entrevista mordomos fernanda teixeira enes, professora … · e fomos treinados a um comportamento...

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Associação da Juventude Activa da Castanheira Boletim Nº 27 Abril 2009 ENTREVISTA Fernanda Teixeira Enes, professora universitária O seu nome de baptismo é Maria Fernanda Diniz Teixeira, pelo casamento, Enes. Tem 63 anos, é casada há 36 anos, tem três filhos e dois netos. Uma família numerosa e, diz Fernanda, “muito coesa à imagem do que os meus pais e avós me ensinaram, embora adequada aos dias de hoje e às suas exigências...”. Fernanda é a filha mais velha de Albino Gonçalves Teixeira, já falecido, e de Palmira Gonçalves Diniz, ainda viva. Tem também 8 irmãos: a Conceição, o António, a Maria Teresa, a Gorete, a Fátima, a Palmira, o Albino e o José Manuel. Fernanda Enes é, de há 12 anos para cá, professora na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (FCSH), onde trabalha com alunos que frequentam as licenciaturas e mestrados nas áreas da História, da Filosofia e da Ciência Política. Os estudos europeus e a história das religiões são duas das áreas pelas quais tem mais predilecção, dentro do que se chama História Cultural e das Mentalidades. Sobre a família, confessa Fernanda: “Embora dispersos, somos uma família muito unida, algo de que meu pai muito se orgulhava e experimentou com prazer até ao fim dos seus dias entre nós, e que minha mãe, pela graça de Deus, vai ainda gozando, fruto de um profundo sentimento de família que eles nos souberam transmitir desde o berço. Na nossa casa – família nuclear da minha infância – todos partilhámos desde cedo das dificuldades mas também das alegrias, que eram muitas, e fomos treinados a um comportamento adequado.” Entrevista na página 4 e 5 e Crónica na página 8 Mordomos do Senhor: vale a pena ser O trabalho dos Mordomos e a alegria da Festa do Senhor na página 3 Excursões e peregrinações: viagens “à maneira” página 5 O arquitecto da Sede da AJAC e do Tulha-Bar fala sobre casas restauradas Página 6 Comércio ao fundo Página 7 Joaquim Manuel Ferreira, piloto de helicóptero Página 8 Augusto Sebastião, o homem que lia Página 10

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Associação da Juventude Act iva da CastanheiraBoletim Nº 27 A b r i l 2 0 0 9

ENTREVISTA

Fernanda Teixeira Enes, professora universitária

O seu nome de bapt ismo é Mar ia Fernanda Diniz Teixeira, pelo casamento, Enes. Tem 63 anos, é casada há 36 anos, tem três filhos e dois netos. Uma família numerosa e, diz Fernanda, “muito coesa à imagem do

que os meus pais e avós me ensinaram, embora adequada aos dias de hoje e às suas exigências...”. Fernanda é a filha mais velha de Albino Gonçalves Teixeira, já falecido, e de Palmira Gonçalves Diniz, ainda viva. Tem também 8 irmãos: a Conceição, o António, a Maria Teresa, a Gorete, a Fátima, a Palmira, o Albino e o José Manuel.

Fernanda Enes é, de há 12 anos para cá, professora na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (FCSH), onde trabalha com alunos que frequentam as licenciaturas e mestrados nas áreas da História, da Filosofia e da Ciência Política. Os estudos europeus e a história das religiões são duas das áreas pelas quais tem mais predilecção, dentro do que se chama História Cultural e das Mentalidades.

Sobre a família, confessa Fernanda: “Embora dispersos, somos uma família muito unida, algo de que meu pai muito se orgulhava e experimentou com prazer até ao fim dos seus dias entre nós, e que minha mãe, pela graça de Deus, vai ainda gozando, fruto de um profundo sentimento de família que eles nos souberam transmitir desde o berço. Na nossa casa – família nuclear da minha infância – todos partilhámos desde cedo das dificuldades mas também das alegrias, que eram muitas, e fomos treinados a um comportamento adequado.”

Entrevista na página 4 e 5 e Crónica na página 8

Mordomos do Senhor:

vale a pena serO trabalho dos Mordomos e a alegria da Festa do Senhor na página 3

Excursões e peregrinações: viagens “à maneira”

página 5

O arquitecto da Sede da AJAC e do Tulha-Bar fala sobre casas restauradas

Página 6

Comércio ao fundo Página 7

Joaquim Manuel Ferreira, piloto de helicóptero

Página 8

Augusto Sebastião, o homem que lia Página 10

2Abril 2009

Produtos alimentares e afins...

Eis mais umas DICAS, algumas delas enviadas por pessoas conhecidas e desconhecidas; isto é a prova que a partilha de informação é uma forma de conhecimento. Vamos a isto:

• Para retirar o cheiro de alho das mãos não as esfregue nunca; ponha-as debaixo de uma torneira com água corrente e espere um ou dois minutos.

• Quando quiser fazer salada com alface, para que fique rijinha, depois de separar as folhas e lavá-las bem, ponha uma colher de chá de

açúcar. Verá que a alface fica mais rija. (Odete Fernandes)• O abacaxi e o ananás, sempre que usados em sobremesas geladas

que levem gelatina, devem ser previamente cozidos. Isto deve-se ao enzima que estes frutos têm, que evita a congelação da gelatina depois de fria. (Felícia Sampaio)

• Para não chorar ao cortar a cebola, espete na ponta da faca um pedaço de pão. Verá como resulta. (Isabel Branco)

• O cheiro e o sabor da cebola desaparecem da boca se mastigar uns grãos de café ou um pouco de salsa.

• Para tirar o cheiro da tinta ou verniz quando pintamos um quarto, devemos pôr um recipiente com água e rodelas de cebola para absorver o cheiro. (José Miguel)

• Quando se cozinha com vinho ou cerveja nunca se deve tapar o tacho.

DESCONGELAR PRODUTOS: Os produtos congelados, quando são submetidos à congelação com as

qualidades inalteradas, não perdem as qualidades originais. Para manterem essas qualidades, a descongelação tem de ser feita eficazmente:

• Nunca pôr a descongelar junto a produtos que libertem sabores e odores.

• Proteger sempre o produto com película apropriada para o efeito. • Nos produtos que libertam líquidos, ao serem descongelados,

arranjar forma de que seja feito o escorrimento dos líquidos para um recipiente separado do produto que está a descongelar.

• Descongelar os produtos sempre em temperatura de refrigeração (1 grau a 5 graus).

• Colocar o produto a descongelar mais ou menos 24 horas antes de ser consumido, porque é o tempo mínimo que este tipo de descongelação demora. (Ricardo Pereira)

NOTA FINAL: NUNCA DEVE CONGELAR: • Verduras de folha, como por exemplo, alface, agrião e espinafres.• Pepino, rabanete e tomate cru, assim como qualquer legume que

se pretende consumir em saladas. • Batata crua, gemas cruas ou claras cozidas.• Aves recheadas.• Maionese, pudins ou cremes que tenham levado na sua preparação

leite e ovos.Aproveite para testar estas DICAS e para partilhar as do seu

conhecimento comigo:

[email protected]

VelhosA deslocação de

um pai ou mãe para um lar leva-nos a uma sé r ia mudança de hábitos no que respeita à frequência das visitas à terra natal. Parece que deixou de haver motivos fortes para vir à Castanheira, parece que regar as flores da

varanda e visitar uma campa não é motivo suficiente neste intermédio entre o passado e o que pode ser a nova relação com a aldeia. Esta deixou de ser residência nossa há muitos anos, acaba de deixar de ser residência dos nossos pais e não se sabe ainda o que poderá vir a ser no futuro próximo. É este o dilema de muitos castanheirenses, que gostariam de vir mais e que não “têm” motivos fortes para vir.

