eofÍsica...mentos, ambos na escala 1:100.000. como não foi possível o acesso às fitas digitais...

12
3 GEOFÍSICA 3.1 Sistemática Adotada A sistemática estabelecida para o tema geofísico consistiu na interpretação qualitativa de mapas ae- romagnéticos de campo total, gravimétrico Bou- guer e estrutural sísmico - topo do embasamento. Também executou-se uma interpretação de perfís sísmicos - sismogramas - visando correlação com as unidades geológicas e suas compartimen- tações estrutural e tectônica. Através da análise dos mapas aeromagnéticos, pode-se caracterizar diversas feições planares, denominadas de domínios magnéticos e sinais li- neares indicativos de traços estruturais, tais como, falhas, zonas de cisalhamento e fraturas. Quanto à interpretação dos mapas de contornos dos levantamentos terrestres, Bouguer e sísmico, forneceram dados que auxiliaram para uma melhor definição do comportamento geométrico das prin- cipais estruturas da área do projeto. Da mesma ma- neira, fez-se uma análise do comportamento des- sas estruturas, bem como de suas características no empilhamento estratigráfico, através da inter- pretação dos perfís sísmicos. 3.2 Dados Utilizados 3.2.1 Aerogeofísica Nesse tema, foram utilizados mapas magnéticos de campo total, resultantes do Projeto Ma- ranhão-Área Gurupi, executado pela PROSPEC S.A. para o Instituto de Recursos Naturais (IRN) do governo do estado do Maranhão (1974). Esse projeto cosistiu em um aerolevantamento dos métodos magnetométrico e gamaespectromé- trico, realizado em duas fases, sendo a primeira ao nível de reconhecimento e a segunda preenchendo os espaços entre as primeiras linhas, nos locais jul- gados geofisicamente interessantes. Assim, as li- nhas de produção foram voadas na direção N-S, com 4 e 2km de espaçamentos. As linhas de con- trole foram voadas na direção E-W e a cada 27km. Foi mantida uma altura de vôo constante de 150m acima da superfície do terreno. Os seus produtos finais foram apresentados sob a forma de relatório e mapas de contorno magnético, elaborados com as isolinhas a cada 10nt, e gamaes- pectrométrico apenas com distribuição de radioele- SA.23-V-D (Turiaçu) e SA.23-Y-B (Pinheiro) – 91 –

Upload: others

Post on 09-Feb-2020

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: EOFÍSICA...mentos, ambos na escala 1:100.000. Como não foi possível o acesso às fitas digitais contendo os da-dosgamaespectrométricos,paraumpossívelrepro-cessamento visando a

3

GEOFÍSICA

3.1 Sistemática Adotada

A sistemática estabelecida para o tema geofísicoconsistiu na interpretação qualitativa de mapas ae-romagnéticos de campo total, gravimétrico Bou-guer e estrutural sísmico - topo do embasamento.Também executou-se uma interpretação de perfíssísmicos - sismogramas - visando correlação comas unidades geológicas e suas compartimen-tações estrutural e tectônica.

Através da análise dos mapas aeromagnéticos,pode-se caracterizar diversas feições planares,denominadas de domínios magnéticos e sinais li-neares indicativos de traços estruturais, tais como,falhas, zonas de cisalhamento e fraturas.

Quanto à interpretação dos mapas de contornosdos levantamentos terrestres, Bouguer e sísmico,forneceram dados que auxiliaram para uma melhordefinição do comportamento geométrico das prin-cipais estruturas da área do projeto. Da mesma ma-neira, fez-se uma análise do comportamento des-sas estruturas, bem como de suas característicasno empilhamento estratigráfico, através da inter-pretação dos perfís sísmicos.

3.2 Dados Utilizados

3.2.1 Aerogeofísica

Nesse tema, foram utilizados mapas magnéticosde campo total, resultantes do Projeto Ma-ranhão-Área Gurupi, executado pela PROSPECS.A. para o Instituto de Recursos Naturais (IRN) dogoverno do estado do Maranhão (1974).

