eric hobsbawm - as lições do tempo

10
5 Eric Hobsbawm - As Lições do Tempo Ruy Belém de Araújo* E ste artigo tem como objetivo expor aspectos da trajetória do intelectual inglês Eric J. Hobsbawm como historiador marxista e militante comunista. A exposição tem como base leituras de suas obras, em especial, Era dos Extremos: o breve século XX – 1914/1989; Sobre História e Tempos Interessantes: uma vida no século XX. O artigo pretende demonstrar que o intelectual em tela, ao longo de sua vida, preservou como historiador a sua fidelidade aos princípios do materialismo histórico e, como militante, apesar de sentir-se derrotado, em conseqüência do rumo que tomaram as experiências comunistas stalinistas, continuou a se posicionar criti- camente diante da sociedade capitalista, ao mesmo tempo em que seguiu apoiando os movimentos sociais (Chiapas, MST, Fórum So- cial Mundial entre outros), que objetivam a construção de uma so- ciedade mundial centrada nos princípios da solidariedade e da de- mocracia. Ainda, o artigo é dedicado a homenagear os noventa anos da Revolução Soviética (outubro de 1917) e do emérito historiador Eric J. Hobsbawm (junho de 1917). PALAVRAS-CHAVE: Eric J. Hobsbawm; Materialismo Histórico; Militância. * Professor de História Econômica e História Contemporânea do Departamento de História da Universidade Federal de Sergipe. E-mail: [email protected]. Re s u m o Revista da Fapese, v.4, n. 1, p. 5-14, jan./jun. 2008

Upload: adrianomcosta

Post on 30-Sep-2015

223 views

Category:

Documents


6 download

DESCRIPTION

Eric Hobsbawm - As Lições Do Tempo

TRANSCRIPT

  • 5Eric Hobsbawm - As Lies do Tempo

    Ruy Belm de Arajo*

    Este artigo tem como objetivo expor aspectos da trajetria dointelectual ingls Eric J. Hobsbawm como historiador marxistae militante comunista. A exposio tem como base leituras desuas obras, em especial, Era dos Extremos: o breve sculo XX 1914/1989; Sobre Histria e Tempos Interessantes: uma vida nosculo XX. O artigo pretende demonstrar que o intelectual em tela,ao longo de sua vida, preservou como historiador a sua fidelidadeaos princpios do materialismo histrico e, como militante, apesarde sentir-se derrotado, em conseqncia do rumo que tomaram asexperincias comunistas stalinistas, continuou a se posicionar criti-camente diante da sociedade capitalista, ao mesmo tempo em queseguiu apoiando os movimentos sociais (Chiapas, MST, Frum So-cial Mundial entre outros), que objetivam a construo de uma so-ciedade mundial centrada nos princpios da solidariedade e da de-mocracia. Ainda, o artigo dedicado a homenagear os noventa anosda Revoluo Sovitica (outubro de 1917) e do emrito historiadorEric J. Hobsbawm (junho de 1917).

    PALAVRAS-CHAVE: Eric J. Hobsbawm; Materialismo Histrico;Militncia.

    * Professor de Histria Econmica e Histria Contempornea do Departamentode Histria da Universidade Federal de Sergipe. E-mail: [email protected].

    Resumo

    Revista da Fapese, v.4, n. 1, p. 5-14, jan./jun. 2008

  • 6Revista da Fapese, v.4, n. 1, p. 5-14, jan./jun. 2008

    Ruy Belm de Arajo

    IntroduoNo final do sculo XX, o pensamento marxista de

    vis stalinista sofre um forte desprestgio, em virtudede acontecimentos que marcam a histria contempo-rnea mundial: a falncia dos regimes stalinistas doleste europeu e a hegemonizao do pensamentoneoliberal.

    Para garantir a superao da crise que domina o ca-pitalismo, os governos baseados em teses neoliberaistm destrudo, violentamente, os direitos sociais histo-ricamente conquistados pelos trabalhadores, ao mesmotempo em que tentam impor sociedade um pensa-mento nico que privilegia a concepo mercantilistade sociedade e o individualismo e desqualifica as re-flexes tericas1 e as aes desenvolvidas por institui-es que resistem ao projeto de dominao neoliberal.

    Porm, a atmosfera que domina o mundo negati-va para o pensamento stalinista, no impede um his-toriador filiado ao pensamento de Karl Marx, EricHobsbawm, de tornar-se um dos intelectuais mais con-vidados pela mdia para opinar sobre questes domundo contemporneo, sendo um dos historiadoresmais lidos atualmente, sobretudo aps a publicaodo livro Era dos Extremos: O breve sculo XX 1914/1991. Na academia, em especial nos cursos de Hist-ria, a partir da dcada de 70 so de uso quase obriga-trio os trabalhos escritos pelo historiador britnico.

