escândalos políticos, jornalismo e identidade profissional

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SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em JornalismoVIII Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo

(Universidade Federal do Maranhão, São Luís), novembro de 2010::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::

Escândalos Políticos, Identidade Profissional e Jornalismo: Uma Perspectiva Histórica

Carlos Figueiredo 1

Resumo: Este artigo estuda o desenvolvimento do profissionalismo jornalístico no Brasil atra-vés do estudo de três escândalos políticos ocorridos em diferentes momentos históricos: o suicí-dio de Vargas, o impeachment de Collor e o Mensalão. O objetivo é apresentar o desenvolvi -mento do campo jornalístico brasileiro de uma perspectiva histórica, respeitando as particulari-dades nacionais já que as narrativas apresentadas pelas teorias da Esfera Pública e do jornalismo têm como ponto de partida realidades estrangeiras, tornando difícil a aplicação direta desses modelos ao caso brasileiro.

Palavras-chave: Escândalos Políticos; Illusio; Profissionalismo; Esfera Pública;.História do Jornalismo.

1. Introdução

O escândalo político pode ser encarado como um momento de acirramento das

tensões entre os campos político e jornalístico, e de disputas dentro dessas respectivas

esferas sociais. Com um potencial devastador nas carreiras de agentes do campo políti-

co, o escândalo pode minar o capital político dos envolvidos, uma vez que esse capital

pode ser renovado ou não a cada eleição, de acordo com a percepção do eleitorado sobre

o comportamento de seus representantes políticos. O poder destrutivo do escândalo polí-

tico advém desse fato nascer da transgressão de uma norma moral realizada por agentes

do campo político (THOMPSON, 2002, p.129), e quando os representados pelo agente

tomam conhecimento do fato podem considerá-lo indigno da confiança depositada nas

1 Jornalista, Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Per-nambuco (PPGS/UFPE) e Mestre em Comunicação (UFPE).

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eleições. A origem da tensão entre os campos tem origem no fato de que o campo jorna-

lístico é o principal responsável pela publicidade desses fatos, tornando-os conhecidos

por uma audiência indefinida numericamente.

A luta pelo poder político se transformou, nas sociedades contemporâneas, em

uma luta pelo poder simbólico de visão da realidade social e pelos poderes públicos ad-

ministrativos (BOURDIEU, 2006, p.174), e o espaço midiático se tornou a arena onde

os representados se relacionam com os agentes do campo político. Vencer a luta simbó-

lica na imposição da construção da realidade social é um meio importante de alcançar o

controle do aparelho estatal, vide as enormes cifras investidas pelos partidos e políticos

profissionais em comunicação e media training com a contratação de pessoal especiali-

zado como assessores, profissionais de marketing e etc. Todavia, é importante lembrar

que a arena simbólica onde se dá essa disputa é gerenciada pelos jornalistas e adminis-

trada segundo seus valores e práticas (GANS, 1980, p.249).

Já o campo jornalístico encara o escândalo político como um momento especial

em que a notícia pode ser potencializada enquanto um bem simbólico que persegue a

busca do interesse público, e por outro lado maximiza o potencial mercadológico da no-

tícia política. O escândalo político é um fato que preenche vários critérios de noticiabili-

dade, sendo ao mesmo tempo importante, com alto grau de interesse público, e interes-

sante, preenchendo as necessidades do campo jornalístico. Além disso, as coberturas de

escândalos políticos podem ser analisadas como momentos de reafirmação das crenças

profissionais, dos valores e da auto-imagem dos jornalistas de cães de guarda (watch-

dog) da democracia.

Contudo, não se pode acreditar que as regras práticas de funcionamento dos

campos sociais e os valores que as justificam são atemporais e estão fora de contextos

históricos. Por isso, tomando os escândalos políticos como situações-limite, realizamos

um estudo comparativo dos valores e práticas profissionais de três momentos históricos

brasileiros em que a cobertura de escândalos políticos tiveram um papel central na his-

tória do Brasil: o suicídio de Vargas, o impeachment de Fernando Collor e o caso Men-

salão, envolvendo o governo Lula. Os três episódios serão comparados com o caso nor-

te-americano Watergate, que levou à renúncia do presidente Richard Nixon. O objetivo

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é mostrar a evolução profissional do campo jornalístico brasileiro, e sua influência polí-

tica, através da avaliação do comportamento dos jornalistas nesses casos.

