entrevista maria alberta menéres

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ENTREVISTA Maria Alberta Menéres Foi de sua casa, em plena zona antiga de Lisboa, que a escritora Maria Alberta Menéres nos respondeu. Sentada em frente da máquina de escrever, onde tantas vezes a imaginação e a vontade de criar a invadem, redigiu umas quantas linhas dando conta das suas opiniões. Entrevistador – Liam-lhe ou contavam-lhe histórias na sua infância? Maria Alberta Menéres – Eu tive a grande sorte de ter tido, enquanto criança, quem me contasse muitas histórias! A minha avó Adelina … Também algumas mulheres simples. Tiveram e continuam a ter muita influência no meu amor pela escrita. Entrevistador – Que sensibilidade tem que ter, como escritora, quando o seu público são crianças e jovens? Maria Alberta Menéres – Para os mais novos, a minha sensibilidade como escritora é ser natural como no momento me apetece ser. E nunca proibir : a chegada de um sorriso, de uma ternura, a poesia que gosta de bater à nossa porta. Entrevistador – O que sente quando assiste à representação de uma peça que escrever, como À Beira do Lago dos Encantos? Maria Alberta Menéres – Sempre que oiço dizer uma poesia, ou uma história minha, ou assisto à representação de uma peça que escrevi é como se fosse a primeira vez. Com a peça À Beira do Lago dos Encantos … tudo também se passa assim e de cada vez que a assisto lembro-me de coisas novas. Os alunos que a representam nem imaginam como, pela maneira de falar e agir, e de serem eles próprios, me revelam que nunca nada está terminado, nunca nada está definitivamente concluído, pois a sua actuação e interpretação são sempre novas para mim. Entrevistador – Esta peça pode ser interpretada como resposta a que problemas do nosso dia-a-dia? Maria Alberta Menéres – Acima de tudo , eu gostaria que esta peça fosse vista e ouvida pelos jovens como um espectáculo sensível e divertido, e que eles percebessem que sentir o teatro é também “ ouvir” ou inventar possíveis conversas dos elementos que vamos encontrando pelos caminhos da nossa vida. E que este Prof.Rosa Oliveira Dossiê de leitura

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Page 1: entrevista Maria Alberta Menéres

ENTREVISTA Maria Alberta Menéres

Foi de sua casa, em plena zona antiga de Lisboa, que a escritora Maria Alberta Menéres nos respondeu. Sentada em frente da máquina de escrever, onde tantas vezes a imaginação e a vontade de criar a invadem, redigiu umas quantas linhas dando conta das suas opiniões.

Entrevistador – Liam-lhe ou contavam-lhe histórias na sua infância?

Maria Alberta Menéres – Eu tive a grande sorte de ter tido, enquanto criança, quem me contasse muitas histórias! A minha avó Adelina … Também algumas mulheres simples. Tiveram e continuam a ter muita influência no meu amor pela escrita.

Entrevistador – Que sensibilidade tem que ter, como escritora, quando o seu público são crianças e jovens?

Maria Alberta Menéres – Para os mais novos, a minha sensibilidade como escritora é ser natural como no momento me apetece ser. E nunca proibir : a chegada de um sorriso, de uma ternura, a poesia que gosta de bater à nossa porta.

Entrevistador – O que sente quando assiste à representação de uma peça que escrever, como À Beira do Lago dos Encantos?

Maria Alberta Menéres – Sempre que oiço dizer uma poesia, ou uma história minha, ou assisto à representação de uma peça que escrevi é como se fosse a primeira vez. Com a peça À Beira do Lago dos Encantos … tudo também se passa assim e de cada vez que a assisto lembro-me de coisas novas. Os alunos que a representam nem imaginam como, pela maneira de falar e agir, e de serem eles próprios, me revelam que nunca nada está terminado, nunca nada está definitivamente concluído, pois a sua actuação e interpretação são sempre novas para mim.

Entrevistador – Esta peça pode ser interpretada como resposta a que problemas do nosso dia-a-dia?

Maria Alberta Menéres – Acima de tudo , eu gostaria que esta peça fosse vista e ouvida pelos jovens como um espectáculo sensível e divertido, e que eles percebessem que sentir o teatro é também “ ouvir” ou inventar possíveis conversas dos elementos que vamos encontrando pelos caminhos da nossa vida. E que este entendimento mútuo é muito importante para a nossa felicidade e alegria comum cá neste mundo. Neste sentido, esta peça poderá ser entendida como uma espécie de resposta aos problemas do nosso dia-a-dia, na certeza de que ninguém vive totalmente sozinho neste mundo, mas sim acompanhado pelo entendimento da vida que muitas vezes consegue transformar os nossos problemas em projectos de um sonho que : à beira de um qualquer Lago dos Encantos, se recuse a desistir.

Entrevistador – O facto de na peça inverter situações, como a de serem os filhos a cuidar dos pais, pode ser interpretado também como uma forma de criticar algumas situações da nossa sociedade?

Prof.Rosa Oliveira Dossiê de leitura

Page 2: entrevista Maria Alberta Menéres

ENTREVISTA Maria Alberta Menéres

Maria Alberta Menéres – O facto de, nesta peça, eu ter invertido situações como a de serem os filhos a ter de tomar conta dos pais, não foi, de modo algum uma forma de criticar algumas situações da nossa sociedade, mas sim de seguir uma ideia que já há tempos venho defendendo para mim própria, e que consiste em perceber o que aconteceria se alterássemos a ordem estabelecida de uma harmonia, que de repente, nos pode parecer já um pouco gasta.

Entrevistador - Na peça , a determinada altura, os cinco sentidos vêem-se a eles próprios. Com esta situação, pretendia mostrar que devemos para e olhar para nós próprios?

Maria Alberta Menéres - De um modo geral, não pensei nessa leitura quando escrevia. Não pensei em como cada um deles se sentiria, mas sim eu como eu me sentiria se fosse cada um deles. Afinal, é como se realmente, de vez em quando, resolvêssemos parar e olhar para nós próprios.

Entrevistador – Por que razão decidiu aproximar mundos que aparentemente nada têm em comum, como é o caso, dos Adão e Eva, ideologia cristã, e a Fada, ideologia pagã?

Maria Alberta Menéres - Quando escrevo e tento seguir uma certa linha de pensamento, ocorrem-me por vezes ideias que de repente me aparecem associadas a sentidos e recordações de nomes e enredos que nada têm em comum, mas que podem cruzar-se.

Entrevistador – Muito obrigado pelos esclarecimentos e até uma próxima oportunidade.

Adaptado de Oficina de Escrita7

Prof.Rosa Oliveira Dossiê de leitura