reitorµes-em... · aves da mata atlântica / 365 ... a interpretação etimológica do nome mata...

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ReitorRicardo Marcelo Fonseca

Vice-ReitoraGraciela Ins Bolzn de Muniz

Pr-Reitor de Extenso e CulturaLeandro Franklin Gorsdorf

Diretor da Editora UFPR Rodrigo Tadeu Gonalves

Vice-Diretor da Editora UFPR Hertz Wendel de Camargo

Conselho Editorial que aprovou este livroCleverson Ribas CarneiroFrancine Lorena Cuquel

Emerson GabardoIda Chapaval Pimentel

Mrio Antonio Navarro da SilvaMaurcio Soares Dottori

Nelson Lus da Costa DiasQuintino Dalmolin

Srgio Luiz Meister Berleze

REVISES EM ZOOLOGIAMata Atlntica

EMYGDIO LEITE DE ARAUJO MONTEIRO-FILHOCARLOS EDUARDO CONTE

Organizadores

Emygdio Leite de Araujo Monteiro-Filho e Carlos Eduardo Conte (Orgs.)

REVISES EM ZOOLOGIAMata Atlntica

E-book

Coordenao editorialRachel Cristina Pavim

Revisocrditos no final do livro

Reviso finaldos autores

Projeto grfico, capa e editorao eletrnicaRachel Cristina Pavim

Srie Pesquisa, n. 310

Universidade Federal do Paran. Sistema de Bibliotecas.Biblioteca Central. Coordenao de Processos Tcnicos.

ISBN 978-85-8480-123-7Ref. 909

Direitos desta edio reservados

Editora UFPRRua Joo Negro, 280, 2o andar - Centro

Tel.: (41) 3360-748980010-200 - Curitiba - Paran - Brasil

[email protected]

2018

Revises em zoologia: Mata Atlntica / Emygdio Leite de Araujo Monteiro- Filho, Carlos Eduardo Conte (orgs.). 1. ed. Curitiba: Ed. UFPR, 2017.

490 p.: il. (algumas color.) (Srie Pesquisa, 310).

ISBN: 978-85-8480-123-7Inclui refernciasVrios autores

1. Mata Atlntica - Diversidade. I. Monteiro-Filho, Emygdio Leite de Araujo, 1957-. II. Conte, Carlos Eduardo. III. Ttulo.

CDD 574.5264

Bibliotecria: Rita de Cssia Alves de Souza - CRB 9/816

SUMRIO

APRESENTAO / 7

MATA ATLNTICA: UMA APRESENTAO / 9 Sandro Menezes Silva

INSETOS DE INTERESSE MDICO-SANITRIO: VETORES / 25 Sirlei Antunes Morais, Delsio Natal

FAUNA DA MATA ATLNTICA: LEPIDOPTERA-BORBOLETAS / 57Cristiano Agra Iserhard, Marcio Uehara-Prado, Onildo Joo Marini- -Filho, Marcelo Duarte, Andr Victor Lucci Freitas

LUCANIDAE DA FLORESTA ATLNTICA: DIVERSIDADE, IDENTIFICAO E ASPECTOS DA BIOLOGIA (INSECTA, COLEOPTERA, SCARABAEOIDEA) / 103

Paschoal Coelho Grossi

ARACNDEOS DA MATA ATLNTICA / 129Alessandro Ponce de Leo Giupponi, Peterson Rodrigo Demite, Carlos Holger Wenzel Flechtmann, Fabio Akashi Hernandes, Amanda Cruz Mendes, Gustavo Henrique Migliorini, Gustavo Silva de Miranda, Thiago Gonalves Souza

ANFBIOS DA MATA ATLNTICA: LISTA DE ESPCIES, HISTRICO DOS ESTUDOS, BIOLOGIA E CONSERVAO / 237

Denise de C. Rossa-Feres, Michel Varajo Garey, Ulisses Caramaschi, Marcelo Felgueiras Napoli, Fausto Nomura, Arthur A. Bispo, Cinthia Aguirre Brasileiro, Maria Tereza C. Thom, Ricardo J. Sawaya, Carlos Eduardo Conte, Carlos Alberto G. Cruz, Luciana B. Nascimento, Joo Luiz Gasparini, Antonio de Pdua Almeida, Clio F. B. Haddad

RPTEIS / 315Alexandro M. Tozetti, Ricardo J. Sawaya, Flavio B. Molina, Renato S. Brnils, Fausto E. Barbo, Julio Cesar de Moura Leite, Marcio Borges- -Martins, Renato Recoder, Mauro Teixeira Junior, Antnio J. S. Arglo, Srgio Augusto Abraho Morato, Miguel T. Rodrigues

AVES DA MATA ATLNTICA / 365 Luciano Moreira-Lima, Lus Fbio Silveira

MAMFEROS DA MATA ATLNTICA / 391Mauricio E. Graipel, Jorge J. Cherem, Emygdio L. A. Monteiro-Filho, Ana Paula Carmignotto

SOBRE OS AUTORES / 483

REVISORES / 489

REVISES EM ZOOLOGIA

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APRESENTAO

Revises em Zoologia pretende ser uma srie dedicada a apresentar uma avaliao recente da fauna brasileira com listagem de espcies, comentrios taxonmicos e, sempre que possvel, aspectos da histria natural e status de conservao.

Considerando a complexidade de nossa fauna, a obra estar dividida por biomas e, assim, certamente, grande parte das espcies estar sendo avaliada em mais de um livro. Contudo, a abordagem ser sempre pertinente ao bioma tema, permitindo assim que ao final tenhamos uma viso ampla de nossa fauna e com informaes complementares com base nos conhecimentos adquiridos em cada bioma onde a espcie ocorre.

Visando a atingir estes objetivos, os captulos so abrangentes e na dependncia da disponibilidade dos colaboradores, foram redigidos em parcerias de colegas de diferentes instituies, o que gerou maior interao entre os autores e uma viso mais ampla de cada tema. Tendo em vista a grande riqueza da fauna, certamente nem todos os captulos abordaro somente um grupo taxonmico, podendo haver ttulos mais abrangentes que tratem de diferentes organismos, como, por exemplo, insetos de interesse sanitrio, insetos sociais, etc.

Esperamos que a gama de conhecimentos a serem reunidos colabore com novas pesquisas, na formao de novos pesquisadores e que embasem gestores e tomadores de deciso poltico-ambientais.

Emygdio L. A. Monteiro-FilhoCarlos Eduardo Conte

REVISES EM ZOOLOGIA

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MATA ATLNTICA: UMA APRESENTAO

Sandro Menezes Silva

A interpretao etimolgica do nome Mata Atlntica remete a uma forma de vegetao com fisionomia florestal localizada prxima costa brasileira, lembrando um cenrio conhecido por muitos, comum em vrias cidades localizadas na regio costeira do Brasil, de morros cobertos por florestas densas e sempre verdes, emolduradas pelo mar ou pela desembocadura de grandes rios. Apesar disto, o termo Mata Atlntica tem concepo diversa na literatura de divulgao cientfica e acadmica no Brasil, podendo referir-se a um bioma brasileiro caracterizado por um conjunto de formaes vegetacionais florestais variveis em termos florsticos e funcionais (JOLY et al., 1999; IBGE, 2004; MMA, 2010), ou ento a um conjunto de tipos florestais restrito poro leste do Brasil, recobrindo as plancies costeiras e as encostas da Serra do Mar e demais serras associadas (JOLY et al., 1991); o que Oliveira-Filho e Fontes (2000) denominaram de Mata Atlntica sensu lato e sensu stricto, respectivamente. A discusso sobre o conceito e a delimitao da Mata Atlntica, acirrada a partir de meados dos anos de 1990 por ocasio da tramitao de lei especfica sobre a regio e suas implicaes sobre o uso e os usurios do territrio (STEINBERGER; RODRIGUES, 2010), est razoavelmente equacionada, sendo a tendncia atual a delimitao e uso conforme o mapa de aplicao da Lei da Mata Atlntica (IBGE, 2009), utilizada no presente trabalho.

Em termos mundiais, a Mata Atlntica representativa do bioma Floresta Tropical, cuja rea de distribuio inclui ainda a Amaznia e as florestas da Amrica Central, as regies do meio-oeste e extremo leste africano, alm da ndia, China e Sudeste Asitico, chegando ao norte da Austrlia, basicamente entre as latitudes 2330N e 2330S. O clima marcado pela alternncia de perodos chuvosos e secos, sem um inverno definido, com temperaturas mdias anuais entre 20-25 e relativamente pouca variao

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ao longo do ano; a precipitao excede os 2.000 mm/ano na maior parte de sua rea de distribuio. Os solos em geral so pobres em nutrientes e cidos, facilmente lixiviveis devido ao clima chuvoso (CAMPBELL, 1996). A Floresta Tropical caracteriza-se ainda por sua elevada biodiversidade, com rvores que atingem at 35m de altura, em geral latifoliadas, associadas a arvoretas, palmeiras, arbustos e ervas que constituem os estratos inferiores da floresta, alm de uma grande quantidade de lianas e epfitas, que muitas vezes recobrem completamente os troncos das rvores (STII, 2003).

A Mata Atlntica representada por um conjunto de formaes florestais e ecossistemas associados, que mantm inter-relaes histricas e evolutivas, distribuda por 17 estados brasileiros; ocupava originalmente cerca de 15% do territrio nacional, com rea estimada de 1,3 milho de quilmetros quadrados (IBGE, 2009; MMA, 2010). O percentual da rea de cada estado ocupado originalmente pela Mata Atlntica varivel, sendo de 100% nos estados do Esprito Santo, Rio de Janeiro e Santa Catarina, ou quase isso no estado do Paran (98%), chegando a menos de 10% nos estados de Gois, Paraba e Rio Grande do Norte (IBGE, 2009).

- As formaes florestais que integram a Mata Atlntica podem ser reunidas em dois grupos principais: as florestas ombrfilas, que ocupam principalmente as encostas da Serra do Mar que percorrem a Mata Atlntica dos estados do Rio Grande do Sul ao Esprito Santo, o Planalto Meridional, nos estados do Paran, Santa Catarina e Rio Grande do Sul e, as florestas estacionais, decduas ou semidecduas, que ocorrem basicamente nas pores planlticas, serras e chapadas mais interiores, chegando Bolvia, Paraguai e Argentina (IBGE, 2012).

- A floresta ombrfila densa, ou floresta tropical perenifolia, ocorre desde as plancies costeiras at os contrafortes da Serra do Mar, passando pelas partes mais altas das montanhas, especialmente nas regies sul e sudeste do Brasil, onde se encontram as maiores reas contnuas da formao. Denominada na literatura fitogeogrfica brasileira de diferentes maneiras (JOLY et al., 1999), a formao mais tpica da Mata Atlntica, que na maioria das vezes representa-a em materiais de divulgao sobre esta regio natural. Oliveira-Filho e Fontes (2000) denominaram-na de Floresta Atlntica sensu stricto, diferenciando do conceito sensu lato, que inclui as Florestas com Araucria e as florestas estacionais. IBGE (2012) reconhece cinco formaes da floresta ombrfila densa, relacionadas faixa altimtrica e/ou tipo de

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substrato de ocorrncia aluvial, de terras baixas, submontana, montana e altomontana com limites variveis conforme diversos fatores, notadamente a latitude, sentido de exposio da encosta e proximidade do oceano.

