar. Um Sargento combatente do EB acaba sendo formado sabendo apenas

diferenciar uma munição 7,62mm de uma 9mm, que é facilmente percebida a olho nu,

sem necessitar de nenhum conhecimento técnico no assunto.

Page 39: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

38

Quadro 3: Carga horária da disciplina AMT no período básico.

Fonte: PlaDis CFS Básico 2018.

Quadro 4: Assunto sobre munições enquadrado no período básico.

Fonte: PlaDis CFS Básico 2018.

Page 40: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

39

Quadro 5: Objetivos de aprendizagem do assunto “tipos de munição”.

Fonte: PlaDis CFS Básico 2018.

Já o PlaDis atual do período de instrução de qualificação do CFS, no conteúdo

“1. Armamento, Munição e Tiro”, não apresenta assuntos sobre munições. Porém, no

ano de 2017, a Seção de Tiro da ESA propôs uma mudança no PlaDis do CFS,

solicitando a inclusão do assunto “características das munições”, com carga horária

de dois tempos de instrução. No período de qualificação, o foco da instrução sobre

munições seria a demonstração dos efeitos balísticos dos diferentes projéteis. Isso

daria ao Aluno noções de como ele poderia se abrigar sob fogo do armamento leve

inimigo, se o material de proteção fornecido à tropa é suficiente ou até mesmo que

tipo de abrigo inimigo ele poderia enfrentar com seu armamento leve. O referido

assunto foi proposto para compor tanto o PlaDis do período básico quanto o do

período de qualificação do CFS. Assim, o Aluno teria uma continuidade sobre o

assunto na sua formação.

No Curso de Polícia do Exército, ministrado pelo 1º Batalhão de Polícia do

Exército (BPE) no Rio de Janeiro, o assunto características das munições é abordado

no conteúdo “Perícia e investigação criminal”, no assunto “noções de balística

forense”. Como um dos objetivos de aprendizagem deste assunto, encontramos:

“conhecer os principais tipos de munições utilizadas em operações policiais e suas

características”.

Page 41: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

40

Quadro 6: abordagem do assunto munições como padrão de desempenho.

Fonte: PlaDis Curso de Polícia do Exército (CPE).

Quadro 7: objetivos de aprendizagem por competência para o assunto munições.

Fonte: PlaDis CPE.

3.3 PORTARIA Nº 146 DECEX, DE 15 DE OUTUBRO DE 2012

A Portaria nº 146 do DECEX (EB60-IR-57.007) aprova as Instruções

Reguladoras do Sistema de Educação Técnica do Exército (SETEx). Esse sistema

Page 42: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

41

engloba os cursos de Formação, de Especialização, Especialização Profissional, de

Extensão e de Aperfeiçoamento, destinados aos Sargentos e Subtenentes das Linhas

de Ensino Militar Bélico e de Saúde.

No seu Capítulo II, Seção I, uma das metas a serem atingidas pelo SETEx é

“(...) III - qualificar, em alto nível, recursos humanos para o exercício das atividades

de instrução de corpo de tropa e de educação nos Estb Ens3 e CI” (BRASIL, 2012, p.

9/26). Ora, se uma das atividades de educação na ESA (um dos EE) é ensinar o

assunto tipos de munições, deve-se qualificar seus recursos em alto nível sobre esse

assunto também, corroborando com as metas a serem atingidas no ensino técnico,

segundo o SETEx.

3.4 FONTES DE CONSULTA NAS ESCOLAS DE FORMAÇÃO DO EXÉRCITO

Nos PP e PlaDis se utilizam como referência, para tratar do assunto

Características das Munições, o Manual Técnico T9-1903 ARMAZENAMENTO,

CONSERVAÇÃO, TRANSPORTE E DESTRUIÇÃO DE MUNIÇÕES, EXPLOSIVOS

E ARTIFÍCIOS, que nada apresenta sobre as características de uma munição. Nos

EE e nos Corpos de Tropa, os Manuais utilizados como referência no conteúdo

Armamento, Munição e Tiro são: Manual Técnico T9-1903, Manual de Ensino EB60-

ME-14.061, o Manual de Campanha C 23-1 1ª e 2ª Edições e as Instruções Gerais

para o Tiro no Exército (IGTAEx).

No Curso de Material Bélico da AMAN, os Cadetes recebem instruções sobre

características das Munições, baseados em uma Apostila de Munições de

Armamentos Leves e de Arremesso. Essa apostila foi confeccionada no ano 2000, e

descreve as características das munições de armamentos leves, que “são aquelas de

calibre igual ou menor que .60” = 15,24 mm”, utilizadas em “revólveres, pistolas,

metralhadoras de mão, carabinas, fuzis, fuzis metralhadores, metralhadoras leves,

metralhadoras pesadas, etc...” (BRASIL, 2000, p. 1).

3 Estabelecimento de Ensino, o equivalente a EE, de acordo com o Manual de Abreviações, Siglas e Convenções Cartográficas do Exército Brasileiro, Ed. 2008.

Page 43: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

42

Já no Curso de Perito Criminal, ministrado pelo 1º Batalhão de Polícia do

Exército, na cidade do Rio de Janeiro, são utilizadas fontes de consulta de escritores

e estudiosos civis, principalmente do renomado perito criminalístico Domingos

Tocchetto. Também se utiliza como fontes de consulta trabalhos realizados por

militares peritos e notas de aula. No caso do curso de Perito Criminal, o assunto é

bem mais aprofundado e científico.

3.4.1 O Manual Técnico T9-1903

Este Manual trata sobre armazenamento, conservação, transporte e destruição

de munições, mas não trata sobre as características técnicas das munições dos

armamentos leves.

Basicamente, nas instruções sobre características das munições, o Instrutor no

Corpo de Tropa e nos EE, no período de instrução básica, aborda apenas as

características abordadas pelo Manual Técnico T9-1903. Sendo assim, não abrange

as características das munições de armamentos leves, como partes de uma munição,

tipos de projéteis, de espoletas, de estojos e de propelentes.

3.4.2 O Manual de Ensino EB60-ME-14.061

O Manual de Ensino Armamento, Munição e Tiro, edição de 2011, é uma fonte

de consulta que trata especificamente sobre características técnicas dos armamentos

leves, granadas de mão e de bocal, dotações de munição, segurança na instrução,

documentação e características técnicas de paióis, depósitos e armazenamento de

munições.

Para tal, o Manual não aborda as características técnicas das Munições, se

atendo a normatizar termos técnicos e procedimentos com armamentos. Apesar de

chegar a abordar características técnicas das granadas, não dá subsídios para que o

Instrutor possa tratar do assunto Munições, dentro do conteúdo Armamento, Munição

e Tiro. Sobre munições de armamentos leves, cita apenas as munições militares

Page 44: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

43

(traçantes, perfurantes, lança granadas, festim, manejo e perfurante incendiária), sem

mencionar as características dos cartuchos em geral.

Portanto, o Manual de Ensino de Armamento, Munição e Tiro foca seu conteúdo

no assunto armamento, não abordando munição nem tiro.

3.4.3 O Manual de Campanha C 23-1

O Manual de Campanha C 23-1, Tiro das Armas Portáteis, em sua 1ª Edição,

é dividido em duas partes: a 1ª Parte trata do Tiro com Fuzil, e a 2ª Parte trata do tiro

com Pistola.

Este Manual aborda estritamente o assunto tiro, e não faz menção aos

assuntos armamento e munição. Seu objetivo é fornecer subsídios aos instrutores,

auxiliares de instrutores e monitores de tiro, na medida em que trata dos fundamentos

de tiro com o fuzil, das instruções preparatórias para o tiro e de técnicas de tiro com o

fuzil (BRASIL, 2003a, p. 1-1).

O C 23-1 cita como fontes de consulta relacionadas ao tiro: o Programa de

Instrução Militar (PIM) conferido pelo COTer; as IGTAEx; o próprio manual técnico do

armamento utilizado; o T9-1903; e o T9-2100, Acidentes e Incidentes de Tiro. Nenhum

desses manuais aborda o assunto munições.

3.4.4 As Instruções Gerais de Tiro com Armamento do Exército (IGTAEx)

Temos nas IGTAEx, em sua Edição de 2017, as instruções gerais da condução

dos exercícios de tiro no âmbito do EB. Contém em seu corpo as Instruções

Reguladoras de Tiro com o Armamento do Exército (IRTAEx). Já as IRTAEx possuem

diversos cadernos, tratando dos módulos de tiro das diversas armas utilizadas pelo

EB, bem como os módulos escolares específicos dos Estabelecimentos de Ensino.

As IGTAEx, portanto, tratam exclusivamente do assunto tiro, e não aborda o

assunto armamento e munição. Assim, temos o C 23-1 tratando das técnicas de tiro,

as IGTAEx/IRTAEx dos módulos de tiro e o EB60-ME-14.061 tratando da parte técnica

Page 45: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

44

dos armamentos leves, especificamente fuzil e pistola. Nenhuma das fontes de

consulta trata das características técnicas das munições.

3.4.5 Nota de aula da Escola de Material Bélico do Exército

A Escola de Material Bélico (EsMB) do Exército é responsável por realizar o

ensino de militares técnicos em material bélico e manutenção, em diversos escalões.

No ano de 2000 foi produzida uma nota de aula, abordando o assunto Munições de

Armamentos Leves e de Arremesso, que é usada ainda hoje naquele

estabelecimento.

Esta nota de aula classifica as munições de armamentos leves como sendo

“aquelas de calibre igual ou menor que .60” = 15,24mm” (BRASIL, 2000, p. 41). Os

componentes de uma munição seriam: estojo; cápsula ou espoleta; carga de projeção

ou propelente; e projétil ou projetil.

3.4.5.1 Estojo

O estojo possui formas diferentes, sempre visando otimizar os efeitos do

projétil, principalmente no momento em que o cartucho é introduzido na câmara da

arma de fogo. Deve ser resistente para suportar a pressão exercida pela queima da

pólvora em seu interior. Assim, o estojo se apresenta, em geral:

1. Estojo - Elemento por completo. 2. Culote - Possui as inscrições de identificação, (Fábrica, lote, tipo de munição...). 3. Corpo - Seu formato (cilíndrico, tronco cônico ou tronco cônico com gargalo cilíndrico) está totalmente ligado ao sistema de funcionamento da arma. 4. Ombro - Faz a redução câmara / cano. 5. Gargalo - Fixa o projétil. 6. Boca - Recebe o projétil. 7. Alojamento da cápsula - Recebe a cápsula. 8. Gola - Aloja a garra do extrator.

Page 46: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

45

9. Evento(s) - Permite que a chama da cápsula atinja a carga de projeção. 10. Câmara - Aloja a carga de projeção. 11. Parede - Pela dilatação realiza a obturação dos gases. 12. Bigorna - (Somente nos estojos tipo Berdan), com auxílio do percussor, permite o esmagamento do alto explosivo iniciador existente na cápsula. 13. Virola - Permite a extração.

Fig 1 Esquema de um estojo em corte transversal.

Fonte: BRASIL, 2000, p. 19

Os estojos são classificados quanto ao tipo, ao perfil e ao formato da virola.

Quanto ao tipo, os estojos podem ser: de fogo circular e de fogo central. Quanto ao

perfil podem ser:

Cilíndrico. (Usado em pistolas).

Tronco-cônico. (Usado em carabinas).

Tronco-cônico com gargalo cilíndrico. (Fuzis e Metralhadoras). Fig 2 esquema de tipos de estojos Fonte: BRASIL, 2000, p. 21

Quanto ao tipo de virola podem ser:

Page 47: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

46

Escavada Semi-saliente Saliente

Fig. 3 desenho esquemático de virolas7 Fonte: BRASIL, 2000, p. 21

3.4.5.2 Espoletas

A nota de aula denomina as espoletas como cápsulas, como na figura a seguir:

1 - Corpo ou copo - Recebe os demais elementos. 2 - Mistura iniciadora - Alto explosivo iniciador. 3 - Disco de papel - Mantém a mistura no seu local. 4 - Bigorna - (Somente nas cápsulas tipo Boxer), com auxílio do percussor, permite o esmagamento do alto explosivo iniciador.

Fig. 4 Partes de uma cápsula Fonte: BRASIL, 2000, p. 22

As cápsulas são classificadas como:

Boxer: A cápsula possui bigorna num estojo com evento único (central).

Page 48: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

47

Berdan: A cápsula não possui bigorna, esta faz parte do estojo que possui dois eventos.

Fig. 5 Tipos de cápsulas Fonte: BRASIL, 2000, P. 23

3.4.5.3 Propelentes ou pólvoras

A nota de aula da EsMB apresenta a pólvora como o propelente, ou ainda,

carga de projeção. Considera a pólvora como um baixo explosivo, com a finalidade

de, após sua queima, gerar pressão dentro do cartucho empurrando o projétil para

fora do cano da arma de fogo. Cita dois tipos de pólvoras: a pólvora negra

(basicamente enxofre, salitre e carvão vegetal), e a pólvora química (basicamente

celulose e ácido nítrico, podendo ser combinado com glicerina e/ou guanidina).

Quanto à sua composição, as pólvoras são classificadas como: de base

simples (nitrocelulose); de base dupla (nitrocelulose + nitroglicerina); e de base tripla

(nitrocelulose + nitroglicerina + nitroguanidina).

Quanto à sua forma, as pólvoras podem ter formato: de grão, de lâmina, de fios

ou cilíndricos (não perfurados, monoperfurados ou heptaperfurados).

Nota-se que o autor (es) da nota de aula não adentra nos conceitos para

finalidade e efeitos que os tipos de pólvoras poderiam provocar em uma munição, e

consequentemente o efeito que essa munição teria ao atingir um alvo humano ou

possíveis danos que causaria ao armamento. Assim, não se consegue obter uma

aplicação da teoria conceitual na prática do combate.

3.4.5.4 Projéteis

Já os projéteis têm a finalidade de “causar danos, é o próprio emprego da

munição” (BRASIL, 2000, p. 23). Possuem a seguinte configuração:

Page 49: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

48

1 - Projétil ou projetil - Elemento por completo. 2 - Base ou culote - Favorece as propriedades balísticas, no que concede ao arrasto. 3 - Corpo - Área que se engraza ao raiamento. 4 - Ogiva ou ponta - Favorece as propriedades balísticas, no que concede a resistência do ar. 5 - Camisa - Somente nos projéteis tipo encamisados, uso militar obrigatório. 6 - Núcleo - É a finalidade do projétil. 7 - Cinta de lubrificação ou cinta de engastamento ou canelura - Mantém a camisa firmemente presa ao núcleo, permite que o gargalo (no estojo) engaste o projétil na montagem do cartucho.

Fig. 6 Esquema de um projétil seccionado Fonte: BRASIL, 2000, p. 23

Quanto ao tipo, os projéteis são classificados como de chumbo e encamisados.

Os projéteis de chumbo são feitos com uma liga de chumbo e estanho e/ou antimônio.

Já o projétil encamisado possui um núcleo de chumbo, “revestido com percentuais de

cobre, zinco e níquel” (BRASIL, 2000, p. 24), trazendo vantagens ao projétil, como:

previne o chumbamento do cano; alcança maiores velocidades; e não são danificados

pelo carregamento.

Quanto à forma, os projéteis podem ser pontiagudos ou ogivais.

Assim, a nota de aula da EsMB traz o assunto munições, ainda faltando um link

entre o conceitual e a prática do soldado. Vale salientar que tal escola aborda o

assunto munições por formar sargentos do quadro de material bélico especialistas em

mecânica de armamento, responsáveis pela manutenção até terceiro escalão dos

armamentos leves.

3.4.6 Nota de aula do Curso de Material Bélico da AMAN

O Curso de Material Bélico (CMB) da Academia Militar das Agulhas Negras

(AMAN) forma os oficiais de carreira de material bélico do Exército Brasileiro. O

assunto munições é tratado por uma apostila sobre munições, em edição de 2005,

Page 50: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

49

que abrange as de armamento leve, de armamento pesado, explosivos, mísseis,

destruição e sobre a conservação das munições.

Nesta nota de aula do CMB, assim conceituam munição:

Munições são corpos carregados com explosivos e agentes químicos

destinados a produzir, isolada ou combinadamente, baixas e danos ou

incapacidades físicas ou psicológicas temporárias através de efeitos

explosivos, tóxicos, fumígenos, incendiários, iluminativos, sonoros,

dispersivos e neutralizantes e que sejam lançados de uma arma, com

exceção das granadas de mão e das minas. (BRASIL, 2005, p. 63)

Nota-se que, nesta apostila, o(s) autor(es) procuraram abranger os efeitos das

munições, diferentemente da nota de aula da EsMB. Aqui, já ouve-se falar em efeitos

letais, em danos físicos e psicológicos, e efeitos sonoros e visuais. Isso permite que o

leitor perceba um efeito prático da parte conceitual, principalmente em operações no

campo de batalha.

Numa amplitude maior sobre munições, o CMB/AMAN classifica-as quanto à

organização de seus elementos (engastada e desengastada), quanto ao seu emprego

(armamento leve, armamento pesado, munições de arremesso e minas terrestres).

Quanto à finalidade, as munições são classificadas como munição de guerra e

munição química, ou não-letal.

Nota-se que a configuração de um cartucho é a mesma descrita na nota de

aula da EsMB, tornando a usar o termo “cápsula” para caracterizar a espoleta. Porém,

no quesito sobre projéteis, a nota de aula do CMB/AMAN detalha mais aspectos sobre

os projéteis encamisados. Aqui se se introduzem conceitos como “Stopping power” e

projéteis expansivos, sem aprofundar. Também observamos a nomenclatura dos

projéteis, de acordo com sua configuração.

3.5 FONTE DE CONSULTA NA FORMAÇÃO DOS SARGENTOS FUZILEIROS

NAVAIS

Page 51: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

50

Para a formação dos Fuzileiros Navais, o estudo da munição de armamento

leve não possui seu conteúdo exposto em manuais ou cadernos de instrução. O

assunto é abordado em Nota de Aula, dentro do conteúdo de Armamento, Munição e

Tiro, porém em uma instrução específica. Nesta nota de aula, munição é conceituada

como:

Corpos carregados com explosivos, agentes químicos, radiológicos ou uma

combinação destes que podem ser arremessados por uma arma ou por

intermédio da mão, lançados de aviões, instalados no solo ou dirigidos,

destinados a produzirem danos contra pessoal, material ou objetivos

militares. O termo engloba todo tipo de munição. (ESCOLA NAVAL, 2008, p.

12).

O conceito de munição torna-se genérico, e para especificar melhor, a munição

é classificada como especial e convencional. Dentro das munições convencionais,

estão enquadradas as munições de armamentos leves, munições de arremesso e

munições para morteiro. Já as munições especiais são aquelas que incluem “mísseis

completos, rojões (>200mm), armas nucleares, ogivas convencionais, propelentes

dos mísseis e dos rojões e cargas de projeção para as granadas de Artilharia.”

(ESCOLA NAVAL, 2008, p. 13). As munições de armamentos leves são consideradas

aquelas com calibre inferior a 0.60 pol, equivalentes a 15,24mm.

Quando se trata de conceituar as partes de um cartucho, existem três

componentes que são comuns a todo tipo de munição: um iniciador (equivalente à

espoleta), um propelente e um projétil. Para cartuchos especificamente de armamento

leve, as partes são: projétil, estojo, propelente e espoleta.

De acordo com a finalidade, as munições de armamento leve são classificadas

como munição de guerra e munição de emprego especial. As munições de guerra são

aquelas cujo efeito do projétil é causar danos em pessoal e material durante um

confronto no campo de batalha, quais sejam: comuns, traçantes, perfurantes,

incendiárias ou a combinação delas. Já as munições de emprego especial possuem

outras características, sem a finalidade de serem utilizadas em guerra. São elas:

munições de festim, de manejo, estilhaçáveis (fragmentáveis), para lançamento de

Page 52: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

51

granadas de bocal, cartuchos de espingardas de cano liso e munições de canto vivo

para esporte de tiro.

De acordo com a organização de seus elementos, as munições são

classificadas como: encartuchadas, engastadas e desengastadas. As encartuchadas

utilizam o estojo para reunir os elementos de projeção. As engastadas utilizam o estojo

rigidamente preso ao projétil. Já nas desengastadas, os elementos são introduzidos

no armamento separadamente (para armas leves é obsoleto).

Para cada parte do cartucho, a nota de aula apenas cita cada característica das

partes, sem entrar em detalhes, utilizando-se basicamente de figuras. Os estojos são

divididos em partes, como exposto na figura abaixo:

Fig. 7 Partes de um estojo.

Fonte: ESCOLA NAVAL, 2008, p. 16

Os projéteis são classificados quanto à fabricação, à forma e ao emprego.

Quanto à fabricação, os projéteis podem ser encamisados (com núcleo geralmente de

liga de chumbo revestido com uma camada de cobre e zinco); sem camisa (com

núcleo de liga de chumbo e estanho, ou outros metais); e balins, que são os projéteis

utilizados em cartuchos para arma de cano liso. Quanto à forma, os projéteis podem

ser:

− com ponta arredondada;

− com ponta ogival;

− pontiagudos;

Page 53: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

52

− bi ogivais; e

− especiais.

Já quanto ao emprego, podem ser comuns, traçantes, incendiárias ou

combinadas. Aqui, os conceitos se misturam com os de munições de guerra. Como

carece de aprofundamento em seus conceitos, a nota de aula da Escola Naval deixa

explicações ambíguas, que diferem de outras fontes de consulta.

Quando se analisa os conceitos de espoleta e propelente na nota de aula da

Escola Naval, percebe-se que a abordagem do assunto se resume a conceituar esses

elementos, não diferindo do que já foi levantado anteriormente neste capítulo.

3.6 SERVIÇO DE ARMAMENTO E TIRO (SAT) DA POLÍCIA FEDERAL

O SAT é uma seção da Academia Nacional de Polícia (ANP), órgão de

formação dos policiais federais no Brasil. A ANP é a responsável pela formação,

mediante ingresso por concurso público, de Delegado de Polícia Federal, Perito

Criminal Federal, Agente de Polícia Federal, Escrivão de Polícia Federal e

Papiloscopista. É constituído de disciplinas teóricas e operacionais, com o escopo de

desenvolver e aprimorar as competências necessárias a cada perfil profissional.

A matriz curricular engloba diversas disciplinas, dentre elas armamento e tiro,

que fica sob responsabilidade do SAT. Nesse escopo, o SAT confeccionou uma

cartilha sobre armamento e tiro, que é o material didático utilizado como ensino de

AMT naquela academia.

Nessa cartilha são abordados os assuntos “Armas de fogo” (suas partes e

classificações); “Calibre” (conceitual); “Munição” (conceitual e suas partes); “Normas

de segurança”; “Condutas no estande”; e o “Regulamento para aplicação dos testes

de capacidade técnica para o manuseio de arma de fogo”. Veremos aqui,

especificamente, o que é abordado sobre calibre e munição.

3.6.1 Calibre

Nesta cartilha, o autor conceitua calibre como sendo “Medida do diâmetro

interno do cano de uma arma. Nas armas de cano com alma raiada deve-se fazer

Page 54: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

53

distinção entre calibre real, calibre do projétil e calibre nominal.” (BRASIL, 2017, p. 6).

Assim temos:

− Calibre real: “É a medida do diâmetro da parte interna do cano de uma arma,

medido entre os cheios. É expresso em milímetros ou em fração de polegada.”

(BRASIL, 2017, p. 6);

− Calibre nominal: “É a dimensão usada para definir ou caracterizar um tipo de

munição ou arma designado pelo fabricante, nem sempre tendo relação com o calibre

real ou do projétil. É expresso em milímetros ou frações de polegada (...)” (BRASIL,

2017, p. 7); e

− Calibre do projétil: “É a medida do diâmetro interno do cano de uma arma

raiada, medido entre “fundos” das raias.” (BRASIL, 2017, p. 6).

Percebe-se que o autor, ao classificar os calibres como real e do projétil,

relaciona a medida ao cano da arma apenas, e não ao diâmetro do projétil. Já no

calibre nominal, ou seja, o nome do calibre, ele relaciona á finalidade comercial do

produto.

3.6.2 Munição

Na cartilha da SAT, o autor classifica munição como “Artefato completo, pronto

para carregamento e disparo de uma arma de fogo. Geralmente de dividem em: estojo,

espoleta, pólvora e projétil.” (BRASIL, 2017, p. 7). Cada parte da munição é

conceituada como se segue:

− Estojo: “É o componente de união mecânica do cartucho. O estojo possibilita

que todos os componentes necessários ao disparo fiquem unidos em uma única peça

(...).” (BRASIL, 2017, p. 7);

− Espoleta: “É um recipiente, localizado na base do estojo, que contém uma

mistura iniciadora, a qual gera uma chama no momento da percussão.” (BRASIL,

2017, p. 7);

− Pólvora: “É um tipo de propelente que, iniciado pela ação de uma chama,

causa a expansão de gases, arremessando o projétil à frente.” (brasil, 2017, p. 7); e

− Projétil: “de uma forma ampla, é qualquer corpo sólido passível de ser

arremessado. Em se tratando de munições, é a parte do cartucho que será lançada

através do cano. Pode ser chamado de bala ou ponta.” (BRASIL, 2017, pág 8).

Page 55: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

54

Neste capítulo, o autor aborda muito superficialmente a divisão de uma

munição. Ele também não diferencia munição e cartucho, apesar de citar no trabalho

as duas nomenclaturas. Assim, deduz-se que, na visão do autor, munição e cartucho

tem o mesmo conceito.

Aqui, ainda é abordado alguns tipos de projéteis, apenas citando, sendo:

Fig 8 Alguns tipos de projéteis. Fonte: Brasil, 2017, p. 8

Já ao abordar os tipos de munição, o autor é ainda mais simplista, abordando

apenas as munições de fogo circular, fogo central e cartuchos para armas de cano

liso. Não dá os conceitos de cada tipo, nem entra em detalhes, nem mesmo

introdutórios.

3.7 MANUAL DE ARMAMENTO E MANUSEIO SEGURO DE ARMAS DE FOGO

Este manual foi desenvolvido pelo Poder Judiciário, através do Tribunal de

Justiça do Estado do Amazonas (TJAM), com o intuito de instruir seus quadros

responsáveis pela segurança do órgão. Nele o autor aborda os assuntos de segurança

com arma de fogo, armas de fogo e sus classificações, munições e legislações

referentes a arma de fogo.

No assunto munição, o autor a conceitua como “o conjunto de cartuchos

necessários ou disponíveis para uma arma ou uma ação qualquer em que serão

usadas armas de fogo” (BRASIL, 2012, p. 9). Com maior número de detalhes nos

conceitos, o autor aborda a dinâmica da munição juntamente com os conceitos das

partes do cartucho:

O cartucho para arma de defesa contém um tubo oco, geralmente de metal,

com um propelente no seu interior; em sua parte aberta fica preso o projétil e

na sua base encontra-se o elemento de iniciação. Este tubo, chamado estojo,

Page 56: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

55

além de unir mecanicamente as outras partes do cartucho, tem formato

externo apropriado para que a arma possa realizar suas diversas operações,

como carregamento e disparo. O projétil é uma massa, em geral de liga de

chumbo, que é arremessada a frente quando da detonação, é a única parte

do cartucho que passa pelo cano da arma e atinge o alvo. Para arremessar o

projétil é necessária uma grande quantidade de energia, que é obtida pelo

propelente, durante sua queima. O propelente utilizado nos cartuchos é a

pólvora, que, ao queimar, produz um grande volume de gases, gerando um

aumento de pressão no interior do estojo, suficiente para expelir o projétil.

Como a pólvora é relativamente estável, isto é, sua queima só ocorre quando

sujeita a certa quantidade de calor; o cartucho dispõe de um elemento

iniciador, que é sensível ao atrito e gera energia suficiente para dar início à

queima do propelente. O elemento iniciador geralmente está contido dentro

da espoleta. (BRASIL, 2017, p. 9).

Observa-se que o autor utiliza uma sequência lógica na explicação, tornando-

se o entendimento fácil e prático. Após essa exposição, o manual cita o conceito e

destrincha cada parte do cartucho separadamente.

