entrevista - março 2010

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SAÚDE Dengue: mosquito vs. mosquito Pág. 3 ENTREVISTA JORNAL LABORATORIAL DO CURSO DE JORNALISMO DO CENTRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO E ARTES DA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SANTOS - UNISANTOS MARÇO - 2010 ANO 41 Nº 1 DISTRIBUIÇÃO GRATUITA http://hipertexto.unisantos.br O JORNAL QUE A CIDADE GOSTA DE LER Moradores de Santa Cruz dos Navegantes, em Guarujá, têm que conviver com praia repleta de lixo. Eles reclamam da coleta que acontece apenas a cada três meses. Além disso, os resíduos despejados no mangue são trazidos pela maré. Professora de Ecologia alerta que a situação é um caso de saúde pública . Pág. 5 COMUNIDADE É preocupante a falta de informações sobre o número de aci- dentes ocorridos na Baixada, principalmente por causa do crescimento dos empreendimentos imobiliários. Enquanto o Sindicato dos Trabalhadores estima 10 mortes por ano, o sindicato patronal tenta amenizar a situação oferecendo atividades de lazer PERIGO NAS ALTURAS PERIGO NAS ALTURAS Lixo toma conta de praia no Guarujá EVENTOS Quando o esporte incomoda EXCLUSIVO Marcelo Teixeira fala pela primeira vez após derrota nas eleições Pág. 19 aos operários e suas famílias. Já a fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) atua somente por meio de denúncias. Outro problema do setor é a falta de mão-de-obra qualificada. Por outro lado, surgem novas oportunidades de emprego para os corretores de imóveis. Págs. 8 e 9 LUIZA GONÇALVES Cuidado com os galões de água Pág. 6 PAULA MOREIRA Ruas fechadas, trânsito parado, atrasos e barulho. Estes são uns dos problemas enfren- tados por moradores e comer- ciantes em dias de eventos esportivos nas ruas da Cidade, como as provas de triatlon ou as partidas de futebol que animam o Estádio Urbano Caldeira, na Vila Belmiro. Pág. 18

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Jornal Entrevista - Edição de Março de 2010

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Page 1: Entrevista - Março 2010

: SAÚDE

Dengue:mosquito vs.

mosquitoPág. 3

ENTREVISTAJORNAL LABO RA TO RIAL DO CURSO DE JORNALISMO DO CENTRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO E ARTES DA UNI VER SI DA DE CA TÓ LICA DE SAN TOS - UNI SANTOS

MARÇO - 2010

ANO 41

Nº 1

DISTRIBUIÇÃO

GRATUITA

http://hipertexto.unisantos.brO JORNAL QUE A CIDADE GOSTA DE LER

Moradores de Santa Cruz dos Navegantes, em Guarujá, têm que conviver com praia repleta de lixo. Eles reclamam da coleta que acontece apenas a cada três meses. Além disso, os resíduos despejados no mangue são trazidos pela maré. Professora de Ecologia alerta que a situação é um caso de saúde pública . Pág. 5

: COMUNIDADE

É preocupante a falta de informações sobre o número de aci-dentes ocorridos na Baixada, principalmente por causa do crescimento dos empreendimentos imobiliários. Enquanto o

Sindicato dos Trabalhadores estima 10 mortes por ano, o sindicato patronal tenta amenizar a situação oferecendo atividades de lazer

PERIGO

NAS ALTURAS

PERIGO

NAS ALTURASLixo toma conta de praiano Guarujá

: EVENTOS

Quando o esporte

incomoda

: EXCLUSIVO

Marcelo Teixeira fala pela primeira vez após derrota nas eleiçõesPág. 19

aos operários e suas famílias. Já a fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) atua somente por meio de denúncias. Outro problema do setor é a falta de mão-de-obra qualificada. Por outro lado, surgem novas oportunidades de emprego para os corretores de imóveis. Págs. 8 e 9

LUIZA GONÇALVES

Cuidado comos galõesde água

Pág. 6

PAULA MOREIRA

Ruas fechadas, trânsito parado, atrasos e barulho. Estes são uns dos problemas enfren-tados por moradores e comer-ciantes em dias de eventos esportivos nas ruas da Cidade, como as provas de triatlon ou as partidas de futebol que animam o Estádio Urbano Caldeira, na Vila Belmiro. Pág. 18

Page 2: Entrevista - Março 2010

ENTREVISTA

MARÇO 2010 CONTEXTO2

ENTREVISTA Diretor: Prof. Roberto Hage Chain. Coordenador do Curso de Jor-nalismo: Prof. Me. Paulo Bornsen.Professores ori en ta dores: (tex-tos) Tereza Cristina Tesser (Mtb 15.379), Ouhydes Fonseca (Mtb 8.402), Eduardo Cavalcanti (Mtb 18.192) e Marcelo Di Renzo (Mtb. 11.008); (Fotos) Luigi Bongiovani (Mtb 11.086). (Diagra mação) Cláu-dio Lemos Ferreira (Mtb. 12.632) e José Reis Filho (Mtb 12.357). Diagramação da Capa: Bruna

ONDE ENCONTRAR

Santos - Livraria Martins Fontes, Alfândega, Almirante, Ana Costa, Aquário, Areia Branca, Ba-zar Papel & Cia, Boa Vista, Breque, Campo Grande, Canaã, Canal, Cine lândia, Co chrane, Copacabana do Daniel, Encruzilhada, Inca, Inde-pendência, Joquey, Marapé, Marcelo, Meu Cantinho, Minas Gerais, Minis-tro, Palmares, Paquetá, Paraíso,

Pinheiro, Machado, Rebouças, Rocha São Vicente, Rodoviário de Santos, Santa Cecília, Seabra, Sorocabana, Super Centro, Sup er-ca bana, Tibiriça, Tole do, Valen tim, Vila Belmiro e Vila Mathias. Tam-bém em bancas de São Vicente, Guarujá, Cubatão, Praia Grande, Bertioga, São Sebastião, Mongua-guá, Itanhaém e Peruíbe.

Jornal Laboratorial do Curso de Jornalismo de Centro de Ci-ências da Comu-nicação e Artes da Universidade Católica de Santos - UniSantos

Chioro. Labora to rista: Alberto Fer-reira. Técnico de Laboratório da Reda ção: Tércio Simei Gonçalves. Impressão: Diário do Litoral. Tira-gem: 10.000 exemplares. As opiniões aqui emitidas são de responsabilidade de seus autores.

EDIÇÃO: NATASHA GUERRIZE

DIAGRAMAÇÃO: BRUNA CHIORO

: EDITORIAL

: OMBUDSMAN

Redação: Av. Conselheiro Nébias, 300 - Vila Mathias, Santos - SP - CEP: 11015-002.E-mail: [email protected]

Vitória dos iniciantesFevereiro de 2006. Foi nesta

data que tudo começou. No pri-meiro dia, a ansiedade típica do desconhecido, os rostos pintados e as amizades que já iniciavam. Foram quatro anos de percurso, de teoria do jornalismo, de pesquisa, de prática, sem contar as inúmeras pautas pedidas pelos professores.

Alguns não resistiram e aban-donaram o barco no meio do cami-nho. No entanto, outros se apaixo-naram e, hoje, vivem o jornalismo quase 24 horas por dia. Alguns anseiam pela formatura, pois se dizem cansados da academia, mas esses ainda não se deram conta de que ao fi m do curso a saudade

bate, e bate forte... “Como era bom quando eu estava na faculdade”... Frases como essa certamente serão muito proferidas por nós!

Mas quem disse que acabou? Acabar no sentido exato da palavra, não acabou. Na verdade, começou. Começou uma vida profi ssional. É como se cada um de nós estivesse ga-nhando uma folha em branco novinha com uma caneta. Cabe agora, a cada um de nós, escrever sua vida de jor-nalista. E que sempre lembremos de nosso papel social, anseiam pela formatura, pois se dizem cansados da academia, mas também do com-promisso que estamos assumindo perante a sociedade.

A partir desta edição, o leitor do ENTREVISTA vai ganhar uma aliada. Pela primeira vez, o jornal terá uma ombudsman, ou seria “om-budswoman”? Uma mulher em uma função por onde passaram apenas homens. Brincadeiras à parte, o cargo que garante a boa qualidade do jor-nalismo feito pelo jornal-laboratório, este ano, é da editora executiva do jornal A Tribuna de Santos, Arminda Augusto. A convidada conhece bem a estrutura do jornal que vai analisar. Formada em 1988, pela UniSantos, Arminda está há 16 anos em A Tribu-na, onde desde 2001 ocupa a função de editora executiva. Mas, o mesmo tablóide que hoje será alvo de críticas, sugestões, análises e apontamentos foi, no passado, a porta de entrada para a carreira brilhante e respeitada que Arminda construiu.

Foi aqui que ela rabiscou suas primeiras laudas e até mesmo ousou com o projeto de um jornal feito por colegas de classe, “O Privado”. Arminda conta que, naquela época, aprendeu o signifi cado de se fazer um jornal. “O conjunto da obra é muito mais importante que as partes isoladas, ou seja, não adianta

Campanha contra a exploração econômica

: MARCIA LEITE

O repúdio ao abuso da ex-ploração econômica é palavra de ordem da Igreja Católica e do Ministério Público do Estado de São Paulo.Enquanto o Banco do Brasil, instituição de economia mista e de capital majoritário público, comemorava no início do mês, o maior índice de fatura-mento, o Brasil, País constitucio-nalmente não intervencio-nista, consta-tava o aumen-to da miséria, d e g r a d a ç ã o ambienta l e endividamen-to da popula-ção, em função da exploração e c o n ô m i c a abusiva.

S a n d r o Ricciotti Bar-bosa, Promotor de Justiça da De-fesa do Consumidor de Santos, disse que o Ministério Público do Estado de São Paulo já ajuizou uma ação civil pública em São Paulo, com pedido específico de redução das atuais taxas de juros praticadas por instituições fi nanceiras.“Os percentuais hoje cobrados mostram-se abusi-vos e não dão possibilidade de argumentação contratual ao consumidor. Por isso, houve a necessidade da ação coletiva para que o judiciário diminua as taxas ao patamar máximo de 30% da média anunciada pelo Banco Central “ justifi ca.

Neste caso, quer se coibir o

abuso do spread bancário ( dife-rença entre o que remunera por investimentos e o que cobra por empréstimos), que na realidade é o lucro dos bancos, pois está ocorrendo o enriquecimento “sem cau sa” das instituições fi nanceiras que, com a oferta de crédito fácil, levam a população ao comprometimento de até 90 % do salário ou mais, com a consequente inadimplência e en-

dividamento. A Igreja

Católica tam-bém apos ta na luta contra a exploração e c o n ô m i c a abusiva com o tema da tercei-ra Campanha da Fraternida-de Ecumênica - ECONOMIA E VIDA “Vo-cês não podem

servir a Deus e ao Dinheiro” (Mt 6,24) no sentido de que o homem precisa de condições mínimas de sobrevivência e deve colaborar na promoção de uma economia a serviço da vida, fundamentada no ideal da cultura da paz para que todos contribuam na cons-trução do bem comum em vista de uma sociedade sem exclusão.

O Bispo Diocesano, D. Jacyr Francisco Braido, res-saltou a importância do real sentido que devemos ter por bem comum como o conjunto de condições sociais que per-mitem e favorecem às pessoas o desenvolvimento integral da personalidade.

Um ano após chegada da TV digital, falta informação

: ORION PIRES

Passados 40 anos da primeira transmissão ao vivo da Copa do Mundo de Futebol para o Brasil, o sistema digital chega para marcar um gol de placa, em 2010. O cli-chê “ano de Copa do Mundo, ano de TV nova” volta à cena. Novas tecnologias no mercado, um ano após a crise econômica e esta parece ser a vez da transmissão digital engrenar. A reportagem do ENTREVISTA andou pelas ruas do Centro de Santos e constatou que o aparelho conversor utilizado para modifi car o sinal analógico para digital não agradou. Pouca procura e preço alto são alguns dos fatores. Os clientes parecem mesmo prefe-rir um televisor novo ao adaptado.

O gerente de uma loja de eletro-eletrônicos, José Roberto Azevedo, explica que, mesmo à procura de uma TV nova, as pessoas ainda não conhecem a di-ferença e suas reais necessidades. “O cliente chega na loja e leva uma televisão com conversor. Paga mais caro e na verdade ele já tem TV por assinatura e não precisaria do serviço, pois boa parte do sinal já é digital”. A falta de informação

é o grande problema, segundo o gerente. “Além dos converso-res, existe também a diferença entre as pró-prias TVs: as que ope-ram em Full HD (alta resolução) e HDTV (menor resolução em relação a Full)”. Ro-berto explica ainda, que o “erro” no mo-mento da compra tem o preço como vilão. “Todas as TVs que estão em promoção não têm conversores, por isso os valores são menores”.

Se falta conhecimento por parte do consumidor, a culpa tam-bém é do vendedor, reclama a dona de casa Clara Gaspar Dionísio. “O vendedor também precisa ajudar a gente. Afi nal, ele deve estar mais informado sobre essas tecnolo-gias. Eu não conheço nada. Se ele garantir que vale a pena eu posso até levar a mais cara”, afi rma. Ela também contesta o fato de terem lançado a TV digital e falarem pou-co sobre o assunto. “Eu sei que só existe uma emissora com esse tipo de sinal, mas não vejo mais nin-

ter um bom texto ou a melhor foto se a edição não for atraente para o leitor. Também não adianta ter uma boa apresentação se o conteúdo for fraco ou mal escrito. O leitor quer um produto impecável”. Essas revelações foram feitas no espaço “eu estive aqui”, da edição de maio do ano passado do ENTREVISTA.

Em recente visita à UniSantos, Arminda aproveitou para falar um pouco do dia a dia de seu trabalho e de como será feita a análise do

tablóide. Segundo a editora, a oportunidade do novo desafi o irá proporcionar maiores laços entre a universidade e A Tribuna. “É uma experiência que pode revelar novos talentos”, destacou. Mas, para isso, a nova representante dos leitores es-tará atenta a alguns itens fundamen-tais. “Além de estar bem atualizado e ter ética, o bom jornalista precisa escrever com clareza, objetividade, estilo e em bom português. Estes serão critérios indispensáveis no contexto do jornal”.

No encontro com os alunos do curso de Comunicação Social, Arminda lembrou do projeto de A Tribuna para garimpar e lapidar futuros talentos, o “Jovem Jornalis-ta”. A parceria entre as universida-des de Santos e o jornal irá reservar todo último sábado de cada mês, a partir de maio, um espaço para ma-térias assinadas dos universitários no caderno de Educação.

Agora que você já conhece o gabarito da nossa nova “olheira” poderá acompanhar, já na próxi-ma edição do ENTREVISTA, as primeiras impressões da ombuds-man, sobre esta publicação. (O.P)

ARMINDA: novo desafi o

HELENA PASSARELLI

guém falar sobre isso”. Para a dona de casa, o governo deveria fazer uma campanha explicando todas as funções dessa nova transmissão.

A única emissora a operar o sinal digital aberto na região é a TV Tribuna, afi liada da Globo. Em conversa por telefone o editor chefe da emissora e professor universitário, Jorge Oliveira, revelou que ainda não pode dar previsões de quando o sinal será expandido, mas isso deve acon-tecer em breve. Há quase um ano (30 de março) as cidades de Santos e São Vicente recebem o sinal, através do canal 19 UHF, já a de Praia Grande começou dia 10 de março de 2010.

MARCELA MARTINS

TV DIGITAL: venda cresce com a Copa

A visão crítica de ArmindaHá uma falta de respeito aos princípios da dignidade da pessoa humana.

Sandro Ricciotti

Page 3: Entrevista - Março 2010

: ANA LUIZA MONTEIRO

Devido às altas temperaturas registradas nos últimos me-ses e o grande volume de

chuvas, a proliferação do mosquito transmissor da dengue se tornou propícia. Segundo dados forneci-dos pela assessoria de imprensa de Guarujá, somente na cidade foram confi rmados 351 casos até o dia 24

de fevereiro. Alternativas, como a criação de um mosquito transgênico, já estão sendo estudadas, mas, por enquanto, a eliminação dos criadou-ros das larvas é o principal método utilizado como forma de prevenção à doença.

A revista Proceedings of the National Academy of Sciences publicou um estudo realizado por pesquisadores das universidades de Oxford (Inglaterra) e da Califórnia (EUA). Nele, é apresentada a cria-ção de mosquitos geneticamente modificados como alternativa para tentar conter a propagação do vírus da dengue, que é transmitido pela picada da fêmea do Aedes aegypti. Essa al-teração genética faria com que as fêmeas tivessem o desenvolvi-mento de suas asas prejudicado, limitando sua ca-pacidade de voar.

ALVORO-

ÇO - Para o professor de Ecologia Ronaldo Francini, a proposta da criação e soltura de mosquitos transgênicos no meio ambiente esbarra em uma série de problemas científi cos e econômicos. “Levaria muitos anos para realmente ser efi -ciente. Somente após estudos muito aprofundados, testes em pequenos ambientes isolados e uma sé rie de experiências seria seguro liberar os mosquitos geneticamente modifi -cados sem haver sequelas. Para ser viável, seria preciso criar esses mos-quitos em escala industrial. Exigiria um enorme trabalho de logística, além de depender do Governo, que avaliaria quanto custaria esse investimento”, afi rma o professor.

Francini completa que seria

ENTREVISTA

MARÇO DE 2010CONTEXTOEDIÇÃO: GIULIANO COCCARO

DIAGRAMAÇÃO: AGATHA ABREU 3

Mosquito transgênico: o fi m da picada?

: LIXO - Vila Mathias vira depósitoBRUNO LIMA

PORTAS, lâmpadas, sofás, armários e etc... Não, essas não são ofertas de nenhuma loja de móveis da Cidade. Mas sim, o cenário de algumas ruas da Vila Mathias, onde moradores e carrinheiros despejam, diariamente, pilhas de entulhos.O estado de degradação atinge, em especial, as calçadas das ruas Campos Melo, Henrique Ablas e Comendador Martins. Nelas, assim como, na Avenida Rangel Pestana, importantes vias do bairro, a quantidade de lixo, móveis e detritos fi ca exposta por vários dias.

: FABÍOLA FERREIRA

Os donos de estabele ci men tos devem estar atentos às regras de exibição para os jogos desta Copa, segundo as regras veiculadas pela FIFA, no fi nal de fevereiro.

Além das emissoras subli-cenciadas, TV Bandeirantes, Band Sports e ESPN, a Rede Globo é a única autorizada este ano. Uma das regras é que o si-nal dos eventos esportivos deve ser exibido na íntegra, incluindo todos os intervalos comerciais, começando com, no mínimo, 10 minutos antes do início e encer-rando 10 minutos após o término de cada transmissão.

É permitida a veiculação em bares, restaurantes e hotéis, desde que não sejam cobrados ingressos.

Em seus 20 anos de funcio-namento, o bar Barramares, loca-lizado no Gonzaga, é um ponto de encontro para torcedores. Na Copa de 2002, foi implantada a promoção que presenteava os clientes com um copo de chope a cada gol brasileiro.

Copa: FIFA cria regras para bares

extremamente perigoso soltar os mosquitos transgênicos com a in-tenção de eliminar o problema da dengue de imediato, sem passar por uma sequência de testes. “Tudo que aconteceu no passado nos faz agir com cautela. É preciso pensar o que estará sendo salvo a longo prazo, do que adianta salvar 10 mil pessoas de dengue e matar 100 mil posterior-mente por um problema futuro”, diz.