Esse projeto cosistiu em um aerolevantamentodos métodos magnetométrico e gamaespectromé-trico, realizado em duas fases, sendo a primeira aonível de reconhecimento e a segunda preenchendoos espaços entre as primeiras linhas, nos locais jul-gados geofisicamente interessantes. Assim, as li-nhas de produção foram voadas na direção N-S,com 4 e 2km de espaçamentos. As linhas de con-trole foram voadas na direção E-W e a cada 27km.Foi mantida uma altura de vôo constante de 150macima da superfície do terreno.

Os seus produtos finais foram apresentados sob aforma de relatório e mapas de contorno magnético,elaborados com as isolinhas a cada 10nt, e gamaes-pectrométrico apenas com distribuição de radioele-

SA.23-V-D (Turiaçu) e SA.23-Y-B (Pinheiro)

– 91 –

Page 2: EOFÍSICA...mentos, ambos na escala 1:100.000. Como não foi possível o acesso às fitas digitais contendo os da-dosgamaespectrométricos,paraumpossívelrepro-cessamento visando a

mentos, ambos na escala 1:100.000. Como não foipossível o acesso às fitas digitais contendo os da-dos gamaespectrométricos, para um possível repro-cessamento visando a geração de mapas de con-torno, resolveu-se desprezar esse tema na interpre-tação ora apresentada. Já os mapas magnéticos fo-ram reduzidos e interpretados na escala das folhas,1:250.000. Também pelo fato da área do levanta-mento do Projeto Maranhão não recobrir o setor lestedeste projeto (Folha Turiaçu/Pinheiro), optou-se pormostrar esse esquema, de um em relação ao outro(figura II.3.1).

3.2.2 Geofísica Terrestre

3.2.2.1 Gravimetria

Os dois mapas Bouguer utilizados, são origináriosdo Mapa Bouguer Compilado, escala 1:2.500.000,Área Amapá-Pará-Maranhão-Piauí-Ceará, daPETROBRAS-RENOR-DIREX (1969).

O primeiro, contendo a área do Brasil Setentrional,modificado por BYAMUNGU (1981), com aplicaçãode um contraste de densidade de 0.3g/cm3 entre acobertura fanerozóica e o embasamento, resultounum Mapa de Anomalia Bouguer Corrigido. Sobreesse mapa, efetuou-se uma interpretação em nível re-gional, reduzida para a escala 1/6.600.000.

O segundo, reprocessado pela PETROBRAS(1990), na escala 1:250.000, correspondente à áreadas folhas em estudo, foi reduzido para 1:1.000.000 einterpretado neste projeto.

3.2.2.2 Sísmica

A exemplo dos extensos levantamentos gravi-métricos desenvolvidos pela PETROBRAS, no setornorte-nordeste do Brasil, esse tema também é pro-veniente de igual trabalho dessa empresa, ambosno caminho da pesquisa do petróleo nos interioresdas bacias costeiras. Assim, desse métodousou-se o mapa estrutural sísmico - topo do emba-samento e perfís sismogramas, sendo que apenasum, entre esses perfís foi apresentado. Também ouso desses mapas, associados aos dados obtidosem campo, contribuíram na interpretação do qua-dro tectono-estrutural das folhas em estudo, nossetores correspondentes aos domínios das baciasBragança-Viseu e São Luís.

Como o perfil e os mapas sísmicos analisados re-fletem diretamente o arranjo geológico atravessadocom grande confiabilidade, restou ao projeto, rela-

tar esses reflexos, de tal maneira que justifiquemuma das possíveis interpretações para a área.

3.3 Interpretação e Correlação dos Dados

3.3.1 Aeromagnetometria

As ilustrações no texto deste tema apresentamsuas localizações em relação às folhas em estudo,contidas no quadro II.3.1.

Em decorrência do caráter diferenciado das fei-ções magnéticas, optou-se por apresentar uma in-terpretação geofísica e um texto explicativo, atra-vés de cinco (5) unidades, denominadas “domíniosmagnéticos” (MI, MII....MV) e “aspectos estruturaismagnéticos” (figura II.3.2).

