equidade entre as escolas

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Equidade entre as escolas das redes municipais 1 Equidade entre as escolas das redes municipais Uma análise com base nos dados de IDEB para municípios e escolas i 1. Introdução Os aspectos mais abordados em análises sobre a Educação no Brasil são relacionados aos desafios quanto ao acesso, à qualidade e à equidade. Estes três fatores constituem o fundamento do direito à Educação e devem ser objeto prioritário das políticas públicas. O acesso à Educação foi o tema predominante no debate até maior parte da década de 1990 por ser visto como essencial para acelerar o desenvolvimento do Brasil. Mais recentemente, com a aprovação da Emenda Constitucional 59/09 que institui a obrigatoriedade de ensino para todas as crianças e jovens de 4 a 17 anos no Brasil, o acesso a pré-escolas e a continuidade dos estudos no Ensino Médio são os principais desafios enfrentados. Com a melhoria do acesso, a qualidade da Educação se tornou prioridade. Aspectos como rendimento de alunos em provas aplicadas pelo governo, níveis de aprovação/reprovação, características de escolas e professores que podem afetar o aprendizado, dentre outros, são objeto de análise por uma ampla gama de especialistas e pelo governo, que buscam identificar quais fatores mais influenciam a qualidade da Educação. Além destes aspectos, a partir do final da década de 90, a equidade passou a ser tema essencial no debate a respeito do direito à Educação. Conforme afirmou Castro, “Com ritmos e ênfases diferenciados, respeitando as peculiaridades locais e regionais, é possível afirmar que o Brasil já ultrapassou a etapa de prioridade exclusiva à política de expansão

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Page 1: Equidade entre as escolas

Equidade entre as escolas das redes municipais 1

Equidade entre as escolas das redes municipais

Uma análise com base nos dados de IDEB para municípios e escolasi

1. Introdução

Os aspectos mais abordados em análises sobre a Educação no Brasil são

relacionados aos desafios quanto ao acesso, à qualidade e à equidade. Estes três fatores

constituem o fundamento do direito à Educação e devem ser objeto prioritário das

políticas públicas.

O acesso à Educação foi o tema predominante no debate até maior parte da

década de 1990 por ser visto como essencial para acelerar o desenvolvimento do Brasil.

Mais recentemente, com a aprovação da Emenda Constitucional 59/09 que institui a

obrigatoriedade de ensino para todas as crianças e jovens de 4 a 17 anos no Brasil, o

acesso a pré-escolas e a continuidade dos estudos no Ensino Médio são os principais

desafios enfrentados.

Com a melhoria do acesso, a qualidade da Educação se tornou prioridade.

Aspectos como rendimento de alunos em provas aplicadas pelo governo, níveis de

aprovação/reprovação, características de escolas e professores que podem afetar o

aprendizado, dentre outros, são objeto de análise por uma ampla gama de especialistas e

pelo governo, que buscam identificar quais fatores mais influenciam a qualidade da

Educação.

Além destes aspectos, a partir do final da década de 90, a equidade passou a ser

tema essencial no debate a respeito do direito à Educação. Conforme afirmou Castro,

“Com ritmos e ênfases diferenciados, respeitando as peculiaridades locais e regionais, é possível afirmar que o Brasil já ultrapassou a etapa de prioridade exclusiva à política de expansão

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Equidade entre as escolas das redes municipais 2

do acesso à escola e, portanto, de investimento prioritário na rede física. A busca da qualidade e a promoção de maior equidade do sistema passaram a ocupar lugar de destaque na nova agenda das políticas de educação básica.” (Castro, 1999, p. 17). Apesar disso, as questões relacionadas à equidade ainda são pouco trabalhadas

no Brasil. Muito se deve ao fato da dificuldade de definir o que se entende por equidade

na Educação. As pesquisas que buscam separar equidade dos demais temas a

relacionam a questões de igualdade de oportunidade e justiça social, equiparando as

condições de êxito entre todas as crianças e jovens de diferentes setores sociais.

Aspectos socioeconômicos, raciais, de gênero e até mesmo relacionados à estrutura

física da escola, são também vistos como importantes quando se analisa a equidade.

Entende-se que, somente quando todos, independentemente destes fatores de

diversidade, tiverem acesso a uma Educação de qualidade de maneira igualitária, se

alcançará a equidade na Educação no Brasil.

