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ERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ANTROPOLOGIA SOCIAL DISCIPLINA de Tópicos Especiais em Antropologia II: Etnologia Indígena e das Populações Tradicionais (Optativa, 2 créditos, 30 horas) PROFESSOR: Aloir Pacini PROGRAMA 1. Conteúdo Programático EMENTA: Esta disciplina estuda o fenômeno da aglutinação étnica das populações tradicionais. Leva em consideração que a etnologia indígena possui a antecedência histórica que possibilitou a conceituação necessária para estabelecer o campo da Antropologia no Brasil. A questão étnico-racial na formação da identidade nacional possui uma vinculação prioritária com a presença indígena e negra na constituição da cultura brasileira desde o período colonial. Algumas razões embasadas nos preconceitos contra as “minorias” étnicas podem ser identificadas como origem do escravismo negro e indígena no Brasil. Além dos preconceitos - ou mesmo através deles - podemos encontrar a agência destas etnias e as lógicas internas que identificam estas etnias como parcialidades etnicamente diferenciadas dentro do Estado. Atualmente a produção intelectual autóctone destas etnias traz mais claramente estas identificações étnicas de grande valor para a Academia. Objetivo: Existe uma lógica própria dos grupos étnicos que se identificam e se aglutinam de forma tradicional reivindicando até vínculos de sangue ou raciais que devem ser estudados pela Antropologia. Os traços culturais ou sinais diacríticos (Barth, 1969) são residuais, mas irredutíveis (Cunha, 1986). A etnografia que é o cerne da disciplina antropológica é adequada para abordar estes grupos etnicamente diferenciados dentro da sociedade mais ampla como o Brasil, por isso estes são abordados com pesquisas etnográficas. 2. Metodologia de Ensino e Avaliação A disciplina será ministrada às quartas-feiras, das 14 às 18 horas, no período de 2017, o que equivaleria a 30 horas. Avaliação: 1) apresentação dos textos propostos em cada dia de aula, conforme distribuição dos estudantes no primeiro dia de aula 1 ; 2) Descrever a lógica interna de uma etnia ou de um ritual como “fato social total” com cerca de 10 páginas relacionado ao seu campo de estudos como forma de encontrar os fios que ligam uma etnia como um tecido social vivo e cheio de sentidos. A nota deste texto será somada com a outra nota calculada a partir das apresentações dos textos em aula (participação/frequência em aula); e dividida por 2. OBS 1: Sob nenhum pretexto estudantes com frequência inferior a 75% serão aprovados. OBS 2: A utilização dos instrumentos conceituais antropológicos para a compreensão da diversidade étnico-cultural é importante no texto: identificar questões “raciais” e étnicas na perspectiva do nativo e do pesquisador mostra domínio no texto produzido. Qualquer constatação de plágio resulta na reprovação imediata do discente. 1 Nota de leitura: além de trazer algo do texto que permite aos colegas compreendê-lo, é importante pensar o que estes textos despertam em mim: repercussões, reflexões sobre os textos lidos e questões para serem discutidas em aula.

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Page 1: ERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO PROGRAMA DE … · Antropologia do Brasil: mito, historia, etnicidade. Edusp, São Paulo, 1986. MALDI, Denise. A etnia contra a nação. Série Antropologia

ERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ANTROPOLOGIA SOCIAL

DISCIPLINA de Tópicos Especiais em Antropologia II: Etnologia Indígena e das Populações

Tradicionais (Optativa, 2 créditos, 30 horas)

PROFESSOR: Aloir Pacini

PROGRAMA 1. Conteúdo Programático

EMENTA:

Esta disciplina estuda o fenômeno da aglutinação étnica das populações tradicionais. Leva em consideração que a etnologia indígena possui a antecedência histórica que possibilitou a conceituação necessária para estabelecer o campo da Antropologia no Brasil. A questão étnico-racial na formação da identidade nacional possui uma vinculação prioritária com a presença indígena e negra na constituição da cultura brasileira desde o período colonial. Algumas razões embasadas nos preconceitos contra as “minorias” étnicas podem ser identificadas como origem do escravismo negro e indígena no Brasil. Além dos preconceitos - ou mesmo através deles - podemos encontrar a agência destas etnias e as lógicas internas que identificam estas etnias como parcialidades etnicamente diferenciadas dentro do Estado. Atualmente a produção intelectual autóctone destas etnias traz mais claramente estas identificações étnicas de grande valor para a Academia. Objetivo: Existe uma lógica própria dos grupos étnicos que se identificam e se aglutinam de forma tradicional reivindicando até vínculos de sangue ou raciais que devem ser estudados pela Antropologia. Os traços culturais ou sinais diacríticos (Barth, 1969) são residuais, mas irredutíveis (Cunha, 1986). A etnografia que é o cerne da disciplina antropológica é adequada para abordar estes grupos etnicamente diferenciados dentro da sociedade mais ampla como o Brasil, por isso estes são abordados com pesquisas etnográficas. 2. Metodologia de Ensino e Avaliação

A disciplina será ministrada às quartas-feiras, das 14 às 18 horas, no período de 2017, o que

equivaleria a 30 horas.