- A floresta ombrfila aberta, de ocorrncia menos expressiva na Mata Atlntica, caracteriza-se pela combinao entre rvores mais espaadas e elementos fisionmicos especiais, como palmeiras, bambus, cips ou sororocas, como popularmente conhecida Phenakospermum guianensis Aubl. Strelitziaceae (IBGE, 2012). Ocorre principalmente nas transies da Mata Atlntica para outras regies naturais no Nordeste nos estados do Piau, Cear, Paraba e Alagoas e no Sudeste nos estados de Minas Gerais e Esprito Santo (IBGE, 2009).

- A floresta ombrfila mista, mais conhecida como Floresta com Araucria, tpica do Planalto Meridional Brasileiro e das partes mais altas da Serra do Mar e da Serra da Mantiqueira, em clima subtropical mido. O elemento mais marcante desta formao, tambm compartimentada conforme patamares altimtricos e natureza do substrato, o Pinheiro- -Brasileiro (Araucaria angustifolia (Bertol.) Ktze.), que com suas copas emergentes e formato caracterstico imprimem fisionomia bastante tpica formao (MMA, 2010; IBGE, 2012).

- A regio de ocorrncia da floresta estacional semidecidual, ou simplesmente Mata Semidecdua, caracteriza-se pela ocorrncia da sazonalidade pluviomtrica ou trmica marcada, em clima tropical ou subtropical, respectivamente, nas pores interiores das regies Sudeste e Sul; o carter semidecidual dado pelo comportamento fenolgico do estrato arbreo dominante, que perde entre 30 e 50% das folhas durante o perodo mais seco ou frio (IBGE, 2012).

A floresta estacional decidual, conhecida em algumas regies do Brasil como Mata Seca, tambm ocorre em zona de clima sazonal, porm com perodo de seca mais intenso ou frio mais intenso do que a floresta semidecidual. Sua principal rea de ocorrncia inclui parte das regies Norte e Noroeste do Rio Grande do Sul, em clima subtropical e amplas pores interiores dos estados de Minas Gerais, Bahia e Piau, alm da borda leste da plancie pantaneira, no estado do Mato Grosso do Sul. A deciduidade foliar geralmente ultrapassa 50%, concentrada no perodo de estiagem ou de frio caracterstico da rea de ocorrncia da formao (IBGE, 2012).

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Dentre os ecossistemas associados Mata Atlntica, destacam-se as Restingas e os Manguezais, na regio costeira, os Campos de Altitude, nas partes mais altas das serras do Mar e da Mantiqueira e, os brejos interioranos ou brejos de altitude, nos planaltos e chapadas do Nordeste. As Restingas ocupam os terrenos geologicamente mais jovens da plancie litornea, com vegetao representada por formaes campestres, arbustivas e florestais, com cobertura, altura mdia do estrato dominante e espcies caractersticas variveis conforme condies de solo, notadamente quantidade de areia e de matria orgnica, acidez, disponibilidade de nutrientes e grau de inundao (ARAUJO, 2002; PEREIRA, 2003; SILVA; BRITEZ, 2005; MARQUES et al., 2015). Os Manguezais ocorrem desde a costa do estado do Amap at o litoral norte do estado de Santa Catarina, em zonas de transio entre os ambientes terrestre e marinho, sujeitos ao regime dirio das mars, sendo mais expressivo em esturios, baas e lagunas; apresentam estrutura bastante distinta ao longo desta rea de distribuio, variando conforme tipo de relevo, natureza do substrato, temperatura mdia anual, amplitude das marse pluviosidade, entre outros (SCHAEFFER-NOVELLI et al., 1990; SCHAEFFER-NOVELLI, 1995). Os Campos de Altitude na Mata Atlntica esto representados por formaes predominantemente herbceas que ocorrem acima do limite alitudinal de ocorrncia de florestas no sudeste e sul, varivel conforme a latitude considerada, em geral entre 1.200 e 1.900 m s.n.m., com cobertura varivel conforme a presena e profundidade do solo (MARTINELLI, 2007). Os brejos interioranos, ou brejos de altitude, so encraves de floresta estacional semidecidual em meio Caatinga, ocorrentes nas partes altas dos planaltos e chapadas dos estados de Cear, Rio Grande do Norte, Paraba e Pernambuco, totalizando cerca de 18.600 km2 de extenso (TABARELLI; SANTOS, 2004) (Figura 1).

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FIGURA 1 Distribuio original da Mata Atlntica no Brasil, conforme a Lei da Mata Atlntica (IBGE, 2009).

A Mata Atlntica detm a maior riqueza especfica dos principais grupos de plantas terrestres brifitas, pteridfitas e angiospermas dentre os biomas brasileiros (SHEPHERD, 2003), com nmeros que apontam para pouco mais de 15.000 espcies (entre 3 e 5% da flora mundial), sendo aproximadamente 45% de espcies endmicas; 60% da riqueza e 80% dos endemismos esto na floresta ombrfila densa, assim como a maior concentrao de espcies (9.661 espcies). A floresta ombrfila mista destacou- -se para gimnospermas e brifitas, enquanto a floresta estacional semidecidual e as formaes campestres destacaram-se entre as pteridfitas (STEHMANN et al., 2009).

As relaes florsticas e evolutivas entre as diferentes formaes vegetacionais que integram a Mata Atlntica, assim como os principais fatores condicionantes da ocorrncia de cada um dos tipos, vm sendo estudados por vrios autores (ver OLIVEIRA-FILHO; FONTES, 2000; OLIVEIRA-FILHO et al., 2005; ASSIS et al., 2011; MARQUES et al., 2011, 2015), mostrando que as diferentes formaes vegetacionais mantm relaes quanto s suas origens e floras, com um conjunto de famlias consideradas dominantes independente do tipo florestal analisado e que fatores como pluviosidade, temperatura mdia, origem geolgica e topografia do terreno, caractersticas do solo

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e distncia do oceano, entre outros, so importantes para a circunscrio de cada formao, sendo a composio florstica influenciada pelas demais regies naturais da Amrica do Sul, como a Floresta Amaznica, o Cerrado e at mesmo as formaes andinas.

O nmero de espcies de plantas ameaadas de extino na Floresta Atlntica aponta para nmeros divergentes, dependendo da fonte considerada. Na lista da flora ameaada de extino do Brasil (MMA, 2008) so 238 espcies, enquanto na lista da IUCN eram, em 2009, 160 espcies ameaadas e quatro extintas (STEHMANN et al., 2009). Na anlise realizada por Leo et al. (2014), que inclui quase 7 mil espcies de plantas da Mata Atlntica, foi detectado que cerca de 6,5% das espcies esto ameaadas, sendo este risco maior para os ambientes de campos de altitude e restingas, alm de para algumas formas biolgicas, como as epfitas, por exemplo. Na proposta de reas Chave para Biodiversidade (ACB) baseada em espcies de plantas raras (KASECKER et al., 2009), a Mata Atlntica responsvel por cerca de 40% das reas reconhecidas, o maior nmero, muito embora em termos de rea total das ACB esteja atrs do Cerrado e da Amaznia.

A fauna de vertebrados da Mata Atlntica, conforme diagnstico realizado por Sabino e Prado (2003), rene 350 espcies de peixes sseos, sendo 133 endmicas, considerando somente os rios que nascem nas serras e drenam para o oceano nas bacias hidrogrficas do Leste e Sudeste da Mata Atlntica. Incluindo as bacias hidrogrficas do Paran Paraguai Uruguai, onde ocorrem as florestas estacionais e a Floresta com Araucria, so mais de 500 espcies conhecidas. Para os anfbios so registradas mais de 600 espcies, o que representa quase 50% do total de espcies do Brasil, das quais 185 so endmicas da Mata Atlntica (ver captulo Anfbios da Mata Atlntica: lista de espcies, histrico dos estudos, biologia e conservao, p. 237). Entre os rpteis so cerca de 300, sendo 102 espcies endmicas, o que corresponde a 33% das espcies brasileiras (ver captulo Rpteis, p. 315). As aves somam 861 espcies, praticamente metade do total de espcies do Brasil, sendo 213 endmicas (ver captulo Aves da Mata Atlntica, p. 365). Finalmente, entre os mamferos so 321 espcies, sendo 89 endmicas (ver captulo Mamferos da Mata Atlntica, p. 391).

No ranking de espcies ameaadas de extino, a Mata Atlntica ocupa uma liderana desconfortvel; das 627 espcies ameaadas no Brasil, 380, ou seja, pouco mais de 60% so da Mata Atlntica (PINTO et al., 2006).

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Dentre as aves, por exemplo, das 160 espcies ameaadas, 98 so da Mata Atlntica (SILVEIRA; STRAUBE, 2008), enquanto entre os mamferos so 42 espcies ameaadas, quase 69% do total de espcies listadas para o Brasil (CHIARELLO et al., 2008).

A alta biodiversidade da Mata Atlntica, considerando as diversas escalas de entendimento deste termo, uma das justificativas para o seu reconhecimento como um Hotspot, ao lado de outras 33 regies do planeta. Alm da biodiversidade, a regio encontra-se sob alta ameaa de destruio, sendo assim uma prioridade para a conservao de diversidade biolgica em nvel mundial (MYERS et al., 2000; MITTERMEIER et al., 2004; GALINDO-LEAL; CMARA, 2005).

Atualmente, da rea considerada como Mata Atlntica, de cerca de 130 milhes de hectares (IBGE, 2012), em torno de 12,5% ainda mantm reas de floresta mais conservada, alm de quase 900 mil hectares de restingas e manguezais. Os estados brasileiros que renem as maiores extenses de floresta so Minas Gerais, So Paulo, Paran, Santa Catarina e Bahia, muito embora este ltimo e Minas Gerais estejam entre os trs estados que mais desmataram no perodo 2013-2014. O trabalho de monitoramento da cobertura vegetal da Mata Atlntica, que vem sendo feito desde a dcada de 1990 com notvel aprimoramento das ferramentas de anlise (Fundao SOS Mata Atlntica & INPE, 2015) mostrou que a taxa de supresso da floresta nativa no perodo 2012 a 2013 diminuiu 24%, muito embora o quadro geral ainda seja preocupante.

A regio da Mata Atlntica, alm de uma das mais diversas do mundo, tem grande importncia para aproximadamente 145 milhes de brasileiros, que vivem em 3.429 municpios. As maiores regies metropolitanas brasileiras esto nesta regio, assim como grandes parques industriais, onde so gerados aproximadamente 70% do PIB brasileiro. responsvel por diversos servios ambientais para a populao que vive em sua rea de abrangncia, assim como para a sociedade global, com destaque para o fornecimento de gua em quantidade e com qualidade, a polinizao em cultivos agrcolas por espcies animais nativas, a proteo contra deslizamentos e enchentes, a beleza cnica para turismo e recreao, a proteo de recursos genticos, de espcies endmicas e ameaadas e a mitigao das mudanas climticas (SEEHUSEN; PREM, 2011). Casos bem sucedidos de pagamento por servios ambientais na

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Mata Atlntica podem ser encontrados em IBAMA (2011), mostrando que este pode ser um caminho para a conservao desta regio.