3.7.1 Projétil

Neste manual, projétil é conceituado como “qualquer sólido que pode ser ou foi

arremessado, lançado. No universo das armas de defesa, o projétil é a parte do

cartucho que será lançada através do cano.” (BRASIL, 2012, pá.10). Percebe-se que

ele não dá outros nomes ao projétil, como ponta ou bala. Fica de fácil entendimento

que tudo aquilo que possa ser arremessado pode ser considerado um projétil, mas

que, para armas de defesa, ele necessariamente será lançado pela arma, e sairá pelo

cano. Deixa claro que, qualquer outro sólido que seja, de alguma forma, lançado por

outra parte da arma que não seja o cano, não é considerado projétil. Como exemplo,

temos o estojo, que é ejetado pela lateral da arma de fogo, após acionado o gatilho.

Os projéteis podem ser classificados de acordo com o tipo de ponta, base e

material de confecção. Aqui, a ponta do projétil é literalmente a ponta, ou seja, a parte

anterior do projétil em relação ao seu deslocamento no ar. Já a base é a parte posterior

do projétil, que pelo estudo da aerodinâmica, dará uma maior estabilidade no voo do

corpo arremessado pela arma de fogo. Quanto ao material, os projéteis se classificam

Page 57: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

56

como sendo de liga de chumbo e os encamisados, que são os projéteis com núcleo

de liga de chumbo, revestidos por uma camada de liga metálica de cobre e zinco. A

seguir, exemplos de pontas de projéteis de chumbo:

Fig 9 Tipos de ponta de projéteis de chumbo. Fonte: BRASIL, 2012, p. 10

Os projéteis encamisados, “são projéteis construídos por um núcleo recoberto

por uma capa externa chamada camisa ou jaqueta. A camisa é normalmente fabricada

com ligas metálicas como: cobre e zinco; cobre, zinco e estanho ou aço.” (BRASIL,

2012, p. 11).

Existe ainda uma especificidade nos projéteis de destinação militar. Esses

projéteis têm desempenhos diferentes daqueles destinados ao esporte, à caça ou à

defesa pessoal. Assim, para cada finalidade, o projétil terá características físicas

específicas. “Os projéteis encamisados podem ter sua capa externa aberta na base e

fechada na ponta (projéteis sólidos) ou fechada na base e aberta na ponta (projéteis

expansivos). Os projéteis sólidos têm destinação militar.” (BRASIL, 2012, p. 11).

Page 58: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

57

Uma especificidade na ponta do projétil é a ponta oca, ou hollow point,

popularmente conhecido como “dum-dum”. Em linhas gerais, “destinam-se à defesa

pessoal, pois ao atingir um alvo humano é capaz de amassar-se e aumentar seu

diâmetro, obtendo maior capacidade lesiva.” (BRASIL, 2012, pág 11). Devido a essas

características, esse tipo de projétil foi proibido para uso militar pela Convenção de

Haia pelos Direitos Internacionais Humanitários (DIH), em 1899.

Cabe notar que o Brasil não é signatário da Declaração de Haia de 1899, mas

é signatário do Estatuto de Roma de 1998 (JARDIM, 2006, 1 v. p. 26), que

praticamente repete a dita declaração na alínea xix, inciso b), parágrafo 2 do artigo 8°,

que entende como crime de guerra “utilizar balas que se expandem ou achatam

facilmente no interior do corpo humano, tais como balas de revestimento duro que não

cobre totalmente o interior ou possui incisões” (JARDIM, 2006, 2 v. p. 23).

3.7.2 Estojo

O estojo foi uma importante criação para que as armas de fogo modernas

pudessem evoluir aos níveis atuais. Ele permitiu unir as outras partes do cartucho em

uma peça única, aumentando a cadência de tiro e facilitando o recarregamento da

arma.

Atualmente, leva-se muito em consideração o formato do estojo, pois as armas

modernas são idealizadas de forma a aproveitar as suas características físicas

(BRASIL, 2012, p. 12). Geralmente, o estojo é classificado quanto ao seu formato e

ao tipo de base, como se segue:

Fig 10 Classificação geral dos estojos quanto ao formato.

Page 59: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

58

Fonte: BRASIL, 2012, p. 12

Fig 11 Classificação geral dos estojos quanto à sua base. Fonte: BRASIL, 2012, p. 12

A base do estojo é importante para o processo de carregamento e extração,

sua forma determina o ponto de apoio do cartucho na câmara ou tambor (headspace),

além de possibilitar a ação do extrator sobre o estojo.

Fig 12 Classificação dos estojos quanto ao tipo de iniciação. Fonte: BRASIL, 2012, p. 12.

Além das classificações supracitadas, existem ainda diversos tipos de estojos

diferentes, seja pelo material ou pelo formato. Porém, o autor deste Manual não cita e

não dá importância, tendo em vista serem pouco usuais.

3.7.3 Propelente

No manual do TJAM, o autor aborda as características dos propelentes

superficialmente. Se limita a conceituar propelente como sendo “a fonte de energia

química capaz de arremessar o projétil a frente, imprimindo-lhe grande velocidade.”

Page 60: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

59

(BRASIL, 2012, p. 14). O propelente também é responsável pelo desempenho

balístico do projétil, imprimindo a pressão necessária para que o disparo ocorra em

segurança, aproveitando todo o potencial do armamento.

Dentro das características dos propelentes, também chamados de pólvoras,

encontramos duas misturas químicas bem peculiares: a pólvora negra e a pólvora

química. A pólvora negra “hoje é usada apenas em velhas armas de caça e réplicas

para tiro esportivo.” (BRASIL, 2012, p. 14). Já a pólvora química (ou pólvora sem

fumaça) “produz pouca fumaça e muito menos resíduos que a pólvora negra, além de

ser capaz de gerar muito mais pressão, com pequenas quantidades.” (BRASIL, 2012,

p. 14).

Dois tipos de pólvora sem fumaça são utilizados atualmente em armas de

defesa: a pólvora de base simples e a pólvora de base dupla. Segundo BRASIL (2012,

p. 14) a de base simples, fabricada a base de nitro celulose, gera menos calor durante

a queima, aumentando a durabilidade da arma. Já a pólvora de base dupla é

“fabricada com nitro celulose e nitroglicerina, tem maior conteúdo energético.”

(BRASIL, 2012, p. 14).

3.7.4 Espoleta

A espoleta é o dispositivo inicial do processo do tiro de uma arma de fogo,

relativo ao cartucho, que contém a mistura detonante e uma bigorna, utilizado em

cartuchos de fogo central (BRASIL, 2012, p. 15). Em seu interior encontra-se uma

mistura iniciadora, que ao ser pressionada gera calor, que passa para o propelente,

através de pequenos furos no estojo, chamados eventos.

Em alguns tipos de munição, a bigorna não faz parte da espoleta, e sim do

estojo. Em ambos os casos, a bigorna é uma parte fixa, e é a responsável por permitir

que a pressão dentro da cápsula da espoleta aumente, quando o percussor ou

percutor da arma de fogo atinja a base do copo da espoleta.

Dessa forma, o manual o TJAM classifica as espoletas em:

Page 61: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

60

Fig. 13 Tipos de espoleta e suas utilidades. Fonte: BRASIL, 2012, p. 15.

Verifica-se, nesse manual, que na formação dos agentes de segurança do

TJAM, eles possuem uma carga de instrução sobre munições, no que diz respeito aos

conceitos, bem como à introdução sobre armas de fogo, que aqui não foi explorado

por não ser o caso.

A abrangência desse manual denota-se maior que o verificado nas notas de

aula do Exército já apresentadas. Apesar de apresentar conceitos, por vezes, rasos,

o assunto acaba despertando o interesse nos alunos, permitindo que ele tire dúvidas

mais aprofundadas com o instrutor e fomentando a discussão em sala de aula.

3.8 MANUAL TM43-0001-27 DO EXÉRCITO AMERICANO

Page 62: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

61

O Exército americano (US Army) possui um manual técnico sobre munições de

armamentos leves denominado Army Ammunition Data Sheets for Small Caliber

Ammunition4 FSC 1305, edição de 1994.

Este Manual serve como “referência publicado como uma ajuda no

planejamento, treinamento, familiarização e identificação de munições de armas

leves, que vão dos calibres .22” a 30 mm, e munição de espingardas” (USA 1994, p.

1-1, tradução nossa).

O TM43-0001-27 não detalha as características gerais dos cartuchos, como as

partes, tipos de estojos, espoletas, propelentes e projéteis. Também não cita os efeitos

balísticos terminais dos diversos tipos de projéteis. Se atém a dar as características

técnicas das munições de dotação de seu Exército, como tamanho, peso, velocidade,

material etc.

Com a evolução e mudanças das dotações do US Army desde 1994, esse

manual se tornou obsoleto, já que ele não abordou as características gerais das

munições. Mesmo os cartuchos atuais possuem as mesmas configurações básicas

desde a criação do cartucho metálico, criado por Casimir Lefaucheux5, e por isso um

caderno de instrução sobre munições dificilmente se tornará obsoleto.

3.9 MANUAL RT 23-30: MANUAL DE TIRO DO EXÉRCITO DO URUGUAI

O Manual RT 23-30, do Exército do Uruguai, é a fonte de consulta utilizada para

a formação de oficiais e sargentos das respectivas escolas de formação, bem como

no corpo de tropa, referentes ao assunto armamento, munição e tiro. Pode-se dizer

que é o manual equivalente ao C 23-1: Tiro das Armas Portáteis do Exército Brasileiro.

Também é dividido em duas partes, sendo uma parte que trata sobre arma longa, e

uma parte que trata sobre arma curta, aos moldes do que acontece do C 23-1.

Na formação do oficial e sargento, o assunto munições é abordado com certa

abrangência, sendo dedicado um capítulo do RT 23-30. Basicamente, os tópicos

abordados são: partes de um cartucho e as referidas classificações; tipos de cartucho;

4 Caderno de dados de munições do Exército para munições de pequeno calibre. 5 Casimir Lefaucheux foi um armeiro francês (1802 - 1852). Pateteou o primeiro cartucho metálico, desenvolvido em 1828.

Page 63: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

62

e balística, explanando superficialmente os três ramos básicos da balística (interna,

externa e de efeitos).

3.9.1 Conceituação

O manual militar uruguaio inicia conceituando cartucho como sendo:

um conjunto rígido de elementos que, introduzidos na câmara de uma arma

de fogo portátil leve, pode materializar nela as características balísticas que

constituem a razão de existência da arma.6 (URUGUAY, 2015, p. 24, tradução

nossa)

Cabe ressaltar que o manual trata a arma de fogo e a munição como um único

sistema, ou máquina, que tem por objetivo arremessar um projétil em um alvo a

determinada distância. Esse conceito é interessante, e vai ao encontro do que os

teóricos do tiro tratam hoje como sendo o trinômio do tiro: o atirador, a arma de fogo

e a munição.

Ao tratar a arma de fogo e a munição como uma máquina, o manual relaciona

a uma máquina térmica, pois eles consideram que ao executar um disparo, a arma de

fogo está transformando energia térmica em energia mecânica. Este conceito, já

consagrado pelos estudos da física, se torna interessante neste caso por se tratar de

uma abordagem única em estudos que tratam sobre armamento, munição e tiro. Visto

por essa ótica, o manual demonstra que a eficiência desta “máquina” varia entre 30%

e 45%, o que seria superior a eficiência de motores de veículos automotores como

carros (motor de 4 tempos com eficiência de 20% a 25%) e motocicletas (14% a 18%).

3.9.2 Constituição do cartucho

6 “un conjunto rígido de elementos que, introducidos en la recámara de un arma de fuego portátil o

ligera, puede materializar en ella las características balísticas que constituyen la razón de existencia del arma.”

Page 64: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

63

Como pode-se notar em outros manuais, a constituição, ou partes, do cartucho

também são classificadas neste manual em quatro: espoleta, propelente, estojo e

projétil. A espoleta (cápsula) “es la encargada de dar fuego a la pólvora.”7. O

propelente (pólvora) “es la impulsora termodinámica de la punta.”8. O estojo (vaina)

“además de ser la portadora de la pólvora, de la cápsula iniciadora y de la punta, es

el vaso en el que se llevará a cabo la combustión de la pólvora y el seguro obturador

que cerrará el paso hacia atrás de los gases, dando la completa seguridad al tirador.”9

E o projétil (punta o proyectil) “el elemento encargado de realizar as balísticas”.

(URUGUAY, 2015, p. 25).

Quanto a classificação dos estojos, o manual não difere da classificação já vista

anteriormente em outros manuais supracitados. Já na classificação dos projéteis, um

detalhe ressalta aos olhos: o detalhamento do material empregado para a confecção.

É interessante tal abordagem, pois sabe-se que o material empregado influencia

diretamente no desempenho do projétil. Até mesmo as proporções utilizadas podem

causar diferença nos resultados. Um exemplo dado é o material utilizado para

confecção de projéteis de altas velocidades.

Quando se busca altas velocidades iniciais, a liga de chumbo (em antimônio)

é aumentada. Projéteis comuns blindados têm um invólucro que no início era

feito de aço niquelado ou cobre-níquel (60% de cobre e 40% de níquel), mas

por razões de economia o invólucro de latão 90/10 (encamisado) foi agora

imposto (90 de cobre e 10 de zinco), e de Bimetal (aço endurecido 90/10),

aço / latão leve.10 (URUGUAY, 2015, p. 26, tradução nossa).

Na classificação das espoletas, o manual não aborda as espoletas para

cartuchos de armas de cano liso. Nos demais termos e conceitos abordados, não

difere dauilo que já é tratadonos manuais citados anteriormente no corpo do trabalho.

7 “É a encarregada de queimar a pólvora.” (tradução nossa). 8 “É a impulsora termodinâmica da ponta.” (tradução nossa). 9 Além de ser a portadora da pólvora, da espoleta e do projétil, é o recipiente que levará a cabo a combustão da pólvora e não permitirá a saída dos gases por trás, dando segurança ao atirador. (tradução nossa). 10 Cuando se necesitan altas velocidades iniciales se aumenta la aleación del plomo (en antimonio). Las balas ordinarias blindadas llevan una envuelta que al principio era de acero dulce niquelado o de cuproníquel (60% de cobre y 40% de níquel) pero por razones de economía ahora se han impuesto la envuelta de latón 90/10 (encamisado) (90 de cobre y 10 de zinc), y de Bimetal (acero latonado 90/10), acero dulce/latón.

Page 65: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

64

Deste modo, o autor se abstém de registrar os conceitos, de forma a não se tornar

demasiado repetitivo.

Quando o manual aborda a classificação e conceituação das pólvoras, um

detalhe chama a atenção: o controle de velocidade da combustão. Esse aspecto é

importantíssimo na execução de um disparo de arma de fogo, pois irá influenciar

diretamente na precisão, velocidade e alcance do projétil na sua trajetória balística.

Apesar de não abordar as consequências, o manual aborda o porque da importância

de controlar a velocidade da combustão da pólvora. Esse controle efetivo pode ser

conseguido:

− por meio da composição química da pólvora;

− pela forma da superfície dos grãos da pólvora;

− quanto maior a superfície de combustão, maior a quantidade de gases

produzidos na unidade de tempo; e

− o efeito da pólvora será mais suave ou mais violento, segundo a relação da

superfície de combustão em relação ao volume do estojo.

3.9.3 Balística

Ao se tratar de balística o RT 23-30 aborda seus três ramos gerais de estudo:

a balística interna, a externa e a de efeitos, ou terminal.

Na balística interior, a atenção maior é dada á pressão exercida dentro do cano

da arma de fogo, do momento em que ocorre a percussão da espoleta, até o momento

em que o projétil abandona a boca do cano da arma. Temos que:

As pressões no quarto ocorrem de forma totalmente paralela à combustão

progressiva da pólvora e consequente aumento da produção de gases. Este

é o principal fator. A pressão para se desenvolver não deve exceder o que a

arma é capaz de resistir. Os materiais de uma arma devem suportar a pressão

normal do disparo do cartucho e, a propósito, uma sobrepressão de 25% a

mais que o normal. A pressão na câmara de uma arma é determinada por

uma série de fatores, tais como: o tipo de pólvora; a quantidade de pólvora; a

densidade de carga; e a ponta, seu peso, seu material, sua forma e

Page 66: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

65

comprimento, o calibre, a passagem do arranhão, a importância do próprio

cartucho, seu assento na culatra, seu próprio desenho, seus suportes, o nível

de fixação, dimensionamento e controles em sua fabricação. Mas o

desenvolvimento de pressão excessiva sobre uma arma, no momento do

disparo, de tais efeitos perigosos, pode, por um ligeiro excesso de carga do

pó em um cartucho, ser a causa de um grave acidente.11 (URUGUAY, 2015,

p. 36, tradução nossa).

Já a balística exterior “es, en síntesis, el estudio del movimiento del proyectil o

punta en la atmósfera, desde que abandona el ánima hasta que alcanza el blanco.”12

(URUGUAY, 2015, p. 36). A trajetória do projétil no ar, desde que sai da boca do cano

da arma até encontrar o alvo, sofre diversas influências do meio. Uma das mais

significativas é a resistência do ar e a deformação que o projétil causa durante a sua

trajetória. Essa resistência e deformações do ar, dependerão do formato do projétil,

das suas dimensões, da sua velocidade e do seu trajeto. Os estudos da física que

lidam com a mensuração dessas variações são extremamente complexos, porém, a

partir de experimentos já realizados e publicados, pode-se afirmar algumas situações

em relação à resistência do ar:

a. Para um determinado projétil e velocidade, a resistência é proporcional à

densidade do ar.

b. Com projéteis do mesmo tipo e calibre diferente, no mesmo meio a

resistência é proporcional à sua densidade seccional (razão entre o peso do projétil e

o perímetro de sua secção máxima).

c. Para projéteis do mesmo peso e calibre, mas de tipo diferente, a resistência

é proporcional ao chamado coeficiente de forma.

11 Las presiones en la recamara, transcurren en forma totalmente paralela a la progresiva combustión de la pólvora y subsiguiente producción creciente de gases. Este es el factor primordial. La Presión a desarrollar no debe exceder a la que el arma es capaz de resistir. Los materiales de un arma deben soportar la presión normal del disparo del cartucho e incidentalmente una sobrepresión del 25% superior a lo normal. La presión en la recamara de una arma esta determinada por una serie de factores tales como: El tipo de Pólvora; La cantidad de Pólvora; La densidad de carga; La punta, su peso, su material, su forma y longitud, el calibre, el paso del rayado, la importancia de la propia vaina del cartucho, su asiento en la recámara, su propio diseño, sus apoyos, la cota de fijación, el dimensionado y los controles en su fabricación. Pero el desarrollo de una presión excesiva en un arma, en el momento del disparo, de tan peligrosos efectos, puede, por un ligero exceso de carga de la pólvora en un cartucho, ser causa de un serio accidente. 12 É, em síntese, o estudo do movimento do projétil ou ponta na atmosfera, desde que abandona a arma até alcançar o alvo.

Page 67: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

66

d. Para qualquer projétil, a resistência do ar é proporcional a uma determinada

função da velocidade.

Dessa forma, para obtermos projéteis que sofram menos influência da

resistência do ar, através de cálculos matemáticos complexos se chega a um

coeficiente balístico. Graficamente, podemos representar esse coeficiente de forma

crescente na figura abaixo:

Fig 14 Projéteis com coeficientes balísticos crescentes.

Fonte: URUGUAY, 2015, p. 38

Na balística de efeitos, ou terminal, o RT 23-30 não explora o assunto de forma

a apenas citar alguns pontos causados pelo efeito do projétil no alvo, como a

penetração, perfuração, dispersão do tiro e deformação do projétil. Um dos assuntos

mais polêmicos não é abordado, o poder de parada.

3.10 M211 - MANUAL DE ELEMENTOS DO ARMAMENTO DO EXÉRCITO

PORTUGUÊS

A Academia Militar, escola de formação de oficiais do Exército português,

possui o Manual M211 - Manual do Aluno: Elementos do armamento, que trata sobre

munição e armamentos leves. Tem a finalidade de “actualizar os conteúdos, incluir

novas tecnologias que estejam já consolidadas e trazer algum rigor às matérias

ministradas no âmbito do armamento geral e em particular, nas armas ligeiras.”

(SANTOS, 2011).

A importância de estudar a munição se dá pelo fato de que “Para se estudar

devidamente uma arma portátil deve examinar-se primeiramente os seus projécteis

Page 68: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

67

(...)” (SANTOS, 2011, p. VI - 1). Para denominar as partes de um cartucho, O M211

classifica da seguinte forma:

− A bala ou projéctil;

− O invólucro, estojo ou caixa;

− A escorva, cápsula ou fulminante; e

− A carga.

Verifica-se que esta divisão das partes de um cartucho é matéria consolidada

na teoria sobre munições. Por mais que as munições de armamentos leves possuam

características diversas, e estejam em constante evolução, não se visualiza uma

configuração diferente, a curo prazo, para confecção de munições. Obviamente que,

com a demanda por diferentes objetivos de guerra, o armamento individual do

combatente pode demandar especificidades diferentes para cumprimento de

determinadas missões em um combate, e consequentemente, munições com

configurações diferentes, ou até mesmo a ausência delas (no caso de disparos de

ondas do espectro eletromagnético).

3.10.1 Projéteis

Para a classificação dos projéteis, deve-se levar em conta, além das

características já vistas ao longo do trabalho, as qualidades estáticas e dinâmicas dos

projéteis. Segundo SANTOS, 2011, as qualidades estáticas do projétil são resultantes

das variações de sua forma, peso, comprimento, composição e calibre. Já as

qualidades dinâmicas dizem respeito à balística, envolvendo a natureza, carga e força

viva dos projéteis.

Uma das características estáticas dos projéteis, a sua composição, é

particularmente importante na evolução dos projéteis e dos armamentos leves.

Inicialmente, os projéteis eram compostos unicamente de chumbo, ou uma liga de

chumbo com outros metais. Com o passar dos anos e das guerras, as munições foram

alcançando maiores velocidades e alcances. Quando as primeiras munições mais

velozes começaram a alcançar velocidades acima de 400 m/s, percebeu-se que as

elevadas temperaturas envolvidas no processo do tiro causavam uma maior

maleabilidade do chumbo, ficando resíduos no cano da arma, principalmente nos

Page 69: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

68

fundos do raiamento. Esse fenômeno foi denominado chumbamento, e para amenizar

o problema, desenvolveu-se um invólucro para o projétil, de forma a evitar sua

deformação e proteger o cano da arma. Inicialmente de papel, esse invólucro passou

a ser denominado de camisa, e atualmente é, em sua maioria, feito com uma liga latão

(diferentes proporções de cobre, estanho, zinco e/ou arsênio)

Quanto aos calibres dos projéteis, o Manual M211 afirma que está

estreitamente ligado ao seu peso. É importante frisar que o projétil deve ter um

diâmetro ligeiramente maior que o diâmetro do cano da arma entre os cheios das

raias, para permitir que o projétil se agarre às raias e realize o movimento de rotação

em torno de seu próprio eixo transversal. Essa diferença admissível varia de 0,2 a 0,3

mm.

3.10.2 Estojo

O estojo, chamado no M211 de invólucro, deve reunir condições para que

permita aguentar a pressão gerada na queima da pólvora, e sua perfeita extração

após o disparo do tiro. Seu diâmetro deve ser ligeiramente menor que o diâmetro da

câmara da arma, para permitir a expansão do estojo durante a pressão exercida na

queima do propelente, e para que ele possa ser extraído da arma sem ficar preso na

câmara, após o disparo do projétil.

Assim, classifica-se o estojo quanto às sua forma e à sua composição. Para

seguir essas características, o latão (liga metálica) deve ser maleável e resistente, a

ponto de aguentar grandes pressões. Existem ainda estojo de materiais diversos,

como plástico (para treino) e aço, como utilizado pelos alemães na II GM, quando os

meios para liga de latão estavam escassos devido à guerra.

3.10.3 Espoleta

Também chamada no M211 como escorva e fulminante, “é o nome dado ao

artifício destinado a produzir a inflamação da carga e consta de um pequeno vaso

Page 70: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

69

metálico chamado cápsula” (SANTOS, 2011, p. VI - 5). A espoleta é composta por um

guarda cápsula, uma contra cápsula, uma bigorna, a cápsula fulminante e a matéria

detonantes.

Fig. 15 Partes de uma espoleta. Fonte: SANTOS, 2011, p. VI - 5.

A contra cápsula é uma caixa cilíndrica, fechada anteriormente e aberta

posteriormente, onde forma um rebordo para se adaptar num rebaixo do seu

alojamento na base do cartucho. No fundo estão abertos os canais da inflamação. A

bigorna é uma pequena peça de latão achatada e contra a qual se esmaga a

composição fulminante. Tem dois ressaltos que se apoiam nos bordos da cápsula (tipo

Boxer) de forma que a ponta fique afastada da matéria detonante. Em alguns modelos

o próprio fundo da contra cápsula, recurvado, forma a bigorna (tipo Berdan). Os canos

das armas têm uma tendência grande para enferrujar depois de terem feito fogo.

Atribui-se muitas vezes o facto aos gases produzidos pela combustão da carga, o que

é falso, pois é devido aos produtos da combustão da matéria detonante que se

depositam no cano, que absorvem a humidade e originam a oxidação do metal

adjacente. Estes produtos são, em geral, solúveis na água, de modo que um dos

melhores processos de evitar a ferrugem consiste em, após o tiro, lavar o cano com

água, enxugando-se depois cuidadosamente.

3.10.4 Propelente

Propelente, ou carga, “é o nome que se dá à porção de substância explosiva

que se introduz no invólucro para dar movimento ao projéctil.” 9SANTOS, 201, p. VI -

6). É a queima do propelente, transformando-o do estado sólido para o gasoso,

Page 71: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

70

responsável por imprimir uma grande pressão no interior do estojo, dilatando-o e

expulsando o projétil. Para isso, a carga deve satisfazer a um conjunto de condições,

descritas a seguir:

− dar lugar a pressões e velocidades regulares e iguais;

− ter grande potência balística;

− ter uma fraca força expansiva;

− funcionar a uma temperatura relativamente pouco elevada;

− possuir fraco poder corrosivo e não originar gases deletérios;

− não ser higroscópica;

− ser de inflamação rápida e segura;

− ser de combustão progressiva;

− não dar origem nem a fumaça nem a resíduos;

− ser de conservação fácil;

− ser estável, isto é, não se alterar sob a ação do clima, dos corpos ou metais

com que está habitualmente em contato;

− ser de fácil fabricação;

− poder ser transportada e armazenada sem perigo;

− ser seguro o seu emprego; e

− ser de fraco custo e utilizar ingredientes que se possam obter sem dificuldade

em tempo de guerra.

Em geral, e diferentemente de outros manuais, o M211 classifica as pólvoras

em dois tipos apenas: as nitroglicéricas e as nitorcelulósicas. As primeiras podemos

englobar as pólvoras de base dupla e tripla, pois contém nitroglicerina. Já as

nitrocelulósicas são as de base simples, que contém apenas nitrocelulose, como

sugere o nome.

3.10.5 Munições especiais

As munições com características especiais surgiram frente à necessidade de

anular certas vantagens obtidas em combate, principalmente por proteções blindadas

e pelo caráter dos combates decisivos migrarem para o ambiente urbano. Assim, viu-

Page 72: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

71

se a necessidade de se obter munições que fossem capazes de transfixar blindagens,

muros e veículos, a fim de neutralizar essas ameaças e permitir o avanço das tropas

no terreno. Assim, foi dado ao combatente de infantaria, a capacidade enfrentar num

primeiro embate, aquelas proteções inimigas. Dessa forma, foram sendo criados

diversos projéteis com características especiais para a guerra, tais quais:

− Cartucho com projétil perfurante;

− Cartucho com projétil com traço luminoso (traçante);

− Cartucho com projétil mista (traçante e perfurante);

− Cartucho com projétil incendiário;

− Cartucho com projétil explosivo; e

− Cartucho com projétil expansivo.

3.11 A EVOLUÇÃO DA MUNIÇÃO: BREVE HISTÓRICO

Antes do século XVIII, os cartuchos para armas de fogo tinham uma

configuração, naturalmente, bastante rústica, pois suas partes eram separadas.

