entrevista - robert scovill

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REPORTAGEM Dentre os grandes nomes da engenharia de áudio moderna, Robert Scovill se destaca por diversas razões: são mais de três mil shows como técnico de FOH, é ele o criador do conceito de Virtual Sound Check e Scovill também fez parte do desenvolvimento dos primeiros consoles ao vivo da então Digidesing, que rapidamente ganharam imensa popularidade ao redor do mundo. O egenheiro esteve no Brasil para um ciclo de workshops e conversou com a Produção Áudio sobre sua extensa e bem sucedida carreira. “Mixar é uma arte e não uma técnica ” ROBERT SCOVILL Por Flávio Bonanome | SETEMBRO ‘11 14 |

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Robert Scovill | Revista ProduçãoÁudio

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Page 1: Entrevista - Robert Scovill

REPORTAGEM

Dentre os grandes nomes da engenharia de áudio moderna, Robert Scovill se destaca por diversas razões: são mais de três mil shows como técnico de FOH, é ele o criador do conceito de Virtual Sound Check e Scovill também fez parte do desenvolvimento dos primeiros consoles ao vivo da então Digidesing, que rapidamente ganharam imensa popularidade ao redor do mundo. O egenheiro esteve no Brasil para um ciclo de workshops e conversou com a Produção Áudio sobre sua extensa e bem sucedida carreira.

“Mixar é uma arte e não uma técnica ”

ROBERT SCOVILL

Por Flávio Bonanome

| SETEMBRO ‘1114 |

Page 2: Entrevista - Robert Scovill

Sempre em desenvolvimento, a tec-nologia do áudio tem se mostrado uma verda-deira faca de dois gumes. Ao mesmo tempo

que traz diversos recursos para facilitar o dia-a-dia dos profissionais do mercado do entretenimento, a complexidade que tem alcançado traz demandas cada vez maiores deste técnicos no quesito atuali-zação e agilidade de aprendizado.Tendo plena consciência disso, Robert Scovill faz parte de um grupo de profissionais que traça uma verdadeira cruzada de aprendizado. Desde que se envolveu com a Digidesign, e posteriormente Avid, o engenheiro empenha-se em uma agenda de diversos workshops e treinamentos ao redor do mundo, não só para divulgar os produtos que ajudou a desenvol-ver, mas também para partilhar conhecimento. “Se queremos que o áudio evolua, não precisamos de equipamentos melhores, mas sim de pessoas mais preparadas”, tem sido uma de suas citações favoritas durante as palestras.Robert Scovill entrou no mercado do áudio profissional ainda muito jovem, em 1974. “Eu lembro que tinha 14 anos quando fui a um show do Supertramp que tinha um som incrível. Depois do show eu fiquei observando aquela parafernália da House Mix e algum técnico me chamou pra ver mais de perto. Daquele momento em diante sabia que era isso que eu queria”.

Daí em diante Scovill começou a trabalhar meio perí-odo em backstage de shows e também em estúdios de gravação, além de estudar engenharia elétrica. “Na época não haviam escolas de áudio, então eu achava que eu precisava estudar engenharia para trabalhar com isso. Hoje eu sei que mixagem tem muito mais a ver com habilidade musical do que com engenharia”, brinca. Em pouco tempo o engenheiro já estava gra-vando as primeiras demos e fazendo os primei-ros grandes shows ainda com 19 anos. No co-meço dos anos oitenta veio a profissionalização com um convite para operar o som de frente de Alice Cooper. “Foi uma emoção muito grande para mim, pois eu era um grande fã do Alice Co-oper. Ainda guardo ótimas lembranças daquela época”, conta. De lá pra cá foram mais de três mil shows ao vivos mixados pelas mãos do engenheiro, abrangendo nomes como Rush e Def Leppard. Foi acumulando esta experiência que Scovill desenvolveu o con-ceito cada vez mais popular de “Virtual Sound Check”, que deixou sua marca no mercado. Além do sucesso como técnico de FOH, Scovill firmou uma parceria com Dave Labolt no início da qual nasceram as primeiras mesas de mixagem da en-tão Digidesign.

