eros e psique como pulsão de vida

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Parte. VIII - O sentimento de culpa como o mais importante problema no desenvolvimento da civilização: “(...) O preço que pagamos por nosso avanço em termos de civilização é uma perda de felicidade pela intensificação do sentimento de culpa”. - “Consciência de culpa”: relação entre o sentimento de culpa e a consciência. No caso do remorso, esse sentimento torna-se mais perceptível. - “Medo do superego”: o sentimento de culpa nada mais é do que uma variedade topográfica da ansiedade que, em suas fases posteriores, coincide com o medo do superego. - “Necessidade de punição”: Advinda do sentimento de culpa, produzido pela civilização, que ou permanece inconsciente ou aparece como uma espécie de mal-estar. - “(...) As religiões nunca desprezaram o papel desempenhado na civilização pelo sentimento de culpa (...) Elas alegam redimir a humanidade desse sentimento de culpa, a que chamam de pecado. No cristianismo, essa redenção é conseguida pela morte sacrificial de uma pessoa isolada, que, desse modo, toma sobre si mesma a culpa comum a todos”: Princípio da culpa primária, o que Freud definiu como sendo o “primórdio da civilização”. - Superego (Eros): “(...) O superego é um agente que foi por nós inferido e a consciência constitui uma função que, entre outras, atribuímos a esse agente. A função consiste em manter a vigilância sobre as ações e as intenções do ego e julgá-las, exercendo sua censura. O sentimento de culpa, a severidade do superego, é, portanto, o mesmo que a severidade da consciência. É a percepção que o ego tem de estar sendo vigiado dessa maneira, a avaliação da tensão entre os seus próprios esforços e as exigências do superego.” - Remorso: “(...)Remorso é um termo geral para designar a reação do ego num caso de sentimento de culpa.”

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Eros e Psique Como Pulsão de Vida

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Parte. VIII

- O sentimento de culpa como o mais importante problema no desenvolvimento da civilizao: (...) O preo que pagamos por nosso avano em termos de civilizao uma perda de felicidade pela intensificao do sentimento de culpa.

- Conscincia de culpa: relao entre o sentimento de culpa e a conscincia. No caso do remorso, esse sentimento torna-se mais perceptvel.

- Medo do superego: o sentimento de culpa nada mais do que uma variedade topogrfica da ansiedade que, em suas fases posteriores, coincide com o medo do superego.

- Necessidade de punio: Advinda do sentimento de culpa, produzido pela civilizao, que ou permanece inconsciente ou aparece como uma espcie de mal-estar.

- (...) As religies nunca desprezaram o papel desempenhado na civilizao pelo sentimento de culpa (...) Elas alegam redimir a humanidade desse sentimento de culpa, a que chamam de pecado. No cristianismo, essa redeno conseguida pela morte sacrificial de uma pessoa isolada, que, desse modo, toma sobre si mesma a culpa comum a todos: Princpio da culpa primria, o que Freud definiu como sendo o primrdio da civilizao. - Superego (Eros): (...) O superego um agente que foi por ns inferido e a conscincia constitui uma funo que, entre outras, atribumos a esse agente. A funo consiste em manter a vigilncia sobre as aes e as intenes do ego e julg-las, exercendo sua censura. O sentimento de culpa, a severidade do superego, , portanto, o mesmo que a severidade da conscincia. a percepo que o ego tem de estar sendo vigiado dessa maneira, a avaliao da tenso entre os seus prprios esforos e as exigncias do superego.

- Remorso: (...)Remorso um termo geral para designar a reao do ego num caso de sentimento de culpa.

- Eros e a pulso de vida: Eros manifesta-se como libido e o instinto da vida. Neste sentido ele age a favor da civilizao e da vida comunitria, mas se ope a ela quando se faz necessria uma grande quantidade de energia instintiva, retirada da sexualidade, para o trabalho. A dinmica libidinal proposta por Freud no permitiria uma sociedade sem represso, j que os indivduos so dotados de instintos agressivos, que quando libertos destroem a sociedade. A represso de Eros se faz necessria, pois implica na consequente represso da pulso de morte.

Eros e Psique Fernando Pessoa

Conta a lenda que dormiaUma Princesa encantadaA quem s despertariaUm Infante, que viriaDe alm do muro da estrada.

Ele tinha que, tentado,Vencer o mal e o bem,Antes que, j libertado,Deixasse o caminho erradoPor o que Princesa vem.

A Princesa Adormecida,Se espera, dormindo espera,Sonha em morte a sua vida,E orna-lhe a fronte esquecida,Verde, uma grinalda de hera.

Longe o Infante, esforado,Sem saber que intuito tem,Rompe o caminho fadado,Ele dela ignorado,Ela para ele ningum.

Mas cada um cumpre o DestinoEla dormindo encantada,Ele buscando-a sem tinoPelo processo divinoQue faz existir a estrada.

E, se bem que seja obscuroTudo pela estrada fora,E falso, ele vem seguro,E vencendo estrada e muro,Chega onde em sono ela mora,

E, inda tonto do que houvera, cabea, em maresia,Ergue a mo, e encontra hera,E v que ele mesmo eraA Princesa que dormia.

- O poema traz a estria mtica do romance entre Eros, Deus do Amor, filho de Afrodite (Deusa da beleza) e Psiqu, a personificao de Alma, que uma jovem mortal de beleza arrebatadora que provoca a inveja de Afrodite. Fernando Pessoa trabalha no poema com a ideia de dualidade das foras polarizadoras do Ser que, embora opostas, so unas, como o yang e yin do Taoismo.

- As foras centrais no poema esto polarizadas em dois focos: um masculino e um feminino que se complementam reciprocamente num impulso contnuo. Fernando Pessoa descreve esse pensamento nas 2 e 4 estrofes nas quais ele exprime a polaridade masculina de poder, autoridade, determinao e lgica. O ser masculino vence o prprio mal e encara o seu prprio destino.

- Na 3 estrofe, Fernando Pessoa exprimi a polaridade feminina dos mistrios ocultos do inconsciente, a percepo e a intuio, a sabedoria e a passividade da espera porque nessa espera a alma se diviniza.

- Na 7 estrofe, vemos que a narrativa do amor entre Eros e Psiqu ressalta que na verdade ambos so um s, como as faces de uma moeda: E v que ele mesmo era / A Princesa que dormia. Assim como a alma fragmentada do ser humano, princpios unificados do contrrio que se atraem e se repelem, e impulsionam a vida.