A biodiversidade e relevncia ambiental, social e econmica da Mata Atlntica tm sido reconhecidas nos ltimos 30-40 anos de diversas formas. Desde a publicao da Constituio Brasileira, em 1988, que no Artigo 225 reconheceu a Mata Atlntica como Patrimnio Nacional, passando pela publicao da Lei da Mata Atlntica (Lei n 11.428, de 22 de dezembro de 2006 e Decreto n 6.660, de 21 de novembro de 2008), que, alm de consolidar os seus limites, dispe sobre sua conservao, proteo, regenerao e utilizao, at aos dias de hoje, quando a degradao ambiental e as mudanas climticas desafiam cientistas e lideranas em busca de formas sustentveis de desenvolvimento, vrias iniciativas voltadas conservao da Mata Atlntica vm sendo conduzidas, nos mbitos pblico e privado, ou ento por meio de parcerias entre estes setores. Destacam-se aes de educao ambiental e sensibilizao, chamando a ateno da populao brasileira para a sua importncia, de garantia de manuteno de reas representativas de toda a sua biodiversidade, de restaurao de reas degradadas, de inventrios da diversidade taxonmica nos seus diferentes ambientes, de garantia de direitos sobre o conhecimento e uso da biodiversidade das populaes tradicionais e de fortalecimento das organizaes da sociedade civil de interesse pblico, somente para citar algumas (MMA, 2010).

Em termos de reconhecimento formal da importncia da Mata Atlntica em nvel mundial, foi nela criada a primeira Reserva da Biosfera no Brasil em 1992 e depois disso passou por algumas ampliaes, tendo, em 2010, uma rea aproximada de 30 milhes de hectares, distribudos em 14 estados brasileiros, a maior rea da Rede Mundial das Reservas da Biosfera criada e mantida pela Unesco. Alm disso, reconhecida pela Unesco a existncia de trs Stios do Patrimnio Natural na Mata Atlntica, denominados de Parque Nacional do Iguau, que inclui o grande remanescente florestal formado pelo Parque Nacional do Iguau, no Brasil, e pelo Parque Nacional Iguazu, na Argentina, totalizando 185 mil hectares; o stio Mata Atlntica: Reservas do Sudeste, nos estados de So Paulo e Paran, no maior bloco contnuo de floresta ombrfila densa e ecossistemas costeiros do Sudeste, com aproximadamente 470 mil hectares; e o stio da Costa do Descobrimento: Reservas de Mata Atlntica, situado nos estados do Esprito Santo e Bahia, com cerca de 112 mil hectares. Os motivos que levaram a este reconhecimento

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foram basicamente a excepcional beleza cnica e a importncia esttica, a ocorrncia de processos ecolgicos e biolgicos importantes envolvendo comunidades e ecossistemas terrestres e aquticos, de gua doce e marinhos e a importncia para conservao in situ de um grande nmero de espcies endmicas e ameaadas de extino, assim como seus respectivos habitats. Informaes mais detalhadas e atualizadas sobre as Reservas da Biosfera e os Stios do Patrimnio Mundial podem ser encontradas na pgina eletrnica da Unesco (http://en.unesco.org/countries/brazil).

A cobertura de reas protegidas na Mata Atlntica, especialmente unidades de conservao, tem mostrado alguns avanos nos ltimos anos, com a participao mais efetiva do governo federal e dos Estados e mais recentemente com os governos municipais e a iniciativa privada. Os nmeros sobre as unidades de conservao na Mata Atlntica variam conforme o ano do levantamento, as bases de informao empregadas e os critrios de incluso das reas. Pinto et al. (2006) relacionaram 813 reas, totalizando pouco mais de 13 milhes de hectares, incluindo unidades federais, estaduais e privadas, de uso sustentvel e de proteo integral, enquanto MMA (2010) mencionam a existncia de 963 reas com um total de quase 8 milhes de hectares. Em qualquer uma destas estimativas percebe-se que, para a Mata Atlntica, o Brasil ainda no atingiu a meta de 10% de reas protegidas, assumida nacional e internacionalmente pelo pas quando da assinatura de convenes e tratados multilaterais. A existncia desse conjunto de reas no garante por si s a proteo de toda a biodiversidade da Mata Atlntica, devido principalmente representatividade geogrfica, tamanho e forma das unidades, estado de implementao da unidade e de efetividade do manejo e presses das regies de entorno, somente para citar os mais importantes (PINTO et al., 2006; MMA, 2010). Uma tendncia marcante da ltima dcada em termos de unidades de conservao na Mata Atlntica foi o incremento do nmero de Reservas Particulares do Patrimnio Natural RPPN (PINTO et al., 2006). Estas reservas, apesar de geralmente pequenas, garantem a conectividade entre reas maiores e protegem ambientes e espcies ameaadas, com papel complementar fundamental s reas pblicas (VIEIRA; MESQUITA, 2004).

Visando a melhorar e integrar o processo de gesto do sistema nacional de reas protegidas, o Instituto Chico Mendes de Conservao da Biodiversidade ICMBio reconheceu a existncia de oito mosaicos de unidades de conservao em nvel federal na Mata Atlntica, com seus

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respectivos anos de criao: Lagamar (2006), Bocaina (2006), Foz do Rio Doce (2010), Extremo Sul da Bahia (2010), Mico-Leo-Dourado (2010), Mantiqueira (2006), Carioca (2011) e Mata Atlntica Central Fluminense (2006). Os mosaicos visam gesto participativa e integrada das reas protegidas contidas nos seus limites, sendo uma estratgia que colabora significativamente para que o conjunto de reas protegidas, pblicas e privadas, atinjam os objetivos de conservao para os quais foram criadas. Informaes mais detalhadas sobre estes mosaicos, como os atos de reconhecimento, o regime interno de funcionamento, peas de planejamento e mapa de localizao podem ser encontradas na pgina eletrnica do ICMBio (http://www.icmbio.gov.br/portal/o-que-fazemos/mosaicos-e-corredores-ecologicos.html).

Alm dos mosaicos, os corredores de biodiversidade ou corredores ecolgicos, aqui entendidos como estratgias de planejamento e ordenamento territorial visando melhoria na gesto e manejo das reas protegidas e seus entornos (AKASHI-JUNIOR; CASTRO, 2010), tambm tm contribudo de forma substancial para a conservao da Mata Atlntica. Dentre as vrias iniciativas de proposio e implementao de corredores, tanto de rgos governamentais como por meio de organizaes da sociedade civil de interesse pblico, destacam-se o Corredor Central da Mata Atlntica, com aproximadamente 8,6 milhes de hectares no estado do Esprito Santo e no sul do estado da Bahia (AYRES et al.,2005), o Corredor da Serra do Mar, com cerca de 12,6 milhes de hectares distribudos entre o estado do Rio de Janeiro e o estado do Paran, numa das reas mais ricas da Mata Atlntica (MMA, 2010) e o Corredor de Biodiversidade do Paran, com cerca de 8,5 milhes de hectares distribudos por sete estados e 297 municpios, em estado de implementao menos avanado quando comparado com os dois outros. Um bom exemplo de como as aes de planejamento e implementao dos corredores ecolgicos foram conduzidas pode ser encontrado em Ayres et al. (2005), tendo como estudo de caso as aes do Corredor Central da Mata Atlntica.

Ainda em relao s reas protegidas, na Mata Atlntica existem 120 Terras Indgenas, em 11 estados, totalizando quase 600 mil hectares de extenso. As maiores extenses em reas indgenas esto no estado da Bahia e no estado do Mato Grosso do Sul, representando quase 1/5 da extenso total destas no bioma, enquanto as maiores populaes indgenas esto nos estados do Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul e Paran, sendo os grupos mais numerosos os Guaranis e Kaingangs (MMA, 2010).

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Alm dos indgenas, outras populaes tradicionais distribuem-se ao longo da Mata Atlntica, com destaque para os caiaras e os quilombolas. Os caiaras, nome dado aos moradores tradicionais do litoral sudeste e sul do Brasil (DIEGUES, 1988) resultantes da miscigenao dos portugueses e indgenas (MMA, 2010), supostamente mantinham uma relao mais estreita e sustentvel com as florestas, manguezais e com o mar, de onde retiravam a maior parte dos produtos que necessitavam para suprir suas demandas rotineiras, como alimento (pescado, caa e roas de subsistncia), madeira (pequenas obras, ferramentas e lenha) e algumas fibras (amarraes em geral), por exemplo. No entanto, o papel deste grupo na conservao da Mata Atlntica, assim como os seus impactos dentro das unidades de conservao de proteo integral, so aspectos polmicos na comunidade cientfica (ADAMS, 2000). J os quilombolas, grupos descendentes dos quilombos constitudos durante e aps o perodo escravagista no Brasil, ocorrem em vrios estados ao longo da Mata Atlntica, faltando, no entanto, estatsticas oficiais sobre o nmero de comunidades e o tamanho desta populao na regio costeira (MMA, 2010). Uma boa contextualizao histrica sobre os grupos de quilombolas na Mata Atlntica e os desafios para a conservao destas reas pode ser vista em Silva (2013).

Um dos temas atuais que tem mobilizado cientistas e pesquisadores de diversas reas do conhecimento diz respeito s mudanas climticas e as suas consequncias sobre a biodiversidade. Para a Mata Atlntica, Colombo e Joly (2010) mostram que pode haver reduo na rea de distribuio de vrias espcies arbustivo-arbreas que foram analisadas, ou ento um deslocamento da rea de ocorrncia atual para o sul do Brasil. Num cenrio otimista, de aumento da temperatura inferior a 2C at 2050, a reduo da rea potencial de ocorrncia , em mdia, de 25%, enquanto no cenrio pessimista, de aumento de temperatura de 3C no mesmo perodo, esta reduo da ordem de 50%, em mdia.

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INSETOS DE INTERESSE MDICO-SANITRIO: VETORES

Sirlei Antunes MoraisDelsio Natal

aBsTRaCT

insects of medical-sanitary interest: vectors. Hematophagous insects require blood to complete their life cycles, a factor that enables several of them as vectors of human diseases. This report focuses on three groups of autochthones blood sugar insects of the Brazilian Atlantic Rain Forest: the family Culicidae, the subfamily Phlebotominae and the subfamily Triatominae. The fragmentation of the Atlantic Forest by extensive urban and rural areas influences in the adaptation of these species. Consequently, the vectors discussed herein occur in both rural-wild and urban environments. Although the main objective of this work is to address some ecological aspects of these insects, the medical implication will also be in focus. Among others endemic infectious diseases in Brazil dengue, yellow fever, leishmaniasis, Chagas, filariasis, malaria and other arboviral diseases are approached in some extension in the specific context of the regional ecology.

inTRODUO

imPliCaEs EPiDEmiOlgiCas E O RElaCiOnamEnTO COm O hOmEm

Os insetos so representados pelo agrupamento de organismos que rene ampla riqueza biolgica na presente poca do Holoceno, compondo linhagens altamente diversificadas e de classificao complexa (ENGEL e KRISTENSEN, 2013). Nesse tpico ser destacado, dentro desse vasto txon, um grupo

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em que seus membros necessitam de sangue para completar seus ciclos de vida, sendo reconhecidos como hematfagos. A importncia desses seres dependentes de sangue decorrente dessa forma de alimentao; pois na prtica da hematofagia so capazes de transmitir agentes infecciosos, atuando como vetores. Essa condio preenchida sempre que tais vetores fazem parte de ciclos de vida de micrbios patognicos. A hematofagia e a relao com patgenos teve sua histria evolutiva concebida ao longo de milhes de anos, de forma independente e em distintos grupos taxonmicos (BALASHOV, 2006).

