erosÃo - travessa da ermidaez.travessadaermida.com/files/102/3697.pdf · de contemporânea do...

13
EROSÃO Rui Horta Pereira 2015

Upload: others

Post on 21-Jul-2020

1 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: EROSÃO - Travessa da Ermidaez.travessadaermida.com/files/102/3697.pdf · de contemporânea do Tróia Design Hotel, na Coleção Regina Pinho, Brasil e na Colección Art Fairs SL,

EROSÃORui Horta Pereira

2015

Page 2: EROSÃO - Travessa da Ermidaez.travessadaermida.com/files/102/3697.pdf · de contemporânea do Tróia Design Hotel, na Coleção Regina Pinho, Brasil e na Colección Art Fairs SL,

Rui Horta Pereira (Évora 1975) é formado em Escultura pela Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa. Desde o ano 2000, que o seu trabalho se centra, sobretudo, na escultura e no desenho. Tem realizado mostras individuais com regularidade e participado em inúmeras mostras coletivas. Nos últimos anos, recebeu vários apoios à criação de algumas entidades institucionais, das quais se destacam a Fundação Calouste Gulbenkian e a DG Artes. É representado pela Galeria 3+1 Arte contemporânea. Das suas exposições individuais destacam-se: “ Turvo”, na Galeria 3+1, em Lisboa (2014); “Around”, na Galeria Quadrum, em Lisboa (2013); “Remanescente”, na Galeria 3+1, em Lisboa (2011); “O Frágil culto do desenho”, em Torres Vedras (2011); “ Tudo aquilo que cair da mesa para o chão”, Quase Galeria, no Porto (2010); “Linda Fantasia”, Carpe Diem-Arte e Pesquisa, em Lisboa; “Fio de Mão”, Espaço Avenida, em Lisboa; “Artificializar”, Giefarte, em Lisboa (2009). Nas suas participações coletivas destaque par a Arco Madrid (2013), MCM, (com Claire de Santa Coloma) e curadoria de Eduardo Hurtado; Galeria Jose Robles, “Jugada a 3 Bandas” (2012); “Junho das Artes”, comissariado por Filipa Oliveira, em Óbidos (2010). Está representado em importantes coleções particulares e públicas, designadamente na coleção de arte de contemporânea do Tróia Design Hotel, na Coleção Regina Pinho, Brasil e na Colección Art Fairs SL, Espanha.

Rui Horta Pereira, Évora 1975, graduated in Sculpture by FBAUL, in 2000, his work is centred mainly in sculpture and drawing. In all aspects, being them ethical social or environmental, this artist’s creative process is not dissociated from his action allowing a successful relation and a final result. Represented by 3+1 Gallery, Lisbon, he has had various individual and collective exhibitions and have been supported by some institutions like Gulbenkian Foundation and DGARTES. His work is also represented in some private and public collections like Tróia Design Hotel Contemporary Art Collection, Regina Pinho Collection, Brasil, Colección Art Fairs SL, Spain. Some of his individual exhibitions took place in: Turbit, 3+1 Gallery Lisbon 2014; Around, Quadrum Gallery, Lisbon 2013; Remanescente 3+1 Gallery, Lisbon 2011; O Frágil culto do desenho, Torres Vedras 2011; Tudo aquilo que cair da mesa para o chão, Quase Gallery, OPorto 2010; Linda Fantasia, Carpe Diem-Arte e Pesquisa, Lisbon; Fio de Mão, Espaço Avenida, Lisbon; Artificializar, Giefarte, Lisbon 2009. Some Collective exhibitions: Arco Madrid 2013, MCM, (with Claire de Santa Coloma) curated by Eduardo Hurtado;Jose Robles Gallery, Jugada a 3 Bandas 2012; Junho das Artes, with Filipa Oliveira as commissary, Óbidos 2010.

