era dos extremos - hobsbawm

68
O AUTOR John Ernest Hobsbawm é considerado um dos mais importantes historiadores do século 20. Hobsbawm misturou suas experiências de vida – de sua família e da história dos judeus errantes pelo mundo – com seu trabalho historiográfico. No caso do marxismo, sem criar nenhum novo conceito ou rever algum mais tradicional, ele aprofundou e transformou em linguagem acessível todos os temas mais importantes do pensamento de esquerda1. Hobsbawm nasceu em 1917 (ano da Revolução Russa), na cidade de Alexandria, no Egito (então protetorado ingês). Na infância, morou na Áustria e na Alemanha. Ainda na adolescência filiou-se ao Partido Comunista. A ascensão de Hitler na Alemanha e a morte de seus pais lhe impeliram a migrar para a Inglaterra em 19332. Estudou em Viena, Berlim, Londres e Cambridge. Foi membro do conselho do King’s College, em Cambridge, de 1949 a 1955, e em 1959 assumiu a cátedra de história do Birkebeck College, na Universidade de Londres3. O LIVRO “ERA DOS EXTREMOS” [...] constitui um balanço da época que decorreu entre o início da Primeira Guerra Mundial e a Queda do Muro de Berlim. Escrito do ponto de vista de quem acredita nas potencialidades da razão e da ciência, este ensaio constitui uma análise incisiva e multifacetada de questões tão amplas e profundas como a Guerra Fria, o Terceiro mundo, as vicissitudes

Upload: sabrina-soares

Post on 13-Sep-2015

35 views

Category:

Documents


3 download

DESCRIPTION

resenha Era dos extremos - Hobsbawm.

TRANSCRIPT

O AUTOR

John Ernest Hobsbawm considerado um dos mais importantes historiadores do sculo 20. Hobsbawm misturou suas experincias de vida de sua famlia e da histria dos judeus errantes pelo mundo com seu trabalho historiogrfico. No caso do marxismo, sem criar nenhum novo conceito ou rever algum mais tradicional, ele aprofundou e transformou em linguagem acessvel todos os temas mais importantes do pensamento de esquerda1. Hobsbawm nasceu em 1917 (ano da Revoluo Russa), na cidade de Alexandria, no Egito (ento protetorado ings). Na infncia, morou na ustria e na Alemanha. Ainda na adolescncia filiou-se ao Partido Comunista. A ascenso de Hitler na Alemanha e a morte de seus pais lhe impeliram a migrar para a Inglaterra em 19332. Estudou em Viena, Berlim, Londres e Cambridge. Foi membro do conselho do Kings College, em Cambridge, de 1949 a 1955, e em 1959 assumiu a ctedra de histria do Birkebeck College, na Universidade de Londres3.

O LIVRO ERA DOS EXTREMOS

[...] constitui um balano da poca que decorreu entre o incio da Primeira Guerra Mundial e a Queda do Muro de Berlim. Escrito do ponto de vista de quem acredita nas potencialidades da razo e da cincia, este ensaio constitui uma anlise incisiva e multifacetada de questes to amplas e profundas como a Guerra Fria, o Terceiro mundo, as vicissitudes da economia, a falncia das ideologias, a cri se das artes entre outros temas. A obra culmina com uma anteviso do que ser o sculo XXI, baseada numa argumentao solidamente fundamentada (informaes da contracapa do livro).

O SCULO: VISTA AREA OLHAR PANORMICO

O autor destaca a estrutura de apresentao da obra como Uma Era de Catstrofe (as quatro dcadas que vo da ecloso da primeira Grande Guerra Mundial at os resultados da segunda); as esse perodo sucede uma fase (25-30 anos) de extraordinrio crescimento econmico e de transformao social a que o autor chama de Era de Ouro e, por fim, uma Era de Desmoronamento (crise) (p.15). Devido a essa apresentao refere que o sculo XX parece uma espcie de sanduche histrico, marcado por oscilaes entre extremos.

Contesta a tese do fim da histria afirmando que a nica generalizao cem por cento segura sobre a histria aquela que diz que enquanto houver raa humana haver histria (p.16).

Refere que entender como e por que o capitalismo, aps a Segunda Guerra Mundial, saltou para a Era de Ouro talvez seja a questo central aos historiadores do sculo XX (p. 18). Destaca a brutalidade e o barbarismo do sculo e ressalta que desde a Primeira Guerra Mundial, o nmero de baixas civis na guerra tem sido muito maior que as militares em todos os pases beligerantes, com exceo dos EUAo nmero de baixas civis em guerras supera o nmero de baixas militares (p.23).

Apresenta trs aspectos que diferenciam o fim do sculo XX do seu incio. 1 Deixou de ser eurocntrico5. 2 A globalizao. 3 O individualismo.

Cap. 1 A ERA DA GUERRA TOTAL

O captulo est divido em 4 partes. Na primeira Hobsbawm ilustra o panorama da Primeira Grande Guerra. Refere os horrores da Guerra e mostra como deu seu incio e percurso. Ela comeou como uma guerra essencialmente europia, entre a trplice aliana de Frana Gr-Bretanha e Russia, de um lado, e as chamadas Potncias Centrais, Alemanha e ustria-Hungria (p.32) . A configurao das alianas:

Potncias Centrais Aliados Alemanha Estados Unidos ustria Hungria Frana Blgica Gr-Bretanha Bulgria Grcia Srvia Itlia Turquia Japo Portugal Romnia Rssia

O autor comenta sobre as tecnologias da 1GG: Veculos blindados Armas qumicas Aeroplanos Submarinos (p.36)

Na parte II o foco na segunda Grande Guerra a qual atribui a Adolf Hitler a responsabilidade pelo ocorrido (p.43). O tratado de Versalhes visto mo injusto e inaceitvel pelos alemes contribuiu com o apoio as ideias nacionalistas defendidas por Hitler, que em 1933 torna-se Chanceler na Cmara do Reichstag. Insatisfaes tornavam-se generalizadas, inclusive no lado vencedor da primeira Guerra. O triunfo do fascismo na Itlia e o apetite imperialista do Japo lhes impeliram a aliarem-se Alemanha na segunda Guerra. Hobsbawm aponta uma srie de fatores que culminaram na Guerra: a no-ao da Liga contra o Japo; a no-tomada de medidas efetivas contra a Itlia em 1935; a no reao de Gr-Bretanha e Frana denncia unilateral alem do Tratado de Versalhes, e notadamente reocupao alem da Rennia em 1936; a recusa de Gr-Bretanha e Frana a intervir na Guerra Civil Espanhola ("no-interveno"); a no-reao destas ocupao da ustria; o recuo delas diante da chantagem alem sobre a Tchecoslovquia (o "Acordo de Munique" de 1938); e a recusa da URSS a continuar opondo-se a Hitler em 1939 (o pacto Hitler-Stalin de agosto de 1939) (p.45). Conclui a parte dois expondo as incalculveis perdas humanas que se teve na Segunda Grande Guerra. Suas perdas so literalmente incalculveis, e mesmo estimativas aproximadas se mostram impossveis, pois a guerra (ao contrrio da Primeira Guerra Mundial) matou to prontamente civis quanto pessoas de uniforme, e grande parte da pior matana se deu em regies, ou momentos, em que no havia ningum a postos para contar, ou se importar (p.50).

Na parte III o autor analisa brevemente guerra total, ou seja da guerra que mobiliza todos os esforos da populao das naes beligerantes. A guerra total era o maior empreendimento at ento conhecido do homem, e tinha de ser conscientemente organizado e administrado (p.52) No fosse pela Segunda Guerra Mundial, e o medo de que a Alemanha nazista explorasse as descobertas da fsica nuclear, a bomba atmica certamente no teria sido feita, nem os enormes gastos necessrios para produzir qualquer tipo de energia nuclear teriam sido empreendidos no sculo xx (p.54).

Na parte IV o historiador se prope a avaliar o impacto humano da era das guerras, e seus custos humanos (p.55). Considera que os conflitos totais viraram guerras populares, tanto porque os civis e a vida civil se tornaram os alvos estratgicos certos, e s vezes principais, quanto porque em guerras democrticas, como na poltica democrtica, os adversrios so naturalmente demonizados para faz-los devidamente odiosos ou pelo menos desprezveis (p.56). Comenta sobre a nova impessoalidade da guerra na qual o matar e estropias torna-se uma consequncia remota de um apertar de boto ou virar uma alavanca [...] a tecnologia tornava suas vtimas invisveis (p.57). A Primeira Guerra Mundial e a Revoluo Russa foraram milhes de pessoas a se deslocarem como refugiados (p.57). O autor traa paralelos e divergncias entre as duas Guerras. Assemelham-se, pois ambas foram episdios de carnificina, ambas acabaram em colapso e deixaram as naes beligerantes exaustas, com exceo dos EUA que deixaram ambas as guerras inclumes e fortalecidos. Diferenciam-se as guerras na medida em que A Primeira Guerra no resolveu nada (p.59) e a segunda trouxe solues pelo menos por dcadas. Os impressionantes problemas sociais e econmicos do capitalismo na Era da Catstrofe aparentemente sumiram. A economia do mundo ocidental entrou em sua Era de Ouro; a democracia poltica ocidental, apoiada por uma extraordinria melhora na vida material, ficou estvel; baniu-se a guerra para o Terceiro Mundo. Por outro lado, at mesmo a revoluo pareceu ter encontrado seu caminho para a frente. Os velhos imprios coloniais desapareceram ou logo estariam destinados a desaparecer. Um consrcio de Estados comunistas, organizado em tomo da Unio Sovitica, agora transformada em superpotncia, parecia disposto a competir na corrida pelo crescimento econmico com o Ocidente. Isso se revelou uma iluso, mas s na dcada de 1960 essa iluso comeou a desvanecer-se. Como podemos ver agora, mesmo o cenrio internacional se estabilizou, embora no parecesse. Ao contrrio da Grande Guerra, os ex-inimigos - Alemanha e Japo - se reintegraram na economia mundial (ocidental), e os novos inimigos - os EUA e a URSS - jamais foram realmente s vias de fato (p.59). Por fim, o autor aponta a natureza das diferenas das revolues que encerram as guerras. As do ps-Primeira Guerra Mundial tinham, como veremos, razes numa repulsa ao que a maioria das pessoas que as viveram encarava cada vez mais como uma matana sem sentido. Tinham sido revolues contra a guerra. As revolues posteriores Segunda Guerra Mundial surgiram da participao popular num conflito mundial contra inimigos - Alemanha, Japo, mais generalizadamente o imperialismo - que, embora terrvel, os que dele participaram julgavam justo. E no entanto, como as duas guerras mundiais, os dois tipos de revoluo ps-guerra podem ser vistos na perspectiva do historiador como um nico processo (p.58).

2. A REVOLUO MUNDIAL

O autor divide o captulo em sete itens que abordam a Revoluo Russa e suas sucessoras. E explica desde o incio a relevncia do tema para o livro: na verdade, no por acaso que a histria do Breve Sculo XX, segundo a definio deste livro, praticamente coincide com o tempo de vida do estado nascido da Revoluo de Outubro [...] A Revoluo de Outubro produziu de longe o mais formidvel movimento revolucionrio organizado na histria moderna (p.62)

I A monarquia russa dava sinais de enfraquecimento desde o final do sc. XIX e inicio do XX, de tal sorte que em 1915 os problemas se agravaram para o Czar. Assim a revoluo de 1917 no causou surpresa, contudo, o carter socialista parecia incongruente com a realidade daquela nao, naquele momento. As condies para uma tal transformao simplesmente no estavam presentes num pas campons que era um sinnimo de pobreza, ignorncia e atraso, e onde o proletariado industrial, o predestinado coveiro do capitalismo de Marx, era apenas uma minscula minoria, embora estrategicamente localizada. Os prprios revolucionrios marxistas russos partilhavam dessa opinio. Por si mesma, a derrubada do czarismo e do sistema de latifundirios iria produzir, e s se poderia esperar que produzisse, uma "revoluo burguesa" (p.64). Entretanto, a Rssia tambm no estava pronta para uma revoluo desse tipo. A populao mostrava-se a favor da revoluo e contrria guerra o que contribuiu para rebelio nesse sentido de apoio ao movimento socialista de Lenin (p.66).