Domínio MI

Apresenta uma textura magnética de gradientesuave, com as isodinâmicas mais ou menos lineari-zadas. Ocorre predominantemente sobre terrenossedimentares da Formação Itapecuru, na bacia de

– 92 –

Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil

Quadro II.3.1

Page 3: EOFÍSICA...mentos, ambos na escala 1:100.000. Como não foi possível o acesso às fitas digitais contendo os da-dosgamaespectrométricos,paraumpossívelrepro-cessamento visando a

São Luís, existentes nos setores centro, leste, su-deste e sudoeste, bem como sobre a FormaçãoBarreiras, na bacia de Bragança-Viseu, no setor no-roeste da área do projeto. Nota-se, em geral, que asisolinhas que o compõe apresentam orientaçãopara NE-SW, mostrando algumas vezes distorçõesnesse “trend” principal, devidas à influência de cor-pos sotopostos ou intrapostos, alheios aos sedi-mentos Itapecuru e Barreira, bem como aos efeitostectônicos. Na porção próxima do centro, mais pre-cisamente na serra Piranhinha, essas distorções nopadrão geral sugerem uma feição estrutural suba-florante, podendo ou não estar relacionada com oalçamento do topo do embasamento. Outras distor-ções menores podem ser observadas na parte cen-tral, ocasionadas por corpos subaflorantes de for-

ma circular. Na parte centro-noroeste, o adensa-mento das linhas de contorno mostram, através doaumento do gradiente, evidências que indicam aaproximação do topo do embasamento à superfí-cie, enquanto que sua diminuição, em outros seto-res, revela uma tendência do aprofundamento ba-sal, principalmente nas partes sudeste e sudoeste.

Domínio MII

Neste domínio as curvas de contorno apresen-tam um gradiente mais acentuado e a sua configu-ração é menos linearizada, em relação ao anterior.As isodinâncias mostram orientação predominantesegundo a direção NE-SW, no setor setentrional,sendo que em algumas partes do setor meridional,

SA.23-V-D (Turiaçu) e SA.23-Y-B (Pinheiro)

– 93 –

Figura II.3.1 – Localização da cobertura aerogeofísica do Projeto Maranhãoem relação à Folha Turiaçu/Pinheiro.

Page 4: EOFÍSICA...mentos, ambos na escala 1:100.000. Como não foi possível o acesso às fitas digitais contendo os da-dosgamaespectrométricos,paraumpossívelrepro-cessamento visando a

– 94 –

Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil

Figura II.3.2 – Mapa de interpretação magnetométrica.

Page 5: EOFÍSICA...mentos, ambos na escala 1:100.000. Como não foi possível o acesso às fitas digitais contendo os da-dosgamaespectrométricos,paraumpossívelrepro-cessamento visando a

possivelmente devido a retrabalhamentos tectôni-cos e efeitos de campo magnéticos mais fortes,tendem a orientar-se para E-W.

A correlação litológico/geofísica indica paraesse domínio uma predominância das rochas quefazem parte da Suíte Intrusiva Tromaí, unidade To-nalito Itamoraí, além do Complexo Maracaçumé.

Deslocamentos de isodinâmicas revelam evi-dências de esforços tectônicos, através de falhase/ou cisalhamento nas direções NE-SW e NW-SE,em terrenos onde a geologia de superfície identifi-cou rochas das unidades acima citadas. Na partesul do mapa magnético o sistema NW-SE é o maisexpressivo e as anomalias apresentam-se com de-formações mais marcantes do que aquelas existen-tes ao norte, onde o sistema NE-SW é o dominante.

Nas partes centro-oeste e norte, onde ocorremrochas da Suíte Intrusiva Tromaí, tem-se uma faixado domínio da direção NE-SW, separando dois am-bientes de sedimentação, correspondentes às ba-cias Bragança-Viseu e São Luís, caracterizando oArco Compartimental do Gurupi, IGREJA (no pre-lo). Sua feição mostra, através de deslocamentodas isolinhas e quebra do gradiente magnético, ali-nhamentos principais na direção NE-SW, com mo-vimentação dextral, e alinhamentos secundários nadireção NW-SE.