Entrevista a Rui Horta Pereira7 de julho de 2015

“Recolho o que encontro, não vou necessariamente ao encontro, mas necessito das matérias. Sou um escultor com a necessidade da matéria”. A presente mostra exibe um núcleo de produções escultóricas produzidas por Rui Horta Pereira nos últimos cinco anos. Todas partilham o princípio da erosão, do desgaste da sua função primordial, e do reaproveitamento.

por Catarina da Ponte

O título desta exposição “Erosão (projeto de agregação contínua)” dá a entender que o núcleo de obras que apresentas não começa nem termina aqui. Trata-se de um trabalho ‘work in progress’?Diria que é um trabalho sempre em progresso, no qual existem várias etapas, sendo uma delas a da formalização e expressão pública. Tal como acontece no processo de erosão, no qual estão implicados vários aspetos, uns previsíveis outros nem tanto, que a dado momento atingem, por exemplo, pontos de colapso. Esta exposição é um claro exemplo dessa dialética de continuidade e duração, de reação e adaptação a um espaço distinto, o que implica, necessariamente, uma reflexão sobre as várias questões que as instalações podem suscitar. Este aspeto pode nunca estar fechado o que, do meu ponto de vista, é bom sinal.

Podes falar-nos sobre este corpo de trabalho que agrupas em “Erosão”?Sim, estas peças abarcam um espectro temporal da minha produção escultórica de cinco anos, concebidas em contextos e tempos distintos. Ao pensar na exposição para o Convento refleti sobre o modo e o sentido de as agrupar, um conceito que pudesse determinar e justificar a presença do conjunto naquele espaço, que lhes conferisse uma linha narrativa comum. Em todas elas existe um aspeto que defini como a perda ou desgaste da sua função primordial – daí serem matérias obsoletas – quer sejam madeiras cordas ou cacos. Uma espécie de erosão de sentido, mas que é também física. Lido, maioritariamente, com material orgânico de base, que uma vez abandonado seria a seu tempo absorvido pela natureza, no entanto, o tempo em que isto acontece é distinto. É diferente para as cordas e para o território ocupado pelos eucaliptos de onde provem a peça “estacas”. A regeneração e capacidade natural de transformação implica diretamente connosco e, coloca-nos diretamente implicados na mesma. Esta reflexão é o fio narrativo da exposição, que não está só alocada ao processo, ao fazer, mas também à razão de fazer assim!

As sete instalações que apresentas nesta mostra seguem uma lógica processual de reaproveitamento de materiais que tem caracterizado a tua produção artística, como acabaste de referir. De que forma estas peças dialogam com a nobreza dos materiais utilizados no Convento de Cristo?O processo pelo qual se escolhem as matérias, ou melhor, os materiais, não apresenta qualquer apetência específica. Tudo acontece naturalmente, atendendo muito mais a constrangimentos de carácter prático do género: como transportar, armazenar, cortar, prender ou pagar.

Page 3: EROSÃO - Travessa da Ermidaez.travessadaermida.com/files/102/3697.pdf · de contemporânea do Tróia Design Hotel, na Coleção Regina Pinho, Brasil e na Colección Art Fairs SL,

Uso estritamente o necessário, limito os meus recursos ao que a rua fornece. É uma forma de equilibrar a minha vontade criadora com a minha preocupação ambiental. Gostaria de ter um gigante armazém para organizar tudo o que sobra por categorias, devidamente catalogado, para fornecer a criadores capazes e competentes, no mais breve espaço de tempo, ou melhor, sem tempo a intermediar, - que o tempo provoca desgaste -, tudo aquilo que é necessário para cobrir as suas necessidades básicas... de criação! Este era o meu sonho!Em resumo, recolho o que encontro não vou necessariamente ao encontro, mas necessito das matérias. Sou um escultor com a necessidade da matéria.O convento conjuga várias épocas e múltiplas matérias, cuja escolha recaiu não só na qualidade e durabilidade inerente, como em todo o tratamento ao longo das épocas, que denota uma mestria de requinte e detalhe. Mas o confronto existe dentro do próprio, quer de estilos quer na distinção entre espaços por exemplo, entre as celas onde está a peça “Estacas” e as salas onde estão o “ Tapete” ou “ Tempo”.Seja pela intensidade do espaço ou pelo seu despojamento, estas diferenças permitem uma ginástica de instalação única, um desafio. Todas as peças que instalei estão dispostas de uma outra forma, foram readaptadas. Esta versatilidade e elasticidade derivam do espaço para as peças e vice-versa, o que permite uma dinâmica que não estava necessariamente prevista e que me agrada particularmente. A envolvência do Convento elimina o “grosseiro” das matérias que utilizo e dissimula-as porque a perceção do espectador nunca está apenas focada no objeto, mas no todo que o envolve e organiza. O diálogo pode acontecer ou não, e esse é sempre um bom ponto de discussão.

