equipamento educacional para joana d'arc

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Trabalho de conclusão do curso de Arquitetura e Urbanismo da UFES, apresentado em 05/04 de 2013

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Page 1: Equipamento Educacional para Joana D'Arc
Page 2: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO

HUGO GIUBERTI TAVARES

Equipamento Educacional Público em Joana D’Arc:

Uma arquitetura para soma do ensino e da cultura e ao bairro

VITÓRIA

2013

Page 3: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

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HUGO GIUBERTI TAVARES

EQUIPAMENTO EDUCACIONAL PÚBLICO EM JOANA D’ARC:

Uma arquitetura para soma do ensino e da cultura ao bairro

Monografia apresentada ao Curso de Arquitetura e

Urbanismo do Departamento de Arquitetura e

Urbanismo da Universidade Federal do Espírito Santo,

como requisito parcial para a obtenção do Grau de

Arquiteto Urbanista.

Orientador: Profª Paulo de Paula Vargas

VITÓRIA

2013

Page 4: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

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HUGO GIUBERTI TAVARES

EQUIPAMENTO EDUCACIONAL PÚBLICO EM JOANA D’ARC:

UMA ARQUITETURA PARA SOMA DO ENSINO E DA CULTURA AO BAIRRO

Projeto de Graduação apresentado ao Departamento de Arquitetura e Urbanismo do

Centro de Artes da Universidade Federal do Espírito Santo, como requisito parcial para

obtenção do grau de Arquiteto e Urbanista.

Aprovada em ____ de abril de 2013.

________________________________________________________________________

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__________________________________________________________________

COMISSÃO EXAMINADORA

____________________________________ Prof. Paulo Vargas

Universidade Federal do Espírito Santo Orientador

____________________________________ Prof. Augusto Alvarenga

Universidade Federal do Espírito Santo Co-orientador

____________________________________

____________________________________

NOTA FINAL:_____

Page 5: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

5

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Page 6: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

6

SUMÁRIO

Introdução ........................................................................................7

1. Educação e comunidade ..........................................................9

Sobre alguns pensadores da educação .......................................................... 11

O papel da escola na sociedade contemporânea ............................................ 18

A escola como equipamento comunitário no Brasil ......................................... 20

Os usuários da escola ..................................................................................... 37

2. O Edifício como elemento de transformação......................... 39

A arquitetura elemento de impacto social ........................................................ 40

Sustentabilidade .............................................................................................. 42

Tecnologia e sistemas construtivos ................................................................. 47

3. O projeto ................................................................................ 49

Aspectos locais ................................................................................................ 50

O Programa ..................................................................................................... 70

Implantação e distribuição do programa .......................................................... 74

Tecnologias ..................................................................................................... 93

A arte central ................................................................................................. 101

4. Conclusão ................................................................................ 110

5. Lista de Figuras ........................................................................ 112

6.Referência Bibliográfica............................................................. 114

Page 7: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

7

Introdução

A educação possui uma relevante função social. Segundo Libaneo (1994), por

ela podemos prover os indivíduos de conhecimentos e experiências culturais que

os capacitam a interagir no meio social e transformá-los segundo suas

necessidades econômicas, sociais, políticas e ambientais.

Para Biersdorf (2011), a educação é dada de maneira formal e informal. A

primeira responsável pela preparação do educando para atuar efetivamente

junto à sociedade, oferecendo-lhe o conhecimento científico, a fim de lhe

desenvolver a capacidade analítica, crítica e criativa. Nela, a escola, por meio

dos professores, do ambiente escolar e das atividades, desempenha um papel

central. Já a informal, para Kowaltowski (2011), é responsável pela promoção da

sociabilidade, do desenvolvimento, das mudanças sociais e da capacidade de

adaptação, e é transmitida sem contornos institucionais pela convivência com

familiares, amigos, parentes, e vivências sociais afins.

Entretanto, a ausência dos pais, ausentes em sua maior parte por compromissos

profissionais, a falta de convivências saudáveis no cotidiano de atividades

recreativas pré e pós-escola, em muitas ocasiões, acabam por prejudicar a

educação informal, resultando em atos de indisciplina dentro e fora das salas de

aula (BIESDORF, 2011). Com isso, a escola passa a ter um papel diferente de

seu original. A escola e seu programa precisam ser revistos diante de uma nova

sociedade, para minimizar os problemas na formação dos educandos (TIBA,

1998).

Ocupar o aluno com atividades recreativas e culturais são possíveis soluções

para evitar o mau convívio e suprir a ausência dos pais, além de educar de

forma mais completa. Para tanto, a revisão dos programas pedagógicos

convencionais, de apenas um turno, matutino ou vespertino, com atividades

artísticas e recreativas em segundo plano, devem ser revistas em prol de

programas mais abrangentes, e, consequentemente, a construção de espaços

escolares adequados às novas intenções. Segundo Dórea (2000), esse foi o

objetivo de Anísio Teixeira com a Escola Parque – Centro Educacional Carneiro

Ribeiro, construída em meados do séc. XX, na qual ofereceu às ―crianças do

povo‖ ensino integral alternado entre salas de aula e atividades recreativas, a fim

de proporciona-lhes uma ―educação completa‖. Suas intenções e desafios

enfrentados ainda são críticos nos dias atuais.

No Brasil, há exemplos distintos de propostas pedagógicas ampliadas aliadas à

arquitetura para criação de equipamentos escolares de maior impacto social.

Pode-se destacar os CIEPs (Centros Integrados de Educação Pública), com

projetos de Oscar Niemeyer, os CEUs ( Centros Educacionais Unificados),

projetados por Alexandre Delijaicov, André Takiya e Wanderley Ariza

Page 8: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

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(KOWALTOWSKI, 2011) e as já citadas escolas-parque, idealizadas por Anísio

Teixeira e arquitetadas por Diógenes Rebouças, na Bahia, e Hélio Duarte , em

São Paulo (DÓREA, 2000).

Como catalisador de acontecimentos, abrigo e cenário, a arquitetura da escola

pode tornar a experiência dos educandos mais atrativa e diversa. Além da

ampliação dos usos pela criação de espaços como sala de dança, anfiteatros,

quadras esportivas, etc. o projeto arquitetônico deve ser concebido em conjunto

com docentes e alunos a fim propiciar maior conforto e identificação com o lugar.

Outras iniciativas, por parte das administrações públicas, vêm sendo tomadas a

fim de ampliar as funções das escolas convencionais, já existentes. Programas

como ―Escola Aberta‖, ―CAJUN‖, ―Ensino Integral‖, ―Educação Musical‖ vem

sendo desenvolvidos pela prefeitura de Vitória (ES) (PREFEITURA ...,2012), e

são bons exemplos dessas iniciativas.

Assim, neste trabalho, buscou-se, por meio de um projeto arquitetônico de um

equipamento educacional, atender a demandas ligadas à educação e cultura no

bairro de Joana D‘Arc e Andorinhas, dando-lhes uma resposta arquitetônica

repleta de valore e espaços pertinentes ao programa.

Como um projeto condizente com uma demanda real é o mínimo necessário

para que uma obra tenha um impacto social relevante e positivo, fez-se

necessário o entendimento da região para definição do programa e das

intenções de projeto, a fim de dar uma boa resposta aos atuais e futuros

moradores do lugar.

Revisando as tipologias arquitetônicas dos edifícios escolares presentes no

entorno do terreno escolhido e trabalhando os diversos parâmetros de projeto

tidos como desejáveis por pesquisadores e moradores do bairro, buscou-se, a

partir de críticas e potenciais locais, a proposição de um novo equipamento com

um conjunto de ideias e soluções replicáveis.

Atentou-se para a racionalização construtiva, diversidade de uso e flexibilidade

dos espaços, educação ambiental e transmissão de valores e ideais por meio da

arte na arquitetura e da arquitetura na arte.

Projetar um equipamento que contivesse em si harmoniosa conversão do

privado em público, junção do industrial e racional com o lúdico a fim de catalisar

os eventos relacionados à educação – tanto a formal quanto a informal - foi o

maior desafio deste projeto, que, mesmo no campo de ensaio, pôde trabalhar

conceitos e soluções pertinentes e replicáveis.

Page 9: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

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1. Educação e comunidade

Se a educação sozinha não pode transformar

a sociedade, tampouco sem ela a sociedade

muda.

(FREIRE, 2000, p. 67)

Page 10: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

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A intenção deste capitulo não é falar sobre todas as variáveis que envolvem

educação e comunidade: não seria possível pela abrangência do tema. A

sociedade se renova continuamente, e os períodos já passados – que

determinaram o atual estado das coisas - são incontáveis e distintos entre si.

Apesar de compreender que o tema ―escola‖ tem raízes temporais extensas, a

infinidade e variedade do assunto foram aqui resumidas aos itens e pensadores

estudados que influenciaram diretamente a concepção do projeto arquitetônico

do presente trabalho, ilustrado no terceiro capítulo.

Assim, buscou-se situar a análise das variáveis inerentes ao presente tempo,

restringindo o estudo teórico deste capítulo sobre como se deu o pensamento e

a prática da escola como equipamento comunitário e elemento de transformação

por uma relação mais estreita e diferenciada com comunidades carentes no

Brasil.

A visão sobre educação de pensadores que influenciaram a prática pedagógica

e política no Brasil, um breve histórico da escola da Primeira República até as

iniciativas que a compreenderam como catalisadoras de bons acontecimentos à

comunidades e reflexões sobre o papel da escola na sociedade foram os pontos

analisados neste presente capítulo.

Page 11: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

11

Sobre alguns pensadores da educação

Há um sem-fim número de pensadores da educação. Não é objetivo deste tópico

abordar os principais nomes da pedagogia, mas os que mais influenciaram o

presente trabalho. Assim, as ideias de Pestalozzi, Piaget, Montessori, e outros

pensadores não serão estudados neste trabalho, sem desconsiderar, entretanto,

suas influências no campo da pedagogia. Como o principal foco desta peça é a

escola como equipamento comunitário, deu-se prioridade a pensadores que

discutiram a arquitetura escolar no programa pedagógico e tiveram maior

impacto na realidade e no cenário brasileiro.

Portanto, feito os estudos, decidiu-se abordar, de forma básica e direcionada ao

tema, a abordagem filosófica e prática da educação do pensador iluminista Jean

Jacques Rousseau (1712-1778), do norte-americano Jhon Dewey (1859-1952) e

dos brasileiros Anísio Spínola Teixeira (1900-1971) e Paulo Freire (1921-1997),

dois dos principais pedagogos nacionais de relevância internacional.

Para o filósofo iluminista francês J. J. Rousseau, a infância é uma etapa da vida

com características próprias, diferentes da fase adulta, e por isso, fazia-se

necessário, no processo ensino-aprendizagem, valorizar aspectos biológicos e

psicológicos do aluno. Para ele a criança deveria crescer e desenvolver-se em

contato direto com as ―coisas‖ e com a natureza, evitando o máximo a

interferência do homem, bastando estar num meio suficientemente nutritivo do

ponto de vista intelectual, com liberdade para experimentar e adquirir assim um

espírito científico, muito mais precioso que a simples absorção de conteúdos

dirigidos pelo professor (RECH, 2009).

Essa ligação entre motivação e aprendizagem, na ligação do conteúdo com

prática, do conhecimento transmitido conforme a sua utilidade, passou a integrar

o ideário pedagógico do movimento da ―Escola Nova‖ ou ―Escola Progressista‖,

que envolveu muitos dos principais nomes da pedagogia do início do século XX,

como Jhon Dewey e Maria Montessori. Dentre outras coisas, a ―Escola Nova‖

buscava a superação da escola tradicional por uma nova escola com métodos

de ensino voltados a experiência e à construção de uma sociedade mais

democrática (RECH, 2009).

Segundo Kowaltowski (2011), Dewey fora um maiores pedagogos americanos e

divulgador da ―Escola Nova‖. Criticava a educação tradicional e sua ênfase dada

ao intelectualismo e à memorização. Para Dewey (1971), o esquema tradicional

é aquele onde há imposição de cima para baixo, de fora para dentro,

desconsiderando o estágio de maturidade do educando, impondo algo distante

da capacidade deste e fora do alcance de suas experiências. A forma como a

escola tratava o conhecimento, como um produto estático, se contrapunha à

sociedade, que está em constante modificação.

Page 12: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

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Entendia a escola progressista como o resultado do descontentamento com a

educação tradicional. Era a crítica e a solução. Educar compreendendo a idade

da criança e sua consequente condição de aprendizado. Não ensinar um produto

acabado, desligado de seu contexto, como absoluta verdade, de forma

impositiva; pelo contrário, transmitir o conhecimento por experiências

contextualizadas aos aprendizes. Ao invés de ensinos estáticos, os alunos

deveriam tomar contato com um mundo em mudança. Ao invés de preparo para

um futuro mais ou menos remoto, aproveitar ao máximo às oportunidades do

presente, a fim de elucidar a finalidade prática do conhecimento (DEWEY, 1971).

Achava que a educação se concretizava pela superação das dualidades:

razão/espírito, indivíduo/sociedade, fins/meios, teoria/prática, braçal/intelectual...

Não via as dualidades como coisas contraditórias, mas como potências para

efetivação do aprendizado. Entendia que a educação é um instrumento social

que assegura a continuidade da civilização, propiciando à criança condições

para que resolvesse os seus próprios problemas por si só, e não de acordo com

modelos previamente estabelecidos pelos professores (KOWALTOWSKI, 2011).

Valorizava os trabalhos manuais por terem bastante ligação com os problemas

concretos da vida. Enxergava a arte e a experiência estética nas coisas simples,

e dizia que a experiência artística em tarefas cotidianas estimulava o prazer pela

atividade, e consequente, seu verdadeiro aprendizado (DEWEY, 1934).

Resumidamente, Dewey via na experiência e na aplicação prática e

contextualizada do conhecimento a forma de ensino que despertaria nos alunos

o interesse, o prazer e real aprendizado.

Para Dewey (1971), era necessário também não só a revisão dos processos de

educação, mas também do ambiente escolar, que deveria propiciar experiências

efetivamente criadoras. A aprendizagem pela experiência, pela vivência, requeria

um equipamento adequado:

―(...) em escolas equipadas com laboratórios, lojas e jardins, que livremente

introduzem dramatizações, jogos e desporto, existem oportunidades para

reproduzir situações da vida, e para adquirir e aplicar informação e ideias num

progressivo impulso de experiências continuadas. As ideias não são segregadas,

não formam ilhas isoladas. Animam e enriquecem o decurso normal da vida.

Informação é vitalizada pela sua função; pelo lugar que ocupa na linha de ação‖

(DEWEY, 1971, p. 45)

Assim, Dewey sugere que a escola deveria ―reproduzir situações da vida‖, a fim

de ser um local estimulante propício à educação pela experiência, por ele tanto

defendida. Além das salas de aula, os laboratórios, os locais para esporte, os

jardins, e os espaços para dramatizações eram vistos como essenciais. Um local

não voltado apenas a aulas no padrão tradicional, mas voltado às experiências,

ao prazer, à contemplação. Além disso, ao dizer que a informação é ―vitalizada

Page 13: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

13

pela sua função, pelo lugar que ocupa na linha de ação‖, Dewey ilustra bem o

que chamara de educação por meio da prática contextualizada.

Dewey também valorizava o pragmatismo, sublinhando que princípios não

bastavam para efetivação da nova educação. Fazia-se necessária a prática da

mesma. Com a crítica ao sistema tradicional, não buscava uma nova escola que

a negasse destrutivamente, mas construtivamente, acrescentando aos métodos

aproveitáveis novas e pertinentes visões (DEWEY, 1971).

Dewey também via a escola como um elemento da democracia, como uma

forma de igualar as oportunidades pela educação (DÓREA, 2000). Nesse e em

outros pontos, torna-se notável a influência de Dewey sobre a trajetória e

pensamento do importante pensador e personalidade da educação no Brasil,

Anísio Teixeira, que fora aluno de pós-graduação de Dewey. Não seguiu à risca

o modelo americano, mas o adaptou a realidade nacional (RECH, 2009).

Anísio Teixeira foi um educador baiano renomado internacionalmente, assumiu

os cargos de Inspetor Geral do Ensino da Bahia (1924-1928), Diretor da

Instrução Pública do Distrito Federal – RJ (1931-1935) e Secretário de Educação

e Saúde do Estado da Bahia, entre outros cargos; por meio dos quais pôde

implementar uma série de reformas e medidas educacionais no país e nos

estados do Rio de Janeiro, Bahia e São Paulo (DÓREA, 2000).

Sua visão sobre educação foi bastante influenciada pelas ideias de Dewey, e viu

em seu pragmatismo os fundamentos educacionais capazes de transformar o

Brasil. A partir das condições brasileiras, Anísio Teixeira procurou aprimorar o

sistema nacional de ensino e instrumentalizar o estado para prover às crianças

do povo uma educação pública de qualidade (RECH, 2009).

