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UNIVERSIDADE DE LISBOA
FACULDADE DE PSICOLOGIA
DISCREPNCIA E ACORDO ENTRE INFORMADORES NA
AVALIAO DA ANSIEDADE EM CRIANAS EM IDADE
ESCOLAR:
DISCREPNCIA E ACORDO ME CRIANA
Patrcia Isabel Simes Oliveira
MESTRADO INTERGRADO EM PSICOLOGIA
(Seco de Psicologia Clnica e da Sade/Ncleo de Psicologia Clnica
da Sade e da Doena)
2011
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UNIVERSIDADE DE LISBOA
FACULDADE DE PSICOLOGIA
DISCREPNCIA E ACORDO ENTRE INFORMADORES NA
AVALIAO DA ANSIEDADE EM CRIANAS EM IDADE
ESCOLAR:
DISCREPNCIA E ACORDO ME CRIANA
Patrcia Isabel Simes Oliveira
Dissertao Orientada pela Professora Doutora Ana Isabel Pereira
MESTRADO INTERGRADO EM PSICOLOGIA
(Seco de Psicologia Clnica e da Sade/Ncleo de Psicologia Clnica
da Sade e da Doena)
2011
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i
AGRADECIMENTOS
Agradeo Professora Doutora Ana Isabel Pereira pela presena,
disponibilidade, orientao e incentivo, que tornaram a realizao deste trabalho mais
fcil, mais aliciante e enriquecedor. Agradeo ainda por esta oportunidade de
aprendizagem e crescimento.
Agradeo tambm Professora Doutora Lusa Barros pelo seu comentrio atento
e perspicaz.
minha famlia, ao meu namorado e aos meus amigos pelo constante apoio,
compreenso e incentivo, pois foram uma contribuio preciosa na realizao deste
trabalho, especialmente aos meus pais, aos meus dois irmos, ao Ricardo, Carla e
Telma.
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ii
RESUMO
As Perturbaes de Ansiedade tm uma elevada prevalncia na infncia e na
adolescncia. Na sua avaliao so verificadas discrepncias na informao recolhida
aos vrios informadores. Este trabalho teve por objectivo o estudo da discrepncia e
acordo me-criana na avaliao da ansiedade nas crianas atravs de um estudo
quantitativo, e a anlise das atribuies para a discrepncia atravs de um estudo
qualitativo.
No estudo quantitativo participaram 253 crianas dos 7 aos 13 anos e as suas
mes. Recorreu-se ao Questionrio de Avaliao de Perturbaes Emocionais
Relacionadas com a Ansiedade em Crianas (SCARED-R), verso criana e pais para
avaliao da discrepncia; ao Questionrio de Estilos Educativos Parentais (EMBU-C)
para avaliar o suporte emocional da me; e ao Inventrio de Estado-Trao de Ansiedade
(STAI-Y) para avaliar a ansiedade trao da me. No estudo qualitativo foi usada uma
subamostra de 7 mes. Recorreu-se ADIS-P (Anxiety Disorder Interview Scheduale
for Parents) verso pais, e guio de entrevista semi-estruturada para avaliao das
atribuies e perspectivas relativas discrepncia.
Os resultados demonstraram a existncia de discrepncia significativa me-
criana, com a criana a reportar mais problemas de ansiedade. Ainda se observou um
acordo me-criana baixo a moderado. Verificou-se uma associao significativa entre
crianas do sexo masculino e discrepncia no sentido de a me sinalizar mais
problemas. Quando a criana reportava mais problemas, havia maior prevalncia do
sexo feminino. Na ansiedade de separao existe associao significativa entre uma
baixa discrepncia e crianas em idades mais novas. Na fobia especfica, h um maior
nmero de casos de crianas mais novas a sinalizar mais problemas. O suporte
emocional e ansiedade trao da me no revelaram associaes significativas com a
discrepncia. Quando era a me a reportar maior ansiedade, a atribuio da discrepncia
era maioritariamente centrada na criana. Este estudo contribuiu na demonstrao que
as discrepncias no so apenas inconvenientes metodolgicos.
Palavras-Chave: Perturbaes de Ansiedade, Discrepncia, Acordo, Atribuies
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iii
ABSTRACT
Anxiety disorders are highly prevalent in childhood and adolescence. In its
assessment, discrepancies in the information collected through various informants are
observed. This investigation aimed to study the discrepancy and agreement between
mother and child in the assessment of anxiety in children through a quantitative study,
and analyze the attributions for the discrepancies through a qualitative study.
Quantitative Studies involved 253 children from 7 to 13 years old and their
mothers. It was used the Screen for Child Anxiety Related Emotional Disorders-
Revised (SCARED-R), version child and parents to evaluate the discrepancy;
Questionnaire of Parenting Rearing Styles (EMBU-C) to evaluate the mother's
emotional support perceived by the child; and Inventory State-Trait anxiety (STAI-Y) in
order to evaluate the mother's trait anxiety. In the Qualitative Study we used a
subsample of seven mothers. It was used the ADIS-P (Anxiety Disorder Interview
Schedule for Parents) version for parents and a semi-structured interview for assessing
the attributes and perspectives of the discrepancy.
The results demonstrated the existence of significant discrepancy between
mother and child, being the child to report more anxiety problems. Yet, the mother-
child agreement was low to moderate. There was a significant association between male
children and discrepancy in the sense of the mother signaling more trouble. When the
child reported more problems, there was a higher prevalence of females. In separation
anxiety disorder exists a significant association between low discrepancy and younger
children. In specific phobia, there are a greater number of cases of younger children
reporting more trouble. Emotional support and trait anxiety of the mother were not
significantly related to the discrepancy between mother and child. When the mother
reports a higher anxiety, maternal attribution of the discrepancy is mainly focused on
children. This study helped to demonstrate that the discrepancies are not only
methodological drawbacks.
Keywords: Anxiety Disorders, Discrepancy, Agreement, Attributions, Perspectives
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iv
NDICE
1. ENQUADRAMENTO TERICO1
1.1.Perturbaes de Ansiedade...1
1.1.1.Medo e Ansiedade: Normal e Patolgico.1
1.1.2.Tipo de Perturbaes de Ansiedade..3
1.1.3.Co-morbilidade.9
1.2.Recolha de Informao relativa s Perturbaes de Ansiedade.10
1.2.1.Discrepncia e Acordo entre Diferentes Informadores...10
1.2.2.Caractersticas dos Informadores que Influenciam a Discrepncia/
Acordo ....13
1.2.3.Atribuies para as causas do Problema.15
1.2.4.Modelo ABC para a Anlise das Discrepncias entre Informadores..16
2. OBJECTIVOS E METODOLOGIA...21
2.1.Objectivos do Estudo..21
2.2.Desenho da Investigao22
2.3. Amostra.22
2.3.1. Estudo Quantitativo...22
2.3.2. Estudo Qualitativo.25
2.4. Procedimento de Recolha de Dados..26
2.4.1. Estudo Quantitativo...26
2.4.2. Estudo Qualitativo.27
2.5 Instrumentos Utilizados..28
2.5.1. Estudo Quantitativo...28
2.5.2. Estudo Qualitativo.31
2.6. Anlise de Dados...32
2.6.1. Anlise Estatstica do Estudo Quantitativo32
2.6.2. Anlise do Estudo Qualitativo...34
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v
3. APRESENTAO E ANLISE DOS RESULTADOS....43
3.1. Estudo Quantitativo...43
3.1.1. Estudo de Discrepncia entre Me e Criana quanto Sintomatologia
Avaliada pelo SCARED-R. 43
3.1.2. Estudo do Acordo entre Me e Criana quanto Sintomatologia Avaliada
pelo SCARED-R..45
3.1.3. Estudo dos Factores Associados Discrepncia...46
3.2. Estudo Qualitativo.50
3.2.1. Atribuies para a Discrepncia....50
3.2.1. Factores Associados Discrepncia..53
4. DISCUSSO DOS RESULTADOS E CONCLUSES....57
4.1. Estudo Quantitativo das Discrepncias, Acordo e Factores Relacionados com a
Discrepncia57
4.2. Estudo Qualitativo das Atribuies para a Discrepncia..63
5. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS....68
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vi
ANEXOS
Anexo 1 Consentimento informado para os pais para a participao dos prprios e dos
seus filhos na primeira fase do estudo CD-R
Anexo 2 Consentimento informado para os pais para a participao dos prprios e dos
seus filhos na segunda fase do estudo CD-R
Anexo 3 SCARED-R Verso Criana CD-R
Anexo 4 SCARED-R Verso Pais CD-R
Anexo 5 EMBU-C CD-R
Anexo 6 STAI Y CD-R
Anexo 7 Guio de Entrevista Semi-Estruturada CD-R
Anexo 8 Transcrio das Entrevistas CD-R
Anexo 9 Categorizao das entrevistas CD-R
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vii
NDICE DE QUADROS, FIGURAS E GRFICOS
Quadros
Quadro 1 Caractersticas da amostra do estudo quantitativo: Variveis da
Criana.23
Quadro 2 Caractersticas da Amostra do Estudo Quantitativo: Variveis
Familiares24
Quadro 3 Caractersticas da Amostra do Estudo Qualitativo: Variveis da
Criana.25
Quadro 4 Caractersticas da Amostra do Estudo Qualitativo: Variveis
Familiares26
Quadro 5 Valores da Consistncia interna do SCARED-R.. 29
Quadro 6 Subcategorias da Categoria Justificao para a Discrepncia.37
Quadro 7 Subcategorias da Categoria Comunicao entre Me e Filho.40
Quadro 8 Subcategoria da Categoria Conhecimento do Filho41
Quadro 9 Subcategorias da Categoria Proximidade Emocional.42
Quadro 10 Discrepncia entre Me e Criana na Avaliao de Sintomatologia de
Ansiedade na Criana: Mdias, Medianas, Desvios-Padro e Resultados do Teste
Wilcoxon.44
Quadro 11 Coeficiente de Correlao de Spearman do Acordo entre
Informadores45
Quadro 12 Factores Associados Discrepncia entre Informadores Atravs do Teste
2: Sexo da Criana..47
Quadro 13 Factores Associados Discrepncia entre Informadores Atravs do Teste
2: Idade da Criana.....48
Quadro 14 Teste de Kruskal-Wallis para Anlise do Suporte Emocional da Me
Percebido pela Criana Atravs do EMBU-C.49
Quadro 15 Teste de Kruskal-Wallis para Anlise da Ansiedade Trao da Me Atravs
do STAI-Y..49
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viii
Grficos
Grfico 1 Sentido da Discrepncia e Justificao para a Discrepncia...52
Grfico 2 Situao Hipottica e Justificao para a Discrepncia...53
Grfico 3 Comunicao entre Me e Filho..54
Grfico 4 Justificaes para a Percepo Negativa Insatisfao..55
Grfico 5 Conhecimento do Filho...55
Grfico 6 Proximidade Emocional..56
Figuras
Figura 1 Categoria Discrepncia/Acordo35
Figura 2 Categoria Justificao para a Discrepncia...36
Figura 3 Categoria Comunicao entre Me e Filho...39
Figura 4 Categoria Conhecimento do Filho41
Figura 5 Categoria Proximidade Emocional...42
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ix
INTRODUO
A presente investigao pretende analisar a discrepncia e o acordo entre os
informadores, me e criana, quanto sintomatologia de ansiedade da criana, bem
como alguns factores associados discrepncia. Prope-se ainda analisar as atribuies
e perspectivas da me para a discrepncia na avaliao da sintomatologia de ansiedade
da criana.