    Para o estudioso Harvey J. Kaye, o reconhecimentode ser Eric Hobsbawm o mais importante historiadormarxista, em atividade: ... se debe, sin duda al enor-me conjunto de temas sobre los que h realizadocontribuciones destacadas, en particular, la historiade la clase obrera, los estudios sobre la clase campesinay la historia mundial (Kaye, 1989, p.121).

    Emir Sader escreve um artigo sobre o historiadoringls Hobsbawm, afirmando que ele foi responsvel

    pela preservao da corrente historiogrfica mais im-portante do sculo XX, a Escola marxista inglesa,iniciada por Maurice Dobb e que inclui historiadoresdo quilate de Edward Carr, Christopher Hill, EdwardTompson, Rodnei Hilton (Sader, 2000).

    O socilogo Emir Sader, ainda em seu comentrio,faz aluso vasta obra realizada pelo historiador in-gls, com reflexes que vo da Revoluo Francesa aodeclnio do estado sovitico (1789 1991), as quaispodemos acompanhar atravs dos livros: A Era dasRevolues; A Era do Capital; A Era do Imprio e Erados Extremos: O Breve Sculo XX 1914/1991.

    Juntam-se aos trabalhos de Hobsbawm, citados aci-ma, as reflexes que discutem a teoria da Histria, onacionalismo, a organizao dos trabalhadores urba-nos e camponeses, jazz entre outros.

    O presente artigo pretende refletir sobre aspectosda trajetria do intelectual ingls Eric J. Hobsbawmcomo um historiador marxista e militante comunista.O texto est organizado em quatro unidades: I DeBerlim a Londres: Comentrios sobre a formao inte-lectual e poltica de Hobsbawm; II A Contribuiode Karl Marx para a cincia da histria, segundo EricHobsbawm; III Comentrios sobre o Materialismona obra de Eric Hobsbawm IV Eric Hobsbawm: omilitante e as consideraes finais.

    A primeira unidade procura traar de maneiragenrica a evoluo da formao intelectual e polticado historiador em questo; a segunda trata da avalia-o feita por Hobsbawm sobre a contribuio de Marxpara a cincia da histria; a terceira se manifesta coma reflexo sobre a obra do historiador na tentativa deperceber uso de algumas categorias pertinentes ao Ma-terialismo Histrico; e, finalizando, o texto faz al-guns comentrios sobre o historiador/militante dascausas socialistas (humanistas) que dominaram o s-culo XX.

    1 Para aprofundar o conhecimento sobre a questo ler, Emir Sader, A Vingana da Histria. So Paulo: Boitempo Editorial,2003.

  • 7Eric Hobsbawm - As Lies do Tempo

    Revista da Fapese, v.4, n. 1, p. 5-14, jan./jun. 2008

    1. De Berlim a Londres: Comentrios sobre aformao intelectual e poltica de Hobsbawm.Eric Hobsbawm nasce na cidade egpcia de

    Alexandria, em 9 junho de 1917, filho de pai inglsde origem judaica e me austraca. Encerrada a pri-meira Guerra Mundial em 1919, conflito que colocoude lados opostos Inglaterra e ustria, a famlia deHobsbawm transfere-se para Viena, cidade em que ohistoriador d incio a sua formao educacional.

    Com a morte dos pais, em 1931, vai residir comsua irm em Berlim, onde vivenciam o fim da Rep-blica de Weimar, a Grande Depresso e o embate pelopoder entre os comunistas e os partidrios do nacio-nal socialismo liderado por Hitler.

    Hobsbawm descreve assim o panorama poltico deBerlim no momento de sua estada:

    Entre o vero de 1930 e fevereiro de 1932, oReichstag esteve reunido por dez semanasno total. E, medida que crescia o desem-prego, tambm cresciam inelutavelmente asforas de alguma espcie de soluo radi-cal-revolucionria: o nacional socialismo direita e o comunismo esquerda. Eraesse o cenrio de quando cheguei a Berlim,no vero de 1931 (Hobsbawm, 2002, p. 165).

    Comentando sobre sua educao em Berlim, o his-toriador ingls ressalta que ela pouco ou nada contri-buiu para a sua opo poltica, mas sim para iniciar ogosto pelo debate, ainda que superficial, sobre litera-tura, poesia e atividades esportivas. Mas a ausnciado debate poltico no incio de sua formao no im-pediu que o historiador desse os primeiros passos namilitncia de esquerda, ainda que parcial.