Alimentava-se a arma pela boca do cano, colocando o chumbo a ser disparado e a

pólvora negra como impulsionador dos projéteis. Por sua vez, a pólvora era queimada

por um iniciador, que inicialmente se caracterizava por um pavio, geralmente na parte

de trás do cano. Ao executar um disparo, o atirador teria que limpar o cano, e executar

todo o processo de carregamento e acendimento do pavio novamente.

Visando aumentar a cadência de tiro da arma de fogo portada pelo soldado na

batalha, criou-se um meio de unir as partes que compunham o lançamento do projétil,

criando-se o cartucho. Inicialmente, atiradores tiveram a ideia de levar, em um

pequeno embrulho de papel, a quantidade correta de pólvora e projéteis, para que

pudessem introduzir no cano do armamento. Isso evitava que o soldado, no fragor da

batalha, errasse na quantidade de pólvora e sofresse um acidente de tiro. Essa

evolução do cartucho corrobora com a criação do fuzil de pederneira, onde o pavio

era acendido por fricção de peças do armamento, acionado pelo gatilho. Porém, a

espoleta ainda não estava unida no cartucho.

Page 73: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

72

Fig. 16 arma com ignição de pederneira. Fonte: BRASIL, 2017, p. 11

Com o advento da revolução industrial, entre o final do século XVIII e início do

século IX, a produção de armas de fogo se torna mais padronizada e em larga escala.

Surge o primeiro cartucho que une todos os elementos (projétil, pólvora e espoleta),

feito de papel. Concomitantemente, armas de fogo produzidas em escala padronizam

calibres e criam reservatórios de cartuchos capazes de alimentar as armas sem a

necessidade de intervenção do atirador. Porém, muitos acidentes ainda aconteciam,

pois, o cartucho de papel era muito suscetível às intempéries do tempo.

Podemos marcar como divisor de águas na história dos cartuchos o ano de

1828, quando um armeiro francês, Casimir Lefauchaux, patenteia o cartucho metálico

criado por ele. Por ser de material mais resistente, o novo cartucho permitia uma maior

carga de pólvora, em conseguinte também uma maior pressão, imprimindo mais

velocidade e precisão no disparo dos projéteis. O cartucho de Lefauchaux possuía as

mesmas configurações dos cartuchos de armas leves atuais, constando de projétil,

estojo, pólvora e espoleta. Pode-se observar, na figura a seguir, a configuração

semelhante à dos cartuchos atuais.

Page 74: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

73

Fig. 17 Cartuchos metálicos de Lefauchaux, com percussão em pino lateral. Fonte: BRASIL, 2017, p. 10

Apesar da evolução da munição e do armamento, muitos exércitos ainda

utilizavam rifles de ante carga, que eram alimentados pela boca do cano. Isso trazia

problema, pois o projétil a ser disparado tinha que ter exatamente o mesmo diâmetro

do cano da arma. Essa medida deixava o processo de recarga mais lento, pois o

atirador sentia uma maior dificuldade em introduzir o projétil até o final do cano.

A inadequação da munição para rifles de ante carga permaneceu até 1849,

quando um capitão do exército francês, de nome Claude Minié, inventou o que

passaria a ser conhecido como “bala Minie” (Minie bullet ou Minie ball – fig 9), um

projétil de forma cônica e cuja principal inovação era a base oca e um diâmetro

ligeiramente inferior ao calibre da arma. A ideia de funcionamento era que, ao ser

efetuado o disparo, os gases da combustão preencheriam a concavidade existente na

base do projetil e afastariam as paredes laterais, forçando-as contra as raias e selando

a alma. Isso garantiria máxima eficiência da munição, ao mesmo tempo em que

facilitava em muito o carregamento pela boca (DI MAIO, 1999, p. 25).

Fig. 18 Desenho esquemático de um projétil Minnié.

Page 75: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

74

Fonte: DI MAIO, 1999, p. 25

A partir do final do século XIX os exércitos pelo mundo começaram a produzir,

em escala, as armas de seus próprios exércitos, bem como a munição para elas:

Em 1846, o cartucho projetado por Casimir foi aperfeiçoado pelo seu

conterrâneo M. Houiller, que desenvolveu um novo cartucho, agora

inteiramente feito de latão, mas mantendo a ideia de Lefaucheux quanto ao

sistema de ignição. Em 1858, os revólveres do sistema Lefaucheux foram

adotados pelo Governo Francês, tornando-se assim os primeiros cartuchos

de metal a serem utilizados militarmente por um governo. (NETO, 2012)

Porém, durante a Primeira Guerra Mundial, os países se viram na situação de

formar alianças, e surgiu a necessidade de compartilhar sistemas de armas e

munições. Iniciou-se uma padronização de calibres, e o estudo das munições de

armamentos leves visando uma vantagem do poder de fogo individual da infantaria

sobre o inimigo.

Após o término da Segunda Guerra Mundial, com o surgimento da Organização

das Nações Unidas (ONU), os países aliados e signatários trataram vastos acordos,

dentre eles alguns armamentistas de apoio mútuo. Nesse contexto, em 1949 foi criada

a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), com o objetivo de criar um

sistema de defesa coletivo entre países aliados. Esse tratado padronizou, para seus

membros, o calibre de projétil ideal, visando facilitar a logística em uma situação de

conflito armado com forças aliadas. Foram definidos como calibre OTAN o

7,62mmx51, o 5,56mmx45 e o 9mmx19.

Atualmente, exércitos pelo mundo ainda fazem estudos para adotar o calibre

que dê melhores condições para o soldado no campo de batalha, atendendo às

necessidades de mobilidade, flexibilidade e letalidade. Como exemplo, os exércitos

dos países da OTAN procuram adotar um calibre intermediária entre o 7,62mm e o

5,56mm, sendo o 6mm utilizado já por algumas tropas do exército dos Estados Unidos.

3.12 TRABALHO SOBRE ADEQUAÇÃO BALÍSTICA PARA O EB

No ano de 2015, o 1º Tenente de Cavalaria Leonardo Fábio Dornelles Acosta,

da reserva não remunerada (R-2) do EB, escreveu um artigo sobre a adequação

Page 76: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

75

balística do armamento leve da tropa de cavalaria. O trabalho foi realizado para

subsidiar o Estado-Maior do EB quanto a um levantamento que estava sendo

realizado, para estudar quais tropas do Exército deveriam utilizar o fuzil calibre

7,62mm NATO e quais deveriam utilizar o fuzil calibre 5,56mm NATO.

Em seu trabalho sobre a adequação de calibres para o EB para as tropas de

cavalaria, ele descreve como é importante o constante desenvolvimento de cartuchos

que se adaptam melhor às condições de batalha. Isso mostra que, historicamente,

existe uma evolução nos calibres e na forma das partes de um cartucho para que o

soldado possua melhores condições de combate.

Segundo Acosta, desde a Segunda Guerra Mundial (II GM) existem estudos

que buscam “o desenvolvimento de Fz menores (sic) com soldados carregando maior

quantidade de munição”. Concomitante a isso, a munição deve possuir também poder

de letalidade suficientemente útil no combate aproximado nas diversas dimensões do

campo de batalha.

Acosta nos conta, ainda, que durante a II GM as tropas norte americanas

observaram a maior eficiência do cartucho que estava sendo usado, à época, pelas

tropas alemãs, o 7,9mm Kurz, e pelas tropas soviéticas, o 7,62mmx39, utilizado com

o fuzil de assalto Kalashnikov. Nesse contexto, o US Army decidiu montar um comitê

para analisar a proposta de um novo cartucho e, consequentemente, um novo fuzil,

que atendessem às demandas que a evolução do combate exigia.

Porém, apenas em 1953 os países aliados às Nações Unidas adotaram um

novo calibre: o 7,62x51 padrão OTAN. Com essa evolução de cartucho, o Exército

dos Estados Unidos desenvolveu, para este calibre, o seu fuzil de assalto Colt M14,

mais leve que o antigo M1 Garand .30-06, e com maior capacidade de tiros por minuto.

Já na campanha do Vietnã, o exército americano utilizou um calibre considerado mais

versátil, o 5,56mmx45 OTAN, com projétil mais leve e de maior velocidade. O fuzil Colt

M14 evolui então para o M16, dando ao soldado maior velocidade e flexibilidade no

combate aproximado.

No trabalho realizado por Acosta, ele demonstra, valendo-se de testes

realizados em campo, que a simples mudança do tipo de munição em um mesmo

armamento pode causar efeitos diferentes no campo de batalha:

Page 77: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

76

Pequenos testes realizados no âmbito de algumas OM no CMS por ocasião

de Estágios de GLO, empregando a 7,62 x 51 mm e 9 x 19 mm, temos

demonstrado que a SIMPLES TROCA DA MUN utilizada muda

completamente o efeito balístico, e que, com o mesmo armamento de

dotação, podemos cumprir as mais diversas missões impostas à F Terr. Em

um mesmo Fz e Pst, utilizando-se da munição adequada para a missão

imposta, podemos manter a capacidade de neutralização de alvos com o

mínimo de dano colateral, mantendo as características de emprego da Tropa.

(ACOSTA, 2015)

3.13 CALIBRES

O calibre é a “medida do diâmetro interno do cano de uma arma. Nas armas de

cano com alma raiada deve-se fazer distinção entre calibre real, calibre do projétil e

calibre nominal.” (BRASIL, 2017, p. 7). A maioria dos autores cita dois tipos de

calibres: o calibre real e o calibre nominal. Porém alguns ainda acrescentam a variante

calibre do projétil. O calibre real é “medido na boca do cano, corresponde ao diâmetro

interno da alma do cano, sendo, portanto, uma grandeza concreta.” (TOCCHETTO,

2013, p. 103). Essa medida é realizada entre as partes “cheias das raias de um cano,

ou seja, é o diâmetro que existe antes do cano ser raiado. Já o calibre nominal, “é

sempre designativo de um tipo particular de munição e da arma na qual este tipo de

munição deve ser usado corretamente.” (TOCCHETO, 2013, p. 104). Já o calibre do

projétil, “é a medida do diâmetro interno do cano de uma arma raiada, medido entre

‘fundos’ das raias.” (BRASIL, 2017, p. 8).

Page 78: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

77

Fig. 19 Esquema de corte transversal do cano raiado de uma arma de fogo. Fonte: BRASIL, 2017, p. 15

A partir desses conceitos, verificamos que o diâmetro do projétil é ligeiramente

maior que o diâmetro do cano da arma de fogo. Isso permite que o projétil, em sua

trajetória no interior do cano, se “agarre” às raias do cano, permitindo que ele obtenha

um movimento giratório em torno de seu próprio eixo. Ao abandonar o cano da arma

com um movimento giratório, o projétil adquire maior estabilidade no seu voo,

permitindo um desempenho balístico superior.

Quanto às medidas dos calibres, que dão nome inclusive ao armamento e à

própria munição, existem alguns padrões seguidos internacionalmente. Basicamente,

os sistemas de medição utilizados são: o sistema métrico; o sistema imperial; e o

sistema misto.

No sistema métrico o diâmetro do projétil é designado em milímetros,

acompanhado pelo tamanho do estojo do cartucho separados por um “x”. Geralmente

são seguidos pelo nome do fabricante, a abreviatura de milímetros “mm”, nome do

inventor da munição e outras variações. Ex.: 7,62x51mm, 9x19mm Parabellum,

5,56x45mm NATO. Em cartuchos com características especiais, podemos ter ainda a

nominação seguida das letras “R”, que significa rimmed, ou com aro; e “+ P” ou “+ P

+”, que significa poder, ou uma carga maior de pólvora.

No sistema imperial o diâmetro do projétil é designado em frações de

polegadas, representados por um ponto seguidos do valor, omitindo-se, assim, o zero

à esquerda. Geralmente também são seguidos pelo nome do fabricante ou inventor

Page 79: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

78

do calibre. Ex.: .50 Browning, .38 S&W, .223 Remington, .308 Winchester. Em

cartuchos com características especiais podemos ver ainda: AUTO, cartucho para

pistola; SPL, cartucho special com mais energia; MAGNUM, projétil que ultrapassa

720 m/s de velocidade; BELTED, cartucho cinturado; dentre outros.

No sistema misto, além de apresentar as características dos sistemas

anteriores, designa o diâmetro do projétil em fração de polegadas, com ou sem o

ponto, seguido do peso da carga de pólvora em Grains (Gr), separados por um traço.

Pode vir seguido do nome do fabricante, do inventor do calibre, etc. Ex.: .32-20

Winchester, .30-30 Winchester. Em suma, nesse sistema admite-se todas as outras

formas de denominação, de acordo com quem cria ou produz a munição.

Na notação de cartuchos observa-se que cartuchos que possuem projéteis com

o mesmo diâmetro real, apresentam nomes diferentes. Para armas de fogo que

possuem o mesmo calibre real podemos encontrar diversos cartuchos com calibre

nominal diferentes. Assim, temos que as munições 9mm Parabellum, 9mm Browning

(ou short), .380 AUTO, e .357 Magnum, por exemplo, são todas com projéteis de

diâmetro entre .355 e .357 polegadas. O que se costuma diferenciar é o peso do

projétil, a quantidade de propelente, o tamanho do estojo, ou simplesmente um projeto

de marketing da fabricante. Para se aferir o diâmetro real de um projétil, deve-se

utilizar uma ferramenta chamada micrômetro, capaz de realizar medições em

pequenas dimensões.

3.13.1 Calibre em armas de cano liso

Para munições de armas de cano liso, o calibre é medido tomando-se uma

perfeita esfera de chumbo, com massa de uma libra (0,453 Kg.), obtendo o calibre 1.

Seguindo o mesmo raciocínio, se fracionarmos aquela esfera de chumbo (com uma

libra de peso) em 12 partes iguais e dessas partes fazermos esferas idênticas, o

diâmetro de cada uma dessas 12 esferas resultantes será o calibre 12. Assim também,

fracionando-se a mesma esfera (com massa de uma libra) em 28 partes e fazendo

com essas partes 28 esferas iguais, o diâmetro de cada uma delas nos daria o calibre

28. Isso explica porque, neste sistema, quanto maior é o número que exprime o

calibre, menor é seu diâmetro, ou seja, o calibre 28 é menor que o 12.

Page 80: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

79

Nesse contexto, esse tipo de medida nos fornece um equivalente em

milímetros, como pode-se observar a seguir:

Calibre

(Gauge)

Diâmetro do

cano (mm)

12 18,2 - 18,6

16 16,8 - 17,2

20 15,6 - 16,0

24 14,7 - 15,1

28 14,0 - 14,4

32 12,75 - 13,15

36 10,414

Fig. 20 Relação entre o calibre Gauge e o diâmetro do projétil em mm Fonte: BRASIL, 2017, p. 31

O calibre de munições e armas de cano de alma lisa não são medidos de

acordo com os padrões de sistemas formais de medição internacional. Ele utiliza um

padrão de medição numérica de espessura ou pressão de materiais ou gases,

chamado Gauge (em homenagem ao seu inventor). Assim, uma espingarda calibre

12 na verdade possui calibre 12 Ga (doze gauge).

Outra particularidade da medição de calibre é o das espingardas. As

espingardas podem ter um estreitamento na parte anterior do cano, chamado de

choke (ou choque), “com a finalidade de produzir melhor agrupamento dos chumbos,

visando a obtenção de maior alcance e precisão no tiro.” (TOCCHETTO, 2013, p. 121).

Esse coque se apresenta de diversas formas, mas a maioria dos autores classifica-o

em três categorias gerais: choque pleno; choque modificado; e choque cilíndrico.

Outros tipos de choque mesmo comuns, são utilizados em armamentos para

caçadores esportivos e atletas de tiro, com a finalidade de uma maior precisão para

fins específicos. A figura a seguir ilustra com clareza a diferença entre esses três tipos,

sendo os mais utilizados para fins militares, policiais e comercial geral:

Page 81: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

80

Fig. 21 Tipos de choque e suas finalidades. Fonte: BRASIL, 2017, p. 31

Podemos observar pela figura que para cada tipo de choque, existe um

intervalo de utilização onde o tiro será aproveitado com maior precisão e

concentração. O choque pleno, por possuir uma precisão melhor para maiores

distâncias, geralmente é utilizado para caça e esporte. O choque modificado, por ter

uma precisão melhor em nível intermediário, é mais utilizada no meio militar e policial.

Já o choque cilíndrico é mais indicado para defesa pessoal, para utilização com

munição menos letal e dispersão de motins e turbas.

3.14 BALÍSTICA

Nesse estudo é abordado o ramo da balística de uma forma superficial, tendo

em vista que o Caderno de Instrução proposto também aborda o tema

superficialmente. O objetivo é levar ao militar os conceitos e efeitos básicos da

balística das munições de armamentos leves.

“Balística é a ciência e arte que estuda integralmente as armas de fogo, o

alcance e a direção dos projetis por ela expelidos e os efeitos que produzem.”

Page 82: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

81

(ALBARRACIN apud TOCCHETTO, 2013, p. 22). Esses efeitos são “o conjunto de

forças que atuam em um corpo durante sua trajetória.” (BRASIL, 2005, p. 39). A

trajetória do projétil segue desde o interior do cano da arma de fogo, passando pelo

meio em que se propaga após sair da “boca” do cano até atingir o alvo. Ainda no alvo

o projétil percorre uma trajetória, que só termina quando toda a sua energia cinética

estiver sido dissipada.

Para cada parte da trajetória do projetil a balística dedica um estudo específico.

Assim, segundo TOCCHETTO (2013) a balística pode ser dividida em: balística

interna, balística externa e balística dos efeitos. Por ser um conceito extremamente

técnico, alguns autores podem elencar outras subdivisões.

A balística interna é o estudo mais direcionado para a arma de fogo, já que

nesse momento o projétil encontra-se recebendo a energia proveniente da queima da

pólvora, bem como sofrendo os efeitos do cano da arma de fogo. Tecnicamente, é

assim conceituada:

Conhecida também como balística interior, é a parte da balística que estuda

a estrutura, mecanismos e funcionamento das armas de fogo e a técnica do

tiro, bem como os efeitos da detonação da espoleta e deflagração da pólvora

dos cartuchos, no seu interior, até que o projetil saia da boca do cano da

arma. (TOCCHETTO, 2013, p. 22)

A balística externa estuda a trajetória do projetil fora da arma. É muito

importante para o meio militar pois analisa o alcance útil, o alcance máximo e o

alcance com precisão do projétil até o alvo. Seu estudo se baseia em diversos ramos

da física, e demanda complexos conceitos matemáticos. Para um conceito mais

técnico:

Balística externa ou balística exterior estuda a trajetória do projetil, desde que

abandona a boca do cano da arma até a sua parada final. Analisa as

condições do movimento, velocidade inicial do projetil, sua forma, massa,

superfície, resistência do ar, a ação da gravidade e os seus movimentos

intrínsecos. (TOCCHETTO, 2013, p. 23)

Page 83: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

82

A balística dos efeitos foca seu estudo no efeito que o projétil causa em seu

alvo. Como o alvo pode ser qualquer coisa, os efeitos balísticos de efeitos em alvos

humanos são os que mais interessam no estudo de munições de armamentos leves.

Porém, dependendo da finalidade do armamento e da munição utilizados, os efeitos

balísticos em metais, alvenaria ou blindagens também são levados em considerações.

Tecnicamente se conceitua balística terminal como:

Também denominada como balística terminal ou balística do ferimento,

estuda os efeitos produzidos pelo projetil desde que abandona a boca do

cano até atingir o alvo. Incluem-se, neste estudo, possíveis ricochetes,

impactos, perfurações e lesões internas ou externas, nos corpos atingidos.

(TOCCHETTO, 2013, p. 23)

3.14.1 O poder de parada (Stopping power)

Quando abordamos os efeitos causados pelos projéteis em alvos vivos, um

termo controverso é muito utilizado para classificar os projéteis: o poder de parada,

ou em vernáculo inglês, o stopping power. Segundo TOCCHETTO (2013), o poder de

parada é simplesmente a capacidade que o projétil possui, durante o impacto, de

incapacitar uma pessoa ou um animal, instantaneamente, impedindo que continue a

fazer o que estava fazendo no momento do impacto. Ele considera esse instante

sendo o intervalo de até dois segundos após o impacto.

Essa incapacitação “instantânea” citada por TOCCHETTO pode ser

complementada, ainda:

Interrupção imediata da agressão em curso, sem que outro tiro, estocada ou

pancada fosse desferida. Se o suspeito estivesse correndo, deveria, além

disso, cair num espaço de três metros de onde recebeu o tiro, considerando

como sendo o impacto no tronco. (MARSHAL apud ACOSTA, 2015, p. 21)

É interessante verificar que a incapacitação não é necessariamente a

neutralização do alvo, ou seja, a ameaça deverá ser cessada com apenas um disparo.

Isso pode acontecer, por exemplo, caso a ameaça fique inconsciente por algum

Page 84: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

83

tempo, permitindo ao agente ameaçado imobilizar a ameaça e controlar a situação

sem risco de morte ou agressão.

Dentro dos esforços para se quantificar o poder de parada de uma forma

simples, para facilitar as comparações e a escolha da munição, destaca-se o trabalho

do General Julian Hatcher, do Exército norte-americano, que, entre 1927 e 1935, com

base nos testes da Comissão Thompson La Garde (VANZETTI, 2007), desenvolveu

uma fórmula denominada de Relative Stopping Power (RSP), que atribui o poder de

parada essencialmente ao produto da quantidade de movimento no impacto, pela área

da seção reta (função do calibre) e pelo fator de forma (Sp), conforme ilustrado abaixo

(RINKER, 2006, p. 360). A expansão dos projetis não é considerada de forma direta,

mas, como altas velocidades exercem grande influência no resultado final, existem

efeitos da energia embutidos no cálculo.

RSP= mp . vp . Ap . Sp

Posteriormente, em 1983, de forma a estabelecer um parâmetro de

comparação para as munições expansivas em uso pelas forças policiais, o Instituto

Nacional de Justiça dos E.U.A. encomendou uma pesquisa conduzida pelo

Laboratório de Pesquisa Balística do Exército norte-americano, que levou em conta a

cavidade temporária produzida no impacto e conduziu uma ampla gama de testes

envolvendo vários parâmetros de natureza balística. O resultado final não foi uma

fórmula, mas uma relação dos valores atribuídos a cada tipo de projetil testado e que

recebeu a denominação de Relative Incapacitation Index (RII) (RINKER, 2006, p. 361).

A comparação dos valores de RSP e RII faz retornar à discussão sobre grandes

calibres e grandes cavidades temporárias e, apesar de haver algumas críticas quanto

à natureza imprecisa do cálculo da RSP, testes realizados pelo FBI, em 1989, também

lançaram dúvidas sobre a verdadeira representatividade dos valores de RII, por terem

considerado que o enfoque no choque hidrostático foi demasiado em face dos

resultados da vida real (RINKER, 2006, p. 364). Não obstante, algum conhecimento

prático ainda pode ser obtido desses dois métodos,

Para TOCCHETTO (2013), o poder de parada de um projétil será eficiente em

um alvo humano quando ele destruir ou ocasionar severo dano ao suprimento de

Page 85: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

84

oxigênio carregado pelo sangue ao cérebro. No corpo humano, esses danos podem

ocorrer caso o sistema vascular ou o sistema nervoso forem danificados. Assim,

percebe-se que o poder de parada de um projétil é relativo, já que não basta apenas

que o projétil possua características incapacitantes, mas também o local do corpo

humano que ele irá atingir.

O entendimento atualmente mais difundido, é que:

Exceto por um impacto no cérebro ou na medula espinhal, o único

modo de incapacitar um animal ou um ser humano é a perda maciça

de sangue, porém demanda algum tempo e não se caracteriza como

uma incapacitação imediata, pois há oxigênio suficiente no cérebro

para fazer com que o oponente reaja ainda por alguns segundos.

(VASCONCELOS, 2015, p. 72)

Sabemos então que a região do impacto do projétil, no corpo humano, é

essencial para parar uma determinada ameaça. Para atingirmos uma hemorragia a

ponto de incapacitar rapidamente um alvo, é importante que o projétil penetre algum

órgão vital do alvo, causando o que a medicina chama de choque hipovolêmico (perda

maciça de sangue). Essa penetração, para ser efetiva, deve ser de “10 a 15

polegadas, mais ou menos um palmo de mão” (VASCONCELOS, 2015, p. 76).

Além disso, para causa uma pane no sistema nervoso a ponto de incapacitar

rapidamente um ser humano, o projétil deve atingir a região do tronco cerebral ou

medula espinhal. O tronco cerebral é a parte do sistema nervoso central responsável

pelo ritmo cardíaco, pela respiração e pela percepção de dor. Desta forma, é a

natureza da estrutura danificada que causa incapacitação, não a natureza do projétil

(DI MAIO, 1999, p. 381-382).

Apesar do tipo de munição influenciar diretamente no dano causado em um

alvo, fatores como localização do impacto, distância do tiro, tipo de proteção utilizada

pelo alvo e trajetória do projétil no interior do corpo podem ser decisivos na estimativa

do poder de parada de um projétil.

Uma grande discussão sobre projéteis que possuiriam relevante poder de

parada recai sobre os projéteis expansivos. Esses projéteis tem a característica de,

ao atingirem um alvo, expandirem a sua ponta, ou seja, a superfície de contato anterior

com o alvo, causando um dano mais significativo que projéteis com características

Page 86: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

85

transfixantes. Isso poderia ser considerado um grau de força maior que o necessário

para tirar um combatente da batalha, e seria um dos motivos para que fosse instituído

na Convenção de Haia de 1899, versando que “utilizar balas que se expandem ou

achatam facilmente no interior do corpo humano, tais como balas de revestimento

duro que não cobre totalmente o interior ou possui incisões”.

O principal argumento contra os projetis expansivos é a elevada pressão

hidrostática formada no interior do corpo pela massiva perda de velocidade, que causa

um ferimento muito maior que o necessário para colocar um adversário fora de ação,

pelo menos segundo o argumento articulado pelo Dr. Kocher13. Apesar de pouco

conhecida, sua pesquisa lançou as bases científicas para o estudo moderno dos

ferimentos balísticos e para o desenvolvimento das modernas munições de infantaria

(FACKLER, 1991, p. 153).

Com início em 1875, uma de suas primeiras descobertas foi que um dos

mecanismos pelo qual se produz um ferimento e os tecidos se rompem ocorre por

pressão hidrostática, que é diretamente proporcional à velocidade do projétil ou, mais

propriamente, à sua energia cinética. Kocher verificou que ao atingir o alvo um projétil

perde energia de quatro formas distintas, a saber: parte é transformada em calor e

não contribui para o ferimento; parte é usada para forçar a passagem do projetil e

produzir um canal de tecidos rasgados e rompidos que é denominado de cavidade

permanente; parte é transformada em forte pressão hidrostática que desloca

radialmente o tecido vizinho à passagem do projétil, em um efeito denominado

cavidade temporária; e parte é utilizada para deformar o projétil diante da resistência

ao seu avanço, o que também irá contribuir para aumentar as cavidades permanente

e temporária (FACKLER, 1991, p. 156).

Com base no experimento acima descrito, e em vários outros posteriores,

Kocher argumentava em favor do princípio da “guerra civilizada”, pelo qual suprimir a

capacidade combativa de um soldado deveria ser mais importante que simplesmente

matá-lo, para o que advogava a redução dos calibres do armamento militar para

menos de 10 mm, preferencialmente entre 5 e 6 mm, e que os projetis fossem

construídos de material mais duro que o chumbo, de maneira a evitar sua deformação

no impacto. Kocher também recomendava a adoção de projéteis de ogiva estreita

13 Emile Theodor Kocher (1841-1917) foi um renomado cirurgião e professor da Universidade de Berna, que criou instrumentos e procedimentos ainda hoje utilizados em cirurgia e foi o primeiro cirurgião a receber o prêmio Nobel em medicina, em 1909.

Page 87: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

86

(pontiagudos), ao invés das tradicionais pontas esféricas, para facilitar a penetração

dos tecidos; bem como maior velocidade rotacional, para incrementar a estabilidade

dos projéteis e evitar oscilação longitudinal, que eventualmente poderia aumentar a

superfície de contato. Não obstante, Kocher alertava que os projéteis não fossem

feitos totalmente de cobre devido à menor gravidade específica desse material, que

comprometeria sua capacidade de reter velocidade e seu desempenho a longas

distâncias (FACKLER, 1991, p. 156).