II- No segundo item do captulo h consideraes sobre a situao da Rssia no perodo iminente revoluo bolchevique. Apresenta a revoluo de fevereiro (maro pelo calendrio gregoriano) de 1917 pela queda do czarismo. A manifestao de operrias no Dia da Mulher (23 de fevereiro / 8 de maro6) se combinou com outra manifestao, culminado na greve geral de 1917 e na derrocada do imprio russo. A reivindicao bsica dos pobre da cidade era po, e a dos operrios entre eles, melhores salrios e menos horas de trabalho. A reivindicao bsica dos 80% de russos que viviam na agricultura era como sempre terra [...] o slogan Po, Paz e Terra conquistou logo crescente apoio para os que propagavam, em especial os bolcheviques de Lnin [...] (p.68). Houve a formao de um Governo Provisrio, dos conselhos de base, chamados de sovietes7, contudo ainda nesse momento no havia uma liderana, fator esse que possibilitou o feito extraordinrio de Lenin, qual seja: transformar a onda anrquica popular em poder bolchevique sob o argumento de que se os bolcheviques no tomassem o poder uma onda de verdadeira anarquia podia tornar-se mais forte o que enfraqueceria e entregaria a Rssia Alemanha (ento oponente de guerra). Em 7 de novembro de 1917 o Palcio de Inverno foi tomado pelos Bolcheviques, sem muita resistncia, os quais substituram o Governo Provisrio. Sucedeu-se a esse fato uma brutal e catica Guerra Civil, de 1918 -20 da qual os bolcheviques saram vitoriosos (p.70). Razes para o xito Bolchevique: 1. Modelo organizacional poder nico centralizado no Partido Comunista. 2. nico governo capaz de manter a Rssia integral enquanto Estado. 3. Permitiu ao campesinato tomar a terra.

III- Neste item Hobsbawm analisa as condies da Rssia ps Revoluo de Outubro. A Rssia via-se isolada, empobrecida e atrasada, contudo a onda de revoluo no globo fomentava as esperanas dos bolcheviques no sentido da to sonhada revoluo mundial. Ao longo desse item o autor pontua uma srie de revolues e adeses simpticas ao iderio vermelho (p.72) demonstrando o impacto da Revoluo Russa. Contudo, o que Lenin e os bolcheviques queriam no era um movimento de simpatizantes internacionais da Revoluo de Outubro, mas um corpo de ativistas absolutamente comprometidos e disciplinados, uma espcie de fora de ataque global para a conquista revolucionria. Os partidos no dispostos a adotar a estrutura leninista eram barrados ou expulsos da nova Internacional [Terceira Internacional Comunista8] (p.76).

IV Aqui o autor refere que, apesar das dificuldades e fracassos, apesar das acusaes e crticas de que Moscou perdia oportunidades de revoluo e que errava pela centralizao, o movimento comunista manteve sua unidade, coeso e impressionante imunidade a fisso inspirando e apoiando pretensos pases revolucionrios a exemplo da revoluo cubana. Perodo no qual, entretanto, o movimento comunista comeara a perder o nimo (p.81).

V VI e VII : Pargrafo sntese: diz que a Revoluo Russa central para o entendimento do Sculo XX uma vez que se revelou salvadora do capitalismo liberal tanto possibilitando ao Ocidente ganhar a Segunda Guerra Mundial contra a Alemanha de Hitler quanto fornecendo o incentivo para o capitalismo se reformar, e tambm - paradoxalmente graas aparente imunidade da Unio Sovitica Grande Depresso, o incentivo a abandonar a crena na ortodoxia do livre mercado (p.89).

3. RUMO AO ABISMO ECONMICO

Nesse captulo o autor analisa a Grande Depresso, ou seja, o colapso da economia mundial no perodo entre as Guerras. Primeira Guerra Mundial foi seguida por um tipo de colapso verdadeiramente mundial, sentido pelo menos em todos os lugares em que homens e mulheres se envolviam ou faziam uso de transaes impessoais de mercado ( p. 91).

Sugeriam-se vrios motivos para estagnao desde a auto-suficincia dos Estados Unidos at a questo da auto-proteo das economias. Os preos e o desemprego em 1929 foram alarmantes. O padro ouro no conseguia resistir s tenses (p.94) Na Alemanha, em 1923, a unidade monetria foi reduzida a um milionsimo de milho de seu valor de 1913, ou seja, na prtica o valor da moeda foi reduzido a zero [...] as poupanas privadas desapareceram , criando um vcuo quase completo de capital ativo para as empresas o que ajuda a explicar a dependncia macia de emprstimos estrangeiros da economia alem nos anos seguintes e sua vulnerabilidade quando veio a Depresso ( p.94). Dois fatos indicam uma fraqueza na economia: A queda de preos dos produtos primrios e a invaso de capital estrangeiro (p.95).

O Brasil tornou-se um smbolo do desperdcio do capitalismo e da seriedade da Depresso, pois seus cafeicultores tentaram em desespero impedir o colapso dos preos queimando caf em vez de carvo em suas locomotivas a vapor (p.95). Para os agricultores dependentes do mercado, sobretudo do mercado de exportao, isso significou a runa, a menos que pudessem recuar para o tradicional ltimo reduto do campons, a produo de subsistncia (p.96). Foi precisamente a ausncia de qualquer soluo dentro do esquema da velha economia liberal que tomou to dramtica a situao dos tomadores de decises econmicas. Para enfrentar a crise imediata, a curto prazo, eles tinham, em sua viso, de solapar a base a longo prazo de uma economia mundial florescente. Numa poca em que o comrcio mundial caiu 60% em quatro anos (1929-32), os Estados se viram erguendo barreiras cada vez mais altas para proteger seus mercados e moedas nacionais contra os furaces econmicos mundiais, sabendo muito bem que isso significava o desmantelamento do sistema mundial de comrcio multilateral sobre o qual, acreditavam, devia repousar a prosperidade do mundo (p.98). Numa nica frase: a Grande Depresso destruiu o liberalismo econmico por meio sculo (p.99). Os keynesianos afirmavam, corretam ente, que a demanda a ser gerada pela renda de trabalhadores com pleno emprego teria o mais estimulante efeito nas economias em recesso (p.100). Complicaes polticas que explicam a severidade do colapso econmico: Assimetria de desenvolvimento entre Estados Unidos e o Resto do mundo. A no gerao de demanda suficiente para expanso duradoura (p.104). Mesmo a pior depresso cclica mais cedo ou mais tarde tem de acabar, e aps 1939 havia sinais cada vez mais claros de que o pior j passara. De fato, algumas economias dispararam na frente (p.105).

O perodo de 1929-33 foi um abismo a partir do qual o retomo a 1913 tornou-se se no apenas impossvel, como impensvel. O velho liberalismo estava morto, ou parecia condenado. Trs opes competiam agora pela hegemonia intelectual-poltica. O comunismo marxista; [...] o capitalismo [e o] fascismo (p.111).

4. A QUEDA DO LIBERALISMO

O colapso dos valores e das instituies da civilizao liberal talvez tenha sido o que mais chocou os sobreviventes do sc XX (p.113) As instituies da democracia liberal haviam avanado politicamente e o barbarismo ocorrido entre 1914-18 apenas apressou esse avano, com exceo da Rssia todos os regimes que emergiram da Primeira Guerra eram basicamente parlamentarista representativos eleitos (p.113). Nas Amricas haviam poucos estados independentes no autoritrios. O liberalismo fez uma retirada durante a Era das Catstrofes e esta se acelerou depois que Hitler se tornou chanceler (p.115). A ascenso da direita radical aps a Primeira Guerra Mundial foi sem dvida uma resposta ao perigo, na verdade realidade, da revoluo social e do poder operrio em geral, e Revoluo de Outubro e ao leninismo em particular. Sem esses, no teria havido fascismo algum, pois embora os demaggicos ultradireitistas tivessem sido politicamente barulhentos e agressivos em vrios pases europeus desde o fim do sculo XIX, quase sempre haviam Sido mantidos sob controle antes de 1914 [...] contudo, duas importantes restries devem ser feitas tese de que a reao direitista foi essencialmente uma resposta esquerda revolucionria [...] Primeiro, subestima o impacto da Primeira Guerra Mundial sobre uma importante camada de soldados e jovens nacionalistas, em grande parte da classe mdia e mdia baixa, os quais, depois de novembro de 1918, ressentiram-se de sua oportunidade perdida de herosmo [...] segundo, a reao da direita respondeu no ao bolchevismo como tal, mas a todos os movimentos que ameaavam a ordem existente da sociedade ou podiam ser culpados pelo seu colapso, especialmente a classe operria organizada (p.127) Deve-se dizer no entanto que o fascismo teve algumas grandes vantagens para o capital, em relao a outros regimes. Primeiro, eliminou ou derrotou a revoluo social esquerdista, e na verdade pareceu ser o principal baluarte contra ela. Segundo, eliminou os sindicatos e outras limitaes aos direitos dos empresrios de administrar sua fora de trabalho. Na verdade, o "princpio de liderana" fascista era o que a maioria dos patres e executivos de empresas aplicava a seus subordinados em suas firmas, e o fascismo lhe dava justificao autorizada. Terceiro, a destruio dos movimentos trabalhistas ajudou a assegurar uma soluo extremamente favorvel da Depresso para o capital. Enquanto nos EUA os 5% de unidades consumidoras do topo viram entre 1929 e 1941 sua fatia de renda total (nacional) cair 20% (houve uma tendncia igualitria semelhante, porm mais modesta, na Gr-Bretanha e na Escandinvia), na Alemanha os 5% do topo ganharam 15% durante o mesmo perodo (Kuznets, 1956). Finalmente, como j se disse, o fascismo foi eficiente na dinamizao e modernizao de economias industriais - embora de fato menos no planejamento tcnico- cientfico ousado e a longo prazo das democracias ocidentais (p.132). Hobsbawm aponta 4 caractersticas favorveis de uma democracia representativa que nem sempre eram contempladas o que tornava vulnervel a poltica liberal. Consentimento e legitimidade democrtica. Compatibilidade entre os vrios componentes do povo (representatividade)