Este desconforto, chamemos-lhe assim, aumenta quando visitamos os nossos pais no Lar de não sei onde e pensamos porque é que não podia ter em devido tempo surgido um lar na Castanheira. Hoje olhamos à volta e vemos no nosso concelho e nos concelhos vizinhos uma quantidade enorme de Lares, muitas vezes em localidades mais pequenas. E a quantidade de idosos da aldeia que saíram para os lares de fora era grande o suficiente para alimentar um lar na Castanheira nestes últimos 20 anos. Hoje talvez seja mais difícil mas ainda há mesmo assim muita gente que poderia beneficiar desta estrutura.

A perda de um velho para o exterior da comunidade por não haver estruturas dentro da mesma é simultaneamente uma perda para a comunidade e para o idoso. A comunidade perde dinheiro para o exterior mas perde sobretudo os saberes dos mais velhos e os laços entre gerações. Os mais velhos, ao serem “levados”, sentem como que um elo que se quebra e sofrem muitos deles amargamente pela casa que deixaram, pelos vizinhos, pela horta em que se ocupavam. Quantas vezes, ao visitar a minha mãe, os vizinhos de sala, também eles desterrados de terras próximas, se lamentam daquele exílio forçado. Exílio agradável, acolhedor e confortável, mas exílio... É o mal menor.

Joaquim Martins Igreja [email protected]

DICAS PARA O DIA A DIA

por Dolores Carreirapor Joaquim Igreja

CRÓNICAS

3Abril 2009

Este ano a 11 de Junho

A Festa do Senhor

A Festa do Senhor realiza-se todos os anos no feriado do Corpo de Deus (60 dias após a Páscoa), marcando, para além do significado religioso, a passagem de testemunho entre os mordomos do Senhor. Esta passagem de testemunho é assinalada com um cortejo, devidamente acompanhado pela Banda Filarmónica, que percorre as ruas da aldeia, que visita as casas dos mordomos “velhos” e termina nas casas dos mordomos “novos”. À chegada às casas, após uma salva de foguetes e morteiros, é colocada uma mesa com comida e bebida a todo o cortejo. Uma tradição que, pelo seu significado, deve ser preservada. Esta festa, de cariz marcadamente religioso, tem o ponto alto na missa, seguida de procissão, na quinta-feira. Julgo que é a única vez no ano que “o Corpo de Deus” sai à rua e é venerado em procissão. Mas não obstante esta festa se realizar na altura crítica do “antes” do Verão, à semelhança dos outros anos, haverá bailes, concerto da banda, muita animação, etc. E muita gente. Este ano, com o feriado de 10 de Junho (quarta-feira) colado ao feriado do Corpo de Deus (quinta-feira), é a oportunidade perfeita para vir até à Castanheira, e desfrutar um fim-de-semana agradável, sossegado e de reencontros e, claro, participar na Festa do Senhor. A convite especial da mordomia…

Vitor Gonçalves

Mordomos

Mordomia do Senhor, uma Honra!

Joaquim Carreira, tesoureiro, cargo a que só se pode aspirar depois de ser mordomo, António Abadesso e Carlos Lucas, ambos mordomos, são até à festa do Corpo de Deus os mordomos do Senhor. Mais que uma obrigação é para os três uma honra poder servir, de uma forma descomprometida, ao longo de um ano, os propósitos da paróquia da Castanheira.

As funções que lhes estão cometidas e que, à semelhança de muitos outros, têm cumprido escrupulosamente, são as da gestão corrente dos assuntos mais mundanos da igreja, o que permite aos devotos uma participação mais cómoda nos rituais. É fundamental uma presença constante, não só para domingo após domingo recolherem as esmolas dos fiéis, mas também para o pagamento das facturas de electricidade, do combustível para o aquecimento, etc., acrescida da inquietude das imprevisíveis e necessárias reparações. São gastos anuais que ultrapassam os 2.000 euros.

Para além das esmolas nas missas dominicais, contam como principal receita os dois peditórios, um no Verão e outro em Janeiro, que fazem pelo povo. Estes peditórios, para além de contarem com as esmolas dos residentes (duas vezes por ano), também contam com os contributos dos emigrantes, que apesar de não estarem presentes nas festas do Senhor, gostam de ver a igreja “arranjadinha” e tudo a funcionar com normalidade quando regressam de férias à terra natal.

Longe vão os tempos em que ser mordomo implicava uma dedicação diária. Para além da presença em todos os actos litúrgicos, pois muitos anos houve em que não havia sacristão, era necessário, apesar do frio que enregelava os ossos, todas as manhãs, antes de o sol nascer, subir as escadas da torre e à força e ao ritmo braçal tocar às aves-marias. Ao anoitecer, o ritual era repetido com o toque das trindades. Agora, todos os toques do sino são rigorosamente obedientes ao ritmo computorizado de uma máquina. É a igreja a adaptar-se aos novos tempos e às novas tecnologias. Não obstante esta ajuda, continua a ser oportuna uma vigilância, não vá o diabo tecê-las com alguma avaria e o sino tocar as horas de meia em meia hora…

Entretanto foram já nomeados os mordomos do Senhor para o próximo ano. São eles: António Dinis Teixeira (tesoureiro), Albino Lopes Pereira e Virgílio Saraiva. Foram eles que seguraram as varas esquerdas do Pálio na procissão do Domingo de Páscoa.

Vitor Gonçalves

4Abril 2009

ENTREVISTA

Fernanda Teixeira Enes, professora universitária

Castanheira Jovem: Como foi o seu trajecto académico e profissional? A que deve a sua tardia entrada nos estudos superiores?

Fernanda Teixeira: Os meus pais tinham a convicção de que para podermos evoluir pessoal, cultural e socialmente era absolutamente necessária a instrução, e ao contrário do que era corrente e como pais de cinco meninas e um rapaz (à altura em que eu fui estudar), consideravam que a educação das meninas era mais necessária porque a sociedade facilitava mais a vida aos homens. Revelavam para a época, tenho 63 anos de idade, um grande espírito de abertura e modernidade que incomodava algo o meu padrinho – o Pe. Francisco António Pereira de grata memória a quem presto a minha profunda homenagem – que pensava dever ser o oposto; mas enqunto viveu (morreu aos 96 anos) escrevia-me semanalmente um postal aconselhando-me e incentivando-me. Nessa altura o 5º ano parecia-lhes o limite suficiente.

Assim, fiz a 4ª classe e a admissão no mesmo ano e fui para a Guarda estudar, donde parti para Santarém por razões de saúde mas também por influência do Sr. Pe. Amadeu junto das irmãs da Véritas, detentoras do Colégio Andaluz em Santarém. Aí fiz os estudos até ao 5º ano e na minha esteira algumas das minhas irmãs. Também aí regressei na minha 1ª experiência de docente, embora então só com habilitação suficiente.

Por volta dos 25 anos, voltei aos estudos, interrompidos por dois anos, - casei e tive a 1ª filha e em Luanda, onde

o meu marido leccionava na Faculdade de Economia, não havia humanidades. Regressámos em 1974 e, no ano seguinte, o meu marido foi fundar a Universidade dos Açores, instituição sonhada por açorianos envolvidos num processo de desenvolvimento regional, incentivado por ele, e que a acção controladora do Estado Novo tinha sustido nos anos 60. Aí completei a licenciatura em História, depois de um bacharelato em Hist. e Ciências Socias.O que faz ac tua lmente como professora? Que apreciação faz do seu trabalho?

