ergonomia um estudo sobre sua influÊncia na produtividade

Upload: cintia-xisto

Post on 20-Jul-2015

57 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

ERGONOMIA: UM ESTUDO SOBRE SUA INFLUNCIA NA PRODUTIVIDADEARTIGO GESTO DE PESSOAS EM ORGANIZAES

Carlos Rodrigues da SilvaProfessor de Administrao da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campus de Paranaba. Coordenador do Curso de Administrao. Mestre em Administrao pela Universidade Estadual de Maring E-mail: [email protected]

Recebido em: 27/7/2009 Aprovado em: 16/8/2009

Marco Antnio Costa da SilvaProfessor de Administrao da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campus de Paranaba. Mestre em Engenharia da Produo pela Universidade Federal de So Carlos E-mail: [email protected]

Sinai Rodrigues da SilvaAdministrador da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul Programa de Assistncia Sade (PAS). Mestrando em Administrao na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul E-mail: [email protected]

Juliana Cristina Caldeira de SouzaBacharel em Administrao pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul E-mail: [email protected]

Silvana Duarte dos SantosBacharel em Administrao pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Psgraduanda em Docncia no Ensino Superior nas Faculdades Integradas de Paranaba (FIPAR) E-mail: [email protected]

RESUMO crescente o interesse de empresas, governos e sociedade pelo estudo da ergonomia aplicada s atividades produtivas. Nessa direo, o governo brasileiro editou a Norma Regulamentadora 17 Ergonomia, que visa estabelecer parmetros que permitam a adaptao das condies de trabalho s caractersticas psicofisiolgicas dos trabalhadores. O presente trabalho tem como escopo avaliar os postos de trabalho da empresa Magnfica Confeces de Paranaba, em seus aspectos ergonmicos, e determinar a sua influncia sobre a produtividade. A constante utilizao das mquinas, a postura sentada e a repetio de movimentos inerentes atividade fabril so caractersticas do posto de trabalho da organizao. Em razo dessas caractersticas, o atendimento s exigncias ergonmicas fator decisivo para o aumento da produtividade e a melhoria do bem-estar das colaboradoras. A aplicao dos conceitos ergonmicos aos postos de trabalho caracteriza-se como um processo construtivo e participativo que objetiva a soluo de problemas por vezes complexos. Essa aplicao exige o conhecimento das tarefas, da atividade desenvolvida para realiz-las e das dificuldades para atingir o desempenho e a produtividade exigidos. Assim, os dados obtidos na pesquisa sustentaram-se nos questionrios aplicados s colaboradoras, agentes conhecedoras das atividades desenvolvidas e das dificuldades para sua execuo. Palavras-chave: Ergonomia, Norma Regulamentadora 17 Ergonomia, Produtividade.

Revista de Gesto USP, So Paulo, v. 16, n. 4, p. 61-75, outubro-dezembro 2009

Carlos Rodrigues da Silva, Marco Antnio Costa da Silva, Sinai Rodrigues da Silva, Juliana Cristina Caldeira de Souza e Silvana Duarte dos Santos

ERGONOMICS: A STUDY OF INFLUENCE ON PRODUCTIVITY ABSTRACT Companies, governments and society are showing an increasing interest in ergonomics as applied to productive activities. Therefore the Brazilian government has issued Norma Regulamentadora 17 Ergonomia to establish parameters for adapting working conditions to the psycho-physiologic characteristics of workers. This work evaluated ergonomics, productivity and work stations at Magnifica Confeces in Paranaba, where most machines are operated in a seated position with repetitive movements. Therefore ergonomic concepts aspects are decisive to improve productivity and well-being of collaborators. Ergonomics is used at the work stations in a constructive and participative problem solving process requiring understanding of the tasks, activities, problems and performance demanded. For this reason, resultant data was supported by questionnaires answered by the diverse participants that developed these activities resolving these problems. Key words: Ergonomics, Regulatory Standard 17, Productivity. ERGONOMA: UN ESTUDIO DE SU INFLUENCIA EN LA PRODUCTIVIDAD RESUMEN Es creciente el inters de las empresas, los gobiernos y la sociedad por el estudio de la ergonoma aplicada a las actividades productivas. En este sentido, el gobierno brasileo ha publicado la Norma Reglamentaria 17 Ergonoma, que tiene por objeto establecer los parmetros para la adecuacin de las condiciones de trabajo a las caractersticas psicofisiolgicas de los trabajadores. Este trabajo tiene como objetivo evaluar los puestos de trabajo de la empresa Magnfica Confeces, en Paranaba, MS, Brasil, en relacin a su ergonoma, y determinar su influencia en la productividad. El uso constante de las mquinas, la posicin sentada y la repeticin de los movimientos implicados en la actividad industrial son caractersticos del puesto de trabajo de la organizacin. Por estas caractersticas, la atencin a las exigencias ergonmicas es un factor decisivo para aumentar la productividad y mejorar el bienestar de las participantes. La aplicacin de los conceptos de ergonoma para puestos de trabajo se caracteriza como un proceso constructivo y participativo que pretende solucionar problemas complejos a veces. Esa aplicacin exige el conocimiento de las tareas, de la actividad desarrollada para realizarla y de las dificultades para alcanzar los rendimientos y la productividad exigidos. As, los datos obtenidos en la investigacin se apoyan en los cuestionarios aplicados a las colaboradoras, agentes que conocen las actividades desarrolladas y las dificultades para su ejecucin. Palabras-clave: Ergonoma, Norma Reglamentaria 17- Ergonoma, Productividad.

62

Revista de Gesto USP, So Paulo, v. 16, n. 4, p. 61-75, outubro-dezembro 2009

Ergonomia: um estudo sobre sua influncia na produtividade

1. INTRODUO A busca por melhores ndices de produtividade sempre foi um dos principais objetivos das organizaes. Com o fenmeno da globalizao, a produtividade passou a ser um diferencial competitivo para as empresas. A atividade produtiva na rea de confeco no imune a esse processo. Cresce a exigncia dos consumidores com a qualidade e os preos dos produtos. Nesse contexto, a empresa Magnfica Confeces de Paranaba se v impelida a tomar medidas que promovam o incremento da produtividade em sua linha de produo. Dentre tais medidas, a adequao ergonmica dos postos de trabalho pode ser apontada como de significativa importncia. Fornecer ao trabalhador condies de trabalho ergonomicamente adequadas, antes de ser uma imposio legal, revela-se um importante diferencial para as modernas organizaes. O presente trabalho tem como objeto de estudo a anlise da organizao Magnfica Confeces de Paranaba/MS, no que se refere ergonomia dos postos de trabalho e sua influncia sobre a produtividade. A pesquisa consiste em analisar as condies ergonmicas dos postos de trabalho da empresa Magnfica Confeces, bem como suscitar a conscientizao sobre a necessidade de proteo dos trabalhadores contra os problemas de sade ligados ao trabalho. A preocupao com a produtividade deve estar presente em todas as aes da empresa, sob pena de perder-se competitividade. Assim, de fundamental importncia o bom planejamento do posto de trabalho e seus aspectos ergonmicos. Para Martins e Laugeni (2006), o trabalho e o local de trabalho devem se adequar ao homem e no o contrrio. As empresas do ramo da indstria de confeces buscam oferecer aos seus colaboradores postos de trabalho que ofeream condies adequadas para a obteno de um nvel satisfatrio de produtividade com o mnimo desconforto. Nesse cenrio, a empresa Magnfica Confeces busca firmar-se como referncia para o setor da indstria txtil no municpio de Paranaba. Sendo assim, a adequao de seus postos de trabalho s exigncias ergonmicas requisito essencial para a consecuo desse objetivo. Verificando-se as condies de trabalho das colaboradoras da empresa Magnfica Confeces,

apresentou-se a seguinte questo de pesquisa: como as condies ergonmicas existentes nos postos de trabalho da empresa Magnfica Confeces de Paranaba concorrem para o desempenho dos colaboradores da empresa? No af de responder a essa pergunta orientadora, o trabalho buscou analisar as condies ergonmicas nos postos de trabalho dessa empresa. Especificamente, procurou-se:

identificar os agentes que participam do processo produtivo e a infraestrutura fsica disponibilizada para eles; conhecer as atividades laborais desenvolvidas pelas colaboradoras e suas percepes sobre a influncia da ergonomia no exerccio dessas atividades; analisar os postos de trabalho sob seus aspectos ergonmicos com base naquilo que foi identificado tanto na literatura como em normas regulamentadoras pesquisadas; propor solues e/ou alternativas para a adequao quilo que encontrado na literatura e na legislao.