Para Anísio Teixeira, educação e democracia estavam intimamente ligadas. Para

ele, sendo a Democracia o regime político onde há liberdade e respeito pelos

indivíduos e igualdade de oportunidades e respeito entre os filhos dos homens, a

educação mais difícil - a capaz de formar homens livres e sábios e não treiná-

los, domesticá-los, apenas – era condição sine qua non para a existência de

uma sociedade verdadeiramente democrática. Educação esta oferecida a todos,

para terem oportunidades iguais para defrontar o mundo, a sociedade e a luta

pela vida (TEIXEIRA, 1968). Se é o governo do povo pelo povo, ou, como dizia o

―Prof. Russel, da universidade de Columbia (...) o Governo dos que sabem pelos

que sabem‖ (TEIXEIRA, 1968, p. 89), a Democracia carece, necessariamente,

de um povo devidamente instruído. Assim, para Anísio Teixeira a ―Democracia é,

literalmente, educação. Há entre os dois termos, uma relação de ―causa e efeito

(...)‖ (TEIXEIRA, 1968, p. 89).

―O homem precisa educar-se, formar a inteligência para poder usar eficazmente

as novas liberdades.‖ (TEIXEIRA, 1968, p. 19)

Page 14: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

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Portanto, para Teixeira (1968), para que houvesse real democracia, deveria

haver real educação. Para que houvesse real educação, dever-se-ia desejar a

real democracia. A educação seria o meio pelo qual os povos poderiam efetivá-

la, torná-la real. Na visão de Teixeira, a democracia só iniciou de fato nos

Estados Unidos da América ―quando Horace Mann iniciou sua grande campanha

pela educação pública e gratuita para todos, na presidência de um conselho de

Educação(...)‖ (TEIXEIRA, 1968, p. 90).

Dessa forma, argumenta que não havia no Brasil ainda nem mentalidade nem

postura realmente democráticas, nas diversas áreas e especialmente na

educação, pois o Brasil tratava do sistema de educação de forma dupla, pela

oferta de um sistema para a dita elite, e outro para as camadas mais populares;

um para os dirigentes e outro para os dirigidos. Apesar da república, o ensino

nacional continuava oligárquico (TEIXEIRA, 1968).

―Mesmo pois com a fundação da república, ainda não chegamos à democracia.

O regime educativo visava assegurar a manutenção de uma sociedade de

classes, em que um grupo seria beneficiado com uma educação alta e o povo,

as ―classes menos favorecidas‖ teriam escolas primárias seguidas de

inadequadas e precárias escolas profissionais‖ (TEIXEIRA, 1968, p. 93).

Inquietavam a Anísio as desigualdades e distâncias físicas, intelectuais,

socioeconômicas, raciais que caracterizavam o Brasil. Dizia que a nação era

composta por indivíduos cuja coesão social, na maior parte dos casos, era

restrita à família ou ao grupo oligárquico de origem. Um arquipélago

socioeconômico, intelectual e cultural, unido por um sentimentalismo.

Sentimentalismo permissivo. Por esta coesão social fragmentada, estratificada, o

Brasil possuía, a despeito do sentimento de união e de nação, um falso corpo

nacional. A noção de povo, de República, não se dava em unidade na prática.

Em diversos casos (como ainda nos dias de hoje), os governantes governavam

visando favorecer suas próprias oligarquias. A mesma lógica de governar era

replicada na educação. Ou, quando de fato tomavam atitudes corretas,

utilizavam suas conquistas como meios de arrecadar votos, promovendo uma

personalização de politicas públicas na educação, dificultando a continuidade

das mesmas nas mudanças de governo (TEIXEIRA, 1968).

Assim, Anísio via na educação uma forma de promover mudanças mais

profundas na sociedade brasileira além da mera instrução, pois entendia que

essa estrutura oligárquica está diretamente ligada à educação recebida, às

políticas praticadas, aos cidadãos formados. Por ela poderia ser facilitada e

induzida a formação de indivíduos impregnados de conceitos democráticos,

capacitados a exercerem a liberdade com respeito aos direitos comuns. Apesar

da escola não ser a única fonte de ensino, esta é a instituição criada com esse

fim específico, portanto, como República disposta a se tornar realmente

Page 15: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

15

democrática, a educação de seu povo, a formação de cidadãos deveria ser a

prioridade do Governo.

Por essas convicções talvez o pensador baiano tenha dedicado boa parte de

seus anos como profissional em cargos públicos, sempre buscando aperfeiçoar

não só o sistema de ensino brasileiro, mas também seus meios políticos. Sua

experiência lhe permitiu obter diretrizes de como seria possível promover uma

real mudança no cenário da educação nacional (TEIXEIRA, 1968).

Anísio batalhou pela desburocratização das operações ligadas à educação

pública, defendendo que a educação deveria ser gerida por um órgão autônomo

e responsável pelas políticas e pela gestão do orçamento destinado a educação,

a fim de minimizar a dependência de outros setores do estado. Além disso, estes

órgãos educacionais deveriam estar desvinculados ao personalismo político, ou

seja, deveriam ter o caráter de política perene, constante, permanente, a fim de

ter melhoria continua e progressos com objetivos menos maculados pelo

interesse partidário (TEIXEIRA, 1968).

No campo político ainda, nas décadas de 1950 e 1960 planejou a

municipalização do ensino, para integrar as comunidades nas questões da

educação e regionalizar a ciência pedagógica, a escola e o currículo. Além disso,

graças aos seus esforços, nasceu o Inep (Instituto Nacional de Estudos e

Pesquisas Educacionais), empenhando forças para a universalização do ensino

primário, o aperfeiçoamento dos professores, educação pré-escolar, o ginásio

único e pluricurricular, organização da universidade e os cursos de pós-

graduação (KOWALTOWSKI, 2011).

Teixeira também contribuiu de forma relevante sobre o entendimento do espaço

escolar no Brasil. Para Anísio, a educação era um tripé indissociável de escola-

biblioteca-museu, pois nela era importante criar o ambiente que existe na própria

vida social. A Escola Parque, da Bahia, concebida ideologicamente por ele e

arquitetada por Diógenes Rebouças, foi considerada pela ONU uma das maiores

experiências de ensino primário do século XX (KOWALTOWSKI, 2011). Esta

escola e seu conceito eram a junção de um programa pedagógico que pensava

o ensino em tempo integral, aliando ensino em salas de aula a atividades

recreativas e culturais, com uma arquitetura adequada a estes fins. Anísio

entendia que a educação deveria ser dada em tempo integral, por turnos de

ensino de conteúdos e turnos de atividades distintas, educação física, artística,

ambiental, cultural, etc., o que era possibilitado por estes equipamentos

(DÓREA, 2000).

Entendia também que não era na educação que o Governo deveria poupar

esforços financeiros. Para ele, a educação deveria ser dada de forma

qualificada, ainda que tivesse um alto custo:

Page 16: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

16

"É custoso e caro porque são custosos e caros os objetivos a que visa. Não se

pode fazer educação barata – como não se pode fazer guerra barata. Se é a

nossa defesa que estamos construindo, o seu preço nunca será demasiado caro,

pois não há preço para a sobrevivência." (TEIXEIRA, 1994, p. 175)

Assim, a concretização da transformação do cenário, segundo Teixeira, não se

daria senão por um grande esforço, político-financeiro e técnico-pedagógico:

―Há, pois, dois problemas em relação à reconstrução educacional do país: um -

político-financeiro - é o de nossas leis de educação que se devem limitar a prover

recursos para a educação e criar os órgãos técnico-pedagógicos, autônomos,

para dirigi-la, e outro - técnico-pedagógico - de aperfeiçoamento permanente e

progressivo do nosso ensino e nossas escolas, a ser obtido pelo constante

incremento de nossa cultura especializada e pelo preparo cada vez mais

eficiente do nosso magistério.‖(TEIXEIRA, 1952)

Luta por uma educação de qualidade a todos, especialmente às crianças do

povo, educação como ferramenta essencial e principal na construção de uma

sociedade justa e democrática, escolas adequadas e propícias a

experimentações positivas, e, como meio viabilizador, ter um Governo preparado

politicamente e empenhado financeiramente em seus compromissos com a

educação. Entendimento de educação como política, e de boas políticas como

condição para real transformação no cenário da educação. Resumidamente,

estes são alguns entendimentos relevantes com os quais Anísio contribuiu com

seu pensamento e prática.

Anísio Teixeira exerceu grande influência sobre um dos principais – se não o

principal, pedagogo contemporâneo, Paulo Reglus Neves Freire. Segundo

Gadotti (1989), Paulo Freire se considerava discípulo de Anísio Teixeira,

voltando toda a sua pratica pedagógica às classes populares e visão da

educação como instrumento politico.

Paulo Freire começou sua experiência de educador em 1936 como professor

dando aulas de gramática, e, em 1946 começou a trabalhar no SESI – Serviço

Social da Indústria, onde permaneceu por oito anos como diretor do Setor de

Educação. Lá, Paulo coordenou os trabalhos dos professores com as crianças,

além de trabalhar com as famílias delas. Ali, Paulo percebeu que a educação

não se efetivava por um discurso abstrato e não era por ela que ele iria

sensibilizar os educandos de famílias carentes para suas questões essenciais.

Percebeu a distância entre a linguagem culta e a linguagem popular, e o

distanciamento da educação tradicional à realidade das classes menos

favorecidas. Assim, Paulo deu início à sua longa vereda em prol da educação

popular e de sua pedagogia (GADOTTI, 1989).

Page 17: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

17

Assim, Paulo Freire lutou pela educação como ferramenta política, pelo ensino

contextualizada e de cunho crítico. Buscava incluir o contexto do educando em

seu processo de educação. Na alfabetização, Paulo utilizava palavras chave do

cotidiano de seus alunos. E por elas, trazia uma reflexão crítica (GADOTTI,

1989).

Tomemos o exemplo da alfabetização de um cidadão de Diadema. Algumas

palavras exploradas seriam: Di-a-de-ma, Po-vo, Lu-ta. A partir delas, para

explicar a formação de orações, sujeito, verbo e etc., uma possível frase seria ―a

luta do povo de Diadema‖, ou ―o povo de Diadema luta todos os dias‖

(GADOTTI, 1989). Assim, com palavras oriundas de uma realidade e temas

geradores, o aprendizado se dava de forma contextualizada e crítica.

Na visão de Freire (2003, p.33), a educação tinha que ser completa, não apenas

mera transmissão de conteúdo:

―É por isso que transformar a experiência educativa em puro treinamento técnico

é amesquinhar o que há de fundamentalmente humano no exercício educativo: o

seu caráter formador. Se se respeita a natureza do ser humano, o ensino dos

conteúdos não pode dar-se alheio à formação moral do educando.‖

Paulo defendia o exercício da democracia e já então falava da importância de

grupos populares discutirem a sua própria rua, o seu sindicato, a escola dos

seus filhos, a urbanização do seu bairro, e chegar inclusive a discutir a própria

produção (GADOTTI, 1989).

Nesse aspecto, Paulo perpetuou a visão de Anísio e a expandiu mais no campo

da educação propriamente dita, na pedagogia, por sua forma de ensino.

Somadas as duas visões, temos um modelo consistente de educação como

forma de transformação.

As discussões de Anísio Teixeira e Paulo Freire permanecem tão pertinentes

hoje quanto em suas épocas. O Brasil ainda continua longe de ter uma

democracia real, e os cidadãos ainda compõem massa de manobra. Até hoje, a

educação tem sido encarada de forma secundária, sem a prioridade tão

importante defendida por Teixeira, sem a missão libertadora arvorada por Freire.

Assim como outrora o acesso à escola era privilégio de indivíduos com recursos,

atualmente, apesar da maior oferta de escolas públicas a todos, as escolas

privadas possuem estrutura e ensino de qualidade consideravelmente mais

elevada, o que acaba por manter a segregação, não mais por acesso, mas por

qualidade. Paulo Freire acreditava que era necessário maior envolvimento das

famílias, das classes dependentes do ensino público para que essa realidade

fosse alterada.

Page 18: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

18

O papel da escola na sociedade contemporânea

A escola, junto a instituições sociais como a família, a religião e a classe social,

possui a tarefa de transmitir cultura para habilitar o jovem à vida cívica e de

trabalho, em uma comunidade altamente complexa e de meios de vida

crescentemente especializados.

Desde os princípios do século XIX ate os dias presentes, a sociedade tem

passado por uma revolução tecnológica, decorrente da aplicação cada vez mais

crescente dos resultados da ciência à produção e à vida social. A esta

acrescenta-se as outras duas revoluções já consolidadas no Brasil, a político-

democrática e a industrial, e tem acelerado ainda mais o processo de mudança

social (TEIXEIRA, 1952). Anísio Teixeira observa:

―Estes últimos cento e cinquenta anos corresponderam, assim, a um período de

profundas transformações, em que a transmissão da cultura se viu altamente

perturbada (...) por se achar a própria cultura em mudança cada vez mais rápida

tornando extremamente difícil a sua transmissão e por haverem as próprias

instituições transmissores da cultura, a família, a classe e a religião, entrado elas

próprias em mudança e até em desagregação, deixando de cumprir ou não

podendo mais cumprir a sua função normal de órgãos da continuidade e

estabilidade sociais.

Foi esse o período em que a escola, como órgão intencional de transmissão da

cultura, se viu elevada à categoria de instituição fundamental da sociedade

moderna, absorvendo, em parte, funções tácitas ou tradicionais da família, da

classe, da igreja e da própria vida comunitária, e passando a constituir, na

medida de sua expansão e eficácia, a garantia mesma da estabilidade e da paz

de uma sociedade em transformação, a segurança da relativa correção ou

harmonia dos seus rumos e o empecilho de sua desagregação violenta.‖

(TEIXEIRA, 1952)

Assim, ante a essas profundas transformações históricas recentes, tem-se uma

nova configuração social. Elevado número de divórcios, pais ausentes na

educação dos filhos, influência das novas mídias, enfraquecimento das

instituições religiosas são alguns exemplos das transformações que tem se

acentuado. Estes acontecimentos tem tido reflexo nas salas de aula por influírem

diretamente na formação da criança (BIESDORF, 2011). Somados aos

problemas dessa nova estrutura social, a escola ainda tem de lidar com o

desafio inerente ao Brasil: a acentuada desigualdade social.

Apesar de não ser o papel da escola e nem ser possível que a escola assuma

todas as funções das demais instituições sociais, esta tem como motivo de

existir a educação, a formação de novos e capacitados cidadãos e pode

contribuir significativamente para amenizar esses conflitos atuais.

Page 19: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

19

Além dos problemas decorrentes de uma nova ordem social, o Brasil ainda

preserva características antagônicas à Democracia. Ainda temos abismos

sociais. A necessidade de cotas como meio de igualar as oportunidades mostra

o quão distante estamos de uma sociedade igualitária e socialmente justa na

educação de base. A política de cotas é uma justiça tardia, se tomarmos em

conta a nossa constituição e sua idade. O direito à educação de qualidade,

teoricamente, já nos é assegurado há mais de uma geração. Entretanto, há

considerável distância entre o que se deve fazer e o que é feito há décadas no

Brasil. O papel da escola é confirmar os bons ideais que guiaram a formação da

Constituição. É confirmar os direitos de cada cidadão, pela massificação da boa

educação. É ajudar a mudar o próprio Brasil.

Assim, não apenas ensinar conteúdos, mas também valores, é, sem dúvida, hoje

uma das principais funções da escola. E sem um envolvimento estreito com a

comunidade nas quais ela se insere esta tarefa será extremamente dificultada.

Page 20: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

20

A escola como equipamento comunitário no Brasil

Para Teixeira (1952), a reconstrução escolar brasileira era uma questão de

salvação nacional. Para ele, nenhum outro dever era maior do que o da

reconstrução educacional e nenhuma necessidade mais urgente do que traçar

os rumos dessa reconstrução para promovê-la de forma efetiva. Assim, na busca

pela construção de uma educação nova e transformadora no Brasil muita coisa

já foi feita, e há na história diversas lições a serem consideradas previamente à

proposição de qualquer nova estratégia.

Na época do Brasil colonial, a educação esteve sob a incumbência da Igreja ou

de instituições religiosas, com escassos registros à arquitetura e à pedagogia,

com o ensino sendo comumente dado nas próprias igrejas ou em alguns de seus

imóveis. Foi no final do século XIX até 1920, durante a Primeira República, que

teve início, no Brasil as primeiras iniciativas de construção de equipamentos

voltados exclusivamente ao ensino, com os projetos dos Grupos Escolares e das

Escolas Normais (KOWALTOWSKI, 2011).