A pesquisadora Marluci Guirado, por sua vez, afi rma no artigo “Alguns aspectos do controle populacional e da resistência a insetici-das em Aedes aegypti”, que a experiência que já se tem com outros organismos tem levado à conclusão de que o sequenciamento gênico de um organismo é “um novo começo”, no que se refere às difi culdades iniciais que podem fazer

com que resultados signifi cativos demorem um tempo imprevisível para aparecer. “Na manipulação do genoma, complexas interações gênicas geralmente são quebradas, e por serem desconhecidas em sua extensão geram, na maioria das vezes, resultados inesperados e inefi cientes”. A pesquisadora ainda cita que os mosquitos transgênicos, quando estão sozinhos, são rapida-mente eliminados na competição com o mosquito que não sofreu alteração genética. “O genoma do mosquito ‘normal’ é produto de milhares de anos de julgamento pela

seleção natural, e sua capacidade reprodutiva, mui-to maior. Apesar da variação dos processos utiliza-dos nos diferentes laboratórios em sua construção, os mosquitos trans-gênicos apresen-tam desvanta-gens, relaciona-das no mínimo com a capacidade

reprodutiva diminuída”.Marluci conclui em seu artigo

que, por enquanto, o principal mé-todo utilizado para a diminuição do número de casos de dengue ainda é a eliminação de criadouros das larvas do mosquito como pratos e vasos de planta, bebedouros de animais, pneus, ralos externos e internos, calhas, lajes e mate-riais inservíveis. “As difi culdades existentes indicam que durante um tempo, mais ou menos longo, vamos continuar dependentes exclusivamente dos métodos de controle da dengue por meio do controle do Aedes aegypti, hoje subordinado, grandemente, ao comprometimento da população com a eliminação dos criadouros”.

Do que adianta salvar 10 mil pessoas com dengue e matar 100 mil posterior-mente?

Ronaldo Francini

Tradição: famílias santistas na política

: MARIANA RODRIGUES

No Brasil, o nome da família vem funcionando como um aval para a carreira política, uma tra-dição. Como no caso de Antonio Carlos Magalhães, com ACM Jr., ACM Neto na Bahia.

Neste mês, a Nova Repú-blica comemora 25 anos e come-ça um novo período para Santos. Conhecida por sua participação política ativa e por possuir o maior porto da América Latina, Santos perdeu a autonomia polí-tica e administrativa e virou área de segurança nacional em 1969. Apenas em 1984, a cidade vol-tou a eleger seu prefeito.

Desde então o cenário po-lítico de Santos tem exemplos de poder aliado à tradição e conservadorismo dos eleitores. Osvaldo Justo (e seus irmãos políticos Emílio e Ricardo) as-sumiu após 15 anos de prefeitos escolhidos pelo governo militar. O prefeito Paulo Gomes Barbo-sa cumpriu mandato entre 1980 e 1984, voltando a política san-tista em 1997, como vereador, e

entre 2005 e 2006 foi presidente da Câmara Municipal.

Seu fi lho, o deputado esta-dual Paulo Alexandre Barbosa (PSDB), seguiu a mesma carrei-ra. Paulo começou como assessor na Secretaria de Estado da Juven-tude, Esporte e Lazer (Sejel).

Já o santista Mário Covas começou concorrendo ao cargo de prefeito, só conseguindo en-trar na política como deputado, pelo PST, em 1963. Atualmente, o sobrenome se mantem no meio com o deputado estadual Bruno Covas, do PSDB, e com Zuzi-nha, como é conhecido o fi lho de Mário Covas, atual secretário municipal de Caraguatatuba.

Outro exemplo hereditário são os De Rosis. Osvaldo Car-valho De Rosis foi o responsá-vel pelo início da tradição. Seu primeiro mandato foi em 1964, como vereador. Assumiu tam-bém a presidência da Câmara por duas vezes. Morto em 1986, foi substituído pelo fi lho.

Hoje presidente da Câmara de Santos, Marcus De Rosis dá continuidade ao trabalho do pai.

DIVULGAÇÃO

FÊMEA Aedes Aegypti: a transmissora

Page 4: Entrevista - Março 2010

ENTREVISTA MARÇO DE 2010 CONTEXTO

EDIÇÃO: GIULIANO COCCARO DIAGRAMAÇÃO: MAYARA JACQUES 4

: SERVIÇOS

PG dá 60% de desconto

no IPTU: AGATHA ABREU

Se você é aposentado ou pensionista e reside há pelo me-nos dois anos em Praia Grande, fi que ligado. Com base na Lei Complementar 236/99, a Secreta-ria de Finanças (Sefi n) do muni-cípio vai dar desconto de até 60% sobre o IPTU 2011. As inscrições vão até o dia 30 de junho. Para solicitar o desconto, os interessa-dos devem se dirigir à Seção de Atendimento ao Público do Paço Municipal, que fi ca na Avenida Presidente Kennedy, n° 9.000, piso térreo, no Bairro Mirim. O setor funciona de segunda a sexta-feira, das 8h30 às 16 horas. Mais informações pelo endereço http://www.praiagrande.sp.gov.br

Nathaly Brenner

USUÁRIOS trocam provador pelo Orkut

As novas funções doOrkut atraem usuários

:MAYARA JACQUES

O Orkut, serviço de rede social oferecido pelo Google, está perden-do sua principal característica como site de relacionamentos e se tornan-do um local da web para vendas e trocas dos mais diversos produtos.

Vasculhar a vida de ex-namora-dos, reencontrar amigos da infância, fazer novos amigos, manter contato com os já envoltos em sua rede social. Essas e mais algumas são as funções do mais utilizado site de relacionamentos da web. Entretanto, tem se mostrado cada vez mais útil ao serviço público e já está sendo usado como um meio de trabalho para muitas pessoas. É através das trocas e vendas que elas vêem no site uma oportunidade de trabalho fácil e de bom retorno fi nanceiro.

“A vantagem de vender e tro-car pelo Orkut é que você não tem loja física e com isso, não precisa pagar imposto e funcionários, o único trabalho é ir aos correios para a postagem do produto’’, explica Vanessa Cezar que trabalha com uma loja virtual há mais de um ano. A vendedora recomenda ainda que, antes da compra ser efetuada,

o comprador procure olhar nos de-poimentos do vendedor para saber se ele tem ou não credibilidade com o público.“É vantajoso comprar via Orkut, porque, na maioria das vezes, o preço é bem menor que em outros meios’’, fi naliza.

Mas é preciso cuidado. Muitas vezes, como em tantas outras formas de negociação, você não tem a cer-teza de que irá receber a compra no estado e prazo anunciado por quem vende. É o caso de Regis Luis da Rocha, que recebeu um celular com o visor quebrado e não conseguiu trocar o produto. Regis aconselha as pessoas comprarem só de pessoas in-dicadas pois o barato pode sair caro.

Entre as inúmeras comunida-des e os mais diversos perfi s de lojas, é possível observar os importados que levam um tempo maior para en-trega, mas que mostra a diversidade e expansão do negócio. Como fun-ciona o sistema de vendas? Simples: Ao invés de criar perfi s com fotos e informações pessoais, o vendedor posta fotos de suas mercadorias e os futuros compradores comentam as de seu interesse. A partir disso, é feita a negociação do produto. Além dessa possibilidade, também

é viável fazer trocas de mercadorias específi cas através das comunidades que possuem um extenso cardápio dos mais diferentes itens disponíveis para trocas. A reportagem fez um teste comprando um CD no valor de dez reais. A mercadoria veio de Salvador- BA e chegou no prazo de

cinco dias úteis em perfeito estado, provando que o empreendedorismo via Orkut funciona e pode dar certo.

Os crimes virtuais cometidos no Estado de São Paulo podem ser denunciados no Cibercrimes SSP-SP no seguinte telefone: 011- 6221-7011 – ramal 208

Dragagem afeta meio ambiente: SAMANTA LORENA

A dragagem do canal do Porto de Santos, que co-meçou a ser feita este mês,

proporcionará maior segurança de navegabilidade com o aumento de sua largura e profundidade. Entretanto, junto com o avanço tecnológico e econômico, o meio ambiente poderá ser afetado. No documento do Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e seu respectivo Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) foram pré-julgados os im-pactos decorrentes da obra. O EIA/RIMA aponta os possíveis impactos ambientais, propõe programas de gestão ambiental para garantir o monitoramento da área afetada e indica proteção à natureza.

A obra está sendo realizada porque a indústria naval está substi-tuindo sua frota por navios maiores, que atualmente não conseguem passar pelo canal. Se a dragagem de aprofundamento não fosse realizada, o Porto perderia competitividade internacional, devido aos custos elevados dos navios que precisariam fazer mais de uma viagem para trans-portar os produtos ou vir com menos carga. Mas tudo isso pode gerar problemas de curto ou longo prazo para a natureza. Segundo o EIA/RIMA, os efeitos da obra estão im-plicados nas águas. Por exemplo, o aprofundamento poderá gerar maior volume de água quando a maré fi car alta e também quando estiver saindo com a vazante, infl uenciando nos processos de erosão. Além disso, o deslocamento e a reprodução de peixes podem ser afetados enquanto a obra estiver sendo realizada.

Segundo o líder do Grupo de Pesquisa em Gestão Ambiental na Costa, Portos e Sustentabilidade,

da Unisantos, o ambientalista Ícaro Aronovich da Cunha, a dragagem muda a movimentação das águas, gerando alterações nas comuni-dades biológicas. “O importante nesse momento é o monitoramento da área de despejo e salientar que a separação por setores do material permite melhor distribuição espa-cial e diminui a contaminação”. Cunha cita que a região cavada de-senvolveu fontes de contaminação ao longo dos anos (lixões, esgotos, parque industrial de Cubatão, su-jeira nas praias) e o efeito no meio ambiente dependerá da concen-tração do despejo. “A distribuição desse material foi dividida em três trechos no mar justamente para que isso não gere nenhum tipo de conta-minação maior”. A superintendente

de Saúde, Segurança e Meio Am-biente, da Codesp, Alexandra Sofi a Grota, diz que o Ibama exigiu uma série de atividades ambientais para amenizar os problemas da draga-gem e um monitoramento contínuo dos parâmetros químicos, físicos e biológicos. A Fundespa (Fundação de Estudos e Pesquisas Aquáticas) é a empresa responsável pelos 26 programas, entre eles o Apoio às Comunidades de Pesca, que envia relatórios para pescadores e órgãos públicos sobre a situação da fauna, defi ne ações em conjunto com os pescadores para capacitá-los a futu-ros impactos e cursos para atender às demandas durante da dragagem.

O secretário de Meio Am-biente de Santos, Fábio Nunes, diz que o trabalho que vem sendo

desenvolvido é minucioso e a ação é necessária. Se no decorrer no empreendimento o monitoramento apontar algum tipo de anomalia, a obra será paralisada imediatamente para a tomada de medidas neces-sárias para amenizar o problema. “A dragagem do Porto não é uma novidade, e sim, o aprofundamento. “Toda atividade gera qualquer tipo de reação, mas é importante infor-mar que a tecnologia é aliada para amenizar os impactos ambientais”.

BRUNO LIMA

DRAGAGEM irá possibilitar a entrada de navios de grande porte no Porto

Artigo do CTB gera dúvidas

: DAPHINE MACHADO

E-mail de origem desconhe-cida circula na internet contendo informações duvidosas sobre o art. 267 do CTB, Código de Trânsito Brasileiro. A equipe do ENTREVISTA constatou que o assunto causa divergências entre despachantes e o Departamento Estadual de Trânsito.

No e-mail há a afi rmação de que no caso de multa por infração leve ou média, se o condutor não foi multado pelo mesmo motivo nos últimos doze meses, não é necesário o pagamento da multa. E, para que isso ocorra, é preciso ir ao Detran e preencher o formu-lário solicitado para converter a infração em advertência.

Para o Detran, o artigo não é de conhecimento da popula-ção. O que pode ser convertido em advertência é a pontuação e não a multa, e esta deve ser paga. O infrator deixa de receber os pontos na carteira se a auto-ridade de trânsito considerar a infração de caráter educativo. O Detran também não possui formulário para conversão. “A pessoa elabora um requerimento de próprio punho anexado a um comprovante de residência, cópia da carteira de habilitação, CPF e documento do veículo. A decisão pela advertência ou não cabe ao delegado, baseado no prontuário do condutor”, conclui o escrivão.”

O despachante Ely Cury também afi rma que nenhum de seus clientes o procurou para esclarecimento deste assunto. E, segundo levantamento dos próprios despachantes, ninguém conseguiu efetuar essa conversão. Mas discordam do escrivão em relação ao pagamento da multa.

Segundo a Codesp, toda a do-cumentação do EIA/RIMA está disponível para o público e pode ser solicitada a qualquer mo-mento na sede da companhia que fi ca na Avenida Rodrigues Alves, s/nº, no Macuco, em Santos.

Page 5: Entrevista - Março 2010

COMUNIDADE ENTREVISTA

MARÇO DE 2010 5EDIÇÃO: NATHÁLIA DO LAGO

DIAGRAMAÇÃO: GISELLE MAGNO

POLUIÇÃO : Moradores de Santa Cruz dos Navegantes convivem com acúmulo de resíduos na praia e esperam solução.

‘Pouca Praia’, muito lixo: NATÁSSIA MASSOTE

Diferente do que acontece do outro lado da baía, em San-tos, os moradores da co-

munidade de Santa Cruz dos Na-vegantes, em Guarujá, vivem em um ambiente pouco atrativo. Sem orla com jardins monumentais, a praia é o quintal de muitos mora-dores. A extensa faixa de areia não pode ser utilizada devido à gran-de quantidade de lixo no local.

Popularmente conhecida como Pouca Farinha, a praia é suja e parece abandonada. A grande quantidade de lixo forma um cenário preocupante. São colchões, sacos plásticos, emba-lagens e até móveis espalhados pela areia. Isso ocorre quando a maré sobe e os entulhos jogados no mangue, logo atrás, invadem a praia. Além da poluição visu-al, todo esse detrito prejudica a comunidade e o meio ambiente.

O lixo na praia não é novidade para os moradores da Pouca Fari-nha. Maria Eunice Santos mora na comunidade há 33 anos e alega que sempre foi assim. "Desde que me mudei para cá o lixo esteve presen-te". Rosane Santos da Silva também mora perto da sujeira. "Eu e meu marido limpamos o lixo em frente à nossa casa, mas não adianta. A maré sobe e traz tudo de novo".

O presidente da Associação de Moradores de Santa Cruz dos Navegantes, Sérgio Jesus dos Passos, afi rma que, em interva-los de três meses, a Prefeitura de Guarujá envia caminhões da Terracom para retirar o entulho. “Mas não é o sufi ciente. A maré sobe e a praia fi ca poluída nova-mente". Passos também diz que a comunidade deveria ser mais consciente e parar de jogar lixo no mangue. "Infelizmente, sem a conscientização é mais difícil

de mudar alguma coisa. Nossa comunidade também deve saber sobre as conseqüências desse lixo e parar de jogar no mangue".

O morador Ubijara Marcelino de Oliveira diz que as caçambas utilizadas na coleta de lixo são in-sufi cientes. "Os moradores acabam jogando lixo no mangue, princi-palmente os grandes entulhos. São pequenas e poucas caçambas".

A professora de Ecologia

e Ecossistemas da UniSantos, Rossana Helena, afi rma que todo esse lixo em contato com o meio ambiente tem grande impacto. "Nos mangues, o lixo se com-pacta e evita as trocas gasosas, a fotossíntese e a decomposição das matérias. Isso acaba levando à morte de plantas e animais".

Além disso, a professora diz que as praias também são prejudicadas. "Os lugares fi cam

feios, com mau cheiro, risco de doenças e impacto no meio am-biente. É caso de saúde pública".

A Assessoria de Imprensa da Prefeitura de Guarujá alega que a coleta de lixo é feita diariamente e que, pela manhã, a empresa res-ponsável pela limpeza urbana retira os resíduos depositados nos contêi-neres distribuídos pelo bairro. Em relação aos grandes entulhos que se acumulam na comunidade, a

Prefeitura iniciou o programa Cata Coisa. O serviço, que é gratuito, está sendo realizado em bairros alternados, de segunda a sábado.

A Prefeitura diz que a comu-nidade receberá mais informações sobre os dias de coleta de resí-duos. O descarte irregular pode acarretar multa, cujo valor varia de R$ 127 a R$ 3.838.Denún-cias podem ser feitas à Ouvido-ria, pelo telefone 0800-7737000.

VISTA privilegiada da baia de Santos é prejudicada pela montanha de detritos que vem com a maré

Sujeira também persiste nas encostas da Ponta da Praia

: JOSÉ RICARDO BÁRBARA FILHO

Assim como ocorre na praia de Santa Cruz dos Navegantes, há acúmulo de lixo do outro lado da baía, nas encostas da Ponta da Praia. Encosta é a superfí-cie inclinada que delimita áre-as de relevo - no caso, trechos de areia e pedra, ao longo da mureta, que terminam no mar.

As encostas da Ponta da Praia têm se tornado o destino de parte do lixo que se encontra na região, seja vindo do mar, trazido pelas marés, seja atirado pelos pró-prios moradores. A dona-de-casa Patrícia Rodrigues, moradora do bairro, acredita que as pessoas jogam lixo nas encostas pelo fato desse tipo de local fi car longe da vista de quem passa, se tornan-do assim uma alternativa fácil para quem quer despejar objetos.

A Secretaria Municipal de Serviços Públicos (Seserp) afi rma que a limpeza de toda a orla da praia, inclusive nas partes onde

Obras de saneamentoparalisadas

Além do lixo, a comunidade tem sofrido com os problemas na construção de um sistema de sane-amento básico. O presidente da As-sociação de Moradores, Sérgio Jesus dos Passos, diz que o saneamento foi interrompido e as obras fi caram pa-ralisadas após um desentendimento entre a comunidade, a Prefeitura de Guarujá e a empresa escolhida para realizar o trabalho. “Nós vamos entrar com um recurso no Ministé-rio Público para reformular a rede de água fl uvial da comunidade. As obras estão paralisadas e a comuni-dade precisa de saneamento básico.”

A Prefeitura de Guarujá diz que até o fi m do semestre as obras devem ser concluídas. Elas têm como objetivo resolver o pro-blema da destinação do esgoto clandestino. A comunidade será benefi ciada com a reestruturação das galerias de águas pluviais, bocas-de-lobo e poços. (NM)DO LADO de Santos, a poluição estraga a paisagem

FOTOS: PAULA MOREIRA

há pedras junto às muretas, é feita pelas equipes da Prodesan. A limpeza nesses locais específi cos, onde os resíduos se acumulam nas pedras, é feita semanalmente.No entanto, as marés podem levar ou trazer de volta o lixo acumulado na região, alega a Secretaria.

De acordo com os técni-cos, os resíduos são trazidos pela maré, e dependendo do nível da água, não há limpeza semanal.

O acúmulo de lixo nas en-costas acaba afetando a balneabi-lidade. O pescador Jorge Silvano comenta que “a falta de preocupa-ção das pessoas com o lixo perto das praias é triste”. Para ele, todos os detritos acabam indo parar no mar. “Por isso as praias de Santos são mais sujas, comparadas com as de outras cidades do litoral”.