2. O Surgimento do Profissionalismo

As relações entre jornais e política observadas a partir do início da modernidade

eram bem diferentes das atuais. Os jornais defendiam causas políticas, era a época do

chamado publicismo, ou do jornalismo político-literário, e eram sustentados comercial-

mente pelos seus donos. Habermas (2003, p.215 – 216), defende que esses jornais ti-

nham um conteúdo crítico, funcionando como mediadores de idéias e não como “um

mero transporte de informações” e “instrumento de uma cultura consumista”. Essas mu-

danças negativas teriam acontecido depois que o jornalismo se transformou também em

empresa capitalista a partir do século XIX, graças às novas tecnologias que permitiam

uma circulação maior, e à entrada no mercado consumidor de uma massa de recém-alfa-

betizados. Para fazer jus ao investimento na circulação, os jornais teriam que ser direci-

onados para um público politicamente heterogêneo, nascia assim a imprensa de massa.

A transformação do jornalismo numa empresa lucrativa, a entrada das massas na

política e o Estado de bem-estar social que rompeu as fronteiras entre as esferas pública

e privada teriam refeudalizado a esfera pública, agora dominada por meios de comuni-

cação de massa, que passam a mostrar e a exaltar o poder de forma superficial, sem

qualquer reflexão. A “publicidade” perderia, a partir daí, “a sua função crítica em favor

da função demonstrativa”. (HABERMAS, 2003, p.241).

Para Thompson (1998, p.72) comparar a visibilidade oferecida pelos meios de

comunicação de massa com a visibilidade das cortes feudais é uma visão superficial da

complexidade das relações entre o jornalismo e a política. A nova visibilidade midiati-

zada pode sair do controle dos agentes do campo político, e o escândalo político seria

um momento em que isso pode acontecer. Já de acordo com Schudson (2003, p.69), Ha-

bermas não compreendeu que a transformação do jornalismo em empresa capitalista no

século XIX foi acompanhada da profissionalização do campo, trazendo benefícios para

a democracia e diminuindo a influência dos proprietários e dos partidos políticos sobre

o jornalismo.

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Os jornais deixariam de depender de subsídios políticos e passam a contar com

as receitas da publicidade e as vendas dos jornais, permitindo sua despolitização, funda-

mental na instalação de uma nova forma de jornalismo que privilegia os fatos e não a

opinião (TRAQUINA, 2004, p.36). Esse movimento de profissionalização teria criado

um novo ethos jornalístico que faz nascer a prática da caça de escândalos (muckraking)

e uma visão do jornalista como adversário do poder constituído e cão de guarda da de-

mocracia, tornando a revelação de transgressões morais por agentes do campo político

parte da auto-imagem profissional dos jornalistas (THOMPSON, 2002, p.112-113). O

escândalo político seria, portanto, um momento de reafirmação desse papel jornalístico.

Trinta anos depois, Habermas revisa seus postulados teóricos, resgatando o pa-

pel democrático da Esfera Pública dentro de um novo contexto social. O autor passa a

entender a esfera pública como uma rede de comunicação de conteúdos, funcionando

como um filtro, que ao mesmo tempo sintetiza os conteúdos e opiniões públicas produ-

zidas na sociedade (HABERMAS, 1997, p.92). Habermas amplia o seu conceito ao es-

tender o poder de integração e formação do debate exercido pelos meios massivos de

comunicação para além de contextos sociais partilhados como os cafés do século XIX.

Habermas (2007) passa a defender a manutenção de jornais capazes de oferecer bom

jornalismo atendendo à demanda por formação e informação, oferecendo um lucro acei-

tável; e reconhece, no texto, a importância da produção de notícias no Estado democrá-

tico de direito, defendendo o papel da imprensa de fornecer informação credível, que

serve de base para a discussão pública.