Avaliação:

1) apresentação dos textos propostos em cada dia de aula, conforme distribuição dos

estudantes no primeiro dia de aula1;

2) Descrever a lógica interna de uma etnia ou de um ritual como “fato social total” com

cerca de 10 páginas relacionado ao seu campo de estudos como forma de encontrar os fios

que ligam uma etnia como um tecido social vivo e cheio de sentidos. A nota deste texto será

somada com a outra nota calculada a partir das apresentações dos textos em aula

(participação/frequência em aula); e dividida por 2.

OBS 1: Sob nenhum pretexto estudantes com frequência inferior a 75% serão aprovados. OBS 2: A utilização dos instrumentos conceituais antropológicos para a compreensão da diversidade étnico-cultural é importante no texto: identificar questões “raciais” e étnicas na perspectiva do nativo e do pesquisador mostra domínio no texto produzido. Qualquer constatação de plágio resulta na reprovação imediata do discente.

1 Nota de leitura: além de trazer algo do texto que permite aos colegas compreendê-lo, é importante pensar o que estes textos despertam em mim: repercussões, reflexões sobre os textos lidos e questões para serem discutidas em aula.

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Aula 01 – 10/05/2017 (Introduções): Considerações iniciais sobre esta disciplina... Considerações iniciais sobre esta disciplina...(Apresentação do Plano da Disciplina, do professor e dos estudantes...) HOBSBAWM, E. J. (org.) A invenção das tradições. RJ: Paz e Terra, 1997. MATTA, Roberto da. O Ofício de Etnólogo, ou como ter "Anthropological Blues"2 QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. A noção de arcaísmo em etnologia e a organização social dos Xerénte. in SCHADEN, Egon. Leituras de Etnologia Brasileira. Companhia Editora Nacional. São Paulo. 1976: 127 –138. BALDUS, Herbert3. Ensaios de Etnologia Brasileira. 2ª Edição. 1979. Brasiliana v. 101. CUNHA, Manuela Carneiro da. Antropologia do Brasil: mito, historia, etnicidade. Edusp, São Paulo, 1986. MALDI, Denise. A etnia contra a nação. Série Antropologia 3. Edufmt. 1995. ROCHA, Everardo. O que é etnocentrismo. Coleção Primeiros Passos. Ed. Brasiliense, 1984. (O que é racismo...) Aula 02 – 17/05/2017: O conceito etnia traz o ranço da raça... Brasil, uma ou várias culturas diferentes etnografadas e em mudança... BARTH, Fredrik. O guru, o iniciador e outras variações antropológicas. Contra Capa. 2000. Andressa POUTIGNAT, Philippe et STREIFF-FENART, Jocelyne. Teorias da Etnicidade. Seguido de Grupos Étnicos e suas Fronteiras (de BARTH, Fredrik). Unesp. 1998.

Aula 03 – 24/05/2017: Aprender a perceber de forma antropológica as diferenças étnicas... terras indígenas e de quilombos (índios, negros, comunidades rurais...) O´DWYER, Elliane Cantarino (org.). Quilombos: identidade étnica e territorialidade. ABA, 2002. PEREIRA, Arthur Ramos de Araújo (1903-1949)4. O negro brasileiro: etnografia religiosa e psicanálise. Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental. vol. 10 n. 4 São Paulo. Dezembro de2007 (Print version ISSN 1415-4714). RODRIGUES, Nina. Os africanos no Brasil. Brasiliana, vol. 9. 1977; RAMOS, Artur. As culturas negras no novo mundo. Brasiliana, vol. 249, 4[a] edição. 1979. Aula 04 – 31/05/2017: Ensaios etnológicos na tradição antropológica e estudos afros... O caso dos Quilombos (Cangume, alto do Ribeira; Jejum, Poconé...) MUNANGA, Kabengele. Negritude: usos e sentidos. São Paulo: Ática, 1986. Maurício PEIRANO, Mariza G. S. Etnografia não é método. Horizontes Antropológicos. Print version ISSN 0104-7183. Horiz. antropol. vol.20 no.42 Porto Alegre July/Dec. 2014. http://dx.doi.org/10.1590/s0104-71832014000200015 PEIRANO, Mariza G. S. A favor da etnografia. Série Antropologia, 130. UNB. Brasília. 1992. GEERTZ, Clifford. El antropólogo como autor. Paidos Studio. 1989. CASTRO, Sueli Pereira. A festa santa na terra da parentalha: festeiros, herdeiros e parentes. Sesmaria na Baixada Cuiabana, Mato Grosso. São Paulo: FFLCH/USP, 2001. CASTRO, Sueli Pereira. et. alli. A colonização oficial em Mato Grosso: “a nata e a borra da sociedade”. Cuiabá: EdUFMT, 2002. 2a edição. 290p. Paulo

2 Trabalho apresentado na Universidade de Brasília, junto ao Departamento de Ciências Sociais, no

Simpósio sobre Trabalho de Campo, ali realizado. Expresso meus agradecimentos aos prof. Roberto

Cardoso de Oliveira e Kenneth Taylor que, na época, eram respectivamente Chefe do Departamento de

Ciências Sociais e Coordenador do Curso de Mestrado de Antropologia Social, pelo convite.