    A agitao poltica que domina Berlim durante osanos 30 torna impossvel para o jovem Hobsbawm,com quatorze anos, ficar alheio poltica; tanto queele inicia, por conta prpria, a leitura do Manifesto doPartido Comunista e se engaja na militncia poltica,filiando-se, em 1932, a uma pequena organizao co-munista formada por estudantes secundaristas deBerlim Sozialistischer Schlerbund, SSB(Hobsbawm, 2002). A organizao comunista tem comosua inspiradora a militncia de Olga Benrio.2

    Em 1933, em virtude das dificuldades econmicasda famlia, aprofundadas devido s restries impos-tas pelo governo nazista s atividades comerciais rea-lizadas pelos judeus, os Hobsbawm migrao uma vezmais e deixam a Alemanha e voltam para Londres,onde fixam residncia. Na capital do imprio britni-co, Hobsbawm, concluiu o curso secundrio na SaintMarylebone Grammar School e depois o curso superi-or na famosa Universidade de Cambridge.

    Relatando sua passagem na escola secundria St.Marylebone, Eric fala sobre a importncia da institui-o na sua formao intelectual que possibilitou o con-tato com as surpreendentes maravilhas da poesia eprosa inglesa (Hobsbawm, 2002, p.114). Mas deixabem claro que a maior riqueza para sua formao foiretirada do acervo da esplndida Biblioteca PblicaMunicipal da cidade.

    Escrevendo sobre sua educao, bastante signifi-cativo o realce dado a todo o momento por Hobsbawma seu envolvimento com a literatura durante a sua for-mao. Porm, quando se lem comentrios sobre his-toriadores marxistas ingleses da gerao de Hobsbawm,observa-se que a intimidade com a literatura no foiprivilgio s dele, mas sim uma especificidade da for-mao intelectual dos ingleses de sua poca.

    2 Judia alem de nome Maria Bergner, conhecida politicamente por Olga Benrio, nasceu em Munique, no ano de 1908.Inicia sua militncia comunista junto a uma organizao estudantil secundarista em 1923. No ano de 1926 filia-se aoPartido Comunista Alemo. Em 1935 chega ao Brasil com o objetivo de auxiliar Lus Carlos Prestes na articulao darevoluo comunista no Brasil. No ano de 1936 capturada juntamente com o seu marido Carlos Prestes pela polciade Getlio Vargas e logo depois entregue Gestapo, que a leva para um campo de concentrao na Alemanha, onde executada em 1942 pelos nazistas.

  • 8Revista da Fapese, v.4, n. 1, p. 5-14, jan./jun. 2008

    Ruy Belm de Arajo

    Segundo o historiador em tela, na Inglaterra no tem-po de sua juventude, no curso secundrio, a Filosofiano era uma matria obrigatria; esta particularidade,coopera para que a literatura ocupe o espao vaziodeixado pela filosofia (Hobsbawm, 2002).

    Esta caracterstica da educao inglesa contribuipara dar aos historiadores ingleses da gerao deHobsbawm um entendimento muito peculiar sobre omaterialismo histrico. Sobre essa peculiaridade, afir-ma o historiador:

    Como, ao contrrio dos lices e Gimnasiacontinentais, a filosofia no era matriaobrigatria da educao secundria, no nosdedicvamos a Marx com o interesse filos-fico de nossos contemporneos do continen-te, e muito menos com o conhecimento defilosofia que j possuam. Isso me ajudou aanglicizar rapidamente minha maneira depensar. Aquilo que Perry Anderson chamoude marxismo ocidental o marxismo deLukcs, da Escola de Frankfurt e de Korsch jamais atravessou o canal da Mancha ata dcada de 1950. Ficamos satisfeitos emsaber que Marx e Engels haviam colocadoHegel na posio ereta, sem nos preocupar-mos em descobrir o que era exatamente aqui-lo que ficara de p (Hobsbawm, 2002, p.116).

    Mais adiante, continua o historiador a caracterizara especificidade dos historiadores marxistas ingleses,reafirmando a importncia da literatura; diz ele:

    Os historiadores marxistas britnicos havi-am comeado, em grande parte das vezes,como jovens intelectuais que passaram paraa anlise histrica a partir de uma paixopela literatura, ou dela se aproximaram jun-tamente com a literatura: Christopher Hill,Victor Kiernan, Leslie Morton, E. P. Tompson,Raymond Williams e eu tambm(Hobsbawm, 2002, p. 116).

    Segundo os organizadores do livro sobre E. P.Thompson, As Peculiaridades dos Ingleses e outrosartigos, o grupo dos historiadores ingleses marxis-tas, filiados ao partido comunista, ao qual est ligadoo nosso historiador, possua como ferramentas teri-cos metodolgicas, trs fontes: a primeira seria ascartas trocadas entre Marx e Engels que tratavam dasquestes relativas ao papel da ao humana no pro-cesso histrico diante do peso das estruturas,...; emsegundo lugar, seriam o trabalho historiogrfico pro-duzidos pelos historiadores liberais radical ingls,dos quais se consideravam seguidores; por ltimo, aoutra vertente terico metodolgica viria dos deba-tes realizados no partido comunista ingls sobre crti-ca literria, que, segundo Hobsbawm, possibilita de-senvolver no seio do grupo a histria social dos ingle-ses, ao mesmo tempo em que afasta o grupo dodeterminismo econmico (Thompson, 2001, p. 29).