Dentro desse novo contexto, a notícia possui dupla face. Ao mesmo tempo em

que é um bem público, é também um bem econômico. O escândalo político-midiático

seria o tipo de notícia que preencheria as exigências dos dois pólos do campo do jorna-

lismo. O pólo positivo ou ideológico estaria tendo seus requisitos preenchidos pelo fato

de que o escândalo político permite que os agentes do campo jornalístico reafirmem sua

imagem mítica de cão de guarda. Enquanto o pólo negativo, o econômico, estaria sendo

satisfeito por uma notícia com suficiente potencial para atrair a curiosidade pública

(BOURDIEU, 1997, p.105 – 106).

Thompson (2002, p.142) se concentra em cinco mudanças sociais importantes

que causaram o crescimento dos escândalos políticos: (1) a crescente visibilidade dos lí-

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deres políticos, (2) a mudança nas tecnologias de comunicação e de vigilância, (3) a mu-

dança na cultura jornalística, (4) a mudança na cultura política e (5) a crescente regula-

mentação da vida política. Todas as mudanças propostas têm de ser levadas em conta

num estudo sobre o fenômeno do escândalo político, entretanto aqui o foco será coloca-

do na cultura dos jornalistas.

3. O Escândalo sob a Ótica Jornalística

Os mitos ligados ao papel do jornalismo no surgimento da democracia e na sua

manutenção que garantem à profissão suas garantias constitucionais, e dão aos jornalis-

tas um sentido de missão à sua ocupação. Essas crenças e valores carregados pelos jor-

nalistas são essenciais para o campo, assim como para o seu senso prático. As crenças

sustentam as práticas e lhes dão sentido. É no conceito de illusio que essa relação com a

crença mantida dentro dos campos sociais pode ser explicada.

A illusio é uma fantasia subjetiva assentada numa crença partilhada, a qual os

agentes de um campo aderem em busca de distinção, de honra, de um sentido para seus

atos, de uma razão para existir, em outras palavras a illusio dá sustentação aos atos dos

agentes de determinado campo (BOURDIEU, 1996, p.106). A crença na importância do

que está sendo feito é essencial para um agente de qualquer campo, tanto que Bourdieu

(1997a, p. 143) considera a illusio como a condição e o fruto do funcionamento do cam-

po. A comparação (BOURDIEU, 1997a, p.14) entre illusio, campo e jogo pode ajudar a

esclarecer o sentido desse conceito para o funcionamento do campo. Quando alguém se

engaja em um jogo, ele deve aceitar as regras do jogo, considerar seus objetivos impor-

tantes, enfim, encará-lo com seriedade; ter um interesse além do puramente econômico,

um interesse pelo jogo social que é disputado dentro do campo.

O jornalismo não se limita a retratar a realidade, ele também contém valores ou

modelos que se tornarão preferenciais nas narrativas jornalísticas. As notícias não dizem

apenas como a sociedade é, elas trazem pistas implícitas de como a sociedade deveria

ser, através do modo que as situações e agentes são relatados (GANS, 1980, p.39). O

fato é incompleto e os jornalistas preenchem parte de seus espaços vazios com os valo-

res da sua cultura profissional. Os valores jornalísticos, de acordo com a tipologia pro-

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posta por Gans (1980, p.41), podem ser divididos em valores duráveis (Enduring Valu-

es) e valores tópicos (Topical Values). Este último tipo de valores é expresso em opini-

ões sobre temas ou tópicos em voga num curto espaço de tempo, já os valores duráveis

podem ser encontrados em diferentes tipos de coberturas jornalísticas por um longo pe-

ríodo de tempo, contundo não são eternos.