Em relao aos resultados prticos, esta pesquisa procura conscientizar a organizao estudada da necessidade de adequar-se s exigncias contidas na NR 17 Ergonomia e, consequentemente, oferecer condies de trabalho mais adequadas s suas colaboradoras, atendendo legislao vigente. Busca-se incentivar o interesse pelo assunto abordado tanto da organizao pesquisada quanto dos acadmicos interessados em desenvolver pesquisas nesta rea. Objetiva-se, tambm, suscitar nas empresas a percepo de suas responsabilidades na manuteno de postos de trabalho adequados e que ofeream condies propcias ao desenvolvimento eficiente das atividades produtivas. 2. REVISO DA LITERATURA

Para Martins e Laugeni (2006), a funo produo, entendida como o conjunto de atividades que levam transformao de um bem tangvel em um outro de maior utilidade, acompanha o homem desde sua origem. No incio, a produo revelava-se extremamente artesanal. Com a Revoluo Industrial, esse modelo produtivo tornou-se

Revista de Gesto USP, So Paulo, v. 16, n. 4, p. 61-75, outubro-dezembro 2009

63

Carlos Rodrigues da Silva, Marco Antnio Costa da Silva, Sinai Rodrigues da Silva, Juliana Cristina Caldeira de Souza e Silvana Duarte dos Santos

obsoleto. A inveno da mquina a vapor, em 1764, promoveu a substituio da fora de trabalho humana pela fora da mquina. Essa revoluo na maneira pela qual os produtos eram fabricados trouxe consigo algumas exigncias relativas s diferentes reas da Administrao: com relao produo, houve a padronizao dos produtos e as consequentes implicaes nos processos de fabricao; no que se refere aos Recursos Humanos, aumentou a necessidade de habilitao da mo de obra direta, com treinamentos tcnicos; nas relaes com o mercado, passou-se a desenvolver e aprimorar tcnicas de vendas; para gerenciar essas mudanas, foram necessrios a criao e o desenvolvimento de quadros gerenciais e de superviso, para os quais desenvolveram-se tcnicas de planejamento e controles financeiros (DRUCKER, 2002). No fim do sculo XIX surgiram os trabalhos de Frederick Winslow Taylor, que sistematizaram o conceito de produtividade, ou seja, a procura incessante por melhores mtodos de trabalho e processos de produo, com o objetivo de obter melhoria da produtividade com o menor custo possvel. Taylor acreditava que, para resolver um dos principais problemas da poca, os salrios, era necessrio descobrir, de maneira cientfica e exata, qual a velocidade mxima em que o trabalho poderia ser executado. Sua resposta para esse problema foi o que ele chamou de estudo sistemtico e cientfico do tempo, que consistia em dividir cada tarefa em seus elementos bsicos e, com a colaborao dos trabalhadores, cronometr-la e registr-la. Em seguida, eram definidos tempospadro para os elementos bsicos (MAXIMIANO, 2004:154). Para Robbins (2006:490), Taylor conseguiu, utilizando tcnicas de administrao cientificas, definir a melhor maneira de fazer cada trabalho. Dessa forma, ele poderia, depois de selecionar as pessoas certas para os trabalhos, trein-las para que os executassem precisamente do melhor modo. Para motivar os trabalhadores, era favorvel a planos de incentivo salarial. No geral, Taylor obteve melhorias constantes na produtividade, algo em torno de 200% ou mais. Nessa mesma poca surgiram outros tericos da Administrao geral, dentre eles Henry Ford, em 1910, que criou a linha de montagem seriada, revolucionando os mtodos e processos produtivos. Nascia o conceito de produo em massa, caracterizada por grandes volumes de produtos

extremamente padronizados. Para Maximiano (2004:164), foi Henry Ford quem elevou ao mais alto grau os dois princpios da produo em massa: peas padronizadas e trabalhador especializado, para a fabricao de produtos no diferenciados em grande quantidade. O modelo Ford de produo em massa proporcionou uma grande vantagem competitiva, impulsionando a fbrica Ford para a primeira posio da indstria automobilstica mundial. A empresa industrial, a partir de ento, passou a sofrer influncia de duas diferentes correntes de pensamento radicalmente opostas: de um lado, a corrente mecanicista ou objetiva, inspirada em Frederick W. Taylor; de outro, a corrente Humanista ou Behaviorista (Comportamental), que teve como impulso inicial os levantes das classes trabalhadoras. Esses levantes conduziram formao da Comisso de Hoxie (no parlamento norte-americano), a qual tinha como objetivo proteger a classe trabalhadora, que at ento carecia de direitos trabalhistas (ou outros quaisquer), e culminou com a Pesquisa de Hawthorne. De incio, o enfoque foi predominantemente tcnico, valorizando a organizao da empresa, a eficincia dos materiais e, principalmente, os mtodos de trabalho. Tornou-se impossvel, porm, a adoo de um enfoque exclusivamente tcnico pelas organizaes, j que o desenvolvimento tcnico das atividades tambm depende das pessoas. Maximiano (2004:232) preconiza que, ao mesmo tempo em que se consolidou o enfoque tcnico nascido com Taylor e Ford, o enfoque comportamental dos humanistas ganhou espao na teoria e na prtica da administrao. Adotada a perspectiva comportamental, o sistema social adquiriu grande relevncia dentro de uma organizao. Assim, o sistema social, entendido como o conjunto de pessoas e suas necessidades, sentimentos e atitudes, tem igual ou maior influncia que o sistema tcnico sobre o desempenho da organizao. Moreira (2004:285) ensina que a corrente comportamental considera como foco de ateno o prprio indivduo, suas necessidades fsicas e psicolgicas, seu bem-estar e sua satisfao como o trabalho que faz. Para Robbins (2006:496), os participantes do movimento das relaes humanas acreditavam, em geral, na importncia da satisfao do funcionrio um trabalhador satisfeito era um trabalhador produtivo.

64

Revista de Gesto USP, So Paulo, v. 16, n. 4, p. 61-75, outubro-dezembro 2009

Ergonomia: um estudo sobre sua influncia na produtividade

Modernamente, as organizaes possuem uma funo produo que objetiva produzir bens e servios. Para tal fim, alm de outros recursos, precisam de recursos humanos, os quais so coordenados pelos gerentes de produo, que respondem pelo desenvolvimento da atividade produtiva. Grandes mudanas ocorreram no contexto empresarial nas ltimas dcadas. Algumas empresas abandonaram a produo em srie e adotaram uma produo flexvel, globalizada e mais adequada demanda do mercado. A competio e os avanos tecnolgicos geraram outras formas de gesto das empresas e, portanto, inmeras transformaes no mundo do trabalho (CELERINO; PEREIRA, 2008:66). As organizaes tambm mudaram sua forma de ver e tratar a gesto de pessoas, ampliando sua viso e atuao estratgica. Todo processo produtivo somente se realiza com a participao conjunta de diversos parceiros, cada qual contribuindo com algum recurso. Os empregados contribuem com seus conhecimentos, capacidades e habilidades, proporcionando decises e aes que dinamizam a organizao. Nesse contexto, adquirem importncia para as organizaes as condies de trabalho oferecidas ao trabalhador. inegvel, portanto, a relao de causa e efeito entre o ambiente de trabalho, o modo de organizao da produo e a sade do trabalhador. A depender da forma como o processo de trabalho organizado, o cotidiano no local de trabalho configurado por contextos nos quais os modos de trabalhar, de se relacionar, de lidar com o tempo, com o espao e com os equipamentos sabidamente danoso sade (MONTEIRO; GOMES, 1998). A Constituio da Repblica Federativa do Brasil de 1988, em seu artigo 6, inciso XXII, inclui como direito dos trabalhadores a reduo dos riscos inerentes ao trabalho por meio de normas de sade, higiene e segurana. Para que o Estado cumprisse seu papel de garantir os direitos bsicos de cidadania foi necessria a formulao de polticas e aes de governo norteadas por abordagens transversais e intersetoriais. A implementao dessas polticas vem ocorrendo de forma precria, haja vista que a fiscalizao do que preceitua a legislao tem carecido tanto de recursos materiais quanto de pessoal. Nessa perspectiva, as aes de segurana e sade do trabalhador exigem uma atuao multiprofissional, interdisciplinar e intersetorial capaz de contemplar a complexidade