    Ao analisar o trip terico metodolgico deHobsbawm, impossvel faz-lo sem levar em consi-derao o envolvimento poltico dos historiadores nosacontecimentos nacionais e internacionais, situaocomentada por Silva em seu artigo Breves reflexessobre a historiografia inglesa da revista Past & Present:

    De fato, em relao postura poltica, o gru-po teve sempre um papel destacado no sna formao da conscincia democrtica,tanto a nvel nacional quanto internacio-nal, mas tambm interveio de maneira ati-va e atravs de aes diretas na vida polticada Inglaterra, pondo ao servio destas duascausas sua rica e instigante produohistoriogrfica (Silva, 2001, p. 32).

    Nesta investida militante, Eric no est s; junta-se a um grupo de historiadores ingleses marxistas,entre os quais estavam E. P. Thompson, Asa Briggs,Chistopher Hill, Royden Harrison, que, seguindo ocaminho indicado por Maurice Dobb no seu trabalhoEstudos sobre o Desenvolvimento Capitalista, optampor elaborar a histria do desenvolvimento capitalistaingls dentro de uma perspectiva marxista.

  • 9Eric Hobsbawm - As Lies do Tempo

    Revista da Fapese, v.4, n. 1, p. 5-14, jan./jun. 2008

    E mais recentemente, em uma entrevistadada ao jornalista Robert Maggiori, corres-pondente londrino, do jornal francs LaLibration, em 2000, reafirmou que o seuengajamento poltico tem forte peso na suabiografia e no seu trabalho historiogrfico,tecendo o seguinte comentrio: Evidente-mente existe um fator subjetivo forte, pelosimples fato de que vivi, como espectadorengajado, a maior parte deste sculo cur-to (Hobsbawm, 1999).3.

    As peculiaridades contidas na formao deHobsbawm definiro a forma de compreender e deutilizar o materialismo histrico em suas obras, e nopoder ser o contrrio, fato que corroborado no de-poimento do autor da Era dos Extremos.

    Segundo ele, o seu marxismo se desenvolve com apreocupao de compreender as humanidades e noo desenvolvimento histrico via sucesso de modosde produo. O que interessava ao historiador era olugar e a natureza do artista e das artes (de fato, aliteratura) na sociedade, ou, em termos marxistas, Deque forma a superestrutura est ligada base?(Hobsbawm, 2002, p.116).

    Para responder ao seu problema, o historiador emfoco no se limita a ficar preso ortodoxia marxis-ta, procurando em outras reas de conhecimentos(antropologia), elementos que ajudem em sua tarefa etrava um dilogo acentuado com outras escolas, emespecial, a Escola dos Annales, na qual ele subtrai,entre outras influncias, a categoria da longa dura-o, to cara escola francesa. Mas deixa claro que asubtrao no significa uma repetio da escola fran-cesa, pois, segundo Hobsbawm, possui uma diferen-a, na medida em que, para a cole dos Annales,

    existem estruturas permanentes enquanto para ele ahistria muda.

    Sobre o relacionamento do autor com a escola his-trica francesa, para arrepios de muitos marxistas4,fica estampado seu ensaio A Histria Britnica e osAnnales: um comentrio, que descreve toda admira-o e agradecimentos aos seus fundadores Marc Bloch,Lucien Febvre e Fernand Braudel.

    2. Contribuies de Karl Marx para a histria naviso de Eric HobsbawmA todo o momento, Hobsbawm reafirma a sua confi-

    ana e a importncia do materialismo histrico para ex-plicao dos processos histricos. Em diversas entre-vistas, artigos e livros esse posicionamento fica eviden-te, a exemplo do depoimento escrito no prefcio do seulivro Sobre Histria, no qual faz a seguinte afirmao:

    Mesmo que eu achasse que grande parte daabordagem da histria por Marx precisasseser jogada no lixo, ainda assim continuariaa levar em considerao, profunda, mas cri-ticamente, aquilo que os japoneses chamamde um sensei, mestre intelectual para quemse deve algo que no pode ser retribudo.Acontece que continuo considerando (...)que a concepo materialista de Marx , delonge o melhor guia para a histria,....(Hobsbawm, 1998, p. 09).

    Ao ser provocado pelo jornalista italiano AntonioPolito para falar sobre a atualidade do Manifesto doPartido Comunista e a contribuio dele para a suaformao, o historiador ingls demonstra, mais umavez, a sua gratido para com o pensamento elaborado

    3 Sobre o tema ler artigo de Hobsbawm de titulo Engajamento, contido no livro Sobre Histria, p. 138/154.4 Ler artigo de Golbery Lessa, E. J. Hobsbawm Um olhar moderado sobre o - Sculo dos Extremos. publicado na

    Revista Prxis, n. 10, out., 1997. O historiador ingls repete, como j assinalamos, na sua extensa carreira, os mesmoserros cometidos pela histria dos Annales e por muitos outros que no foram capazes de entender o mtodo dialtico,ou seja, aparta a histria da filosofia e se recusa a perceber as relaes sociais de produo como momento predominanteno complexo social (p. 4).