Os valores duráveis para Gans (1980, p.42) podem ser agrupados em oito gru-

pos: etnocentrismo, democracia altruística, capitalismo responsável, pastoralismo de ci-

dade pequena, individualismo, moderação, ordem social e liderança nacional. Esses va-

lores são tirados de uma pesquisa empírica feita nos EUA, mas como lembra Traquina

(2005), ao estudar a cobertura da AIDS em quatro diferentes países (Brasil, Portugal,

EUA e Espanha), os jornalistas mesmo localizados em diferentes culturas nacionais par-

tilham uma cultura profissional semelhante. Sanders e Canel (2006, p.455) pesquisando

comparativamente escândalos políticos concluíram que apesar das diferenças nas cober-

turas, havia três similaridades na forma que os jornalistas cobriam escândalos políticos

em ambos os países: usam intensos recursos humanos e materiais, revelam fatos pouco

palatáveis sobre o campo político e foram enquadrados a partir de valores morais. As di-

ferenças ficaram por conta das disputas realizadas dentro do campo político e do grau de

institucionalização do regime democrático nos dois países, defendemos que os valores

profissionais também passam por um processo de negociação com as diferentes culturas

nacionais, resultando em identidades jornalísticas próprias em cada país. Quatro dos va-

lores citados por Gans podem ser reafirmados durante a cobertura de escândalos políti-

cos: democracia altruística, capitalismo responsável, ordem social e os relativos à quali-

dade da liderança.

A democracia altruística é uma visão da democracia que entende que esse tipo

de organização da sociedade deve trilhar sempre o caminho do interesse público. Os

escândalos políticos geralmente envolvem, em alguma medida, o uso da posição confe-

rida pelo cargo político em benefício próprio. Já o capitalismo responsável seria o siste-

ma econômico ideal na visão jornalística do mundo. Esse valor seria mobilizado apenas

nos casos de escândalos político-financeiros. O valor da ordem social pode ser conside-

rado central na explicação da importância do escândalo político. As notícias sobre des-

vios morais trazem implícitas pistas do que os jornalistas consideram atitudes morais

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desejáveis, e ao relatar os escândalos políticos o campo jornalístico está defendendo que

essas transgressões da moral vigente não estão de acordo com o que se espera da ordem

moral de um sistema democrático. Por fim, para que a ordem moral e social seja manti-

da, os jornalistas consideram que as lideranças devem agir de acordo com esses valores

e ter determinadas competências para manter a situação sob controle. Lideranças que

transgridem a moral vigente passam a ser enxergadas com desconfiança pelo campo jor-

nalístico.

O mito em torno das coberturas de escândalos políticos deve muito ao caso Wa-

tergate e à imagem criada em torno dos jornalistas responsáveis por essa cobertura: Bob

Woodward e Carl Bernstein, que trabalhavam no diário americano Washington Post.

Para Schudson (1995, p.142, tradução nossa), “nenhuma outra narrativa na História

Americana colocou a imprensa num papel tão proeminente e heróico”. Principalmente

em função do best-seller Todos os Homens do Presidente (BERNSTEIN e WO-

ODWARD, 1978), que conta a saga da cobertura do caso, e sua transformação em um

premiado filme em que Woodward e Bernstein são encarnados por duas estrelas de

Hollywood, Robert Redford e Dustin Hoffman. O caso terminou com a renúncia do pre-

sidente Richard Nixon. De acordo com Schudson (1995, p.143) pouco se discute o que

Nixon fez para quase sofrer impeachment, mas o mito em torno dos dois repórteres é

lembrado mais de três décadas depois do caso.

O caso americano teve seu embrião no arrombamento do comitê do partido de-

mocrata em 1972; localizado no prédio Watergate. Cinco homens munidos de maquinas

fotográficas e equipamentos eletrônicos capazes de interceptar conversas telefônicas fo-

ram presos durante o arrombamento. Todos os homens detidos possuíam ligações com a

CIA e o partido republicano. Com o desenrolar das investigações, foi descoberto um es-

quema de espionagem política envolvendo o presidente Nixon, eleito pelo partido repu-

blicano em 1970. A investigação levada a cabo pelo FBI, a Polícia Federal Americana;

pela justiça e pelos jornalistas do Washington Post acabou juntando provas da participa-

ção de assessores próximos a Nixon, e que comprovavam sua responsabilidade no caso.