Convidada a ingressar na carreira académica, fiz o meu mestrado (provas de APCC) em História Cultural e das Mentalidades (HCM). Para acompanhar os filhos (escolheram cursos na altura não disponíveis na Universidade dos Açores), concorri em 1992 à Universidade Nova de Lisboa, onde terminei o doutoramento e fiz os demais concursos da carreira académica.

Para mim o magistério não é apenas uma profissão, é uma vocação e um gosto. Sempre encarei a vida como missão, dentro de um espírito profundamente cristão. O meu desiderato é contribuir para a formação da consciência crítica, da capacidade de cada aluno fazer o percurso de aprendizagem, apto à realização pessoal e ao cumprimento do papel social. Leccionei em várias licenciaturas – História, Filosofia e História das Ideias, Filosofia, Ciência Política e Relações Internacionais desde a criação deste curso na FCSH, há 12 anos – e nos mestrados em História Cultural e Política e em Ciência Política e Relações Internacionais, variante Estudos Europeus. Os Estudos Europeus integrados no mestrado derivaram de uma pós-graduação da mesma designação, que coordenei na FCSH. Não faço balanço, digo apenas que tenho criado laços com os meus alunos e espero que eles tenham colhido algo de útil para as suas vidas, como eu colhi sempre com eles.Quais são as suas áreas de investigação? E que obras já publicou? E o que anda a investigar agora? Qual é a área da

sua predilecção?Os alunos tem ocupado o epicentro da

minha vida académica, sou em essência professora. A investigação à qual tenho dedicado muito do meu tempo só ganha sentido no contexto do magistério. É a investigação que permite o entendimento do real e acção sobre ele. Assim, os campos de investigação servem a eficácia da docência universitária e variam com ela. O professor não é apenas, como o ensino ex-catedra indiciava no passado, uma autoridade sem contestação do saber que transmite, é antes aquele que, capaz de manipular os instrumentos de acção sobre um determinado campo do saber, inicia os alunos nessa arte e não apenas no conhecimento hermético.

As minhas áreas de predilecção são as do meu magistério. Iniciei-me na HCM com investigação sobre a religião vivida e a inter-acção da cultura das elites com a cultura das massas; passei para o âmbito político com investigação no âmbito dos “tempos de ruptura”, como foram os dos liberalismos políticos em Portugal; estou-me quedando nos Estudos europeus, catalizadores das demais vertentes, pois a Europa é o palco e o resultado de múltiplas inter-acções ocorridas na milenar história construída sobre a simbiose de dois pilares: pensamento greco-latino e pensamento judaico-cristão, que foram integrando as culturas existentes e os aportamentos de outros dados civilizacionais trazidos pela crescente globalização. O resultado da minha investigação encontra-se disseminada em cerca de uma centena de artigos apresentados a congressos nacionais e internacionais e conferências, publicações em revistas de especialidade, que penso coligir por temas; e nos livros: Reforma Tridentina e religião vivida – os Açores na época moderna, O Liberalismo nos Açores; Religião e política; Ideias Religiosas em História das Ideias – aproximação à matriz civilizacional do ocidente.Coordenei a revista Cultura – Ideias de Europa. Cooperei em obras colectivas – Dicionário de História Religiosa portuguesa; História dos Açores.

5Abril 2009

Há 30 anos

Excursões à (nossa) maneira

Nos anos 60 e 70 do século passado, de uma forma quase espontânea, eram organizadas excursões da Castanheira simplesmente “para convívio do povo”. Na condução destes passeios estava Joaquim Esteves e Manuel Simão, que por alturas de Agosto ou Setembro, alugavam um autocarro, por quatro dias, e partiam em turismo a conhecer Portugal. Na opinião de Joaquim Esteves (na foto), que fomos ouvir, aquilo era

uma grande responsabilidade “porque, se algo se passava, perguntavam logo por quem estava à frente”. Ao longo dos anos visitaram-se muitas cidades, sendo no entanto o destino favorito a zona do Minho, “que é muito bonita e tem muito que ver”. Os percursos, apesar de estarem pré-definidas as regiões a visitar, eram, não raras as vezes, combinados entre todos já com o autocarro em andamento. E dessa forma, lá ia o povo para as festas de Lamego, para a Régua, para Porto, com a visita obrigatória às caves do Vinho do Porto (aqui era necessária marcação prévia), Braga e consequentemente o Bom Jesus de Braga e para Fátima, aqui sempre com visita às grutas de Mira de Aire e à Batalha. Mas era sempre obrigatória uma passagem, de pelo menos uma tarde, pela praia “porque toda a gente gostava da praia”.

Estas viagens, porque o dinheiro na altura não abundava, eram programadas com as dormidas na camioneta e sem refeições em restaurantes, mas nas dormidas e comeres “cada um lá sabia de si”. Geralmente para o primeiro dia os excursionistas eram aconselhados a levar o “petisco de casa”, que era mastigado num qualquer pinhal, acompanhado do tradicional garrafão de vinho. Os restantes dias “uns comiam em pensões e outros lá se desenrascavam”. A viagem só incluía o transporte, e “não chegava a um conto de reis por pessoa”.

Ao longo da viagem, para além da reza do terço, havia sempre “animadores de serviço” que contavam anedotas, incentivavam ao cântico acompanhadas por realejo, ou não fosse Joaquim Esteves um tocador desse pequeno instrumento que se “pode levar no bolso para todo o lado”. Eram viagens animadas.

Como é habitual, estas viagens estão recheadas de diversos episódios engraçados e alguns incidentes. Ou eram excursionistas que se distraíam da hora de partida e faziam esperar, algumas vezes horas, os restantes (mas, diz Joaquim Esteves, “nunca ficou ninguém para trás”), ou incidentes e desaguisados que tinham de ser resolvidos pelos organizadores com a ameaça das autoridades. Houve até uma vez em que um dos excursionistas foi detido por ter sido confundido com um incendiário.

A interrupção deste peculiar e tradicional turismo de Portugal ficou a dever-se à simples razão de “hoje em dia cada vez mais as pessoas irem a passear nos carros particulares”. Mas, refere Joaquim Esteves, “ainda me falam para arranjar camionetas.” Em carro particular, diz Joaquim Esteves, “ganha-se em comodidade mas perde-se em divertimento e convívio do povo”. Eram passeios” à maneira”.

Vitor Gonçalves

Leonel Abadesso, Presidente da Junta, responde

Fornecimento de água satisfaz

Como está actualmente o fornecimento de água à Castanheira?

O fornecimento de água à Castanheira está agora assegurado pelas Águas do Zêzere e Côa.De onde vem a água?

Actualmente vem da Barragem do Caldeirão.O que resta da ligação às águas da

Ribeira das Cabras?A ligação continua lá para que numa falha se possa ligar

novamente.Como está a rede de água?

A rede em si é boa, a canalização é que tem cerca de 30 anos e, como foi feita em tubo galvanizado, começam agora a surgir alguns problemas, com a ferrugem a obstruir alguns ramais. De que problemas as pessoas se queixam?

Actualmente quase não recebo queixas e algumas que recebo são de pessoas que habitam casas próximas do reservatório onde, por vezes, existe pouca pressão da água.A água da Fonte que abastece o chafariz do fundo do povo está potável?

A água desse chafariz não é vigiada, pelo que acarreta sempre um risco, embora pequeno.Há muito uso de água de poços?

Não. O abandono da agricultura reduziu tanto o uso de água dos poços ao ponto de ser, neste momento, quase inexistente. O uso de poços para abastecimento de água nas casas é também bastante reduzido.