Baseados em modelos educacionais franceses, a arquitetura buscava seguir

valores da época, por exemplo, dividindo as áreas femininas e masculinas, até

no pátio de recreação. Os partidos arquitetônicos dos Grupos Escolares e das

Escolas Normais eram semelhantes, neoclássicos ou ecléticos, com plantas

simétricas, composto por salas de aula, reduzido número de ambientes

administrativos e entrelaçamento harmonioso entre projeto arquitetônico e

pedagógico. O governo demonstrava a importância atribuída à educação por

meio do estilo imponente e de detalhamentos sofisticados dos edifícios,

normalmente projetados por arquitetos de renome internacional e formação

europeia, como Ramos de Azevedo, Victor Dubrugas, Manuel Sabater, Carlos

Rosencrantz e Artur Castagnoli (KOWALTOWSKI, 2011).

Um exemplo dessa arquitetura é a Escola Normal da Capital (Figura 1),

inaugurada em1894 na atual Praça da República, no centro de São Paulo.

Atualmente a edificação abriga a Secretaria Estadual de Educação de São

Paulo. As escolas normais tinham como destaque sua grandiosidade, com

programas arquitetônicos mais complexos e o objetivo de torná-las marcantes e

imponentes na paisagem. Além dos ambientes comuns aos Grupos Escolares

(salas de aula e ambientes administrativos), tinham também biblioteca,

anfiteatros e laboratórios (KOWALTOWSKI, 2011).

Como exemplo de uma escola do Grupo Escolar pode-se citar a Escola Modelo

da Luz, de 1897, construído na Avenida Tiradentes, no Bairro da Luz, capital

paulista. De autoria de Ramos de Azevedo, possui doze salas de aula em

formato retangular, distribuídas em 3 andares (Figura 2).

Page 21: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

21

Figura 1: Escola Normal da Capital, em São Paulo. Fonte: FDE(1998)

Figura 2: Escola Modelo da Luz. Fonte: Kowaltowski (2011)

Apesar dos esforços empregados na Primeira República, o Brasil carecia de

muito mais vagas. Fazia-se necessário a construção de um grande número de

edifícios, de forma mais rápida e com menos custos, com projetos e sistemas

construtivos mais racionais. Com os impactos da primeira revolução industrial no

País, essa demanda cresceu (KOWALTOWSKI, 2011).

Com a Primeira Guerra Mundial houve uma interrupção de projetos

arquitetônicos, retomada em 1920 pela produção de projetos e construção de

escolas em massa. Assim, o período de 1921 a 1950 foi marcado pela difusão

dos conceitos modernos na arquitetura escolar, propiciadas pelas demandas por

racionalização construtiva para dar suporte a essa construção em massa e pelo

contexto cultural da época. Extinguiu-se a divisão entre os sexos, a implantação

apresentava características mais flexíveis, e o uso de pilotis liberou o térreo para

Page 22: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

22

uso de atividades recreativas. Além disso, com a ascensão de Getúlio Vargas,

em 1930, a educação foi tomada como elemento remodelador de uma sociedade

moderna e democrática (KOWALTOWSKI, 2011).

Nesse período, uns grupos de intelectuais de áreas distintas se juntaram a fim

de estabelecer parâmetros mínimos a serem atendidos pelas escolas. Um

exemplo disso é o Código de Saboya, de 1934. Nesse contexto, novos ideais de

educação começaram a ser considerados na concepção dos projetos, como a

ideia de se estabelecer um programa que contemplasse um conjunto de

necessidades mínimas. Definiu-se, por exemplo, que as salas deveriam ser

amplas, pé-direito de 3,60m, sala de educação física, auditório, jogos, canto,

cinema educativo, sala de festas, de reunião, biblioteca, instalações para

assistência média, dentária e higiênica, ventilação, largura dos corredores e

escadas (KOWALTOWSKI, 2011).

Um exemplo dessa nova arquitetura escolar é o Grupo Escolar Visconde de

Congonhas do Campo, construído em São Paulo, projeto de 1936 de autoria do

arquiteto José Maria da Silva Neves. Sem ornamentos, com pilotis no térreo,

implantação livre, aberturas horizontais (KOWALTOWSKI, 2011).

Figura 3: Grupo Escolar Visconde Congonhas Campo.

Fonte: Kowaltowski (2011)

Enquanto a questão da quantidade atropelava a qualidade das construções

escolares, nos anos 40, Anísio Teixeira, então secretário da Educação da Bahia,

influenciado pela arquitetura escolar norte-americana concebeu as escolas-

parque visando ampliar a capacidade de educar das escolas, num período em

que qualidade dos edifícios era bastante negligenciada (KOWALTOWSKI, 2011).

Tratava-se de equipamento escolar dividido claramente em duas funções

básicas: escolas-classe e escolas-parque, a primeira de natureza formal, com

salas de aula e edificações econômicas, e outra de natureza mais informal,

Page 23: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

23

própria para atividades recreativas, arte, cultura e esporte (DÓREA, 2000).

Dessa forma, os equipamentos escolares deixavam de ser meramente espaços

de salas de aula, mas passavam a comportar diversidade de atividades culturais

e educativas, além de servir como ―pontos de convívio da comunidade‖

(KOWALTOWSKI, 2011, p. 89).

Com a incorporação de novos usos, a escola pública concebida por Teixeira

passou a exercer maior influência sobre seu entorno, ao lhe oferecer programas

atrativos como anfiteatros, biblioteca, jardins e ―áreas livres‖. Além disso, por

estar instalada em regiões periféricas, a escola passara a ter uma atribuição a

mais: funcionar como um núcleo de articulação do bairro (DÓREA, 2000).

Um exemplo dessa arquitetura é a escola-parque da Bahia, o Centro

Educacional Carneiro Ribeiro (primeira etapa 1947/segunda etapa 1956). Ali, os

ideais pedagógicos de uma educação completa, o conceito da escola como

ponto de convívio da comunidade e a arquitetura moderna se encontraram

(BASTOS, 2009). Além disso, Anísio Teixeira expandira em sua concepção a

função da escola além dos limites recorrentes às escolas públicas,

acrescentando-lhe abrigos e vagas às crianças abandonadas (pelo menos 5%

das vagas da escola). Todavia, esse plano não fora concretizado (NUNES,

2009).

Idealizado por Anísio Teixeira e arquitetada por Diógenes Rebouças e Hélio

Duarte, a escola-parque da Bahia (figura 4 e 5) fora concebida nos preceitos

modernos com influências da escola modernista carioca. É notável que, além

das técnicas construtivas empregadas, de sua racionalização e estética, a arte

fora inserida no equipamento com temas ligados aos ideais que norteavam a

escola progressista, por determinação de Anísio. Há no equipamento grandes

painéis, hoje considerados patrimônios nacionais de artistas de renome, como

Maria Célia Amado, Mario Cravo e Caribé (NUNES, 2009). Dois exemplos são

os painéis ―O homem e a máquina‖ (Figura 6), de Mário Cravo, e ―A

transformação da matéria‖ (Figura 7), de Maria Célia.

Figura 4:À esquerda, Núcleo de Artes em dia de exposição e à direita, foto do pavilhão

principal. Fonte: Rocha (2010)

Page 24: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

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Figura 5: Núcleo de Artes. Fonte: Fenske (2011)

Figura 6: Mario Cravo - "O homem e a máquina". Fonte: Fenske (2011).

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Figura 7: Maria Célia Mendonça - "A transformação da matéria‖. Fonte: Fenske (2011)

Foi, não só no Brasil, uma referência do que havia de melhor em termos de

educação primária, pois, além do espaço físico qualificado, o programa

pedagógico também recebera especial atenção. Os educadores receberam

capacitação diferenciada e alguns até bolsas de estudo no exterior, a fim de

fazer a escola-parque e a educação ali oferecida um caso de sucesso. Assim, a

relevância e a intensidade das atividades culturais abrigadas na escola

acabaram por ser reconhecidas até por representantes da ONU e da Unesco

(NUNES, 2009).

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Figura 8: Dia de discussões sobre sustentabilidade no Dia da Ciência e Tecnologia.

Fonte: (NOTÍCIAS ..., 2012)

Figura 9: Caminhada do Bem, homenageando Luiz Gonzaga. Fonte: (NOTÍCIAS ..., 2012)

Page 27: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

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Figura 10: Show de marionetes a partir de contos de Jorge Amado.

Fonte: (NOTÍCIAS ..., 2012)

Figura 11: Dia de ações sociais para a comunidade na escola-parque.

Voluntárias dando esclarecimento sobre o câncer de mama. Fonte: (NOTÍCIAS..., 2012)

Page 28: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

28

Hoje a escola-parque da Bahia continua funcionando e abrigando atividades

diversas, confirmando o ideal Teixeira. A escola possui núcleos de dança, de

pluralidade artística, pluralidade esportiva, leitura e pesquisa, de alimentação e

artes visuais, para exemplificar alguns. Possui site e blogs que divulgam suas

atividades (NOTÍCIAS ..., 2012).

Essas mesmas ideias foram difundidas em São Paulo com a criação do

Convênio Escolar (1949-1954), órgão criado para modernizar as concepções de

projeto e obra de escolas a fim de dar conta da grande demanda de vagas e

ensino público sob a qual o estado e o município de são Paulo passavam. A

equipe de arquitetura era coordenada pelo arquiteto Hélio Duarte, com o auxílio

de Anísio Teixeira, com quem já havia trabalhado anteriormente na Bahia

(BASTOS, 2009).

Segundo Bastos (2009), Hélio Duarte também via a estrutura física da escola

como centro social do bairro. Entendia que, dessa forma, dobrava a quantidade

de função do equipamento, e, consequentemente, aumentava seu custo

benefício. Assim, somadas as visões de Duarte e de Teixeira e de outros

profissionais, durante os anos do Convênio Escolar foram construídas dezenas

de escolas, muitas delas com programas bastante amplos, incluindo salas de

dança, de ginástica corretiva, consultórios médico e dentário, hortas, viveiros,

laboratórios, museu escolar, anfiteatro.

Figura 12: Croquis das escolas-classe (1948), em São Paulo, de Hélio Duarte. Fonte: Bastos (2009, p. 43)

Page 29: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

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Figura 13: Nas duas imagens à esquerda, Grupo Escolar Almirante Barroso (1949). À direita, no alto, Grupo Escolar de Vila Leopoldina (1949) e, acima, Grupo Escolar de

Moema (1949). Todas assinadas por Hélio Duarte, em São Paulo. Fonte: Bastos (2009).

Nos anos 80, também num cenário de abertura democrática do País, o programa

escola-parque de Anísio Teixeira fora retomado por Darcy Ribeiro, que além de

pedagogo e pensador de renome internacional, era, então, vice-governador e

secretário da ciência e cultura do Estado do Rio de Janeiro. Darcy o fez por meio

dos CIEPs (Centros Integrados de Educação Pública), que acabaram por se

tornar a política pública mais marcante do governo de Leonel Brizola (1983-

1987) (BASTOS, 2009).

Os CIEPs tinham o objetivo propiciar uma revolução no ensino público do Rio de

Janeiro, por meio de educação em período integral (8h às 17 h),

acompanhamento docente extra-aula, até atendimento médico e odontológico, a

fim de compensar a situação social adversa das crianças e jovens mais

desfavorecidos economicamente. Esse apoio era estendido aos sábados e

domingos, em que a quadra, a biblioteca e o consultório permaneciam abertos

(BASTOS, 2009).

Para os CIEPs, Oscar Niemeyer e sua equipe conceberam um projeto-padrão de

sete mil metros quadrados, englobando um edifício principal de três pavimentos,

com 24 salas de aula, refeitório, consultório, e serviços auxiliares, e, em dois

anexos, a biblioteca e um ginásio de esportes, numa configuração que

demandava terrenos de dez mil metros quadrados. A dificuldade de contar com

grandes terrenos nas áreas mais densas levou a uma solução mais compacta

com a quadra esportiva na cobertura do edifício escolar. A definição técnico-

construtiva dos CIEPs contemplava o uso de estrutura de concreto pré-moldada

Page 30: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

30

em usina, solução justificada pela escala do programa e rapidez da execução

(seis meses). Nas duas gestões de Leonel Brizola no governo do Rio (1983-1987

e 1991-1995), foram construídas quase 500 escolas. As peças estruturais foram

definidas junto com o projeto e produzidas na "fábrica de escolas" coordenada

por João Filgueiras Lima (BASTOS, 2009).

Figura 14: CIEP 265, em São joão da Barra, no Projeto Verão lançado pelo Governo do

Estado, em 2011. Fonte: Extra Online (2010

Os projetos dos CIEPs geraram muita polêmica. Problemas acústicos

decorrentes da implantação das quadras na cobertura e da configuração das

salas de aula despontaram como questões a serem solucionados

(KOWALTOWSKI, 2011). Além disso, foi duramente criticada pela desigualdade

que gerava em relação às outras escolas públicas. Alguns também diziam que o

orçamento voltava-se para o equipamento, e não para os docentes e materiais

didáticos (MIGNOT, 2001). Niemeyer, entretanto, saiu em defesa:

"As críticas que têm sido feitas aos CIEPs são tão levianas, demonstram tal

desinformação que a contragosto, sou obrigado a dar uma explicação desse

projeto.

Começarei dizendo se tratar de um projeto revolucionário, sob o ponto de vista

educacional. Escolas que não visam apenas — como as antigas — a instruir

seus alunos, mas sim dar um apoio efetivo a todas as crianças do bairro. E isto

explica serem abertos aos sábados e domingos, ginásio, gabinete médico,

dentário, biblioteca, etc. Daí a dificuldade de utilizar as velhas escolas — vão

sendo remodeladas — pois não foram projetadas para esse programa.

Por outro lado, os CIEPs não representam custos vultosos, nem são faraônicos

(para usar um termo do agrado da mediocridade inevitável). Obedecem a um

programa e não existe mágica em matéria de construção. Pré-fabricados, eles

constituem uma economia de 30% em relação às construções do tipo comum —

e mais econômicos ainda se tornam por serem de construção rápida, quatro

meses, o que é mais fácil edificar tendo em conta o aumento crescente dos

Page 31: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

31

materiais, da mão de obra, etc. Adaptam-se a qualquer lugar, junto às favelas

inclusive, o que é sem dúvida importante, permitindo que os filhos dos favelados

sintam que todo um conforto lhes é oferecido, sem a discriminação odiosa que

mais tarde e, por enquanto, a vida lhes vai impor. E são simples, lógicos,

destacando-se pela sua forma diferente nos setores mais diversos da cidade,

revelando assim a grandeza do programa adotado pelo governador Leonel

Brizola, o que, por isso mesmo, parece não agradar a muita gente" (NIEMEYER

apud MIGNOT,2001).

Segundo Mignot(2001), a polêmica acerca dos CIEPs e da escola pública em

tempo integral ocuparam os debates do tempo em que estes eram construídos.

Os CIEPs eram heróis e vilões, solução e desgraça. Se não democratizaram o

ensino público, ao menos democratizaram o debate acerca deste. Ainda assim,

os resultados são percebidos ainda hoje. Um exemplo é o projeto verão lançado

pelo Estado do Rio de Janeiro, ocupando os CIEPs durante as férias com

diversas atividades.

Com a derrota do PDT nas eleições seguintes ao mandato de Brizola, o projeto

dos CIEPs foi abandonado, deixando pela cidade vários canteiros de obras ao

léu. Apesar dos problemas e falhas apontadas, é inegável que o projeto tinha em

si uma forte carga ideológica e democrática em sua concepção e missão. A alta

qualidade dos equipamentos não pode ser motivo de crítica, como a

desigualdade gerada, já que uma iniciativa de maior qualidade que a anterior

sempre o fará; mas seus defeitos sim, como os que Kowaltowski (2011) aponta:

desconforto térmico, desconforto acústico, custo mais elevado que o esperado.

Com a continuidade da proposta, estes problemas poderiam ser sanados. Da

mesma forma que o erro se repetiu em série, da mesma forma os acertos se

fariam.

Entretanto, como o equipamento acabou por ser nomeado ―brizolão‖, sua

vinculação a uma personagem política lhe fora definitiva em sua não continuação

(MIGNOT, 2001). A personalização das ações educacionais, apontada outrora

por Anísio Teixeira como um dos principais problemas da política nacional em

relação às escolas, mostrara seu lado perverso mais uma vez. Conquistas,

princípios, know-how, ao invés de aproveitados, questionados e aperfeiçoados,

foram antagonizados e abandonados.

Utilizando a lógica da pré-fabricação, os CIACs (Centros Integrados de Apoio à

Criança) foram a política pública marcante em termos de educação, com menos

êxito que as anteriores. Na década de 90 durante a ―era Collor‖. Foram

concebidos pelo arquiteto João Filgueiras Lima, o Lelé, porém não tiveram muito

sucesso. Para sua construção, foi utilizada uma técnica construtiva de

argamassa armada em componentes pré-fabricados na própria obra, resultando

em uma construção econômica e leve, e, sendo reconhecido como avanço

tecnológico na construção civil. Entretanto, as peças pré-fabricadas

Page 32: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

32

apresentaram patologias durante o ciclo de vida da edificação, apresentando

rachaduras e necessidade de reposição de peças inteiras. Como o as fábricas

de pré-fabricação foram desmontadas, e a técnica construtiva adotada não é

convencional, as reparações se tornaram um gargalo nos CIACs

(KOWALTOWSKI, 2011).