A primeira grande turnê de Robert Scovill foi com o lendário mestre do rock teatral Alice Cooper. Segundo Scovill “foi uma grande emoção fazer aquela turnê, pois eu era um grande fã da música dele”

“Tinha um senhor que trabalhou comigo em uma turnê nos anos 80 chamado

Dave Labolt. Ele era o tecladista de uma artista chamada Lori Andersen e eu estava trabalhando

como engenheiro na turnê quando nos conhecemos.

Depois de 12 anos ele acabou indo trabalhar com a Digidesign para

desenvolver o Pro Tools e mudar o mundo da música

como conhecemos”

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Levado pelo sucesso das Venue no país que Robert Scovill veio ao Brasil para a série de workshops Ve-nue Road Show. A Produção Áudio aproveitou a oportunidade para conversar com o renomado en-genheiro sobre a influência das novas tecnologias na música, os aprendizados de sua carreira e o que aguardar para o futuro.

Produção Áudio: Depois destes mais de três mil mi-xagens ao vivo, qual foi a lição mais importante que você aprendeu neste trabalho?Robert Scovill: Uma coisa que parece óbvia agora, mas não é tão óbvia quando se está começando. Aqui estou eu, trinta e tantos anos depois e ainda não sei tudo o que há pra saber sobre mixagem ao vivo. Ainda há o que aprender todos os dias, e isto leva tempo. A lição que eu partilho com diversos estudantes em escolas de áudio hoje é que, no áudio profissional, ninguém nunca vai pedir à você por uma graduação, um diploma ou um pedaço de papel. O mercado não vai te pagar pela sua habili-dade ou pelo seu conhecimento, mas sim pela sua experiência e leva muito tempo para conquistar esta experiência. Uma das coisas que tento falar para os estudantes de áudio é para não ter pres-sa de se tornarem bem sucedidos. O importante é terminar os estudos e trabalhar, aprender a fazer, e vai levar muito tempo para isso. Em algumas das apresentações que tenho feito nos Estados Unidos, tento passar a ideia de que a engenharia de som ao vivo é uma área muito es-tranha, na qual você nunca pode praticar e ganhar experiência a menos que haja um show de verdade acontecendo. Então você só tem como acumular duas horas de experiência por noite. Se você se prender ao conceito de que é preciso 10 mil ho-ras para se masterizar um assunto, então mesmo eu, com três mil shows de experiência, ainda não masterizei o trabalho. É preciso aprender enquan-to se trabalha.

PA: A sua primeira turnê foi de cara com Alice Cooper nos anos oitenta, que era uma espécie de ídolo seu. Por estas razões foi seu trabalho mais difícil?Scovil: Não, eu não diria isso. Houve muito ou-tros que eram logisticamente muito desafiado-

res. Acho que provavelmente a turnê que mais me desafiou, mas que ao mesmo tempo foi a mais gratificante, foi com o Rush. Primeiro por que eu era um grande fã da banda e se tratava de uma turnê muito complexa para a época em termos de reforço sonoro e capacidade de mi-xagem. Eu olho pra trás agora e imagino como teria sido muito mais fácil se já existissem con-soles digitais e line source naquela época. De qualquer forma, foi uma turnê ótima de se estar envolvido, com grandes músicos e um show fan-tástico. Foi muito compensador.

Outro verdadeiro desafio foi com o Def Leppard em 1989. Naquela turnê foi quando eu consegui deixar minha marca no mercado. A banda queria fazer uma turnê “in the round” (com a banda no centro da arena envolvida pelo público). Diversos engenheiros foram chamados para fazer o tra-balho, mas eu fui o único que aceitou. No fim foi muito difícil e muito desafiador. Foi uma grande turnê, porém muito complicada.