Queres destacar alguma das obras apresentadas?Gostava de reforçar apenas um aspeto que referi na resposta anterior que se relaciona com a instalação. Em rigor nenhuma destas peças foi alguma vez instalada como se apresentam agora. Para exemplificar, é a primeira vez que “Molde (de obelisco)” se apresenta na totalidade ou que os tijolos de “Muro” se apresentam como muro ou murete ou, ainda, que a peça “ Tapete” se apresenta num formato semi-suspenso. Ajuda, e é isto que quero destacar, o facto de as peças serem na sua essência de construção modular. Essa característica interna permite-lhes uma manipulação diversa que também se traduz nos caminhos que a interpretação pode calcorrear, mesmo não tendo qualquer referência sobre uma apresentação anterior. Trata-se simultaneamente de uma característica que em certa medida é oposta a alguma tradição escultórica, que se pode entender como uma mais valia ou como uma fragilidade, mas isso deixo em suspenso.

O ‘modus operandi’ que caracteriza o teu processo criativo passa por uma recoleção quase permanente de matérias obsoletas. Consideras-te um recolector compulsivo?Recolector e reciclador compulsivo, sim! Sei por experiência própria, que as ações que concretizam os objetos, as esculturas, as instalações, não estão dependentes exclusivamente da matéria encontrada, dessa “aparição”. Sou eu quem apanho, preparo, executo, imagino e realizo as peças. Nem a teoria do ciclo de erosão – ideia subjacente a todo o projeto - serve por si só para explicar certos estados da “degradação” da matéria ou da formação dos leitos dos rios, por essa razão, conjuga-se com outra teoria, a acíclica. Tudo flui, portanto, partindo do

MOLDE, madeira, cola e parafusos, 600x100x100cm, 2011

MOLDE, wood, glue and screws, 600x100x100cm, 2011

Page 4: EROSÃO - Travessa da Ermidaez.travessadaermida.com/files/102/3697.pdf · de contemporânea do Tróia Design Hotel, na Coleção Regina Pinho, Brasil e na Colección Art Fairs SL,

tratamento direto, do contacto com o que existe disponível, sejam madeiras, ferros ou garrafas, cerâmicas ou cordas. Qualquer despojo pode, quando manipulado, encerrar em si uma intensidade e uma produção de sentido que anteriormente não continha. Nunca se livrará da sua memória nem da sua função primeira, mesmo sendo já outra coisa. Essa mediação é, precisamente, o meu trabalho.

Preocupas-te, verdadeiramente, com os recursos desperdiçados e com ecologia?Como acredito que o trabalho artístico não está isolado da vida e considero que todos os fatores, todas as questões que preocupam os artistas devem de alguma forma estar implicadas com as suas ações, seria estranho afirmar que não. Defendo, e não é de agora, que o artista deve comprometer-se ao nível ético e não apenas ao nível estético.No meu caso, se tenho a possibilidade de gerir um recurso que é remanescente não vejo qualquer razão para despender energia ou usar um outro qualquer.

Problematizas o facto da utilização de materiais “grosseiros” retirar algum conteúdo estético às obras?Dou enfâse ao facto de qualquer matéria ser válida, mas nem toda a manipulação lhe serve. A matéria é um elemento ao mesmo tempo essencial e insuficiente. Essencial, pois sem ela não chego a nenhum resultado e insuficiente porque, só por si, sem qualquer ação, nunca se poderá constituir como um estímulo válido. Nessa ação está muitas vezes implicada esta grosseira forma de verbalizar e valorizar todos os aspetos práticos inerentes ao meu trabalho que acabam por esvaziá-los de mistério e de conteúdo estético. Uma tradução certamente seca que aniquila a beleza ou o maravilhamento, dessas coisas agradáveis que depois se compram para as coleções. É este o tom que me dá que pensar, que me inquieta e que fala na primeira pessoa e não num plural, perigoso! Tudo isto é da minha responsabilidade! Um texto, por exemplo, nunca consegue, pelo menos na totalidade, nenhuma destas duas coisas, a de conferir expressão e interesse a um objeto quando ele não tem e extorquir-lhe e esmagar com valores e motivações técnicas, as ambições poéticas e estéticas. É um ensaio difícil, e tenho algumas dúvidas que exista um meio-termo.A clareza formal que me preocupa parece, por vezes, remeter para segundo plano qualquer intensão, isto verifica-se tanto no meu trabalho de escultura, como no meu trabalho de desenho (que não está aqui representado). A intensidade da experiência assume maior relevo do que por vezes o próprio resultado. Se valorizas um aspeto é natural que o outro possa ficar algo esmagado.