Assim este trabalho composto por sete captulos: o primeiro captulo consiste
na reviso da literatura e observao do estado da arte relativamente ao tema das
Perturbaes de Ansiedade na Infncia e ao tema da Discrepncia e Acordo; o segundo
captulo desta investigao constitudo pela apresentao do estudo emprico. Este
engloba os objectivos que orientaram este trabalho, bem como a descrio da
metodologia quantitativa e qualitativa utilizada: no terceiro captulo so apresentados os
resultados dos estudos quantitativo e qualitativo, bem como a sua anlise; o quarto
captulo constitudo pela discusso dos resultados e concluses desta investigao,
bem como algumas consideraes finais; e, por ltimo, no captulo cinco, encontram-se
as referncias bibliogrficas.
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1
1. ENQUADRAMENTO TERICO
As Perturbaes de Ansiedade so um dos problemas de sade mental mais
comuns nas crianas e nos adolescentes (Kessler, Berglund, Demler, Jin, Merikangas &
Walters, 2005, Ezpeleta, Guillamn, Granero, Osa, Domnech, & Moya, 2007 e Rapee,
Schniering & Hudson, 2009).
Este tipo de perturbao parece ter um forte impacto nas crianas e adolescentes
(Rapee, Schniering & Hudson, 2009), envolvendo custos para as prprias crianas, para
as suas famlias, e para a sociedade. Grande parte dos problemas que decorrem na
infncia tm consequncias a longo-prazo (Pereira, 2009). Muitas crianas que tm
perturbaes de ansiedade, continuam a ter perturbaes de ansiedade na adolescncia e
idade adulta (Costello, Mustillo, Erkanli, Keeler, & Angold, 2003; Ollendick & King,
1994). Para alm disso, crianas com perturbao de ansiedade tm a forte possibilidade
de desenvolver depresso e perturbaes de externalizao (Costello et al, 2003). Por
exemplo, um estudo de Woodward e Fergusson (2001), encontrou uma associao
linear entre o nmero de perturbaes de ansiedade na adolescncia e resultados
adversos no incio da vida adulta. Deste modo, quanto maior o nmero de perturbaes
de ansiedade, maior o risco de problemas de sade mental como as perturbaes de
ansiedade, depresses, dependncia de tabaco e lcool, dependncia de drogas ilcitas e
comportamentos suicidas.
Segundo Kendall (2000), todas as crianas experimentam medos e ansiedades,
sendo que estes representam uma perturbao psicolgica apenas quando se apresentam
de forma intensa, prolongada, e interferindo na vida da criana.
1.1. Perturbaes de Ansiedade
1.1.1. Medo e Ansiedade: Normal e Patolgico
Uma em cada seis crianas padece ou ir padecer de uma perturbao
psiquitrica (Costello et al, 2003). As perturbaes de externalizao e internalizao
so as formas mais comuns de psicopatologia na infncia e na adolescncia (Zahn-
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Waxler, Klimes-Dougan & Slattery, 2000). Os problemas de externalizao
caracterizam-se por comportamentos que so prejudiciais e disruptivos para os outros.
J as perturbaes de internalizao, onde se enquadram as perturbaes de ansiedade,
dizem respeito a um conjunto de perturbaes nas emoes e no humor, que incluem
sintomatologia de tristeza, culpa, medo e preocupao.
Por vezes os conceitos de medo e ansiedade surgem como sinnimos ou surgem
alternados, no o sendo no entanto (Baptista, Carvalho & Lory, 2005; Muris, 2007).
Para distinguir estes dois termos, Baptista et al, (2005), consideram que no medo existe
um estmulo desencadeador externo que leva a comportamentos de evitamento ou fuga.
J a ansiedade o estado emocional aversivo sem desencadeadores claros que no
podem ser evitados. Muris (2007) acrescenta que o medo ocorre geralmente quando
estamos perante uma ameaa prxima ou eminente, sendo que a sua funo a de
colocar o organismo em alerta para que este esteja preparado para uma aco imediata,
quer esta seja lutar ou fugir. O mesmo autor refere que a ansiedade pode ser manifestada
sem a presena de um perigo ou ameaa real, sendo que a sua manifestao mais
comum a preocupao. Este autor acrescenta ainda que a ansiedade pode evoluir para
perturbao de ansiedade, caracterizada por tenso, apreenso, preocupao e
desconforto geral, sendo que a ansiedade emerge sem fonte de perigo objectivo.
Segundo Ollendick, King e Muris (2002), os medos que surgem na infncia e na
adolescncia so transitrios, normativos e frequentes. Craske (1997) acrescenta que
fazem parte do desenvolvimento, sendo adaptativos pois constituem respostas
protectoras a estmulos que no so compreensveis nem controlveis. Desta forma, os
medos que vo aparecendo durante a infncia resultam de uma maior capacidade de
percepo de perigos potenciais em diferentes situaes, e, simultaneamente de uma
incapacidade em compreender a situao na sua totalidade e de exercer controlo sobre
essa mesma situao (Pereira, 2009 p.97). Por exemplo, o medo das alturas que surge
nos bebs pouco tempo depois de estes comearem a gatinhar parece ter a funo de,
numa altura em que aumenta o comportamento exploratrio do meio, proteger o beb e
a sua integridade fsica. Desta maneira, os medos surgem em perodos especficos do
desenvolvimento, visando a facilitao da resoluo de tarefas especficas em cada
etapa de desenvolvimento, e, quando deixam de ser adaptativos, diminuem ou
desaparecem (Pereira, 2009). Os medos ou receios ditos normais so transitrios e
pouco intensos, no tendo repercusses quer no desenvolvimento, quer na rotina da
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3
criana ou adolescente (Crujo & Marques, 2009). Muitos estudos demonstram uma
diminuio no nmero dos medos medida que a criana cresce (Craske, 1997).
Muris (2007) refere vrios estudos empricos alusivos aos medos mais
frequentes das crianas, chegando concluso que estes so, por ordem decrescente, a
preocupao exagerada com a competncia, necessidade excessiva de tranquilizaes,
medo das alturas, medo de falar em pblico, medo do escuro, medo que a figura de
vinculao sofra algum dano, preocupao excessiva com comportamentos passados,
auto-conscincia, medo de se despir/vestir na frente de outros, queixas somticas, e
temer o contacto com os outros.
Desta forma, importante salientar que a ansiedade e o medo so considerados
patolgicos quando so exagerados e desproporcionais em relao ao estmulo, ou
qualitativamente diferentes do que esperado naquela faixa etria, interferindo na
qualidade de vida, no bem-estar emocional, ou no desempenho dirio do indivduo
(Castillo, Recondo, Asbahr & Manfro, 2000). Os mesmos autores referem que para
diferenciar a ansiedade normal da patolgica importante avaliar se a reaco ansiosa
de longa ou de curta durao, se auto-limitada, e se est relacionada com o estmulo.
1.1.2. Tipos de Perturbaes de Ansiedade
De seguida so descritas as principais caractersticas das vrias perturbaes de
ansiedade na infncia, sendo que as quatro principais perturbaes (ansiedade de
separao, fobia social, fobia especfica e ansiedade generalizada) so apresentadas em
primeiro lugar.
Ansiedade de Separao
A Ansiedade de Separao a nica perturbao de ansiedade especfica da
infncia. Silverman e Dick-Niederhauser (2004), consideram que a Perturbao de
Ansiedade de Separao mais prevalente na infncia e no incio da adolescncia. A
ansiedade de separao manifesta-se pelo medo excessivo e irrealista de separao da
figura de vinculao, geralmente um dos pais. Este medo interfere de forma
significativa nas tarefas de desenvolvimento e nas actividades dirias. Uma preocupao
muito comum a de que a figura de vinculao possa sofrer algum tipo de dano, ou que
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esse dano ocorra nelas prprias quando esto separadas da figura de vinculao,
havendo, assim, a possibilidade de no voltarem a estar juntos. Os sintomas associados
a esta perturbao (emocionais, cognitivos, somticos e comportamentais), relacionados
com o medo ou ameaa de separao da figura de vinculao, prejudicam de forma
marcada o bem-estar da criana, as suas relaes com a famlia e os amigos, a sua
capacidade de participar e progredir na escola e nas actividades criativas e (ou)
recreativas.
A prevalncia desta patologia varia entre 0,7% e 12,9% em crianas e pr-
adolescentes e 2% a 3,6% nos adolescentes (Craske, 1997). J, segundo o DSM-IV, esta
perturbao tem uma prevalncia de cerca de 4% nas crianas e adolescentes jovens,
sendo que em amostras clnicas, esta perturbao parece afectar ambos os sexos. Em
amostras epidemiolgicas, esta perturbao mais frequente no sexo feminino (APA,
2002; Foley, Rutter, Pickles, Angold, Maes, Silberg & Eaves, 2004).
Fobia Social
Caracteriza-se pelo desejo do contacto e dos encontros sociais, mas, ao mesmo
tempo, a angustia de quando as crianas o fazem (Beidel, Morris & Turner, 2004). H
um medo marcado e persistente de situaes sociais, que se manifesta por inibio
social e timidez generalizada. Os autores referem estudos empricos que delimitam a
idade mdia de incio da fobia social no incio e meio da adolescncia, facto tambm
confirmado por Kessler et al, (2005). Segundo o estudo de Beidel, Turner e Morris
(1999), as situaes que provocam mais ansiedade nas crianas com fobia social so
apresentaes em pblico como ler em voz alta ou jogar futebol, e interaces sociais
consideradas normais (iniciar conversas, conversar com adultos, entrar numa conversa,
atender o telefone). No mesmo estudo, referido que crianas com fobia social
experienciam um grande sofrimento emocional. A fobia social compromete o
funcionamento acadmico, familiar e social de crianas e adolescentes. Deste modo,
estas crianas so geralmente solitrias, evitando actividades extracurriculares,
experimentando sintomas somticos como o caso das dores de cabea e de barriga
quando antecipam ou durante situaes de avaliao social. A ansiedade e o evitamento
das actividades sociais prejudicam o relacionamento interpessoal e impedem que a
criana se envolva em actividades tpicas da infncia, tendo, assim, impacto na vida da
criana, pois afecta as relaes de amizade e prejudica outros aspectos do
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funcionamento. de referir que as crianas com fobia social tm conscincia de que a
sua angstia social fora dos limites do que considerado normal para aquela situao.