Assim, os CIACs não obtiveram muito êxito em sua continuidade, não só pela

dificuldade de manutenção das edificações, mas pelo caráter político dessas,

cujas formas e implantação lhes davam características muito peculiares, ligadas

a marca do governo Collor (KOWALTOWSKI, 2011).

Figura 15: Imagem externa da quadra dos CIACs, cuja forma fora replicada em todos os

projetos. Fonte: Finotti (2011)

Outro projeto ambicioso no ponto de vista arquitetônico-pedagógico, baseado

nas escolas-parque de Anísio Teixeira foi o Centro Educacional Unificado (CEU),

concebido e construído durante a gestão na prefeitura de Marta Suplicy (2001-

2004), e foram o carro-chefe da política educacional da prefeitura nesse período

(BASTOS, 2009).

Os CEUs ocupam áreas nos rincões mais carentes do munícipio, e tem uma

proposta pedagógica ampla, incluindo esportes e áreas artísticas e culturais. Seu

espaço físico é liberado para comunidade aos finais de semana como praça ou

clube de lazer, e durante a semana sua estrutura de grande porte visa atender

um contingente de 2400 alunos. Além disso, a localização dos CEUs lhes

confere a função de ―catalisador‖ urbano: inseridos em áreas de construções

precárias, espera-se que sua presença exerça uma marca positiva no bairro,

favorecendo melhorias (BASTOS, 2009).

Page 33: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

33

Figura 16: CEU Vila do Sol (2008), no Jardim Ângela, em São Paulo. Fonte: Bastos

(2009).

As escolas-parque da Bahia e de São Paulo, os CIEPs e os CEUs tem em

comum o plano ambicioso de tornarem o equipamento escolar o ponto de

encontro da comunidade, de se tornarem um elemento catalisador de bons

acontecimentos ligados à educação, à recreação e à cultura. São casos onde a

política, a ideologia democrática e a pedagogia se juntaram. Porém, de forma

efêmera, não por desejo de seus idealizadores, mas pela conjuntura e cultura

política nacional. Ao atrelar uma escola a um partido ou a um mandato,

estabelece-se um processo de continuidade restrita a uma condição política, que

resulta em faltas de padrões e melhorias continuadas pelas gestões seguintes,

caso sejam de partidos distintos. Assim, o entendimento da escola como

instrumento de promoção política tem impedindo o real desenvolvimento da

educação e da escola no Brasil, como já denunciara Teixeira (1994).

Uma das formas bem-sucedidas de continuidade política é o estabelecimento de

padrões de qualidade mínimo estabelecido a priori, sem definir o aspecto

arquitetônico e estético das escolas. É o que a Fundação para o

Desenvolvimento da Educação, do estado de São Paulo, o FDE, vem fazendo

desde 1987, estabelecendo, previamente, quais e quantos ambientes devem ser

inseridos no projeto, suas configurações, módulos e equipamentos por meio de

catálogos técnicos (figuras 17 e 18) disponibilizados gratuitamente aos

projetistas, continuamente atualizados (KOWALTOWSKI, 2011). Assim,

assegura-se, por meio dos padrões exigidos, a possibilidade de melhoria

contínua nos projetos e nos programas, sem marcá-los politicamente, pois a

caracterização da arquitetura fica a critério dos projetista, como mostra a figura

19.

Page 34: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

34

Não há nada que impeça, na padronização, a impregnação de ideologias

voltadas ao bem-estar da comunidade. Da mesma forma que a padronização

estabelece módulos dimensionais múltiplos de 90cm e programas de

necessidades mínimos com o layout dos ambientes pré-determinados, é possível

incluir nas exigências itens que aproximem o equipamento à comunidade e a

usos diversos como os propostos pelas escolas-parque.

Segue a história e os desafios do século XX permanecem no século XXI, com

novas variáveis surgindo. As novas tecnologias tem reconfigurado a sociedade e

a forma de manipulação do conhecimento. Todavia, ainda há no Brasil questões

mais urgentes ainda nem minimamente atendidas, como a qualidade do espaço

físico, a manutenção destes e a valorização dos docentes nas escolas. Assim,

apesar da história já nos trazer novos desafios, ainda temos de superar os

antigos.

Page 35: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

35

Figura 17: Catálogos disponibilizados pelo FDE. Fonte: FDE (2013)

Figura 18: Páginas do Catálogo de Ambientes referentes à Secretária. As

dimensões do ambiente e os equipamentos são pré-determinados. Fonte: FDE (2013)

Page 36: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

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Figura 19: Acima, a Escola Professora Irene Caporali de Souza e abaixo a Escola Odilon

Leite Ferraz, ambas do FDE. Ambas utilizam os módulos determinados pela Fundação, mas

a linguagemarquitetônica das escolas são variadas. Fonte: FDE(2013).

Page 37: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

37

Os usuários da escola

Segundo Kowaltowski (2011), para a maior parte das escolas, o cotidiano

escolar gira em torno de três tipos de usuário: os alunos, os profissionais e os

grupos de apoio. ´

O principal público-alvo da escola são os alunos, com as suas necessidades

educacionais e emocionais específicas à idade e às características individuais.

No Brasil, normalmente há escolas públicas voltadas a um público infantil,

atendendo crianças de 0 a 6 anos, escolas de ensino fundamental e médio. Há

ainda escolas técnicas ou profissionalizantes e escolas voltadas a portadores de

necessidades especiais (KOWALTOWSKI, 2011).

Desde 2006, o ensino fundamental dura nove anos, quando determinado pelo

Plano nacional de Educação (PNE) e pela Lei 10.172/01 (KOWALTOWSKI,

2011).

Figura 20: Novo sistema de ensino público fundamental com 9 anos. Fonte: Kowaltowski

(2011).

Segundo Kowaltowski(2011), a psicologia e o comportamento dos alunos aos

quais a escola atenderá deve ser levada em conta no projeto arquitetônico. Cita

a importância na humanização no projeto (escala pequena, paisagismo,

elementos decorativos e características da arquitetura residencial), da

flexibilidade funcional, da iluminação natural, e da ligação com ambientes

externos como elementos positivos na relação usuário-edificação.

Afirma-se que a educação de qualidade acontece apenas com bons estudantes.

Entretanto, estes carecem de uma base que os apoie e os condicione a boa

aplicação aos estudos (KOWALTOWSKI, 2011). Segundo Gadotti (1989),

enquanto menino, o próprio Paulo Freire apresentava dificuldades de

aprendizado, por ir à escola com fome e não conseguir ter a devida atenção.

Entretanto, como pôde ter uma professora estimulada, assim que as condições

familiares melhoraram, Paulo teve seu interesse confirmado e expandido, se

tornando um dos maiores educadores do século XX.

Page 38: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

38

Na própria história de Paulo Freire podemos perceber que, além dos alunos, os

profissionais que compõem o operacional das escolas e a família são essenciais

ao envolvimento dos alunos com a educação. Assim, pode-se destacar a

importância de profissionais estimulados e grupos de apoio – família, pais e

moradores de uma comunidade – comprometidos com os propósitos da escola

para que as iniciativas pedagógicas tenham sucesso na educação dos alunos.

Kowaltowski (2011) cita que, a fim de garantirem as boas interações entre

familiares responsáveis, alunos e profissionais, muitas escolas utilizam o

Conselho Escolar, mecanismo que visa congregar a representação de pais,

professores e coordenadores, além de organizações sociais e sindicais dos

bairros em que as escolas estão localizadas. Esse apoio geralmente discute a

descentralização de recursos para a escola, sua gestão e fiscalização, e outras

necessidades que movem a comunidade educacional a executar ações para

financiar a escola.

Portanto, faz-se necessário, na proposição de um equipamento escolar, o

entendimento também do local no qual estará inserido. As escolas já existentes,

as redes já instituídas, a população residente e suas vontades e carências, a

demanda de pais e professores, enfim, aspectos do local de implantação do

equipamento.

Page 39: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

39

2. O Edifício como elemento de transformação

Page 40: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

40

A arquitetura elemento de impacto social

Artigas (1999) diz que o movimento moderno visava resolver os todos os

problemas sociais de sua época, quase que utopicamente. Disse que ele,

inclusive, não deixara de ser, jamais, um pensador utópico, mas já com a idade

avançada e numa década distante do início do modernismo, jugava-se incapaz

de dar respostas precisas aos problemas mais relevantes dos anos 80 devido

suas complexidades e que uma obra com impacto social positivo talvez fosse a

possibilidade que restava aos arquitetos (ARTIGAS, 1999). Sugere ao arquiteto

passear pelas questões levantadas por outros campos do conhecimento que

manifestam os problemas incidentes sobre a sociedade, e então extrair pontos

para proposições, sendo essa talvez uma forma de reduzir a miopia do

isolamento do arquiteto em seu escritório. Também dizia que talvez as obras em

si não sejam as respostas definitivas às questões sociais, mas constituintes de

uma resposta abrangente de outros setores da sociedade, considerando que

devido à complexidade das questões criticas de nossos dias, estas não seriam

sanadas com abordagens simplistas, unidisciplinares e pouco abrangentes.

Ao trabalhar questões contemporâneas e sugerir caminhos para uma

transformação social consistente, o filósofo francês Félix Guatari (1930-1992)

nos deixou preciosos dizeres no tangente às questões contemporâneas do

homem, da cidade e da natureza. Guatarri (92) constata que, ao mesmo tempo

em que a computação e a era tecnológica trouxeram consigo avanços relevantes

na troca de informações, tem ocorrido uma notória uniformização das paisagens.

O deslocamento entre países não implica em deslocamento de realidades,

muitas vezes o que se tem é um cenário muito semelhante ao outro. O

international style, as imagens propagadas pelas telas, foram reproduzidas em

larga escala por todas as cidades do mundo. A importação de modelos de

contextos distintos ignora e até subtrai potências inerentes aos lugares. De certa

forma, a homogeneização dos espaços são reflexos de uma sociedade

capitalista, da cultura de massificação da qual a maior parte dos arquitetos

pertence. Nota-se, entretanto, que os rumos dessa cultura tem conduzido o

homem para um drama social, ecológico e urbanístico, parte de uma crise muito

mais fundamental que envolve o próprio futuro da vida na superfície deste

planeta. Há, entre diversos prospectivistas, a formação de um cenário próximo

de catástrofe e de fim do mundo humano dentro de alguns decênios, no passo

que se vem dando hegemonicamente:

Não seria exagero enfatizar que a tomada de consciência ecológica futura não

deverá se contentar com a preocupação com fatores ambientais, mas deverá

também ter como objeto devastações ecológicas no campo social e no domínio

mental. Sem transformação das mentalidades e dos hábitos coletivos haverá

apenas medidas ilusórias relativas ao meio material. (...) a cidade produz o

destino da humanidade: suas promoções, assim como suas segregações, a

Page 41: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

41

formação de suas elites, o futuro da inovação social, da criação em todos os

domínios (...) (GUATTARI, 1992)

Assim, a fim de diluir a homogeneidade, de preservar e fortalecer potências

locais como formas e meios de transformação, no intuito de gerar essa mudança

de rumo eco-social, Guattari sugere que tentativas devem ser feitas, caso a

caso, oportunidade por oportunidade, a fim de que o locos seja vigorado,

recaracterizado; a fim de que o urbanismo e as subjetividades tendam contra o

hegemônico atual, marcado pela cultura de massa, segregacionismo e

consumismo, inclinando-se a um pensar, a um agir, a um ser mais consciente de

questões amplas, transdisciplinares, fundamentais à sociedade mais justa e

equalitária, e à sobrevivência da espécie. A condição sine qua non para que

mudanças aconteçam reside na tomada de consciência de que é possível,

necessário e urgente mudar o estado de coisas atual (GUATTARI, 1992).

Sob este ponto de vista, o papel social do arquiteto como agente transformador

ganha força, entendendo-se o fazer arquitetônico como o fazer da cidade, das

ambiências urbanas, da transformação dos territórios, da apropriação do espaço

e dos recursos naturais disponíveis. Tal fazer tem impacto, não necessariamente

decisivo, mas relevante, nas três ecologias destacadas por Guattari (1990): as

ecologias do meio ambiente, das relações sociais, e da subjetividade humana. A

saber: na ecologia do meio ambiente, o fazer arquitetura é a alteração do habitat

- no caso da maior parte da cidade, próprias aos homens e imprópria à maioria

das outras espécies; na ecologia das relações sociais, é o cenário de tais

relações, podendo inclusive afetá-las significativamente, pela segregação, pelo

acolhimento, pela distância, pela proximidade, etc., pois a configuração espacial

catalisa/permite comportamentos e interações diversas; e da ecologia da

subjetividade humana, podendo sensibilizar o individuo a algumas questões, à

concepção de lar, de bem-estar, de agir sobre a memória, sobre a sensação,

além de ser em si um material de expressão, um meio de subjetivação.

Entretanto, como o próprio Artigas (1999) constatara, a arquitetura não é a

resposta definitiva das questões humanas. Um esforço coletivo nos mais

diversos setores da sociedade e do conhecimento nos é requerido para alterar

um rumo que nos leva a um precipício, e a arquitetura conta como um desses

vetores que, se somados, poderão fazê-lo.

Assim, podemos concluir que, pela visão de Vilanova Artigas e Félix Guattari o

edifício, a arquitetura, é um dos meios necessários para a criação de uma

sociedade renovada, democrática, sustentável, positiva. Enquanto edifício e

arquitetura, as escolas possuem uma finalidade destacada. As próprias escolas-

parque e as escolas nelas inspiradas sugerem isso. Anísio Teixeira, Jhon Dewey

e outros tantos pensadores já davam à escola e seus ambientes importância

enquanto agentes participantes da educação.

Page 42: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

42

Teixeira (1952) destaca a escola como um elemento criado especificamente para

educar. A abrangência do termo educação, já discutido nos capítulos anteriores,

amplia significativamente as possibilidades de um equipamento voltado a ele.

Artes visuais, teatro, esporte, meio ambiente, sociedade, solidariedade, respeito

– são muitos os termos e temas convenientes a uma boa educação. Um

ambiente que permita e enriqueça experiências como estas teria, possivelmente,

um efeito positivo sobre as três ecologias, podendo ser um vetor a apontar num

sentido melhor que o atual.

Sustentabilidade

Diante da ecologia ambiental, a sustentabilidade é o termo/solução que os

edifícios devem estar impregnados em cada solução adotada. Como o objetivo

do presente trabalho é a proposição de uma escola, vale ressaltar a relevância

importância do tema para a formação de uma sociedade sustentável, segundo

Igancy Sachs ―é aquela capaz de persistir ao longo das gerações, aquela que

consegue enxergar suficientemente longe, que é suficientemente sábia para não

colocar em risco os seus sistemas de suporte, sejam eles físicos ou sociais‖

(SACHS, 1986).

Houve um notório crescimento da relevância do assunto ―sustentabilidade‖ no

cenário global nas últimas décadas, vide a contundência e os inúmeros

desdobramentos da ECO‘92, realizada no Rio de Janeiro, a partir do qual o setor

da construção civil passou a ser um dos focos de atenção na busca de

mudanças, pelo seu significante impacto ambiental, social e econômico (SOUZA,

2008). No final da década de 1990, iniciou-se a busca pela avaliação ambiental

de edifícios por equipes especializadas, ao se constatar uma ausência de

metodologia consistente para avaliação do real desempenho dos edifícios ditos

―ecológicos‖. Além disso, a classificação do desempenho por certificação viria

estimular a busca por edificações mais eficientes. Assim, em muitos países

desenvolvidos foram criadas várias ferramentas certificadoras, como o LEED

(Leadership in Energy and Environmental Design), o BREEAM (Building

Research Establishment Environmental Assessment Method), o CASBEE

(Comprehensive Assessment System for Building Environmental Efficiency),

Green Star, etc. (SILVA, 2003), que avaliam, principalmente, os impactos

ambientais dos edifícios. Os itens abordados por cada uma dessas ferramentas

podem ser verificados do quadro elaborado por Souza (2008), onde foram

consideradas 5 das principais ferramentas certificadoras no âmbito global.

Page 43: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

43

Figura 21: Síntese dos itens avaliados. Fonte: Souza (2008).