(BERNSTEIN e WOODWARD, 1978).

Para Schudson (1995, p.143) o caso Watergate criou alguns mitos em relação ao

jornalismo americano, sendo os mais importantes aqueles que dariam conta de que o

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caso teria gerado mudanças institucionais no jornalismo. Entre elas estaria uma ênfase

maior no jornalismo investigativo e o aumento da agressividade dos jornalistas america-

nos em relação aos governantes. A maior mudança causada pelo caso Watergate para

Schudson (1995, p.164), não foram, entretanto, possíveis mudanças de comportamento

no jornalismo, mas a volta da mitologia da caça de escândalos que surgiu nos primórdi-

os da profissionalização do jornalismo no início do século XX. O caso Watergate permi-

tiu que determinados valores jornalísticos fossem reafirmados, e esse foi um dos seus

principais méritos.

4. Profissionalismo e Escândalos Políticos no Contexto Brasileiro

Comparar o desenvolvimento do campo jornalístico e suas relações com o cam-

po político utilizando os modelos europeus e norte-americanos pode levar a um erro de

avaliação. Tanto a teoria da Esfera Pública, formulada por Habermas, quanto o surgi-

mento do jornalismo narrado pelos teóricos do jornalismo não podem ser aplicados dire-

tamente ao contexto brasileiro, mas servir como base de comparação para uma análise

do caso nacional. As teorias do profissionalismo nos EUA e da Esfera Pública na Ingla-

terra, país que serve de modelo para Habermas, são narradas em contextos de continui-

dade institucional e elaboradas como tipos ideais2.

O desenvolvimento da imprensa no Brasil conviveu com rupturas institucionais

no campo político que afetaram o desenvolvimento da profissionalização do jornalismo

e o funcionamento da Esfera Pública. Depois da ditadura do Estado Novo que implan-

tou a censura de jornais, o Brasil vive um breve espasmo democrático a partir de 1945

que termina com o golpe militar de 1964. A ditadura militar, que a exemplo do Estado

Novo impõe censura ao campo jornalístico, termina apenas em 1985. Todas essas mu-

danças fizeram com que o campo jornalístico brasileiro adotasse um regime de objetivi-

dade e uma identidade profissional própria que oscila entre o modelo norte-americano,

factual, e o europeu, mais analítico (MATOS, 2008).

2 O tipo-ideal é um modelo simplificado do real, baseado em traços considerados essenciais pelo pesqui -sador para a determinação da causalidade. Tais construções permitem determinar o local tipológico de um fenômeno histórico, permitindo avaliar se o modelo construído teoricamente se aproxima da realidade. “A construção é simplesmente um recurso técnico que facilita uma disposição e uma tipologia mais lúcidas” (WEBER, 1982, p.372).

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A cultura e o sistema políticos podem determinar diferenças no formato e no

conteúdo das notícias políticas dos países, e até mesmo no uso da linguagem jornalística

como constataram Hallin e Mancini ao comparar as notícias televisivas da Itália e dos

EUA (1993, p.312). Já Sponholz (2004, 162), ao comparar as noções de objetividade no

Brasil e na Alemanha, concluiu que, apesar da influência norte-americana, a objetivida-

de possui características próprias nos dois países, de acordo com suas diferentes tradi-

ções culturais e com o contexto histórico em que foi adotada. A partir dessas hipóteses

foram analisados os regimes de objetividade e profissionalismo em três escândalos polí-

ticos, localizados em diferentes momentos históricos: o suicídio de Vargas, o impeach-

ment de Collor e o caso do mensalão.

Três escândalos políticos brasileiros marcaram a política brasileira nos últimos

60 anos, em dois deles dois governantes saíram do poder com participação marcante do

jornalismo em momentos históricos diferentes, mas nenhum caso, por motivos diferen-

tes, teve a força do Watergate. O primeiro caso estudado aqui, que teve seu desfecho

com o suicídio de Getúlio Vargas, pode ser relacionado à pressão da imprensa. Depois

de sua vitória nas eleições presidenciais em 1950, em que se elegeu com a oposição da

maioria da imprensa, Vargas ajudou o jornalista Samuel Wainer a fundar o jornal Últi-

ma Hora, que funcionava como um jornal oficioso, mas que trouxe profundas mudanças

para o jornalismo brasileiro, no que concerne ao aspecto gráfico e a busca em alcançar o

maior público possível através de um produto atraente.