O INEP define equidade como “distribuição das oportunidades educacionais.

(...) Um dos indicadores da equidade em Educação é a justa distribuição dos serviços

educacionais entre os diferentes grupos sociais” (INEP, 2010). Neste estudo a

distribuição de serviços educacionais será observada por meio das diferenças de

resultados educacionais das escolas medidos por meio do IDEB. Para que uma rede de

escolas seja equitativa, todas as escolas devem oferecer as mesmas condições de

aprendizado aos seus alunos. Para analisar o grau de equidade de uma rede pode-se,

portanto, observar se há uma grande disparidade de resultados educacionais entre

escolas da rede, ou seja, se todas as escolas proporcionam níveis semelhantes de

aprendizado. Em países com maior desenvolvimento na área da Educação, como a

Finlândia, verifica-se uma maior equidade na oferta de serviços educacionais aos

alunos.

A análise de equidade em educação só é válida quando se estipula um nível

mínimo de qualidade, sendo este pré-requisito de atendimento do direito à Educação.

Por isto, este estudo se restringirá a analisar a equidade dentro de redes municipais que

apresentaram resultado igual ou superior à média nacional (4,2), utilizando os dados do

IDEB. A análise se restringirá aos anos iniciais do Ensino Fundamental e são

investigadas as capitais brasileiras, pela representatividade de suas redes e para uma

avaliação da equidade a nível nacional. Além deste grupo, são analisados os dados dos

10 municípios do estado de São Paulo com mais de 15 escolas que obtiveram os

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Equidade entre as escolas das redes municipais 3

maiores IDEBs em 2007, permitindo a avaliação de redes menores e de cidades do

interior do estado mais rico do país.

Desta forma, este estudo buscará observar se, dentre escolas da rede municipal

de um mesmo município, há uma disparidade de resultados educacionais auferidos pelo

IDEB. Entende-se que uma rede apresentará sinais de ter maior equidade quando a

diferença entre os resultados alcançados por suas escolas na avaliação for baixa. Isto

significará que, naquele município, todos os alunos que estudam em escolas municipais

têm a mesma possibilidade de estudar em uma escola que lhe proporcione um bom nível

de aprendizado.

2. Metodologia

Neste trabalho são utilizados os indicadores de IDEB em 2007 das escolas e

redes municipais de ensino para as séries iniciais do Ensino Fundamental, extraídos do

site do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP).

Por meio destes indicadores, alguns gráficos e estatísticas são feitos para analisar a

equidade dos IDEBs entre as escolas .

Com base em tais indicadores, diversas análises são feitas. Primeiro, é

investigada, por meio de gráficos de dispersão, a relação entre os IDEBs das escolas e

os IDEBs dos municípios. Esta análise busca identificar se as escolas que fazem parte

de municípios que apresentam níveis educacionais semelhantes apresentam

desempenhos parecidos. A análise permite também ver se há uma equidade no

desempenho dos municípios e escolas do país como um todo.

Em seguida é feito um aprofundamento na análise com os dados das capitais do

país que apresentaram desempenho igual ou acima da média do Brasil no IDEB, sendo

considerado como ponto de partida no caminho para uma Educação de qualidade. Para

evitar que possíveis erros de cálculo do IDEB ou de preenchimento na planilha

divulgada pelo INEP gerem análises falsas, foram descartadas no gráfico com estes

municípios as escolas que estão entre as 10% melhores ou piores de seu município. Essa

exclusão também faz com que a análise não se perca em casos isolados.

Também é feita uma análise com os 10 municípios do estado de São Paulo com

mais de 15 escolas que apresentaram os melhores resultados no IDEB. Esse

levantamento busca analisar se nesse estado, que possui vários municípios entre os

melhores colocados no IDEB para os anos iniciais do ensino fundamental, existe uma

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Equidade entre as escolas das redes municipais 4

equidade entre as escolas quanto ao desempenho. No gráfico com estes municípios

também são excluídas as escolas que estão entre as 10% melhores ou piores de seu

município.

Tanto para as capitais quanto para os melhores municípios no IDEB com pelo

menos 15 escolas do estado de São Paulo é calculado o desvio padrão das notas das

escolas, que é dado pela seguinte fórmula:

Sendo o IDEB de cada escola, a média de IDEB destas escolas e n o

número de escolas.