  • 10

    Revista da Fapese, v.4, n. 1, p. 5-14, jan./jun. 2008

    Ruy Belm de Arajo

    por Marx e Engels fazendo a seguinte observao so-bre a lio do marxismo:

    Acima de tudo, o fato de ter compreendidoque determinada etapa histrica no per-manente, que a sociedade humana umaestrutura bem sucedida porque capaz demudana e, assim, o presente no seu des-tino final. Segundo ter estudado o modusoperandi, a maneira de funcionamento deum sistema social especfico, e por que mo-tivo ele gera ou deixa de gerar as formas demudana (Hobsbawm, 2000, p.13).

    Refletindo sobre as contribuies do pensamentode Karl Marx para a Histria, Hobsbawm afirma queuma delas foi a de cooperar para superar a influnciado Positivismo (que tenta subordinar o estudo da so-ciedade ao das cincias naturais) contribuindo paratransformar a Histria em uma das cincias sociais(Hobsbawm, 1998). Para ele, a concepo marxistaentende que a Histria tem como objeto de sua anliseas relaes sociais que se estabelecem entre os huma-nos e as que se estabelecem com o ambiente externo ser humano e natureza construdas com a finalida-de de produo e reproduo da sociedade.

    A outra finalidade advm da aplicao terico metodolgica do materialismo histrico. Neste momen-to, Hobsbawm ressalta a existncia de dois tipos de mar-xismo: o marxismo vulgar e aquele advindo do com-ponente marxista na anlise histrica, que para ele se-ria aplicao genuna do arcabouo terico metodolgicodo materialismo histrico (Hobsbawm, 1998).

    Para o historiador, os marxismos vulgares soaquelas contribuies que apesar de terem algumainspirao no pensamento de Marx, no so necessa-riamente representativas do pensamento maduro deMarx. Chega a ser taxativo quanto ao afastamento domarxismo vulgar do pensamento de Marx, ao afirmarque: Devemos repetir que essa tendncia, embora semdvida produto da influncia marxista, no tem ne-nhuma ligao com o pensamento de Marx(Hobsbawm, 1998, p. 161). Aponta como caractersti-

    cas do marxismo vulgar sete elementos, dos quais oprimeiro, o quarto e o stimo so os mais marcantes:

    1- A interpretao economicista da histria;2- Modelo da base e superestrutura (que usado

    mais amplamente serve para explicar a histriadas idias), porm foi bastante utilizado dentrode uma concepo de que a base seria o alicerceda sociedade que molda a superestrutura;

    3- A lei da luta de classe como nico elementoexplicativo das transformaes sociais;

    4- Leis histricas e a inevitabilidade histrica generalizaes a partir das sucesses dos mo-dos de produo;

    5- Trabalhos produzidos seguindo as preocupa-es de Marx e s vezes partindo de comentri-os pontuais registrados em seus trabalhos;

    6- Trabalhos no derivados das obras de Marx oupartindo de preocupaes associadas a sua teoria;

    7- A aplicao do mtodo, a partir da anlise dabase e superestrutura garantindo a busca im-parcial da verdade.... E reproduzindo aquiloque verdadeiramente aconteceu (Hobsbawm,1998, p.159, 160).

    Apesar de reconhecer que o maior nmero de con-tribuies para a histria de teor marxista tiveram comobase o marxismo vulgar, Hobsbawm afirma que amais importante contribuio de Karl Marx para ascincias sociais, especialmente para a Histria, est naformulao de sua teoria o materialismo histrico.Fazendo uma ressalva de que o materialismo histricono deve ser considerado como Histria em si, mascomo uma base terica para a explicao histrica.

    Esta ressalva leva a depreender que, quando se lemas reflexes de Karl Marx contidas nos trabalhos comoA Sagrada Famlia, Teses contra Feuerbach, Misriada Filosofia e, principalmente, Ideologia Alem, nos

  • 11Eric Hobsbawm - As Lies do Tempo

    Revista da Fapese, v.4, n. 1, p. 5-14, jan./jun. 2008

    quais ele expe os fundamentos do materialismo his-trico, o recurso histria realizado por Marx, nodeve ser encarado como um trabalho de histria, massim como a elaborao de um esboo terico para umareflexo sobre a histria.

    Portanto, segundo Hobsbawm, das contribuiestrazidas por Marx para a histria, uma foi a de fix-lacomo uma cincia social e a outra a de fornecer umconsistente modelo terico metodolgico para o es-tudo da sociedade humana, o materialismo histrico.