A professora de Oceanografi a Carolina Bertozzi explica que “a maioria do lixo que encontramos nas praias parte dos próprios mo-radores de Santos, e chega às águas por meio de canais e embarcações”.

Page 6: Entrevista - Março 2010

ENTREVISTA MARÇO 2010 SAÚDE

EDIÇÃO: NATHÁLIA DO LAGO

DIAGRAMAÇÃO: FELIPE MENDONÇA6

ÁGUA : Distribuidoras nem sempre respeitam o consumidor. Fiscalização da Vigilância Sanitária depende apenas de denúncias

Galão tambémtem validade

Biquinha é testada e aprovada pelo Adolpho Lutz

TESTE de cloro é feito de duas a três vezes por dia

: VINÍCIUS MAURÍCIO

O telefone não foi atendido naquele dia. Então, Diane ligou para outro vendedor.

O que deveria ser apenas um pro-cesso comum de compra e venda, gerou um tremendo desgaste. Ela descobriu que não poderia comprar água, a menos que trocasse o galão. O vendedor anterior passava galões vencidos. A solução foi comprar outro galão e trocar de fornecedor.

Casos como o da estudante de Direito Diane Vieira Rodrigues são comuns. A embalagem é a origem dos problemas, porque, se estiver vencida, pode contaminar a água. E muitos consumidores são enganados por vendedores que comercializam garrafões de água mineral fora da data de validade.

Maurício Cajazeira Nunes, fi scal da Vigilância Sanitária de Santos, afi rma que uma das razões para que isso continue ocorrendo é não haver fi scalização sufi ciente para proteger o direito do consu-midor de comprar água mineral sem preocupações, “Na Cidade, temos cadastrados perto de 6 mil estabelecimentos comerciais, fora os clandestinos, que funcionam sem alvará, e são apenas 20 fi scais para controlar tudo”.

Segundo Nunes, para que os estabelecimentos de todos os se-tores sejam vistoriados, são feitos programas mensais de fi scalização. No caso da revenda de água mine-ral, não há uma ação específi ca, porque o produto é industrializado. “Nós contamos com as denúncias feitas pelo telefone da Ouvidoria, o 0800 11-2056”.

Quando ocorre uma denúncia, a Vigilância vai ao local, faz um boletim de ocorrência e solicita o alvará de funcionamento. Após a autuação, a empresa tem um prazo para fi car em conformidade com a lei. “Na intimação, autuamos.

Em alguns casos, multamos - e a multa pode chegar a R$ 1.200 - e até interditamos”, explica Nunes. Entretanto, o fiscal afirma que, no ano passado, as denúncias não passaram de dez.

A reportagem do ENTRE-VISTA encontrou água mineral em galão em casas de materiais de construção e até farmácias e padarias. O fi scal alerta que não se pode ter alvará para dois gêneros diferentes de produtos. “A água só pode ser vendida em distribuido-ras de água”.

Na Ponta da Praia, uma farmá-cia vende água mineral em galão. O proprietário diz que tem um documento, mandado pela empresa de distribuição, que regularizaria

a venda do produto no estabeleci-mento.

O documento ao qual o co-merciante se refere é o termo emitido pela fonte, com análise dos últimos três meses da qualidade da água mineral. Esse trabalho é feito por uma empresa terceirizada, geralmente o Instituto Adolfo Lutz.

As instalações da distribui-dora, por sua vez, devem estar protegidas contra insetos e ratos, e estar com o alvará e o atestado de saúde dos funcionários em dia. Durante o transporte, o galão deve fi car coberto, para evitar contato com a luz solar. E deve estar ar-mazenado em estrados plásticos

(palets), porque os de madeira mofam. Toda embalagem tem que apresentar rótulo e estar armazena-da em ambiente limpo.

A estudante de Moda Bianca Bittencourt enfrenta esse problema. “O entregador traz a água descober-ta em uma bicicleta, sempre”.

Todo consumidor deve co-nhecer o local onde compra água mineral. E a distribuidora deve ter requisitos mínimos de funciona-mento, alerta o fi scal da Vigilância. Entretanto, a reportagem encontrou uma distribuidora de água na Vila Mathias que não segue a lei. Galões vazios fi cam do lado de fora do estabelecimento, empilhados sem proteção alguma.

O proprietário assegurou estar em dia com seus documentos e criticou outros vendedores. “Es-tamos em dia, caso contrário, não estaríamos emitindo nota fiscal para os clientes. Há vários clan-destinos, caminhões que passam na rua vendendo, e até em postos de combustíveis. A Vigilância já veio duas vezes aqui, pediu o documen-to e foi embora”.

Na d i s t r ibu idora Mina D´Água, em Santos, a situação é diferente. É tudo limpo e azulejado. Os garrafões estão armazenados em ambiente adequado, mas ainda são usados estrados de madeira. “Trabalhamos no ramo há dez anos. Temos o próprio adesivo da empresa, que é posto nos garrafões, o que facilita nosso trabalho. Os fi scais vieram poucas vezes aqui, que me lembre”, comenta a pro-prietária, Vanessa Melissa Souza.

Galão contaminado pode con taminar a água. Por isso, recomenda-se o uso dele apenas dentro da validade. “A validade é de três anos. Se o garrafão tiver ranhura, fissura, amassamento, arranhões do transporte e boca mal lacrada, ele deve ser des-cartado, porque nele são criados

poros, nos quais as bactérias se instalam”, explica a professora de Microbiologia de Alimentos da UniSantos Elizabete Lourenço da Costa. Também se deve evitar o contato direto da água com a luz do sol, porque pode favorecer o desenvolvimento de algas.

Elizabete explica que a con-taminação pode causar disenteria, gastroenterites e doenças trans-mitidas hidricamente, como o rotavírus. Idosos, crianças e soro-positivos podem ser contaminados com mais facilidade.

“No rótulo deve constar o registro no Ministério da Saúde. O máximo para o consumo da água do garrafão é de 15 dias”, orienta Eliza-bete. Quando for devolvido, ele tem de ser higienizado mecanicamente para novo envase, com detergentes aceitos pela Agência Nacional de

Vigilância Sanitária (Anvisa). “É difícil, mas conheço

distribuidoras que mandam o en-tregador usar luvas, suab (com-pressa de algodão umedecido), faca específi ca para abrir o lacre e máscara”, comenta Elizabete. A higienização deve ser feita em toda a boca do garrafão e também na parte alongada, logo abaixo. Já no caso dos fabricantes, vale a pena entrar em contato com as indústrias, a fi m de saber se elas fazem análise periódica da água.

A professora destaca a limpe-za do suporte, que deve ser higie-nizado a cada troca de garrafão. “O ideal é passar uma esponja antes, limpar as borrachas com hipoclorito de sódio, deixar com um pouco de água por 20 minutos e depois abrir a torneira do suporte para que a mistura saia”.

: BRUNO WALTER

Muitas pessoas não compram a água de depósitos, nem de su-permercados. Preferem pegar da Biquinha Padre Anchieta, em São Vicente. Elas confi am na qualida-de, como a dona-de-casa Maria da Penha. Ela conta que pega água no local porque sabe de onde vem. Com isso, economiza em torno de R$ 30,00 por mês.

Mesmo confiando na água da Biquinha, poucos sabem como ela é tratada. O processo acontece dentro de uma sala, atrás do painel de azulejos. A sala tem duas caixas d’água de amianto de 2 mil litros. Um problema é que elas são cober-tas por tapumes apodrecidos. Além disso, existem muitos remendos de

cimento e azulejos mal colocados. O responsável pela limpeza da sala e pelo tratamento da água, Enéas de Araújo, afi rma que a bica precisa de uma reforma “urgente”. “Mas é difícil, porque é patrimônio históri-co e não pode entrar facilmente em obras”, afi rma.

Ao contrário das bicas de Santos, a de São Vicente tem água potável, analisada e aprovada pelo Laboratório Adolpho Lutz, em São Paulo. A água serve para todos os usos domésticos. Diferentemente da água de torneira, que vem pelo cano, a que brota de lençóis freáticos não tem cloro, fl úor, ou outros reagentes. O ENTREVISTA acompanhou o teste de pureza e constatou que a água distribuída pela Sabesp, com a adição de um

reagente que indica a presença de cloro, ganha coloração. Já a água da bica permanece transparente.

“A cidade nunca teve pro-blemas com esta fonte de água”, afi rma Enéas. “O teste do cloro é

feito de duas a três vezes por dia, quando eu verifico e adiciono cloro e outros produtos químicos, conforme o necessário”, afi rma. Só quando o teste dá negativo, por causa de falta ou excesso de adição

de químicos na água, Enéas fecha a bica e espera a Sabesp dizer o que fazer. A adição de cloro na água é bem baixa. Somente uma vez por dia é misturada uma solu-ção, de água e cloro, com a água da nascente.

Algumas pessoas usam a água de formas inusitadas, como para curar doenças. Se acham que fun-ciona, voltam sempre para pegar água, mesmo que morem em Ita-nhaém ou Peruíbe. “Também tem gente que usa a água para colocar no carro. E pessoas que põem no aquário”, conta Enéas.

O lençol de onde a água para a bica é bombeada fi ca sob o Centro de São Vicente e é cercado por ro-chas a 300 metros da água salgada.

FOTOS: GIULIANO GUERREIRO

ARMAZENAMENTO ainda é problema nas distribuidoras

Em Santos, são 20 fi scais para cerca de 6 mil estabelecimentos.

Maurício Nunes

Page 7: Entrevista - Março 2010

ENTREVISTA

MARÇO DE 2010EDUCAÇÃOEDIÇÃO: CAROLINA GUTIERREZ PRADO

DIAGRAMAÇÃO: EDUARDO FERNANDES 7

BULLYING : Causa medo e apreensão nas crianças, mas também está presente no cotidiano de alguns jovens e adultos

Ele se encontra em todo lugar: BRUNA ROMÃO

O bullying é um tema polê-mico e atual, mas ainda há pessoas que não sabem

sobre o que se trata. É uma violên-cia psicológica ou física, repetida em um sujeito que não tem como se defender. Esse comportamento é crítico principalmente nas escolas, pois constantemente alguém está passando por isso, a qualquer hora e em qualquer lugar. A explicação vai além, com o estudo do compor-tamento. “É uma mudança cultural, de identidade do ser humano. As coisas se transformam e ninguém vê o que está acontecendo”, afi rma a pedagoga Sandra Bezerra.

Uma palavra que define o bullying é “valentão”, onde existe o líder que age contra a vítima pois não se pode encontrar em uma situação de

risco. “Não pode haver uma pessoa melhor que ele. Isso também pode ser levado para a fase adulta. Hoje em dia temos o bullying adulto”, explica.

Há o alerta para que os pais percebam alguns sinais caracte-rísticos de quem está sofrendo bullying. Sandra Bezerra ressalta alguns motivos: “Não querer ir para a escola, passar mal na hora de ir ao colégio, ter rendimento baixo. Os pais têm de ir à escola e avisar. Devem fazer orientação e super-visão do que está acontecendo. Dependendo do grau a criança terá de ser encaminhada ao psicólogo”.

As atitudes agressivas acon-tecem com frequência no fi nal do Ensino Fundamental, no 4º ou 5º ano, quando a criança está com 9 ou 10 anos. O comportamento co-mum de quem provoca o bullying é danifi car objetos pessoais e roupas

também, fazer insultos, agressão física e, hoje em dia, com a revo-lução da tecnologia, há também o Cyberbullying, onde é feita a manipulação da imagem detur-pando o contexto.

A psicóloga Nádia Ibrahim afi rma que o bullying independe de classe social, porque sempre

há algum aspecto na vítima que desencadeia a atitude de quem está causando o transtorno. “Os pais e a escola têm a responsabilidade de educar a criança. A mídia também tem uma certa obrigação, é um elemento muito importante nesse aspecto, pois muitas vezes tudo aquilo que é visto é reproduzido.”

Há uma necessidade de agre-dir, que é da sociedade. “É aquela ideia de que quando você inferio-riza o outro, você ganha valor. O prazer de desprezar o outro cresce com a noção do não, da sensação do proibido”, acredita Nádia.

Apesar de ser desagradável para quem o sofre, o bullying pode também ser ruim para quem o pratica. “A pessoa que está provocando quer se evidenciar perante os outros, mas o faz negativa-mente, em algum momento da vida vai acabar sendo penalizado,” afi rma.

A educação pode fazer a dife-rença. Nádia lembra que na escola, o professor tem de mostrar um modelo de convivência pacífica, sendo cauteloso também na maneira como age e mostrar o quanto é importante o respeito com o outro. A qualidade na educação também é importante. “Os pais devem sempre prestar atenção nas necessidades da criança, tem de haver um diálogo. Observar e ensinar as regras ade-quadas de convivência social, os valores sociais são importantes.”

Esse comportamento dificil-mente vai acabar, pois é provocado pelos instintos. “A atitude é gerada pela agressividade, pela raiva, que todos nós temos, uma vez que somos animais. Se há o bullying, é porque alguém valoriza isso, a pessoa que o realiza de repente tem mais proble-mas que a própria vítima”, conclui.

Presença familiar é determinante: ENEILSON SILVA

Estudo realizado pela Associa-ção Brasileira de Proteção à Infância e à Adolescência (Abrapia), entre 2002 e 2003, indicou que 40,5% das crianças e adolescentes pesqui-sados já haviam se envolvido com o bullying. Análises feitas por diversas associações em vários países consta-taram que grande parte dos alunos praticantes do ato torna-se adultos viciados em álcool, drogas ou algum tipo de marginalização.

Apesar de mais frequente na fase da pré-adolescência, o bullying pode mani-festar-se já a partir dos três anos de ida-de, segundo dados da Abrapia. É quan-do começam a apare-cer as características mais marcantes que a criança desenvolve e que pode fazer dela uma vítima. Sofrendo com agres-sões psicológicas e, muitas vezes, físicas, elas se tornam retraídas, desinteressadas e se isolam.

A coordenadora do curso de Pedagogia da Universidade Católica de Santos (UniSantos), a educadora Marly Saba Moreira, avalia o perfi l do agressor. Para ela, o praticante do bullying é uma pes-soa que não teve acesso ao carinho

da família ou é agredido dentro do próprio lar, retransmitindo isso na sociedade, pois o maior problema, geralmente, está em casa. “A edu-cação está longe de dar conta, pois se aprende pelo exemplo e não é isso o que se vê”, indigna-se a co-ordenadora. Ainda assim, somente pela educação aliada à psicologia é possível sanar o mal que se tornou

um reflexo da sociedade atual, cheia de violência.

Na educação trabalha-se com valores que podem mudar o compor-tamento. E é justamente o que pode fazer com que o agressor modifi que sua maneira de agir, passando até a enxergar no agredido um parceiro e o agredido, por sua vez, mude a for-ma de enfrentar a situação. A vítima de bullying tem grande difi culdade

em encarar a opressão, fi cando na condição que a ela é imposta, sem um poder de reação.

Tudo, porém, depende da ação em conjunto entre escola, educadores e família. Os pais, ao saberem que o fi lho é agredido, fí-sica ou psicologicamente, em sua maioria aconselham a revidação, gerando mais violência e fazendo

com que o proble-ma atinja proporções ainda maiores.

PEDAGOGIA - A carga horária do es-tágio no curso de Pe-dagogia é bem ampla. Na sua realização, pela observação, caso exista o problema, ele aparece. Os relatos ocorrem em sala e, então, pode-se notá-lo. Educadores aprendem a analisar, pela convi-vência, as atitudes que um aluno apresenta e as características de

sua conduta escolar e pessoal.Para Marly, um currículo

mais voltado para a área de Huma-nas poderia ajudar na solução do incômodo, com trabalhos voltados para a melhora da autoestima e a partilha entre as crianças. A pedagoga afi rma que a educação é o que resta de esperança para a modifi cação de uma sociedade e para a transformação das pessoas.

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POLÊMICO e desconhecido, o Bullying é uma ameaça invisível presente na sociedade que corrompe, pouco a pouco, a dignidade do homem

EDUCADORA acredita que o problema começa em casa

de aula. Há também um trabalho com as crianças de dez anos que são promovidos para o quinto ano e são preparadas para evitar casos de bullying cometidos por “estudantes mais velhos”. Outra questão são as crianças envergonhadas. “Ge-ralmente, as crianças tímidas não sabem se defender e são alvo de algum constrangimento”.

OBJETIVO - Na escola par-ticular, Objetivo, existe um Centro de Orientação Psico Pedagógico (COP) formado pelo orientador vocacional, psicólogo e coorde-nador. A orientadora vocacional Regiane Piacentini explica que há um trabalho preventivo realizado no começo do ano. “Realizamos um trabalho coletivo que vai do ensino infantil até o médio, dentro da sala de aula onde conversamos com os alunos sobre o bullying. Os alunos lêem textos e redigem redação sobre o assunto”.

Quando algum professor per-cebe a ocorrência dentro da classe, as crianças são encaminhadas para o COP onde recebem orientação. Não só os alunos a recebem como os pais também. “É importante um trabalho forte em cima deste assunto, pois o bullying é uma prática que acarreta não só na vida escolar do aluno, mas, também na vida pessoal”, fi naliza Regiane.

Trabalho preventivo auxilia crianças em sala de aula

: GABRIELLA MOURA

Inevitavelmente, o bullying está presente nas escolas da Baixada Santista, mesmo que ocorra de forma camufl ada, os professores, coordenadores e diretores de escolas percebem a ocorrência desse fato e isso faz com que as instituições de ensino se preparem para este assunto com um trabalho preventivo.

Coordenadora da Escola Estadual Dra Ruth Cardoso, em São Vicente, Cibele Schmidtke Silva conta que a instituição prepara atividades preventivas para que não ocorra o bullying entre os alunos. A escola possui um programa cha-mado Semana Diferenciada onde o foco é abordar que todos os tipos de pessoas são diferentes. Na escola haviam alunos que tinham proble-mas de socialização. O trabalho para a adaptação na escola deu certo, pois todos estão mais interagidos com os amigos, com as atividades escolares e o rendimento na escola tem melhorado.

Na rede municipal de ensino, no colégio de São Vicente, Matteo Bei, a assistente da diretoria, Edna Alves de Andrade, diz que há um programa de conscientização con-tra o bullying. Todo ano a Ong Ca-mará realiza palestras e discussões sobre o constrangimento em sala

É aquela ideia de que quando você inferioriza o outro, você ganha valor.

Nádia Ibrahim

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Page 8: Entrevista - Março 2010

ENTREVISTA MARÇO DE 2010 TRABALHO EDIÇÃO: DIEGO C. DIEGUES

DIAGRAMAÇÃO: NATHÁLIA GERALDO8

EMPREGO: Setor imobiliário aumenta o número de vagas na Baixada Santista, mas falta mão-de-obra qualifi cada

Construção civil nas alturas: NATHÁLIA ALCANTARA

A construção civil está a todo vapor na Baixada Santista. Isso signifi ca geração de empregos,

mas também revela carências. Os indicadores dessa realidade são con-clusivos: desde o início do ano, foram ofertadas mais de 9 mil vagas e 3 mil não foram preenchidas. Apesar de o setor empregar 50 mil profi ssionais, os especialistas explicam que falta mão-de-obra qualifi cada para o traba-lho braçal. Por outro lado, segmentos como o da corretagem de imóveis estão em pleno aquecimento com os resultados desse impacto.