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nesse capítulo, serão apresentados os dados da pesquisa e a discussão sobre

em que medida a elaboração de um caderno de instrução sobre munições de

armamentos leves contribuirá para melhorar a formação dos sargentos de carreira da

Escola de Sargentos das Armas (ESA).

Page 88: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

87

Referente à metodologia utilizada na pesquisa, salienta-se que esse capítulo

teve por objeto a análise do processo ensino aprendizagem na disciplina armamento,

munição e tiro, assim como procurar detalhar o método científico utilizado, e deixar

claro os objetivos a serem alcançados.

Para responder o problema abordado nesta pesquisa, bem como atingir os

objetivos geral e específicos propostos, os resultados obtidos serão apresentados e

discutidos em duas fases.

No primeiro momento, foi verificado o teste realizado pela amostra dos Alunos

da ESA sobre armamento, munição e tiro (AMT). Para tal, foram analisados os dados

obtidos por intermédio do desempenho dos Alunos no questionário/teste realizado.

Na segunda fase, foram verificadas as opiniões e contribuições de especialistas

no assunto e instrutores dos EE, visando responder as questões de estudo

apresentadas. Trouxe diferentes visões do estudo e da instrução, complementando a

interpretação dos dados obtidos na primeira fase. Para isso, foram utilizados os dados

colhidos nas entrevistas realizadas.

Para fins didáticos, cada pergunta constante do questionário foi abordada de

maneira separada, o que não impediu o surgimento de interessantes conexões entre

elas, assim como com os comentários realizados pelos especialistas do tema e com

o material do referencial teórico.

Em ambas as fases, poderá ser verificada a relação da operacionalidade das

variáveis, demonstrada anteriormente no capítulo 2 (Quadro 1), com os dados obtidos

na pesquisa.

Por se tratar de uma pesquisa qualitativa, ressalta-se que as percentagens

apresentadas neste capítulo serviram somente como base para o desenvolvimento

das discussões sobre o tema.

Por fim, as observações encontradas serão discutidas e os dados analisados,

de onde serão tiradas as conclusões parciais e finais.

4.1 RESULTADOS DO QUESTIONÁRIO/TESTE DOS ALUNOS DA ESA

A partir de agora pode-se observar e discutir os resultados obtidos através do

questionário/teste aplicado à amostra de Alunos da ESA, possibilitando concluir

parcialmente sobre o problema da pesquisa. Nesta seção, são expostos os índices

alcançados pelos alunos referentes ao seu nível de conhecimento na disciplina

Page 89: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

88

armamento, munição e tiro, mostrando uma “radiografia” de como essa disciplina está

sendo tratada, principalmente ao analisar os resultados da parte do teste sobre

munições.

4.1.1 Aplicação dos instrumentos de pesquisa

A fim de verificar a finalidade e eficácia da instrução específica sobre munições

de armamentos leves na ESA, foi realizado um procedimento experimental. Assim,

255 (duzentos e cinquenta e cinco) Alunos do Corpo de Alunos (CA) da ESA, sendo

parte da amostra de 338 Alunos, foram submetidos a uma instrução específica em

sala de aula sobre o assunto munições de armamentos leves.

Para tal, o Instrutor Chefe da Seção de Tiro da ESA foi incumbido de ministrar

uma instrução de dois tempos de aula (uma hora e trinta minutos) sobre o assunto

munições de armamentos leves (Anexo A). Tal instrução ocorreu no dia 1º de agosto

de 2018, no auditório da ESA. O assunto, que já consta no PlaDis do CFS/ESA, está

inserido no conteúdo Armamento, Munição e Tiro, como instrução geral.

Como um importante passo rumo à implementação efetiva da pesquisa, é

importante esclarecer que a instrução se desenvolveu da forma que adiante segue:

os 255 Alunos participaram da instrução, todos ao mesmo tempo, no auditório da ESA.

Durante a exposição, foram utilizadas técnicas de ensino de palestra, demonstração

e atividade em grupo. Os slides da apresentação foram confeccionados com base

conceitual descrita na proposta do Caderno de Instrução de Munições de Armamentos

Leves (proposta do autor). Os principais tópicos abordados foram: características das

munições de armamentos leves; noções de calibres; e noções de balística.

Para avaliar o conhecimento dos Alunos da ESA no assunto munições, no dia

11 de agosto de 2018, no auditório da ESA, foi aplicado um questionário/teste para

toda a amostra de 334 (trezentos e trinta e quatro) Alunos do Corpo de Alunos. Assim,

foi possível aplicar um teste para 255 Alunos que tiveram a instrução de munições de

armamentos leves, baseada na proposta de caderno de instrução de munições de

armamentos leves, e para 79 Alunos que tem o conhecimento do assunto baseado no

atual arcabouço de instruções de AMT, e não tiveram a instrução específica. Nesse

contexto, a análise dos resultados obtidos foi baseada em dois grupos da amostra em

estudo:

Page 90: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

89

− Grupo 1: grupo dos 255 Alunos que tiveram a instrução de munições; e

− Grupo 2: grupo dos 79 Alunos que não tiveram a instrução de munições

Como pode ser observado, o questionário/teste abordou a disciplina AMT e foi

concebido em três partes: 1ª parte: assunto armamento; 2ª parte: assunto munições;

e 3ª parte: assunto tiro. Cada parte possuindo 5 questões, que colocadas em

sequência permitiram a condução de um raciocínio encadeado sobre o tema. Os

Alunos realizaram o questionário/teste individualmente, em tablets e celulares, com

tempo máximo de trinta minutos para realização, e sem direito a qualquer tipo de

consulta. Após a realização do teste, os Alunos enviaram suas respostas via internet

para a plataforma digital utilizada pelo aplicador.

Dessa forma, os resultados não foram utilizados de forma somativa no CFS.

Porém, foi uma atividade obrigatória, com autorização do Comandante do Corpo de

Alunos. Além disso, não se tratou de um “teste surpresa”, pois foi anunciado com 48

horas de antecedência, dando a oportunidade para os Alunos se prepararem

intelectualmente para sua realização.

4.1.2 Questionário 1ª Parte: assunto armamento

É importante chamar a atenção para o fato de que os Alunos foram submetidos

a cinco questões sobre o assunto armamento, caracterizando a primeira parte. A partir

da correção dessas questões, foram calculadas a média geral de acertos por questão

por grupo, e a média geral de acertos por assunto por grupos de análise de resultados.

As questões abordam assuntos previstos nos manuais de referência do PlaDis da

ESA, e são alvo das instruções do período básico da formação no CFS.

Page 91: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

90

GRÁFICO 1: média geral da 1ª parte dos Grupos 1 e 2, por questão. Fonte: O Autor

GRÁFICO 2: média geral dos acertos da 1ª parte por grupo. Fonte: O autor

Conforme pode ser verificado nos resultados obtidos, observa-se através do

Gráfico 1, que os resultados das questões 2 e 3 foram próximos entre os grupos,

considerando a variação da média de acertos por questão menor que 2% entre eles.

Nesse caso, 2% representa, em número de pontos por questão, apenas 10% do valor

da pontuação atribuída a uma questão, haja visto que todas as cinco questões da 1ª

parte do questionário/teste possuem o mesmo valor.

0,00%

10,00%

20,00%

30,00%

40,00%

50,00%

60,00%

70,00%

80,00%

90,00%

100,00%

Questão 1 Questão 2 Questão 3 Questão 4 Quetão 5

GRUPO 1 92,55% 97,65% 83,92% 17,65% 70,98%

GRUPO 2 78,48% 98,73% 84,81% 11,39% 63,29%

Ace

rto

s

0,00% 20,00% 40,00% 60,00% 80,00% 100,00%

GRUPO 1

GRUPO 2

72,55%

67,34%

Acertos

Page 92: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

91

Todavia, nas questões 1, 4 e 5, é possível observar uma variação da média de

acertos por questão maior que 5% nos resultados entre os grupos, sendo: 6,26% na

questão 4; 7,69% na questão 5; e 14,07% de diferença de média de acertos na

questão 1.

Nas questões onde houve pouca variação da média de acertos entre os grupos

(questões 2 e 3), o Grupo 2 obteve uma porcentagem média levemente maior que o

Grupo 1. Já nas questões onde houve uma variação da média de acertos maior entre

os grupos (questões 1, 4 e 5), o Grupo 1 obteve uma porcentagem média de acertos

maior que o Grupo 2.

A partir dos resultados obtidos verificados no Gráfico 2, onde é apresentado o

resultado da 1ª parte do questionário/teste como um todo, é possível observar que o

Grupo 1 atingiu uma porcentagem média de acertos de 8,21% maior que o Grupo 2.

Também é possível verificar que ambos os grupos atingiram a meta mínima de 51%

de média de acertos estipulada inicialmente pelo autor no estudo operacional da

variável independente, na dimensão “assunto armamento”.

4.1.2.1 Discussão dos resultados da 1ª Parte do questionário/teste

Diante dos resultados obtidos na 1ª parte dos testes, verificou-se que a amostra

dos Alunos da ESA demonstrou conhecimento razoável no assunto armamento, em

particular os Alunos do Grupo 1.

Em acordo com o anteriormente exposto, uma possível causa do desempenho

menos satisfatório do Grupo 2 em relação ao Grupo 1, pode ter sido a influência da

instrução de munições ministrada ao Grupo 1. Percebe-se que na instrução sobre

munições, por diversas vezes é realizado um link com o assunto armamento, tendo

em vista que um está diretamente relacionado ao outro, e eles são interdependentes

para que haja funcionalidade no processo do tiro de arma de fogo.

Observando-se o material de ensino utilizado na Escola Naval, na Academia

Militar do Exército de Portugal e do Exército do Uruguai, percebe-se que eles

apresentam, no mesmo material, os assunto armamento e munição. Isso corrobora

com o melhor resultado obtido pelo Grupo 1, pois tais assuntos devem ser abordados

em conjunto.

Page 93: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

92

É fato que a instrução básica sobre armamento, durante a formação do

sargento no CFS, é realizada nas Organizações Militares do Corpo de Tropa (OMCT),

e não na ESA. Assim, os diferentes níveis de instrução podem influenciar no

conhecimento dos Alunos de diferentes maneiras. Apesar disso, existem fontes de

consulta militares no assunto, como os manuais do Fuzil FAL 7,62mm e do Fuzil IA2

IMBEL 5,56mm. Tais manuais são de acesso ostensivo, e previstos nos PlaDis da

formação do período básico do CFS, e permitem padronizar a abordagem do assunto

nas instruções.

É possível verificar, no cálculo da média dos resultados obtidos entre os

dois grupos, que obtemos o valor de 69,95% de acertos. Isso nos dá um valor

superior àquele esperado para o teste no assunto armamento, considerando o valor

mínimo de média de 51% de acertos. Esse dado final deve ser levado em

consideração para avaliarmos o conhecimento no assunto, tendo em vista que ele é

abordado em manuais regulares do Exército Brasileiro.

4.1.3 Questionário 2ª parte: assunto munição

Por ocasião da aplicação do questionário/teste, os Alunos foram submetidos a

5 questões sobre o assunto munição, na segunda parte. A partir da correção dessas

questões, foram calculadas a média geral de acertos por questão por grupo, e a média

geral de acertos por assunto por grupos de análise de resultados.

GRÁFICO 3: média geral da 2ª parte dos Grupos 1 e 2, por questão.

Fonte: O Autor

0,00%

10,00%

20,00%

30,00%

40,00%

50,00%

60,00%

70,00%

80,00%

90,00%

100,00%

Questão 6 Questão 7 Questão 8 Questão 9 Quetão 10

GRUPO 1 91,44% 77,43% 78,21% 35,02% 71,21%

GRUPO 2 55,70% 0,08% 0,08% 0,00% 0,00%

Ace

rto

s

Page 94: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

93

0,00% 10,00% 20,00% 30,00% 40,00% 50,00% 60,00% 70,00% 80,00% 90,00% 100,00%

GRUPO 1

GRUPO 2

70,66%

11,17%

Acertos

GRÁFICO 4: média geral dos acertos da 2ª parte por grupo

Fonte: O autor

A partir dos dados demonstrados no GRÁFICO 3, é possível observar que as

questões 7 a 10 foram as de maior dificuldade para responder pelos integrantes do

Grupo 2. Porém, o Grupo 1 conseguiu melhores índices, sendo os menos expressivos

na questão 4 e os mais expressivos na questão 6.

Outro aspecto bastante destacado é que ambos os grupos obtiveram

resultados mais expressivos no acerto da questão 6, em relação às demais questões.

A variação da média de acertos por questão chegou a 78,13% (na questão 8) entre

os grupos. Observa-se que o Grupo 1, que é o grupo daqueles Alunos que tiveram a

instrução sobre munições, obteve uma média de resultados bastante expressiva em

relação ao Grupo 2. No geral, o Grupo 1 obteve melhores resultados que o Grupo 2

em todas as questões da 2ª parte.

Page 95: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

94

É notório ressaltar que os dados obtidos no GRÁFICO 4, onde é apresentado

o resultado da 2ª parte do questionário/teste como um todo, mostram que o Grupo 1

atingiu uma porcentagem média de pontos de 59,49% maior que o Grupo 2. Também

é possível verificar que o Grupo 1 atingiu a meta de no mínimo 51% de média de

acertos imaginada inicialmente pelo autor no estudo operacional da variável

independente, na dimensão “assunto munição”, enquanto o Grupo 2 ficou abaixo da

média estipulada.

4.1.3.1 Discussão dos resultados da 2ª Parte do questionário/teste

Com base nos percentuais demonstrados, pode-se aferir que os militares

consultados têm conhecimento variável no assunto munições, destacando os Alunos

do Grupo 1 com resultados mais expressivos em relação aos Alunos do Grupo 2. Este

último apresentou, inclusive, um desempenho abaixo da média de 50% de acertos,

como esperado pelo autor.

Verificou-se, com base no questionário, que uma possível causa do

desempenho pouco satisfatório do Grupo 2 em relação ao Grupo 1, pode ter sido a

falta de uma instrução sobre munições, aos moldes do que foi realizado com o Grupo

1. Não existe uma fonte de consulta militar que possa servir como base para consulta,

nem por parte dos Alunos, nem por parte dos instrutores, tornando esse assunto

pouco explorado no CFS, apesar de existir previsão de carga horária no PlaDis.

A média percentual de acertos do Grupo 1 no assunto munições foi bastante

aproximada à média percentual do mesmo grupo no assunto armamento. Isso pode

indicar um nivelamento de conhecimento dos assuntos, o que não foi verificado no

Grupo 2.

Pode-se concluir que, em nossos Estabelecimentos de Ensino, não é dada a

devida importância ao assunto munições, no contexto da matéria AMT. O que não se

verifica em Estabelecimentos de Ensino de Exércitos de países estrangeiros, bem

como em escolas de formação da agentes de órgão públicos, como levantado nos

materiais de ensino na revisão da literatura.

Pode-se observar, no cálculo da média dos resultados obtidos entre os dois

grupos, que se obtém o valor de 40,92% de acertos. Com isso, chega-se a um valor

inferior àquele obtido na 1ª parte – assunto armamento. Esse dado final deve ser

Page 96: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

95

levado em consideração para avaliar o conhecimento no assunto, tendo em vista que

ele não é abordado em manuais regulares do Exército Brasileiro.

4.1.4 Questionário 3ª parte: assunto tiro

Em meio ao contexto apresentado, na terceira parte do teste os Alunos foram

submetidos a 5 questões sobre o assunto tiro, caracterizando a terceira parte. A partir

da correção dessas questões, foram calculadas a média geral de acertos por questão

por grupo, e a média geral de acertos por assunto por grupos de análise de resultados.

GRÁFICO 5: média geral dos resultados da 3ª parte dos Grupos 1 e 2.

Fonte: O Autor

0,00%

10,00%

20,00%

30,00%

40,00%

50,00%

60,00%

70,00%

80,00%

90,00%

100,00%

Questão 11 Questão 12 Questão 13 Questão 14 Quetão 15

GRUPO 1 88,72% 82,10% 91,83% 40,08% 84,44%

GRUPO 2 81,01% 75,95% 98,73% 43,04% 75,95%

Ace

rto

s

Page 97: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

96

GRÁFICO 6: média geral da 3ª parte por grupo.

Fonte: O autor

Ressalta-se que a partir dos resultados demonstrados no GRÁFICO 5, é

possível observar que a questão 14 foi a de maior dificuldade para responder pelos

integrantes de ambos os grupos. Porém, o Grupo 2 conseguiu melhores resultados,

mesmo sendo pouco expressivos.

Ambos os grupos obtiveram índices mais expressivos no acerto das questões

11, 12, 13 e 15. A variação da média de acertos por questão ficou entre 2,6% (na

questão 14) e 8,49% (na questão 15) entre os grupos. Observa-se que o Grupo 1

obteve uma média de resultados ligeiramente maior que o Grupo 2, nas questões 11,

12 e 15. Já nas questões 13 e 14, o Grupo 2 apresentou resultados ligeiramente

maiores que o Grupo 1.

No geral, os dois grupos atingiram resultados semelhantes e bem acima da

média esperada de 51% de acertos.

Ressalta-se que a partir dos dados levantados verificados no GRÁFICO 6, onde

é apresentado o resultado da 3ª parte do questionário/teste como um todo, é possível

observar que o Grupo 1 atingiu uma porcentagem média de pontos 2,49% maior que

o Grupo 2. Também é possível verificar que ambos os grupos atingiram a meta de no

0,00% 20,00% 40,00% 60,00% 80,00% 100,00%

GRUPO 1

GRUPO 2

77,43%

74,94%

Acertos

Page 98: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

97

mínimo 51% de média de acertos estipulada inicialmente pelo autor no estudo

operacional da variável independente, na dimensão “assunto tiro”.

4.1.4.1 Discussão dos resultados da 3ª Parte do questionário/teste

Diante dos resultados obtidos na 3ª parte dos testes, verificou-se que a amostra

dos Alunos da ESA demonstrou conhecimento sólido no assunto tiro, destacando os

Alunos do Grupo 1 com resultados mais expressivos em relação aos Alunos do Grupo

2, ainda que com uma diferença pouco expressiva.

Sabe-se que uma possível causa do desempenho satisfatório dos grupos em

relação às outras partes do questionário, pode ser o caráter eminentemente prático

da instrução de tiro. Além de existir o manual C23-1 Tiro das Armas Portáteis, que

define as técnicas e os fundamentos de tiro, os Alunos da ESA possuem uma forte

carga horária na prática de tiro, sendo cento e quatro horas no período básico, e

oitenta e duas horas no período de qualificação. Essa carga horária é traduzida em

oito módulos de tiro durante o ano de instrução em cada período, o que permite que

ele tenha maior facilidade em lhe dar com o manuseio do armamento e com as

técnicas de tiro.

A partir do que foi levantado na revisão da literatura, apenas o Exército do

Uruguai aborda, em manual, as técnicas e fundamentos de tiro. Escolas de formação

de agentes de segurança pública, abordam o tiro apenas em instruções práticas no

estande, sem possuir técnicas escritas em manuais ou notas de aula.

Como o desempenho dos grupos no assunto tiro foi bastante aproximado entre

os grupos, talvez a instrução sobre o assunto munições não tenha influenciado

diretamente o conhecimento no assunto tiro.

4.1.5 Resultado geral do questionário

É interessante destacar que por ocasião da aplicação do questionário/teste, os

alunos foram submetidos a responder 15 questões, abordando o conteúdo

armamento, munição e tiro. A partir da correção dessas questões, foram calculadas a

Page 99: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

98

média geral, a mediana e a menção dos Alunos neste questionário. Os resultados são

apresentados nos gráficos 7 e 8 a seguir.

GRÁFICO 7: média de pontos geral e mediana no questionário/teste de AMT. Fonte: O Autor

GRÁFICO 8: menção dos Alunos no questionário/teste. Fonte: O Autor

A partir dos resultados demonstrados no GRÁFICO 7, é possível observar que

a média de acertos entre os grupos, nas três partes do teste, apresentou uma

diferença de apenas 1,4 pontos. Também é relevante verificar que a média de acertos

dos grupos ficou levemente abaixo da mediana, sendo 0,38 ponto no Grupo 1 e 0,78

Média8,62

Média7,22

Mediana9

Mediana8

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

GRUPO 1 GRUPO 2

0,00%

10,00%

20,00%

30,00%

40,00%

50,00%

60,00%

70,00%

GRUPO 1 GRUPO 2

0,00% 0,00%

28,69%

35,71%

64,94%60,71%

5,58% 3,57%0,70% 0,00%

Insuficiente < 4 acertos

4 ≤ Regular ≤ 7

8 ≤ Bom ≤ 11

12 ≤ Muito Bom ≤ 13

14 ≤ Excelente ≤ 15

Page 100: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

99

ponto no Grupo 2. O Grupo 1 apresentou uma média de acertos mais próxima da

mediana que o Grupo 2.

O Grupo 1 obteve uma média de acertos acima da média esperada para esse

questionário, que foi de 51% de acertos, ou 7,5 pontos. Já o Grupo 2 não atingiu a

média estipulada, ficando 0,28 ponto abaixo.

A partir dos resultados demonstrados no GRÁFICO 8, pode-se observar que

64,94% do Grupo 1 obtiveram menção “Bom”, o que significa intervalo de acertos

maior ou igual a oito e menor ou igual a onze. Já no Grupo 2, 60,71% obtiveram

menção “Bom”.

4.1.5.1 Discussão dos resultados do questionário/teste

O resultado geral do teste reflete o conhecimento dos Alunos na disciplina AMT

atualmente. Não é possível levantar uma média histórica, tendo em vista que esse

tipo de teste foi aplicado pela primeira vez na ESA.

Diante dos resultados médios obtidos nas três partes do teste, verificou-se que

a amostra dos Alunos da ESA examinada demonstrou conhecimento variável sobre o

conteúdo armamento, munição e tiro. É possível observar que o assunto que

descompensou o nível de conhecimento entre os Alunos dos dois grupos foi o assunto

munições. O Grupo 1, que recebeu a instrução sobre munições, conseguiu se

sobressair na média geral no conteúdo armamento, munição e tiro.

O Grupo 2 não conseguiu atingir a média mínima esperada de 51% de acertos,

ou média de 7,5 pontos. Quando examinado apenas os assuntos armamento e tiro (1ª

e 3ª partes do questionário, respectivamente), o resultado apresentado para esses

assuntos se mostra bastante interessante, na medida em que todas as opções de

resposta apresentaram percentual semelhantes. Dessa forma, vemos um maior

equilíbrio entre os grupos, e ambos superam a média mínima esperada de 51%, como

pode-se observar no gráfico a seguir:

Page 101: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

100

GRÁFICO 9: Média de acertos das 1ª e 3ª partes do questionário. Fonte: O Autor

4.1.6 Conclusão parcial

Viu-se que a estrutura atual do ensino de AMT na ESA fornece uma carga

horária destinada ao assunto “tipos de munição”, tendo como um dos objetivos

descrever as características delas. Porém, o que se vê na prática, é uma falta de

abordagem do assunto, e também uma falta de fonte de consulta militar para embasar

tal instrução. Isso ocorre em detrimento das instruções de armamento e de tiro, tendo

em vista serem abordadas a contento, com carga horária também definida e com

fontes de consulta militares capazes de suprir a demanda dos objetivos de instrução.

Observou-se que o Grupo 1 obteve um resultado geral no questionário/teste melhor

que o Grupo 2. Pode-se concluir que houve um impacto positivo considerável no

resultado do questionário/teste, fruto da instrução sobre munições ministrada ao

Grupo 1 em detrimento ao Grupo 2. Dessa forma, responde-se à questão de estudo

“Como é estruturado o ensino de AMT na ESA atualmente, de acordo com o PlaDis,

e qual o impacto de uma mudança no conteúdo de AMT na formação?”.

Como os sargentos formados na ESA são classificados para servirem em

quartéis por todas as regiões do Brasil, eles se tornam um dos principais vetores de

informação e instrução nos corpos de tropa. Geralmente se dá ao sargento recém-

formado a responsabilidade de ensinar sobre fundamentos de tiro e sobre os tipos de

munição para os soldados recrutas da Organização Militar a qual pertence. Contudo,

assim como na ESA, os Planos Padrão de instrução na tropa também preveem a

60,00%

62,00%

64,00%

66,00%

68,00%

70,00%

72,00%

74,00%

76,00%

78,00%

Média da 1ª e 3ª partes

74,99%

71,14%Grupo 1

Grupo 2

Page 102: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

101

instrução sobre munições, sem o Exército possuir uma fonte de consulta militar sobre

o assunto. Conclui-se que a estrutura da instrução nos corpos de tropa é semelhante

à ESA, portanto apresentam uma lacuna sobre o assunto munições, podendo

acarretar num impacto abaixo do possível de se alcançar na instrução. Dessa forma,

responde-se à questão de estudo formulada: “Como é estruturada a instrução de AMT

nos corpos de tropa, de acordo com os PP do COTer?”.

Ao procurar responder à questão de estudo formulada, “Quais os materiais de

consulta de ensino militar, que abordam o assunto munições, no âmbito das Forças

Armadas nacionais, internacionais e órgão de segurança pública no Brasil?”,

chegamos a conclusão de que no Exército Brasileiro não existe uma fonte de consulta

padronizada, que normatize conceitos sobre as características das munições. Apesar

de encontrar-se notas de aula em alguns cursos militares do EB sobre munições, elas

apresentam conceitos difusos, não padronizados, incompletos e por vezes muito

rasos para a formação técnica do sargento combatente. Assim também é na Força

Aérea, onde não foram encontrados materiais didáticos, na formação, que trata

especificamente do assunto munições, apesar de possuírem uma matéria de instrutor

de tiro, específica para habilitar militares a serem instrutores de tiro para formação de

outros militares. Já no Corpo de Fuzileiros Navais, encontra-se o material mais

completo no que diz respeito ao ensino de AMT, onde é abordado o assunto munições

na mesma proporção de armamento e tiro, ainda que seja através de instrução e nota

de aula. Nos Exércitos do Uruguai, Portugal e Estados Unidos, existe material didático

direcionado para as características das munições, sendo o do Exército do Uruguai o

mais completo e que mais se aproxima de uma situação ideal e visualizada para a

ESA. Vale frisar que nos órgãos de segurança pública pesquisados a maioria deles

apresenta um material específico sobre munições, ensinado durante a formação de

seus agentes. Viu-se que é unanimidade nesses órgão que o ensino de AMT não pode

ser dissociado da instrução sobre munições. Isso ficou claro na pesquisa realizada,

quando se observou que o Grupo 2 obteve um desempenho muito inferior na parte do

questionário/teste que tratou sobre munições, em relação ao Grupo 1.

Verificando apenas os resultados das 1ª e 3ª partes do teste, o Grupo 2

apresentou uma média superior ao mínimo esperado, com um desempenho bastante

expressivo e mais próximo ao desempenho obtido pelo Grupo 1. Daí é possível

concluir que os Alunos que não receberam a instrução sobre munições já possuem o

conhecimento sobre armamento e tiro, provavelmente mais consolidados por existir

Page 103: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

102

fontes de consulta militar que possibilitam ao instrutor aplicar melhor as técnicas de

ensino. Já em relação à 2ª parte do teste, ficou claro que a instrução sobre munições,

baseada na proposta de caderno de instrução sobre munições, influenciou

diretamente o resultado positivo do Grupo 1 no teste de AMT. Assim, o Grupo 1

apresentou um bom desempenho não só na 2ª parte, como no resultado geral. Esses

resultados respondem à última questão de estudo formulada: “Que média de

rendimento escolar os Alunos da ESA apresentam na matéria AMT atualmente, e se

essa média aumentaria caso houvesse um caderno de instrução sobre munições?”.

4.2 DISCUSSÃO DAS ENTREVISTAS

Em seguida serão analisadas as entrevistas realizadas, onde será possível

concluir parcialmente sobre como a apreciação de especialistas vai ao encontro dos

dados obtidos no experimento apresentado no item anterior.