O objetivo do cálculo do desvio padrão é verificar a variabilidade de

desempenho entre as escolas, sendo esta tomada como uma medida de equidade da rede.

Para facilitar o entendimento da discrepância encontrada dentro das redes

municipais, também é calculada a diferença entre os resultados obtidos pela melhor e

pela pior escola municipal dentre as consideradas nos gráficos que ilustram a situação

de equidade nas capitais e nos municípios de São Paulo que se destacaram no IDEB.

Para verificar se a desigualdade das escolas dos municípios se deve a

desigualdades socioeconômicas é apresentado um gráfico relacionando o coeficiente de

variação (que é o desvio padrão das escolas sobre a média das mesmas) e o coeficiente

de Gini, que é um indicador de desigualdade de renda, onde 0 corresponde à completa

igualdade de renda (toda população tendo os mesmos rendimentos) e 1 corresponde à

completa desigualdade (uma pessoa com todo o rendimento e o restante da população

sem nada). Os dados de coeficiente de Gini se referem ao ano de 2003 e foram obtidos

no mapa da pobreza e desigualdade do IBGE.

Ele pode ser expresso pela seguinte fórmula:

Sendo X a proporção acumulada da variável "população" e Y a proporção

acumulada da variável "rendimento".

∑−

=

+++−−=

1

111 )).((1

n

k

kkkk YYXXG

Page 5: Equidade entre as escolas

Equidade entre as escolas das redes municipais 5

Assim, é ilustrado se a desigualdade entre as escolas do município pode estar

sendo reflexo de sua desigualdade socioeconômica.

Neste trabalho se considera como número de escolas de um município a

quantidade de escolas que teve o seu IDEB divulgado em 2007 pelo INEP. E para o

cálculo do desvio padrão e do coeficiente de variação é considerado como média o

desempenho médio das escolas com IDEB divulgado, para evitar problemas maiores na

análise devido a uma inconsistência entre os dados da escola e dos municípios. Estes

problemas de inconsistência podem ocorrer por diversos motivos: a não divulgação do

desempenho de todas as escolas que tem IDEB na planilha oficial divulgada pelo INEP,

arredondamento dos indicadores e erros de digitação. No entanto, nos gráficos que

relacionam os IDEBs das escolas com os IDEBs dos municípios se considera o

resultado oficial divulgado pelo INEP, tanto para os indicadores das escolas, como

também o resultado oficial divulgado para os municípios.

3. Resultados e Discussão

A primeira etapa do estudo observa a dispersão das notas do IDEB relacionando

o desempenho das escolas e dos municípios. Os gráficos da figura 1 relacionam o IDEB

da rede de cada município com os respectivos IDEBs de suas escolas. Todos os gráficos

mostram que existe uma baixa equidade tanto entre os municípios quanto entre as

escolas que pertencem a municípios com faixas de IDEB semelhantes, ou seja, os

resultados das escolas diferem muito do resultado médio do município.

Outra inferência que pode ser feita por meio da figura é que poucos municípios

já alcançaram os patamares almejados pelo governo brasileiro para 2021, isto é, com um

IDEB igual ou superior a 6, e que os municípios que estão acima desse patamar (que

estão acima da linha azul dos gráficos) possuem redes bem pequenas, com menos de 15

escolas.

Ao considerar apenas os municípios com 15 ou mais escolas, percebe-se que são

excluídos os municípios com pior média no IDEB, que estavam num patamar abaixo de

2,5, assim como os melhores, com média acima de 6. Esta tendência é confirmada

quanto maior é o tamanho da rede, como pode-se observar por meio do “achatamento”

que ocorre com os gráficos com o aumento do tamanho da rede e a centralização dos

pontos entre as linhas referentes às notas 6 e 2,5 no IDEB (ver gráficos A, B C e D da

Page 6: Equidade entre as escolas

Equidade entre as escolas das redes municipais 6

figura 1). A partir disto pode-se concluir que os piores e melhores resultados do IDEB

no Brasil são encontrados em redes com um pequeno número de escolas (menos de 15).