Apesar da construção de peças como “Tapete (Água e um pouco de areia fina)” ou “Molde (para obelisco), serem feitas com matérias mundanas, reconhecemos-lhe, de imediato, uma forma familiar. É esta dialética – entre material, forma e conceito – que te interessa explorar na relação da obra com o espectador?Considero que o reconhecimento permite a aproximação, abre caminho a uma hipotética e mais atenta análise. Para dar uma referência sobre as duas peças que indicas: No caso do “Molde (de Obelisco)”, ele não existe, é uma metáfora do esvaziamento da inexistência de feitos notáveis ou celebração, no caso poderia ser cheio com qualquer matéria. Uma cofragem uma possibilidade que o espectador poderia completar, não existe o objeto em concreto mas as indicações são precisas para nos levarem a pensar no que ele é ou poderia ser, serve-se de uma estratégia de indício relativamente simplificada.O “ Tapete”, por seu lado, apresenta uma forte composição cromática. No caso desta

MURO, madeira e cola, dimensões variáveis,500x120x80cm aproximadamente, 2011

MURO, wood and glue, variable dimensions, approximately 500x120x80cm, 2011

Page 5: EROSÃO - Travessa da Ermidaez.travessadaermida.com/files/102/3697.pdf · de contemporânea do Tróia Design Hotel, na Coleção Regina Pinho, Brasil e na Colección Art Fairs SL,

montagem, que está até no chão, diria que a relação privilegiada do espectador é, neste caso, aquela que lhe permite ter uma perceção geral em que as múltiplas texturas e cores vibram com mais intensidade, nesta relação está implicado de forma talvez ainda mais evidente a importância da escala. Assim, aquilo que poderia até ser uma pintura revela, no detalhe, vestígios do mar que não me preocupei minimamente eliminar e que denunciam a sua origem a proveniência. Este jogo cria uma plataforma de entendimento, cuja eficácia se manifesta pela atitude do espectador. O reconhecimento só por si não é suficiente, é necessário através da matéria, esclarecer o que está em causa, tudo seria diferente se eu tivesse comprado todas as cordas, ao invés de as ter recolhido em zona protegida durante quatro anos.

Algumas das peças que aqui apresentas já foram exibidas noutros contextos expositivos e, em alguns casos, como em “Muro de tijolos” ou “Tudo aquilo que cair da mesa para o chão”, com formas ligeiramente diferentes. É possível vermos estas esculturas transformadas noutras em exposições futuras?Nada as livra é um facto!... Acho que cada vez me preocupo menos com a perenidade das minhas criações, prefiro um processo dinâmico. É uma questão de clareza, há trabalhos que realizo, cuja intensidade permanece independente de terem dez ou quinze anos ou um mês, esse caminho vou desenvolvendo. A par disto, há um desaparecimento formal do qual fica uma substância empírica, uma motivação e dinâmica que estou sempre a perseguir.