das relaes entre produo-consumo, ambiente e sade (BRASIL, 2004). A partir da constituio do Grupo de Trabalho Interministerial formado pelo Ministrio da Previdncia Social (MPS), Ministrio da Sade (MS) e Ministrio do Trabalho e Emprego (MTE), por meio da Portaria Interministerial 153, de 13 de fevereiro de 2004, surgiu uma poltica nacional de segurana e sade voltada ao trabalhador. Nesse sentido, o Ministrio do Trabalho e Emprego tem expedido normas que objetivam resguardar a sade e a segurana do trabalhador. Tais normas tm recebido a nomenclatura de Normas Regulamentadoras (NR), e a obrigatoriedade de seu cumprimento pelos empregadores prevista na Consolidao das Leis do Trabalho (CLT), em seu artigo 155. A Norma Regulamentadora de Segurana e Sade do Trabalhador (NR 17) estatui em seu item 17.1: Esta Norma Regulamentadora visa a estabelecer parmetros que permitam a adaptao das condies de trabalho s caractersticas psicofisiolgicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar um mximo de conforto, segurana e desempenho eficiente. de responsabilidade da administrao do estabelecimento industrial verificar a adaptao dos postos de trabalho s regras ergonmicas, que visam oferecer ao colaborador mobilirio, equipamentos, condies ambientais e organizao do trabalho adequados eficiente atividade laborativa. Tal responsabilidade fica evidenciada no item 17.1.2. da NR 17: Para avaliar a adaptao das condies de trabalho s caractersticas psicofisiolgicas dos trabalhadores, cabe ao empregador realizar a anlise ergonmica do trabalho, devendo a mesma abordar, no mnimo, as condies de trabalho conforme estabelecido nesta Norma Regulamentadora. Ainda, a Consolidao das Leis do Trabalho (CLT), em seu art. 157, inc. II, atribui s empresas a obrigao de instruir os empregados, mediante ordens de servio, sobre precaues para evitar acidentes de trabalho e doenas ocupacionais. No Brasil, o governo tem demonstrado cada vez mais interesse e preocupao com os aspectos relacionados segurana e sade do trabalhador, sobretudo face aos prejuzos econmicos decorrentes de fatos danosos integridade fsica e mental dos empregados. Em 2003, os gastos da Previdncia Social com pagamento de benefcios

Revista de Gesto USP, So Paulo, v. 16, n. 4, p. 61-75, outubro-dezembro 2009

65

Carlos Rodrigues da Silva, Marco Antnio Costa da Silva, Sinai Rodrigues da Silva, Juliana Cristina Caldeira de Souza e Silvana Duarte dos Santos

acidentrios e aposentadoria especial (concedidos em razo de exposio a agentes prejudiciais sade ou integridade fsica, o que fez com que haja reduo no tempo de contribuio) totalizaram cerca de 8,2 bilhes de reais. Entretanto, os valores so estimados e se referem apenas ao setor formal de trabalho (BRASIL, 2004). A Poltica Nacional de Segurana e Sade do Trabalhador tem por finalidade a promoo da melhoria da qualidade de vida e da sade do trabalhador, mediante a articulao e integrao, de forma contnua, das aes de governo no campo das relaes entre produo-consumo, ambiente e sade. Tradicionalmente, no Brasil, as polticas de desenvolvimento tm se restringido aos aspectos econmicos e vm sendo traadas de maneira paralela e pouco articulada com as polticas sociais, s quais cabe arcar com os nus tanto de possveis danos gerados sade da populao, dos trabalhadores em particular, quanto da degradao ambiental. Normalmente, quando se aborda o gerenciamento da atividade produtiva em uma organizao, tende-se a focar os estudos sobre as partes no humanas. No h dvida de que o fator humano desempenha papel importante no desenvolvimento de uma organizao industrial. Para Maximiano (2004:232), desde o incio da moderna sociedade industrial ficou claro que a produtividade e o desempenho das organizaes dependem tambm do comportamento das pessoas, e no apenas da eficincia dos sistemas tcnicos. Nessa mesma linha de pensamento, Slack, Chambers e Johnston (2002:275) afirmam que a forma pela qual os recursos humanos so gerenciados tem impacto profundo na eficcia das funes operacionais e, consequentemente, dos resultados do setor produtivo. Para Moreira (2004:284), qualquer organizao tem um conjunto de trabalhos espalhados de acordo com certos critrios pelas vrias unidades funcionais. Pode-se entender trabalho como um conjunto especfico de atividades atribudas a um colaborador. Nesse contexto, as organizaes devem empreender esforos considerveis na projeo e organizao do trabalho. Quanto melhores forem as condies oferecidas aos colaboradores para o desempenho das atividades, melhores sero os resultados da organizao. Nesse sentido, Slack, Chambers e Johnston (2002:276) afirmam que o projeto de trabalho tem um papel-

chave, pois define a forma pela qual as pessoas agem em relao ao seu trabalho e as expectativas relativas ao que requerido delas, alm de influenciar suas percepes de como contribuem para a organizao. A maior importncia do projeto e organizao do trabalho, porm, diz respeito sua atuao como elemento que fornece aos funcionrios condies de trabalho que maximizam a produtividade e, ao mesmo tempo, protegem sua integridade fsica e psicolgica. Quando oferecidas tais condies favorveis, cria-se um ambiente organizacional propcio ao incremento da capacidade produtiva dos colaboradores. A capacidade produtiva (rendimento) de um mesmo indivduo pode variar ao longo do tempo (variao intraindividual), assim como de indivduo para indivduo (variao interindividual). Limites fixados pela empresa podem superar a capacidade de um ou de vrios trabalhadores, colocando em risco sua sade, uma vez que ocasionam distrbios osteomusculares, como se tem visto frequentemente no trabalho repetitivo (BRASIL, 2002). A Consolidao das Leis do Trabalho, em seu artigo 157, inciso I, afirma ser obrigao das empresas o cumprimento das normas de segurana e medicina do trabalho. Ainda, no inciso II do mesmo artigo, fica a empresa obrigada a instruir os empregados, mediante ordens de servio, a respeito das precaues para evitar acidentes de trabalho ou doenas ocupacionais. As organizaes modernas buscam oferecer aos seus colaboradores as melhores condies possveis de trabalho, com o intuito de obter aumento na produtividade. Moreira (2004:600) acredita que um crescimento na produtividade implica um melhor aproveitamento de funcionrios e mquinas, da energia e dos combustveis consumidos, da matriaprima e assim por diante. No h dvida, portanto, de que a otimizao dos recursos postos disposio de uma organizao, sobretudo os recursos humanos, pode conduzi-la a um nvel de produtividade satisfatrio, pois, para alcanarem nveis elevados de qualidade e produtividade, as organizaes precisam de pessoas motivadas, que participem ativamente dos trabalhos que executam e que sejam adequadamente recompensadas pelas suas contribuies. Outro aspecto importante diz respeito expectativa de longevidade do trabalhador no