Na porção sudoeste pode-se observar feiçõescom distorções ocasionadas pela interferência daslinhas de força do campo magnético, provenientesde rochas supracrustais máficas.

Domínio MIII

Trata-se de anomalias isoladas, exibindo fortescontraste de susceptibilidade, normalmente nasformas circular e elíptica, dos tipos máximo-mínimoou máximo-mínimo-máximo que, litologicamente,acredita-se estarem relacionados a rochas máficase/ou ultramáficas e eventualmente a outras rochasde composição intermediária, aflorantes ou não.

Nos extremos noroeste e sudeste do mapatêm-se expressivas anomalias deste domínio, possi-velmente associadas a intrusões de rochas básicas.

Domínio MIV

É caracterizado por expressivas anomalias depequeno comprimento de onda, agrupadas na for-ma de “cordão”, exibindo melhor contraste quandoem contato com a feição magnética corresponden-te aos sedimentos das formações Itapecuru, Barre-iras e Igarapé de Areia.

Litologicamente, essa feição sugere relaçãocom diques básicos ou encraves de rochas máfi-cas, aflorantes ou não. Em alguns locais, a corre-lação geológico/geofísica mostrou associaçãocom diques básicos. Assim, nas partes localizadasa oeste e noroeste do mapa (figuras II.3.3 e II.3.4,respectivamente), têm-se exemplos dessa corre-lação, onde diques básicos de direções NNE-SSWe N-S, cortam os sedimentos da Formação Igarapéde Areia e Barreiras.

Domínio MV

Apresenta-se formando feições magnéticas pla-nares, constituídas de anomalias circulares e elípti-cas. Ocorrem principalmente em terrenos de ro-chas supracrustais, estando indicativamente asso-

SA.23-V-D (Turiaçu) e SA.23-Y-B (Pinheiro)

– 95 –

Figura II.3.4 – Feições magnéticas anômalas N-S asso-ciadas a diques básicos.

Figura II.3.3 – Feições magnéticas anômalas NNE-SSW associadas a diques básicos.

Page 6: EOFÍSICA...mentos, ambos na escala 1:100.000. Como não foi possível o acesso às fitas digitais contendo os da-dosgamaespectrométricos,paraumpossívelrepro-cessamento visando a

ciadas às porções máficas e/ou ultramáficas e àsconcentrações ferríferas.

No quadrante sudoeste, as anomalias registramdistorções que sugerem transcorrência segundo adireção NW-SE, com movimentação sinistral. No-ta-se, também, evidências de falhas na direçãoNE-SW, mas, desta feita, indicando uma movimen-tação dextral.

Na parte centro-norte exibe feições semelhantesà do quadrante sudoeste, também sugestivamenteem associação com porções de rochas máficase/ou ultramáficas.

Denominou-se de unidade M5, às particularesfeições existentes nas partes norte e nordeste, cu-jas características magnéticas diferem deste domí-nio, apenas no tamanho do eixo e no comprimentode onda das anomalias. Litologicamente, essasfeições devem ter relações com porções máficase/ou ultramáficas de rochas supracrustais, poden-do estar sotopostas a camadas de sedimentos,ocorrentes a pouca profundidade.