O setor não se resume somente à construção imobiliária, mas às obras de infra-estrutura e área portuária. Segun-do os especialistas entrevistados, ainda levará um tempo até que o crescimento estacione. De acordo com o Emprega São Paulo, do Governo do Estado, ainda existem vagas remanescentes e postos desocupados devido à falta de profi ssionais. Segundo levantamento feito a pedido do ENTREVISTA, o Emprega São Paulo é responsável pela oferta de 5.585 das oportunidades na região. Foi constatado que dos 10 cargos que mais somam vagas, quatro são da construção civil, mas na relação das 20 ocupações que mais recrutaram de janeiro a março deste ano, mesmo com oito cargos pertencentes ao setor, houve apenas 4.394 contratações.

Atualmente, há 78 funções dis-tintas no setor da construção civil. E, com o crescimento na área, surgiu um leque de novas opções de empre-go dentro do setor. Destacam-se os cargos de operador de grua e técnico de meio ambiente, como afi rma o presidente do Sindicato dos Trabalha-dores na Construção Civil, Geraldino Cruz Nascimento. “Para grandes empreendimentos, surge o operador de grua, fi gura que teve origem para realizar trabalhos nas alturas, como

pontes e prédios muito altos, em um tempo muito menor. Hoje, é preciso bem menos esforço para trabalhar em uma grande obra. O técnico em meio ambiente é outra função que vem sen-do bastante procurada. A preocupação com o meio ambiente aumentou.”

O setor, que sofre com uma defasagem e ainda recebe pouca atenção e interesse diante de outras áreas, tornou-se uma alternativa para

os que pretendem ganhar dinheiro. Os salários médios dos cargos ofer-tados, por exemplo, variam hoje entre R$ 1.500,00 e R$ 2.500,00, diferentemente do que era pago há alguns anos, quando difi cilmente ultrapassava um salário mínimo. “Hoje em dia é difícil encontrar alguém que queira trabalhar como pedreiro. Exige muito esforço e as pessoas ainda pensam que é uma

profi ssão que paga pouco e não exi-ge qualifi cação ou conhecimentos.”

Os aparelhos pesados e ar-riscados foram substituídos por máquinas leves, seguras, modernas e pouco vulneráveis. E, apesar das facilidades para se construir hoje em dia, o setor exige especialização e conhecimentos em informática dos profi ssionais que têm interesse na área, o que reduz ainda mais o número de contratados.

O corretor Ronaldo Brito, da Real Consultoria Imobiliária, trabalhava com vendas de auto-móveis e há dois anos ingressou nesse ramo. Afi rma que, após um começo difícil na nova profi ssão, conseguiu aumentar sua ren-da mensal em 60% atualmente. Tornaram-se comuns situações como essa, enquanto esse mercado estiver em alta e se o profi ssional tiver desenvoltura com vendas e público, a carreira é excelente.

Para torna-se corretor é obri-gatório Ensino Médio completo. São exigidos cursos técnico em transações imobiliárias com dura-ção de um ano, e conhecimentos em informática fi nanceira e direito imobiliário. Após a aprovação na avaliação do CRECI, o candidato recebe o cartão de regularidade profissional. O órgão fiscaliza a procedência dos corretores, o cum-primento do código da profi ssão, quem comete irregularidades pode ser penalizado com multa ou até responder criminalmente.

HUGO HUMBERTO

Para o especialista em econo-mia, Hélio Hallite, a Baixada San-tista caminha na direção contrária do resto do País, ao traçar novas perspectivas e oportunidades de mercado aos profi ssionais que es-tão se especializando. “As outras regiões encontram-se estagnadas, o que acaba sendo ótimo para a Baixada porque nos tornamos re-ferência nos ramos da construção civil e também no imobiliário. Podemos dizer que a nossa região é a das oportunidades e dos novos investimentos.”

Segundo ele, Santos tornou-se um bom lugar para investimentos devido à chance de se viver com qualidade. “O grande boom já aconteceu e algumas unidades estão sem vender ou diminuíram a sua demanda em comparação há al-guns meses. No entanto, apesar de ser mais difícil de vender imóveis, existe continuidade nesse processo aqui na região. O consumidor fi cou mais exigente por conta do número incontável de apartamentos à venda e ain da assim existe mercado.” Com as novas expectativas da mi-

: VERENA AMARAL

O chamado boom imobiliário incrementou a atividade de corre-tor de imóveis na região. Em ju-nho de 2009, por exemplo, foram cadastrados 526 casos na Baixada. Essa efervescência comercial se deve em parte às promessas futu-ras do pré-sal na bacia de Santos. Aos poucos, a Petrobras traz seus funcionários, que se mudam com as famílias. Outros fatores de in-centivo são o crescimento do Porto e a capacidade turística cada vez maior da Cidade.

O impacto nos preços dos imóveis foi inevitável. O metro quadrado em bairros mais nobres de Santos custava, há um ano e meio, R$ 3.400,00 em média, e hoje, nos lançamentos não é cobrado menos de R$ 4.700,00. As maiores partes dos clientes são jovens famílias, que buscam três dormitórios com suíte e uma extensa área de lazer. E isso atraiu novatos ao mercado da corretagem.

Mercado imobiliário em alta atrai novos corretores

Baixada Santista na contramãocipalmente em novas tecnologias, pode ser encontrada sem ir muito longe. “Para quem quer aprender e se preparar para o mercado, a Bai-xada coloca à disposição cursos e forma bons profi ssionais. Aqui, há muitas chances para a educação. Seguramente, a área da construção será um setor importante daqui a alguns anos.”

Hallite alerta para um empre-endimento de grande impacto, que confi rma as perspectivas positivas para a construção civil durante mais alguns anos. “A ponte que será construída entre Santos e Guarujá está para acontecer e virá para estreitar as relações entre as duas cidades. Geografi camente, existe uma limitação. Com a realização do projeto, muitas e novas vagas vão surgir, chegando ao número de três mil. Quem trabalha na Baixada reclama do padrão de renda e dos salários, que são considerados baixos, mas sinto que há cada vez mais uma procura por gente qualificada. E, sem dúvida, as oportunidades estão aqui.” (NA)

gração de empresas para a Baixada e as novidades relacionadas ao por-to, tudo indica que o mercado na Baixada será ampliado e ofertará ainda mais empregos. “O grande problema enfrentado atualmente é que, por falta ou baixa qualifi -

cação dos profi ssionais da própria região, como para a área de logís-tica portuária, por exemplo, existe um interesse por profi ssionais de outras localidades.”

Longe da crise que afetou a economia global nos últimos dois anos, o setor da construção civil continua crescendo e a especializa-ção nas mais diversas áreas, prin-

PRÉDIOS mais altos exigem operários especializados

PROBLEMAS - Com a mu-dança nas exigências do mercado, os transtornos passaram a se refl etir nas agências de recrutamento, que sofrem para completar a demanda com pessoas que possuam conhe-cimentos específi cos, cursos ou ex-periência na função em que deseja atuar. Em análise do mercado da Baixada, tem muita gente que pro-cura emprego desesperadamente, mas não é qualifi cado o sufi ciente para as exigências.

“Estamos com um sério proble-ma, e não tem sido fácil contorná-lo. É difícil trocar alguém que já está empregado por alguém que não tem o menor conhecimento na área. Poucos dos que estão desempregados são atualizados para buscar o primeiro emprego ou retornar à ativa”, desabafa

a coordenadora de recrutamento e sele-ção, Nadir Paes, que atua em empresa de Recursos Humanos.

De acordo com a recrutadora, a falta de profi ssionais adequados ao mercado pode ser consequência da desvalorização de atividades que exigem mão-de-obra. Empregos que atingiram seu auge na fase de urbanização e crescimento das grandes cidades perderam espaço para outros setores. “Aqui, nós percebemos que a construção civil se destaca no número de vagas. Mais uma vez o mercado mudou e há emprego em todas as funções ofertadas dentro desse setor.”

O mesmo problema é vivido nos oito Postos de Atendimento ao Trabalhador (PATs) da Baixada Santista. A diretora regional dos PATs, Adelaide Berwerth Machado afi rma que não está fácil encontrar pedreiros, carpinteiros e eletricistas, por exemplo. Há mais vagas do que candidatos. Os que tinham estão todos no mercado e as pessoas que não têm qualifi cação fi cam de fora, à margem, no entanto, ela vê uma luz no fi m do túnel. Por perceberem uma mudança no mercado de trabalho, mesmo que com atraso, as pessoas voltaram a estudar para conquistar uma vaga, salários melhores e acom-panhar a corrida por uma oportuni-dade dentro de um mercado que se destaca diante dos demais.

Para atualizar e qualifi car os profi ssionais que não têm condições fi nanceiras de estudar, o Ministé-rio do Trabalho criou o Programa Nacional de Qualifi cação (PNQ), que trabalha com diversos setores e também com benefi ciários do Bolsa Família. No setor da construção civil, 15 mil trabalhadores já foram qualifi cados desde a criação do pro-jeto, em 2003. O programa ensina desde fazer cálculos até lidar com os engenheiros dentro da obra.

Trabalhador da manutenção de edifi cações - 1.346Servente de obras - 1.334Carpinteiro de obras - 502Pedreiro - 483

Contratações na Construção Civil

Servente de obras - 1.850 Trabalhador da manutenção de edifi cações - 1.775Pedreiro - 1.072Carpinteiro de obras - 888

Vagas ofertadas nos PATs

Dados de jan/março 2010 - fonte: Governo do Estado

A nossa região é a das oportunidades e dos novos investimentos.

““

Page 9: Entrevista - Março 2010

ENTREVISTA MARÇO DE 2010 SINDICAL EDIÇÃO: CIDINHA SANTOS

DIAGRAMAÇÃO: MARYANA ROEDEL 9

CONDIÇÕES DE TRABALHO : Aumento de construções traz preocupação em relação à segurança dos trabalhadores

Grandes obras, mais acidentesFOTOS: LUIZA GONÇALVES

: GUILHERME JUSTO

As prefeituras da região da Baixada Santista expediram cerca de 10 mil alvarás para a construção civil no ano de 2009. Para que essas obras funcionem de maneira correta é necessário que os empregados trabalhem com todos os itens de segurança, porém, não é isso que ocorre.

Dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) mostram que no ano passado, cerca de 400 obras receberam ações fi scais, e todas estavam em situação irregular. A gerente regional do trabalho e emprego, Rosângela Mendes Ribeiro Sil-va, explica que o MTE, órgão responsável pelas inspeções nas

obras na Baixada Santista, só faz a vistoria caso o Ministério Público ou o próprio trabalhador entre em contato. “É impossível fazer a vistoria em todas as obras que são aprovadas”, diz.

A falta de equipamento de segurança para os operários que trabalham em andaimes é um das maiores infrações. “O cinto de segurança deve estar fixado em local seguro e separado do andai-me, muitos acidentes acontecem porque os operários prendem o cinto no próprio andaime”, diz Rosângela.

A gerente regional diz ain-da que acidentes decorrentes da eletricidade e o manuseio errado de máquinas e equipamentos são outros fatores que contribuem para que acidentes aconteçam. Segundo

Legislação garante segurança aos operários

ACIDENTES no trabalho acontecem porque nem todas as normas de segurança são cumpridas

: MARIANA PEREIRA

As grandes construções sejam elas no ramo co-mercial ou residencial,

em Santos, crescem cada vez mais rápido em dois sentidos: na altura e na quantidade. Além da grande oferta de apartamentos e escritórios, outro fator que preo-cupa, e muito, é a segurança dos trabalhadores. O presidente do sindicado dos Trabalhadores na Construção Civil, Montagem e Manutenção Industrial, Geraldino Cruz Nascimento, diz que não é possível citar com exatidão o número de acidentes nas obras, mas, segundo ele, “nos últimos 12 anos já morreram mais de 150 pessoas” nas áreas do Porto, nas construções prediais e também durante o trajeto até a obra.

Para o técnico de segurança do trabalho do Sindicato das cons-trutoras – Sinduscon – em Santos, Waldir Ferreira Santana, o número de acidentes registrados só não é objetivo porque, muitas vezes, não é feita a CAT, Comunicação de Acidente no Trabalho. “Têm acidentes que são registrados e têm acidentes simples, que não é feita a comunicação, pois não chega a ser grave”.

O mestre de obras é o pro-fi ssional responsável pela fi scali-zação das condições de trabalho e segurança dos operários. “Se o equipamento de proteção não es-tiver de acordo, ele pode interditar a obra, nem que seja momentane-amente, até que aquela situação de risco seja resolvida”. E, se os trabalhadores se recusarem a usar os equipamentos indicados, as punições vão de advertências verbais, por escrito, suspensão e até mesmo desligamento por justa causa.

Para os contratantes, a lei é ainda mais rígida. Se for com-provado que o acidente ocorreu por falta de condições seguras de

trabalho, a construtora é multada. “Agora têm leis do Ministério do Trabalho, então as empresas têm que se enquadrar. É obrigatório fa-zer exame médico, por exemplo”, afi rma Nascimento.

Para amenizar a situação dos trabalhadores, o Sinduscon realiza diversas programações com os operários e suas famílias. Santana diz que as empresas pe-

ela, as máquinas se modernizam, mas as empresas não treinam os funcionários para que eles saibam como operá-las.

A Norma Regulamentadora

(NR) 18, que trata das Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção, prevê punição para os casos, com a multa chegando a 6.400 reais. Na

reincidência da punição o valor da multa dobra.

A segurança do trabalha-dor está amplamente atendida na legislação. Nos locais de trabalho com menos de 100 empregados, o patrão indica um representante que será res-ponsável pelo cumprimento das normas. Naqueles com número superior a 100 será eleita a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA), conforme NR 5, com representantes do empregado e do empregador.

Os componentes da CIPA são eleitos por votação direta dos funcionários da empresa. Assim que eleitos os emprega-dos têm garantia de emprego por dois anos. Os membros dessas comissões são treinados para as funções e tem garantia de lei para paralisar qualquer tipo de trabalho que coloque em risco a vida de qualquer pessoa presente no local do trabalho.

10mortes por ano

acontecem na

Construção Civil

CIPAComissão Interna de

Prevenção de Acidentes é o caminho para a segurança no

trabalho

dem que o sindicato vá até a obra e realize palestras de conscienti-zação. “Existem treinamentos de segurança, informações sobre o uso de equipamentos de proteção, saúde e higiene nas construções. São várias propostas de trabalho que existem para melhorar todo o aspecto de entendimento dos operários e, com isso, evitar mais acidentes”.

OBRAS irregulares resultam em multas às empresas

Page 10: Entrevista - Março 2010

ENTREVISTA MARÇO DE 2010 PORTO EDIÇÃO: ROSELI NASCIMENTO

DIAGRAMAÇÃO: FERNANDA HADDAD10

PLANEJAMENTO : Apesar dos problemas diários, obras na Avenida Perimetral prosseguem mais três anos, no mínimo

Tráfego: caos segueaté 2013

Modernização ameaça mercadorias

: SÉRGIO OLIVEIRA

Transtorno, atraso e descon-forto. Estes são aspectos que se referem ao trânsito

portuário de Santos. Quem passa ali diariamente, de carro ou de ônibus, sofre os efeitos do conges-tionamento cau sado pelo excesso de caminhões nas vi as. Soma-se a isso o tráfego de trens de carga, que transitam em horários des-conhecidos pela população, que é pega de surpresa e obrigada a esperar. Mas é possível que o tráfego no Porto de Santos ganhe uma nova cara até 2013.

A previsão é que, em três anos, estejam concluídas as obras de melhoria na Avenida Perimetral da Margem Direita portuária, in-cluindo a construção de viadutos e de um mergulhão (ver infográfi co). A Perimetral deverá atender melhor à de manda de movimentação de cargas e, aos poucos, propiciar maior fl uidez ao trânsito no Porto.

De acordo com o secretário de Assuntos Portuários e Marítimos da Cidade, Sérgio Aquino, a Pre-feitura de Santos elaborou um novo projeto conceitual viário do Porto e o enviou ao Governo do Estado. “Este projeto envolve a transfor-mação das marginais que existem hoje na via Anchieta (na altura do CT Meninos da Vila) em um ‘sis-tema binário’, ou seja, a Avenida Bandeirantes teria trânsito só na direção de São Paulo, enquanto a Marginal Sul viria só no sentido Santos”, explica o secretário.

Parte do tráfego pesado de caminhões ainda ocupa a malha urbana do Centro da Cidade, fato que a Companhia de Engenharia de Tráfego(CET) procura impedir que aconteça, em defesa do patrimônio histórico do local. “Nós temos que direcionar esse trânsito para o elevado da Alemoa, para que ele venha pela Perimetral. Este é um trabalho de fi scalização que a CET vem fazendo”, defende o Secre-

tário de Planejamento de Santos, Bechara Abdalla Pestana Neves.

O aprofundamento do canal de navegação do Porto, iniciado no fi nal de fevereiro, foi um fator de aceleração nas obras da Perimetral, o que vem causando problemas ao trânsito nesta região.

Ao término da dragagem, o terminal santista terá capacidade de receber navios de até 9 milhões de TEUs (medida equivalente à capa-cidade de um contêiner de 20 pés), três vezes maior que os atuais. Isso pode resultar em um aumento de até 30% da capacidade operacio-nal, segundo a Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp),

responsável pela administração do Porto. Essa obra faz parte de um projeto de expansão portuária que deve ser concluído até 2024, prevendo, em um cenário otimista, um cres cimento de cerca de 180% na mo vimentação de cargas, fator que vai in tensifi car o trânsito ferro-viário e de caminhões nesta área no decorrer dos próximos anos.

“As principais obras na Pe-rimetral da Margem Direita são os chamados ‘Trecho 1’ e ‘Trecho 4’ (ver infográfi co)”, explicou o secretário Aquino. O primeiro está orçado em cerca de R$ 600 milhões e o segundo, em R$ 100 milhões. O “Trecho 1” é considerado por ele o

pior “gargalo”, por ser o encontro de vias de intenso fl uxo: Avenida Nossa Senhora de Fátima, Rodovia Anchieta e Avenida Bandeirantes, envolvendo tráfego pesado e de veículos de passeio.

A obra mais necessária (e mais cara) subdivide o “Trecho 1” em “1A” e “1B” (ver infográfi co). Se-gundo Aquino, o acerto de detalhes do primeiro depende da defi nição sobre o tipo de ligação seca (ponte ou túnel) entre a região do Saboó e da Ilha Barnabé. O “Trecho 1B”, de acordo com o secretário de Plane-jamento, já teve as obras liberadas pela Secretaria Especial de Portos, e está sendo licitado pela Codesp.

: MARIANE ROSSI

Após o término da dragagem no Porto de Santos em 2011, a circulação de caminhões que chega até 5 mil hoje em dia, deve aumen-tar assim como o movimento de cargas de navios que irão compor-tar contêiners maiores. Em conse-qüência disso, mercadorias mais valiosas transitarão no cais e nas rodovias de acesso, estando mais suscetíveis a roubos que, segundo o delegado, Marcelo Gonçalves da Silva, devem aumentar.

Dados do Sindicato das Em-presas de Transporte Comercial de Carga no Litoral Paulista (Sin-disan) indicam um aumento de roubos de cargas de 2008 para 2009

de mais de 20% em todo o Estado de São Paulo e, o litoral paulista seguiu essa tendência. Registra-se uma concentração nas áreas urba-nas e há uma disposição crescente de roubo nas rodovias. As cidades da região respondiam por 0,99% das ocorrências registradas em 2008, que no ano seguinte passa-ram para 1,36%.

