entrevistas com escritores e ilustradores de .autonomia em casa tentando preparar um café da manhã
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ENTREVISTAS COM ESCRITORES E ILUSTRADORES DE LITERATURA INFANTIL
Adlia, a esquecida.
Tudo comeou quando a escritora Lia Zatz conheceu um pai em uma livraria que procurava livros
para sua filha deficiente visual. Lia comeou a pesquisar o assunto no Brasil at que uma amiga em
comum apresentou-a a designer grfica Wanda Gomes, que tambm estudava o mesmo assunto. A
coincidncia aproximou as duas e em 2006 elas comearam os testes com o apoio tcnico da Efeito
Visual Serigrafia, uma grfica de renome em So Paulo. Esses testes eram sempre levados
apreciao das vrias instituies, profissionais e educadores na rea da deficincia visual. Em
paralelo, fiz um curso de ps-graduao em design grfico e os fundamentos tericos me deram a
segurana necessria para seguir em frente com o projeto de design e do sistema que batizamos de
Braille.BR, diz Wanda Gomes.
Adlia o primeiro livro de uma coleo. Na histria, a pequena Adlia vive momentos de
autonomia em casa tentando preparar um caf da manh de surpresa para os pais. Alm do texto em
braille, a ilustrao tambm permite criana descobrir do que o texto est falando, com desenhos
em alto relevo, texturas e aromas (d para sentir o cheiro de xampu em uma das pginas!). O livro
recebeu incentivo da IBM Brasil atravs da Lei Rouanet, Ministrio da Cultura, e, por enquanto,
ser distribudo em escolas e bibliotecas que atendam deficientes visuais. Wanda conversou com
CRESCER.
CRESCER: Como o mercado de livros em braille pelo mundo?
Wanda Gomes: O sistema braille um sistema de escrita e leitura ttil que muito pouco se alterou
desde a sua aprovao oficial, em 1854, no que diz respeito aos processos de impresso. Os livros
impressos aqui no Brasil e no mundo, seja atravs de processo manual, computadorizado ou
estereotipia gravam os sinais atravs de perfurao ou melhor, de um repuxo que produz alto relevo
de um lado e baixo relevo do outro lado da folha de papel.
CRESCER: E como o mercado no Brasil?
WG: O mercado ainda extremamente carente, h muito o que fazer. E pessoalmente, acredito que
este livro no esgota de maneira alguma as possibilidades grficas para a pessoa com deficincia
visual, mas a prova concreta da existncia de uma rea com grande potencial de trabalho para o
design grfico. No tenho dvida alguma de que atravs das ferramentas que o design nos oferece,
podemos projetar materiais com a finalidade de alterar e democratizar significativamente os meios
de acesso da pessoa com deficincia visual cultura e educao.
CRESCER: Qual o impacto desta tecnologia a partir de agora? O que vocs pretendem? Vo
compartilhar essa tecnologia com outras editoras e ir atrs de bons ttulos de literatura
infantil no Brasil ou a ideia criar somente novas histrias?
WG: Desejamos compartilhar, sim, e desejamos com esse projeto sensibilizar o mercado editorial,
chamando a ateno para um nicho que carente de produtos de qualidade. Esse sistema de
impresso pode inclusive, ser aplicado sobre outros materiais alm do papel.
CRESCER: Qual a principal diferena entre o modo que feito livro em braille hoje e o que
voc idealizou?
WG: As trs maiores diferenas entre o braille impresso de maneira convencional e o Braille.BR ,
primeiramente, que este ltimo no perfura o papel. Assim, o papel fica totalmente preservado e a
impresso offset (impresso em tinta) tambm. A impresso do Braille.BR pode ser feita em ambos
os lados da folha de papel. impresso com um tipo de verniz totalmente transparente e isso d um
resultado final na impresso de altssima qualidade, e os pontos da cela braille no atrapalham a
leitura da pessoa que enxerga.
Outro fator que os pontos da cela no Braille.BR no cedem com a presso dos dedos como
acontece no braille convencional. Assim, o Braille.BR confere ao livro uma vida til muito mais
longa do que o braille comum.
E ainda: o Braille.BR possibilita a combinao e utilizao de texturas tambm com verniz e relevo.
Com certeza, esse processo permite ao designer utilizar mais a sua criatividade no projeto de um
livro ou outros materiais similares e oferecer ao deficiente visual informaes muito mais ricas.
CRESCER: O livro ser comercializado? Haver algum tipo de ao social/educacional com
ele?
WG: Essa primeira edio est sendo distribuda gratuitamente para entidades e bibliotecas pblicas
com acervo em braille. Algumas instituies educacionais do setor j nos procuraram com
propostas de incluso do livro em atividades de sala de aula. Estamos j trabalhando na produo
uma edio comercial para meados de 2011.
CRESCER: Quando teremos o prximo?
WG: Simultaneamente segunda edio do Adlia Cozinheira, estamos trabalhando tambm na
produo do segundo volume da coleo Adlia.