REDE, fragmentos de alcatruzes, 400x100x5cm aproximadamente, 2014/15

REDE, fragments of fishing ceramic buckets, 400x100x5cm approximately, 2014/15

Page 6: EROSÃO - Travessa da Ermidaez.travessadaermida.com/files/102/3697.pdf · de contemporânea do Tróia Design Hotel, na Coleção Regina Pinho, Brasil e na Colección Art Fairs SL,
Page 7: EROSÃO - Travessa da Ermidaez.travessadaermida.com/files/102/3697.pdf · de contemporânea do Tróia Design Hotel, na Coleção Regina Pinho, Brasil e na Colección Art Fairs SL,
Page 8: EROSÃO - Travessa da Ermidaez.travessadaermida.com/files/102/3697.pdf · de contemporânea do Tróia Design Hotel, na Coleção Regina Pinho, Brasil e na Colección Art Fairs SL,

ÁGUA E UM POUCO DE AREIA FINA, cordas/cabos nylon e polietileno, 900x300x2cm, 2014/15

ÁGUA E UM POUCO DE AREIA FINA, ropes/ nylon cables and polyethylene, 900x300x2cm, 2014/15

ESTACAS, eucalipto e choupo, entre 180 e 30cm de altura, espessura variável, 2014

ESTACAS, eucalyptus and poplar wood, height between 180 and 30cm, variable thickness, 2014

Page 9: EROSÃO - Travessa da Ermidaez.travessadaermida.com/files/102/3697.pdf · de contemporânea do Tróia Design Hotel, na Coleção Regina Pinho, Brasil e na Colección Art Fairs SL,

TEMPO, madeira, cola e parafusos, 116x60x20cm, 2010

TEMPO, wood, glue and screws, 116x60x20cm, 2010

Page 10: EROSÃO - Travessa da Ermidaez.travessadaermida.com/files/102/3697.pdf · de contemporânea do Tróia Design Hotel, na Coleção Regina Pinho, Brasil e na Colección Art Fairs SL,

Interview to Rui Horta Pereira7th July 2015

“I collect what I find, I do not necessarily look for it, but I need the matters. I am a sculptor with the necessity of matters”. The present exhibition shows a nucleus of sculptural productions by Rui Horta Pereira in the last five years. All of them share the principle of erosion, of abrasion, of its primordial function and of reusing.

by Catarina da Ponte

The title of this exhibition “Erosion” (project of continuous aggregation) shows that the nucleus of works you present do not start or end here. Is it a work in progress? I would say it is always a work in progress, in several stages, being one of those stages the one of public expression as it happens in the process of erosion, in which several aspects are implied, some of them predictable and others not that much, reaching at some point, for example peaks of collapse. This exhibition is a clear example of that, what implies, necessarily, a reflexion upon the questions that installations can spark. This aspect can never be closed and, from where I stand, that is a good sign.

Can you tell us about this body of work you aggregate in “Erosion”? These pieces span a temporal spectrum of my sculptural creation for the past five years. They were conceived in distinct contexts, but thinking about the exhibition in the Convent I considered the way and the sense of grouping them together, a concept that could determine and justify the presence of the set in that space, that could grant them a common narrative line. In all of these pieces there is an aspect I’ve defined as its first function loss or erosion - thereof obsolete matters - no matter if it is wooden, ropes or shards. A sort of erosion of sense although physical as well. I deal with, mostly, standard organic material which, once abandoned, would be, in time, absorbed by nature, nevertheless, the time in which this happens is distinct. It is distinct for the ropes and for the territory occupied by eucalyptus where the piece “estacas” comes from. This regeneration and natural capacity of transformation imply us directly and at the same time we become directly implied in it. That reflexion is the narrative thread of the exhibition, which is not only allocated to the process, to the doing, but also to the reason of doing it this way!

The seven installations you present in this exhibition follow a processual logic of reusing matters which characterizes your artistic production, as you just referred. In what way do these pieces dialogue with the nobility of the matters used in Convento de Cristo? The process by which the matters are chosen, or better said, the materials, do not present any specific skill. All happens naturally, attending much more to constraints of practical character like: transporting, storing, cutting, locking or paying. I use strictly the necessary, I limit my resources to what the street provides. It’s a way of balancing my creation will with my environmental preoccupation. I would like to have a giant warehouse so I could organize everything that is left over everywhere,

TUDO AQUILO QUE CAIR DA MESA PARA O CHÃO, madeira, cola e dobradiças, dezasseis painéis 54x38x1,2cm cada, 2010

TUDO AQUILO QUE CAIR DA MESA PARA O CHÃO, wood, glue and hinges, sixteen panels 54x38x1,2cm each, 2010