O presidente do Sindisan, Mar-celo Marques da Rocha, explica que o aumento de roubos deve-se à crise econômica que atingiu os im-portadores e exportadores, gerando demissões e ocasionando seqüestros.

Os que praticam esses cri-mes estão envolvidos no processo portuário, são funcionários que têm acesso às cargas quando estão

chegando ao porto. “O criminoso é aquele que passa a informação”,

diz Silva, delegado especialista em investigações de roubo de cargas. Ele aponta estes como os piores,

pois são os ladrões inteligentes, s que têm informações privilegiadas. O alvo geralmente são contêiners com mercadorias de alto valor, e essa informação toda a quadrilha já possui antes de começar a operação.

A maioria dos presos por co-meter esse tipo de crime já foi solta, mas segundo Silva, não tem perigo de cometerem de novo o mesmo crime porque sabem que estão sendo monitorados pela polícia. Ele diz que, com uma maior circulação de cargas decorrente da dragagem, o número de roubos de carga segue a tendência registrada no ano anterior. “Podem aumentar quanto mais car-gas valiosas chegarem.”

Para evitar que esses crimes fi quem sem controle, Rocha conta

que existe o Comitê de Combate ao Roubo de Carga, que desde 2000, age com um sistema de força-tarefa composto por ações nas cidades e nas rodovias a fi m de diminuir crimes desse tipo.

VIOLÊNCIA - Os primeiros a sofrerem com a violência no cais e nas rodovias de acesso ao porto são os caminhoneiros. Os amigos Ivanderlei Cardoso e Marcus Anto-nio Pereira da Silva confessam que não se sentem seguros na Avenida Mário Covas. “Tem que andar com um olho aberto, outro fechado” diz Cardoso, que todos os dias descarrega mercadoria em Santos. Eles contam que fi cam até 8 ho-ras, madrugada adentro, na fi la da balança dos terminais portuários.

DIVULGAÇÃO: CODESP/MONTAGEM SÉRGIO OLIVEIRA

O TRAÇADO cor-de-rosa representa obra mais recente, inclusive o Viaduto do Paquetá

Podem aumentar quan-to mais cargas valiosas che-garem.

Marcelo da Silva

DIÁRIO DO LITORAL

Page 11: Entrevista - Março 2010

ENTREVISTA -MARÇO DE 2010MEIO AMBIENTE

EDIÇÃO: DIEGO C. DIEGUES

DIAGRAMAÇÃO: ISABELA LIMA 11

VOTURUÁ : Chuvas excessivas colocam em risco a vida das onças Jupira e Ringo, obrigando o manejo dos animais

Casal de felinos de mudança: CÁSSIO FREITAS

BÁRBARA GUIMARÃES

As onças-pintadas Jupira e Ringo são felinos que têm um motivo a mais para não

gostar de água. Elas serão obrigadas a deixar seu lar devido as chuvas de Janeiro e Fevereiro. O casal vive em uma encosta no Parque Ecológico Voturuá (antigo Horto de São Vicen-te), que corre risco de desmoronar. Por lá, o andamento das obras de revitalização também foi prejudica-do e a água acumulada nos tanques favorece o surgimento de larvas do mosquito transmissor da dengue.

Para resolver os problemas causados pelas chuvas, a adminis-tração do Parque tomou medidas como o remanejamento de alguns animais. As onças serão retiradas de seu recinto de 200m² por precaução, pois a lama e as pedras já chegaram bem próximo da jaula que ocupam. Elas vieram de Belém, no Pará, para São Vicente, e terão que fazer outra mudança. O jovem casal, de aproxi-madamente 15 anos, não terá muitos problemas com a mudança, pois serão transferidos para o lugar antes ocupado pelos avestruzes. Segundo a veterinária responsável, Sandra Peres, as aves foram encaminhadas para um criadouro comercial recen-temente, porque essa espécie não é mais considerada silvestre.

Todos os felinos do Horto de São Vicente estão sofrendo situa-ções inconvenientes, inclusive o rei das selvas. No recinto dos cinco le-ões, algumas mudanças estão sendo feitas no bebedouro para evitar que a água fi que parada. As feras precisam fi car quase o dia todo presas nas jaulas para que os trabalhadores exe-cutem a reforma. O ENTREVISTA teve acesso exclusivo ao cárcere das

feras. Aparentemente, os leões e os operários se dão bem, porém nossa equipe constatou mau humor e até hostilidade aos visitantes.

Além dessa obra, a Secretaria de Meio Ambiente da Cidade libe-rou R$ 800 mil para a reforma das outras instalações. De acordo com o administrador do Parque, Ilton Alves dos Santos, o dinheiro será aplicado inclusive na construção de uma praça de alimentação, centro de atendimento ao turista e centro de atendimento veteriná-rio. Também será construída uma nova fachada, já que a antiga está totalmente destruída. As alamedas serão recapeadas e sinalizadas, e o Parque ainda terá um local para educação ambiental.

TRILHAS - A manutenção das trilhas ecológicas também foi interrompida por causa da chuva,

pois as condições de trabalho no Morro não eram seguras. O prazo de entrega da obra foi estendido por mais dois meses.

Essa nova atração faz parte de um projeto de Ecoturismo. Depois de décadas praticamente abandonadas, as trilhas de acesso à antiga pedreira serão reativadas. O manejo será feito pela Secretaria de Turismo e as visitas aos 3km de trilhas da Pedreira, Pico do Urubu e Bicho-Preguiça serão monitoradas por uma empresa terceirizada ain-da não defi nida. Segundo o diretor de planejamento turístico de São Vicente, Júlio Quiroga, ainda não foi decidido se essa atividade será

cobrada aos visitantes. A primeira trilha a ser reativada é a da Pedreira. Nela existe um antigo prédio, que está abandonado e será convertido em um observatório de pássaros.

ZOOLÓGICO – Segundo a bióloga Carla Cerqueira, existem 200 espécies diferentes de animais entre mamíferos, aves e répteis. Em 2001, o Parque entrou com um pedido no Ministério Público para se tornar zoológico, pois desde de

FOTOS: NATHALIE OLIVEIRA

ONÇAS serão transfe-ridas porque encosta

pode desmoronar

2001 já tinha animais em expo-sição. Como a solicitação ainda não foi atendida, o IBAMA não autoriza o recebimento de novos animais (com exceção de bichos-preguiça) e a expansão da área dos viveiros. O Parque Ecológico Voturuá faz parte do calendário turístico da Cidade e recebe em média 5 mil visitantes por mês, e em algumas ocasiões como a Festa do Morango, chega a receber até 50 mil pessoas.

: CINTIA FERREIRA

No dia 27 de março, às 20h30, cerca de 1 bilhão de pes-soas no mundo todo devem apa-gar as luzes de suas residências por uma hora. Trata-se da Hora do Planeta, um movimento de alerta em relação ao aquecimento global, organizada pela ONG ambientalista WWF (World Wide Fund for Nature). A ação não tem como objetivo economi-zar energia, mas conscientizar a sociedade sobre a importância da conservação da biodiversidade, como forma de proteção contra as mudanças climáticas. O Brasil participa pelo segundo ano con-secutivo, mesmo que a ação não tenha apoio popular.

Dos 191 países, sem contar o Vaticano e Taiwan, existentes no mundo, 88 aderiram ao movi-mento no ano passado, cerca de 36%, totalizando 4.088 cidades. No Brasil, 113 cidades participa-ram, incluindo 13 capitais, além

de 1.167 empresas e 527 organiza-ções. Neste ano, 92 países confi r-maram o apoio à Hora do Planeta, quatro a mais que no ao passado. E os patrocinadores brasileiros concordaram em apagar letreiros, fachadas, escritórios e outdoors.

A enquete promovida pelo jornal ENTREVISTA apontou que pelo menos em Santos, a Hora do Planeta não foi popular. Das 40 pessoas entrevistadas, somente 27 pessoas sabiam o que era a Hora do Planeta e apenas três apagaram as luzes no ano passado.

Segundo a WWF, a Hora do Planeta no Brasil não serve como forma de economizar energia, na verdade o ato de apagar as luzes é simbólico. A assessora de co-municação da WWF, Maristela Pessoa explicou, por contato telefônico, que em outros luga-res do mundo como a Europa, por exemplo, serve como forma de economia, pois eles pensam também no benefício econômico.

De fato, a economia de

energia proposta não é muito sig-nifi cativa. De acordo com CPFL Energia, explicou que o evento é um marco, mais para chamar a atenção da população do que para economizar energia. A grande parte das pessoas desliga a ilumi-nação, mas deixa os eletrodomés-

ticos ligados como a geladeira, televisão e computador ligados. Uma lâmpada equivalente a 25 watts (W) representa apenas 10 pilhas pequenas juntas, ou seja, é pouco o que elas produzem. O en-genheiro elétrico Wilson Souza ex-plica que o consumo de energia de uma lâmpada de 25W durante uma hora equivale a 0,025KW/h e vai gerar uma despesa de R$ 0,00738. Assim, uma casa de dois quartos, com cinco lâmpadas de 100W que equivalem a 20 lâmpadas de 25W, o consumo em uma hora será de 0,5KW/h e custará R$ 0,1476.

“A iniciativa da Earth Hour (Hora do Planeta) serve para despertar a atenção da socieda-de em geral sobre os problemas ambientais que estamos viven-do”, comenta o oceanógrafo Marcos Campolim, gestor da APA Marinha Litoral Centro e Parque Estadual Marinho Laje de Santos. Ele acredita ainda que a divulgação dessa ação, por meio da mídia serve como forma de

alertar e informar a população.O Secretário de Meio Am-

biente de Santos, Fábio Nunes, analisa a inicitiva da ação, por meio de um comparativo histó-rico. “Na verdade, o sentimento ambientalista clássico de sacudir o planeta começou antes da Con-ferência Nacional sobre Meio Ambiente, em 1972, na cidade de Estocolmo e esse movimento hoje, serve para sensibilizar a sociedade e dessa forma cobrar posturas so-cioambientais do Estado.” O uso de ferramentas tecnológicas como o twitter só contribui para acelerar o processo desse tipo de iniciativa como a Hora do Planeta, comenta.

O município de Chengdu, na China, foi escolhido para o lançamento da Hora do Planeta 2010 por ser a cidade natal da embaixadora mundial do movi-mento, a ursa panda Mei Lan.

A contagem dos participantes é calculada pelo site da ONG. Para participar da Hora do Planeta aces-se: www.horadoplaneta.org.br.

Uma hora para salvar o planetaUma hora para salvar o planeta

Page 12: Entrevista - Março 2010

ENTREVISTA MARÇO DE 2010 ECONOMIA

EDIÇÃO: CAROLINA GUTIERREZ PRADO

DIAGRAMAÇÃO: MARCELA CLARO

Estamos trabalhando onde nossos clientes estão.

Aretha Mergulhão

““

WEB : Vitrine das novas tendências de roupas que surgem com cada vez com mais força e atrai clientes

Grifes de moda invadem internet

: LUCIANA ARAÚJO

Onde irão parar os impactos que a internet provoca na vida das pessoas a cada

dia? A era da velocidade se atua-liza numa rapidez difícil de acom-panhar. Exemplo é o comércio on-line. Um dia, lojas famosas começaram a vender seus produ-tos, depois pessoas começavam a fazer compras de supermercado via online. Agora, pessoas que nunca sonhariam em ter o seu comércio estão abrindo grifes em rede.

A maioria são jovens que acabam realizando sonhos e exer-citando a criatividade. É o caso do criador da marca carioca Playba-cult (playbacult.blogspot.com), Rafael Ancillotti, que lançou, com uma sócia, a marca de cami-setas por falta de opção de roupas conceituais, diferentes e baratas: “quando comecei a criar minhas próprias estampas, geralmente era parado na rua por alguém pergun-tando onde eu tinha comprado, daí surgiu a ideia de lucrar”.

Comparado ao trabalho de abrir uma loja comum, a loja on line é muito fácil de ser concreti-

fi liados a algum site de compras”, lamenta Ancillotti. As grifes, assim como qualquer compra feita pela internet, só enviam o produto após a confi rmação do pagamento.

É claro que algumas pessoas acabam não comprando por medo de que a loja não cumpra a sua parte. “Mas dá para escolher grifes confi á-veis”, explica Caroline, “é legal pro-curar gente que já comprou na grife, ver se ela é bem estruturada e ter o e-mail do dono para manter contato”.

Deixar claro o que é o produ-to é fundamental para conquistar a confi ança. Boas fotos e um de-sign moderno na página acabam passando credibilidade. “O prin-cipal é você oferecer segurança e transparência para o seu cliente”, ensina Aretha. Ela acredita que colocar muitas fotos do mesmo produto e deixar as formas de pagamento simplifi cadas ajudam na hora da compra.

REPRODUÇÃO: OUIE.COM.BR

CAMISETAS são a opção da grife OUIÉ

Aprenda a administrar o próprio negócio

: FERNANDO CORRÊA

Os sites de comércio eletrô-nico são uma realidade. Porém, se engana quem pensa que é mais fácil montar sua loja na web do que da maneira convencional.

Certificados que garantam uma transação segura e um sistema criptografado (ícone cadeado) para inibir a ação de hackers, transmi-tem a confiabilidade necessária para que um site de compras obte-nha sucesso. Além disso, é aconse-lhável uma consultoria profi ssional a fi m de conhecer o mercado no qual se pretende investir.

O SEBRAE (Serviço Bra-sileiro de Apoio às Micro e Pe-quenas Empresas) é opção para quem precisa de orientação. “A maioria das pessoas abre o pró-prio negócio por não desejarem mais serem empregados”, avalia a professora de Sistema de Infor-mação, Claudia Haddad, que le-ciona no curso de Administração da UniSantos. Ainda, segundo Cláudia, os ex-empregados de-vem estar cientes de que seus futuros clientes vão exigir tanto quanto seus ex-chefes.

Outro fator importante, destacado por Claudia é saber que mesmo fechando o mês no vermelho, não é preciso desani-mar. Com dinheiro em caixa o empresário (a) pode reinvestir, equilibrar as contas e recuperar

ALINE BRANCO

CLAUDIA indica SEBRAE

a saúde fi nanceira da empresa. Uma estratégia vantajosa

e que incrementa as vendas, no início, é vincular-se a um site com mais tempo de mercado e com credibilidade consolidada. Assim, o giro do negócio é mantido, o cliente se sente mais seguro e sem o receio de não receber o produto adquirido.

Seguindo essa receita a probabilidade de êxito aumenta consideravelmente. Essas no-ções são importantes, porque nem sempre disposição e empe-nho garantem o sucesso. “Muitas pessoas se dedicam ao trabalho, mas acabam pecando por não terem discernimento sufi ciente para administrar bem sua em-presa”, fi naliza Claudia.

Dinamismo no comércio on-line: BEATRIZ DIAS

O conforto de casa e preços reduzidos são grandes atrativos para os consumidores da moderni-dade. Vitrines perderam espaço. O e-commerce, comércio eletrônico, está cada vez mais em alta.

Roupas e outros diversos produtos estão sendo cada vez mais comercializados por sites, com pequenos empreendedores que fabricam suas peças e com um click as colocam a disposição do mundo inteiro.

“Além de econo-mizar custos ela retira limites geográfi cos, esti-mulando a concorrência com as lojas da cidade, colaborando para abaixar os preços dos produtos”, diz o Coordenador do curso de Economia da Unisantos, Daniel Va-zquez.

O e-commerce vem obtendo um saldo muito positivo dentro da eco-nomia do País. Segundo a Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico (http://www.ebit.com.br/) houve um cresci-mento de aproximadamente 28% em 2009 relacionado a 2008. De acordo com a ex-comerciante e economista Raquel Francisco, “Isso se deve ao fato do poder aquisitivo das classes mais bai-xas C, D e E ter aumentado. Há uma estimativa que 70% dos bra-sileiros que tenham computador

em casa pertençam essas classes. Eles pesquisam mais os preços. Querem sempre o barato, e a fa-cilidade do pagamento em muitas vezes sem juros atrai ainda mais para essas compras”.

Os preços são mais baixos. A comodidade aumenta. E os empre-gos? De acordo com Daniel isso altera a relação de trabalho. “Acabam eliminando-se alguns empregos, afetando alguns setores profi ssionais, mas outros surgirão como os web

designers e programadores e muitas outras profi ssões relacionadas à in-formática”.

Um dos problemas mais co-muns com vendas pela internet é o de roupas que não possuem seus tamanhos padronizados. “O pro-duto pode gerar uma expectativa que não consegue atender. Prin-

cipalmente para as mulheres, que preferem ver a roupa no corpo para se sentirem mais seguras na hora de pagar o produto, fi cando satisfeitas com o que compraram”, comenta Raquel. Nos Estados Unidos já há essa preocupação de manter as peças em um padrão de tamanho. O Brasil começou a ver necessidade em relação a esse assunto e em al-guns sites já se tem a total descrição da roupa em centímetros para uma maior confi ança na hora de adquirir

o produto. Para abrir uma loja virtu-

al é consideravelmente fácil. Mas não se iluda pensando que é barato. “Para um pro-gramador onde você hospeda seu site, os preços em média são em R$15 mil. Ainda há de se preocupar com a divulga-ção em mídia eletrônica, que fi ca mais ou menos por esse mesmo preço. Já uma loja em um shopping da cidade, você não consegue nenhum ponto a menos de R$ 30 mil, sem contar o aluguel do estabe-lecimento”, compara Daniel.

A perspectiva para o ano de 2010 é que o crescimento seja em torno de 25%, de acordo com o E-bit, devido ao

crescimento do poder aquisitivo das classes mais baixas.

“A economia geral do país no ano passado, em meio a uma crise econômica, cresceu em 1% e já foi considerada boa. Um comércio que cresce cerca de 25% mostra dina-mismo e tende somente a crescer”, afi rma Daniel.

BEATRIZ DIAS

ECONOMISTA explica o e-commerce

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zada. As divulgações podem ser feitas pelo Orkut, Flikr, My Space, Twitter, ou de forma mais trabalha-da, com páginas personalizadas, pelo Fotolog ou Blog.

Já a criação das peças não é tão simples assim. Ancillotti acre-dita que a criação é a parte mais difícil do empreendimento, porque

a ideia precisa ser completamente trabalhada, se não a aceitação é ruim. Ele conta que desde de-zembro criou 25 estampas, mas somente cinco tiveram condições de sair para o mercado.

Camiseta também foi a op-ção da grife OUIÉ (ouie.com.br), de São Vicente. Uma das sócias,

Aretha Mergulhão, chegou a dei-xar a marca estagnada por quase um ano por falta de tempo para a criação. “Estávamos nos forman-do em Publicidade e não dava para fazer as duas coisas”.

Hoje, todos os sócios da OUIÉ são publicitários e todos têm empregos paralelos à grife. Aretha explica que ainda não dá para so-breviver só da loja on-line. “O mo-delo de negócios que escolhemos tem um prazo de retorno médio de dois anos. Ate lá, tudo que entra na empresa paga os custos e serve de investimentos para as próximas estampas”, mas pretende, um dia, viver apenas da grife.

A mesma coisa acontece com a Playbacult. Ancillotti cursa Psi-cologia e sua sócia História, além dos dois também trabalharem em outras áreas. Ele conta que pelo menos uma vez em cada período do dia dá uma parada para checar os e-mails ou mexer em uma futura estampa, “mas quando vou à rua parece ser o momento onde mais estou investido, procurando novos modelos de camisa, novos tecidos, reduzindo custos e procurando parcerias em lojas fi xas”.