Em termos de prevalncia, esta perturbao de ansiedade varia entre 0,9% e
1,1% em crianas em idade escolar. J nos adolescentes, a prevalncia situa-se em 1,1%
(Craske, 1997).
Fobia Especfica
Esta patologia caracterizada por medo persistente e intenso em relao a
objectos ou situaes especficas (Albano, Chorpita & Barlow, 2003). O DSM-IV
considera quatro subtipos de fobias especficas. Assim, h o subtipo animal, em que o
medo relativo a animais ou insectos; o subtipo natural, referente a objectos no
ambiente, como as tempestades, o escuro ou a gua; ainda o subtipo relacionado com
sangue-injeces-ferimentos, em que o medo relativo exposio ao sangue de uma
ferida, de levar uma injeco, ou de ser sujeito a outros procedimentos mdicos
invasivos; ainda o subtipo situacional referente a, por exemplo, transportes pblicos,
tneis, pontes, elevadores, espaos fechados, entre outros; e, por ltimo, o subtipo
referente a outras fobias, como por exemplo, rudos altos, personagens com disfarces,
vomitar, apanhar uma doena, entre outros exemplos. Nas crianas com fobia
especfica, a exposio ao estmulo fbico provoca, uma resposta ansiosa quase
imediata, que pode manifestar-se num ataque de pnico. Desta forma, os estmulos
fbicos tendem a ser evitados, ou enfrentados com sofrimento. de salientar que a
criana pode no se aperceber que este medo excessivo ou irrealista.
Grande parte das fobias especficas comea no incio ou a meio da infncia
(Kessler et al, 2005). Segundo o DSM-IV, o contedo das fobias varia em funo da
cultura, sendo que, nas crianas, a ansiedade pode manifestar-se de diferentes formas:
choro, birras, imobilidade ou comportamento de procurar estar sempre perto de um
adulto significativo (APA, 2002). No que toca prevalncia desta perturbao, em pr-
adolescentes varia entre 2,4% e 9,2%, e na adolescncia 3,6% (Craske, 1997).
Ansiedade Generalizada
uma perturbao da ansiedade que tem como caracterstica fundamental, a
preocupao. Nesta perturbao, a preocupao mais intensa, mais prolongada e
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incontrolvel do que as preocupaes mais normativas (Flannery-Schroeder, 2004). As
preocupaes so persistentes e abrangem vrios domnios, eventos e actividades da
vida da criana. Assim, h preocupao com o futuro, com a sade, com o desempenho,
e com a segurana dos outros (APA, 2002). Flannery-Schroeder (2004) refere ainda que
a acompanhar a preocupao surgem sintomas fisiolgicos como o caso da
inquietao, a fadiga, a tenso muscular e as perturbaes no sono. Assim, as queixas
somticas so comuns neste tipo de perturbao. Tambm surgem sintomas como a
irritabilidade e as dificuldades de concentrao. de notar que as crianas com
perturbao de ansiedade generalizada so, geralmente, perfeccionistas. Assim, caso
no consigam fazer uma tarefa de forma perfeita, no a fazem de todo. Deste modo,
estas crianas so excessivamente auto-crticas, requerendo garantias excessivas e
frequentes, tendo uma auto-conscincia marcada que se manifesta de forma rgida na
adeso s normas sociais e dos pares, ou atravs da recusa em envolverem-se em
comportamentos que podem ser avaliados negativamente pelos outros. So ainda
consideradas crianas muito maduras para a idade.
Flannery-Schroeder (2004) faz referncia a estudos empricos que observaram
que h mais raparigas diagnosticadas com ansiedade generalizada do que rapazes.
Outros estudos referenciados pela autora demonstram ainda que, crianas com idade
inferior a 12 anos experienciam menos sintomas, enquanto que as mais velhas
experienciam mais sintomas. Esta perturbao apresenta uma prevalncia entre 2,7% e
12,4% em crianas e pr-adolescentes e 2,4% a 7% na adolescncia (Craske, 1997).
Perturbao de Pnico
Segundo Ollendick, Birmaher e Mattis (2004), a Perturbao de Pnico ocorre
numa minoria significativa de crianas e adolescentes. A perturbao de pnico tem
como caracterstica principal o ataque de pnico, que consiste no desenvolvimento
abrupto de diferentes sintomas fsicos (palpitaes, suores, estremecimento ou tremores,
dificuldade em respirar, sensao de desconforto, nuseas, sensao de tontura e
parestesias), atingindo o seu pico em menos de 10 minutos. Esta perturbao manifesta-
se atravs de crises repentinas de ansiedade, que esto associadas a sintomas somticos
e cognitivos (Crujo & Marques, 2009). Para se considerar diagnstico de perturbao de
pnico, tm que ocorrer um ou mais ataques de pnico inesperados e recorrentes,
existindo, tambm, preocupao persistente em ter outro ataque pnico durante pelo
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menos um ms. Tem que haver preocupao relacionada com as consequncias dos
ataques de pnico ou uma alterao comportamental significativa associada aos ataques
de pnico. de salientar que os ataques de pnico no so provocados por consumos de
substncias. A perturbao de pnico pode ocorrer associada a agorafobia, isto , a
ansiedade por estar num local ou situao do qual a fuga possa ser difcil, ou, caso tenha
um ataque de pnico, no possa obter ajuda (por exemplo, estar fora de casa (sozinho),
numa multido ou aguardar numa fila). Assim, a perturbao de pnico pode ser
classificada em perturbao de pnico sem agorafobia e perturbao de pnico com
agorafobia (APA, 2002).
No entanto, no que toca perturbao de pnico em crianas, no h consenso.
Craske (1997) refere que existem autores que afirmam que a perturbao de pnico
pode ter a sua origem na infncia, enquanto outros autores dizem que sintomas de
pnico que ocorrem antes da adolescncia esto associados a outras perturbaes de
ansiedade. Nelles e Barlow, (1988) afirmam que necessria capacidade cognitiva para
experienciar ataques de pnico espontneos, isto , para experienciar as atribuies de
perda de controlo e ficar maluco. Chorpita, Albano e Barlow (1996) tambm se
serviram do mesmo argumento recorrendo a Piaget, fazendo referncia ao facto de que
crianas no estdio operatrio concreto podem no ter a capacidade cognitiva de
associar estmulos internos e imediatos com formas de perigo externo, e muitas vezes
abstractas.
Perturbao Obsessivo-Compulsiva
As caractersticas fundamentais desta patologia so as obsesses (pensamentos,
ideias, impulsos ou imagens persistentes, os quais so intrusivos e inapropriados,
causando ansiedade e mal-estar) ou as compulses (comportamentos repetitivos ou
actos mentais, como contar, que visam reduzir ou evitar a ansiedade ou mal-estar), as
quais so recorrentes, consumindo tempo, causando um forte mal-estar ou deficincia
expressiva. As crianas no reconhecem que as obsesses ou compulses so excessivas
ou irracionais. Nas crianas, as lavagens, verificaes e rituais de ordenao so os
rituais mais comuns (APA, 2002). Segundo Adams, Waas, March e Smith (1994), nas
crianas e adolescentes, a perturbao obsessivo-compulsiva est relacionado com a
escola, sendo que as obsesses que as crianas experienciam encontram-se volta do
medo de contaminao, medo de se magoar ou de uma doena ou morte, sexo e
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nmeros, estando frequentemente associados s compulses correspondentes como os
rituais de lavagem, de verificao, de repetio e de simetria. Albano, Chorpita e
Barlow (2003) fazem referncia a estudos empricos onde identificam 50% a 60% de
crianas diagnosticadas com perturbao obsessivo-compulsiva, que sofrem uma
interferncia grave no seu funcionamento global. Este prejuzo reflecte a interferncia
desta perturbao na vida pessoal, social e acadmica da criana.
Esta patologia tem uma prevalncia de 0.3% em pr-adolescentes e 1.9% a 4%
em adolescentes (Craske, 1997). Segundo Albano et al, (2003), o incio desta
perturbao parece ser mais precoce no sexo masculino quando comparado ao sexo
feminino, o que resulta num predomnio do sexo masculino em amostras de crianas
mais jovens, apesar de estas diferenas no que toca ao gnero desaparecerem no meio
da infncia.
Perturbao Stress Ps-Traumtico
Segundo o DSM-IV, tem como caracterstica principal o desenvolvimento de
sintomas subsequentes exposio a um acontecimento traumtico, o qual pode
envolver morte ou ameaa de morte. Ou ento, um ferimento grave que ameace a
integridade fsica, quer relativo ao prprio, quer relativo a um outro significativo
(familiares ou amigos). Ou ainda a observao de um acontecimento que envolva os
eventos supracitados, podendo ainda resultar do conhecimento de uma morte violenta,
bem como os restantes exemplos supracitados em relao a um familiar ou amigo.
Assim, a resposta ao acontecimento traumtico deve compreender um medo intenso, um
sentimento de horror e de inabilidade de obter ajuda, sendo que, nas crianas, a resposta
geralmente envolve comportamentos agitados e desorganizados (APA, 2002). Yule
(2001) afirma que imediatamente aps a experincia traumtica h uma grande
probabilidade de a criana estar angustiada ou aflita, chorosa, assustada e em estado de
choque, ocorrendo uma necessidade de proteco e segurana. Posteriormente, a
maioria das crianas possui pensamentos repetitivos e intrusivos relativos ao
acontecimento traumtico (reexperiencia o acontecimento), que podem levar a
perturbaes do sono. Tambm so frequentes dificuldades de separao das figuras
mais importantes, at nos adolescentes. Ainda so relatadas mudanas ao nvel
cognitivo, como dificuldades de concentrao e problemas de memria. Para alm da
reexperiencia da situao traumtica, o DSM-IV acrescenta, como sintomas, o
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evitamento insistente de estmulos relacionados com a situao, embotamento da
reactividade e, activao aumentada. Ainda sugere que esta perturbao deve causar um
mal-estar expressivo, ou deficincia a nvel das vrias reas de funcionamento (APA,
2002). Algumas crianas mostram perda de interesse em actividades que anteriormente
lhes davam prazer (Yule, 2001).