4.2.1 Entrevista com instrutores

Interessante destacar que para complementar os dados obtidos com os testes

realizados pelos Alunos, foram realizadas entrevistas dirigidas com militares

instrutores da ESA, ESLog, AMAN e 1º BPE no Rio de Janeiro. Além dos militares da

ativa, foram entrevistados também militares na inatividade, agentes de segurança

pública e civis especialistas no assunto armamento, munição e tiro. Todos eles

exercendo alguma função relativa a essa matéria em suas respectivas organizações.

Assim, conforme comentado no item anterior, o intuito das entrevistas foi

verificar a opinião de especialistas e se existe ligação com os resultados dos testes

aplicados à amostra pesquisada. Assim, foi possível verificar que os principais

comentários corroboraram com os resultados quantitativos levantados no

questionário/teste. Além disso, levantou-se uma demanda por parte de instrutores

sobre a necessidade e importância de conhecer o assunto munição na formação

militar, em particular dos sargentos de carreira combatentes formados na ESA.

É necessário salientar que os comentários e opiniões foram extremamente

relevantes, inclusive norteando os trabalhos realizados na pesquisa.

Page 104: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

103

Entrevistado Experiência Opinião

Oficial

instrutor da

ESA

- Atleta de tiro como

Cadete na AMAN;

- Oficial de tiro

como Asp e 2º Ten;

e

- Competidor de tiro

prático

“Conhecer a munição, suas características,

balística, possibilidades e imitações, é tão

importante quanto conhecer o armamento

que está utilizando. Afinal, com a escolha da

munição correta, pode-se obter diferentes

efeitos em um mesmo alvo.”

Sargento

monitor da

ESA

- Possuidor do

Estágio de Caçador

do EB; e

- Competidor de tiro

de precisão.

“A existência de fonte de consulta sobre o

assunto padroniza o conhecimento no

âmbito do EB, evitando a difusão de

informações errada e/ou equivocadas devido

ao grande número de fontes, muitas das

quais sem credibilidade.”

Instrutor

Chefe da

Seção de

Tiro da ESA

- Atleta de tiro

olímpico como

Cadete na AMAN;

- Atleta de tiro da

CDE (Confederação

de Desportos do

Exército);

- Instrutor de tiro

olímpico na Escola

de Educação Física

do Exército

(EsEFEx);

- Possuidor do

estágio de caçador

do EB; e

- Participou de

diversas

competições de tiro

“Existem muitos assuntos relacionados ao

tiro que merecem respeito. Esse é um deles.

Page 105: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

104

internacionais

representando as

Forças Armadas do

Brasil; e

- Foi instrutor da

Seção de Tiro da

AMAN.

Instrutor

Chefe da

Seção de

Tiro da

AMAN

- Atleta de tiro como

Cadete da AMAN;

- Atleta de tiro

olímpico da CDE;

- Instrutor de tiro da

Seção de Tiro da

AMAN;

- Possuidor do

estágio de caçador

do EB; e

- Participou de

diversas

competições de tiro

internacionais

representando as

Forças Armadas do

Brasil

“Importante (o caderno de instrução)

principalmente para ser abordado nas

escolas de formação de forma a

proporcionar ao instruendo a exata

compreensão das munições dos

armamentos de dotação.”

Sargento

monitor da

Seção de

Tiro da ESA

- Possuidor do

estágio de caçador

do EB;

- Atleta de tiro

prático e olímpico; e

- Participou de

diversas

competições de tiro

no âmbito do EB.

“Um caderno de instrução serviria por melhor

apresentar o assunto munição aos futuros

sargentos, que terão o poder de difundir

esses conhecimentos nos corpos de tropa,

após formados. Isso contribuiria para uma

melhor decisão quanto ao emprego de

determinado armamento nas diversas

situações que poderão ocorrer quando em

Page 106: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

105

emprego real ou até mesmo em

treinamentos diversos.”

Oficial

Instrutor da

Seção de

Tiro da

AMAN

- Atleta de tiro

olímpico e tiro

defensivo como

Cadete da AMAN;

- Possuidor do

estágio de caçador;

e

- Possuidor de

cursos de tiro de

combate fora da

Força.

“A instrução militar do Exército Brasileiro

carece de aprofundamento técnico sobre as

características das munições. Nos dias de

hoje percebemos que não se precisa mais

decidir sobre mudar um calibre para

melhorar o desempenho ou se adequar à

uma necessidade.”

Oficial

instrutor do

Curso de

Perito Militar

do 1º BPE

- Perito criminal

especializado em

balística forense; e

- Perito no 1º BPE,

com graduações e

pós-graduações na

área de perícia

criminal.

“Extremamente importante e vem para

preencher uma lacuna existente na instrução

individual básica.”

Sargento

monitor da

ESLog

- Atleta de tiro de

precisão; e

- Especialidade em

mecânica de

armamento.

“Acho interessante (o estudo) pois a munição

é o que dá o resultado no nosso objetivo. Se

conhecermos bem, poderemos usar

corretamente aumentando suas

capacidades e, consequentemente, o melhor

resultado da missão.”

Oficial da

reserva

instrutor de

tiro

- Atleta de tiro

olímpico, tiro

defensivo e tiro

prático, com armas

longas e curtas;

“Excelente estudo. Atualmente as gerações

de oficiais e sargentos combatentes de

carreira têm sido testadas em combate real

com uma certa frequência. Isso faz crescer a

importância do estudo mais aprofundado do

material empregado em operações, não

Page 107: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

106

- Possuidor de

empresa de

formação de

segurança privada;

- Possui diversos

cursos no Brasil e

no exterior na área

de tiro; e

- Foi por diversas

vezes convidado a

ministrar instrução

de tiro para

organizações

militares, AMAN e

ESA.

apenas referente à munição, mas um

conjunto que integra material (armamento e

munição) e tática (módulos de tiro de

combate mais específicos para a realidade

encontrada em combate urbano). Isso

corrobora com o que já vem sendo

desenvolvido na ESA há mais ou menos

quatro anos.”

Policial

federal

instrutor na

academia de

Polícia da

Polícia

Federal

- Instrutor de tiro da

Polícia Federal; e

- Autor de obras

literárias e artigos

em periódicos sobre

tiro; e

- Atleta de tiro

defensivo.

“Acredito que o conhecimento adquirido nas

escolas militares é muito raso, formando

oficiais e sargentos que não conhecem à

fundo munições e armamentos em utilização

no mundo.”

Policial civil

instrutor de

tiro na

academia da

Polícia Civil

do Estado de

Santa

Catarina

- Instrutor de tiro de

combate em

instituição privada;

- Oficial reservista

do EB (R2);

- Foi convidado por

diversas vezes para

ministrar instruções

de tiro em

organizações

“O conhecimento à cerca das noções

básicas de balística forense são

fundamentais para quem atua na segurança,

sobretudo para o perfeito emprego das

frações no amplo espectro das operações.

Isso auxilia no controle de danos, que é uma

condicionante importante para o

planejamento. Conhecer a balística

possibilitaria uma melhor escolha das

munições a serem empregadas em cada tipo

Page 108: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

107

militares, AMAN e

ESA; e

- Autor de artigos

em periódicos sobre

tiro.

de missão, bem como facilitaria os trabalhos

atinentes à perícia criminal em operações

urbanas.”

Quadro 8: demonstrativo dos entrevistados Fonte: O Autor

4.2.2 Conclusão parcial

Dessa forma é possível observar nas opiniões dos entrevistados que a quase

totalidade deles destaca a importância do conhecimento sobre o assunto munições.

Alguns observaram que o conhecimento sobre este assunto nas escolas de formação

é raso e insuficiente.

Entende-se assim que muitos dos entrevistados emitiram pareceres que foram

ao encontro dos resultados obtidos nos questionários aplicados aos Alunos. Segundo

o Sargento Monitor da ESA com boa experiência militar:

A existência de fonte de consulta sobre o assunto padroniza o conhecimento

no âmbito do EB, evitando a difusão de informações erradas e/ou

equivocadas devido ao grande número de fontes, muitas das quais sem

credibilidade.

Cabe ressaltar que quando se analisa os resultados da 2ª parte do questionário,

onde os Alunos do Grupo 2 obtiveram um resultado aquém da média mínima

estipulada na pesquisa. Além disso, os Alunos do Grupo 1, que tiveram a instrução

sobre munições, obtiveram um resultado melhor que o Grupo 2 e acima da média

mínima estipulada.

Corroborando com o contexto das entrevistas, o Policial federal instrutor na

academia de Polícia da Polícia Federal entrevistado, afirmou que:

Acredito que o conhecimento adquirido nas escolas militares é muito raso,

formando oficiais e sargentos que não conhecem à fundo munições e

armamentos em utilização no mundo.

Page 109: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

108

Nesse sentido os resultados obtidos pelo Grupo 2 demonstraram que a falta de

uma instrução no assunto munições, bem como uma fonte de consulta militar, podem

ter influenciado no resultado do questionário teste sobre armamento, munição e tiro,

haja visto que este grupo não atingiu a média de acertos mínima esperada para o

teste.

Isso exigirá, em consequência, maior familiaridade com o assunto e proficiência

no conhecimento de AMT. Acredita-se que o caminho mais adequado para esse fim

seja a ampla difusão do assunto e sua difusão como doutrina pela Força. Há que se

considerar nesse processo, igualmente, o papel do treinamento diário e progressivo,

com o propósito de tornar o conhecimento do assunto parte efetiva da cultura militar.

Durante as entrevistas, foi levantado que grande parte dos entrevistados

militares não teve contato com instrução sobre munições na sua formação militar.

Quando perguntados sobre como atingiram um bom nível de conhecimento sobre o

assunto, muitos responderam que foi necessário recorrer a cursos fora da força, fontes

de consulta diversas e artigos na internet. Outros tantos alegaram ter saído das

escolas de formação sem se sentirem seguros para ministrar uma instrução sobre as

características das munições.

Como alegou o entrevistado Sargento Monitor da ESLog:

Acho interessante (o estudo) pois a munição é o que dá o resultado no nosso

objetivo. Se conhecermos bem, poderemos usar corretamente aumentando

suas capacidades e, consequentemente, o melhor resultado da missão.

Pode-se observar que o conhecimento sobre o assunto munições está ligado

ao aumento das capacidades do militar. Como o sucesso no cumprimento de missões

está diretamente dependente das capacidades do militar em resolver problemas, este

estudo seria muito importante, principalmente nos pequenos escalões.

Essas observações, por si só, valorizam a pesquisa e sublinham sua relevância

para o Exército Brasileiro, pois é necessário que o conhecimento em tela tenha

alcance em toda a Força, evidenciando a importância das noções sobre munições de

armamentos leves.

Dessa maneira, com base no anteriormente exposto, verifica-se ser necessário

que a elaboração de um caderno de instrução sobre munições de armamentos leves,

assunto já constante em algumas publicações de ensino, seja alvo de discussões e

Page 110: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

109

abordagens mais abrangentes e aprofundadas, sobretudo nas principais escolas

militares. Assim, é possível criar uma massa crítica capaz de contribuir para o

aprimoramento e adaptação desse conceito à realidade da cultura militar brasileira.

5 CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES

Este capítulo tem por finalidade apresentar os resultados alcançados pela

pesquisa, que foi desenvolvida a partir do seguinte problema: em que medida a

elaboração de um Caderno de Instrução sobre Munições de armamentos Leves

contribuirá para melhorar a formação dos sargentos de carreira da Escola de

Sargentos das Armas (ESA)?

Page 111: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

110

Convém salientar que o objetivo geral da pesquisa foi analisar se a atual

abordagem da disciplina de ensino sobre Armamento, Munição e Tiro, ministrado na

ESA, está de acordo com as demandas da formação profissional do sargento

combatente de carreira do Exército, com ênfase no assunto munição.

Referente à metodologia utilizada na pesquisa, foi conduzido um procedimento

experimental, no qual Alunos matriculados no curso de infantaria do CFS da ESA no

ano de 2018 participaram, pela primeira vez, de uma instrução sobre munições de

armamentos leves (Apêndice A). Tal instrução foi baseada na proposta de caderno de

instrução apresentada pelo autor da pesquisa.

Em seguida, foi aplicado um questionário/teste (Apêndice B) aos Alunos dos

cursos de infantaria, cavalaria e artilharia do CFS da ESA do ano de 2018, abordando

os assuntos armamento, munição e tiro, a fim de levantar o nível de conhecimento

nestes assuntos na formação dos sargentos da ESA atualmente. Para complementar

a pesquisa, foram realizadas entrevistas com militares, agentes de segurança pública

e civis especialistas na disciplina AMT (Apêndice C).

Por meio dos dados coletados nos testes, e das apreciações nas entrevistas,

foi possível verificar que a abordagem da disciplina AMT na ESA é deficiente no

assunto munições. As questões de estudo levantadas foram plenamente respondidas.

Por ser uma pesquisa qualitativa, ressalta-se que as percentagens oferecidas nesse

capítulo convieram somente como base para o desenvolvimento das discussões sobre

o tema e indicaram, grosso modo, como os respondentes se comportaram ante os

questionamentos.

Dessa forma, foi possível observar que o grupo de Alunos que recebeu a

instrução sobre munições, baseada no caderno de instrução sobre munições proposto

pelo autor, obteve um resultado mais expressivo no teste, em relação àquele grupo

de alunos que não teve a instrução. Isso demonstrou a influência positiva de uma fonte

de consulta militar embasando uma instrução, no caso do assunto sobre munições.

Como pode ser observado, apesar do assunto munições estar previsto na

grade curricular (PlaDis) do CFS, o modo como é abordado não é satisfatório, tendo

em vista que aquele grupo de alunos que não teve a instrução prévia de munições

obteve um resultado extremamente abaixo da média mínima considerada na

pesquisa. Através das entrevistas, observou-se entre os instrutores que a existência

de uma fonte consulta militar no assunto é extremamente importante para realizar uma

boa instrução.

Page 112: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

111

Complementando a ideia anterior, também foi levantado que os instrutores dos

estabelecimentos de ensino, em sua totalidade, não tiveram contato com este tipo de

instrução na sua formação militar. Foi esclarecido que o conhecimento que eles têm

hoje, no assunto munições, foi buscado fora da força, em cursos, obras literárias e

periódicos especializados.

Dessa forma, através do levantamento literário no assunto, o PlaDis do CFS

(Quadros 3 a 5) mostra que existe uma carga horária prevista para a disciplina AMT

de cento e oito horas/aula. Dentro desta disciplina, o conteúdo “1. Introdução ao

estudo do armamento” prevê carga horária de duas horas/aula para o assunto “tipos

de munição”, cujos objetivos da aprendizagem são, dentre outros: “Conhecer os

diversos tipos de munição do FAL. (FACTUAL); e agir de modo autoconfiante na

classificação dos tipos de armamentos e de munição (grifo do Autor)

(ATITUDINAL).”. Além disso, o PlaDis sugere, para abordagem deste assunto, o uso

de procedimentos didáticos de palestra e demonstração. Utiliza como referência as

IGTAEx e o Manual Técnico T9-1903, abordados na revisão da literatura.

A partir do anteriormente exposto, o procedimento se iniciou com uma instrução

sobre tipos de munição para os Alunos do curso de infantaria da ESA, utilizando os

procedimentos didáticos sugeridos em PlaDis (palestra e demonstração), dentro da

carga horária prevista, porém utilizando como referência a proposta de CI sobre

munições de armamentos leves, ao invés das referências do PlaDis atual. Com isso,

os Alunos do Grupo 1 atingiram os objetivos da aprendizagem previstos em

documento, enquanto os Alunos do Grupo 2 não atingiram a média mínima estipulada

no experimento de 51% de acertos.

Acerca do que foi levantado que nos assuntos armamento e tiro, o

conhecimento demonstrado no teste foi equivalente entre os dois grupos estudados.

A variação aconteceu apenas no assunto munições. Ora, se o assunto munições faz

parte da disciplina AMT, conclui-se que a disciplina não é abordada da melhor

maneira, pois não consegue atender à demanda da formação do sargento, prevista

em documento de ensino, que é conhecer a classificação dos tipos de munição. A

pesquisa também revelou que a fonte de consulta militar proposta sobre o assunto

influenciou no resultado positivo do grupo que teve contato com ela, antes da

realização do teste.

É possível então afirmar que a elaboração de uma fonte de consulta militar

sobre munições melhora a instrução na disciplina estudada, já que cobre uma lacuna

Page 113: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

112

de ensino. Se for levado em consideração que a disciplina AMT é essencial na

formação militar, o que é indiscutível, temos que uma melhora na instrução nessa

disciplina acarretará diretamente uma melhora na formação militar, em particular no

CFS da ESA. Obtém-se aí uma resposta à nossa questão de estudo inicial.

Esta pesquisa contribui, assim, para que o conhecimento sobre munições seja

disseminado, como já deveria ser nos bancos escolares segundo os documentos de

ensino. Cada militar formado na ESA irá ocupar funções nos diversos quartéis em

todas as regiões militares do Brasil. As instruções nos corpos de tropa certamente

terão uma melhora, e os quadros poderão discutir o assunto com mais propriedade e

embasados por uma fonte militar. Além disso, o conhecimento básico sobre munições

pode fomentar discussões e aprofundamentos no assunto, pesquisas futuras e

mudanças na forma como se emprega o tiro no Exército.

Acredita-se que com a aquisição de novos armamentos, atualmente a força

terrestre demande por conhecimento nos efeitos colaterais que a munição pode ter, e

até mesmo como o soldado no combate irá se proteger da munição utilizada pelo

inimigo. Esse tipo de pesquisa pode estimular outros trabalhos técnicos sobre

munições, vindo a definir as características de munições que melhor possa atender o

combate enfrentado pelas tropas do Exército Brasileiro, à par do que hoje é realizado

em diversos países como EUA, Alemanha e Rússia. Esses dados técnicos específicos

para os combates das tropas brasileiras atuais não puderam ser estudados, porém as

características gerais servem de base para a pesquisa futura nesse sentido.

Nesse sentido, é necessário que os conceitos específicos sejam revisados

constantemente, apesar de as características gerais das munições de armamento leve

não terem uma previsão de pesquisa de mudança de suas configurações básicas,

pois uma munição sempre precisará de um projétil, uma carga para iniciar a queima

do propelente e um estojo para unir todos os componentes.

Nesse contexto, algumas perguntas surgiram durante o levantamento da

literatura sobre o assunto:

- Até que ponto a munição utilizada pelo Exército Brasileiro é eficaz no combate

moderno?

- Seria possível utilizar uma munição mais barata para a instrução e

adestramento da tropa?

Page 114: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

113

- Seria possível/exequível dotar as tropas de naturezas diferentes com

munições de armamentos leves diferentes? Do mesmo modo, de acordo com a

finalidade da missão?

Por intermédio do resultado geral da pesquisa, é sugerido que o CI proposto

(APÊNDICE D) seja remetido para apreciação da Diretoria de Ensino e Cultura do

Exército (DECEx), permitindo que seja aplicado também na AMAN, cursos de

formação de sargentos temporários, núcleos e centros de preparação de oficiais da

reserva e outros estabelecimentos de formação de oficiais e sargentos do Exército.

Outra sugestão seria utilizar a proposta do CI como experimental, já a partir do mais

curto prazo, para incutir nos instrutores e militares recém-formados o conhecimento

sobre o assunto. Nesse caso, abordaria todos os estabelecimentos de ensino cujo

PlaDis contém a disciplina AMT.

_______________________________

IVSON BARBOSA MARINHO - Cap

GLOSSÁRIO

Page 115: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

114

Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN): escola militar responsável pela

formação dos oficiais de carreira das armas do Exército Brasileiro.

Aprendizagem atitudinal: propor dilemas e solicitar posicionamentos dos

discentes; fomentar as atividades em grupo; revezar os discentes em posições de

comando; utilizar rituais e rotinas; dar o exemplo; discutir valores, a partir de situações

do cotidiano militar e da realidade nacional e internacional.

Aprendizagem conceitual: puxar pelos conhecimentos dos discentes,

indagando-os e fomentando a discussão através de estudos de caso, levando-os,

deste modo a construir conceitos e a associá-Ios, através de mapas conceituais,

sempre que possível.

Aprendizagem factual: associar ao aprendizado dos conceitos e

procedimentos, agrupando-os por grau de afinidade, para facilitar a memorização.

Utilizar processos associativos, através de demonstrações entre objetos,

configurações e suas respectivas denominações.

Aprendizagem procedimental: realizar demonstrações, exercícios, distribuindo

os alunos equilibradamente (em termos técnicos). O instrutor deve apoiar direta ou

indiretamente (por intermédio de monitores) as execuções dos discentes, até que

ganhem autonomia na execução. Além disto, deve pedir aos discentes para explicar

os procedimentos que executa.

Caderno de Instrução: caderno tipo apostila, padronizado pela Diretoria de

Ensino e Cultura do Exército, que contém instruções de diversos assuntos militares.

Comando de Operações Terrestres (COTer): órgão de direção setorial do

Exército Brasileiro, responsável por orientar e coordenar o preparo e o emprego da

Força Terrestre, alinhado com as diretrizes do Estado Maior do Exército.

Comando Militar de Área: grandes comandos militares do Exército Brasileiro,

responsáveis pela coordenação das tropas de determinadas áreas espalhadas pelo

território nacional.

Corpo de Tropa: organizações militares responsáveis por formar e adestrar as

tropas operacionais do Exército Brasileiro, dentro de suas armas, quadros e serviços.

Curso de Formação de Sargentos (CFS): curso aplicado em estabelecimento

de ensino militar, específico para formação de sargentos de carreira das armas.

Page 116: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

115

Elementos Essenciais de Informação: informações levantadas durante um

combate, ou um reconhecimento, que vão alimentar o banco de dados da área de

operações do planejamento do escalão superior.

Ensino por competências: metodologia de ensino aplicada que visa mobilizar

uma série de recursos cognitivos, integrando-os para decidir e atuar em uma família

de situações.

Escola de Sargentos das Armas (ESA): escola responsável pela formação de

qualificação dos sargentos combatentes de carreira do Exército Brasileiro, situada na

cidade de Três Corações, Minas Gerais.

Estado Maior do Exército: órgão de direção geral responsável pela elaboração

da política militar terrestre, pelo planejamento estratégico e pela orientação do preparo

e do emprego da Força Terrestre.

Instrução Individual Básica: instrução inicial dos militares recém egressos nas

escolas e nos corpos de tropa.

Plano de disciplina (PlaDis): aos moldes da finalidade dos Programas padrão

de instrução, são voltados para instrução nos estabelecimentos de ensino militares,

sob responsabilidade do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx).

Plano de sessão: documento de ensino utilizado nos corpos de tropa e nos

estabelecimentos de ensino do Exército Brasileiro, confeccionado pelo

instrutor/professor da matéria, onde é descrito como ocorrerá aquela sessão de

aula/instrução. Neles constam dados como local, horário, métodos de ensino, meios

empregados, coordenação e controle, dentre outros.

Programa Padrão (PP): documento de instrução militar desenvolvido pelo

Comando de Operações Terrestres (COTer) do Exército Brasileiro. Para cada tipo de

formação e nível hierárquico existe um Programa Padrão de instrução. Eles

direcionam o planejamento das instruções no corpo de tropa.

Sargento de Tiro da Subunidade: sargento de uma companhia, esquadrão ou

bateria responsável pelas instruções de tiro de sua fração.

Secretaria Nacional de Segurança Pública (SeNaSP): órgão público superior

de nível federal, vinculado ao Ministério da Justiça, responsável pela política

de segurança pública no país.

Page 117: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

116

REFERÊNCIAS

ACADEMIA MILITAR DAS AGULHAS NEGRAS (Brasil). Curso de Material Bélico. Apostila de munições: nota de aula. Resende, 2005.

ACOSTA, Leonardo Fábio Dornelles. Adequação Balística: 7,62 x 51 NATO versus 5,56 x 45 NATO. 2015. 24 f. Trabalho enviado para o Estado-Maior do Exército Brasileiro. Porto Alegre, 2015.

BRASIL, ANP/PF. Cartilha de Armamento e Tiro. Brasília, DF, 2017. Disponível em: <http://www.pf.gov.br/servicos-pf/armas/cartilha-de-armamento-e-tiro.pdf/view>. Acesso em 28 jul. 2017.

BRASIL. Exército. C 23-1 Tiro das Armas Portáteis 1ª Parte: Fuzil. 1. ed. Brasília, DF, 2003a.

______. ______. C 23-1 Tiro das Armas Portáteis 2ª Parte: Pistola. 1. ed. Brasília, DF, 2003b.

______. ______. Comando de Operações Terrestres. EB70-PP-11.011 Programa Padrão de Instrução Individual Básica. 1. ed. Brasília, DF, 2013a.

______. ______. Comando de Operações Terrestres. Programa Padrão de Instrução. Qualificação do Cabo e do Soldado de Infantaria. 3. ed. Brasília, DF, 2001a.

______. ______. EB60-ME-14.061 Manual de Ensino Armamento, Munição e Tiro. 1. ed. Brasília, DF, 2013b.

______. ______. EB20-ME-60.XXX Manual do Instrutor e do Professor no Âmbito do Departamento de Cultura e Educação do Exército. Edição Experimental. Brasília, DF, 2013c.

Page 118: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

117

BRASIL. Exército. Escola de Material Bélico. Nota de Aula: Munições de Armamento Leve e de Arremesso. Rio de Janeiro, RJ, 2000.

______.______. IG 80-01: Instruções Gerais de Tiro com o Armamento do Exército. 2. ed. Brasília, DF, 2001b.

______. ______. Portaria nº 734/Comandante do Exército, de 19 de agosto de 2010. Conceitua Ciências Militares, estabelece a sua finalidade e delimita o escopo de seu estudo. Brasília, DF, 2010.

______. ______. T9-1903: Armazenamento, Conservação, Transporte e Destruição de Munições, Explosivos e Artifícios. 1. ed. Brasília, DF, 1970.

______. PODER JUDICIÁRIO/TJEAM. Manual de Armamento e Manuseio Seguro de Arma de Fogo. Manaus, AM, 2012. Disponível em: <http://bibliotecamilitar.com.br/manual-de-armamento-e-manuseio-tribunal-de-justica-am/>. Acesso em 19 ago. 2017.

CARVALHO, Eduardo Atem de. Novo Calibre Padrão para os Fuzis da OTAN: Os calibres atuais e seus limites de emprego em conflitos assimétricos. DefesaNet. Rio de Janeiro, RJ. Disponível em: http://www.defesanet.com.br/armas/noticia/22563/Os-calibres-atuais-e-seus-limites-de-emprego-em-Conflitos-Assimetricos/> Acesso em: 18 mar. 2017.

DI MAIO, Vincent J.M. Gunshot wounds: practical aspects of firearms ballistics, and forensic techniques. 2. ed. Boca Raton, Flórida: CRC Press, 1999. 402 p.

ESCOLA NAVAL (Brasil). Curso de Fuzileiros Navais. Munição: nota de aula. Rio de Janeiro, 2008.

ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA. Headquarters, Department of the Army. TM 43-0001-27 Army Ammunition Data Sheets for Small Caliber Ammunition. 1996.

HARARI, Yuval Noah. Sapiens: Uma Breve História da Humanidade. 2. ed. Porto Alegre: L&PM, 2015. Tradução de Janaína Marcoantonio.

JARDIM, Tarciso Dal Maso. O Brasil e o direito internacional dos conflitos armados. Porto Alegre: Sergio Antônio Fabris Ed., 2006. 2 v. (654; 502 p.).

Page 119: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

118

SANTOS, Rogério. M211 Elementos de Armamento - Manual do Aluno. Lisboa: Serviços Gráficos da Academia Militar. 2011. 159 p.

MARSHALL, S. L. A. Homens ou fogo? Rio de Janeiro, RJ, Biblioteca do Exército Editora, 1959. 270p.

MATIAS, Joaquim D’Andrea. Comprimentos de cano e desempenho. Revista Magnum. São Paulo, n. 26, p. 48-53, 6. Bim, 1991.

MIRANDA, Leví Inimá de. Balística Forense: do Criminalista ao Legista. 1. ed. Rio de Janeiro: Rubio, 2014.