Sim, apesar da internet ser um meio vantajoso para os negócios, esses empresários internautas têm vontade de montarem loja nas ruas. As grifes on-line de pequenos empresários, em geral, têm esti-lo próprio e original, atingindo um grupo específi co de pessoas ligadas em tendências, pois eles querem encontrar o que não costu-mam ver nas ruas. Aretha explica que o público alvo é muito pre-sente em redes sociais da internet, por isso é tão vantajoso, “ou seja, estamos trabalhando onde nossos clientes estão.”

DIFICULDADE - Ter uma grife on-line permite a venda para qualquer lugar do mundo, e isso realmente acontece, mas antes de vender é preciso conquistar clientes, uma tarefa complexa. ”É realmente difícil vender pela inter-net, ainda mais que não estamos

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ENTREVISTA

MARÇO DE 2010PERSONAGEMEDIÇÃO: CAROLINA GUTIERREZ PRADO

DIAGRAMAÇÃO: EDUARDO FERNANDES 13

MEDINA : Em conversa com o ENTREVISTA, o novo reitor da Universidade falou sobre mensalidade, projetos e mudanças

Novos caminhos para a UniSantos

Jornal ENTREVISTA - Exis-te alguma estratégia da Universidade para atender as necessidades da região?

Marcos Medina - O fato de sermos uma universidade fi lantrópica e comunitária, portanto, todo e qual-quer resultado das nossas atividades universitárias revertem em prol da própria instituição. E o fato de ser comunitária, reforça que essas ações desenvolvidas pelo campo do ensino, da pesquisa de extensão comunitária, elas precisam atender as expectativas da região onde a gente se encontra, Baixada Santista, principalmente esse cinturão da ilha de São Vicente, Guarujá, Cubatão e Praia Grande.

Consideramos que temos essa vocação profi ssional, investir em ações em prol da universidade. Há quatro anos, tivemos uma primeira experiência de um programa estra-tégico educacional. A ideia era iden-tifi car de que forma a universidade poderia desenvolver suas atividades habituais e se tornar ainda mais efetiva na região, ai se identifi cou a possibilidade de trabalhar com os eixos estratégicos, reconhecendo os quatro eixos regionais.

Energia, vocês sabem da bacia de petróleo e gás, a Bacia de Santos, não é só a perspectiva econômica, mas os impactos decorrentes das suas atividades para evitar proces-sos similares a outras cidades, como Macaé, para não causar desequilí-brio social e ecológico.

Temos competência instalada muito grande no eixo de meio am-biente. A perspectiva econômica e de emprego, é perspectiva am-biental, social. Temos o eixo por-to, com perspectiva de crescimento enorme em torno das atividades

portuárias. Outro eixo óbvio para nós é o eixo da cidadania, não é só um eixo, também é uma vocação institucional, nós nascemos assim, frequentemente nos enxergamos assim, como universidade cidadã. A UniSantos tem representação em todos os conselhos municipais, que vai desde criança/adolescente até habitação, enfim, os mo-

vimentos sociais, as iniciativas populares se realizam sempre em nosso espaço, são acolhidas aqui.

Nós podemos pensar comunida-de sobre esses dois primas, a grande re-gião em que estamos inseridos, e o nosso compromisso, que é formação dos alunos com consciência social, ambiental, garantia de empregabilidade, e cla-ro, atuação direta no campo social, no confl ito social.

JE - Quais projetos já são atuantes na comunidade?

MM - Temos projetos que são reconhecidos em âmbito nacional, como o Núcleo de Extensão Comu-nitária (NECOM). Um projeto que completou 24 anos e, em 2008, re-

cebeu três prêmios nacionais, um foi de melhor projeto de extensão comunitária entre todas as instituições do país.

O Necom é um nicho, um núcleo, de excelência no trato da extensão comu-nitária, a reitoria pretende

dar continuidade, afi rmando com-promisso em torno do Necom e integração dos projetos dos cursos ainda com essas propostas.

Temos também uma iniciativa popular no bair-ro Sambaiatuba, em São Vicente, a Unisantos em parceria com a Prefeitura ajuda a manter uma co-operativa que trabalha com reciclagem. A ideia surgiu em um curso de 2008/2009 de gestão das políticas públicas.

Além do Necom, te-mos um conjunto de atividades ambulatoriais, ambulatório de Nutrição, Enfermagem, Clínica e Fisioterapia, de Psicologia e de Serviço Social. Todos esses ser-viços são gratuitos e abertos a co-munidade, localizados no Campus Vila Nova. Tem um serviço muito importante também, que é o de Far-mácia Popular. A Prefeitura procu-rou a UniSantos para desenvolver a parceria. Os remédios custam de 90 a 95% menos que na rede comercial. Um outro serviço de utilidade pública também, é o laboratório de análises clínicas, com exames de três a 12 reais no máximo.

Na área do Direito, nós temos

um atendimento gratuito em Santos (Conselheiro Nébias, 589/595) e em São Vicente (Centro). Também há juizado cível anexo ao Dom Idílio.

JE - Há rumores de que o bispo pediu ao Papa para estudar a mudança da Universidade Católica em PUC, é verdade?

MM - Para que uma universi-dade seja PUC, primeiro, ela tem que ser católica, o que já somos. Todas as PUCs, antes, eram universidades católicas. Então, digamos que, essa condição nós temos. O próximo passo é iniciar um processo junto ao Vaticano. Aí mora uma questão própria deles. O bispo esteve lá e levou um anteprojeto e nesta con-sulta, ocorrida há alguns anos, nós ouvimos que naquele momento, não havia interesse em ampliar o número de PUCs no País, dado que aqui e na América Latina se concentravam um grande número. Na visão do Vaticano estamos cer-cados de PUCs.

No entanto, ao que parece, algo mudou na postura deles e Dom Jacyr na posse da reitoria comentou do interesse da Uni-

Santos em reiniciar esse processo. Muito em breve devemos ini-ciar esse projeto, que é

um processo de quali-fi cação das exigências.

JE - Qual o mo-tivo do aumento dos preços da Universidade no último semestre?

MM - Essa é uma questão muito longa, já estivemos aqui conversando com aqueles alunos que fi zeram esta manifestação, foi longa, muito inte-ressante, desconheciam muitas coisas que se passam no ensino superior, foi produtiva e ajudaram a esclarecer.

Nós mostramos que tivemos um período de congelamento, apesar do congelamento, nós tínha-mos uma infl ação, o aumento dos outros preços. Depois viemos num

período de correção de 2008 para 2009 e agora 2009 para 2010, sempre fi cando ao índice abaixo da correção do salário dos professores. O aumento da mensalidade foi na casa de 4,9%, os salários subiram 6% e a infl ação foi de 5,3%. A energia elétrica subiu 18%. Não corrigir não era possível, mas fi zemos todos os esforços para aumentar o mínimo possível, abaixo de todos os nossos cus-tos. A universidade tem feito o possível para que isso pese o menos possível.

Existem alguns desafios, nós somos uma universidade filantrópica, isso significa que

nenhum gestor, coordenador é remu-nerado em função do desempenho. Lucros nós nunca temos, qualquer sobra tem que ser reinvestida Nunca há lucratividade e nada pode alterar o salário das pessoas em questão do desempenho e não há participação nos lucros.

JE - Mas não há desconto nos impostos de Universidades con-veniadas ao PROUNI (Programa Universidade Para Todos)?

MM - Quando uma insti-tuição filantrópica se junta ao PROUNI não agrega nada na re-dução dos impostos, quando uma particular adere, elas deixam de recolher uma série de impostos, mas como somos fi lantrópicas, não mudou em nada essa parte. A questão é que antes do PROUNI, a Unisantos já fazia uma política de bolsas muito grande. Na Uni-santos, a incidência de bolsistas é grande, nós temos por conta disso uma difi culdade adicional criada pela lei do PROUNI.

Portanto, nossos gastos com bolsa aumentaram, enquanto a mensalidade estava congelada. E

continua crescendo, porque a cada ano entram cada vez mais alunos. Ano passado a lei mudou, antes para cada 11 pagantes deveria ter um PROUNI, agora, são nove pagantes. Esses pagantes são qual-quer um que pague algo, mesmo que tenha alguma porcentagem de bolsa. Também tem outras caracte-rísticas do PROUNI em universi-dades fi lantrópicas, todas as bolsas são 100%, nas outras particulares podem ter 50% ou menos.

Ainda não chegamos numa estabilidade, sem contar que pre-cisamos manter nosso padrão para não fecharmos nenhum curso e continuar investindo em professores e na estrutura. Inclusive, uma das reclamações era a exigência de ar condicionado, com todo direito, e a partir deste ano e nos próximos anos vamos investir em mais conforto. Já começamos numa parte desse campus e no campus D. Davi, na Carvalho de Mendonça. A gente entende que alguns alunos ques-tionem, não tem nada de errado nisso, mas estejam certos que tem havido esforço muito grande para haver o mínimo.

Hoje, a nossa missão como universidade fi lantrópica-comuni-tária se tornou mais desafi adora por imposição do governo federal. É um desafi o a sustentabilidade desta instituição.

JE - Essa gestão pretende implantar alguma mudança?

MM - Temos algumas mudan-ças já acontecendo, muitas delas são continuidade da visão que já se tinha.

Houve uma mudança muito importante agora. Na UniSantos, os professores para serem contratados passam por um processo de seleção pública. A nossa visão é que isso ge-rará oxigenação, evita que tenham professores que não sejam sérios. Hoje, para um professor ser contra-tado, ele tem que apresentar diante de uma banca, projetos, titulações acadêmicas, produção científi ca e tem que se mostrar muito qualifi -cado em seu segmento.

Com isso, vamos para um padrão grande e alto no nosso ensino. Antes, era exclusivo na pós-graduação, latu senso, agora foi estendido a graduação também.

Participaram desta reportagem RENATA LIBÉRICA e LUIZ HENRIQUE OCAMPOS

Vamos para um padrão grande e alto no nosso ensino.

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Cidadania não é só um eixo, também é uma vocação institucional.

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Antes do PROUNI, a UniSan-tos já fazia uma política de bolsas muito grande.

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FOTOS DE ALINE BRANCO

Marcos Medina Leite é o novo reitor da Universidade Católica de Santos - UniSantos - para o quadriênio 2010/2013. Com 19 anos, formou-se em Tecnologia de Computação, pelo

Instituto da Aeronáutica. Formado em Administração pela Universi-dade de São Paulo(USP), é mestre em Informática pela UniSantos. Atuou na USP como Coordenador da Seção de Apoio Tecnológico, participou da elaboração do Plano de Reestruturação Tecnológica de Informática da USP (PRTI) e Coordenou a Equipe de Treinamento e Desenvolvimento (ETD). Foi consultor internacional da empresa norte-americana BEA Systems.

É professor da UniSantos desde 1997 e em 2006 assumiu o cargo de pró-reitor administrativo. Marcos Medina tem 41 anos, é casado e pai de dois fi lhos.

Fazem parte da reitoria os professores: Roseane Marques da Graça Lopes (Acadêmica); Mariângela Mendes Lomba Pinho (Administra-tiva); Cláudio José dos Santos (Comunitário); e Cláudio Scherer da Silva (Pastoral).

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ENTREVISTA MARÇO DE 2010 COMUNICAÇÃO EDIÇÃO: DANNY ANDERSON

DIAGRAMAÇÃO: BRUNA MAGALHÃES 14

JORNALISMO : Profi ssionais apontam que a queda do diploma teve pouco efeito sobre as contratações e os salários

GLAUCO BRAGA: profi ssão de jornalista continua regulamentada,com piso salarial

FOTOS: MARIANA MOURA

Impacto nem tão fulminante : FERNANDA PEREIRA DE LORENA

Após quase dez meses da decisão do Supremo Tri-bunal Federal (STF) que

derrubou a obrigatoriedade do diploma de jornalista, ainda não há dados defi nitivos sobre o impacto no número de admissões ou nos salários. Sindicatos e Federação divergem sobre os dados. Núme-ros ofi ciais sobre as contratações com ou sem diploma, em 2009, devem ser divulgados em agosto.

O secretário de Relações Ins-titucionais da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Alcimir Carmo, afi rma que a decisão do STF não impactou o número de contratações, que estaria no pata-mar anterior à queda do diploma.

Ele comenta, ainda, sobre as escolas que extinguiram os cursos de Jornalismo. “Fecharam apenas aquelas que fechariam mesmo, por falta de estrutura”. Ele cita como exemplo positivo a Faculdade Cásper Líbero, em São Paulo. Fundada em 1947 - antes mesmo da regulamentação pro-fi ssional - forma turmas todos os anos e sempre teve um dos cursos de Jornalismo mais conceituados do País.

O diretor da Regional do Sin-dicato dos Jornalistas da Baixada Santista e Vale do Ribeira, Glauco Braga, vê ligação entre alguns movimentos nas principais reda-

ções da região e a decisão do STF. “Após a queda do diploma, A Tri-buna contratou vários estagiários, alguns free-lancers e apenas uma jornalista diplomada para a vaga de uma editora que se aposentou” diz. Porém, jornalistas da própria redação afi rmam que pelo menos cinco profissionais diplomados foram contratados no período.

Glauco lembra. também. que mesmo com a queda do diploma a profi ssão do jornalista continua regulamentada, com piso salarial e carga horária máxima, entre outros direitos.

Ainda segundo ele, a situação dos fotógrafos e diagramadores deve ser normalizada assim que voltar a ser realizada a prova da Comissão de Registro e Fiscali-zação do Exercício Profi ssional – a prova do MTb. A reunião para decidir os registros ocorrerá no fi m de março, em Brasília.

O editor-chefe de A Tribuna, Carlos Conde, defende o diploma, mas tem a opinião de que os jor-nais deveriam abrir exceções para determinados casos. “Um médico pode escrever muito bem sobre doenças e tratamentos. Só pelo fato de não ter diploma deve ser proibido de escrever?”, questiona. Ele afi rma que A Tribuna também continua defendendo o diploma. Sobre a política de contratações do jornal, diz que esse é um as-sunto interno.

Liberação de MTb vira ‘novela’A decisão do

Supremo Tribunal Federal, de sus-pender a exigência da formação aca-dêmica para exer-cício da profi ssão de jornalista, em junho do ano pas-sado, trouxe mui-tas dúvidas quan-to ao registro dos profissionais no Ministério do Tra-balho e Emprego.

Antes, para tra-balhar legalmente, o jornalista deveria ter o MTb - regis-tro na carteira de trabalho que com-prova a autentici-dade da formação na área.

Com a queda do diploma, o Mi-nistério do Trabalho passou a emitir o registro para jornalistas sem graduação, sem exigir qual-quer documento que comprovasse o trabalho em veículo ou empresa de comunicação. A única dife-rença é que os formados eram identificados como “Jornalistas Profissionais”, e os demais, como “Jornalistas”.

Essa medida foi muito criti-cada por entidades e profi ssionais da área. A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) divulgou em seu site que, apesar de o STF ter

: RACHEL MUNHOZ

Um dos principais fatores negativos da não-exigência do diploma para o exercício da pro-fi ssão de jornalista é que podem surgir condições desfavoráveis de trabalho, com a desculpa de que a empresa tem como contra-tar pessoas sem especialização, às vezes por menor remuneração. Para não fi car fora do mercado de trabalho, há jornalistas que aceitam condições consideradas precárias.

Ivan De Estefano, de 19 anos, estudante de Jornalismo, conta que um jornal da Baixada Santista fez a ele uma oferta de emprego. “Pensei que era uma vaga para estágio, mas quando cheguei lá queriam me contratar como diagramador. Eu seria, praticamente, o único responsá-vel pela diagramação do jornal e também teria que copiar a arte de publicidade, sendo que ia receber um salário de estagiário”.

Ivan não aceitou. “Além de fi car com medo de não conse-guir realizar o trabalho, pois sou apenas estudante, eu também estaria tirando o emprego de dois profi ssionais: um jornalista e um publicitário”, explica. Para ele, o diploma não influencia, mas faz com que empresas fiquem “pechinchando” no mercado.

Aluno recusa vaga para ser‘dois em um’ na redação

Antes da decisão do STF, era necessário apenas ter um atestado de conclusão de curso para retirar o registro. Agora, é obrigatório apresentar o diploma. No caso de recém-formados, o certifi cado leva de dois a cinco meses para estar pronto e a única opção é pedir urgência no processo. Para os interessados em retirar uma cédula de identi-fi cação da Fenaj, ou associar-se ao Sindicato dos Jornalistas, também é necessário apresentar o registro.

No fi m deste mês, acontece-rá uma reunião em Brasília, com a presença do ministro do Traba-lho, Carlos Lupi, e representantes do Sindicato dos Jornalistas e da Fenaj, para discutir a regulamen-tação do MTb. Por enquanto, ele segue com as mesmas regras. “Infelizmente, continuamos nes-sa situação”, lamenta o diretor da Regional do Sindicato dos Jornalistas de Santos e Vale do Ribeira, Glauco Braga.

Quanto ao diploma, no últi-mo dia 3 o presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer, criou uma Comissão Especial que vai avaliar a Proposta de Emenda à Constituição - que exi-ge a obrigatoriedade do diploma de Jornalismo. Se aprovada, a PEC será encaminhada para o Plenário, para ser votada.

decidido a favor de não se exigir o diploma de Jornalismo, nada fi cou defi nido sobre o registro de não-diplomados. “Logo, o Minis-tério pode e deve registrar apenas diplomados”, defende a Fenaj.

Nesse período, pessoas que trabalhavam na área sem nenhum tipo de formação em comunicação e sem nenhuma preparação para “informar”, passaram a exigir o re-gistro em delegacias do Ministério do Trabalho. Muitas delas conse-guiram a concessão do registro entrando com ação na Justiça, em-

RECÉM-FORMADO, Douglas Luan já atua na área

basadas na decisão do STF – um exemplo é o bispo Edir Macedo.

O Ministério, por sua vez, sem qualquer defi nição de como pro-ceder, alegou apenas seguir ordens. Sema-nas depois, em meio à pressão, suspen-deu o registro. Foi por esse motivo que muitos jornalistas que se formaram no ano passado foram prejudicados e não conseguiram regis-trar seus diplomas.

O jornalista Dou-glas Luan é um desses profi ssionais que tive-ram dificuldade para obter o MTb. Formado no ano passado, Luan trabalha na Assessoria de Imprensa da Prefei-

tura de São Vicente. Apesar de ter o diploma e atuar na área, não conseguiu obter seu registro junto ao Ministério do Trabalho.

“Sei que há ótimos profis-sionais por aí sem formação, mas na minha opinião, a faculdade é fundamental. Os jornais não po-dem formar as pessoas em meio à correria de uma redação. Isso só aconteceu porque as empresas não querem pagar um profi ssional, querem menos despesas. Eu acre-dito que o diploma ainda pode voltar”, argumenta. (RM)

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ENTREVISTA

MARÇO DE 2010POLÍTICAEDIÇÃO: NATASHA GUERRIZE

DIAGRAMAÇÃO: MARCELO HAZAN 15

ENGAJAMENTO : Movimentos sociais e vida acadêmica são caminhos primários que aproximam jovens da política

Juventude mobilizada

Participação popular em sessões da Câmara de Santos é cada vez menor

: BARBARA BUENO

Grande parte das pesso-as reclama que os políticos em geral não as representam como gostariam e se tornam alheios aos problemas da população ao assumirem seus mandatos. Porém, até onde nós, cida dãos, nos infor-mamos sobre co mo demonstrar nossas necessidades a esses repre-sentantes e fazê-las valer?