66

Revista de Gesto USP, So Paulo, v. 16, n. 4, p. 61-75, outubro-dezembro 2009

Ergonomia: um estudo sobre sua influncia na produtividade

desempenho de suas atividades. O desempenho eficiente no deve ser encarado apenas como uma otimizao do volume da produo. Para que seja considerado eficiente, necessrio que o trabalhador possa permanecer no processo produtivo durante todo o tempo que a prpria sociedade estipula como sendo seu dever permanecer trabalhando, principalmente agora que o sistema previdencirio est deficitrio. Se o trabalhador deve permanecer por mais tempo na vida ativa, preciso que suas condies permitam a execuo das tarefas at uma idade mais avanada. Querer postergar a idade da aposentadoria sem a contrapartida da melhoria dos postos de trabalho condenar uma grande parcela da populao ao desemprego ou, na melhor das hipteses, a uma aposentadoria precoce por invalidez. Portanto, de interesse de toda a sociedade zelar pela prpria eficincia do seguro social. O elevado ndice de aposentadorias por invalidez devidas aos Distrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT) tem sua origem na forma com que o trabalho tem sido realizado (BRASIL, 2002). A Organizao Internacional do Trabalho (OIT) tem promovido conferncias que estimulam os pases a adotar medidas que incentivem o trabalho decente. Para a OIT, trabalho decente deve ser entendido como aquele adequadamente remunerado, exercido em condies de liberdade, equidade e segurana, capaz de garantir uma vida digna. Entre os pilares estratgicos do denominado trabalho decente est a promoo do emprego de qualidade. No Brasil, a promoo do trabalho decente passou a ser um compromisso assumido entre o governo brasileiro e a OIT a partir de junho de 2003 (BRASIL, 2004). A partir desse compromisso foi criada a Agenda Nacional de Trabalho Decente, que tem como uma de suas prioridades o fomento implementao de parcerias no local de trabalho, para a promoo tanto de uma cultura de preveno de riscos quanto da segurana e sade das trabalhadoras e trabalhadores. Dessa forma, cresce, inclusive no Brasil, a conscincia sobre a necessidade de oferecer ao trabalhador postos de trabalho que ofeream a garantia de um ambiente de trabalho seguro e saudvel. Nesse contexto, a avaliao dos aspectos ergonmicos dos postos de trabalho de fundamental importncia para o oferecimento de condies favorveis ao bem-estar fsico dos trabalhadores e, consequentemente, o aumento da produtividade.

A Associao Brasileira de Ergonomia (ABERGO) define a ergonomia como sendo o estudo das interaes das pessoas com a tecnologia, a organizao e o ambiente para intervenes e projetos que visem melhorar de forma integrada e no dissociada a segurana, o conforto, o bem-estar e a eficcia das atividades humanas (BRASIL, 2002). No mbito internacional, a ergonomia dividida em trs domnios de especializao: ergonomia fsica, ergonomia cognitiva e ergonomia organizacional. Para os objetivos deste trabalho, importante definir ergonomia fsica como aquela concernente s caractersticas da anatomia humana, antropometria, fisiologia e biomecnica em sua relao com a atividade fsica. Os tpicos relevantes incluem a postura no trabalho, manuseio de materiais, movimentos repetitivos, distrbios msculoesquelticos relacionados ao trabalho, projeto de postos de trabalho, segurana e sade. A relao entre o trabalhador e o seu trabalho o objeto de estudo da ergonomia. Para Wisner (1987 apud BRASIL, 2002), ergonomia o conjunto dos conhecimentos cientficos relacionados ao homem e necessrios concepo de instrumentos, mquinas e dispositivos que possam ser utilizados com o mximo de conforto, segurana e eficincia. Quando o posto de trabalho no atende aos requisitos ergonmicos, arcam com os prejuzos no s os trabalhadores e as empresas, mas tambm a sociedade como um todo. Dentre as consequncias resultantes da no adequao aos parmetros ergonmicos, podem ser destacadas a ineficincia da produo, a diminuio do tempo de atividade laborativa e a saturao do sistema previdencirio. A atual Norma Regulamentadora 17 Ergonomia, estabelecida pelo Ministrio do Trabalho por meio da Portaria n 3.751, de 23 de novembro de 1990, define os parmetros que permitem a adaptao das condies de trabalho s caractersticas parafisiolgicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar o mximo de conforto, segurana e desempenho eficiente. Antes da elaborao dessa norma no havia normatizao alguma em que o Ministrio do Trabalho e Emprego pudesse se apoiar para obrigar as empresas a alterar a forma pela qual era organizada a produo. Dessa forma, a fiscalizao das condies ergonmicas oferecidas pelas empresas ficava muito prejudicada, carente de

Revista de Gesto USP, So Paulo, v. 16, n. 4, p. 61-75, outubro-dezembro 2009

67

Carlos Rodrigues da Silva, Marco Antnio Costa da Silva, Sinai Rodrigues da Silva, Juliana Cristina Caldeira de Souza e Silvana Duarte dos Santos

embasamento legal. As normas regulamentadoras expedidas pelo MTE so de observncia obrigatria pelas empresas pblicas e privadas e pelos rgos pblicos da administrao direta e indireta, bem como pelos rgos dos Poderes Legislativo, Executivo e Judicirio, que possuam empregados regidos pela Consolidao das Leis do Trabalho. O objetivo da NR 17 caracterizar a ergonomia como um importante instrumento para garantir a segurana e a sade dos trabalhadores, bem como a produtividade das empresas (BRASIL, 2002). A atual NR 17 representa considervel avano na estruturao das condies dos postos de trabalho nas empresas brasileiras. Antes de sua elaborao, as alteraes na organizao do trabalho eram de iniciativa exclusiva das empresas. At ento, a organizao do trabalho era considerada intocvel e passvel de ser modificada apenas por iniciativa da empresa, muito embora os estudos comprovassem o papel decisivo desempenhado por ela na gnese de numerosos comprometimentos sade do trabalhador. Atualmente, ao empregador cabe realizar a anlise ergonmica dos postos de trabalho, considerando, no mnimo, as condies de trabalho conforme estabelecido pela NR 17. A NR 17 tambm privilegia a participao do trabalhador na soluo dos problemas existentes nos postos de trabalho. A anlise ergonmica do trabalho um processo construtivo e participativo para a resoluo de um problema complexo e exige o conhecimento das tarefas, da atividade desenvolvida para realizlas e das dificuldades enfrentadas para atingir o desempenho e a produtividade exigidos (BRASIL, 2002). 3. METODOLOGIA

caractersticas de determinada populao ou de um fenmeno. Outrossim, uma vez que o fenmeno foi observado no local em que os fatos acontecem, classifica-se como de campo. Ainda, como foram captados e manipulados instrumentos reais, tratouse de uma pesquisa metodolgica. Finalmente, como limitou-se ao estudo de uma nica empresa, configura-se como estudo de caso (ACEVEDO; NOHARA, 2007; VERGARA; 2005). A coleta de informaes ocorreu por meio de observaes que foram registradas em fotos, gravaes e em dirio de campo. O questionrio utilizado contou com questes fechadas e abertas (as questes fechadas foram tanto estruturadas como semiestruturadas). O questionrio foi aplicado pela pesquisadora, que procurou dirimir as dvidas das entrevistadas (OLIVEIRA, 2004; ROESCH, 2007). O universo da pesquisa foi o corpo de colaboradoras e a gerncia da empresa Magnfica Confeces de Paranaba, perfazendo um total de 13 (treze) pessoas. Assim, foram includos na observao todos os elementos formadores e aqueles que circundam o posto de trabalho, tais como as funcionrias, as mquinas e o modo de operao. A pesquisa teve como limite a anlise dos dados obtidos, sem interferir nas atuais condies ergonmicas dos postos de trabalho oferecidas pela empresa. Aps a anlise e comentrio dos dados, so expostas alternativas para as situaes que representam violao legislao, estabelecendo-se assim condies para que o empresrio possa promover as adequaes necessrias. A pesquisa restringiu-se equipe de produo, que, em anlise preliminar, ser a destinatria das possveis adequaes a serem implementadas na empresa. De acordo com o objetivo do trabalho realizado, a anlise e tratamento dos dados foram tanto qualitativos como quantitativos, alm de codificados, apresentados de forma mais estruturada e analisados. Os dados obtidos foram analisados e comparados tendo-se como parmetro o disposto na legislao vigente, sobretudo na NR 17, e na bibliografia especializada. Em razo disso, a anlise caracterizou-se como qualitativa. 4. APRESENTAO DA PESQUISA

Os procedimentos metodolgicos incluram pesquisa bibliogrfica, descritiva, pesquisa de campo, metodolgica e estudo de caso. Nesse sentido, Vergara (2005:49) afirma que as pesquisas no so mutuamente excludentes. Dessa forma, observa-se que neste trabalho sero abordados diferentes tipos de classificao quanto pesquisa. A pesquisa pode ser classificada como bibliogrfica, pois tem como base a teoria encontrada em publicaes como livros e revistas, inclusive eletrnicas, e em stios na internet. tambm descritiva pelo fato de que evidencia