Assembleia de FreguesiaPode-se definir uma Assembleia de Freguesia como

sendo uma reunião dos eleitos da freguesia onde são explanados os assuntos de interesse da mesma. A reunião é convocada pelo Presidente da Assembleia, participando também os restantes membros e o Presidente da Junta, podendo estar presente ainda o restante executivo da Junta de Freguesia. Qualquer cidadão pode, antes da reunião e no tempo previamente definido, apresentar problemas ou assuntos que queira ver debatidos. Os assuntos apresentados em cada reunião são definidos por convocatória aos elementos com assento na Assembleia e por Edital aos restantes concidadãos. Da Assembleia resulta uma acta (referindo o que se passou na reunião e todas as deliberações), que é depois de lida, assinada pelos presentes.

As Assembleias são sempre animadas porque todos os elementos presentes participam activamente nas decisões, concordando ou não com as orientações da Junta de Freguesia. As maiores discordâncias não têm a ver propriamente com a cor política mas com posições mais pessoais.

Continua na página 11

6Abril 2009

Tulha CaféO Tulha-Café será o espaço

que nascerá ao lado da sede da Associação e que ainda não passou a fase de projecto, elaborado pelo arquitecto Vítor Gama, a trabalhar na Câmara Municipal da Guarda e que tem relações familiares com a Castanheira. Tem mais ou menos a área da sede da AJAC mas ficará apenas com uma divisão ampla: um balcão, uma zona para computadores, que poderá também ter projecções e mini-exposições e o resto do espaço que depois se prolonga na esplanada nas traseiras da sede e para a qual uma porta da Tulha dá acesso. As casas de banho da sede seriam utilizadas pelos utentes da Tulha para libertar mais espaço. O Tulha-Café pretende ser um espaço de funcionamento permanente com exploração comercial e programação de actividades da associação.

Quanto ao projecto de arquitectura, ele manterá a traça tradicional do edifício, que era uma antiga “corte” e também os seus materiais: paredes “com pedra à vista”, telha tradicional e estrutura do telhado e caixilharias em madeira. Como novidade apenas uma clarabóia para dar luz e para dar um traço de originalidade. O projecto, com cálculos de 2005, tinha custos orçados em 54.750 euros, tendo a AJAC solicitado nessa altura à Câmara Municipal o apoio em 50% através de requisições de materiais. O resto seria candidatável a programas de financiamento a obras deste tipo. Actualmente o processo de registo em favor da AJAC mantém-se parado.

Joaquim Igreja

O arquitecto Vítor Gama dá a sua opinião

Recuperar casas antigas vale a pena

Numa conversa com o arquitecto Vítor Gama, responsável pelo projecto da sede da AJAC e do futuro Tulha-Café, falámos

sobre as recuperações de casas rústicas na Castanheira. Vítor Gama é também genro de Manuel Teixeira, castanheirense aposentado a viver na Guarda.

Começámos por falar do projecto da sede da AJAC. Tratando-se de uma casa rústica de habitação, havia, segundo V. Gama, os “ingredientes fundamentais a manter: no exterior, o alpendre em madeira e com telhas, a varanda, as paredes com pedra à vista, o pátio”. No 1º andar abriu-se uma ligação entre os dois espaços para uma sala mais ampla. No rés-do-chão, fizeram-se as casas de banho, a sala da direcção e uma passagem para o pátio das traseiras. Mantiveram-se as caixilharias em madeira mas pintadas em grená, uma cor tradicional e que dá alegria, para além de proteger mais a madeira que o verniz. O gradeamento cinzento em ferro na escadaria fez-se por uma questão de segurança e do mesmo modo o portão. “Quando faço recuperações, o que não é recuperável deve demarcar-se do que é antigo e aqui o gradeamento optei por fazê-lo em ferro e numa cor diferente. O portão, exposto ao mau tempo, seria, também, muito arriscado fazê-lo em madeira”. Dificuldades só o acerto das juntas em termos de cor já que se queria mostrar algum barro e não bem a massa de cimento. As madeiras foram todas novas, tratadas.

Na opinião de V. Gama, há boas casas na região e na Castanheira para se poderem fazer boas casas rústicas. As pessoas têm a tendência a pensar que só as grandes casas e as casas senhoriais dão boas recuperações. O valor de uma pequena casa da aldeia soma-se ao valor das casas que a rodeiam e que formam com ela um conjunto harmonioso. É possível fazer boas recuperações neste contexto. Até há pouco tempo havia a lógica do “novo”, um pouco na linha das casas dos emigrantes: as pessoas queriam fazer diferente. Assim estragaram-se muitas casas. Agora o sentimento mudou.

Uma dificuldade grande nas recuperações é o granito. Este é um material frio por natureza, poroso e que deixa entrar a humidade. Mas, adequando bem as funções aos espaços, é possível aproveitar o que existe. Paredes de granito em quartos de dormir, diz V.Gama, não serão em princípio desejáveis mas numa sala de estar são-no. E em diversas divisões é possível optar por soluções mistas, em que certas partes ficam com granito até para marcar o passado. Numa cozinha não pôr azulejos parece hoje impossível mas às vezes para manter o granito opta-se por sobrepor-lhe vidro para assegurar limpeza.

Há um estereótipo de casa tradicional que continua na cabeça das pessoas. Mas introduzir vãos pequenos, janelas de vidros pequenos, janelas de guilhotina, como encontrávamos nas casas antigas, isso não fará sentido para o viver moderno. O cruzamento de materiais tradicionais com os modernos, o ferro e o vidro, dá soluções muito interessantes. Mas manter a configuração geral da casa numa recuperação é para V. Gama preferível, para manter a “verdade” da casa. Caso se introduzam coisas novas, devem ser adoptadas soluções a demarcar-se do antigo e portanto em materiais modernos. Por outro lado, as canalizações de água, luz, aquecimento, introduzem hoje elementos de conforto que obrigam a fazer alterações nas casas antigas. Mas, “desde que não se criem muitos danos”, é possível fazê-lo de maneira pacífica.

Quanto a chãos, se houver lajeado em pisos térreos e a sua utilização for compatível (para uma adega, um lugar de convívio informal, etc.) deve manter-se. Para uma sala de estar ou para uma cozinha, tanto em termos de conforto como em termos de limpeza, esses chãos não são adequados. Nos pisos superiores, V. Gama mantém dentro do possível os chãos e as vigas e barrotes em madeira.

Para acabar, V. Gama reafirma que o trabalho de um arquitecto é fundamental, é uma mais-valia. Este tem uma ideia mais global, consegue conciliar a personalidade com a imagem arquitectónica, com a beleza.

Continua na página 11

7Abril 2009

Pequeno comércio na Castanheira

Malvada crise

“Muito má…” é como os pequenos comerciantes locais caracterizam a situação actual.

Lurdes Martins, dona da mercearia do cimo do povo, na Avenida Marqueses de Arronches, diz ser a maior crise que já

atingiu o sector, desde que iniciou a actividade. E quanto ao futuro, não prevê melhorias, antes pelo contrário: “a crise irá agravar-se ainda mais, pois não é só o nosso sector que está a passar por ela, e num futuro próximo não consigo ver uma saída. A falta de trabalho e a incerteza do futuro, principalmente dos mais jovens, faz com que o consumo seja cada vez menor.”

Berta Carreira, dona do comércio e café junto ao Outão, refere-nos não ver futuro para a sua actividade. “A Castanheira não é um sítio de passagem para lado nenhum”, acrescenta, “por isso os clientes mantêm-se, e a venda limita-se aos produtos que as pessoas se esquecem de comprar nas grandes superfícies”.

Otelinda Teixeira, proprietária de um comércio junto à igreja, diz na mesma onda que “A crise está tão má que acabo por fechar”. Diz mesmo que só está ali porque não paga renda nem salários, “senão não dava para cá estar”.