No Brasil, já há ferramentas sendo utilizadas para certificação de edifícios, como

o LEED, já utilizado apesar de ainda estar em processo de adaptação ao

contexto nacional; o AQUA (Alta Qualidade Ambiental), adaptação da ferramenta

francesa HQE (Haute Qualité Environnimentale) ao Brasil e o PROCEL EDIFICA

(Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica). Todavia, há distinções

entre as ferramentas: o LEED contempla os aspectos sustentáveis do edifício

(social, econômico e ambiental), o AQUA, apenas os aspectos ambientais; e o

PROCEL, que é focado na avaliação da eficiência energética do edifício – seus

sistemas de condicionamento de ar, luz e desempenho da envoltória (SOUZA,

2008). Além disso, a pesquisa desenvolvida por Souza (2008), que já se

encontra publicada, constitui uma base preliminar para avaliação da

sustentabilidade de edifícios em uso no Brasil, denominada Ferramenta ASUS –

Versão Zero/SBTool, desenvolvida tomando como partido a base conceitual da

ferramenta SBTool, que aplica-se à edifícios já construídos (SOUZA, 2008).

Estas ferramentas visam a avaliação técnica, criteriosa, de edifícios sob o ponto

de vista da sustentabilidade. Apesar de muitos de seus critérios e modos de

adoção de pontos serem ainda muito questionados, podem ser considerados

como diretrizes para melhores propostas. Por mais que as medidas ótimas ainda

não sejam conhecidas em todos os critérios, o simples levantamento das

variáveis a serem entendidas na concepção e especificação dos projetos já se

apresenta como importante contribuição.

Esta preocupação não é recente. Como Lamberts, Dutra e Pereira (2004) citam,

os romanos, os gregos e diversos povos já tinham questões similares às atuais.

Afinal, sustentabilidade trata sobre uso optimizado de recursos para uma

determinada demanda, coisa que os antigos já tinham por necessidade.

Entretanto, a preocupação com a extinção das espécies de fauna e flora e até da

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44

raça humana são hoje a principal tona dos argumentos para optimização do uso

dos recursos disponíveis.

Ken Yeang nos chama a atenção para o design ecológico e suas variáveis em

seu livro “Ecodesign: A Manual for ecological Design” (YEANG, 2008). Yeang diz

que busca em seus projetos, junto ao edifício e ao programa, criar um

ecossistema artificialmente, incorporando conceitos ecológicos, como

biodiversidade, áreas verdes ligadas às áreas verdes do entorno para ampliação

das possibilidades de troca entre espécies; sem deixar de considerar aspectos

pertinentes à edificação, como a utilização de água, fachadas favoráveis à

implantação de vegetação, etc.

Outros aspectos como a produção de energia, energia incorporada na

construção, energia utilizada durante operação, estratégias de climatação

passivas, energia empregada para o desmonte, qualidade dos materiais e etc.

também devem ser considerados num ecodesign, segundo Yeang (2008).

Vale notar também a visão de Corbusier e Yeang, de que a fauna na arquitetura

é, além de demasiadamente relevante para o equilíbrio ecológico, um

componente estético desejável, pois entendiam a importância da vegetação, da

―(...)árvore, coisa maravilhosa e amada pelos homens‖ (CORBUSIER, 2004).

Assim, elencaram-se seis itens como os principais a serem considerados no

projeto, não só como recursos, mas soluções a serem evidenciadas para

educação ambiental:

1. Uso inteligente de Climatização passiva e ativa:

Conforme indicado por, 64% das horas do ano Vitória se encontra em condições

higrotérmicas impróprias para o conforto térmico (LAMBERTS, DUTRA e

PEREIRA, 2004). Para 64% das horas de desconforto, a solução apontada por

Lamberts, Dutra e Pereira são: ventilação (V), resfriamento por evaporação (RE),

massa de resfriamento (MR), Ar-condicionado (AC), umidificação (U), ou

soluções associadas, como V com MR, V com MR e RE, e MR com RE.

Como a predominância dos horários onde há desconforto por frio ocorrem fora

das horas úteis do dia – noite ou madrugada – pode-se considerar que as

edificações localizadas em Vitória devem ter soluções para solucionar o

desconforto por calor, prioritariamente.

Page 45: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

45

Figura 22: indicando estratégias bioclimáticas para as cidades de Vitória.

2. Boa utilização dos recursos hídricos:

Reutilização de águas cinzas, remediação de águas cinzas por vegetação

– filtra-se a água e ainda tem-se um paisagismo; utilização de águas

pluviais.

3. Construção enxuta, racionalizada:

Boa parte do lixo produzido nas cidades vem do setor da construção civil,

pela demolição de edifícios e canteiros de obras ineficientes. Assim,

buscou-se uma arquitetura modulada de tal forma que sua construção

fosse mais como uma montagem, com o mínimo de elementos feitos in-

loco, e que ao final do seu ciclo de vida, por reforma ou por demolição,

pudesse ser desmontada, minimizando assim o impacto ambiental por

geração de entulho.

4. Iluminação natural bem empregada:

Como a radiação no Brasil, mais especificamente em Vitória, é

relativamente alta, o uso de iluminação direta não é indicado. Para evitar o

sobreaquecimento dos ambientes e ainda assim utilizarmos o luz diurna

para iluminação, faz-se necessário o uso de iluminação indireta.

5. Bom uso da flora no edifício e em seu entorno:

Utilização da fauna local no paisagismo, plantas que consumam menos

água ou que permeiem ambientes e percursos para propiciar maior

contato com a natureza; devolver à cidade parte do verde.

Page 46: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

46

Permear o percurso com natureza de maneira especial, como situar

passeios próximos à copa das árvores, pode permitir aos alunos um

contato diferenciado e experiências distintas das convencionais com a

natureza; plantio de árvores frutíferas para interação positiva com a fauna

local.

6. Arte e arquitetura como forma de conscientização

Uma arte que explicite a importância da fauna e flora locais também pode

atuar junto à formação dos conceitos de sustentabilidade e natureza na

formação dos alunos. A arte sempre foi um meio de transmissão de

ideias. Trazer à arquitetura a parceria e a interação com as artes plásticas

é fundamental para assinalar à obra seu conteúdo gerador, seu motivo

ideológico de existir.

Page 47: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

47

Tecnologia e sistemas construtivos

É amplo e diverso a gama de tecnologias aplicáveis à arquitetura. Salvadori

(2006) divide as obras arquitetônicas em pele e esqueleto, ou componentes

funcionais e componentes estruturais. Pele ou componentes funcionais são

aqueles elementos existentes para que o edifício cumpra sua função, sendo

estes superfícies como paredes e coberturas, que separam o exterior do interior;

aberturas, como portas para acessos e janelas para entrada de luz e vento;

pavimentos e divisórias; e elementos de circulação vertical. Componentes

estruturais são aqueles que asseguram que os componentes funcionais da

edificação fiquem de pé, como pilares, vigas e lajes e similares. Por analogia ao

corpo humano, esses elementos são chamados de o esqueleto ou ossatura da

edificação.

Foi no desenvolvimento da estrutura que a arquitetura passou por uma

revolução, devido a complexidade estrutural demandada por estádios cobertos,

arranha-céus e outras tipologias, e seu desenvolvimento exigiu tantos novos

conhecimentos teóricos para o projeto quanto novos materiais para a

construção. Porém, já não é mais pelo método empírico, que levava muitas

vezes à perda e reconstrução de cúpulas inteiras, como o ousado domo de

tijolos de Santa Sofia em Constantinopla, 537 d.C., mas por teoria matemática

estrutural que as estruturas tem alcançado hoje limites inatingíveis até 20 anos

atrás. Não pelo novo conhecimento teórico, mas pelo advento da computação,

que permite cálculos que os homens levariam anos ou até mesmo séculos

manualmente para concluir. Com um aporte de cálculo tão potente em mãos,

hoje o fator limite do desenvolvimento de novas estruturas são os materiais, que

tem suas variantes determinadas pelas leis da natureza, inalteráveis pelos

homens (SALVADORI, 2006).

Afim de que a estrutura não seja a maior causa de conflito entre o arquiteto e o

engenheiro, de que a beleza inerente à razão estrutural, de que os materiais

utilizados e as soluções possíveis ajam sobre o projeto com a máxima eficiência,

de que os componentes estruturais e funcionais se harmonizem, cabe ao

arquiteto entender a estrutura e seus conceitos básicos, afim de que um projeto

estrutural intuitivo e seu pré-dimensionamento ocorram concomitantemente às

decisões da pele, dos materiais elencados e da tecnologia utilizada

(SALVADORI, 2006).

O conhecimento das tecnologias construtivas já encontram em seus dois

componentes – funcionais e estruturais – um grande ponto de tensão, relevante.

Entretanto, há outros pontos determinantes na escolha e na especificação

destes elementos. Impactos ambientais, estéticos, econômicos, sociais,

históricos e até mesmo psicológicos que podem variar drasticamente de uma

solução para outra. Talvez o desafio apresentado ao projetista a partir destas

questões é como conciliar as técnicas existentes às intenções subjetivas de

Page 48: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

48

forma consistente, harmônica. Foi o que Le Corbusier tentou ao elaborar os 5

pontos da arquitetura moderna.

A origem dos 5 pontos da arquitetura moderna apregoados por Le Corbusier

surgiram como uma forma de adequação da arquitetura às novas possiblidades

técnicas e como uma resposta à questões sociais de sua época (MACIEL, 2002).

Por estes pontos, Corbusier tentava responder questões diversas, como

questões ambientais, econômicas, estéticas, estruturais, funcionais,

psicológicos, etc.; de forma concisa, coesa, por meio do emprego correto de

técnicas construtivas. Para o arquiteto suíço:

―a consideração da técnica vem em primeiro lugar, antes de tudo, e constitui sua

condição o fato de ela trazer dentro de si consequências plásticas inevitáveis, e

de levar algumas vezes a transformações estéticas radicais‖ (LE CORBUSIER

apud BANHAM, 1979).

Contrariando as declarações enfáticas de Le Corbusier, o historiador Nicholaus

Pevsner analisa que

―a arquitetura não é produto de materiais e objetivos – nem mesmo das

condições sociais - mas, sim, das mudanças de mentalidade das mudanças da

época. (...) O estilo gótico não foi criado porque alguém inventou a abóbada

nervurada; o Movimento Moderno não surgiu porque a estrutura de ferro e o

concreto armado tinha sido elaborados - eles foram elaborados porque um novo

espírito os requeria‖ (PEVSNER, 1982, p. 9).

Apesar das aparentes discordâncias entre as citações, ambas carregam consigo

verdades. Tanto a época quanto as técnicas existentes – pré-existentes ou

recém-descobertas – exercem influência nas decisões de projeto; que, por sua

vez, podem levar às inovações tecnológicas. São tensões que se somam e se

impulsionam. Ora a consideração técnica pode vir em primeiro lugar,

dependendo da prioridade do contratante e das variáveis envolvidas, ora a

inovação, a intenção, determinando esta a técnica utilizada. Como uma não

existe sem a outra, técnica sem intenção e a intenção sem técnica, pode-se

concluir que ambas se determinam, técnica e expressão. Verifica-se isso nas

nossas raízes linguísticas, quando vemos que no latim técnica e arte (ars) são

uma única palavra (ARTIGAS, 1999). Enfim, como diria Salvadori (2006), a

grande arquitetura é o casamento bem-sucedido da arte e da tecnologia; ou, da

intenção (arte) e da técnica (tecnologia).

Que intenções devem hoje reger uma arquitetura escolar? Que técnicas estão

disponíveis a fim de correspondê-las? Essa dualidade se fez presente em cada

decisão do projeto, e, mesmo após seu término, tem-se uma proposta, passível

de ser contrariada na prática. A conquista da intenção através técnica não é

tangível na etapa de projeto, tampouco na construção, mas no uso da edificação.

Page 49: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

49

3. O projeto

O arquiteto põe-se a sonhar. Tecnicamente.

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50

Aspectos locais

Para implantação de um equipamento escolar público, buscou-se um território

localizado estrategicamente nas zonas de mais baixa renda e com demanda de

instituições de ensino. Além disso, levou-se em conta a possibilidade de acesso

por meio da rede pública de transporte e por modais alternativos, como ciclovia e

hidrovia.

Assim, optou-se em utilizar o terreno situado no bairro Joana D‘arc, na Zona

Especial de Interesse Social (ZEIS) 3/08 (ver imagem 25), próximo à rodovia

Serafim Derenze e ao canal de Camburi, e ligado ao bairro de Andorinhas e

Santa Marta por uma ciclovia limítrofe ao mangue (ver Figura 24Error!

Reference source not found.). Além disso, a ZEIS3/08 é uma zona voltada a

fins de interesse social, com potencial para habitações ou equipamentos de

recreação e educação, estando, pois, o zoneamento adequado à intenção de um

equipamento educacional público.

No seu entorno, ao sul, à outra margem da rua Ozias Sarmento Rodrigues, é

ocupado basicamente por habitações e pequenos comércios. O gabarito é

relativamente baixo, típico de áreas onde a autoconstrução é recorrente nas

edificações (ver figura 44 e 45, p.69 e 70, respectivamente), com predominância

de edificações de dois pavimentos, e três a quatro pavimentos nas mais altas.

Ao oeste, à outra margem da Serafim Derenze, um terreno desocupado,

pertencente à ZOL 07. Ao norte, uma estreita faixa de proteção ambiental, e logo

em seguida, outro terreno desocupado pertencente à ZOL 06. Ao leste, uma

faixa de mangue, configurada como Zona de Proteção Ambiental, limítrofe ao

canal de Camburi (ver figura 23,24 e 25).

Com áreas livres dentro das ZOL 07 e 06, o terreno encontra-se no centro de um

extenso trecho de expansão urbana que ainda receberá empreendimentos

residenciais e comércios de portes diversos. Somado a este fato, verificou-se

tratar-se de uma zona deficitária em equipamentos escolares de Ensino Médio

(ver figura 26). – tanto particulares quanto públicos, e a inserção de uma escola

dessa natureza teria um impacto positivo em uma extensa área, não só pela

demanda já existente e pela futura, mas também por estar inserida numa faixa

territorial de baixas rendas familiares (ver figura 27 e 28).

Page 51: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

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Figura 23: Visão do entorno do Local do Projeto, com as principais avenidas de Vitória destacadas.

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Figura 24: Localização do terreno e seu entorno imediato.

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Figura 25: Intervenção do autor do projeto sobre o Zoneamento Urbanístico da PMV.

Page 54: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

54

Figura 26: Mapeamento de equipamentos escolares do entorno. Intervenção do autor

sobre mapa de equipamentos escolares públicos da SEDEC/PMV.

Page 55: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

55

Figura 27: Intervenção do autor sobre mapa de rendimento mínimo até 3 salários mínimos da

SEDEC/PMV com dados do CENSO2000 x ZIP.

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56

Figura 28: Intervenção do autor sobre mapa de rendimento mensal médio por setor

censitário da SEDEC/PMV com dados do CENSO2000 x ZIP.

Page 57: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

57

Atualmente, a parte frontal do terreno, limítrofe a Rua Ozias Sarmento

Rodrigues, já serve como praça informal, onde os moradores gostam de sentar

para conversar, fazer um churrasco e ouvir música, durante os finais de semana

e durante os dias à noite, conforme mostra a figura 29 e 45.

Figura 29: Planta Baixa da Situação atual.

Page 58: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

58

Segundo Tayza Martins, mãe, residente no bairro e pedagoga, o terreno já fora

cogitado pelos moradores para construção de uma escola pública apta a melhor

interação com a comunidade, pois os espaços existentes não comportam de

forma satisfatória iniciativas já existentes. Uma delas é o esforço conjunto dos

docentes para consolidação do programa ―Escola Aberta‖ (E.A.) – um programa

que estimula a abertura da escola aos finais de semana para a comunidade - e

ensino em tempo integral, que tem como objetivo alienação das crianças ao

mundo da droga.

Segundo Tayza, a combinação do E.A. com oficinas de recreação seriam

bastante profícuas, pois na região há diversidade de profissionais habilitados

para desenvolvimento de atividades ligadas às artes plásticas, ao artesanato, à

marcenaria, esporte, etc. Atualmente, para fazer estes tipos de atividade, os

alunos e os moradores devem ir até a sede do CAJUN (Projeto Caminhando

Juntos).

O CAJUN é um projeto iniciado pela Prefeitura de Vitória em parceria com as

comunidades, e é voltado para a promoção da cultura, arte, esporte e inclusão

social, atendendo crianças de 7 a 17 anos, e oferecem atividades como

capoeira, música, dança, circo, coral, informática, percussão e arte, atividades

com forte relação à educação (Secretária de Assistência Social, 2012).

O Programa Escola Aberta é um programa federal que tem por base a

experiência, avaliada como bem sucedida, da UNESCO com o ―Programa

Abrindo Espaços: Educação e Cultura para a Paz‖, iniciada em 2000 nos

estados do Rio de Janeiro e Pernambuco, posteriormente difundida. O acordo

do governo federal com a agência internacional foi firmado em outubro de 2004.