Surge então uma campanha contra Última Hora, liderada por Carlos Lacerda,

que acusava Wainer de praticar Dumping, prática que consiste em oferecer um produto

de qualidade superior por um preço inferior ao praticado no mercado para levar a con-

corrência à bancarrota. Os concorrentes acusavam Wainer de ser financiado por fontes

oficiais. Lacerda era dono de um pequeno jornal carioca, Tribuna da Imprensa, e líder

de uma ala do partido União Democrática Nacional (UDN) que ganharia importância a

partir da década de 50, expressando de forma agressiva o rancor de um setor da classe

média, que se sentia excluída à medida que os políticos passavam a cortejar as emergen-

tes classes populares que começavam a ter permitida a participação política (GOL-

DENSTEIN,1987,p.52). A oposição ferrenha era resultado do temor causado pelo dis-

curso populista de Vargas e suas posturas nacionalistas. Pedidos de Impeachment e de

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renúncia eram parte das estratégias da UDN para obter a deposição de Vargas. Os

escândalos nessa época eram alimentados por uma postura moral chamada, por estar li-

gada à pregação moralista da UDN, de udenismo que defendia a moralização da política

e dos homens públicos, buscando a explicação dos comportamentos políticos nos valo-

res morais dos homens públicos, tendo para Benevides (1981, p.267) um fundo autoritá-

rio.

Apesar de os escândalos alimentados contra Vargas fazerem parte de uma con-

juntura de crise política, a imprensa tive um papel importante nos desdobramentos que

levaram ao seu suicídio. No dia 05 de agosto de 1954, aconteceu o famoso atentado da

Rua Toneleros em que ocorreu a morte do Major Rubem Vaz e em que Lacerda foi feri-

do. O presidente passa a ser apontado como mandante do crime, dando origem a um

escândalo de poder. “A opinião concentrada de jornais, rádios e emissoras de TV de-

sempenha um papel avassalador nos fatos políticos que culminam com o suicídio do

presidente Getúlio Vargas” (BAHIA, 1990, p.269). O suicídio de Vargas foi seu último

ato político, e o transformou em um mártir, principalmente pelo tom dramático da sua

carta-testamento. A imprensa era muito politizada e em sua maioria ligada à oposição,

não podendo assumir um papel heroico nessa ocasião. A edição do jornal Última Hora

(FIG 1), ligado ao governo Vargas, no dia seguinte ao suicídio traz na sua capa uma sín-

tese da narrativa que teria entrado para a história oficial: Getúlio Vargas, vítima da opo-

sição, se desfaz da própria vida para impedir um golpe.

FIG 1 - Capa do Jornal Última Hora – 25/08/1954

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Fonte: http://www.arquivoestado.sp.gov.br/uhdigital

Goldenstein (1987) considera que a indústria cultural brasileira ainda não havia

se desenvolvido inteiramente no momento em que jornais como Última Hora surgiram.

Ainda que fossem utilizadas técnicas próprias da Indústria Cultural, esses periódicos

ainda obedeciam a um paradigma de engajamento político que não teria conseguido im-

por a lógica do profissionalismo e da objetividade. A imposição do regime militar em

1964, que levou à censura aos meios de comunicação, foi mais um obstáculo a esse pro-

cesso. Num primeiro momento, houve a adoção, por conta da censura, de um padrão

oficialista que privilegiava a informação advinda de fontes do regime. A divulgação de

pontos de vistas que estavam fora dos círculos oficiais ficou por conta da imprensa al-

ternativa.