5. CONTRA O INIMIGO COMUM

(144) Pesquisa de opinio pblica nos Estados Unidos em janeiro de 1939 apontava que os norte-americanos queriam que a URSS vencesse a guerra, e no a Alemanha (83%). Nada parece mais anmalo do que essa declarao de simpatia, ou pelo menos preferncia pelo bero da revoluo mundial em detrimento de um pas vigorosamente anticomunista e cuja economia era reconhecidamente capitalista. (145) Essa situao foi determinada pela ascenso e queda da Alemanha de Hitler (1933-45), contra a qual EUA e URSS fizeram causa comum, porque a viam como um perigo maior do que cada um ao outro. O que acabou forjando a unio contra a Alemanha foi o fato de que no se tratava apenas de um Estado-Nao com razes para sentir-se descontente com a sua situao, mas de um Estado cuja poltica e ambies eram determinadas por sua ideologia. Em suma, de que era uma potencia fascista. (...) Podia-se fazer oposio ou acordo, contrabalanar ou, se necessrio, combater a Alemanha, dependendo dos interesses da poltica de Estado de cada pas e da situao geral. A medida em que avanava a dcada de 1930, tornava-se cada vez mais claro que havia mais coisas em questo do que o relativo equilbrio de poder entre os Estados-nao que constituam o sistema internacional (...), uma guerra civil ideolgica internacional. (146) (...) as linhas cruciais dessa guerra civil no foram travadas entre o capitalismo como tal e a revoluo social comunista, mas entre famlias ideolgicas: de um lado, os descendentes do Iluminismo do Sculo XVIII e das grandes revolues, incluindo, claro, a Russa.; do outro lado, seus adversrios. Em suma, a fronteira passava no entre capitalismo e comunismo, mas entre o que o sculo XIX teria chamado de progresso e a reao s que esses termos j no eram exatamente opostos. Tornou-se uma guerra internacional, porque em essncia suscitou as mesmas questes nos pases ocidentais. Foi uma guerra civil, porque as linhas que separavam as foras pr e antifascistas cortavam cada sociedade. Jamais houve um perodo em que o patriotismo, no sentido de lealdade automtica do governo nacional de um cidado, contasse menos (...) o patriotismo convencional estava agora dividido. (147) Membros de cada povo combateram dos dois lados. O que uniu essas divises civis locais numa nica guerra global, internacional e civil, foi o surgimento da Alemanha de Hitler. Ou, mais precisamente, entre 1931 e 1941, a marcha para a conquista e a guerra da aliana de Estados Alemanha, Itlia e Japo, do qual a Alemanha de Hitler se tornou o pilar central. (...) o Eixo se ampliava as suas conquistas em relao aos territrios de pases vizinhos. Em 1935, a Alemanha comunicou sua ruptura com os tratados de paz e ressurgiu como grande potencia militar e naval, reapossando-se (por plebiscito) da regio do Saar em sua fronteira ocidental e desligando-se com desprezo da Liga das Naes. (148) As duas potncias fascistas fizeram um alinhamento formal, o Eixo Berlim-Roma, enquanto Alemanha e Japo concluam um Pacto Anti_Comintern. (...) Quase imediatamente uma crise polonesa, mais uma vez resultante de mais exigncias territoriais alems, paralisou a Europa. Disso veio a guerra europeia de 1939-41, que se tornou a Segunda Guerra Mundial. Contudo, um outro fator entrelaou os fios da poltica nacional numa nica teia internacional: a consistente e cada vez mais espetacular debilidade dos Estados democrticos liberais (que coincidem ser tambm os Estados vitoriosos da Primeira Guerra Mundial); a sua incapacidade ou falta de vontade de resistir ao avano de setores inimigos. (...) A popularidade da URSS, e a relutncia em criticar o que acontecia l, deveram-se basicamente sua oposio Alemanha nazista, muito diferente das hesitaes do Ocidente. A mobilizao de todo potencial de apoio contra o fascismo, isto , contra o campo alemo, portanto, foi um triplo apelo pela unio de todas as foras polticas que tinham um interesse comum em resistir ao avano do Eixo; por uma poltica real de resistncia; e por governos dispostos a executar essa poltica. Na verdade, foram necessrios mais que oito anos para conseguir essa mobilizao. (...) Porque a resposta a todos os trs apelos foi, inevitavelmente, hesitante, gaguejante ou confusa. (149) nazismo tratava a todos - comunistas, liberais, socialistas como inimigos a serem igualmente destrudos. Os comunistas (...) transformaram-se nos mais sistemticos e, como sempre, mais eficientes defensores da unidade antifascista. Estes pensaram numa extenso mais ampla, numa Frente Nacional de todos que, independentemente de crenas ideolgicas e polticas, encaravam o fascismo. Essa extenso da aliana antifascista enfrentou maior resistncia na esquerda tradicional, at que a lgica da guerra acabou por imp-la. (150) Houve vitorias nas unidades eleitorais do centro e da esquerda, mostrando uma mudana de opinio dentro da esquerda em favor do Partido Comunista. O antifascismo, portanto, organizou os adversrios tradicionais da direita, mas no inflou os seus nmeros; mobilizou mais facilmente as minorias que as maiorias. Entre essas minorias, os intelectuais e os interessados nas artes estavam particularmente abertos a seu apelo. (151) O racismo nazista logo provocou o xodo em massa de intelectuais judeus e esquerdistas, que se espalhavam pelo que restava de um mundo tolerante. (...) Alm disso, embora os cidados comuns pudessem desaprovar as barbaridades mais brutais do sistema (...) um numero surpreendentemente grande via tais barbaridades, na pior das hipteses como aberraes limitadas. Os intelectuais ocidentais (...) foram, portanto, a primeira camada social mobilizada em massa contra o fascismo na dcada de 1930. Era ainda uma camada social pequena, mas extraordinariamente influente, especialmente por incluir os jornalistas, que, nos pases no fascistas do Ocidente, desempenharam um papel crucial alertando at mesmo os leitores e governantes mais conservadores para a natureza do nacional-socialismo. A poltica de resistncia ascenso do campo fascista era, mais uma vez, simples e lgica no papel. Tratava-se de unir todos os pases contra os agressores (a Liga das Naes oferecia potencial para isso), no fazer concesses a eles e, pela ameaa e, se necessrio, pela ao comum, det-los e derrota-los. (152) O maior obstculo era que, ento como agora, mesmo Estados que partilhavam o temor e suspeita dos agressores tinham outros interesses que os dividiam ou podiam ser usados para dividi-los. (...) alguns de seus membros e agencias continuavam a encarar o bolchevismo, interna e externamente, como o inimigo essencial, no esprito das guerras frias ps-1945. Na verdade, foi o temor de ter de enfrentar Hitler sozinho que acabou levando Stalin, desde 1935, um inflexvel defensor de uma aliana com o Ocidente contra Hitler (...) mas, com as fracassadas tentativas de criar uma frente comum contra Hitler, demonstrou as divises entre Estados que tornavam possvel a ascenso extraordinria e praticamente sem resistncia da Alemanha nazista entre 1933 e 1939. (153) Havia um amplo fosso entre reconhecer as potncias do Eixo como um grande perigo e fazer alguma coisa a respeito. (...) A democracia liberal alargou esse fosso. (...) Contudo, o que enfraqueceu a deciso das principais democracias europeias, Frana e Gr-Bretanha, no foram tanto os mecanismo polticos da democracia quanto a lembrana da Primeira Guerra Mundial. (...) Outra guerra como aquela precisava ser evitada quase a qualquer custo. Era, sem dvida o ltimo dos recursos da poltica. (154) A esquerda se achava de fato num dilema. Por um lado, a fora do antifascismo estava em mobilizar os que temiam a guerra, tanta a ultima como os terrores futuros da seguinte. (...) Porto outro lado, uma resistncia ao fascismo no que no previsse o uso de armas no poderia dar certo. A Frana saia dela dessangrada, e potencialmente uma fora ainda menor e mais fraca que a derrotada Alemanha. (...) Fora isso s podiam voltar-se para a Gr-Bretanha e, depois de 1933, para a URSS. Os governos britnicos tinham igual conscincia de uma fraqueza fundamental (...) o problema que de fato os preocupava no era o que acontecia na Europa, mas como manter inteiro, com foras claramente insuficientes, um imprio global geograficamente maior do que jamais existira, mas tambm e visivelmente beira de decomposio. (155) Os dois Estados, portanto, se sabiam fracos demais para defender o seu status quo em grande parte estabelecido em 1919 para entender a seus interesses. Nenhum tinha nada a ganhar com outra guerra, e muito a perder. A poltica obvia e lgica era negociar com a nova Alemanha para estabelecer um padro europeu mais durvel, e isso sem dvida significava fazer concesses ao crescente poder da Alemanha. Contudo, acordo e negociaes eram impossveis com a Alemanha de Hitler, porque os objetivos polticos do nacional socialismo eram irracionais e ilimitados. (156) Mesmo diante da evidencia que eles prprios aceitaram, os apaziguadores na Gr-Bretanha e Frana ainda no conseguiam pensar em negociar a serio uma aliana com a URSS, sem a qual a guerra no podia ser nem adiada nem vencida. Hitler errou de clculo, e os Estados ocidentais declararam guerra, no porque seus estadistas a quisessem, mas porque a poltica do prprio Hitler, depois de Munique, impossibilitou outra sada aos apaziguadores. Foi ele quem mobilizou contra o fascismo as massas at ento descomprometidas. (157) No fcil dizer o que determinou as aes desses estadistas (Frana e Gr-Bretanha), j que eles no foram movidos apenas pelo intelecto, mas por preconceitos, esperanas e receios que, no silencio distorciam a sua viso. Pois, afinal, para a maioria dos polticos britnicos e franceses, o melhor que poderia se conseguir era preservar o status quo no muito satisfatrio e provavelmente insustentvel. E por trs de tudo isso havia a questo de saber se, estando o status quo de qualquer maneira condenado, o fascismo no era melhor do que outra alternativa, a revoluo social e o bolchevismo. Se o nico tipo de fascismo em oferta fosse o italiano, poucos polticos conservadores ou moderados teriam evitado. As disputas de 1930, travadas dentro dos Estados ou entre eles, eram portanto transnacionais. Em nenhuma parte foi isso mais evidente do que na Guerra Civil Espanhola de 1936-39, que se tornou a expresso exemplar desse confronto global. Em retrospecto, pode parecer surpreendente que esse conflito tenha mobilizado instantaneamente as simpatias da esquerda e da direita na Europa e nas Amricas, especialmente dos intelectuais ocidentais. A Espanha era uma parte perifrica da Europa. (158) no foi a primeira fase da Segunda Guerra Mundial, e a vitria do Gel Franco, que nem mesmo pode ser descrito fascista, no teve consequncias globais. Contudo, no foi por acaso que a poltica interna desse pas notoriamente anmalo e autossuficiente se tornou smbolo de uma luta global na dcada de 1930. Suscitou os principais problemas polticos da poca: de um lado, democracia e revoluo social, sendo a Espanha o nico pas na Europa onde ela estava pronta para explodir; do outro, um campo singularmente rgido de contrarrevoluo ou reao, inspirado por uma Igreja Catlica. Os bem intencionados liberais, anticlericais e maons no puderam conter a fermentao social dos espanhis pobres. (...) Em 1933 foram afastados por governos conservadores. (...) Nesse estagio a esquerda espanhola descobriu a Frente Popular do Comintern (...). A ideia de que todos os partidos deveriam formam uma frente nica eleitoral contra a direita fazia sentido para uma esquerda que no sabia muito bem o que fazer. (...) Em fevereiro de 1936, a Frente Popular obteve uma maioria de votos pequena e nada arrasadora, e graas sua coordenao, uma substancial maioria das cadeiras no parlamento espanhol. (159) Neste estagio, tendo falhado a poltica direitista ortodoxa, a Espanha reverteu a uma forma poltica em que fora pioneira, e que se tornara tpica do mundo ibrico: o pronunciamento, ou golpe militar. (...) Os generais espanhis que comearam a tramar a srio um golpe aps a eleio precisavam de apoio financeiro e ajuda prtica, que negociaram com a Itlia. Contudo, os momentos de vitria democrtica e mobilizao poltica de massas no so ideais para golpes militares (...). o golpe de 24 de julho dos generais teve xito em algumas cidades, e enfrentou apaixonada resistncia de pessoas e Foras Armadas leais em outras. (...) Em toda a Espanha, iniciou-se uma longa guerra civil entre governo legitimo e devidamente eleito da Republica, agora ampliado e incluindo socialistas, comunistas e mesmo alguns anarquistas, mas coabitando de maneira pouco confortvel com foras da rebelio de massa que haviam derrotado o golpe, e os generais insurgentes que se apresentavam como cruzados nacionalistas contra o comunismo. (...) Mas os dois lados da guerra civil precisavam de apoio. E recorreram a patrocinados potenciais. (160) A Frana estava ansiosa por ajudar, e deu alguma assistncia (oficialmente no reconhecida) Repblica, at ser exortada a uma poltica oficial de no interveno