Nas vrias perturbaes de ansiedade observa-se um maior risco de
desenvolvimento destas perturbaes em crianas e adolescentes do sexo feminino. Isto
acontece especialmente nas fobias especficas, ansiedade de separao e ansiedade
generalizada (Craske, 1997).
Rapee et al (2009) fazem referncia a vrios estudos empricos, os quais indicam
que aproximadamente 2.5% a 5% de crianas e adolescentes cumprem os critrios de
uma perturbao de ansiedade num determinado perodo.
1.1.3. Co-morbilidade
Segundo Crujo e Marques (2009), o tema da co-morbilidade bastante relevante
pois a presena de comorbilidade entre diferentes quadros um tem impacto ainda maior
na vida da criana e do adolescente. Costello et al, (2003), no seu estudo, chegaram
concluso que 25,5% das crianas com diagnstico de perturbao psiquitrica tinham
dois ou mais diagnsticos.
No caso especfico das perturbaes de ansiedade, existe uma co-morbilidade de
cerca de 39% entre as vrias perturbaes de ansiedade. Mais de 50% das crianas e
adolescentes de amostras clnicas com ansiedade de separao e ansiedade generalizada
tm outra perturbao de ansiedade, sendo que a ansiedade de separao tem o nvel
mais alto de co-morbilidade (Craske, 1997). Silverman e Dick-Niederhauser (2004)
apontam, em amostras clnicas, para uma co-morbilidade entre ansiedade de separao e
outros distrbios de ansiedade (sobretudo perturbao de ansiedade generalizada e fobia
especfica) de aproximadamente 50%.
Tambm pode ocorrer co-morbilidade com outras perturbaes de
internalizao, especialmente com perturbaes de humor, a qual pode chegar aos 70%,
embora se situe maioritariamente entre os 20 e os 50% (Zan-Waxler et al, 2000). Vrios
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estudos confirmam esta co-morbilidade (Angold et al, 1999; Costello et al, 2003,
Flannery-Schroeder, 2004, Silverman & Dick-Niederhauser, 2004).
Tambm de salientar que existe co-morbilidade com perturbaes de
externalizao (Zahn-Waxler et al, 2000). No estudo de Beidel et al, (1999), foi
encontrada numa amostra de crianas com perturbao de ansiedade uma co-
morbilidade de 10% com perturbao de hiperactividade com dfice de ateno.
Tambm Ezpeleta et al, (2007) no seu estudo encontraram co-morbilidade entre
perturbao de ansiedade generalizada e perturbao de oposio.
1.2. Recolha de Informao relativa s Perturbaes de Ansiedade
1.2.1. Discrepncia e Acordo entre Diferentes Informadores
Na psicopatologia infantil, a considerao de diferentes fontes de informao
(professores, pais e a prpria criana) muitas vezes necessria (Ezpeleta, Osa,
Domnech, Navarro & Losilla, 1997; Kraemer, Measelle, Ablow, Essex, Boyce &
Kupfer, 2003; Piancentini, Cohen & Cohen, 1992). Assim, o recurso a mltiplos
informadores pertencentes a diferentes contextos, e a sua integrao no contexto da
avaliao desejvel, isto porque o comportamento da criana pode variar de acordo
com o contexto em que se encontra, e diferentes informadores podem ter diferentes
percepes do comportamento da criana. O uso de vrios informadores ainda contribui
para uma maior riqueza no processo da avaliao (Pereira, 2009).
No entanto, recorrer a vrios informadores comporta complexidade no que diz
respeito integrao das diferentes fontes de informao (Pereira, 2009). A informao
relativa ao funcionamento emocional e comportamental da criana pode diferir e ser
inconsistente dependendo da fonte de informao (Achenbach, McConaughy & Howel,
1987; Frick, Silverthorn & Evans, 1994). Dependendo da idade e do tipo de perturbao
da criana, o acordo pais-criana tende a ser bastante baixo (Cosi, Canals, Hernndez-
Martinez & Vigil-Colet, 2010). de acrescentar que a falta de uma Gold Standard
para avaliar a validade do sintoma, agregado de sintomas ou diagnstico, torna mais
complexa a integrao da informao de vrios informadores (Bidaut-Russel, Reich,
Cottler, Robins, Compton & Mattison, 1995).
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Segundo alguns estudos (Herjanic & Reich, 1982; Reich, Herjanic, Welner &
Gandhy, 1982), o nvel de acordo entre pais e criana situa-se entre o baixo e o
moderado. As discrepncias verificam-se tanto quanto ao tipo de sintoma, bem como
sua presena ou ausncia. de referir ainda que, de uma forma geral, os pais
reportavam mais sintomas comportamentais relativos aos seus filhos do que a prpria
criana. J as crianas apontavam mais sintomas afectivos e de internalizao do que os
seus pais. O estudo de Younstrom, Loeber e Stouthamer-Loeber (2000) efectuado com
uma amostra de adolescentes do sexo masculino veio confirmar o que foi dito
anteriormente, pois verificaram uma maior sinalizao de problemas de internalizao
por parte da criana do que por parte dos pais, e ainda em menor grau, por parte dos
professores.
Estudos tm verificado um maior acordo entre pais e professores do que entre
pais-criana e professores-criana (Briggs-Gowan, Carter & Schwab-Stone 1996).
No caso especfico do uso de entrevistas estruturadas, as crianas e as mes, de
uma forma geral, concordam quando o problema da criana algo concreto, visvel,
severo e no ambguo. H menos acordo quando o que est em questo a gravidade
do problema, o reconhecimento do comportamento enquanto problema, e quando a
questo mal entendida ou interpretada (Herjanic e Reich, 1982).
Na avaliao de sintomas to subjectivos como a preocupao e a ansiedade, a
criana a melhor, mais vlida e por vezes, a nica fonte de informao (Herjanic &
Reich, 1982). No entanto, simplesmente documentar a existncia de diferenas na
prevalncia de relatos de sintomas por parte dos informadores no prova
necessariamente uma maior validade da criana como informador, a no ser que se
considere que qualquer relato positivo clinicamente significativo (Frick et al, 1994).
Assim, o tipo de sintoma, bem como o tipo de informador devem ser tidos em conta
quando se estuda o acordo entre informadores (Briggs-Gowan et al, 1996).
No estudo da discrepncia entre informadores importante considerar o tipo de
problemtica avaliado (De Los Reyes & Kazdin, 2005). Estudos empricos sugerem que
existe maior acordo entre informadores quando a criana tem problemas de
externalizao quando comparados com os problemas de internalizao. Os resultados
do estudo de Comer e Kendall (2004), que incidia sobre a avaliao dos problemas de
ansiedade verificou um maior acordo entre pais e filhos quando os sintomas eram
observveis do que quando no o eram.
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No caso especfico das perturbaes de ansiedade, o acordo entre pais e filhos
situa-se entre o baixo e o moderado (Comer & Kendall, 2004; Cosi et al, 2010; Foley et
al, 2004; Frick et al, 1994; Grills & Ollendick, 2003; Herjanic & Reich, 1982; Krain &
Kendall, 2000). De todos os estudos referenciados anteriormente, os nicos com
amostras comunitrias foram o de Comer e Kendall (2003), Foley et al, (2004), e
Herjanic e Reich, 1982. Os restantes estudos eram constitudos por amostras clnicas, ou
por pais que procuravam ajuda para os problemas dos seus filhos. Existem outros
estudos (Weitkamp, Romer, Rosenthal, Wiegand-Grefe, & Daniels, 2010; Muris,
Dreessen, Bogels, Weckx, & van Melick, 2004) que apresentam um acordo entre o
moderado e o elevado, provavelmente devido a especificidades da amostra, pois, alguns
dos sujeitos j se encontravam em acompanhamento teraputico, e outros, haviam sido
os pais a procurar ajuda para problemas dos seus filhos.
O estudo das discrepncias na avaliao da psicopatologia da criana torna-se
pertinente por outro motivo, pois a discrepncia entre os pais e a criana pode ter
consequncias futuras negativas. Esta possibilidade demonstrada no estudo de
Ferdinand, van der Ende e Verhulst (2004) que teve por objectivo estudar o valor
preditivo da psicopatologia percebida pelos pais e jovens relativamente a diferentes
indicadores de funcionamento inadaptado (como por exemplo, uso de droga, tabaco,
contacto policial e judicial, auto-mutilao, recurso a servios de sade mental, entre
outros), avaliados seis anos depois. Assim, a investigao consistiu num estudo
longitudinal, com uma amostra de jovens que no primeiro momento de avaliao tinham
idade compreendida entre os onze e os catorze anos. Para levar a cabo os objectivos, os
investigadores utilizaram o Child Behaviour Checklist (CBCL) e o Youth Self-Report
(YSR). Para analisar o funcionamento inadaptado seis anos depois, foi efectuada uma
entrevista em casa dos sujeitos e utilizado o Young Adult Self-Report (YASR). Este
estudo concluiu que os valores de discrepncia pais-filhos prediziam uma grande
variedade de riscos: uso de droga, tabaco, contacto policial e judicial, expulso da
escola ou emprego, gravidez indesejada, auto-mutilao, necessidade de ajuda
profissional, recurso a servios de sade mental e relatos de problemas emocionais ou
comportamentais. No caso da ansiedade e depresso, quando a discrepncia era no
sentido de o adolescente sinalizar mais problemas, de salientar que quatro anos depois,
estes jovens ainda indicavam problemas emocionais e comportamentais. No entanto, os
autores no explicaram, nem especificaram que problemas emocionais e
comportamentais eram estes.
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1.2.2. Caractersticas dos Informadores que Influenciam a
Discrepncia/Acordo
Na anlise das discrepncias entre informadores, necessrio ter em conta que
as caractersticas dos informadores podem influenciar a discrepncia entre informadores
(De Los Reyes & Kazdin, 2005). No que diz respeito s caractersticas da criana, tm
sido estudados vrios factores, entre eles, a idade, o gnero, a desejabilidade social,
entre outros.
Em relao idade da criana, vrios estudos apresentam resultados
contraditrios. No estudo de Achenbach et al. (1987) foi verificado um maior acordo em
crianas mais novas. J Grills e Ollendick, (2003) encontraram um acordo entre
informadores superior em crianas mais velhas quando comparadas com as mais novas.
A influncia do gnero foi alvo de vrios estudos (e.g. De Los Reyes & Kazdin,
2005; Grills & Ollendick, 2003), que revelam resultados mistos. Por exemplo, Grills e
Ollendick (2003), no seu estudo encontraram que tanto rapazes como raparigas
demonstravam, de forma predominante, baixos nveis de acordo com os seus pais. No
entanto, os rapazes por comparao com as raparigas, mostravam um maior acordo nos
domnios da fobia social e da ansiedade de separao. No estudo de Briggs-Gowan et
al, (1996) no foram encontradas associaes significativas entre o gnero e o acordo
entre informadores.