Posteriormente, o texto foi publicado no Museu Nacional como Comunicação n.° 1, Setembro de 1974,

em edição mimeografada. 3 Muitos dados já presentes nas publicações anteriores: Bibliografia crítica da Etnologia Brasileira. 2

volumes (1954 e 1968). 4 Psiquiatra e educador brasileiro; autor de livros importantes que abordam questões psicopatológicas sob o prisma da cultura e da teoria psicanalítica. Principais contribuições científicas são O negro brasileiro: etnografia religiosa e psicanálise (1934), O folclore negro no Brasil: demopsicologia e psicanálise (1935) e sua tese de Medicina, intitulada Primitivo e loucura (1926).

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CASTRO, C. A. A luta e a labuta do homem pantaneiro. Um diagnóstico das formas de trabalho, de uso da terra e a dinâmica econômica nos municípios do Pantanal Norte do Brasil, no período pós-1970. Relatório final de pesquisa. Faculdade de Economia/UFMT, 2008, (mimeo). Aula 05 – 14/06/2017: Territórios e identidades nas fronteiras. Diferentes formas de posse da terra. LEITE, José Carlos et SILVA, Verone Cristina da. Quilombolas do Vale do Guaporé. Modos de conhecimento e territorialidade. EdUFMT. 2014. Gina PACINI, Aloir. Identidade étnica e território chiquitano na fronteira (Brasil-Bolívia). Tese de doutorado em Antropologia Social pela PPGAS da UFRGS: 2012 (PDF). OLIVEIRA, J. P. de. Pardos, mestiços ou caboclos: os índios nos censos nacionais no Brasil (1872-1980). In Horizontes Antropológicos. Sociedades indígenas, Porto Alegre, ano 3, n. 6, out. de 1997: 60-83.

BARROZO, João Carlos. Mato Grosso. Do sonho à utopia da terra. EdUFMT. 2008. Aula 06 – 21/06/2017: – O sinal diacrítico das línguas. Tradução, línguas indígenas... transcrição fonética, linguagem oral e escrita... Etnografia das línguas faladas e escritas... NIMUENDAJU, C. Mapa Etnohistórico. IBGE. Diversidade de etnias e línguas indígenas... CLIFFORD, James. “Sobre o surrealismo etnográfico.” In: A experiência etnográfica:

antropologia e literatura no século XX. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2002: 132-178.

SANTANA, Áurea Cavalcante. Línguas cruzadas, histórias que se mesclam: ações de documentação, valorização e fortalecimento da língua chiquitano no Brasil. Tese apresentada ao Programa de Pós Graduação em Letras e Linguística da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Goiás como requisito parcial para a obtenção do título de Doutora em Letras e Linguística. 2012. (PDF) OLIVEIRA, J. P. de. A viagem de volta: etnicidade, política e reelaboração cultural no Nordeste indígena. 2ª Ed. Contra Capa. 2004. Vinícius OLIVEIRA, J. P. de. Uma etnologia dos “índios misturados”? Situação colonial, territorialização e fluxos culturais. Mana. Vol. 4/1. Abril de 1998:47-77. (in A viagem de volta: etnicidade, política e reelaboração cultural no Nordeste indígena. 2ª Ed. Contra Capa. 2004).

Aula 07 –28/06/2017: Diferenças religiosas: música, ritual... Cosmologia. EPSTEIN, Isaac. O signo. 2º edição. Ed. Ática, São Paulo: 2004. SILVA, Verone Cristina da. Carnaval: alegria dos imortais. Ritual, pessoa e cosmologia entre os Chiquitano no Brasil. USP. 2015. (PDF) Miguel COSTA, Anna Maria Ribeiro F. M. da. Senhores da Memória. Uma história do Nambiquara do

cerrado. Unicen Publicações. 2002. Patrícia

Aula 08 – 05/07/2017: Eliminar as diferenças. Lições das viagens e escrituras de Lévi-Strauss... Colonização, tutela... LIMA, Antonio Carlos de Souza. Um grande cerco de paz. Poder tutelar, indianidade e formação do Estado no Brasil. Vozes. 1995. Parte III: REGIME TUTELAR [1910-1988] PACINI, Aloir. Um artífice da Paz entre seringueiros e índios. Ed. Unisinos, 2015. LÉVI-STRAUSS, Claude. Olhar, Escutar, Ler. Companhia das Letras. 2001.

LÉVI-STRAUSS, Claude. Tristes Trópicos. Companhia das Letras. 2009: 49-58...

AZEVEDO, Wagner Stephan de. Festa de Santo no Aguaçu: Brincadeira de Gente Grande.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação de Antropologia Social (PPGAS) da

Universidade Federal de Mato Grosso/UFMT. Tulio