    3. Uma viso panormica sobre o materialismohistrico na obra de HobsbawmComo se pode perceber, o materialismo histrico

    na obra de Eric Hobsbawm? Em primeiro lugar, deve-se ressaltar a sua constante afirmao de que todos osfenmenos sociais so transitrios. Que nada produ-zido pelas relaes humanas eterno. Na melhor apli-cao do entendimento de Karl Marx e Friedrich Engels,escrita no Manifesto do Partido Comunista: Tudo que slido desmancha no ar (Marx, 1998, p. 11).

    Para fazer a demonstrao do entendimento de quea histria se desenvolve processualmente pelo histo-riador, vale uma longa citao retirada da introduodo livro A Era Das Revolues:

    E ainda assim a histria da dupla revolu-o no meramente a histria do triunfoda nova sociedade burguesa. tambm ahistria do aparecimento das foras que, umsculo depois de 1848, viriam transformar aexpanso em contrao. E mais ainda, porvolta de 1848, esta extraordinria mudanade destinos j era at certo ponto visvel.Naturalmente, a revolta mundial contra oOcidente, que domina a metade do sculoXX, era ento apenas escassamentediscernvel. Somente no mundo islmicopodemos observar os primeiros estgios doprocesso pelo qual os que foram conquista-dos pelo Ocidente adotaram suas idias e

    suas tcnicas para se virar contra ele: ...,(Hobsbawm, 1977, p. 19).

    E ainda se poderia citar a sua concluso do livroEra dos Extremos, que, apesar de ser bastante pessi-mista, convida a todos para lutar na perspectiva demodificar o rumo da histria presente, pois, se issono for feito, o preo ser o da escurido(Hobsbawm, 1995, p. 526).

    As duas referncias anteriormente anunciadas tra-zem outra caracterstica da concepo histricanorteadora dos trabalhos de Eric, a de que a dinmicados fenmenos sociais fruto das contradies e dosconflitos que se estabelecem no seio da sociedade, entreforas e relaes de produo ou, principalmente aque-las contradies entre as classes sociais que se estabe-lecem no desenvolvimento histrico.

    Outro princpio metodolgico do materialismo his-trico presente na obra de Eric Hobsbawm o datotalidade entendida como a articulao que se esta-belece entre as diversas estruturas que compem umadeterminada realidade social, e que, entender umaspecto da realidade impossvel sem fazer relaocom o conjunto. Para deixar mais claro, eis MichaelLwy:

    O princpio da totalidade como categoriametodolgica obviamente no significa umestudo da totalidade da realidade, o que se-ria impossvel, uma vez que a totalidade darealidade sempre infinita, inesgotvel. Acategoria metodolgica da totalidade signi-fica a percepo da realidade social comoum todo orgnico, estruturado, no qual nose pode entender um elemento, um aspecto,uma dimenso, sem perder a sua relaocom o conjunto (Lwy, 1998, p. 16).

    O princpio da totalidade sempre perseguidopelo historiador em seus trabalhos, principalmenteos de longa durao como: A Era das Revolues; AEra do Capital; A Era do Imprio e o Era dos Extre-mos.

  • 12

    Revista da Fapese, v.4, n. 1, p. 5-14, jan./jun. 2008

    Ruy Belm de Arajo

    Outro elemento caracterstico dos trabalhos de EricHobsbawm a determinao de se contrapor tentati-va de reduzir o materialismo histrico ao determinismoeconmico, pois, como afirma ele, nem todos os fen-menos no - econmicos podem ser derivados de fe-nmenos econmicos especficos, e determinados even-tos ou datas no so determinadas nesse sentido (Ho-bsbawm, 1998, p.176). Apesar de compreender o pesoque possui o conceito de modo de produo, (entendi-do como o agregado das relaes produtivas que cons-tituem a estrutura econmica de uma sociedade e for-mam o modo de produo dos meios materiais de exis-tncia) e afirmar a primazia do conceito para o enten-dimento dos processos histricos, no permite que suasexplicaes histricas se encerrem no econmico.

    Critica ainda a leitura linear e simplista da idiade Marx, declarada no Prefcio da Crtica EconomiaPoltica, que expe a supremacia da base sobre a supe-restrutura. Observa que de considerao vlida oentendimento de que s vezes, em determinado pro-cesso, a superestrutura atua como base, valorizando opapel das idias no processo histrico. Como exem-plos deste entendimento, pode-se citar os ensaios TomPaine e o Metodismo e a Ameaa de Revoluo naInglaterra, contidos no livro Os Trabalhadores. Se-guindo o caminho percorrido por Chistopher Hill,recupera a importncia das idias puritanas para ex-plicar a revoluo inglesa do sculo XVII.