O estudo foi realizado na Magnfica Confeces de Paranaba, organizao voltada produo e

68

Revista de Gesto USP, So Paulo, v. 16, n. 4, p. 61-75, outubro-dezembro 2009

Ergonomia: um estudo sobre sua influncia na produtividade

comercializao de artigos de vesturio. Foi verificado durante a pesquisa que a equipe de produo responsvel pelo processo de corte, costura, acabamento e acondicionamento dos produtos em embalagens. Com relao ao gnero dos trabalhadores da empresa Magnfica Confeces, foi possvel identificar a inexistncia de colaboradores do sexo masculino. Esse fato se justifica pelas peculiaridades das atividades desenvolvidas, as quais, comumente, so desempenhadas por pessoas do gnero feminino. Tomando-se por base os dados coletados por meio dos questionrios, observa-se que a equipe de produo no possui praticamente nenhum conhecimento sobre ergonomia e sua influncia na produtividade. Ficou demonstrado que 100% das funcionrias desconhecem o assunto. Isso se deve, certamente, ao fato de este ser restrito s revistas e livros e sua reduzida divulgao nos meios de comunicao de massa (rdio, televiso, jornais). O grupo de colaboradoras que participam do processo produtivo compe a equipe de produo. Essa equipe composta de 10 costureiras, 1 passadeira, 1 cortadeira e 1 botoneira. Foram aplicados questionrios a todos os membros da equipe de produo. Foi constatado que, em relao ao grau de escolaridade, 3 funcionrias possuem ensino fundamental incompleto, 4 possuem ensino fundamental completo, 2 o ensino mdio incompleto e 4 o ensino mdio completo. Em relao faixa etria da equipe de produo, observou-se que 2 funcionrias possuam idade entre 21 e 30 anos, 5 entre 31 e 40 anos, 4 entre 41 e 50 anos e 2 entre 51 e 60 anos. No que diz respeito remunerao, verificou-se que 53% percebem at R$ 500,00 (quinhentos reais) mensais; 23% percebem entre R$ 500,00 (quinhentos reais) e R$ 700,00 (setecentos reais); e 23% percebem entre R$ 700,00 (setecentos reais) e R$ 1.000,00 (hum mil reais). Quanto ao tempo de servio das funcionrias na empresa Magnfica Confeces, verificou-se uma distribuio bastante variada. Com menos de um ano de servio, h uma funcionria. Com um a trs anos de servio, existem quatro funcionrias. Com trs a cinco anos de servio, so sete funcionrias. Apenas uma funcionria tem mais de dez anos de servio na empresa.

Foram elencados aspectos da incidncia de acidentes de trabalho, bem como da incidncia de dores pela repetio na execuo das tarefas. Foi analisada a frequncia com que ocorrem essas dores pela repetio. Apontaram-se os itens que concorrem para a produtividade, bem como as priorizaes para adequao. Ainda foram ressaltadas as expectativas quanto a melhorias, bem como a existncia de riscos no ambiente de trabalho. Em relao ocorrncia de acidentes no local de trabalho, verificou-se que 8 funcionrias (61,5%) responderam que no sofreram qualquer tipo de acidente. Esse um indicador positivo para a empresa, posto que a maioria de suas colaboradoras no registraram ter acidente de trabalho. No entanto, o ideal seria que no houvesse nenhum registro de acidente no ambiente de trabalho, mas esse registro foi feito por cinco das respondentes. Desses cinco acidentes ocorridos com cinco funcionrias (38,5%), todos foram considerados de pouca gravidade. In loco, foi observado pela pesquisadora que os acidentes ocorridos eram pequenas perfuraes causadas por objetos pontiagudos, principalmente tesouras e agulhas, que fazem parte do dia a dia das respondentes. No que diz respeito indagao sobre se sentem dores ocasionadas pela repetio na execuo de tarefas, 8 funcionrias responderam que sentem dores, ou seja, 61,5%. As funcionrias que responderam que nunca sentem dores ocasionadas pela repetio na execuo de tarefas somam 5, ou seja, 38,4%. A quantidade de funcionrias que afirmam sentir dores pode ser considerada preocupante, visto que, ao sentirem dores, essas colaboradoras no executam suas tarefas com a ateno e eficincia desejveis. O fato de que essas colaboradoras desempenham atividades repetitivas pode concorrer para a incidncia dessas dores, alm do que no se observou tempo para eventuais paradas de 10 minutos, recomendveis a cada 50 minutos, conforme orienta a Norma Regulamentadora 17. Das 8 funcionrias que sentem dores, 5, ou seja, 62,5%, dizem senti-las com bastante frequncia e 3, ou seja, 37,5%, afirmam senti-las com pouca frequncia. Dado extremamente importante foi obtido quando as funcionrias que admitiam sentir dores afirmaram, em sua totalidade, que se as dores ocasionadas pela repetio na execuo das tarefas

Revista de Gesto USP, So Paulo, v. 16, n. 4, p. 61-75, outubro-dezembro 2009

69

Carlos Rodrigues da Silva, Marco Antnio Costa da Silva, Sinai Rodrigues da Silva, Juliana Cristina Caldeira de Souza e Silvana Duarte dos Santos

fossem minimizadas a produtividade aumentaria e o absentesmo diminuiria. Quando, tomados os fatores que compem o ambiente de trabalho (mquinas, iluminao, rudo, ventilao, etc.), indaga-se se sua melhor adequao resultaria em melhoria da produtividade, os resultados indicam a seguinte ordem de prioridade: o nvel de rudo (100%); o espao fsico (84%); a temperatura (76,9%); a ventilao (76,9%); o conforto (76,9%) e as cadeiras (69%). Os itens iluminao e equipamentos, na opinio da maioria das respondentes (84%), no contribuiriam para o aumento da produtividade caso fossem melhor adequados ao ambiente de trabalho. A obteno desses dados importante, pois demonstra a percepo das colaboradoras sobre o relacionamento entre os fatores do ambiente de trabalho (rudo, temperatura, iluminao, etc.), a melhoria das condies desses fatores e sua potencial influncia sobre a produtividade. importante lembrar que mesmo os itens iluminao e equipamentos, apontados como pouco influentes na produtividade, se melhor adequados devem ser objeto de estudo pela organizao, caso esta venha a implantar melhorias. Esses dados demonstram que as colaboradoras esto atentas s suas condies de trabalho. Percebem, pelo contato cotidiano com esses itens, quais deles potencialmente influenciam seus rendimentos. Quando perguntadas se acreditavam que, caso fossem implementadas melhorias nos aspectos ergonmicos ligados s condies de trabalho (como iluminao, cadeiras, espao fsico, nvel de rudo, etc.), sua produtividade aumentaria, 10 funcionrias, ou seja, 77% responderam que sua produtividade aumentaria significativamente e 2 funcionrias, ou seja, 15%, responderam que sua produtividade aumentaria, porm de forma pouco significativa. Apenas 1 funcionria respondeu que sua produtividade no aumentaria caso fossem implementadas melhorias nos aspectos ergonmicos ligados s condies de trabalho. Fica evidente a preocupao das colaboradoras com a influncia que os fatores que compem o ambiente de trabalho tm sobre sua produtividade. Esses dados demonstram tambm que as colaboradoras tm conscincia de que a melhoria na produtividade pode benefici-las. Ainda que no manifestem abertamente seus anseios, essas colaboradoras desejam que haja melhorias para que possam ter melhor qualidade de vida no trabalho. Esse fato foi

registrado em pesquisa da Professora Eda Conte (FERNANDES, 1996). Quando indagadas sobre se acreditam que o desempenho de seu trabalho oferece riscos sua sade ou sua integridade fsica, as entrevistadas, em sua maioria (77%), responderam positivamente. 5. ANLISE DOS RESULTADOS