PA: Nos últimos anos o mercado de shows no Brasil tem crescido vertiginosamente. Como você vê o mer-cado brasileiro de live sound?Scolvill: Vendo de fora acredito que deve ter al-guma coisa muito especial acontecendo no país. Digo isso por que vemos uma grande quantidade de fábricas de alto-falantes, caixas e amplificado-res aqui e sei que se trata de um mercado grande e importante para nós da Avid e para a Venue, pois o nosso revendedor número 1 no mundo destes con-soles é a Quanta (distribuidora da Avid no Brasil). Eu antevi isso há algum tempo, quando estive por aqui e percebi que devíamos prestar mais atenção no mercado latino americano, sobretudo Brasil. Musicalmente o Brasil é um país fantástico, então precisa ser um mercado rico.

PA: Você conhece algum sistema de sonorização fa-bricado no Brasil?Scovill: Conheço alguns dos sistemas que ouvi nas edições AES Brasil que participei, não cheguei a mi-xar neles, mas os ouvi e foi muito impressionante. Tem coisas boas sendo feitas aqui.

PA: Como começou sua relação com a Avid?Scovill: Começou quando ainda era a Digidesign. Tinha um senhor que trabalhou comigo em uma turnê nos anos 80 chamado Dave Labolt. Ele era o tecladista de uma artista chamada Lori Andersen e eu estava trabalhando como engenheiro na tur-nê quando nos conhecemos. Depois de 12 anos ele acabou indo trabalhar com a Digidesign para de-senvolver o Pro Tools e mudar o mundo da música como conhecemos. Neste meio tempo eu estava trabalhando em Live Sound e com muito sucesso até que certo dia ele me ligou dizendo que a Digi-design estava planejando fazer um console para som ao vivo e perguntou se eu queria ser consul-tor do projeto. Topei na hora. Isso foi no final dos anos 90, e daí eu me envolvi com a Venue por uns dois ou três anos como consultor, e agora eu estou trabalhando nisso em tempo integral, divulgando o produto e adoro trabalhar com eles.

PA: Depois desta resposta é até tolo perguntar, mas a Venue é seu console favorito para live sound?Scovill: Sem sombra de dúvida. Ela mudou o modo como eu trabalho para muito melhor. Eu faço áudio agora melhor do que nunca em minha carreira, e atri-buo parte disso à este console.

PA: E para estúdio?Scovill: Eu poderia dividir o trabalho de estúdio em duas partes: Mixagem e Gravação. Para gravação eu adoro os consoles da API. Acho que eles fabri-cam ótimos produtos. Para mixagem, atualmente estou mais aberto e adorando mixar “in the box”. Eu era totalmente avesso à isso, mas agora con-sigo mixar direto no Pro Tools e os resultados que tenho conseguido são ótimos. Mas me sinto bem mixando com a Avid Icon, e estou ansioso para mi-xar na Euphonix, agora que podemos usar sistemas da Avid com a marca.

PA: Como você vê o desenvolvimento de novas tec-nologias na área musical?Scovill: Certamente há influencia no mercado musical em termos de liberdade criativa. Esta li-berdade explodiu já que podemos gravar em nosso próprio home studio com produtos como o Pro To-ols. Outra transformação é que nos últimos anos mudou completamente o que o público entende como bom som. Hoje em dia todo mundo ouve, como eu costumo

REPORTAGEM

Nos últimos anos Scovill tem virado o mundo ministrando palestras para divulgar os sistemas Venue da Avid, bem como passar um pouco de sua extensa experiência como engenheiro de FOH

“A engenharia de som ao vivo é uma área muito estranha, na

qual você nunca pode praticar e ganhar

experiência a menos que haja um show de verdade acontecendo.