A estratégia utilizada é estreitar a parceria entre escola e comunidade ocupando

criativamente o espaço escolar aos finais de semana e feriados com atividades

educativas, culturais, esportivas, de formação inicial para o trabalho e geração

de renda oferecida aos alunos e à população do entorno, planejadas pela equipe

local junto à comunidade, a fim de congregar as pessoas e instituições que

darão suporte às ações de forma voluntária (FNDE, 2010).

Há potência suficiente para efetivação do E.A. inerente aos docentes e aos

equipamentos implantados no bairro. Entretanto, as instalações não condizem

com as apropriações possíveis, e nem lhes dariam a devida visibilidade. Apesar

de existirem espaços para que atividades de cultura e recreação ocorram, como

observado pela própria moradora e pedagoga, não são próprios e não se

somam espacialmente. Ora dispersos pelo bairro, e quando próximos sem

relação espacial positiva entre si – muros e empenas cegas os separando, como

é o caso do CAJUN e da Escola Municipal Izaura Marques, de forma que não há

nos bairros um espaço onde as atividades criem uma ambiência de

envolvimento e convite à população (figura 31 a 34).

Page 59: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

59

Desta forma, a infraestrutura existente para o abrigo destes programas não os

potencializa. A arquitetura das escolas as configura como claustros, pelos muros

altos e hermetismo das edificações. A não previsão prévia nos projetos

arquitetônicos do uso pela comunidade faz com que os espaços não sejam

utilizados de forma plena, pela incompatibilidade do projeto com a ideia da

escola aberta. Assim, utiliza-se apenas a quadra e o pátio coberto, quando

outros ambientes afins à recreação, oficinas e lazer existentes na escola deixam

de ser utilizados.

Por exemplo, na escola EMEF (Escola Municipal de Ensino Fundamental)

Prof. Vercenílio da Silva Pascoal o setor administrativo e o refeitório ficam de

frente ao pátio da escola e ao ginásio, ocupando o térreo da edificação. Como

não são dois ambientes com mobiliário e equipamentos apropriados para

abertura à comunidade, acabam por ocupar o térreo e, de certa forma, bloquear

os outros ambientes da edificação. Assim, faz-se uma apropriação tímida,

limitada, pelo pouco espaço e pela qualidade do mesmo, mesmo com a adesão

ao E.A. A moradora Tayza citou, também, que outras escolas municipais, em

outros bairros, são apropriadas pelas igrejas aos finais de semana, para

realização de cultos, festas de casamento e atividades afins, mas que as escolas

de Joana D‘Arc e Andorinhas não tinham configuração apropriada para isso.

Outro exemplo dessa configuração inadequada à interação se dá na EMEF

Izaura Marques da Silva, que se encontra de frente a uma praça, porém

separada desta por seu grande muro (figura 37 e 38). Ali, a escola, com alto

potencial para compor o espaço público, configura-se como o espaço mais

enclausurado do entorno, em contraste até com as residências. Assim, percebe-

se que não é a falta de equipamentos, mas a configuração destes e como se

articulam entre si é que os diminuem as potências como catalisadores da vida

pública. Os espaços e os programas existem, a arquitetura e sua articulação não

os favorecem: restringem-lhes, lhes diminuem as possibilidades de êxito.

Page 60: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

60

Figura 30: Imagens mostrando os pontos de vistas.

Page 61: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

61

Figura 31: Vista 1: entrada do CAJUN, em Joana D'arc.

Fonte: Google Street View (2012)

Figura 32: Vista 2: relação CAJUN com a escola e entorno.

Fonte: Google Street View (2012)

Page 62: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

62

Figura 33: Vista 3: entrada principal da escola Izaura Marques.

Fonte: Google Street View (2012)

Figura 34: Vista 4: entrada de fundos.

Fonte: Google Street View (2012)

Page 63: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

63

Figura 35: Vista 5, mostrando os fundos da escola com a praça.

Fonte: Google Street View (2012)

Figura 36: Vista 5 aproximada. A arte se mostra de forma tímida, como uma apropriação,

revelando uma potência inerente aos recursos humanos da escola Izaura Marques.

Fonte: Google Street View (2012)

Page 64: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

64

Figura 37: Vista 6, onde dois equipamentos públicos de usos afins se separam por um

muro de 2,20 metros. A arquitetura da escola impossibilita uma possível

ampliação/relação com a praça. Fonte: Google Street View (2012)

Figura 38: Vista 7, mostrando as casas típicas do bairro, do outro lado da praça. Interagem com

o entorno e com o mar por meio de varandas e aberturas; mais que a escola e seus muros.

Fonte: Google Street View (2012)

Page 65: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

65

Figura 39: Vista 8, mostrando os fundos da EMEF Vercínilio da Silva Pascoal. Os muros

altos e fechados e sua arquitetura lhe torna praticamente hermética em relação ao

entorno. Fonte: Google Street View (2012)

Figura 40: Vista 9, mostrando a entra principal da escola, que mantém a lógica hermética

de toda sua arquitetura. Fonte: Google Street View (2012)

Page 66: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

66

Figura 41: Vista interna a partir da entrada principal da escola Vercinílio da Silva Pascoal, num dia de sábado, 31 de março de 2012.

Figura 42: Vista interna a partir da entrada principal da escola Vercinílio da Silva Pascoal, voltada

para o pátio coberto e para o setor administrativo e para o refeitório.

Page 67: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

67

Figura 43: Vista 10, mostrando a esquina entre a Rua Ozias Sarmento Rodrigues e a entrada

principal da EMEF Vercinílio da Silva Pascoal e a Rua José Martis Delazare. Fonte: Google Street

View (2012)

Figura 44: Vista 11, mostrando a esquina entre a Rodovia Seravim Derenze e Rua José Martis

Delazare. Fonte: Google Street View (2012)

Page 68: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

68

Figura 45: Moradores confraternizando em frente ao terreno num dia de sábado - 31 de março de 2012.

Page 69: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

69

Configurando diversos claustros, os equipamentos que servem à educação e à

recreação negam sua relação com o entorno por sua arquitetura fechada, que

não transparece suas atividades ou produções à comunidade. Geram espaços

ociosos fora dos dias e horários úteis, apesar da demanda por sua utilização

existirem.

O êxito das escolas-parque não estava apenas em suas intenções. Estava

também em projetos que condensavam as intenções e as tornavam claras e

palpáveis por parte dos moradores. O entendimento da escola como ponto de

encontro da comunidade já é intrínseco ao programa Escola Aberta e aos

moradores, mas não aos projetos de arquitetura. Sem espaços amplos, abertos,

transparentes à rua, a arte e as atividades internas ficam restritas apenas aos

usuários da edificação. O entendimento dos espaços como elementos a serem

flexibilizados – ora utilizados pela escola, ora pela comunidade; ora utilizados

para uma finalidade, ora à outra – implica na inserção de novas variáveis nos

projetos arquitetônicos.

Dar lugar à arte dos alunos e professores, lugar próprio. Entender e facilitar a

apropriação. Sugerir, potencializar. Se ela aconteceu em locais que não era

sugerida (figura 36), há de acontecer onde a for.

A implantação da escola se dá num terreno limítrofe ao mangue, ecossistema

essencial para a manutenção da vida marinha. Um ambiente com este entorno e

impregnado por atividades socioculturais, por arte, esporte, ensino, por si só,

configura-se como um espaço propício à educação ambiental. Assim, a questão

crucial da sustentabilidade também é crucial neste projeto.

Assim, entendendo as pré-existências e procurando integrar o equipamento à

comunidade, o programa de necessidades foi concebido.

Page 70: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

70

O Programa

Pela análise da demanda local, detectou-se a necessidade de uma escola de

Ensino Fundamental e Ensino Médio e Profissionalizante .

Notou-se, caminhando pelo local e em conversas com moradores, que o número

de jovens que abandonam a escola durante o Ensino Médio é relevante,

sobretudo para trabalhar, por necessidade, e por envolvimento com tráfico. Um

dos motivos apontados é a ausência de uma escola pública de Ensino Médio

profissionalizante na região. Um conteúdo pedagógico e parcerias que

capacitassem o aluno para o mercado seria essencial para o sucesso do

equipamento, pois ajudariam na necessidade de geração de renda das famílias

da região, que possui uma das menores rendas per capita de Vitória (ver figuras

27 e 28, nas páginas 58 e 59, respectivamente). A rodovia Serafim Derenze

ligaria o equipamento a uma extensa faixa onde há a mesma necessidade.

Verificou-se também a demanda pela criação de um novo equipamento voltado

ao Ensino Fundamental (1º ao 9º ano) ou à reformulação e ampliação dos já

existentes. Como o entorno do projeto é, em parte, uma grande área ainda

desocupada e tende a ser ocupado por residências multifamiliares e comércios,

uma nova população de crianças e adolescentes terá de ser atendida. Além

disso, conforme constatado em conversas com moradores, há a demanda por

ensino integral, que por si só já requereria novas salas de aula ou equipamento

para atender a demanda atual.

Buscou-se, então, conciliar os dois programas escolares demandados ao local.

Imaginou-se, para tanto, um equipamento que durante os períodos Matutino e

Vespertino, utilizado para o Ensino Fundamental (1º ao 9º ano), e para o Ensino

Médio (1º ao 3º ano). À noite, utilizado para o Ensino Médio (1º ao 3ºano),

alfabetização e reforço de adultos trabalhadores, e aulas de capacitação técnica.

Além disso, procurou-se dotar a escola de bibliotecas, laboratórios , salas de

múltiplo uso e salas de aula com layout flexível afim até de possibilitar aulas

profissionalizantes durante os dois primeiros períodos do dia, não só no noturno,

sem interferir no funcionamento normal da escola.

Fez-se necessário também não repetir os equívocos verificados na má

integração da arquitetura com a comunidade e com os programas oferecidos

pelo governo. Considerou-se essencial, portanto, a criação de uma arquitetura

que negasse o hermetismo, sobretudo o hermetismo negativo, aquele que nega

à comunidade a utilização de espaços de desejável apropriação e do saber

trabalhado e experimentado nas atividades da escola. O hermetismo bom,

aquele que segrega os usos desejáveis para concentração, e para preservação

de patrimônio, foi conciliado ao desejo de abertura da escola.

Page 71: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

71

A fim de aproximar a comunidade da escola e atender aos primeiros anos,

considerou-se a instalação de uma praça com playground para crianças na parte

da frente da escola, e, para trazer públicos de diversas idades ao ambiente

externo, uma banca, uma academia pública e um quiosque. Ainda no térreo,

mas já num ambiente sob a projeção da escola, coberto, pensou-se na

instalação de ambientes de múltiplo uso para ser utilizado pelo CAJUN,

promovendo atividades como dança, música, artes marciais, teatro e atividades

afins, além de uma pequena biblioteca pública.

Para atender à demanda da escola, elencou-se os seguintes ambientes:

1. 3 pavimentos tipo – 1 destinado às classes do 1º ao º ano do Ensino

Fundamental, outra destinada às classes do 5º e ao 9º ano e outra

destinado do 1º ao 3º do Ensino Médio- contendo:

a. Um bloco com 9 salas de aulas, sala de professores, depósito de

materiais de limpeza, sanitário para alunos, 1 coordenação, 1 sala

de reforço, sanitário para os professores e coordenadores;

b. Um segundo bloco com 3 salas maiores, destinadas como salas de

múltiplo uso ou laboratórios conforme a demanda da escola; 1

biblioteca;

2. Um térreo com:

a. cozinha, cantina, depósito de alimentos e refeitório para

alimentação dos alunos;

b. pátio coberto e descoberto e sanitário para alunos;

c. horta da escola/jardim;

d. quadra coberta com duas quadras com arquibancada com 522

lugares , depósito de materiais esportivos, vestiários masculino e

feminino para prática de esportes;

e. almoxarifado, depósito de material de limpeza

f. praça pública com um playground para crianças, academia pública,

banca de jornal e quiosque;

g. Espaços de múltiplo uso para o CAJUN e pequena biblioteca

pública;

3. Espaços auxiliares, no primeiro piso:

a. Um auditório para 180 lugares;

Page 72: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

72

b. Sanitários masculino e feminino;

c. Setor administrativo, com secretaria, sala para arquivo, recepção,

sala do diretor, sala do vice-diretor, sala de enfermaria e sanitários.

Outro ponto importante considerado na abordagem arquitetônica foi a

flexibilização inerente aos ambientes. Tomemos como exemplo a sala de

informática: um ambiente equipado com computadores, projetor, internet.

Atualmente esse ambiente tem um apelo muito grande às camadas mais

populares, que ainda tem dificuldade de ter acesso às tecnologias de ponta. Aos

olhos dos usuários que não dispõem de computadores e internet em casa, a

sala de informática é, também, sua lan house gratuita. Analogamente, a quadra

e os pátios, sua área de lazer, os laboratórios de arte, seu espaço de criação

artística, as bibliotecas e os espaços expositivos, seus espaços de

contemplação e conhecimento. Para os moradores, a escola é onde os filhos se

ocupam com coisa saudável. A escola é e pode ser mais que um espaço regido

por corpo de docentes, se oferecido como um espaço de apropriação e

satisfação de necessidades de uma comunidade privada de muitos recursos.

Desta forma, todo o programa foi lido de duas maneiras: uma como espaço da

escola e outra como espaço da comunidade, devendo, arquitetonicamente, estar

adequado às duas condições. Assim os usos foram contabilizados e

considerados.

Há arquiteturas que, com vedações e cores, visam marcar partidos políticos ou

mandatos; até mesmo regiões, prefeituras. São exemplos que se limitam a uma

regionalidade e a um partido político. Neles, normalmente, a composição

estrutural, a distribuição dos ambientes, ignoram outros sentidos importantes à

arquitetura e sua mensagem, pois são concebidos esteticamente para o

enaltecimento de uma gestão política. Quando, na verdade, somos civilização

capixaba, filhos do Espirito Santo. Civilização brasileira, oriunda de uma

complexa formação histórica, de índios e colonizadores de mais diversas terras.

Civilização humana, oriunda de milênios de construções e reconstruções sociais.

Habitantes de um planeta de fauna e flora riquíssimas, de belezas múltiplas, de

cores, de formas, materiais diferentes, que dão aos homens a capacidade de

admirar. Simplificar a arquitetura, a experiência do percurso, a aspectos

meramente programáticos e partidários não inclui o real significado da educação

e de uma construção inspiradora. Ao despir a arquitetura de referências mais

amplas e relevantes, deixamos de lado longos anos de civilização.

O espaço da escola tem um poder educativo pelo simples fato de ter que se

manter de pé. A conquista estrutural, o uso dos recursos naturais, o custo-

benefício social de uma nova edificação em operação tem já em si um conteúdo

importante. Outrossim, suas vedações, cores aplicadas, cobertura, relação com

o entorno, com a natureza são aspectos importantes. Como a arte foi pensada

no projeto? Ela dialoga com os usuários? Ela imprime uma nova sensação?

Page 73: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

73

Uma reflexão? Como a natureza foi inserida no projeto? O que ela fala aos

educandos além do bem estar causado pelo farfalhar das folhas e pela beleza

do natural? Há educação pelo espaço escolar. E isto também se insere no

programa de necessidades: transmissão de sensações e valores urgentes à

preservação e enriquecimento sustentável das três ecologias de Guatarri.

Assim se configurou o desafio.

Page 74: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

74

A partir das considerações feitas, o projeto foi concebido sob três premissas:

estreita relação do espaço da escola com a demanda da comunidade, emprego

de tecnologias optimizadas e sustentáveis, e integração com as artes com

objetivo educativo e interativo, a fim de causar a sensação de apropriação, de

pertencimento do equipamento à comunidade e da comunidade a redes mais

amplas, como a civilização e a natureza.

Buscou-se uma arquitetura que remetesse à tecnologia e à arte: à máquina, à

industrialização, que não substitui o homem, mas o potencializa. Desta forma,

optou-se por modulação das vedações para maior racionalidade, mas módulos

interativos com os usuários, apropriáveis. Buscou-se na estrutura metálica o

destaque à leveza, ao espanto, às possibilidades arvoradas pelo

desenvolvimento tecnológico. Pela arte, valores desejáveis foram cravados no

coração da escola, pelo sonho de cravá-los também no coração dos usuários.

Vejamos.

Implantação e distribuição do programa

Dividiu-se o projeto em 2 grandes blocos: térreo/primeiro piso e o bloco de salas

de aula e laboratórios. O térreo, o espaço do convite, o bloco de salas e

laboratórios, acima do térreo, um espaço de concentração.

O térreo das escolas com seus pátios cobertos e descobertos e quadras são

verdadeiras praças privadas acrescidas de outros programas, também

interessantes a acontecimentos de praça, como cantinas, refeitório, cozinha

sanitários e bebedouros, normalmente ali situados para atender a necessidade

de alimentação e higiene dos alunos durante o recreio.