A empresa Magnfica Confeces no tem apresentado afastamentos de funcionrias do trabalho por motivo de doena ocupacional ou acidentes. Ainda que as funcionrias tenham alegado que sentem dores, no tm registradas ausncias. Fatores diversos podem concorrer para esse ndice, como o receio de descontos salariais, informalmente apontado pelas respondentes durante a pesquisa, e o temor de que a proprietria do estabelecimento soubesse dessa declarao. Conforme observao efetuada no local de trabalho, as tarefas executadas no requerem um maior desenvolvimento de fora muscular. O que as colaboradoras precisam evidenciar so habilidades e destreza no desempenho das atividades laborais. Essas exigncias esto ligadas necessidade de ateno e de certo grau de concentrao. Em razo das peculiaridades das atividades, que quase sempre so as mesmas, esse trabalho pode ser considerado montono. No caso das costureiras, o posto de trabalho compe-se de um permetro com medidas de 1,60 metro por 1,50. Nesse espao, a funcionria, sempre na postura sentada, exerce suas atividades. Durante o perodo em que a pesquisadora esteve na empresa Magnfica Confeces, observou, em conversas informais, que as colaboradoras da empresa avaliam que a adequao do ambiente de trabalho s atividades desenvolvidas , em geral, regular e boa, excetuando-se alguns itens considerados ruins. Segundo o disposto na NR 17, todos os locais de trabalho devem possuir iluminao adequada, natural ou artificial, geral ou suplementar, apropriada natureza da atividade. As funcionrias da Magnfica Confeces entendem que a iluminao do local de trabalho boa. Das 13 funcionrias questionadas, 10, ou seja, 76,9%, avaliam a iluminao como boa. Nenhuma funcionria avaliou a iluminao como ruim. A aprovao pelas funcionrias do grau de iluminao

70

Revista de Gesto USP, So Paulo, v. 16, n. 4, p. 61-75, outubro-dezembro 2009

Ergonomia: um estudo sobre sua influncia na produtividade

do ambiente de trabalho deve-se presena de luz natural proveniente das aberturas (janelas) e de luz artificial proveniente de lmpadas do tipo fluorescente, que so as mais adequadas s atividades que exigem boa iluminao. Ainda que o local de trabalho seja satisfatoriamente iluminado, destaca-se como negativo o fato de que no possui iluminao individual. A iluminao individual facilitaria o manuseio de instrumentos e materiais, posto que as caractersticas dos materiais e equipamentos de trabalho exigem viso aguada. Outrossim, a adoo de iluminao individual poderia prevenir a ocorrncia de acidentes de trabalho. Quanto temperatura do ambiente de trabalho, todas as funcionrias responderam que a consideram regular. A temperatura, porm, no a ideal para o uso de equipamentos como: o ferroeltrico ligado (destaca-se que esse equipamento do tipo industrial, que possui dimenses e capacidade maiores que os ferros caseiros) e motores de mquinas esquentando. Esses fatores deixam o ambiente quente. Com relao temperatura ambiente, a NR 17 prev como confortvel a temperatura ambiente entre 20 e 23 Celsius, que, com certeza, no a temperatura mdia em que as trabalhadoras da Magnfica Confeces desempenham suas atividades. O ambiente de trabalho possui janelas, que permanecem abertas durante todo o perodo de atividade, e ventilao artificial por meio de ventiladores. Alm disso, a fbrica toda em alvenaria, com laje, e sua cobertura composta de telhas do tipo colonial, que ajudam a amenizar a temperatura. Ainda assim, verificou-se que, no perodo de vero, quando as temperaturas so mais altas, a temperatura no ambiente de trabalho tornase desconfortvel, prejudicando o desempenho da atividade produtiva. Em determinados meses do ano, sobretudo no perodo de inverno, h pouca ocorrncia de chuvas, o que ocasiona a diminuio da umidade relativa do ar. Nesse sentido, registra-se que a empresa no possui equipamentos que possam minimizar esse impacto, tais como umidificadores de ar, os quais propiciariam melhoria no nvel de conforto do posto de trabalho. Quando o item indagado foi a ventilao, 9 funcionrias, ou seja, 69,2%, reconheceram que boa e tima. Apenas 4 funcionrias a consideraram regular. A ventilao do ambiente de trabalho se d por meio da entrada de ar pelas aberturas (janelas) e

exaustores. Alm disso, verifica-se a utilizao de ventiladores que promovem a circulao do ar no interior da fbrica. Apesar de as colaboradoras terem avaliado positivamente a ventilao do ambiente, h apenas um exaustor e as janelas possuem dimenses reduzidas, que dificultam a circulao do ar pelo ambiente. Conforme j discorrido no item anterior, as particularidades das atividades desenvolvidas, bem como os equipamentos utilizados no processo produtivo, concorrem para um maior aquecimento, o que demanda uma melhor circulao do ar. Assim, a organizao deve dirigir esforos promoo tanto de uma melhor avaliao desse item quanto de possveis melhorias. Quanto s cadeiras, a maioria (69,2%) das funcionrias considerou essa pea do mobilirio como ruim ou regular. Deve-se ponderar que o trabalho desempenhado pelas costureiras exige preciso e concentrao. Tal exigncia requer, como regra geral, a manuteno da postura sentada, mais afeita a tal atividade. A NR 17 preconiza que sempre que o trabalho puder ser executado na posio sentada, o posto de trabalho deve ser planejado ou adaptado para essa posio. Como visto, a NR 17 reconhece tal posio como sendo a ideal nos postos de trabalho. As cadeiras utilizadas no processo produtivo no so adequadas espcie de atividade exercida pelas funcionrias, no apresentam uma padronizao, uma vez que so utilizadas cadeiras dos mais diversos tipos, e algumas so de plstico e no possuem encosto. As cadeiras sem encosto no oferecem apoio para as costas e as de plstico no oferecem segurana e firmeza suficientes para prolongada permanncia na posio sentada. As cadeiras foram motivo de preocupao das colaboradoras, que, nas suas atividades na mquina de costura, passam a maior parte do tempo sentadas em cadeiras que no tm quaisquer aspectos ergonmicos. Alm disso, a altura entre a cadeira e a mesa fixa, no permitindo colaboradora quaisquer alteraes para adequar esse ambiente s suas particularidades fsicas (como altura ou mesmo peso). Em relao ao espao fsico, 4 funcionrias, ou seja, 30,7%, consideram-no ruim, 2 funcionrias, ou seja, 15,3%, avaliam-no como regular e 7 funcionrias, ou seja, 53,8%, consideram-no bom ou timo. O item rudo foi o que recebeu a pior avaliao dentre todos. Para 76,9% das funcionrias ele excessivo, e para 3 funcionrias, ou seja,

Revista de Gesto USP, So Paulo, v. 16, n. 4, p. 61-75, outubro-dezembro 2009

71

Carlos Rodrigues da Silva, Marco Antnio Costa da Silva, Sinai Rodrigues da Silva, Juliana Cristina Caldeira de Souza e Silvana Duarte dos Santos

23,1%, ele considerado regular. O rudo decorre do funcionamento normal do maquinrio. O item equipamentos considerado todo o aparato posto disposio do trabalhador para a execuo das tarefas, como mquinas e ferramentas. A NR 17 exige que todos os equipamentos que compem um posto de trabalho sejam adequados s caractersticas psicofisiolgicas dos trabalhadores e natureza do trabalho a ser executado. Na empresa Magnfica Confeces todas as trabalhadoras avaliaram os equipamentos como timos. O estado de conservao das mquinas e ferramentas (tesouras, agulhas, etc.) utilizadas no processo produtivo pode ser considerado bastante razovel. A empresa cuidadosa na manuteno peridica das mquinas e na sua lubrificao e utilizao de forma correta. Ainda, a empresa recentemente adquiriu novo maquinrio, modernizando seu parque de mquinas. O conforto engloba os itens anteriormente avaliados, como o nvel de rudo, a temperatura, a ventilao, entre outros. Assim, obteve-se para o item conforto avaliao positiva, j que 9 funcionrias, ou seja, 69,2%, consideraram tal item bom ou timo e 4 funcionrias, ou seja, 30,7%, consideraram-no regular. Verificou-se tambm que a equipe de produo formada, em sua maioria, por funcionrias com poucos anos de atuao na empresa, normalmente entre 1 e 5 anos. Esse dado demonstra a alta rotatividade de funcionrios, o que pode acarretar gastos extras para a empresa (treinamento, pagamento de indenizaes, exames admissionais e demissionais, etc.) e diminuio da produtividade. No obstante isso, o fato de a empresa no apresentar histrico recente de afastamento de funcionrios por motivo de doena ocupacional ou acidente de trabalho, dado bastante positivo, demonstra a conscincia das funcionrias sobre os riscos da atividade laboral sua sade ou integridade fsica. Essa conscientizao favorecer a assimilao das informaes e das mudanas que possam vir a ser implementadas na empresa, visando a adequao dos postos de trabalho s normas sobre ergonomia. Dado que causa preocupao diz respeito s dores ocasionadas pela repetio na execuo de tarefas. As tarefas desenvolvidas pelas funcionrias exigem, via de regra, postura sentada prolongada, e