por divises internas e pelo governo britnico, profundamente hostil ao que via como avano da revoluo social e do bolchevismo. (...) De setembro de 1936 em diante, a Rssia enviou sem reservas, embora no exatamente de modo oficial homens e materiais para apoias a Republica. (...) os liberais, at os mais extremistas da esquerda, reconheceram de imediato como sua a luta espanhola. E o que mais: ali, e somente ali, a interminvel e desmoralizante queda da esquerda era detida por homens e mulheres que combatiam a avano da direita armada. Mesmo antes de a Internacional Comunista comear a organizar as Brigadas Internacionais, de fato antes que as primeiras colunas organizadas de voluntrios aparecessem no front, voluntrios estrangeiros j lutavam pela Repblica em certa quantidade. (161) E o avano gradual, mas aparentemente invencvel, do lado nacionalista, a derrota e morte previsveis da Republica, apenas tornavam mais desesperadamente urgente forjar a unio contra o fascismo mundial. (162) Na poca, a Guerra Civil Espanhola no pareceu um bom pressagio para a derrota da fascismo. Internacionalmente, foi uma verso em miniatura de uma guerra europeia, travada entre Estados fascistas e comunistas. As democracias ocidentais continuaram no tendo certeza de nada, a no ser de seu no envolvimento. Internamente, foi uma guerra em que a mobilizao da direita se mostrou muito mais efetiva do que a da esquerda. (...) A Internacional Comunista mobilizara todos os seus formidveis talentos em favor da Republica espanhola. E, no entanto, a Guerra Civil Espanhola antecipou a moldou as foras que iriam, poucos anos depois da vitria de Franco, destruir o fascismo. Antecipou a poltica da Segunda Guerra Mundial, aquela aliana nica de frentes nacionais que iam de conservadores patriotas e revolucionrios sociais, para a derrota do inimigo nacional e simultaneamente para a regenerao social (por uma sociedade melhor - estado de bem estar, Relatorio Beveridge No se queria voltar ao passado como no ps I Guerra Mundial). O verdadeiro esforo intelectual dos planejadores do ps-guerra era dedicado a aprender lies da Grande Depresso e da dcada de 1930, para que no se repetissem. Quanto aos movimentos de resistncia (163) nos pases derrotados e ocupados pelo Eixo, a inseparabilidade de libertao e revoluo social, ou pelo menos de uma grande transformao, era, para eles, indiscutvel, sob a justificativa da defesa da democracia. (164) Em vrios pases da Europa Central e Oriental, uma linha levada diretamente ao antifascismo e uma nova democracia dominada, e eventualmente absorvida, pelos comunistas, mas at a ecloso da Guerra Fria o objetivo desses regimes do ps-guerra no era, de maneira especfica, a converso imediata para sistemas socialistas ou a abolio do pluralismo poltica e da propriedade privada. (...) Em suma, a lgica da guerra antifascista conduzia a esquerda. At quase uma dcada de aparente fracasso total da linha de unidade antifascista do Comintern, Stalin tirou-a de sua agenda, pelo menos naquele momento e no apenas chegou a um acordo com Hitler, como instruiu o movimento internacional a abandonar a estratgia antifascista. (...) Contudo, em 1941, a lgica da linha do Comintern acabou por se impor. Pois quando a Alemanha invadiu a URSS e trouxe os EUA para a guerra em suma quando a luta contra o fascismo se transformou por fim numa guerra global -, a guerra tornou-se to poltica, quanto militar. Internacionalmente, transformou-se numa aliana entre capitalismo dos EUA e comunismo da Unio Sovitica. (...) formam uma coalizao de resistncia que fosse de um lado a outro do espectro poltico. (165) A historia dos movimentos de resistncia europeia em grande parte mitolgica (...). Duas coisas se devem dizer sobre eles. Primeiro, sua importncia militar (com a possvel exceo da Rssia) foi insignificante antes de a Itlia retirar-se da Guerra em 1943, e no decisiva em parte alguma (...). Deve-se repetir que seu principal significado foi poltico e moral. (166) A segunda que sua poltica pendia para a esquerda. Em cada pas os fascistas, os radicais de direita, os conservadores, ricos locais e outros cujo principal terror era a revoluo social, tendiam a simpatizar, ou pelo menos a no se opor aos alemes; o mesmo faziam vrios movimentos regionalistas ou nacionalistas menores. (...) O mesmo fizeram os elementos profunda e intransigentemente anticomunistas da Igreja Catlica. Isso explica o extraordinrio destaque dos comunistas no movimento de resistncia e, consequentemente, seu espantoso avano poltico durante a guerra. Os movimentos comunistas europeus atingiram o auge de sua influencia em 1945-47 por esse motivo, e das heroicas e suicidas tentativas de resistncia nos trs anos seguintes. (167) Aumento dos movimentos comunistas: os comunistas passaram resistncia porque situaes extremas, como ilegalidade, represso e guerra, eram exatamente a que esses corpos de revolucionrios profissionais se destinavam. (...) Nisso diferiam dos partidos socialistas de massa, que achavam quase impossvel operar fora da legalidade que definia e determinada suas atividades. Estes tenderam a entrar em hibernao. Duas outras caractersticas ajudaram os comunistas a destacar-se da Resistncia: seu internacionalismo e a apaixonada convico com que dedicavam suas vidas causa. O primeiro possibilitou-lhes mobilizar homens e mulheres mais abertos ao apelo antifascista do que a qualquer convocao patritica. (168) E a segunda gerou uma combinao de bravura, autossacrifcio e brutalidade que impressionou at mesmo seus adversrios. O caso do amor dos intelectuais franceses pelo marxismo, e o domnio da cultura italiana por pessoas ligadas ao Partido Comunista, que duraram ambos uma gerao. Com exceo das fortalezas guerrilheiras nos Blcs, os comunistas no tentaram estabelecer regimes revolucionrios em nenhum lugar. (...) As revolues comunistas de fato feitas, o foram contra a opinio de Stalin. A opinio sovitica era que, internacionalmente em cada pas, a poltica do ps-guerra devia continuar dentro do esquema de aliana antifascista abrangente, isto , buscava uma coexistncia, a longo prazo, de sistemas capitalistas e comunistas, e maior mudana social e poltica, presumivelmente por transformaes dentro do novo tipo de democracia que surgiria das coalizes do tempo de guerra. (169) O socialismo se limitaria URSS e rea destinada negociao diplomtica como sua zona de influencia, isto , basicamente a coupada pelo Exercito Vermelho no fim da guerra. A diviso do globo, ou de uma grande parte dele, em duas zonas de influncia, negociadas em 1944-45, permaneceu estvel. Nenhum lado cruzou mais que momentaneamente a linha que os dividiu durante trinta anos (...) assegurando, assim, que as guerras frias mundiais jamais se tornassem quentes. O breve sonho de Stalin, de uma parceria americano-sovitica no ps-guerra no fortaleceu de fato a aliana global de capitalismo liberal e comunista contra o fascismo. Em vez disso, demonstrou sua fora e amplitude. evidente que se tratava de uma aliana contra uma ameaa militar e que nunca teria existido sem uma srie de agresses da Alemanha nazista, culminado com a invaso da URSS e a declarao de guerra aos EUA. (170) Se fazia necessrio apresentar propostas de uma mudana social. Onde houve eleies autenticas, elas mostraram uma ntida mudana para a esquerda. Na Gr-Bretanha, os dois grandes partidos haviam se envolvido igualmente no esforo da guerra. O eleitorado escolheu aquele que prometia tanto a vitria quanto a transformao social. O fenmeno foi geral na Europa Ocidental guerreira. (171) Em todos esses pases (tomados pelo eixo) iria comear uma era de macia transformao social. Muito curiosamente, a URSS foi (como os EUA) o nico pas beligerante a que a guerra no trouxe nenhuma mudana social e institucional significativa. Comeou e terminou o conflito sob Yosif Stalin, contudo, est claro que a guerra imps enormes tenses estabilidade do sistema. (...) Por outro lado, a verdadeira base da vitria sovitica foi o patriotismo da nacionalidade majoritria da URSS. Na verdade, a Segunda Guerra Mundial se tornou oficialmente conhecida na URSS como a Grande Guerra Patritica, corretamente. Oriente: Para a maior parte da sia, frica e o mundo islmico, o fascismo como ideologia, ou como poltica de um Estado agressor no era, e jamais se tornou o principal e muito menos o nico inimigo. Esta era (172) o imperialismo ou o colonialismo, e as potencias imperialistas eram, em sua maioria, as democracias liberais: Gr-Bretanha, Frana, os Pases Baixos, Blgica e EUA. Alem disso, todas as potncias imperiais, com exceo do Japo eram brancas. Logicamente os inimigos da potncia imperial eram aliados em potencial na luta pela libertao colonial. (...) A luta imperial e a luta antifascista, portanto, tendiam a puxar para plos opostos. O que exige explicao por que, afinal, o anti-imperialismo e os movimentos de libertao colonial se inclinavam, em sua maioria para a esquerda, e assim se viram, pelo menos no fim da guerra, convergindo com a mobilizao antifascista global. O motivo fundamental que a esquerda ocidental era o viveiro das teorias e polticas anti-imperialistas, e o apoio aos movimentos de libertao colonial vinha em maior parte da esquerda internacional. (...) Alm disso, os ativistas e futuro a lideres dos movimentos de independncia, (173) sentiam-se mais vontade no ambiente no racista e anticolonial dos liberais, democratas, socialistas e comunistas locais do que a qualquer outro. Era de qualquer modo quase todos modernizadores, aos quais os nostlgicos mitos medievais, a ideologia nazista e o exclusivismo racista de suas teorias lembravam exatamente aquelas tendncias comunalistas e tribalistas que na opinio deles eram sintomas do atraso de seu pas, explorados pelo imperialismo. (174) Apesar de seus conflitos de interesse, que iriam ressurgir aps a guerra, o antifascismo dos pases ocidentais desenvolvidos e o anti-imperialismo de suas colnias viram-se convergindo para que ambos encaravam como um futuro de transformao social ps-guerra. (...) os teatros no europeus no trouxeram grandes triunfos polticos aos comunistas, a no ser nos casos especiais onde o antifascismo coincidiu com a libertao nacional/social: na China e Coria, onde os colonialistas eram japoneses, e na Indochina, onde os inimigos imediatos da liberdade continuaram sendo os franceses, cuja administrao local se subordinava aos japoneses quando esses haviam tomado a regio. Em outras partes, os lideres dos Estados que iriam ser descolonizados vinham de movimentos em geral da esquerda, mas menos preocupados em 1941-5 em dar derrota do Eixo prioridade sobre tudo o mais. (175) As possibilidades de liberdade pareciam melhores do que jamais antes. Isso se reverteu verdade, mas no sem algumas brutais aes reacionrias dos velhos imprios. No fim, o fascismo no tinha mobilizado nada alm de seus pases originais, a no ser um punhado de minorias ideolgicas da direita radical. (176) O fascismo desapareceu com a crise mundial que lhe permitira surgir. Jamais fora, mesmo em teoria, um programa ou projeto poltico universal. Por outro lado, o antifascismo, por mais heterogneo e transitrio que fosse sua mobilizao, conseguiu unir uma extraordinria gama de foras. E o que e mais, essa unidade no foi negativa, mas positiva, e, em certos aspectos, duradoura. Ideologicamente, baseava-se nos valores e aspiraes partilhadas do Iluminismo e a Era das Revolues: progresso pela aplicao da razo e da cincia; educao e governo popular; nenhuma desigualdade baseada em nascimento ou origem; sociedades voltadas mais para o futuro que para o passado. Algumas dessas semelhanas existiam apenas no papel, embora no seja inteiramente sem importncia o fato de entidades polticas distantes da democracia ocidental. (...) atribuir-lhe o ttulo oficial de repblica. Em outros aspectos, as aspiraes comuns no eram to distantes da realidade comum. O capitalismo constitucional ocidental, os sistemas comunistas e o Terceiro Mundo estavam igualmente comprometidos com iguais direitos para todas as raas e ambos os sexos, mas no de uma forma que distinguisse sistematicamente um grupo de outro, ou seja, todos ficavam aqum do objetivo comum. Eram todos Estados seculares. Mas precisamente aps 1945 eram quase todos os Estados que, deliberada e ativamente, rejeitavam a supremacia do mercado e acreditam na administrao e planejamento da economia pelo Estado. Os governos capitalistas estavam convencidos de que s o intervencionismo econmico podia impedir um retorno s catstrofes econmicas do entreguerras e evitar os perigos polticos de pessoas radicalizadas. Pases do Terceiro Mundo acreditam que s a ao pblica, podia tirar suas economias do atraso e dependncia. (177) No mundo descolonizado, seguindo a inspirao da Unio Sovitica, a estrada para o futuro parecia ser a do socialismo. (...) Todas as trs regies do mundo avanaram no ps-guerra com a convico de que a vitria sobre o Eixo abria uma nova era de transformao social.