NETO, Carlos F P. Cartuchos, pólvoras e projéteis: Noções básicas. Armas On-Line. São Paulo, SP. 2012. Disponível em: https://armasonline.org/armas-on-line/cartuchos-polvoras-e-projeteis-nocoes-basicas/> Acesso em: 16 Abr. 2018.

PEREIRA, Nuno Manoel Vivas. Os calibres das armas ligeiras de infantaria: Potencialidades e adequabilidade dos calibres 7,62NATO e 5,56NATO às missões contemporâneas. 2010. 62 f. Trabalho de conclusão de curso (mestrado em ciências militares) - Academia Militar, Mafra, Lisboa, Portugal, 2010.

REVISTA MAGNUM: Manual de Recarga de Munição. São Paulo: Sicurezza, v. 44, 2012. Bimestral.

RINKER, Robert A. Understanding firearm ballistics: basic to advanced ballistics. 6. ed. Clarksville, Indiana: Mulberry House Publishing, 2006. 427 p.

SANTOS, Rogério. M211: Elementos de Armamento. 1. Ed. Portugal, 2011. 158 p.

TEIXEIRA, Márcio Leite. Munição de Infantaria para Combates em Ambientes Urbanos. 2007. 69 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Política e Estratégia Marítimas). Escola de Guerra Naval, Rio de Janeiro, 2007.

TOCCHETTO, Domingos. Balística Forense: Aspectos Técnicos e Jurídicos. 7. ed. Campinas: Millennium, 2013.

Page 120: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

119

URUGUAY, Ejército. C 23-30: Manual de Tiro com Arma Corta e Arma Longa. 1. Ed.

Montevidéu, 2015.

VANZETTI, Oscar E. Considerações sobre a energia cinética e o momentum de um projetil de arma de fogo: a importância médico-legal. Sítio Full Aventura, 2007. Disponível em: <http://www.fullaventura.com.ar>. Acesso em: 17 abr. 2017.

VALLE, Lílian de Aragão Bastos do. Aristóteles e a Práxis: uma filosofia do movimento. Educação. Porto Alegre, v. 37, n.2, p. 263-277, mai-ago, 2014.

VASCONCELOS, Cleidison. Armas de Fogo & Autoproteção: Técnicas, Táticas e Procedimentos. 1. ed. Porto Alegre: Alcance, 2015.

VASCONCELOS, Flávia Cristina Gomes Catunda de; DA SILVA, Ladjane P.; DE ALMEIDA, Maria Angela Vasconcelos. Um Pouco da História dos Explosivos: da Pólvora ao Prêmio Nobel. In: Encontro Nacional de Ensino de Química, 15., 2010, Brasília, DF: Tópico Temático...Brasília, DF: Instituto de Química da UNB, 2010. p.1.

VERMELHO, Luís Carlos Rodrigues. Caracterização Física e Química da Pólvora.

2012. 45 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Mecânica)⎯Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal, 2012.

ZANOTTA, Creso M. Identificação de Munições. Vol I. São Paulo: Editora Magnum, 1992.

Page 121: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

120

APÊNDICE A – INSTRUÇÃO SOBRE MUNIÇÕES DE ARMAMENTOS LEVES

Page 122: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

121

Page 123: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

122

Page 124: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

123

Page 125: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

124

Page 126: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

125

APÊNDICE B – QUESTIONÁRIO PARA ALUNOS DA ESA

1. O presente instrumento é parte integrante da dissertação de mestrado em Ciências

Militares do Cap Inf IVSON BARBOSA MARINHO, cujo tema é: “Proposta de

caderno de instrução sobre munições de armamentos leves: um estudo de caso

para a escola de sargento das armas”.

2. Pretende-se, através da compilação dos dados coletados, propor um Caderno de

Instrução (CI) como sendo esta fonte de consulta.

3. Assim, no sentido de orientar esta pesquisa, foi formulado o seguinte problema: em

que medida a elaboração de um Caderno de Instrução sobre Munições de

armamentos Leves contribuirá para melhorar a formação dos sargentos de

carreira da Escola de Sargentos das Armas (ESA)?

4. Trata-se de conhecimento de nível básico sobre munições, especificamente de

armamento leve, considerando calibres de armas de fogo entre 5,5 mm e 15,24 mm.

Page 127: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

126

5. Condições de execução:

a. O questionário é individual.

b. Tempo máximo para execução: 60 min.

c. Deverá ser preenchido de caneta esferográfica azul ou preta.

d. O Aluno deverá estar em sala de aula do CA da ESA, com mesa e cadeira para

apoio.

e. É permitido consulta apenas em materiais didáticos disponibilizados pela ESA,

ou publicações militares do Exército Brasileiro. É vedada a consulta em outras

publicações que não as já citadas, bem como a outro militar em sala de aula.

6. Solicito que seja sincero em suas respostas, não utilize de meios de consulta e

responda baseado em seus conhecimentos aprendidos durante a sua formação.

7. Desde já, agradeço pela colaboração prestada e coloco-me à disposição para

quaisquer esclarecimentos necessários, por intermédio dos seguintes contatos:

- Nome: IVSON BARBOSA MARINHO

- Celular: (35) 99709-9730

- E-mail: [email protected]

IDENTIFICAÇÃO

Por favor, preencha completamente o quadro abaixo, para fins de controle e

coleta de dados do trabalho.

P/G Curso Nome (Grifar nome de guerra)

Data Local

(sala de aula) Assinatura

QUESTIONÁRIO

1ª PARTE - ARMAMENTO

Page 128: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

127

QUESTÃO 1: Qual o alcance de utilização do FAL? Marque com um “x” a alternativa

correta.

a. ( ) 600m

b. ( ) 500m

c. ( ) 400m

d. ( ) 300m

e. ( ) 200m

QUESTÃO 2: Qual o nome das peças que compõem o aparelho de pontaria do FAL?

Marque com um “x” a alternativa correta.

a. ( ) alça de combate e maça de combate

b. ( ) alça de mira e massa de mira

c. ( ) mira holográfica e mira laser

d. ( ) mira holográfica e mira termal

e. ( ) todas as alternativas anteriores estão erradas

QUESTÃO 3: Quais são as medidas preliminares a serem realizadas antes da

desmontagem em primeiro escalão de uma pistola? Marque com um “x” a alternativa

correta.

a. ( ) retirar o carregador, executar dois golpes de segurança, checar a câmara

b. ( ) retirar o carregador e executar dois golpes de segurança

c. ( ) executar dois golpes de segurança, destravar, desengatilhar e travar

d. ( ) retirar a chaveta retém da armação

e. ( ) todas as alternativas anteriores estão erradas

QUESTÃO 4: O que é Headscape? Marque com um “x” a alternativa correta.

a. ( ) Parte da câmara da arma de fogo que limita a entrada do cartucho no

cano.

b. ( ) Parte anterior do cano por onde o projétil “escapa” da arma.

c. ( ) Parte da arma de fogo por onde escapam os gases

d. ( ) Todas as respostas estão corretas.

e. ( ) Não sei.

Page 129: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

128

QUESTÃO 5: Resumidamente, como se dá o ciclo de funcionamento de um Fuzil

Para-FAL? Marque com um “x” a alternativa correta.

a. ( ) através de carregamento manual a cada tiro

b. ( ) através da ação da mola recuperadora

c. ( ) através da ação do ferrolho rotativo

d. ( ) através da ação dos gases provenientes da queima da pólvora do cartucho

e. ( ) todas as respostas anteriores estão corretas

2ª PARTE - MUNIÇÃO

QUESTÃO 6: Como se mede o calibre de uma munição? Marque com um “x” a

alternativa correta.

a. ( ) Através da medida do diâmetro do estojo do cartucho.

b. ( ) Através da medida do tamanho do cartucho.

c. ( ) Através da medida do tamanho do estojo.

d. ( ) Através da medida do diâmetro do projétil.

e. ( ) Não sei.

QUESTÃO 7: Assinale “V”, para afirmação verdadeira, ou “F”, para afirmação falsa:

( ) calibre 12 é uma medida em milímetros

( ) calibre 36 é uma medida em centímetros

( ) calibre .223 é uma medida em polegadas

( ) calibre 7,62mm possui uma energia maior que o calibre .308

( ) calibre .223 possui uma energia maior que o calibre 5,56mm

( ) ACP, em munições, significa Automatic Colt Precision

QUESTÃO 8: Dê os significados das seguintes siglas para projéteis:

a. ETPT: ________________________________________________________

b. ETOG: _______________________________________________________

c. EXPO: _______________________________________________________

d. CHOG: _______________________________________________________

e. FMJ: _________________________________________________________

f. Caso não saiba, marque aqui

Page 130: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

129

QUESTÃO 9: Quais são as partes de uma munição de armamento leve utilizada pelo

Exército Brasileiro? Marque com um “x” a alternativa correta.

a. ( ) projétil, estojo, pólvora

b. ( ) projétil, estojo, espoleta

c. ( ) projétil, estojo, propelente, espoleta

d. ( ) estojo, propelente, espoleta

e. ( ) estojo, pólvora, cápsula, projétil

QUESTÃO 10: Qual a diferença entre um cartucho 7,62mm utilizado no FAL e um

7,62mm utilizado em um fuzil AK-47? (3 linhas para resposta)

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

3ª PARTE - TIRO

QUESTÃO 11: Cite quais são os 4 (quatro) fundamentos de tiro, de acordo com o

Manual de Campanha C 23-1 Tito das Armas Portáteis, edição 2013.

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

QUESTÃO 12: Durante a regulagem do aparelho de pontaria do Para-FAL, para que

o tiro possa variar para o lado direito, o atirador deve ajustar que parte do fuzil? Marque

com um “x” a alternativa correta.

a. ( ) maça de mira

b. ( ) acionamento do gatilho

c. ( ) alça de mira

d. ( ) coronha no cavado do ombro

e. ( ) nenhuma das respostas anteriores

Page 131: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

130

QUESTÃO 13: Como deve ser o acionamento do gatilho na execução de um tiro de

precisão? Marque com um “x” a alternativa correta.

a. ( ) rápido e grosseiro

b. ( ) rápido e progressivo

c. ( ) lento e progressivo

d. ( ) lento e com força

e. ( ) todas as alternativas anteriores estão corretas

QUESTÃO 14: Ao realizar a pontaria pelo aparelho de pontaria de uma pistola, onde

o atirador deve manter o foco de sua visão? Marque com um “x” a alternativa correta.

a. ( ) no alvo

b. ( ) na alça de mira

c. ( ) no alvo e na maça de mira

d. ( ) na maça de mira

e. ( ) na alça e na maça de mira

QUESTÃO 15: Levando em consideração apenas o ciclo respiratório do atirador, qual

o momento mais propício para execução de um tiro de precisão? Marque com um “x”

a alternativa correta, e leve em consideração o previsto no Manual de Campanha C

23-1 Tiro das Armas Portáteis, edição 2013.

a. ( ) ao final da inspiração, por até 6 (seis) segundos

b. ( ) ao final da expiração, imediatamente

c. ( ) com pulmão meio cheio, por até 8 (oito) segundos

d. ( ) durante a pausa natural ao final da expiração, por até 8 (oito) segundos

e. ( ) nenhuma das respostas anteriores

FIM DO QUESTIONÁRIO

Obrigado pela participação!

Page 132: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

131

APÊNDICE C – ENTREVISTA PARA MILITARES, AGENTES E CIVIS

ESPECIALISTAS NO ASSUNTO MUNIÇÕES

1. O presente instrumento é parte integrante da dissertação de mestrado em Ciências

Militares do Cap Inf IVSON BARBOSA MARINHO, cujo tema é: “Proposta de

caderno de instrução sobre munições de armamentos leves: um estudo de caso

para a escola de sargento das armas”.

2. Pretende-se, através da compilação dos dados coletados, propor um Caderno de

Instrução (CI) como sendo esta fonte de consulta.

3. Assim, no sentido de orientar esta pesquisa, foi formulado o seguinte problema: em

que medida a elaboração de um Caderno de Instrução sobre Munições de

armamentos Leves contribuirá para melhorar a formação dos sargentos de

carreira da Escola de Sargentos das Armas (ESA)?

4. A fim de encontrar respostas para o referido problema, este questionário tem por

finalidade levantar o nível de conhecimento do assunto Munições dos sargentos

Page 133: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

132

recém-formados na ESA. Trata-se de conhecimento de nível básico sobre munições,

especificamente de armamento leve, considerando calibres de armas de fogo entre

5,5 mm e 15,24 mm.

5. As questões com “ * ” (asterisco) são de resposta obrigatória.

6. Solicito que seja sincero em suas respostas. O resultado desta pesquisa poderá

influenciar na formação do sargento de carreira combatente do Exército Brasileiro.

7. Desde já, agradeço pela colaboração prestada e coloco-me à disposição para

quaisquer esclarecimentos necessários, por intermédio dos seguintes contatos:

- Nome: IVSON BARBOSA MARINHO

- Celular: (35) 99709-9730

- E-mail: [email protected]

IDENTIFICAÇÃO

Para facilitar a consolidação dos dados, por favor, preencha as informações

solicitadas no quadro abaixo:

P/G A/Q/Sv Escola e ano de

formação Nome (Grifar nome de guerra)

Data OM/ESCOLA Assinatura

ENTREVISTA

*QUESTÃO 1: O Senhor se sente habilitado a explicar as características das munições

de armamentos leves? Porque? (3 linhas para a resposta)

Page 134: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

133

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

*QUESTÃO 2: O Senhor acha importante o estudo sobre as características das

munições de armamentos leves no EB (tipos de cartuchos e características de suas

partes)?

___________________________________________________________________

*QUESTÃO 3: O Senhor acha importante o estudo (introdução do assunto), do efeito

provocado pelos projéteis em seus alvos (balística terminal ou de efeitos)? Se sim,

esse estudo seria em Escolas de Formação, Centros de Instrução ou Corpo de Tropa

como instrução de quadros?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

*QUESTÃO 4: O Senhor já teve interesse em pesquisar, por conta própria, sobre

munições em geral? Se sim, o que motivou a pesquisa? (3 linhas para resposta)

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

*QUESTÃO 5: O Senhor acha importante que exista um Caderno de Instrução sobre

o assunto Munições, tendo em vista que já existem fontes de consulta militares no

assunto Armamento e Tiro?

___________________________________________________________________

QUESTÃO 6: Deixe aqui uma sugestão ou comentário sobre a iniciativa deste estudo,

caso sinta necessidade. (5 linhas para resposta)

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Page 135: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

134

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

FIM DO QUESTIONÁRIO

Obrigado pela participação!

APÊNDICE D – PROPOSTA DE CADERNO DE INSTRUÇÃO SOBRE MUNIÇÕES

DE ARMAMENTOS LEVES

MINISTÉRIO DA DEFESA

EB-60-CI-00.000

Page 136: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

135

EXÉRCITO BRASILEIRO

DECEX

CADERNO DE INSTRUÇÃO

MUNIÇÕES DE ARMAMENTOS LEVES

1ª Edição

2017

EB60-CI-00.000

Page 137: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

136

MINISTÉRIO DA DEFESA

EXÉRCITO BRASILEIRO

DECEX

CADERNO DE INSTRUÇÃO

MUNIÇÕES DE ARMAMENTOS LEVES

Page 138: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

137

1ª Edição

2017

PORTARIA Nº 000-DECEX, DE 00 DE XXXXXX DE 2017

Aprova o Caderno de Instrução EB60-CI-00.000 Munições de Armamentos Leves, 1ª Edição, 2017

.

O CHEFE DO DEPARTAMENTO DE ENSINO E CULTURA DO EXÉRCITO, no uso da atribuição que lhe confere o Art. 113 das IG 10-42 – INSTRUÇÕES GERAIS PARA CORRESPONDÊNCIA, AS PUBLICAÇÕES E OS ATOS ADMINISTRATIVOS NO ÂMBITO DO EXÉRCITO, aprovadas pela Portaria do Comandante do Exército nº 041, de 18 de fevereiro de 2002, resolve:

Art. 1º Aprovar o Caderno de Instrução EB60-CI-00.000 Munições de Armamentos Leves, 1ª Edição, 2017, que com esta baixa.

Art. 2º Determinar que esta Portaria entre em vigor na data de sua publicação.

Gen Ex XXXXXXXXXXXXXXXXXXX

Chefe do Departamento de Ensino e Cultura do Exército

(Publicado no Boletim do Exército nº 00, de 0 de XXXXXX de 2017)

Page 139: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

138

FOLHA REGISTRO DE MODIFICAÇÕES (FRM)

NÚMERO DE ORDEM

ATO DE APROVAÇÃO

PÁGINAS AFETADAS

DATA

Page 140: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

139

ÍNDICE DE ASSUNTOS

Pag

CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO

1.1 Generalidades ............................................................................................ 2

1.2 Terminologia ............................................................................................... 3

CAPÍTULO II – PARTES DE UM CARTUCHO

2.1 Considerações Iniciais ............................................................................... 7

2.2 Estojos ........................................................................................................ 8

2.3 Espoletas .................................................................................................... 14

2.4 Propelentes ................................................................................................ 17

Page 141: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

140

2.5 Projéteis ..................................................................................................... 19

CAPÍTULO III – CALIBRES

3.1 Definição de calibre .................................................................................... 32

3.2 Notação de calibres .................................................................................... 35

3.3 Canos de alma raiada ................................................................................ 38

3.4 Calibres restritos e permitidos .................................................................... 39

CAPÍTULO IV – BALÍSTICA

4.1 Introdução .................................................................................................. 42

4.2 Balística Interna: tamanho do cano X munição .......................................... 42

4.3 Balística Terminal ....................................................................................... 44

CAPÍTULO I

INTRODUÇÃO

1.1 GENERALIDADES

1.1.1 Este Caderno de Instrução tem a finalidade de regular e normatizar a

identificação das munições de uso nos armamentos leves em geral, e de dotação das

Forças Armadas em particular, no âmbito do Exército Brasileiro. Delimitamos como

munição de armamento leve aquelas entre 5,5 mm até 15,4 mm.

Page 142: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

141

1.1.2 Nas operações de combate, o conhecimento da munição usada pela tropa amiga

e inimiga torna-se importante tanto para quem planeja quanto para quem executa as

operações na ponta da linha. Os que planejam podem dispor suas peças de manobra

no terreno de acordo com o alcance do armamento usado pela tropa e pelo inimigo,

bem como pelo efeito causado pelo tipo de munição utilizada. Os que executam

podem decidir como progredir no terreno, quais cobertas e abrigos o estarão

protegendo, como poderão causar baixas ao inimigo, de acordo com o tipo de munição

que lhe é distribuída.

1.1.3 Nos conflitos modernos, tendo em vista os combates aproximados em áreas

edificadas com a massiva presença de civis, a escolha de munições com certas

características pode evitar efeitos colaterais para a tropa e influenciar diretamente nas

condições do apoio da população local.

1.1.4 Nesse contexto, é importante ressaltar que o resultado do tiro depende da

harmonia entre atirador, armamento e munição. O atirador deve se manter sempre

adestrado e atualizado quanto às técnicas de tiro, bem como quanto ao conhecimento

de sua arma e munição utilizados. O armamento deve ser compatível com a finalidade

a qual se destina, deve estar bem cuidado e com os acessórios adequados para cada

tipo de missão. A munição obviamente deve ser equivalente à arma, e seus efeitos

devem ser suficientes para alcançar os objetivos impostos pela missão.

Fig. 1 Trinômio atirador x armamento x munição

1.1.5 Para que todos os militares possam identificar as diversas munições de

armamentos portáteis, é importante normatizar, dentro da Força, os termos técnicos

utilizados nessa identificação, tratando basicamente: de nomenclaturas gerais, partes

Page 143: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

142

de um cartucho, as características de cada uma das partes, e de parte do estudo da

balística.

1.2 TERMINOLOGIA

1.2.1 Munição - artefato completo, pronto para carregamento e disparo de uma arma,

cujo efeito desejado pode ser: destruição, iluminação ou ocultamento do alvo; efeito

moral sobre pessoal; exercício; manejo; outros efeitos especiais.

1.2.2 Cartucho – formado por estojo, espoleta, propelente e projétil. Uma unidade da

munição.

1.2.3 Estojo – parte da munição que une o propelente, a espoleta e o projétil.

1.2.4 Espoleta – aloja a carga iniciadora do cartucho.

1.2.5 Propelentes – são substâncias que, isoladas ou em combinação com outras,

desenvolvem um impulso motor em um objeto por meio de uma combustão. Em

munições é a pólvora.

1.2.6 Projétil – objeto que atinge o alvo.

1.2.7 Tiro – lançamento de projétil balístico de uma arma.

1.2.8 Balística – ciência que estuda todas as fases do lançamento de um projétil.

1.2.9 Latão – liga de zinco e cobre utilizada na fabricação de estojos.

1.2.10 Stopping Power (poder de parada) – capacidade do projétil de incapacitar um

alvo vivo, através de transferência de energia cinética e de massa para o alvo.

1.2.11 Grains (Gr) – medida de peso utilizada para pólvoras e projéteis nas munições.

1 grain = 0,065g.

1.2.12 Headspace – espaço que delimita a entrada do cartucho na câmara do cano

através de uma parte do estojo, podendo ser o culote, o gargalo ou até mesmo a boca

do estojo.

1.2.13 Calibre - medida do diâmetro interno do cano de uma arma, medido entre os

fundos do raiamento; medida do diâmetro externo de um projétil sem cinta;

dimensão usada para definir ou caracterizar um tipo de munição ou de arma.

1.2.14 Deflagração - fenômeno característico dos chamados baixos explosivos, que

consiste na autocombustão de um corpo (composto de combustível, comburente e

outros), em qualquer estado físico, a qual ocorre por camadas e a velocidades

controladas (de alguns décimos de milímetro até quatrocentos metros por segundo).

Page 144: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

143

1.2.15 Detonação - fenômeno característico dos chamados altos explosivos que

consiste na auto propagação de uma onda de choque através de um corpo

explosivo, transformando-o em produtos mais estáveis, com liberação de grande

quantidade de calor e cuja velocidade varia de mil a oito mil e quinhentos metros por

segundo.

1.2.16 Explosão - violento arrebentamento ou expansão, normalmente causado por

detonação ou deflagração de um explosivo, ou, ainda, pela súbita liberação de

pressão de um corpo com acúmulo de gases.

1.2.17 Explosivo - tipo de matéria que, quando iniciada, sofre decomposição muito

rápida em produtos mais estáveis, com grande liberação de calor e desenvolvimento

súbito de pressão.

1.2.18 Iniciação - fenômeno que consiste no desencadeamento de um processo ou

série de processos explosivos.

1.2.19 Raias - sulcos feitos na parte interna (alma) dos canos ou tubos das armas de

fogo, geralmente de forma helicoidal, que têm a finalidade de propiciar o movimento

de rotação dos projéteis, ou granadas, que lhes garante estabilidade na trajetória.

1.2.20 Provete - são canos de armas de fogo utilizados em laboratórios, para

ensaios balísticos, onde é possível controlar as variáveis.

1.2.21 Tombak – liga metálica usada para recobrir o núcleo de chumbo de um

projétil.

1.2.22 Ante carga – sistema de carregamento de arma de fogo que é realizado pela

boca do cano, pelo próprio atirador.

1.2.23 Retrocarga – sistema de carregamento de arma de fogo que é realizado pela

câmara, através de um cartucho.

1.2.24 Higroscopicidade – capacidade que uma substância tem de resistir aos

efeitos da umidade.

1.2.25 Nitrocelulose – substância feita de fibras do algodão, utilizada para

confeccionar explosivos.

1.2.26 Ação Simples - tipo de ação de arma de fogo na qual é necessário que o cão

seja armado para se efetuar o disparo; sistema de ação de revólver, que precisa que

o cão seja armado manualmente a cada tiro para poder disparar.

1.2.27 Ação dupla – tipo de ação de arma de fogo na qual é necessário que o cão

seja armado para se efetuar apenas o primeiro disparo (como uma ação simples),

Page 145: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

144

sendo os demais disparos efetuados sem a necessidade de armar o cão (o gatilho

exerce essa função a partir do segundo disparo).

1.2.28 Dupla ação – tipo de ação de arma na qual o gatilho exerce duas ações

simultâneas: arma o cão e executa o disparo.

1.2.29 Arma de fogo - arma que arremessa projéteis empregando a força expansiva

dos gases gerados pela combustão de um propelente confinado em uma câmara

que, normalmente, está solidária a um cano que tem a função de propiciar

continuidade à combustão do propelente, além de direção e estabilidade ao projétil.

1.2.30 Espingarda - arma de fogo portátil, de cano longo com alma lisa, isto é, não-

raiada.

1.2.31 Carabina - arma de fogo portátil semelhante a um fuzil, com tamanho do cano

até 20 polegadas - cano longo, com alma raiada.

1.2.32 Fuzil - arma de fogo portátil, de cano longo (acima de 20 polegadas) e cuja

alma do cano é raiada.

1.2.33 Metralhadora - arma de fogo portátil, que realiza tiro automático.

1.2.34 Submetralhadora – arma de fogo portátil, que realiza tiro automático, com

canos de tamanho até 10 polegadas.

1.2.35 Pistola - arma de fogo de porte, geralmente semiautomática, cuja única

câmara faz parte do corpo do cano e cujo carregador, quando em posição fixa,

mantém os cartuchos em fila e os apresenta sequencialmente para o carregamento

inicial e após cada disparo; há pistolas de repetição que não dispõem de carregador

e cujo carregamento é feito manualmente, tiro-a-tiro, pelo atirador.

1.2.36 Revólver - arma de fogo de porte, de repetição, dotada de um cilindro giratório

posicionado atrás do cano, que serve de carregador, o qual contém perfurações

paralelas e equidistantes do seu eixo e que recebem a munição, servindo de

câmara.

1.2.37 Mosquetão – arma de fogo de emprego militar, com cano acima de 20

polegadas, de repetição por ação de ferrolho montado no mecanismo da culatra,

acionado pelo atirador por meio da sua alavanca de manejo.

1.2.38 Gas check – pequena lâmina circular, feita de cobre, que protege a base do

projétil contra as pressões dos gases emitidos pela explosão do propelente dentro

do cartucho.

Page 146: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

145

1.2.39 Pólvora - baixo explosivo de queima rápida, cuja reação química produz

grande quantidade de energia. Na munição, essa energia sob pressão dentro do

estojo permite a expulsão do projétil pelo cano da arma de fogo.

CAPÍTULO II

PARTES DE UM CARTUCHO

2.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

2.1.1 O cartucho moderno, como o vemos hoje, é dividido em:

Page 147: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

146

a. estojo;

b. espoleta;

c. propelente; e

d. projétil.

Fig. 2 esquema de um cartucho seccionado.

2.1.2 Temos ainda, com uma configuração um pouco diferente, os cartuchos para

espingardas, formados por:

a. Estojo;

b. Espoleta;

c. Propelente;

d Bucha; e

e. Projétil.

Fig. 3 Desenho esquemático de um cartucho de espingarda

2.1.3 O estojo é onde se agregam todas as outras partes do cartucho. Tem a finalidade

de unir a espoleta, o propelente e o projétil em uma única peça, facilitando o

carregamento da arma. Foi com o seu surgimento que se modernizaram as armas de

fogo, passando de um sistema de carregamento de antecarga para retrocarga.

Projétil

Estojo

Propelente

Espoleta

Page 148: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

147

2.1.4 A espoleta é a carga de iniciação, responsável pela queima rápida do propelente.

Se encontra no culote do estojo.

2.1.5 O propelente é responsável, após sua combustão, pela projeção do projétil para

fora do cano da arma em direção ao alvo. Isso se dá pela expansão dos gases criados

dentro do estojo pela sua queima. Fica alojado no interior do corpo do estojo.

2.1.6 O projétil é a razão de ser do cartucho, pois é ele que, efetivamente, atinge o

alvo e causa danos. O resultado final ao atingir o alvo dependerá de seu formato,

composição e armamento que está sendo utilizado. O projétil é encaixado na boca do

estojo ou no interior do cartucho.

2.2 ESTOJOS

2.2.1 Nas munições utilizadas pelas Forças Armadas os estojos são fabricados de

latão, uma liga metálica de 70% cobre e 30% zinco. O latão permite uma facilidade na

produção industrial, não enferruja, pode ser recarregado, e possui uma dureza tal que

permite uma expansão e contração por meio de calor necessária ao funcionamento

das armas de fogo.