Então você só tem como acumular duas horas de experiência

por noite”

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dizer, “na orelha”, com fones de ouvido para iPod, nos computadores, etc. Eu vejo isso como um desafio interessante para concertos ao vivo, pois todo mundo está tão acostumado em ouvir “na orelha”, que ninguém mais sabe o que é ouvir no espaço, como no caso do som ao vivo. Isso pode gerar nas pessoas a expectativa de que um show deve soar da mesma forma que a música soa em seus fones de ouvido, e não é exatamente a mes-ma coisa. Teremos que ser cuidadosos um pouco, não sei se seremos capazes transformar isso, mas ainda acredito que a performance ao vivo é uma parte muito importante da experiência musical. Se algum dia as performances ao vivo se forem e tudo que tivermos for música gravada, será muito desagradável para mim. Eu gosto de música gra-vada, mas eu gosto mais da expetativa de ir à uma performance ao vivo.

PA: Mas você não acredita que o maior acesso ge-rado pela música digital não acaba criando mais de-manda para shows ao vivo?Scovill: Pode até ser. Eu vejo por uma ótica diferen-

te, por que eu venho de um tempo aonde você ia a um concerto para ouvir a música, claro, mas tam-bém para dizer “eu estava lá”. Era uma experiência cultural. Já hoje temos artistas que ficam em turnê por um ano fazendo o mesmo show toda noite, um show que também é lançado em MP3 permitindo ao consumidor comprar 40 versões do mesmo show. Não tem mais aquela sensação de “eu estava lá”. A singularidade de cada show foi perdida, não há mais mistério nele. Quando as pessoas chegam ao show, elas já ouviram ele umas 20 vezes...

PA: Todo mundo já sabem até o set list...Scovill: Pois é! Mas isto está fazendo os artistas que realmente se importam com a performance ao vivo se esforçarem para manterem suas apre-sentações especiais de alguma forma. E esta é a parte que eu mais gosto em trabalhar com “Tom Petty and the Heartbreakers” (Atual banda de Ro-bert Scovill), pois eles se preocupam com isso. Não tocam o mesmo set nunca em uma mesma turnê. Eles tentam fazer alguma coisa especial à respeito disso, para criar esta sensação de “Sim, eu estava lá”, para os fãs.

PA: Este dinamismo faz a vida do engenheiro de FOH mais difícil, certo?Scovill: Deixa mais difícil, mas também é algo moti-vador, pois mantém você comprometido com o show. E o mesmo acontece com os músicos. Eles não que-rem tocar a mesma música 150 vezes no ano. Eles querem deixar o trabalho interessante e desafiador. Tudo soa melhor quando você está um com um pou-co de medo (risos).

PA: Apesar de ser um elemento facilitador dos pro-cessos , a tecnologia tem exigido cada vez mais dos profissionais por trás da parte técnica dos estúdios e shows. Você vê isso como um paradoxo?Scovill: É um pouco. Eu tenho ido à muitas esco-las e feito muitas palestras para falar sobre isso. Uma das coisas que tento passar para os que me ouvem é que, durante o trabalho, você tem dois processo principais na sua mente. O primeiro é como operar o equipamento e o outro é como mi-xar a música. Um precisa ser uma função do outro, um não pode ser limitado pelo outro. Eu não pos-so deixar de conseguir mixar uma música por que estou tendo problemas com a tecnologia, se isso acontece, temos que dar um passo para trás. Isso é especialmente verdade em live sound, aonde temos consoles muito complicados e complexos. É preciso aumentar o nível dos engenheiros. Eu tenho falado isso em todas as minhas apresenta-ções: se queremos um áudio melhor, não precisa-mos de equipamentos mais inovadores, precisa-mos de pessoal mais preparado, de engenheiros que dominam o que fazem, se não daremos de frente a um muro. Hoje nós temos equipamentos que são melhores do que as pessoas que estão mixando neles.

PA: Então o próximo esforço das empresas da área precisa ser na educação?Scovill: Sempre. Eu sou um entusiasta desta ideia desde o princípio. Acho que a Avid tem feito muito esforço nisso, mas ainda não é tão bem sucedida quanto eu gostaria em termos educacionais. Eu sempre vivi com a ideia de que se você vende al-guma coisa à alguém, tudo que este alguém tem é seu produto. Agora, se você vende algo à alguém e o ensina a usar aquilo, então provavelmente você tem um cliente para toda a vida.