“Isto está a pôr-se muito mal” diz Ana Dinis, proprietária do café ao fundo da Laja Longa. No entanto, a mais idosa dos 6 comerciantes, ainda espera melhorias. O facto de ter conhecido duas épocas dá-lhe algum ânimo. Apesar da situação actual ser má, já passou por uma ainda pior. Os rendimentos do café, com a agricultura que vão praticando, vão dando para sobreviver.

Maria Eugénia, dona do café acima da capela, começa por dizer ao CJ que “até ao dia 15 há um negócio, a partir do dia 15 não há negócio”. “Há uns anos atrás uma criança comprava um chocolate, agora compra uma pastilha de 5 cêntimos”. Para a Sr.ª Maria Eugénia o café é essencialmente um passatempo, é isso que mantém este café aberto. “Já não estou para ganhar dinheiro.” O negócio é feito essencialmente “quando os trabalhadores saem do trabalho”. Tirando essa hora, o negócio é muito fraco ou mesmo nulo.

“Há meses que não tiro para a renda” diz Maria Coelha, gerente do café Buraco. Recorda-se de anos passados, tempos em que o “Buraco” estava cheio noite e dia. Neste momento, apesar de haver cada vez menos gente diariamente na Castanheira, as pessoas já não saem tanto. Quanto ao futuro, não prevê melhorias: os tempos que se avizinham não inspiram confiança para o negócio.

O negócio dos cafés e comércios da Castanheira está limitado às pessoas que ainda cá residem. A diminuição crescente da população residente é directamente proporcional ao negócio destes pequenos comerciantes. Como lutar contra a diminuição de gente e a concorrência das grandes superfícies? Pouco ou nada há a fazer. A diminuição de gente é uma realidade com a qual têm que saber viver. As grandes superfícies são fortes concorrentes, às quais não conseguem vencer. Durante o passeio de fim-de-semana, as pessoas aproveitam para fazer as compras necessárias. A variedade e as campanhas promocionais das grandes superfícies limitam as vendas do pequeno comércio às faltas pontuais de determinados produtos necessários na hora. Além disso, grande parte dos produtos é levada até casa pelos vendedores ambulantes.

Resta-nos apenas aguardar melhores dias. Os acessos à cidade são óptimos, as pessoas começam a optar por construir na aldeia, e esta situação é sinónimo de movimento.

Marta Marques e Sílvia Teixeira

Obras

As mais

urgentesA obra prioritária para a freguesia da

Castanheira, é sem dúvida a ampliação do Centro de Dia para Lar de Idosos, quer pela necessidade que representa em termos de proporcionar melhores condições aos mais idosos, mas também pela criação de empregos que a sua construção representa.

Outras obras que neste momento são significativas para a freguesia e aquelas em que é possível enquadrá-las em projectos ou programas, são a pavimentação do caminho rural da Castanheira até à Rabaça e a Escola do Porto Mourisco, que foi considerada sem condições e em risco de ruir, o que representa um problema para a população, que ficou privada de um espaço público coberto.

Aqui não se considera a estrada da Rabaça, uma vez que o pavimento destruído desta estrada deve ser recolocado pela empresa Aguas do Zêzere e Côa, que parece teimar em não efectuar esta obra, de grande necessidade para a população.

Podemos considerar ainda de grande interesse a criação de infra-estruturas novas por parte de particulares e para as quais esta Junta irá tentar criar as condições necessárias para a sua implementação.

De aco rdo com os ob jec t i vo s programados foram efectuadas limpezas e remoção de entulhos nas casas devolutas que proporcionavam perigo para a saúde pública. Neste âmbito foram ainda removidas duas casas para alargamento da via pública.

Efectuou-se também uma correcção na estrada do Porto Mourisco, tendo sido cedidos ao público, pelo Sr. José Agostinho Lopes alguns metros quadrados para facilitar a circulação rodoviária.

Cede ram- se a lgumas á r vo re s , nomeadamente castanheiros, pinheiros e “cupressus”, para incentivar a reflorestação e contribuir para a melhoria da paisagem na freguesia. Com intenção de proporcionar um contacto com as novas tecnologias, ao mesmo tempo que se beneficia o cidadão, introduziu-se, via Internet, a declaração de IRS para as pessoas com mais dificuldades.

Foi colocado um novo abrigo (paragem de autocarro) na Av. Duque de Lafões, sendo interesse desta Junta dar nova imagem a todos os outros, consoante a disponibilidade financeira.

A Junta de Freguesia

8Abril 2009

CARTAS DE LONGE

De Helicóptero

pelo MundoEscreve Joaquim Manuel

Alexandre Ferreira, 39 anos, Major na Reserva, Piloto de

Helicópteros, casado, 3 filhos (1 filha com 7 anos e 2 filhos

gémeos de 9 meses).

Frequentei a Academia Militar de 1988 a 1992, fui colocado no RI14 em Viseu de 1993 a 1995, frequentei o Curso de Pilotagem de 1995 a 1997 na Base Aérea Nº3 em Beja, onde permaneci até 2002. Fui colocado no Grupo de Aviação Ligeira do Exército em Tancos, de 2002 a 2006 de onde saí com o posto de Major.

Desde 2006 que exerço a tempo inteiro a actividade de Piloto de Helicópteros para a Empresa HELIPORTUGAL, pilotando 2 tipos de helicópteros, o AS350 (Ecureil) e AS365 (Dauphin).

Como Piloto já efectuei vários tipos de missões: combate a Fogos Florestais por todo o Território Nacional; operações de Offshore na Roménia, transporte de pessoal e material para as plataformas do petróleo no Mar Negro (em regime de 4 semanas fora, 4 semanas em casa); transporte de VIP, controle de barcos no Estreito de Bósforo, fiscalização de obras ilegais, vigilância de fogos florestais, em Istambul, Turquia (4 semanas fora, 4 semanas em casa). Este foi em resumo o meu trajecto profissional até à presente data.

Muitos foram os que me questionaram sobre a razão pela qual troquei a “carreira das Armas”, na qual tinha um futuro seguro e promissor, por uma profissão de elevado risco e que me faz ausentar do meu agregado familiar por longos períodos de tempo. Pois bem, a resposta é simples: “realização profissional”. O apoio familiar, em especial da minha mulher, pesou na minha decisão. Ela disse-me que teria o seu apoio incondicional, independentemente da decisão que eu tomasse. Adoro a profissão que actualmente exerço, é extremamente motivante e exigente. VOAR DE HELICÓPTERO é uma experiência única e fascinante. Ter a oportunidade de aliar ao prazer de voar o exercício da actividade profissional, não está ao alcance de muitos e eu resolvi aproveitá-la.

Aproveito a oportunidade que me foi dada para dar os parabéns a todos os que passam horas a fio a trabalhar neste projecto do Jornal Castanheira Jovem com o objectivo de unir e dar a conhecer todos os Castanheirenses aos quais eu tenho um enorme orgulho em pertencer.

Obrigado AJAC ;)Joaquim Manuel Alexandre Ferreira

Há 60 anos

Memórias da Infância

Mergulhando na minha infância, sou avassalada por indeléveis memórias. Vou procurar sintetizar.

A Castanheira da minha infância era a extensão natural da minha família nuclear e extensiva. A família constituía o âmago da vivência afectiva e o núcleo da criação de valores e orientação comportamental; a igreja nos ritmos diários ou pessoais que marcavam a nossa existência individual e colectiva sedimentava aquela acção familiar e induzia uma socialização comunitária de que ainda restam marcas. Os laços criados assim estreitavam-se na convivência amiga como que em círculos com múltiplos centros – a casa onde nasci, a dos meus avós – de cima e de baixo -, a igreja, a escola, o forno, os largos das brincadeiras de crianças. A Castanheira aparecia assim como um jogo de círculos de partes sobrepostas, secantes.