2.2.2 Existem também os estojos que possuem uma base de aço revestida com uma

camada de latão, e seu corpo de plástico. Esses são os estojos de armamentos de

cano com alma lisa, basicamente as espingardas. O plástico é um material

abundantemente produzido em escala industrial e também permite, mesmo que

limitadamente, que os cartuchos de espingarda possam ser recarregados.

2.3.3 Existem ainda os estojos feitos de alumínio, que possuem um valor, em média,

30% menor e são utilizados geralmente para atiradores que não têm interesse em

recarga de munições. Não é utilizado pelas Forças Armadas.

2.3.4 São partes de um estojo:

a. culote ou base: é onde se aloja a espoleta;

b. corpo: em seu interior fica o propelente e possui diversos formatos; e

c. virola: saliência entre o culote e o corpo do estojo que permite a extração do

cartucho.

Corpo Culote

Virola

Page 149: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

148

Fig. 4 Imagem de um estojo vazio.

2.3.5 Os estojos são classificados quanto:

a. ao formato de seu corpo;

b. aos tipos de culote ou base; e

c. ao tipo de carga de iniciação.

2.3.6 Classificação quanto ao formato do corpo: a classificação quanto ao formato do

corpo do estojo serve para verificar a maneira pela qual eles vão se alojar na câmara

do armamento e no Headspace:

a. Cilíndrico: é o formato mais utilizado em cartuchos de armas curtas, particularmente

os revólveres. Ex.: .38, .357 Magnum. Não é utilizado por tropas regulares das Forças

Armadas.

b. Cônico: utilizado em alguns cartuchos de armas curtas, particularmente as pistolas

semiautomáticas, e facilitam o alojamento do cartucho na câmara. Ex.: 9mm

Parabellum, .380 ACP, .40 S&W.

c. Garrafa: utilizado geralmente nos cartuchos de carabinas e fuzis automáticos e

semiautomáticos (armas longas). Possuem um afunilamento na sua parte anterior,

chamado de gargalo. O gargalo é o responsável por limitar a entrada do cartucho no

interior do cano, permitindo a percussão e extração do estojo vazio após o disparo.

Ex.: 7,62x51 NATO, 5,56mm NATO, .308 WIN e .223 Remington.

Fig. 5 Tipos de estojos.

Page 150: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

149

2.3.7 Os estojos tipo garrafa utilizados em armas longas de dotação do EB são

cônicos. A olho nu a inclinação que diferencia os estojos cônicos e cilíndricos é

apenas levemente perceptível.

2.3.8 Classificação quanto aos tipos de culote ou base: a classificação quanto ao

tipo de culote do estojo serve para verificar a maneira pela qual eles vão se alojar na

câmara do armamento e no headspace, assim como o formato do estojo. Podemos

identificar também, através do tipo de culote, qual o tipo de carga iniciadora:

a. Com aro: possuem um culote com diâmetro maior que o do corpo do estojo.

Geralmente utilizados em revólveres e servem como limitadores da entrada do

cartucho na câmara. São também os estojos utilizados em cartuchos de fogo

circular. Ex.: .38 special, .357 Magnum, .22 LR.

Fig. 6 Cartuchos com aro .22 LR

b. Semi aro: possuem um culote com diâmetro ligeiramente maior que o do corpo do

estojo, e tem a função de limitador da entrada do cartucho na câmara. Ex.: .32 AUTO.

Fig. 7 Cartucho semi aro .32 S&WL CBC

c. Sem aro: o diâmetro do culote é alinhado com o diâmetro do corpo do estojo. São

atualmente os mais utilizados. São esses os estojos utilizados no âmbito das Forças

Page 151: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

150

Armadas. O limitador da entrada desses estojos na câmara de um armamento é a

interseção do estojo com o projétil. Ex.: 5,56mm NATO, 9mm Parabellum.

Fig. 8 Cartucho sem aro 9mmx19 Parabellum e 9mmx23 Steyr, respectivamente

d. Rebatido: o diâmetro do culote é menor que o diâmetro do corpo do estojo. São

pouco utilizados. O limitador da entrada desses estojos na câmara de um armamento

é a interseção do estojo com o projétil. Ex.: .50 Beowulf.

Fig. 9 Comparação entre um cartucho sem aro (à esquerda) e outros rebatidos (à direita)

e. Cinturado: possuem uma cinta que envolve a parte imediatamente acima da virola.

Servem como um reforço adicional às altas pressões exercidas por ocasião de um

disparo. Utilizados geralmente em munições para caças de grande porte. O limitador

da entrada desses estojos na câmara de um armamento é a própria cinta que o

envolve. Ex.: .458 Winchester Magnum.

Page 152: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

151

Fig. 10 Cartucho cinturado

Fig. 11 Desenho esquemático das bases de cartuchos

Fig. 12 Desenho esquemático mostrando como são os limitadores de câmara de cada tipo de estojo

(headspace)

2.3.9 Classificação quanto aos tipos de carga de iniciação: Os estojos também são

classificados quanto ao tipo de carga de iniciação, ou formato da espoleta que alojam.

Cinturado Rebatido Sem aro Semi aro Com aro

Sem aro e rebatido

Cinturado Garrafa Com aro e Semi aro

Page 153: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

152

Podem ser classificados como de fogo central, ou percussão central; e de fogo

circular, ou percussão lateral.

2.3.10 Fogo central ou percussão central: são estojos onde a espoleta, ou carga

iniciadora, se encontra encaixada no centro do culote. Tem a vantagem de,

geralmente, poder ser recarregado. Ex.: 5,56mm NATO. Podem alojar três tipos de

espoletas: Boxer, Berdan ou Bateria.

2.3.11 Os estojos que alojam espoletas do tipo Berdan possuem dois eventos que

permitem que a energia da explosão da carga iniciadora seja transmitida para dentro

do corpo do estojo, e uma bigorna acoplada ao estojo.

2.3.12 Os estojos que alojam espoletas do tipo Boxer possuem apenas um evento,

sem a bigorna.

Fig. 13 Imagem do culote de um cartucho de fogo central .380 AUTO

2.3.13 Fogo circular ou percussão lateral: são estojos cuja carga iniciadora é alojada

no interior do culote, em sua borda. O percussor atinge o fundo do culote, em sua

parte mais lateral, amassando o latão e causando um choque que inicia a carga no

interior do cartucho. Não podem ser recarregados. Ex.: .22 LR.

Fig. 14 Imagem de um cartucho de fogo circular .22 LR

Page 154: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

153

2.4 ESPOLETAS

2.4.1 As espoletas modernas também são produzidas em latão, e são em formato de

copo. Nos cartuchos de fogo central ficam alojadas em um orifício no centro do

culote do estojo, e transmitem a onda de choque proveniente de sua detonação

através de eventos ou orifícios no estojo. A detonação ocorre após o percussor

esmagar a base da espoleta, que se comprime de encontro a uma protuberância

chamada de bigorna. A bigorna está presente como componente da espoleta ou do

estojo.

Fig. 15 Imagem de uma espoleta tipo Boxer desmontada

2.4.2 A maioria das espoletas atuais são compostas por estifinato de chumbo (sal de

chumbo) e nitrato de bário, apesar de possuírem características de substâncias

tóxicas. Porém, existem espoletas sendo fabricadas com características não tóxicas,

compostas por nitrocelulose, nitrato de potássio, alumínio e Diazodinitrofenol (DDNP),

nominadas NTA (Non Toxic Ammunition). Ambas as composições são bastante

estáveis e não corrosivas.

2.4.3 As espoletas são classificadas como tipo Berdan, tipo boxer e tipo bateria

2.4.4 Espoletas tipo Berdan: tem esse nome por ter sido criada pelo norte americano

Hiram Berdan no Estados Unidos, em 1866. Consiste em um dispositivo em formato

de copo, que vai alojado no centro do culote de um estojo, que possui uma pequena

protuberância chamada de bigorna. No momento da percussão, o impacto do

percutor/percussor da arma sobre a espoleta a deforma, pressionando desta forma a

mistura iniciadora contra a bigorna, detonando a mistura. Nessas espoletas temos a

bigorna como parte integrante do estojo. Ao lado da bigorna, dois pequenos orifícios

Page 155: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

154

permitem a passagem do calor proveniente da detonação da mistura iniciadora,

causando a explosão do propelente no interior do estojo. 2.4.5 São partes de uma

espoleta Berdan:

a. Copo – feito de latão e serve para unir os componentes;

b. Mistura iniciadora – estifinato de chumbo (em geral); e

c. Selador – pequeno disco de papel que serve para acomodar a mistura iniciadora

no copo.

Fig. 16 Desenho esquemático de uma espoleta tipo Berdan

2.4.6 Espoletas tipo Boxer: tem esse nome por ter sido criada pelo oficial britânico

Edward Boxer em meados do século XIX. O que a difere do sistema Berdan é que a

bigorna não é parte do estojo, ela vem embutida como parte da própria espoleta. Além

disso, o estojo possui apenas um orifício que permite a passagem do calor emitido

pela detonação da mistura iniciadora até o interior do estojo para explodir o propelente.

A bigorna possui um formato tipo cavalete de três pernas e se encaixa no copo da

espoleta, podendo ser retirada. 2.4.7 É o tipo mais utilizado entre atiradores que

realizam recarga e na munição usada pelos militares das Forças Armadas. São partes

de uma espoleta Boxer:

a. Copo – feito de latão e serve para unir os componentes;

b. Mistura iniciadora – estifinato de chumbo (em geral);

c. Selador – pequeno disco de papel que serve para acomodar a mistura iniciadora

no copo;

d. Bigorna – feita de metal.

Page 156: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

155

Fig. 17 Desenho esquemático de uma espoleta tipo Boxer

2.4.8 Espoletas tipo bateria: são as espoletas utilizadas nos cartuchos de espingardas.

São maiores que as Berdan e Boxer por terem que suportar uma pressão maior de

energia devido a maior quantidade de mistura iniciadora. Possui a bigorna no formato

de uma bateria, o que facilita a recarga e impede que a espoleta saia facilmente.

a. Corpo (1) – feito de latão e aloja os demais elementos;

b. Copo (2) – recebe a mistura iniciadora;

c. Selador (3a e 3b) – sela a mistura iniciadora e a bigorna;

d. Bigorna (4) – feita de metal, tipo bateria; e

e. Mistura (5) - estifinato de chumbo (em geral).

Fig. 18 Desenho esquemático de uma espoleta tipo bateria

2.5 PROPELENTES

2.5.1 É a substância propulsora que irá queimar dentro do estojo, causando uma

pressão tal que expulsa o projétil engastado na boca do cartucho até atingir o alvo,

com altas velocidades. Os propelentes utilizados nas munições modernas possuem

compostos químicos e o produto de sua reação é uma combustão que emite grande

quantidade de energia e pressão, por isso são chamados também de pólvoras

5

Page 157: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

156

químicas. Diferentemente das pólvoras mais antigas - as pólvoras negras, assim

chamadas por produzirem uma fumaça negra após sua explosão e que eram

compostas por nitrato de potássio, carvão e enxofre (mistura sem reação química) -

as pólvoras modernas de reação química praticamente não emitem fumaça.

2.5.2 Outros fatores que ajudaram à ascensão da pólvora química é sua maior

estabilidade e higroscopicidade, aumentando a segurança em seu armazenamento e

resistência a umidade. Em propelentes para munições, os fabricantes revestem a

pólvora com grafite, o que lhe garantem a cor acinzentada. Isso impede que a

eletricidade estática cause ignições indesejadas, dando mais segurança no transporte

e armazenamento. As pólvoras químicas são classificadas em três tipos: pólvora base

simples (BS); pólvora base dupla (BD); e pólvora base tripla (BT).

2.5.3 Pólvora Base Simples (BS): as pólvoras BS são compostas quase

exclusivamente por nitrocelulose e gelatinizado com álcool etílico como solvente.

Possui uma temperatura de queima mais baixa que as outras pólvoras, preservando

os canos das armas; gera menos energia que as demais pólvoras; conserva melhor

suas propriedades perante grandes variações de temperatura (tanto negativas quanto

positivas); e possui excelente higroscopicidade. É o propelente usado nas munições

empregadas pelas Forças Armadas. Ex.: 7,62x51 NATO, 9mm Lugger.

2.5.4 Pólvora base dupla (BD): as pólvoras BD são compostas por nitrocelulose e

nitroglicerina, numa proporção de 50% / 50%. A adição da nitroglicerina no propelente

oferece uma maior energia na hora da combustão. Apesar da nitroglicerina ser

bastante instável, a nitrocelulose consegue dar maior estabilidade ao propelente.

Outras características do propelente de BD são: a maior velocidade de queima,

exigindo um reforço maior do cano da arma de fogo; maior sensibilidade às variações

de temperatura em relação à pólvora BS; maior resistência à umidade; iniciação de

queima mais rápida que as pólvoras BS. Vale ressaltar que não é recomendável

utilizar uma munição com pólvora BD em uma arma feita para receber uma munição

com pólvora BS, mesmo sendo de mesmo calibre, como, por exemplo, adaptar uma

munição de .357 Magnum em um revólver .38. É geralmente utilizada para munições

de caça de animais de grande porte. Ex.: .357 Magnum, .44 ACP.

2.5.5 Pólvora base tripla (BT): as pólvoras BT são compostas por nitrocelulose,

nitroglicerina e nitroguanidina. Tem enorme velocidade de queima e despendem

grande quantidade de energia. Não são utilizadas em armas portáteis, e seu uso é

para mísseis ou munições de morteiros de grandes calibres.

Page 158: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

157

2.5.6 As pólvoras são produzidas com vários formatos e tamanhos, dependendo de

sua finalidade. Devido à importância da velocidade de queima das pólvoras no

desempenho da balística do projétil, raramente as pólvoras se apresentam em pó, e

geralmente são confeccionadas em grânulos. Existem basicamente três formatos de

pólvoras químicas principais: cilíndricas: não perfuradas, monoperfuradas e

heptaperfuradas; disco compacto e disco; e lâminas de formato quadrado ou

retangular, e espessuras variadas.

Fig. 19 Desenhos esquemáticos dos formatos de pólvoras

2.5.7 Os formatos e tamanhos irão determinar, basicamente, a velocidade da queima

do propelente. Essa velocidade é medida em milissegundos, e tem relação direta entre

o tamanho do cano da arma e o efeito do projétil. Via de regra, usa-se pólvora com

velocidade de queima lenta para armas longas, e pólvoras com velocidade de

queima rápida em armas curtas.

Fig. 20 Desenho esquemático da forma de queima de pólvoras cilíndricas

2.5.8 Pólvoras de queima rápida são utilizadas para cartuchos de armas curtas porque

farão com que a total combustão do propelente se dê no momento em que o projétil

Page 159: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

158

passa totalmente pela boca do cano da arma de fogo. Isso fará com que o potencial

da queima da pólvora seja totalmente aproveitado para empurrar o projétil para fora

do cano da arma, imprimindo nele uma velocidade máxima na saída da boca do cano.

2.5.9 Já as pólvoras de queima lenta são utilizadas para cartuchos de armas longas

pelo fato de que o projétil demora mais tempo para sair pela boca do cano da arma.

2.5.10 Quando se utiliza uma pólvora de queima rápida numa arma longa, a queima

da pólvora termina antes do projétil sair pela boca do cano da arma. Isso faz com que

o projétil saia do cano com uma velocidade mais lenta. Já o contrário, a queima da

pólvora não se dá por completo, e grânulos saem do cano ainda não queimados,

causando um desperdício de pólvora – a chamada pólvora incombusta.

2.5.11 Vemos então que teremos efeitos balísticos diferentes utilizando um mesmo

tipo de cartucho com armamentos diferentes, mas de mesmo calibre. Exemplo: FAL

FN 7,62mm M964, com cano de 21 polegadas, e Para-FAL 7,62mm com cano de 17

polegadas.

2.5.12 As pólvoras mais usadas nas munições para armamentos leves de dotação do

EB são as de formato tubular mono perfuradas nas munições para armas longas, e

disco compacto nas munições para armas curtas.

2.6 PROJÉTEIS

2.6.1 Via de regra, qualquer objeto sólido que pode ser lançado por uma energia que

o impulsiona pode ser considerado um projétil balístico. Ex.: pedras, flechas, esferas

de metal, etc. Em se tratando de armas de fogo modernas, os projéteis são

confeccionados de uma maneira tal que lhe darão uma melhor balística para alcançar

a finalidade que é atingir um determinado alvo.

2.6.2 Em se tratando de cartuchos de armas curtas e submetralhadoras, o principal

efeito balístico esperado de um projétil para estas armas é a máxima transferência de

sua energia cinética para o alvo. Já os projéteis de cartuchos para fuzis, carabinas e

metralhadoras, espera-se um efeito balístico de perfuração, fragmentação ou

especial, principalmente quando se trata de uso militar. Atualmente, muito se tem

pesquisado e criado para atender uma demanda de combates modernos que é um

projétil capaz de transferir o máximo de energia para o alvo, e ao mesmo tempo ter

Page 160: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

159

certo poder de penetração e fragmentação, de forma que o projétil consiga causar

danos mesmo que o alvo esteja atrás de um anteparo ou abrigo.

2.6.3 Os projéteis para armas de fogo são fabricados geralmente com chumbo

associado a outros metais formando uma liga, o deixando mais mole ou mais duro,

dependendo de sua finalidade. Além disso o chumbo possui um baixo ponto de fusão,

permitindo uma maior deformação que irá facilitar a aderência nas raias de um cano

ou na transferência de energia para o alvo. Porém projéteis de chumbo também

podem danificar o cano do armamento devido exatamente ao seu baixo ponto de

fusão, ocorrendo o chumbamento do cano, quando essa substância se derrete e gruda

no interior das raias. Para estes casos existem os projéteis com núcleo de chumbo

revestidos com outros materiais, infringindo-lhe velocidade, maior poder de perfuração

e protegendo o cano da arma de fogo. Apresentam-se em diferentes formatos, pesos

e calibres, e são essas diferenças que darão as características da balística externa e

balística terminal do projétil.

2.6.4 Existem ainda projéteis confeccionados com outros materiais como o aço e o

cobre, sendo projéteis maciços. Já os projéteis revestidos, podem ter seu

revestimento total ou parcial, como veremos a seguir. Vale salientar que os cartuchos

considerados para armas leves, ou portáteis, são aqueles que possuem até 20mm de

calibre nominal, apesar de termos armas militares consideradas não portáteis dentro

desse limite. Ex.: Metralhadora Browning .50 (12,7mm de calibre nominal).

2.6.5 Para fins de conceituação, dividimos um projétil em:

a. base – é a parte inferior do projétil, fica engastada no estojo e está sujeita à ação

dos gases resultantes da queima da pólvora.

b. corpo – de formato cilíndrico, ajuda a fixar o projétil na boca do estojo.

c. ponta – parte superior do projétil, geralmente exposta em um cartucho.

Fig. 21 partes de um projétil

Page 161: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

160

2.5.6 Para classificarmos os projéteis, dividimos em três grupos: projéteis de chumbo;

projéteis encamisados ou jaquetados; e projéteis especiais.

2.5.7 Projéteis de chumbo: são em geral feitos de um liga metálica de chumbo,

contendo além deste, o antimônio e/ou estanho, ou de chumbo “cru”. Os mais

utilizados atualmente por atiradores são cartuchos com projéteis de liga de chumbo.

São utilizados geralmente para uso civil e desportivo em revólveres, pois exigem baixa

velocidade do projétil (velocidades subsônicas).

2.5.8 Quanto ao tipo de ponta, os projéteis de chumbo são classificados como:

a. Chumbo ogival (CHOG) – mais utilizadas em armamentos de calibres permitidos

para uso policial e defesa.

b. Chumbo canto vivo (CHCV) – muito utilizada para tiro esportivo por permitir uma

melhor visualização da perfuração no papel.

c. Chumbo semi canto vivo (CSCV) – tanto utilizada para tiro esportivo quanto em

atividades policiais e de defesa pessoal.

d. Chumbo ponta plana (CHPP) – ponta que transfere uma maior quantidade de

energia para o alvo.

e. Chumbo expansivo ponta oca (CXPO) – ponta expansiva com melhor poder de

parada e características balísticas melhoradas.

f. Esférico – esferas de chumbo de diversos diâmetros, utilizadas em cartuchos de

caça. Também chamada de balim ou bago.

g. Outros – projéteis para armas de caça e de pressão possuem formatos variados,

todos com finalidades de causar um dano específico no alvo, ou alcançar melhores

velocidades e distâncias efetivas.

Fig. 22 Alguns exemplos de projéteis de chumbo

2.5.9 Quanto ao tipo de base, os projéteis de chumbo são classificados como:

a. Plana – uso geral.

Page 162: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

161

b. Convexa – uso muito restrito.

c. Rebaixada – uso muito restrito.

d. Oca ou côncava – uso em projéteis para tiro desportivo de precisão. A pressão dos

gases força o projétil para um melhor engajamento nas raias, com consequente

melhoria na precisão.

e. Bisotada – usada geralmente por atiradores que praticam a recarga de munição,

devido ao seu formato anatômico que facilita a montagem.

f Rebatida – para uso em projéteis com gas check.

g Boat tail – utilizada em cartuchos para fuzil de precisão. Possui uma base com

formato parecido com a popa de uma embarcação, melhorando sua aerodinâmica.

2.5.10 Os corpos dos projéteis de chumbo possuem pequenas canaletas em seu

diâmetro que servem para permitir a lubrificação. Esta lubrificação é realizada com

graxa, e tem o objetivo de evitar que partículas de chumbo fiquem aderidas ao

raiamento do cano da ama, evitando seu chumbamento.

Fig. 23 Detalhes das canaletas de lubrificação

2.5.11 Existem ainda os projéteis de chumbo cilíndricos, ou balins, geralmente

utilizados em armas de cano de alma lisa, como espingardas e alguns revólveres.

Possuem diversos diâmetros e pesos, de acordo com a finalidade de utilização. A

Companhia Brasileira de Cartuchos fabrica diversos tipos deles, sendo os mais

utilizados pelas Forças Armadas e policiais e para defesa.

Page 163: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

162

Fig. 24 Quadro demonstrativo dos tipos de projéteis de chumbo para cartuchos de espingarda da

CBC

2.5.12 Projéteis encamisados ou jaquetados: assim chamados por possuírem um

núcleo de chumbo revestido por uma proteção de liga de material não ferroso com

enchimento de outros materiais. Essa camisa em volta do núcleo visa proteger o cano

evitando o chumbamento, haja visto que os projéteis encamisados são utilizados em

cartuchos para armas semiautomáticas e automáticas, com o objetivo de alcançar

maiores distâncias e melhorar a aerodinâmica. Sem a camisa, a alta energia imprimida

nesses projéteis poderia deformar o chumbo de tal forma que muito de sua massa

ficaria “agarrada” nas raias do cano e se perderia.

2.5.13 Nos cartuchos para armas longas, que atingem velocidades supersônicas, a

camisa tem um papel ainda mais importante, devido à grande quantidade de energia

imprimida no interior do cano. Com a forte expansão dos gases para expulsar o

projétil, a camisa impede que escape qualquer quantidade de gás entre o projétil e as

paredes do cano, fazendo com que o projétil absorva toda a pressão recebida.

2.5.14 Já nos cartuchos perfurantes, os chamados AP (Armour Piercing), por

possuírem um núcleo de material de maior dureza (geralmente aço, tungstênio ou uma

liga desses), a energia imprimida é ainda maior. Com um projétil mais pesado, a

energia imprimida deve permitir um maior efeito perfurante a longas distâncias, e isso

denota a necessidade do projétil receber uma camisa de proteção para preservar o

cano da arma.

Page 164: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

163

Fig. 25 Exemplo de projétil encamisado

2.5.15 Classificamos os projéteis encamisados em totalmente encamisados e semi-

encamisados, tanto para armas curtas quanto para armas longas.

2.5.16 Totalmente encamisados: são aqueles que recobrem totalmente o projétil.

Também conhecidos como FMJ (Full metal jacket). Ex.: 9mm Luger; 7,62mmx51

NATO. Podem ser:

a. Encamisado total ogival (ETOG) – geralmente utilizado para obter penetração em

alvos barricados. No calibre 9mm é de utilização militar. Usado em armas curtas.

b. Encamisado total ponta plana (ETPP) – mesmo uso da ETOG, porém com maior

transferência de energia para o alvo. Muito utilizado também para caça de animais de

grande porte em alguns calibres. Usado em armas curtas.

c. Expansivo ponta oca (EXPO) – projétil com excelentes características balísticas, de

uso policial. Possui grande transferência de energia para o alvo. São proibidas de

serem empregadas no uso militar pela convenção de Haia em 1899, da ONU. Usado

em armas curtas.

d. Encamisado total pontiagudo (ETPT) – utilizados em fuzis automáticos e

semiautomáticos. Alta precisão e penetração.

e. Hollow point boat tail (HPBT) – excelente característica balística de precisão e

expansão, também conhecido como ETPT “Match”. Utilizado em fuzis para snipers.

Page 165: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

164

Fig. 26 Exemplos de projéteis FMJ

2.5.17 Semi-encamisados: são aqueles cuja ponta do projétil não é recoberta pela

camisa, porém o corpo continua recoberto. Ex.: 9mm Lugger Soft Point. Podem ser:

a. Expansiva ponta plana (EXPP) – projétil expansivo de alto impacto de uso

geralmente policial e caça, em alguns calibres. Também chamada de ponta macia ou

soft point. Utilizado em armas curtas e longas.

b. Expansivo pontiagudo (EXPT) – projétil utilizado para armas longas, com ponta

expansiva. Ao mesmo tempo que apresenta poder de expansão, também tem uma

boa penetração.

c. Semi encamisado ponta plana (SEPP) – mesmo uso das EXPP, também chamado

de soft point, por possuir uma ponta mais maleável (sem a camisa).

EXPP EXPT SEPP

Fig. 27 Projéteis semi-encamisados

2.5.18 Projéteis militares: os projéteis militares são caracterizados por possuírem um

código de cores na ponta, padronizado internacionalmente, como no quadro a seguir:

ETPP ETOG EXPO ETPT HPBT

Page 166: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

165

Quadro 1: Código de cores para identificação de projéteis.

2.5.18 Projéteis especiais: são projéteis com características especiais, relativas à sua

balística terminal e à sua finalidade. Geralmente possuem composições e formatos

diferenciados e seu uso pode ser militar, policial ou até mesmo civil. São utilizadas

para algum propósito específico. Como alguns exemplos, temos:

Page 167: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

166

Page 168: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

167

Page 169: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

168

Page 170: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

169

Page 171: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

170

Quadro 2: tipos de projéteis especiais

Page 172: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

171

CAPÍTULO III

CALIBRES

3.1 DEFINIÇÃO DE CALIBRE

3.1.1 O calibre é a medida interna do cano de uma arma de fogo, ou tamanho da

circunferência do projétil de um cartucho. Genericamente, é usado para nominar

munições e armas de fogo.

3.1.2 Em espingardas (cano liso), o calibre é medido tomando-se uma perfeita esfera

de chumbo, com massa de uma libra (0,453 Kg.), obtendo o calibre 1. Seguindo o

mesmo raciocínio, fracionamos aquela esfera de chumbo (com uma libra de peso) em

12 partes iguais e dessas partes fazemos esferas idênticas; o diâmetro de cada uma

dessas 12 esferas resultantes será o calibre 12. Assim também, fracionando-se a

mesma esfera (com massa de uma libra) em 28 partes e fazendo com essas partes

28 esferas iguais, o diâmetro de cada uma delas nos daria o calibre 28. Isso explica

porque, neste sistema, quanto maior é o número que exprime o calibre, menor é seu

diâmetro, ou seja, o calibre 28 é menor que o 12.

Calibre (Gauge) Diâmetro do

cano (mm)

12 18,2 - 18,6

16 16,8 - 17,2

20 15,6 - 16,0

24 14,7 - 15,1

28 14,0 - 14,4

32 12,75 - 13,15

36 10,414

Page 173: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

172

Fig. 28 Tabela mostrando o diâmetro real do cano de espingardas, de acordo com seus calibres.