A desejabilidade social, isto , o potencial desejo da criana em se apresentar de
forma socialmente desejvel tambm tem sido foco de ateno (DiBartolo, Albano,
Barlow e Heimberg, 1998). Por exemplo, o estudo de Grills e Ollendicck (2003) sugere
uma baixa associao entre o acordo pais-filho e a desejabilidade social da criana,
excepo da depresso, em que crianas com elevada desejabilidade social revelavam
um maior acordo com os seus pais.
Para alm das caractersticas da criana anteriormente mencionadas, so
estudadas outras caractersticas, como a etnia. No estudo de Youngstom et al, (2000), os
professores apresentavam maior discrepncia com adolescentes Afro-Americanos no
que tocava a problemas de externalizao por comparao a adolescentes Caucasianos.
Um outro estudo que efectuou comparao entre crianas Afro-Americanas e Euro-
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Americanas indicou que crianas Afro-Americanas se classificavam a elas prprias
como mais ansiosas do que as suas mes (Walton, Johnson, e Algina, 1999).
Tambm a sofrimento percebido pela criana relativamente ao seu problema
uma caracterstica a considerar, pois uma possvel razo para a discrepncia pode ser o
facto de a criana, por exemplo, no achar o seu comportamento necessariamente
problemtico, havendo, assim, uma discrepncia de perspectivas dos informadores
relativamente problemtica da criana ser ou no angustiante ou anormal (De Los
Reyes e Kazdin, 2005).
As caractersticas dos pais, entre elas, psicopatologia, ansiedade parental,
depresso parental, stress parental e estatuto scio-econmico, tambm se tm mostrado
importantes no estudo da discrepncia entre informadores (De Los Reyes & Kazdin,
2005).
O estudo da relao da ansiedade parental e discrepncia tm-se focado
especialmente na ansiedade materna. No seu estudo, Frick et al, (1994) concluram que
os relatos maternos excessivos de sintomas de ansiedade na criana estavam
relacionados sistematicamente com os nveis de ansiedade da me, havendo uma
tendncia para sinalizar maior psicopatologia. A ansiedade maternal pode trazer vis na
classificao da me da psicopatologia da criana e influenciar, assim, a discrepncia
entre informadores (De Los Reyes & Kazdin, 2005). No entanto, o estudo de Krain e
Kendall (2000), que incluiu a avaliao da depresso materna, concluiu que a ansiedade
maternal no era significante quando a depresso era considerada.
Tambm os nveis de depresso materna apresentam uma relao positiva com a
discrepncia entre informadores (Krain & Kendall, 2000; Richters, 1992; Youngstrom
et al, 2000). No estudo de Brigg-Gowan et al, (1996), no s a sintomatologia
depressiva da me como a de ansiedade estavam relacionadas com relatos da me de
sintomatologia na criana, sendo essa associao significativa quando considerados os
problemas de internalizao.
Youngstrom et al, (2000) concluiu que existe uma relao entre o stress parental
e discrepncia ao nvel dos problemas de internalizao e externalizao da criana,
sendo que o stress predizia uma maior discrepncia.
Tambm o estatuto scio-econmico tem sido considerado no estudo da
discrepncia e acordo entre informadores. Os estudos empricos apontam resultados
inconsistentes, revelando associaes negativas ou ausncia de associaes
significativas com a discrepncia ou acordo (De Los Reyes & Kazdin, 2005). O estudo
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de Treutler e Epkins (2003) que considerou caractersticas da criana e dos pais, no
encontrou associaes significativas entre o acordo ou discrepncia e o estatuto scio-
econmico. Existe a possibilidade de que a relao entre o estatuto scio-econmico e a
discrepncia entre informadores seja espria e explicada por outras caractersticas dos
informadores.
O estudo das caractersticas da famlia relacionado com a discrepncia tem sido
alvo de pouca ateno. Um estudo (Treutler & Epkins, 2003) examinou os sintomas
psicolgicos dos informadores e as variveis da relao familiar na compreenso das
discrepncias entre informadores. Para isso analisaram aspectos qualitativos (aceitao
dos pais e intensidade do conflito pais-crina) e quantitativos (quantidade de tempo que
os pais passam com a criana e nmero de tpico discutidos) da relao pais-criana. Os
resultados mais pertinentes deste estudo so os seguintes: 1) o nmero de tpicos
discutidos referido pela criana estavam negativamente relacionados com discrepncias
me-criana com problemas de externalizao e internalizao; 2) o nvel de intensidade
das discusses me-criana referida pela criana estava relacionada, ainda que
negativamente, com discrepncia me criana em problemas de externalizao.
1.2.3. Atribuies para as Causas do Problema
Alm das caractersticas da criana, tambm as atribuies que os pais e as
crianas fazem em relao s causas do problema ou problemas da criana podem ter
um impacto significativo na discrepncia entre informadores. O estudo de Compas,
Friedland-Bandes, Bastien e Adelman (1981), tinha por objectivo investigar as
atribuies feitas por duas populaes clnicas (uma com problemas de aprendizagem e
outra com problemas de comportamento) relativamente s causas do sucesso e dos
problemas, e comparar as atribuies das crianas com as dos seus pais atravs de
instrumentos de auto-relato. Este estudo concluiu que, para o sucesso, quer os pais quer
as crianas, tinham uma maior tendncia de fazer uma atribuio interna (caractersticas
da criana), sendo que, para os pais, esta tendncia de fazer atribuies internas tambm
era utilizada nos problemas da criana. As crianas, pelo contrrio, tinham tendncia a
externalizar mais os problemas que os seus pais. O estudo de Compas, Adelman,
Freundl, Nelson, e Taylor (1982) tambm chegou s mesmas concluses com recurso
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entrevista. Assim, torna-se claro o desacordo entre pais e criana nas atribuies causa
dos problemas da criana.
A discrepncia entre informadores influencia a avaliao, classificao e
tratamento da psicopatologia da criana, sendo por este motivo um importante objecto
de estudo.
1.2.4. Modelo ABC para a Anlise das Discrepncias entre Informadores
O Modelo ABC proposto por De Los Reyes e Kazdin (2005) um modelo
terico que visa explicar a discrepncia entre informadores na avaliao da
psicopatologia infantil. Este modelo tem a sua origem na investigao e teoria do
fenmeno actor-observador, contempla a importncia da perspectiva dos sujeitos na
recuperao da informao armazenada em memria, e a investigao e teoria sobre a
monitorizao da fonte.
Conceptualizao de base
O Fenmeno Actor-Observador foi identificado e descrito por Jones e Nisbett
(1972). Este fenmeno afirma que os observadores do comportamento de outrem
atribuem as causas desse comportamento a disposies, qualidades da prpria pessoa,
negligenciando o papel do contexto em que o comportamento ocorre. Por exemplo, os
pais atribuem os actos da criana a tendncias agressivas da prpria criana. J o actor
do comportamento atribui a causa do seu prprio comportamento ao contexto em que o
comportamento ocorre, no tendo em conta o papel da sua prpria disposio. Por
exemplo, a criana atribui o seu comportamento agressivo ao facto de o colega lhe ter
batido em primeiro lugar (Jones & Nisbett, 1972, cit. por De Los Reyes & Kazdin,
2005).
A investigao e teoria sobre a relao entre a perspectiva do sujeito e a
recuperao da informao armazenada em memria, atribui um papel determinante
perspectiva ou posio do indivduo na reorganizao das memrias. Por exemplo, as
pessoas recordam-se de determinados acontecimentos que apoiam a sua viso da
realidade e podem ignorar ou no prestar ateno a outras que no esto de acordo com
essa mesma viso, conduzindo a enviesamentos no processo de recuperao da
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informao em memria. Este vis mais marcado em situaes negativas. A viso
negativa dos sujeitos pode causar um vis na recuperao de memrias atravs do
desenvolvimento de representaes esquemticas ou heursticas dos eventos, que
orientam a recordao da informao e que podem contribuir para os erros ou
atribuies erradas que as pessoas fazem (Tversky & Marsh, 2000). Se as
representaes heursticas promovem um vis da memria consistente com a
perspectiva do informador no momento em que pedido que este recorde o
comportamento da criana, este vis pode aumentar a discrepncia entre informadores,
principlamente quando a perspectiva dos informadores no momento da recordao
discrepante (De Los Reyes & Kazdin, 2005). Por exemplo, no caso dos pais, a
perspectiva mais negativa que eles tm acerca do comportamento agressivo da criana
pode influenciar que eventos da memria so recuperados durante a avaliao clnica da
criana. Isto , face perspectiva dos pais, de que a criana necessita de tratamento para
o seu comportamento agressivo, os pais procuram informao negativa na sua memria
que apoie a sua perspectiva. J a perspectiva da criana pode ser a de que os problemas
se situam no ambiente, no sendo uma funo do seu prprio comportamento.
A teoria sobre a Monitorizao da Fonte procura compreender o mecanismo pelo
qual a pessoa faz atribuies de como adquiriu memrias dos eventos, conhecimentos e
crenas (Johnson, Hashtroudi & Lindsay, 1993). Este quadro conceptual postula que as
decises sobre de onde vm as memrias podem ser feitas de duas formas, de forma
heurstica ou sistemtica. Estas duas formas consistem em dois processos de
julgamento. Assim, a fonte pode ser identificada de forma heurstica atravs da
comparao entre potenciais fontes de memria e a representao esquemtica de onde
a fonte de memrias semelhantes geralmente se origina. Por exemplo, no caso dos pais,
pode envolver a recordao de que o seu filho tem muitas brigas na escola com os
colegas, pois, a sua concepo do comportamento do filho a caminho da escola a de
que este tambm briga com a irm. No outro processo, a fonte pode ser identificada
sistematicamente atravs do uso de estratgias mais complexas como recuperar
memrias adicionais que apoiam ou refutam a fonte identificada, ou ainda, procurando
uma relao entre as memrias. Um exemplo deste processamento os pais recordarem
que o seu filho se recusa frequentemente a fazer tarefas domsticas porque no deitou o
lixo fora na semana passada, mas, numa reflexo posterior, os pais podem descartar essa
lembrana pois foi a primeira vez num ms que o filho se recusou a deitar o lixo fora,
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lembrando-se tambm que ele tem limpado a mesa depois de jantar com bastante
regularidade no ltimo ms (De Los Reyes & Kazdin, 2005).