Atualmente no Brasil entre as vrias doenas em que seus agentes so transmitidos por vetores se destaca a dengue, infeco em que cepas distintas de vrus da famlia Flaviviridae so veiculadas pelo mosquito Aedes aegypti (Linnaeus, 1762). Por se manifestar nos stios urbanos, o enfrentamento contra a dengue intensamente divulgado nos meios de comunicao e praticamente todo o pas est ciente da sua importncia no campo da sade pblica.

Alm da dengue, outras doenas dessa categoria so igualmente importantes. Algumas delas trazem prejuzos Sade Pblica devido ao afastamento do trabalho e a queda na produo, causando mais desequilbrios contraditria situao socioeconmica brasileira (DUARTE et al., 2004; LUZ et al., 2009).

Neste captulo, o enfoque ser centralizado sobre trs grupos de insetos reconhecidos como vetores biolgicos e associados Mata Atlntica. Embora o eixo principal desse relato seja voltado a abordar a presena desses artrpodes ao longo desse bioma, no ficaro esquecidas as doenas associadas, salientando-se sempre que possvel, o interesse mdico-sanitrio.

Na rea de abrangncia da Mata Atlntica so encontrados inmeros ncleos urbanos, bem como extensos espaos ocupados por atividades rurais. A fragmentao desse ecossistema influi na adaptao das espcies. Desse modo, os insetos vetores aqui abordados podem ser encontrados tanto no ambiente silvestre como rural ou urbano.

As reas baixas costeiras nas plancies litorneas so os locais da Mata Atlntica mais amplamente povoados, constituindo aglomerados urbanos contnuos em longas extenses. A floresta remanescente associada a Serra do Mar, resguardada pela topografia acidentada pouco habitada por seres humanos. Na direo do interior so encontrados povoados dos mais variados portes, de pequenas vilas a metrpoles. A maioria das cidades da regio de domnio da Mata Atlntica infestada pelo sinantrpico Ae. aegypti

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(abreviaturas e nomenclatura de acordo com o catlogo WRBU 2013) e seus moradores vivem em situao de risco de contrair dengue.

No passado, desde o tempo do Brasil colnia o mosquito extico Ae. aegypti j se encontrava disperso por essas reas, principalmente nas cidades litorneas, ocasio em que veiculava o vrus da febre amarela. Naquele tempo eram comuns as grandes epidemias como aquelas recorrentes no Rio de Janeiro, debelada h pouco mais de 100 anos por Oswaldo Cruz. A mortandade era significativa e a doena atravancava o progresso do pas, pois atingia cidades costeiras importantes e reas porturias. Com a erradicao da febre amarela e do seu vetor nos ambientes urbanos, o vrus persistiu no Brasil, porm na forma silvestre (FRANCO, 1979).

Assim, os remanescentes da Mata Atlntica e suas bordas degradadas comportam espcies que tm o potencial de veicular o vrus da febre amarela, como os mosquitos dos gneros Aedes Meigen 1903, Haemagogus Williston 1896 e Sabethes Robineau-Desvoidy 1827. Entretanto, mesmo que estes mosquitos estejam presentes na regio mais ocidental representada pelas plancies e pelas matas serranas, prximas ao litoral, a febre amarela no tem se manifestado nesse espao. Baseados na presena desses vetores, os epidemiologistas mais precavidos tm colocado sob observao as reas indenes de febre amarela desse bioma (LAPORTA et al., 2012). Na regio mais oriental ou interiorana da Mata Atlntica, a febre amarela tem se revelado na forma de epizootias e surtos humanos em vrios Estados, inclusive no Rio Grande do Sul (CARDOSO et al., 2010; ALMEIDA et al., 2012).

Na epidemiologia da febre amarela silvestre, o homem um hospedeiro acidental, configurando grupo de risco se no for vacinado e penetrar em rea de epizootia em macacos. Numa epizootia, a febre amarela silvestre pode atingir inmeros desses animais em curto espao de tempo. Muitos deles adoecem e morrem. Esses eventos servem de alerta epidemiolgico e significam que o agente est circulando em dada rea (MONDET, 2001).

Igualmente importantes so os mosquitos do gnero Anopheles ou mosquitos-prego, vetores potenciais das vrias formas de protozorios do gnero Plasmodium Marchiafava e Celli 1885 responsveis pela malria humana. A presena deste parasita no organismo pode provocar febre intermitente e anemia, quadro clnico que na forma grave pode levar o indivduo morte por complicaes subsequentes (OLIVEIRA-FERREIRA et al., 2010).

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Embora no passado a malria incidisse na parte leste e sul da Mata Atlntica associada a Serra do Mar, e uma vez considerada erradicada por volta de 1950, atualmente persiste na forma de casos espordicos ou pequenos surtos, em praticamente todo esse ecossistema (MARRELLI et al., 2007). A introduo de plasmdios da malria neste ambiente torna-se iminente, devido principalmente imigrao de pessoas infectadas oriundas de reas endmicas associadas presena de uma variedade de culicideos hematfagos que sugam o sangue humano de modo oportunista.

De outro modo, a vegetao exuberante da Serra do Mar e a alta densidade de plantas da famlia Bromeliaceae favorece a abundncia de mosquitos associados a este micro-hbitat. Evidncia desta particularidade so os anofelinos classificados no subgnero Kerteszia. Os mosquitos desse txon, cujos imaturos se desenvolvem nas bromlias, tm comportamento acrodendrfilo quando esto na fase adulta (UENO et al., 2007). Os mosquitos Kerteszia so investigados por ter papel mantenedor no ciclo de transmisso do agente da malria simiana. No dossel da mata existem primatas infectados com variantes de plasmdios que produzem efeitos tnues ou inaparentes no organismo destes animais (DE CASTRO DUARTE et al., 2008). Os mosquitos com hbitos acrodendrfilos convivem no mesmo hbitat que esses primatas, representando risco s pessoas que adentram na mata. Nesse ambiente podem ocorrer infeces acidentais, pois ao detectar a presena humana, os mosquitos infectados descem das copas e veiculam o patgeno por meio da hematofagia.

Alm da preocupao com a malria, as reas litorneas quentes ou de baixa altitude e intensamente povoadas so favorveis aos ciclos epidemiolgicos da filariose linftica humana e da dirofilariose, comentadas a seguir.

A filariose humana causada pela infeco do verme Wulchereria bancrofti (Cobbold, 1877) e transmitida pelo mosquito Culex quinquefasciatus Say 1823, conhecido como pernilongo comum. Uma forma grave da filariose recebeu o nome popular de elefantase, em decorrncia da complicao da doena expressada por edema crnico nos membros inferiores, usualmente at os joelhos. A superfcie fica grossa com fibroses e reas enrugadas, que lembram a perna de elefante (DREYER et al., 2006). Sempre associado ao homem, este mosquito est presente em reas tropicais urbanizadas e causa incmodo nas comunidades principalmente quando em elevada infestao.

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Praticamente todas as cidades na rea de influncia da Serra do Mar so infestadas por essa espcie de mosquito. Contudo a transmisso da W. bancrofti no Brasil est restrita a focos residuais no Nordeste, sendo a regio de Recife o local em que a doena persiste, porm sob perspectiva de ser eliminada. O mosquito Cx. quinquefascitus se prolifera a expensas de falhas no saneamento de esgoto. Esse pernilongo se multiplica intensamente em valas e fossas que recebem tais efluentes. Desse modo, no um vetor ligado ao ambiente silvestre, mas sim s reas antropizadas (MEDEIROS et al., 2008; FONTES et al., 2012).

A dirofilariose uma zoonose que envolve principalmente ces como fonte de infeco do agente no seu ciclo de transmisso, podendo este ser transmitido tanto por mosquitos do gnero Culex Linnaeus 1758 como por Aedes. Essa doena sim, se espalha pelo litoral associado a Serra do Mar, acometendo os ces; tendo estes seus coraes lesados pelo verme que dotado de tropismo para esse rgo. Nessa doena o homem pode ser atingido de forma espordica, sendo hospedeiro terminal, pois nessa infeco o verme no completa o ciclo at a forma infectante. Acontece que, por vezes, o verme se encista nos pulmes, sendo detectado em exames de raios-X e interpretado como tumor com suspeitas de maligno. Esse diagnstico incorreto pode levar a uma cirurgia de risco e desnecessria (REIFUR et al., 2004; RODRIGUES-SILVA et al., 2004).

Labarte et al. (1998) ao trabalhar em rea litornea de domnio da Mata Atlntica refere como vetores do agente da dirofilariose as espcies Ae. scapularis (Rondani, 1848), Ae. taeniorhynchus (Wiedemann, 1821), Cx. quinquefasciatus, Cx. declarator Dyar e Knab, 1906, Cx. saltanensis Dyar, 1928 e Wyeomyia bourrouli (Lutz, 1905). Desses mosquitos foram isolados o agente etiolgico desta doena.

A Mata Atlntica associada a Serra do Mar extensa, indo do Rio Grande do Sul Bahia. A proximidade do oceano at a Serra faz de toda essa regio uma rea com elevada taxa de precipitao pluviomtrica. Nas latitudes menores, mais ao norte, as mdias de temperatura anual tendem a subir. O calor e as chuvas fazem desse complexo ecolgico uma regio bastante mida. Esses fatores ambientais renem condies favorveis para a proliferao de muitas espcies de mosquitos. Trata-se talvez do ecossistema brasileiro de maior diversidade desse txon. Levantamentos nos Estados que abrigam essa extensa mata so suficientes para comprovar a riqueza da fauna culicideana,

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incluindo vrias espcies de mosquitos vetores de arbovrus (GUIMARES; VICTRIO, 1986; FORATTINI et al., 1986a, b; GUIMARES et al., 2001).

Os arbovrus compem um conjunto de vrus, sendo a maioria pouco conhecida. Dentre os principais grupos de importncia mdica, citam- -se os Alphavirus (encefalites equinas leste, oeste e venezuelana. Mayaro e Chikungunya), Flavivirus (febre amarela, dengue, febre do vrus do Oeste do Nilo, Rocio, encefalite de So Luiz, Ilhus) e Bunyavirus (Oropouche). Algumas dessas viroses tm ocorrncia no Brasil, provocando infeces de brandas a graves ou fatais, sendo o caso mais dramtico o da febre amarela. Outras como os vrus do Oeste do Nilo no foram notificadas no pas. Entretanto, a febre do Chikungunya tem sido notificada nos pases vizinhos e mais recentemente no Brasil (PAUVOLID-CORRA et al., 2011).