Page 11: EROSÃO - Travessa da Ermidaez.travessadaermida.com/files/102/3697.pdf · de contemporânea do Tróia Design Hotel, na Coleção Regina Pinho, Brasil e na Colección Art Fairs SL,

by categories, properly catalogued in order to provide for the competent and capable creators, in the most brief space of time, in other words, without intermediation time, - because time is consuming-, everything they need to cover their creation... their basic necessities! That’s what I’ve been dreaming of! Summing, I collect what I find not really by looking for it, but because I do need the matters. I am a sculptor with the necessity of matter. The Convent conjugates several époques and multiple matters, the choice has fallen upon not only the inherent quality and durability as upon all treatment throughout times, which shows a mastery of detail and refinement. But the confront is inside the Convent, whether it may be a confront of styles or the distinction between spaces, for example between the cells where the piece “Estacas” is placed and the rooms where the pieces “ Tapete” or “ Tempo” are placed. Might it be for the intensity of the space or by its starkness, these differences allow a unique gymnastic of installation, a challenge. All pieces I have installed are displayed differently if you compare them with the first installation you’ve seen, they are adapted so to speak. This versatility and elasticity goes from the space to the pieces and the other way around (I suppose). It allows a dynamic which was not necessarily predicted and that delights me particularly. In the case of the installations, the involvement of the Convent erases the “gross” of the matters I use and dissimulates it because the perception of the spectator is never merely focused on the object but on the whole that involves and organizes it, the dialogue can happen or not, and that is always a good discussion point.

Would you like to enhance any of the presented works? I want only to reinforce an aspect I referred in the last answer which is related to the installation. Rigorously none of these pieces was ever installed as they are now, for example, it is the first time that “Molde (de obelisco)” is presented in its totality or the bricks of “Muro” in a semi-sustained format. The fact of the pieces being, in its essence, of modular construction helps a lot, and that’s what I want to enhance. That internal characteristic allows them a diverse manipulation that is translated on the paths the interpretation can walk on, even if not having any reference about a prior presentation. It is also about a characteristic, in a certain way, opposite to any sculptural tradition, that can be understood as an added value or a fragility, but I leave that to be figured out later.

The ‘modus operandi’ characterizing your creative process goes through an always permanent collection of obsolete materials. Do you consider yourself a compulsive collector? Compulsive collector and recycler yes! I know from experience that the actions that materialise the objects, the sculptures, the installations, are not exclusively dependent of the found material, of that “apparition”. I am the one collecting, preparing, executing, imagining and producing the pieces. Not even the theory of the cycle of erosion - subjacent idea in the whole project - can for itself explain certain stages of “worsening condition” of the material or formation of the riverbeds and, for that reason, it is conjugated with another theory, the acyclic one ... Everything flows therefore, but from a direct treatment, from the contact with what exists available, being that wood, iron, bottles, ceramics or ropes. Any leftover can, when manipulated, be closed in itself in an intensity and in a

production of meaning it didn’t have. It will never get rid of its memory and of its first function even if being already something else and that mediation is what my work is. We come in the cycle, recovering and transforming, producing clues, ideas, objects with obscure goals, or goals which illustrate a civic compromise: the cleaning of the street, of the neighbourhood, of the beach, of the yard... or as an idea of progress and evolution of the civilisation.

Do you really care about wasted resources and ecology? As I see it, the artistic work is not isolated from daily life and I consider all factors, all questions concerning the artists shall anyhow be implicated in their actions, it would be otherwise weird to say no. I defend, and that’s not new, that the artist must compromise himself at the ethical level as well as at the aesthetics one. In my case, if I have the possibility of managing a resource which is remnant I do not see any reason why I should spend energy using any other.