Lembro-me de ao anoitecer me encontrar sentada no muro da varanda da casa do meu avô e, ao colocar intermitentemente as mãos nos ouvidos, ouvir um ruído quase ensurdecedor. Eram as vozes das crianças brincando em numerosos grupos, os homens junto das tabernas convivendo após um dia de estrénuo trabalho, as mulheres, cansadas mas felizes, nas suas exíguas compras nas lojas, as rodas dos carros de bois, as vozes dos animais...; recordo o regresso do terço e a convivência inter-geracional entre vizinhos; lembro a preparação das festas anuais, a ornamentação da igreja e das ruas, o entusiasmo na limpeza da casa, na confecção dos bolos, na cozedura dos tremoços; lembro a convivência no outono e primavera nos soalheiros; sinto o gosto das azedas colhidas na hora nos regatos e mergulhadas em vinagre nesses ”solheiros”, por entre gargalhadas e ditos chocarreiros. Que saudades das brincadeiras junto da escola velha, que se perdeu irremediavelmente, dos gestos da D. Marquinhas a expor as lições, das “pândegas” entre amigas e primas, a Lurdes e Conceição, das brincadeiras às casinhas no sótão da casa do tio José Maria. Vêm-me à memória os serões ou na oficina de meu pai, onde a minha mãe lia a Sagrada Escritura e se brincava saudavelmente ou nos serões no tear da Joaquina, quando dormia com a minha irmã Conceição na casa do meu padrinho e a minha madrinha nos contava as histórias das bruxas, galinhas de nariz cortado. Nesses serões as raparigas em idade de namoro aguardavam a passagem dos grupos de rapazes que faziam a “ronda”; lembro a festa do regresso das ceifas, dos repastos nas malhas e, sobretudo, nas matanças; já estudante, recordo com saudade os nossos teatros, os ensaios na casa da Junta, as festas – pic-nic – que se lhe seguiam; recordo os bailes a que ia, muitas vezes escapando à vigilância paterna, na rua, quando muito sob um toldo; as nossas serenatas nas eiras...

Recordo o entusiasmo do meu pai, secundado pela minha mãe que fazia de secretária, no trabalho da Junta de Freguesia e na regedoria; lembro a acção eficaz em conjugação com o Sr. Prior, tio Zé Maria e tio Neto, creio, para conseguirem os telefones para a freguesia, o aumento do caudal para o chafariz, a construção de ribeiros convenientes, a abertura da estrada Vila Fernando/Pínzio. Enfim, seria um nunca mais acabar...

Hoje os meus laços com a Castanheira são muito limitados à família, mas ainda a sinto como uma grande família.

Fernanda Teixeira Enes

9Abril 2009

Palmira ToméNasceu em 12 de Janeiro de 1926, na

Rabaça. Sendo filha única, o trabalho nunca lhe faltou. Palmira ainda iniciou a escola mas um problema nos olhos afastou-a. “Para mim era como um nevoeiro, ainda fui à Cerdeira ao Sr. Nave, que era o mais entendido, mas nem os remédios fizeram com que melhorasse” referiu. Sendo a agricultura a principal tarefa, o tear fez também parte da vida de Palmira.

Seu marido, José Saraiva, sabia um pouco de tudo. Desde pedreiro a carpinteiro, de agricultor a serralheiro e ferrador do “gado” de trabalho. Aprendeu a “arte” de ferreiro na Urgueira, com um ferrador ali existente. Seu pai montou-lhe uma forja no local onde hoje habita Palmira. Seu marido passou a trabalhar na Castanheira. “Vinham de muito lado para compor os tachos” recordou Palmira. Foi nesta mesma tarefa, numa ida à Rabaça, que José Saraiva conheceu Palmira. Palmira casou com 21 anos, na Sé da Guarda. Passados dois anos teve o primeiro filho de uma fratria de seis, dos quais 5 se encontram vivos. Faleceu-lhe uma filha de uma doença renal, diagnosticada aos 12 anos. O facto da filha ter seguido os passos da emigração com apenas 16 anos de idade, para junto dos seus três irmãos, para a Alemanha, ajudou-a a combater a referida doença até aos quarenta anos, através da hemodiálise, que na altura, e em Portugal, apenas havia em Lisboa, Porto e Coimbra.

Palmira nunca passou frio por falta de trabalho pois o seu marido foi sempre um grande empreendedor. Seu marido ainda esteve na Alemanha pouco mais de um ano. Mesmo antes de casar teve a primeira bicicleta da Castanheira, por volta de 1940, onde muita gente aprendeu a andar, pois foram várias as que alugou aos meninos da escola. Foi o começo de muitas coisas que chegaram pela primeira vez à Castanheira. Pouco tempo depois comprou uma égua para transportar também a primeira Grafonola da Castanheira, com que fez alguns bailes. Era seu irmão João que puxava a manivela nos bailes. Seguiu-se a primeira “motoreta”, e até o primeiro tractor foi comprado por José Saraiva, José Neto e Albino Teixeira, em conjunto. O primeiro Mercedes da Castanheira pertenceu também ao marido de Palmira. A agricultura era uma actividade que continuava presente na vida de Palmira e seu marido. Ainda tiveram várias máquinas de malhar pão. A última máquina era já puxada a tractor. A par de ferrador/serralheiro, foi carpinteiro, fazendo na altura carros para vacas. Como ferrador/serralheiro e entre outras coisas que fazia, construía “noras” para os poços. Construiu também as primeiras formas para blocos de cimento. Comprou então uma “Magirus” de 12 toneladas e uma “Pá-carregadora” das grandes para ir buscar areia à ribeira para fazer os blocos de 10 a 12 quilos, e abandonou, em parte, a profissão de ferrador/serralheiro. Mas a verdadeira fábrica de blocos surgiu mais tarde quando chegou uma máquina da Alemanha. O estaleiro foi mudado para Pínzio, onde ainda Palmira habitou com o seu marido, provavelmente por causa da máquina ser movida a electricidade.

O marido de Palmira faleceu em 4 de Julho de 1970, pouco tempo depois de fazer os maiores investimentos em maquinaria. Palmira, além de empenhada, ficou sozinha a criar os filhos, alguns deles pequenos. A pronta intervenção dos familiares de seu marido e a venda de terrenos que Palmira possuía na Rabaça acabaram por minimizar os danos. Num mundo onde a emigração era rainha, Palmira e seu marido apostaram tudo na terra natal e só não foram bem mais longe porque a desgraça bateu à porta.

Henrique Dinis

ACIMA DOS 80 José Manuel Miguel, o único da terra

Venham jogar ou ver a bola!

José Manuel Miguel, único castanheirense a jogar no ACDC, nasceu com a bola nos pés e está enquadrado na equipa da Castanheira, desde a sua reintegração à 2ª Distrital série A.

“Desde pequeno, quando havia futebol na Castanheira, sonhava vestir a camisola e representar a nossa terra”. Não era um sonho só dele, mas também dos da idade dele. Com o passar do tempo, dos homens da Castanheira só o José M. Miguel resta na equipa: “Esse sonho só foi concretizado por mim, pois os jovens da nossa terra desmotivaram-se”.

O seu relacionamento com os seus colegas de equipa é do melhor, pois o objectivo é levarem a Castanheira mais longe. “Ao longo destes anos, não só fomos colegas como ficámos grandes amigos, é a magia do futebol”. José M. Miguel gostaria de sentir mais apoio da parte da Direcção (não se referindo aos aspectos financeiros). Quanto à população, há pouco interesse em assistir ao campeonato. “Deveriam sentir orgulho, de existir aqui uma equipa mas há jogos em que há um só adepto”. Com uma última palavra, José M. Miguel diz: “ Pena é existirem muitos jovens na nossa terra a praticarem futebol e não se interessarem pela ACDC”. “Venham jogar connosco!”