Um dos meios de fazer nos-sa opinião ser levada em conta e de nos mantermos informados sobre as ações da Câmara dos Deputados é o Disque-Câmara, que funciona através de um serviço de 0800 e faz parte da Central de Comunicação Intera-tiva da Câmara dos Deputados.

Com uma ligação gratuita é possível opinar sobre projetos de lei, de emendas constitucionais (PEC) e diversas outras proposições, mandar mensagens aos deputados e ainda fi -car informado sobre a programação da TV e da Rádio Câmara.

O serviço do disque-câmara, que foi criado em 2003, só é di-vulgado através da TV e da Rádio Câmara. A operadora de telema-rketing da Central, Silvania Kenia, afirma que as pessoas podem opinar sobre os projetos de lei e PECs até que haja consenso entre a decisão da Câmara e as opiniões

Tele-voto aproxima Câmara do cidadão

colhidas. Para votar, basta ter em mãos o número do projeto sobre o qual a pessoa deseja opinar.

Silvania revela que o mo-tivo pelo qual as pessoas mais ligam para o disque-câmara é para opinar sobre o projeto de lei 5476/01, que visa ao cance-lamento da cobrança de assina-tura básica para telefones fi xos. Existe até um menu especial na secretária eletrônica para votar neste projeto que representa 44% dos telefonemas recebidos atualmente e um total de 1,343 milhão de ligações desde 2004.

Mesmo com esse grande número de ligações, a Central ainda não é bem conhecida pela população. Das 26 pessoas entre-vistadas, apenas uma conhecia o disque-câmara e algumas delas até acharam que era brincadeira ao serem indagadas sobre a existência da Central, como Danilo Capp, 23, que afi rmou surpreso “Não fazia a mínina idéia de que isso existia.”

Para entrar em contato com os deputados, se infor-mar sobre as programações da Câmara ou opinar sobre qualquer assunto basta ligar para o número 0800-619619, que funciona das 8 às 20 horas (disque-câmara) ou acessar o site da Câmara dos Deputados pelo www.camara.gov.br.

HELENA PASSARELLI

FLAVIANO, jovem apartidário, levanta bandeira política no Centro dos Estudantes

MARCELLA MARTINS

MAIS uma sessão pública sem público em Santos

: SAMANTHA VAZ DA SILVA

Estamos no início de mais um ano eleitoral; campanhas, debates, a vida política fi ca

mais presente. No entanto, como inteirar os jovens sobre este tema?

Participar de um movimento estudantil é uma das formas de fazer parte da política. O estudante de Direito e Integrante do Centro dos Estudantes de Santos e Região (CES), Flaviano Correia Cardoso, 29 anos, explica a questão do voto. “O voto é a expressão política de uma consciência, antes de incenti-var o voto é necessário despertar a consciência dos jovens”. Para ele a vida acadêmica ajuda o jovem a se aproximar de discussões sobre o assunto.

No CES, são discutidas não somente questões estudantis, mas também sociais. E a entidade tem história, afinal, foi fundada em 1932 e é considerada a mais antiga do país. Sobre eleições, a atual pre-sidente, Joana Squillaci, 20 anos, esclarece que eles não incentivam a campanha do voto aos 16 anos. “Entendemos que o jovem na po-lítica não signifi ca apenas votar ou ser fi liado a um partido. Somos em 26 integrantes nesta atual gestão, todos apartidários”.

A luta destes estudantes é por meio da mobilização. Já fi zeram reivindicações contra aumento de mensalidades, a favor do mo-

vimento do passe livre (consiste em passar o transporte coletivo de privado para público com pas-sagem livre) e também trabalham com outros movimentos.

MOVIMENTO VOTO CONSCIENTE - Criado em 1987, em São Paulo, o movi-mento foi trazido para Santos em 1999. Cívico, voluntário e apar-tidário, seu objetivo é auxiliar os cidadãos sobre o voto consciente. Maria Regina Torres de Azevedo, 87 anos, faz parte do movimento.

“Nosso trabalho está em cima do Legislativo. Somos em torno de 15 pessoas e participamos com pelo menos um representante de todas as sessões da Câmara Mu-nicipal”, explica.

Junto aos jovens, fi zeram pa-lestras para alunos do ensino mé-dio em anos eleitorais, explicando a importância de se conhecer os candidatos em que irão votar e as funções de cada governante. Para ela, primeiro vem a educa-ção familiar e depois a escolar. “No movimento não há nenhum

integrante jovem. Entretanto os jovens não são alienados, mas precisam despertar para a política. A escola tem papel importante na formação do novo eleitor ao orientar sobre o que os pais não transmitiram”.

Segundo Maria Regina, os jovens são os que têm maior responsabilidade, participando pa ra a melhoria de sua cidade. E que, apesar do movimento não ter obtido grandes resultados nestes 10 anos, estão deixando a semente para o futuro.

: JULIANA FERNANDES

Das 30 cadeiras reservadas para a população na Sala Princesa Isabel, onde se realizam as sessões da Câma-ra Municipal de Santos, apenas cinco estavam ocupadas no dia 4 de março, enquanto os 17 vereadores discutiam assuntos relacionados a educação, saúde e transporte. Este cenário se tornou comum todas as segundas e quintas-feiras na sede do Poder Le-gislativo Municipal. As sessões são abertas à comunidade para mostrar o trabalho dos vereadores. No entanto, diversos projetos são avaliados sem a presença da população.

Regina Azevedo e Vera Su-plicy, integrantes da ONG Voto Consciente, são frequentadoras assíduas das sessões da Câmara há dez anos. Elas se indignam ao perceber que a cada dia a popula-ção se interessa menos por política. Regina acredita que seja possível mudar esse quadro, fazendo com que os jovens participem ativamen-te da vida democrática.“Todos nós somos seres políticos e devemos fazer a nossa obrigação”, comenta, sem, contudo, apresentar sugestões sobre como atrair, especialmente, os jovens para as sessões políticas.

A falta de educação política, o horário das sessões (18 horas) e o desinteresse são os principais motivos da ausência popular na vida legislativa. É o que acredita

o presidente da Câmara Marcus de Rosis (PMDB). Para ele, “esta situ-ação não irá mudar enquanto houver este hiato entre o povo e a Câmara”.

EXPERIÊNCIA POSITI-VA - Pensando em mudar este cenário, cada vez mais comum nas cidades da Baixada Santista, a Câmara de São Vicente criou as sessões ordinárias itinerantes, que são realizadas fora do Legislativo, em bairros da Cidade. Isto foi possível através da emenda à Lei Orgânica do Município proposta pelo vereador Caio França (PSB).

O parlamentar acredita que o Legislativo deve estar próximo e acessível à comunidade e muitas vezes o ambiente da Câmara não é atraente ao público.

Durante 2009, quatro sessões foram realizadas em bairros do município. França analisa a expe-riência como positiva, pois atraiu cerca de 400 pessoas em cada local. Para 2010, o projeto itinerante já tem datas e locais marcados: dia 08 de abril, no Japuí; 17 de junho, no Jóquei Clube; 16 setembro, no Parque das Bandeiras e dia 18 de novembro, na Vila Voturuá.

: ROSE MARQUES

A cassação do governa-dor do Distrito Federal, José Roberto Arruda, e do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, levantou discussões sobre perda de mandato. Mas você sabe como funciona esse processo?

No caso do prefeito, gover-nador ou presidente, o processo começa com uma denúncia de corrupção ou ato irresponsável no exercício do poder. Se o acusado é o presidente, o presidente da Câmara dos Deputados recebe o pedido de cassação. Se aceito, o processo é feito por uma Comissão Parlamentar de Inquérito, que in-vestiga as acusações. O presidente é julgado pelo Senado ou pelo Supremo Tribunal Federal (por crime comum). Se considerado culpado, perde o mandato e o di-reito de elegibilidade, não podendo se candidatar por oito anos.

Segundo a professora de Di-reito Constitucional da UniSantos, Josieni Barros, a lei sobre cassação avalia a responsabilidade política do réu, ou seja, sua capacidade de responder pelo cargo. “O proble-ma está na falta de interesse em se discutir a responsabilização pelas ações que não são políticas”.

Entenda o processo de

cassação

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ENTREVISTA -MARÇO DE 2010 VARIEDADES

EDIÇÃO: DANNY ANDERSON

DIAGRAMAÇÃO: BRUNA ROSSIFINI16

Cenas de uma festa popular

As diferentes expressões do povo

marcaram o Carnaval Santista deste

ano. E as lentes do ENTREVISTA não

poderiam deixar de registrar essa

grande festa popular brasileira. Em

2010, na Passarela do Samba Dráuzio

da Cruz, na Zona Noroeste, o som da

bateria, a sincronia dos foliões e o

carisma da grande campeã, Padre

Paulo, ditaram o ritmo mais uma vez.

A GAFIEIRA invadiu a passarela Dráuzio da Cruz

A ELEGÂNCIA e a postura da rainha diante de sua bateria

O REQUEBRADO e o gingado da

mulata brasileira sob

os olhares do sambista

O ESFORÇOda equipe

de apoio é indispen-sável na avenida

A ALEGRIA do passista em representar a escola do coração

A MALANDRAGEM e o charme do ritmista da Zona Noroeste

O SORRISO, a graça e a

espontaneidade da

porta-bandeira

A BATERIA é o coração da escola e faz a avenida tremerA VOZ que dá força à escola e anima os foliões

DANNY ANDERSON

BARBARA BUENO

HELENA PASSARELLI

FANI MORAES

FANI MORAES

HELENA PASSARELLI

BARBARA BUENO

DANNY ANDERSON

HELENA PASSARELLI

Page 17: Entrevista - Março 2010

ENTREVISTA MARÇO DE 2010TECNOLOGIA

EDIÇÃO: DANNY ANDERSON DIAGRAMAÇÃO: BRUNA ROSSIFINI 17

COTIDIANO HI-TECH : Aparelhos cada vez mais sofi sticados prometem tornar realidade mundo imaginado pela fi cção

O mundo dos Jetsons chegou: ANA CLÁUDIA KABBACH

Imagine viver em um mundo onde a empregada doméstica é um robô, os carros voam e

ainda por cima pode-se andar em uma esteira rolante para mudar de cômodo e ter todos os aparelhos ultramoder-nos que tornam a vida mais fácil. Esse era o mundo ideal imaginado para o século XXI nos anos 60, quando o desenho animado Os Jetsons foi criado pela dupla Hanna-Barbera.

Hoje, no século XXI, pode não existir uma frota de carros voadores, mas muita tecnologia foi desenvol-vida para que haja maior comodida-de no cotidiano. Um exemplo sim-ples é o celular. Quando foi lançado no Brasil na década de 90, ninguém imaginou que esse simples aparelho se tornaria um “melhor amigo” de bolso. Além de ligações, atualmente os smartphones (celulares inteligen-tes) têm acesso à Internet, incluem jogos, fi lmam, fotografam, tocam música e passam vídeo, além de outros recursos.

Entretanto, depois que a tec-nologia virou não só conforto, mas negócio, o avanço não parou mais e já é possível ver que certos recursos fi zeram tanto sucesso que pode riam ser considerados banais. É o caso das televisões LCD. Lançadas há cerca de seis anos, o preço médio de uma delas era de R$10 mil - sem falar nas de plasma, que não fi zeram tanto sucesso e custavam mais de R$ 20 mil.

A TV se tornou multifun-cional e veio para acabar com os televisores antigos. Ocupam me-nos espaço e oferecem inúmeras opções de interatividade.

E a interação não para por aí. É cada vez mais comum encontrar estabelecimentos que disponibi-lizam conexão wireless (sem fi o) gratuita para os consumidores.

Quem nunca foi a um cafezinho e viu alguém utilizando o celular para acessar a Internet, ou com um netbook a tiracolo?

Por falar em netbooks, as vendas desses computadores ul-traportáteis e de baixo custo não param, sinal de que esses produtos fazem muito sucesso no mercado. Segundo a consultoria interna-

cional DisplaySearch, em estudo divulgado em dezembro do ano passado, as vendas do netbook no mundo cresceram 103% em 2009, comparadas com 2008, atingindo o total de 33,3 milhões de unidades - mais que o dobro dos 16,4 milhões vendidos em 2008.

E se 2009 foi o ano da explo-são de venda dos netbooks, este

ano de 2010 começa diferente. Já é visível a popularização dos leitores de livros digitais. ou e-readers. Além da função original, ele tam-bém apresenta outras funções de computador para uso diário.

A criação de novos tipos de aparelhos para processamento de informações, com muito mais in-teratividade e novas perspectivas de preservação ambiental, são pro-messas tecnológicas para este ano.

É o caso da televisão 3D, do uso mais freqüente do touch screen (telas que funcionam ao toque do dedo), da realidade aumentada (sobreposição de objetos virtuais tridimensionais gerados por com-putador), da tech-ecologia com televisões LED (cujo consumo de energia pode ser 40% menor e onde a produção dos aparelhos en-volve materiais menos agressivos ao meio ambiente) e do processa-mento verde (chips controladores que podem ter desempenho muito superior aos atuais, com gasto menor de energia).

Tudo isso, além da criação da internet 4G e da web 3.0 (onde todo clique será armazenado em pacotes de dados de busca e estará disponível para que a rede molde sua estrutura em torno das referên-cias de cada internauta).

E com tanto desenvolvimento tecnológico por vir, quem sabe não fi ca cada vez mais perto o sonho dos anos 50 se realizarem ainda no século XXI.

Até aniversário se torna virtual : TAMARA CAETANO MARTINS

O que se pode esperar de uma festa de aniversário infantil conven-cional? Quem respondeu decoração do Homem-Aranha, mães por todo lado desesperadas com os fi lhos e brigadeiros pisoteados pelo chão, está errado. A resposta correta quem dá é Gabriel Pereira Couto, que acabou de completar 9 anos. Ele preferiu comemorar o aniversário na lan house Game Over, no bairro Santa Maria, na Zona Noroeste, em Santos.

“Ele foi em duas festas assim e amou,” afi rma Sarah Pereira Couto, 28 anos, mãe do garoto. Um dos fatores que fizeram Sarah optar pela lan house ao invés do salão de festas foi a praticidade.

“Cada pai vem e traz o fi lho. Quando as crianças querem ir embora, telefonam do celular e o pai vem buscar”, diz o gerente da lan house, Miguel Lima Mar-tins, 26 anos. Ele comenta outro fator positivo do aniversário de Gabriel. “Sai mais em conta que uma festa normal e os convidados fi cam quietos”.

A comemoração virtual é apenas mais um exemplo de que o futuro apresentado pela fi cção está se aproximando cada vez mais de nossa realidade.

Os objetos de multifunções, que são apresentados como no-vidade, se tornam indispensáveis depois de algum tempo. Quer

horrorizar um ser “urbano”? Diga que não tem celular e que não sente falta de um. E se quer tirá-lo realmente do sério, perca o celu-lar dele. Essa é a tendência das grandes cidades: pessoas andando “armadas” de netbooks, iPhones, celulares 3G ou qualquer platafor-ma conectada à Internet.

O coordenador do curso de Ci-ências da Computação da UniSan-tos, Fernando Macedo, afi rma que a tendência é a informação chegar

de forma mais rápida nas mãos das pessoas. “Não temos mais paciên-cia de esperar a informação, por isso temos que correr atrás dela”.

Sobre fi cção e futuro, Ma-cedo acredita que a fi cção ajudou a evolução tecnológica, mas admite que alguns casos ainda estão longe de acontecer. “Um computador que manifesta emo-ções é fi cção pura. Estamos muito longe disso ainda, mas é a grande meta a ser conquistada.”

MACEDO: “Temos que correr atrás da informação”

MARIANA MOURA

PRODUÇÃO: BRUNA CHIORO / FOTO: WILLIAN FERNANDES

Confi ra os aparelhos eletrônicos de última geração mais vendidos

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Page 18: Entrevista - Março 2010

DIVERGÊNCIA : Prefeitura incentiva, mas há moradores que não gostam de práticas esportivas nas ruas da Cidade

Trânsito parado e barulho: é dia de competição nas ruas

: CAMILLA VU

Santos é uma cidade que in-centiva o esporte. O Progra-ma de Incentivo Fiscal de

Apoio ao Esporte (PROMIFAE) é uma lei complementar que visa o estimulo à prática esportiva, vi-gente desde 2007. No ano passado, mais de 25 eventos esportivos fo-ram realizados nas ruas da Cidade. Sem contar os esportes de praia como vôlei, beachsoccer e surf. Mas muitos moradores se sentem incomodados com os eventos que são realizados em ambientes abertos, como a orla da praia. O motivo principal é a interdição

: LEONARDO FRANCISCO

A dor de cabeça de alguns moradores, principalmente dos prédios, era visível. O fato de não conseguirem entrar e sair com seus carros, além de ruas interditadas gerou um bom número de reclamações. Esse cenário ocorreu durante o 19º Troféu Brasil de Triathlon na praia do Boqueirão.

Segundo o porteiro Daniel Araújo, porteiro de um prédio da Avenida Conselheiro Nébias, as queixas pela realização da prova eram constantes. “Os moradores reclamam porque não conse-guem entrar e sair com seus carros já que além de terem as ruas bloqueadas de passar, tam-bém têm que encarar as vias da região que estão intransitáveis.”

Para que a competição pudesse ser realizda, a equipe responsável pela organização, a NA Esportes, em parceria com a CET, Ecovias e polícias rodovi-ária e militar, “isolaram” as ruas com cercas. Dessa forma, o tra-jeto de algumas ruas que fi cam perto do local foram alterados. O trecho da prova era a avenida da praia entre a Rua Osvaldo

de ruas, causando transtorno para os moradores dos locais. Marcela Alves Cruz mora na orla da praia próximo ao Canal 5. Para ela entrar e sair da garagem do prédio nesses dias é sempre um desconforto. As ruas são interditadas com pelo menos um dia de antecedência, o que causa um certo "stress com os moradores".

No caso das corridas de rua, em especial os triatlon, a Com-panhia de Engenharia de Tráfego - CET explica que a organização do evento faz o pedido para que eles interditem as ruas necessárias um dia antes para a montagem da área de transição. O trecho fi ca

Esporte é sinônimo de caos no Boqueirão

Cruz e Avenida Washington Luiz, no Canal 3. Também seguia a Avenida Conselheiro Nébias até o Centro de Santos, passando pela Avenida Martins Fontes até chegar na Rodovia Anchieta, percorrendo 51,5 Km no total.

Motoristas de carro e moto também não se sentiram nada con-fortáveis com a situação de algu-mas ruas e avenidas do Boqueirão. Alguns até foram pegos de surpresa com o fato de não poderem passar pelos locais onde a prova ocorria. Os motoristas de ônibus que cir-culam constantemente nas vias da praia e da Conselheiro Nébias, apesar de saberem da interdição por causa do triatlon, não estavam satisfeitos com a situação, a ponto de não quererem dar entrevista.

O barulho causado pela pro-va, principalmente por parte dos alto-falantes, também foi alvo das reclamações dos moradores. Além de o som ser alto, ele ocorre a partir 7 horas da manhã e isso atrapalha o sono de algumas pes-soas e principalmente os idosos que residem nos prédios como diz a aposentada Noire Martins de 75 anos. “Não sou totalmente contra aos eventos esportivos que acon-tecem na cidade, porém o barulho

que os altofalantes causam é exa-gerado e pode até dar problemas de saúde para algumas pessoas de idade”, comentou.