Figura 1: Relação entre o IDEB da rede municipal dos municípios e suas escolas

Para facilitar a análise e servir como exemplo, foram destacados em linhas

laranja no gráfico D da figura 1 os resultados de municípios cujo IDEB médio foi 5,1 e

cujos resultados das escolas variaram de menos de 3 pontos até quase 7,5 pontos. Nota-

se que nestes gráficos os municípios não podem ser identificados isoladamente, visto

que mais de um município pode ter obtido mesmo resultado médio no IDEB, o que faz

com que as suas escolas estejam representadas na mesma linha. Deve-se atentar também

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Equidade entre as escolas das redes municipais 7

que os pontos ilustrados nos gráficos não necessariamente representam somente uma

escola, pois pode existir uma sobreposição de resultados.

Um ponto importante destacado por este estudo é que, mesmo em municípios

que apresentam média no IDEB superior àquela alcançada no Brasil, há uma grande

desigualdade na qualidade de educação dentro da rede municipal. Mesmo nos

municípios que atingiram desempenhos próximos ou superiores a 5 no IDEB, nem todas

suas escolas encontram-se nesse mesmo patamar de qualidade. Enquanto há algumas

escolas que apresentam resultados muito acima da média nacional, com desempenhos

acima de 6, verificam-se outras escolas que estão muito abaixo deste desempenho

médio nacional, apresentando um resultado abaixo de 3 pontos.

O segundo momento da pesquisa analisa casos específicos das capitais

brasileiras, com foco na relação entre o IDEB das escolas e o do município. Ao observar

a figura 2 e na tabela 1 pode-se analisar a equidade das escolas da rede municipal das

capitais brasileiras que estão iguais ou acima da média do país (IDEB ≥ 4,2), visando

constatar se há equidade de desempenho entre as escolas dessas redes. Para verificação

da consistência dos dados, previamente ao estudo, cada desvio padrão dos municípios

analisados foi comparado aos de 2005, não sendo verificadas grandes mudanças.

Na figura 2 as capitais estão agrupadas de acordo com seu IDEB e ordenadas de

acordo com o desvio padrão observado dentro da rede. Esta figura mostra que existe

uma grande variabilidade de resultados entre as escolas da rede municipal das capitais.

Observa-se, por exemplo, que dentre as três capitais com melhor resultado no IDEB

(Campo Grande, Curitiba e Florianópolis), a última é a que apresenta menor dispersão,

indicando uma maior equidade nesta rede, quando comparada com as das outras

capitais.

Page 8: Equidade entre as escolas

Equidade entre as escolas das redes municipais 8

Figura 2: Relação entre o IDEB da rede municipal de algumas capitais e suas

escolas

É interessante notar que, entre 5 capitais que obtiveram IDEB igual a 4,4,

encontram-se a capital com menor desvio padrão (Boa Vista) e aquela com o segundo

maior desvio padrão (Belo Horizonte) de todas as capitais estudadas.

Esta discrepância entre os municípios também se verifica ao comparar as escolas

com melhor e pior resultado na rede municipal. A diferença de resultados encontrada

em Belo Horizonte é de cerca de 48%, enquanto em Boa Vista é aproximadamente 17%.

Isto nos permite afirmar que apesar de terem resultado igual no IDEB, a equidade

dentro das redes é muito diferente nesses municípios.

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Equidade entre as escolas das redes municipais 9

Tabela 1: IDEB e desvio padrão das redes municipais das capitais com

desempenho no IDEB igual ou superior à média do país

Município

IDEB da rede

municipal Desvio padrão

Comparação entre a melhor (A) e pior (B) escola (% que A foi melhor que

B)1

Belo Horizonte 4,4 0,73 48,57%

Boa Vista 4,4 0,319 17,50%

Campo Grande 5,1 0,543 26,09%

Curitiba 5,1 0,582 31,11%

Florianópolis 5 0,513 20,00%

Goiânia 4,2 0,561 40,00%

Palmas 4,4 0,513 30,77%

Rio Branco 4,4 0,479 28,21%

Rio de Janeiro 4,5 0,627 42,11%

São Paulo 4,3 0,535 38,89%

Teresina 4,4 0,576 37,84%

Vitória 4,2 0,766 51,43%

A tabela 1 mostra que o município de Boa Vista, dentre as redes municipais das

capitais que obtiveram desempenho superior ou igual à média do Brasil, possui uma

maior equidade2 entre as suas escolas, enquanto Vitória é o município cuja rede

apresenta maiores diferenças entre os resultados de suas escolas. Isto é demonstrado por

meio da diferença entre o maior e o menor resultado no IDEB de escolas dentro da rede.