Ciente da potência inerente aos térreos escolares, o projeto previu, antes da

entrada da escola, uma praça pública, com playgrounds para crianças e idosos,

banca de revista, pomar, arvores, sombras e assentos, além de um espaço

reservado para o CAJUN, programa da prefeitura de Vitória que complementa

com atividades recreativas o ensino de meio turno, dando ocupação às crianças

em tempo integral. Assim, criou-se um bloco térreo dividido em 2 partes: uma

praça pública e um térreo escolar. Aos finais de semana, conectam-se os dois

pela remoção das possíveis barreiras, convertendo o térreo da escola em uma

extensão da praça em tamanho e funções. Favorecendo a ligação dos dois

setores do térreo, os ambientes se distribuem a margem de um grande e

ininterrupto eixo.

Page 75: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

75

Sem interferir na ligação do térreo com a praça, o estacionamento foi implantado

paralelo à rodovia Serafim Derenze, por ocupar o maior lado do terreno e

comportar as vagas, além de evitar a geração de tráfego dentro do bairro. Na

Rua Ozias Sarmento implantou-se a baia. Dali, o pedestre entra no eixo que

caracteriza o projeto.

Dispostos sobre o eixo público/semi-público e sem interferir em sua

comunicação, implantou-se o bloco de salas e laboratórios 7 metros acima do

térreo. Os acessos ao bloco foram dispostos de tal forma a não interferir na

continuidade do térreo da escola com a praça.

Com as intensões harmonizadas, conquistou-se a fluidez programática

desejada, dando à comunidade não só um convite, mas um generoso espaço

público.

Page 76: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

76

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77

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O térreo é o coração do projeto. Ele é o principal elo de ligação entre o

equipamento e a comunidade.

PÁTIO

ESCOLA

PÁTIO

PÚBLICO

Page 79: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

79

Nele, posicionou-se um grande eixo. Como um rio que corta diversos cenários,

esse eixo, livre, ininterrupto, oferece diversos cenários aos usuários que o

percorrerem.

Já no início do eixo, na entrada do projeto, criou-se um espaço propício à

reflexão: uma zona infantil, com o playground de crianças, e outra de idosos /

adultos, e entre elas, à frente, uma escola, onde crianças estarão em processo

de transformação e crescimento. Assim, para provocar reflexões, convocou-se a

arte, a ser inserida entre os equipamentos e os caminhos, com temas e

propostas tais que contextualizem o olhar. Obras que poderiam ser uma frase:

―como você era quando criança?‖, ― o que serão quando crescer?‖, ou quadros

que trouxessem a tona os temas infância, crescimento e maturidade... O intuito é

dar um sentido ao playground, às crianças ali brincando, além do simples uso.

O playground de crianças foi rebaixada à 60cm afim de evitar a fuga das

crianças e favorecer este olhar pensante dos espectadores. Um conjunto de

bancos e jardins que a cercam fazem a vez de limites, e nela só haverá uma

saída, a rampa de acesso. Assim, evitaram-se muros e permitiu-se aos pais

segurança no cuidado com os filhos.

Page 80: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

80

Cercando a praça pública, um cinturão de gramíneas coloridas e flores se

distribuem nos limites da praça, protegendo o mangue de usos indevidos e as

crianças de fugirem aos olhos dos responsáveis. Vasos de 3m de altura estarão

posicionados nas extremidades deste cinturão, como se as flores e gramíneas

estivessem saindo de si.

Page 81: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

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À frente da praça, o CAJUN e praça coberta se relacionam. Coberta, a praça

pode funcionar como extensão das salas do CAJUN.

O pátio coberto da escola é separado da praça pública por um painel retrátil,

semelhante à porta-camarão. Aos finais de semana e à noite esse painel é

recolhido, dando acesso ao restante do térreo, ampliando a praça pública e

dando-lhe novos equipamentos, como cozinha – se acordado entre escola e

comunidade – cantina, decks e ginásio.

A cozinha, a cantina e o depósito de alimentos foram posicionados limítrofes ao

estacionamento para facilitar a carga e a descarga necessária. O depósito de

alimentos pode servir para guardar os itens da cozinha particulares à escola,

caso necessário liberar seu uso aos finais de semana para casamentos,

reuniões de igreja, festa junina, etc...

Page 82: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

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O pátio descoberto terá seus limites laterais definidos por duas alas cobertas por

uma passarela. Entre essas alas e o eixo, plataformas de múltiplo uso estarão

dispostas, compostas por decks-jardineira. O deck poderá servir de palco,

assento, descanso, suporte para joguinhos etc. O deck-jardineira será ocupado

com gramíneas e árvores frutíferas e locais de médio porte.

Sob a passarela, uma jardineira-banco, com desenho sinuoso, terá espessura

mínima de 30cm para servir de assento. Arbustos pequenos, médios e altos

farão um jardim, e por detrás do jardim, um gradil. Assim, fecha-se os limites do

pátio, sem enclausurar. Muro sutil, transparente, belo. Um limite não murado,

jardinado, útil, extenso banco, extenso jardim. Muro, não. Um limite-banco-

jardim. Que até dialoga com os decks, criando nichos de estar.

A passarela das alas

laterais estará a 3,5m do

térreo. Por ela, a copa

das arvores e suas frutas

estarão acessíveis ao

toque.

Andar sob as copas.

Andar entre as copas.

Andar sobre as copas.

Entender e vivenciar os

espaços sob, entre e

sobre. A natureza se dá

nesses três planos... Os

Jardineira-banco

Gradil

Gradil

Jardineira-banco

Page 83: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

83

que voam, os que andam, os que trepam em arvores. Os da superfície do mar,

os do meio, os do fundo do mar. A biologia se aplica nos passeios. Com fins de

estar, recreação ou didático, estarão ali à disposição dos professores, alunos e

usuários.

De frente ao pátio coberto, a empena do ginásio. Ali, apenas a abertura para a

entrada às quadras. Fora isso, a empena se dá, oferecendo-se como uma

parede para projeções.

No ginásio. Duas quadras dispostas frente a frente, pela pouca largura do

terreno e para configurarem a extensão final do eixo, pois nada são que piso

livre, área livre com demarcações pintadas. Uma arquibancada de 530 lugares é

Page 84: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

84

disposta sobre o vestiário de atletas e funcionários, situados à 84cm abaixo da

cota das quadras.

Page 85: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

85

Assim, o eixo se firma como um espaço múltiplo, generoso, que permeará a

escola, liberando seus usos aos finais de semana, de forma harmônica. Livre

para acontecer. Livre para nele se andar, correr, pedalar, festejar, de se dividir

entre muitas atividades, com setores cobertos e descobertos, espaços para

projeção, cozinha para cozinhar, banheiro para utilizar, quadra para jogar, arte

para refletir. Festas juninas, casamentos, reuniões, apresentações de teatro,

dança, desfiles poderão acontecer ali. Com um programa catalisador sobre si, a

escola com o CAJUN, esse eixo terá tudo para ser um espaço vivo, vibrante, útil,

amável, amado palco de boas recordações e catalisador de atividades coletivas.

Page 86: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

86

Os pavimentos acima do térreo foram cuidadosamente pensados de forma a

interagir com a comunidade e pousar de forma suave sobre o eixo.

Page 87: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

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Para garantir o caráter de praça permanente no eixo, posicionaram-se os

acessos ao primeiro piso nas laterais do edifício. Uma rampa dá acesso à escola

– voltada para o mangue, onde os alunos todos os dias poderão contemplar a

natureza; - e outra dá acesso ao auditório e o segundo pavimento do CAJUN.

Voltado para o mangue, o acesso principal à escola é ―filtrado‖ após o primeiro

lance da rampa. As roletas, situadas próximas ao setor administrativo, permitirão

que apenas os autorizados continuem o percurso, e os não autorizados a irem à

recepção sem entrar no colégio. Autorizados, acessam as rampas e as escadas

que ligam ao pátio interno e aos blocos de sala e laboratórios.

Conforme mostrado no esquema abaixo, o auditório poderá ser utilizado tanto

pela comunidade quanto pela escola, não simultaneamente. Dois painéis

posicionados de frente ao banheiro determinarão o uso: quando um abrir, o

outro fecha, e vice-versa. Assim, ora o auditório é acessível à comunidade, ora à

escola, de acordo com a necessidade e conveniências.

DIAS ÚTEIS

Auditório servindo apenas à

escola

Auditório servindo à

comunidade

Pelas roletas, o

acesso aos

pavimentos

superiores e ao

pátio interno fica

restrito

ACESSOS PÚBLICO 1º PISO

BARREIRAS / ELEMENTOS DE SEPARAÇÃO PÚBLICO / PRIVADO

ACESSOS PÚBLICOS TÉRREO

Page 88: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

88

Aos finais de semana, as

rampas que margeiam o

mangue ficarão fechadas,

restringindo o acesso ao

setor administrativo, e, caso

julgado necessário pelos

administradores da escola,

pode se fechar também a

rampa de acesso aos blocos

de sala de aula.

Assim, por acessos

posicionados

estrategicamente e barreiras

simples, foi possível restringir

os acessos conforme a

necessidade de uso da

escola.

FIM DE SEMANA:

ACESSOS PÚBLICO 1º PISO

BARREIRAS / ELEMENTOS DE SEPARAÇÃO PÚBLICO / PRIVADO

ACESSOS PÚBLICOS TÉRREO

Page 89: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

89

Acima do auditório, no 2º piso, inicia-se o bloco de salas de aula. Os ambientes

pedagógicos foram distribuídos em pavimentos de sala de aula, cada pavimento

divido em 2 blocos: bloco de salas de aula e administrativo – coordenação, sala

de professores, depósito de materiais - e bloco de salas auxiliares, estando

estes 2 blocos desnivelados entre si em meio pé-direito (1,75m). O primeiro

bloco atenderá ao Ensino Básico, o segundo ao Ensino Fundamental e o terceiro

ao Ensino Médio. O desnível entre as alas auxiliares das salas de aula e o bloco

de laboratórios de 1,75m foi adotado para gerar fluidez no percurso, a exemplo

da aplicação de Artigas na FAUUSP. A chegada em cada bloco se dará em halls

amplos, que abrigarão painéis/obras. Desta forma, o percurso não será apenas

suave, mas inspirador.

elevador

Page 90: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

90

A circulação vertical entre os blocos de sala e laboratórios foi resolvida por

rampas, mais ao centro do conjunto, e por escadas e elevadores, no limite do

conjunto com o pátio descoberto. Por estar voltado para o belo canal de Vitória,

adotou-se um elevador panorâmico.

Imagem interna do elevador.

Adotou-se layout e formato retangular para as salas e laboratórios pela

flexibilidade programática que estes formatos conferem ao edifício.

Para o edifício principal, há 2 coberturas: o terraço-jardim, sobre o bloco de salas

e laboratórios, onde foram posicionados painéis fotovoltaicos para geração de

energia para a escola; e um painel central atirantado, cobrindo o átrio central e o

pátio.

Terraço-Jardim

Cobertura Central Terraço-Jardim

Painéis fotovoltaicos

Painéis fotovoltaicos

Page 91: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

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Page 92: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

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Page 93: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

93

Tecnologias

Configurada como espaço convidativo à comunidade, a escola pôde adquirir

novas funções além do programa de necessidades e do uso de seus espaços.

Sua forma de construção e tecnologias empregadas também foram pensadas de

forma a promover reflexões.

Estrutura

A estrutura metálica, por sua leveza e racionalização construtiva, foi adotada.

Módulos para vedação e esquadrias utilizados de tal forma que a escola, em sua

construção, seria montada com geração mínima de entulho, e, se obsoleta,

desmontável e reciclável.

A estrutura do edifício principal da escola foi inspirada nas soluções estruturais

dadas ao Centro Cultural Georges Pompidou por Renzo Piano, Richard Rogers

e Peter Rice, e, à semelhança deles, optou-se pela adoção de vigas treliçadas,

pilares circulares, braços de alavanca e tirantes como componentes básicos da

estrutura. As vigas treliçadas foram utilizadas pela leveza e pela grande

permeabilidade às tubulações, facilitando as eventuais reformas e

compatibilizações necessárias. Os tirantes foram utilizados em conjunto com os

braços de alavanca e pilares e para sustentação da cobertura central do edifício,

conforme especificado em minúcias nas pranchas 08 e 09.

Page 94: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

94

Os pilares internos foram dispostos de tal

forma que não tocarão a cobertura. Essa

foi a principal intenção que levou a

cobertura a ser atirantada: fazer o ponto

de apoio ficar oculto por dentro do

edifício, dando a impressão de flutuação

da cobertura central. Vilanova Artigas

dizia que era necessário fazer o ponto de

apoio cantar, e o fez diversas vezes,

apoiando grandes empenas sobre rótulas

na altura do observador. Fazia cantar pelo

espanto. Aqui, fez-se cantar pelo

ocultamento. Sustentada por cima, a

cobertura central flutua sobre um vão de

70x17m.

Page 95: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

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A cobertura do ginásio foi resolvida com três grandes planos: um central,

elevado e dois laterais, apoiados sobre um arco. .O arco se apoiará sobre um

pilar trapezoidal, por uma ligação metálica, aparente, dando a sensação de

leveza ao conjunto pela simplicidade e escala do apoio. Aqui, o ponto de apoio

de fato canta.

Perspectiva frontal do ginásio Corte do Ginásio

Page 96: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

96

Vedação e esquadrias

A vedação e as esquadrias do edifício escolar foram resolvidas com cinco

módulos, que permitirão ventilação cruzada, layout flexível e rapidez de

montagem e desmontagem.

Módulos utilizados para composição das vedações e esquadrias. Para entender a aplicação e

detalhes destes módulos, olhar a prancha 06.

Vale destacar o aspecto artístico pertinente ao módulo ―E‖. O painel que irá

compor a fachada terá o peitoril pivotante. Terá superfície lisa e branca,

rabiscável. Nela, as crianças poderão desenhar, pintar, rabiscar, de dentro da

sala de aula. Mas não farão isso para si, mas para a cidade, pois este peitoril, ao

pivotar 180º, se oferecerá à apreciação da cidade. Ao girarem, o conjunto de

painéis dará nova face à cidade. Esta nova face poderá ser orquestrada: cada

painel, um pixel, feito por uma criança. O maestro determina apenas a cor e a

densidade do desenho. Todos obedientes, sintonizados, eis a ópera, orquestra

de cores e formas. Feita por um maestro artista e pelos filhos do bairro, para o

bairro, para a cidade.

Page 97: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

97

Um pouco diversidade de

cores e tons que as fachadas

podem assumir sob a

intervenção dos alunos e

professores, desenhando do

lado de dentro, de forma

orquestrada, girando o

peitoril e dando à cidade

nova fachada.

Page 98: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

98

Conforto Ambiental

Conciliar conforto térmico e conforto lumínico foi um dos desafios deste projeto. Para

tanto, os módulos foram previstos de forma a permitirem ventilação cruzada, impedir

insolação e iluminação diretas, e propiciar iluminação indireta que alcançasse a

maior parte dos ambientes internos. Para tanto, fez-se uso de prateleiras de luz para

proteção solar e iluminação indireta das áreas menos iluminadas da sala e telas de

steel mesh para se filtrar os raios solares que poderiam incidir diretamente nos

ambientes.

Porém, mesmo com os devidos cuidados tomados para se evitar insolação nos

ambientes e com ventilação cruzada, devido às altas temperaturas e umidade

relativa da cidade, não é possível proporcionar a sensação de conforto térmico em

todas as horas do ano em Vitória.

Decidiu-se, então, complementar as estratégias

de conforto por insuflamento de ar naturalmente

refrigerado e ventilação mecânica. O ar será

naturalmente refrigerado em câmaras

subterrâneas que abrigarão tanques de pedra,

resfriados pela estável temperatura do solo e

pelo ar noturno, que durante a noite resfriará as

pedras contidas nesse tanque. Assim, o ar será

resfriado ao passar por serpentinas implantadas

no interior do colchão de pedras resfriadas,

posteriormente conduzindo às salas de aula

sobre os ventiladores, que irão espalhar o ar

refrigerado naturalmente junto as correntes de

ventilação cruzada.

Page 99: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

99

Águas

Os blocos de sanitário, as salas de arte e laboratórios receberam atenção

especial por gerarem águas-cinzas, passíveis de tratamento por biorremediação

para posterior em usos onde a potabilidade não é exigida. Assim, jardins

próprios para biorremediação foram localizados em suas adjacências,

propositalmente na fachada do principal, de forma a tratarem as águas. Por

gravidade, descem ao pavimento imediatamente inferior, prontas para

reutilização na limpeza escolar e descarga em sanitários. Situados na fachada

principal, os jardins concederão e reforçarão o caráter sustentável da edificação

em sua estética (ver prancha 11).