3.1.3 Portanto, o calibre de uma arma de cano liso não é dado em um sistema

métrico, e sim no sistema denominado GAUGE (Ga). Assim, temos calibre 12 Ga, 20,

Ga, 32 Ga etc.

3.1.4 As espingardas modernas possuem um leve estreitamento na boca do cano,

porém esse estreitamento não nomina o calibre da arma. O estreitamento serve para

diminuir a dispersão das esferas de chumbo, e é chamado de choke ou cone de

dispersão. Determina o alcance útil das espingardas. Existem três tipos de choke:

a. Choke pleno – possui uma maior concentração das esferas de chumbo até 45

metros. Mais utilizado em espingardas para caça.

b. Choke modificado – possui uma maior concentração das esferas de chumbo entre

22 metros e 36 metros. Mais utilizados em espingardas para fins militares e policiais.

c. Choke cilíndrico – possui maior concentração das esferas de chumbo entre 13

metros e 32 metros. Mais utilizados em espingardas para fins de dispersão de turbas,

motins e defesa pessoal.

Fig. 29 Gráfico demonstrativo dos tipos de choke em espingardas

Page 174: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

173

3.1.5 Na nominação de munições e armas de alma raiada, são utilizadas duas

medidas de calibres: o calibre real e o calibre nominal. O calibre real é medido pelo

diâmetro interno do cano sem as raias, ou seja, entre os “cheios” do cano. O calibre

nominal, ou do projétil, é medido pelo diâmetro entre os fundos das raias do cano, ou

seja, é levemente maior que o diâmetro real.

Fig. 30 Esquema de um cano seccionado demonstrando as medidas de calibre

3.1.6 O diâmetro dos projéteis é maior que o calibre do cano para que o projétil,

quando estiver percorrendo o cano da arma, se “agarre” às raias e faça um movimento

giratório em torno de seu próprio eixo longitudinal. Isso dá maior velocidade e precisão

para o projétil que, ao sair do cano da arma, realiza uma trajetória mais estável até

atingir o alvo. Além disso, deixa estrias marcadas no projétil que são únicas, e auxilia

em trabalhos periciais.

3.1.7 Essa diferença entre diâmetros é essencial para o bom funcionamento da arma.

As medidas são padronizadas pela SAAMI, e podem ser conferidas através de

algumas ferramentas.

3.1.8 No caso dos projéteis, é usada uma ferramenta chamada paquímetro, que

serve para medir diâmetros com precisão em escalas muito pequenas. Já no caso do

diâmetro dos canos de alma raiada, são utilizados os calibradores, que conseguem

identificar através de uma faixa de medida padronizada dos cheios se o cano está em

condições de ser utilizado. Caso a medida acuse diferença maior que a faixa aceitável,

a arma deve ser enviada ao escalão de manutenção.

3.1.9 Um exemplo é a munição 7,62x51 e a .308 Win, ambas utilizadas pelo Exército,

sendo a primeira a munição comum para combate e a segunda utilizada por caçadores

por possuir melhor balística. Ambas têm o mesmo calibre, porém a 7,62x51 indica o

calibre entre cheios do cano (calibre real), e a .308 (aproximadamente 7,82 mm) indica

Page 175: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

174

o calibre entre os fundos das raias (calibre do projétil). Vemos uma diferença nominal

de 0,20 mm, ou .007 polegadas, que é justamente a diferença entre o diâmetro do

cano sem as raias e o fundo das raias. Diferença esta praticamente imperceptível a

olho nu.

Fig. 31 exemplo de um paquímetro

3.2 NOTAÇÃO DE CALIBRES

3.2.1 Os calibres das armas de fogo com cano de alma raiada são nominados em três

sistemas de medição: o sistema métrico, o sistema imperial e o sistema misto. Já

as espingardas, como falado anteriormente, são medidos de acordo com o sistema

Gauge, mas mesmo assim têm seus calibres correspondentes em milímetros.

3.2.2 Sistema métrico: no sistema métrico o diâmetro do projétil é designado em

milímetros, acompanhado pelo tamanho do estojo do cartucho separados por um “x”.

3.2.3 Geralmente são seguidos pelo nome do fabricante, a abreviatura de milímetros

“mm”, nome do inventor da munição e outras variações. Ex.: 7,62x51mm, 9x19mm

Parabellum, 5,56x45mm NATO.

3.2.4 Em cartuchos com características especiais, podemos ter ainda a nominação

seguida das letras “R”, que significa rimmed ou com aro; e “+ P” ou “+ P +”, que

significa powder ou uma carga maior de pólvora.

3.2.5 Sistema imperial: no sistema imperial o diâmetro do projétil é designado em

frações de polegadas, representados por um ponto seguidos do valor, omitindo-se,

assim, o zero à esquerda.

3.2.6 Geralmente também são seguidos pelo nome do fabricante ou inventor do

calibre. Ex.: .50 Browning, .38 S&W, .223 Remington, .308 Winchester.

Esta Foto de Autor Desconhecido está licenciado em CC BY

Page 176: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

175

3.2.7 Em cartuchos com características especiais podemos ver ainda: AUTO, cartucho

para pistola; SPL, cartucho special com mais energia; MAGNUM, projétil que

ultrapassa 720 m/s de velocidade; BELTED, cartucho cinturado.

3.2.8 Sistema misto: no sistema misto, além de apresentar as características dos

sistemas anteriores, designa o diâmetro do projétil em fração de polegadas, com ou

sem o ponto, seguido do peso da carga de pólvora em Grains, separados por um

traço. Pode vir seguido do nome do fabricante, do inventor do calibre, etc. Ex.: .32-20

Winchester, .30-30 Winchester.

3.2.9 Na notação de cartuchos observa-se que cartuchos que possuem projéteis com

o mesmo diâmetro real, apresentam nomes diferentes. Para armas de fogo que

possuem o mesmo calibre real podemos encontrar diversos cartuchos com calibre

nominal diferentes. Assim, temos que as munições 9mm Parabellum, 9mm Browning

(ou short), .380 AUTO, e .357 Magnum, por exemplo, são todas com projéteis de

diâmetro entre .355 e .357 polegadas. O que se costuma diferenciar é o peso do

projétil, a quantidade de propelente, o tamanho do estojo, ou simplesmente um projeto

de marketing da fabricante. Para se aferir o diâmetro real de um projétil, deve-se

utilizar uma ferramenta chamada micrômetro, capaz de realizar medições em

pequenas dimensões.

3.2.10 Verificamos ainda que as munições carregam inscrições na base, com a

finalidade de identificar o fabricante, país de origem, calibre, tipo, lote, ano de

fabricação etc. Essas inscrições são as mais variadas, podendo conter números,

letras, logomarcas símbolos ou emblemas, que são cunhados radialmente ou na base

do copo da espoleta. Cada fabricante possui sua própria padronização, seguindo

também as exigências de controle do seu país de origem. No Brasil, o fabricante

Companhia Brasileira de Cartuchos (CBC), que fornece a munição governamental

para Forças Armadas e Policiais, utiliza os seguintes modelos de inscrição:

Page 177: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

176

Fig. 32 Cartucho .40 S&W da CBC. Inscrição do calibre e do fabricante.

Fig. 33 Cartucho 9x19mm da CBC utilizado pelas Forças Armadas. Inscrição do calibre,

fabricante e ano de fabricação.

3.2.11 Existem dois órgãos internacionais que regulam as medidas oficiais para armas

de fogo e cartuchos, bem como as variações permitidas para cada calibre. Por isso

existe, por exemplo, uma variação tolerável na produção de cartuchos .38, que na

verdade variam entre .355 e .357 polegadas como mostrado anteriormente. Esses

órgãos são: SAAMI - Sporting Arms and Ammunition Manufacturers' Institute, atuante

principalmente no continente americano; e o CIP - Commission internationale

permanente pour l'épreuve des armes à feu portatives, que se trata de uma comissão

internacional permanente para padronizações técnicas na produção de armas de fogo

e cartuchos.

3.3 CANOS DE ALMA RAIADA

Page 178: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

177

3.3.1 Para que possamos complementar o conhecimento de calibres, se faz

necessário conhecermos algumas características das armas de cano com alma

raiada.

3.3.2 Como visto anteriormente, as raias de um cano de arma de fogo têm a

finalidade de imprimir um movimento giratório no projétil, em torno de seu próprio eixo

longitudinal, que proporcionará características balísticas otimizadas ao próprio projétil.

Esse movimento giratório é dado devido à diferença do calibre real do cano e o calibre

do projétil, levemente maior. Essa diferença faz com que o projétil passe “apertado”

dentro do cano, se agarre às raias e que sua base receba toda a energia proveniente

da combustão da pólvora, ou seja, não existe um espaço se quer entre o projétil e o

cano da arma. Não fosse assim, parte da energia da combustão da pólvora poderia

ser dispersa entre o projétil e o cano, piorando as características balísticas do projétil.

3.3.3 Armas de fogo apresentam canos com raiados com diferente número de raias,

podendo ser em número par ou ímpar. Dependerá de qual finalidade e características

balísticas o fabricante quer imprimir em sua arma.

3.3.4 Outro conceito importante é o passo de raia. O passo de raia é a distância

necessária para que um projétil realize uma volta completa, em torno de seu eixo

longitudinal, seguindo as raias de um cano. O passo pode ser giro no sentido anti-

horário (sinestrogiro) e giro no sentido horário (dextrogiro). O passo de raia nada mais

é do que voltas x distância, esta “unidade de medida” é expressa em polegadas por

voltas, ou seja, quantas voltas o projétil vai dar ao percorrer a distância de uma

polegada. O passo de uma arma de fogo é assim representado: 1:10” (o projétil

completa um giro completo em torno de seu próprio eixo a cada dez polegadas), 1:7”,

1:12” etc.

3.3.5 O passo de raia define a precisão e o alcance do projétil. Os engenheiros levam

em consideração informações como peso do projétil, sua energia e diâmetro do calibre

real, para definir através de cálculos qual melhor passo de raia para determinado

calibre, a fim de estabelecer melhor equilíbrio entre alcance e precisão.

3.3.6 Podemos, ainda, classificar o passo de raia como simples ou misto. No passo

simples, a frequência de giro da raia é a mesma em todo o cano. Já no passo de raia

misto, a frequência de giro das raias varia dentro do comprimento do cano. Nesse

caso, ela pode começar com uma maior frequência e depois diminuir, ou vice-versa.

Page 179: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

178

Fig. 34 Esquema de raiamento simples e misto

3.3.7 Nas pistolas de uso das Forças Armadas, encontramos passos de raia maiores,

ou seja, uma rotação menor do projétil imprimida pelas raias do cano. Já em armas

longas, como fuzis, encontramos um passo de raia menor, ou seja, o passo imprime

uma rotação maior no projétil.

3.4 CALIBRES RESTRITOS E PERMITIDOS

3.4.1 No Brasil, a legislação diferencia os calibres entre permitidos para uso civil e

calibres restritos, para Forças Armadas ou policiais. O critério utilizado foi definido pelo

Decreto nº 5.123, de 1º de julho de 2004, onde as armas de calibre restrito seriam

aquelas utilizadas pelas Forças Armadas, e as de calibre permitido as demais, de

acordo com as normas do comando do Exército.

3.4.2 Já o R-105, Regulamento para Fiscalização de Produtos Controlados, define o

que são armas de calibres de uso restrito e permitido pela energia do projétil no

momento da saída do cano.

3.4.3 Conforme os artigos 16 e 17 do R-105, são calibres restritos:

a. armas, munições, acessórios e equipamentos iguais ou que possuam alguma

carcterística no que diz respeito aos empregos tático, estratégico e técnico do material

bélico usado pelas Forças Armadas nacionais;

b. Armas, munições, acessórios e equipamentos que, não sendo iguais ou similares

ao material bélico usado pelas Forças Armadas nacionais, possuam cacterísticas que

só as tornem aptas para emprego militar ou policial;

Page 180: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

179

c. Armas de fogo curtas, cuja munição comum tenha, na saída do cano, energia

superior a trezentas libras-pé ou quatrocentos e sete Joules, e suas munições,

como por exemplo os calibres .357 Magnum, 9 Luger, .38 Super Auto, .40 S&W, .44

SPL, .44 Magnum, .45 Colt e .45 Auto;

d. Armas de fogo longas raiadas, cuja munição comum tenha, na saída do cano,

energia superior a mil libras-pé ou mil trezentos e cinquenta e cinco Joules, e

suas munições como, por exemplo, .22-250, .223 Remington, .243 Winchester, .270

Winchester, 7 Mauser, .30-06, .308 Winchester, 7,62x39, .357 Magnum, .375

Winchester e .44 Magnum;

e. Armas de fogo automáticas de qualquer calibre;

f. Armas de fogo de alma lisa de calibre doze ou maior, com comprimento de

cano menor que vinte e quatro polegadas ou seiscentos e dez milímetros;

g. Armas de fogo de alma lisa de calibre superior ao doze e suas munições;

h. armas de pressão por ação de gás comprimido ou por ação de mola, com calibre

superior a seis milímetros, que disparem projetis de qualquer natureza;

i. armas de fogo dissimuladas, conceituadas como tais os dispositivos com

aparências de objetos inofensivos, mas que escondem uma arma, tais como

bengalas-pistola, canetas-revólver e semelhantes;

j. arma a ar comprimido, simulacro do Fz 7,62 mm, M964, FAL;

k. armas e dispositivos que lancem agentes de guerra qu´mica ou gás agressivo e

suas munições

3.4.4 Conforme os artigos 16 e 17 do R-105, são calibres permitidos:

a. Armas de fogo curtas, de repetição ou semiautomáticas, cuja munição comum

tenha, na saída do cano, energia de até trezentas libras-pé ou quatrocentos e sete

Joules e suas munições, como por exemplo, os calibres .22 LR, .25 Auto, .32

Auto, .32 S&W, .38 SPL e .380 Auto;

b. Armas de fogo longas raiadas, de repetição ou semiautomáticas, cuja munição

comum tenha, na saída do cano, energia de até mil libras-pé ou mil trezentos e

cinquenta e cinco Joules e suas munições, como por exemplo, os calibre .22

LR, .32-20, .38-40 e .44-40;

c. Armas de fogo de alma lisa, de repetição ou semiautomáticas, calibre doze ou

inferior, com comprimento de cano igual ou maior do que vinte e quatro polegadas ou

seiscentos e dez milímetros; as de menor calibre, com qualquer comprimento de cano,

e suas munições de uso permitido;

Page 181: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

180

d. Armas de pressão por ação de gás comprimido, ou por ação de mola, com calibre

igual ou inferior a seis milímetros e suas munições de uso permitido;

e. Armas que tenham por finalidade dar partida em competições desportivas, que

utilizem cartuchos contendo exclusivamente pólvora;

f. Armas para uso industrial ou que utilizem projetis anestésicos para uso veterinário.

CAPÍTULO IV

BALÍSTICA

4.1 INTRODUÇÃO

4.1.1 Balística é a ciência que estuda o movimento de projéteis. O estudo é dividido,

no caso de armas de fogo, em:

a. Balística interna: estuda os fenômenos que acontecem com um projétil dentro do

cano da arma;

b. Balística intermediária: estudo dos fenômenos sobre os projéteis desde o momento

em que saem do cano da arma até o momento em que deixam de estar influenciados

pelos gases remanescentes da explosão do propelente;

c. Balística externa: estudo dos fenômenos que ingfluenciam na trajetória dos

projéteis, desde que perdem a influência dos gases remanescentes da explosão do

propelente, até atingir o alvo; e

d. Balística terminal: estudo da interação entre o projétil e seu alvo. Também chamada

de balística de efeitos ou de ferimentos.

Page 182: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

181

4.1.2 Neste caderno de instrução, vamos nos ater a falar sobre a balística interna e

a terminal, para que possamos entender a relação entre o tamanho do cano de uma

arma e o tipo da munição, como o efeito que o projétil poderá causar em um alvo

animado.

4.2 BALÍSTICA INTERNA: TAMANHO DO CANO X TIPO DA MUNIÇÃO

4.2.1 A pólvora, quando queima na atmosfera, produz gases que que se expandem

centenas de vezes o volume do sólido da carga. Essa queima, e consequentemente

a expansão dos gases, se dá de forma muito rápida, porém gradual.

4.2.2 Essa reação, quando acontece confinada dentro do estojo de um cartucho na

câmara da arma de fogo, causa uma grande pressão nas paredes do estojo do

cartucho. Após o rápido e gradual aumento de volume, os gases agem em todas as

direções dentro do estojo e acabam escapando pela parte mais “frágil” do cartucho,

exercendo pressão na base do projétil, que está engastado na boca do estojo. Essa

pressão faz com que o projétil seja expulso do estojo, e percorra o cano da arma, até

que a expansão dos gases não faça mais efeito direto no projétil. Assim como a

queima da pólvora é gradual, o projétil também ganha aceleração gradual até a

queima total do propelente.

Fig. 35 Pressão dos gases da queima da pólvora, expulsando o projétil da boca do estojo

4.2.3 Com o progressivo deslocamento do projétil através do cano, os gases podem

melhor se expandir e a pressão diminuir. Se o cano for muito comprido, em algum

Page 183: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

182

ponto a pressão não será suficiente para suplantar o atrito projétil/cano e, como

resultado, a velocidade do projétil começará a decrescer.

4.2.4 O atrito projétil/cano é, muitas das vezes, determinado pelo tipo de material que

constitui ou recobre a parte externa desse projétil. Projéteis encamisados em cobre,

latão ou Tombak possuem um coeficiente de atrito superior à dos projéteis constituídos

de chumbo puro ou liga de chumbo. Além disso, os projéteis em liga de chumbo são

lubrificados para que o atrito com o cano não derreta a sua superfície, facilitando o

seu deslocamento. Por esse motivo é que projéteis de mesmo peso, mas de

constituições diferentes, (liga de chumbo e encamisado) podem resultar em

velocidades iniciais e pressões de câmara distintas.

4.2.5 É importante observar que, quanto maior o atrito projétil/cano, menor a

possibilidade (ou até mesmo nula) de que a pressão que empurra o projétil seja

diminuída devido ao escape dos gases entre o projétil e o cano. Por isso projéteis

encamisados suportam maior energia sem danificar o cano da arma, e os projéteis de

chumbo sem a camisa são utilizados em munições com menor energia.

4.2.6 Inúmeras outras variáveis podem influenciar no desempenho do projétil, além

do tamanho do cano. Características como diâmetro interno do cano, número e passo

de raia, polimento do cano, tipo de projétil (jaquetado ou chumbo, peso, constituição

etc), são alguns dos fatores que afetam diretamente o desempenho do projétil. Esses

efeitos só podem ser melhores avaliados a partir de um estudo mais técnico sobre

balística interna, o que não é nosso objetivo. Basta saber que todas essas variáveis

devem ser levadas em consideração quando formos analisar o desempenho de um

projétil como, por exemplo, se ele poderá atravessar uma parede, ou uma árvore, ou

qualquer tipo de abrigo que o militar esteja querendo utilizar como proteção ou

querendo atingir um alvo que esteja abrigado.

4.2.7 Cabe ressaltar que, regra geral, armas de cano longo infringem maior precisão

no tiro, levando em consideração também todas as outras variáveis. Fuzis utilizados

por caçadores (sniper) tendem a ter um cano maior que 18”, porém seu maior

aproveitamento se dará com uma munição específica. Já fuzis de assalto tendem a

ter canos menores, porém precisão à longas distâncias também menores.

4.2.8 A balística interna abrange outros diversos temas e variáveis de desempenho

dos projéteis no interior do cano, porém no nível tático que nos interessa, iremos ficar

apenas no entendimento superficial sobre o desempenho de um projétil em relação

ao tamanho do cano da arma de fogo.

Page 184: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

183

4.3 BALÍSTICA TERMINAL

4.3.1 A balística terminal é tratada por alguns estudiosos da balística forense como

sendo balística de ferimentos Este termo é utilizado principalmente quando se trata

de alvo animados, como humanos ou animais. A balística terminal, como num modo

geral, é utilizada em alvos inanimados, como paredes, vidros, viaturas etc. Trataremos

aqui da balística de ferimentos, focando os efeitos dos projéteis em alvos animados.

4.3.2 São inúmeros os efeitos que um projétil pode causar em um alvo animado, e vão

depender de variáveis como: tipo do projétil (material, formato, peso, velocidade etc),

fatores psicológicos e fisiológicos do alvo vivo (motivação, adrenalina, efeito de

substâncias psicotrópicas etc), local de impacto do projétil, entre outros. A literatura

da balística forense é bastante abrangente e específica, com autores divergindo em

alguns pontos importantes. Veremos aqui os efeitos de forma generalizada.

4.3.3 Geralmente, as características de um projétil são desenvolvidas para incapacitar

ou neutralizar um alvo, em uma determinada situação, seja ela de guerra, policial,

defesa pessoal ou caça. Para esse fim, existe o conceito de poder de parada do

projétil, também utilizado o termo em inglês stopping power. Esse termo é utilizado

quando se quer mensurar a capacidade que um determinado projétil tem de

incapacitar um alvo vivo, com apenas um disparo. Nesse caso, a incapacitação não é

necessariamente a neutralização do alvo.

4.3.4 Por ser um termo bastante discutível e controverso, o poder de parada de um

projétil é difícil de ser avaliado. Quando se quer incapacitar um alvo vivo

instantaneamente, o mais importante é o local onde o projétil atinge o alvo, porém o

calibre e o tipo do projétil também devem ser levados em consideração, principalmente

para evitar efeitos colaterais nas operações. Podemos listar dois dos principais

motivos de incapacitação imediata de um alvo vivo.

4.3.5 Danos no sistema nervoso central (SNC), atingindo a região entre os olhos do

alvo, na região conhecida como “T” mortal; ou na nuca, diretamente no cerebelo; ou

ainda na direção do ouvido, diretamente no tronco cerebral, que é o responsável pelo

controle de respiração e alguns atos reflexos.

Page 185: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

184

Fig. 36 Demonstração das áreas do “T” mortal, cerebelo e tronco cerebral.

4.3.6 Perda maciça de sangue, o chamado choque hipovolêmico. Geralmente

ocorre após a perfuração de algum, ou alguns, órgãos vitais que podem causar

hemorragia arterial.

4.3.7 Os efeitos que um projétil de arma de fogo pode causar em um alvo animado,

de modo geral, podem ser divididos em efeitos primários e efeitos secundários.

4.3.8 Efeitos primários: como efeitos primários temos a chamada ação direta,

provocada pelo impacto do projétil contra os tecidos do corpo, e a ação indireta, que

dependerá de fatores fisiológicos ou psicológicos do alvo atingido. No estudo dos

efeitos primários, existem quatro componentes que devem ser levados em

consideração, para avaliar o poder relativo de incapacitação de um projétil:

a. Penetração: o tipo de tecido pelo qual o projétil passa, e quais estruturas são

rompidas ou destruídas. É a característica mais importante de um projétil quando se

quer avaliar seu stopping power. Estudos científicos demonstraram que para que um

projétil tenha eficácia no seu poder de parada, deve ter uma penetração mínima de

15 polegadas, ou a grosso modo, um palmo;

b. Cavidade permanente: o volume de espaço que era ocupado por tecido e que foi

destruído pela passagem do projétil. Ocorre em função da penetração e da área frontal

do projétil. É o canal que permanece após a passagem do projétil. Assim, fica claro

que projéteis mais pesados e de maior diâmetro causam uma cavidade permanente

maior, aumentando as chances de danificar um órgão vital e causar uma hemorragia;

Page 186: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

185

c. Cavidade temporária: a expansão da cavidade permanente, devido à propagação

da onda de choque causada pela velocidade do projétil ao penetrar na massa líquida

dos tecidos do corpo. Essa onda de choque é a onda do som do deslocamento do

projétil pelo ar. Sabemos que a velocidade do som na atmosfera é de cerca de 340

m/s, e na água é maior, cerca de 1450 m/s. Levando em consideração que nosso

corpo é aproximadamente 70% (assim chamado massa líquida), a onda de choque

alcança uma velocidade maior no momento em que o projétil penetra no corpo

humano.

Nos projéteis subsônicos, com velocidades menores que a do som, a onda de choque

vai à frente da ponta do projétil. Já nos projéteis supersônicos, a onda de choque

segue no “arrasto” do projétil, e causa a cavidade temporária após a penetração da

ponta do projétil, fazendo com que essa cavidade temporária seja maior que nos

projéteis subsônicos.

A cavidade temporária possui o diâmetro muitas vezes maior do que o diâmetro do

projétil, e dura apenas frações de segundos. Pode causar danos em órgãos

adjacentes à cavidade permanente, aumentando o poder de parada do projétil.

Estudiosos afirmam que os danos da cavidade temporária são mínimos, quase nulos,

devido à elasticidade do corpo e pelo rápido período de tempo em que ela ocorre.

d. Fragmentação: pedaços de projétil ou fragmentos secundários de ossos que são

impelidos além da cavidade permanente e podem cortar tecido muscular, vasos, etc.

Fig. 37 Esquema de um projétil atravessando um alvo vivo

Onda de choque

Cavidade temporária

Cavidade permanente

Page 187: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

186

Fig. 38 Na imagem superior, a cavidade temporária causada pelo impacto de um projétil hollow point

comum. Na inferior, a cavidade temporária de um projétil fragmentável.

4.3.9 Efeitos secundários: são efeitos permanentes, pesquisáveis no corpo do alvo

atingido por projéteis de armas de fogo (orlas e zonas, e lesões típicas dos tiros à

queima-roupa). Estes efeitos não têm nenhuma relação com o poder de incapacitação

do projétil, estando restrito, seu estudo, à medicina legal e às práticas forenses.

4.3.10 Um dado importante que deve ser levado em consideração para avaliar o poder

de parada de um projétil, além de seu formato, peso, material e local atingido, é a

quantidade de energia que ele pode transmitir para o alvo ao atingi-lo. Esta energia é

calculada em Kgm (kilogrâmetros) ou J (Joules), através da fórmula:

𝑬 =𝟏

𝟐 .

𝒎𝒗𝟐

𝒈

Onde: m = massa do projétil (dado tabelado); v = velocidade do projétil em

determinado ponto da trajetória; e g = aceleração da gravidade

4.3.11 1 Kgm (um kilogrâmetro) corresponde à energia do impacto sobre o solo de um

corpo de 1 Kg a uma altura de 1 m. A velocidade do projétil poderá ser levantada

através de uma ferramenta chamada cronógrafo, utilizado geralmente a uma distância

de 5 metros do cano da arma, que é a distância considerada para medir a velocidade

máxima do projétil na saída da boca do cano. Essa distância também caracteriza que

o projétil inicia seu deslocamento sem a ação dos gases provenientes da queima da

pólvora.

4.3.12 A transferência da energia cinética para o alvo pode ser calculada medindo a

diferença de velocidade do projétil entre o momento da penetração e da saída. Caso

o projétil consiga transfixar o alvo e continue em uma trajetória, significa que ele não

Page 188: ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS Cap Inf IVSON ... CAP MA… · Aos meus camaradas de turma, Cap Inf FELIPE VIEIRA, e Cap Inf TERTULIANO, por terem contribuído diretamente

187

transferiu toda a sua energia cinética para o alvo. Já um projétil que penetra no alvo e

para no seu interior, consegue transferir toda a sua energia cinética, já que sua

velocidade final dentro do alvo é nula.

4.3.13 Para se conseguir uma boa penetração e uma máxima transferência de

energia, via de regra se usam projéteis de alta velocidade e massa menores. Além

disso, projéteis expansivos e/ou fragmentáveis também conseguem transferir o

máximo de energia para o alvo. É o caso dos projéteis hollow point, hydrachock, glaser

e frangíveis.

4.3.14 Cabe ressaltar que, mesmo projéteis que transfixam o alvo e não transferem

totalmente a sua energia, também possuem bom poder de parada, dependendo do

local do alvo onde atingem. Um projétil ogival, por exemplo, com grande velocidade e

massa, atingindo o coração de um ser humano, causará uma hemorragia severa,

choque hipovolêmico, trauma na vítima, e em alguns segundos conseguirá parar a

agressão ou ameaça.