O recurso a ambos os processos heursticos e sistemticos importante porque
conduz a uma recordao mais fivel. O processo de avaliao da psicopatologia da
criana baseia-se em medidas que no incorporam a importncia do contexto, o que
induz os informadores a aceder informao sobre o comportamento da criana
recorrendo apenas a processos heursticos ou esquemticos na recuperao da
informao armazenada em memria. Desta forma, a informao fornecida pelos
informadores pode ser mais propensa a enviesamentos ou distores aumentando a
magnitude das discrepncias entre informadores (De Los Reyes & Kazdin, 2005).
Explicitao do Modelo ABC
O Modelo ABC proposto por De Los Reyes e Kazdin (2005) tem o objectivo de
contribuir para uma melhor avaliao clnica da criana com recurso a vrios
informadores. Esta avaliao orienta aspectos importantes do tratamento, como o
planeamento e avaliao de mudanas durante o tratamento. Este modelo tambm
postula que os informadores podem entrar no processo de avaliao clnica com
diferentes motivaes no que concerne participao no tratamento, optando por
utilizar diferentes processos quando do informao relativa ao comportamento da
criana.
Os diferentes informadores tm diferentes atribuies para as causas do
problema da criana. Mais especificamente, os observadores do comportamento da
criana, pais e professores, tem uma maior probabilidade de atribuir as causas do
problema da criana a disposies da prpria criana, havendo uma menor
probabilidade de atribuio das causas do problema ao contexto ou situao em que o
problema ocorre. J a criana tem uma maior probabilidade de atribuir as causas do seu
problema ao contexto ou ambiente em que os problemas so exibidos e menos
probabilidade de atribuir as causas sua prpria disposio. Este modelo prediz que as
atribuies dos observadores (pais e professores) so mais semelhantes entre si do que
com as atribuies da criana.
Os informadores tambm podem ter diferentes perspectivas no que diz respeito
necessidade de tratamento do problema da criana. Porque os observadores tm mais
probabilidade de atribuir as causas do comportamento da criana a disposies da
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prpria criana, ou seja, segundo os observadores o problema reside na criana, sendo
mais provvel que estes entendam que o problema da criana necessite de tratamento.
Desta forma, existe uma maior probabilidade destes informadores (pais, professores)
acederem a informao sobre aspectos negativos do comportamento da criana que
consistente com a sua perspectiva. Por seu lado, a criana tem uma maior probabilidade
de atribuir as causas do seu prprio comportamento ao contexto em que esse mesmo
comportamento exibido, assumindo que o problema est no ambiente e no nela
prpria, e que esses problemas no necessitam de tratamento. Desta forma,
contrariamente aos informadores que a observam, a criana possui uma maior
probabilidade de aceder memria procurando informao relativa aos aspectos
contextuais do seu comportamento, consistente com a sua perspectiva. Mais uma vez, a
perspectiva dos observadores mais semelhante entre si, do que a perspectiva dos
observadores e actores, que mais discrepante.
Alm disso, as atribuies e perspectivas dos informadores podem tambm ser
discrepantes do objectivo da avaliao clnica. O objectivo desta avaliao consiste em
reunir informao relacionada com os problemas comportamentais e emocionais da
criana, visando avaliar a necessidade de tratamento. Mas como foi dito anteriormente,
as atribuies e perspectivas tambm podem ser discrepantes neste ponto. De uma
forma geral, as atribuies e perspectivas dos informadores que observam (pais,
professores) esto mais em consonncia com o objectivo da avaliao clnica (reunir
informao sobre problemas comportamentais e emocionais) do que a perspectiva da
criana.
Por ltimo, o modelo contempla a interaco dos trs componentes
(informadores observadores, criana e objectivo da avaliao clnica) na avaliao da
discrepncia entre informadores na avaliao de psicopatologia na criana. A
discrepncia entre as atribuies dos informadores no que toca s causas do problema e
a discrepncia de perspectivas no que toca necessidade de tratamento, bem como a
discrepncia entre as atribuies e perspectivas dos informadores com o objectivo da
avaliao clnica interagem para produzir discrepncias na avaliao da psicopatologia
infantil no contexto clnico, sendo esta uma relao interactiva ou sinergtica.
Estudos prvios (Compas et al, 1982; Compas et al, 1981; Phares & Danforth,
1994) so consistentes com o Modelo conceptual proposto e consistentes com a noo
que as discrepncias existem entre as atribuies das causas do comportamento da
criana e nas perspectivas dos informadores relativamente necessidade de tratamento
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daquele problema. Os estudos de Compas et al, (1982) e de Compas et al, (1981),
referidos anteriormente, observaram que os pais, enquanto observadores do
comportamento da criana tm mais probabilidade do que a criana em atribuir a causa
do problema da criana disposio da prpria criana. A criana tem uma maior
probabilidade de atribuir os seus prprios problemas a causas externas. O estudo de
Phares e Danforth (1994) concluiu que quando os pais, professores e adolescentes
concordam que determinado problema existe, h uma menor possibilidade dos
adolescentes quererem mudar ou tratar o problema quando comparados com os
professores e pais.
Na avaliao da psicopatologia infantil torna-se necessrio recorrer a vrios
informadores (pais, professores e criana) para a avaliao da problemtica da criana.
No entanto, muitas vezes surgem informaes discrepantes. Estudos demonstraram que
o acordo pais-criana se situa entre o baixo e o moderado, sendo que os pais reportam
mais sintomas comportamentais e problemas de externalizao relativos aos seus filhos
do que a prpria criana. J as crianas apontam mais sintomas afectivos e de
internalizao do que os seus pais (Herjanic & Reich, 1982; Reich et al, 1982;
Youngstrom et al, 2000).
No caso especfico das perturbaes de ansiedade, o acordo entre pais e filhos
situa-se entre o baixo e o moderado, com algumas excepes em que o acordo se situa
entre o moderado e elevado, provavelmente devido a especificidades da amostra
(crianas que esto j a ser acompanhadas ou pais que procuraram ajuda para os seus
filhos) (Weitkamp, et al, 2010; Muris et al, 2004). de salientar que poucos estudos se
debruaram sobre o estudo da discrepncia entre informadores e sobre os factores que
lhe esto associados. Existem ainda poucos estudos que exploram as atribuies dos
informadores para estas discrepncias.
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2. OBJECTIVOS E METODOLOGIA
2.1. Objectivos do Estudo
Para o estudo quantitativo, os objectivos colocados foram:
Analisar a discrepncia e o acordo entre os informadores, me e criana, quanto
sintomatologia de ansiedade da criana:
o Analisar a discrepncia entre a me e a criana na avaliao da
sintomatologia de ansiedade.
o Analisar o acordo entre a sintomatologia de ansiedade da criana
reportada pela me e a reportada pela criana.
Analisar os seguintes factores associados discrepncia entre informadores:
o Factores da criana:
Tipo de Perturbao de Ansiedade;
Sexo;
Idade.
o Suporte emocional da me percebido pela criana.
o Factores da me:
Ansiedade Trao.
No estudo qualitativo, os objectivos foram:
Analisar as atribuies e perspectivas da me para a discrepncia.
Conhecer e explorar os factores associados s discrepncias entre me e criana
na avaliao da sintomatologia de ansiedade da criana:
o Proximidade emocional entre a me e a criana;
o Relao e comunicao.
-
22
2.2. Desenho da Investigao
O presente estudo encontra-se inserido num estudo mais vasto: Parentalidade e
vulnerabilidades cognitivas para as perturbaes de ansiedade na infncia, que tem por
objectivo contribuir para uma melhor compreenso e caracterizao dos problemas da
ansiedade na idade escolar e conhecer os factores que lhe esto associados.
Este estudo especificamente, obedece a um desenho no-experimental com um
nico momento de avaliao, sendo, assim, um estudo observacional transversal. Neste
tipo de estudos o investigador observa a covariao das variveis sem a manipulao
das mesmas. Esta metodologia foi escolhida por ser a mais adequada concretizao
dos objectivos do estudo.
Tambm pode ser considerado como um estudo misto porque combina
metodologia quantitativa e qualitativa, utilizando, para isso, uma abordagem qualitativa.
O estudo qualitativo que recorreu entrevista semi-estruturada foi efectuado com o
objectivo de complementar e enriquecer a informao obtida atravs do estudo
quantitativo, introduzindo, tambm outros dados pertinentes para a problemtica em
estudo.
2.3. Amostra
2.3.1. Estudo Quantitativo
A amostra do estudo mais alargado composta por 897 crianas, sendo uma
amostra no probabilstica de convenincia. O nico critrio de incluso consistia em
que as crianas no tivessem qualquer perturbao de desenvolvimento ou dfice
cognitivo que impedisse a compreenso e preenchimento do questionrio.
A amostra do presente estudo foi constituda por 253 pares me-criana.
No Quadro 1, podemos verificar algumas caractersticas das crianas que
compem a amostra. Como se pode verificar, a amostra composta por crianas que
frequentam desde o terceiro ao sexto ano. A amostra distribuiu-se de forma muito
semelhante pelos sexos feminino e masculino. Relativamente s idades, existe uma
maior representao de crianas a partir dos dez anos.
-
23
Quadro 1. Caractersticas da Amostra do Estudo Quantitativo: Variveis da
Criana
n = 253
n (%)
Idade da Criana
(anos)
7 9 anos 10 13 anos
M 9,89
81 (32%)
172 (68%)
DP
1,24
Escolaridade 3ano
4ano
5ano
6ano
35 (16,2%)
24 (11,1%)
72 (33,3%)
85 (39,4%)
Sexo Feminino
Masculino
119 (47,2%)
133 (52,8%)
No Quadro 2 podemos observar as caractersticas familiares das crianas da
amostra mais relevantes para o estudo. Como se pode ver, as crianas habitam
maioritariamente com o pai e com a me, sendo que estes se encontram na sua maioria
casados ou em unio de facto. Grande parte das mes deste estudo possui uma formao
elevada, sendo que com os pais no acontece o mesmo. A maioria das crianas tem
apenas um irmo, havendo, desta forma, uma menor frequncia de irmos do meio.
-
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Quadro 2. Caractersticas da Amostra do Estudo Quantitativo: Variveis
Familiares
n = 253
n (%)
Escolaridade Me Menor ou igual a 4 anos de
escolaridade
Concluiu 6 anos de
escolaridade
Concluiu 9 anos de
escolaridade
Concluiu 12 anos de
escolaridade
Concluiu ensino superior
25 (10,3%)
27 (11,1%)
39 (16%)
68 (28%)
84 (34,6%)
Escolaridade Pai Menor ou igual a 4 anos de
escolaridade
Concluiu 6 anos de
escolaridade
Concluiu 9 anos de
escolaridade
Concluiu 12 anos de
escolaridade
Concluiu ensino superior
28 (11,6%)
50 (20,7%)
50 (20,7%)
50 (20,7%)
62 (25,6%)
Situao Conjugal
dos pais
Casados/Unio de Facto
Separados/Divorciados
Outra
188 (77,7%)
51 (21,1%)
3 (1,2%)
Co-habitao Me e Pai
S com Me
S com Pai
Outros
186 (73,5%)
42 (16,6%)
2 (0,8%)
12 (4,7%)
N de elementos do
agregado familiar
M DP 3,79 0,81
Min.-Mx.