A utilização das águas da chuva também foi prevista. Para a cobertura do

ginásio, verificou-se o potencial para captação de 3.929 metros cúbicos de água,

ou 3.929.000 litros por ano, considerando a precipitação anual de Vitória que é

1100mm. Utilizou-se essa água para irrigação do jardim sob a passarela e para

o uso dos sanitários dos vestiários e para a limpeza do pátio interno, com

tanques de armazenamento distribuídos conforme as necessidades. Nos blocos

de sala de aula e laboratórios, a água pluvial foi prevista para ser usada para a

limpeza do chão e mictórios, e as águas cinzas para a descarga dos sanitários.

Page 100: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

100

Situados na passarela de ligação entre os blocos de sala e laboratórios, tanques

de armazenamento de águas pluviais estarão à mostra para que os professores

possam mostrar aos alunos. Para as minúcias desta captação da cobertura

central, basta olhar os detalhes das pranchas 09 e 10.

Page 101: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

101

A arte central

Sob o apelo de que ―Educar é impregnar de sentido o que fazemos a cada

instante!‖ Paulo Freire, a arte foi adotado como elemento responsável por dar

sentido à coisa toda.

Têm-se dois elementos de arquitetura que se destacam no centro do edifício:

uma cobertura central que flutuará e um eixo-rua que inicia numa praça pública,

entra na escola e vai até o limite do ginásio, totalmente accessível aos finais de

semana. Iniciou-se então estudos para definição da paginação do piso eixo e da

configuração da cobertura central, todos numa tentativa comum de trazer a arte

como elemento central, presente, vivo ao projeto, ao dia-a-dia da escola e do

público.

A primeira cogitação consistiu em se utilizar a cobertura central como um grande

painel central para grafite, cujos desenhos seriam feitos sob a perspectiva de

quem olha de baixo para cima, remetendo à arte dos Gêmeos Pandolfi e do

muralista mexicano David Alfaro Siqueiros. As imagens desse primeiro estudo

constam nas páginas adiante.

Feitos alguns estudos, concluiu-se que um painel opaco não daria a noção de

leveza e flutuação pretendida com a sustentação da cobertura por tirantes e sem

apoio aparente, pelo contrário, a ausência de transparência e inserção de

imagens figurativas destoava da geometria regular e leveza pretendidas.

Posteriormente, cogitou-se em resolver essa peça com telha translúcida

sustentada por ripas e aletas que remeteriam ao efeito das obras do

venezuelano Cruz Diez. O eixo se resolveria com uma paginação de pedras

portuguesas, em referência à obra de Burle Marx. Essa opção foi considerada

boa, dialogou com a leveza e inseriu a arte bem no centro do edifício. Porém

não foi a ideia adotada, pois seria vazia de significados, pouco lúdica e com

tema vago à compreensão de crianças.

Page 102: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

102

Primeiro estudo para painel central: O

navegador dos céus, dialogando a

aposição do objeto com os costumes

locais.

Page 103: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

103

Estudo 1: A revoado das caixas-pássaro.

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104

Estudo 1: povoar o céu de cenas

fantasiosas, a fim de dar ao espaço

escolar uma constante atmosfera

lúdica, propícia a invenção,

criatividade.

Estudo 1: Uma dessas cenas seria “O

canoeiro do Céu e os Peixes

celestiais”, dialogando com a cultura

da pesca presente no bairro.

Page 105: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

105

Estudou-se uma paginação composta por blocos de concreto coloridos em forma

de losango. As medias desses blocos seriam moduladas, em

12,5x12,5cm,25x25cm e 50x50cm. 6 módulos de cada dimensão: um módulo,

remetendo ao corpo de um peixe, um módulo remetendo à calda de um peixe e

água, e outro módulo remetendo à agua – ora azul, ora verde-água, ora verde-

mangue. Assim, na paginação, teremos peixinhos (25cm), peixes (50cm) e

peixões (1m). E três tons de água: água verde – típica do mangue, água verde-

água – entre o mangue e o alto-mar, e água azul – alto-mar.

Entretanto, esta não foi a solução adequada, pois sua implantação competiria

com o painel.

A ideia final, e definitiva, veio quando se considerou a relação com o mangue,

com a natureza local. O mangue, presente no entorno, importante ecossistema

para toda a vida marinha e para a população local. Importante para todo o

equilíbrio da vida natural. Ecossistema-berçário. De águas verdes pela grande

quantidade de matéria orgânica presente, visto e utilizado diariamente no

cotidiano dos usuários da escola e da população do entorno. Não poderia passar

ignorado. Seu significado ecológico e sua relação com a comunidade são

demasiado importantes. Concluiu-se, portanto, que o mangue deveria ser

utilizado como elemento para educação ambiental, e definiu-se que a paginação

desse eixo e a cobertura dialogariam com este ecossistema.

Optou-se por uma paginação sem figuras, com massas de cores em tons pastéis

que remeterão ao mangue, e ao encontro dos rios dando com o mar. Massas de

Page 106: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

106

cores verde-oliva e verde-água ocuparão o trecho do pátio escolar descoberto,

remetendo à água com muita matéria-orgânica dos canais e rios, esverdeadas, e

aos manguezais. No pátio coberto, os tons verdes darão lugar à predominância

de massas azuladas, sendo a paginação do trecho da praça pública totalmente

azulada, remetendo ao alto-mar. Assim, internamente à escola o piso remeterá

ao mangue, e externamente, na parte pública, ao alto-mar.

A cobertura central dialogará com a paginação do piso.

Remeterá ao gótico, às catedrais. Se no passado trouxemos à memória nos

vitrais questões como pecado, histórias bíblicas, santos, memórias religiosas;

buscou-se nesse vitral contemporâneo trazer à tona questões tidas como

essenciais em nossa sociedade, como a sustentabilidade e a preservação dos

ecossistemas, pois a natureza, de tão depredada, se tornou, hoje, um elemento

a ser sacralizado, respeitado, preservado. Assim, optou-se por se inserir um

grande vitral, de 15x70m, cujo tema é o céu e suas mudanças do mangue ao

alto-mar. Do mangue, com folhagens de manguezais vistas de baixo para cima,

como se fossemos um pescador em barco olhando para o alto, com aves típicas

da região voando. Ali, tons quentes, amarelos, laranjas e rosas falarão do pôr e

do nascer do sol, momentos onde o sol virtualmente toca a terra. Adiante, as

folhagens dão lugar a nuvens, brancas e azuladas, e as aves de mangue dão

lugar a andorinhas e albatrozes, aves de alto-mar.

Page 107: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

107

Propositalmente, a transição da predominância dos tons

esverdeados que falam do mangue para os tons azuis que

falam do mar se dará na paginação do piso no mesmo

momento em que os tons quentes darão lugar aos tons

mais frios no painel. Sintonizados, sobre o mesmo tema e

co-contextualizados, piso e chão falam de planos paralelos

de um mesmo cenário. Céu e mar. Água e ar. Cor, formas

e significados.

PA

GIN

ÃO

DO

PIS

O

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108

Uma metáfora é estabelecida sem querer se fazer perceber, pois a beleza e a

harmonia foram priorizadas. Apesar de não priorizada, a metáfora fora

concretizada nestes planos paralelos. O mangue, que é o berçário do mar, fala

da escola, berçário da sociedade, e o mar, fala do mundo, onde há intensa

competição. A infância, o nascer do sol, tem tons quentes, coloridos. Os tons

azuis da vida corrida dos adultos, um pouco menos colorida. E como no céu não

há separação, mas conexão entre as partes, sempre, a beleza de um compensa

a dureza do outro, como os filhos compensam o árduo trabalho dos pais.

Nas compensações da vida, espera-se que esta escola, se um dia erigida em

semelhança de soluções e contexto, possa ter o esforço dos construtores e

arquiteto compensado com a alegria das crianças, adolescentes, pais,

professores e demais usuários.

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109

Page 110: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

110

4. Conclusão

O pensamento de Anísio Teixeira permanece como solução ante a realidade

contemporânea, mesmo passados 40 anos desde sua morte. A educação no

Brasil carece de concepções mais profundas, não só em termos pedagógicos,

mas em termos espaciais, arquitetônicos. A integração da escola com a

comunidade se dá de forma precária, e em parte as tipologias arquitetônicas

adotadas tem grande influência nisso, pela criação de espaços enclausurados.

Este trabalho buscou, por meio de ensaio projetual, propor um conjunto de

soluções replicáveis. Entretanto, houve pouca integração direta, pessoal, com

pedagogos ou profissionais da área da educação, restringindo-se a bibliografias.

As propostas de Anísio apontam diversas possíveis tipologias, e esta aqui

aplicada buscou conciliar em si sua visão e novas demandas contemporâneas.

Por meio deste projeto buscou-se integrar comunidade, arte, educação e meio-

ambiente. Sintetizar diversas forças locais na arquitetura, a fim de provocar essa

síntese em cada aluno, cada usuário da edificação.

Pela climatização passiva somada a ventilação cruzada e mecânica, os usuários

experimentarão o conforto térmico com baixo consumo energético. Pela

reutilização de águas cinzas, verão o bom aproveitamento dos recursos naturais.

Pela iluminação presente em todos os ambientes do projeto, poderão ler,

escrever com baixo consumo de energia. Pelos jardins espalhados pelo projeto,

até às coberturas verdes, verão a beleza da natureza e sua importância. Pela

modulação das vedações e pela estrutura metálica, utilizarão uma escola

construída com o mínimo de entulho e passível de ser desmontada e

reconstruída em outro local ou ter seus elementos todos reciclados.

A interação do aluno com o painel-peitoril-pivotante alterando a fachada da

escola dará a noção do indivíduo no coletivo, da ação como elemento de

transformação. Assim, o módulo não se configurou elemento de restrição de

possibilidades, mas de acréscimo. A paginação do eixo e a cobertura darão a

noção nítida de pertencimento, a noção do lugar, da importância de um

ecossistema. O auditório flexível, pertencendo ora a comunidade ora a escola, a

integração do Cajun ao espaço escolar e à praça pública, a biblioteca pública, a

flexibilidade dos espaços e mobiliário propiciará os mais distintos usos da escola

e da praça. Cultura e capacitação profissional terão um palco múltiplo.

A compreensão de que o principal objetivo de um equipamento para educação é

a transmissão heranças materiais e imateriais de um povo foi o alicerçe deste

projeto, no qual se buscou um espaço capaz de abrigar em harmonia e

convergência os diversos meios para tornar essa transmissão efetiva: teatro,

dança, ensino, artes plásticas, esporte, mídias audio-visuais, debate, integração

social. Falhas, avanços, fracassos e sucessos se somam nesse projeto, detectá-

Page 111: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

111

los e prosseguir experimentando é a trilha que este arquiteto pretende seguir,

tecnicamente sonhando.

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112

5. Lista de Figuras

Figura 1: Escola Normal da Capital, em São Paulo. ........................................... 21

Figura 2: Escola Modelo da Luz. ......................................................................... 21

Figura 3: Grupo Escolar Visconde Congonhas Campo. ...................................... 22

Figura 4:À esquerda, Núcleo de Artes em dia de exposição e à direita, foto do

pavilhão principal ................................................................................................. 23

Figura 5: Núcleo de Artes. ................................................................................... 24

Figura 6: Mario Cravo - "O homem e a máquina". ............................................... 24

Figura 7: Maria Célia Mendonça - "A transformação da matéria‖. ...................... 25

Figura 8: Dia de discussões sobre sustentabilidade no Dia da Ciência e

Tecnologia. .......................................................................................................... 26

Figura 9: Caminhada do Bem, homenageando Luiz Gonzaga. ........................... 26

Figura 10: Show de marionetes a partir de contos de Jorge Amado. .................. 27

Figura 11: Dia de ações sociais para a comunidade na escola-parque.

Voluntárias dando esclarecimento sobre o câncer de mama. Fonte: .................. 27

Figura 12: Croquis das escolas-classe (1948), em São Paulo, de Hélio Duarte . 28

Figura 13: Nas duas imagens à esquerda, Grupo Escolar Almirante Barroso

(1949). À direita, no alto, Grupo Escolar de Vila Leopoldina (1949) e, acima,

Grupo Escolar de Moema (1949). Todas assinadas por Hélio Duarte, em São

Paulo. .................................................................................................................. 29

Figura 14: CIEP 265, em São joão da Barra, no Projeto Verão lançado pelo

Governo do Estado, em 2011. ............................................................................. 30

Figura 15: Imagem externa da quadra dos CIACs, cuja forma fora replicada em

todos os projetos. ................................................................................................ 32

Figura 16: CEU Vila do Sol (2008), no Jardim Ângela, em São Paulo. ............... 33

Figura 17: Catálogos disponibilizados pelo FDE. Fonte: FDE (2013) ................. 35

Figura 18: Páginas do Catálogo de Ambientes referentes à Secretária. As

dimensões do ambiente e os equipamentos são pré-determinados. .................. 35

Figura 19: Acima, a Escola Professora Irene Caporali de Souza e abaixo a

Escola Odilon Leite Ferraz, ambas do FDE. Ambas utilizam os módulos

determinados pela Fundação, mas a linguagemarquitetônica das escolas são

variadas. .............................................................................................................. 36

Figura 20: Síntese dos itens avaliados. ............................................................... 43

Figura 21: Indicando estratégias bioclimáticas para as cidades de Vitória. ......... 45

Figura 22: Novo sistema de ensino público fundamental com 9 anos. ................ 37

Figura 23: Visão do entorno do Local do Projeto, com as principais avenidas de

Vitória destacadas. ................................................ Error! Bookmark not defined.

Figura 24: Localização do terreno e seu entorno imediato.Error! Bookmark not defined.

Figura 25: Intervenção do autor do projeto sobre o Zoneamento Urbanístico da

PMV. .................................................................................................................... 53

Figura 26: Mapeamento de equipamentos escolares do entorno. Intervenção do

autor sobre mapa de equipamentos escolares públicos da SEDEC/PMV. .......... 54

Page 113: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

113

Figura 27: Intervenção do autor sobre mapa de rendimento mínimo até 3 salários

mínimos da SEDEC/PMV com dados do CENSO2000 x ZIP. ............................ 55

Figura 28: Intervenção do autor sobre mapa de rendimento mensal médio por

setor censitário da SEDEC/PMV com dados do CENSO2000 x ZIP. .................. 56

Figura 29: Planta Baixa da Situação atual. .......................................................... 57

Figura 30: Imagens mostrando os pontos de vistas. ........................................... 60

Figura 31: Vista 1: entrada do CAJUN, em Joana D'arc. .................................... 61

Figura 32: Vista 2: relação CAJUN com a escola e entorno. ............................... 61

Figura 33: Vista 3: entrada principal da escola Izaura Marques. ......................... 62

Figura 34: Vista 4: entrada de fundos.................................................................. 62

Figura 35: Vista 5, mostrando os fundos da escola com a praça. ....................... 63

Figura 36: Vista 5 aproximada. A arte se mostra de forma tímida, como uma

apropriação, revelando uma potência inerente aos recursos humanos da escola

Izaura Marques. .................................................................................................. 63

Figura 37: Vista 6, onde dois equipamentos públicos de usos afins se separam

por um muro de 2,20 metros. A arquitetura da escola impossibilita uma possível

ampliação/relação com a praça. .......................................................................... 64

Figura 38: Vista 7, mostrando as casas típicas do bairro, do outro lado da praça.

Interagem com o entorno e com o mar por meio de varandas e aberturas; mais

que a escola e seus muros. ................................................................................. 64

Figura 39: Vista 8, mostrando os fundos da EMEF Vercínilio da Silva Pascoal.

Os muros altos e fechados e sua arquitetura lhe torna praticamente hermética

em relação ao entorno. ........................................................................................ 65

Figura 40: Vista 9, mostrando a entra principal da escola, que mantém a lógica

hermética de toda sua arquitetura. ...................................................................... 65

Figura 41: Vista interna a partir da entrada principal da escola Vercinílio da Silva

Pascoal, num dia de sábado, 31 de março de 2012. .......................................... 66

Figura 42: Vista interna a partir da entrada principal da escola Vercinílio da Silva

Pascoal, voltada para o pátio coberto e para o setor administrativo e para o

refeitório. ............................................................................................................. 66

Figura 43: Vista 10, mostrando a esquina entre a Rua Ozias Sarmento

Rodrigues e a entrada principal da EMEF Vercinílio da Silva Pascoal e a Rua

José Martis Delazare. .......................................................................................... 67

Figura 44: Vista 11, mostrando a esquina entre a Rodovia Seravim Derenze e

Rua José Martis Delazare. .................................................................................. 67

Figura 45: Moradores confraternizando em frente ao terreno num dia de sábado -

31 de março de 2012. 68

Page 114: Equipamento Educacional para Joana D'Arc

114

6.Referência Bibliográfica

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