    Outra caracterstica dos trabalhos do historiador in-gls a de compreender o papel do indivduo, da gen-te comum no desenvolvimento histrico, evitando, sa-biamente, no cair no equvoco da grande personagem,no permitindo que algum se coloque acima de umahistria que se produz coletivamente. Uma histria vistaa partir de baixo. Nesta direo est o primoroso traba-lho A histria social do Jazz (trabalho, que em seuprimeiro lanamento foi assinado com o nome de FrancisNewton) que atravs dos msicos como Count Basie,

    Duke Ellington possibilita o estudo sobre a histria ame-ricana. Nessa mesma linha, est o recente livro PessoasExtraordinrias: Resistncia, Rebelio e Jazz.

    No contexto da priorizao da reflexo histricavista a partir de baixo, podemos listar toda a obrado historiador que aborda as revoltas camponesas deresistncia ao aprofundamento do capitalismo no cam-po na Inglaterra no sculo XIX.5

    Outro elemento que no se pode deixar de citar eque pertence natureza dos trabalhos do historiadorem questo, de ser radical quanto ao uso do materia-lismo histrico, mas sem deixar cair no sectarismo queempobrece o conhecimento, fato esse demonstrado aopermitir o dilogo entre escolas distintas, por exemplo,a existente entre a marxista inglesa e os Annales.

    As asseveraes feitas por Hobsbawm, concernen-tes ao materialismo histrico, demonstram que, noobstante as crticas recebidas pela concepo tericaformulada por Marx, principalmente, as oriundas noseio da academia, embaladas pelo ps modernis-mo6, em que, algumas, chegam a afirmar que o marxis-mo j no tem nada a dizer sobre a sociedade contem-pornea, o materialismo histrico continua pertinentepara a tarefa daqueles historiadores que objetivam ana-lisar o processo histrico a partir da observao dascontradies e conflitos entre os elementos que pro-vocam o dinamismo da histria ou no.

    4. Eric Hobsbawm: o militanteA concepo de mundo do historiador Eric

    Hobsbawm e o instrumento terico metodolgico uti-lizado em seus trabalhos histricos o impeliram a serum militante atuante, tanto no nvel de seus trabalhosacadmicos quanto no nvel da poltica partidria e emrelao ao movimento revolucionrio internacional.

    5 Tema explorado pelo historiador Eric Hobsbawm nos seus trabalhos: Capito Swing, Primitivos Rebeldes e BanditismoSocial.

    6 Para atualizao sobre a temtica sugere-se a leitura do livro: Em Defesa da Histria: marxismo e ps-modernismo,organizado por Ellem M. Wood e John B. Foster.

  • 13Eric Hobsbawm - As Lies do Tempo

    Revista da Fapese, v.4, n. 1, p. 5-14, jan./jun. 2008

    A militncia poltica que havia iniciado ainda comoestudante secundarista, nos anos 30, na organizaocomunista Sozialistischer Schlerbund - SSB, apro-fundada durante seus estudos em Cambridge, em 1936,filiando-se ao Partido Comunista Britnico, do qual seconsidera um militante disciplinado e extremamentededicado. Essa revelao fica clara na afirmao quefaz, ao escrever a sua autobiografia, de que: ..., o par-tido era minha paixo primordial (Hobsbawm, 2002,p.133). interessante ressaltar que uma das premis-sas fundamentais para o movimento comunista inter-nacional era a construo da revoluo mundial queporia fim sociedade capitalista.

    Com comprometimento poltico ideolgico coma causa comunista, Eric Hobsbawm , mesmo reconhe-cendo o retrocesso imposto pela hegemonia stalinistanos PCs, continua filiado ao Partido Comunista in-gls, sendo o ltimo dos historiadores marxistas in-gleses, de sua gerao, a se desligar do movimentocomunista. E, ao ser consultado por sua permannciacomo militante comunista, o historiador d a seguinteresposta: Porque no queria encontrarme en compaiade todos esos comunistas que se convertieron en anti-comunistas (Portal La Jornada, 2007).

    A derrota da revoluo comunista internacional, cau-sada pelos atos adotados por Stalin e seguidores, contri-bui para que Eric Hobsbawm assuma um posicionamentode descrena em relao ao movimento comunista. Essedesencanto pode ser observado nesta sua sentena:

    A causa a que devotei boa parte de minhavida no prosperou. Espero que isto me te-nha transformado em um historiador me-lhor, j que a melhor histria escrita poraqueles que perderam algo. Os vencedorespensam que a histria terminou bem por-que eles estavam certos, ao passo que osperdedores perguntam por que tudo foi dife-rente, e esta uma questo muito mais rele-vante (Hobsbawm, 2002, p. 117).