2-8
N de irmos 0
1
2 M DP
1,22 1,19
50 (20,8%)
136 (56,7%)
54 (22,5%)
Min.-Mx.
0-7
Ordem na Fratria Mais novo
Do meio
Mais velho
86 (34%)
15 (5,9%)
85 (33,6%)
-
25
2.3.2. Estudo Qualitativo
No estudo qualitativo participou uma sub-amostra de 7 mes que foram
entrevistadas.
Como se pode verificar no Quadro 3, nesta sub-amostra h uma maior
representao de crianas mais velhas, a frequentar o sexto ano de escolaridade. A
amostra distribui-se de forma equilibrada pelos sexos feminino e masculino.
Quadro 3. Caractersticas da Amostra do Estudo Qualitativo: Variveis da
Criana
n = 7
n (%)
Idade da Criana
(anos)
9 anos
10 anos
11 anos
2 (28,6%)
1 (14,3%)
4 (57,1%)
Escolaridade 4ano
5ano
6ano
2 (28,6%)
1 (14,3%)
4 (57,1%)
Sexo Feminino
Masculino
4 (57,1%)
3 (42,9%)
J o Quadro 4 inclui as caractersticas da me e da famlia desta sub-amostra. A
maioria das mes, bem como os pais, possuem uma escolaridade elevada, estando
maioritariamente casados ou numa unio de facto. As crianas tm na sua maioria um
irmo.
-
26
Quadro 4. Caractersticas da Amostra do Estudo Qualitativo: Variveis Familiares
n = 7
n (%)
Escolaridade Me Menor ou igual a 4 anos de
escolaridade
Concluiu 12 anos de
escolaridade
Concluiu ensino superior
1 (14,3%)
3 (42,9%)
3 (42,9%)
Escolaridade Pai Concluiu 6 anos de
escolaridade
Concluiu 9 anos de
escolaridade
Concluiu 12 anos de
escolaridade
1 (14,3%)
2 (28,6%)
4 (57,1%)
Situao Conjugal
dos pais
Casados/Unio de Facto
Separados/Divorciados
5 (71,4%)
2 (28,6%)
N de elementos do
agregado familiar
3
4
5
1 (14,3%)
5 (71,4%)
1 (14,3%)
N de irmos 1
2
4 (57,1%)
2 (42,9%)
Ordem na Fratria Mais novo
Do meio
Mais velho
3 (42,9%)
1 (14,3%)
2 (28,6%)
2.4. Procedimento de Recolha de Dados
2.4.1. Estudo Quantitativo
Para proceder recolha de dados, inicialmente, foi pedida a autorizao da
Comisso Nacional de Proteco de Dados e da Direco Geral de Inovao e
Desenvolvimento Curricular. Seguidamente foram efectuados contactos com as
direces de onze escolas visando a sua colaborao no estudo. Todos os professores
titulares e directores de turma foram contactados para serem esclarecidos quanto aos
objectivos do estudo. Depois, os professores enviaram aos pais, atravs das crianas, os
formulrios de consentimento informado. Somente as crianas autorizadas pelos pais
puderam participar no estudo. A taxa de adeso, isto , a taxa de pais que deram
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27
autorizao para que os seus filhos participassem no estudo mais alargado, foi de 82%.
Algumas turmas de crianas que participaram no estudo mais alargado, foram
seleccionadas aleatoriamente para participarem neste trabalho.
As crianas responderam ao Questionrio de Avaliao de Perturbaes
Emocionais Relacionadas com a Ansiedade em Crianas (Screen for Child Anxiety
Related Emotional Disorders-Revised, SCARED-R) verso criana e o Questionrio de
Estilos Educativos Parentais (EMBU-C) numa sesso colectiva, na sala de aula com a
presena de um investigador. O SCARED-R teve uma durao aproximada de 45
minutos e a do EMBU-C de 10 minutos. As crianas tambm deram o seu assentimento
aquando do preenchimento dos questionrios.
O SCARED-R verso pais e o Inventrio de Estado-Trao de Ansiedade (STAI-
Y), a serem preenchidos pelos pais, foram entregues aos pais e preenchidos de forma
autnoma por estes. Se a criana vivesse com ambos os pais, ambos preenchiam os
questionrios. Se habitasse apenas com um dos progenitores, apenas o progenitor que
vivesse com a criana preencheria os questionrios. Posteriormente os questionrios
foram devolvidos em envelope fechado equipa de investigao atravs dos professores
titulares ou directores de turma.
2.4.2. Estudo Qualitativo
As 7 mes que participaram no estudo qualitativo foram seleccionadas por
apresentarem uma discrepncia substancial relativa aos resultados dos filhos na escala
total do SCARED-R. Como critrio de incluso, um dos informadores tinha de ter um
valor total da escala acima do limite clnico, isto , acima do Percentil 80, e o outro
informador abaixo do Percentil 50.
No incio da entrevista, era perguntado me se permitia a gravao udio da
mesma. Todas as mes deram o seu consentimento. O guio de entrevista destinado a
avaliar as atribuies relativas s discrepncias foi integrado na verso para pais da
entrevista Anxiety Disorder Interview Scheduale for Parents (ADIS P). O tempo total
de entrevista teve durao aproximada de duas horas.
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28
2.5. Instrumentos Utilizados
2.5.1. Estudo Quantitativo
a) Questionrio de Avaliao de Perturbaes Emocionais
Relacionadas com a Ansiedade em Crianas SCARED-R (Screen
for Child Anxiety Related Emotional Disorders-Revised) verso para
crianas e verso para pais (Muris, Merckelbach, Schmidt e Mayer,
1999, verso portuguesa de Pereira e Barros, 2010)
Este um questionrio de avaliao das perturbaes emocionais relacionadas
com a ansiedade em crianas, constitudo por 69 itens, que tem por objectivo a
avaliao de diferentes dimenses de problemas de ansiedade nas crianas segundo a
DSM-IV. Esta escala possui duas verses, uma para pais e outra para crianas (Muris,
Dreessen, Bogels, Weckx, & van Melick, 2004; Muris, Mayer, Bartelds, Tierney &
Bogie, 2001; Muris & Steerneman, 2001). A resposta dada numa escala tipo likert de
3 pontos no que toca frequncia com que a criana experiencia cada um dos sintomas
nos ltimos trs meses, em que 0 corresponde a Nunca ou quase nunca, s vezes
equivale a 1 e Frequentemente corresponde a 2.
Assim, este instrumento constitudo por dez dimenses: Ansiedade de
Separao (Fico com medo quando durmo fora de casa) constitudo por oito itens;
Ansiedade Generalizada (Sou nervoso) com nove itens; Perturbao de Pnico
(Quando me sinto assustado tenho dificuldade em respirar) que compreende treze
itens; Fobia Social ( difcil para mim falar com pessoas que no conheo bem)
composta por sete itens; Fobia Escolar (No gosto de ir escola) constituda por
quatro itens; Fobia Especfica do tipo situacional/ambiental (Tenho medo de estar em
stios altos) com cinco itens; Fobia especfica do tipo sangue/injeces (Quando vejo
sangue fico tonto) que compreende sete itens; Fobia Especfica do tipo Animal
(Tenho medo de um animal que no realmente perigoso) constituda por trs itens;
Perturbao Obessivo-Compulsiva (Penso que me vo pegar uma doena grave) com
oito itens; e Perturbao Stress Ps-Traumtico (Tenho sonhos assustadores acerca de
uma coisa muito m que j me aconteceu) que compreende quatro itens.
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29
A partir da soma dos resultados de cada uma das subescalas obtm-se uma
pontuao global e atravs da soma de todos os itens obtm-se a pontuao para cada
uma das sub-escalas. As trs sub-escalas da fobia especfica anteriormente referidas
foram neste estudo transformadas em apenas uma varivel. Os valores de consistncia
interna de cada uma das subescalas e da escala total encontram-se no Quadro 5. A
maioria dos valores de consistncia interna so adequados com excepo da sub-escala
de Fobia Escolar e Perturbao Stress Ps-Traumtico.
Quadro 5: Valores da consistncia interna do SCARED-R
Verso Criana
Verso Pais
Perturbao de Pnico 0,82 0,70
Fobia Especfica 0,78 0,77
Fobia Escolar 0,50 0,65
Fobia Social 0,73 0,83
Perturbao Obsessivo-Compulsiva 0,66 0,67
Ansiedade de Separao 0,73 0,69
Ansiedade Generalizada 0,73 0,72
Perturbao Stress Ps-Traumtico 0,68 0,60
Escala Total 0,93 0,92
b) Questionrio de Estilos Educativos Parentais EMBU-C verso para
crianas (Castro, Toro, van der Ende, 1993; Castro, Toro, van der
Ende, Arrindell e Puig, 1990, verso portuguesa de Canavarro e
Pereira, 2007)
O objectivo do EMBU-C avaliar a percepo das crianas dos estilos parentais
educativos dos progenitores de forma separada para o pai e para a me em trs
dimenses: Suporte Emocional, Rejeio e Tentativa de Controlo (Canavarro & Pereira,
2007). Neste estudo foi usada apenas a dimenso de suporte emocional do EMBU-C,
composta por 14 itens. A escala de suporte emocional avalia o tipo de comportamento
manifestado pelos pais relativamente criana que a faz sentir confortvel na presena
dos pais e que lhe confirma que ela aceite e aprovada como pessoa pelo progenitor
(Canavarro & Pereira, 2007). Como exemplos de itens encontramos Os teus pais
dizem-te que gostam de ti e abraam-te ou beijam-te?; Se as coisas te correm mal,
achas que os teus pais te tentam compreender?. A resposta dada numa escala tipo
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30
Likert de 4 pontos (No, nunca = 1, Sim, s vezes = 2, Sim, frequentemente = 3 e
Sim, sempre = 4).
Este instrumento foi desenvolvido com base no EMBU (Egna Minnen Betraffae
Uppfostran Perris, Jacobsson, Lindstrom, von Knorring & Perris, 1980), o
instrumento de auto-relato mais utilizado na avaliao retrospectiva dos estilos parentais
educativos.