6. AS ARTES 1914-45

, sem duvida fundamental para quem queira entender o impacto da era dos cataclismos no mundo da alta cultura, das artes da elite, e sobretudo na vanguarda. Pois aceita-se que essas artes previam o colapso da sociedade liberal-burguesa com vrios anos de antecedncia. Em 1914, praticamente tudo que se pode chamara pelo amplo e indefinido termo de modernismo j se achava a postos: cubismo; expressionismo; abstracionismo puro na pintura; funcionalismo e ausncia de ornamentos na arquitetura; o abandono da tonalidade na musica; o rompimento com a tradio na literatura. (179) inovaes formais no ps 1914: Dadasmo: antecipou o surrealismo na metade ocidental da Europa e o construtivismo sovitico na Oriental. Tomou forma por meio de um grupo de exilados em Zurique, em 1916, como um angustiado, mas irnico protesto niilista contra a guerra mundial e a sociedade que a incubara, inclusive a sua arte. Como rejeitava toda a arte, no tem caractersticas formais. Basicamente qualquer coisa que pudesse causar apoplexia, entre os amantes da arte burguesa convencional era dadasmo aceitvel. O escndalo era seu principio de coeso. Pois nada havia de discreto no dadasmo. Construtivismo: excurso por esquelticas construes tridimensionais e de preferncias moveis, que tem seu anlogo mais prximo de algumas estruturas de parque de diverses, foi logo absorvido pelo estilo dominante da arquitetura e do desenho industrial, em grande parte por meio da Bauhaus. (180) Surrealismo: tambm dedicado a rejeio arte como estava conhecida, igualmente dado a escndalos pblicos, ainda mais atrado para a revoluo social, era mais um protesto negativo; como seria de esperar de um movimento centrado basicamente na Frana onde toda moda exige uma teoria. (...) O que contava era reconhecer a capacidade da imaginao espontnea, no medida por sistemas de controle racional, para extrair coeso do incoerente, e uma lgica aparentemente necessria do visivelmente ilgico ou mesmo impossvel. Contribuio autntica as artes de vanguarda e sua novidade foi atestada por sua capacidade de causar impacto, incompreenso ou, o que era a mesma coisa, causar riso s vezes. Movimento admiravelmente frtil, sobretudo na Frana e em pases como os hispnicos. (181) Somando-se tudo essas foram ampliaes da revoluo da vanguarda nas grandes artes: a vanguarda se tornou, parte da cultura estabelecida; foi pelo menos uma parte absorvida pela vida cotidiana e; tornou-se dramaticamente politizada. Influenciou bals (Rssia) e no havia mais uma cultura unificada no Velho Mundo. Na Europa, Paris competia com o Eixo Moscou-Berlim. Influenciou a poesia (espanhola) e o cinema (Alemanha de Weimer, Frana, Hollywood) e no jazz (EUA A Era do Jazz). (184) No pode haver duvida alguma de que, menos de vinte anos mais da ecloso da Primeira Guerra Mundial, a vida metropolitana de todo o mundo ocidental encontrava-se claramente marcada pelo modernismo, mesmo em pases como o EUA e a Gr-Bretanha, que pareciam no receptivos eles na dcada de 1920. (185) Depois da Segunda Guerra Mundial o chamado Estilo Internacional de arquitetura modernista transformou o cenrio urbano. (...) Os equipamentos menores da vida diria forma rapidamente remodelados pela modernidade. Permanece o fato de que um estabelecimento de vida curta, que comeou como centro da vanguarda poltica e artstica, veio dar o tom na arquitetura e nas artes. (186) Bauhaus - compromisso poltico das artes srias na Era da Catstrofe. Relao da arte com a direita e a esquerda. (189) As artes de vanguarda ainda eram um conceito restrito cultura da Europa e seus entornos e dependncias. (...) O que significa que a vanguarda no europeia mal existia fora do hemisfrio ocidental, onde se achava firmemente ancorada tanto na experimentao artstica quanto na revoluo social. Para a maioria dos artistas do mundo no ocidental o problema era a modernidade, no o modernismo. Para a maioria dos talentos criativos do mundo no europeu (...) a tarefa principal parecia ser descobrir, erguer o vu e apresentar a realidade contempornea de seus povos. (191) Esse desejo uniu as artes do Oriente e do Ocidente. Pois ficava mais claro que o sculo XX era dp homem comum, e dominados pelas artes produzidas por e para ele. Dois instrumentos interligados tornaram o mundo do homem comum visvel e capaz de documentao como jamais antes: a reportagem e a cmera. Seguido do cinema, do cinedocumentario, das revistas ilustradas. (192) As artes que se tornaram dominantes foram as que se dirigiram as massas mais amplas do que o grande e crescente pblico da classe mdia e classe mdia baixa com gostos tradicionais. Historia policial. Imprensa impressa. (193) O cinema fazia poucas exigncias alfabetizao (...) e ao contrrio da imprensa, que na maior parte do mundo interessava somente a uma pequena elite, o cinema foi quase desde o incio um veiculo de massa internacional. (194) O terceiro veculo de massa era o rdio. Ao contrario dos outros dois se baseava na propriedade privada (propaganda e publicidade). (195) Na Segunda Guerra Mundial, com a interminvel demanda de noticias, o rdio alcanou a maioridade como instrumento poltico e meio de informao. A mais profunda mudana que ele trouxe foi simultaneamente privatizar e estruturar a vida de acordo com um horrio rigoroso que da em diante governou, no apenas a esfera do trabalho, mas a do lazer. (196) Revoluo da comunicao: tango, samba e jazz. Musica e esporte. (197) Por nossos padres, os esportes de massa, embora agora globais, permaneceram extraordinariamente primitivos. Seus praticantes ainda no tinham sido absorvidos pela economia capitalista.

7. O FIM DOS IMPRIOS

(199) O capitalismo e a sociedade burguesa transformaram e dominaram o mundo, e ofereceram o modelo at 1917 o nico modelo para os que no queriam ser devorados ou deixados para trs pela maquina mortfera da histria. Depois de 1917, o comunismo sovitico ofereceu um modelo alternativo, mas essencialmente do mesmo tipo, exceto por dispensar a empresa privada e as instituies liberais. A historia do sculo XX no ocidental, ou mais especificadamente no norte-ocidental, , portanto, determinado por suas relaes com os pases que se estabeleceram no sculo XX como senhores da espcie humana. Permanece o fato de que a dinmica de que a maior parte da historia do breve sculo XX e derivada, no original. Consiste essencialmente das tentativas das elites das sociedades no burguesas de imitar o modelo em que o Ocidente foi pioneiro, visto como o de sociedades que geram progresso, e a forma de poder e cultura da riqueza, com o desenvolvimento tcnico-cientfico, numa variante capitalista ou socialista. (ideia de atraso que se espalhou pelo mundo descolonizado). O modelo operacional de desenvolvimento podia ser combinado com vrios outros conjutnos de crenas e ideologias, contando que no interferisse com ele. Por outro lado, onde tais conjuntos de crenas se opunham ao processo de desenvolvimento, na prtica, e no apenas em teoria, asseguravam o fracasso e a derrota. (200) Isso no significa descartar tradies, crenas e ideologias (...). Tradicionalismo e socialismo concordavam em detectar um espao vazio no centro do triunfante liberalismo capitalista econmico e poltico que destrua todos os laos entre indivduos, exceto os baseados na tendncia a trocar de Adam Smith e na busca de satisfao e interesses pessoais. Como meios de mobilizar as massas em sociedade tradicionais contra a modernizao, capitalista ou socialista, esses movimentos podiam ser muito eficazes, embora na verdade nenhum dos que foram bem sucedidos na libertao do mundo atrasado, antes da dcada de 1970, tivesse sido inspirado ou estabelecido em ao por ideologias tradicionais ou neotradicionais. (as mais caractersticas mobilizaes em massa estavam ligadas a igreja). Eram ocidentais as ideologias, os programas, mesmo os mtodos e organizao poltica que inspiravam a emancipao dos pases dependentes e atrasados de sua dependncia e atraso: liberais; socialistas; comunistas; e/ou nacionalistas; secularistas ou desconfiados do clericalismo. (...) O que isso significou que a historia dos responsveis pelas transformaes do Terceiro Mundo a historia das minorias da elite (conhecimento, educao, analfabetismo). Nada disso quer dizer que as elites ocidentalizadas aceitassem necessariamente os valores dos Estados e das culturas que tomavam como modelos. (o que muitas vezes se observava era uma profunda desconfiana do Ocidente combinada com a convico de que as inovaes poderiam preservar ou restaurar valores das civilizaes nativas: Japo na Restaurao Meiji, nacionalismo desenvolvimentista no Brasil).