O comércio também sofreu com a prova esportiva no local, já que com a interdição das vias do local o número de clientes, que não é tão alto nos fi nais de sema-na, piorou ainda mais. A dona de uma loja de construções, Maria da Conceição Pereira, disse que além da queda de movimento ser visível, para estacionar é complicado. Mas o pior para ela é conseguir chegar e abrir a loja na hora certa. “Moro em São Vicente e tanto hoje como nos 10 km (A Tribuna) é compli-cado chegar no meu trabalho. Já

liberado após a limpeza do local e vistoria da Prefeitura. Já a Viação Piracicabana, responsável pelos ônibus, quando precisa mudar algumas rotas, solicita a CET. Uma semana antes do evento, a empresa avisa os motoristas e diz informar os passageiros para que eles se planejem.

O barulho é outra reclama-ção constante. Na edição do 19° Troféu Brasil de Triathlon, dia 28 de fevereiro, esse problema foi quase unanimidade entre os entre-vistados. A agitação não pode ser repreendida pois não existe lei que vete este tipo de manifestação dos torcedores e participantes.

FECHAMENTO das vias obriga os

motoristas a usarem rotas alternativas

E não são só os eventos nas ruas que atrapalham a rotina dos santistas. Jogos na Vila Belmiro podem trazer desgosto para alguns. Por serem realizados no período noturno, o barulho é a maior re-clamação. A secretária Amanda da Silva Souza teve sua fi lha no hospital Benefi cência Portuguesa um dia antes de jogo do Santos. A localização do hospital colaborou para a noite mal dormida da crian-ça. Quando o centroavante André marcou um gol pelo time santista contra a Ponte Preta (1x1), a torcida gritou e soltou fogos e acordou não só a fi lha de Amanda, mas todos os bebês presentes na maternidade.

FOTOS: FANI MORAES

EVENTO no domingo interdita duas das principais avenidas do bairro Boqueirão

cheguei a ficar uma hora presa no trânsito e atrasei meu horário de abrir o comércio e com isso o prejuízo é nosso”, afi rma.

Segundo os responsáveis pela prova, a organização é feita de for-ma antecipada e o planejamento é feito meses antes da competição ser realizada. Nesse plano de prepara-ção, entram os quesitos condições do local do percurso, a segurança dos atletas, sistemas de abasteci-mento deles, o aviso prévio aos moradores, motoristas de ônibus, carros e motos, como conta um dos responsáveis da prova, Cassandra Geralmelo. “A montagem e prepa-ração do local já foi feita na sexta-feira a noite, iniciando por fechar

as ruas por onde os atletas irão passar e os moradores já fi caram cientes da etapa de triatlon que haverá”, diz.

O outro responsável pelo evento, Marcelo Braga, diz que o campeonato foi realizado em parceria com a Prefeitura para garantir que tudo ocorresse tranqüilamente entre atletas e moradores. “A CET junto com a Ecovias e as polícias militar e rodoviária, já haviam sido avisadas e se prepararam para garantir segurança e avisar aos motoristas e moradores do bairro e da Cidade que não têm como passar pela área onde a prova está acontecendo.”

ENTREVISTA MARÇO DE 2010 ESPORTES

EDIÇÃO: ROSELI NASCIMENTO

DIAGRAMAÇÃO: MARCELA SOUZA 18

Os moradores das ruas ao redor da Vila Belmiro já estam mais acostumados com o trans-torno. Entre outros casos, há aqueles que já fi caram sem festejar alguma data importante por não poder receber encomendas das docerias. O proprietário de uma doceria, Reinaldo Silva Portês, explica que a falta de acesso ao local faz com que monitorem com mais cautela as encomendas. “Nos dias de jogos grandes, como fi nais e clássicos, não tem como levar a encomenda. Pedimos para entre-gar antes do jogo ou até mesmo no intervalo.” Para programar as entregas no domingo à tarde, busca informações em sites para saber o percurso mais fácil para chegar até o cliente.

Page 19: Entrevista - Março 2010

ESPORTESEDIÇÃO: CIDINHA SANTOS DIAGRAMAÇÃO: BRENDA DUARTE

ENTREVISTA MARÇO DE 2010 19

MARCELO Teixeira afi rma que o Santos tem uma realidade fi nanceira privilegiada

: FELLIPE CAMARGO

Após três meses da derrota nas eleições, Marcelo Piri-lo Teixeira resolve quebrar

o silêncio. Fala sobre o atual mo-mento de vida , responde perguntas sobre sua gestão e analisa o início do mandato de Luiz Álvaro de Oliveira Ribeiro.

Atualmente como pró-reitor da Universidade Santa Cecília, Teixeira afi rma ter tirado um peso das costas com o fi nal da sua admi-nistração e defi ne como nem bom nem ruim o período de dez anos a frente do Santos Futebol Clube.

Jornal ENTREVISTA - Como está sua vida após a saída do clube?

Marcelo Teixeira – Sempre há uma mudança. As responsabili-dades como presidente do Santos sempre consomem muito tempo e muda a rotina. Hoje vejo que tirei um peso das costas, só fi co voltado à universidade e a família. Fica mais tranqüilo, é obvio. Não tem mais o estresse, o lado emocional que sempre interfere. Com certeza a rotina diminui bastante.

JE – Essa árdua rotina afetou sua saúde?

MT – Todo esse desgaste físi-co, mental e até espiritual sentimos sim na parte da saúde. Há dois anos tive graves problemas cardíacos e tomo medicamentos até hoje, mas os médicos agora pensam até em diminuir meus remédios, já que saí do Santos.

JE – Como você encarou a derrota nas urnas depois de quatro reeleições?

MT – Fui para a eleição como vou para qualquer jogo de botão, claro, sempre querendo vencer. Fiquei consolado que o quadro associativo veio em número importantíssimo, acima de três mil, isso demonstrou a força da administração. Existia um momento difícil de unidade do grupo e se indicássemos outra pessoa víamos a chance de perder. Então, não poderia me acovardar naquele momento e prejudicar o trabalho e o projeto que tínhamos para o clube. Assim, colocamos nosso nome a apreciação do quadro associativo e o resultado veio nas urnas. Minha consciência hoje é de dever cumprido. É preferível perder a eleição no meu nome e saber que não fui omisso.

JE – Qual a análise que você faz de uma década de adminis-tração?

MT – A administração não foi nem boa nem ruim. Foi no limite. Concluí bem minha gestão em dezembro de 2007 e deixei esses frutos para que déssemos seqüên-cia. Em 2008, não foi adequado aos demais planejamentos, exata-mente pela questão fi nanceira, pela responsabilidade administrativa, diminuímos os investimentos e, por isso, tivemos um desempenho diferenciado dos anos anteriores.

No entanto, agora há uma responsabilidade maior da nova administração, acho importante que haja essa continuidade.

JE. – Já havia um desgaste como presidente ao término desses dez anos?

MT – Minha imagem con-tinua bastante positiva perante o torcedor. Dificilmente você conseguirá tirar a imagem do Marcelo Teixeira das conquistas, das alegrias, das vitórias. Por mais que a administração atual queira denegrir a minha imagem, preju-dicar com assuntos infundados, eu via boa parte dos associados dizendo: “Queremos que o senhor descanse, aproveite a vida fami-liar”. Que é o meu desejo desde 2007. O sentimento do associado é a mudança, na tentativa para que outros dirigentes pudessem alcan-çar os objetivos que alcançamos.

JE – Se seu desejo era fi car até 2007, por que se candidatou a outras duas reeleições?

MT – Vinha de um vice-bra-sileiro e um bi-paulista, era o mo-mento ideal para sair, mas nunca me furtaria das responsabilidades. A evolução foi forte durante minha gestão e isso justifi ca nas vitórias conquistadas nas urnas. Até 2007 foram 70% dos votos. Tínhamos um grande compromisso com o quadro associativo.

JE – Como você vê o início de gestão do atual presidente Luíz Álvaro?

MT – Vejo o início da ad-ministração muito positiva. Não poderia ser diferente. Só seria, caso houvesse uma radicalização no sentido de prejudicar o trabalho deixado anteriormente.

JE – Esse time vencedor que vemos nesse início da temporada o surpreende?

MT – Não surpreende. Os destaques são os meninos Neymar, André e Paulo Henrique que já es-tavam amadurecendo com a gente. São três fi guras de referência. Vejo tudo isso como um trabalho bem orientado pelo novo treinador. Acho que o Dorival teve partici-pação fundamental até pela inex-periência da administração atual no sentido do futebol. Percebe-se que há uma forma positiva da equipe e isso é virtude da administração atual.

JE – O que achou da volta do Robinho ao Santos?

MT – No próprio casamento dele, em agosto do ano passado, já conversávamos e ele [Robinho] dizia sobre o desejo de voltar ao Brasil. Eu disse a ele que esse era o momento de voltar, estava casando, fi caria próximo da família. Ele dis-se que não. Gostaria de fi car mais seis meses. Eu voltei a dizer que lá ele só fi caria na reserva e tinha que voltar para não atrapalhar seu tra-balho e seu projeto Copa. No fi nal do ano, o empresário dele me ligou dizendo que as coisas não estavam legais e ele queria voltar. Ou seja, seu retorno não me surpreendeu.

JE – A chegada do Robinho ajuda o time e o clube como um todo?

MT – Independente do Ro-binho, o time já tinha esse amadu-recimento, mas com ele, há uma confi ança maior e a imprensa valo-riza mais o time. O Robinho passa a ser peça importante no contexto e o marketing tem que saber aprovei-tar. Aliás, falando em marketing,

muito criticado na nossa adminis-tração, causa-me espanto quanto ao tratamento que está sendo dado a camisa do Santos atualmente. Não acho pertinente a cada jogo ter um patrocinador. Acredito que por mais que se perceba esforço para se buscar o máximo de valor num contrato, é preciso mais para que se defi nam logo os parceiros. Já temos três meses de administra-ção e acho que já é sufi ciente, pela imagem positiva no mercado, ter marcas já fi xas.

JE – É verdade que você teria ajudado o São Paulo a entrar na briga para repatriar o Robinho?

MT – Calúnias. Imagina meu caráter, minha moral ao dar um telefonema ao Sanches, ao Belluzzo, ao Juvenal para que eles contratem. Jamais faria qualquer tipo de trabalho para ajudar um clu-be adversário. É um absurdo. Em nenhum momento isso passou pela minha cabeça. As pessoas acham que pelo fato de estarmos fora do clube, estamos torcendo contra.

JE – Muito se fala dos pro-blemas fi nanceiros que estão sendo herdados devido a sua adminis-tração. Sua gestão deixou muitas dívidas?

MT – A realidade do Santos hoje, comparada aos três grandes-clubes de São Paulo, é uma situ-ação privilegiada. Reconhecemos que temos dívidas, como todo mundo. O Santos não tem dívidas que ultrapassem os 50 milhões de reais, situação bem diferente de clubes que devem 200, 250 milhões de reais. Atualmente são dívidas pequenas dentro de um equaciona-mento que deve ser feito. Mas, vejo uma diferença porque nessa nova administração, até pelas ligações dos dirigentes com empresas e envolvimento com bancos, estão acostumados a uma forma diferente de administrar receita e despesa.

Tem que estar muito preparado para manter esse nível de estrutura de primeiro mundo que é o Santos. Porque senão, pode haver um retro-cesso perigosíssimo.

JE – Você está exigindo da nova administração o dinheiro que empregou no clube?

MT – Não estou exigindo, tanto que me mantive em silêncio até agora. Hoje, está tendo uma negociação amigável e espero que seja concluída rapidamente para benefício do Santos. Se não for assim, será uma forma prejudicial. Ninguém está exigindo ou paga tudo ou vamos executar, essa não é a postura da minha família e dos bancos. Queremos o diálogo com a atual administração, que eles en-contrem uma forma através da rea-lidade atual do Santos. Depois que defi nirem os parceiros e as formas de cumprirem suas obrigações, sei que vão equacionar a dívida com a minha família.

J.E. – Esse acordo para você receber o que investiu está dentro de um prazo adequado?

M.T. - Acho que o prazo [para a negociação] já esgotou e, francamente, a minha interferência junto aos bancos e a tolerância a meu pedido, tem sido decisivo para que o Santos consiga resolver essas questões fi nanceiras. Se eu tivesse uma forma diferenciada de tratamento, talvez os bancos já tivessem executado a dívida.

J.E. – Você pretende voltar ao centenário do clube?

M.T. – Pode deixar gravado. Não pretendo voltar. Com esse pla-nejamento que faço da minha vida, depois de dez anos no clube, seria muito precipitado, muito rápido o retorno em dois anos. O Santos não vai precisar do Marcelo Teixeira no centenário. Enquanto o clube tiver dirigentes capazes, essa estrutura atual faz com que o clube passe o centenário de forma equilibrada. No entanto, será comprometedora caso não tenhamos a mesma linha de trabalho começada por nós.

“Tirei um peso das costas”MARCELO TEIXEIRA : Depois de dez anos de “administração no limite”, ex-presidente fala pela primeira vez após queda

ARIELLE GONZALEZ

Marcelo Teixeira teve duas passagens como presidente do Santos. A primeira no biê-nio 1992/93 e a segunda de 1999/2009 (quatro reeleições). Nestes dez anos, tornou-se o segundo presidente que mais tempo fi cou a frente do clube de Vila Belmiro. O mandato mais longo foi de Athiê Jorge Cury que, em 26 anos, comandou o Alvinegro de 1945 a 1971.

O Santos não tem dívidas que ultrapassem os 50 milhões.

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Minha imagem continua bastante positiva perante o torcedor.

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ENTREVISTA MARÇO DE 2010

EDIÇÃO: ROSELI NASCIMENTO

DIAGRAMAÇÃO: MARCELA SOUZA ESPORTES20

ESTATUTO : Eleições proporcionais para o Conselho e fi m das reeleições infi nitas são algumas das mudanças propostas

: FELIPE SAÚDA

Dentro de campo as coisas vão bem, obrigado. Um time de futebol moleque,

atrevido e envolvente, comandado por jovens valores como Neymar, Paulo Henrique Ganso e a grande estrela da companhia, o astro da seleção brasileira, Robinho.

Porém, fora das quatro li-nhas, a realidade administrativa do Santos incomoda. Ainda sem um patrocinador principal para a camisa, a diretoria empossada há três meses, corre contra o tempo para arrumar a casa e assim, atrair novos investidores que auxiliem na consolidação de um projeto para um novo Santos.

A reforma do estatuto social é o primeiro grande passo para fazer do Santos um clube sério, democrático e com uma adminis-tração transparente. Quem afi rma isso é o presidente da comissão de estatuto do clube, Fernando Luis Martins dos Santos

“O estatuto do clube é sua carta magna, então só com um estatuto moderno e democrático teremos chance de construir e aperfeiçoar o Santos com relação

Novas regras para um novo Santos

a sua estrutura e administração e prepará-lo para o futuro e para as novas gerações de santistas que virão”, afi rma.

A reforma estatutária ainda é uma questão embrionária, mas o clube já começa a se mexer nesse sentido. A primeira medida foi pioneira no futebol brasileiro. O clube abriu um espaço em seu site oficial, onde os sócios do clube puderam mandar sugestões de mudanças. A medida durou 20 dias, até o espaço ser fechado para que a comissão pudesse seguir o cronograma de trabalho. Foram recebidas cerca de 100 sugestões.

“O que mais chamou nossa atenção foi ver como os anseios dos sócios vão ao encontro dos nossos, pois quase todos pedem mais democracia e transparência administrativa no clube”, conta Fernando Santos.

O próximo passo da comis-são será enviar essas sugestões para a apreciação do escritório juridico que será responsável por tocar a reforma.

Mesmo com o trabalho ain-da no inicio, alguns dos princi-pais pontos a serem alterados no estatuto já estão defi nidos. Os

FANI MORAES

principais deles, inclusive, eram promessas de campanha do pre-sidente Luis Alvaro de Oliveira Ribeiro.

O fim da reeleição infini-ta na Presidência do clube, a proporcionalidade nas eleições para o Conselho Deliberativo e a possibilidade do associado votar com um ano de contribuição ao clube, são o carro-chefe da refor-ma estatutária.

Outra promessa de campanha do atual presidente é a criação de um fundo de investimento que injetaria R$ 40 milhões no clube para a contratação de jogadores. Fernando Santos diz que a criação do fundo não está diretamente atrelada à aprovação do novo esta-tuto, mas acredita que a mudança no regimento do Santos pode ace-lerar os investimentos no clube.

“O novo estatuto trará ga-

rantias para o investidor, através de transparência e de uma gestão corporativa no clube, Com ele, o parceiro saberá aonde está inves-tindo”, disse ele.

A comissão de estatuto ainda não tem um prazo defi nido para a conclusão do trabalho. Fernando Santos diz apenas que ela segue um cronograma interno e que espera concluir os trabalhos no menor tem-po possível e da melhor maneira.

REFORMA no estatuto do Santos é o “chute” inicial para o começo de um novo clube

: ANNA BALVETTI

Transparência. Essa é a pa-lavra-chave do novo estatuto do Santos Futebol Clube, em fase de estudos pelo Conselho Deliberati-vo. Apesar do processo estar só no começo, a iniciativa é vista com bons olhos por profissionais do jornalismo esportivo.

Para o jornalista e radialista Fúlvio Feola, da rádio Cultura AM, essas mudanças são favoráveis para o clube, pois o estatuto em vigor tem “pontos obscuros e que promovem a falta de transparência para os torce-dores e principalmente associados”.

Outro ponto importante é

referente as eleições no Santos. Com o novo estatuto, o mandato da diretoria aumentará para três anos, mas sem reeleição. Ponto positivo também na visão do jor-nalista e professor Ouhydes João Augusto da Fonseca, pois faz com que o presidente dê o melhor de si durante sua gestão.

Essa mudança acaba com o “continuísmo” e também não abre precedentes para a existência de um “todo poderoso” que fi que no comando, colocando pessoas para trabalhar em sua causa própria e não do clube.

Há comissões formadas no Conselho Deliberativo para estu-

dar e promover várias alterações, justamente visando a transparência no clube, de modo que o sócio esteja totalmente conectado ao que acontece dentro da instituição. Nesse sentido, uma idéia colocada em prática foi a possibilidade de envio de sugestões para o novo estatuto pela internet.

O fundo de investimentos tam-bém ajuda na hora de deixar tudo as claras. Com a mudança, todos sabe-rão quem está colocando dinheiro no clube e, com isso, pode evitar ações fraudulentas ou dinheiro sujo entrando na agremiação. A idéia do novo presidente é criar um fundo de R$40 milhões, que será utilizado

na contratação de novos jogadores. Para Feola, essa mudança deve ocorrer para o Santos se moder-nizar, pegar como exemplo o que é bem sucedido em outros clubes e colocá-lo em prática. “Não vejo transparência no Santos há algum tempo, é uma realidade.”

Em contraponto, existe uma cláusula no novo estatuto que, se aprovada, reduz para um ano o tempo mínimo de contribuição para que o associado possa votar. Para tal ação, deveria ser exigido um tempo maior pois isso facilitaria a entrada de interessados que se tornam sócios apenas para participar da votação e depois dão as costas ao clube.

Estatuto deve ser democrático

FÚLVIO Feola, jornalista

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Diário do Litoral