Contudo, a campanha das Diretas-Já, que ganhou força em 1984 e nasceu de ini-

ciativas da sociedade civil organizada, representou uma mudança nesse quadro, princi-

palmente após a Folha de São Paulo resolver apoiar o movimento. Como avalia Matos

(2008, p.51), o apoio da Folha, seguido depois por outros meios de comunicação teve

uma dupla face. O engajamento da Folha e de seus profissionais na consolidação de ide-

ais democráticos não deve ser desprezado, contudo a direção do jornal entendia que a

abertura política seria benéfica para o desenvolvimento da empresa além de a cobertura

da campanha das Diretas ter servido como um elemento de marketing e consolidação da

importância política da publicação. Após as Diretas-Já e com a derrota da emenda cons-

titucional que permitia as eleições diretas para presidente ter sido derrotada no congres-

so, a direção do jornal coloca em prática o chamado projeto Folha, mudança editorial

que preparava o jornal para um novo contexto histórico, adotando os padrões norte-a-

mericanos, e abandonando o jornalismo engajado, visando atrair um número maior de

leitores.

O caso Fernando Collor veio a tona depois que Pedro Collor, irmão do presiden-

te, concedeu uma entrevista à revista Veja, em maio de 1992, acusando o tesoureiro da

campanha presidencial de seu irmão, o empresário Paulo César Farias, de controlar um

esquema de corrupção dentro do governo. Collor acabou sofrendo um processo de Im-

peachment e sendo destituído do cargo. O impeachment de Fernando Collor carrega

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grande simbolismo, já que este foi o primeiro presidente eleito de forma direta desde

1960. A participação do campo jornalístico na eleição de Fernando Collor em 1989, até

então um desconhecido que saíra candidato por uma legenda (PRN) inaugurada para

abrigar seu projeto político, foi marcante e decisiva, refletindo o temor de que Luís Iná-

cio Lula da Silva (PT) vencesse o pleito (RUBIM, 1998, p.30).

Motivado pelas afinidades ideológicas entre os donos das publicações e o então

candidato a presidente, o campo jornalístico construiu um cenário favorável á eleição de

Fernando Collor. De acordo com Matos (2008), a exceção foi a Folha de São Paulo,

mas sem grande impacto. Após a famosa entrevista de Pedro Collor, os meios de comu-

nicação começaram uma cruzada pela cassação do então presidente. Os jornalistas, nes-

se contexto, assumiram o papel de cão de guarda, deixando de lado a objetividade em

alguns momentos, mas conseguindo êxito nas denúncias contra Collor.

O campo jornalístico como um todo teve influencia decisiva no processo de im-

peachment de Collor (FIG 2), contudo a derrubada do presidente não criou um mito

como Watergate, pois não existiu a solidão jornalística de Woodward e Bernstein que ti-

veram suas investigações contestadas pelos seus superiores. Pode ser dito que houve

uma ação conjunta dos meios de comunicação, além da participação central de fontes

como Pedro Collor, que denunciou o próprio irmão. Outra questão que colaborou para a

que não fosse criado tal mito é a ideia difundida no senso comum de que “a mídia colo-

cou Collor no poder e depois o tirou de lá”.

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FIG 2 - Capa da revista ¨Veja¨, 30/09/1992

Fonte: www.cpdoc.fgv.brApós o caso Collor, a cobertura da imprensa foi atingindo a cada eleição, de

acordo com Matos (2008) um nível maior de profissionalismo e objetividade, com algu-

mas exceções, e diminuindo o preconceito ideológico contra os candidatos que não re-

presentavam o ponto de vista oficial, além de apresentarem boas análises da conjuntura,

culminando com a elogiada cobertura das eleições presidenciais de 2002, que com a

eleição de Luís Inácio da Silva, levou o PT ao poder. Embora Matos (2008, p.299) con-

sidere que o profissionalismo e a objetividade tenham trazido benefícios para o exercí-

cio do jornalismo e para a sociedade, outros como Moretzsohn (2001) defendem que a

adoção da objetividade significa a redução de um problema ético-político a um proble-

ma técnico, encobrindo o papel de construção da realidade exercido pelo campo jorna-

lístico que teria se rendido à lógica de mercado.