a operao de mquinas de costura requer o uso repetitivo e coordenado do tronco e das extremidades superiores e inferiores. Para costurar, muitas atividades manuais so executadas e exigem um acompanhamento visual, o que significa que o tronco e a cabea ficam inclinados para a frente. A regio do pescoo e as costas so submetidas a tenses durante perodos longos, o que pode acarretar dores. Apesar da impossibilidade de variar a postura sentada, j que as prprias mquinas de costura so projetadas para tal postura, as trabalhadoras relatam que o espao permite boa liberdade de movimentos. Observa-se que nos trabalhos realizados pelas costureiras a situao mais desejada seria aquela em que, alm do iluminamento geral, se dispusesse de fontes luminosas individuais cuja intensidade pudesse ser regulada. Tal exigncia baseia-se na necessidade de maior iluminao quando se trabalha sobre um tecido escuro e menor e menos ofuscante iluminao se o tecido for claro. Portanto, poder a empresa avaliar a possibilidade de fornecimento de iluminao individual, medida que, dadas as condies especficas da atividade exercida, aumentaria a produtividade e reduziria a possibilidade de acidentes. Quanto ao item temperatura, todas as funcionrias consideraram-no regular, tendo sido citado uma vez como item prioritrio na escala de adequao. A empresa Magnfica Confeces no se utilizada de aparelhos climatizadores de ar condicionado. No entanto, so utilizados ventiladores e o local possui janelas que ajudam a diminuir a temperatura do ambiente. A NR 17 prev como temperatura ideal no local de trabalho aquela que varia de 20 a 23 Celsius. Deve-se levar em considerao, porm, que a atividade exercida pelas trabalhadoras no requer grande esforo fsico e tampouco a utilizao de vestimenta pesada. Ainda assim, importante avaliar a possibilidade de instalao de ventiladores que promovessem a circulao do ar por todo o ambiente, e no apenas ventiladores individuais. Tambm deve ser avaliada a possibilidade de instalao de umidificadores de ar, que provocariam um aumento da umidade do ar e uma consequente diminuio da temperatura. A ventilao foi bem avaliada pelas funcionrias. No entanto, ressalvas devem ser feitas existncia de apenas um exaustor e s reduzidas dimenses das janelas.

72

Revista de Gesto USP, So Paulo, v. 16, n. 4, p. 61-75, outubro-dezembro 2009

Ergonomia: um estudo sobre sua influncia na produtividade

As colaboradoras, em sua maioria, avaliaram o espao fsico como bom ou timo. Percebe-se visualmente que as funcionrias dispem de espao fsico suficiente ao desempenho de suas atividades. No obstante a suficincia do espao fsico, verifica-se que o imvel onde funciona a empresa foi originalmente projetado para fins residenciais e no industriais. Em decorrncia disso, os compartimentos do imvel foram adaptados para acomodar as mquinas, as funcionrias, os materiais e o mobilirio. No entanto, como consequncia dessa adaptao, a linha de produo se desenvolve por 4 cmodos assim distribudos: corte de tecidos, acabamento (arremates finais), conserto e costura. Essa distribuio da execuo das atividades por 4 cmodos diferentes acarreta uma disperso no fluxo da produo e dificuldades na comunicao. O item nvel de rudo se mostra um dos mais problemticos, segundo apontamentos das funcionrias. Para quase 80% delas, o rudo provocado pelas mquinas excessivo e, por quatro vezes, foi citado como o mais importante na escala de prioridades, ao lado das cadeiras. A NR 17 recomenda que, nos locais de trabalho onde so executadas atividades que exijam solicitao intelectual e ateno constantes, o nvel de rudo aceitvel para efeito de controle seja de at 65 dB (decibis). A principal fonte de rudo existente no ambiente de trabalho so as mquinas de costura. Da normal operao dos motores dessas mquinas resulta a emisso de rudos de forma contnua. Os equipamentos, considerados como todo aparato posto disposio do trabalhador para a execuo das tarefas, tais como mquinas e ferramentas, foram avaliados como timos. So dez mquinas de costura, todas em timo estado de conservao, decorrente de aquisio recente e boa manuteno. Os itens considerados ferramentas, como tesouras e rguas, entre outros, tambm esto em timo estado. Isso atende NR 17, a qual exige que todos os equipamentos que compem um posto de trabalho devem ser adequados s caractersticas psicofisiolgicas dos trabalhadores e natureza do trabalho a ser executado. A organizao no oferece pausas para descanso a suas colaboradoras durante a atividade laboral. De segunda-feira a quinta-feira, o trabalho tem incio s 7h, cessando s 11h30. O retorno ocorre s 13h e termina s 17h. Na sexta-feira, o trmino do expediente ocorre s 16h.

6.

PROPOSTA DE INTERVENO

Os agentes participantes do processo produtivo foram identificados. A infraestrutura fsica disponibilizada pela organizao para que esses agentes executem suas atividades tambm foi objeto de identificao. As condies ergonmicas dos postos de trabalho da Magnfica Confeces foram analisadas tomando-se sempre por base o que foi identificado na literatura consultada e na Norma Regulamentadora 17, principal diploma legal sobre o assunto ergonomia. Da identificao, anlise e confrontao das condies ergonmicas do posto de trabalho da organizao resultaram a propositura de solues e alternativas que objetivam a adequao dessas condies quilo que foi encontrado na literatura e imposto pela Norma Regulamentadora 17 Ergonomia. Observou-se que, diante da impossibilidade de alternncia na postura, deve-se oferecer s trabalhadoras condies para que o desconforto da permanncia em determinada postura seja minimizado. Nesse aspecto, verificou-se que as cadeiras utilizadas na indstria so desconfortveis. As cadeiras utilizadas so do tipo apoio de quatro ps, sem rodas e no so ajustveis. Segundo as trabalhadoras, o encosto no serve de apoio s costas. Portanto, a oferta de cadeiras mais adequadas execuo das atividades pode possibilitar sensvel melhoria nas condies de conforto durante a permanncia na postura sentada. Recomenda-se a utilizao de cadeiras giratrias, com ajustamento altura da trabalhadora, assento com material que no deforme, evitando-se assim a utilizao de almofadas, e encosto com forma levemente adaptada ao corpo para proteo da regio lombar. Em geral, na concepo dos postos de trabalho no se leva em considerao o conforto do trabalhador na escolha da postura de trabalho, e sim as necessidades da produo. A postura sentada, adotada no posto de trabalho da organizao, a mais adequada para atividades que exijam preciso, mas apresenta como caractersticas negativas a pequena atividade fsica geral (sedentarismo) e a adoo de posturas desfavorveis. fundamental que a organizao tenha conscincia de que a postura de trabalho sentada deve ser bem concebida (com apoio e inclinaes adequados).