O vrus Chikungunya um Alphavirus africano. O primeiro gentipo foi descrito em 1952, com ocorrncia nas ilhas do oceano pacfico (FIGUEIREDO, 2007). Este agente transmitido primariamente pelo Ae. aegypti. Entretanto, estudos baseados em clones de infeces virais em perodos epidmicos de ilhas do Oceano ndico, revelaram que uma mudana de aminocidos na protena E2 aumentou a infectividade viral para o mosquito Ae. albopictus (HIGGS, 2014). Ambas as espcies espalhadas pelo Brasil so adaptadas ao ambiente urbano, tendo o movimento de portadores um papel fundamental na amplificao da rota do vrus. A maioria dos indivduos infectados desenvolve a doena de modo sintomtico, com febre aguda e dores nas articulaes.

Os casos de Chikungunya ocorriam inicialmente nos pases da frica e sia, sendo posteriormente notificados em pases da Europa. Em dezembro de 2013, a OMS informou a primeira transmisso local do vrus Chikungunya no ocidente, com casos autctones na Califrnia nos Estados Unidos. Desde ento, a transmisso do vrus tem sido identificada em vrios pases da Amrica Central e ao Norte da Amrica do Sul (FISCHER; STAPLES, 2014). No Brasil, foi relatado o primeiro caso importado no estado do Rio de Janeiro em 2010 (ALBUQUERQUE et al., 2012). Trata-se de um viajante que voltou ao Brasil aps ter sido infectado na Indonsia. Atualmente, segundo o portal online do Ministrio da Sade foram diagnosticados 828 casos de febre Chikungunya no Brasil. Destes, 39 so casos importados e os outros 789 so casos autctones, com maioria concentrada na regio Nordeste. O Brasil vulnervel instalao de vrus circulante devido a vasta disseminao dos mosquitos vetores exticos competentes Ae aegypti e Ae albopictus. Este

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ltimo, dotado de valncia ecolgica mais ampla. Alm das reas urbanas, o Ae albopictus est disperso pelas reas rurais e silvestres, e encontra-se disseminado no complexo ecolgico da Serra do Mar (MONTES, 2005).

De forma semelhante s reas litorneas ou de baixa altitude e as regies de planalto de domnio da Mata Atlntica so propcias ao ciclo epidemiolgico da Leishmania Ross, 1903, gnero de protozorios agentes das leishmanioses. Nessas paisagens a proximidade das moradias s matas tem favorecido o acometimento humano. Essa doena conhecida em algumas reas como lcera de Bauru ou ferida brava, sendo desencadeada aps infeco pelos protozorios, os quais so transmitidos por pequenos dpteros da subfamlia Phlebotominae, conhecidos como mosquitos-palha ou birigui (YOUNG e DUNCAN, 1994; PEREIRA-DA-SILVA e GURGEL, 2009).

Alm das infeces citadas, as reas de matas no Brasil so favorveis ao ciclo epidemiolgico da doena de Chagas, uma anfixenose causada por protozorios do gnero Trypanosoma, tendo como vetor percevejos hematfagos da subfamlia Triatominae, conhecidos como barbeiros. A doena de Chagas a causa principal da miocardite infecciosa, provocando morbidade e mortalidade no homem e substancial carga Sade Pblica nas reas endmicas (BARBOSA e NUNES, 2012). A transmisso ocorre por meio do contato com as fezes do barbeiro pela perfurao feita na pele, durante a ingesto de sangue. O mecanismo de transmisso da doena de Chagas no somente vetorial, pois o agente pode ser transmitido verticalmente por transfuso de hemoderivados, rgos ou tecidos de doadores contaminados, oralmente pela ingesto de alimentos contaminados com o protozorio e acidentalmente a partir do contato com material contaminado (SALAMANCA-DEJOUR et al., 2012).

A Serra do Mar rea de domnio de espcies de barbeiros. Nela tambm circula na forma enzotica o agente da doena. Neste contexto interpretada como rea de risco da doena de Chagas, embora nas regies de matas o triatomneo usualmente no apresenta tendncias domiciliao (FORATTINI, 1980).

a ExPERinCia COm O VRUs ROCiO

Neste relato o vrus Rocio ganha destaque por ter sido descrito na regio da Mata Atlntica e por ter demonstrado alta virulncia. Em

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1975, nos municpios paulistas de Mongagu, Itanham e Perube, na baixada santista, ocorreu a emergncia de uma doena desconhecida, com quadro clnico semelhante aos das encefalites. Logo de incio os estudiosos levantaram suspeitas de que o agente patognico pudesse ser um arbovrus. A doena se difundiu rapidamente, provocando inmeras internaes, com casos graves e fatais. Muitos dos que se recuperavam ficavam com sequelas irreversveis. No ano seguinte, essa epidemia avanou pelo Vale do Ribeira atingindo praticamente todos os municpios das reas de baixa altitude (VILLELA, 2009).

Por meio de anlises laboratoriais, o vrus foi caracterizado como pertencente ao grupo B (Flavivirus), recebendo o nome de Rocio. Esse nome foi decorrente do local de origem do patgeno, um bairro na periferia da cidade de Iguape. O primeiro isolamento foi a partir de tecido cerebral de um paciente procedente desse local, o qual veio a falecer. Havia sido descoberto um novo agente, com elevada letalidade e alta capacidade de disperso. Essa epidemia perdurou at 1978, quando se extinguiu, restando a partir da casos isolados ou encontros de marcas imunolgicas em animais e humanos (LOPES et al., 1978; MONATH et al., 1978; LOPES et al., 1981; MITCHELL et al., 1981; IVERSSON et al., 1982; VILLELA, 2009).

Segundo relatrio publicado pela SUCEN (1975), o poder pblico na poca fez uma srie de intervenes na tentativa de conter a expanso da doena. Entre essas aes esto includas aplicaes de inseticidas organofosforados nos locais suspeitos de serem criadouros dos mosquitos e no intra e peridomiclio, bem como asperso area sob as reas florestadas e campos abertos. Alm dessas medidas emergenciais foi feito o atendimento e isolamento dos pacientes, e efetuadas obras de engenharia sanitria, visando melhorar a fluidez dos rios e canais de modo a evitar a formao de poas e o assoreamento nas reas mais baixas (VILLELA, 2009).

Os entomlogos da poca ao estudarem os mosquitos da regio suspeitaram da espcie Ae. scapularis. Esse mosquito provou-se competente para veicular o patgeno e apresentou ecologia favorvel transmisso para humanos, sendo considerado o principal vetor. uma espcie que se beneficia do desmatamento, pois os criadouros expostos ao sol estimulam o desenvolvimento larvrio. Este culicdeo abundante nas reas planas e desmatadas, estando geralmente associado aos locais de pastagem ou uso agrcola, tendo sido julgado de comportamento sinantrpico. Alm do Ae. scapularis, suspeitou-se tambm

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da espcie Psorophora ferox (Von Humboldt, 1819), pois na poca ocorreu o isolamento do patgeno a partir de um pool de indivduos dessa espcie. Quanto aos reservatrios silvestres a maior suspeita de envolvimento recaiu sobre as aves, principalmente sobre o tico-tico Zonotrichia capensis (Statius Muller, 1776). Na ocasio, o estudo dessa ave registrou positividade ao agente (LOPES et al., 1978; MITCHELL e FORATTINI, 1984; FORATTINI et al., 1994).

As causas da emergncia do Rocio continuam uma incgnita, porm alguns estudiosos levantaram a hiptese de a epidemia ter surgindo em funo do desequilbrio ecolgico consequente da ocupao humana. Dentre os fatores que geram este desequilbrio podem ser citadas a abertura de estradas, a presso do crescimento urbano sobre a mata, a explorao da lenha ou madeira, a agricultura, entre outros (FIGUEIREDO, 2007). Estes acontecimentos teriam desencadeado a sada do vrus do ambiente natural e sua disperso entre os humanos. Assim, a epidemia do Rocio deixou um alerta para que se respeitem os limites do ambiente natural. patente entre os arbovirologistas que a presso ao ambiente gera a emergncia de tais patgenos (VASCONCELOS et al., 2001). O Rocio est dormente, porm a Serra do Mar e sua mata podem ser vistas como um celeiro desses patgenos. Preservar sua ecologia significa segurana para a sade humana.

Os tpicos a seguir tero enfoque sobre os trs principais grupos de insetos reconhecidos como vetores biolgicos, associados Mata Atlntica. Dentre esses, esto includos os mosquitos da famlia Culicidae, os pequenos dpteros da subfamlia Phlebotominae e os barbeiros da subfamlia Triatominae.

CUliCiDaE

Os mosquitos Diptera: Culicidae, conhecidos como pernilongos, muriocas ou carapans so comuns na rea de domnio da Mata Atlntica. Devido a sua diversidade e abundncia, esse grupo taxonmico est presente em praticamente todos os ectopos dessa formao botnica, das matas primitivas s cidades. A mata protegida pela Serra do Mar , sem dvida, um ambiente favorvel que suporta elevada diversidade desses artrpodes. Em um perfil paisagstico, a partir do oceano desde as restingas costeiras at ao topo das montanhas mais altas, existem ectopos favorveis aos mosquitos. A presena destes na Serra do Mar e sua rea de influncia potencializada

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pela cobertura vegetal, riqueza de bromlias, abundncia de gua, umidade e temperatura adequada.

Nas reas de plancies costeiras, usualmente mais ocupadas pelo homem, os mosquitos so provocadores de incmodo. Em pessoas mais sensveis as suas picadas podem produzir coceiras e mesmo alergias. no confronto do meio urbano com o natural, em lugares onde a mancha urbana se aproxima das matas, que a presena desses hematfagos provoca maior desconforto aos moradores. De modo geral, os mosquitos silvestres ou do meio rural oferecem baixo risco epidemiolgico, pois rara a transmisso de algum patgeno que provoque sintomas clnicos. Dentre as doenas cujos agentes so veiculados por mosquitos, as arboviroses e a malria mesmo que raras em determinados ambientes so as doenas com maiores chances de ocorrncia na Mata Atlntica, sendo o complexo Serra do Mar o ambiente mais vulnervel a essas infeces (FERREIRA et al., 1994; NEVES et al., 2013).

Nas reas afastadas da presena humana, como nas escarpas das serras, os mosquitos esto presentes em variedade e quantidade, desempenhando papel ecolgico importante. Praticamente toda planta Bromeliaceae um potencial criadouro e diante da elevada densidade desses vegetais, os mosquitos se tornam abundantes nesses ambientes (FORATTINI et al., 1986b).