O nome j diz a diferena que o livro quer causar: Monstrurio
(Ed.Girafinha). Aqui, o catlogo contm 12 novos monstros terrveis, que at
agora no tinham nem nome, nem rosto. Mas de que todo mundo j tinha
ouvido falar. Na histria, um cientista revela a identidade de seres como
Lngua de Trapus, Abaixa-Nota e Espelhus Culposus. As ilustraes so do
gacho Guazzelli.
CRESCER: Mas que livro esse?
Katia Canton: Ele resgata uma atitude mais antiga, vai na contramo do
grande espetculo, que eu tambm gosto. Eu adoro brincar com palavras, e
esta brincadeira eu fazia com meu filho.
CRESCER: Como ?
KC:A gente pega um pedao de papel e faz uma dobra qualquer. A, a pessoa
ao lado pega e faz outra dobra. E vai passando, at virar quase um
Frankenstein (risos)! E comeamos a dar nomes esdrxulos. uma
brincadeira inglesa. O bacana que fica uma coisa ldica, educativa e
engraada, falando de questes importantes do universo infantil.
CRESCER: Mas eles no so monstros de todo mal...
KC: E isso mesmo: todos ns temos um pouquinho de monstro. Ai, seno
ia ser todo mundo certinho o tempo todo...que chato. No somos mquinas,
ora!
x.x.x.
No ms em que completa 75 anos, Ziraldo homenageado com o lanamento
doAlmanaque do Ziraldo (Ed. Melhoramentos) e lana Menina das Estrelas,
seu primeiro livro sobre o universo feminino. A idia nasceu da pergunta de
uma garota que leu O Menino da Lua: Por que que voc no ps meninas
nos seus planetas?. A resposta veio em forma de livro.
CRESCER: Por que demorou para escrever sobre meninas? mais difcil?
Ziraldo: que no sabia nada sobre meninas. Hoje, com 75 anos, acho que j
posso dizer que sei tudo (risos).
CRESCER: Gosta mais de escrever ou desenhar?
Ziraldo: Sou muito mais encantado em escrever. mais difcil. E que no
tenho segurana. Leio umas 500 vezes. J de desenho eu sei tudo. De
escrever, acho que ningum sabe tudo.
CRESCER: Por que as ilustraes so em preto-e-branco?
Ziraldo: Acho mais chique (risos). E as crianas podem colorir depois. Com
O Menino Maluquinho funcionou muito bem. Futuramente quero lanar
Menina das Estrelas colorido tambm.
CRESCER: Seu primeiro livro infantil, Flicts , foi publicado em 1969. As
crianas eram diferentes?
Ziraldo: Criana no muda, o que mudam so os brinquedos que os novos
que tempos oferecem. Escrevo sobre os sentimentos das pessoas. Todos
continuam sofrendo e sendo felizes pelos mesmos motivos.
Toda fico um artifcio para falar de ns mesmos. E isso muito bom
quando a constatao da filsofa mineira Adlia Prado, que presenteia as
crianas pela primeira vez descrevendo o cotidiano cheio de poesia de uma
menina do interior.
CRESCER: Por que s agora lanou seu primeiro livro infantil? H
alguma diferena em escrever para adultos?
Adlia Prado: Porque s agora veio com espontaneidade. No sei
responder a segunda parte da pergunta. Espero que as crianas o faam.
Estou doida para ver a opinio delas.
CRESCER: O que h de bom para escrever para elas?
AP: Assuntos? A vida riqussima, da maravilha absurda do gro de areia
s estrelas no cu, temos com que nos ocupar pela eternidade afora.
CRESCER: Como abordar assuntos pesadoscomo a morte?
AP: A morte interessa criana profundamente, tanto quanto outro
qualquer tema e at mais, dada a sua magnitude e importncia e seu
impacto em nossa vida.
CRESCER: O que gostava de ler quando era criana? Foi importante o
contato com a poesia?
AP: Minha escola primria foi muito boa. Monteiro Lobato, Castro
Alves,Ceclia Meireles, Martins Fontes,Vicente de Carvalho, Olegrio
Mariano,Olavo Bilac e tantos outros faziam parte do nosso livro de leitura.
Lamos, decorvamos, recitvamos. Uma festa! Meu pai sabia poemas de
cor tendo s o terceiro ano primrio, e minha me amava leitura.Aescola foi
muito importante na minha descoberta da poesia. Iniciou-me
prazerosamente no texto. Lamos como quem come e bebe coisa boa e no
para fazer prova ou passar no vestibular.
Tudo o que pudesse sonhar estava ali, costurado no vestido. A menina que
tinha um peixe dourado que voava sem asas, um coelho branco com
orelhas pequenas e que corria atrs da prpria cauda, e mais uma poro
de desejos, pensamentos e ideias em seu vestido cheio de sonhos.
Assim comea o novo livro do escritor