Enquanto em Boa Vista esta diferença é de cerca de 17%, em Vitória é

aproximadamente 51%. Mesmo desconsiderando as escolas que estão entre as 10%

melhores ou 10% piores de seu município verifica-se que há uma grande discrepância

entre o resultado da melhor e da pior escola que são consideradas no gráfico.

O problema de diferenças de rendimento entre escolas não é verificado apenas

nas capitais, que geralmente possuem redes mais extensas. O problema estende-se para

todo o país, independentemente da região. A figura 3 e a tabela 2 ilustram esta

afirmação ao mostrar que, para os municípios do estado de São Paulo com no mínimo

15 escolas e que possuem os IDEBs mais altos do estado, a situação é a mesma

verificada nas capitais.

1 Esses números, assim como na figura 2, não consideram as escolas que estão entre as 10% melhores ou 10% piores de seu município. 2 A comparação de equidade entre redes é mais bem medida por meio do cálculo de coeficiente de variação do resultado das escolas no IDEB. No entanto, para facilitar o entendimento e como a média das redes municipais analisadas não difere muito, neste estudo utilizamos os dados do desvio padrão. Os exemplos mencionados foram verificados também por meio do cálculo do coeficiente de variação.

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Equidade entre as escolas das redes municipais 10

Observa-se que em Jundiaí a variabilidade dos resultados das escolas é bem alta,

mesmo desconsiderando as escolas que estão entre as 10% piores ou 10% melhores do

município. A análise com todas as escolas aponta um desvio padrão de quase 0,8, sendo

que a diferença entre o menor e o maior resultado no IDEB dentro da rede é de 47,62%,

mesmo desconsiderando os resultados extremos. Entre municípios que obtiveram o

mesmo resultado no IDEB também existe uma grande diferença de desvio padrão. Por

exemplo, enquanto Mogi Guaçu e São José do Rio Preto tiveram resultado 5,5 no IDEB,

o desvio padrão encontrado no segundo município é bem maior do que o encontrado no

primeiro, assim como a diferença entre a pior e a melhor escola.

Figura 3: Relação entre o IDEB da rede municipal de municípios do estado de São

Paulo que se destacaram na pontuação do IDEB e suas escolas

5,24

5,26

5,28

5,3

5,32

5,34

5,36

5,38

5,4

5,42

5,44

5,46

5,48

5,5

5,52

5,54

5,56

5,58

5,6

5,62

5,64

5,66

5,68

5,7

5,72

4 4,25 4,5 4,75 5 5,25 5,5 5,75 6 6,25 6,5

IDEB das escolas da rede municipal

Santa Bárbara d'Oeste (5,8)

Indaiatuba (5,6)

São José dos Campos (5,6)

Marília (5,6)

Mogi Guaçu (5,5)

São José do Rio Preto (5,5)

Votorantim (5,4)

Rio Claro (5,4)

Araçatuba (5,3)

Jundiaí (5,3)

Page 11: Equidade entre as escolas

Equidade entre as escolas das redes municipais 11

Por sua vez, os resultados mostram que existem alguns municípios em que é

verificada ao menos uma razoável homogeneidade nos resultados das escolas da rede

municipal. Indaiatuba e Santa Bárbara d’Oeste são bons exemplos. O desvio padrão

calculado é de 0,34 para Indaiatuba e 0,4 para Santa Bárbara d’Oeste, e as diferenças de

resultados entre a pior e a melhor escola em suas redes são inferiores a 13%. Além de

apresentarem resultados significativamente superiores à média nacional no IDEB (5,6 e

5,8 respectivamente) os municípios garantem uma boa homogeneidade de resultados em

sua rede.