Os mosquitos so sensveis s mudanas ambientais. Sobre essa particularidade, na Mata Atlntica da Serra do Mar, algumas pesquisas demonstram notveis mudanas da fauna como resposta s interferncias humanas, sendo o principal fator o desmatamento. Assim, a fauna das reas abertas antropizadas se torna razoavelmente diferenciada da fauna local primitiva, como evidenciado por Forattini et al. (1986a), em uma sntese sobre vrios estudos. Em decorrncia da sensibilidade s alteraes ambientais, Dorvill (1996) ao fazer uma meta-anlise sobre 20 publicaes devidamente selecionadas sobre mosquitos da Mata Atlntica props usar esse txon como bioindicador.

PRinCiPais TxOns DE mOsqUiTOs Da maTa aTlnTiCa

A seguir so apresentadas vrias espcies segundo os gneros, as quais foram referendadas como existentes nas reas de domnio dessa formao vegetal. Essa lista foi extrada a partir de uma compilao, tendo- -se como base vrios autores que trabalharam na regio e que relataram em

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suas publicaes a fauna culicideana de distintos locais. A regio biodiversa e essa lista naturalmente incompleta. Contudo, presta-se a fornecer uma ideia da riqueza que comporta tal ecossistema.

Ressalta-se que a classificao dos insetos vetores est em constante reformulao. Os testes morfomtricos de peas especficas de rgos do corpo como asas e genitlia de adultos e a observao de caracteres dicotmicos da morfologia interna e externa se constituem nas formas clssicas at ento utilizadas para a classificao das espcies. Sendo que nas ltimas dcadas o sistema de classificao ganhou bases mais concretas com o advento da gentica molecular. Os dados de polimorfismos das sequncias de bases associados s variaes fenotpicas tm sido cada vez mais utilizados para a atualizao dos perfis evolutivos e filogenticos dos insetos vetores (MORAIS et al., 2010).

gnero Anopheles: MOSQUITOS ANTROPOFLICOS EM MATA DE BORDA SC (PATERNO e MARCONDES, 2004): An. (Kerteszia) cruzii Dyar e Knab 1908. BARRAGEM SC/RGS (GOMES et al., 2009): An. (Anopheles) intermedius (Peryassu, 1908), An. (Nyssorhynchus) galvaoi Deane e Deane 1943. An. (Ano.) sp., An. (Nys.) albitarsis Lynch Arribalzaga 1878, An. (Nys.) evansae (Brethes, 1926), An. (Nys.) strodei Root 1026, An. (Nys.) parvus Chagas 1907, MATA REMANESCENTE CANTAREIRA SP (MONTES, 2005): An. (Nys.) albitarsis. MATA LITORNEA SC (REIS et al., 2010): An. (Ker.) bambusicolus Komp 1937, An. (Ker.) cruzii. RURAL CANANIA SP (FORATTINI et al., 1990): An. (Ano.) intermedius, An. (Ano.) sp. ASSOCIADOS S BROMLIAS EM CANANIA SP (MARQUES, 2010): An. (Ker.) cruzii, An. (Ker.) homunculus Komp 1937. MATA REMANESCENTE ANTONINA PR (GUEDES, 2010): An (Ker.) cruzii, An (Ano.) mediopunctatus s.l., An. (Ker.) bellator Dyar e Knab 1906, An (Ano.) intermedius, An. (Ker.) sp., An (Ano.) fluminensis Root 1927, An (Nys.) triannulatus (Neiva e Pinto, 1922), An (Nys.) evansae. ESPRITO SANTO (NATAL et al., 2007): An. (Ano.) minor Lima 1929, An. (Nys.) argyritarsis Robineau-Desvoidy 1827, An. (Nys.) strodei, An. (Nys.) evansae, An. (Nys.) albitarsis l.s., An. (Ano.) costai Fonseca e Ramos 1939, An. (Nys.) triannulatus l.s., An. darlingi Root 1926. RIO JACAR-PEPIRA, DOURADOS SP (FORATTINI, 1987): An. (Nys.) albitarsis l.s., An. darlingi, An (Nys.) evansae, An. (Nys.) galvaoi, An. (Nys.) oswaldoi (Peryassu, 1922), An. (Nys.) rondoni (Neiva e Pinto, 1922), An. (Nys.) strodei, An (Nys.) triannulatus.

gnero Aedes: ANTROPOFLICOS DE BORDA SC: Ae. (Ochlerotatus) scapularis, Ae. (Och.) serratus (Theobald, 1901), BARRAGEM SC/RGS: Ae. (Och.) fluviatilis

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(Lutz, 1904), Ae. (Och.) crinifer (Theobald, 1903), Ae. (Och.) scapularis, Aedes (Och.) serratus, Aedes (Och.) hastatus/oligopistus (Dyar, 1918). MATA PERIFRICA CURITIBA PR (SILVA e LOZOVEI, 1998): Ae. (Och.) scapularis, Ae. (Och.) crinifer, Ae. (Och.) serratus, Ae. (Och.) fluviatilis. CANTAREIRA SP: Ae. (Stegomyia) albopictus (Skuse, 1894), Ae. (Och.) fluviatilis, Ae. (Och.) scapularis, Ae. (Och.) serratus, Ae. (Och.) terrens (Walker, 1856). MATA LITORNEA SC: Ae. (Stg.) albopictus, Ae. (Och.) fulvus (Wiedemann, 1828), Ae. (Och.) Rhyacophilus (Da Costa Lima, 1933), Ae. (Och.) serratus s.l., Ae. (Och.) terrens. RURAL CANANIA SP: Ae. (Och.) scapularis. ANTONINA PR: Ae. (Och.) serratus/nubilus, Ae. (Och.) scapularis, Ae. (Och.) hastatus/ /serratus/oligopistus.

gnero Psorophora: ANTROPOFLICOS DE BORDA SC: Ps. (Janthinosoma) ferox. BARRAGEM SC/RGS: Ps. (Jan.) ferox. MATA PERIFRICA CURITIBA PR: Ps. (Jan.) ferox. MATA LITORNEA SC: Ps. (Jan.) ferox, Ps. (Jan.) lutzii (Theobald, 1901). RURAL CANANIA SP: Ps. (Psorophora) ciliata (Fabricius, 1794), Ps. (Grabhamia) cingulata (Fabricius, 1805), Ps. (Gra.) confinnis (Lynch Arribalzaga, 1891), Ps. (Jan.) ferox. ANTONINA PR: Ps. (Jan.) ferox, Ps. (Jan.) lutzii, Ps. (Jan.) champerico (Dyar e Knab, 1906).

gnero Culex: ANTROPOFLICOS DE BORDA SC: Cx. (Melanoconium) sp., Cx. (Microculex) sp. BARRAGEM SC/RGS: Cx. (Culex) dolosus (Lynch Arribalzaga, 1891), Cx. (Cux.) grupo Coronator, Cx. (Mel.) seco Melanoconion. MATA PERIFRICA CURITIBA PR: Cx. (Cux.) grupo coronator, Cx. (Cux.) quinquefasciatus, Cx. (Cux.) nigripalpus Theobald 1901, Cx. (Mel.) seco melanoconion. CANTAREIRA SP: Cx. (Carrolia) soperi Antunes e Lane 1937, Cx. (Car.) sp., Cx. (Cux.) bidens/lygrus/ /mollis Dyar e Knab 1906, Cx. (Cux.) chidesteri Dyar 1921, Cx. (Cux.) declarator Dyar e Knab 1906, Cx. (Cux.) dolosus, Cx. (Cux.) spp. grupo Coronator, Cx. (Cux.) nigripalpus, Cx. (Mel.) aureonotatus Duret e Barreto 1956, Cx. (Mel.) spp., Cx. (Mel.) vaxus Dyar 1920, Cx. (Microculex) imitator Theobald 1903. MATA LITORNEA SC: Cx. (Mcx.) albipes Lutz 1904, Cx. (Mcx.) davisi Kumm 1933, Cx. (Mcx.) hedys Root 1927, Cx. (Mcx.) imitator, Cx. (Mcx.) neglectus Lutz 1904, Cx. (Mcx.) pleuristriatus Theobald 1903. RURAL CANANIA SP: Cx. (Cux.) mollis, Cx. (Cux.) nigripalpus, Cx. (Cux.) quinquefasciatus, Cx. (Cux.) sp., Cx. (Mel.) inadmirabilis Dyar 1928, Cx. (Mel.) sacchettae Sirivanakarn e Jacob 1981, Cx. (Mel.) sp. BROMLIAS CANANIA SP: Cx. ocellatus Theobald 1903, Srie Consolator: Cx. (Mcx.) reducens Lane e Whitman 1951, Cx. (Mcx.) worontzowi Pessoa e Galvo 1936, Srie Imitator: Cx. (Mcx.) daumasturus Dyar e Knab 1906, Cx. (Mcx.) imitator, Cx. (Mcx.) retrosus Lane e Whitman 1951. Srie inimitabilis: Cx. (Mcx.) aphylactus Root 1927, Cx. (Mcx.)

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fuscatus Lane e Whitman 1951, Cx. (Mcx.) microphyllus Root 1927, Cx. (Mcx.) neglectus. Srie pleuristriatus: Cx. (Mcx.) intermedius Lane e Whitman 1951, Cx. (Mcx.) pleuristriatus. ANTONINA PR: Cx. (Cux.) bidens/mollis/lygrus, Cx. (Mel.) ribeirensis Forattini e Sallum 1985, Cx. (Cux.) ssp., Cx. (Cux.) grupo Coronator, Cx. (Cux.) dolosus, Cx. (Mel.) Seo Melanoconion ssp., Cx. (Phenacomyia) corniger Theobald 1903, Cx. (Cux.) chidesteri, Cx. (Mel.) sacchettae Sirivanakarn e Jacob 1981, Cx. (Cux.) maxi Dyar, 1928, Cx. (Mel.) pedroi Sirivanakarn e Belkin 1980.

gnero Lutzia: BARRAGEM SC/RGS: Lt. sp. ANTONINA PR: Lt. (Lutzia) bigoti (Bellardi, 1862).

gnero Coquillettidia: BARRAGEM SC/RGS: Cq. (Rhynchotaenia) chrysonotum/ /albifera (Prado, 1931). MATA PERIFRICA CURITIBA PR: Cq. (Rhy.) venezuelensis (Theobald, 1912). CANTAREIRA SP: Cq. (Rhy.) venezuelensis. RURAL CANANIA SP: Cq. sp. Cq. Chrysonotum (Peryassu, 1922), Cq. (Rhy.) venezuelensis. ANTONINA PR: Cq. (Rhy.) albicosta (Peryassu, 1908), Cq. (Rhy.) hermanoi, Cq. (Rhy.) chrysonotum, Cq. (Rhy.) venezuelensis.

gnero Mansonia: MATA PERIFRICA CURITIBA PR: Ma. (Mansonia) titillans (Walker, 1848). ANTONINA PR: Ma. (Man.) titillans.

gnero Limatus: ANTROPOFLICOS DE BORDA SC: Li. durhamii Theobald 1901. CANTAREIRA SP: Li. durhami. MATA LITORNEA SC: Li. durhami, Li. Flavisetosus De oliveira Castro 1935. ANTONINA PR: Li. Flavisetosus.