Os padrões de profissionalismo que vinham sendo implantados em grande parte

do campo jornalístico brasileiro, contudo, são abandonados no caso “Mensalão”, que re-

velou pagamentos feitos a parlamentares da base aliada do governo petista para que vo-

tassem a favor de projetos importantes propostos pelo poder executivo. As denúncias

que deram origem ao escândalo foram feitas pelo deputado Roberto Jefferson, que cu-

nhou a expressão que deu nome ao caso, em entrevista concedida ao jornal Folha de

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São Paulo, no dia 6 de junho de 2005, em que o parlamentar explicou em detalhes como

funcionava o esquema, dando início ao escândalo.

FIG 3 – Capa da Revista “Veja”, 13/07/2005Fonte: http://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/130705/capa.html

Lima (2006, p.20) critica a cobertura adotada pelo campo jornalístico naquele

momento, por ter adotado o enquadramento da “presunção de culpa”, ou seja, as denún-

cias contra o PT e o governo Lula eram divulgadas, muitas vezes, antes de qualquer

apuração mais rigorosa (FIG 3). O enquadramento adotado pelos meios de comunicação

tratava, de acordo com Lima, o governo e seus integrantes como culpados antes do des-

fecho de qualquer investigação. Muitos analistas de mídia e acadêmicos classificaram a

cobertura do escândalo “Mensalão” como tendenciosa, pelo fato de o jornalismo “cão

de guarda” ter sido exercido em conjunto com preconceitos ideológicos, levando ao

abandono da objetividade e do profissionalismo. O enquadramento continuou sendo

adotado nas eleições de 2006, contudo Lula foi reeleito no segundo turno.

5. Conclusão

As rupturas institucionais no Brasil pedem um tipo de análise diferenciado em

relação aos modelos europeu e norte-americano. O campo jornalístico brasileiro encon-

trou dificuldades para implantar padrões de desempenho condizentes com o seu papel

em democracias devido à censura imposta por regimes autoritários. Dessa forma para

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entender a complexidade do caso brasileiro é preciso compreender os contextos históri-

cos em que o jornalismo foi praticado, e para fazê-lo de forma mais apropriada analisa-

mos os escândalos políticos, momentos em que as tensões entre o campo jornalístico e

político aumentam de forma exacerbada, permitindo a compreensão dos valores profis-

sionais em voga naquelas oportunidades.

A adoção gradual do regime de profissionalismo e objetividade no Brasil não

significou uma submissão completa ao modelo norte-americano, mas uma adaptação

deste à conjuntura nacional. O profissional brasileiro ainda não possui uma identidade

tão forte como o norte-americano, a identidade jornalística brasileira ainda se encontra

em construção, realizada através de uma negociação com diferentes modelos, apesar dos

indícios de que o padrão norte-americano ganha cada vez mais espaço nas redações bra-

sileiras. Acreditamos que os escândalos políticos retratem de maneira muito aproximada

os valores profissionais partilhados pelos jornalistas, apesar de escândalos recentes mar-

carem a vida política brasileira nenhum teve o caráter reafirmador das crenças que sus-

tentam o campo, no caso a Illusio, como o caso Watergate.

Contudo, apesar das semelhanças entre as culturas jornalísticas ao redor do mun-

do, o sistema e cultura políticos influem bastante no conteúdo das notícias. No Brasil,

eleições presidenciais são um fenômeno recente para o campo jornalístico, se comparar-

mos a experiência democrática brasileira com a vivenciada nos EUA, por exemplo,

onde eleições são um ritual que acontece desde o século XVIII. Podemos dizer, portan-

to, que o jornalismo brasileiro está lidando com uma nova situação. Prova disso é que a

primeira alternância de poder, em termos de bloco histórico, aconteceu em 2002 com a

eleição de Lula. Espera-se que o campo jornalístico brasileiro possa se adequar à experi-

ência democrática e ao mesmo tempo encontrar uma identidade própria, em um proces-

so de amadurecimento que ajude a fortalecer as intuições políticas no país.

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