Aspectos Estruturais Magnéticos

Os sinais geofísicos observados no mapa magné-tico mostram evidências de esforços tectônicos emdiversas direções. Os sistemas lineares NW-SE eNE-SW são os predominantes, podendo ser notadosprincipalmente na área cratônica e no Cinturão deCisalhamento Tentugal. Anomalias associadas a ro-chas máficas e/ou ultramáficas, apresentam-se nor-malmente deformadas e deslocadas segundoaquelas direções dos sistemas lineares. Na direçãoNW-SE resultam feições estiradas, que possivel-mente podem ser indicativas de um regime dúctil,enquanto a direção NE-SW, além de exibir feiçõesestiradas, mostra evidências de deslocamento deeixos que podem estar ligados a um regime rúptil.Na parte sudoeste, as anomalias magnéticas, quepodem estar associadas às rochas de composiçãoferromagnesianas do Grupo Gurupi, registram esti-ramentos indicativos de esforços segundo a direçãoNW-SE, com movimentação sinistral (figura II.3.5).Os trabalhos de campo constataram nessa mesmaregião, zonas de cisalhamento do “Cinturão de Cisa-lhamento Tentugal”, com esforços direcionais con-cordantes àqueles registrados pela magnetometria.

Alinhamentos, quebras de isodinâmicas e de gra-dientes, sugerem falhamentos em algumas zonas decontato entre rochas da Suíte Intrusiva Tromaí e dasbacias sedimentares Bragança/Viseu e São Luís. Naparte centro-leste tem-se um alinhamento de direçãoNE-SW, ao longo do qual ocorrem feições circulares

sugestivamente associadas a corpos de natureza in-trusiva, subaflorantes, encaixados em fraturas con-cordantes com os alinhamentos magnéticos. Na par-te centro-noroeste, outros alinhamentos de direçãoNE-SW e quebra de gradiente, mostram aproximada-mente o contato por falha entre as rochas da SuiteIntrusiva Tromaí e as unidades sedimentares da Ba-cia de São Luís. (figura II.3.6).

3.3.2 Geofísica Terrestre

3.3.2.1 Gravimetria

Para um melhor entendimento da interpretaçãogravimétrica proposta para o projeto procurou-sede antemão fazer uma análise global dos elemen-tos maiores da estruturação, revelados na porçãosetentrional do Brasil, em cuja área situa-se a FolhaTuriaçu/Pinheiro (figura II.3.7).

Através dessa análise, observa-se a caracteriza-ção de importantes padrões gravimétricos, separa-dos por alinhamentos principais e secundários. Osprincipais, caracterizam descontinuidades crustaisnas direcões NW-SE e N-S. Os secundários, trun-cam os principais e deslocam os segmentos des-ses, propiciando o surgimento de diferentes estrutu-rações, refletidas na configuração das isogals.

No extremo-oeste, observa-se forte linearidadena direção ENE-WSW, paralela ao eixo da baciaAmazônica, exibindo a norte e a sul duas anomaliasalongadas, negativa e positiva, respectivamente. Opadrão desse trecho acha-se truncado, a sul deMazagão e a oeste de Breves, onde ocorrem fortesvirgações e adensamentos dos isogals, proporcio-nando o surgimento de alinhamentos característi-cos de descontinuidade crustal.

Entre Mazagão e Afuá o comportamento gravimé-trico define anomalias semi-circulares, enquantoque a leste de Breves ocorre uma seqüência de ano-malias alongadas na direção NW-SE, revelando su-cessivos altos gravimétricos naquela direção, indi-cativos de espessamento crustal ou injeção de ro-chas densas na crosta. Essa seqüência é quebradana altura de Belém, onde surge extensa descontinui-dade, seguida de expressivos baixos, onde seus ei-xos também direcionam-se para NW-SE e podemrepresentar um afundamento crustal. Para ABREU etal. (1984), essas anomalias negativas posicio-nam-se à borda leste da fossa do Marajó.

Esse conjunto de anomalias orientadas paraNE-SW acha-se bruscamente interrompido entreBreves e Afuá e entre Baião e Bragança, através defortes virgações das isogals para a direção NE-SW,

– 96 –

Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil

Page 7: EOFÍSICA...mentos, ambos na escala 1:100.000. Como não foi possível o acesso às fitas digitais contendo os da-dosgamaespectrométricos,paraumpossívelrepro-cessamento visando a

caracterizando dois expressivos alinhamentos, in-dicando falhamentos com rejeitos direcionais ecom evidências de movimentação sinistral, naque-le orientado entre Baião e Bragança.