(202) Mesmo assim, quaisquer que fossem os objetivos conscientes ou inconscientes dos que moldavam a historia do mundo atrasado, a modernizao, ou seja, a imitao dos modelos derivados do Ocidente, era o caminho necessrio e indispensvel para atingi-lo. A economia de capitalismo da Era dos Imprios penetrou e transformou praticamente todas as partes do globo, mesmo tendo, aps a Revoluo de Outubro, parado nas fronteiras da URSS. Esse o motivo pelo qual a Grande Depresso de 1929-33 iria ser um marco milenar na historia do anti-imperialismo e dos movimento de libertao do Terceiro Mundo. Os pases foram sugados para dentro do nercado mundial, para o qual os pases do Terceiro Mundo tinham importncia enquanto fornecedores de produtos primrios e sada para o investimento do capital nortista em infra estrutura de transportes, por exemplo. (203) a industrializao do mundo dependente ainda no fazia parte dos planos de ningum, mesmo em pases como os do Cone Sul da America Latina, onde parecia lgico processar alimentos localmente produzidos. (...) Na verdade, o padro bsico na mente da maioria dos governos e empresrios do Norte era que o mundo dependente pagasse a impostao de manufaturas com a venda de produtos primrios. (...) Era obviamente tornar o mercado subordinado, tal como estava, completamente dependente da produo hostista, ou seja, torna-lo agrrio. (204) E, no entanto, quando pensamos como pareceria lgica a previso de Marx sobre a eventual disseminao da Revoluo Industrial pelo resto do globo, espantoso ver como a industria pouco sara do mundo do capitalismo desenvolvido antes do fim da Era dos Imprios. (...) A grande virada da industria para longe do Velho Ocidente, ocorreu somente no ultimo tero do sculo XX (inclusive a japonesa). S na dcada de 1970 os economistas comeam a escrever livros sobre a diviso internacional do trabalho. Evidentemente o imperialismo, a velha diviso internacional do trabalho, tinha uma tendncia inata a reforar o monoplio industrial dos velhos pases-ncleo.(...) Mesmo que governos imperiais pudessem ter motivos para industrializar suas colnias o nico caso sistemtico foi o do Japo. (205)Se a guerra tornou clara para os administradores imperiais as deficincias de uma industria colonial insuficiente, a Depresso de 1929-33 os submeteu a presso financeira. A medida que caiam as rendas da agricultura, a renda do governo colonial tinha que ser escoradas por maiores impostos sobre bens manufaturados (...). Pela primeira vez as empresas ocidentais, que haviam at ento importando livremente, tiveram um forte incentivo a estabelecer instalaes para a produo local nesses mercados marginais. Praticamente todas as partes da sia, frica e America Latina/Caribe eram e sentiam-se dependentes do que acontecia aos poucos Estados do hemisfrio norte (...) nessas reas era natural que surgisse o problema de como livrar-se do domnio estrangeiro. O mesmo no ocorria nas Amricas Central e do Sul que consistiam, quase inteiramente, em Estados soberanos. O mundo colonial fora to completamente transformado numa coleo de Estados nominalmente soberanos depois de 1945 que retrospectivamente pode parecer que no s era inevitvel, como aquilo que os povos coloniais haviam querido.

(206) Mesmo onde existia um povo que claramente se tinha ou se reconhecia como tal, a ideia de que ele podia ser territorialmente separado do outro povo com o qual coexistia, se misturava e dividia funes, era difcil de captar. Nessas regies, a nica base para tais Estados independentes do tipo do sculo XX eram os territrios nos quais a conquista e a rivalidade imperial os havia dividido, em geral sem qualquer respeito as estruturas locais. O mundo ps colonial est assim quase inteiramente dividido pelas fronteiras do imperialismo. Alem disso os habitantes do Terceiro Mundo que mais se ressentiam dos ocidentais, (...) opunham-se igualmente justificada convico das elites de que a modernizao era indispensvel. Isso tornava difcil uma frente comum contra os imperialistas. A grande tarefa dos movimentos nacionalistas de classe media nesses pases era como conquistar o apoio das massas essencialmente tradicionalistas e antimodernas sem por em perigo seu prprio projeto modernizante. (Exemplo da ndia e do mundo muulmano) (208) Os movimentos anti-imperialistas a anticoloniais de antes de 1914 eram, portanto, menos destacados do que se poderia pensar (...). O nico imprio que enfrentava srios problemas em algumas reas que no podiam ser tratados com o operaes de polcia era o britnico. A Primeira Guerra Mundial foi o primeiro conjunto de acontecimentos que abalou seriamente a estrutura do colonialismo mundial, alm de destruir dois imprios (o alemo e o otomano) e derrubar temporariamente um terceiro, a Russia. As tenses da guerra nas regies dependentes, cujos recursos a Gr-Bretanha precisou mobilizar, geraram agitao. O impacto da Revoluo de Outubro e o colapso geral dos velhos regimes, seguidos pela independncia irlandesa de facto para os 26 condados do Sul (1921) fizeram pela primeira vez os imprios parecerem mortais. (ndia - no iria funcionar um aurogoverno semelhante ao status de domnio. O futuro da Gr-Bretanha na ndia dependia de um acordo com a elite indiana, incluindo os nacionalistas) (210) Os anos de Revoluo abalaram principalmente o imprio britnico, mas a Grande Depresso atingiu todo o mundo dependente. (...) a economia imperialista levou substanciais transformaes a vida da gente simples, sobretudo nas regies de produo primaria voltada a exportao. (211) O sentido de bens, servios e transaes foi transformado, e por consequncia, tambm os valores morais da sociedade, assim como sua forma de distribuio social. Essas mudanas ocorriam em comunidades de pessoas cujo contato direto com o vasto mundo era mnimo. A economia mundial como tal parecia remota, porque seu impacto imediato reconhecvel, no era cataclsmico, a no ser talvez nos crescentes enclaves industriais de mo de obra barata em regies como a India e a China, onde o conflito trabalhista , e mesmo a organizao dos trabalhadores nos moldes do Ocidente, se espalharam a partir de 1917, e nas gigantescas cidades porturias e industriais, atravs dos quais o mundo dependente se comunicava com a economia mundial. A Grande Depresso mudou tudo isso. Pela primera vez os interessados de economias dependentes e metropolitanas entraram claramente em choque, inclusive porque os preos dos produtos primrios caram muito mais dramaticamente do que os bens manufaturados que compravam do Ocidente. Pela primeira vez colonialismo e dependncia se tornaram inaceitveis. (212) A depresso desestabilizou a poltica nacional e internacional do mundo dependente. Os anos 1930 foram, portanto, uma dcada crucial para o Terceiro Mundo no tanto porque a Depresso levou a radicalizao, mas antes porque estabeleceu contato com as minorias politizadas e a gente comum de seus pases. Comeava a surgir as tendncias gerais da poltica de massa para o futuro: populismo latino-americano baseado em lideres autoritrios buscando o apoio dos trabalhadores urbanos; mobilizaes polticas por lideres sindicais que teriam futuro como lideres partidrios (...); um movimento revolucionrios com forte base entre trabalhadores para a Frana e de l retornados; uma resistncia nacional de base comunista com fortes laos agrrios, como no Vietn. No fim da dcada de 1930, a crise do colonialismo j se espalhara para outros imprios, embora dois deles, o italiano e o japons ainda se achassem em expanso. (213) S a frica Central e Setentrional ainda continuava calma, embora mesmo ali os anos de Depresso provocassem as primeiras greves trabalhistas em massa aps 1935. (...) Pela primeira os governos coloniais comearam a refletir sobre o efeito desestabilizador da mudana econmica na sociedade rural africana. (214) A Segunda Guerra Mundial foi tambm uma guerra interimperialista, e at 1939 os grandes imprios coloniais estavam do lado perdedor. (...) O que prejudicou fatalmente os velhos colonialistas foi a prova de que os brancos e seus estados podiam ser derrotados, total e vergonhosamente, e que as velhas potencias coloniais encontravam-se fracas demais, mesmo aps uma guerra vitoriosa. Tampouco ignoravam o fato de que as duas potencias que haviam de fato derrotado o Eixo, os EUA e a URSS, eram ambas, por motivos diferentes, hostis ao velho colonialismo, embora o anticomunismo americano logo tornasse Washington o defensor do conservadorismo no Terceiro Mundo. No surpreende os velhos sistemas coloniais rurem primeiro na sia. Vrios pases tornaram independentes a partir de 1945. (215) S em partes do Sudeste Asitico essa descolonizao poltica sofreu seria resistncia, notadamente na Indochina Francesa (atuais Vietn, Camboja e Laos), onde a resistncia comunista declara independncia aps a libertao (...). Os Franceses, apoiados pelos britnicos e depois pelos EUA realizaram uma desesperada ao para reconquistar e manter o pas contra a revoluo vitoriosa Guerra do Vietn. Irrompida a Guerra Fria no havia como permitir comunistas no poder ou ocupando cargos na ex-colnia. (216) Ao contrario dos franceses e holandeses, a Gr-Bretanha aprendeu com alonga experincia na ndia que a nica vantagem de manter as vantagens do imprio era abrir mo do poder formal (Comunidade Econmica Britnica) Conta da situao da ndia quando a Gr-Bretanha assumida pelo governo trabalhista no fim da Segunda Guerra Mundial.

(217) Foi a guerra que dividiu a ndia em duas. Em certo sentido, foi o ultimo grande trunfo do dominio britnico (...) mobilizou homens e a economia para uma guerra britnica. (218) No est claro em que momento os velhos imprios compreenderam que a Era dos Imprios acabara definitivamente. De qualquer modo, em fins da dcada de 1950 j ficara claro para os velhos imprios sobreviventes que o colonialismo formal tinha de ser liquidado. S Portugual continuava resistindo a dissoluo, pois sua economia metropolitana atrasada, politicamente isolada e marginalizada no tinha meios para sustentar o neocolonialismo. (219) Paris, Londres e Bruxelas decidiram que a concesso da independncia com a manuteno da dependncia econmica e cultural era prefervel a longas lutas que provavelmente acabariam em independncias de governos esquerdistas. Em 1970, nenhum territrio de tamanha significativo continuava sob administrao direta das ex-potncias colonialistas ou seus regimes de colonos, a no ser no Centro e Sul da sia e o claro o Vietn em guerra.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

HOBSBAWM, Eric. Tempos interessantes: uma vida no sculo XX. Trad. S. Duarte. - So Paulo: Companhia das Letras, 2002. 304