Sandrina Miguel

Época 08/09 acabou

Castanheira obteve o 6 º Lugar do Campeonato Distrital da Serie A

com um total de 9 Pontos.

10Abril 2009

Castanheira é uma localidade recente no Estado de Mato Grosso no Brasil e situada na Grande Bacia Amazónica. A cidade tem aproximadamente 8.294 habitantes, sendo 4.435 do sexo masculino e 3.859 do sexo feminino. Este município ocupa cerca de 3.790 quilómetros quadrados de área. Possui uma densidade populacional de quase 2,19 habitantes por Km quadrado segundo o IBGE.

O clima é equatorial quente e húmido. A precipitação tem intensidade máxima de Janeiro a Março. A temperatura média anual é de 24ºC,

com maior máxima de 40ºC e menor mínima de 4ºC.

A região do município de Castanheira foi habitada pelo povo indígena rikbáktsa. Esses índios refluíram para a Área Indígena Rikbáktsa, nos municípios de Juara e Brasnorte. Leonardo

de Oliveira foi o primeiro branco que chegou à região, descendo das cercanias de Vila Bela de Santíssima Trindade para Belém do Pará, ainda no século XVIII. Devido à movimentação do Rio Juruena por viajantes entre os municípios de Diamantino e Belém do Pará, a região teve importância no século passado, como lugar de apoio aos navegantes. Também a extracção da borracha nas diversas fases de produção e economia deu vida à região. No entanto, até há pouco tempo não se estabeleceu núcleo populacional que aparecesse nos mapas cartográficos da região.

O núcleo de colonização destinado a perdurar surgiu no ano de 1980. Nesta época algumas casas começaram a ser levantadas em região de imenso castanhal e o deputado Hilton Campos, grande líder regional e empresário de sucesso, não teve dúvidas e baptizou o lugar de Castanheira.

A primeira missa foi celebrada pelo padre Duílio, no dia 23 de Setembro de 1981. Apesar das dificuldades, a c o m u n i d a d e f o i e v o l u i n d o economicamente. Em 4 de Julho de 1988, criado pelo deputado estadual Hilton Campos e sancionado pelo governador Carlos Gomes Bezerra, surgiu o município de Castanheira, desmembrando-o assim do de Juína.

(a partir dos sites: www.cidades.com.br/cidade/castanheira/002099.html ou http://pt.wikipedia.org/ ou www.apontador.com.br/guia_cidades/mapas)

No Brasil

Uma Castanheira recente no Mato Grosso

FIGURAS

Augusto Sebastião

Augusto Sebastião veio de uma família abastada mas apesar disso nunca deixou de ser poupado. Cultivava alguns terrenos com o seu pai, Manuel Sebastião, enquanto que sua mãe, Ana Eusébia, fazia negócio de tecidos de feira em feira. Fazia as suas próprias meias e camisolas. Passava também a sua roupa a ferro. Ensinara-lhe a sua mãe. Não comia quase carne, e o seu melhor “peguilho” era os “gachos de variar” que comia juntamente com o pão. Ao contrário de muitos homens da altura Sebastião nunca entrava

nas tabernas pois não bebia qualquer bebida alcoólica. As suas duas maiores paixões eram a igreja e a leitura, sendo o local preferido da leitura o mirante de sua casa, virado

para lado do Outão. Ainda se lembram os mais novos das “resmas” de livros que Augusto ia levantar à biblioteca itinerante que, na altura, percorria as aldeias. Ainda ensinou a ler alguns pobres. Em sua casa tinha uma sala com um altar, feito por ele à navalha, sempre enfeitado com flores naturais, tal e qual uma igreja, onde estava uma linda imagem de Nossa Senhora de Fátima, benzida pelo Padre Alexandre. Esta sala ainda hoje existe praticamente intacta, assim como o altar, pertença agora de Maria Rosa. Maria Rosa herdou casas, alguns terrenos e os

livros de Augusto. Não por ser de família mas sim por Augusto lhe prometer que se tratasse dele até ao fim da vida, este lhe deixaria as casas e alguns terrenos. Era Augusto Sebastião que, todos os dias, dava corda ao relógio da Castanheira. Tendo Augusto um dos primeiros rádios na Castanheira e como nele se ouvia diariamente o terço ali se juntava muita gente para o acompanhar. Mas era no 13 de Maio que surgiam as maiores enchentes. Havia pessoas por todo o lado. Havia também quem dissesse, ao ouvir o rádio, “Que estamos aqui a fazer, estão aí a cantar mas não nos deixam ver os homens? Deixe-nos ver os homens, ti Augusto”. Pelo menos pelos vizinhos era considerado um santo homem. Faleceu por volta de 1981.

Henrique Dinis

11Abril 2009

Idiomatismos

Recolhas de Abel SaraivaNorberto Gonçalves, professor na

Guarda, fez há tempos, na revista Praça Velha nº 21, da Câmara Municipal da Guarda, a recolha de um sem-número de expressões utilizadas por Abel Saraiva, autor dos Gagos, a aldeia nossa vizinha a 3 quilómetros, e que constituem uma verdadeira riqueza do falar dos Gagos. Do falar dos Gagos e portanto (porque não?) também da Castanheira na sua maioria. Fui folhear a revista, de Julho de 2007, e procurar as expressões que a minha memória identifica também como castanheirenses e verdadeiramente engraçadas. Ora vejam as expressões recolhidas por Abel Saraiva (e isto é só uma amostra). O que vem entre parênteses é de Norberto Gonçalves, aqui e ali com palavras da minha lavra.

“uma chouriça atormentada no borralho” (uma chouriça aquecida lentamente no lume)

“escorralhas” (borras do vinho)“pôr a barriga como a pá de um sacho”

(fazer passar fome)“rachar a diferença” (dividiam a meio a

diferença entre o pedido pelo vendedor e o oferecido pelo comprador)

“apajear” (tratar bem de alguém)“estar como coelho na loira” (estar nos

seus domínios, descansado)“abesoirar” (responder de maneira

agressiva)“gostar mais de vinho que os porcos de

farelo” (adorar o vinho)“ser arteiro” (ser manhoso, astuto)“comer muito pão com côdea” (ser

muito vivido)“seresma” (burlona, vigarista)“ter a sua fisgada” (tinha as coisas

planeadas)“ir à sorrelfa” (ir sem ser notado)“ir roubar para os quintos dos infernos”

(ir roubar para outro lado)“andar numa fona” (andar atarefado,

em ritmo apressado)“dar com as ventas no sedeiro” (encontrar

quem menos se espera ou não se quer encontrar)

“desfazer a meada” (dizer a verdade, desmontar uma tramóia)

“parir a galega” (juntar-se muita gente)“arramar a piela” (passar a bebedeira)“empiscar o olho” (piscar)“estrambujar-se ou estambujar-se”

(deitar-se no chão)Joaquim Igreja

Danças com barrocos III

As fotografias que temos feito na Castanheira das casas construídas sobre barrocos ou encostados a eles fazem-nos lembrar a parábola contada no Evangelho de São Lucas. Dois homens resolveram construir as suas casas: um fez os alicerces sobre a rocha; o outro foi descuidado e leviano: construiu sobre a areia. Quando a tempestade chegou, a casa do cuidadoso aguentou ventos e águas. A casa do desleixado veio abaixo evidentemente. Na Castanheira também podemos dizer que as casas sobre barrocos estão construídas sobre alicerces duráveis. Se elas caírem, será pelo telhado ou pelas paredes, não por estarem mal implantadas no terreno. Barroco é barroco.