Tabela 2: IDEB e Coeficiente de variação das redes municipais dos municípios do

estado de São Paulo com pelo menos 15 escolas que obtiveram a maior pontuação

no IDEB

Município

IDEB da rede

municipal Desvio padrão

Comparação entre a melhor (A) e pior (B) escola (% que A foi melhor que B)

3

Araçatuba 5,3 0,529 31,82%

Indaiatuba 5,6 0,342 11,76%

Jundiaí 5,3 0,779 47,62%

Marília 5,6 0,518 29,17%

Mogi Guaçu 5,5 0,444 15,69%

Rio Claro 5,4 0,643 33,33%

Santa Bárbara d’Oeste 5,8 0,402 12,73%

São José do Rio Preto 5,5 0,602 28,00%

São José dos Campos 5,6 0,517 28,57%

Votorantim 5,4 0,552 24,49%

Um argumento que pode ser apresentado pelos gestores locais de educação é que

a iniquidade apresentada dentro de sua rede de Educação é um reflexo da desigualdade

socioeconômica existente no município, e que medidas para diminuir a iniquidade

envolvem ações muito mais abrangentes do que sua área de atuação. Certamente alguns

aspectos relacionados à equidade refletem problemas mais abrangentes encontrados nos

municípios, mas não se pode restringir o problema da equidade à desigualdade. Ao

analisar o coeficiente de variação dos IDEBs das escolas (desvio padrão dividido pela

média municipal) e o coeficiente de desigualdade no município procura-se estabelecer

3 Esses números, assim como na figura 3, não consideram as escolas que estão entre as 10% melhores ou 10% piores do município.

Page 12: Equidade entre as escolas

Equidade entre as escolas das redes municipais 12

se há uma relação entre diferenças de rendimento escolar dentro de uma rede municipal

e a desigualdade socioeconômica encontrada no município.

O coeficiente utilizado para medir a desigualdade no município é o coeficiente

de Gini, que é parâmetro internacional usado para medir a desigualdade de distribuição

de renda e varia entre 0 e 1, sendo que quanto mais próximo do zero menor é a

desigualdade de renda.

Figura 4: Relação entre coeficiente de variação dos resultados municipais no IDEB

e coeficiente de Gini municipal das capitais

0,000

0,020

0,040

0,060

0,080

0,100

0,120

0,140

0,160

0,180

0,200

0,37 0,41 0,45 0,49 0,53

coeficiente de GINI

co

efi

cie

nte

de

va

ria

çã

o

Observa-se que, ao contrário do que se poderia esperar, não há uma relação clara

entre iniquidade na educação e desigualdade socioeconômica. Ao contrário, municípios

que apresentam coeficiente de Gini bastante similar possuem coeficientes de variação

de rendimento na educação bem diferentes. Mesmo sem aprofundar a discussão a

respeito do impacto da diferença entre coeficientes, a dispersão dos pontos no gráfico

mostra que não é possível estabelecer uma relação linear entre os dois coeficientes.

O mesmo é observado na figura 5, que mostra a relação de coeficiente de Gini e

a variação de resultado na Educação entre municípios do estado de São Paulo. Por

exemplo, dois municípios que apresentam exatamente o mesmo coeficiente de Gini

(0,39) apresentam variações dos resultados na educação muito diferentes (0,08 e 0,146).

Ao mesmo tempo, existem casos nos quais há similaridade de resultado, como os

Page 13: Equidade entre as escolas

Equidade entre as escolas das redes municipais 13

municípios que possuem Gini igual a 0,47 e seu coeficiente de variação praticamente o

mesmo (0,102 e 0,109).

Figura 5: Relação entre coeficiente de variação dos resultados municipais no IDEB

e coeficiente de Gini municipal dos municípios com maior IDEB de São Paulo

0,000

0,020

0,040

0,060

0,080

0,100

0,120

0,140

0,160

0,37 0,41 0,45 0,49

coeficiente de GINI

co

efi

cie

nte

de v

ari

ação

Assim, conclui-se que, apesar de não ser descartada a influência da distribuição

de renda sobre as diferenças de resultado na educação, este não é o único fator que a

determina, visto que não é possível estabelecer uma relação clara entre estes dois

coeficientes.

4. Conclusões

Os indicadores de IDEB das escolas das redes municipais e de seus municípios

mostram que existe uma grande variabilidade nos resultados entre as escolas

pertencentes a municípios com um desempenho no IDEB semelhante. Ao analisar

separadamente alguns municípios, sejam capitais ou municípios do estado de São Paulo

que se destacaram nas pontuações de IDEB, verificou-se que, salvo algumas exceções,

existe uma grande diferença entre os resultados das escolas.