gnero Runchomyia: ANTROPOFLICOS DE BORDA SC: Ru. (Runchomyia) reversa Lane e Cerqueira 1942. BARRAGEM SC/RGS: Ru. (Run.) reversa. MATA PERIFRICA CURITIBA PR: Ru. (Run.) cerqueirai Stone. MATA LITORNEA SC: Ru. (Run.) cerqueirai, Ru. (Run.) frontosa (Theobald, 1903), Ru. (Run.) reversa, Ru. (Run.) theobaldi (Lane e Cerqueira, 1942). BROMLIAS CANANIA SP: Ru. (Run.) theobaldi. ANTONINA PR: Ru. (Run.) theobaldi, Ru. (Run.) reversa.

gnero Trichoprosopon: ANTROPOFLICOS DE BORDA SC: Tr. digitatum (Rondani, 1848). CANTAREIRA SP: Tr. pallidiventer (Lutz, 1905). MATA LITORNEA SC: Tr. digitatum, Tr. pallidiventer. ANTONINA PR: Tr. pallidiventer.

gnero Wyeomyia: FRAGMENTO DE MATA ATLNTICA PE (ARAGO et al., 2011): Wy. aporonoma Dyar e Knab 1906. ANTROPOFLICOS DE BORDA SC: Wy. (Phoniomyia) incaudata Root 1928, Wy. (Pho.) theobaldi Lane e Cerqueira 1942, Wy. (Pho.) galvaoi Correa e Ramalho 1956, Wy. (Pho.) davisi Lane e Cerqueira

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1942, Wy. (Pho.) pallidoventer Theobald 1907, Wy. (Pho.) mystes/finlayi Lane e Cerqueira 1942, Wy. (Pho.) palmata Lane e Cerqueira 1942, Wy. bourrouli Lutz 1905, Wyeomyia (Dendromyia) sp., Wy. (Pho.) fuscipes Edwards 1922, Wy. (Pho.) pilicauda Root 1928, Wy. (Pho.) splendida Bonne-Wepster e Bonne 1919. CANTAREIRA SP: Wyeomyia occulta Bonne-Wepster e Bonne 1919, Wy. (Den.) confusa Lutz 1905, Wy. (Den.) leucostigma Lutz 1904. MATA LITORNEA SC: Wy. (Pho.) pallidoventer, Wy. (Pho.) theobaldi, Wy. (Pho.) incaudata, Wy. (Pho.) galvaoi, Wy. (Pho.) pilicauda, Wy. (Pho.) galvaoi, Wy. (Cruzmyia) dyari Lane e Cerqueira 1942. BROMLIAS CANANIA SP: Wy. (Pho.) davisi, Wy. (Pho.) galvaoi, Wy. (Pho.) incaudata, Wy. (Pho.) palmata, Wy. (Pho.) pilicauda, Wy. (Pho.) theobaldi. ANTONINA PR: Wy. (Den.) confusa, Wy. (Pho.) galvaoi, Wy. (Pho.) incaudata, Wy. (Pho.) quadrilongirostris (Theobald, 1907), Wy. (Den.) leucostigma, Wy. (Den.) mystes/finlayi, Wy. (Pho.) pilicauda, Wy. negrensis Gordon e Evans 1922.

gnero Uranotaenia: RURAL CANANIA SP: Ur. (Uranotaenia) geomtrica Theobald 1901. ANTONINA PR: Ur. (Ura.) geometrica, Ur. (Ura.) pallidoventer Theobald 1903, Ur. (Ura.) lowii Theobald 1901.

gnero Sabethes: FRAGMENTO DE MATA ATLNTICA PE: Sa. (Sabethes) quasicyaneus Peryassu 1922, Sa. (Sab.) purpureus (Theobald, 1907). BARRAGEM SC/RGS: Sa. (Sab.) albiprivus Theobald 1903, Sa. (Sabethinus) melanonymphe Dyar 1924 (prximo), Sa. (Sab.) purpureus. MATA PERIFRICA CURITIBA PR: Sabethes (Sab.) aff. purpureus, Sa. (Sbn.) aurescens (Lutz, 1905). CANTAREIRA SP: Sa. (Peytonulus) identicus Dyar e Knab 1907. MATA LITORNEA SC: Sa. (Sab.) albiprivus, Sa. (Pey.) aurescens, Sa. (Sbn.) melanonymphe Dyar 1924 , Sa. (Sab.) purpureus, Sa. (Sbn.) xhphydes Harbach 1994.

gnero Haemagogus: FRAGMENTO DE MATA ATLNTICA PE: Hg. (Haemagogus) janthinomys Dyar 1921. MATA PERIFRICA CURITIBA PR: Hg. (Conopostegus) leucocelaenus Dyar e Shannon 1924. CANTAREIRA SP: Hg. (Con.) leucocelaenus.

gnero Phoniomyia: MATA PERIFRICA CURITIBA PR: Ph. (Phoniomyia) pallidoventer (Theobald, 1907).

PhlEBOTOminaE

Na dependncia da rea geogrfica em que se estabelecem, os flebotomneos representam um dos principais grupos de insetos que sofrem

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os efeitos da atividade antrpica em ambientes onde configuram processos de fragmentao florestal. Tais formas de ocupao resultam na ruptura da continuidade das unidades de paisagens, provocando mudanas na composio e na diversificao das comunidades de organismos que nelas habitam (BIERREGAARD et al., 1992).

Esses pequenos dpteros, igualmente aos mosquitos culicdeos, esto disseminados pelas matas que cobrem a Serra do Mar e reas contguas. Em todo o territrio brasileiro existem flebotomneos, desde que seus hbitats sejam mantidos. Ocorrem, portanto, desde as matas contnuas e de grande porte at aos resduos de florestas, s vezes de pequena extenso. Ressalta-se que h espcie que se adapta at mesmo s reas urbanas, como por exemplo, o flebotomneo Lutzomyia longipalpis (Lutz e Neiva, 1912), vetor do patgeno Leishmania chagasi Nicolle 1908, agente da forma visceral da leishmaniose (MISSAWA; LIMA, 2006). Esses dpteros so vistos com frequncia nos restritos fragmentos de matas em meio s monoculturas e aos campos de pecuria. Na Mata Atlntica, principalmente em sua parte associada ao complexo da Serra do Mar, onde o ambiente permanece preservado, os flebotomneos so abundantes.

A intensa presena de flebotomneos na Mata Atlntica pode ser explicada pelo fato de esse ecossistema comportar macro e micro climas favorveis a esse txon. Esses dpteros possuem ciclo terrestre e areo, portanto diferem dos culicdeos que precisam de meio aqutico durante o desenvolvimento. Em sua fase imatura vivem no solo ou outros locais onde se acumula o hmus. Na Mata Atlntica o hmus abundante fornecendo excelente meio para suporte desse txon. Nesse ambiente as larvas encontram alimentos ricos em nutrientes. Passam por trs mudas chegando ao quarto estdio e, a seguir, se transformam em pupas. Os adultos, machos e fmeas so areos. Seus voos so curtos e aos saltos, pousando constantemente no substrato. Somente a fmea hematfaga. No ambiente silvestre exercem a hematofagia principalmente sobre mamferos e aves. Sendo a mata rica em diversidade desses animais, os flebotomneos passam a ter alimento sanguneo em abundncia para a complementao de seus ciclos de vida (YOUNG; DUNCAN, 1994).

Os insetos pertencentes a esse grupo taxonmico tendem a ser sensveis s mudanas ambientais e possuem exigncias ecolgicas pouco conhecidas, o que torna difcil a manuteno de colnias em condio de laboratrio. Porm, como todos os dpteros, possui mecanismos especializados

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que possibilitam a sua adaptao em ambientes modificados pela ao humana, principalmente em regies florestais de borda com ocupao antrpica recente. Os flebotomneos vivem em locais midos, com pouca luminosidade e movimentao do ar, devido principalmente sua estrutura cuticular frgil e ao pequeno tamanho; sendo encontrados em ambientes protegidos como fendas de rochas, buracos no solo, grutas e ocos de rvores. Sua atividade de alimentao sangunea crepuscular, porm em ambientes de mata fechada pode ser ativo durante o dia.

Com um voo saltitante, as formas adultas atingem um raio de disperso de poucas centenas de metros. Sua picada costuma ser incmoda, e pode transmitir vrias espcies de Leishmania tanto em hospedeiros de florestas quanto de ambientes modificados. Esses insetos, associados s leishmanioses tegumentar e visceral ganharam importncia na esfera da sade pblica, principalmente por serem os transmissores dos agentes dessas enfermidades.

A leishmaniose uma zoonose parasitria de animais silvestres que atinge o homem quando este entra em contato com reas de desmatamento e extrativismo ou no peridomicilio em comunidades onde h focos zoonticos da doena. No Brasil circulam dois tipos: a leishmaniose tegumentar americana (LTA), lcera de baur ou leishmaniose cutnea, cujos agentes etiolgicos mais comuns so L. braziliensis Vianna 1911, L. amazonensis Lainson e Shaw, 1972 e L. guyanensis Floch 1954. E a leishmaniose visceral (LV) ou calazar, que na presena do agente L. chagasi desencadeia um quadro inflamatrio grave em humanos, podendo levar a morte. No enfoque desse livro o interesse recai sobre a forma tegumentar, pois essa incide nas reas rurais ou silvestres, sendo a regio da Serra do Mar reconhecida como rea de risco. A forma visceral tende a se adaptar s cidades, com vetor sinantrpico, e possui como hospedeiro principal o co domstico.

As variedades de leishmanias so veiculadas por diferentes vetores flebotomneos. No ciclo da leishmaniose tegumentar no estado de So Paulo as espcies mais citadas so Nyssomyia intermedia (Lutz e Neiva, 1912), Ny. whitmani (Antunes e Coutinho, 1939), Migonemyia migonei (Franca, 1920), Pintomyia fischeri (Pinto, 1926) e Pi. pessoai (Coutinho e Barretto, 1940); e no ciclo da leishmaniose visceral a espcie Lu. longipalpis (Shimabukuro e Galati, 2011).

A leishmaniose tegumentar acomete o homem, principalmente o rural, quando por motivos de interesse como explorao de lenha, de produtos nativos ou caa este penetra nas reas florestadas. Porm qualquer pessoa

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que frequente os ambientes ombrfilos est sujeito infeco. A leishmaniose considerada uma zoonose cujas ocorrncias so usualmente espordicas, contudo a doena reconhecida como endmica em praticamente todo o Brasil. Os hospedeiros naturais do patgeno, protozorios do gnero Leishmania, so animais silvestres, principalmente roedores, marsupiais e candeos, dentre outros. Os animais portadores do patgeno agem como fonte de infeco, ao liberarem os parasitos durante a picada das fmeas. Essas, ao adquirirem a infeo, podem lev-la aos humanos, quando esses penetram seus habitats e so picados. As feridas, normalmente indolores, aumentam de tamanho at que o paciente procure por recursos mdicos. A doena usualmente deixa sequelas estigmatizantes.