Joaquim Igreja

Opinião do Arqº Vítor GamaContinuação da página 6“Coadunar os interesses do cliente com o valor arquitectónico, perceber o que se pode manter e o que se pode deitar abaixo, ligar materiais tra-dicionais e mais recentes conseguindo soluções mais homogéneas, isso é assegurado por um arquitecto”, diz V. Gama. Fazer um projecto de licen-ciamento para cumprir as burocracias e depois dar rédea livre ao emprei-teiro, só faz perder dinheiro ou dar conta demasiado tarde de um péssimo resultado. Muitas vezes o acompanhamento técnico contínuo da obra seria o essencial mas nenhum arquitecto consegue estar tão perto das obras quando tem de acompanhar outras. Isso ficaria muito caro. E depois muitas vezes os empreiteiros tomam “decisões de obra” por si próprios, apresentam as coisas feitas “como deve ser” sem muitas vezes o estar.” Vale a pena fazer as coisas bem feitas”.

Joaquim Igreja

Assembleia da FreguesiaContinuação da página 5Na última Assembleia estiveram em discussão os seguintes assuntos:

1º - Apresentação do Plano de actividades para 2009;2º - Aquisição de prédios devolutos para alargamento da via pública;3º - Alinhamento do terreno do Sr. José Luzia Pires;4º - Rectificação da acta n.º 33 no assunto: “Espaço Aquático Social e

Cultural da Castanheira;5º - Outros assuntos de interesse para a freguesia.Foi ainda referido que a Junta está disponível para apoiar a extensão

da rede eléctrica até ao cruzamento da Rabaça, local onde será feito um empreendimento por parte de João Paulo Moita.

Óbitos José Dinis Ferreira, 10/1/2009; Francisco Dinis Ferreira, 5/2/2009; Mª Adélia Gonçalves Órfão, 23/3/2009; Mª Alexandre Dinis, 30/3/2009

12Abril 2009

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Se é associado ou se já fez à AJAC algum donativo, vai continuar a receber o nosso jornal. Se não é associado nem deu nenhum contributo à AJAC, pode fazê-lo. Escreva para: Associação da Juventude Activa da Castanheira, 6.300-075 CASTANHEIRA GRD. A partir do número de Abril de 2009 só nestas condições poderá continuar a receber o jornal. O nosso obrigado a todos aqueles que acreditam no Castanheira Jovem.

Ficha Técnica

Boletim da Associação da Juventude Activa da Castanheira

6300-075 Castanheira, e-mail: [email protected]

ou [email protected] www.ajac.com.pt Director: Vitor Gonçalves Coordenador: Joaquim Martins Igreja Periodicidade: Quadrimestral Tiragem:1.000 ex. Paginação: Elsa FernandesImpressão: Marques e Pereira (Guarda)

PALAVRA DE PRESIDENTE

5ª Feira de Enchidos da Castanheira

De 24 a 26 de Abril realizou-se a já habitual Feira de Enchido da Castanheira. De forma crescente, ano após ano, este certame tem vindo a crescer e a consolidar-se como uma feira de carácter regional. Esta edição com a novidade de inaugurarmos o novo e moderno espaço de exposições. Já fazia falta…

Após estas 5 edições, é altura de fazer um pequeno balanço do que foi feito com o enchido da Castanheira. O grande destaque vai sem qualquer dúvida para a criação da marca “Enchido da Castanheira” e a Denominação de Origem Protegida conseguida para a “Morcela Doce do Jarmelo”.

Para se conseguir estes objectivos, foi essencial a “Casa do Enchido”, enquanto organização de produtores, e a perspicácia do trabalho desenvolvido na área da formação, investigação e comercialização deste produto. Relacionado com a “Casa do Enchido”, não podemos deixar de citar a abertura do restaurante que, com a sua cozinha inovadora e arrojada, tem sido um contributo inestimável na promoção do enchido.

Por último, como consequência deste trabalho sério em torno do enchido, temos de realçar, para além da ampliação das unidades de produção existentes em 2003, o aparecimento de 5 novos produtores, empregando um total de 23 pessoas. Conforme foi argumentado há uns anos atrás, este poderia ser um dos caminhos, e o trabalho e perseverança de todos veio dar razão a todos que acreditaram.

Tudo começou na 1ª Feira de Enchidos. Mas infelizmente, apesar das juras e palavras de circunstância, tudo acabou na 2ª Feira de Enchidos. No futuro, gostaria de ler este editorial, mas sem este parágrafo.

Vitor Gonçalves, Presidente da AJAC

4.º Encontro da Encomendação das AlmasDecorreu dia 4 de Abril, pelas 21H00, nas ruas da Faia, o 4.º Encontro

da Encomendação das Almas. Para além do Grupo de Encomendação das Almas da Castanheira, participaram o Grupo de Encomendação das Almas da Faia, Grupo “Vozes da Quinta” de Quinta de Gonçalo Martins, Grupo de Encomendação das Almas do Marmeleiro, Grupo de Cantares “Ontem, Hoje e Amanhã” de Maçainhas, Grupo de Cantares “A Mensagem” de São Miguel e Adufeiras de Monsanto. Apesar de sempre nos acompanhar, o Grupo de Cantares “Camponeses de Aldeia do Bispo” este ano não esteve presente pelo facto de ter falecido um dos membros do grupo e se encontrarem de luto.

Por entre as ruas escuras e num ambiente ameno, entoaram vozes que pareciam sair das entranhas da serra, encantando tudo e todos que se deslocaram a esta bonita aldeia.

Recordo que o 1º Encontro da Encomendação das Almas do concelho da Guarda se realizou em 2006 na freguesia de Aldeia do Bispo, o 2º Encontro na Praça Velha da Cidade da Guarda e o 3º em Quinta de Gonçalo Martins.

Henrique Dinis

Notícias AJACFoi com muita satisfação que mais uma vez, o Centro de Novas

Oportunidades do NERGA aceitou o convite da Associação da Juventude Activa da Castanheira para a realização do 12.º ano nas nossas instalações. Esta iniciativa irá começar no próximo dia 15 de Abril, já com muitas pessoas interessadas de forma a proporcionar mais conhecimento e novos horizontes.

Ao longo deste período Quaresmal decorreu todos os sábados à noite mais uma vez a Encomendação das Almas. Como já tem sido hábito, esta tradição é representada por cânticos da Quaresma, que costumam ter grande importância no calendário religioso desta Paróquia.

Via Sacra à volta da aldeiaA Quaresma era a penitência, era o jejum, o pagamento

da “bula”, as cinzas na Quarta-Feira de Cinzas. Era o jogo do Pião no Oitão, era o fim dos bailes, era não dar sinais exteriores de alegria. Era a Via Sacra às 7 da manhã, era a imagem sofrida do Senhor dos Passos, o que está na capela. Eram os Passos, orgulho da aldeia, com o Padre Teixeira, cá da terra, a ser o “melhor padre a fazer sermões dos Passos”. Era o sofrimento transferido de Cristo para

nós, que não entendíamos aquele assassínio de um homem bom. Era a desobriga. Eram os Martírios, as Encomendações das Almas, as matracas. Era a concentração ou a paragem da actividade às 3 horas de Sexta-Feira Santa. E depois de um dia para o outro a alegria, os bailes, a fartura da “Festa” da Páscoa, a procissão com música, à tarde a visita do padre, o folar ou a prenda dos padrinhos, os ovos pintados cozidos nas panelas à mistura com meias velhas.

Este ano a Via Sacra deu a volta à aldeia, com paragem nos nichos bem preparados. Pode ser que um destes anos voltem os Passos…

Joaquim Igreja