    Apesar de se considerar derrotado quanto ao proje-to de construo de uma sociedade socialista, dentro

    de uma viso internacionalista, causa que ocupa a mai-or parte de sua vida, Eric Hobsbawm mantm a suapostura de um historiador determinado a lutar pelaconstruo de um mundo diferente do atual, criticandoo desenvolvimento capitalista e o socialismo existen-te, fazendo observaes contundentes sobre o poss-vel futuro da humanidade, se as coisas continuarem nomesmo diapaso do incremento econmico que no levaem considerao a continuidade da vida do ser huma-no e da natureza, pois, como afirma Eric Hobsbawm:

    Se a humanidade quer ter futuro reconhe-cvel, no pode ser pelo prolongamento dopassado ou do presente. Se tentarmos cons-truir o terceiro milnio nessa base, vamosfracassar. E o preo do fracasso, ou seja, aalternativa para a mudana da sociedade a escurido (Hobsbawm, 1995, p. 562).

    A despeito da afirmao pessimista que tem em rela-o ao passado e ao presente da histria da humanida-de, o historiador no abdica de sua esperana em mudaro futuro, colocando o devir histrico na responsabilida-de do ser humano, incitando a humanidade a no acei-tar o discurso que pretende ser nico, na interpretaodo caminho a ser percorrido pela sociedade mundial, namedida em que esse discurso dominante tenta inculcarnas pessoas a compreenso de que s existe uma trajet-ria para a sociedade mundial, que a de seguir, de ma-neira indubitvel, a lgica do mercado e do desenvolvi-mento pelo desenvolvimento, conclamando todos a noabandonarem a luta por um mundo novo, pautado nademocracia e na justia social, pois ...,. A injustiasocial ainda precisa ser denunciada e combatida. O mun-do no vai melhorar sozinho (Hobsbawm, 2002, p. 455).

    A pertinncia na esperana da construo de umasociedade mundial diferente da de hoje, demonstradapelo historiador Eric J. Hobsbawm, leva a continuaracreditando que a prtica militante dos atores sociais de fundamental importncia para a construo deuma histria que v em direo instituio de umasociedade mundial embasada nos princpios da soli-dariedade, da democracia e da harmonia entre a soci-edade e a natureza. Enfim, uma sociedade socialista.

  • 14

    Revista da Fapese, v.4, n. 1, p. 5-14, jan./jun. 2008

    Ruy Belm de Arajo

    HOBSBAWM, Eric. Era das Revolues 1789/1848.Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1977._____. Era dos Extremos: o breve sculo XX. So Pau-lo: Companhias Das Letras, 1995._____. Sobre Histria. So Paulo: Companhias DasLetras, 1998._____. O Novo Sculo: Entrevista a Antonio Polito.So Paulo: Companhias Das Letras, 2000._____. Tempos Interessantes: uma vida no sculo XX.So Paulo: Companhia das Letras, 2002._____. Pessoas Extraordinrias Resistncia, Rebelioe Jazz. So Paulo: Companhia Das Letras, 2002._____. Adeus a tudo aquilo. In. Depois da Queda: OFracasso do Comunismo e o Futuro do Socialismo.Org. Robin Blackburn. So Paulo: Ed. Paz e Terra,2005._____. Renascendo das Cinzas. In. Depois da Que-da: O Fracasso do Comunismo e o Futuro do Socialis-mo. Org. Robin Blackburn. So Paulo: Ed. Paz e Ter-ra, 2005.KAYE, Harvey J. Los Historiadores Marxistas Britni-cos: un anlisis introductorio. Zaragoza: Universidad,Prensas Universitrias, 1989.JORNAL Folha de So Paulo, Cadernos Mais, 19 dedez. de 1999.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    JORNAL Estado de S. Paulo, Caderno 2, 25 de jun. de2000.LESSA, Golbery. E. J.. Hobsbawm Um olhar mode-rado sobre o sculo dos extremos. So Paulo: RevistaPrxis, n 10, out., 1997.LWY, Michael. Ideologias e Cincia Social: Elemen-to para uma analise marxista. So Paulo: Cortez, 1998.MARX, K./ENGELS, F. Manifesto do Partido Comunista.In. O Manifesto Comunista 150 anos depois. Org. CarlosNelson Coutinho ... [et. al.]; Daniel Aaro R. Filho. Riode Janeiro: Editora Fundao Perseu Abramo, 1998.PORTAL La Jornada, 19 jun. 2007.SADER, Emir. Hobsbawm dialoga com o sculo 21.Jornal Estado de S. Paulo, Caderno 2, 25 jun 2000.SADER, Emir. A Vingana da Histria. So Paulo:Boitempo Editorial, 2003.SILVA, Maria M. R. Souza. Breves Reflexes sobre ahistoriografia inglesa: o grupo da revista Past & Present.In. Revista de Histria. So Paulo: UNICAMP, 2000.THOMPSON, E. P.. As Peculiaridades dos Ingleses eoutros artigos. Org. Antonio Luigi Negro e Srgio Sil-va. Campinas: Editora UNICAMP, 2001.WOOD, E. M./FOSTER, J. B. (org.). Em Defesa da His-tria: marxismo e ps-modernismo. Rio de Janeiro: JorgeZahar Ed., 1999.