Embora eventualmente persistam outras anoma-lias alongadas, positivas e negativas, entre To-mé-Açu e Bragança, estendendo-se para leste atéo limite do mapa, elas mudam de direção preferen-cial em relação às anteriores, adquirindo nesse tre-cho, orientação WNW-ESE.

O mais expressivo arcabouço tectônico dessa por-ção mostra dois conjuntos de sucessivas anomaliaspositivas, subparalelas a norte e a sul, separadas porum conjunto de anomalias negativas. Os conjuntosde anomalias positivas parecem relacionar-se ao al-çamento da crosta por cavalgamento, proporcionan-do descontinuidades. Essa compartimentação é,sem dúvida, da maior importância, pois representa aporção aflorante dos terrenos arqueoproterozóicosque incluem o Terreno Granito Greenstone do NW doMaranhão e o Cinturão de Cisalhamento Tentugal.

Por outro lado, o conjunto de anomalias negati-vas, de grandes intensidades, corresponderia aospacotes sedimentares das bacias Bragança-Vi-seu, São Luís e Barreirinhas, depositados numafase distensiva, separadas entre si, por altos estru-turais, gravimetricamente caracterizados por des-continuidades de direções N-S e NE-SW, a sudestede Bragança e São Luís, respectivamente.

Finalmente, no setor su-sudeste, entre Imperatrize Teresina, extendendo-se para norte até a altura

do paralelo 03�00’, ocorrem anomalias positivas enegativas, com grande comprimento de onda, am-plamente distribuídas, com fortes virgações dasisolinhas em todos os sentidos, mantendo todaviauma direção preferencial N-S.

Nesse trecho, a bacia do Parnaíba, encontra-se li-mitada a norte pela extensa descontinuidade E-W, ea oeste por outra descontinuidade N-S, a partir deImperatriz. O padrão gravimétrico reflete um com-portamento estrutural com blocos escalonadosaprofundando-se para leste e norte, caracterizandoporções mais deprimidas da crosta e maior espes-samento do pacote sedimentar nessas direções,culminando com a formação de três depocentros naaltura do paralelo 03�30’S e um a norte de Teresina.O alvo gravimétrico mais importante desse setor éaquele situado a norte de Impretariz, cujo comporta-mento da anomalia, caracterizada por sua intensida-de, amplitude e comprimento de onda, leva a consi-derá-la como sendo devida a um excesso de massadensa à pouca profundidade, e cujo eixo N-S dis-põe-se paralelo à borda leste do Cinturão Araguaia.

O mapa de anomalia Bouguer correspondente àfolha Turiaçu-Pinheiro, devidamente reprocessadoe ampliado pela PETROBRAS (op. cit) e, interpreta-do neste trabalho, envolve partes das bordas norte esul dos terrenos arqueoproterozóicos, assim comopartes das bacias Bragança-Viseu e São Luís (figu-ra II.3.8). Nele, as curvas isoanômalas, que foramtraçadas com intervalos de 2mGal, sofreram fortesinflexões causadas por rejeitos de blocos crustais,

SA.23-V-D (Turiaçu) e SA.23-Y-B (Pinheiro)

– 97 –

Figura II.3.5 – Anomalias magnéticas indicativas deesforços para NW-SE, com movimentação sinistral.

Figura II.3.6 – Alinhamentos para NE-SW e quebrade gradientes magnéticos.

Page 8: EOFÍSICA...mentos, ambos na escala 1:100.000. Como não foi possível o acesso às fitas digitais contendo os da-dosgamaespectrométricos,paraumpossívelrepro-cessamento visando a

cuja movimentação e articulação revelam trechosdeprimidos e alçados, correspondendo às anomali-as negativas e positivas respectivamente. A visãoregional desse padrão gravimétrico, reflete o arranjotectono-estrutural das folhas em questão.