Os 45 anos que vo do lanamento das bombas atmicas at o fim da Unio Sovitica, evidenciam um perodo nico na histria do mundo. O mundo divide-se em duas metades, com o confronto entre as duas superpotncias que emergiram da Segunda Guerra Mundial, Estados Unidos da Amrica e Unio Sovitica. De acordo com o autor a Segunda Guerra mal terminara quando a humanidade mergulhou no que se pode chamar em uma Terceira Guerra Mundial, ainda que no houvesse um confronto armado, segundo Hobbes a guerra no consiste somente na batalha, ou no ato de lutar: mas num perodo de tempo em que a vontade de disputar pela batalha suficientemente conhecida. A guerra fria entre EUA e URSS dominou o cenrio na segunda metade do sculo XX, a medida em que o tempo se passava acirrava-se o medo de um confronto nuclear permanente baseada que no medo da destruio mutua inevitvel, planejado suicdio da civilizao. Os dois lados viram-se em uma insana corrida armamentista para a mutua destruio e com o tipo de generais e intelectuais cuja profisso exigia que no percebessem essa insanidade (p.234). Situao: A URSS controlava uma parte do globo, ou sobre ela exercia predominante influencia zona ocupada pelo exercito vermelho e outras foras armadas comunistas no termino da guerra. Os EUA exerciam controle e predominncia sobre o resto do mundo capitalista, alm do hemisfrio norte e oceanos, assumindo o que restada da velha hegemonia imperial das antigas potenciais coloniais. P223. Nesse perodo o mundo divido em trs: pases desenvolvidos, a URSS e os pases do Terceiro Mundo. Terceiro Mundo: em poucos anos as condies para a estabilidade internacional comearam a surgiu, quando ficou claro que a maioria dos novos Estados ps-colonias, por menos que gostassem dos EUA e seu campo, no era comunista, com efeito a maioria era anticomunista em sua poltica interna e no alinhada ao campo sovitico. Pg.225 A situao mundial se tornou razoavelmente estvel pouco depois da guerra, e permaneceu assim at meados de 1970, quando o sistema internacional e as unidades que o compunha, entraram em outro perodo de extensa crise poltica e econmica. At ento, as duas superpotncias aceitavam a diviso desigual do mundo, faziam todo esforo para resolver disputas de demarcao sem um choque aberto entre suas Foras Armadas. Que pudesse levar a guerra ao contrrio da ideologia da guerra fria que se baseava na coexistncia de pacifica de longo prazo entre as superpotncias. A Guerra Fria no fora um guerra em que as decises fundamentais eram tomadas pelos governos, mas a nebulosa disputa entre seus vrios servios secretos: CIA, KGB. Em 1949 os comunistas assumiram o poder na China, enquanto que os EUA possuam o monoplio das armas nucleares e multiplicavam declaraes anticomunistas militantes e agressivas. Os 40 anos de confronto levaram a instabilidade do planeta de que uma guerra mundial poderia explodir a qualquer momento. Alm disso, com o fim da Segunda Guerra fica claro de que o futuro do capitalismo e da sociedade liberal no era to seguro. Dentre os grande problemas do ps-guerra previstos por Washington eram a instabilidade social e econmica com povos famintos, desesperados e provavelmente propensos a radicalizao, mas que dispostos a ouvir a ouvir o apelo da renovao social e de polticas econmicas incompatveis com o sistema internacional de livre empresa (p.228). Os EUA preocupavam-se com o perigo de uma possvel supremacia mundial sovitica num dados momento futuro, contudo, a URSS no era expansionista e menos ainda agressiva. O autor refere que a Guerra Fria, alm de implicar uma disputa pelo poderio mundial, sinalizava tambm uma disputa ideolgica, de um lado os EUA (potncia ideolgica em que a maioria dos americanos acreditava ser o modelo para o mundo) e de outro a URSS (substituio do capitalismo pelo comunismo, repulsa ao modo de vida americano). O anticomunismo era genuna e visceralmente popular num pas construdo sobre o individualismo e a empresa privada, e onde a prpria nao se definia em termos exclusivamente ideolgicos - americanismo -. (p.232). Para Hobsbawn a origem da Guerra Fria esta na Amrica, todos os governos europeus ocidentais com ou sem grandes partidos comunistas, eram empenhadamente anticomunistas, e decididos a proteger-se contra um ataque sovitico. Embora o aspecto da Guerra Fria fosse o confronto militar e a corrida armamentista, no foi esse o seu grande impacto, uma vez que as armas nucleares nunca foram usadas (p.234). Dentre as consequncias polticas com o fim da Guerra Fria esto: a polarizao do mundo, controlado por duas superpotncias, os governos de unidades antifascistas dividiram-se em pr-comunistas e anticomunistas, no ocidente os comunistas desapareceram dos governos e sistematicamente marginalizados. A URSS fez o mesmo eliminando os no comunistas de suas democracias populares multipartidrias, reclassificadas como ditaduras do proletariado e em partidos unicamente comunistas. O autor refere que a Guerra Fria transformou o panorama mundial em 3 aspectos: Primeiro: eliminara ou empanara todas as rivalidades e conflitos que moldavam a poltica mundial antes da Segunda Guerra. Alguns deixaram de existir porque os imprios da era imperial desapareceram e com eles as rivalidades das potencias coloniais pelo domnio de territrios dependentes. Segundo: A Guerra Fria congelou a situao internacional. A Alemanha fora exemplo disso que durante 46 anos permaneceu divida em 3 setores: Central, Oriental e Ocidental (p.249). Terceiro: A Guerra Fria encheu o mundo de armas num grau que desafia a crena. Era o resultado natural de 40 anos de competio constante entre os grandes Estados industriais, para armar-se para uma guerra que podia estourar a qualquer momento. O autor faz o seguinte questionamento: O fim da Guerra Fria implicou o fim da Unio Sovitica? Os dois fenmenos so historicamente separados, embora obviamente ligados (p.246). O socialismo do tipo sovitico se pretendia uma alternativa global para o sistema mundial capitalista. Como o capitalismo no desmoronou, nem pareceu desmoronar, as perspectivas do socialismo como alternativa global dependiam da capacidade de competir com a economia mundial capitalista, reformada aps a Grande Depresso e a 2 Guerra Mundial e transformada em revoluo ps-industrial nas comunicaes e tecnologia da informao na dcada de 1970. Assim, ficou claro que depois de 1960, que o socialismo estava ficando para trs em ritmo acelerado. Na medida em que essa competio assumia a forma de um confronto entre duas superpotncias polticas, militares e econmicas a inferioridade tornou-se ruinosa (p.247). A Guerra Fria terminou quando uma ou outra potncia reconheceu o absurdo da corrida nuclear e quando acreditou na sinceridade do desejo da outra de acabar com a ameaa nuclear. O Fim da Guerra Fria veio em com as duas Cpulas de Reykjavik (1986) e Washington (1987), tendo como principal representante o Secretrio-Geral do Partido Comunista Mikhail Gorbachev.

9 OS ANOS DOURADOS

Durante os 50 anos aps a Segunda Guerra Mundial os tempos tinham melhorado significativamente para os pases beligerantes, em particular, para o capitalismo desenvolvido, que passara por uma fase excepcional de sua historia os trinta anos gloriosos. Contudo, para os EUA, que dominaram a economia aps a Segunda Guerra, essa poca no fora to revolucionaria, uma vez que significou apenas a continuao da expanso ps-guerra. Na verdade para os EUA essa foi econmica e tecnologicamente uma poca de mais relativo retardo que de avano, uma vez que a distancia entre ele e os outros pases, medida pela produtividade por homem-hora, diminuiu. Entretanto, para os pases que sofreram com a guerra (Europa e Japo) os anos que se seguiram eram fundamentais para o restabelecimento da economia, assim, no mediam esforos para reerguer suas economias. Por isso, a Era de Ouro pertenceu essencialmente aos pases capitalistas desenvolvidos, que representaram nessa poca 80% da produo do mundo. A taxa de crescimento da URSS na dcada de 50 foi mais veloz que a de qualquer pai ocidental e as economias da Europa Oriental cresceram com a mesma rapidez. A Era de Ouro foi um fenmeno mundial, embora a riqueza jamais chegasse a vista da maioria da populao do mundo, entretanto, a populao do Terceiro Mundo, aumentou num ritmo especular, ao passo que as dcadas de 70 e 80 o mundo familiarizava com a fome endmica. Os anos de 1970 sinalizavam um imenso paradoxo: a medidade que o mundo desenvolvido produzia uma imensa gama de alimentos e no sabia o que fazer com o excedente, um enorme contingente humano nos pases do Terceiro Mundo passava fome. A Era de Ouro, tambm repercutiu na modernizao da base produtiva, pases predominantemente agrcolas passaram a ser industriais e no Terceiro Mundo pases em recente industrializao comearam a depender cada vez menos da agricultura, com exceo da America Latina e frica Subssariana. A produo mundial de manufatura quadruplicou bem como a produo agrcola ainda que em menor escala. As consequncia do crescimento acelerado, comea a ser vistas e discutidas (poluio e deteriorao ecolgica). Na Era de Ouro, isso pouco chamou ateno, a no de poucos defensores da natureza. Longe de haver uma preocupao ecolgica, as poluies do sculo XIX davam agora lugar a tecnologia do sculo XXI. No entanto, o autor ressalta que no h como negar os impactos da ao humana sobre a natureza, sobretudo urbano industriais. O aumento no uso de combustveis fosseis (carvo, petrleo e gs natural), resultou numa rpida escassez, fazendo, portanto, necessria, novas formas de combustveis. Outro ponto ressaltado por Hobsbawn diz respeito aos modelo de produo em massa de Henry Ford, que espalhou-se mundialmente e pelos novos tipos de produo exemplo do Mc Donalds. Hobsbawn refere que trs coisas que impulsionaram o terremoto tecnolgicos da dcada de 60. Primeiro: transformou a vida cotidiana tanto da populao rica quanto pobre, com o avano da tecnologia, com uma invaso de novos produtos (ex. chinelos de plstico, rdio levando informao a aldeias longnquas), assim, salienta-se tambm a criao de valores sobre as novas mercadorias tecnolgicas (geladeira, televiso, etc.), no qual criavam-se valores de uso para agora no designar apenas um luxo mas sim uma necessidade o seu consumo por toda a populao. Segundo: quanto mais complexa a tecnologia mais complexa a sua estrada, portanto, houve um alto investimento em pesquisa e desenvolvimento, que tornaram-se fundamentais para o crescimento econmico. Terceiro: as novas tecnologias eram de capital intensivo, exigiam pouca mo de obra e at mesmo a substituam, uma importante caracterstica desse perodo foi de precisar cada vez menos de pessoas a no para o consumo dos produtos. A produo, comea ento a realizar-se com menos seres humanos que foram sendo substitudos por robs automatizados, espaos silenciosos e cheios de banco de computadores controlando a produo. O autor reflete sobre o grande salto do capitalismo na Era de Ouro, apresentando dois grandes questionamentos para o avano do sistema: Primeiro: a economia mista, que tornou aos estados mais fcil planejar e administrar a modernizao econmica e aumentou enormemente a demanda. Segundo: multiplicou a capacidade produtiva da economia mundial, tornando possvel a diviso de trabalho internacional muito mais elaborada e sofisticada. A reestruturao do capitalismo e o avano na internacionalizao da economia foram fundamentais, salienta-se, tambm que a economia capitalista mundial desenvolveu-se em torno dos EUA, que comandava todo o processo de expanso mundial do capitalismo. Nesse contexto, em 1960 surge tambm uma economia transnacional, ou seja, um sistema de atividades econmicas para as quais os territrios e fronteiras de Estados no constituem um esquema operatrio bsico (p.272). Ento, passa a existir uma economia mundial que na verdade no tem base ou fronteiras determinveis, e que estabelece limites as economias de Estado. Surge os offshores termo utilizado para descrever a pratica de registrar a sede legal da empresa num territrio fiscal generoso e minsculo, que permitia aos empresrios evitar impostos e outras restries existentes em seus pases de origem. Uma engenhosidade que emerge nessa poca diz respeito a euromoeda ou eurodlar, estratgia criada para a livre flutuao de dlares em bancos no americanos ou repatriados, facilitava a acumulao em grandes quantidades e crescentes investimentos sem a restrio dos bancos americanos (p.273). O Terceiro Mundo passa tambm a exportar manufaturas para os pases industrializados desenvolvidos em escala substancial. A partir dos anos 70 uma nova diviso internacional do trabalho comea a desenvolver-se, com a instaurao de novos industrias no pases do 3 mundo que agora no abastecem apenas o mercado local, mas atingem tambm o mercado mundial. Comeam a desenvolver-se as zonas francas que espalham-se esmagadoramente nos pases no desenvolvidos, que possuem, essencialmente, mo de obra barata, feminina e jovem, outro artifcio para escapar ao controle de um s Estado, cita exemplo da Zona Franca de Manaus (no seio da floresta amaznica). Sob indcios do fim da Era de Ouro na segunda metade dos anos de 1960, o arranjo triangular (Estado interventor nas relaes entre patres e empregados) atacado pelos crescentes telogos do livre mercado sob o nome do corporativismo. Enfraquece-se a seguridade social que escorava-se nas rendas pblicas, com a crise questiona-se o Estado de Bem Estar Social. A Era de Ouro, dependia tambm do domnio poltico e econmico dos EUA que atuavam como estabilizador e assegurador da economia mundial, contudo, a hegemonia dos EUA na economia mundial comea a declinar tendo como base a queda do dlar ouro. As dcadas que seguiram os anos de 1973 seriam de uma nova era agora a era da crise.