PA: Quais as próximas inovações que devemos espe-

A atual banda de Scovill é Tom Petty and the Heartbrakers, composta pelo tipo de músicos que nunca repetem o mesmo set em uma turnê. “Isso deixa a vida do engenheiro mais difícil, mas também mais motivada e comprometida com o show”, explica Scovill

REPORTAGEM

“Eu sou de um tempo aonde você ia a um

concerto para ouvir a música, mas também para dizer ‘eu estava lá’. Já hoje temos artistas que ficam

em turnê por um ano fazendo o mesmo show

toda noite, que também é lançado em MP3. Quando

as pessoas chegam ao show, elas já o ouviram

umas 20 vezes”

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rar para sonorização de shows?Scovill: Certamente veremos muito mais conec-tividade em áudio profissional. Os sistemas vão continuar ficando cada vez menores e mais com-pactos, haverá muito mais integração entre pro-cessos, como o engenheiro de frente também se tornar o engenheiro de gravação. Esta é uma coi-sa que não tem mais como fugir, teremos muito mais convergência entre as tecnologias de grava-ção e mixagem.

PA: Para você o que é mais importante na hora de um show ao vivo: o console, os microfones ou os sis-temas de sonorização?Scovill: Nenhum destes. A performance da ban-da é o mais importante. Se a banda não consegue uma boa performance, nem todo equipamento do mundo vai ajudá-los. Agora, se você tem uma boa performance, você precisará ter bons instru-mentos musicais. Se você tem bons instrumentos musicais, terá de ter bons microfones, e por conse-quência um bom sistema de PA e um bom técnico mixando. Se uma destas coisas não está bem, en-tão provavelmente não teremos um show tão bom quanto poderia ser.

PA: Nos seus workshops você usa o mote “Ouça como um fã, mixe como um profissional” (Listen like a fan, mix like a pro). Depois que se entra no mundo do áudio profissional, é possível ouvir como um fã?Scovill: É mais difícil, mas é preciso. A menos que você possa se portar com a sensibilidade de um fã,

sua mixagem vai soar muito estéril, não vai falar com a emoção dos fãs. Você precisa ser capaz de ser aquele fã, administrar isso e fazer o que eles querem ouvir, mas fazer isso de uma maneira pro-fissional. Minha maior habilidade como mixer é me identificar com o fã e compreender o que ele quer. É estranho de dizer, mas eu não faço mixagem para o público, eu faço para soar do jeito que eu acredito que deveria soar, e com sorte todo mun-do vai gostar daquilo. Desta forma, quanto mais perto eu estiver de ser um fã daquela música, mas perto estarei de conseguir que todos gostem. Eu não faço turnês de músicos que não gosto. Como poderia ser possível mixar uma música se eu não estou envolvido com ela?

PA: Então é preciso estar emocionalmente envolvido com a música?Scovill: Totalmente! É preciso colocar-se na posição de um fã.

PA: Este é o segredo do sucesso?Scovill: Talvez seja este o segredo! (risos).

PA: Alguma lição que gostaria de deixar para os téc-nicos brasileiros?Scovill: Continue aprendendo. Aprendizado é muito importante. E mantenha em mente: “música pri-meiro, tecnologia depois”. Não fique tão fechado em aprender todo tipo de tecnologia e esquecer que no fundo é música o que você está tentando apresentar. Mixar é uma habilidade musical, não de engenharia. É uma arte e não uma técnica.

“Conheço alguns dos sistemas de sonorização brasileiros que ouvi nas edições AES Brasil que

participei, não cheguei a mixar neles, mas os ouvi e foi muito impressionante.

Tem coisas boas sendo feitas aqui”

“A lição que eu partilho é que no áudio profissional ninguém nunca vai pedir à você por uma graduação. O mercado vai te pagar pela sua experiência e leva muito tempo para conquistar esta experiência.”