As reas da Serra do Mar que sofrem com a agresso humana, principalmente o desmatamento, propiciam a transmisso de leishmanias, pois nessas circunstncias ocorre o contanto direto com as matas. As residncias no meio rural, construdas nas proximidades de reas de cobertura florestal, podem ser frequentadas por flebotomneos, facilitando o contato homem- -vetor e aumentando o risco de infeco. Na faixa litornea, a urbanizao acentuada, cada vez mais tem colocado moradores em ambientes contguos floresta. Isso ocorre nas plancies costeiras e nas encostas ocupadas, possibilitando a configurao de um quadro em que at mesmo o morador urbano possa correr risco da doena. Nesse contexto, a leishmaniose pode ser interpretada como resultante de um conflito ecolgico.

PRinCiPais TxOns DE FlEBOTOmnEOs Da maTa aTlnTiCa

Em decorrncia da diversidade de micro-hbitats que comporta a regio da mata Atlntica, suas variaes climticas e topogrficas, a fauna de flebotomneos de forma semelhante a dos mosquitos tambm relativamente biodiversa. Contudo, a classificao deste grupo um tanto controvrsia. Os primeiros registros mais importantes para o Brasil foram divulgados nos trabalhos de Barretto (1947) e Martins et al. (1978), porm com dados baseados em sistemas de classificao que no refletem as relaes evolutivas dos flebotomneos. Em vista disso, as espcies listadas aqui seguem a classificao filogentica baseada em caracteres morfolgicos proposta por Galati (2003).

Este txon, alm de ser muito diversificado, carece de estudos investigativos tanto morfolgicos quanto moleculares. Desse modo, o sistema

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de classificao filogentica da subfamlia Phlebotominae est em constante reestruturao e na dependncia de novas pesquisas cientficas sobre a evoluo dos seus componentes.

gnero Brumptomyia: RURAL TIMTEO MG (ANDRADE FILHO et al., 1997): Br.cunhai (Mangabeira, 1942), Br. nitzulescui (Costa Lima, 1932). PARAN (SILVA et al., 2008): Br. brumpti (Larrousse, 1920), Br. cunhai, Br. ortizi Martins, Silva e Falco, 1971, Brumptomyia sp. VALE DO RIBEIRA SP (GOMES e GALATI, 1989): Br. bragai Mangabeira e Sherlock 1961, Br. nitzulescui, Br. troglodytes (Lutz, 1922). ESTADO DE SO PAULO (SHIMABUKURO E GALATI, 2011): Br. avellari (Costa Lima, 1932), Br. bragai, Br. brumpti, Br. cardosoi (Barretto e Coutinho, 1941), Br. carvalheiroi Shimabukuro, Marass e Galati 2007, Br. cunhai, Br. guimaraesi (Coutinho e Barretto, 1941), Br. mangabeirai (Barretto e Coutinho, 1941), Br. nitzulescui, Br. ortizi, Br. pintoi (Costa Lima, 1932), Br. troglodytes.

gnero Evandromyia: RURAL TIMTEO MG: Ev. termitophila Martins, Falco e Silva 1964, Ev. sallesi (Galvo e Coutinho, 1939), Ev. lenti (Mangabeira, 1938). PARAN: Ev. correalimai (Martins, Coutinho e Luz, 1970), Ev. Cortelezzii (Brethes, 1923). ESTADO DE SO PAULO: Ev. carmelinoi (Ryan, Fraiha, Lainson e Shaw, 1986), Ev. lenti, Ev. termitophila, Ev. bourrouli (Barretto e Coutinho, 1941), Ev. correalimai, Ev. rupicola (Martins, Godoy e Silva, 1962). RECIFE (SILVA e VASCONCELOS, 2005): Ev. evandroi (Costa Lima e Antunes, 1936), Ev. walkeri (Newstead, 1914). VALE DO RIBEIRA SP: Ev. edwardsi (Mangabeira, 1941), Ev. petropolitana (Martins e Silva, 1968).

gnero Expapillata: PARAN: Ex. firmatoi (Barreto, Martins e Pellegrino, 1956). ESTADO DE SO PAULO: Ex. firmatoi, Ex. Pressatia Mangabeira 1942, Ex. choti (Floch e Abonnenc, 1941), Ex. trispinosa (Mangabeira, 1942).

gnero Psathyromyia: RURAL TIMTEO MG: Ps. lanei (Barreto e Coutinho, 1941), Ps. aragaoi (Costa Lima, 1932), Ps. lutziana (Costa Lima, 1932). PARAN: Ps. lanei, Ps. pascalei (Coutinho e Barretto, 1940), Ps. shannoni (Dyar, 1929). RECIFE: Ps. aragaoi. VALE DO RIBEIRA: Ps. lanei, Ps.pascalei (Montinho e Pascalei, 1940), Ps. shannoni.

gnero Sciopemyia: RURAL TIMTEO MG: Sc. sordellii (Shannon e Del Ponte, 1927). ESTADO SO PAULO: Sc. sordellii. RECIFE: Sc. fluviatilis (Floch e Abonnenc, 1944), Sc. Sordellii. VALE DO RIBEIRA SP: Sc. microps (Mangabeira, 1942).

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gnero Lutzomyia: PARAN: Lu. gaminarai Cordero, Vogelsang e Cossio 1928. ESTADO DE SO PAULO: Lu. amarali, Lu. castroi (Barretto e Coutinho, 1941), Lu. almerioi Galati e Nunes 1999, Lu. dispar Martins e Silva 1963, Lu. longipalpis. VALE DO RIBEIRA SP: Lu. amarali (Barreto e Coutinho, 1940).

gnero Bichromomyia: VALE DO RIBEIRA: Bi. flaviscutellata (Mangabeira, 1942).

gnero Martinsmyia: PARAN: Ma. alphabetica (Fonseca, 1936). ESTADO DE SO PAULO: Ma. alphabetica,

gnero Micropygomyia: RURAL TIMTEO MG: Mi. borgmeieri Martins, Falco e Silva 1972, Mi. quinquefer (Dyar, 1929). PARAN: Mi. ferreirana (Barretto, Martins e Pellegrino, 1956), Mi. longipennis (Barretto, 1946), Mi. quinquefer. ESTADO DE SO PAULO: Mi. ferreirana, Mi. longipennis, Mi. petari Galati,Marass e Andrade 2003, Mi. quinquefer, Mi. schreiberi (Martins, Falco e Silva, 1975). VALE DO RIBEIRA SP: Mi. ferreirana.

gnero Migonemyia: RURAL TIMTEO MG: Mg. migonei (Frana, 1920). PARAN: Mg. migonei, ESTADO DE SO PAULO: Mg. Migonei, Mg. rabelloi (Galati e Gomes, 1992), Mg. vaniae Galati, Fonseca e Marass 2007, Mg. bursiformis (Floch e Abonnenc, 1944). VALE DO RIBEIRA SP: Mg. migonei.

gnero Pintomyia: RURAL TIMTEO MG: Pi. misionensis (Castro, 1959), Pi. pessoai, Pi. fischeri. PARAN: Pi. bianchigalatiae (Andrade-Filho, Aguiar, Dias e Falco, 1999), Pi. christenseni (Young e Duncan, 1994), Pi.fischeri, Pi. monticola (Costa e Lima, 1932), Pi. pessoai (Coutinho e Barretto, 1940). ESTADO DE SO PAULO: Pi. bianchigalatiae, Pi. christenseni, Pi. fischeri, Pi. pessoai, Pi. monticola. VALE DO RIBEIRA SP: Pi. fischeri, Pi. monticola.

gnero Nyssomyia: RURAL TIMTEO MG: Ny. whitmani, Ny. intermedia. PARAN: Ny. neivai (Pinto, 1926), Ny. whitmani. ESTADO DE SO PAULO: Ny. intermedia, Ny. neivai singularis (Costa Lima, 1932), Ny. whitmani. RECIFE: Ny. umbratilis Ward e Fraiha 1977. VALE DO RIBEIRO SP: Ny. intermedia.

TRiaTOminaE

Os insetos da subfamlia Triatominae, vulgarmente chamados de percevejos, pertencem famlia Reduviidae, classificada na ordem Hemiptera. Os hempteros, de modo geral, tm dois pares de asas, sendo

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que o par anterior apresenta a poro basal enrijecida ou coricea e a parte distal membranosa. O par de asas posterior totalmente membranoso, como na maioria dos insetos. Dessa forma, o nome da ordem est relacionado configurao estrutural de suas asas. A subfamlia Triatominae de interesse para este tpico agrega espcies hematfagas, cujos indivduos so conhecidos popularmente como barbeiros.

Os barbeiros possuem suas peas bucais adaptadas perfurao e suco, sendo sugadores de sangue principalmente de aves e mamferos, inclusive o homem. Os insetos triatomneos tm aparelho sugador disposto na forma reta e curta, caractere que ajuda a distinguir esse txon entre os demais hempteros. No lbio esto alojados os estiletes bucais, as mandbulas de pice serrilhado e as maxilas que funcionam como estiletes. Este conjunto de lbio-estiletes bucais denominado rostro ou probscide.

Os barbeiros so hemimetbolos; isto , realizam metamorfose incompleta. Neste grupo as fases de desenvolvimento so: ovo, ninfa com cinco estgios e adulto. Seu hbitat exclusivamente terrestre. As ninfas assemelham-se aos adultos, porm suas caractersticas so pouco desenvolvidas, sem formao das asas e com rgos genitais imaturos.

Os triatomneos apresentam interesse epidemiolgico porque so hematfagos e transmissores do Trypanosoma cruzi (Chagas, 1909), o agente etiolgico da doena de Chagas. O T. cruzi um protozorio caracterizado pela presena de flagelo. Esse agente assume a configurao de tripomastigota forma infectante no sangue e como amastigota nos tecidos dos hospedeiros. No ciclo epidemiolgico do parasito a transmisso pode ocorrer via vetor pela passagem do agente por meio das excretas do barbeiro durante ou aps o repasto sanguneo. A transmisso via vetor a que mantm a endemia chagsica no meio rural, atualmente bastante reduzida. Alm dessa forma, h outras maneiras alternativas ou espordicas de o parasito atingir um novo hospedeiro humano como a via transfusional ou infeco de pacientes por hemoderivados, rgos ou tecidos de doadores contaminados. Outra forma de certa importncia se d pela passagem vertical, ou seja, pela contaminao do T. cruzi de me para filho durante a gestao ou parto.

No Brasil, os principais gneros de triatomneos implicados nos ciclos de transmisso do patgeno da doena de Chagas so Triatoma, Panstrongylus e Rhodnius (Costa e Lorenzo, 2009); sendo que para a identificao das espcies de triatomneos so utilizadas dicotomias de

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caracteres especficos descritos em chaves taxonmicas, como em Lent e Wygodzinsky (1979). Entre esses caracteres, destaca-se a localizao dos tubrculos antenferos na regio da cabea, a qual auxilia mais diretamente na diferenciao desses trs gneros. Desta forma, tomando como referencial a distncia entre a margem anterior do olho composto e o pice do clpeo, os insetos que apresentam a insero dos tubrculos antes da metade desta distncia, prximo aos olhos compostos, tendo a regio da cabea curta - pertencem ao gnero Panstrongylus. Aq