Do you think about the usage of “gross” materials taking any aesthetic content from the works? I believe all materials to be valid but not all manipulation they are object of to be useful. The material is an element at the same time essential and insufficient. Essential because without it I can’t come to any result, and insufficient because, if merely for itself, with no action, it can never be a valid stimulus. In that action is many times implied this gross way of verbalising and valuing all practical aspects inherent to my work and, this way, emptying them from mystery, from aesthetic content. A surely dry translation that annihilates the beauty or wonderment, those pleasant things which later are bought for the collections. And it is this tone that gives me something to reflect about, that disturbs me and speaks to me in the first person not being a plural, dangerous! All this is my responsability! A text, for example, never accomplishes, at least in totality, any of these things, on one side granting expression and interest to an object when that same object doesn’t have it, and on the other extorting it and smashing it with values and technical motivations, the poetic and aesthetic ambitions. The formal clarity worrying me seems like, sometimes, to be dispatching to a second plan any intention, this can be seen as much in my work of sculpture as in my work of drawing (not represented in here). The intensity of experience assumes itself as more important than sometimes the result itself, if you value an aspect it is natural that the other can be somehow smashed.

Despite the construction of pieces like “Tapete (Água e um pouco de areia fina)” or “Molde (para obelisco)”, have been made with worldly matters, we recognise in them, immediately, a familiar shape. Is this dialectic, in your opinion - between matter, shape and concept - the one of interest for the exploration of the relation between the artwork and the spectator?I believe that recognition allows proximity, it opens a way to an hypothetical and more thoughtful analysis. To give a reference about the two pieces you name: In the case of “Molde( de Obelisco)”, it is a metaphor of the emptiness of non-existence of notable or celebrating accomplishments, it could be filled with any matter at all, a coffering, a possibility that the spectator could complete, the object in concrete doesn’t exist but the references are precise, leading us to think about what that is or could be, It makes use of a relatively simplified strategy of indication.

Page 12: EROSÃO - Travessa da Ermidaez.travessadaermida.com/files/102/3697.pdf · de contemporânea do Tróia Design Hotel, na Coleção Regina Pinho, Brasil e na Colección Art Fairs SL,

The work “ Tapete”, on its turn, presents a strong chromatic composition. In this assemblage case, that is even displayed on the floor, I would say that the privileged relation of the spectator is, in this case, the one allowing him a general perception in which multiple textures and colours vibrate with more intensity. In this relation is implied, in a more evident way, the importance of scale. That way, what could be even a painting reveals in detail traces of the sea that I didn’t care to eliminate denouncing its origin and provenance. This game creates a platform of understanding whose efficiency is manifested by the spectator’s attitude. The recognition only for itself is not sufficient, is necessary, through the matter, to clarify what is at stake. It would all be different if I had bought all ropes instead of collecting them in a protected area during four years.

Some of the pieces presented in here have already been shown in other exhibition contexts and, in some cases, as in “Muro de tijolos” or “Tudo aquilo que cair da mesa para o chão”, with slightly different shapes. Is it possible to see this sculptures transformed in other future exhibitions? It surely can happen yes!... I believe I do not worry anymore about the timelessness of my creations, I prefer a dynamic process. It is a matter of clarity, there are works I produce whose intensity remains independent of them being ten or fifteen years or a month old, that is the path I am following. Simultaneously there is a formal disappearing from which remains an empiric substance, a motivation and dynamic I am always pursuing.

Exposição Exhibition

Produção Production Convento de CristoProjecto Travessa da Ermida

Coordenação CoordinationAndreia Galvão (Convento de Cristo)Eduardo Fernandes (Projecto Travessa da Ermida)

Gestão de Projecto Project ManagementSérgio Parreira, Fábia Fernandes, Catarina da Ponte (Projecto Travessa da Ermida)

Comunicação CommunicationSandra Costa (Convento de Cristo)

Montagem Set UpRui Ferreira, Paulo Henrique e Vitor Cartaxo

Transportes TransportationDGPCConvento de Cristo / Paulo Arantes

Catálogo Catalogue

Entrevista Interview Catarina da Ponte

Tradução TranslationFábia Fernandes

Fotografia PhotographyBruno Lopes

Grafismo DesignCarlota Flieg

Impressão PrintInstituto Politécnico de Tomar

www.conventocristo.pt | www.travessadaermida.com

Page 13: EROSÃO - Travessa da Ermidaez.travessadaermida.com/files/102/3697.pdf · de contemporânea do Tróia Design Hotel, na Coleção Regina Pinho, Brasil e na Colección Art Fairs SL,

www.ruihortapereira.com