10 A REVOLUO SOCIAL (1945-90)

Hobsbawn introduz a discusso sobre a revoluo no campo social que permeou o perodo aps a Segunda Guerra, refletindo sobre o significado e a utilizao do termo ps (ps-imperial, ps-marxismo, ps-industrial, etc.). A discusso desse captulo sobre a revoluo agrcola, urbanizao, educao e da mulher. Em relao ao primeiro item campo-, a morte do campesinato. Contudo, mesmo a Alemanha e os EUA as maiores economias industriais, a populao agrcola, apesar de estar de fato em declnio constante, ainda equivalia mais ou menos a um quarto dos habitantes, na Frana, Sucia e ustria restava 35% a 40%. No incio da dcada de 1980, nenhum pas europeu tinha mais de 10% da sua populao na atividade agrcola, com exceo da Irlanda. Na Amrica Latina percentagem de camponeses reduziu drasticamente, somente trs regies do globo permaneceram dominadas pelo campo: frica Subsaariana, o sul e o sudeste da sia. O imenso xodo do campo para a cidade se deveu parcialmente ao progresso agrcola, os pases desenvolvidos tambm transformaram-se em grandes produtores agrcolas para o mercado mundial concomitante a reduo de sua populao agrcola (p.287). O aspecto imediato mais visvel foi a expressiva quantidade de maquinrio que o agricultor em pases ricos tinha a sua disposio (agricultura mecanizada que necessitava cada vez menos de fora de trabalho). Nos pases pobres a revoluo agrcola no esteve ausente, embora fosse mais irregular. Tanto nos pases do Terceiro e Segundo Mundo os camponeses no mais se alimentavam com a produo e muito menos produziam os grandes excedentes exportveis de alimentos. Paradoxalmente embora o mundo desenvolvido continuasse muito mais urbanizado que o mundo pobre, as grandes cidades dos pases do terceiro mundo desenvolviam-se muito rapidamente. A cidade grande tpica do mundo desenvolvido tornou-se uma regio de assentamentos conectados, em geral concentrados, numa rea ou reas centrais do comercio ou administrao reconhecveis do ar como uma espcie de cadeia de montanhas de prdio altos e arranhas-cus, com trafego motorizado e com um excelente transporte pblico (p.288). A cidade do terceiro mundo era ligada por sistema de transporte (obsoletos), com assentamentos dispostos em favelas estabelecidas por grupos de posseiros num espao aberto baldio. Os habitantes dessas cidades gastam varias horas do dia de locomoo de sua casa para o trabalho (p.288). Contradio: enquanto nos cortios e favelas seres humanos viviam em simbiose com os resistentes ratos e baratas, a estranha terra de ningum entre cidade e campo que cerva o que restava dos centros urbanos do mundo desenvolvido era colonizada pela fauna dos bosques: doninhas, raposa e guaximim (p.288). A alfabetizao bsica era a verdadeira aspirao de todos os governos, no final dos anos de 1980, somente os Estados mais honestos e desvalidos admitiam ter at a metade de sua populao analfabeta (p.289). Antes da Segunda Guerra Mundial entre os trs pases mais desenvolvidos (Alemanha, Frana e Gr-Bretanha), contava com apenas 150 mil universitrios aps a dcada de 1980 contavam-se aos milhes (p.290). O extraordinrio crescimento da educao est ligado a necessidade do mercado em formar administradores, professores e especialistas. A partir de 1960 as universidades comeam a evidenciar um espao para o descontentamento social e polticos e com a intensificao das ditaduras principalmente na America Latina transformam-se na nica possibilidade de formao de cidados capazes de uma ao coletiva. A partir de 1968 visualiza-se a intensificao dos movimentos estudantis, que atuavam como verdadeiros detonadores de movimentos maiores, contudo, muitos estudantes desejaram fazer a revoluo sozinhos, no raro envolviam-se em terrorismo de pequenos grupos. As mulheres, a entrada das mulheres no mundo do trabalho no recente, contudo, a partir do sculo XIX comeam a inserir-se em escritrios, centrais telefnicas e profisses assistenciais. No Terceiro Mundo, floresceram as indstrias de mo de obra intensiva sedentas de trabalho feminino (tradicionalmente menos bem pago e menos rebelde que o masculino). A entrada das mulheres casadas no mercado de trabalho e a expanso do ensino superior formaram pano de fundo pelo menos nos pases ocidentais, para o impressionante reflorescimento dos movimentos feministas em 1960 (p.305). O que mudou na revoluo social no foi apenas a natureza das atividades da mulher na sociedade, mas tambm os papeis desempenhados por elas e as expectativas, ex: participao da mulher na vida pblica, em que na Amrica Latina considerada machista representam apenas 11% (p.306). A insero das mulheres casadas da classe mdia, no sinalizou um incremento muito significativo na renda familiar, contudo, foi imprescindvel para reforar a autonomia da mulher em relao ao homem. A revoluo cultural Hobsbawn refere que as mulheres tiveram importncia significativa ao sinalizar diversas mudanas na famlia tradicional e nas atividades domsticas.

11 REVOLUO CULTURAL

I Revoluo cultural = A melhor abordagem dessa revoluo cultural portanto atravs da famlia e da casa, isto , atravs da estrutura de relaes entre os sexos e geraes (p. 314).

Fatos divrcios, diminuio do casamento formal, reduo no desejo de filhos, aceitao de uma adaptao bissexual, pessoas vivendo ss.

Crise da famlia = A crise da famlia estava relacionada com mudanas bastante dramticas nos padres pblicos que governam a conduta sexual, a parceira e a procriao (p. 316).

1960 1970 = Oficialmente, essa foi uma era de extraordinria liberalizao tanto para os heterossexuais (isto , sobretudo para as mulheres, que gozavam de muito menos liberdade que os homens) quanto para os homossexuais, alm de outras formas de dissidncia cultural-sexual (p. 316).

II Cultura Juvenil = [...] o aumento de uma cultura juvenil especfica, e extraordinariamente forte, indicava uma profunda mudana na relao entre as geraes. [...]. Os acontecimentos polticos mais dramticos, sobretudo nas dcadas de 1970 e 1980, foram as mobilizaes da faixa etria que, em pases menos politizados, fazia a fortuna da indstria fonogrfica [...] (p. 317). Expresso cultural caracterstica da juventude o rock (p. 318).

A novidade da nova cultura juvenil era tripla. 1) Primeiro, a juventude era vista no como um estgio preparatrio para a vida adulta, mas, em certo sentido, como o estgio final do pleno desenvolvimento humano (p. 319). 2) A segunda novidade da cultura juvenil provm da primeira: ela era ou tornou-se dominante nas economias de mercado desenvolvidas, em parte porque representava agora uma massa concentrada de poder de compra , em parte porque casa nova gerao de adultos fora socializada como integrante de uma cultura juvenil autoconsciente [...] (p. 320). 3) A terceira peculiaridade da nova cultura jovem nas sociedades urbanas foi seu espantoso internacionalismo (p. 320). O poder de mercado independente tornou mais fcil para a juventude descobrir smbolos materiais ou culturais de identidade (p. 322).

III Revoluo nos modos e costumes = A cultura jovem tornou-se matriz da revoluo cultural no sentido mais amplo de uma revoluo nos modos e costumes, nos meios de gozar o lazer e nas artes comerciais, que formavam cada vez mais a atmosfera respirada por homens e mulheres urbanos (p. 323).

A novidade da dcada de 1950 foi que os jovens das classes alta e mdia, pelo menos no mundo anglo-saxnico, que cada vez mais dava a tnica global, comearam a aceitar a msica, as roupas e at a linguagem das classes baixas urbanas, ou o que tomavam por tais, como seu modelo. O rock foi o exemplo mais espantoso (p. 324).

A antinomia essencial da nova cultura jovem surgiu mais claramente nos momentos em que encontrou expresso intelectual [...] (p. 325).

O recm-ampliado campo de comportamentos publicamente aceitvel, incluindo o sexual, na certa aumentou a experimentao e a frequncia de comportamento at ento considerado inaceitvel ou desviante, e sem dvida aumentou sua visibilidade (p. 327).

IV A revoluo cultural de fins do sculo XX pode assim ser mais bem entendida como o triunfo do indivduo sobre a sociedade, ou melhor, o rompimento dos fios que antes ligavam os seres humanos em texturas sociais (p. 328).

A partir de 1960 Encontrou expresso ideolgica numa variedade de teorias, do extremo liberalismo de mercado ao ps-modernismo e coisas que tais, que tentavam contornar inteiramente o problema de julgamento e valores, ou antes reduzi-los ao nico denominador da irrestrita liberdade do indivduo (p. 332).

As vantagens materiais da vida num mundo em que a comunidade e a famlia declinavam eram, e continuam sendo, inegveis. O que poucos percebiam era o quanto a sociedade industrial moderna, at meados do sculo XX, dependera de uma simbiose da velha comunidade e velhos valores com a nova sociedade, e portanto como era provvel que fossem dramticos os efeitos de sua desintegrao espetacularmente rpida. Isso se tornou evidente na era da ideologia neoliberal, [...] (p. 333).

Subclasse A palavra subclasse, como a velha submundo, implicava uma excluso da sociedade normal. Essencialmente, essas subclasses dependiam da habitao e da previdncia pblicas, mesmo quando complementavam suas rendas com incurses na economia informal, ou no crime, isto , aqueles setores econmicos no alcanados pelos sistemas fiscais dos governos (p. 333).

[...] o capitalismo venceu porque no era apenas capitalista. Maximizao e acumulao de lucros eram condies necessrias para seu sucesso, mas no suficientes. Foi a revoluo cultural do ltimo tero do sculo que comeou a erodir as herdadas vantagens histricas do capitalismo e a demonstrar as dificuldades de operar sem elas (p. 336).

12 O TERCEIRO MUNDO

I Descolonizao e revoluo transforam de modo impressionante o mapa poltico do globo (p. 333).

Crescimento demogrfico e presso coletiva - Essa foi a consequncia de uma espantosa demogrfica no mundo dependente aps a Segunda Guerra Mundial, que mudou, e continua mudando, o equilbrio da populao mundial (p. 338).

A exploso demogrfica no mundo pobre foi to sensacional porque as taxas de nascimento bsicas nesses pases foram em geral muito mais altas que as dos perodos histricos correspondentes nos pases desenvolvidos, e porque a enorme taxa de mortalidade, que antes continha a populao, caiu como uma pedra a partir de 1940 [...] (p. 338).

[...] a tecnologia moderna varreu o mundo dos pases pobres como um furaco n Era de Ouro, sob a forma de remdios modernos e da revoluo dos transportes (p. 338).

II Interveno militar (Terceiro Mundo) As condies para a interveno militar no Terceiro Mundo eram muito mais convidativas, sobretudo nos novos, fracos e muitas vezes minsculos Estados onde umas poucas centenas de homens armados, reforados ou s vezes at substitudos at substitudos por estrangeiros, pdiam ter peso decisivo, e onde era provvel eu governos inexperientes ou incompetentes produzissem recorrentes estados de caos, corrupo e confuso. O tpico governante militar da maioria dos pases africanos no era um aspirante a ditador, mas algum que tentava genuinamente limpar aquela baguna, na esperana - muitas vezes v - de que um governo civil logo assumisse. Geralmente