Esta variabilidade aponta para um problema que permeia grande parte das redes

de escolas municipais no Brasil: a qualidade da Educação oferecida em um município

Page 14: Equidade entre as escolas

Equidade entre as escolas das redes municipais 14

difere muito entre as diferentes escolas. Isto significa que há pouca equidade na oferta

de Educação para alunos da rede municipal. Este problema é histórico. Castro afirma

que “o sistema educacional brasileiro apresenta um déficit muito acentuado no que

tange à garantia de condições mínimas de equidade, tanto do ponto de vista do acesso

quanto da qualidade do ensino ofertado pelas escolas públicas.” (Castro, 1999, p. 35).

Os resultados desse estudo servem para ilustrar a variação dos resultados

atingidos por escolas dentro das redes municipais, mas não é possível afirmar qual seu

grau de iniquidade, visto que não há, até o momento, uma definição quanto a um valor

considerado ideal para o desvio padrão e para o coeficiente de variação de resultados na

educação. Isto deve ser estabelecido pelos gestores públicos, em parceria com os

estudiosos e pesquisadores da área da Educação.

A diferença na equidade na educação não pode ser atribuída somente a fatores

relacionados à desigualdade socioeconômica. Quando analisada a dispersão dos

resultados em comparação com a desigualdade socioeconômica dos municípios, pode-se

observar que tal desigualdade não justifica a iniquidade na educação, visto que

municípios que apresentam mesmo coeficiente de Gini (mesmo grau de desigualdade)

apresentaram diferentes graus de dispersão quanto à qualidade da educação ofertada.

Os resultados indicam que existe uma falta de equidade nas redes municipais do

país e que a equidade é um tema que deve ser levado à pauta nas discussões sobre

Educação. As causas de tal iniquidade não foram objeto deste estudo, devido à ampla

variabilidade das mesmas. No entanto, cabe a cada gestor público da Educação buscar

identificar quais são estas causas em sua região e adotar as medidas adequadas para

saná-las. Conforme afirmado por Soares e Andrade, “a equidade, por ser de mais difícil

caracterização, não é usualmente considerada quando a sociedade avalia a escola, mas é

crucial para os gestores públicos interessados em implementar políticas públicas

educacionais inclusivas.” (Soares e Andrade, 2006, p 110).

A garantia ao acesso e a uma educação de qualidade deve ser para todos,

independente de qualquer aspecto que os diferencie. Tal equidade somente será

alcançada quando patamares mínimos de Educação forem alcançados por todas as

escolas públicas do país. O tratamento equitativo exige que seja dado tratamento

especial para as escolas que apresentam mais dificuldade para atingir a qualidade

esperada na Educação, visando equilibrar seus resultados em comparação com as

demais.

Page 15: Equidade entre as escolas

Equidade entre as escolas das redes municipais 15

O direito à Educação está vinculado diretamente à garantia ao acesso de todos a

uma Educação de qualidade, de forma equitativa. “Idealmente não basta que a escola

seja boa; ela deve ser boa para todos os seus alunos, independente do nível econômico,

cor da pele e gênero.” (Soares e Andrade, 2006, p. 110). O município deve oferecer

condições para que todas as escolas obtenham resultados satisfatórios, garantindo a toda

criança as mesmas oportunidades de acesso a uma Educação de qualidade.

Assim, este estudo sugere que, ao analisar o resultado de um município no

IDEB, o gestor deve também observar a dispersão dos resultados dentro da rede de

escolas. A preocupação com a equidade é tão importante quanto o aumento do IDEB e

deve ser também prioridade no momento de construção das políticas públicas.

5. Referências Bibliográficas

CASTRO, Maria Helena Guimarães de. A Educação para o século XXI: o desafio da

qualidade e da equidade / Maria Helena Guimarães de Castro. – Brasília: Instituto

Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, 1999.

INEP. Disponível em:

http://www.inep.gov.br/pesquisa/thesaurus/thesaurus.asp?te1=31674&te2=38719&te3=

32169&te4=31107&te5=32184&te6=147182, acessado em 23 de Abril de 2010.

SOARES, José Francisco e ANDRADE, Renato Júdice. Nível socioeconômico,

qualidade e equidade das escolas de Belo Horizonte. In: Ensaio: aval. pol. públ. Educ.,

Rio de Janeiro, v.14, n.50, p. 107-126, jan./mar. 2006.

i Estudo realizado pela equipe de analistas de conteúdo técnico do movimento Todos Pela Educação em Abril de 2010.