No presente estudo, este instrumento apresenta um valor de consistncia interna
satisfatrio quer em relao ao suporte emocional percebido pela criana por parte da
me (=0.80), quer por parte do pai (=0.80).
c) Inventrio de Estado-Trao de Ansiedade - S.T.A.I. Forma Y
(Spielberg, Gorsuch e Lushene, 1970, verso portuguesa de Santos e
Silva, 1997, 1998 e Silva, Silva, Rodrigues e Lus, 1999/2000)
O STAI Forma Y um questionrio composto por 20 itens e tem por objectivo
avaliar a ansiedade trao, isto , a propenso relativamente estvel para a ansiedade.
Este um questionrio de auto-avaliao com auto-aplicao usado individualmente ou
em grupo. As respostas so dadas numa escala tipo likert de 4 pontos, em que 1
corresponde a um grau mnimo de ansiedade e o 4 a um grau mximo de ansiedade
(Silva, 2003). Exemplo de itens so Sinto-me nervoso e inquieto, Sou calmo,
ponderado e senhor de mim mesmo e Tenho pensamentos que me perturbam. Alguns
dos itens so de cotao inversa, sendo que estes no evidenciam ansiedade. um
instrumento relativamente breve, de fcil aplicao com leitura e compreenso
acessveis (Silva, 2003).
Neste estudo este instrumento apresenta um valor de consistncia interna
satisfatrio (=0.92).
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31
2.5.2. Estudo Qualitativo
a) ADIS - P - Anxiety Disorder Interview Scheduale for Parentsn
(Albano e Silverman, 1996, verso portuguesa de Pereira & Barros,
2010)
A verso para pais da ADIS uma entrevista diagnstica semi-estruturada
organizada que permite a realizao de uma avaliao diagnstica de todas perturbaes
de ansiedade, segundo o DSM-IV. A entrevista visa avaliar as perturbaes em crianas
dos 7 aos 17 anos (Albano & Silverman, 1996). Esta entrevista teve a sua origem na
Anxiety Disorders Interview Scheduale (DiNardo, OBrien, Barlow, Waddell &
Blanchard, 1983, cit. por Albano & Silverman, 1996) e inclui uma verso para pais e
para crianas. Neste estudo foi apenas utilizada a verso para pais.
A entrevista utilizada neste estudo constituda por diferentes seces que
correspondem a diferentes problemas: recusa em ir escola, perturbao de ansiedade
de separao, fobia social, fobia especfica, perturbao de pnico, agorafobia com ou
sem perturbao de pnico, perturbao de ansiedade generalizada, perturbao
obsessivo-compulsiva e perturbao ps-stress traumtico. Tem ainda outras seces
relativas a perturbaes de humor (distimia e perturbao depressiva major) e
perturbaes de externalizao (perturbao de hiperactividade com dfice de ateno,
perturbao do comportamento e perturbao de oposio) para permitir uma avaliao
mais compreensiva da criana (Albano & Silverman, 1996). Em cada seco so feitas
questes que avaliam a presena ou ausncia de determinado sintoma, sendo que
calculado o nmero total de sintomas de forma a verificar se h critrios suficientes para
o diagnstico, segundo o DSM-IV. de acrescentar que no final dos quadros
diagnsticos se encontra uma questo para avaliar o grau de interferncia da perturbao
no dia-a-dia da criana, essencial para o diagnstico destas perturbaes (Albano &
Silverman, 1996). A interferncia avaliada segundo uma escala que varia do 0, o qual
corresponde a nenhuma interferncia, ao 8 que equivale a muitssima interferncia.
Neste estudo foram eliminadas algumas seces da entrevista original de modo a
que esta se tornasse mais breve.
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32
b) Guio de Entrevista Semi-Estruturada para Explorao das
Discrepncias
As questes que compe o guio de entrevista para explorao das
discrepncias e factores associados foram integradas ao longo da entrevista da ADIS.
Em primeiro lugar so feitas algumas questes relativas Proximidade Emocional
(Sente que uma pessoa prxima do seu filho, que algum a quem ele recorre
quando lhe acontece algo importante por exemplo para partilhar as coisas boas e ms
que lhe acontecem?), Relao e Comunicao entre me e filho (Sente que ele fala
abertamente consigo sobre as coisas que se passam com ele?), e ainda ao
Conhecimento do Filho (Acha que conhece bem o seu filho?). Posteriormente, a
entrevista continuada com a temtica da recusa em ir escola, e assim por diante pela
ordem anteriormente exposta.
O guio de entrevista sobre a discrepncia foca-se apenas nas quatro principais
perturbaes de ansiedade: ansiedade de separao, fobia social, fobia especfica e
ansiedade generalizada. Assim, quando na ADIS se analisa a existncia de critrios de
diagnstico destas situaes, so introduzidas questes que exploram a percepo de
discrepncia e acordo e as Atribuies e Perspectivas da Me para a Discrepncia
(Acha que o seu filho se preocupa muito com o facto de estar longe de casa ou de si?
Qual que acha que seria a resposta do seu filho a esta pergunta? Imagine que ele
respondia no sentido oposto/diferente do seu, porque acha que ele o teria feito?). As
atribuies para a discrepncia so tambm exploradas em relao interferncia da
perturbao (Imagine que questionvamos o seu filho quanto ao grau de interferncia,
qual acha que seria a resposta dele?).
2.6. Anlise dos Resultados
2.6.1. Anlise Estatstica do Estudo Quantitativo
Na anlise estatstica dos dados quantitativos foi utilizado o Programa SPSS
verso 18 (Statistic Package for the Social Science). Em primeiro lugar recorreu-se a
procedimentos de anlise descritiva para a caracterizao da amostra de forma a obter as
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33
mdias, desvio-padro, mximos e mnimos de cada uma das variveis da amostra.
Posteriormente foram realizados procedimentos de estatstica inferencial. Os valores de
prova inferiores a 0.05 foram encarados como indicativos de resultados estatisticamente
significativos.
Com o objectivo de analisar a discrepncia entre a me a criana na avaliao da
sintomatologia de ansiedade, foram realizadas anlises para verificao dos
pressupostos da normalidade das variveis. Dado que nenhuma das subescalas do
SCARED-R verso pais seguia uma distribuio normal, e apenas quatro das subescalas
do SCARED-R verso criana apresentavam uma distribuio normal (fobia social,
perturbao obsessivo-compulsiva, ansiedade de separao e ansiedade generalizada),
foram utilizadas alternativas no paramtricas, isto , o Teste de Wilcoxon.
Relativamente ao segundo objectivo, que consistia em analisar o acordo entre a
ansiedade reportada pela me e a ansiedade reportada pela criana, depois de
verificados os pressupostos de normalidade e linearidade das relaes, concluiu-se que o
pressuposto da linearidade das relaes estava cumprido em todas as variveis. No
entanto, o pressuposto da normalidade s se encontrava cumprido em algumas das
variveis, as mesmas indicadas anteriormente. Desta forma, recorreu-se novamente
alternativa no paramtrica, o Teste de Correlao de Spearman.
Com o intuito de analisar os factores associados discrepncia entre
informadores, primeiramente, foram criadas, num primeiro momento, cinco novas
variveis. Cada uma destas variveis foi calculada subtraindo o valor obtido pela
criana pelo valor obtido pela me em cada uma das quatro subescalas principais e
escala total do SCARED-R. A partir destas cinco variveis foram criadas cinco
variveis nominais, compostas cada uma por trs grupos: Discrepncia, em que a me
apresenta valores mais elevados do que a criana (M>C), Discrepncia, no sentido em
que a criana apresenta valores mais elevados do que a me (C>M) e Baixa
Discrepncia. De seguida foram realizadas as anlises para explorar os factores
associados discrepncia entre a me e criana, nos diferentes domnios considerados.
Em primeiro lugar foi realizada uma anlise com recurso ao Teste 2 para
verificar a associao entre a discrepncia e o sexo. O mesmo procedimento estatstico
tambm foi efectuado para anlise da associao entre a discrepncia e a idade da
criana. Ao ter as cinco subescalas em que quatro delas eram as principais perturbaes
de ansiedade, j foi analisado o tipo de perturbao de ansiedade.
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34
Posteriormente, para analisar um outro factor associado discrepncia entre
informadores, isto , o suporte emocional da me percebido pela criana, mais uma vez,
foram analisados os pressupostos de normalidade, e foi verificado que a varivel de
suporte emocional no possua uma distribuio normal (EMBU-C). Assim foi
realizado o Teste Kruskal-Wallis, uma alternativa no paramtrica.
Relativamente ao objectivo de analisar o factor da ansiedade trao da me
associado discrepncia entre informadores, depois de verificada a no-normalidade da
distribuio da variveis, tambm foi utilizado Teste Kruskal-Wallis.
2.6.2. Anlise do Estudo Qualitativo
A anlise de contedo das entrevistas foi realizada com recurso ao software
QSR-NVivo verso 8. O QSR-NVivo verso 8 um programa desenvolvido para o
tratamento de dados qualitativos de forma a tornar a anlise de contedo mais fcil.
Estes tipos de programas foram criados nos anos 80 e so intitulados de CAQDAS
(Computer-aded Qualitative Data Analysis Software) (Hutchinson, Jonhston &
Breckon, 2010). Este programa informtico muito til na organizao dos dados de
forma a dar sentido informao obtida. Permite trabalhar o material de forma a
descobrir padres, identificar e descobrir novos temas e produzir relatrios. Pode ainda
proporcionar um modelo explicativo fundamentado dos dados (Hutchinson et al, 2010).
As entrevistas gravadas foram transcritas e de seguida transportadas/importadas
para este programa o qual facilita o processo de codificao dos dados num sistema de
categorias, a pesquisa de texto ou padres de codificao, o registo histrico da
evoluo da investigao, a representao visual dos dados, e a construo terica.
Com base no guio de entrevista semi-estruturada e nos blocos temticos, foram
criadas categorias-me mais abrangentes. De seguida, foram criadas subcategorias mais
especficas, que estavam interligadas entre si.
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a) Desenvolvimento da rvore de Categorias
Atravs da anlise de contedo das entrevistas foram obtidas cinco categorias-
me principais: Discrepncia Acordo, Justificaes para a Discrepncia, Comunicao
entre me e filho, Conhecimento do Filho, Proximidade Emocional
Na Figura 1 podemos observar a rvore de categorias referente Discrepncia
/Acordo, constituda por trs subcategorias principais.
Figura 1: Categoria Discrepncia/Acordo.
Em relao questo Qual acha que seria a resposta do seu filho a esta
pergunta? a resposta era classificada como Acordo sempre que a me respondia que a
resposta do filho seria a mesma que a sua, e em relao s questes de interferncia,
sempre que a me dizia que o filho iria reportar o mesmo grau de interferncia que ela.
Quando a me respondia, por exemplo, Eu no sei, era classifica