A feição gravimétrica de maior destaque é aque-la que corresponde à área ocupada pela Bacia SãoLuís, extendendo-se do centro para o setor orientalda área, a noroeste de Pinheiro. É representada poruma depressão semicircular, com uma forte inten-sidade negativa, atingindo mais de 100mGal, na al-tura do paralelo 02�20’S. Suas características estãorefletindo a maior subsidência do embasamento e,conseqüentemente, na maior espessura do pacotesedimentar. O eixo central dessa anomalia inflete

para NW e para N, à medida que se aproxima dassuas bordas oeste e noroeste, marcado pela fortevirgação refletida nas linhas de contorno paraaquelas direções.

Ainda no contexto da bacia São Luís, outra mar-cante característica é observada pelo espaçamen-to entre as linhas isoanômalas, a partir da depres-são semicircular anteriormente citada, com maioradensamento para sul, sudoeste e norte, com gra-diente alcançando 2mGal/km, sugerindo um maiorângulo de escalonamento e estreitamento dos blo-cos crustais refletidos, enquanto que a noroeste eno próprio depocentro, blocos com maior larguraarticulam-se com menores desníveis e menores ân-gulos no escalonamento.

– 98 –

Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil

Figura II.3.7 – Mapa de interpretação gravimétrica da porção setentrional do Brasil.

Page 9: EOFÍSICA...mentos, ambos na escala 1:100.000. Como não foi possível o acesso às fitas digitais contendo os da-dosgamaespectrométricos,paraumpossívelrepro-cessamento visando a

SA.23-V-D (Turiaçu) e SA.23-Y-B (Pinheiro)

– 99 –

Figura II.3.8 – Mapa de interpretação gravimétrica, Folha Turiaçu/Pinheiro.

Page 10: EOFÍSICA...mentos, ambos na escala 1:100.000. Como não foi possível o acesso às fitas digitais contendo os da-dosgamaespectrométricos,paraumpossívelrepro-cessamento visando a

Outra feição negativa ocorre no setor NW da área,correspondendo à parte SE da Bacia Bragança-Vi-seu, onde o maior destaque, revelado pela gravime-tria, é também a inflexão do eixo, de sudeste paraleste, com reflexo na virgação das isogals como, aexemplo do que ocorreu na Bacia São Luís, indicarotação de blocos num processo distensivo. A sepa-ração entre esta bacia e a de São Luís dá-se pelo so-erguimento do embasamento na altura do rio Guru-pi, acima do paralelo 02�00’S. Essa passagem égravimetricamente marcada pelo surgimento de ei-xos positivos na direção NE-SW, deslocados desuas posições originais pela movimentação sinistralimposta ao substrato dessa bacia, com reflexos des-sa movimentação nas descontinuidades que as limi-tam lateralmente.

As anomalias gravimétricas positivas que ocu-pam os setores setentrional, ocidental e meridionalda área, são os reflexos da ascensão de blocoscrustais, limitando essas bacias sedimentares nosreferidos setores. Na passagem das anomalias po-sitivas para as negativas identifica-se a presençade grandes alinhamentos, caracterizando as des-continuidades que marcam o setor de maior gradi-ente gravimétrico com forte escalonamento.

3.3.2.2 Sísmica

Os diferentes padrões tectônicos, revelados nomapa estrutural sísmico-topo do embasamento, éconseqüência dos diferentes graus de detalhe nolevantamento sísmico terrestre (figura II.3.9). Dessamaneira, tanto a bacia Bragança-Viseu, represen-tada pelo seu setor sudeste, no extremo-noroesteda área, como o setor noroeste da bacia São Luís,no centro da área, apresentam menor volume de in-formações sísmicas, em nível regional, quandocomparados com o centro da bacia São Luís, nosetor sudeste da área, onde a quantidade de infor-mações sísmicas é substancialmente maior, atin-gindo nível de semidetalhe.

Os dois citados setores com menores informa-ções sísmicas, separados na altura do rio Gurupi,pelo Arco Compartimental do Gurupi (IGREJA, op.cit.), retratam um regime distensivo, controlado porum eixo NE-SW, que provocou ruptura das rochas,formando um mosaico de blocos articulados, comdiferentes formas e profundidades, numa sucessãode grabens e horsts limitados, predominantemen-te, por falhas normais de direção NW-SE e de trans-ferência na direção NE-SW. As partes mais profun-das desses setores estão situadas a norte e noroes-te da Serra Piranhinha, próximas ao flanco sudoes-

te da Bacia de São Luís, sugerindo uma forma assi-métrica para a sua configuração. Também obser-va-se a indicação de vários arqueamentos de ca-madas, com predominância de tipos sinformais.