Revista de Gesto USP, So Paulo, v. 16, n. 4, p. 61-75, outubro-dezembro 2009

73

Carlos Rodrigues da Silva, Marco Antnio Costa da Silva, Sinai Rodrigues da Silva, Juliana Cristina Caldeira de Souza e Silvana Duarte dos Santos

prudente analisar a possibilidade de implantao de um sistema de pausas para descanso que possibilite a alternncia da postura sentada e em p. A gerncia deve compreender que as pausas promovem descanso da musculatura e consequente melhora na produtividade da trabalhadora. A NR 17 tambm exige que o mobilirio seja adaptado no s s caractersticas antropomtricas do trabalhador, mas tambm natureza do trabalho, ou seja, s exigncias da tarefa. Mais ainda, a NR 17 prev as caractersticas mnimas que devem ser observadas para os assentos fornecidos aos trabalhadores que executem atividades na posio sentada. Portanto, salutar que a empresa promova a adequao do mobilirio, sobretudo das cadeiras, que foi o item mais lembrado pelas trabalhadoras, como forma de estimular a produtividade, prevenir o aparecimento de dores e leses e, sobretudo, adequar-se NR 17. Vale observar que, nos trabalhos realizados pelas costureiras, a situao mais desejada seria aquela em que, alm do iluminamento geral, a trabalhadora dispusesse de fontes luminosas individuais cuja intensidade pudesse ser regulada. Tal exigncia baseia-se na necessidade de maior iluminao quando se trabalha sobre um tecido escuro, e menor e menos ofuscante iluminao se o tecido for claro. Portanto, a empresa poder avaliar a possibilidade de fornecimento de iluminao individual, medida que, dadas as condies especficas da atividade exercida, aumentaria a produtividade e reduziria a possibilidade de acidentes. O nvel de rudo, considerado pelas funcionrias um dos itens que mais causam incmodo execuo das tarefas, pode ser minimizado pela utilizao de equipamentos de proteo ao aparelho auditivo, conhecidos como tampes de ouvido. Para enfatizar a necessidade de adoo de medidas que reduzam as dores ocasionadas pela repetio na execuo de tarefas, registra-se que todas as trabalhadoras manifestaram acreditar que a eliminao ou reduo de tais dores acarretariam aumento da produtividade. 7. CONSIDERAES FINAIS

ser combatida por meio da informao. Assim, de fundamental importncia que as funcionrias recebam formao e educao bsica em ergonomia, juntamente com instrues sobre a forma de configurar e utilizar os postos de trabalho. As trabalhadoras devem ser encorajadas a comunicar o mais rapidamente possvel gestora qualquer desconforto, para que possam ser feitas uma avaliao e posterior interveno no local de trabalho, a fim de evitar que o desconforto se transforme em leso. Ainda, em relao s caractersticas da atividade executada na empresa, verificou-se que o transporte manual de cargas ocorre em pequena quantidade, de forma descontnua e com peso considerado leve. O objetivo geral que guiou este trabalho foi a verificao de como as condies ergonmicas existentes nos postos de trabalho da empresa Magnfica Confeces de Paranaba concorrem para o desempenho das colaboradoras da empresa e, consequentemente, para os resultados da produo. Os resultados deste trabalho demonstraram que, apesar do desconhecimento do assunto ergonomia por quase todas as funcionrias, h conscincia de que a melhoria nas condies ergonmicas do posto de trabalho importante para a prpria sade e, consequentemente, para o incremento da produtividade. Os objetivos propostos pelo trabalho foram alcanados. Foram identificadas as caractersticas mais importantes dos agentes que participam do processo produtivo e a estrutura fsica posta sua disposio. Verificou-se que, dadas as caractersticas da atividade laboral postura sentada por longos perodos e alto nvel de concentrao , a inadequao ergonmica dos postos de trabalho acarreta desconforto e dores, que, por sua vez, tm influncia malfica sobre o nvel de produtividade. Outrossim, verificou-se que os postos de trabalho da empresa necessitam de investimentos que promovam sua adequao ao disposto na Norma Regulamentadora 17. Foram apresentadas, ao longo do trabalho, de forma meramente exemplificativa, propostas que podem promover a melhoria das condies ergonmicas dos postos de trabalho e, consequentemente, da produtividade, trazendo consequncias positivas para a empresa, posto que o aumento da produtividade implicaria melhores resultados financeiros, alm de melhorias na qualidade, outro resultado positivo para a empresa.

Ficou demonstrado que a ergonomia assunto ignorado por praticamente todas as funcionrias, e que a falta de conhecimento sobre esse tema pode

74

Revista de Gesto USP, So Paulo, v. 16, n. 4, p. 61-75, outubro-dezembro 2009

Ergonomia: um estudo sobre sua influncia na produtividade

Tambm ficou demonstrado que as condies ergonmicas dos postos de trabalho influenciam a produtividade de forma positiva quando adequadas, e negativamente quando inadequadas atividade executada. Essa influncia reconhecida pelas funcionrias, que, em sua grande maioria, acreditam que a melhoria das condies ergonmicas pode resultar em significativo aumento da produtividade. Dessa forma, conclui-se que a implementao de medidas que tendem a melhorar as condies ergonmicas dos postos de trabalho da empresa Magnfica Confeces pode resultar em aumento da produtividade de suas trabalhadoras, preveno ao aparecimento de dores e leses e, ainda, adequao aos ditames impostos pela NR 17. Ainda que a proprietria da Magnfica Confeces tenha oportunizado a realizao da pesquisa na empresa, observaram-se restries a possveis mudanas que acarretem investimentos financeiros. Outro fator limitador refere-se ao receio das entrevistadas em emitir com veracidade seus conceitos sobre a qualidade (ou falta dela) dos instrumentos colocados sua disposio para trabalhar, bem como sobre a infraestrutura fsica do ambiente de trabalho, por temerem sofrer sanes futuras em seus empregos. Assim, a entrevista realizada apresenta alguns vieses referentes a essas informaes. 8. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

CELERINO, S.; PEREIRA, W. F. C. Atributos e prtica pedaggica do professor de contabilidade que possui xito no ambiente universitrio: viso dos acadmicos. Revista Brasileira de Contabilidade, n. 170, 2008. DRUCKER, P. Introduo Administrao: funes, desempenho, produtividade, organizao, estruturas e estratgias.Traduo de Carlos Malferrari. So Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002. FERNANDES, E. C. Qualidade de vida no trabalho: como medir para melhorar. 2. ed. Salvador: Casa da Qualidade, 1996. MARTINS, P. G.; LAUGENI, F. P. Administrao da produo. 2. ed. So Paulo: Saraiva, 2006. MAXIMIANO. A. C. A. Teoria geral Administrao. 4. ed. So Paulo: Atlas, 2004. da

MONTEIRO, M. S.; GOMES, J. R. Reestruturao produtiva e sade do trabalhador: um estudo de caso. Caderno de Sade Pblica, Rio de Janeiro, v. 14, n. 2, abr.-jun. 1998. MOREIRA, D. A. Administrao da produo e operaes. 7. reimp. da 1. ed. So Paulo: Pioneira, 2004. OLIVEIRA, S. L. Tratado de metodologia cientfica. So Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2004. ROBBINS, S. P. Administrao: mudanas e perspectivas. Traduo de Cid Knipel Moreira. So Paulo: Saraiva, 2006. ROESCH, S. M. A. Projetos de estgio e de pesquisa em administrao: Guia para Estgios, Trabalhos de Concluso, Dissertaes e Estudo de Caso. 3. ed. So Paulo: Atlas, 2007. SLACK, N.; CHAMBERS, S.; JOHNSTON, R. Administrao da produo. 2. ed. Traduo por Maria Teresa Corra de Oliveira e Fbio Alher. So Paulo: Atlas, 2002. VERGARA, S. C. Projetos e relatrios de pesquisa em Administrao. 6. ed. So Paulo: Atlas, 2005.

ACEVEDO, C. R.; NOHARA, J. J. Monografia no curso de Administrao: guia completo de contedo e forma. So Paulo: Atlas, 2007. BRASIL. Ministrio do Trabalho. Manual de aplicao da norma regulamentadora n 17. 2. ed. Poder Executivo, Braslia: Secretaria de Inspeo do Trabalho, 2002. BRASIL. Ministrio do Trabalho. Norma regulamentadora no 17 NR 17. Poder Executivo, Braslia: Secretaria de Inspeo do Trabalho, 1990. BRASIL. Poltica nacional de segurana e sade do trabalhador. Portaria Interministerial n 153, de 13 fevereiro de 2004. Braslia: Grupo de Trabalho Interministerial, 2004.

Revista de Gesto USP, So Paulo, v. 16, n. 4, p. 61-75, outubro-dezembro 2009

75