escola da vida, faculdade do campo

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano • nº1592 8 Seu Nivaldino Domingos Onório e Dona Heliete Maria de Almeida Onório são moradores da região de Picadas, município de Érico Cardoso, há quase 30 anos. Ao pé da chapada da Pedra Quebrada, em meados dos anos 80, se casaram e começaram a construir a vida juntos. Em seu terreno de aproximadamente quatro hectares eles ergueram a casinha que em breve veria seus filhos crescerem. Apesar de ter frequentado a escola durante a infância, Din, como Nivaldino é conhecido, nunca se aplicou muito às atividades desenvolvidas na escola e acabou largando os estudos ainda jovem. O interesse e foco de Din sempre estiveram muito mais ligados à terra e à vida no campo do que na sala de aula, e foi isso que norteou seu caminho. Ainda nos anos 80, com a casinha já construída, o casal passou a cultivar de tudo em seu terreno com a finalidade de fornecer uma boa alimentação e também uma fonte de renda para a família. Além do plantio, a família tinha criação de gado que se fartava com o capim disponível na propriedade. Naqueles tempos, Din explica, as chuvas eram abundantes na região e tornava fácil a vida dos que dependiam da terra para o sustento. Com o passar dos anos a frequência e intensidade das chuvas começaram a diminuir e foi aí que os conhecimentos do pai da família foram colocados à prova. Fez-se cada vez mais necessário o conhecimento dos ciclos da terra e das águas para que as hortas seguissem produzindo. Para aproveitar ao máximo as águas da chuva, Din passou a plantar sempre alguns dias antes ou no dia logo após a chuva, favorecendo a germinação das plantas, passou também a fazer uso de cobertura morta e de adubo orgânico feito com esterco animal, pó de ossos e outros elementos e a respeitar as fases da Lua: Escola da vida, faculdade do campo Érico Cardoso Agosto/2014 Vista da Chapada da Pedra Quebrada Din e Heliete em seu quintal verde

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Retrato da experiência de vida de Nivaldino Domingos e sua esposa Heliete Maria de Almeida, em Érico Cardoso - Bahia

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Page 1: Escola da vida, faculdade do campo

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano • nº15928

Seu Nivaldino Domingos Onório e Dona Heliete Maria de Almeida Onório são moradores

da região de Picadas, município de Érico Cardoso, há quase 30 anos.

Ao pé da chapada da Pedra Quebrada, em meados

dos anos 80, se casaram e começaram a construir a vida

juntos. Em seu terreno de aproximadamente quatro

hectares eles ergueram a casinha que em breve veria seus

filhos crescerem.

Apesar de ter frequentado a escola durante a

infância, Din, como Nivaldino é conhecido, nunca se

aplicou muito às atividades desenvolvidas na escola e

acabou largando os estudos ainda jovem. O interesse e

foco de Din sempre estiveram muito mais ligados à terra

e à vida no campo do que na sala de aula, e foi isso que norteou seu caminho.

Ainda nos anos 80, com a casinha já construída, o casal passou a cultivar de tudo em seu

terreno com a finalidade de fornecer uma boa alimentação e também uma fonte de renda para

a família. Além do plantio, a família tinha criação de gado que se fartava com o capim

disponível na propriedade. Naqueles tempos, Din explica, as chuvas eram abundantes na região

e tornava fácil a vida dos que dependiam da terra para o sustento.

Com o passar dos anos a frequência e intensidade das chuvas começaram a diminuir e

foi aí que os conhecimentos do pai da família foram

colocados à prova. Fez-se cada vez mais necessário o

conhecimento dos ciclos da terra e das águas para

que as hortas seguissem produzindo.

Para aproveitar ao máximo as águas da chuva,

Din passou a plantar sempre alguns dias antes ou no

dia logo após a chuva, favorecendo a germinação das

plantas, passou também a fazer uso de cobertura

morta e de adubo orgânico feito com esterco animal,

pó de ossos e outros elementos e a respeitar as fases

da Lua:

Escola da vida, faculdade do campo

Érico Cardoso

Agosto/201 4

Vista da Chapada da Pedra Quebrada

Din e Heliete em seu quintal verde

Page 2: Escola da vida, faculdade do campo

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Bahia

“Meu tio e eu tínhamos as mesmas sementes e a

mesma terra, eu plantava sempre no quarto dia após a Lua

Nova e ele plantava ao 'Deus dará'...um tempo depois ele

vinha me perguntar porque as frutas dele estavam tão

diferentes das minhas, é Lua, eu respondia”.

Outro fator que veio em ajuda da família ocorreu em

2005, quando Din e Heliete foram contemplados com uma

cisterna de água para consumo do P1MC (Programa Um

Milhão de Cisternas). Com isso passou a sobrar mais água

para cuidar de seus canteiros, mesmo assim Din só aguava as plantas ao cair da noite para que

a água fosse melhor aproveitada pela terra, hábito que ele

mantém até hoje.

Os filhos cresceram e deixaram a casa da família, a

filha foi para São Paulo estudar pedagogia e o filho foi

trabalhar em Paramirim, mas sempre que podem voltam à

Pedra Quebrada para passar um tempo com os pais.

Seu Nivaldo já leva muitos anos de experiência

vivendo com o que a terra e seu suor lhe oferecem, em seu

terreno ele produz de tudo um pouco: milho, beterraba, cenoura, alface, abóbora, mamão,

couve, quiabo, feijão, batata, guandú, limão, laranja, café, amendoim, cebola, alho, tangerina,

abacate, boldo, babosa, maracujá nativo, palma, abacaxi,

jaca, nim, goiaba e até guaraná, além disso faz também

o plantio de cana de açúcar para a confecção de cachaça

artesanal e rapadura. “Se eu tivesse dinheiro produziria

mais coisa ainda” exclama com um sorriso no rosto.

Hoje com 49 anos, caminhando por seu quintal,

Din mostra suas colmeias de abelhas Jataí, suas galinhas

e também um pequeno tanque que foi escavado para

receber a recente criação de tilápias, além da plantação

de mamonas para a extração do óleo.

O excedente desta produção é vendido semanalmente na feira local e garante os meios

de subsistência desta família trabalhadora do semiárido baiano.

Realização Apoio

As bananeiras e os pés de abóbora

Abelhas Jataí criadas dentro de cabaças

Din ao lado do tanque escavado para criação de tilápiasA casa se perde em meio ao quintal cheio de plantas

Cachaça Artesanal de ótima qualidade

ASAMILAssociação do Semi-Árido da Microrregião de Livramento