Logo após o regime distensivo ou simultanea-mente a ele houve transcorrência, implantada aolongo dos planos das falhas de transferência que ni-tidamente deslocou as falhas normais com movi-mentação predominantemente no sentido dextral nabacia São Luís e sinistral na bacia Bragança-Viseu.

A seção sísmica SW-NE, na linha 224-RL-113(figura II.3.10), na altura da Serra Piranhinha, quecorta transversalmente a bacia São Luís revela,através do comportamento das falhas que seccio-nam blocos, estruturas com geometria em flor ne-gativa evidenciando tal movimento transcorrentecom caráter transtrativo, como observado entre asestações 750 a 1230 e 1390 a 1910, onde duasgrandes flores partem atravessando todo o pacoteMeso-Cenozóico, atingindo o embasamento agrandes profundidades. Algumas pétalas dessasflores foram registradas como falhas normais nomapa geológico (Anexo II).

Outro destaque nessa seção é o comportamentodas unidades sedimentares, acima da faixa maisescura, apresentando-se paralelas ao topo irregu-lar do embasamento, na citada faixa, mergulhandopara as mais variadas direções, de acordo com osmergulhos das superfícies dos blocos basais, su-gerindo reativações tectônicas após a deposiçãodesses sedimentos. É ainda sugestivo dessa movi-mentação as linhas de falhas existentes no emba-samento, que foram reativadas e projetaram-se nosmesmos planos para o pacote sedimentar.

Finalmente, o setor sudeste da área, correspon-dente ao centro da bacia São Luís, apresenta umcomplexo arcabouço tectono- estrutural, reveladopelo adensamento das linhas do levantamento sís-mico. Desta forma, as falhas não apresentam-secom orientação preferencial como nos setores an-teriores. Entre as mais expressivas destaca-seuma falha de gravidade, em forma de arco, mergu-lhando para sul, cujas extremidades situam-se nalinha 31-RL-235, de direção E-W, no centro dessesetor.

Outras falhas dessa natureza surgem a leste, ex-tendem-se até a borda nordeste da bacia e parecemser continuidades das falhas do setor anterior, des-locadas preferencialmente por movimento dextral,com mergulho tanto para norte como para sul. Aocentro deste setor, uma expressiva falha normal deforma ovalada, apresenta-se com mergulhos paraseu interior.

– 100 –

Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil

Page 11: EOFÍSICA...mentos, ambos na escala 1:100.000. Como não foi possível o acesso às fitas digitais contendo os da-dosgamaespectrométricos,paraumpossívelrepro-cessamento visando a

SA.23-V-D (Turiaçu) e SA.23-Y-B (Pinheiro)

– 101 –

Figura II.3.9 – Mapa estrutural sísmico-topo do embasamento.

Page 12: EOFÍSICA...mentos, ambos na escala 1:100.000. Como não foi possível o acesso às fitas digitais contendo os da-dosgamaespectrométricos,paraumpossívelrepro-cessamento visando a

Zonas de cavalgamento com pequenas exten-sões surgem a sul, ao centro e a leste do setor emestudo, podendo sugerir segmentos transpressi-vos ao longo das transcorrências. Vários fecha-mentos do tipo sinformal, que ocorrem aleatoria-mente distribuídos, marcam o escalonamento en-

tre os blocos basais nesse setor. A sua parte maisprofunda situa-se a norte da cidade de Pinheiro,próximo ao flanco nordeste da bacia, coincidentecom o depocentro revelado pela gravimetria emais uma vez sugerindo padrão assimétrico paraesta bacia.

– 102 –

Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil

Figura II.3.10 – Seção sísmica interpretada.